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iv
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA
PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E ENSINO
MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES
ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Ensino de Geografia na era digital
Uma experiecircncia em sala de aula
Campina Grande - PB
2014
v
ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Ensino de Geografia na era digital
Uma experiecircncia em sala de aula
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Formaccedilatildeo de Professores da
Universidade Estadual da Paraiacuteba como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Educaccedilatildeo
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Letramento Digital
Orientador Prof Dr Marcelo Gomes Germano
Campina Grande - PB
2014
vi
vii
viii
DEDICATOacuteRIA
Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a
conclusatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez
avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me
dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
20
fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
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desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
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Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
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Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
52
Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
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descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
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Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
82
Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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99
Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
v
ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Ensino de Geografia na era digital
Uma experiecircncia em sala de aula
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Formaccedilatildeo de Professores da
Universidade Estadual da Paraiacuteba como
requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Educaccedilatildeo
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Letramento Digital
Orientador Prof Dr Marcelo Gomes Germano
Campina Grande - PB
2014
vi
vii
viii
DEDICATOacuteRIA
Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a
conclusatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez
avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me
dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
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fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
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espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
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Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
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vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
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Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
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comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
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programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
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primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
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matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
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Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
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Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
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Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
vi
vii
viii
DEDICATOacuteRIA
Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a
conclusatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez
avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me
dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
20
fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
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desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
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Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
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transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
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Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
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exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
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Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
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descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
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privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
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acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
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para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
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ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
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transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
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ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
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vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
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Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
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comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
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modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
82
Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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99
Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
vii
viii
DEDICATOacuteRIA
Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a
conclusatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez
avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me
dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
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fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
28
Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
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passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
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Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
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vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
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aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
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este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
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da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
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luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
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transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
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economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
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cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
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No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
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Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
viii
DEDICATOacuteRIA
Aos meus colegas de turma que direta ou indiretamente contribuiacuteram para a
conclusatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia que sempre esteve presente em momentos distintos e me fez
avanccedilar A minha cunhadairmatilde Andreia Ferreira pela providencial ajuda que me
dispensou durante todos estes meses registro minha gratidatildeo
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
20
fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
28
Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
73
CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
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programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
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primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
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Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
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45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
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matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
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Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
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Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
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Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
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Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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99
Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
ix
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador desta dissertaccedilatildeo Prof Dr Marcelo Gomes
Germano pelo apoio em todos os momentos pelas consideraccedilotildees efetuadas e pela
orientaccedilatildeo sempre tatildeo precisa
Ao professor Antonio Roberto Faustino da Costa pela oportunidade de
realizaccedilatildeo de um trabalho interdisciplinar
A professora Ana Gloacuteria da Silva Marinho que nos meses de convivecircncia
muito me ensinou contribuindo para meu crescimento cientiacutefico e intelectual
As professoras Paula Almeida de Castro e Maria de Lourdes da Silva
Leandro em nome das quais sauacutedo a todos os professores do Programa de
Mestrado Profissional em Formaccedilatildeo de Professores da Universidade Estadual da
Paraiacuteba pelo proveitoso compartilhamento de saberes
Ao servidor Bruno (secretaacuterio do programa) por ter dispensado parte do seu
precioso tempo atendendo agraves nossas demandas imediatas tratando a todos com
distinccedilatildeo e profissionalismo
Aos professores Lucenildo Arauacutejo e Petrocircnio Ribeiro ambos da Escola
Municipal Luzia Laudelino pelo indispensaacutevel apoio na aplicaccedilatildeo da pesquisa em
sala de aula sem os quais este trabalho natildeo teria obtido ecircxito
Ao amigo Heraacuteclito Hallysson pela generosa contribuiccedilatildeo no tocante a leitura
e impressatildeo das inuacutemeras versotildees deste trabalho
A Prefeitura Municipal de Arara pelo apoio financeiro para a realizaccedilatildeo desta
pesquisa
A todos meu muito obrigado
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
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nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
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O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
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Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
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fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
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espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
28
Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
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Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
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primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
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matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
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Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
x
ldquoOu escreves algo que valha a pena ler
ou fazes algo acerca do qual valha a pena escreverrdquo Benjamim Franklin
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
20
fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
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desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
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Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
52
Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
73
CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
82
Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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99
Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
xi
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem o objetivo de investigar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica no 6ordm ano do Ensino Fundamental passando da teoria agrave praacutetica com o auxiacutelio das ferramentas digitais disponibilizadas atraveacutes do Google Earth abordando as interseccedilotildees entre aprendizado e experiecircncias Procuramos desenvolver com os alunos participantes a noccedilatildeo espacial e a representaccedilatildeo cartograacutefica comparando diferentes tipos de representaccedilatildeo da superfiacutecie terrestre mapas imagens de sateacutelite fotografias aeacutereas e tridimensionais partindo de estrateacutegias educacionais e luacutedicas aliadas ao letramento digital possibilitando as crianccedilas egressas da 1ordf fase do Ensino Fundamental o acesso agraves miacutedias digitais atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica cujos equipamentos servem de auxiacutelio para uma aprendizagem mais significativa favorecendo o domiacutenio das tecnologias e o despertar do interesse dos educandos pela cartografia escolar Pensando nisso este trabalho poderaacute promover o estiacutemulo dos estudantes agraves mais diversas formas de leitura aleacutem de desenvolver a linguagem cartograacutefica como elemento educativo formador de novas praacuteticas e habilidades em salas de aula
Palavras-chave Ensino de Geografia Letramento digital Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica Google Earth
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
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fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
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Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
38
uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
39
Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
40
Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
41
Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
42
Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
43
CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
44
passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
45
Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
46
vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
47
aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
48
este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
49
da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
50
luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
52
Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
65
descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
69
ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
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CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
82
Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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99
Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
101
Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
103
Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
104
ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV
xii
Siacutentesis
Esta disertacioacuten tiene como objetivo investigar el nivel de comprensioacuten de los estudiantes en relacioacuten con la cartografiacutea la alfabetizacioacuten en el sexto antildeo de la Escuela Primaria pasando de la teoriacutea a la praacutectica con la ayuda de las herramientas digitales disponibles atraveacutes del Google Earth aproximarse a las intersecciones entre aprendizaje y experiencias Buscamos desarrollar los estudiantes que participan en este estudio la nocioacuten espacial y la representacioacuten cartograacutefica la comparacioacuten de los diferentes tipos de representacioacuten de la superficie terrestre mapas imaacutegenes de sateacutelite fotografiacuteas aeacutereas y las estrategias didaacutecticas y luacutedicas de ruptura en tres dimensiones aliados a la alfabetizacioacuten digital lo que permite nintildeos liberados la primera fase del acceso a la escuela primaria a los medios digitales a traveacutes de los laboratorios de coacutemputo que sirven para ayudar a un aprendizaje significativo fomentar el dominio de la tecnologiacutea y despertar el intereacutes de los estudiantes por la cartografiacutea escolar Pensando en ello este trabajo puede promover la estimulacioacuten de los estudiantes a diversas formas de lectura asiacute como el desarrollo del lenguaje cartograacutefico como elemento educativo la formacioacuten de nuevas praacutecticas y habilidades en las aulas Palabras clave Ensentildeanza de la Geografiacutea La alfabetizacioacuten digital Alfabetizacioacuten cartograacutefica Google Earth
xiii
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
FIGURA 1 ndash Tela inicial do Google Earth 33
FIGURA 2 ndash Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba 37
FIGURA 3 ndash
FIGURA 4 ndash
FIGURA 5 ndash
FIGURA 6 ndash
Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de
dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira
fase da dissertaccedilatildeo
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda
fase do trabalho
Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira
fase do trabalho
79
80
83
84
xiv
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 ndash Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB) 42
FOTO 2 ndash Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino
participantes da pesquisa
77
FOTO 3 ndash
FOTO 4 ndash
FOTO 5 ndash
FOTO 6 ndash
Alunos da turma do 6ordm ano atentos ao desafio proposto
nos exerciacutecios de cartografia
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para
os alunos
Realizaccedilatildeo de exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo no
laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google
Earth
Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para
averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros
semanais
78
81
82
84
xv
LISTA DE GRAacuteFICOS
GRAacuteFICO 1 ndash Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
21
GRAacuteFICO 2 ndash
GRAacuteFICO 3 -
GRAacuteFICO 4 ndash
GRAacuteFICO 5 ndash
GRAacuteFICO 6 ndash
GRAacuteFICO 7 -
Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes
puacuteblica e privada (2010)
Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino
fundamental entre 2002-2012
Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave receita total do municiacutepio
Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para
os dois grupos de alunos avaliados
Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as
aulas de Geografia
39
40
41
86
87
88
xvi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ndash Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a
seacuterie frequentada
61
TABELA 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem
adequada a seacuterie frequentada
62
xvii
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO I 1 Revisatildeo de literatura 19 11 A praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada 19 12 Uma viagem no tempo 21 13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal 24 131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento 25 14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital 29 15 A popularizaccedilatildeo das TICs na escola 30 16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque 31 17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino 35 18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo 37 181 - Aspectos socioeconocircmicos e educacionais 37 182 - Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo 42 CAPIacuteTULO II 2 Formaccedilatildeo de professores no Brasil43 21 A Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial 43 22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria 44 23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil 46 24 Novas maneiras e aprender 49 25 Foco nas TICs o computador como aliado 51 26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia global digital 53 27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs 55 CAPIacuteTULO III 3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais 59 31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios 64 32 Cartografia escolar e ferramentas digitais 67 33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia 69 CAPIacuteTULO IV 4 Caminhos metodoloacutegicos 73 41 Natureza da pesquisa 74 42 Local e universo da pesquisa 76 43 Instrumentos da pesquisa 76 44 Metodologia das intervenccedilotildees77 45 Organizaccedilatildeo das etapas da pesquisa79
CAPIacuteTULO V
xviii
51 Resultados e Discussotildees 85 52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais 86
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 91 REFEREcircNCIAS 95 Apecircndices 99 Anexos 104
15
INTRODUCcedilAtildeO
Nas uacuteltimas deacutecadas com o expressivo processo de urbanizaccedilatildeo ocorrido
no Brasil e no mundo muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar a um
lugar desconhecido mesmo que estejam na posse de um mapa Sentir-se
desorientado entre as ruas de uma cidade ou desviar-se da rota numa estrada eacute um
inconveniente que todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a
simples interpretaccedilatildeo de um mapa Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos precisam
adquirir jaacute a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
Todavia temos constatado por parte dos nossos alunos uma injustificada
resistecircncia e desinteresse no tocante a leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas impressos
nos livros didaacuteticos e em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade
de orientaccedilatildeo no espaccedilo sempre que se abordam as questotildees da geografia regional
e ateacute local atraveacutes dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo
didaacutetico no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva pela
deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito mais
intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio
A dificuldade no desenvolvimento da apreensatildeo e entendimento dos
conteuacutedos que abordam a linguagem cartograacutefica eacute notada e comentada pelos
professores de Geografia durante os encontros bimestrais para planejamento
pedagoacutegico realizados na escola em que leciono regularmente desde 1999 e por
isso fiz a escolha como meu locus da pesquisa Destaque-se que essa situaccedilatildeo
observada na escola objeto da pesquisa natildeo eacute recente e nem somente dos alunos
tendo em vista que alguns professores admitem ter dificuldades em trabalhar esses
conteuacutedos devido ao fato de natildeo os terem estudado na escola o que conduz agrave
formaccedilatildeo de um ciacuterculo vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe
porque natildeo aprendeu durante a sua formaccedilatildeo
Como agravante da situaccedilatildeo acima descrita constata-se o fato de que parte
consideraacutevel dos professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos na rede
municipal de ensino apesar de serem detentores de diploma de niacutevel superior tecircm
16
formaccedilatildeo em outras aacutereas do conhecimento notadamente em pedagogia fato
tambeacutem observado por Sann (2010 p96) ao desenvolver pesquisa sobre a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Fundamental no Estado de Satildeo Paulo
Conforme a autora ldquoa grande maioria era formada em Licenciatura mas parte natildeo
tinha formaccedilatildeo especiacutefica em Geografia alguns natildeo tinham nenhuma formaccedilatildeo
superiorrdquo Assim como foi constatado na pesquisa da professora paulistana em
nosso trabalho tambeacutem percebemos uma situaccedilatildeo semelhante o que dificulta ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem da cartografia escolar
Nos uacuteltimos anos as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)
incluindo o Google Earth tecircm oferecido possibilidades de apoio ao ensino das
ciecircncias e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e do sistema
GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no cotidiano das
pessoasrdquo Na educaccedilatildeo a utilizaccedilatildeo dos mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar
um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e expressatildeo
Diante desse contexto nos propomos duas questotildees que orientaram esta
pesquisa Como utilizar o Google Earth no contexto do ensino da Geografia Seraacute
que este novo e poderoso veiacuteculo de comunicaccedilatildeo possibilitaraacute uma aprendizagem
mais significativa
Considerado esse contexto e a partir de intervenccedilotildees didaacuteticas orientadas
para a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais mais especificamente com os mapas
digitais do Google Earth objetivamos investigar os niacuteveis de compreensatildeo dos
alunos do 6ordm ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede puacuteblica do
municiacutepio de Arara (PB) no tocante a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e embora natildeo se
trate de um estudo comparativo apresentamos alguns resultados com a utilizaccedilatildeo
