Antônio Marchuschi

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    1/27

    ORALIDADE E ESCRlTA'i i t t Ms__ *#Luiz AntOnio Marcuschi"

    RESUMOPart indo da prernissa de que 00 .0 e posslvel analisaras rela~oes entre lingua

    falada e l ingua escrita cen trando-se apenas no cod igo linguist ico, este ensaio consideraa produ'Ya.o discursivaem seu todo como uma pratica social c analise os ccntextos deprodw;:ao., os usos e as Iormas de transmissao da oralidade e da escrita navida diaria,Para isso propec a dupla distincaoentre; (a) ora/Made e letramemo como praticasso eia is e (b)fola e escrilaoomo m odalidades de uso, recaindo 8. p rirn eira n a observa'Yi ioda realid adesocioc om unic at iva e, a segund a no analise de fates Iingulst ico s. Ident ifies,assim , as diversas lerulfulc ias teoricas atuais no trato da questao e postula until perspec-tiva que recusa toda e qualquer visll.o dicotom ica e sirnplista, adotando comopos iyaoadequada a relay!o m ult ifatorialentre as duas prat icas dentro de urn cont inuo de usose g en er os textuais, negan do propriedades in trinseeas, posi t ives ou n egat ives, im anen tesa oralidade Oil d e sc ri ta .

    1.Oralidade e escrita DO cootexto das praticas socialsHoje, e impossi vel i nv est ig ar o s fe nomenos da oralidade e da escri-

    ta sem uma referencia direta ao papel dessas duas praticas na civilizaeaocontemporanea. De ig ua l modo, ja nao se pode observar satisfatoriarnenteas sem elhancas e d ife rencas en tre oralidade e esc ri ta sem considerar adistribuicao de seus usos na vida diana. Assim, fica dificil, se nao

    Confur& Jc ia de abcrtu ra do, II Encontro Franco-Brasileiro de Enstno de Lingua. real izado lUIUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, em outubro de 1995.D o u( or e rn F il os oli a da Linguagem pela Universiclade de Erlangen, A lem anha, Professor Titularde JingOistica da Uruversidade Federal de Pernanbuce (UFPe).

    Sign6tica, 9: 119- 145. janJdez. 1997 119

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    2/27

    im p ossiv el, a t ra tam en to das re lacoes en tre a fala e a esc ri ta cen trando -seexc lu siv am en te no cod igo . M ais do que um a sim p les rnudanca deperspec t iva , is to rep resen ta a const rucao de u rn novo obje to de anali seeum a nova concepcao de lingua e de tex to , ago ra v istas com o praticassociats.

    A esc ri ta , enquan to p ra t ic a soc ia l, tern um a histo ria ric a em ulti facetada (nao-Iinear e che ia d e c o nt ra d ic o es ) a inda p or ser esc larec i-da, com o lem bra Graff (1994), Numa so c iedade com o a nossa, a escr i tae mai s do que urnatecnologia. Elase tornou u rn bern soc ia l indispensavelpara en fren tar a d ia-a-d ia, se ja no s cen tres u rbano s ou na zona ru ral.Neste sen t id o , pode ser vis ta c omo essencial a propr ia sobrevivencia , Naopar v i rtu des que the sao im anen tes, m as pela fo rm a com o se im pos e av io lenc ia com que penetrou , Par i sso , friso queela se tornou ind ispensa-vel.

    Nao obstan te isso , sob a pon to de v ista m ais cen tra l da realidad ehum ana, seria possivel defin ir 0 hom em com o u rn ser quefala, m as naocom o om ser q ue esc reve , a que traduz aconv iccao , ho je tao generalizadaquan ta t r ivial , de que a escrita e der ivada e a fala e primaria. Nao e neces-saria rnu i ta gen ialidade para consta tar qu e tados as povos, ind ist in tam en-te , r e m au t iveram um a trad jITao oral, m as relativamente POllCOS t iveramau tern um a trad i9 io esc ri ta Nao se tra ta ,com isto , d e co locar a o ralid adecom o m ais i rnportante, m as de perceber que a o ralidade tern um a "p rim a-zia erono log ica ' ind iscu t iv el. (C f Stubbs, 1980)

    Con tudo , rnais u rgen te (e relevante) do que iden t i fic ar p rim azias ousup rem ac ias en t re o ralidade e esc ri ta , e a te m esm o m ais im po rtan te doque observar o ralidade e esc ri ta com o sim p les m odos de u so da lin gua, ea tarefa deesc larecer a n atu reza das p ra t ic as so c ia is que envo lvem 0 usoda lin gua (esc ri ta e o ral) de u rn m odo geral, Essas p ra t ieas determ inam 0Iug ar, a papel e 0 grau de relevan c ia d a o ralidade e da esc ri ta num aso c iedade e ju st i fies que a questao da relacao en tre am bas seja posta noeixo de u rn con t in uo tan to soc io -histo rico com o t ipo log ico .

    A fala e adqu irida natu ralm en te em con tex to s in fo rm ais do d ia-a-dia, A esc ri ta , em sua faceta in st i tu c ional, se adqu i re em con tex to s fo rm a-is: rut esco la , Dai tam bern seu cara ter m ais p rest ig io so com o bem cu ltu raldesejavel. D ai tam bern a fa to de um a certa id en t ific acao en tre alfabet iza-y a o e escolarizacao, 0 que nao passa d e um equ ivo co (C f. G raff, 1995 e12 0 MAR-CUSCI I I , Luiz Antonio. O ra lid ad e c c sc ri t a

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    3/27

    Frago 1994). Pois houvc situcocs historicas, tal como 0 caso da Succia,em que a a lfabctizacao dou-se dcsvincu lada da cscolar izacao.

    Quanto a prcscnca da cscrita, pode-sc dizer que. mcsmocriada poloengcnho humane tardiarnontccrn rclacdo a prcscnca da oralidadc, ciaperrncia hoje quase todas as praticas sociais dos povoscm que pcnctrou.Ate mCSl11a as analfabctos, em socicdadcs com cscrita, cstao sob a in-fluencia do que contcmporancamcntc sc convcncionou chamar de tetra-mento {literacy), isto C.urn tipo de proccsso historico e social que nao scconfunde com a rcalidadc reprcsentda pcla alfabctizacao regular cinstitucional Icmbrada hit pouco.

    A cscrita c usada em contcxtos sociais basicos da vida cotidiana ernparalclo direto com a oralidadc, Estes contcxtos, entre outros, sao:~ a escola () trabalho

    - afamilia- 0 dia-o-dta

    a vida burocraticaa otivtdade intclectual.

    Em cada urn desscs contcxtos, as Cnfasesc as objctivos do lisa dacscnta sao variados e divcrsos, Incvitavcis rclacoes entre cscrita & COIl~texto dcvem cxistir, fazendo surgir tipos e formas tcxtuais, bern COIllOterminologies e cxprcssocs tipicas. Soria interessante que a cscola soubcs-se algo mais sabre essa qucstao para cnfrcntar sua rarcfacorn rnaiorpreparo e rnaleabilidadc, scrvindo ate mesmo de orientacao na selccao detextos c definicao de nivcis de linguagcm a trabalhar,

    Ha, portanro, urna distincao bastante nitida entre a apropriaciio.distribuicao da cscrita c da leitura (padrfles de a(tabefizar;fio) e osusos/papeis da cscrita e da lcitura iprocessos de letramento; cnquantopraticas sociais rnais amplas. Sabcmos muito sabre rnetodos de alfabeti-zacao, mas sabcmos POLICO sabre processos de lctramcnto, au seja, sabe-mas pouco sobrca influcnciae pcnetracao da cscrita na sociedadc, Mes-mo pessoas ditas "iletradas", au seja, analfabctas, nao dcixam de cstarsob a influencia de cstrategias da cscrita em seu desempenho oral, 0quetoma 0 LlSO do tcrmo "ilctrado" muito problematico em sacicdades comcscrita (v. mars sobre 0assume em Tfou ni, J 98g).

