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Anúncio Querigmático e Evangelização Fundamental

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fÉ CATÓLICAS

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  • \\Pitstop\d\IMPOSIO IMPRENSA\A000 - CNBB - ANUNCIO QUERIGMTICO - CAPA\ARQUIVO IMPO\capa.cdrquarta-feira, 15 de abril de 2009 9:07:22

    Composio 150 lpi a 45 graus

  • Subsdios Doutrinais - 04

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  • Coleo Subsdios Doutrinais

    1 - Aparies e Revelaes Particulares.2 - A Teologia Moral em meio a Evolues Histricas.3 - Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades.4 - Anncio Querigmtico e Evangelizao Fundamental.

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  • Anncio Querigmtico e Evangelizao

    Fundamental

    CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

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  • 1 Edio - 2009

    COORDENAO: Comisso Episcopal Pastoral para a Doutrina da FCOORDENAO EDITORIAL: Pe. Valdeir dos Santos GoulartPROJETO GRFICO E CAPA: Fbio Ney Koch dos Santos DIAGRAMAO: Henrique Billygran da Silva Santos REVISO: Pe. Wilson Lus Angotti Filho

    C748a Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil / Anncio Querigmtico e Evangelizao Fundamental. Braslia, Edies CNBB. 2009.

    Anncio Querigmtico e Evangelizao Fundamental. CNBB. 40 p. : 14 x 21 cm ISBN: 978-85-60263-62-2

    1. Querigma, Anncio 2. Evangelizao 3. Misso 4. Igreja Catlica 5. Catequese.

    CDU - 268

    Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arqui-vada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita do autor - CNBB.

    Edies CNBBwww.edicoescnbb.com.br

    E-mail: [email protected]: (61) 2103-8383 - Fax: (61) 3322-3130SE/Sul Quadra 801 - Cj. B - CEP 70200-014

    Braslia - DF

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  • S UMR IO

    SIGLAS .......................................................................................................... 6

    APRESENTAO .................................................................................. 7

    INTRODUO ....................................................................................... 9

    1. O anncio querigmtico hoje ..................................................... 9

    2. A evangelizao querigmtica ................................................. 11

    3. O que o querigma? ...................................................................... 143.1. A proclamao do querigma ................................................... 153.2. O contedo do querigma .......................................................... 163.3. O querigma como acontecimento de salvao ................. 173.4. Proclamao e acolhida do querigma .................................. 183.5. O querigma na vida dos Apstolos ...................................... 203.6. O querigma no ensinamento recente da Igreja ................ 24

    4. A resposta ao querigma ............................................................... 264.1. A experincia da f ...................................................................... 284.2. A tica do discipulado ................................................................ 294.3. Compromisso missionrio ........................................................ 31

    5. A Comunidade Eclesial, formadora de discpulos missionrios ............................................................................................... 32

    5.1. Anunciar a f no tarefa opcional ...................................... 335.2. Olhar a realidade com os olhos

    de discpulo missionrio ........................................................ 345.3. Uma formao integral e processual .................................... 355.4. Formao bblico-doutrinal ...................................................... 355.5. Cultivar uma enraizada paixo por Cristo ........................ 365.6. Alegria de ser discpulo missionrio no anncio

    do Evangelho de Jesus Cristo ............................................... 376. Maria, apstola do querigma ................................................... 37

    CONCLUSO ......................................................................................... 40

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  • 6S I G L A S

    CCE Catecismo da Igreja Catlica

    DAp Documento de Aparecida

    DCE Deus Caritas est

    DGAE Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil

    DV Dei Verbum

    EN Evangelii Nuntiandi

    LG Lumen Gentium

    NMI Novo Millennio Ineunte

    RM Redemptoris Missio

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  • 7A P R E S E N T A O

    A Comisso Episcopal Pastoral para a Doutrina da F oferece mais uma contribuio para a sua Coleo Subsdios Doutrinais da CNBB: Anncio querigmtico e evangelizao fundamental, realizando um dos seus importantes compro-missos de incentivar e provocar crescimento e aprofundamento na re exo teolgica, iluminadora que deve ser da ao evan-gelizadora da Igreja. Ao cumprir, em esprito eclesial esta tare-fa, na confeco deste texto, os membros da referida Comisso Episcopal Pastoral, contando com a colaborao de peritos e assessores, compreendem a importncia da abordagem destas re exes que tm como meta fomentar uma nova compreenso acerca de dinmicas e caminhos para que a Igreja esteja, em-penhadamente, em estado permanente de misso. O anncio querigmtico referncia, a partir dos escritos do Novo Testa-mento, no s em gnero literrio; mas, sobretudo, referncia enquanto explicita dimenses muito profundas da experincia de f que incendiou o corao dos primeiros discpulos e os fez incansveis na tarefa alegre e missionria de anunciar o Evan-gelho da vida. O que se quer proporcionar uma re exo que aponte direes e caminhos para que o anncio querigmtico, enquanto gnero literrio e enquanto experincia, envolven-do os diferentes evangelizadores e pregadores, possa manter uma linguagem capaz de provocar no corao dos ouvintes e destinatrios aquela compuno provocada por Pedro, quan-do se dirigia assembleia reunida. A fora querigmtica deste seu anncio fez brotar a pergunta que respondida faz nascer o novo da experincia de f em Jesus Cristo: Irmos, e ns, o que devemos fazer? (At 2,37). A evangelizao urge alcanar esta meta, abrindo e sensibilizando o corao humano para a experincia do discipulado no seguimento de Jesus Cristo.

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  • 8Anncio Querigmtico e Evangelizao Fundamental

    Trata-se de uma verdadeira nova sensibilizao, requerendo mudanas mais profundas e o cultivo de um testemunho pes-soal e comunitrio com a fecundidade da experincia da f para fazer ecoar forte a voz dos mensageiros da paz e da Boa Nova do Reino.

    Agradecidos por esta conquista que pretende ser servio eclesial, suplicamos a Deus que sua graa fecunde nossos pas-sos missionrios;

    + Walmor Oliveira de AzevedoPresidente da Comisso Episcopal Pastoral

    para a Doutrina da F

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  • 9I N T R O D U O

    Completou-se o tempo, e o Reino de Deus est prximo. 1. Convertei-vos e crede na Boa Nova (Mc 1,15). O anncio do Reino de Deus se faz, a exemplo de Jesus Cristo, por meio de uma pregao contnua e incansvel da Palavra de Deus. Por isso, permanente a necessidade de um anncio querigmtico, explcito e claro, do Senhor Jesus, sua pessoa e sua misso.

    Hoje, tambm, estamos em tempos de misso. A tarefa mis-2. sionria tem urgncias e inclui respostas a perguntas impor-tantes e desa adoras. Quais mtodos precisam, ento, ser seguidos na proclamao do Evangelho, a m de que sua fora possa produzir os seus efeitos? At que ponto e como esta fora evanglica est em condies de transformar ver-dadeiramente o ser humano deste sculo? Estas perguntas explicitam a necessidade e o interesse pelo primeiro ann-cio, pelo querigma, qual elemento basilar e determinante da experincia da f, da vida e da misso da Igreja.

    Portanto, urge investir no 3. anncio querigmtico para nos converter numa Igreja cheia de mpeto e audcia evan-gelizadora (DAp, n. 549), a m de que, como os primei-ros discpulos, ns cristos de hoje recomecemos a partir de Cristo, reconhecendo e seguindo sua presena, com a mesma realidade e novidade, com o mesmo poder de afeto, persuaso e esperana (cf. DAp, n. 549).

