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Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. 4, Nº. 7, Ano 2010
Alexandro Marcos Menegócio Faculdade Anhanguera de Indaiatuba [email protected]
Larissa Rodrigues Faculdade Anhanguera de Indaiatuba [email protected]
Sueli Romero Silva Faculdade Anhanguera de Indaiatuba [email protected]
CUIDADOS PALIATIVOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: QUANDO INICIÁ-LOS
RESUMO
A enfermagem tem importante papel na abordagem e desenvolvimento dos cuidados paliativos (CP), como no alcance de seus objetivos. Este estudo objetiva identificar o momento de mudança da perspectiva de cuidados: curativos e paliativos e apontar o envolvimento do enfermeiro nessa decisão. Por meio da revisão bibliográfica sistemática, foi realizado um levantamento das publicações de janeiro de 1999 a setembro de 2009, existentes em bancos de dados de referência com descritores específicos, separadamente e unidos, totalizando 422 publicações. O paradigma de mudança de cuidados curativos para paliativos tem cedido espaço a uma fusão dos cuidados, percebe-se o envolvimento da enfermagem no planejamento, execução e desenvolvimento, porém não temos claras delimitações de como o enfermeiro se insere nas tomadas de decisão em CP, ainda há a solidão do profissional médico citada em vários trabalhos.
Palavras-Chave: enfermeiro; cuidados paliativos; UTI.
ABSTRACT
Nursing has an important role in the evaluation and development of palliative care (PC), how to achieve its goals. This study aims to identify the time to change the perspective of care, curative and palliative and point out the involvement of nurses in the decision. Through a systematic literature review was conducted a survey of publications from January 1999 to September 2009, existing on references databases with specific descriptors, separately and together, totaling 422 publications. The paradigm shift from curative to palliative care has given way to a fusion of care, it is perceived nursing involvement in the planning, implementation and development, but we have no clear boundaries on how the nurse falls in decision making in PC, there’s the loneliness of the medical professional quoted in several papers.
Keywords: nurse; palliative care; intensive care unit.
Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected]
Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE
Informe Técnico Recebido em: 15/06/2010 Avaliado em: 22/02/2011
Publicação: 30 de março de 2011
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1. INTRODUÇÃO
Até 2002 o conceito de cuidados paliativos (CP) estava relacionado com a ausência da
cura, o que confronta com a realidade sobre as patologias e aplicabilidade de cuidados. “A
maioria das doenças é absolutamente incurável: o tratamento visa ao controle de sua
evolução e para não tornar essas doenças crônicas. Poucas vezes a cura é uma verdade em
medicina” (OLIVEIRA, 2008).
Em 2002, então a Organização Mundial de Saúde (OMS) assume e publica uma
nova definição dos CP, desligando-os do estigma anteriormente citado:
Cuidado Paliativo é a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual (OLIVEIRA, 2008).
O movimento que dá origem aos CP é denominado Hospice, seu mais antigo
registro é o Hospício do Porto de Roma, século V, onde Fabíola, discípula de São
Jerônimo, cuidava de viajantes oriundos da Ásia, África e do Leste (OLIVEIRA, 2008;
ARAUJO, 2008; PESSINI, 2001).
Já no século XX, é possível citar Cicely Saunders, enfermeira e posteriormente
médica que sistematiza os cuidados paliativos a partir da criação do Hospital St
Cristopher e o trabalho da psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross que com estudos e
publicações junto aos pacientes com prognóstico sombrio, faz crescer o movimento
Hóspice nos Estados Unidos (OLIVEIRA, 2008; ARAUJO, 2008; WHO, 1990; MC
COUGHLON, 2004).
O emprego formal dos CP é ainda muito recente, 1987, sendo que primeiro país a
reconhecer a medicina paliativa como especialidade da área médica é o Reino Unido
(COSTA FILHO et al., 2008).
Dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é ainda mais recente sua
aplicabilidade, essa relação de UTI e CP começa a ser estudada e publicada na última
década.
A terapia intensiva, caracterizada pelo suporte de maior complexidade ao
paciente, teve seu crescimento à partir dos primeiros trabalhos de Florance Nightingale na
guerra da Criméia, quando ao separar os pacientes cirúrgicos mais graves em ambientes
próprios e dispensar cuidados intensivos, conseguiu uma redução de mortalidade de 40%
para 2%, isto no ano de 1854. Alguns anos depois surgia nos EUA a primeira UTI pós-
cirúrgica para pacientes neurocríticos baseada na mesma estratégia assistencial,
consolidando a prática de cuidados intensivos como bem sucedida, a ponto que na década
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de 1960 perto de 25% dos hospitais americanos tinham UTI e no fim da década de 1970
todos dispunham de unidades de tratamento intensivo (OTHERO, 2008; PENHA, 2008).