dos mapas analoacutegico (formato de papel) utilizados no ensino de Geografia
Sobre o uso das tecnologias na sala de aula concordamos com Moran (2007)
quando defende que as tecnologias chegaram como meio e suporte para a
educaccedilatildeo e seguem abrindo caminhos para novas possibilidades no ensino e
aprendizagem
Com o advento das TICs na escola quer sejam por meio dos laboratoacuterios de
informaacutetica quer por meio dos aparelhos de telefonia moacutevel dos alunos
caminhamos para um modelo de escola onde alunos e professores em diaacutelogos
constantes estatildeo construindo aprendizagens intermediadas pelas tecnologias Essa
17
nova escola que se descortina a partir da chegada das tecnologias digitais precisa
desenvolver um curriacuteculo flexiacutevel e contextualizado com a realidade local em cujo
cenaacuterio exige-se um modelo de professor que priorize a mediaccedilatildeo ao inveacutes do
antigo agente detentor dos conhecimentos O aluno por sua vez passa a ser um
sujeito construtor de sua aprendizagem
O nosso entusiasmo com os mapas digitais se fortalece a partir das oportunas
observaccedilotildees de Simielli (2010 pp 77-8) ao tratar da importacircncia da linguagem
cartograacutefica para a leitura de mundo ldquoNa vida moderna eacute cada dia mais notoacuteria e
importante a utilizaccedilatildeo de mapas [] isso nos leva a destacar a importacircncia da
criaccedilatildeo de uma linguagem cartograacutefica que seja realmente eficiente para que o
mapa atinja os objetivos a que se propotildeerdquo Corroborando com essa linha de
pensamento Passini (2010 p174) defende que ldquono ensino de Geografia a
linguagem graacutefica deve ser incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol
das ferramentas que viabilizam as leituras de mundordquo
Nesse sentido os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo os seguintes
associar cartografia escolar ao cotidiano dos estudantes e estimular a utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais atraveacutes do uso do Google Earth procurando compreender a
eficaacutecia do uso das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com outros
recursos de ensino geralmente utilizados nas escolas
A presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em cinco partes No primeiro
capiacutetulo a partir da revisatildeo de literatura procuramos situar o leitor no tocante ao
tema proposto contextualizando a problemaacutetica a partir de uma reflexatildeo sobre os
conceitos de alfabetizaccedilatildeo e letramento com destaque para a significaccedilatildeo da escola
na formaccedilatildeo social do indiviacuteduo a fim de buscar caminhos para a efetivaccedilatildeo de uma
praacutetica pedagoacutegica mais significativa e prazerosa direcionada para criaccedilatildeo de
sentidos no real emprego dos conteuacutedos vistos e revistos em salas de aulas atraveacutes
dos professores de Geografia
O segundo capiacutetulo trata da formaccedilatildeo de professores no Brasil apresentando
alguns recortes histoacutericos da formaccedilatildeo de professores de Geografia a partir do
Seacuteculo XVIII ateacute os dias atuais Enfatiza as mudanccedilas ocorridas nas diretrizes
norteadoras da educaccedilatildeo brasileira a partir da deacutecada de 1990 poacutes-Conferecircncia de
Jomtien (Tailacircndia 1990) e evidencia a consolidaccedilatildeo desse novo projeto de
formaccedilatildeo com destaque para a praacutetica docente de Geografia
18
O terceiro capiacutetulo traz uma abordagem sobre a utilizaccedilatildeo das TICs na sala
de aula e aponta a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica como instrumento de conhecimento e
poder sobre o territoacuterio Neste capiacutetulo discutimos as distorccedilotildees entre o que se
poderia aprender no final das duas fases do Ensino Fundamental e o que de fato se
aprende no tocante a capacidade de leitura (por ser a base para a compreensatildeo do
mundo) na unidade escolar a qual se aplicou a pesquisa de campo considerando-se
os resultados aferidos atraveacutes da Prova Brasil vinculada ao sistema de avaliaccedilotildees do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O quarto capiacutetulo trata da metodologia da pesquisa aleacutem de enfocar o tipo de
pesquisa aplicada tambeacutem faz uma abordagem sobre as accedilotildees praacuteticas
desenvolvidas na sala de aula com crianccedilas do 6ordm ano do Ensino Fundamental
atraveacutes da associaccedilatildeo entre cartografia escolar e o Google Earth que pode
favorecer outras formas de utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais a serviccedilo da
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
O quinto capiacutetulo contempla os resultados e discussotildees da pesquisa e
procura esclarecer como o uso das ferramentas digitais pode ampliar as noccedilotildees que
os alunos tecircm de espaccedilo nesta fase de transiccedilatildeo entre os elementos concretos e as
abstraccedilotildees cartograacuteficas
Nas consideraccedilotildees finais reiteramos que cumprimos a nossa proposta de
trabalho direcionando o leitor para a importacircncia da cartografia escolar associada
agraves ferramentas digitais atraveacutes do uso das TICs Concluiacutemos afirmando que o nosso
maior desafio continuaraacute sendo o de encorajar os nossos alunos a explorarem as
inuacutemeras possibilidades de se adquirir conhecimentos atraveacutes das TICs inclusive
enquanto natildeo estiverem sob os olhares dos professores
Partimos do pressuposto de que no ensino de Geografia saber ler e
interpretar mapas estimula sobretudo a capacidade dos alunos em pensar sobre
territoacuterios e regiotildees que natildeo conhecem Sabemos que a linguagem cartograacutefica eacute
muito utilizada no decorrer de todo o Ensino Baacutesico assim sendo conhecer essa
linguagem tambeacutem eacute um meio para se adquirir boa parte do suporte necessaacuterio para
a construccedilatildeo do conhecimento Da mesma forma chegar a um lugar desconhecido
utilizando-se de um mapa requer uma seacuterie de conhecimentos que satildeo adquiridos
atraveacutes de um processo de alfabetizaccedilatildeo diferente
19
Capiacutetulo I
ldquoMuitos natildeo sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler Trabalhei nisso 80 anos e natildeo posso dizer que o tenha conseguidordquo
Johann Goethe
1 REVISAtildeO DA LITERATURA
No cotidiano da pratica docente tem sido lugar comum encontrarmos
professores reclamando da falta de interesses dos alunos pela leitura dos conteuacutedos
ministrados A questatildeo que se coloca eacute por que os alunos resistem tanto em ler os
materiais didaacuteticos indicados pelos professores na escola E por que natildeo se verifica
essa resistecircncia em relaccedilatildeo agraves linguagens midiaacuteticas utilizada nas postagens das
redes sociais Afinal o que eacute leitura
Para responder a esse questionamento de forma bastante abalizada Sandroni
e Machado definem a leitura como sendo
Um ato individual voluntaacuterio e interior que se inicia com a decodificaccedilatildeo dos signos linguiacutesticos que compotildeem a linguagem escrita convencional mas que natildeo se restringe agrave mera decodificaccedilatildeo desses signos considerando que a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de interaccedilatildeo com o mundo que o cerca (SANDRONI MACHADO 1998 p22)
Assim podemos afirmar que a interpretaccedilatildeo textual eacute uma excursatildeo atraveacutes
da mensagem que cada texto pretende transmitir Com os mapas natildeo poderia ser
diferente considerando ser inegaacutevel a importacircncia de estarmos aptos a interpretar
todo e qualquer texto independentemente de sua finalidade E para que isto seja
viaacutevel faz-se necessaacuterio o uso de determinados recursos que nos satildeo oferecidos e
que nem sempre os priorizamos como a leitura e a intertextualidade
11 Praacutetica da leitura na escola uma resistecircncia injustificada
Segundo Freire (2001) a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra O ato de ler enquanto accedilatildeo do sujeito diante do mundo eacute expressatildeo da
forma de estar sendo dos seres humanos como seres sociais histoacutericos seres
20
fazedores transformadores que natildeo apenas sabem mas demonstram que sabem
A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensatildeo da importacircncia
do ato de ler de escrever ou de reescrevecirc-lo e transformaacute-lo atraveacutes de uma praacutetica
consciente
Seguindo essa linha de raciociacutenio Freire (2001) enfatiza a importacircncia da
leitura na alfabetizaccedilatildeo colocando o papel do educador dentro de uma educaccedilatildeo
onde o seu fazer deve ser vivenciado (natildeo apenas em relaccedilatildeo a quantidade de
paacuteginas lidas) mas inserindo-se no contexto de uma praacutetica concreta de construccedilatildeo
da histoacuteria incluindo o alfabetizando num processo criador de que ele eacute tambeacutem um
sujeito
A insistecircncia na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos e natildeo mecanicamente memorizados revela uma visatildeo maacutegica da palavra escrita Visatildeo que urge ser superada A mesma ainda que encarada deste outro acircngulo que se encontra por exemplo em quem escreve quando identifica a possiacutevel qualidade do seu trabalho ou natildeo com a quantidade de paacuteginas escritas No entanto um dos documentos filosoacuteficos mais importantes de que dispomos As teses sobre Feuerbach de Marx tem apenas duas paacuteginas e meia (FREIRE 2001 p 17-18)
Assim sendo a leitura natildeo deve ser memorizada mecanicamente mas ser
desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos Nas
palavras de Freire (op cit) ldquoCreio que muito de nossa insistecircncia enquanto
professoras e professores em que estudantes lsquoleiamrsquo num semestre um sem-
nuacutemero de capiacutetulos de livros reside na compreensatildeo errocircnea que as vezes temos
do ato de lerrdquo (FREIRE 2001 p17) Dessa forma a importacircncia do ato de ler natildeo
estaacute na compreensatildeo equivocada de que ler eacute ldquodevorar bibliografiasrdquo sem que
realmente sejam interessantes ao leitor O mais importante do ato da leitura eacute o niacutevel
de percepccedilatildeo do conteuacutedo que eacute essencial para compreensatildeo do mundo
Nesse sentido para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos alunos sobre os
conteuacutedos estudados em Geografia realizamos uma pesquisa com 72 crianccedilas
matriculadas no 6ordf ano do Ensino Fundamental presentes nas salas de aulas no dia
16 de setembro de 2013 Naquela data todo o conteuacutedo de cartografia indicado para
a seacuterie avaliada jaacute havia sido ministrado entretanto os resultados apontam que
665 dos entrevistados natildeo se sentiam seguros em relaccedilatildeo agrave leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas ao tempo em que apenas 12 declararam ser capazes de
21
se localizar atraveacutes dos mapas enquanto os 215 restantes declararam que
sabiam apenas identificar os tipos de mapas em um atlas geograacutefico
Graacutefico 1 Niacuteveis de compreensatildeo dos alunos sobre cartografia
escolar
Fonte Pesquisa realizada pelo autor em setembro2013 com 72 alunos da escola objeto do estudo
Diante do exposto acreditamos que para facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica torna-se necessaacuterio considerar o espaccedilo de vivecircncia dos
alunos Pouco interessa aos alunos estudar sobre os Alpes Apeninos ou da
Cordilheira do Himalaia se eles natildeo compreenderem a importacircncia do Planalto da
Borborema para a formaccedilatildeo do Brejo paraibano Aleacutem de uma boa contextualizaccedilatildeo
para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem cartograacutefica poderemos lanccedilar
matildeo de meacutetodos inovadores de ensino incluindo a utilizaccedilatildeo das ferramentas
cartograacuteficas digitais a exemplo dos trabalhos realizados por Almeida (2011) Bueno
e Colavite (2011) Gonccedilalves et al (2007) e Pereira Silva (2012)
12 Uma viagem no tempo Desde tempos remotos que o conhecimento cientiacutefico eacute reconhecido como um
bem precioso que poderaacute definir os destinos de um povo Jaacute no seacuteculo XVI Francis
Bacon (1561-1626) afirmava que a ciecircncia devia ser baseada ldquona induccedilatildeo e na
experimentaccedilatildeo natildeo na metafiacutesica e na especulaccedilatildeordquo como era difundido pelos
pensadores ateacute no final da Idade Meacutedia
Antes de Bacon quem poderia prever que avanccedilos na ciecircncia poderiam
resultar na disseminaccedilatildeo de tecnologias que permitiriam ao homem explorar o
22
espaccedilo chegar na lua e alterar o destino da humanidade Apesar desses avanccedilos
os aspectos relativos ao espaccedilo geograacutefico ainda satildeo poucos considerados em
nossos dias pela maior parte dos indiviacuteduos
Na presente dissertaccedilatildeo espaccedilo geograacutefico e cartografia satildeo conceitos
complementares e interdependentes Poreacutem para entender a cartografia no niacutevel do
pensamento e na constituiccedilatildeo do vivido precisamos compreender o conceito de
espaccedilo geograacutefico Por isso neste trabalho por uma questatildeo metodoloacutegica
procuramos abordar superficialmente o conceito de espaccedilo e em seguida enfatizar
os aspectos da cartografia digital
Desde a Antiguidade Claacutessica o espaccedilo geograacutefico foi concebido de
diferentes maneiras entretanto natildeo eacute nosso objetivo retomaacute-las Tomamos como
referecircncia para nossas finalidades o conceito expresso por Alves (2005) segundo a
qual ldquoo espaccedilo eacute um produto das relaccedilotildees entre homens e dos homens com a
natureza e ao mesmo tempo eacute um fator que interfere nas mesmas relaccedilotildees que o
constituiacuteramrdquo Dessa forma o espaccedilo eacute a materializaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes
entre os homens na sociedade Dito com outras palavras o espaccedilo geograacutefico
corresponde aos espaccedilos produzidos pelos homens em diferentes temporalidades
ao relacionarem-se entre si consigo mesmos e com a natureza no lugar em que
vivem
A concepccedilatildeo geograacutefica de espaccedilo que predominou de 1870 ateacute metade dos
anos 1950 embora este ainda natildeo fosse considerado como objeto de estudo foi a
introduzida por Friedrich Ratzel (1844-1904) segundo o qual a concepccedilatildeo de
ldquoespaccedilo vitalrdquo se confundia com a de territoacuterio a medida em que era atrelado agrave ele
uma relaccedilatildeo de poder Essa concepccedilatildeo ratzeliana de espaccedilo sofreu forte influecircncia
do pensamento filosoacutefico de Immanuel Kant (1724-1804) ou seja para ele o espaccedilo
em si natildeo existe o que existe satildeo os fenocircmenos que se materializam neste
referencial A cartografia escolar e a localizaccedilatildeo absoluta (coordenadas geograacuteficas)
foram em parte o suporte desta concepccedilatildeo Aqui se percebe a que se destina a
ciecircncia moderna e o potencial da cartografia na definiccedilatildeo das fronteiras do futuro
Estado alematildeo aproveitando-se do vaacutecuo deixado pela ruptura com o pensamento
filosoacutefico aliado ao surgimento da ciecircncia geograacutefica
Considere-se que desde o Renascimento surgiram as ideias da manipulaccedilatildeo
experimental da natureza Jaacute naquele periacuteodo o conhecimento natildeo era mais
resultado apenas da clareza de raciociacutenio habilmente apresentado pelos filoacutesofos
23
ele teria que ser comprovado experimentalmente A ciecircncia moderna trouxe uma
nova relaccedilatildeo homem-natureza que estaacute intimamente relacionada com o domiacutenio do
espaccedilo geograacutefico e com a consolidaccedilatildeo do capitalismo A radicalizaccedilatildeo desse
processo conduziraacute a uma nova fase teacutecnico-cientiacutefica que em muitos aspectos se
afasta do projeto inicial
A visatildeo otimista de que a ciecircncia poderaacute vir a descrever tudo que aconteceu e viraacute a acontecer caracteriza uma nova concepccedilatildeo de ciecircncia que confirmada pela presenccedila de incontestaacuteveis inovaccedilotildees tecnoloacutegicas despreza a filosofia e de certa forma afasta-se das antigas bases filosoacuteficas de sustentaccedilatildeo do projeto inicial da ciecircncia moderna (GERMANO 2011 p 74)
Germano (op cit) aponta duas grandes rupturas no processo de construccedilatildeo
do conhecimento ocidental A primeira inaugurada a partir da Revoluccedilatildeo
Copernicana no iniacutecio do seacuteculo XVI
Eacute um momento de grande revoluccedilatildeo do pensamento e o modelo nascente exigiraacute toda uma nova visatildeo de mundo com novas perguntas e novos problemas a serem enfrentados Questotildees que o proacuteprio Copeacuternico natildeo conseguiraacute responder cabendo dentre outros a Bruno Kepler e Galileu a confirmaccedilatildeo e defesa de suas teses (GERMANO 2011 p 63)
A segunda no uacuteltimo quartel do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a Teoria
da Relatividade e a Mecacircnica Quacircntica Na incipiente ciecircncia geograacutefica a escola
alematilde estabelece uma relaccedilatildeo entre os fenocircmenos da natureza e as accedilotildees do
homem Os precursores dessa escola geograacutefica satildeo Alexander Von Humboldt
(Geoacutegrafo naturalista) e Karl Ritter (Geoacutegrafo social) Saliente-se que a Alemanha
havia se unificado tardiamente natildeo possuindo colocircnias de exploraccedilatildeo apesar de ser
uma naccedilatildeo em franco desenvolvimento e com necessidade de mateacuterias-primas e
aacutevida por novos mercados consumidores para alavancar o progresso
[] antes que os efeitos dessa grande reviravolta no pensamento viessem a repercutir na praacutetica era necessaacuterio que as bases filosoacuteficas da nova ciecircncia fossem bem compreendidas pelos intelectuais e empreendedores da grande revoluccedilatildeo poliacutetica que se processava agravequela eacutepoca (GERMANO 2011 p 74)
Conforme se vislumbra a partir do entendimento do autor essa mudanccedila se
afirmou com a difusatildeo de estudos de natureza filosoacutefica que a colocaram no centro
de sua anaacutelise sobre a concepccedilatildeo de progresso
Assim o espaccedilo geograacutefico passa a ser visto natildeo mais como algo imutaacutevel
24
desde o seu iniacutecio mas fruto de uma longa histoacuteria e produto de um
desenvolvimento O afloramento dos estudos epistemoloacutegicos1 e da historicidade
tambeacutem satildeo baacutesicos para o nascimento da Geografia Moderna muito embora o
impulso mais consideraacutevel soacute tenha ocorrido definitivamente com as teorias de
Charles Darwin (1809-1882) que tornaram as anaacutelises geograacuteficas notadamente
importantes pelos destaques atribuiacutedos ao ambiente nos mecanismos de evoluccedilatildeo
das espeacutecies
O espaccedilo se define como um conjunto de formas representativas de relaccedilotildees sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaccedilotildees que estatildeo acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atraveacutes de processos e funccedilotildees (SANTOS 1994 p 43)
Partindo dessa premissa maior a Geografia apresenta alguns conceitos
(entendidos tambeacutem como categorias geograacuteficas) que satildeo importantes para que
possamos ampliar o entendimento sobre o nosso lugar no universo alguns deles
inclusive surgiram em razatildeo da necessidade de compreensatildeo da complexidade do
mundo contemporacircneo
Dessa forma independentemente da posiccedilatildeo social que o indiviacuteduo
eventualmente ocupa na comunidade durante toda sua existecircncia ele entra em
contato com uma gama variada de informaccedilotildees a respeito do espaccedilo geograacutefico
local regional e global que exigem formaccedilatildeo escolar para a sua compreensatildeo
Mesmo que essas informaccedilotildees permaneccedilam incompreendidas natildeo se pode ignorar
que todos ocupam um espaccedilo na terra e com o advento das Tecnologias Digitais
esse espaccedilo se ampliou consideravelmente
13 O espaccedilo da inclusatildeo digital na educaccedilatildeo formal
No tocante ao acesso agrave educaccedilatildeo formal vale salientar que no mundo
globalizado o domiacutenio do conhecimento das tecnologias digitais aleacutem de ser uma
credencial para um mercado de trabalho cada vez mais exigente tambeacutem eacute uma
constante em todas as nossas accedilotildees de rotina desde a realizaccedilatildeo de uma chamada
telefocircnica ateacute o acionamento de um eletrodomeacutestico passando por uma transaccedilatildeo
bancaacuteria atraveacutes dos terminais de caixas eletrocircnicos e chegando aos complexos
exames de ressonacircncia magneacutetica cada vez mais exige-se o domiacutenio de leituras e
1 Epistemologia - Teoria ou ciecircncia da origem natureza e limites do conhecimento
25
compreensatildeo de textos (contidos nos manuais do usuaacuterio) que via de regra soacute eacute
possiacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo escolar
Desde o final da deacutecada de 1990 as TICs criaram uma necessidade de
sintonia das pessoas com o computer-literacy2 Da mesma forma que a
alfabetizaccedilatildeo tradicional comeccedila na sala de aula a proficiecircncia digital tambeacutem Mas
o que define essa nova alfabetizaccedilatildeo eacute mesmo a capacidade que o aluno tem de
participar Atualmente aqueles que natildeo dominam os coacutedigos escritos isto eacute os que
ainda natildeo estatildeo alfabetizados e letrados inclusive no tocante a linguagem das
tecnologias digitais estaratildeo predestinados a exclusatildeo social na seara desta nova
aldeia global que se descortina
131 Afinal existe diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento
Essa eacute uma questatildeo que pode gerar uma certa confusatildeo no tocante aos
conceitos e a priori a resposta eacute afirmativa Faz-se necessaacuterios saber diferenciar
alfabetizaccedilatildeo e letramento Senna (2005) esclarece que alfabetizaccedilatildeo eacute o processo
atraveacutes do qual o aluno adquire a capacidade de ler e escrever Jaacute o letramento
ocorre quando uma vez adquirido o meacutetodo o aluno tambeacutem sabe como utilizaacute-lo
nas praacuteticas sociais O mesmo raciociacutenio se aplica mutatis mutandis3 a proficiecircncia
digital que pode ter um caraacuteter inicial (conhecimento baacutesico e uso banal das miacutedias)
ou avanccedilado (utilizaccedilatildeo das miacutedias para tomar consciecircncia da realidade e
transformaacute-la)
Senna (op cit) afirma que apesar do processo de letramento digital estar
presente em toda a sociedade mesmo que seja quase imperceptiacutevel ele ainda natildeo
acontece nas escolas e por isso o autor levanta o seguinte questionamento
A primeira questatildeo a se levantar [] eacute referente ao letramento conceito este ainda por se consolidar na cultura acadecircmica nestes primeiros anos do Seacuteculo XXI De fato letramento eacute um fenocircmeno deste seacuteculo associado muito mais as variaacuteveis introduzidas pela sociedade informaacutetica nas praacuteticas de escrita de mundo do que agraves questotildees e agraves polecircmicas no entorno da jaacute claacutessica problemaacutetica da alfabetizaccedilatildeo (SENNA 2005 p 162-3)
Logo nos dizeres do autor implantar essa nova consciecircncia eacute o grande
2 Literacy se traduz ao peacute da letra como alfabetizaccedilatildeo assim sendo computer-literacy significa
familiaridade com as novas miacutedias e com o computador 3 Expressatildeo latina que significa mudando o que deve ser mudado
26
desafio da escola Assim de acordo com o seu entendimento os seres humanos
nascem com uma predisposiccedilatildeo para aprender muito embora esse potencial esteja
latente em cada indiviacuteduo Dessa forma podemos dizer que qualquer tecnologia eacute
fruto de interferecircncias internas e externas aos sujeitos Igualmente a liacutengua escrita
tambeacutem eacute uma representaccedilatildeo da tecnologia
Na verdade a mensagem que Senna pretende transmitir nas suas reflexotildees
sobre miacutedia e letramento eacute que antes do indiviacuteduo ser um sujeito alfabetizado eacute
preciso tambeacutem estar pautado nos moldes cartesianos isto eacute ser um sujeito que
pensa que traz para si (e somente para si) os rumos de seu destino dito em outros
termos eacute o senhorio de sua liberdade enfim sujeito da sua proacutepria consciecircncia
A Arte Moderna do Seacuteculo XX eacute antes de tudo um movimento que desinaugura a modernidade acadecircmica e cientificista uma provocaccedilatildeo constante agraves miacutedias consagradas na tradiccedilatildeo claacutessica e um convite ao seu alargamento [] Nossos cadernos de hoje natildeo representam mais os cadernos da cultura moderna retornaram agrave condiccedilatildeo de mero suporte aacutevidos de usuaacuterios repletos de muacuteltiplas possibilidades de utilizaccedilatildeo aacutevidos portanto de miacutedias por virem a ser (SENNA 2005 p 171)
O grande problema da escrita segundo ele eacute a dificuldade do sujeito utilizar o
papel porque para isto o sujeito precisa alojar-se nos moldes cartesianos isto eacute
pensar como o fez Reneacute Descartes4 (1596-1650) colocando em duacutevida todas as
coisas com o objetivo de reconstruiacute-las a partir das certezas incontestaacuteveis
Para os sujeitos contemporacircneos o papel foi desmistificado e os indiviacuteduos
passaram a ser sujeitos das miacutedias eletrocircnicas com as quais os usuaacuterios escrevem
exaustivamente ou seja os alunos deixaram de ser lsquoescravosrsquo da escrita em papel e
passaram a fazer uso de hipertextos Eacute dessa forma que a miacutedia se faz presente na
intencionalidade do usuaacuterio saber como utilizar a tecnologia natildeo eacute um processo
diferente de aprendizagem satildeo neurocircnios que se conectam A mudanccedila estaacute no
contexto do processo educacional com outras linguagens com trabalhos
compartilhados em rede e outros recursos arremata Senna (op cit p 172)
Corroborando com essa linha de raciociacutenio Antunes (2002) argumenta que