    Alem disso, ainda nao sabcmos com precisao que generos de textos(orais e escritos) sao os mais corrcntcs em cada urn dos contextos acimaapontados c quem C que faz uso mais intense da escrita dentro deles.'Tome-so a caso do trabalho. Ali, nem todos fazern usa da escrita na rnes-ma in te nsida de a u em con dicocs id en tica s. Nao e apenas um a questao deSignotica, 9: 119145, jnn.rdez, 1997 121

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    4/27

    distribuicao de tarefas. E tambem uma questao de delegacao de tarefas,urn fato muito comwn na pratica ci a escrita em contextos de trabalho. Emquase todos as arnbientes de trabalho haalguem (uma determinada pes-soa) que sabe escrever. alguern que tern urn desempenho escrito conside-rado "ideal" para aquele c on te xt e. ~

    Se partirnos para 0 ambiente familiar, podcmos indagar: que usoda leitura e ci a escrita e fcito em casa? Para que se Lisaa escrita e a leituraem casa? Nao resta duvida de que Icitura&cseritae lima pratica eomuni-cativa interessantee proveitosaem rnuitos sentidos, Hit a jornal e a revistapara serem lidos. H a cartoes e cartas pessoais para serern esc ri tos, H acheques para assinar, contas a fazer, recados a transm it ir e listas decorn-pras a organizar.' Ha as ocorrencias a registrar (as farnosos livros deregistro de t odos os condorninios). Ha historinhas a contar antes de dor-rnir. As fofocas do dia a por em ordcm etc. etc,

    Nao sabem os, no entanto, como tudo isso interage cam outrosrneios cornumcativos, por exernplo 0 telefone, a radio, a TV e assirn pordiante, Em suma, pouco sabernos a respeiro das relacoes entre os diversostipos de atividades comunicativas. Continua abcrta a indagacao: que tipode va lorizacao se da a escrita e a ora lid ad e n a vida diar ia?

    Retomemos, por um momenta, a algumas questocs relativas ita lfa be ti za ca o, p oi s sera importante constatar que a.esc ri ta , apos se tornarurn fenomeno de rnassa e desejavel a todos os seres hurnanos, passou areceber urn status bastante singular no contexte das atividades cognitivasde um modo geral. Para muitos, 0 seu dominic so tornou lim passaportepara a civilizacao e para 0 conhecimento." Trata-se de Limatcndencia arec on he ce r v alo re s irn an en re s a propria tecnologia como taL

    As confusoes aqui sao nnensas. Primeiro, dcvcrnos distinguir entreletramento, alfabettzacao e escolarizacao, 0 letrarnento e um processode aprendizagem social c historica da leitura c da escrita em contextosinformaise para usos utilitarios, A alfabetizacao pode dar-se, como defa to se de ll historicamenrca margem da instituicao escolar e compreendeo dominic ativo e sistematico das habilidades de ler e escrever. A Sueciaalfabetizou lOO%de sua populacao ja no final do seculo XVIII no ambi-ente familiar e para objetivos que nada tinham a ver com 0 desenvolvi-menta e sirn com praticas religiosas e atitudcs de cidadania. A escolariza-yao, par sua vez, Cuma pratica fo011a1 e institucional de ensino que visaa uma formacao integral do individno, scndo que a alfaberizacao I f : apenas12 2 MARGliSC I 11.I.uiz ,\l1lonin. Ornlid"d~ ~ esc..ua

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    5/27

    uma dasarriburcces/atividades daescola, Aescola tern projetos educacio-nais amplos, ao passo que a alfabetizacao e uma habilidade rest rita.

    Retomando olema acirna, podernos idcntificar, entre as perguntascentrais a seguinte: Em que contextos e condiciies sao usadas 0oralida-de e a escrtta, isla C , quais sao as IIS0S da oraltdade e do escrita emnossa sociedade?

    Par exemplo, quais sao as demandas basicas da escrita em nossasociedadc, relativarncntc ao trabalho? Em que condicocs c para. que finsa escrita e usada? Em que condicoes e para que fins a oralidade c usada?Qual a interface entre a escola e a vida diaria no que rcspeita a alfabetiza-yao? Como se comportam os nossos m anuais escolares neste particular?Que hab i li d adc s sao c nsin ad as n a esc ola e com que npo de visao sc p assaa escrita? Q que c que 0 individuo aprende quando aprcndc a lcr e cscre-ver?

    Scguramcnte.cstas qucstocs dcvcrn scr tratadas em varias direcoes.Pareee que hornens c rnulheres nao fazcrn uso da escrita do rncsrno modo.Parecc que a escrita tern uma pcrspcctiva na cscola c outra fora dela.Tarnbcm hit 0 problema do accsso 11cscrira que e difcrenciado, Alern domal s. nao 6 necessaria ir ITIli ito longe (ef S t reel, 1984) pa ra pcrccber 0quanta a cscrita foi tratada como algo superior, autonomo, com valorcsintrinsecos etc .. tornando-sc fonte de preconceitos.

    No sociedade atual. tanto a oralidade quanta a escrita saoimpresctndivets. Trata-se. pais. de ndo corfundir seus papeis e seuscontextos de 11.\"0. e de nao discnminar os seus usuarios. Par exemplo.ha quem cquiparc a alfabctizacao (dom in ic a tivo da esc ri ta c da lc i tu ra)com desenvolvimento. QUIros sugcrem que a entrada da escrita rcprcsentaa entrada do raciocinio logicoe abstrato. Ambas as tescs estao cheias deequivocos , Mas e evidcnte que a alfabetizacao cont inua fundamental.Eric Havclock' (citado par Graff. I995.38) cementa a tardia entra ~da c i a escrita na humanidadc e sua repent ina supcrvalorizacao com estaspalavras:

    o 1:1(0 biolcgico-lustorico ~ que () homo sapiens ~ umn especieque lisa 0 drscurso oral. manutaunudo pcla boca, para sc comurucar.Est;:!'; sua dcfin ic flo . Elc u[io < ' : , por ddil1i~

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    6/27

    eseri tos pan! r ep re se nt ar e ss a rala e ap en as u rn d isp csu iv o ut i l que temexist ido hfI pouco tempo pam poder ter sido inscri to em n os so s g en es,possa isso ocorrer ou nao m eio m ilhao de alios ;i Irente. S eg uc -se q uequalquer lingcagem pode ser t ransposta para qualquer sistem a de sim -b olo s e sc ri to s q ue 0 usuario da Iinguagem possa esco l her sen t que issoefe te a estru tu ra basics da linguagem . Em sum a, 0 hom em que le, emcontrastc com 0 homcm que fala, nilo c biolegicamente detcrmiuado.Ele traz II nparencia de urn acidentc hisrerico recente ...

    Refletindo sabre essas observacoes, Graff ( 1995) lcmb ra que a"cronologia e devastadoramente simples": enquanto cspecic, a homosapiens data de cerca de urn milhao de anos . A escrita surgiu pouco maisde 3.000 anos antes de Cristo. ou seja, ha 5.000 anos atras No ocidente,ela entrou par volta de 600 A.c., ehcgando a. poueo mais de 2.500 anoshoje. E a im p ren sa surgiu em 1450, tendo poueo mai s de 500 anos, Paraa maioria dos e st ud io so s, a a lfa be ti za ca o, como fcnorncno cultural demassa, pode ser quase ignorada nos primeiros 2000 anos de sua historiaoeidental, pois ficou rcstrita a uns poucos focos.

    Contudo. observa G raff ( 1995: 39) que c ssa histo r ia nao e tao Iinearassim e oferecc murtos rruncarnentos. A historia do usa dacscrita c daalfabetizacao no ocidentc 0 uma historia descontinua. Para a autor, ahistoria da alfabet izacao no Ocidcnte e "urna his tor ia decontradicocs cque um reconhecimcnto explicito disso 0 urn pre-requisite para urna com-preensao plena daquela historia." (p.43). E muito interessante a breveanalise de Graff (pp.43-52) sobre as relacoes entre a alfabctizacao e asprocesses de mdustriahzacao. Ele mosrra que cssa relacao nao foi cons-tanto, nem sequer so dcu numa ordcrn de concornitancia. Tanto assim quea pnrneira revolucao industrial da Inglaterra mostrou indices regrcssivosde alfabetizacao. Tambcm nao so da que os povos au grupos rnais alfabe-tizados tenharn sido scmprc os mais prosperos. Vcja-se o ja lembradocaso antol6gieo da Suecia, plcnarncntc alfabctizada ja no seculo XVlll eeconomicamentc margi nal izada.

