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N.º 2 REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA Centro de Estudos de História do Atlântico ISSN: 1647-3949

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N.º 2

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

Centro de Estudos de História do Atlântico

ISSN: 1647-3949

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ANUÁRIO

DO CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO

N.º 2

2010

SECRETARIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURACENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO

FUNCHAL

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Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico • 2010

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TÍTULO: Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico

N.º: 2

ANO: 2010

EDIÇÃO:

Centro de Estudos de História do Atlântico

Rua das Mercês, n.º 8, 9000-224 Funchal

Telef.: 291 214970 / FAX: 291 223002

Email: [email protected]

Webpage: http://www.madeira-edu.pt/ceha

ISSN 1647-3949

O conteúdo dos Artigos é da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

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A Pesca na História da Madeira:Estado dos Conhecimentos e Problemáticas Futuras de Análise1

Fishing in the History of Madeira:State of Knowledge and Issues for Further Analysis

FilipedosSantos2

«A pesca é um domínio que tem sido descurado. É urgente dedicar-lhe projectos de pesquisa, centrados no presente e no passado muito recente, até porque será provavelmente bastante difícil coligir dados, em profundidade histórica, com fiabilidade. Embora se trate dum modo de vida envolvendo tradicionalmente determinadas comunidades especializadas (Câmara de Lobos, Machico), a sua relevância no sistema social insular nunca foi expressiva, se comparada com a do campesinato. [...]

O seu estudo permitira obter elementos sobre um contexto social e ambiental de gestão de recursos bastante distinto.»3

«[...] a história da pesca na Madeira ainda está por fazer.»4

ResumoEste artigo consiste num ponto da situação acerca da temática APescanaHistóriada

Madeira, com base em estudos historiográficos, etnográficos e monográficos realizados até à actualidade, e numa tentativa de perspectivar futuras vias de inquérito e de análise. O balanço é feito pela abordagem de várias temáticas, forçosamente selectivas: recursos marítimos; abastecimento de peixe; actividade da pesca; fiscalidade; técnicas e utensílios.

1 De certo modo, este artigo e o da autoria da Prof.ª Doutora Inês Amorim (publicado neste mesmo volume: «A Exploração dos Recursos Marítimos numa Perspectiva Histórica: Uma Abordagem Metodológica das Escalas de Conflito (Institucionais e Locais) – O Arquipélago da Madeira»), partindo de diferentes perspectivas e abordagens, acabam por assumir-se como complementares.

2 Técnico Superior de História – Secretaria Regional de Educação e Cultura (Região Autónoma da Madeira) – CentrodeEstudos deHistória doAtlântico; Mestre em Estudos Locais eRegionais, com a dissertação subordinada ao tema OSalnaIlhadaMadeiranaSegundaMetadedeSetecentos–Penúria,PodereAbastecimento (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), futuramente dada à estampa, orientada pela Prof.ª Doutora Inês Amorim. Endereço electrónico: [email protected]; Sítio pessoal: https://sites.google.com/site/filipedossantoshomepage/.

3 BRANCO, 2008, «Sociedade e gestão de recursos naturais no Atlântico oriental. Propostas de pesquisa na Região Autónoma da Madeira», pp. 158-159.

4 RIBEIRO, s.d., S.Vicente–SubsídiosparaaHistóriadoConcelho, p. 196.

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Palavras-Chave: Arquipélago da Madeira; Pesca; Recursos Marítimos; Abastecimento; Fiscalidade; Técnicas.

AbstractThis article aims to settle a state of the knowledge on the subject FishingintheHistory

ofMadeira, based on historiographic, ethnographic and monographic studies made until the present time, and is an attempt to foresee future approaches to investigation and analysis. The assessment is done by addressing several themes, necessarily selective: marine resources; supply of fish; fishing activity; taxation; techniques and devices.

Keywords: Madeira Islands; Fishery; Marine Resources; Supply; Taxation; Techniques.

Pretendemos, neste artigo, estabelecer um ponto da situação acerca da temática APescana História da Madeira, recorrendo aos estudos – mormente historiográficos, etnográficos e monográficos5 – realizados, até o presente, sobre esta actividade no arquipélago da Madeira; além disso, é nossa aspiração perspectivar futuras vias de inquérito e de análise.

Diga-se que entendemos este trabalho como a primeira pedra de um edifício maior, que consistirá, se tivermos oportunidade, numa investigação de fôlego e problematizadora, de âmbito historiográfico, sobre a pesca no arquipélago.

Assim, estruturamos este escrito na abordagem de várias problemáticas directamente relacionadas com a evolução histórica da pesca neste espaço insular.