O que torna o ser humano diferente natildeo eacute apenas a capacidade de pensar e sim de utilizar diversas formas de pensamento para procurar um melhor conhecimento da realidade uma convivecircncia harmocircnica com seus semelhantes e a possibilidade de se sentir agente construtor da proacutepria felicidade Quando se aprende a pensar criam-se conceitos relaccedilotildees e
4 Reneacute Descarte notabilizou-se sobretudo por sugerir a fusatildeo da aacutelgebra com a geometria fato que
gerou o sistema de coordenadas cartesianas
27
projetos Natildeo acreditamos que a estaacutetua lsquoo pensadorrsquo de Rodin possa pensar mas natildeo duvidamos do genial pensamento do escultor antes de transformar o bronze amorfo na obra imortal (ANTUNES 2002 p70)
E entre noacutes que vivemos em um mundo repleto de cores e fantasias para
entretenimento pensar olhando para uma folha de papel em branco eacute uma atividade
extremamente penosa
Sabemos que desde que o ser humano comeccedilou a organizar o pensamento
por meio de registros a escrita e a leitura foram se desenvolvendo e ganhando
extrema relevacircncia nas relaccedilotildees sociais na difusatildeo das ideias e sobretudo nas
informaccedilotildees ou seja a comunicaccedilatildeo estaacute na essecircncia da natureza humana e serviu
de alicerce para a sua evoluccedilatildeo Por intermeacutedio dela pode-se desenvolver um
complexo e bem elaborado sistema de linguagem que nos proporciona o contato e a
interaccedilatildeo com os outros
Na praacutetica todos precisamos aprender a ler e escrever porque a leitura
resulta de uma motivaccedilatildeo natural de compreender a experiecircncia individual fazendo
com que se propague a comunicaccedilatildeo com o meio no qual estaacute inserido o indiviacuteduo
Para isto faz-se necessaacuterio um incentivo um estiacutemulo uma orientaccedilatildeo e este eacute
naturalmente o papel da escola
Especificamente no que diz respeito a questatildeo da leitura Kleiman (2002)
aborda o tema como sendo um processo que se evidencia atraveacutes da interaccedilatildeo
entre os diversos niacuteveis de conhecimento do leitor a saber conhecimento
linguiacutestico conhecimento textual e conhecimento de mundo Dessa forma podemos
conceituar interpretaccedilatildeo textual como sendo uma incursatildeo atraveacutes da mensagem
que cada texto pretende transmitir incluindo todos os tipos de imagens que estejam
ao alcance da nossa visatildeo
Atualmente falar ao celular mandar e receber torpedos enquanto se lsquoassistersquo
as aulas compartilhar fotografias com as quais se faz lsquopapel de paredersquo para as telas
dos equipamentos pesquisar na internet postar viacutedeos ouvir muacutesicas baixar jogos
dentre muitas outras lsquodescobertas interessantesrsquo satildeo accedilotildees que se tornaram
corriqueiras entre os frequentadores das nossas salas de aulas Diante de todo esse
potencial criativo dos alunos aliado agrave disponibilizaccedilatildeo gratuita de imagens de
sateacutelites atraveacutes do Google Earth nos parece um momento oportuno para o ensino-
aprendizagem da cartografia escolar nas aulas de Geografia
28
Assim sendo retomando ao raciociacutenio de Senna (2005) podemos inferir que
se por um lado o sentido da escola tem sido o de formar um sujeito cartesiano
consequente previsiacutevel polido e educado por outro o uso corriqueiro das
hipermiacutedias vem rompendo bruscamente com esse estilo ldquocertinhordquo dos alunos que
desejamos ver e que as engrenagens do sistema capitalista financiador assim o
exige Poreacutem o ldquoproduto finalrdquo entregue ao mercado de trabalho pelas escolas
puacuteblicas natildeo tecircm sido nada animador
Essa afirmaccedilatildeo encontra amparo quando se analisa os resultados das
pesquisas de avaliaccedilatildeo realizadas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e disponibilizados
atraveacutes do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB2010) ao indicarem
que 70 dos alunos das seacuteries avaliadas (quinto e nono anos do ensino
fundamental e terceiro do ensino meacutedio) natildeo conseguiram alcanccedilar as metas
estabelecidas pelos organismos internacionais de acompanhamento apresentando
niacuteveis de aprendizado considerados inadequados em liacutengua portuguesa e
matemaacutetica O nuacutemero mais alarmante estaacute no terceiro ano do ensino meacutedio onde
apenas 98 dos alunos dominam conhecimentos que deveriam saber em
matemaacutetica Parece assustador constatar que no Brasil dos uacuteltimos anos 98 das
crianccedilas entre 7 e 14 anos estatildeo na escola mas 70 deles natildeo conseguem
aprender o esperado pela sociedade
Ora se a atividade-fim da educaccedilatildeo eacute a aprendizagem eacute inevitaacutevel perguntar
por que o aluno brasileiro natildeo aprende o esperado A resposta se constitui em um
quebra-cabeccedilas repleto de peccedilas que precisam ser encaixadas de maneira eficiente
A peccedila central poreacutem estaacute no corpo docente Um professor qualificado proporciona
mais qualidade de aprendizagem que por sua vez eleva a qualidade na educaccedilatildeo
ou seja o professor eacute o ator principal no palco que representa uma poliacutetica
educacional de sucesso e o avanccedilo dos iacutendices avaliados pelo SAEB depende em
grande parte do investimento individual e permanente na proacutepria formaccedilatildeo docente
Por outro lado diferentemente do que muitos professores afirmam com o
uso indiscriminado das hipermiacutedias as novas geraccedilotildees do seacuteculo XXI natildeo
necessariamente desenvolveram aversatildeo agrave leitura e escrita Ao contraacuterio os jovens
leem e escrevem muito mais do que as geraccedilotildees anteriores devido ao uso das
redes sociais basta que lhes sejam apresentados desafios virtuais A diferenccedila eacute
que se utilizam de uma nova linguagem mais raacutepida e nada formal denominada
pelos linguistas de internetecircs Logo o suposto desinteresse dos alunos pela leitura
29
de mundo natildeo procede
Nesse cenaacuterio compreender os interesses dos alunos eacute um processo
complexo que exige mudanccedilas significativas Eacute possiacutevel uma nova forma de
aprender e um novo modelo de ensino onde natildeo seja obrigatoacuterio todos aprenderem
as mesmas coisas ao mesmo tempo e no mesmo lugar Compete aos professores
tornaacute-la mais criacutetica inserindo os alunos no contexto social e fazendo-os
compreender seu lugar no espaccedilo
14 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital
No dia a dia somos torpedeados atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo com
inuacutemeras informaccedilotildees oriundas das mais diversas fontes Por exemplo quando
assistimos aos noticiaacuterios atraveacutes dos telejornais diaacuterios vemos as apresentadoras
utilizando-se dos mapas meteoroloacutegicos com intuito de melhor expor as informaccedilotildees
sobre a previsatildeo do tempo da mesma forma que os sistemas de navegaccedilatildeo
veicular estatildeo se tornando cada vez mais populares entre os motoristas Tem se
tornado cada vez mais comum acessarmos um portal de notiacutecias e vermos uma
planta da cidade com as informaccedilotildees sobre o roteiro a ser seguido para se
acompanhar um determinado evento ou as vezes compreendermos as alteraccedilotildees
demograacuteficas ou climaacuteticas ocorridas ao longo de muitas deacutecadas a partir dos mapas
temaacuteticos ou ainda acompanharmos uma operaccedilatildeo da defesa civil e corpo de
bombeiros na contenccedilatildeo dos efeitos de um desastre atraveacutes dos mapas exibidos
nos noticiaacuterios locais
O que poucas pessoas sabem eacute que por traacutes de tudo isso existem mapas
digitais e anaacutelises cartograacuteficas Por exemplo o desmatamento da floresta
amazocircnica para expansatildeo da fronteira agriacutecola eacute uma questatildeo polecircmica entre os
desenvolvimentistas e preservacionistas que a partir de mapas tecircm mostrado
possiacuteveis impactos futuros como a desertificaccedilatildeo da regiatildeo No entanto muitas
pessoas natildeo relacionam que o complexo modelo de previsatildeo estaacute associado a
informaccedilatildeo geograacutefica
Enquanto a maioria das pessoas vive de forma inconsciente as questotildees
geograacuteficas o mundo estaacute ficando cada vez mais complexo Dessa forma o uso de
mapas pode ser um meacutetodo eficaz para transmitir um grande volume de
informaccedilotildees Simielli (2010) afirma que o sucesso desta informaccedilatildeo depende
30
principalmente da alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica do observador que via de regra estaacute
muito aqueacutem da ideal
Considerando que os mapas satildeo meios de transmissatildeo de informaccedilatildeo [hellip] eacute preciso levar em conta que os mapas tecircm funccedilotildees especiacuteficas para determinados grupos de usuaacuterios e que a linguagem cartograacutefica natildeo deve ser compreendida soacute pelo cartoacutegrafo mas principalmente pelo usuaacuterio [hellip] Eacute importante que a linguagem cartograacutefica seja valorizada estudada e conhecida pelos estudantes Atraveacutes dela o aluno interpreta os mapas orienta-se e estabelece-se a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo cartograacutefica e a realidade (SIMIELLI 2010 p 88)
Vale lembrar que no ensino de Geografia a linguagem graacutefica deve ser
incluiacuteda ao lado de outras linguagens natildeo-verbais no rol das ferramentas que
viabilizam a leitura de mundo
Nesta abordagem Simielli (op cit) assevera ainda que ldquoo sucesso do uso do
mapa repousa na sua eficaacutecia quanto a transmissatildeo da informaccedilatildeo espacial sendo
o ideal dessa transmissatildeo a obtenccedilatildeo pelo leitor da totalidade da informaccedilatildeo
contida no mapardquo (p 79) Assim sendo podemos compreender a alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica como um conjunto de habilidades relacionadas a percepccedilatildeo do espaccedilo
que nos permitem fazer leituras de mapas imagens e dados geograacuteficos da mesma
forma que lemos textos e nuacutemeros
15 A popularizaccedilatildeo das TICs nas escolas
Com o advento das TICs diariamente somos abastecidos com informaccedilotildees
por meio das hipermiacutedias Essas informaccedilotildees satildeo as mais diversas desde mapas e
imagens de cartotildees-postais ateacute graacuteficos que nos satildeo apresentados por meio das
miacutedias digitais desafiando a nossa capacidade de interpretaccedilatildeo dessas informaccedilotildees
a partir dos dados expostos
Por isso eacute importante que a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica possa fazer parte da
aprendizagem a partir do uso de instrumentos tradicionais em sala de aulas como
livros atlas e globos aliados ao uso dos programas de computadores considerando
que desde cedo nossas crianccedilas satildeo expostas agraves mais diversas informaccedilotildees em
formato digital impondo desafios agraves instituiccedilotildees de ensino para a introduccedilatildeo de
plataformas digitais como parte integrante no curriacuteculo escolar do processo de
ensino e aprendizagem
31
Diante dessa nova realidade os professores deveratildeo buscar alternativas para
possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes explorando as muacuteltiplas
habilidades dos seus alunos Por outro lado quando se avalia o nosso atual modelo
institucionalizado de ensino eacute faacutecil perceber que mapas e globos jaacute natildeo mais
despertam interesses no puacuteblico-alvo do Ensino Fundamental por se tratarem de
objetos inanimados perderam muitos espaccedilos na concorrecircncia com as miacutedias
digitais No entanto os ldquovelhos mapasrdquo natildeo poderatildeo simplesmente ser ignorados
enquanto suporte pedagoacutegico em funccedilatildeo das hipermiacutedias principalmente porque o
seu uso favorece o desenvolvimento da percepccedilatildeo subliminar
Nesse contexto com auxiacutelio da cartografia digital podemos lanccedilar um desafio
virtual para os nossos alunos O ldquopoderrdquo de alterar as fronteiras traccediladas pela
geografia tradicional construindo seus proacuteprios mapas inclusive em 3D usando a
liberdade de imaginaccedilatildeo Acreditamos que nessa ldquogeografia dos poderesrdquo a leitura
do mundo digital atraveacutes das ferramentas do Google Earth exige que os indiviacuteduos
tenham uma formaccedilatildeo escolar mais soacutelida no sentido do domiacutenio da linguagem
cartograacutefica possibilitando-os ler interpretar e construir mapas com mais facilidade
Partimos das ideias de Moran (2007) que assim leciona
Para conhecer o mundo natildeo eacute preciso viajar muito Basta enxergaacute-lo de onde estamos com um olhar um pouco mais abrangente Natildeo eacute soacute correr o mundo isso eacute bom mas conhecimento tambeacutem se daacute pela interiorizaccedilatildeo e pela observaccedilatildeo integradora (MORAN 2007 pp 50-1)
Evidentemente esta observaccedilatildeo integradora soacute poderaacute ocorrer atraveacutes da
anaacutelise dos elementos estruturais que nos circundam podemos dizer entatildeo que na
era da internet natildeo eacute difiacutecil percebermos que temos muitas informaccedilotildees e as vezes
poucos conhecimentos
16 Um mundo reduzido pelo Google Earth e ao alcance de um toque
Desde a segunda metade do seacuteculo XX com o expressivo processo de
urbanizaccedilatildeo ocorrido no Brasil muitas pessoas enfrentam dificuldades para chegar
a um lugar desconhecido utilizando-se de um mapa Sentir-se desorientado entre as
ruas de uma cidade ou se desviar da rota numa estrada eacute um inconveniente que
todos noacutes jaacute passamos algum dia e que poderia ser evitado com a simples
interpretaccedilatildeo de um mapa
32
Satildeo conhecimentos baacutesicos que precisam ser adquiridos jaacute a partir do
segundo ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um processo introdutoacuterio de
alfabetizaccedilatildeo na linguagem cartograacutefica o que nem sempre eacute realizado A boa
notiacutecia eacute que com a popularizaccedilatildeo do Google Earth temos uma ferramenta digital
disponiacutevel gratuitamente com faacutecil manuseio e capaz de nos orientar em qualquer
parte da terra
Anteriormente conhecido como Earth Viewer o software foi desenvolvido
por uma empresa norte-americana a qual foi comprada pelo Google em 2004 No
ano seguinte o nome do produto foi alterado para Google Earth e tecircm se tornado
muito utilizado em todos os continentes desde entatildeo O programa permite navegar
por imagens de sateacutelite de todo o planeta giraacute-lo marcar e salvar locais medir
distacircncias entre dois pontos e ter uma visatildeo tridimensional de uma determinada
localidade
Aleacutem da versatildeo gratuita o Google Earth Pro (versatildeo profissional) inclui os
mesmos recursos e imagens faacuteceis de usar que a versatildeo gratuita do Google Earth
mas com ferramentas profissionais adicionais criadas especificamente para os
usuaacuterios de empresas
Uma vez instalado e executado no computador o programa disponibiliza
dados geograacuteficos de todo o planeta Poreacutem estes dados natildeo satildeo atualizados em
tempo real eles vecircm de empresas comerciais e da compilaccedilatildeo de dados dos uacuteltimos
trecircs anos Por exemplo a uacuteltima atualizaccedilatildeo das imagens da cidade de Campina
Grande (PB) foi realizada em maio de 2012 nesta data entretanto nem todos os
municiacutepios paraibanos satildeo visualizados com a mesma nitidez disponiacutevel para a
rainha da Borborema Quem explica os motivos das imagens de alguns locais
apresentarem-se desfocadas eacute Camboim (2006 p75)
[] como estes dados vecircm de diversas fontes os mesmos tecircm resoluccedilotildees variadas tendo imagens com maior resoluccedilatildeo geralmente em grandes centros urbanos A resoluccedilatildeo espacial eacute medida em metros Quando se diz que uma imagem possui 15 metros de resoluccedilatildeo significa que os sensores do sateacutelite conseguem identificar um objeto sobre o terreno que tenha no miacutenimo 15 metros
Depois de instalado no computador o programa do Google apresenta uma
tela padratildeo com o globo terrestre (figura 1) A partir de entatildeo basta o usuaacuterio seguir
as instruccedilotildees do tutorial disponibilizado pelo software e explorar o universo ou
qualquer parte da terra que se deseja visualizar
33
Figura 1 Tela inicial do Google Earth
Globo terrestre em 3D (imagem parcial) Acesso em 25mar2014
Desta forma a utilizaccedilatildeo dos recursos disponibilizados pelo Google Earth
apresenta um incremento significativo no ensino de geografia por meio da inclusatildeo
da visatildeo tridimensional que permite o desenvolvimento da percepccedilatildeo espacial do
aluno No momento em que se adquire uma visatildeo em terceira dimensatildeo das
representaccedilotildees espaciais presentes nos mapas o entendimento dos estudantes se
torna mais efetivo no tocante a percepccedilatildeo da noccedilatildeo de espaccedilo
Outra variaacutevel que deve ser considerada na escolha deste programa eacute a sua
linguagem simples e acessiacutevel que permite uma faacutecil assimilaccedilatildeo por parte das
crianccedilas e adolescentes Neste sentido Silva (2002) coloca que eacute na escola que
encontramos o espaccedilo adequado para introduzir e processar novas informaccedilotildees
transformando-as em conhecimento e atraveacutes desse processo formar cidadatildeos
preparados para desenvolver sua funccedilatildeo social de forma consciente e construtiva
Nos uacuteltimos anos as TICs tecircm oferecido infinitas possibilidades de apoio ao
ensino de geografia e como lembra Almeida (2010) ldquoa tecnologia do Google Earth e
dos sistemas GPS em aparelhos celulares introduz cada vez mais a cartografia no
cotidiano das pessoasrdquo No que diz respeito agrave praacutetica docente a utilizaccedilatildeo dos
mapas tambeacutem deve evoluir para se tornar um recurso inovador de comunicaccedilatildeo e
expressatildeo Poreacutem em nossas salas de aula muito trabalho ainda haacute para ser feito
34
no sentido de facilitar a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica mesmo com a eventual utilizaccedilatildeo
do GPS e do Google Maps instalados em alguns equipamentos de telefonia moacutevel
ultra modernos nem todos dispotildeem desses equipamentos por isso eacute preciso
explorar os outros recursos disponibilizados pelo Google Earth
Saliente-se que se o sistema educacional puacuteblico brasileiro natildeo se inserir
plenamente nesse contexto global de preparaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a leitura de
mundo e cidadania bem como para atender as demandas do sistema econocircmico
mundial estaraacute contribuindo desastrosamente para a exclusatildeo social e ampliando as
desigualdades sociais Poreacutem faz-se necessaacuterio lembrar que a escola por si soacute
natildeo forma o cidadatildeo a instituiccedilatildeo escolar apenas o prepara o instrumentaliza
atraveacutes dos exerciacutecios de leitura e escrita possibilitando as condiccedilotildees necessaacuterias
para sua formaccedilatildeo pessoal
No entanto sabemos que associar os conteuacutedos trazidos no livro didaacutetico
com o conhecimento preacutevio do aluno e sua realidade natildeo eacute tatildeo simples assim uma
vez que estes geralmente expressam conteuacutedos de aacutereas distintas agrave realidade dos
alunos Naturalmente isto gera uma resistecircncia e desinteresse no tocante agrave leitura e
interpretaccedilatildeo dos textos e por extensatildeo tambeacutem dos mapas
Em decorrecircncia desse desinteresse percebe-se a dificuldade de orientaccedilatildeo
no espaccedilo quando se abordam as questotildees da geografia regional e ateacute local atraveacutes
dos mapas temaacuteticos o que naturalmente prejudica o processo de ensino-
aprendizagem no momento em que uma simples aula praacutetica torna-se improdutiva
pela deficiecircncia de leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas temaacuteticos exigindo-se muito
mais intervenccedilotildees do professor durante a realizaccedilatildeo dos exerciacutecios do que o
supostamente necessaacuterio desviando assim o foco das atenccedilotildees
Saliente-se que essa situaccedilatildeo natildeo eacute recente tendo em vista que ateacute mesmo
os professores encontram dificuldades em trabalhar esses conteuacutedos devido ao fato
de terem estudado na perspectiva tradicional levando agrave formaccedilatildeo de um ciacuterculo
vicioso o professor natildeo ensina porque natildeo sabe e natildeo sabe porque natildeo aprendeu
na escola Nesse sentido Simielli (2010) expotildee sua preocupaccedilatildeo ao afirmar que
Em cursos ministrados em diferentes cidades do Estado [Satildeo Paulo] percebeu-se que boa parte o professorado natildeo domina noccedilotildees elementares de Cartografia como escalas leitura de legenda meacutetodos cartograacuteficos projeccedilotildees etc Consequentemente esse professor natildeo teraacute condiccedilotildees de trabalhar amplamente com o mapa usando-o apenas como recurso visual (SIMIELLI 2010 p 87)
35
E ainda como agravante dessa situaccedilatildeo constata-se que grande parte dos
professores que ministram esses conteuacutedos geograacuteficos tecircm uma formaccedilatildeo
acadecircmica em outras aacutereas do conhecimento dificultando ainda mais o processo de
construccedilatildeo da noccedilatildeo abstrata de espaccedilo pelos alunos das seacuteries iniciais do Ensino
Fundamental considerando que este puacuteblico ainda se encontra na fase de
compreensatildeo apenas dos elementos concretos o que geraraacute reflexos em todos os
niacuteveis de ensino
Ainda eacute preciso lembrar que os professores de Geografia como
corresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo dos alunos devem enxergaacute-los como sujeitos no
processo educacional e assim sendo devem abordar os conteuacutedos da forma mais
interessante e harmocircnica de modo a preservar as diferenccedilas individuais nesse
processo de compreensatildeo da linguagem cartograacutefica sem no entanto transformaacute-
las em desigualdades
Em nosso entender esses satildeo os motivos pelos quais a compreensatildeo dos
conceitos geograacuteficos destacando aqui a categoria espaccedilo deve contribuir na
formaccedilatildeo dos indiviacuteduos para a vida social na sua totalidade e por extensatildeo
superar as adversidades impostas por um mercado de trabalho cada vez mais
seletivo e para o qual a escola tambeacutem eacute um instrumento formador
Isto tambeacutem significa que o papel social da escola aleacutem de preparar seus
alunos para o pleno exerciacutecio da cidadania formando indiviacuteduos capazes de
conviver numa sociedade em que as influecircncias culturais poliacuteticas e econocircmicas
satildeo universalizantes tambeacutem tem a funccedilatildeo de qualificar matildeo de obra para o
mercado de trabalho
17 Ponto de partida incluir as TICs no planejamento de ensino
Desde o ano de 2005 o Governo Federal vem sistematicamente fazendo
doaccedilotildees de equipamentos para as escolas em todo territoacuterio nacional O ldquogargalordquo
agora eacute a falta de planejamento e manutenccedilatildeo dos equipamentos para a utilizaccedilatildeo
das ferramentas digitais na praacutetica docente Se a falta de recursos humanos (e
materiais) nos laboratoacuterios das escolas eacute uma realidade a ausecircncia de
planejamento das aulas praacuteticas para que se contorne essa situaccedilatildeo conjuntural
tambeacutem o eacute Faz-se necessaacuterio planejar o uso dessas TICs durante todo o ano
36
letivo
Nas aulas de Geografia a utilizaccedilatildeo de ferramentas digitais quase sempre
representa uma excelente oportunidade para o aprimoramento do processo de
ensino aprendizagem considerando que os componentes dessa disciplina dadas as
suas caracteriacutesticas oferecem ao aluno um saber estrateacutegico que permite pensar no
espaccedilo e agir sobre ele Dessa forma podemos deduzir que
O manuseio dos computadores poderaacute incentivar o gosto pelas tecnologias
O uso das ferramentas digitais poderaacute melhorar a percepccedilatildeo do mundo que
nos rodeia
A utilizaccedilatildeo do Google Earth poderaacute possibilitar o desenvolvimento da
capacidade cognitiva na anaacutelise da categoria espaccedilo atraveacutes da
aprendizagem interativa
O desafio de explorar as funcionalidades do programa Google Earth estimula
os alunos para estudar cartografia
Partindo desses pressupostos e de acordo com a anaacutelise dos Paracircmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia podemos constatar que se torna
essencial a inclusatildeo das ferramentas digitais no planejamento anual de ensino das
escolas puacuteblicas que dispotildeem de laboratoacuterios de informaacutetica
Para facilitar o ensino a utilizaccedilatildeo das TICs nos temas relacionados a
cartografia apresentam a vantagem de serem interativos e possuiacuterem recursos da
realidade virtual Assim sendo em tese o uso dos recursos do Google Earth como
auxiliar nas aulas de geografia poderaacute proporcionar uma melhoria na aprendizagem
dos conteuacutedos expostos reduzindo sobretudo o niacutevel de abstraccedilatildeo que os mapas
impressos submetem aos alunos
Desta forma as ferramentas digitais poderatildeo assumir um papel de
mediadores cognitivos do processo de ensino-aprendizagem capazes de aproximar
o aluno da realidade e ainda ilustrarem com exemplos da cartografia local a partir
da visualizaccedilatildeo e recorte de imagens das pequenas comunidades facilitando a
compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados
37
18 Caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
O municiacutepio de Arara estaacute localizado na Microrregiatildeo do Curimatauacute
Ocidental e na Mesorregiatildeo Agreste (Figura 1) Sua aacuterea territorial eacute de 991 kmsup2
representando 01754 do Estado da Paraiacuteba e 0001 de todo o territoacuterio
brasileiro A sede do municiacutepio tem uma altitude aproximada de 467 metros distando
55 Km do campus I da Universidade Estadual da Paraiacuteba O acesso eacute feito a partir
de Campina Grande pelas rodovias BR 104 e PB 105 sentido Nordeste
Figura 2 Arara em destaque no mapa do Estado da Paraiacuteba
Fonte httpcommonswikimediaorgwikiFile3AParaiba_Municip_Ararasvg acesso em 31dez2013