No Brasil os dados do DATASUS de 2001 apontam 11 milhões de internações
hospitalares, com estimadas 600 mil em UTI, num país com cerca de 180 milhões de
habitantes (COSTA FILHO et al., 2008).
Desde 1969, os CP são empregados em diversos países. Em 2006, o levantamento
mundial dos cuidados paliativos, sobre a relação de número de serviços para número de
habitantes, o Brasil teve uma das relações mais pobres (1:13.315.000), o Reino Unido teve a
melhor relação (1: 40.000), na América Latina a melhor distribuição foi da Costa Rica (1:
166.000) (COSTA FILHO et al., 2008). Havendo em nosso país pouco mais de 30 serviços
de saúde que empregam os CP (ARAUJO, 2008; COSTA FILHO et al., 2008).
Em 1997 formou-se a Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP),
envolvendo diversos hospitais, reunindo profissionais em eventos científicos e
fomentando pesquisas, em 2005 forma-se a Academia Nacional de Cuidados Paliativos,
organizando profissionais de todas as regiões na tentativa de reconhecimento legal com
enfoque no cuidar, mostrando que esse modelo assistencial ainda é muito recente no
território nacional3. Nosso país ainda não demonstrou possuir medidas de integração dos
CP nos principais sistemas de saúde (COSTA FILHO et al., 2008).
Um ponto presente na elaboração dos cuidados paliativos é a consideração da
autonomia do paciente, em alguns países, como nos Estados Unidos da América do Norte,
a elaboração de um documento conhecido como "diretivas antecipadas" (advanced
directives) que tem sido um instrumento utilizado na tentativa de um aprimoramento das
ações médicas em situações particulares. Trata-se de instruções deixadas por escrito pelo
paciente sobre os cuidados referentes à sua saúde, que desejaria que fossem fornecidos
numa eventual incapacidade de ele poder decidir; inclui a designação de alguém,
legalmente reconhecido como seu legítimo procurador, com poder vicário de decidir
sobre eventuais intervenções. “O foco, aqui, está centrado na possibilidade de se ofertar
ao paciente o que tem sido chamado na literatura uma "boa morte", tendo suas decisões
autônomas como fundamento, partindo-se da premissa de que o paciente está
devidamente esclarecido e plenamente consciente de seu estado clínico, de seu
prognóstico e das opções terapêuticas possíveis, ou as de seu legítimo procurador ou
intérprete da vontade do paciente afetado (PENHA, 2008). Esse tipo de documentação
não é encontrada na legislação brasileira baseada somente nos direitos humanos e código
de ética profissional: em importante publicação do fim de 2006 o Conselho Federal de
Medicina homologou a “Resolução 1805 que reconhece como procedimento eticamente
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adequado a retirada ou não oferta de tratamento para pacientes considerados como
terminais, abrindo espaço para prática ordens de não reanimar dentro das suas margens
éticas mais atuais”. Ainda em discussão sob júdice, traz um contexto simples e
contemporâneo (OLIVEIRA, 2008; ARAUJO, 2008).
Art. 1º É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave ou incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal.
1º O médico tem obrigação de esclarecer ao doente ou ao seu representante legal as modalidades de terapêutica adequadas para cada situação.
2º A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada no prontuário.
3º É assegurado ao doente ou a seu representante legal o direito de solicitar uma segunda opinião médica.
Art. 2º O doente continuará a receber todos os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levem ao sofrimento, assegurada a assistência integral, o conforto físico, psíquico, social e espiritual, inclusive assegurando-lhe o direito de alta hospitalar.
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. Revogando-se as disponíveis em contrário. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2006).
Em 1996 foi publicado pela Organização Nacional de Hospice, os indicadores de
prognóstico. A aplicação desses índices é reconhecida em Hospices, onde há autonomia
do paciente para escolha de tratamento, concomitante com as perspectivas da equipe de
saúde, onde, então a interpretação do índice não fica ancorada a uma pontuação e sim na
avaliação e opção pela equipe e paciente, não há exatamente a necessidade de equipe
especializada, porém é necessário integração entre a equipe multidisciplinar e
conhecimento acerca do tema.