    Os proprios planas sugeridos peJa UNESCO basciarn-sc na crcncad e que "a alfabctizacao C uma coisa boa" c que a pobrcza, a docnca e aatraso gcral estao vinculados com 0 analfabctismo", scndo que par suavez "0 progrcsso, a saudc C 0 bern-cstar cconomico estao igualmcnte deforma auto-evidentc vinculados com a alfabctizacao". Parcec que pro-gresso esta ligado it alfabctizacao, de modo que csta tcria urn valor intrin-1 2 < 1 J\tARCUSCllt. Luiz Antonio. Ort1fid"d~~: s . .:nln

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    7/27

    seco desejavel ao individuo Contudo, a historia daalfabetizacao naocomprovaas expectativas da UNESCO. Per outre lado,e forcoso conce-der que vivcrnos hoje tempos divcrsos que as da ldade Media au dosprimordios da industrializacao. Mas nao deixa de ser falacioso usar istocomo argumcnto a favor da suprcmacia da escnta. A escnta c urn fatohistorico e deve ser tratado c omo tal e nao como um b ern n at ura l.

    E fo rcoso ad rn i t i r que a esc ri ta tern ho je um papcl multo diferentedo que aquele que cia t inha em ou tro s tem pos e culturas, Portanto, ahist6ria do papel da escrita na sociedadc e da propr ia relcvancia da alfa-betizacao na~e linear. Nern scrnprc cia teve os rnesrnos objetivos e efei-tos. A este rcspcito, chcga a ser surprecndente a posicao de Graff(1995:47) quando conclui que :

    no m in im a, as dados do passado sugercm tortemcutc que modclos dealfabd izayao sim plisrss, I in earc s, do t ipo . t eoria da m odem izac ao ",COIl lO um pre- requ is i te pa,ITI0 descnvol vimcnto c om o urn est i m ulan te deniveis crcsceutes de cscolanzacao, nao wo modelos upropriados.

    A alfaberizacao tern alguns aspectos contraditorios. Pode ser utilou prccupante aos govcrnantcs. Por isso, os quc detem 0 poder pensamq ue c Ia deveria dar-sc dc preferenc ia sob 0 con t ro le do Estadoe nas esco -[as formalrnente instituidas. Neste caso, 0 controlc c a supcrvisao doEstado o rien tariam a ensm o para seus objctivos. Isla sugcrc que a apro-priacao da escrita c um fenomeno "idcologizavel",

    Nao obstan te a irn cnsa pcn c tracao da csc ri ta e as p ro fec ias de abso-lu to d om i ni o da esc ri [a . a fala con t Inu a na o rdem do d ia , N a s pa Ia v ras d eGraff ( 1995.37). poderiamos dizcr que:

    A dcspcito das decadas nas quais os est udiosos vcm proc laman-do l I !1H1 quedu na di!i .lsUo U .I culturn oral 'I radiciouul ' , it p,1[1i do adveu-10 tin imprensa l ipogrMicl l movel, co nt in ua ig uahu cn tc possivcl e sign i-ficativo situar 0 podcr pcrsistcntc de modes nruis de couiunicaceo,"

    A oralidade continua no moda . Parece que hq le rcdescobrimosque somas sores cmincntcmcntc ora i s .. m c s rn o em culturas tidas comoam p l am en te al fabetizadas, E , no cntan to , bastantci ntercssan te refleti rm elho r so bre 0 lu gar da o ralidade ho jc , so ja nos contcxtos de uso da vida

    1.25

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    8/27

    diaria au nos contextos de formacao cscolar formal, 0 tema mio e novoe tern lon ga t radicao."

    2. Oralidade x Letramento ou Fala x Escrita?Com base nas analises fcitas ate aqui, parece que se impOc uma

    observacao prcliminar de caratcr tcorico. Faler, ate aqei, das rclacoesentre oralidade e escrita. Pcrgunto-mc, agora, sabre a ncccssidade ouoportunidadc de distinguir entre duns dimcnsocs de rclacocs no tratarnctoda linguafalada versus lingua escrita:

    (a) de lim lado, Oralidade x Letramento e(b) de outro lado, Fa/a x EscritaQuante a (a), tratar-sc-ia de urna dist incao entre duas praticas

    sociais tal como vistas antcrrormcntc, c quanto a (b), sc ria u ln a distincaoen t re duas modalidades de /ISO da tingua. N iio hi t d u v id a de que a d ist in -c a o (a) so pode scr levada em conta sc considcrarnos prirneiramcntc (b).Mas pareccm dizcr rcspeito a duas ordcns de fcnomcnos.

    A oralidade s cria u rna p ra tic a social que se aprcsenta sob var ia-das formas ou generos textuais que vao dcsdc rnais informal ao maisformal enos rnais variados contextos de uso. Uma socicdadc pode sertotal mente oral au de oralidadc sccundana, como se exprossou Ong(1987), ao caractcrizar a distincao entre po vas com e scm cscrita ..o letramemo, por sua vcz, c o uso da cscrita na sociedadc e podeir desde uma apropriacao minima da cscrita, tal como 0 individuo que canalfabeto, mas sabc 0 valor do dinhciro. sabe 0 olllbus que devc tomar,sabe distinguir as mercadorias pclas rnarcas c sabc muita outra coisa, masn a o escreve cartas nom I e jornal , ate 0 individuo que doscnvolvc tratadosde Filosofia e Marcmatica. Como so dissc acima, lctramento distinguir-se-ia de alfabetizacao, podendo, eventualrnentc, cnvolvc-la,

    A/ala seria uma forma de producao tcxtual-discursiva oral, sema necessidade de uma tecnologia alcrn do aparato disponivcl polo proprioser humano. A escrtta seria, alern de uma tecnologia de represcntacaoabstrata da propria fala, urn modo de producao textual-discursiva comsuas p rop rias cspec ific idadcs ,

    Hojc, s a o variadas as tcndencias dos cstudos que se ocuparn dasrelacoesentre l ingua falada e li ng ua e sc ri t a, sem sc colocar de forma126 MARCUSCI.II. Luiz Antonio. Ornlidade e escrita

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    9/27

    explicitaa questao que proponho aqui. E relevantc indagar-se se as rela-yOes en t re fala e c sc ri ta , como faz Stubbs ( 1986), sao un iformes, cons-tantes e universals, au se elas sao divcrsificadas na historia, no cspaco enas lin guas. A scgu i r, darer, rcsumidarncntc, algumas pis tas para funda-rnentar 0 pon to de vista que viabi l iza a d ist in cao en tre (a) c (b ) sugeridaacrma3. Fala x Escrita: a perspectiva das dicotomias

    A pr imei ra das tedcnc ias, a de maie r t rad icao en tre o s lingu istas,e a que sc dcdica a analise das relacocs entre duas rnodalidadcs de uso dal ingua (fala x oscrita) c p erc cb c so bre tu do as difcrencas na perspective dadico tomia A r igor , csta pcrspcc t iva tern mat i zc s bern di ferenc iados . Numcon jun to terno s au to res com o Bernste in (1971), Labov (1972). Halliday( 1985) (num a prim ei ra fasc ), O chs-Kcnnan (1979), rep rescn tan tes dasd ico to mias rnais p lo larizadas e v isao rc stri ta ; de outre lado, tcrnos autorcsc omo Chafe (1982, 1984,1985), Tannen (1982,1985), Gurnperz (1982),Biber (1986), Blanche-Benveniste (1990), Halidday/Hasan (1989) quep erce bem a s re la co cs fa la e e scrita d cn tro d e urn con tin uo, s eja tip olo g ic oau da realidade social.

    Nestes casos , trata-sc, no geral, de l ima analise que sc vo lta paraa codigo c pcrmanece na imanencia do faro linguistico ao observar arelacao do fenorncno linguistico Esta perspective, na sua forma maisrigorosae restri t iv a, ta l c om o vista peJos gramaucos, dell ongern ao pres-critivismo e it n orma Ii ng ulst ic a. E dela que conhccernos a s d ic o to rn ia s dot ipo :

    falacontextual izadai rnplici taredundantcnao-planejada. .rrnprccrsanao-normanzada

    Signetica, 9: I 19-145. jan.zdcz, 1997

    escritadescontextual izadae x p l i e i t ae o n d c n s a d aplancjadaprccisanorrnatizada

    127

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    10/27

    E sta s d ic oto m ia s s a o . sobre tudo fru to de um a observacao fundada nanatu reza das cond icoes ernp iric as de u so da lin gua (envo lvendo p laneja-men t o e verbalizacao), e nao de caracteristicas dos lex to s produzidos.Disto surgem visocs distorcidas do propr ia fenorncno textual Excecaopode ser fe i ta aos trabalhos de T annen( 1982 , 1985) Gum perz ( ] 983) e boaparte dos estudos de Chafe (1982 ,1984.1985), bcm com o de Biber( 1988 ),

    Esta perpec tiva ofercce urn prim eiro m odele que pode ser carac teriza-do como a visao imanentista que deu origem a m aio ria das g ram at ic aspedagog icas que so acharn ho jc em usa, Sugc re d ico tom ias estanques comseparacao entre forma e conteudo, separacao entre lingua e usa e toma al ingua como sis tem a de reg ras, 0que conduziu a cnsino de lingua ao ens i -no.de regras grarnaticais.