Em primeiro lugar, teremos de direccionar o nosso olhar para os recursos marítimos no arquipélago da Madeira, dando atenção a aspectos geomorfológicos, oceanográficos e faunísticos; de igual modo, é fulcral abeirarmo-nos das questões relacionadas com o abastecimento do pescado, através da referência à importação e ao comércio interno, e ainda à acção reguladora e controladora dos poderes municipais.

Posteriormente, observando os meandros relativos à actividade da pesca, faremos referência a: comunidades/núcleos/portos piscatórios do arquipélago; tentativas de desenvolvimento do sector; produto ou valores da pesca; quantidades de pescado capturado; número de embarcações e de pescadores. Seguidamente, observaremos os meandros da fiscalidade. Por fim, investigaremos as técnicas e aparelhos usados pelos pescadores.

Os suportes materiais desta actividade (tipologia das embarcações6; infra-estruturas portuárias, entendidas num sentido lato7; estaleiros e construção naval; faróis e farolins; e outras estruturas de apoio à faina junto à orla marítima); a transformação ou processamento artesanal (salga e secagem8) e industrial (fábricas de conservas9 – fenómeno do século XX) do pescado; as dimensões da pesca desportiva e da piscicultura10 – nada disto prenderá, no momento, a nossa atenção. O estatuto social dos pescadores não será também objecto de análise.

5 Diga-se que, no contexto da historiografia mais recente, o nome de João Adriano Ribeiro ressalta, em termos de volume de produção.

6 Acerca das embarcações de Câmara de Lobos, veja-se RIBEIRO, 1993, «A Pesca em Câmara de Lobos», pp. 8-10.

7 Sobre portos, em finais do século XIX, veja-se FREITAS, 2007, «A Comunidade Piscatória do Arquipélago Madeirense», pp. 62-64.

8 Vejam-se PEREIRA, 1989, Ilhas de Zargo, vol. II, pp. 136-137 e, numa perspectiva etnográfica e tecnológica, CAMACHO, TORRES, 1993, «O Peixe Seco na Madeira», pp. 2-7.

9 Sobre este assunto, veja-se RIBEIRO, 1992, «A indústria de conserva de peixe na Madeira», pp. 59-70.

10 Actividade recente, «[...] iniciada em meados da década de 90 do século XX pelo Governo Regional [da Madeira]» (VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 162).

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As citações em epígrafe demonstram que, com efeito, o tema das pescas demanda um mais aprofundado estudo. Porém, no decurso desta pesquisa, notámos que, na verdade, este é tudo menos território virgem. No entanto, em termos gerais, perante os nossos olhos passaram informações dispersas, descritivas, avulsas, muitas vezes descontextualizadas e não inseridas em processos históricos inteligíveis. Optámos, deste modo, não por uma resenha bibliográfica11, mas por um discurso que, em redor das quatro problemáticas enunciadas, consistisse na exposição de alguns factos relevantes e significativos e numa análise preliminar e problematizadora. Se o conseguimos – dirá o leitor.

Recursos Marítimos

No que toca aos recursos marítimos, há uma inquirição de base que tem de ser realizada. Os recursos piscícolas que foram e são explorados pelos pescadores madeirenses podem qualificar-se de abundantes ou, por outra, de insuficientes, dadas as necessidades do consumo no arquipélago da Madeira ao longo da sua história?

Logo aqui, há uma dissonância de opinião entre os especialistas. Os historiadores, por um lado, de modo quase unânime, em considerações introdutórias e gerais nos estudos existentes, tendem a apontar os recursos marítimos como bastos e fecundos, não resolvendo todavia o problema de a pesca ter sido, ao longo da História deste arquipélago, uma actividade secundária (adiante abordaremos este tema, mas tal asserção geral fica já aqui inscrita). Os estudiosos da fauna marítima12 e da oceanografia têm a opinião contrária.

Afinal, que recursos existiram ou existem? Olhemos para a configuração geomorfológica da orla costeira madeirense e dos fundos oceânicos, bem como para as espécies que ocorrem nestes mares13.

Ao redor da ilha da Madeira existe uma faixa litoral deveras estreita, à qual segue-se uma depressão que culmina na profundidade da planície abissal da Madeira. Por outras palavras, a curta distância da orla costeira é possível depararmo-nos com profundidades muito acentuadas, em virtude do declive abrupto. Por esta e por outras razões as águas madeirenses são um reservatório de pouca rendibilidade em termos de recursos14.

Os especialistas individualizam, basicamente, quatro zonas que compõem o espaço marinho, junto à costa, passível de ser explorado: supralitoral, médiolitoral, infralitoral e circalitoral. Vejamos quais as espécies faunísticas que os pescadores encontravam e encontram em cada uma destas áreas.