A preocupação com escalas de avaliação prognostica se inicia em 1953 com
apgar, para avaliar recém nascidos. No Brasil é relatada a utilização de alguns índices
prognósticos em UTI (MARTINS, 2008; LAGUDS, 2006).
Como é sugerida, para os serviços que possuem os cuidados paliativos, a
utilização de escalas de avaliação dos sintomas (EVAS), escala de performance paliativa
(PPS), protocolo de relação médico-paciente (CLASS), Escala de Borg para monitoração da
intensidade de esforço, Escala de atividade da vida diária de Katz, Mini exame do estado
mental (MEEM), Escalas de desempenho de Karnofsky da American Joint Committe on
Cancer (AJCC) e de Zubrod da Eastern Cooperative Oncology (ECOG) (OLIVEIRA, 2008).
Os índices de predição diagnóstica não conseguem definir conduta terapêutica,
exigindo sempre a avaliação clínica. A atualização contínua desses modelos está aliançada
ao desenvolvimento do perfil populacional de cada localidade, exigindo sempre estudos
focados nas mais diversas realidades (MARTINS, 2008).
Começar precocemente a abordagem paliativa permite a antecipação dos
sintomas, podendo preveni-los. A integração do paliativista com a equipe que promove o
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tratamento curativo possibilita a elaboração de um plano integral de cuidados, que
perpasse todo o tratamento, desde o diagnóstico até a morte e o período após a morte do
doente (OLIVEIRA, 2008).
É sabido que a enfermagem, por um lado, por seu contato ininterrupto com o
doente hospitalizado e acesso facilitado aos seus familiares, tem importante papel na
abordagem e desenvolvimento dos CP, bem como no alcance de seus objetivos (ARAÚJO,
2008; OTHERO, 2008; SILVA, 2005; MOLARSKI, 2006; HOLZAPFEL et al., 2002). Mas por
outro, por ocasião da denominada obstinação terapêutica ou ausência de estratégias que
instituam essa modalidade de cuidados, o enfermeiro pode perder essa autonomia e se
desvincular desse processo, sendo submetido à decisão solitária do profissional médico
que, por diversos motivos, não direciona o tratamento para essa terapêutica (OTHERO,
2008).
Dessa forma, este estudo objetiva identificar o momento de mudança da
perspectiva de cuidados: curativos e paliativos e apontar o envolvimento do enfermeiro
nessa decisão.
2. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sistemática, onde foi realizado um
levantamento das publicações de Janeiro de 1999 a Setembro de 2009, existentes nos
bancos de dados Lilacs, Medline, BDEnf. e SciELO, através da BVS, Pubmed, CAPES,
Cemesp.
Foram utilizados os seguintes descritores: “cuidados paliativos em UTI” e
“Enfermagem em cuidados paliativos”, separadamente e unidos.
Identificamos 422 publicações, sendo: 407 artigos, 08 livros em português, 06
dissertações de mestrado em português, 01 tese de doutorado em português.
Os critérios de inclusão foram publicações de janeiro de 1999 à abril de 2009, a
abordagem dos cuidados em UTI ou abordagem da enfermagem dentro dos cuidados
paliativos a pacientes adultos e publicações com disponibilidade de texto completo.
Excluímos os artigos anteriores a 1999, publicações que abordam CP aplicados a pacientes
pediátricos, estudos realizados em ambientes extra-hospitalares (Hospice, Home Care), os
artigos sem disponibilidade de texto completo nos Bancos de Dados pesquisados, artigos
que faziam referência a doenças específicas e artigos que não eram pertinentes ao objetivo
de estudo.
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A seleção das publicações foi realizada após a leitura exaustiva de título, resumo
e textos completos para certificarmos de que contemplavam a pergunta norteadora.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O paradigma de mudança de cuidados curativos para paliativos tem cedido espaço a uma
fusão dos cuidados (COSTA FILHO et al., 2008).
Segundo Penha (2008),
[...] temos vivenciado tempos de modificações paradigmáticas importantes. A inversão de valores, a violência física, moral e intelectual tem assolado a humanidade em seu bem mais precioso: o direito de con-viver e morrer dignamente, de estar presente junto ao outro, sentir-se acolhido e tendo a oportunidade de acolher e de reconhecer o outro como parte integrante do movimento existencial que possibilita a edificação dos relacionamentos humanos. Há algum tempo este relacionamento tem sido corrompido pelo mecanicismo comunicacional decorrente da edificação de necessidades cada vez mais fundamentadas no imediatismo. Este fato tem resultado na superficialidade das relações humanas, onde a presença da máquina é o foco comunicacional prioritário. (PENHA, 2008).