    Esta v isao , de cara ter est ri t am en tc fo rm al, ernbora de bons resultadosn a d esc ri cao e stri ta m cn tc crnpir ica, rnan ifesta eno rrn c in sensib i lid adc paraos fenomcnos dialogicose discursivos, Sua tendencia c rcstritiva c apropr ia nocao de regra por cia propostac dcmasiado rigida. Uma de suasconclusoes rnais conhec idas e a que postula para a fala urna rncnor com -plexidade e uma maior cornplexidadc para a escrita. Dc resto, rrata-se deum a altc rnat iv a que conduz a selecocs aparcn terncn rc fundadas em algumvalo r in trin seco aos signos lingu ist i co s, m as na realidad e, as dec isoesfundam-se em criterios e mecanismos socio-culturais naoexplicitos.

    4. Or.aJidade x Esc ri ta : a tendenc ia fenom eno l6g i .c a d ecara ter cu ltu -ralista

    U ma segun da tendenc ia e a que observa rnuito rnais a natureza. daspra t ic as da o ralidad e versus esc ri ta e faz analises sobre tudo de cunhocognitive, an t ropolog ico au soc ia l e desenv olve lima fenornenolog ia daesc ri ta e seus efe i to s na fo rm a de o rg an izacao e p roducao do conhec irnen -to. Nela situam-sc a lgumas das obscrvacocs fcitas na prim ci ra parte dcsteenS31O.

    Denom ino este parad igm a com o visiio culturalista, na sua fo rm ula-

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    11/27

    sados em identificar as mudaneas operadas nas sociedades em que seintroduziu 0 sistema. daescrita, As caracteristicas centrais desta yjsiopoderiam ser assim resumidas:

    cultura oralpensamento concretoraciocinio indulivoa tr vi da de a rt es an alculuvo da tradicaoritualismo

    v e r s u sv e r s u sv e r s u sv e r s u sv e r s u sv e r s u s

    cultura letradapensamento abstratora ci oc in io d ed uti voa t iv idade t ecnologicain ov ac ao c on st aru ea n al it i c idade

    Esta visao nao serve para tratar relacoes linguisticas, ja que v e aquestao em sua estrutura macro e com t endencia a l ima analise da forma-r;ao da m en talid ad e d en tro das at ividades psico-socio-economico-culturaisde urn modoamplo. Representantes desta perspecttva sao, entre outros,Olson (( 977), Scribner & Cole (1981), Ong (1986, 1987) e Goody(1986,1987). Para estes autores a esc rita representa urn avanco na capaci-dade cognitiva dos individuos e, como tal, uma evolucao nos processesnoeticos (relatives ao pensarnento em geral), que rnedeiam entre a fala ea escrita ..Esses autores tern uma grande sensibilidade para os fatos histo-rices e nao deixarn de ter razao em boa parte de suas abordagens, mas istonao significa que estejam dizendo algo de substantive sobre as relacoestex tuais nas duas rnodalidades de uso da lingua.

    Biber (1988), que v e criticarnente esta tendencia, inicia sua obrasobre as relacoes entre a falae a escrita frisando, com justeza, que aintroducao daescrita no mundo foi um feito notavel e correspondeu atransicao do "mito" para a "historia" se nos apoiamos na realidade dosdocumentos. F oi a esc ri ta que permitiu t amar a lingua urn objeto de estu-do sistematico. Com a escrita criaram-se novas formas de expressao ed eu -se a surgimento das formas literarias. Com a escrita surgiu a institu-cionalizacao rigarosa do ensina formal da lingua como objetivo basico det oda formacao i nd iv idual para enfrentar as dernandas das sociedades ditasle tra da s. Nao ba , pois, como negar que a escrita trouxe irnensas vantagense c on sid erav eis av ac os para as sociedades que a adotaram, mas e forcosoadrnitir que ela nao possui algam valor intrinseco absoluto, Trata-seSignOtica, 9:119-145,jan.ldez.. 1997 129

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    12/27

    sobretudo do lugar especial que as sociedades ditas letradas reservararna essa forma de expressao que a tomou r n a relevante e quase irnprescindi-vel na vida conremporanea.

    Numa extensa analise critica a perspectiva culturalista decngran-decimento da escrita, Gnerre ( 1985) detects nos au tares 1igados aessascorrentes de pensarnento alguns problemas que podem ser resumidosbasicarnente em tres POIItoS:

    .8 etnocentrismo

    .

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    13/27

    :fe nOmenoshomogen eo s, g lo ba is , ma s apre se nt am d ife re nc as i nt ern as . Naoe necessaria um a analise m uito m inueiosa; basta dar um a olhada em nos-so entorno para constatar que a "sociedade brasileira" naoe homogeneaem relacaoao letram ento ,5. FaJa x Escrita: a perspective variaeionista

    Uma terceira tendencia, talvez intermediaria entre as duas acima,ea que trata do papel da escrita e da fala sob 0 poto de vista dos proces-50S educacionais e faz propostas especificas a respeito do tratamento ciavariacao na relacao entre padrao e nao-padrao lingulstico nos contextosde ensino form al. Aqui se s i tuam as model as teoricos preocupados como que se vern denominando curriculo bidialetal, p or e xemplo , Sao estudosque se dedicam a detectar as variacoes dos usos da lingua sob sua formadialetal . E um a variante da prim eira v isao , m as com grande sensibil idadepara as conhec im entos dos indiv iduos que enfren tam 0 e nsi no fo rma l.N este parad igm a nao se fazem d ist in co es d ic ot om i ca s o u c ara ct eri za co esestanques. verifica-se a preocupacao com regularidadese variacoes.distingue-se entre:

    lingua padrao lingua culta no rm a padrao

    ~variedades nso-padrao~ lingua coloquial~ norma s n ao -p ad ra o

    No Brasil, temos seguidores desta linha, entre os quais situarn-seBortoni (I992,1995), Kleiman (1995) e, numa perspectiva um poueodiversa, m as dentro do m esm o esp iri to , acha-se Soares (1986). S impa ti zograndemente com esta perspectiva, mas na~me parece que a questaoesteja resolvida, Sociol inguis tas como Trudgill (1975) e Labov (1972) jaapontavam para a impossibilidade de lim desernpenho bidialetal. 0 quese pede fazer, sern postular as posicoes de Bernstein (1971), e irnaginara possibilidade de urn dominic do dialeto padrao na atividade de esc ritae continuar no dialeto nao-padrao no desempenho oral.

    Stubbs ( J 988) tambem sugere q ue p od eri arn os v er a s re la co ese nt refala e escrita, em contextos educacionais, como urn problema de variacao

    S i .gn6t i ca, 9: 119. 14S. jan.ldez. 1997 131

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    14/27

    lingilistica. Na verdade, trata-se de um aspecto amplarnenteadmitido hoje,ja que as linguas n a o s a o homogeneas nem uniformes sob 0 ponto de vistadeseu usa (cf. Milroy, 1992). E as relacoes faJa e esc rita dizem respeitoa questoes de usa da lingua. 0 interessante nesta perspectiva e que avariacao se daria tanto na fala como na escrita, 0 que evitaria 0 equivocode identificar a lingua escrita com a padronizaeao da lingua, au seja,impediria identificara escrita como equivaiente a lingua padrao.