    1. O anncio querigmtico hoje

    Quando se pensa a misso da Igreja neste terceiro mil-4. nio, e se percebe que h um grande nmero de batizados

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    Anncio Querigmtico e Evangelizao Fundamental

    catlicos que no foram evangelizados, bem como um gran-de nmero de pessoas que ainda no receberam o anncio de Jesus Cristo, torna-se necessria a descoberta de novos caminhos e de novos mtodos para a ao evangelizadora. Neste mbito, portanto, preciso ter presente e conhecer a tradio bi-milenar da Igreja com sua diversidade riqussi-ma e exemplar de como evangelizar.

    Em nenhum caso e em nenhum mtodo pode faltar a 5. experincia de f e o testemunho do evangelizador e da comunidade crist. Sem a palavra e o exemplo de cristos tocados no mais profundo de suas vidas pelo encontro com Jesus Cristo, os mtodos mais detalhados e so sti-cados podem signi car muito pouco. uma exigncia e uma necessidade que a Palavra do Evangelho se torne pa-lavra encarnada na vida daqueles que abraaram a f em Jesus como o Cristo, e o anunciam missionariamente.

    A ateno santidade do evangelizador, proposta pelo 6. Papa Joo Paulo II ao indicar a santidade como prioridade pastoral para o terceiro milnio (cf. NMI, n. 30), conta e determinante na ao evangelizadora. Somente no horizon-te de uma vida pautada pelo seguimento de Cristo e pelo anncio do seu nome que o testemunho do cristo pode se tornar crvel e despertar outros para o mesmo seguimento. Portanto, a ao evangelizadora da Igreja precisa quali car-se na escola do discipulado e da misso (Cf. DAp, n. 170).

    Diante da indiferena e do ceticismo hodiernos, so 7. urgentes a proclamao do querigma e a fora interpe-lante de um claro testemunho que desperte a esperan-a e oferea uma certeza sobre o valor positivo da vida e do seu destino.

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    Jesus o exemplo completo, o modelo fundamental. Seu 8. Evangelho anunciado por obras e palavras (cf. Lc 7,22). Ele percorre aldeias e cidades ensinando, curando, ex-pulsando demnios e fazendo o bem (cf. Mt 4,23; 9,35; At 10,38). Sua fama atrai as pessoas at Ele. Jesus encontra-se diretamente com elas, e estas se sentem interpeladas e amadas. De modo semelhante, os apstolos Pedro e Paulo, e as comunidades crists que se espalharam pelo mundo ento conhecido, procedem desta maneira. Tocados pelo ardor da experincia de Cristo, anunciam-no destemida-mente a todos. Tornam-se permanentes proclamadores do querigma, mestres e testemunhas de uma paixo que inundava toda a vida contagiando seus interlocutores e destinatrios do anncio. Por isso, tornam-se educadores e formadores de outros discpulos missionrios.

    A linguagem do querigma, portanto, h de expressar a 9. novidade de um encontro que transforma e d sentido existncia dos discpulos missionrios. Assim, o evan-gelizador est permanentemente diante do desa o e da exigncia de encontrar uma linguagem que, no estilo dos primeiros discpulos, interpele o ouvinte em seu corao, o entusiasme e o atraia a uma adeso rme e apaixonada a Jesus Cristo.

    2. A evangelizao querigmtica

    O exemplo dos Apstolos, sobretudo de Pedro e Paulo, 10. mostra que o anncio querigmtico a primeira proclama-o da Boa-Nova. O anncio dever ser feito na fora do Esprito Santo e baseado no testemunho pessoal. No se trata, pois, de um anncio decorado e recitado mecanica-mente, mas de um anncio encarnado na prpria vida.

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    Consiste na proclamao de Jesus Cristo, morto e ressus-citado, como nico salvador. De fato, todos aqueles que se salvam, tenham conscincia desse fato ou no, salvam-se pela mediao de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

    A morte redentora de Cristo e sua ressurreio so com-11. ponentes fundamentais do anncio querigmtico. Sem o anncio da morte redentora no possvel compreender o alto preo da graa salv ca que provm do Filho de Deus, como nos recorda o apstolo Pedro: Tende cons-cincia de que fostes resgatados da vida ftil herdada de vossos pais, no por coisas perecveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro sem defeito e sem mancha (1Pd 1,18-19). Do mesmo modo, sem o anncio da ressurreio de Cristo no possvel compreender o ardor missionrio que incendiou a pro-clamao dos primeiros apstolos, como se pode notar no discurso de Pedro em At 2,14-36.

    A resposta ao anncio querigmtico existencial, pois en-12. volve toda a pessoa. Trata-se de uma verdadeira converso por meio da qual ocorre o arrependimento dos prprios pecados e a adeso a Jesus Cristo, com a entrega da prpria vida a Ele. Trata-se de um encontro pessoal. O incio do ser cristo, a rmou Bento XVI, no consiste em uma grande deciso tica ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que d vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo de nitivo (cf. DCE, n. 1).

    A vida em Cristo se realiza na comunidade de seus disc-13. pulos, que a Igreja, na qual se ingressa pelo Batismo. A Igreja no apenas uma instituio que considera Jesus de Nazar seu fundador, mantm viva a lembrana dele e conserva sua mensagem. Ela uma comunidade de graa

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    e de salvao. o Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,27). Ela possui um centro vital e celebra sua presena: pois onde dois ou trs estiverem reunidos em meu Nome, eu estou no meio deles (Mt 18,20). Nela est presente o Senhor glori cado, exercendo seu senhorio e seu poder salv co. A Igreja uma realidade muito rica, pois une o visvel e o invisvel, o humano e o divino, o institucional e a graa. A Igreja no uma corporao como o Estado, mas um corpo. No simplesmente uma organizao, mas um verdadeiro organismo (Bento XVI, Audincia Geral de 10 de dezembro de 2008).

    Alm de ser um anncio encarnado na vida, 14. o querigma um anncio contextualizado. O contexto em que os pri-meiros missionrios os Apstolos realizaram o anncio compreende a perseguio religiosa, a magia, a idolatria, a devassido moral, o muro erguido entre os povos.

    O contexto da realidade atual marcado pela 15. globali-zao, possibilitada pelo desenvolvimento da tecnologia e pela difuso e rapidez da comunicao. No mundo globalizado, a felicidade, alm de ser entendida como bem particular, colocada na busca de bens materiais. Torna-se sinnimo de consumo.

    Outro elemento a 16. sociedade urbana que, na realidade, uma nova civilizao: novo modo de relao das pesso-as entre si, com as coisas e com Deus. O homem urbano possui necessidades religiosas espec cas: aspirao ao espiritual, ainda que vaga, necessidade de encontrar na religio fora para enfrentar as di culdades do cotidia-no. s vezes, o homem urbano procura, na religio, no a verdade, mas a utilidade: a libertao de todos os seus males.

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    3. O que o querigma?

    O querigma a proclamao de um evento histrico-sal-17. v co e, ao mesmo tempo, um anncio de vida. Enquan-to proclamao de um evento histrico, o querigma o anncio de que Jesus de Nazar o Filho de Deus que se fez homem, morreu e ressuscitou para a salvao de to-dos. Enquanto anncio de vida, o querigma ultrapassa os limites de tempo e de espao, abraa toda a histria e ofe-rece aos homens uma esperana viva de salvao. Cristo est vivo e comunica a sua vida realizando as promessas feitas por Deus Pai a seu povo, por meio dos profetas, no Antigo Testamento (Cf. Rm 16,25-27; Mt 12,41; Lc 11,32).