Moluscos, como as lapas e os caramujos, e crustáceos, como o caranguejo judeu e a jaca,

11 Já o temos feito – SANTOS, 2006, «O Municipalismo no Recente Panorama Historiográfico Madeirense», pp. 271-290; SANTOS, 2009, «A História Económica e Social do Arquipélago da Madeira no Recente Panorama Historiográfico (1985-2008): Uma Resenha Bibliográfica», pp. 263-315 –, e daí optarmos por uma outra abordagem.

12 Alguns nomes devem ser destacados, desde o século XIX, no estudo dos peixes da Madeira, os quais tão-só referenciamos: Richard Thomas Lowe, James Yate Johnson, Adolfo César de Noronha, Adão de Abreu Nunes e Günther E. Maul.

13 O trabalho de base para as considerações que se seguem é ABREU, BISCOITO, 1998, «A Vida nos Mares da Madeira», pp. 5-14. Dos mesmos autores, é também proveitosa a seguinte síntese: BISCOITO, ABREU, 1998, OsMares.

14 Escreveram Adolfo César de Noronha e Alberto Artur Sarmento: «O arquipélago da Madeira, como grupo de ilhas essencialmente oceânicas [...] não apresenta na periferia dos seus componentes as extensas e planas sapatas submersas que de ordinário se observam ao redor dos continentes.

O solo submarino imediato é bastante atormentado no relêvo e para além da sonda das 100 braças, [...] o fundo caminha rápido para os pélagos de 2.000 braças e mais, que se escancaram entre as Canárias e a Madeira, ou entre esta e o continente de Portugal.» (NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, p. 44).

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habitam nas zonas supralitoral e médiolitoral, assim como pequenos peixes que vivem em poças de maré. Nas zonas infralitoral e circalitoral, e sem sermos exaustivos, a fauna susceptível de ser capturada para consumo humano é a seguinte: castanheta, bodião, sargo, garoupa, moreia, alfonsinho da costa, mero, solha, salmonete, etc.15 Estas são as espécies de peixe que vivem nos fundos. Entre as que ocupam as camadas superiores da coluna da água devem citar-se o chicharro e a cavala (principais espécies que compõem a ruama), a sardinha, a boga, o pargo, etc.

Passando além deste domínio costeiro – cujo limite é conhecido dos pescadores pelos nomes de bariloubairilho –, deparamos com o domínio oceânico – que pode ser tido como atingindo 200 metros de profundidade e uma distância da costa não menor à de uma milha marítima. Este é o espaço dos tunídeos, intervenientes fulcrais na história da actividade da pesca na Madeira.

Segue-se ao domínio oceânico o domínio profundo, que atinge profundidades superiores a 200 metros – até 4000 metros. É dividido em duas zonas, a batial – de 200 a 2500 metros de profundidade –, e a abissal – com depressões superiores aos 2500 metros. Algumas espécies de valor para o homem, neste domínio profundo, são a sapateira, certas espécies de tubarões (xaras, sapatas, etc.) e o peixe-espada preto.

Relativamente a peixes de água doce existiu apenas a enguia, ou eiró na nomenclatura ilhoa, que percorria, em determinada fase do seu crescimento, as ribeiras da ilha da Madeira16.

Os espaços marinhos próximos da orla costeira, que os oceanógrafos cartografaram, digamo-lo assim, eram também conhecidos dos pescadores, que os mediam e situavam usando métodos empíricos. Os pesqueiros, na realidade, perduraram na voz e na mente dos marítimos e a sua localização fazia-se através da intersecção de dois pontos situados em terra (geralmente acidentes geográficos e edifícios religiosos)17. Um levantamento exaustivo, usando especialmente fontes orais, desta cartografia – ou toponímia18 – marinha, consoante é entendida e denominada pelos pescadores, cumpria-se19.

15 Informações (nome científico, família, características morfológicas, hábitos, alimentação, distribuição e ocorrência espaciais e temporais, nome comum, processos, instrumentos e iscas utilizados na pesca, sabor e consumo) acerca das várias espécies piscícolas da Madeira podem ser vistas em: SILVA, MENESES, 1978, ElucidárioMadeirense, 3 vols., passim; NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, pp. 87-133; e NUNES, 1994, PeixesdaMadeira, pp. 45-241.

16 Hoje desaparecidas dos cursos de água. Em monografia sobre S. Vicente, ao norte da Madeira, Alberto Artur Sarmento assinala o facto de este peixe ser ocasionalmente visto em cardumes. E conta um facto que observou, aproveitando para traçar o ciclo de vida desta espécie de peixe: «Em Julho de 1928 observei uma profusão enorme de juvenis eirós entrados pela boca da Ribeira de S. Vicente, de 5 centimetros, se tanto, em cardumes subindo para montante, uns, quási transparentes, os maiores, outros, encurtados por virem tomando já a pigmentação. Nascidos no golfo do México, nas profundidades do Mar de Sargaços, executaram uma longa viagem, entre-águas, até chegaram ali as pequeninas fémeas, para robustecer-se e crescer durante anos, até que, em chegando à época acordada para a reprodução, de novo volvem ao mar onde permanecem os machos com características de profundidade, e as fémeas se modificam também, na fase da desova.» (SARMENTO, 1944, VilaeFreguesiadeS.Vicente.IlhadaMadeira, p. 67).