    Minha posiyao e a.de que fala e escrita nao sao propriamente daisdialetos mas sim duas modalidades de uso da lingua, de maneira que aaJuno,ao dominar aescrita se torna bimodal. 7 Fluente em dois modos deuso e nao simples mente em dois dialetos ..6. Oralidade xescrita: a perspectiva interacionalU m a q uarta persp ec tiv a, q ue a rigor n ao form a urn conjunto teorico siste-matico e coerente, mas representa urna serie de postulados urn tanto des-conexos, seria a que trata das relay6es entre fala e escrita dentro do coati-nuum textual, Caractrerizo-a como visdo interacionista e seus fundamen-tos c entra is baseiam -se na perc ep cao seguinte:

    rela~ao d ialogica no usa da l inguaestrategias Iinguistieasfuncees interacionaisenvolvimeruo e situacionalidadeformulaicidade

    Este modele tern a vantagem de perceber com maior sistematicida-de a lingua como fenomeno din a m i co e ao mesmo tempo estereotipado,voltado para as atividades dialogicas que marcam as caracteristicas maissalientes da fala, Coatudo, padece de um baixo potencialexplicative edescritivo dos fenomenos sintaticos e fonologicos da lingua. A rigor, elesfogem aos seus interesses. Por isso mesmo, se concebida na fusao rom avisao variac ion i sta , poderia dar resultados mars seguros e com maioradequacao empirica e teorica, Talvez seja esse 0 caminho rnais sensate notratamento das correlacoes entre formas linguisticas (dirnensao linguisti-c aj.c ou texmali da de (d im e nsa o fu nc io nal) e in te ra cao (dimensao interpes-soal) no tratamento das semelhancas e diferencas entre fala e escrita nas132 M AR CU S C H I, L uiz An.t6.ruo. Ora li d adO le es er it a

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    15/27

    atividades de formula93o textual-di scurs iva. Nesta visao interacionalcabem analises de grande relevancia que se dedicam a perceber as diversi-dades das formas textuais produzidsem coautoria (conversacoes) e foe-mas textuais em autoria (monologos), que ate certro ponto determinam aspreferencias basicas numa das perspectivas da re la cao fala e escrita. Alemdisso, tem-se, aqui, a possibilidade de tratar as fenomenos de compreen-sao na interacao verbale na interacao com 0 texto escrito, de rnaneira adetec tar especificidades na propria atividade de construcao dos sentidos.Como se observa, esta perspectiva orienta-se numa linha discursivaeinterpretati va,

    Muito for t emen te rep resentada, no Brasil, est a lin ha tern en tre seussegu idores mais repreentati vos Preti (1990, 1991, 1993), Koch (I992),Marcuschi (1986, 1992, 1994, 1995) e mu itos outros presentes nas obrasedi tadas per Preti (1990, 1993). Esta perspectiva tern grande sensibilidadepara as estrategias de organizacao textual-discursiva preferencial namodalidade faladaeescrita." Tambern dedica-se comenfase a observara presenca da fala na esc rita e vice-versa.

    Em conclusao a estas observacoes, pode-se dizer que discorrersobre a s re lac oes e nt re o rali da de /let ra rn en to e fala/e sc ri t a n ao e referir-sea algo consensual nem rnesmo como objeto de analise. Trata-se de feno-menos de fala e csc ri ta enquanto relacao entre f at o s li ngu i st ic o s (relacaofala x escrita) eenquanto relacao entre praticas sociais (oralidade versusletramento).

    Como ja lembrei, as relacoes entre fala eescrita DiaO sao obviasnem lineares, pais elas refletem urn constante dinamismo fundado nocontinuum que se m anifesta entre essas duas rnodalidades de uso da lin-gua. Tambem nao se pode posrular polaridades estritas e dicatomias es-tanqueso curiosa e que,. no geral, quem se dedica aos estudos da relacaoentre lingua falada el ingua escrita, scmpre trabalha 0 texto falado e rara-mente analisa a lingua esc ri ta , No entanto, suas observacoes sao muitasvezes sob a ouca da escrita. Por outro lado, as afirmacoes feitas sobre aesc ri ta fun darn -se n a g rarn at i ca co dific ada e nao na lingua escrita enquan-to texto e discurso, Em surna, 0 que conhecemos flaO sao nem as caracte-risticas da falacomo tal nom as caracteristicas da esc rita; 0 que conhece-mos sao as caracterlsticas de um sistema normativo da lingua.S i gn .O I ;c a , 9 :] 19.145, jan.zdez. 1997 13 3

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    16/27

    7. Aspectos relevaates para a observa~ao da rela~io LF x LEA li ngua , s eja na sua modalidade falada au escrita, reflete, em boa

    medida, a organizacdo da sociedade . Isso porque a propria lingua man-tern complexas relacoes com as representacoes cas forrnacoes sociais.Nao se trata de urn espelharnento, mas de uma funcionalidade em geralmais visivel na fala. E por isso que podemos encontrar murtos correlatesentre variacao sociolinguistica e variacao sociocultural

    Por outro lado, tanto a faJa como a escrita refletem formas de orga-nizariio da mente atraves das proprias represeutacoes mentais, Podemosobservar que a construcao de categorias para a reflexao te6rica 01.1 paraa classificacao sao tanto urn reflexo da Iinguagern como se refletern nalinguagem. Seria util ter presente, desde logo, que. assim como afalanao apresentapropriedodes intrinsecas negativos, tambem a escrita naoternpropriedades intrinsecas privilegiadas, Sao modes de representacaocognitiva e social que se revelarn em praticas especificas,

    Postular algum tipo de supremacia au superioridade de alguma dasduas rnodalidades e uma visao equivocada, pais l1ao se pode afirmar quea fala e superior a escrita ou vice-versa. Em primeiro lugar, deve-se terem mente 0 aspecto que se esta comparando e, em segundo, deve-se consi-derar que esta relacao nao e homogenea nem constante.Do ponto de vista cronologico, como ja observou detidamenteStreet (1985 ) a fala tern uma grande precedencia sobre a escrita, mas doponto de vista do prestigio social a escrita e vista como rnais prestigiosaque a faJa. Nao se tram, porern, de algum criterio intrinseco nem de para-metros lingiiisticos e sim de postura ideologica. Por outro lado, ha cultu-ras em que a fala e rnais prestigiosa que a escrita,Mesmo considerando a enorme e inegavel importancia que a escritatern nos povose nas civilizacoes "Ietradas", continuarnos, como bernobservou Ong (1987) povos orais. A oralidade jamais desaparecera esempre s e r a , ao lado daescrita, 0grande meio de expressao e de atividadecomunicativa, A oralidade enquanto pratica social e inerente ao sec huma-no e n a o sera. substituida por nenhuma outra t ecnologia , Ela sera semprea porta. de nossa iniciayao a racional idade, A oralidade e tambem urn fatorde identidade social, regional, grupal dos individuos.

    A escrita, par sua vez, peJo fate de ser pautada pelo padrao nao eestigmatizadora e nao serve como fator de identidade individual ou grupal,Isso, a menos que se sirva, como na Iiteratura regional, de traces da reali-134 MARCU SCH l, Lu iz Anton io . O ra lidade e esc-ri ta

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    17/27

    dad.e Iingulstica regionai.9 E interessante notar que, se a fala pode facil-mente levar a estigmatiza'fAo do individuo,cam a escrita isso acontecebern rnenos. Parece que a fala, par arestar a.variacao e em geraJ pautar-sepor algum desvio da norma, tern carater identificador. E posslvel queidentidade seja urn tipo de desvio padrao da norma.

    Ponha-se urn grupo de individuos letrados a escrever urn textosabre a rnesmo lema, par exernplo "a. inflacdo na vida do brasileiro" eenta~ observem-se seus textos, E provavel que suas opinioes sejam objetode discussao, mas eles nao serao estigmatizados ou categorizados pelalinguagem como tal. No entanto, se pedirmos aos rnesrnos individuos que"falem" seus textos, au os produzarn oralmente, teremos difereneas e ateavaliaeoes que nao se deverao ao conteudo e sim a uma particular formade "dizer" 0 contetido.Do ponto de vista dos usos quotidianos da lingua, constatamos quea oralidadee a escrita niio sao responsaveis POf dominies estanquesed ic ot om i co s. C omo ja lembrado, ha prat icas sociais mediadas preferenci-almente pelaescrita e outras pela tradicao oral. Tomemos 0 caso tipico daa r e a ju ridica, Ali e intenso c rigido a usa daescri ta, ja que a Lei deve sertomada ao p C da leIra. Contudo, precisamente a. area ju ridica faz urn usaintense e extenso das praticas orais nos t r ibunais , Veja-se, que nurnarnesma area discursiva e numa rnesma comunidade lingulstica convivemduas t radicoes diversas, am bas forternente rnarcadas. Isso sugere seri n adequado d i st ingu ir entre sociedadcs letradas e ile tradas de forma dico-t6mica. Oralidade e escrita sao dum praticas sociais e ndo duos propri-edades de sociedades diversas.o cerne das confusoes na identificacaoe avaliacao das semelhan-cas e diferencas entre a fala e a escrita acha-se, em parte, no enfoqueenviesado e ate preconceituoso a que a questao foi geralmente submetidae, em parte, na metodologia inadequada que resultou em visoes bastantecontraditorias. A fala tern sido vista no perspectiva da escrila e numquadro de dicotomias estritas porque predominou 0paradigma teoricoda analise im a nente ao codigo, Enquanto a esc ri ta foi tomada peJa maio-ria dos estudiosos coma estruturalmente elaborada, cornplexa, formateabstrata, a fala era t ida como concreta.contextual e estruturalmente sim-ples (cf Chafe, 1979, 1982; Ochs, 1979; Kroll, 1977). Contudo ha osque julgam que a fala e mais complexa que a escrita (cf Halliday, 1979e Poole & Field, 1976). Biber (1986 e 1988) mostrou com clareza quenada e clare nesse terrene de obscrvacao.Sign6tica. 9; t 1914~, jru...Idez. 1991 13 5