181 Aspectos socioeconocircmicos e educacionais
O municiacutepio foi criado em 1961 e segundo o uacuteltimo Censo Demograacutefico
realizado pelo IBGE em 2010 a sua populaccedilatildeo total era de 12653 habitantes sendo
8924 na aacuterea urbana e 3729 na zona rural A estimativa de habitantes para 2013 eacute
de 13157 habitantes Conforme os dados contidos no Relatoacuterio do Programa das
Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Iacutendice de Desenvolvimento
Humano Municipal para Educaccedilatildeo (IDHM-E) eacute considerado baixo pontuando 0407
numa escala que varia entre 0 (zero) a 1 (um)
Considere-se que pelos paracircmetros etaacuterios definidos pelo Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo (MEC) aos 6 anos uma crianccedila deve iniciar o 1ordm ciclo do ensino
fundamental aos 15 o adolescente deve ingressar na 1ordf seacuterie do ensino meacutedio e
aos 22 anos concluir o ensino superior Dessa forma para se avaliar o acesso de
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uma determinada populaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo escolar divide-se o total de alunos dos trecircs
niacuteveis de ensino pela populaccedilatildeo total dessa faixa etaacuteria
Considere-se ainda que a proporccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes
frequentando ou tendo completado determinados ciclos de ensino indica a situaccedilatildeo
da educaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo em idade escolar do municiacutepio e compotildee o IDHM-
Educaccedilatildeo Ainda de acordo com o relatoacuterio do PNUD sistematizados atraveacutes do
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 no municiacutepio de Arara (PB) no
periacuteodo compreendido entre 2000 e 2010 a proporccedilatildeo de crianccedilas na faixa etaacuteria
entre 11 e 13 anos frequentando as seacuteries finais do ensino fundamental cresceu
2068 entretanto os niacuteveis de aprendizagem avaliados pelo INEPMEC natildeo
acompanharam esses iacutendices
No tocante aos aspectos educacionais segundo os dados do Censo
Escolar5 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Aniacutesio Teixeira (INEP) em 2012 no municiacutepio de Arara foram matriculadas 327
crianccedilas na preacute-escola 2193 alunos no ensino fundamental e 333 no ensino meacutedio
Esta parcela da populaccedilatildeo local foi atendida por 177 professores que atuam
diretamente na regecircncia de sala de aula em 13 unidades que dispotildeem do ensino
preacute-escolar 15 estabelecimentos do ensino fundamental e 02 do ensino meacutedio
Conforme o uacuteltimo Censo Demograacutefico realizado pelo IBGE em 2010 o
percentual de alunos que frequenta a rede puacuteblica de ensino corresponde a 912
no ensino fundamental e 969 no meacutedio Entretanto haacute um aumento substancial
quando se observa o niacutevel superior no qual apenas 655 dos alunos de
graduaccedilatildeo estatildeo matriculados nas universidades puacuteblicas Estes dados refletem a
deficiecircncia no ensino baacutesico do municiacutepio considerando que enquanto apenas 31
dos alunos do ensino meacutedio estavam matriculados nas escolas da rede privada
esse percentual foi elevado em 11 vezes mais quando se trata do ensino superior Eacute
interessante destacar que os 345 dos alunos matriculados nas instituiccedilotildees da
rede privada representam uma pequena parte daqueles que natildeo conseguiram
superar os obstaacuteculos dos exames de seleccedilatildeo para as universidades puacuteblicas
(Graacutefico 2)
5 O Censo Escolar eacute um levantamento de dados estatiacutestico-educacionais de acircmbito nacional realizado todos os
anos e coordenado pelo Inep Ele eacute feito com a colaboraccedilatildeo das secretarias estaduais e municipais de Educaccedilatildeo e
com a participaccedilatildeo de todas as escolas puacuteblicas e privadas do paiacutes
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Graacutefico 2 Percentual de alunos de Arara matriculados nas redes puacuteblica e privada (2010)
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Um dado curioso aleacutem do aumento substancial do nuacutemero de alunos
matriculados na rede privada no ensino superior em relaccedilatildeo ao ensino meacutedio eacute que
no decorrer desses uacuteltimos dez anos ao contraacuterio do que se observa na tendecircncia
nacional o nuacutemero de alunos matriculadas no ensino fundamental no municiacutepio de
Arara sofreu uma reduccedilatildeo correspondente a 11 no periacuteodo Em 2002 haviam
3004 matriculas no ensino fundamental enquanto em 2012 esse nuacutemero sofreu
uma reduccedilatildeo para 2669 matriacuteculas jaacute contabilizados os 476 alunos da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos (Graacutefico 3)
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Graacutefico 3 Reduccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas no ensino fundamental em 10 anos
Fonte IBGE wwwibgegovbrcenso2010cidades acesso em 03set2013
Essa reduccedilatildeo deve-se ao controle mais efetivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
(MEC) no tocante ao aprimoramento do sistema informatizado para se evitar agrave
duplicidade das matriacuteculas a partir do cruzamento dos dados do INEP com o
Programa Bolsa Famiacutelia do Ministeacuterio de Desenvolvimento Social e Combate agrave
Fome (MDS) Por seu turno o Bolsa Famiacutelia eacute um dos responsaacuteveis pela
assiduidade na frequecircncia escolar uma vez que uma das condiccedilotildees para que se
permaneccedila no programa social eacute a frequecircncia regular das crianccedilas na escola De
acordo com as informaccedilotildees disponibilizadas no Portal da Transparecircncia do Governo
Federal durante o ano de 2012 quase 75 das famiacutelias residentes no municiacutepio de
Arara receberam esses benefiacutecios sociais a tiacutetulo de transferecircncia de renda para
combate agrave fome Segundo o MDS isto corresponde agrave 2815 famiacutelias em situaccedilatildeo de
pobreza e extrema pobreza dentre as 3911 residentes no territoacuterio municipal
Por outro lado analisando-se a situaccedilatildeo financeira dos cofres do municiacutepio
observa-se que a Receita Orccedilamentaacuteria6 de Arara no exerciacutecio de 2012 foi da
ordem de R$ 1768770392 (Graacutefico 4) Dentre as receitas o Governo Federal
transferiu 1392 para o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
6 Dados disponibilizados pelo Sistema de Acompanhamento da Gestatildeo dos Recursos da Sociedade (SAGRES)
do Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba Disponiacutevel em ltsagrestcepbgovbrgt acesso em 15jun2013
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Baacutesica e Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) somados aos
147 destinados ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e ainda 089 do
Programa de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) aleacutem dos 129 destinados ao Programa
de Transporte Escolar (PNATE)
Graacutefico 4 Aplicaccedilatildeo dos recursos destinados agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo a receita total do municiacutepio
Fonte Tribunal de Contas do Estado da Paraiacuteba (Adaptado pelo autor em jun2013)
Portanto diante da anaacutelise dos valores destinados aos cofres municipais
acima expostos observa-se que dos quase dezoito milhotildees arrecadados mais de
trecircs milhotildees foram recursos transferidos pelo governo federal e destinados
exclusivamente agrave manutenccedilatildeo dos programas de desenvolvimento do ensino das
escolas da rede municipal Se haacute um volume consideraacutevel de recursos investidos na
educaccedilatildeo por que natildeo alcanccedilamos melhores resultados
182 Do recorte espacial e objeto de observaccedilatildeo
A observaccedilatildeo foi realizada na Escola Municipal Luzia Laudelino vinculada a
rede puacuteblica do municiacutepio de Arara pelo fato de ser uma instituiccedilatildeo que atende as
crianccedilas oriundas das zonas urbana e rural nos dois turnos de funcionamento
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Foto 1 Escola Municipal Luzia Laudelino ndash Arara(PB)
(Arquivo pessoal do autor 02dez2013)
O puacuteblico alvo dessa unidade escolar eacute bastante heterogecircneo
matriculando-se alunos de todas os niacuteveis sociais da comunidade local O 6ordm ano do
Ensino Fundamental foi definido como objeto de estudo por ser a seacuterie que melhor
representa a base formal da alfabetizaccedilatildeo na cartografia escolar ou se aprende as
bases do conhecimento cartograacutefico nesse niacutevel de escolaridade ou as deficiecircncias
no processo de ensino-aprendizagem de cartografia tendem a se acentuar no
transcurso das seacuteries posteriores
A influecircncia desse aprendizado para a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas nas
seacuteries seguintes eacute bastante significativa inclusive para aqueles alunos que natildeo teratildeo
acesso aos demais niacuteveis de escolarizaccedilatildeo ou outros suportes textuais aleacutem do livro
didaacutetico
Compreender essas nuanccedilas e promover uma associaccedilatildeo entre cartografia
escolar e ferramentas digitais analisando as razotildees que levam ao desinteresse dos
alunos pela cartografia escolar nas seacuteries iniciais do Ensino Fundamental Aqui
reside uma das minhas preocupaccedilotildees diante desta questatildeo para a qual procuro
encontrar a resposta no decorrer desta pesquisa
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CAPIacuteTULO II
2 A formaccedilatildeo de professores no Brasil
No decorrer do seacuteculo XX o Brasil passou de um atendimento educacional de
pequenas proporccedilotildees proacuteprio de um paiacutes predominantemente rural para serviccedilos
educacionais em grande escala acompanhando o incremento populacional e o
crescimento econocircmico que conduziu a altas taxas de urbanizaccedilatildeo e
industrializaccedilatildeo Em virtude desse novo cenaacuterio foi preciso implementar uma
reforma para melhoria educacional no Ensino Baacutesico cujas diretrizes somente foram
estipuladas na ldquoConferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todosrdquo realizada em
Jomtien (Tailacircndia) em marccedilo de 1990 e soacute depois da qual o Brasil elaborou o Plano
Decenal de Educaccedilatildeo para Todos (1993-2003) com atraso de mais de um seacuteculo
em relaccedilatildeo as naccedilotildees europeias
21 Conferecircncia de Jomtien um novo cenaacuterio para a educaccedilatildeo mundial
A Conferecircncia de Jomtien convocada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) pelo Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (UNICEF) pelo Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial foi composta por representantes de
155 paiacuteses e tinha como objetivo definir os rumos que deveria tomar a educaccedilatildeo
baacutesica nos nove paiacuteses com os piores indicadores educacionais do mundo dentre
os quais ao lado do Brasil encontravam-se Bangladesh China Egito Iacutendia
Indoneacutesia Meacutexico Nigeacuteria e Paquistatildeo naccedilotildees em cujos territoacuterios o capital
produtivo precisava se fortalecer o que soacute seria possiacutevel atraveacutes da elevaccedilatildeo do
niacutevel educacional de uma Populaccedilatildeo Economicamente Ativa (PEA) mais qualificada
que aleacutem de ampliar o mercado consumidor tambeacutem fizesse as vezes de um
exeacutercito de reserva para o mercado de trabalho
Por outro lado segundo o relatoacuterio da UNESCO um dos maiores problemas
da educaccedilatildeo brasileira no iniacutecio da deacutecada de 1990 consistia nas elevadas taxas de
evasatildeo e repetecircncia (superando os 50 dos ingressantes no Ensino Fundamental)
associadas ao elevado iacutendice de analfabetos adultos Diante dessa realidade as
agecircncias internacionais de fomento a serviccedilo do capital a exemplo do BID e BIRD
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passaram a exigir accedilotildees mais abrangentes e concretas voltadas para a melhoria do
Ensino Baacutesico tais como o uso racional dos recursos e flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos
estipulando que um fator primordial para se alcanccedilar as metas seria a autonomia
das instituiccedilotildees educacionais7 aleacutem de recomendar que todo o sistema educacional
brasileiro focasse nos resultados enfatizando a necessidade de que se
implementassem sistemas de avaliaccedilotildees perioacutedicas (Provinha e Prova Brasil Saeb
ENEM dentre outros)
Este fato reforccedila a ideia da busca pela eficiecircncia e maior articulaccedilatildeo entre os
setores puacuteblicos e privados tendo em vista a necessidade de se ampliar a oferta de
educaccedilatildeo de melhor qualidade Dentre as prioridades traccediladas na Declaraccedilatildeo
Mundial de Educaccedilatildeo para Todos (Education for All ndash EFA) consolidada em Jomtien
e que tem no Brasil um de seus signataacuterios estatildeo a reduccedilatildeo das taxas de
analfabetismo e a universalizaccedilatildeo do Ensino Baacutesico Desde entatildeo o governo
brasileiro empreende um conjunto de accedilotildees com vistas a cumprir as metas firmadas
nessa conferecircncia e a melhoria da qualidade do ensino da geografia natildeo poderia
ficar excluiacuteda desse contexto
22 Qual eacute o papel da Geografia nessa histoacuteria
Para comeccedilar Lacoste (1994) nos fornece um panorama do papel
desempenhado pelas ciecircncias humanas nesse contexto ao revelar a face oculta da
Geografia isto eacute seu caraacuteter poliacutetico Ele afirma que desde a Antiguidade Claacutessica
essa ciecircncia tem servido de meio auxiliar para manter a hegemonia burguesa
atraveacutes da dominaccedilatildeo ideoloacutegica difundida nas escolas Para Lacoste
[] a dominaccedilatildeo ideoloacutegica o conjunto das ideias e dos sentimentos pelos quais a burguesia impotildee agraves outras classes um certo consenso ela natildeo se manteacutem no poder pelo efeito uacutenico do aparelho coercitivo do Estado Uma das bases primordiais dessa hegemonia cultural e poliacutetica da burguesia foi a ideologia nacional a ideia da unidade nacional e da independecircncia nacional (LACOSTE 1994 p 48)
7 Para viabilizar esta meta o Governo Federal atraveacutes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo criou mecanismos como o
Fundo de Valorizaccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF posteriormente FUNDEB) Programa Nacional de Livro Didaacutetico (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dentre muitos outros com o intuito de corrigir as distorccedilotildees verificadas entre os diversos sistemas de ensino nas esferas estaduais e municipais
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Esta constataccedilatildeo do autor reforccedila a ideia de que na Franccedila assim como
ocorreu na Alemanha o ensino da geografia tambeacutem foi institucionalizado apoacutes
1870 quando os franceses perceberam que a Alemanha soacute ganhou a guerra franco-
prussiana porque seus soldados conheciam e almejavam muito pela conquista do
espaccedilo onde estavam lutando em decorrecircncia dos ensinamentos geograacuteficos
aprendidos nas escolas elementares
Dessa forma a ciecircncia geograacutefica tambeacutem serviria a alematildees e franceses
como um instrumento alienante uma vez que as accedilotildees governamentais eram
sempre exaltadas entre os jovens aprendizes sendo justificadas como necessaacuterias
ao sentimento de constituiccedilatildeo da naccedilatildeo e os professores prussianos repassavam
este sentimento aos seus alunos em desfavor da poliacutetica imperialista francesa ao
ponto do entatildeo chanceler prussiano Otto Von Bismarck afirmar que ldquofoi o mestre-
escola quem ganhou a guerrardquo franco-prussiana
No tocante a formaccedilatildeo de profissionais para essa seara Vlach (1994) afirma
que na Europa do seacuteculo XIX as graduaccedilotildees em geografia foram criadas para
servir de aporte no fortalecimento da formaccedilatildeo de professores para o ensino
elementar
Ora a geografia na qualidade de ciecircncia institucionalizada durante o seacuteculo XIX havia dado preciosa contribuiccedilatildeo agrave constituiccedilatildeoconsolidaccedilatildeo de uma forma essencialmente europeia de organizaccedilatildeo poliacutetica e territorial do espaccedilo geograacutefico o Estado-naccedilatildeo que com muita precisatildeo havia espacializado as relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas culturais da burguesia industrial de maneira que atraveacutes da escola a geografia inculcava o amor agrave paacutetria nos termos de uma ideologia nacionalista embasada no pressuposto da igualdade de todos como se todos fossem de fato cidadatildeos ao mesmo tempo que atraveacutes de trabalhos de reconhecimento e cartografia do territoacuterio estabelecia as fronteiras de cada Estado moderno (VLACH 1994 p 155)
Nesta perspectiva vale ainda ressaltar que o ensino de geografia na
formaccedilatildeo elementar aparece bem antes que nas caacutetedras das universidades Jaacute no
iniacutecio do seacutec XIX quando os prussianos queriam fundar um Estado-Naccedilatildeo foram
buscar ldquoauxiacuteliordquo na geografia e a ela coube ldquodifundir o amor agrave paacutetriardquo entre aqueles
povos que futuramente viriam a ser chamados de alematildees Assim a geografia
escolar com aporte na cartografia aparece como uma disciplina estrateacutegica para a
construccedilatildeo do Estado-Naccedilatildeo com a incumbecircncia de servir agrave classe dominante uma
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vez que mesmo utilizando-se de descriccedilatildeo e observaccedilatildeo dos aspectos naturais
humanos e econocircmicos de maneira fragmentada os conhecimentos cartograacuteficos
utilizados por meio da geografia escolar garantiam aos prussianos uma visatildeo de
unidade territorial
Nesse sentido ela assegura ainda que a geografia se estabelece como
ciecircncia e criam-se caacutetedras universitaacuterias primeiramente na Alemanha e depois na
Franccedila porque ambos tinham como objetivo a garantia de suporte teoacuterico e praacutetico
aos professores que iriam lecionaacute-la nas escolas de ensino elementar nos moldes
que interessavam as classes dominantes
Neste sentido natildeo podemos ignorar o peso da epistemologia positivista claramente dominante naquele momento que de um lado exigiaexige um objeto proacuteprio para reconhecer uma ciecircncia de outro e antes de mais nada asseguravaassegura que a ciecircncia ndash e apenas a ciecircncia ndash podiapode assimilarexplicar a realidade (VLACH 1994 p154)
Por fim a autora esclarece que desde 1831 a geografia passou a ser
requisito nas provas para os cursos superiores de direito sendo considerada um
saber essencial na formaccedilatildeo dos bachareacuteis futuros intelectuais e administradores
numa Europa cujas fronteiras ainda eram pouco consolidadas logo diante do que
foi afirmado acima podemos deduzir que a Geografia associada a cartografia serviu
de aporte para ampliar o controle das elites europeias sobre o espaccedilo a ser mantido
inclusive nos domiacutenios coloniais
23 O cenaacuterio nacional a formaccedilatildeo de professores de Geografia no Brasil
O pontapeacute inicial para elaboraccedilatildeo deste toacutepico foi a necessidade desse fazer
uma anaacutelise histoacuterica sobre a formaccedilatildeo dos professores no Brasil considerando que
as inuacutemeras contradiccedilotildees e transformaccedilotildees presentes na sociedade e as novas
exigecircncias impostas pela economia mundial refletem-se nas praacuteticas pedagoacutegicas e
consequentemente na accedilatildeo do professor cotidianamente exigindo uma praacutetica que
atenda essas exigecircncias profissionais humanas culturais e poliacuteticas Estas
transformaccedilotildees se chocam com uma seacuterie de deficiecircncias oriundas da formaccedilatildeo
inicial dos professores haja vista que no palco da sala de aula estes formandos
devem ser considerados como atores coadjuvantes no processo de ensino-
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aprendizagem Entretanto na praacutetica os formandos em geografia ainda encontram
muitos obstaacuteculos para desempenhar o novo papel exigido pela sociedade
No Brasil segundo Soares Juacutenior (2002) a geografia comeccedilou a ser
lecionada no Coleacutegio Pedro II do Rio de Janeiro entatildeo capital do pais jaacute em 1837
depois de maneira gradativa foi incorporada aos curriacuteculos das demais escolas
brasileiras Transcorridos os 90 anos seguintes depois daquela implantaccedilatildeo da
disciplina naquele coleacutegio da capital federal o ensino de geografia ainda era
ministrado por bachareacuteis em direito meacutedicos seminaristas e engenheiros Somente
a partir de 1934 aparecem em algumas capitais brasileiras universidades destinadas
a formar professores de geografia a exemplo do Rio de Janeiro Satildeo Paulo e Porto
Alegre
Portanto faz-se necessaacuterio lembrar que no decorrer das uacuteltimas oito deacutecadas
vivenciamos mudanccedilas consideraacuteveis nos aspectos poliacuteticos econocircmicos e
culturais bem como em todas as dimensotildees da sociedade brasileira Como se extrai
da leitura do paraacutegrafo anterior no iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da geografia
brasileira e da formaccedilatildeo do professor de geografia os estudos e ensinamentos
geograacuteficos estavam praticamente limitados ao eixo Sul e os cursos superiores de
geografia que funcionavam no paiacutes se encontravam principalmente em Satildeo Paulo e
Rio de Janeiro
No tocante ao sistema de ensino nacional haacute quase 80 anos (1934-2013) a
geografia - com maior ou menor intensidade - vem fazendo parte da base de
formaccedilatildeo curricular dos alunos da educaccedilatildeo baacutesica (desde o ensino primaacuterio ao
ginasial passando pelos 1ordm e 2ordm graus e mais recentemente do fundamental ao
meacutedio) e vem sendo aprimorada nas academias em niacuteveis de graduaccedilatildeo e poacutes-
graduaccedilatildeo Com o processo de redemocratizaccedilatildeo a geografia tomou novos rumos
para a compreensatildeo da sociedade brasileira e por extensatildeo tambeacutem da sociedade
mundial
Conveacutem lembrar que as instituiccedilotildees de ensino superior desempenham uma
importante e ao mesmo tempo complicada funccedilatildeo a incumbecircncia de formar os
professores Considere-se que a carreira docente natildeo tem sido muito atrativa nas
uacuteltimas deacutecadas se comparada a outras que exigem o mesmo niacutevel de formaccedilatildeo
intelectual tanto em relaccedilatildeo agrave retribuiccedilatildeo financeira quanto ao prestiacutegio social o
que faz com que a cada ano se torne mais difiacutecil atrair pessoas capacitadas para
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este ofiacutecio
Mesmo assim cabe aos cursos de licenciatura em geografia a difiacutecil tarefa de
colocar no mercado de trabalho bons professores capazes de motivar os alunos do
Ensino Baacutesico e convencecirc-los a se interessar pela aprendizagem dos conteuacutedos
geograacuteficos diante da ldquoconcorrecircncia deslealrdquo manifesta atraveacutes dos programas
televisivos do fasciacutenio criado pelos jogos digitais e da interatividade promovida pelas
redes sociais aleacutem das incontornaacuteveis mazelas sociais que acabam por refletir nas
engrenagens do sistema educacional brasileiro na atualidade
Evidentemente que para as instituiccedilotildees de ensino superior tambeacutem natildeo eacute
faacutecil em 160 semanas (tempo meacutedio de duraccedilatildeo de um curso de licenciatura)
ldquoentregar um produto livre de viacutecios redibitoacuteriosrdquo ou seja transformar jovens que
geralmente apresentam defasagens de aprendizagem proveniente de uma formaccedilatildeo
baacutesica com deficiecircncias marcantes em um profissional com vasto conhecimento do
saberfazer docente na aacuterea das Ciecircncias Humanas Evidentemente mais cedo ou
mais tarde algum defeito oculto afluiraacute dessa intensiva formaccedilatildeo Poreacutem nada disso
se compara com os inuacutemeros desafios enfrentados pelos professores que atuam no
Ensino Baacutesico
Nos uacuteltimos 50 anos tem sido praacutetica comum nas academias que toda
formaccedilatildeo superior esteja voltada para a especializaccedilatildeo como ocorre com a
medicina direito e odontologia apenas para citar alguns exemplos O professor de
geografia do Ensino Baacutesico ao contraacuterio trabalha com muitas vertentes do
conhecimento geograacutefico cartografia climatologia hidrografia geomorfologia
demografia geografia agraacuteria industrial meio ambiente movimentos sociais e
muitos outros Com isso o niacutevel de informaccedilatildeo que ele possui e tambeacutem a forma
como inter-relaciona estes temas eacute de fundamental importacircncia para natildeo fragmentar
o conhecimento
Nesse sentido Moran (2010 p19) eacute implacaacutevel quando assegura que nem
sempre essa habilidade eacute desenvolvida atraveacutes das praacuteticas docentes Segundo ele
eacute por isso que ldquomuitos professores costumam culpar os alunos a escola o salaacuterio e
ateacute a jornada de trabalho pela natildeo-mudanccedilardquo Assevera ainda que muitos docentes
ldquopor natildeo conhecerem seus alunos subestimam suas potencialidades aleacutem de
manterem-se com uma postura generalista adotando uma mesma proposta de aula
para todosrdquo aleacutem de fazerem vistas grossas nas avaliaccedilotildees porque preferem o pacto
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da mediocridade do ldquofaz-de-contardquo alimentando um ciclo vicioso
Por outro lado devemos sublinhar que parte consideraacutevel dos professores de
geografia que se propotildee a estudar questotildees que envolvem as relaccedilotildees homem-
natureza via de regra procura fazer uso de diferentes teacutecnicas e ferramentas de
apoio para trabalhar o conjunto da complexa rede de interaccedilatildeo dos fenocircmenos
humanos e naturais inclusive com o uso das geotecnologias
24 Novas maneiras de aprender
O surgimento das TICs tem contribuiacutedo decisivamente para que a ciecircncia
geograacutefica possa lidar com uma seacuterie de conhecimentos e informaccedilotildees passiacuteveis de