    O querigma o anncio do nome, do ensinamento, da 18. vida, das promessas, do Reino e do mistrio pascal de Jesus de Nazar, Filho de Deus (cf. EN, n. 22), que acom-panha todo o processo da evangelizao. As demandas e desa os deste anncio que reacendem na Igreja, em cada etapa de sua histria, a urgncia da tarefa mission-ria. Isto , o desa o de ser uma Igreja em estado perma-nente de misso.

    O querigma anncio e proclamao para suscitar a f 19. nos ouvintes e manter acesa sua chama, de modo que acolhendo Jesus como Filho de Deus, Senhor e salvador participem da sua prpria vida, da vitria sobre a morte, e alcancem, assim, a vida eterna (cf. Jo 20,31).

    O querigma um anncio pelo qual se atualiza a irrup-20. o do Esprito de Deus que transforma a face da terra e converte os coraes. Para os judeus e para os gregos do incio do cristianismo, como para muitas pessoas do nosso tempo, esta mensagem pode parecer loucura ou

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    escndalo (cf. 1Cor 1,2-10), porque baseada no na arte retrica dos homens, nem na sabedoria deste mundo, mas somente no poder do Esprito Santo (At 2,4). Com efeito, o anncio e a experincia da f se baseiam no poder de Deus e no na sabedoria humana (1Cor 2, 5). Por meio do querigma, pois, um fato novo acontece na histria: a salvao oferecida.

    O querigma o anncio da chegada do Reino de Deus 21. na pessoa de Jesus, realizando o ideal da justia ar-dentemente desejado pela humanidade. A soberania de Deus, cheia de misericrdia, se manifesta em Jesus Cristo (cf. 1Cor 1,13; 2Cor 3,9; 5,21; Ef 4,24; Fil 1,11) e se traduz no amor aos pecadores, aos pobres e queles que se reconhecem necessitados.

    3.1. A proclamao do querigma

    A Palavra tem uma fora prpria e um dinamismo trans-22. formante porque Boa Nova proposta liberdade da pessoa, convidando-a a uma resposta; o querigma in-terpela e realiza um dilogo. Por meio do querigma, o prprio Senhor entra em dilogo vital com a liberdade das pessoas.

    Acolher o querigma signi ca abrir-se ao mistrio de Cris-23. to, que vem ao encontro da pessoa como Senhor e Salva-dor, reconhecendo somente a sua soberania. A adeso ao querigma introduz o discpulo no Reino de Deus.

    A proclamao do querigma faz parte do ato de comuni-24. car a Boa Nova de Jesus Cristo. O Diretrio Geral para a Catequese, da Congregao para o Clero, identi ca trs formas deste ato de comunicao: o primeiro anncio,

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    que desperta a f (querigma); o conhecimento sistemtico e a adeso progressiva a Jesus (catequese e ensino); a dimen-so litrgica da proclamao da Palavra, que implica em um juzo sobre as di culdades da vida (perseguies) e nas circunstncias quotidianas (homilia). Assim, o querigma comporta o primeiro anncio, que desperta a f inicial em Jesus Cristo como o Senhor.

    3.2. O contedo do querigma

    Alm de ser um ato de comunicao, o querigma oferece 25. um contedo que proclamado: Cristo cruci cado e res-suscitado, fora e sabedoria de Deus (1Cor 1,23-24), que transforma e salva a vida. Pedro, nos Atos dos Apstolos, o primeiro que, por ocasio da festa judaica de Pen-tecostes (cf. At 2,14-41), proclama a Boa Nova, quando anuncia aos judeus e a todos os habitantes de Jerusalm que Jesus o Senhor e Cristo.

    O querigma tem um carter imperioso e expansivo 26. que no possvel sem uma profunda e contagiante experincia de Deus. As aparies do Senhor Ressus-citado, documentadas por uma antiqussima tradio (1Cor 15,3-7), produziram um impacto irrefrevel devi-do experincia do encontro com o Mestre, que volta gloriosamente vida depois de ter sido cruci cado e morto. O querigma inseparvel desta experincia de vida, pois anuncia Cristo presente que nos faz participar de sua vitria sobre a morte. Aos Doze, Jesus con a o mandato: ide e anunciai (cf. Mc 16,15) e, por meio deles, a todos os demais seguidores, de modo que essa mensa-gem chegue a todos, em todos os tempos. A experincia pascal suscita o envio de pessoas que reconhecem no

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    Senhor ressuscitado a resposta plena s suas necessida-des e ao desejo in nito de vida de seus coraes.

    O contedo do querigma no um simples discurso ou 27. uma exortao moral; a proclamao de um aconteci-mento de vida e de salvao que se d agora, no presente dos ouvintes. Este contedo proclama uma pessoa, Jesus Cristo, esta proclamao provoca e abre caminhos para uma experincia de encontro pessoal e apaixonado por Ele. Este contedo no a simples explicitao de concei-tos. , antes de tudo, uma experincia que toca a liberda-de, reorienta as escolhas e d sentido verdadeiro vida.

    3.3. O querigma como acontecimento de salvao

    O querigma alcana a pessoa como acontecimento de sal-28. vao, ilumina-a e transforma a sua vida e o ambiente no qual ela vive. O anncio uma proposta de libertao atual e real (Rm 6, 4) que se comunica por meio daquele que proclama o nome de Jesus, fonte do perdo dos peca-dos para todas as pessoas e povos (Mt 12,21). O anncio proclama um acontecimento: o Reino como uma realida-de j presente (Mt 11,4-6; 12,28; 13,10-11; Mc 1,5; Lc 17,20-21). Pelo nome de Jesus se faz atual a obra de salvao comunicando a sua vitria de Senhor ressuscitado e fonte do Esprito Santo (At 2,32-33; Ef 1,13-14). O querigma a comunicao da presena de Cristo, em vista da salvao de todos.

    A conscincia missionria da primeira comunidade cris-29. t era vivssima e a necessidade do anncio era um fato urgente e indispensvel como fonte de salvao. Jesus de Nazar recebeu um nome que est acima de todo nome, foi constitudo Senhor de tudo o que existe nos cus e

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    sobre a terra (At 2,36; Fl 2,11). Acolher o nome de Jesus participar de sua vida e de sua vitria.

    A Igreja vive da f pascal, originada pelas aparies do Res-30. suscitado aos discpulos (cf. Lc 24,25-35; Jo 20,26-28) e ani-mada pelo Esprito Santo. O novo povo de Deus, a Igreja, vive desta f que a razo de sua esperana. Sua misso servir ao anncio de Jesus Cristo que ressuscitado comunica esta vitria a toda a criao (cf. Mt 28,16-20). Os discpulos no inventaram a ressurreio, mas a reconheceram como dom supremo do Pai que, em Jesus ressuscitado, faz novas todas as coisas (Ap 21,5).

    3.4. Proclamao e acolhida do querigma

    A forma prpria do anncio do querigma a proclama-31. o feita queles que no tm f, ou aos que se afastaram dela e no a consideram uma experincia que interesse efetivamente prpria vida. A proclamao do querigma tem ainda todo um espao espec co na vida da Igreja, ainda que no possa ser separada do ensino (catequese) e da pregao, particularmente aquela feita na homilia.

    A acolhida do querigma produz a salvao e a mudana 32. das pessoas; foi o que aconteceu com os Apstolos, com Zaqueu, com Madalena e com muitos outros. Acolhendo o nome, isto , a pessoa e o poder de Cristo, a vida muda e, progressivamente, quem O acolheu torna-se verdadei-ramente cristo.