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    18/27

    Uma primeira:ebservacao a ser feitae a que diz respeito a propriav i s a o comparativa da relacao entre fala eescrita. Quando se olha para aescrita tern-se a irnpressao de que se csta conternplando algo naturalmenteclare e definido. Tudo se passa como se ao nos referirmos it escrita esti-vessemos apontando para um fenomeno se nao homogeneo, pelo menosbastante estavel e com pouca variacao , 0 contrario acorrecorn a cons-ciencia espontanea que se desenvolveu a respeito da fala. Esta se apresen-ta como variada e, curiosamentc, nao nos vern it mente em prirneira maoa fala padrao, Eo caso de dizer que fala c escrita sao intuitivarnente cons-truidos como tipos ideais concebidos com principios opostos e que naocorrespondem a realidade alguma, a menos que identifiquemos urn feno-m eno que as realize.

    A hipotese aqui defendida supoe que: As diferencas entre fala eescrita se dao dentro do continuum tipologico das praticas socials deproducao textual e niio na relay-tio dicotomica de dais polos opostos. Emc on seq uenc ia, tem os a v er c om correlacoes em v aries pianos, sugindo daiurn conjunto de variaciies e nao urna simples variacao linear. 0 graficoa seguir da lima nocao csquematica dessa postura.!"

    T'ex tos d a Esc r ituTEl. TEL. TEll

    _~~_~ ~ b ~ ~~~ _

    :: I

    ESCRlTA'TEl

    TFI'FALA

    ~ Textos d a Eal a......___ TF I. TF2 ... TFn

    Nest e g ra fi co , obs erv a-s e que tanto a fala como a escrita se dao em doiscont i nuos:] 3 6 M A R C U SC H I . Luiz A rIL

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    19/27

    (a) na l inha dos diversos tipos de texto (FFl, TF2 ... TFn e TEl,TE2 ... TEn)

    (b) na linha d as c arac terist ic as esp ec ific as d e c ad a m o dalid ad e,A s si rn , u rn d et erm in ado texto falado, par exemplo, uma conversa-' f 3 o e spon tanea , s er ia 0TFl e r ep r es en t ar ia 0prototipo des sa moda li da de ,n a o senda aconselhavel compara-lo ao TEl que seria 0 prot6tipo da escri-

    t a o Uma p rim ei ra e xp li ci ta ca o d es sa hipotese pod eri a s er a ss im e nune ia da :o continuo tipologico distingue e correlaciona as textos de coda moda-lidade quanta as estrategias de jormu/arrao textual qu.edeterminam 0continuo das caracteristicas que distinguem as variacoes das estruturas,seler;oes lexicais etc. Tanto afala como aescrita se dao num continuode variacoes, surgindo dol semelhancas e diferencas 00 Longo de doiscontinuos sobrepostos.

    DISTRlBUlCAo DOS GENEROS TEXTUAIS NO CONtiNUO

    Artigoscie1'lljfioos Ii:Divulg, eientf S

    Canas cornerciais Te:l.1OS CAlas de reun ioks Ed itori ais profissiona i5 R

    NO li e. j or n, jornal, Cornratos ICartas Publicidade Relatcrios Documentos Tdo lei!or Entre vistas Resumes oliciais A

    Entrevistas Noucias de TVF Debates Reportagens AulasA Pradas e narrativesL Cony. publica Exposi~oks infA Cony. te!efOnica

    COIlV. espcntanea

    Sign6tica, 9: I 19 J 45, janjd~z. 1997 137

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    20/27

    Cam isto, descobrimos que, cornparando umacarta pessoal emestilo descontraidocom urna narrativa oral espontanea, havera menosdiferencas da que entre a narrativa oral e urn texto acadernico escrito, Paroutro lado, uma conferencia universitaria preparada com cuidado teramaier semelhanca com textos esc ri to s d o que com uma conversacao es-pontanea .

    V eja-se , p ar e xemplo , a e qu ivo co de muitos autores que cons iderama fala como dialogada e a escrita como monologada, confundindo um adas fonnas de tex tualizacao da falacorn a propria m odalidade de uso dallngua. Tambem a ideia de planejamento nao passa de urna perspectivaou criteria de observacao da continuo e nao como caracteristica de umadas duas rnodalidades. Biber (1988) referiu-se a essas impropriedades naobservacao tomando-as como equivocos metodologicos que levaram asautores a posicoes contraries a proposito dos mesmos problemas.

    Isto eq ui vale a d .izer que tanto a fala como a esc rita apresentarn urncontinuum de variacbes, ou seja, a/ala varia e a escrita varia. Assim,a comparacao deve tamar como criteria basico de analise urna relacaofundada no continuum dos generos textuais para evitar as dicotomiasestritas,

    Certamente, a sucesso da analise dependera tambem da concepcaode l ingua que fundam entara a pespec t iva teo rica , bern como da ideia defunc ionamento da li ng ua. N o presente caso, parte-se da nocao de funcio-namento da lingua como fruto tambem das condieoes de producdo, auseja, da atividade de produtores/receptores de textos s i tuados em contex-tos reais e submetidos a decisoes que seguem estrateg ias nem sempredependentes apenas do que se convenciooou chama! de sistema linguisti-co. Dai a n ec essi da de d e seadotar urn componente funcional para analisara relacao fala x escrita enquanto rnodalidades de usa.

    A concepcao de Sistema, tal como utilizada aqui, n a o deveria contermais do que a noyao basica de estrutura virtual, au seja, constructo abs-trato e teorico desenvolvido como objeto da teoriae DaD tornado como fatoempir ico , A Lingua se realiza essencialmente como heterogeneidade evariacao e nao como sistema unico e abstrato.

    Com isso, toda vex que emprego a palavra lingua m o me refire aurn sistema de regras determinado, abstrato, regular e hornogeneo, nem arelaA;;Oesinguistieas imanentes ..Ao contrario, minha concepcao de linguap ressu pOe urn fen omeno heterogenea (com mulripJas formas de manifes-138 MARCUSCHl, Laiz AntOn io. Oralidade e e s c O l. : I

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    21/27

    ta.~o). variavel (c t in fun ico , suscet ivel a m udaaeas), historico e social(froto d e p ra t icas so cials e histo ricas), indeterminado sob a pon to de v istasem an tico e sin ta t ico (subrnetido a s cond icoes de producao) e que se rna-n ifesta em si tuacoes de uso concre tas como texto e discurso, Por tan to ,heterogeneidade e tndeterminaciio acharn-se na base da concepcao delingua aqu i p ressuposta (c f. obs. a respei to em Franchi , (977).

    Os sen t idos e as respec t ivas fonnas de organ izacao lingu ist ic a dostextos se dao no uso da lingua com o atividade situada. Isto se da na rnes-rna m edida, tan to no caso da fala com o da esc ri ta. Em am bos os casastem os a con tex tualizacao com o necessaria para a p roducao e a recepcao ,ou seja, para 0 func ionam en to p leno da lingua. L i teralidade e nao -li rerali -dade dos i tens lingu ist ico s e dos enunc iados sao aspec to s que nao podemse r d efi ni do s a priori, m as em contextos de usa

    Com base nessa concepcao, f ica de antemiio et iminada um a seried e d ist in co es g era lm en te feitas en tre fala e escri ta , tais com o a contextua-lizacao (no fata) vs. descontextualizacao (na escnta), implicltude (nafala) vs. explicitude (no escrita) e assirn po r diante, 0 que m ostra nossad iferenca em relacao a certo s m odelos anaLisados acima,

    Em surna, part indo da n09ao de linguae func ionam en to da linguata l com o concebidos aqu i , su rge, com o hipo tese fo rte , a suposicao de queas d iferencas en tre fala e esc ri ta podem ser fru t i feram en te vis tas e anal isa-das na perspectiva do lisa e nao do sistema. E neste caso , a determ inacaoc ia relacao fala-esc ri ta to rna-se m ais congruen te levando-se em considera-~ naoo c6d igo , m as os usos do c6d igo . Cen tra l, neste caso , e a elim in a-vao da dico tom ia estri ta e a sugestao de uma d iferenc iacao g radual ouescalar.