espacializaccedilatildeo de maneira mais aacutegil faacutecil e raacutepida Surgidas nesse contexto as
geotecnologias entendidas como as tecnologias das geociecircncias e outras ciecircncias
correlatas conduzem a avanccedilos significativos no planejamento do espaccedilo e tambeacutem
no desenvolvimento do ensino de geografia As geotecnologias prestam assim
excepcional auxiacutelio aos mais variados ramos cientiacuteficos especialmente a cartografia
escolar agrupando as informaccedilotildees em meio computacional e fazendo uso de uma
metodologia proacutepria
A utilizaccedilatildeo das TICs na escola com exploraccedilatildeo dos recursos do Google
Earth atraveacutes das imagens de sateacutelite nas aulas de geografia representa bem a
inserccedilatildeo das geotecnologias no cotidiano das pessoas Quem natildeo acompanha a
previsatildeo do tempo apoiada em imagens de sateacutelite nos telejornais diaacuterios da
emissoras de televisatildeo E o que dizer do traccedilado do roteiro a ser seguido pelos
atletas nas maratonas anuais Conforme se observa nos noticiaacuterios televisivos
diariamente a cartografia escolar cada vez mais se faz presente na vida cotidiana
das pessoas Entretanto nem todos compreendem a notiacutecia que estaacute sendo
veiculada e uma forma de se combater esse tipo de analfabetismo digital seraacute
estimulando agraves crianccedilas ao uso das ferramentas digitais
Para Kimura (2010) o processo de aprendizagem mediado por um professor
a partir da utilizaccedilatildeo de softwares luacutedicos que permitam aprender brincando estaacute no
cerne de toda a questatildeo que abrange o desenvolvimento da inteligecircncia
Assim eacute que vaacuterios professores por serem portadores dessa concepccedilatildeo de ensino-aprendizagem associam a seriedade como atributo meritoacuterio do conhecimento e do ensino Brincar por brincar entregando-se a um ato
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luacutedico eacute tambeacutem uma grande conquista Poreacutem do ponto de vista do papel que cabe agrave escola essa conquista eacute criadora se a brincadeira abre as portas e conduz ou chega a um conhecimento Nesse sentido podemos torna-la uma estrateacutegica didaacutetica por traacutes da qual pode existir um conceito sendo trabalhado Eacute um voltar-se para si e para o mundo no qual o professor educa os outros e a si mesmo (KIMURA 2010 p152)
Dessa forma se os desenvolvedores dos softwares luacutedicos que nada mais
satildeo que ldquovendedores de sonhos e de ilusatildeordquo estatildeo perseguindo os progressos
tecnoloacutegicos porque entreveem lucros fabulosos a escola deve deixar esse mundo
do encanto e da imaginaccedilatildeo soacute para eles As nossas escolas ao inveacutes de estarem
sempre atrasadas em relaccedilatildeo a uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica deveriam tomar a frente
de uma demanda social orientada para a formaccedilatildeo de novas mentalidades
Nesse contexto o professor de geografia ao analisar os materiais de que
dispotildee na escola particularmente o Google Earth descobrindo as possibilidades que
este software proporciona no ensino da cartografia escolar pode a partir daiacute
conduzir estrategicamente o processo de aprendizagem mediada cuja principal
caracteriacutestica eacute a de se realizar por meio de um intenso diaacutelogo intencional
orientado para os processos de raciociacutenio para os processos implicados no
ldquoaprender a pensarrdquo ou para o ldquoaprender a aprenderrdquo
Com a popularizaccedilatildeo dos equipamentos de telefonia moacutevel associada a
facilidade de acesso agrave internet por meio desses equipamentos maximizado pelo uso
do Google torna-se imperativo que os professores estimulem o uso dos mapas
digitais como sugerem Bueno Colavite (2011 p 221)
Nessa abordagem a utilizaccedilatildeo do programa Google Earth natildeo deve se dar de
forma passiva pelo aluno ao contraacuterio o que se propotildee eacute que haja uma intensa
atuaccedilatildeo do professor a partir da preacutevia identificaccedilatildeo planejada das formas de
melhorar o aparato cognitivo do aluno como elemento de contribuiccedilatildeo para uma
escola que interaja com a sociedade e com a contemporaneidade que seus alunos
vivem
Assim sendo as ideias brevemente apresentadas nos telejornais diaacuterios
51
transferem agrave geografia um papel de destaque e de extrema importacircncia na
sociedade atual Logo compete ao professor de geografia assumir este papel a fim
de que as suas aulas possam despertar o interesse dos alunos no tocante a
cartografia escolar e desta feita se evite que os encontros semanais se tornem
tediosos e desinteressantes ocasionando deficiecircncia na formaccedilatildeo
25 Foco nas TICs o computador como aliado
O alvorecer do seacutec XXI trouxe uma seacuterie de transformaccedilotildees nos meios de
comunicaccedilatildeo e de informaccedilatildeo A abundacircncia de informaccedilotildees disponiacuteveis nos mais
diversos meios digitais (e nem sempre de diferentes fontes) e a larga produccedilatildeo do
conhecimentos associados as modificaccedilotildees dos ritmos de trabalho e ao mesmo
tempo a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas globais que se manifestam
localmente atraveacutes da implementaccedilatildeo de poliacuteticas que preparam o territoacuterio para as
novas modernidades tornam ainda mais difiacutecil a compreensatildeo do mundo em que se
estaacute vivendo Isto se reflete na organizaccedilatildeo do espaccedilo do trabalho da produccedilatildeo da
formaccedilatildeo e especificamente na formaccedilatildeo dos educadores e na praacutetica da sala de
aula
Nesse sentido Moran (2010 pp32-3) levanta algumas questotildees relevantes para nosso mister
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaccedilo-temporal pessoal e de grupo menos conteuacutedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicaccedilatildeo Uma das dificuldades atuais eacute conciliar a extensatildeo da informaccedilatildeo a variedade das fontes de acesso com o aprofundamento da sua compreensatildeo em espaccedilos menos riacutegidos menos engessados Temos informaccedilotildees demais e dificuldades em escolher quais satildeo significativas para noacutes e em integraacute-las a nossa mente e a nossa vida
Por outro lado Hobsbawm (2009) tratando especificamente da questatildeo das
transformaccedilotildees sociais ocorridas durante o seacuteculo XX afirma que o seacuteculo passado
se iniciou com uma expectativa em relaccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo das ideias socialistas e
terminou com a hegemonia capitalista em sua forma mais concentrada e
profundamente desigual Afirma ainda que no decorrer do seacuteculo XX o fasciacutenio da
tecnologia e a implementaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo num primeiro momento impactou a
sociedade impedindo de certa forma a compreensatildeo do significado dos
acontecimentos
52
Segundo Hobsbawm (2009) passado o primeiro impacto da revoluccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica as consequecircncias do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo jaacute satildeo sentidas e
analisadas com mais pertinecircncia A complexidade das relaccedilotildees subjacentes a este
modelo eacute percebida e pode ser observada no cotidiano das pessoas tanto no
acircmbito social quanto no poliacutetico e principalmente no econocircmico
Na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 o mundo capitalista viu-se novamente agraves voltas com problemas da eacutepoca do entreguerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado desemprego em massa depressotildees ciacuteclicas severas contraposiccedilatildeo cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado (HOBSBAWM 2009 p 19)
Quando aborda a questatildeo socioeducativa mundial ao final do terceiro quartel
do seacuteculo passado ele o faz com um misto de realizaccedilatildeo e frustraccedilatildeo
Ateacute a deacutecada de 1980 a maioria das pessoas vivia melhor que seus pais e nas economias avanccediladas melhor que algum dia tinha esperado viver ou mesmo imaginado possiacutevel viver [] A humanidade era muito mais culta que em 1914 Na verdade talvez pela primeira vez na histoacuteria a maioria dos seres humanos podia ser descrita como alfabetizada pelo menos nas estatiacutesticas oficiais embora o significado dessa conquista estivesse muito menos claro no final do seacuteculo do que teria estado em 1914 em vista do fosso enorme ndash talvez crescente ndash entre o miacutenimo de competecircncia oficialmente aceito como alfabetizaccedilatildeo muitas vezes descrito como lsquoanalfabetismo funcionalrsquo e o domiacutenio da leitura e da escrita ainda esperado nas camadas de elite (HOBSBAWM 2009 p 21-22)
Dessa forma Hobsbawm continua em sua acurada anaacutelise da conjuntura de
um periacuteodo que denominou de ldquoO Breve Seacuteculo XX 1914-1991rdquo afirmando que no
final desse periacuteodo
O mundo estava repleto de uma tecnologia revolucionaacuteria em avanccedilo constante baseada nos triunfos da ciecircncia natural [] Era um mundo que podia levar a cada residecircncia todos os dias a qualquer hora mais informaccedilatildeo e diversatildeo do que dispunham os imperadores em 1914 Ele dava condiccedilotildees agraves pessoas de se falarem entre si cruzando oceanos e continentes ao toque de alguns bototildees e para quase todas as questotildees praacuteticas abolia as vantagens culturais da cidade sobre o campo (HOBSBAWM 2009 p 22)
Assim sendo os temas da atualidade que envolvem o trabalho do professor
passam pela compreensatildeo do funcionamento desse sistema-mundo analisado por
Hobsbawm e consequentemente soacute a partir dessa compreensatildeo de mundo seraacute
possiacutevel entender as estruturas regionais e locais Esse niacutevel de compreensatildeo
ultrapassa ou perpassa todos os ramos da geografia e tem seus reflexos ateacute na
53
economia considerando que historicamente a relaccedilatildeo do homem com a natureza
estaacute impliacutecita na acumulaccedilatildeo de capital e miseacuteria da sociedade como adverte Milton
Santos (1994)
Se a geografia deseja interpretar o espaccedilo humano como o fato histoacuterico que ele eacute somente a histoacuteria da sociedade mundial aliada agrave sociedade local pode servir como fundamento da compreensatildeo da realidade espacial e permitir a sua transformaccedilatildeo a serviccedilo do homem [] o espaccedilo ele mesmo
eacute social (SANTOS 1994 p 9-10)
Portanto na atuaccedilatildeo docente da educaccedilatildeo baacutesica isso soacute se torna possiacutevel
na medida em que haja o entendimento das estruturas que se estabeleceram
historicamente e que continuam organizando o espaccedilo e a sociedade
26 Qual eacute o papel do professor nesta aldeia digital
Esta nova realidade de convivecircncia simultacircnea entre imigrantes e nativos
digitais8 apesar de ter comeccedilado a ser debatida nos cursos de licenciaturas desde
as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo passado ainda se traduz com dificuldade na praacutetica
do professor de geografia natildeo soacute devido aos aspectos jaacute conhecidos como o
desestiacutemulo para o trabalho na sala de aula por conta da falta de interesses dos
alunos os escassos recursos materiais associados a desvalorizaccedilatildeo do trabalho
docente mas pela proacutepria resistecircncia dos imigrantes digitais para superaccedilatildeo das
deficiecircncias no tocante as dificuldades naturalmente encontradas para aprimorar sua
formaccedilatildeo
Aqui estamos usando a expressatildeo aldeia digital global no sentido de
referenciar este mundo em que vivemos no poacutes anos 1990 e que estaacute sendo
configurado pela utilizaccedilatildeo intensiva das TICs Esse mundo digital que se descortina
a partir dos anos 90 continua em formaccedilatildeo acelerada e reuacutene basicamente dois
tipos de atores ou seja o grupos de seres humanos que podem ser categorizados
em termos de seu comportamento e de sua mentalidade considerando a forma
como usam e entendem as ferramentas digitais que vatildeo sendo incorporadas ao
8 O termo ldquonativos digitaisrdquo foi primeiramente adotado por Palfrey e Gasser no livro Nascidos na era digital
Refere-se agravequeles nascidos apoacutes 1990 e que tem habilidade para usar as tecnologias digitais Eles se relacionam com as pessoas atraveacutes das novas miacutedias por meio de blogs redes sociais e nelas se surpreendem com as novas possibilidades que encontram e satildeo possibilitadas pelas novas tecnologias Poreacutem aqueles que natildeo se enquadram nesse grupo precisam conviver e interagir com esses nativos e aleacutem disso precisam aprender a conviver em meio a tantas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas satildeo os chamados ldquoimigrantes digitaisrdquo
54
cotidiano
O primeiro grupo eacute formado por aqueles que jaacute nasceram em um mundo
tomado pela tecnologia satildeo as pessoas que Marc Prensky (2010) tambeacutem chama
de nativos digitais segundo esse especialista em tecnologia e educaccedilatildeo
Nativos digitais e imigrantes digitais satildeo termos que explicam as diferenccedilas culturais entre os que cresceram na era digital e os que natildeo Os primeiros por causa de sua experiecircncia tecircm diferentes atitudes em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Hoje haacute muito mais adultos que migraram e nos Estados Unidos quase todas as crianccedilas em idade escolar cresceram na era digital Pode ser que em alguns lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razotildees sociais (PRENSKY 2010)
Esse grupo tambeacutem eacute conhecido como Geraccedilatildeo N (Net) considerando que
computadores celulares videogames e webcams fazem parte do cotidiano dessa
geraccedilatildeo passando do status de ferramentas para o status de linguagem comum e
falada fluentemente por essa geraccedilatildeo que cresceu tendo a internet como parte
natural de seu ambiente cultural e cognitivo para ela a vida real compreende de
forma integrada e sem fronteira tanto as relaccedilotildees online quanto as off-line um
mundo no qual ocorre a naturalizaccedilatildeo absoluta do uso das ferramentas digitais
O segundo grupo eacute o dos imigrantes digitais termo utilizado para definir as
geraccedilotildees anteriores aos anos 1990 e que viram essas tecnologias se
desenvolverem se solidificarem e se incluiacuterem (as vezes contra vontade) em seu
cotidiano As pessoas que fazem parte deste grupo quase metade da Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa compreendem a nova realidade representada pela
digitalizaccedilatildeo da produccedilatildeo do consumo e das relaccedilotildees humanas como se fosse um
novo e selvagem Velho Oeste americano ou ainda de forma similar como os
europeus viam o novo continente americano entre os seacuteculos XVI e XIX Talvez
pensando nisso especialistas em tecnologia denominaram as pessoas desse grupo
de imigrantes digitais
Os imigrantes por mais que se inteirem dessa nova linguagem sempre
manteratildeo seu sotaque ou seja sempre precisaratildeo fazer um esforccedilo adicional para
conseguir assimilar aquilo que os nativos fazem com muito conforto e facilidade isto
eacute a capacidade de pensar e agir usando as ferramentas inovadoras digitais
55
No caso dos nativos o grande e indesejaacutevel risco vem da massificaccedilatildeo
daqueles que se tornam naiumlves digitais9 Entretanto ainda existem aqueles que natildeo
pretendem habitar ou mesmo viajar pelo mundo digital Esses podem ser
categorizados de juraacutessicos digitais Ocorre que o problema dos juraacutessicos eacute que
eles se tornam uma espeacutecie de ldquoos novos analfabetosrdquo na viagem civilizatoacuteria que a
humanidade empreende no processo de se tornar uma aldeia global digital pois
nessa viagem soacute existem acomodaccedilotildees para dois tipos de viajantes para os
imigrantes e para os nativos
Diante dessa nova realidade o papel do professor em sala de aula precisa
ser revisto segundo Prensky (2010) as TICs
Mudam os papeacuteis de professores e alunos Os alunos que antes se limitavam a ouvir e tomar notas passam a ensinar a si mesmos com a orientaccedilatildeo dos professores Por isso a real necessidade de usar ferramentas que os ajudem a aprender O papel do aluno passa a ser de pesquisador de usuaacuterio especializado em tecnologia O professor passa a ter papel de guia e de ldquotreinadorrdquo Ele estabelece metas para os alunos e os questiona garantindo o rigor e a qualidade da produccedilatildeo da classe (PRENSKY 2010)
Nesse contexto o professor enfrenta o desafio de apropriar-se desses
recursos e utilizaacute-los de forma significativa no processo ensino aprendizagem aleacutem
disso haacute muitos que ainda natildeo estatildeo inseridos nesse universo tecnoloacutegico
Evidentemente trabalhar com os criativos e ansiosos nativos digitais de modo
a prender sua atenccedilatildeo na construccedilatildeo do conhecimento de maneira significativa em
meio a tantas inovaccedilotildees e informaccedilotildees que a era digital proporciona eacute um desafio
para o professor que natildeo domina essas tecnologias
27 Como fica o ensino de geografia com a difusatildeo das TICs
A geografia do Ensino Baacutesico poderaacute ser uma alavanca essencial para
auxiliar na compreensatildeo dos complexos processos que se estabelecem em niacutevel
global Por outro lado ela tornou-se um instrumento a serviccedilo do capital que
reproduz o sistema de classes e alimenta a loacutegica desse sistema Em linhas gerais
a educaccedilatildeo como um todo e a geografia em particular terminam sendo mais um
9 Ingecircnuo simples cacircndido
56
instrumento a serviccedilo dos interesses do capital
Nesta perspectiva de acordo com Kimura (2010) eacute atraveacutes do ensino da
geografia que estas discussotildees se difundem quer sejam por reflexotildees quer por
apatias
Como eacute sempre o professor o mediador do conhecimento a ser desenvolvido nas escolas cabe-lhe trabalhar com desafios como o que e de que maneira ensinar Quer dizer estando no cerne do ato educacional o fazer-pensar do professor e do aluno o ensinar-aprender adquire uma importacircncia fundamental [] de que maneira o professor de Geografia ator pedagoacutegico pode ter em suas matildeos a orientaccedilatildeo e o traccedilado do seu trabalho Continuaraacute a divisatildeo entre aqueles que ldquopensamrdquo (visto que elaboram e estabelecem) e os que ldquofazemrdquo (uma vez que simplesmente executam o que os planejamentos oficiais encaminham e o que os livros didaacuteticos apresentam pronto) Quer dizer repete-se aquela antiga dicotomia estabelecida pelo trabalho fabril entre o pensar e o fazer (KIMURA 2010 p 81)
Por outro lado apesar deste debate estar presente nas universidades os
cursos de formaccedilatildeo dos professores de geografia nem sempre tem possibilitado
meios para facilitar a compreensatildeo e estabelecimento de viacutenculos entre local e
global Nos cursos de licenciaturas ambientes enriquecidos pela presenccedila das
contradiccedilotildees da proacutepria sociedade nem sempre eacute faacutecil traduzir estes elementos
conceituais na praacutetica do ensino de geografia para a compreensatildeo da realidade
soacutecio espacial O resultado praacutetico deste ldquodesvio de formaccedilatildeordquo muitas vezes eacute
traduzido na incapacidade dos futuros profissionais no sentido de buscar
desenvolver mecanismos instigantes para a praacutetica docente que natildeo raro seraacute
frustrante pelas manifestaccedilotildees de apatia dos alunos que natildeo demonstram o miacutenimo
interesse pelos conteuacutedos expostos nas salas de aulas
Um fato a ser considerado eacute que as pesquisas em ensino de geografia
mostram a praacutetica dos professores dos diversos niacuteveis de Ensino Baacutesico sob o olhar
de pesquisadores que via de regra satildeo professores de Ensino Superior Este olhar
distanciado da vivecircncia da sala de aula do Ensino Baacutesico dos problemas concretos
vivenciados no cotidiano das escolas tais como a falta de incentivo pela leitura a
partir das famiacutelias ambientes residenciais destinados a realizaccedilatildeo das tarefas
escolares bem pouco favoraacuteveis associados a falta de condiccedilotildees materiais para o
pleno exerciacutecio do conhecimento elemento essencial na formaccedilatildeo das crianccedilas e
adolescentes passam a ser um lugar comum poreacutem ainda pouco revelador das
fragilidades do processo de ensino-aprendizagem
57
Estas satildeo questotildees de essencial importacircncia porque satildeo fundantes para
compreender minimamente as causas do fracasso desse processo histoacuterico sobre o
qual o professor de geografia tambeacutem precisa debruccedilar-se para organizar e
desenvolver os temas relacionados a cartografia escolar em sala de aula de forma
mais instigante e prazerosa para o encanto dos alunos O processo natildeo se resume
apenas a dar aulas Eacute preciso criar significados para as abstraccedilotildees contidas na
linguagem cartograacutefica Nesse sentido Kimura (2010) sugere que
Escrever e ler graficamente o espaccedilo faz parte do processo de produccedilatildeo de significados Nessa perspectiva o professor de Geografia tem um papel relevante ao trabalhar com diversas representaccedilotildees graacuteficas como os mapas contribuindo para a produccedilatildeo de significados e para a compreensatildeo do conteuacutedo sensiacutevel e concreto (KIMURA 2010 p 113)
A compreensatildeo do espaccedilo enquanto objeto curvo representado sobre uma
superfiacutecie plana caracteriacutestica basal da cartografia aprofunda as noccedilotildees de
representaccedilatildeo atraveacutes de escalas reduzidas Assim por se tratar de uma
representaccedilatildeo no campo do abstrato os alunos da faixa etaacuteria compreendida entre
10 e 12 anos e ateacute alguns professores de geografia apresentam dificuldades no
aprendizado da noccedilatildeo de escala No entanto isto em nada se relaciona com
incapacidade cognitiva na realidade os meacutetodos educativos eacute que deveriam ser
adequados agrave idade da crianccedila considerada um ser em evoluccedilatildeo permanente no
decorrer da sua vida escolar o que pressupotildee necessidades e aptidotildees em
constante mutaccedilatildeo
Com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDBN) em
vigor desde 23 de dezembro de 1996 os programas de geografia do ensino
fundamental foram rediscutidos e redefinidos atraveacutes dos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) exigindo que os alunos ao final do terceiro ciclo devem
Compreender a escala de importacircncia no tempo e no espaccedilo do local e do
global e da multiplicidade de vivecircncias com os lugares e ainda reconhecer a
importacircncia da cartografia como uma forma de linguagem para trabalhar em
diferentes escalas espaciais as representaccedilotildees locais e globais do espaccedilo
geograacutefico (PCNGEOGRAFIA 1998 p 53)
Por outro lado Sann (2010 p 98) ao aplicar testes com 101 alunos da 5ordf
seacuterie do Centro Pedagoacutegico da UFMG a maioria com 11 anos em marccedilo de 1989 jaacute
58
havia constatado que ldquoOs alunos apresentam muitas dificuldades nos exerciacutecios
sobre as noccedilotildees de espaccedilo e de localizaccedilatildeordquo Naquele ano a autora atribuiu essa
deficiecircncia agrave forma superficial pela qual os professores que ministram os conteuacutedos
abordam a temaacutetica da cartografia escolar
Diante das constataccedilotildees apontadas pela autora faz-se necessaacuterio dispensar
um olhar mais cuidadoso sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da geografia diante de
um mundo que se transforma rapidamente Nestas duas primeiras deacutecadas do
seacuteculo XXI eacute preciso buscar uma formaccedilatildeo que esteja adequada aos tempos
modernos pois as recentes mudanccedilas tecnoloacutegicas e as novas propostas para a
educaccedilatildeo do Brasil tecircm proporcionado novos redimensionamentos agrave formaccedilatildeo do
professor Diante disso indagamos como algueacutem pode ensinar geografia sem
considerar a realidade tecnoloacutegica contemporacircnea que os alunos vivem no seu
cotidiano
Na verdade depois da Conferecircncia de Jomtien a educaccedilatildeo brasileira
finalmente comeccedilou a entrar na trajetoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso desde
meados do seacuteculo passado e com isso tem vivenciado um cenaacuterio com novas
perspectivas mas tambeacutem muitos desafios que devem ser superados tanto por
alunos quanto por professores
59
CAPIacuteTULO III
3 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e ferramentas digitais
Muitos professores que vivenciam a rotina diaacuteria do trabalho em duas ou mais
escolas jaacute se acostumaram a ouvir murmuacuterios e lamentos dos colegas de trabalho a
respeito da falta de interesses dos alunos pela leitura e escrita nos moldes
tradicionais do material didaacutetico devido a uma ldquoconcorrecircncia deslealrdquo criada a partir
dos atrativos disponibilizados pelos equipamentos com tecnologia digital em
desfavor dos materiais concretos tradicionais representados pelos livros cadernos e
canetas Outros aproveitam as oportunidades para engrossar o coro das
lamentaccedilotildees Poreacutem existem alguns que se inquietam em busca de alternativas para
facilitar o conviacutevio com a geraccedilatildeo N (em alusatildeo ao N de net) associando a utilidade
das ferramentas digitais com a agradaacutevel surpresa de se aprender brincando
Esta nova geraccedilatildeo nascida a partir da massificaccedilatildeo dos meios digitais eacute
denominada de nativos digitais expressatildeo alardeada pelo norte-americano Marc
Prensky para designar os que cresceram na era digital em oposiccedilatildeo aos imigrantes
digitais (aqueles que nasceram nas deacutecadas anteriores) Seja como for todos estatildeo
cada vez mais aacutevidos por entretenimento e informaccedilotildees A questatildeo em debate eacute
que apesar de nem todos os jovens dessa geraccedilatildeo N serem considerados nativos