A UTI pelo uso de grande tecnologia, elevado custo de seus equipamentos/
procedimentos e relativa impessoalidade no atendimento necessita possuir critérios para
admitir pacientes, o que conota que somente os pacientes com gravidade clínica, porém
com perspectiva de sucesso no tratamento curativo sejam internados em UTI (COSTA
FILHO et al., 2008; PENHA, 2008; MOLARSKI, 2006). Em pesquisa norte-americana com
coordenadores de unidades de tratamento intensivo acadêmicas mostrou que, embora
88% das unidades dispusessem de critérios para admissão documentados, em apenas 25%
das internações esses critérios eram utilizados, ficando mais a critério dos médicos. Ao
mesmo tempo, mesmo sendo considerado por 53% dos coordenadores como desejável
dispor de critérios restritivos de admissão na UTI, apenas 21% dessas unidades os têm (LI,
2004).O que fomenta a necessidade de inserir os CP em UTI, desde a admissão do
paciente, posto que o risco de morte é iminente e o prognóstico pode ser ruim á partir
deste momento. No Brasil não encontramos esse relato. A UTI é um cenário bastante
típico da terminalidade humana de nossos dias, onde reúne-se um conjunto de
competências para uma assistência de fim da vida de elevada qualidade. O National
Institute of Health dos EUA identificou a terminalidade humana em UTI como prioridade
para saúde pública americana (KAPADIA, SINGH, DIVATIA, 2004; MANUAL DE
CUIDADOS PALIATIVOS, 2009).
É possível perceber, na UTI, grande impasse entre a obstinação terapêutica e os
cuidados paliativos. As unidades de tratamento intensivo têm uma base assistencial de
qualidade o que fomenta a crescente confiança da população na medicina hospitalar
urbana OTHERO, 2008; PENHA, 2008).
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Em contrapartida encontramos o viés da terminalidade nessa unidade, onde
pacientes com doenças crônicas e que morrem em hospital, metade deles são internados
em UTI em seus últimos três dias de vida (OTHERO, 2008). Nota-se uma imprecisão do
conhecimento de UTI, uso de seus recursos para prolongamento de situações e não da
vida propriamente dita, inserção insuficiente da família no contexto da UTI além de
outros fatores como (MC COUGHLON, 2004; COSTA FILHO et al., 2008; PENHA, 2008).
• modelos imprecisos para predição de morte;
• grande variabilidade nas práticas médicas à beira do leito;
• conhecimento vago das preferências dos pacientes;
• comunicação problemática entre equipes e famílias;
• terminologia profissional imprecisa e insensível;
• equipes mal treinadas para a terminalidade humana;
• registros médicos incompletos.
O início precoce dos CP é uma vantagem para o paciente, conviventes e equipe,
pois nota-se que quanto maior a sua abordagem, maior é o estreitamento da relação e
adaptação à nova situação e consequentemente, estabelece-se um atendimento
individualizado e humanizado aos pacientes e familiares (OLIVEIRA, 2008; ARAÚJO,
2008; MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2009).
A definição do momento exato de um doente enquadrar-se em processo de CP é
melhor estabelecida em países estrangeiros com documentação que garante a autonomia
do paciente e com índices prognósticos relacionado a terminalidade, ao passo que em
nosso país dispomos apenas de uma “Resolução” que diz respeito às tomadas de decisões
médicas de “não reanimar”, de oferecer cuidados de conforto (relacionados a qualidade
de vida) (OLIVEIRA, 2008; CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2006). No entanto,
utilizamos somente índices prognósticos que caracterizam a gravidade do paciente
direcionando-o à UTI. Um excelente argumento para a implementação dos CP é a
possibilidade de se programar os cuidados e preparar, pacientes e familiares, para a alta
hospitalar uma vez que os doentes terminais e/ou que apresentam possibilidades
terapêuticas para retorno da vida cotidiana necessitam de tempo e orientação para se
adaptarem às novas limitações. No Quadro 1, algumas definições de estadiamento dos
cuidados paliativos (OLIVEIRA, 2008).