    ABSTRACT

    Based on the premise that it is not possible to analyze the relation between oral andwritten language by concentrating only 011 the linguistic code, this essay considers thetotality of discursive production as a social practice and analyzes the contexts of produc-t ion, (he uses and forms of oral and written transmission ill daily life, To this end adouble distinction is proposed between: (a) orality and Iiteracy as social practices, and(b) speech and ...riling as modes of use. The first distinction is based on {he observationofsociocommunicative reality and the second, 011 linguistic facts. Several current theo-

    Signo t ic a, 9: 11914.5 , jan .zdez, 1997 139

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    22/27

    re ti ca l t en de nc ie s a re examined AU pe rsp ec t i ve s thai p ola ri ze th e relation b etw een oraland wri t ten la ng ua ge a re re jected , while a p osi t io n fo cusin g On t h e mu l t if ac t o ri a l relat i -o n b etwe en the two prac t ices within a cont inuum of uses and genres tha t re jec ts in t ria-sie pro~es, both negative and po si ti v e, . o f these practices, i s a do pt ed .

    NOTAS

    1. Pesquisa financiada pelo CNPq num Projeto integrado sob 0 titulogeral de "Fala e Escrita: Usos e Caracterlsticas" acha-se em anda-mento no Programa de Pos-Graduacao em Lingulstica da Universida-de Federal de Pernambuco, desde marco de 1995. Do projeto, partici-pam os seguintes pesquisadores: Judith Hoffnagel (coordeaadora),Luiz A nto nio M a rc usc hi e Doris Carneiro da Cunha. Outros dezbolsis tas de In ic iacao Cientifica e A perfe ieoam en to co laboram nainvest iga~o .. A te junho de 1995, foram fei tos levan tam en tos depouco mais de 500 infonnantes sabre as usos da falae da escrita nosd i ver so s con tex to s da vida d iana . U rn dos resultados ma is s urp re en -dentes fo i a constatacao de que poernas e cartas sao os textos maisfrequentes, na escrita, sobretudo por parte das mulheres, mas tam-bern dos h omen s, 0 tempo diana empregado com aescrita nao passade 5% do total do tempo em vigilia, quando atinge 0maximo, sendoque com a leitura, usa-se urn pouco mais. A grande parte do tempoe utilizada com a comunicacao oral, a que caraceteriza nossa socie-dade, indistintarnente de classe social, idade, formacao, profissao,como profunda e esscncialmente oralista. A escrita e quase sempreurn reeurso com caracteristicas de especializacao, pois em cada setor,ha formulas mars ou menos consagradas. Mesmo universitariosusam pouco a escrita c se nao tivessem que fazer devcres escolares,q uase n ad a esc rev eriam

    2. Esta foi uma outra descoberta surprcendente feita nas investigacoesdo proieto citado hit pouco (cf. nota 2.). Em todas as areas de traba-lho hit alguem que sc especializa nas atividades de producao textualespecifica, Ato mesmo os chefes c dirctores de empresa recorrem aessa pessoa. Nao e por nada que as secre tar ies (com redacao propr ia )sao muito valorizadas e prczadas. Este e urn faro interessante queatinge todas as esferas c areas do trabalho.

    t

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    23/27

    3. Outro faro eurioso observado na investigacao citada na nota 2 acimae que urn des uses rnais sistematicos e intensos da escrita em desem-penhos que nao exigern estrutras textuais e a confeccao de listas, Aslistas s a o de todo tipo e para todo memento. E s6 entrar num super-mercado e quase toda a mae ou todo pal de familia esta com umalista de compras na mao. Isto inclusive em camadas sociais popula-res.

    4. Nao sersofeitas aqui muitas alusees a autores, mas dois deles podemser aqui citados como os que mais se empenharam na defesa destatese, Sao eles D. Olson e J. Goody. Nao se pede ignorar tambem W.Ong, S. Scribner, M. Cole, entre outros, Algumas observacoes sabreestes autores estao sendo colocadas rnais adiante nesta exposicao.Nao obstante sua posiyao as vezes radicals, D. Olson fa z afirmay5esque pOema fala e a escrita no contexte da linguagem como faculdadehumana, "A faculdade da linguagem situa-se no centro de nossaconcepcao de genera humano; afala nos lorna humanos e a escrttanos lorna civilizados. Assim, e interessante e importante conside-rar 0 que e distintivo aeerca da lingua escrita e considerar as con-sequencias da tetracao para os preconceitos que isso importa tantopara nossa cultura como para os processos psicologicos."(1977:257)

    5. Eric Havelock. O rig in is o f W e ste rn lite ra cy, Toronto, Ontario insti-tute for Studies in Education, 1976, p,12, Citado a parti r de Graff,1995.

    6. Imagino que seria interessante pensar aqui na dist incao lembrada parGinsburg (0 Queijoe os Vermes,. 1987 : 17 -20 ) quando ele diz que adita cu ltura popular e transmitida essencialmente pela via da oralida-de e que isto oferece aos historiadores um enorme problema, ja queeles estao relegados it analise de docurnentos escritos, Para Ginsburgexiste urna "cultura produzida pe/as classes populares" e uma" cu ltu ra impos ta a s c la sse s popula re s " . A primeira seria aquela queRabe la is re pre sent ou em suas obras que tanto incomodaram os donosdo poder em sua epoca, e a segunda seria a representada pelos alma-naques eate mesmo por muitos manuais escolares Ja outra coisabern diversa e a "cultura de massa' que secaracteriza 'Comoprodutode uma industria cultural massif icada,

    Sign6tica, 9: 119\45, jan.zdez, \997 14 \

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    24/27

    7. Obse~ sistemancasa este respeito fiz em livro que devera sairbrevemente com 0 t i tulo: a Tratamento da Orolidade no Ensino deLingua.

    8. Trabalho sistematico vern sendo desenvolvido pelo grupo dedicadoaos estudos da organizacao texrual-discursiva na fala (coordenadopor Ingedore V. Koch), no contexto do prajeto da Gramatica doPortugues Falado, dirigido por A. de Castilho. (Cf. Castilho 1990,1993, lIari 1993).

    9. Valeria a pena perguntar-se porque a literatura de Cordel identificade modo tao nitido a nordestino, Tambem e interessante indagar-seem que partes de suas obras Gracil iano Ramos e Jose Americo deAlmeida au Jose Lins do Rego sao identificados como literaturanordestina, Cam certeza nao sao seus temas, mas sim as dialogos desuas personagens,

    10. Para algumas das observacoes a seguire mesmo para. a montagemdestegrafico, baseei-me em Koch & Osterreicher (1990).

    REFERENClAS BIBLIOcRAFICASBERNSTEIN, Basil. Class, Codes and Control. London: Routledge &

    Kegan Paul Ltd.,1971. V.I.BIBER ,. Douglas. Spoken and W rit ten Textual Dimensions in English:

    R e so lv in g Cont ra di ct ory F in di ng s. Language, v.62 , p ..384414,1986.__ ' Variation Across Speech and Writing. Cambridge: Cambridge

    University Press, 1988.BL AN CH E -B EN VE NISTE , C laire. A esc ri ta c ia l inguagern domingueira.

    In : FER REIR O, E ., PALA CIO , M . G. (Eds.) Os Processos de Leitu-ra e Escrita. Porto Alegre: Artes Medicas, 1990, p.195-212,.3.ed.BORTONl , Stella Maris. Educacso Bidialetal - 0 que e ? E possivel?

    Revista Internacional de Lingua Portuguese, 1 1 ..7 , p.54-65, 1992.__ . Variacao lingliistica e atividades de letramento em sala de aula.