digitais pela ausecircncia de condiccedilotildees materiais diante do modismo do uso das redes
sociais atraveacutes da telefonia moacutevel quase todos se sentem como se nativos fossem
Quando se volta para a realidade cotidiana da vida estudantil esses jovens que
usam os celulares para quase tudo se veem obrigados a ldquoarrastarrdquo diariamente para
a escola materiais didaacuteticos que em linhas gerais natildeo lhes despertam a curiosidade
e pelos quais natildeo demonstram quase nenhum interesse Embora estes materiais
tambeacutem sejam multicoloridos (como satildeo os digitais) o problema central eacute que natildeo
tecircm o mesmo encanto daqueles pois natildeo tocam muacutesicas natildeo acessam as redes
sociais natildeo dispotildeem de jogos on line e nem muito menos compartilham fotografias
logo satildeo instrumentos pouco atrativos diante da interatividade das miacutedias digitais
Desta forma o que poderia ser um prazer passa a ser um estorvo no cotidiano
desses nativos digitais
60
Com o advento da rede mundial de computadores o processo educacional
passou por extremas mudanccedilas e jaacute haacute um consenso entre os educadores segundo
o qual em um mundo cada vez mais globalizado utilizar as TICs de forma integrada
ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute uma maneira de se aproximar duas geraccedilotildees
ou seja imigrantes e nativos digitais considerando que atualmente ambas estatildeo
inseridas no mesmo processo educacional geralmente os primeiros como
professores e os uacuteltimos como aprendentes
Nestes uacuteltimos vinte anos haacute muitos discursos sobre a importacircncia de se
utilizar recursos audiovisuais em salas de aula considerando que a geraccedilatildeo dos
nativos digitais estaacute cada vez mais em busca de entretenimento quer sejam atraveacutes
da internet quer atraveacutes dos videogames Smartphones e tablets iPod Blackberry
DVDsBlu-ray ou simplesmente atraveacutes dos apps de jogos quando por algum
motivo o usuaacuterio da internet encontra-se off-line
Por outro lado diante dessa rdquoconcorrecircncia deslealrdquo travada no dia a dia das
salas de aulas entre a familiaridade dos materiais didaacuteticos concretos e as
incertezas desse universo digital resta-nos uma incomoda sensaccedilatildeo de inseguranccedila
na conduccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem principalmente no momento em
que nos inclinamos sobre a frialdade dos nuacutemeros advindos dos resultados das
avaliaccedilotildees sistematicamente aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (InepMEC)
Nosso embasamento estaacute centrado nos resultados da uacuteltima avaliaccedilatildeo
sistematizados pela ONG Todos pela Educaccedilatildeo atraveacutes do portal do Internet Group
(ig) que foram por noacutes adaptados e expostos nas tabelas 1 e 2 a seguir
61
Tabela 1 - Brasil percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem
adequada em
matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
40
42
36
35
9ordm ano
(Fundamental)
27
32
169
254
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo10
(adaptado pelo autor)
Os dados obtidos atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees nacionais
esquematizados na tabela acima apontam que depois de cinco anos de estudos as
crianccedilas brasileiras soacute dominam 40 dos conteuacutedos ministrados em liacutengua
portuguesa e 36 em matemaacutetica A situaccedilatildeo se torna mais complicada quando se
analisa a avaliaccedilatildeo daqueles que cursaram as nove seacuteries do Ensino Fundamental
cujos iacutendices de aproveitamento satildeo de apenas 27 nos conteuacutedos que deveriam
dominar na liacutengua materna e 169 em matemaacutetica muito aqueacutem da meta
estabelecida pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Saliente-se que quando se analisa os resultados do Exame Nacional do
Ensino Meacutedio verifica-se a mesma tendecircncia de decreacutescimos dos percentuais de
aproveitamento escolar no tocante a liacutengua portuguesa e matemaacutetica jaacute constatados
pela Prova Brasil Os nuacutemeros dessas avaliaccedilotildees aplicadas pelo InepMEC por si
soacute jaacute indicam que a educaccedilatildeo brasileira estaacute trilhando por caminhos tortuosos e que
eacute preciso corrigir o rumo A questatildeo que se levanta neste trabalho eacute como poderei
contribuir para a melhoria do aprendizado em Geografia na unidade escolar na qual
leciono
Vale lembrar que a situaccedilatildeo do baixo niacutevel de aprendizagem eacute manifesta em
todas as regiotildees brasileiras desde as mais silenciosas e esquecidas escolas do alto
10
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-brasil-em-2011html
62
Solimotildees na floresta amazocircnica ateacute as freneacuteticas salas de aulas da capital paulista
Diante dos resultados da mais recente Prova Brasil realizada em 2011 cujo exame
de amplitude nacional eacute aplicado a cada dois anos pelo InepMEC constata-se que
as meacutedias nacionais de aprendizado em geral satildeo insatisfatoacuterias em todos os
recantos do paiacutes
Apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo com o municiacutepio objeto deste estudo enquanto
em niacutevel nacional 40 dos concluintes da primeira fase do ensino fundamental (5ordm
ano) conseguiram apresentar niacuteveis de domiacutenio adequado em relaccedilatildeo aos anos de
estudo da liacutengua portuguesa em Arara esse iacutendice caiu para 216 dentre os
alunos participantes das avaliaccedilotildees do InepMEC
Situaccedilatildeo natildeo muito diferente daquela outra foi detectada tambeacutem em
matemaacutetica cuja avaliaccedilatildeo apontou que nas escolas do Arara apenas 186 dos
alunos conseguiram demonstrar que aprenderam o esperado para a seacuterie em curso
isto representada praticamente metade do percentual nacional que ficou em 36 do
desempenho esperado para os estudantes do 5ordm ano embora haja superado a meta
imposta pelo MEC
Tabela 2 ndash Arara(PB) percentual de alunos com aprendizagem adequada a seacuterie frequentada
Seacuterie avaliada
(Ano 2011)
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em liacutengua portuguesa
META
Desempenho dos
alunos com
aprendizagem adequada
em matemaacutetica
META
5ordm ano
(Fundamental)
216
20
186
66
9ordm ano
(Fundamental)
74
7
24
56
Fonte Prova Brasil 2011 Sistematizaccedilatildeo ONG Todos pela Educaccedilatildeo11
(adaptado pelo autor)
Se em Arara a situaccedilatildeo da aprendizagem nas seacuteries iniciais jaacute eacute preocupante
nos anos finais do ensino fundamental (9ordm ano) ela apresenta-se caoacutetica No mesmo
11
Disponiacutevel em httpultimosegundoigcombreducacao2013-03-14porcentual-de-alunos-com-aprendizado-
adequado-a-serie-por-cidade-em-2011html
63
exame avaliativo de 2011 dentre os alunos frequentadores do 9ordm ano tanto aqueles
da rede estadual quanto os da rede municipal no tocante a liacutengua materna apenas
74 demonstraram aprendizado compatiacutevel com esse niacutevel de ensino iacutendice
irrelevante mesmo se comparado aos 27 da meacutedia nacional
Nessa mesma linha de raciociacutenio se em liacutengua portuguesa o niacutevel de
aprendizagem dos alunos eacute visivelmente insatisfatoacuterio em matemaacutetica este niacutevel eacute
intoleraacutevel considerando-se o percentual insignificante de apenas 24 dos alunos
que aprenderam o esperado para os concluintes do ensino fundamental muito
aqueacutem da jaacute inexpressiva meacutedia brasileira de 169 no ano de 2011
Diante da frieza dos nuacutemeros ao lado dos consideraacuteveis aportes financeiros
destinados agrave educaccedilatildeo especialmente depois da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 uma questatildeo continua sem resposta Onde estaacute o ldquogargalordquo da
educaccedilatildeo brasileira
A resposta pode estar nos muitos corredores que levam agraves inuacutemeras vertentes
deste sistema plural Em parte somos compelidos a corroborar com o
posicionamento mais radicalizante do educador Rubem Alves quando ele aponta
para a escola como sendo um ambiente de sofrimento e os professores e
administradores os legiacutetimos representantes da classe dominante e opressora
Eu mesmo soacute me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo ginaacutesio e cientiacutefico A primeira uma gorda e maternal senhora professora do curso de admissatildeo tratava-nos a todos como filhos Com ela era como se todos focircssemos uma grande famiacutelia O outro professor de literatura foi a primeira pessoa a me introduzir nas deliacutecias da leitura Ele falava sobre os grandes claacutessicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer Quanto aos outros minha impressatildeo era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar [hellip] Natildeo me espanto portanto que tenha aprendido tatildeo pouco na escola (ALVES 2000 pp 16-17)
Ainda na esteira do pensamento de Rubem Alves constatamos que no
decorrer dos anos os alunos perdem o encanto pela escola porque apesar de os
meacutetodos claacutessicos de tortura escolar terem sido abolidos ela continua impondo
sofrimento agraves crianccedilas quando as obriga a estudar um leque de informaccedilotildees que
elas natildeo conseguem compreender e que nenhuma relaccedilatildeo parecem ter com a vida
cotidiana
64
Compreende-se que com o passar do tempo a inteligecircncia se encolha por medo do horror diante dos desafios intelectuais e que o aluno passe a se considerar como um burro Quando a verdade eacute outra a sua inteligecircncia ficou intimidada pelos professores e por isso ficou paralisada [hellip] A educaccedilatildeo fascinada pelo conhecimento do mundo esqueceu-se de que sua vocaccedilatildeo eacute despertar o potencial uacutenico que jaz adormecido em cada estudante (ALVES 2000 pp 18-19)
Dessa forma Alves (2000) coloca uma questatildeo atraveacutes da qual eacute possiacutevel
compreender parte dos motivos pelos quais os estudantes ao cursarem os anos
finais do ensino fundamental e meacutedio aparentam saber menos do que sabiam no 5ordm
ano Segundo ele haacute uma falta de sintonia entre conteuacutedos e meacutetodos na praacutetica
docente Essa comunicaccedilatildeo assiacutencrona desestimula o aprendizado e os
professores precisam desenvolver habilidades no sentido de despertar o interesse e
prender a atenccedilatildeo dos alunos na sala de aula Considere-se tambeacutem a necessidade
de anaacutelise de outras variaacuteveis que estatildeo presentes no processo de ensino-
aprendizagem envolvendo aspectos poliacuteticos e socioeconocircmicos que ora natildeo satildeo
objeto desta pesquisa
31 TICs nas salas de aulas possibilidades e desafios
Com a massificaccedilatildeo da rede mundial de computadores ainda no final do
seacuteculo XX o processo educacional tambeacutem passou por mudanccedilas extremas e jaacute haacute
um consenso entre os educadores segundo o qual em um mundo cada vez mais
globalizado utilizar as TICs de forma integrada ao projeto pedagoacutegico das escolas eacute
um meio de se aproximar as geraccedilotildees de imigrantes agrave dos nativos digitais
considerando que atualmente ambas estatildeo inseridas no mesmo processo
educacional
Prensky (2010) afirma que ldquoestamos a caminho de algo novo a era do Homo
sapiens digital ou a era do indiviacuteduo com sabedoria digital Para compreender o
mundo seraacute preciso usar ferramentas digitais para articular o que a mente humana
faz bem com o que as maacutequinas fazem melhorrdquo Logo as crianccedilas e jovens nascidos
na era digital estatildeo habituados em um contexto em que a tecnologia estaacute em pleno
desenvolvimento e o professor que natildeo se adaptar seraacute fatalmente ultrapassado
nessa corrida desigual entre imigrantes e nativos digitais As consequecircncias que
adviratildeo dessa possiacutevel apatia dos professores em relaccedilatildeo ao novo palco que se
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descortina no mundo digital pode ser uma proliferaccedilatildeo desenfreada de turmas
desmotivadas e alunos indisciplinados
Contudo como professores precisamos compreender que as tecnologias
digitais natildeo devem ser alccediladas agrave condiccedilatildeo de panaceia universal para solucionar
todos os problemas da educaccedilatildeo Devemos nos conscientizar que a simples
introduccedilatildeo das TICs na sala de aula natildeo melhora o aprendizado automaticamente
porque a tecnologia daacute apoio agrave pedagogia e natildeo vice-versa ou seja elas podem ser
utilizadas como uma estrateacutegia pedagoacutegica adicional jamais como substituto do
professor O bom senso profissional exige que devemos utilizaacute-las com parcimocircnia e
preferencialmente com muito planejamento
As tecnologias como recursos presentes no cotidiano dos indiviacuteduos tecircm
evoluiacutedo de forma surpreendente trazendo muitos benefiacutecios para a sociedade e a
escola natildeo pode ficar agrave margem desse processo de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Por outro
lado muitos professores atribuem a falta de interesses dos alunos pelas aulas
ministradas a maacute influecircncia dos jogos eletrocircnicos que estatildeo ao alcance de todos em
centenas de pequenos estabelecimentos de acesso agrave internet e jogos eletrocircnicos
estrategicamente espalhados pelos locais de maior circulaccedilatildeo de pessoas Segundo
Moita (2010 p 116) ldquoNa atualidade a tecnologia domina todos os espaccedilos desde
os puacuteblicos ateacute os privados [] As Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo vecircm-
se disseminando da cidade ao campo dos maiores aos menores centros com uma
LAN house a cada esquinardquo
Por sua vez Palfrey e Gasser (2011 p17) dois outros entusiastas do assunto
afirmam que ldquoos Nativos Digitais vatildeo mover os mercados e transformar as induacutestrias
a educaccedilatildeo e a poliacutetica globalrdquo Aprofundando essa linha de raciociacutenio os
supracitados autores ainda fazem um alerta dirigido aos pais e professores
Os pais e professores estatildeo na linha de frente Eles tecircm a maior responsabilidade e o papel mais importante a desempenhar [] Em vez de banir as tecnologias ou deixar suas crianccedilas as usarem sozinhos em seus quartos ndash as duas abordagens mais comuns propostas ndash pais e professores precisam deixar os Nativos Digitais serem seus guias nesta maneira de viver nova e conectada (PALFREY GASSER 2011 pp20-21)
Partindo desses posicionamentos fica evidenciado que os autores de certa
forma natildeo deixam de externar uma preocupaccedilatildeo com as proporccedilotildees do mundo
virtual construiacutedo pelos Nativos Digitais em cujo universo particular ateacute a noccedilatildeo de
66
privacidade difere daquelas das geraccedilotildees anteriores uma vez que esses nativos
passam tempo demais no ambiente de conexatildeo digital navegando atraveacutes das
redes sociais onde deixam muitos vestiacutegios de si mesmo falando sobre aspiraccedilotildees
ou ateacute publicando informaccedilotildees que podem colocaacute-los em perigo
Por outro lado nem todos da geraccedilatildeo poacutes anos 1990 podem ser considerados
Nativos Digitais A exclusatildeo digital ocorre principalmente nos paiacuteses pobres e
naqueles em desenvolvimento Os autores chamam a atenccedilatildeo para o fato de que no
mundo em desenvolvimento a tecnologia eacute menos prevalente a eletricidade eacute
escassa o analfabetismo alcanccedila iacutendices alarmantes e os professores qualificados
para ensinar com auxiacutelio das ferramentas digitais satildeo mais raros ainda
Nesses paiacuteses que padecem da falta de estrutura para implantaccedilatildeo de uma
rede digital a geraccedilatildeo nascida depois dos anos 1990
Em vez de chamaacute-la de geraccedilatildeo de Nativos Digitais ndash um exagero especialmente se considerarmos que apenas 1 bilhatildeo dos 6 bilhotildees de pessoas no mundo [sic] tem acesso a tecnologias digitais ndash pense nela como populaccedilatildeo Uma das coisas mais preocupantes de tudo o que diz respeito a cultura digital eacute o enorme fosso que ela abre entre aqueles com recursos e aqueles sem (PALFREY GASSER 2011 p24)
Como nem tudo estar perdido e em todas as naccedilotildees do mundo existem as
desigualdades sociais com ricos meacutedios e pobres nos casos dos privilegiados que
podem ter acesso desde o nascimento agrave tecnologia digital mesmo nos paiacuteses
pobres tambeacutem existem muitos Nativos Digitais que chegam agraves escolas com o
pensamento estruturado pela forma de representaccedilatildeo propiciada pelas TICs
Portanto utilizar essas ferramentas como suporte do processo de ensino-
aprendizagem significa viabilizar meios para um ensino mais eficiente nesse caso a
praacutetica educativa precisa ser mais pautada no respeito muacutetuo entre professores
(facilitadores) e alunos (aprendentes) eacute preciso compartilhar conhecimentos enfim
aprender juntos
Diante dessa realidade Moran (2007 p 90) nos faz lembrar que natildeo basta ter
acesso agrave tecnologia para ter o domiacutenio pedagoacutegico Haacute um tempo grande entre
conhecer utilizar e modificar processosrdquo dito com outras palavras a internet nos
ajuda mas ela sozinha natildeo daacute conta da complexidade do aprender hoje da troca do
estudo em grupo da leitura do estudo em campo com experiecircncias reais Segundo
o entendimento de Moran (op cit) a tecnologia deve ser vista apenas como ldquouma
67
acircncora indispensaacutevel ao navio mas natildeo eacute ela que o faz flutuar ou evita o naufraacutegio
da embarcaccedilatildeordquo Assim sendo eacute preciso levar em conta a importacircncia do professor
como agente mediador do conhecimento
Ainda de acordo com Moran (2007) para que uma instituiccedilatildeo avance na
utilizaccedilatildeo inovadora das tecnologias eacute fundamental a capacitaccedilatildeo de docentes [] a
internet traz saiacutedas e levanta problemas como por exemplo saber de que maneira
gerenciar essa grande quantidade de informaccedilatildeo com qualidaderdquo Dessa forma
podemos deduzir que a base do processo de ensino-aprendizagem continua sendo
necessariamente a interaccedilatildeo humana atraveacutes da colaboraccedilatildeo entre facilitadores e
aprendentes
Assim sendo aos professores competem duas atribuiccedilotildees fundamentais Agir
como facilitadores na aprendizagem dos conteuacutedos e servir de elo para uma
compreensatildeo na leitura de mundo A ldquonuvemrdquo estaacute carregada de muitas informaccedilotildees
cabe ao professor orientar seus alunos no sentido de promoverem uma filtragem
desse universo informacional que se coloca agrave disposiccedilatildeo de todos com apenas um
click no mecanismo acionador da rede mundial de computadores
32 Cartografia escolar e ferramentas digitais
Partindo dessa premissa (do uso das miacutedias digitais atraveacutes dos programas
Google Earth inclusive o Google maps) no decorrer da elaboraccedilatildeo de um plano de
aula os professores poderatildeo ajustar os objetivos especiacuteficos no aprimoramento das
praacuteticas inovadoras do ensino de Geografia na 2ordf fase do Ensino Fundamental com
intuito primordial de redimensionar o aprendizado escolar associando linguagem
cartograacutefica escolar com as TICs
A opccedilatildeo pela alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica atraveacutes das miacutedias digitais deve-se agraves
dificuldades dos professores de Geografia em convencer os alunos a partir do 6ordm
ano do Ensino Fundamental no que concerne a utilizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica
como instrumento auxiliar na leitura de mundo em consonacircncia com as propostas
contidas nos Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia que assim
sugerem
A alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica compreende uma seacuterie de aprendizagens necessaacuterias para que os alunos possam continuar sua formaccedilatildeo nos elementos da representaccedilatildeo graacutefica jaacute iniciada nos dois primeiros ciclos
68
para posteriormente trabalhar com a representaccedilatildeo cartograacutefica A continuidade do trabalho com a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica deve considerar o interesse que as crianccedilas e jovens tecircm pelas imagens atitude fundamental na aprendizagem cartograacutefica Os desenhos as fotos as maquetes as plantas os mapas as imagens de sateacutelites as figuras as tabelas os jogos enfim tudo aquilo que representa a linguagem visual continua sendo os materiais e produtos de trabalho que o professor deve utilizar nesta fase [] O objetivo do trabalho eacute desenvolver a capacidade de leitura comunicaccedilatildeo oral e representaccedilatildeo simples do que estaacute impresso nas imagens desenhos plantas maquetes entre outros O aluno precisa apreender os elementos baacutesicos da representaccedilatildeo graacuteficacartograacutefica para que possa efetivamente ler o mapa (BRASILPCN Geografia 1998 p 129)
Eacute nesse contexto que se pretende associar cartografia escolar com as
ferramentas digitais a fim de promover a compreensatildeo dos conteuacutedos fundamentais
da Geografia nesta fase de ensino bem como a noccedilatildeo de espaccedilo geograacutefico e
escala cartograacutefica A questatildeo a ser respondida eacute por que os alunos dessa fase
escolar satildeo apaacuteticos em relaccedilatildeo agrave leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Com a popularizaccedilatildeo da internet e a consequente criaccedilatildeo do Google Earth em
junho de 2005 as imagens de sateacutelites em 3D que durante a guerra fria eram
consideradas ldquosegredos de Estadordquo passaram a ser disponibilizadas gratuitamente
para todos os usuaacuterios da rede mundial de computadores No territoacuterio brasileiro
atualmente jaacute e possiacutevel a utilizaccedilatildeo de um equipamento de GPS automotivo
atraveacutes do qual o motorista recebe orientaccedilotildees de viva-voz aleacutem do mapeamento de
aproximadamente 1000 cidades no territoacuterio nacional para facilitar o deslocamento
nas rodovias de quase todos os estados da federaccedilatildeo
Mesmo com todo esse aparato de orientaccedilatildeo atraveacutes do Sistema de
Posicionamento Global (GPS) muitos condutores se desviam da rota e acabam
perdidos em locais ermos ou com pouca seguranccedila Muitas vezes os condutores
natildeo conseguem encontrar a rota planejada pela incapacidade de leitura do mapa
digital disponiacutevel na tela do equipamento Satildeo conhecimentos baacutesicos que todos
poderiam adquirir jaacute a partir do 6ordm ano do Ensino Fundamental atraveacutes de um
processo de alfabetizaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica entretanto poucos conseguem
esse intento deficiecircncia que perdura ateacute mesmo entre os concluintes do Ensino
Meacutedio
Parte desse problema poderia ser resolvida se os nossos alunos dominassem
a linguagem cartograacutefica e para que isto ocorra precisamos instituir mecanismos
desafiadores que os faccedilam se sentirem como partes integrantes do processo de
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ensino-aprendizagem E nada melhor que o desafio de construiacuterem os proacuteprios
mapas a partir das ferramentas disponiacuteveis em programas gratuitos como o Google
Earth e Google maps
Desta forma resolve-se um problema maior ao que nos parece ser o de
ensinar a linguagem cartograacutefica associada aos conteuacutedos estruturantes propostos
nos Paracircmetros Curriculares Nacionais - PCNs usando apenas os mapas impressos
(e muitas vezes imprecisos) nos quais natildeo haacute nenhuma interatividade para se
promover o processo de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica
A ideia fundamental do presente trabalho consistiu em facilitar o processo de
alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica digital dos alunos participantes deste projeto na medida
em que se dividiu a turma em dois grupos distintos sendo um utilizado como
controle para se verificar o niacutevel de progresso alcanccedilado pelos demais dando-lhes
suficiente capacitaccedilatildeo para manipular as ferramentas digitais e ampliar as noccedilotildees de
espaccedilo geograacutefico
Aleacutem do mais a manipulaccedilatildeo das ferramentas digitais com o uso do Google
Earth e maps tambeacutem eacute uma forma didaacutetica de auxiliar os alunos a partir do 6ordm ano
do Ensino Fundamental na compreensatildeo do espaccedilo terrestre alfabetizando-os na
linguagem cartograacutefica digital e simultaneamente contribuindo para que eles
pensem o espaccedilo enquanto uma totalidade na qual se passam todas as relaccedilotildees
cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas
33 Alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica e os PCNs de Geografia
Para alcanccedilar plenamente a alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica eacute importante que os
professores considerem as orientaccedilotildees contidas nos Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Geografia que propotildeem a contextualizaccedilatildeo dos
conteuacutedos para que os alunos ao final do Ensino Fundamental sejam capazes de
compreender e aplicar no cotidiano os conceitos baacutesicos da Geografia estudando o
espaccedilo de vivecircncia da crianccedila para a construccedilatildeo de conceitos geograacuteficos e
consequentemente ampliar a compreensatildeo dos espaccedilos regional e global
Sabemos que os mapas satildeo ferramentas essenciais para orientaccedilatildeo pois
representam informaccedilotildees histoacutericas poliacuteticas econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas de
diferentes lugares do mundo A soma desses fatores nos ajuda a compreender as
70
transformaccedilotildees e os problemas do mundo atual Portanto dominar as habilidades de
leitura e interpretaccedilatildeo de mapas eacute um elemento fundamental para a formaccedilatildeo de um
cidadatildeo mais criacutetico e independente De acordo com Almeida (1994)
Os mapas satildeo representaccedilotildees graacuteficas do espaccedilo constituiacutedas por trecircs elementos baacutesicos escalas projeccedilatildeo e simbologia A importacircncia da leitura e interpretaccedilatildeo dos mapas na sala de aula justifica-se pelo papel que a cartografia tem nos ambientes cada vez mais urbanos e automatizados (ALMEIDA 1994 p 47)