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Quadro 1 - Definições de estágios dos cuidados paliativos
Paciente terminal A literatura mundial o define de formas diferentes, como a existência de doença incurável, o período compreendido entre o final do tratamento curativo e a morte, ou, ainda, como a fase designada como processo de morte, que inclui duas fases distintas: últimas semanas de vida e últimas horas de vida.
Paciente elegível para Cuidados Paliativos
A pessoa portadora de doença crônica, evolutiva e progressiva, com prognóstico de vida supostamente encurtado a meses ou ano. Em doenças de progressão lenta como o Mal de Alzheimer, algumas síndromes neurológicas e determinados tipos de tumor, considera-se o período de alta dependência para as atividades de vida diária, com possibilidade de um prognóstico superior a um ano de vida. Corresponde a um perfil funcional igual ou inferior a 40% ou menos na escala de Karnofsky ou PPS, citadas anteriormente.
Paciente em processo de morte
Aquele que apresenta sinais de rápida progressão da doença, com prognóstico estimado a semanas de vida a mês.
Fase final da vida Aquele período em que supostamente o prognóstico de vida pode ser estimado em horas ou dias.
Adaptado de Cuidado Paliativo, 2008.
A autonomia do paciente, também não está bem definida em nosso meio,
percebemos em outros países a relevância da consideração dos desejos do paciente,
inclusive com documentação própria e oficial quanto a sua opção na escolha de
tratamento (OLIVEIRA, 2008; OTHERO, 2008).
A obstinação terapêutica por vezes é uma prática na qual o médico intensivista se
vê prisioneiro, mesmo sabendo que gera sofrimento físico e/ou moral indevidos ao
paciente. Não só os custos financeiros, mas o impacto psicossocial que pode ser
devastador, especialmente por prolongar o morrer, são resultados indesejados. Essa
armadilha pode ser difícil de ser desativada. O artigo 29 no Capítulo das
Responsabilidades Profissionais afirma que “é vedado ao médico praticar atos
profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia,
imprudência ou negligência” e o artigo 28 que ao tratar dos direitos do médico, é claro ao
afirmar que “é direito do médico recusar a realização de atos médicos que, embora
permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência” (OLIVEIRA, 2008;
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2006). Seria exagero esperar que, a luz da
moralidade e ética médica de nosso tempo, o uso da maquinaria de uma UTI não se
limitasse as suas possibilidades técnicas e sim estivesse sempre vinculado a um uso em
benefício real do paciente? Seria exagero considerar a prática da obstinação terapêutica
como imperícia? É possível como plantonistas, por exemplo, ter algum constrangimento
frente a certas circunstâncias médicas e ao mesmo tempo não se sentir com liberdade para
interferir? (OLIVEIRA, 2008).
No que se refere as publicações de estudos acadêmicos, no âmbito dos CP
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desenvolvimento, porém não temos claras delimitações de como o enfermeiro se insere
nas tomadas de decisão em CP, ainda há a solidão do profissional médico citada em
vários trabalhos, há referência ao que se trata de “uma abordagem de enfermagem
generalizada numa prática médica clinicamente especializada. Nesse espaço clínico, o
enfermeiro deverá ocupar seu espaço profissional junto à equipe multiprofissional,
desenvolvendo as habilidades clínicas inerentes ao controle dos sinais e sintomas e à
comunicação genuína para agregar as ações dos diversos profissionais em função do
benefício do paciente, de sua família e também da instituição”(OLIVEIRA, 2008;
MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2009). Por meio da compreensão da natureza
humana, sua atenção é direcionada para as necessidades holísticas do paciente. Cabe ao
profissional identificar e compreender as demandas e os desejos individuais de cada ser
cuidado, planejando e implementando ações que permitam ao indivíduo o máximo
controle sobre sua própria vida e doença (OLIVEIRA, 2008).
No Brasil, o termo “enfermagem paliativa” não é reconhecido e parece sofrer os
mesmos questionamentos conceituais que os termos “cuidados paliativos” e “paciente
terminal”. Em contrapartida, nos EUA, a Hospice and Palliative Nurses Association (HPNA),
instituição que tem como missão proporcionar o gerenciamento da dor e excelência nos
cuidados de enfermagem perto da extremidade final da vida, decorrente de uma doença
crônica degenerativa, completou 20 anos (1986-2006) (OLIVEIRA, 2008).