17 Maria de Lourdes dos Santos Costa, relativamente ao Porto Santo, deixou assim registado: «Peixe finíssimo, saboroso todo ele, desde o modesto chicharro ao aristocrático salmonete. Os sítios mais ricos são bem conhecidos dos homens do mar, que os marcam a olho em referência aos picos, às torrezinhas das capelas. E põem-lhe nomes: Mar do Giba, Feiteiras, Lajedo Lajedinho do Mulato, Pedra de Nossa Senhora, etc.» (COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, p. 15). Diz ainda o Padre Eduardo Pereira: «PESQUEIROS – Os locais que servem de viveiro ou oferecem alimento preferido pelas várias espécies de peixes existentes e as de passagem no mar insular, são assinalados por pontos de referência da terra e procurados pelo encontro de duas linhas rectas imaginárias. O pescador está tão prático na determinação dos pesqueiros para cada espécie de peixe que os demanda de dia e de noite com uma certeza matemática.» (PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, p. 105).

18 «É interessante notar que, à semelhança da toponímia terrestre, os pescadores conhecem os pesqueiros do arquipélago por uma toponímia propria.» (SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I, p. 298).

19 Diga-se que João Adriano Ribeiro, nas suas monografias sobre vários concelhos e freguesias do arquipélago, tem contribuído para esta recolha; por exemplo, em monografia sobre o Porto do Moniz, de acordo com «indagações» levadas a cabo por este autor, encontramos nomeados os seguintes pesqueiros: Pedra do Marracho; As Pedras;

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Sabemos ainda que os madeirenses tinham nas águas circundantes das desabitadas ilhas Desertas um importante recurso piscatório: o que levou, tanto quanto nos apercebemos, a uma certa especialização de embarcações – que conhecemos por barcos das Desertas –, e, provavelmente, de pescadores de determinados núcleos20. As ilhas eram desabitadas, na verdade, justificando-se a presença do homem ali apenas para pescar e caçar. Neste aspecto era uma verdadeira estação venatória e piscatória21.

Os pescadores madeirenses aventuraram-se ainda, pelo menos nos séculos XV e XVI, aos bancos pesqueiros da costa ocidental de África, até ao Golfo da Guiné22, e, como não podia deixar de ser, ao mar das ermas ilhas Selvagens23.

De qualquer modo, não podemos fugir à questão: os recursos marinhos são bastos ou insuficientes? Os oceanógrafos e os zoólogos confrontam o conhecimento científico exposto com a pequena relevância que o sector de actividade da pesca teve e tem24; os historiadores enunciam factos avulsos e asserções gerais, um pouco fundamentadas, estas, nos primeiros testemunhos narrativos, dos séculos XV e XVI, sobre este espaço insular (como os de Manuel Constantino25, na esteira de Giulio Landi26, e Cadamosto27). Pensamos que, de facto, os recursos, apesar de diversificados28, são exíguos29, mas uma análise diacrónica – o mais possível quantitativa (e será

Cabeço Baixinho; Pé de Poita; Cabeço do Moinho; Largo do Mesinho; Pedra Laje; Pedra do Capitão; Canto da Ponte (RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz–subsídiosparaahistóriadoConcelho, p. 127. Igualmente de relevância: o trabalho do Padre Eduardo Pereira, que já registou «[...] alguns dos principais pesqueiros dos maiores centros piscatórios com seus alinhamentos ou pontos de referência populares», inclusive apresentando três mapas – um concernente às águas circundantes da Madeira, os outros relativos ao Porto Santo e às Desertas – e fornecendo os «Pontos científicos de referência dos principais pesqueiros» (PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, pp. 107-114); e as referências a «Zonas de Pesca», por Adão Nunes (NUNES, 1994, PeixesdaMadeira, pp. 243-252).

20 Veja-se RIBEIRO, 1999, AsIlhasDesertas, pp. XIX, XXVII.

21 As Desertas «quasi são exclusivamente exploradas pela caça e pela pesca. [...] A pesca igualmente ali chamava grande frequencia de pescadores, abarracando na ilha por alguns dias caravanas de

caçadores ou de pescadores, que se destinavam áquellas expedições venatorias e piscatorias.» (LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, pp. 8 e 9).