    O poder do Esprito produz mudana na pessoa e a 33. faz proclamar o querigma at os con ns da terra. Jun-tam-se assim os elementos essenciais do querigma: a proclamao do anncio como convite converso; o

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    contedo do prprio querigma, que o ncleo da re-velao; e o testemunho do apstolo que se deixa tocar pela ao de Deus e que comunica aos outros o poder que transforma sua vida.

    O querigma um anncio envolvente e provocador. Pede 34. uma resposta na qual se decide o rumo da vida do ouvin-te. O querigma questiona a autossu cincia do homem e, no momento em que este se decide a seguir o caminho de Cristo, lhe oferecida a possibilidade de uma vida plena. Este anncio a pregao a respeito da cruz que loucura para aqueles que se perdem, mas, para ns, que estamos no caminho da salvao fora de Deus (cf. 1Cor 1,18). De um lado se relativiza o poder deste mundo, de outro dada uma resposta ao desejo de realizao da pessoa; agora de forma verdadeira ainda que inicial e, no futuro, de forma plena, quando Deus for tudo em todos (cf. 1Cor 15,28; Cl 3,11).

    A consequncia prtica da acolhida do querigma se traduz 35. no seguimento daquele que disse: Eu vim para que te-nham vida, e a tenham em abundncia (Jo 10,10). A f na ressurreio o ponto culminante da f em Deus criador, autor e supremo doador da vida. Crer na ressurreio no acrscimo f em Deus Pai criador, mas consequncia desta f. A partir da f na ressurreio de Jesus Cristo, o cristo cr rmemente, que a vida, no a morte, que tem e ter a ltima palavra. a f na vitria da vida, vitria j conquistada por Cristo e, tambm, a certeza de que a morte j foi derrotada, no tem futuro. Esta a perspectiva que sempre anima os mrtires e seduz o corao dos ms-ticos e profetas. Os que acreditam na fora da ressurreio seguem os passos de Jesus, profetizando o Reino de Deus,

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    Reino de amor na dimenso do servio a Deus e ao pr-ximo, causa da justia e da paz. Reino que se inicia aqui e consuma-se na eternidade. Os cidados do Reino so os que acolhem a pregao da cruz e da ressurreio e seguem, fascinados, o Senhor Jesus, vivendo a vida nova da caridade.

    3.5. O querigma na vida dos Apstolos

    Na vida dos apstolos, a partir do encontro com Jesus 36. ressuscitado, acontece uma mudana profunda. Eles, antes medrosos e tmidos, tornam-se agora corajosos e ardorosos. Proclamam sem medo e a todos a Boa Nova: No podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvi-mos (At 4,20). A ressurreio para os apstolos a ex-perincia de algo que responde plenamente s pergun-tas e s expectativas de seus coraes. Eles se convertem porque experimentam algo completamente novo: uma certeza e uma esperana para suas vidas. Experimentam a libertao de qualquer escravido, inclusive do peca-do e da morte. Tornam-se, assim, contagiantes anuncia-dores com a fora de sua palavra e com a fecundidade do seu testemunho.

    De fato, Jesus os escolheu para carem com Ele e serem 37. testemunhas de sua ressurreio. Para isso foram reves-tidos da fora do Esprito Santo e enviados ao mundo in-teiro. Pela ao do Esprito, o Ressuscitado toca o corao das pessoas para que acolham a Boa Nova. A colaborao da liberdade, que se abre ao amor de Deus indispens-vel no seguimento de Cristo. A iniciativa de Deus que, por sua graa, atrai e chama a pessoa a aderir ao Res-suscitado. Nasce, assim, o discpulo missionrio: algum

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    fascinado pelo amor de Cristo, desejoso de corresponder a este amor e apaixonado por transmiti-lo aos outros, in-cansvel no trabalho de sua promoo e anncio.

    O querigma atua por meio do testemunho dos apstolos 38. e se torna e caz pela fora do Esprito Santo. As pessoas que estavam em Jerusalm, representando todos os po-vos da terra, tocadas pelo testemunho dos Apstolos e pela fora do Esprito, perguntavam: Irmos, que deve-mos fazer? (At 2,37). Pedro responde e indica o caminho da converso e do Batismo em nome de Jesus Cristo, para o perdo dos pecados, dizendo-lhes: e recebereis o dom do Esprito Santo (At 2,38).

    O anncio do nome de Jesus no palavra vazia, mas pro-39. porciona o contato com o Salvador e produz uma profunda mudana de vida. Como no incio da pregao apostlica, hoje tambm necessrio dar testemunho do Senhor que toca a vida, a transforma, enchendo-a de alegria e de paz. Os is experimentam a vida do Senhor Ressuscitado, acolhendo sua palavra e a graa do encontro pelo Batismo, quando se tornam lhos queridos de Deus: A quantos, porm, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem lhos de Deus: so os que crem no seu nome (Jo 1,12).

    Aqueles que so contagiados pela ressurreio de Cristo 40. e dela participam, por meio da f e do Batismo, formam o corpo que tem por cabea o prprio Senhor Jesus e por alma o Esprito Santo. A ressurreio permanece atual no Corpo de Cristo que a Igreja: Todos ns, judeus ou gre-gos, escravos ou livres, fomos batizados num s Esprito, para formarmos um s corpo, e todos ns bebemos de um nico Esprito (1 Cor 12,13). Vs todos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo

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    (1 Cor 12,27). Este corpo que a Igreja alimentado pela Eucaristia, vnculo de comunho fraterna.

    A ressurreio deve ser anunciada como esperana para 41. todos. Por meio da Igreja, Cristo se torna prximo s pes-soas, comunicando seu amor, sua misericrdia e a vitria sobre o mal. Assim, o destino dos homens de todas as raas, condies culturais e sociais, abraado e trans -gurado pela fora incomensurvel da ressurreio.

    Tambm parte do anncio esta mudana que o Senhor 42. torna possvel na comunho do seu corpo, a Igreja, na qual se experimenta a beleza de sua presena. A felici-dade a experincia do cntuplo que, mesmo em meio s perseguies, comea nesta vida e se torna plena na eternidade (cf. Mc 10,28-30).

    O testemunho dos apstolos decorre da experincia pas-43. cal. Destaca-se, primeiramente, a pregao de Pedro que, em diversas situaes, anunciou a morte e a ressurreio de Jesus como salvao oferecida a todos. Em Pentecos-tes, Pedro proclama e convoca s pessoas das diversas naes reunidas em Jerusalm que reconheam a Jesus como Senhor e Cristo (At 2,22-36). Em seu segundo dis-curso nos Atos dos Apstolos (3,12-26), Pedro exorta os seus ouvintes ao arrependimento e converso a m de acolherem Jesus como o Cristo. Diante do Sindrio, apre-senta um testemunho corajoso de sua f em Jesus ressus-citado, anunciando que em nenhum outro h salvao, pois no existe debaixo do cu outro nome dado huma-nidade pelo qual devamos ser salvos (At 4,12).

    Ao lado dos que responderam pregao dos apstolos, 44. com acolhida da salvao em Cristo, veri ca-se a recusa por

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    parte do Sindrio (At 4,15-20; 5,33). Entretanto, diante da re-ao negativa dos chefes do povo, os apstolos no se intimi-dam e nem desanimam, mas continuam a anunciar vigorosa-mente o querigma. Assim ocorre com Filipe ao encontrar-se com o eunuco etope. Diante de suas indagaes, interessado em saber de quem falava o profeta Isaas no cntico do cap-tulo 53, Filipe comeou a falar e, partindo dessa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus Cristo (cf. At 8,26-40). O efeito deste anncio foi o pedido do etope: Aqui temos gua. Que impede que eu seja batizado? (At 8,36).