    In : KLEIMAN, A (Org.). Os Significados do Letramento, Campi -nas: Mercado de Letras, p. I 19-144, 1995,

    BR OW N, GiIian & George YULE. 1983. Discourse Analysis. Cambrid-ge, Cambr idge University Press.

    142 MARCUSCHI, Luiz Antonio. Oralidade e escrita

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    25/27

    C AST IL H O . A taliba T eix eira d e. (O rg .). Gramatica do Portugues fala-do. Vol. 1: A O rdem . Cam pinas: Ed i to ra da U NICAM P/ F APESP ,1990

    __ . (O rg .). Gramatica do Portugues Fa/ado. Vol . Ill: A s A bo rd a-gens. Cam pinas: Ed i to ra da U NICAM PIFAPESP , 1993.CH A FE, W allace. 1982 In tegra t ion and Involvem en t in Speak ing , W ri-

    t in g, a nd O ra J L ite ra tu re . In : TANNEN, D . (ed.) Spoken and WrittenLanguage: Exploring Orality and Literacy. N orw oo d: N .J. A blex ,1982 , p . 35-53 .

    __ " Speak ing , W ri t ing , and P resc rip t iv ism . In : SCH lFFR1N, D_ (ed.).Meaning, Form, and Use in Context: Linguistic Applications. Ge-orge tow n: G eorgetow n U niversi ty P ress, 1984, p . 95-103.~ . L ingu is t ic D ifferences P roduced by D ifferen ces betw een Sp ea-king a nd Wr it in g. In:. OLSON, D .R , TORRANE, N ., H Y LDIARD ,A .. (eds.). L ite rac y an d lan gu ag e L earn in g, C am brid ge: C am brid geU niv ers i ty P ress, 1985, p. 105-123.

    C OO K-G UM PE RZ , Jenny (ed.) A Construcao Social da Alfabetizacdo ..P orto A legre: A r tes M edic as, 1991.

    FR AGO , Anton io Vuiao. Aljabetiza9iio na Sociedadee na Historia.Vozes palavrase textos. P orto A legre: A rtes M edicas, 1993.FR AN CH [, C arlos. L inguagem - at iv idade consti tu t iva. Almanaque 5,p. 9-27, 1977.GNERRE , Maurizzio, Linguagem, Escrita e Poder. Sao P au lo : M a rtin sF on tes, 1985.

    GOODY , Jack . The Logic of Writing and the Organization of Society.C am bridge: C am bridge U nivers i ty Press, 1986.__ . The Interface Between the Written and the Oral. Cambr idge :

    C am b rid ge Un iv ers i ty P ress, 1987.G R AF F, H a rv ey J Os Labirintos da Aljabeliza9iio. P orto A leg re: A rtesM ed ic as, 1995.GUMPERZ , John. .Discourse Stra tegies. C am brid ge: C am brid ge U niv er-

    si ty P re ss , 1982.H A LLID AY , M .A .K . Spoken and Written Language. O xfo rd : O xfo rdU niv ers i ty P ress, 1985.H A LLID AY , M .A .K , R . H A SA N. Language. Context and rea. Aspects

    of language in a Social-semiotic perspective ..O xford : O xford U ni-v ersi ty P ress, 1989.

    Sign6tica, 9: 119-145, jan.zdez. 1997 143

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    26/27

    H A VELO CK . Eric . Ongims of Western literacy. Toro nt o, O nt ario Ins t i-tute for Studies i n Educ at io n , 1976.

    H Y M ES, Dell. On com municat ive com ptence. in: PRIDE, J. B., HOL~MES , J. (eds.) Sociolinguistics, B alt im ore: Penguin Books, 1972,p.269..!93.

    IL AID , R od olfo (O rg .). Gramatica do Portugues Falado. Vol II: Nivisde Analise Lingulstica. Campinas: Editora da UN!CAMP, 1992.

    KLEIMAN, Angela . Modelo s d e le tramen to e as prat icas de alfabet izaeaon a e sc ola , In: __ . (Org). a s Sigmficados do Letramento, Campi -nas: M ercado de Letras, 1995, p. 15-61.

    K OCH , Ingedore V . A Inter -A9ilo pela Linguagem, Sao P au lo : Contexte,1992.KOCH., P et er & W u lf O ST ER R EIC H ER . Gesprochene Sprache in del'Romania: Franzozisch Italtenisch, Spanisch. ..Tubi ng en : N iemey er,1990.

    LABOV, Will iam, Sociolinguistics patterns. P hiladelp hia: U niv ersi ty o fP en nsy lv an ia P re ss, 197 2.

    MARCUSCHI, Luiz Anton io ..Analise do Conversacao. Sao Paulo:At ica , 1986.

    __ . A Repe/io na Lingua Fa/ada: Form as e Funcoes. Reci fe , 1992.T ese (C on cu rso p ara T itu lar em L ing uist ica) - U n.iv ersid ad e Fed erald e P ern ambuc o.

    __ . Contextualizacao eexpl ic i tude na relacaoentre fala e esc rita. in:CONGRESSO SOBRE FALA E ESCRIT A , 1994, M ac eio (M im e-ogr.).

    __ . 0 Tra tamento da oralidade no E nsino de L ingua, (Em andarnen-to, devendo ser conc lu ido em 1995).

    MILROY, James. Linguistic Variation and Change. On the HistoricalSociolinguistics of English. O xfo rd : B asil BlackweIl,1992.O CH S, E lio nor. P lan ned an d U nplan ned D isco urse. In: T. GIVON (00.).

    D iscourse and S yntax, S yntax and S em a ntics. New Yo rk : A cad em icPress, 1979, p.51-80.

    OLSON, David R . From U tterance to Text . The B ias of Language inSp eec h an d W ri t in g. H arvard E ducational R eview , vA7, n.3, 258~281, 1977.

    \44 MARCUSCHl, Lu iz A ll tO n io .Oralidade e escrita

  • 8/3/2019 Antnio Marchuschi

    27/27

    ONG, Walter. Writting is a Technology that Restructures Thought, In :BAUMANN, G.(ed.). The Written Word. Literacy in Transition.Oxford: Clarendon Press, 1986, p.23-50.

    ____. Orali/(/( lind Litaralitat. Die Technologiesierung des Wanes.Darmstadt: Westdcutschcr Verlag.,1987. (Trad. do orig. Ingl. de1982: Orality and Technologizing of the Word.)

    POOLE, Millicent E.,. FIELD, TW. A comparison of oral and writtencode elaboration. Language and Speech, n.19, p.305-311. 1976.

    PRET I, Dino. A Linguage m dos ldosos, Sao Pau 10: Contcx to, 199 I.__ . (00.). Analise de Textos Orals ..Sao Paulo: FFLCHIUSP, 1993SCRlBNER, S., COLE,. M. The Psychology a/Literacy. Cambridge:

    Harvard Univ. Press .. 1981.SOARES, Magda Bc:cker. Linguagem e Escola: Uma Perspectiva SOci-al. Sao Paulo: Atica, 1986.STREET, Brian V. Literacy in Theory and Practice. Cambridge: Cam-

    bridge University Press, 1984.STUBBS, Michael. Language and Literacy: The Sociolinguistics of

    Reading and Writing. London: Routledge & Kcgan Paul, 1980.__ . Educational Linguistics. Oxford: Basil Blackwell, 1986.TANNEN, Deborah. Spoken and Writ ten Language and the Oral/Literate

    Continuum. In: Proceedings of the Sixth Annual Meeting of theBerkeley Linguistics SOCiety, 1980,. p.207-218.

    _. _. Spoken and Written Language: Exploring Orality and Literacy.N orw ood: N .J. A blex , 1982.

    __ . Coherence in Spoken and Written Discourse. Norwood: N.J.Ablex, 1984.

    __ . Relative Focus on Involvement in Oral and Written Discourse. In :OLSON, D. R . et at (eds.). Literacy, Language and Learning.Cambridge: Cambridge University Press, 1985, p.124-147.

    TEXT I r -1 (1991). (Numero especial dessa Revista corn artigos sob rea oralidade e a escrita, com text as de HOROWITZ, OLSON,NYSTRANDI WIEMEL T, CHAFE BIBERc outros.)TFOUNJ , Led a V erd ia ni , Adultos Niio Alfabetizados: a avesso do Aves~

    so. Sao Paulo: Pontes, 1988.TRUDGILL, Peter. Accent, Dialect and The School. London: Edward

    Arnold, 1975.

    Sign6tica, 9: 119145. jan.lda:. 1991 145