22 VEIRA, 1995, «As Riquezas Novas e os Novos Mercados de Procura e Venda. As Ilhas Atlânticas», p. 621.

23 Também explorado por espanhóis (SARMENTO, 1906, AsSelvagens, pp. 29, 36).

24 «Desde os tempos da descoberta e povoamento da Madeira até à actualidade, a relação dos madeirenses com o mar não se manifestou tão próxima quanto a natureza, à partida, o poderia sugerir. […]

Não quer isto dizer que o mar tenha sido abandonado ou desdenhado na história da Madeira. Antes pelo contrário, já que nela se inscreveu um dos eventos de maior significado na história da exploração dos recursos vivos marinhos de toda a humanidade. Trata-se da pesca do espada preto, Aphanopuscarbo (Lowe, 1839), um empreendimento madeirense, que constitui, tanto quanto conhecemos, a primeira experiência mundial de pesca comercial de grande profundidade.

É essa dualidade, caracterizada por um certo distanciamento e pela singularidade de algumas interacções entre o homem madeirense e o seu mar, que marca a vida nos mares da Madeira. […]

Apesar da grande diversidade biológica, ao nível específico, que povoa os mares da Madeira, a pesca não constitui uma actividade de grande peso económico.» (ABREU, BISCOITO, 1998, «A Vida nos Mares da Madeira», pp. 6, 8).

25 «O mar da Madeira é abundante em peixe e do melhor.» (CONSTANTINO, 1930, HistoriadaIlhadaMadeira, p. 23).

26 «Os mares da Madeira produzem muitos e bons peixes [...].» (apud ARAGÃO, 1981, AMadeiraVistaporEstrangeiros.1455-1700, p. 87)

27 «DaIlhadePôrtoSantoondeaportou.[...] Note-se que em volta desta ilha se acham grandes pescarias de dentais e doiradas velhas, e outros bons peixes.»

(apud ARAGÃO, 1981, AMadeiraVistaporEstrangeiros.1455-1700, pp. 35, 36).

28 Com efeito, as espécies de peixe nas águas madeirenses são diversificadas – o que não significa abundância. «Apesar das 250 espécies descritas, as águas que rodeiam a Madeira não são tão ricas como as que orlam as costas de Portugal, e não sendo possível o emprego das redes para a maior parte dos peixes, capturam-se menos animais com um esforço muito maior.» (RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 103).

29 Não resistimos em trazer à liça um facto histórico, dando voz a Otília Fontoura: «Acontecia, [...] que, o recolhimento fundado [de Santa Teresa de Jesus] não poderia passar a mosteiro professo da ordem da bem-aventurada Santa Teresa de Jesus, dado que a regra da Ordem do Carmo, proibia o uso da carne, exigia o recurso ao peixe, lacticínios

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possível?) – do produto da pesca na história da Madeira ajudaria a confirmar, ou infirmar, pelo menos para os séculos XV a XIX, grosso modo, tal consideração. Ademais, até aos inícios do século XIX, época para a qual dispomos de factos e tendências, as importações de peixe salgado e fumado estão entre as mais relevantes na economia externa da Madeira. Que mecanismo económico – ou de outra ordem – explicaria a importação de um género se do mesmo houvesse abundância no mercado de destino? Acresce que as características dos recursos têm de ser cotejadas com a pressão e evolução do mercado consumidor – a Madeira, note-se, é desde cedo uma das regiões com maior densidade populacional do espaço nacional.

A protecção destes recursos naturais constituiu competência dos vários poderes do arquipélago – nomeadamente o concelhio. No Funchal, em meados de Quinhentos, segundo as posturas camarárias, proíbe-se a pesca «com rede ou tezão nem outra armadilha» de peixe miúdo30. A mesma Câmara, em 1619 e 1626, proibiu o uso de redes de pesca31 e, em 1623, interditou o de redes de fole, sancionando ainda as peixeiras que disponibilizassem ao consumidor o peixe capturado com estes instrumentos32. Note-se que os aparelhos nomeados são aqueles que geralmente estão associados a um mais rápido esgotamento de recursos piscícolas, devido a uma pesca não selectiva.

Uma questão relevante é a da evolução histórica – desde que o Homem ocupou este espaço insular – dos recursos ictiológicos, em termos de espécies existentes. A esse respeito, Azevedo e Silva, debruçando-se sobre a história dos primeiros três séculos da Madeira, considera que a fauna piscícola, não terá sido objecto de mutação relevante. Indício apontado é o que se explana em cinco estrofes da epopeia Insulana, de Manuel Tomás, autor madeirense; nesta composição poética são referidas as melhores espécies de peixe existentes nos mares da Madeira33 – de certo modo, as que ainda o são hoje.

e legumes. Ora, sabemos que o peixenãoabundavana Ilha e, precisamente no século XVII, a falta de pescado fez-se sentir de tal forma na Madeira, que havia necessidade de recorrer ao peixe da Berbéria, em Marrocos, e das Canárias. O fundador foi-se, pois, consciencializando de que seria necessário optar por outra regra, uma vez que, para prescindir do uso da carne, precisavam de recorrer aos ovos, lacticínios e peixe. Ora, a falta de pescado era um grave problema.» (FONTOURA, 2000, AsClarissasnaMadeira– UmaPresençade500anos, p. 159; o itálico é nosso).