    Alm do anncio e testemunho dos apstolos, encontra-se 45. o testemunho eloquente de novos seguidores do Caminho (cf. At 9,1-2; 11,19-26). Estevo con rma com a fora de sua pregao e com o martrio que Jesus Cristo no estava morto, mas ressuscitado: Estou vendo o cu aberto e o Filho do Homem, de p, direita de Deus (At 7,56).

    O prprio Pedro tem uma pregao original quando, na 46. cidade de Jope, antigo porto da Palestina central, fala aos no-judeus ou gentios (At 10,34-43). Ambos os discursos apresentam o contedo bsico do querigma, com sua fora interpelante e envolvente, como se anunciava nas comunidades primitivas. A Boa Nova Jesus de Nazar como Messias ressuscitado, juiz dos vivos e dos mortos.

    O anncio fundamental da pregao dos apstolos mu-47. dou a vida de Paulo e o transformou de perseguidor im-placvel (At 9,1) em evangelizador exemplar (I Cor 9,16). No caminho de Damasco, o primeiro contato com o Se-nhor revelou a fragilidade da condio de Saulo e marcou o incio de sua converso. Alm do encontro pessoal com o Senhor (1 Cor 15,8), foi muito importante para a con-verso de Paulo a comunidade crist que o acolheu e o

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    conduziu ao Batismo (cf. At 9,18-20). A fora de seu teste-munho deixou confusos os judeus que no entendiam a sua converso e seu anncio: Jesus o Cristo (At 9,22). O anncio convicto feito por Paulo foi fruto do seu encontro pessoal com Jesus ressuscitado. A partir desta experincia originria, Paulo compreendeu a importncia decisiva da ressurreio de Cristo: Se Cristo no ressuscitou, a vossa f no tem nenhum valor e ainda estais nos vossos peca-dos (1 Cor 15,17).

    Com base na experincia da ressurreio de Cristo, a 48. Igreja sustenta, j a partir dos primeiros convertidos, que nossa esperana ressuscitar um dia com Cristo. A mensagem clara: todos os que cremos seremos res-suscitados com Cristo, pois se Cristo no ressuscitou, a nossa pregao sem fundamento, e sem fundamento tambm a nossa f (1Cor 15,14).

    A obra evangelizadora de Paulo suscitou muitos outros 49. discpulos e discpulas, mostrando a fora do anncio que-rigmtico para a adeso de novos seguidores do caminho de Jesus (Rm 16). Tambm nas comunidades paulinas o contedo do querigma a proclamao do fato segundo o qual o Filho de Deus, chegada a plenitude dos tempos, nasceu de mulher (Gl 4,4), morreu, foi sepultado e res-suscitou ao terceiro dia (cf. 1Cor 15,3-5; Rm 4,24-25) e foi constitudo Senhor de tudo o que existe nos cus e na terra (Fl 2,11). Em seu nome dado o perdo dos pecados e a salvao a todos aqueles que creem (Rm 10,9).

    3.6. O querigma no ensinamento recente da Igreja

    O Conclio Vaticano II, sempre atual, acentua a relao 50. entre Escritura, Tradio e Magistrio (cf. DV, nn. 7-10),

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    a m de garantir a integridade do querigma e sua desti-nao a todos os povos e geraes. O anncio querigm-tico na Igreja, Povo de Deus, nasce do seio da Santssima Trindade (cf. LG, nn. 1-4). Reavivar hoje o anncio desse mistrio fontal, alm de estimular a adorao do mist-rio do amor de Deus, deve ajudar a Igreja a recuperar de modo incisivo a comunho que de ne sua identidade e misso.

    O Catecismo da Igreja Catlica, seguindo o ensino secu-51. lar do Magistrio da Igreja, fundamenta a possibilidade de falar de Deus a todos os homens, porque o homem e a mulher, criados imagem e semelhana de Deus, so ca-pazes de Deus (CCE, nn. 27-38); ao mesmo tempo, Deus quem vem ao encontro do ser humano (CCE, nn. 50ss).

    A 52. Evangelii Nuntiandi (1975), documento fundamental do ps-Conclio, caracteriza o anncio querigmtico como dever que incumbe Igreja por mandato do Senhor Jesus; como mensagem necessria, nica e que no pode ser substituda, no admite sincretismo nem acomodao. vocao prpria da Igreja e sua misso essencial. sua mais profunda identidade. No centro da mensagem des-te anncio querigmtico est a salvao em Jesus Cristo, apontando ainda para os laos profundos existentes en-tre evangelizao e promoo humana, desenvolvimento e libertao (cf. EN, nn. 5; 14; 21-23; 27; 31).

    A 53. Redemptoris Missio (1990), falando do anncio que-rigmtico, acentua que Jesus o nico Salvador; que a f em Cristo uma proposta liberdade do homem; que a salvao oferecida a todos. O objeto do pri-meiro anncio, que central e insubstituvel, Cristo cruci cado, morto e ressuscitado. Este anncio nunca

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    um fato individual, pois feito em unio com toda a comunidade eclesial por fora de um mandato recebi-do, visando a converso (cf. RM, nn. 4-11; 44-45).

    O 54. Documento de Aparecida fala da necessidade de uma forma-o integral, querigmtica e permanente que compreende vrias dimenses, todas harmonizadas entre si em unidade vital. O poder do Esprito e da Palavra contagia as pessoas e as leva a escutarem Jesus Cristo, a crer nele como seu Salva-dor, a reconhec-lo como quem d pleno signi cado s suas vidas no seguimento de seus passos. O anncio se funda-menta, pois, no fato da presena de Cristo Ressuscitado hoje na Igreja, e fator imprescindvel do processo de formao de discpulos e missionrios (DAp, n. 279).

    A Igreja no Brasil tem insistido que o anncio uma das 55. exigncias intrnsecas da evangelizao: O centro e o pice do dinamismo missionrio da comunidade eclesial h de ser sempre uma proclamao clara que, em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado, a salvao oferecida a todos os homens como dom da graa e da misericrdia do mesmo Deus (cf. EN, n. 27; DGAE -2008-2010, n. 51).

    4. A resposta ao querigma

    A experincia inaudita do encontro com o Ressuscitado 56. reanima os coraes dos discpulos, despertando-lhes a memria da vida e da misso de Jesus. Quando a Igre-ja, hoje, continua sua misso evangelizadora, ela precisa contar com homens e mulheres que, como os primeiros discpulos, vivam uma forte experincia de encontro com o Senhor; uma experincia que envolva toda a vida e lhe

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    d sentido. Essa experincia de encontro com o Senhor inclui a escuta da mensagem e a converso do corao a Cristo. Assim, o evangelizador pode e deve tornar-se um mistagogo, algum que sabe introduzir outros na f crist, nos mistrios de Cristo e da Igreja.

    No processo inicial da evangelizao, o ponto de partida o 57. fascnio pela pessoa de Jesus Cristo e a Boa Nova do Reino de Deus, como resposta plena aos mais profundos anseios humanos, levando os discpulos e discpulas a abraarem, com amor e paixo, as exigncias ticas do cristianismo.

    A resposta e acolhida do anncio querigmtico se expres-58. sam e se comprovam na converso, que implica, pois, na adeso pessoa de Jesus Cristo e na disposio de segui-Lo no caminho. A converso se expressa no arrependi-mento dos pecados, na aceitao do Batismo, que marca o ingresso na Igreja, comunidade dos discpulos de Cris-to, incumbida do anncio e testemunho do Evangelho.