O Conselho Internacional de Enfermagem (CIE), fundado em 1899, reconhece os
CP como uma questão atual de saúde e da sociedade e também vê neles a importância do
controle da dor pela enfermeira, em conjunto com a necessidade de prover auxílio no
controle dos demais sintomas e prestar apoio psicológico, social e espiritual para os
pacientes sob seus cuidados (KAPADIA; SINGH; DIVATIA, 2004). Quanto ao Conselho
Regional de Enfermagem (COREN) não apresenta, até o momento, documento oficial que
ratifique o papel do enfermeiro dentro dos CP.
Nos deparamos então, com essa realidade, a terminalidade institucionalizada
reflete diretamente na enfermagem, torna o cuidado mais complexo e deve ser
direcionado a garantir conforto e dignidade na busca pela qualidade e não mais pela
quantidade (SIMONI, 2001).
A enfermagem também tem íntima relação com a aplicação de terapias
complementares, muito utilizadas para pacientes em cuidados paliativos (JOHNS, 2003)
Estudos relatam a promoção da qualidade de vida no processo de morrer, utilizando:
musicoterapia (HILLIARD, 2005), hipnose (DOUGLAS, 1999) e a chamada terapia da
dignidade, que consiste cuidar do paciente tendo como foco o seu nível de independência
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cognitiva e funcional e o controle dos sintomas físicos e psicológicos (CHACHINOV et al.,
2004). Em relação à meditação e à imaginação dirigida, também há o trabalho de
Birnbaum e Birnbaum (2004), que descrevem uma intervenção terapêutica inovadora
desenvolvida em um trabalho de grupo com sobreviventes de tentativa de suicídio e
profissionais de saúde mental. A técnica compreende o relaxamento e a meditação
concentrada, acrescida da meditação dirigida, na busca da sabedoria interior. Muitos
participantes relataram uma experiência positiva importante, incluindo acesso a
conhecimento interno, altamente relevante para eles neste momento de suas vidas. Essas
introspecções foram experimentadas como provenientes de uma parte mais profunda do
próprio self do paciente (fonte interna) ou de um guia espiritual ou presença espiritual
(fonte externa). Os resultados indicaram que a meditação dirigida pode ser um recurso
poderoso para terapeutas e seus pacientes, suicidas e outros doentes (ELIAS; GIGLIO;
PIMENTA, 2007).
O pioneiro trabalho no Brasil a embasar e referenciar treinamento de terapia
complementar com enfoque multidisciplinar para o uso de intervenções que minimizem o
sofrimento espiritual e sobre os resultados dessas intervenções consiste no Relaxamento
de Imagens Mentais e Espirituais (RIME) que refere-se à indução da visualização por meio
dos elementos descritos pelos pacientes que passaram por uma experiência de quase
morte (EQM) (ELIAS; GIGLIO; PIMENTA, 2007).
4. CONSIDERAÇÕES
O profissional que elabora os currículos dos cursos da área médica não pode ignorar essas
práticas, cabendo algumas reflexões. A primeira é selecionar o que de bom a medicina
alternativa oferece. A segunda é pensar como colocar esse contexto no aprendizado para
que o estudante o conheça e adquira espírito crítico para uma seleção positiva a favor do
doente. A terceira é reconhecer, humildemente, que a alternativa está atendendo mais
eficazmente à relação médico-paciente que a alopatia, cabendo ao profissional de saúde
recuperar esse recurso no atendimento à população e integrando-o ao uso adequado da
tecnologia (SILVA, 2005).
Observa-se que há necessidade de maior documentação do papel do enfermeiro
dentro dos cuidados paliativos, de sua inserção nas decisões dos cuidados paliativos e de
sua formação acadêmica para prática dos CP. Na enfermagem está o elo entre os
profissionais e dele vem o direcionamento da prática dos cuidados e toda distribuição e
gerenciamento de tarefas e impacto causado nas situações de morte e morrer.
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REFERÊNCIAS
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Alexandro Marcos Menegócio
Mestre em Gerontologia Social. Docente e Coordenador do curso de enfermagem da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba.
Larissa Rodrigues
Especialista em UTI pelo IEP-HSL. Membro do Grupo de Pesquisa de Comunicação em Enfermagem – USP. Docente da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba.
Sueli Romero Silva
Especialista em UTI pelo IEP-HSL. Orientadora e tutora curso de Especialização de enfermagem em UTI IEP-HSL.
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