30 SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I, p. 298.

31 VIEIRA, MENESES, RODRIGUES, 1990, «O Município do Funchal (1550-1650). Administração, Economia e Sociedade. Alguns elementos para o seu estudo», p. 1033.

32 VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII, p. 188.

33 São estas as estrofes de Manuel Tomás: «122 Do que agora apassento vigilante / Nestes Aequoreos campos, Neptuninos, / Será por varios segres abundante, / E

elles pella bondade peregrinos, / Aonde o Salmonete mais ouante, / Nestes Paços de Thetis crystallinos, / A gloria terá sempre dos melhores, / Entre todos os mudos Nadadores.

123 Bem a segunda gloria merescida / Da Garóupa será, por tam prezada: / Que a terçeira, a bondade conhescida / Do

Alfonsîm, à tem já conquistada; / A quarta ao Requeime lhe hé diuida / Posto que com cabeça auantejada: / A fria Abrothea em quinta se sublima: / Na sexta a Castanheta, por de estima.

124 Dos pescados mayores, com alteza / A Pescada louuor terá mais largo: / O cherne por sabor, & por grandeza: / Por

leue o Bodiaõ; por fresco o Pargo: / A Muge na tarrafa, por limpeza: / E por mimoso mais, da pedra o Sargo: / E a Saleminha gorda, por dourada.

125 O Pachaõ fresco: o Escolar de estima, / Pera presentes altos salprezado: / Com habito o Goráz, que sede imprima,

/ Com ventaja suprema, ao dourado; / A Lula que sem sangue se sublima: / E por pinque o Vezugo dezejado: / Roncador, Enxaréo, Roccáz, Espada, / Coelho, Enxoua, Attum, Gallo & Dobrada.

126 Terá de verdemar & azul vestida, / A Caualla dos pobres estimada: / Sadîa a Bóga: & a Sardinha auida / Em toda à hora

aqui por regalada, / A Seyfia de preto guarnescida: / A Palombeta em prata, & verde honrada / Da Costa o Garapáo; Congro da Praya. / Bicudadoalto: do tresmalho a Raya.» (apud NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, pp. 16-17; o itálico é nosso).

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Abastecimento

Quanto ao abastecimento, devemos reafirmar que desde cedo se fez a importação de peixe salgado e fumado. Primeiramente, sintetizamos nós, de Portugal Continental (Lisboa, Algarve), das Canárias e do Norte de África (Santa Cruz de Berbéria é a origem referenciada) e de Cabo Verde – e isto, tanto quanto sabemos, desde os séculos XV até ao XVIII. A partir da implantação na ilha da Madeira da comunidade dos homens de negócio britânicos, as origens diversificam-se. E, acrescentemos, a hierarquia dos centros de emissão desta mercadoria modifica-se. A partir mormente do século XVII, são o Norte da Europa – Irlanda, Escócia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Norte de França (com a sardinha e o arenque, sobretudo este) –, as colónias inglesas da América do Norte – que serão, a partir de 1776, os Estados Unidos da América (com o bacalhau) –, e a Terra Nova (bacalhau) os mercados abastecedores deste espaço atlântico34. Esta realidade, conhecemo-la grosso modo até inícios do século XIX. Estão feitos, pois, os estudos que dilucidam o comércio externo da Madeira, nos seus traços gerais, e explicitam a posição deste arquipélago nas latitudes e longitudes do oceano Atlântico, durante a Época Moderna. Restaria uma perscrutação dos mesmos fenómenos na Época Contemporânea.

O poder municipal tinha, entre as suas principais atribuições, o abastecimento e a gestão dos recursos naturais – do mar e da serra – no respectivo espaço de influência ou jurisdição. As Câmaras tentavam providenciar, na verdade, o escorreito abastecimento dos povos e, na Época Moderna – período em que estas questões estão de facto estudadas e elucidadas na Madeira –, depois dos cereais e da carne, o pescado era quiçá o género alimentício que mais merecia as atenções das vereações35.

É claro que cada município da Madeira tem a sua história, a qual passa, seguramente, pelos recursos naturais específicos de que dispõe, assim como pela forma como decide regulamentá-los e utilizá-los.

Reconhecemos, na verdade, o efeito centrípeto do Funchal, capital e centro urbano da ilha da Madeira, ao fazer confluir a si o peixe capturado por marítimos de outros núcleos piscatórios36, fenómeno que poderá ser explicado por uma maior rentabilidade do peixe vendido na capital. Mas seria necessário, para fundamentar tal consideração, comparar os preços entre vários espaços – em diferentes concelhos – do pescado. Uma história dos preços na Madeira, todavia, ainda queda por fazer-se37.