Prestam-se dentre outras coisas para localizar endereccedilos para o proacuteprio
deslocamento por cidades e bairros desconhecidos conferir trajetos dos meios de
transporte planejar uma viagem ou se situar em locais puacuteblicos
Desenvolver a capacidade de abstraccedilatildeo eacute fundamental para a leitura e
interpretaccedilatildeo de mapas pois estes representam a realidade atraveacutes de siacutembolos
Vale salientar que natildeo eacute uma tarefa simples sendo necessaacuterio desenvolver algumas
habilidades e conhecimentos Entretanto o que se observa no trabalho docente com
os alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental satildeo tarefas mecanicistas que
natildeo levam agrave formaccedilatildeo de conceitos da linguagem cartograacutefica como por exemplo
atividades para pintar estados paiacuteses e municiacutepios copiar mapas ou colocar nomes
em rios (anexos 1 a 5)
Ainda de acordo com Almeida (1994 p55) ldquoesse trabalho de interpretaccedilatildeo
deve iniciar pela construccedilatildeo de seu proacuteprio mapa com a codificaccedilatildeo dos elementos
do espaccedilo ao seu redor para posteriormente ler os mapas feitos por outras
pessoasrdquo Eacute bem verdade que ao se apropriar da linguagem cartograacutefica o aluno
estaraacute apto a reconhecer representaccedilotildees de realidades mais complexas que exigem
maior niacutevel de abstraccedilatildeo
Dessa forma propotildee-se que os mapas e seus conteuacutedos sejam lidos pelos
estudantes como textos passiacuteveis de interpretaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e anaacutelise
criacutetica poreacutem os alunos devem ter a sensibilidade de compreender que os mapas
jamais sejam usados apenas como simples instrumentos de localizaccedilatildeo dos eventos
e acidentes geograacuteficos Um mapa eacute antes de tudo uma forma de linguagem pois
cogita declaraccedilotildees ideoloacutegicas mensagens e pensamento a partir de um ldquoponto de
vistardquo de qualquer lugar ou regiatildeo do espaccedilo geograacutefico
Assim quando um usuaacuterio faz uma consulta a um mapa analoacutegico (impresso)
71
ou digital poderaacute ter uma ideia da representaccedilatildeo visual do espaccedilo geograacutefico a
partir da sua anaacutelise criacutetica e teacutecnica uma vez que os mapas estatildeo cada vez mais
sofisticados e detalhistas principalmente depois que se passou a utilizar imagens de
sateacutelites
Eacute nesse contexto que se acomoda a presente dissertaccedilatildeo buscando a
contextualizaccedilatildeo da cartografia escolar com os fenocircmenos ligados ao espaccedilo
reconhecendo suas contradiccedilotildees e os seus conflitos econocircmicos sociais e culturais
o que permite comparar e avaliar a qualidade de vida haacutebitos formas de utilizaccedilatildeo
eou exploraccedilatildeo de recursos e pessoas em busca do respeito agraves diferenccedilas e ainda
de uma organizaccedilatildeo social mais equacircnime
Tambeacutem eacute interessante ampliar o niacutevel de conhecimentos do sujeito desse
processo de ensino-aprendizagem para o domiacutenio da linguagem cartograacutefica que
por sua vez deve ser trabalhada considerando os referenciais que os alunos jaacute
utilizam para se localizar e orientar no seu espaccedilo de vivecircncia Com o uso das
ferramentas digitais as imagens do espaccedilo de vivecircncia dos alunos podem ser
compartilhadas atraveacutes da rede mundial de computadores possibilitando uma
maneira de se proceder o registro do espaccedilo local e regional que certamente
encontraraacute um terreno feacutertil para sua consagraccedilatildeo perante o puacuteblico infanto-juvenil
aacutevido por inovaccedilotildees e exposiccedilotildees nas redes sociais
O questionamento aventado neste toacutepico apesar de ser perfeitamente
plausiacutevel apresenta-se mais como um desafio a ser superado pelos professores do
que propriamente pelos alunos visto que muitas satildeo as resistecircncias encontradas
dentro e fora da sala de aula em relaccedilatildeo agrave interdisciplinaridade como exemplos
podemos citar ausecircncia de contextualizaccedilatildeo com os conteuacutedos trabalhados em sala
de aula deficiecircncia nas relaccedilotildees entre o local e o global desacerto na relaccedilatildeo com a
praacutetica cotidiana aleacutem de costumeiramente os nossos planos de ensino natildeo se
adequarem as sugestotildees dos PCNs
Ao que nos parece este tipo de desafio para romper resistecircncias quanto agrave
alfabetizaccedilatildeo digital tambeacutem se faz presente nas escolas de outros paiacuteses da
Ameacuterica Latina conforme esclarece o artigo da educadora argentina Emiacutelia Ferreiro
Em resumen la relacioacuten entre el desarrollo de tecnologias de uso social y la instituicioacuten educativa es un tema complejo En general las tecnologiacuteas
72
vinculadas con el acto de escribir tuvieron repercusiones (no siempre positivas como fue el caso del boliacutegrafo y la maacutequina de escribir) Pero la institucioacuten escolar es altamente conservadora reacia a la incorporacioacuten de nuevas tecnologiacuteas que signifiquen una ruptura radical con praacutecticas anteriores La tecnologiacutea de las PC e Internet dan acceso a un espacio incierto incontrolable pantalla y teclado sirven para ver para leer para escribir para escuchar para jugar Demasiados cambios simultaacuteneos para una institucioacuten tan conservadora como la escuela (FERREIRO 2011 p 432)
12
Diante do atual contexto natildeo podemos nos dar ao luxo de desconsiderar
todas essas variaacuteveis que satildeo essenciais para uma correta avaliaccedilatildeo sobre o ensino
e aplicaccedilatildeo da cartografia escolar bem como sua contribuiccedilatildeo no processo de
ensino aprendizagem nas aulas de Geografia como uso das ferramentas digitais
disponiacuteveis gratuitamente na rede mundial de computadores
Como diriam os romanos ldquoAlea jacta estrdquo (a sorte estaacute lanccedilada) ou nas
palavras de Germano (2011) ldquoo desafio agora eacute humanizar a ciecircncia e a tecnologia
para natildeo sermos dominados e desumanizados por elas Popularizar o conhecimento
cientiacutefico e tecnoloacutegico para nos apoderarmos dele e natildeo para nos submetermos a
ele como viacutetimas indefesas de uma ciecircncia que desconhecemosrdquo ou seja a geraccedilatildeo
N surgiu para ficar cabe a escola enquanto instituiccedilatildeo permanente promover a
alianccedila entre a consistecircncia do conhecimento cientiacutefico e a fluidez dos recursos
tecnoloacutegicos nesses tempos modernos
12 Em resumo a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento de tecnologias de uso comum e uso educacional na instituiccedilatildeo
de ensino eacute uma questatildeo complexa Em geral as tecnologias associadas ao ato de escrever sofreram um impacto (nem sempre positivo como foi o caso da caneta esferograacutefica e da maacutequina de escrever) Mas a escola eacute altamente conservadora relutante em incorporar novas tecnologias que implicam uma ruptura radical com as praacuteticas do passado Essas tecnologias do computador pessoal e da Internet datildeo acesso a uma tela cujo espaccedilo eacute incerto incontrolaacutevel Uma tela e um teclado usado para ver ler escrever ouvir tocar Muitas mudanccedilas simultacircneas para uma instituiccedilatildeo conservadora como da escola (FERREIRO 2011 p 432) Traduccedilatildeo livre realizada pelo autor
73
CAPIacuteTULO IV
4 Caminhos metodoloacutegicos
Neste capiacutetulo seraacute apresentada a metodologia empregada nas atividades
realizadas nas salas de aulas com a intenccedilatildeo de demonstrar o potencial didaacutetico
desta ferramenta digital quando aliada ao ensino de Geografia Para o atender ao
objetivo especiacutefico desta dissertaccedilatildeo que consiste em associar cartografia escolar
ao cotidiano dos estudantes incentivando a utilizaccedilatildeo das ferramentas digitais
atraveacutes do uso do Google Earth procurei a princiacutepio compreender a eficaacutecia do uso
das TICs no ensino de Geografia em comparaccedilatildeo com o meacutetodo de ensino
usualmente utilizado numa unidade escolar da rede municipal situada na
mesorregiatildeo do Agreste paraibano
Para alcanccedilar o objetivo proposto o presente estudo centrou-se em torno de
um grupo de alunos escolhidos aleatoriamente nas turmas sendo 52 do gecircnero
feminino e 48 do masculino com faixa etaacuteria compreendida entre 10 aos 15 anos
dentre eles 5 com 10 anos ou menos 67 com idades entre 11 e 12 anos e 28
com 13 anos ou mais de idade todos matriculados na Escola Municipal Profordf Luzia
Laudelino vinculada a rede puacuteblica municipal de Arara(PB) Os alunos desta faixa
etaacuteria por serem da geraccedilatildeo N (net) geralmente apresentam uma facilidade maior
quando satildeo instigados a usar computadores e aderem mais facilmente ao uso de
novas tecnologias podendo ser mais proveitoso o aprendizado da Geografia com as
ferramentas digitais
Como forma a organizar a aplicaccedilatildeo da pesquisa foram criados dois grupos
com 24 alunos em duas turmas para cada turno Por sorteio definiu-se que os
alunos do turno matutino usariam os computadores (Grupo com Google Earth)
enquanto que no vesperal ficaram os alunos usando coacutepias de mapas impressas em
papel (Grupo com mapas) Por uma questatildeo de comodidade e praticidade definiu-se
tambeacutem que o grupo de alunos com mapas resolveria as questotildees propostas em
sala de aula com coacutepias de mapas em papel fornecidas pelo mestrando enquanto o
grupo de alunos com Google Earth resolveria as mesmas questotildees no laboratoacuterio de
informaacutetica com o software Google Earth eou Maps possibilitando uma sucinta
74
comparaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados entre os dois meacutetodos de ensino de forma
mais confiaacutevel
Para afastar quaisquer suspeitas de que o uso regular e corriqueiro de alguns
alunos com os programas Google Earth eou Maps que poderia interferir
positivamente em seus resultados na atividade proposta sugerimos logo em nosso
primeiro encontro com os participantes escolhidos que respondessem a um
questionaacuterio sobre esse contato preacutevio no qual se perguntou sobre a experiecircncia
anterior e a frequecircncia do uso de mapas digitais (Apecircndice A) No tocante ao
domiacutenio dos recursos digitais do Google 9305 do universo pesquisado respondeu
que natildeo sabe utilizar as ferramentas do Google Earth
41 Natureza da Pesquisa
A partir da delimitaccedilatildeo dos nossos objetivos assim como da definiccedilatildeo da
unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa do aprofundamento teoacuterico-
metodoloacutegico proporcionado pelos debates nos componentes curriculares ao longo
do curso aliados ao embasamento bibliograacutefico em artigos dissertaccedilotildees teses e
livros aleacutem da nossa vivecircncia profissional em salas de aula iniciamos a escrita do
presente trabalho cientiacutefico Como a pesquisa foi realizada na unidade escolar onde
este pesquisador eacute lotado o estudo configurou-se como uma pesquisa-accedilatildeo
Para Tripp (2005) esse tipo de pesquisa na aacuterea educacional comeccedilou a ser
implementada com a intenccedilatildeo de ajudar aos professores na soluccedilatildeo de seus
problemas corriqueiros nas salas de aulas envolvendo-os na pesquisa de modo que
eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e em decorrecircncia o
aprendizado de seus alunos
Na opiniatildeo de Mattos (2011 p87) a pesquisa-accedilatildeo constitui um meio de
desenvolvimento profissional de ldquode quem sente na pele o problemardquo pois parte das
preocupaccedilotildees e interesses dos profissionais envolvidos na praacutetica docente cotidiana
envolvendo-os em seu proacuteprio desenvolvimento profissional Numa abordagem
contraacuteria e tradicional que eacute a abordagem de ldquodos teacutecnicos em educaccedilatildeordquo um
burocrata do governo traz as novidades ao agente da praacutetica na forma de
seminaacuterios encontros pedagoacutegicos ou workshops
Estas duas abordagens de desenvolvimento profissional correspondem a dois
75
modos de encarar a natureza da pesquisa A primeira parte do princiacutepio de que as
verdades cientiacuteficas satildeo atributos permanentes do mundo acadecircmico cabendo aos
doutores em educaccedilatildeo apenas descobri-las Por sua vez no segundo modo de
encarar a natureza da pesquisa natildeo haacute verdades cientiacuteficas absolutas pois todo
conhecimento cientiacutefico eacute provisoacuterio e dependente do contexto histoacuterico no qual os
fenocircmenos satildeo observados e interpretados pelos agentes participantes do processo
O mesmo pode ser dito em relaccedilatildeo aos meacutetodos de ensino nesse quesito natildeo haacute
receitas prontas para serem seguidas cabe ao professor mudar as estrateacutegias
sempre que perceber a ineficiecircncia do seu meacutetodo
A coleta de dados realizou-se por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo
Segundo Mattos (2011 p34) na pesquisa qualitativa geralmente utiliza-se de
recursos como ldquoentrevistas (com perguntas aberta e fechadas) histoacuteria de vida
entrevista oral estudo pessoal mapas mentais estudos observacionais observaccedilatildeo
participante ou natildeordquo No mesmo tom Alves (1991) em artigo intitulado ldquoO
planejamento de pesquisas qualitativas em educaccedilatildeordquo ensina que
A vertente qualitativa trabalha preferencialmente no lsquocontexto da descobertarsquo embora como vimos natildeo se exclua a possibilidade de incursotildees no lsquocontexto da verificaccedilatildeorsquo na medida em que estudos podem ser planejados para investigar se relaccedilotildees observadas em outros contextos ou atraveacutes de outras metodologias [] De qualquer forma o fato de uma pesquisa se propor agrave compreensatildeo de uma realidade especiacutefica ideograacutefica construiacuteda em condiccedilotildees vinculadas a um dado contexto natildeo a exime de contribuir para a produccedilatildeo do conhecimento (ALVES 1991 p57)
Assim sendo a pesquisa foi desenvolvida no transcorrer de dez encontros
durante o segundo semestre letivo de 2013 com os 12 alunos escolhidos
aleatoriamente em cada turma perfazendo um total de 48 participantes 24 por
turno Os sorteios foram realizados atraveacutes do nuacutemeros de chamada no diaacuterio de
classe de acordo com as orientaccedilotildees de Barbetta (2006) que assim ensina
Para a seleccedilatildeo de uma amostra aleatoacuteria simples precisamos ter uma lista completa dos elementos da populaccedilatildeo (ou da unidade de amostragem apropriadas) Este tipo de amostragem consiste em selecionar a amostra atraveacutes de um sorteio sem restriccedilotildees (BARBETTA 2006 p 45)
Essas limitaccedilotildees foram impostas devido ao quantitativo de computadores em
pleno funcionamento no laboratoacuterio de informaacutetica da escola Os encontros
ocorreram sempre em dias alternados da semana para se evitar descontinuidade do
76
programa planejado pelos dois professores das turmas Para o desenvolvimento do
projeto na escola foram utilizados dentre outros recursos tradicionais disponiacuteveis
no material individual dos alunos como mapas dos livros didaacuteticos reacutegua
milimeacutetrica laacutepis grafite calculadoras e folhas de papel A4
42 Local e universo da pesquisa
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi escolhida uma escola de meacutedio porte da
rede puacuteblica municipal do Ensino Fundamental na cidade de Arara(PB) Registre-se
que no ano letivo 2013 a escola contava com 535 alunos matriculados em 18
turmas do 6ordm ao 9ordm ano sendo que 4 delas funcionavam no horaacuterio noturno e eram
formadas por alunos matriculados na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
A estrutura fiacutesica do preacutedio que abriga a escola dispotildee de 12 salas de aulas
aleacutem de uma sala de multimiacutedias uma de leitura e um tele centro de inclusatildeo digital
que serve de laboratoacuterio de informaacutetica Natildeo haacute espaccedilo para recreaccedilatildeo nem
refeitoacuterios O local onde se prepara a merenda escolar e tambeacutem se formam as filas
no horaacuterio do intervalo para o lanche situa-se ao lado de um banheiro O preacutedio eacute
compartilhado com outra escola da mesma rede de ensino que atende a primeira
fase do Ensino Fundamental no primeiro turno de funcionamento
A razatildeo desta escolha deve-se por um lado ao fato deste mestrando prestar
serviccedilos na referida unidade escolar desde sua fundaccedilatildeo em 1999 e por outro por
se tratar de uma escola puacuteblica onde efetivamente se atende alunos de todas as
classes sociais representadas na comunidade local
43 Instrumentos da pesquisa
Aleacutem das entrevistas informais com os dois professores das turmas tambeacutem
foram aplicados dois tipos de questionaacuterios (Apecircndices A e B) ambos com questotildees
fechadas sendo o primeiro para avaliar o niacutevel de conhecimento e utilizaccedilatildeo das
ferramentas digitais pelos alunos nas aulas de geografia e o segundo para
comparar o nuacutemero de erros e acertos nas questotildees de cartografia escolar
propostas aos participantes Segundo Barbetta (2006) esse instrumento envolve o
processo de traduzir opiniotildees e informaccedilotildees em nuacutemeros de modo a ser possiacutevel
classificaacute-las e analisaacute-las Os participantes preencheram os questionaacuterios no
77
primeiro e uacuteltimo dia de encontro
Foto 2 Alunos do 6ordm ano da Escola Luzia Laudelino participantes da pesquisa
Imagem do arquivo pessoal do autor set2013
No decorrer da pesquisa com o intuito de obter outras informaccedilotildees que natildeo
puderam ser colhidas durante os encontros nas salas de aulas procurei observar as
falas e atitudes dos dois professores das turmas para entender o que eles pensavam
a respeito dos seus alunos Mesmo natildeo se tratando de uma pesquisa explicativa
procurei analisar os fatores que contribuem para a falta de interesses dos alunos em
relaccedilatildeo aos conteuacutedos ministrados pelos professores Por outro lado tambeacutem
analisei o empenho individual acerca das praacuteticas docentes perspectivas sobre a
carreira no magisteacuterio abordagens e estrateacutegias utilizadas nas salas de aulas e
ainda sobre o que os professores pensam sobre o futuro dos seus alunos
44 Metodologia das intervenccedilotildees
Na presente dissertaccedilatildeo tive a intenccedilatildeo de apresentar alternativas para
abordagem dos conteuacutedos de cartografia escolar ministrados em geografia
especificamente com as turmas do 6ordm ano regular da escola objeto da pesquisa
78
Para isso criamos dois grupos de alunos para fazer comparar os resultados das
questotildees propostas mesmo que de forma bastante incipiente Os alunos do turno
matutino usaram o Google Earth (denominado simplesmente de Grupo usuaacuterio do
Google Earth) enquanto os do vespertino utilizaram-se apenas coacutepias dos mapas
impressos em papel (denominado de Grupo usuaacuterio de mapas)
Durante o desenvolvimento da pesquisa sugerimos que os dois grupos
resolvessem questotildees sobre escalas geograacuteficas propostas atraveacutes de duas
modalidades de exerciacutecios cujos resultados numeacutericos eram absolutamente iguais
(apecircndices B e C) Para os dois grupos de alunos foram reservados 30 minutos
durante os quais teriam que apresentar soluccedilotildees para as trecircs questotildees propostas
Foto 3 Alunos do 6ordm ano diante do desafio da leitura e interpretaccedilatildeo dos textos Por natildeo
compreenderem o que leem solicitam o auxiacutelio do professor da disciplina
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Ao final dos exerciacutecios comparamos os niacuteveis de compreensatildeo dos alunos
que se empenharam na soluccedilatildeo de exerciacutecios propostos com auxiacutelio dos mapas em
relaccedilatildeo aqueles que resolveram as mesmas questotildees propostas poreacutem utilizando-
se das ferramentas digitais no caso Google Earth Google Maps
79
45 Organizaccedilatildeo das etapas do trabalho na pesquisa
Para facilitar a organizaccedilatildeo da pesquisa optei por dividir o trabalho em trecircs
etapas esquematizados atraveacutes de um mapa mental (Figura 3) A escolha desta
teacutecnica de organizaccedilatildeo atraveacutes de mapas mentais deve-se a facilidade para a
compreensatildeo e soluccedilatildeo de problemas na memorizaccedilatildeo e aprendizado e ainda na
criaccedilatildeo de resumos Na presente dissertaccedilatildeo utilizei desta teacutecnica para melhor fixar
as trecircs etapas do trabalho descritas a seguir
Revisatildeo bibliograacutefica para fundamentaccedilatildeo teoacuterica do tema
Praacutetica pedagoacutegica na escola realizada atraveacutes de atividades
envolvendo os dois grupos de alunos (Grupo usuaacuterio Google Earth e
Grupo usuaacuterio de mapas)
Pesquisa de satisfaccedilatildeo com os alunos atraveacutes de questionaacuterios
(anocircnimos) respondidos pelos alunos e entrevistas orais com
professores visando obter informaccedilotildees sobre o interesse de cada um
no tocante ao uso das TICs no ensino de Geografia
Figura 3 Estrutura esquematizada das 3 etapas do trabalho de dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Para a primeira fase (Figura 4) desenvolveram-se as seguintes atividades
Revisatildeo bibliograacutefica sobre o tema
Sondagem sobre o uso das TICs nas aulas de Geografia atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) aos grupos dos turnos
80
matutino e vespertino
Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Software Google Earth em
comparaccedilatildeo com o Google Maps
Nesta primeira fase realizei um levantamento bibliograacutefico sobre o que jaacute
havia sido produzido sobre o tema seguindo-se com a escrita de um referencial
teoacuterico partindo-se de uma introduccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da aacuterea de estudos na
oportunidade em que se fez uma abordagem relacional entre alfabetizaccedilatildeo
cartograacutefica digital ensino de Geografia e o uso das TICs no contexto escolar
Figura 4 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da primeira fase da dissertaccedilatildeo
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na sequecircncia ministrei uma aula expositiva com utilizaccedilatildeo de
equipamentos de multimiacutedias sobre o histoacuterico da cartografia desde a Antiguidade
Claacutessica passando pela lendaacuteria escola de Sagres e chegando aos tempos
modernos em cada uma das turmas escolhidas para aplicaccedilatildeo do projeto Em
seguida abordei as funcionalidades do Google Earth para os alunos do turno
matutino e fiz uma revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia atraveacutes de mapas
impressos para os alunos do turno da tarde
81
Foto 4 Apresentaccedilatildeo das funcionalidades do Google Earth para os alunos
Imagem Lucenildo Arauacutejo set2013
Na segunda fase (Figura 5) desenvolvi as seguintes atividades
Revisatildeo dos conteuacutedos de cartografia estudados no primeiro
semestre nas aulas de Geografia
Anaacutelise da utilidade praacutetica desses conteuacutedos no cotidiano dos
alunos da turma
Aula praacutetica (com e sem) o uso do programa Google Earth para os
dois grupos de alunos
Realizaccedilatildeo de uma atividade (exerciacutecios sobre a noccedilatildeo de espaccedilo
atraveacutes das escalas geograacuteficas) envolvendo os dois grupos de
alunos um a cada turno
Essa segunda fase foi marcada por atividades praacuteticas na sala de aulas
Iniciei verificando os conteuacutedos ministrados durante o primeiro semestre nas aulas
de Geografia Em seguida procedi com uma anaacutelise para adequar os conteuacutedos de
cartografia ao uso do Google Earth Finalmente apliquei os exerciacutecios contendo trecircs
questotildees sobre escalas geograacuteficas que foram realizados em dois momentos
distintos utilizando-se do auxiacutelio do Google e apenas com o atlas reacuteguas
milimeacutetricas e papel A-4
82
Foto 5 Realizaccedilatildeo de exerciacutecios no laboratoacuterio de informaacutetica com o auxiacutelio do Google Earth
Imagem Lucenildo Arauacutejo nov2013
Nesta aula para auxiliar numa eventual deficiecircncia de habilidade de algum
participante no manuseio dos equipamentos solicitei o auxiacutelio do professor da
turma para numa eventualidade de mau funcionamento dos perifeacutericos de um dos
computadores (mouse teclado monitor etc) poder contar com o essencial apoio
teacutecnico na substituiccedilatildeo do perifeacuterico avariado Enquanto isso procurei instigar os
participantes no sentido de explorarem os recursos disponiacuteveis no programa
enquanto o professor da turma permaneceu apenas observando o desenvolvimento
das atividades sentado ao fundo da sala do laboratoacuterio de informaacutetica
Nesse dia durante o turno da tarde tambeacutem apliquei as mesmas questotildees
do exerciacutecio proposto no turno matutino para os alunos do grupo que trabalhou com
mapas e serviu de paracircmetro para se avaliar o grau de interesse e aprendizado do
primeiro grupo que usou as ferramentas digitais
83
Figura 5 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da segunda fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
Na terceira fase (Figura 6) procurei desenvolver as seguintes atividades
Aplicaccedilatildeo de pesquisa de satisfaccedilatildeo dos alunos com o uso do
programa em sala de aula
Entrevistas com os professores das turmas
Anaacutelise dos resultados
Nesta fase submeti aos alunos de ambos os turnos exerciacutecios para
atividades praacuteticas na sala de aulas e incentivei a utilizaccedilatildeo dos recursos do Google
Earth e Maps Na sequecircncia realizei entrevistas com os participantes atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (anocircnimos) com o objetivo de averiguar o niacutevel de
percepccedilatildeo dos envolvidos neste processo Preenchidos os questionaacuterios passei
para a fase de anaacutelise
84
Foto 6 Aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os alunos para averiguar o niacutevel de percepccedilatildeo dos conceitos