    Jesus ressuscitado, mediante o dom do seu Esprito, reo-59. rienta a vida dos seus discpulos. Esta experincia acon-tece na medida em que o discpulo se dispe a percorrer, na vida concreta, o mesmo caminho do seu Mestre e Se-nhor; nasce assim, uma profunda intimidade que alimen-ta e transforma o corao do discpulo pela fora amo-rosa do corao de Jesus ressuscitado. A compreenso e a insero nesta realidade do ao discpulo a condio missionria, o empenho da caridade em favor da vida, a coragem da mudana e a perseverana a caminho do Reino de nitivo.

    A converso e o Batismo so a participao no mist-60. rio da morte e ressurreio de Jesus Cristo, que fonte

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    inesgotvel na qual o discpulo mergulha, recebe a vida nova e se encoraja. O seguidor de Jesus Cristo se nutre da f. A partir da experincia do encontro pessoal com Cristo Ressuscitado, ele compreende que o sofrimento, a dor e a morte foram de nitivamente vencidas na cruz e ressurreio. No seguimento de Jesus, o discpulo as-sociado e con gurado com a vida, morte e ressurreio do seu Mestre e Salvador.

    4.1. A experincia da f

    O encontro com Jesus Cristo suscita uma profunda expe-61. rincia de f, que confere aos discpulos uma insupervel inteligncia da verdade e do amor de Deus. Uma com-preenso nova ilumina suas vidas e os insere no corao amoroso de Jesus redentor. Os evangelhos apresentam alguns exemplos:

    O centurio romano acompanhava a cruci cao de Jesus 62. (Mc 15,33-39). Olhando Cristo na cruz, seu corao foi to-cado e sua inteligncia se abriu e seus lbios professaram: Na verdade, este homem era lho de Deus! (Mc 15, 39). No momento trgico e confuso que vivia, ele abriu-se para o horizonte novo da verdade, cuja expresso se manifesta com sua pro sso de f.

    Os discpulos de Emas (Lc 24,13-35). O corao dos disc-63. pulos ardia enquanto ouviam o Mestre. A Palavra do Res-suscitado abre a inteligncia tambm pela signi cao de uma presena que preenche o corao de amor. Brota uma nova compreenso capaz de superar o desalento. A alegria experimentada no reencontro aciona o impulso missio-nrio e os discpulos voltam correndo para anunciar aos outros a Boa Notcia, o evangelho da vida. A compreenso

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    e a experincia de assimilar os gestos de Jesus comunicam a novidade de quem se fez discpulo do Senhor.

    Tom e os outros discpulos (Jo 20,19-29). A misso do dis-64. cpulo nasce e se alimenta da nica e mesma misso de Cristo. O Ressuscitado d aos discpulos o dom por exceln-cia, o Esprito Santo. Com uma advertncia e convocao, sublinha: Como o Pai me enviou, tambm eu vos envio (Jo 20,21). O envio em misso sustentado pela ao amo-rosa e invisvel do Esprito Santo. A experincia e a insero na comunidade balizam a abertura para receber o dom do Esprito, aquele que capacita verdadeiramente para a mis-so, a mesma misso de Jesus Cristo: evangelizar!

    4.2. A tica do discipulado

    Aderindo a Jesus Cristo, o discpulo assume como norma 65. de conduta o exemplo e o caminho do Mestre. Nas diver-sas circunstncias da vida, o Evangelho dever orientar o seu agir. Ser discpulo viver o permanente esforo e o desa o de assimilar um modo de ser apreendido na escuta e no seguimento do Senhor.

    Pedro convidado por Jesus a pensar conforme Deus, e a 66. deixar-se guiar pela luz da f, submetendo seus projetos ao juzo da cruz de Cristo (Mc 8,31-38). fundamental para a conduta nova do discpulo de Cristo oferecer a prpria vida pelo Senhor e pelo Evangelho. Viver de modo oblativo o que confere ao discpulo novos traos para relacionar-se com Deus, com as pessoas e com as diferentes situaes.

    No seguimento de Jesus, o maior aquele que serve (Mc 67. 9, 30-37). Jesus mesmo, se apresenta como aquele que serve (Lc 22, 27). A vida crist educa para uma nova

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    dinmica nas relaes sociais, superando a busca do po-der e do domnio sobre os outros, para assumir a atitude da permanente diaconia como estilo evanglico de vida.

    O discpulo aprende de Jesus a enxergar a vida como um 68. dom a ser doado (Mc 10,32-42). Aos lhos de Zebedeu, que buscam privilgios, Jesus responde: no sabeis o que estais pedindo (Mc 10,38). O discpulo precisa com-preender a vida como o Mestre, libertar-se do desejo do poder e assumir a atitude de Jesus, que servir e doar a prpria vida. O discpulo chamado conscincia de que, no seguimento de Jesus, ele pode encontrar o mart-rio, que a identi cao com a morte do Senhor.

    A experincia do encontro com o Cristo Ressuscitado d 69. largueza ao corao dos discpulos, tocando o mais pro-fundo de suas vidas e suscitando um jeito novo de ser e de viver. Uma conduta marcada pela capacidade nobre de fazer da prpria vida um dom para os outros, espe-cialmente, na comunidade, pela comunho e pela parti-lha. Eles eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apstolos na comunho fraterna, na frao do po e nas oraes. Todos os que abraavam a f viviam unidos e possuam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um (At 2,42.44-45; 4,32-37).

    O apstolo Paulo, com sua maestria, situa o discpulo na 70. compreenso da doutrina da f, com o rico acervo de suas cartas, sustentando e inspirando o discpulo de Jesus Cris-to com exortaes e admoestaes, que o levam a assu-mir uma conduta digna de sua condio: Eu vos exorto, irmos, pela misericrdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifcio vivo, santo e agradvel a Deus: este

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    o vosso verdadeiro culto. No vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar para que possais distinguir o que da vontade de Deus; a saber, o que bom, o que lhe agrada, o que perfeito (Rm 12,1-2). Assim ele mostra, largamente na sua pregao, um caminho incomparavelmente su-perior (I Cor 12,31), o caminho do amor (I Cor 13,1-13), com desdobramentos que tm fora de transformao na conduta pessoal e na vida da comunidade de f.

    O discpulo que vivencia a fora envolvente e transforma-71. dora da ressurreio do Senhor Jesus alarga o seu corao e se capacita por uma conduta com traos e dinmicas muito prprias. A Carta de Tiago congrega uma riqueza de indicaes ticas e morais, apontando horizontes largos para a especializao do modo de viver e conviver, tendo especialmente presentes os pobres, os simples e aqueles que precisam ser reconduzidos verdade e ao amor: Sa-bei, meus carssimos irmos, que cada um deve ser pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para se irritar. Pois aquele que se encoleriza no capaz de realizar a justia de Deus. Por esta razo, rejeitai toda impureza e todos os excessos do mal, mas recebei com mansido a Palavra que em vs foi implantada, e que capaz de salvar-vos. To-davia, sede praticantes da Palavra e no meros ouvintes, enganando-vos a vs mesmos (Tg 1,19-22).

    4.3. Compromisso missionrio

    Ao chamar discpulos para o seguirem, Jesus lhes d 72. uma misso muito precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as naes (cf. Mt 28,19; Lc 24,46-48). Por isso, todo discpulo , necessariamente, missionrio.