De qualquer modo, apresentem-se alguns factos históricos. Um dos núcleos piscatórios fornecedores do convento da Encarnação do Funchal, na segunda metade do século XVII e no

34 Vejam-se os seguintes estudos: SILBERT, 1997, Uma Encruzilhada do Atlântico: Madeira (1640-1820), pp. 78, 84, 103, 104; DUNCAN, 1972, AtlanticIslands.Madeira,theAzoresandtheCapeVerdesinSeventeenth-CenturyCommerceandNavigation, pp. 50-51, 70, 72, 169, 246; VIEIRA, 1987, OComércioInter-InsularnosSéculosXVeXVI.Madeira,AçoreseCanárias(AlgunsElementosparaoseuEstudo), pp. 121, 149, 152, 154; GUIMERÁ RAVINA, 1990, ««Las Islas del Vino» (Madeira, Azores y Canarias) y la America Inglesa Durante el Siglo XVIII: Una Aproximacion a su Estudio», pp. 901, 904, 907; VIEIRA, MENESES, RODRIGUES, 1990, «O Município do Funchal (1550-1650). Administração, Economia e Sociedade. Alguns elementos para o seu estudo», pp. 1015, 1018; RIBEIRO, 1993, «Alguns Aspectos do Comércio da Madeira com a América do Norte na Segunda Metade do Século XVIII», pp. 389-390; SILVA, 1993, «A Navegação e o Comércio vistos do Funchal nos Finais do Século XVII», p. 374; e, sobretudo, SOUSA, 1989, OMovimentodoPortodoFunchaleaConjunturadaMadeirade1727a1810.AlgunsAspectos, pp. 121, 129, 132, 138, 140-141, 142-143, 144, 145-148, 149-152, 158-160.

35 «Se a crónica dependência frumentária determinava frequente intervenção municipal, também o pescado e a carne mereceram atenções dos oficiais concelhios, tendo em vista o normal abastecimento das populações.» (VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII, p. 188).

36 RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 105.

37 Colhem-se alguns dados, relativos, todavia, a peixe importado (bacalhau, de 1669 a 1769), em GOMES, 1995, OConventodaEncarnaçãodoFunchal.SubsídiosparaasuaHistória(1660-1777), pp. 206-211.

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século XVIII, era Câmara de Lobos; além disso, as clarissas também se alimentaram de pescado advindo de Santa Cruz, de Machico, da Madalena do Mar, das ilhas Desertas38. Era peixe fresco, com certeza39. Certos indicadores levam a crer que, no concelho do Funchal, onde está o único porto de entrada de mercadorias vindas do exterior, o peixe fresco era vitualha dos abastados (que consumiam, também, como não podia deixar de ser, a exemplo das franciscanas da Encarnação, peixe importado, seco e salgado). O pescado salgado e seco era alimento – e raro – dos humildes. Na referida comunidade conventual, os trabalhadores (da cerca e da horta) comiam, ao que parece de modo preponderante40, peixe não fresco – uma das modalidades de recompensa, conjuntamente com o pagamento em numerário, pelas tarefas desempenhadas.

O consumo é pois diferenciado – e essa diferenciação deve ser pormenorizada. Há já alguns estudos sobre a História da Alimentação na Madeira41, mormente com base em relatos de estrangeiros, onde se elencam alimentos e se contribui para o estabelecimento de ementas distintas, de acordo com o estatuto social e profissional dos consumidores. Seria importante levar mais além este estudo, bem como cotejar o consumo alimentar com os recursos naturais próprios de cada micro-espaço insular, com as dinâmicas de comércio interno e com a importação de víveres do exterior42.

Diga-se ainda que outros pólos – os quais, por comparação com o Funchal, podem considerar-se como de relevância intermédia –, poderão ter tido, sem dúvida em menor grau, este efeito centrípeto, em contexto local mais restrito. João Adriano Ribeiro, sem apresentar fontes, refere que o pescado remanescente capturado pelos pescadores da Tabua era vendido na Ribeira Brava43. Porventura outros núcleos piscatórios, implantados em freguesias vizinhas desta, terão também entrado nesta distribuição.

A mais disto, a captura de peixe em certos núcleos piscatórios, secundários, poderia ser insuficiente para o consumo local44, daí decorrendo um abastecimento levado a cabo por pescadores de outros espaços madeirenses. Na verdade, tais questões devem colocar-se, nem que seja pelo facto de, em termos gerais, as dinâmicas evolutivas, as estruturas e as redes do mercado interno permanecerem por deslindar, sobretudo desde o século XVIII.