apresentados durante os encontros semanais
Imagem Arquivo pessoal do autor nov2013
Vale salientar que os dez encontros de 45 minutos cada um foram assim
distribuiacutedos dois dias em setembro (16 e 25) quatro dias em outubro (4 9 14 e 25)
e quatro dias em novembro (4 13 22 e 29) Durante o mecircs de dezembro visitei a
escola apenas para observar se os alunos estavam tendo livre acesso ao laboratoacuterio
de informaacutetica conforme haviam solicitado ao diretor Nas trecircs uacuteltimas visitas que fiz
agrave escola durante o mecircs natalino o laboratoacuterio continuou fechado
Figura 6 Estrutura esquematizada do desenvolvimento da terceira fase do trabalho
Fonte mapa mental elaborado pelo autor com suporte do software freemind
85
CAPIacuteTULO V
51 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
A atividade praacutetica aplicada em sala de aula e no laboratoacuterio de informaacutetica
foi dividida em duas partes Na primeira parte que foi aplicada para os dois grupos
os alunos foram desafiados a resolver trecircs questotildees sobre escalas geograacuteficas O
objetivo desta primeira parte era a partir do uso dos mapas fotocopiados em papel
para o grupo de alunos com mapas e o computador para o grupo de alunos com
Google Earth resolverem as questotildees propostas (para cada questatildeo haviam cinco
alternativas sendo que apenas uma correspondia ao resultado esperado) sobre a
distacircncia aproximada ou real entre dois pontos nos mapas (papel e formato digital)
Essas questotildees tinham por objetivo avaliar o niacutevel de compreensatildeo dos alunos
sobre os conteuacutedos de cartografia (escalas geograacuteficas) estudados ao longo do
primeiro semestre letivo
A segunda parte estava direcionada ao grupo de alunos que utilizou os mapas
digitais e tinha por objetivo avaliar o niacutevel de percepccedilatildeo e anaacutelise espacial que o
grupo tinha a partir da observaccedilatildeo de determinados locais numa imagem
apresentada em terceira dimensatildeo (3D) para responder as questotildees e poder
interpretaacute-las
Outro aspecto a ser considerado refere-se a presenccedila simultacircnea deste
mestrando e do professor de geografia nas salas de aulas visto que o professor
apresenta-se como uma figura importantiacutessima para auxiliar os alunos que por
algum motivo apresentem dificuldades na utilizaccedilatildeo dos equipamentos instalados no
laboratoacuterio de informaacutetica
Para ambos os grupos a atividade tinha como pontuaccedilatildeo maacutexima 30 pontos
e miacutenima zero pontos e os alunos que realizaram a atividade com o uso do Google
Earth apresentaram-se com melhor aproveitamento que os alunos que realizaram a
atividade com as fotocoacutepias dos mapas em papel com 100 de acertos nos mapas
digitais contra 125 nos mapas em papel conforme se verifica (no graacutefico 5)
abaixo
86
Graacutefico 5 Percentual de acertos nas trecircs questotildees propostas para os dois grupos de alunos avaliados
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas quatro turmas do 6ordm ano
52 Conveniecircncia (ou natildeo) do uso das ferramentas digitais
Em relaccedilatildeo ao questionaacuterio aplicado no uacuteltimo encontro com as turmas
avaliadas podemos dizer que este foi dividido em duas partes sendo que a
primeira tinha por objetivo quantificar o percentual de erros e acertos apresentados
pelos alunos que usaram as ferramentas digitais (Google Earth) e aqueles que
usaram apenas as fotocoacutepias dos mapas em papel
A segunda parte do questionaacuterio foi reservada apenas para os alunos que
usaram o Google Earth na realizaccedilatildeo da atividade de modo a obter uma informaccedilatildeo
qualitativa sobre o que pensavam acerca da experiecircncia com as ferramentas digitais
nas aulas de Geografia
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo da amostra o questionaacuterio visava contextualizar a
familiaridade dos alunos com as novas tecnologias A primeira pergunta formulada
foi ldquoGostaria de estudar mapas com o auxiacutelio do Google Earth em Geografiardquo
(Graacutefico 6) 875 responderam que sim enquanto 125 disseram natildeo
87
Graacutefico 6 Interesse dos alunos pelo uso das ferramentas digitais nas aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Preliminarmente podemos dizer que esse percentual de 125 de recusa
representa aqueles alunos que natildeo conseguiram identificar a utilidade praacutetica da
cartografia na vida cotidiana e isto nos leva a acreditar que os recursos didaacuteticos
utilizados para ministrar os conteuacutedos de cartografia poderiam ser mais instigantes
de modo a envolver mais os alunos de diferentes segmentos sociais bem como os
professores Por outro lado o nosso questionaacuterio poderia ter sido melhor estruturado
e organizado com perguntas cujas escalas permitissem uma anaacutelise estatiacutestica mais
detalhada
Na sequecircncia questionamos o grupo dos alunos do Google Earth ldquoO que
vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de informaacutetica para
ensinar a interpretar mapasrdquo (Graacutefico 7) A respeito dessa possibilidade de se
aceitar o desafio de estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no
laboratoacuterio atraveacutes do Google Earth 67 dos alunos responderam que
concordavam com a ideia contra os 33 que natildeo concordaram o que nos leva a
acreditar que os laboratoacuterios de informaacutetica podem natildeo ser essa panaceia que
supostamente proporciona um ambiente agradaacutevel aos seus usuaacuterios a partir da
possibilidade de acesso a uma interface interativa poreacutem eacute interessante ressaltar
que as aulas em laboratoacuterio nem sempre despertam em todos os alunos o interesse
e gosto pelos conteuacutedos ministrados
88
Graacutefico 7 Aprovaccedilatildeo do uso do laboratoacuterio de informaacutetica para as aulas de Geografia
Fonte Pesquisa direta aplicada pelo autor nas duas turmas do 6ordm ano
Com este resultado constatamos que mesmo sendo uma amostra reduzida
comparada ao universo de alunos no Ensino Fundamental no municiacutepio de
Arara(PB) pode-se concluir que a introduccedilatildeo das TICs no ensino de Geografia
(Google Earth) por um lado natildeo eacute recebida necessariamente por unanimidade como
uma inovaccedilatildeo que desperte o interesse pelos conteuacutedos de cartografia e por outro
poderaacute contribuir mesmo que de forma circunscrita para dinamizar o processo de
ensino-aprendizagem na escola tornando as aulas mais interativas e despertando
nos alunos o gosto pela Geografia e pela cartografia digital
Na avaliaccedilatildeo apresentada procuramos concentrar a possibilidade de
resoluccedilatildeo de problemas com escalas geograacuteficas apenas no aluno com o professor
atuando como guia para direcionar o aprendizado do aluno e em caso de surgirem
duacutevidas solucionaacute-las O que causou estranhamento na maioria dos participantes O
grupo de alunos que fez uso das ferramentas digitais mostrou-se capaz de resolver
as trecircs questotildees propostas no intervalo de tempo de 30 minutos o qual fora
antecipadamente combinado para resolutividade do exerciacutecio inclusive discutindo as
respostas a procura de soluccedilotildees
Por outro lado apenas 125 dos alunos do grupo que fez uso de mapas em
formato de papel e reacutegua milimeacutetrica conseguiu solucionar a contento todas as
89
questotildees propostas o que nos leva a pensar que o Google Earth e outras TICs
apresentam-se como ferramentas potenciais para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem em Geografia se considerarmos que este software pode favorecer
novas formas de acesso ao saber cartograacutefico quer seja atraveacutes da navegaccedilatildeo da
informaccedilatildeo dos novos estilos de raciociacutenio e de conhecimento incluindo a
simulaccedilatildeo de voos
Na escola objeto da pesquisa apesar de estar localizada em um municiacutepio
cujo Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) eacute classificado pelo
Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como baixo (0548)
onde 773 das famiacutelias recebem menos de 2 salaacuterios miacutenimos mensais13 ainda
assim eacute comum encontrarmos muitos alunos acessando a internet atraveacutes de
aparelhos de telefonia moacutevel e com uma desenvoltura impressionante sobre os
recursos disponiacuteveis nos equipamentos o que eacute compreensiacutevel considerando-se
que todos jaacute nasceram no mundo do controle remoto mouse internet enfim jaacute
nasceram imersos na cibercultura
Em relaccedilatildeo aos alunos das turmas avaliadas observamos que o niacutevel de
interesse pelas TICs depende muito da facilidade de acesso (ou natildeo) aos
computadores Em linhas gerais os alunos gostam de acessar as redes sociais e os
jogos para entretenimento poreacutem natildeo permanecem por muito tempo no laboratoacuterio
de informaacutetica devido a um intenso controle do tempo por parte dos monitores de
informaacutetica responsaacuteveis pelos equipamentos Poucos satildeo os que possuem
computadores em casa ou na casa de parentes a maior parte utiliza mesmo eacute na
lan house
Devido ao controle exercido pelos funcionaacuterios da escola sobre o tempo em
que os alunos podem permanecer no laboratoacuterio de informaacutetica eles ainda natildeo
identificaram o tele centro de inclusatildeo digital da escola como espaccedilo em que podem
utilizar o computador como um meio para aprendizagem embora todos os
entrevistados afirmem ser capazes de acessar as redes sociais jogar e fazer
pesquisas nos sites de buscas para trabalhos escolares No entanto nenhum deles
afirmou ter usado os mapas digitais disponibilizados pelo Google
Durante o desenvolvimento da pesquisa na escola questionei os demais
13
IBGE Censo Demograacutefico 2010 ParaiacutebaArara - Resultados da Amostra ndash Rendimento Disponiacutevel em lt httpcodibgegovbrBUAZ gtAcesso em 01 fev 2014
90
colegas professores de Geografia a respeito da aparente falta de interesse dos
alunos pela cartografia escolar Um dos colegas atribuiu esse aparente desinteresse
a falta de habilidade para com a leitura
Os alunos chegam no 6ordm ano sem saber ler [] Vocecirc pede para que eles respondam uma atividade e entatildeo muitos ficam esperando que vocecirc leia os enunciados simplesmente porque natildeo conseguem identificar o que se pede na questatildeo [] Depois ficam procurando palavras-chaves para responder os exerciacutecio
(Depoimento de um professor de Geografia do 6ordm ano)
Durante uma entrevista informal com o professor responsaacutevel pela escola
buscamos entender o que pensa a atual direccedilatildeo da unidade escolar sobre outras
formas de aprendizagem atraveacutes dos computadores disponiacuteveis no laboratoacuterio de
informaacutetica da escola Notamos que natildeo haacute sincronizaccedilatildeo das atividades e nem
constacircncia do trabalho com as ferramentas digitais na unidade escolar No decorrer
do ano letivo o uso das TICs depende da vontade do professor da disciplina que
cada um leciona da disponibilidade do laboratoacuterio do apoio do monitor de
informaacutetica e ateacute de fatores externos como (falta de) manutenccedilatildeo dos equipamentos
e da rede eleacutetrica Perguntado a respeito do controle do tempo a que os alunos satildeo
submetidos no laboratoacuterio de informaacutetica respondeu que se assim natildeo procedesse
os alunos natildeo permaneceriam em momento algum nas salas de aulas
91
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Esta dissertaccedilatildeo teve como principal objetivo estimular o uso das ferramentas
digitais em sala de aula associando cartografia escolar ao cotidiano dos alunos a
partir da utilizaccedilatildeo do Google Earth Constatamos que as TICs estatildeo cada dia mais
presentes na escola seja atraveacutes dos laboratoacuterios de informaacutetica sejam por meio da
massificaccedilatildeo entre os alunos dos mais modernos e sofisticados equipamentos de
telefonia moacutevel cujos portadores se deixam mergulhar profundamente no oceano de
inovaccedilotildees possibilitadas pela facilidade de navegaccedilatildeo atraveacutes da rede mundial de
computadores
O acesso agraves redes sociais a partir dos equipamentos de telefonia moacutevel no
espaccedilo interno da unidade escolar eacute uma realidade que jaacute perdura haacute mais de cinco
anos Inicialmente de forma tiacutemida poreacutem avolumando-se a cada dia numa escala
impressionante apesar do controle exercido pela direccedilatildeo da escola sobre a rede
Wireless14 do laboratoacuterio de informaacutetica aliado aos escassos recursos financeiros da
comunidade estudantil para adquirir pacotes de acesso agrave rede atraveacutes das
operadoras de telefonia celular Nem isso tem sido capaz de impedir o crescimento
exponencial dos acessos agraves redes sociais no ambiente escolar
Por outro lado se o acesso agraves redes sociais parece ser uma tendecircncia
mundial entre os usuaacuterios das TICs essas tecnologias apresentam-se nos dias de
hoje como uma soluccedilatildeo para ajudar a superar alguns dos obstaacuteculos e limitaccedilotildees
dos meacutetodos de ensino atuais no sistema educacional Esta pesquisa teve sua
importacircncia no sentido de determinar ateacute que ponto as ferramentas digitais como o
Google Earth podem trazer os benefiacutecios das TICs para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia como por exemplo ensinar a pensar a relaccedilatildeo entre o
espaccedilo representado nos mapas e a realidade do terreno aleacutem de outras
habilidades de raciociacutenio espacial que satildeo importantes adquirir nos primeiros anos
da segunda fase do Ensino Fundamental
Assim sendo os alunos dessa fase de ensino precisam se tornar
14 Uma rede sem fio (Wireless) eacute um sistema que interliga vaacuterios equipamentos fixos ou moacuteveis utilizando o ar como meio de transmissatildeo Fonte portal da Universidade Federal de Lavras-MG Disponiacutevel em httpsemfiouflabrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=63 acesso em 01 fev 2014
92
cartograficamente alfabetizados e como nativos digitais que satildeo teratildeo mais
facilidade para manusear com os mapas digitais e aprimorar o conhecimento
necessaacuterio na cartografia escolar Este trabalho foi realizado com uma amostra de
48 alunos escolhidos aleatoriamente em quatro turmas do 6ordm ano do Ensino
Fundamental nos dois turnos de funcionamento da escola sendo que tambeacutem por
sorteio os alunos do turno matutino foram submetidos aos testes com os recursos
das ferramentas digitais atraveacutes do Google Earth e aqueles do vespertino ficaram
com os tradicionais mapas em papel para ao final de todos encontros semanais
resolverem uma atividade que continha questotildees comuns a ambos
O esboccedilo da atividade levou em consideraccedilatildeo os conteuacutedos de cartografia
escolar que jaacute haviam sido estudados ao longo do primeiro semestre do ano letivo
2013 Os resultados das trecircs questotildees propostas na atividade aplicada no uacuteltimo
encontro demonstram que existe uma diferenccedila significativa entre os dois grupos
de alunos avaliados No grupo de alunos do Google Earth dentre os 24
participantes a totalidade conseguiu resolver as questotildees propostas mesmo que
trecircs dentre eles ainda apresentassem algum tipo de dificuldades para manusear
com o mouse dos equipamentos no que foram auxiliados pelo professor da
disciplina Por outro lado no grupo dos alunos que ficaram com os mapas em papel
a situaccedilatildeo se inverteu e apenas 3 alunos apresentaram resultados satisfatoacuterios para
as questotildees propostas enquanto outros 21 natildeo conseguiram superar o desafio
sobre escalas geograacuteficas
Durante o transcorrer das aulas praacuteticas na escola foi possiacutevel observar que
o grupo de alunos que se utilizou dos mapas em papel estava menos motivado em
comparaccedilatildeo ao grupo que se utilizou do Google Earth inclusive este uacuteltimo obteve
melhores resultados na avaliaccedilatildeo apesar de alguns ainda apresentarem uma
relativa dificuldade para manusear com as ferramentas digitais Esta eacute uma
constataccedilatildeo de que para a geraccedilatildeo de nativos digitais o Google Earth eacute muito faacutecil
de ser manuseado Considere-se que dentre os 24 alunos do grupo avaliado trecircs
dentre eles quase sem nenhuma experiecircncia e pouco tempo de explicaccedilatildeo foram
capazes de resolver as questotildees propostas com a totalidade de acertos
Constatamos ainda que no decorrer das aulas praacuteticas para o
desenvolvimento deste trabalho algumas limitaccedilotildees devem ser citadas para que se
possa evitaacute-las em trabalhos futuros A primeira refere-se ao nuacutemero de alunos
envolvidos para a realizaccedilatildeo do projeto O total de 48 alunos divididos em dois
93
grupos sendo um de controle e o outro para experimento natildeo corresponde agrave uma
amostra ideal para caracterizar a forma como as TICs poderiam ser implementadas
em todas as escolas da rede puacuteblica do Estado da Paraiacuteba
Deficiecircncia dos equipamentos no tele centro de inclusatildeo digital devido agrave falta
de manutenccedilatildeo e oscilaccedilatildeo do sinal de internet na escola objeto da pesquisa
constituiu tambeacutem um grande obstaacuteculo que levou a reduzir o nuacutemero de alunos
envolvidos na pesquisa para apenas 12 por turma quando a ideia inicial era
trabalhar com a totalidade dos alunos das turmas
A deficiecircncia na leitura dos alunos do 6ordm ano que os impede de entenderem o
que se propotildee em uma questatildeo por mais simples que aparente ser tambeacutem
dificultou muito o desenvolvimento das atividades da pesquisa Outro fator limitante
ao desenvolvimento do trabalho apresentou-se na forma da carecircncia da biblioteca
escolar no tocante ao acervo de atlas geograacuteficos em quantidade suficiente para
todos os alunos o que levou a que a pesquisa ficasse dependendo de fotocoacutepias
coloridas em folhas avulsas
O acesso muito restrito dos alunos ao laboratoacuterio de informaacutetica mesmo que
este esteja instalado no interior da escola e as constantes ausecircncias dos monitores
de informaacutetica responsaacuteveis pelo funcionamento do ambiente afasta os alunos do
ambiente institucional poreacutem natildeo impede de acessar a rede mundial de
computadores a partir de outros ambientes
Talvez seja por isso que quando sondados a respeito da possibilidade de
estudar cartografia com os recursos digitais disponiacuteveis no laboratoacuterio atraveacutes do
Google Earth 33 disseram que natildeo concordaram o que nos leva a acreditar que o
laboratoacuterio de informaacutetica existente no tele centro de inclusatildeo digital localizado no
interior da escola pode natildeo se caracterizar como sendo um ambiente muito
agradaacutevel aos seus usuaacuterios e talvez por isso as aulas no laboratoacuterio nem sempre
despertam em todos os alunos o interesse pelos conteuacutedos ministrados
Como recomendaccedilatildeo a partir das observaccedilotildees das atividades praacuteticas na
escola durante a realizaccedilatildeo deste trabalho eacute que antes dos professores de
Geografia utilizarem o programa Google Earth em sala de aula faz-se necessaacuterio
que ldquonegociemrdquo um tempo extra para que os alunos possam brincar com o
computador da forma como bem quiserem visto que o Google Earth tem uma
interface muito interativa incluindo os simuladores de voos Se por um lado isso
pode contribuir para uma atividade criativa e prazerosa dos alunos ao longo da aula
94
por outro sendo um programa que requer acesso agrave internet os alunos encontram
nele uma janela para o mundo virtual passando a dar atenccedilatildeo agraves redes sociais
jogos imagens e todo aquele esplendor de serviccedilos de que a Internet disponibiliza
Retornando a questatildeo inicial sobre o ensino de Geografia na era digital
partindo de uma experiecircncia na sala de aula acredito ter cumprido a proposta
inicialmente apresentada entretanto muito ainda haacute a ser feito Vivemos numa
sociedade em cuja realidade comunicacional ldquoimplica novas formas de escrever ler
comunicar e lidar com o conhecimento ou seja novas maneiras de pensar e
aprender que exigem novas formas de ensinarrdquo como nos faz lembrar Couto (2012
p 47)
No tocante agrave utilizaccedilatildeo do Google Earth como ferramenta auxiliar no ensino
de cartografia na sala de aula ao analisar as possibilidades e os limites da
alfabetizaccedilatildeo e letramento digital esta utilizaccedilatildeo se fundamenta nos mais firmes
posicionamentos de renomados educadores como Castells (1999) Leacutevy (2009)
Papert (1997) e Tardif (2011) os quais sugerem abalizadas contribuiccedilotildees ao discutir
as novas praacuteticas geradas pela passagem de uma cultura escrita do papel para uma
cultura escrita na tela do computador e apontam as consequecircncias cognitivas com o
suporte das tecnologias digitais visto que nesse contexto aparecem novas formas
de alfabetizaccedilatildeo e letramento ou seja a alfabetizaccedilatildeo e o letramento digital
Nesse sentido a escola natildeo pode se dar ao luxo de ignorar a existecircncia
desses novos espaccedilos de leitura e escrita bem como as caracteriacutesticas e
especificidades que surgem desse novo cenaacuterio
95
REFEREcircNCIAS
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Apecircndice A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Caracterizaccedilatildeo do usuaacuterio das tecnologias digitais
Este questionaacuterio tem o objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do uso das tecnologias digitais por parte dos alunos do 6ordm ano da Escola Municipal Luzia Laudelino proporcionando ainda traccedilar um perfil acerca do niacutevel de alfabetizaccedilatildeo cartograacutefica ao final do terceiro bimestre letivo deste ano 2013 1) Vocecirc eacute do gecircnero ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Vocecirc tem quantos anos ( ) 10 anos ou menos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ( ) 13 anos ou mais 3) Vocecirc tem acesso ao computador frequentemente ( ) Sim tenho em minha casa ( ) Sim utilizo-os na escola e na lan house ( ) Natildeo mas sei utilizaacute-los bem ( ) Natildeo nunca utilizei (Se marcar esta encerre o questionaacuterio) 4) Vocecirc jaacute usou o GOOGLE EARTH alguma vez durante suas aulas de Geografia ( ) Sim ( ) Natildeo 5) Vocecirc sabe utilizar todas as ferramentas do Google Earth ( ) Sim ( ) Natildeo 6) Quais satildeo as ferramentas do Google que vocecirc sabe usar a) PESQUISAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito b) MAPAS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito c) IMAGENS ( ) Pouco ( ) mais ou menos ( ) Muito
100
7) Em relaccedilatildeo aos recursos para GEOGRAFIA disponibilizados gratuitamente pela empresa Google vocecirc ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Earth ( ) Conhece e sabe utilizar o Google Maps ( ) Jaacute utilizou o Google Panoramio ( ) Jaacute navegou atraveacutes do Google Latitude e sabe navegar muito bem ( ) Nunca utilizou nenhum desses produtos 8) Considerando o que vocecirc aprendeu nas aulas de Geografia sobre o uso de mapas vocecirc ( ) Seria capaz de se localizar em qualquer lugar do mundo sem precisar de um
guia ( ) Sabe o suficiente apenas para identificar os tipos de mapas em um atlas
geograacutefico ( ) Ainda natildeo se sente seguro em relaccedilatildeo a leitura e interpretaccedilatildeo de mapas
Muito obrigado por ter respondido
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Apecircndice B
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo dos mapas formato em papel
1ordm) No mapa do mundo (1ordf fotocoacutepia anexa) as distacircncias em linha reta entre as
cidades de LISBOA (em Portugal) e UFA (na Ruacutessia) eacute de aproximadamente 22
centiacutemetros Sabendo-se que cada centiacutemetro no mapa corresponde a 230 km
a distacircncia real entre as localidades eacute de aproximadamente
a) 506 km
b) 2550 km
c) 3850 km
d) 5060 km
e) 10120 km
2ordm) No mesmo mapa (1ordf fotocoacutepia anexa) observe que a Cidade do Meacutexico estaacute
localizada a 25 cm de Nova York (Estados Unidos) veja que a escala numeacuterica
constante na legenda desse mapa eacute de 1 160000000 Com base no que vocecirc jaacute
aprendeu em Geografia calcule e responda
QUAL Eacute A DISTAcircNCIA REAL EM LINHA RETA ENTRE AS DUAS CIDADES
a) 400 km
b) 1000 km
c) 1500 km
d) 3000 km
e) 4000 km
102
3ordm) No mapa do Brasil (2ordf fotocoacutepia anexa) medimos 45 centiacutemetros entre a capital
da Paraiacuteba (JOAtildeO PESSOA) e a capital do Estado do Cearaacute (FORTALEZA)
Observe na legenda do mapa que cada centiacutemetro equivale a 130 km Agora calcule
e marque a resposta correta
A distacircncia em linha reta entre JOAtildeO PESSOA e FORTALEZA eacute de
aproximadamente
a) 15 km
b) 585 km
c) 900 km
d) 1500 km
e) 6500 km
Vamos ao desafio
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Apecircndice C
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISAS MESTRADO PROFISSIONAL EM FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES MESTRANDO ANTONIO GREGOacuteRIO DA SILVA
Avaliaccedilatildeo aplicada ao grupo do Google Earth formato digital
1ordf PARTE
1ordm) Acesse o Google (Earth ou Maps) e descubra qual eacute a distacircncia real entre as
cidades de Lisboa (Portugal) e Ufa (Ruacutessia)
Lisboa localiza-se a ____________________km de Ufa na Ruacutessia
2ordm) Da mesma forma que na questatildeo anterior localize a Cidade do Meacutexico e
descubra a quantos Kilocircmetros ela estaacute de Nova York (Estados Unidos)
A cidade do Meacutexico encontra-se a __________________ km do Nova York
3ordm) Por fim faccedila a medida real entre as cidades de Joatildeo Pessoa e Fortaleza
A distacircncia real entre as duas capitais eacute de _____________________ km
2ordf PARTE
1 Gostou de trabalhar com a ldquoferramenta digitalrdquo Google Earth
( ) Sim ( ) Natildeo
2 O que vocecirc acha se os seus professores decidissem usar o laboratoacuterio de
informaacutetica para ensinar a interpretar mapas
( ) Concordo ( ) Natildeo concordo
Muito obrigado
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ANEXO I
105
ANEXO II
106
ANEXO III
107
ANEXO IV