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    Jesus faz o discpulo partcipe de sua misso, ao mes-mo tempo em que o vincula a si como amigo e como irmo. Dessa maneira, como Ele testemunha do mis-trio do Pai, assim os discpulos so testemunhas dele diante de todos os povos. Cumprir essa misso no tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cris-t, porque a extenso testemunhal da prpria vocao (cf. DAp, n. 144). A maior alegria do discpulo colocar-se a caminho para anunciar a boa nova do Evangelho, indo incansavelmente ao encontro dos outros, especial-mente dos pobres e sofredores, e daqueles que esto distantes da experincia do seguimento de Jesus.

    Jesus garante a sua presena e auxlio aos discpulos, no 73. os deixando desamparados (Mt 28,20). O discipulado vi-vido na comunidade eclesial guiada pelo Esprito Santo, o mestre interior que conduz ao conhecimento da verdade plena, e faz da Igreja formadora de discpulos mission-rios. Essa a razo pela qual os seguidores de Jesus se deixam guiar constantemente pelo Esprito (cf. Gl 5,25). A paixo de Jesus pelo Pai e pelo Reino torna-se tambm pai-xo dos discpulos e se expressa em: anunciar a Boa Nova aos pobres, curar os enfermos, consolar os tristes, libertar os cativos (Lc 4,16-21; Cf. DAp, n. 152)

    5. A Comunidade Eclesial, formadora de discpulos missionrios

    A vocao ao discipulado missionrio con-vocao 74. comunho em sua Igreja. No h discipulado sem comu-nho (DAp, n. 156). Este um chamado compreenso de que a f em Jesus Cristo chega atravs da comunidade eclesial como comunidade de amor, com a misso de atrair

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    as pessoas e os povos para Cristo. No exerccio da uni-dade desejada por Jesus, os homens e mulheres de nosso tempo se sentem convocados e recorrem formosa aven-tura da f. Que tambm eles vivam unidos a ns para que o mundo creia(Jo 17,21). A Igreja cresce no por prose-litismo, mas por atrao: como Cristo atrai tudo para si com a fora do seu amor. A Igreja atrai quando vive em comunho, pois os discpulos de Jesus sero reconhecidos pelo amor que tiverem uns pelos outros, semelhana do amor do Senhor (cf. Rm 12,4-13; Jo 13,34) (DAp, n. 159).

    A f em Jesus Cristo, a ser anunciada, oferecida e ali-75. mentada pela comunidade eclesial (cf. DAp, n. 156) pre-sente na diocese, a primeira promotora e orientadora da formao crist, na parquia, nas comunidades eclesiais de base, nas pequenas comunidades, nos movimentos, nas associaes e na famlia, a primeira escola da f.

    A comunidade eclesial, formadora de discpulos missio-76. nrios chamada a oferecer a todos os is um anncio querigmtico por meio do qual se promova um encon-tro pessoal com Jesus Cristo, uma experincia religiosa profunda e intensa em funo de uma mudana de vida integral (cf. DAp, n. 226a). Este anncio querigmtico re-quer a observncia de alguns critrios fundamentais para garantir-lhe e ccia e fecundidade:

    5.1. Anunciar a f no tarefa opcional

    Conhecer a Jesus Cristo pela f nossa alegria; segui-Lo 77. uma graa, e transmitir este tesouro aos demais uma tare-fa que o Senhor nos con ou ao nos chamar e nos escolher (DAp, n. 18). Esta tarefa missionria no opcional, por-que somos missionrios para proclamar o Evangelho de

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    Jesus Cristo e, nEle, a Boa Nova da dignidade humana, da vida, da famlia, do trabalho, da cincia e da solidariedade com a criao (DAp, n. 103). No tarefa opcional por ser parte integrante da identidade crist porque a extenso testemunhal da vocao mesma (DAp, n. 144). Quando cresce no cristo a conscincia de pertencer a Cristo, em razo da gratuidade e alegria que produz, cresce tambm o mpeto de comunicar a todos o dom desse encontro. A misso no se limita a um programa ou projeto, mas compartilhar a experincia do acontecimento do encontro com Cristo, testemunh-lo e anunci-lo de pessoa a pes-soa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos os con ns do mundo (cf. At 1,8)(DAp, n. 145).

    5.2. Olhar a realidade com os olhos de discpulo missionrio

    O discpulo missionrio enviado a anunciar o Evangelho do 78. Reino da vida (cf. DAp, n. 143), encontra-se em ambientes nos quais h muitas vezes contra-valores que se opem aos valores do Evangelho. Ao voltar-se para a realidade em que est inserido, o discpulo missionrio chamado a tornar visvel o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores, sem fechar os olhos realidade urgente dos grandes problemas econmicos, sociais e pol-ticos da Amrica Latina e do mundo (cf. DAp, n. 148). Sua ateno realidade torna-se um autntico testemunho de que sem Cristo no h luz, no h esperana, no h amor, no h futuro (cf. DAp, n. 146). Essa a tarefa essencial da evangelizao, que inclui a opo preferencial pelos pobres, a promoo humana integral e a autntica libertao crist (cf. DAp, n. 146). S quem apaixonado por Jesus Cristo tem fora para renovar estruturas, dinmicas e coraes.

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    5.3. Uma formao integral e processual

    Alcanar a medida da vida nova em Cristo, identi cando-79. se profundamente com Ele e sua misso, um caminho longo que requer itinerrios diversi cados, respeitosos dos processos pessoais e dos ritmos comunitrios, cont-nuos e graduais (cf. DAp, n. 281). Estes itinerrios, contu-do, para serem completos, precisam envolver o conheci-mento da f (eu creio), a celebrao dos mistrios da f (eu celebro Liturgia) e a prtica da f que se expressa nas virtudes e na vida moral (eu vivo).

    Neste percurso, a comunidade eclesial chamada a ofe-80. recer ao discpulo missionrio uma formao para a iden-tidade catlica atenta s diversas dimenses: humana e comunitria, espiritual, intelectual, pastoral e mission-ria. O contedo central para esta formao encontra-se na Sagrada Escritura, lida e interpretada luz da f da Igreja e no Catecismo. Essa formao integral e processu-al que ocorre no seio de uma comunidade concreta, por meio da experincia da f - amadurecida pela vivncia da pertena eclesial, da comunho e dos Sacramentos - tem como horizonte a ao missionria.

    5.4. Formao bblico-doutrinal

    O anncio querigmtico requer uma formao bblico-dou-81. trinal, mediante um aprofundado conhecimento da Palavra de Deus e dos contedos da f, visto que esta a nica maneira de amadurecer a experincia religiosa. Nesse cami-nho, acentuadamente vivencial e comunitrio, a formao doutrinal no se experimenta como conhecimento terico e frio, mas como meio fundamental e necessrio no cresci-mento espiritual, pessoal e comunitrio (cf. DAp, n. 226c).

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    Esta dinmica do anncio querigmtico encontra nos Atos dos Apstolos exemplos clssicos e preciosos. Depois que Pedro, em discurso, dirigiu-se ao povo reunido, repassando os contedos da f em Cristo Jesus, todos unnimes disse-ram uns aos outros: Irmos, que devemos fazer? (At 2,37). Ficaram todos tocados no fundo do corao pela fora de uma compreenso, amorosa e nova, do mistrio da paixo, morte e ressurreio do Senhor.

    5.5. Cultivar uma enraizada paixo por Cristo

    O Santo Padre, Bento XVI, no seu discurso inaugural da V 82. Conferncia Geral dos Bispos da Amrica Latina e do Caribe, disse que quando o discpulo est apaixonado por Cristo, no pode deixar de anunciar ao mundo que s Ele salva (At 4,12) (DAp, n. 146). A admirao pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta cons-ciente e livre desde o mais ntimo do corao do discpulo, uma adeso a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome (cf. Jo 10,3). um sim que empenha radicalmen-te a liberdade do discpulo a se entregar a Jesus, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14,6). uma resposta de amor a quem o amou por primeiro at o m (cf. Jo 13,1) (DAp, n. 136). Este cultivo da admirao permanente ao Senhor e Mestre, para que o discpulo que parecido com Ele, requer que se assuma a centralidade do mandamento do amor que Ele quis chamar seu e novo: Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei (Jo 15,12). Este o diferencial de todo cristo e da Igreja tambm, comunidade discpula de Cristo, cujo testemunho de caridade fraterna ser o primeiro e principal anncio: Nisto conhecero todos que sois os meus discpu-los (Jo 13,35). Este seguimento que assemelha o discpulo ao mestre Jesus inclui a exigncia de compartilhar seu destino, a cruz, pela vivncia de seu mistrio pascal (cf. Mt 16,17).

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    5.6. Alegria de ser discpulo missionrio no anncio do Evangelho de Jesus Cristo

    S pode fazer, com e ccia e fecundidade, o anncio que-83. rigmtico quem experimenta a alegria de ser discpulo missionrio; quem compreendeu que ser cristo no um peso, mas um dom (cf. DAp, n. 28) pois o querigma a Boa Nova da Vida. Esta alegria deve ser cultivada no corao do discpulo missionrio de maneira forte, a m de que possa ser transmitida, contagiando a todos os ho-mens e mulheres feridos pelas adversidades (DAp, n. 29). A alegria do discpulo missionrio antdoto ao mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violncia e pelo dio. Sua alegria no um sentimento de bem-estar ego-sta, mas uma certeza que brota da f, que serena o cora-o e o capacita para anunciar a Boa Nova do amor de Deus. Conhecer Jesus o melhor presente que qualquer pessoa pode receber: t-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e faz-Lo conhecido com nossa palavra e obras nossa alegria (DAp, n. 29).

    6. Maria, apstola do querigma

    Dirigindo-se Maria, o anjo anunciou: Alegra-te cheia de 84. graa! O Senhor est contigo. Ela perturbou-se com estas palavras e comeou a pensar qual seria o signi cado da saudao. O anjo, ento disse: No tenhas medo, Maria! Encontraste graa junto a Deus. Concebers e dars luz um lho, e lhe pors o nome de Jesus. Ele ser grande; ser chamado Filho do Altssimo, e o Senhor Deus lhe dar o trono de Davi, seu pai. Ele reinar para sempre sobre a descendncia de Jac e o seu reino no ter m (Lc 1,28-33). A escolha de Deus determina o rumo novo da vida daquela jovem. A escolha de Deus. Nesta escolha est a

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    fonte inesgotvel da graa que realiza maravilhas superan-do a natureza e os limites das circunstncias comuns. Um desa o existencial que gera no corao a condio de dis-cpula e rma a dignidade de lha predileta do Pai. Maria alcana, pelo dilogo com o anjo, as medidas incomensu-rveis do amor de Deus, para quem nada impossvel. Do seu corao brota a resposta que revela sua corajosa e amorosa adeso vontade de Deus: Eis aqui a serva do Senhor! Faa-se em mim segundo a tua palavra(Lc 1,38). E nela se realizou a magni cncia do mistrio do amor de Deus Pai pela encarnao do Verbo, Cristo Jesus, por obra e graa do Esprito Santo. Maria escuta e acolhe o querig-ma da Anunciao e se torna, em consequncia, pela graa da experincia, apstola deste querigma.

    Quando Isabel ouviu a saudao de Maria, a criana 85. pulou de alegria em seu ventre e Isabel cou repleta do Esprito Santo. Com voz forte, ela exclamou: Bendita s tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre! Como mereo que a Me do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudao ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre (Lc 1,41-44). A presena amorosa de Maria na casa de Isabel revela a fora de sua intimidade com Deus: lha predileta do Pai, me do Fi-lho e esposa do Esprito Santo. Esta intimidade irradiada torna-se anncio que pleni ca do Esprito Santo o corao de Isabel, levando-a a proclamar o seu encantado reconhe-cimento por Deus. O gesto missionrio de Maria que vai ao encontro de sua parenta, e com ela permanece por trs meses, torna-se modelo do anncio que o discpulo mis-sionrio apaixonado por Jesus Cristo chamado a viver e a testemunhar. O gesto tem fora de anncio pela qualidade da presena daquela que vivia uma intimidade profunda e amorosa com o Pai, o Filho e o Esprito Santo.

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    Sua Me disse aos que estavam servindo: Fazei tudo 86. o que ele vos disser (Jo 2,5). O convite a obedecer a Jesus abre as portas para a realizao da nova e eterna Aliana. A escuta profunda de sua Palavra, como gesto de obedincia amorosa e de con ana incondicional exigncia do discipulado missionrio. Maria desperta nos servidores da festa a disponibilidade para o servio. O vinho novo, da alegria pela presena do Esposo, s Jesus pode garantir e oferecer.

    Junto cruz de Jesus estavam de p sua me e a irm de 87. sua me, Maria de Clofas e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua me e, ao lado dela, o discpulo que ele amava, disse me: Mulher, eis o teu lho! Depois, disse ao discpulo: Eis a tua me! ( Jo 19,25-27a). A presena amorosa de Maria, Me, junto cruz de Jesus convida o discpulo missionrio a xar o seu olhar, sem titubear, na fonte inesgotvel do mistrio da graa e da salvao de Deus.

    Maria, apstola do querigma, referncia e modelo para 88. todos os discpulos missionrios na vida da Igreja em constante Misso. Ela a grande missionria, continu-adora da misso do seu Filho e formadora de mission-rios. Ela, da mesma forma como deu luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho nossa Amrica. Ela tem feito parte do caminhar de nossos povos, entrando profundamente no tecido de sua histria e acolhendo as aes mais nobres e signi cativas de sua gente. Os diver-sos ttulos e santurios espalhados por todo o continente testemunham a presena prxima de Maria s pessoas, e ao mesmo tempo manifestam a f e con ana que os de-votos sentem por ela. Ela pertence a eles e eles a sentem como me e irm (DAp, n. 269).

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    C O N C L U S O

    A proclamao da Palavra de Deus decisiva para a f 89. do cristo. Ela possibilita o acolhimento livre do anncio salv co da pessoa de Cristo, acolhimento este possibili-tado pela atuao do Esprito Santo (DGAE, n. 61). Esta proclamao querigmtica da Palavra , pois, indispens-vel. uma alavanca para manter acesa a conscincia ale-gre do dom de ser discpulo. preciso acolher e escutar o querigma, este anncio convicto e ungido da Palavra de Deus, gerando e renovando o gosto da adeso pessoa de Jesus Cristo. A pregao da Palavra de Deus, portanto, em todas as circunstncias e por meio de todos os que a anunciam, deve ajudar os membros da Igreja a se en-contrar sempre com Cristo, e assim reconhecer, acolher, interiorizar e desenvolver a experincia e os valores que constituem a prpria identidade e misso crist no mun-do (DAp, n. 279). O anncio querigmtico proporciona a experincia em que o poder do Esprito e da Palavra contagiam as pessoas e as levam a escutar Jesus Cristo, a crer nEle como seu Salvador, a reconhec-Lo como quem d pleno signi cado a suas vidas e a seguir seus passos (DAp, n. 279).

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