38 GOMES, 1995, OConventodaEncarnaçãodoFunchal.SubsídiosparaasuaHistória(1660-1777), p. 93.

39 Recebiam as franciscanas, ainda, peixe do norte de África e das Canárias (GOMES, 1995, OConventodaEncarnaçãodoFunchal.SubsídiosparaasuaHistória(1660-1777), p. 93). No convento de Nossa Senhora das Mercês, também se degustava peixe vindo de Câmara de Lobos. Diz uma historiadora que, na escrituração desta comunidade, «[...] apenas encontramos mencionado o bacalhau, o salmão, o arenque e o cherne, que se pescava a noroeste do Porto Santo. Contudo, conhecendo-se as diversas espécies de peixe então consumidas pela população e nos outros mosteiros do Funchal, poderemos concluir que também gastariam pargo, chicharros, sardinha e atum fresco, fumado e salgado, até porque as escrivãs fazem algumas vezes referência a peixe de vários preços e qualidades. O bacalhau era a espécie mais consumida pela comunidade. A sua aquisição era constante, sendo também oferecido com frequência.» (FONTOURA, 2000, AsClarissasnaMadeira– UmaPresençade500anos, p. 344).

40 GOMES, 1995, OConventodaEncarnaçãodoFunchal.SubsídiosparaasuaHistória(1660-1777), p. 59.

41 Vejam-se, entre outros: SILVA, 1994, Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900); VERÍSSIMO, s.d., «À Mesa no Século XVIII», pp. 35-48; VIEIRA, 2004, «A mesa e a cozinha na história madeirense», pp. 8-15; AGRELA, 2005, NotassobreaMadeiranaliteraturadeviagensinglesa(1850-1894), pp. 192-193.

42 Um inquérito que se debruçasse sobre a caracterização da dieta alimentar (relativamente a épocas para as quais existam fontes quantitativas), em termos de nutrientes e valor energético, seria deveras relevante. Tanto quanto conhecemos, um primeiro esforço meritório nesse sentido, respeitante sensivelmente aos meados do século XX, é o de RODRIGUES, 1953, QuestõesEconómicas. I.ÀMargemdaColonianaMadeira:Produção.–Divisãodapropriedade.–Níveldevidadapopulaçãoruraleagrícola.–PortoSanto.–Condiçõesderessurgimento, pp. 64-76.

43 RIBEIRO, 1998, RibeiraBrava–SubsídiosparaaHistóriadoConcelho, p. 188.

44 O Padre João Vieira Caetano, em artigo saído no periódico OJornal, em 1937, diz precisamente que «Sendo reduzidos e de pouca actividade [os pescadores da Ponta do Sol], a maior parte do peixe que se vende no mercado, é fornecido quase quotidianamente por barcos de fora, particularmente de Câmara de Lobos.» (CAETANO, PITA, 2007, NotasHistóricaseOutrasEstóriasdaPontadoSol, p. 186).

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Regressando ao abastecimento, sabemos que, já desde o século XVII, no município de Machico regulamenta-se que parte do produto da pesca, feita pelos pescadores desta vila, teria de ser obrigatoriamente deixado ali, para abastecimento dos machiquenses45. Com efeito, os concelhos pugnavam sempre, como dissemos, em épocas de crises de subsistância – que não são, de modo nenhum, episódicas na História da Madeira – por um ideal de autarcia económica. Ajunte-se à escassez de alimento as restrições no consumo decorrentes do calendário religioso – e teremos explicadas as atenções dadas pelos concelhos, das quais existem factos documentados, ao abastecimento de peixe.

Se surpreendemos, de facto, normas que visam cercear, parcialmente pelo menos, a transacção fora do espaço concelhio – de modo a assegurar o abastecimento, reforce-se –, conhecemos também outros preceitos que têm por objectivo coagir os pescadores a exercerem a faina.

Ainda em Machico, a Câmara obrigou marítimos a irem à pesca46, por verificar-se que empregavam-se estes, preferencialmente, nos barcos de carreira; isto em 167947. Em Santa Cruz, em finais do século XVIII (1793), determina-se no sentido da totalidade dos arrais de barcos da jurisdição santacruzense venderem o peixe no açougue da vila48. Na Ponta do Sol, na década de 70 de Seiscentos, na óptica do poder municipal, os pescadores não se dedicavam à faina tanto quanto o desejável e prejudicavam o abastecimento por venderem o pescado fora da jurisdição municipal49; em 1780, deliberou-se que os proprietários de embarcações piscatórias deste município eram proibidos de as utilizarem no transporte de mercadorias50.

Ora, desde já anotemos, em termos históricos percebemos uma relação – resta saber o quão estreita seria tal relação – entre a actividade da pesca e a do transporte marítimo interno. Até os séculos XIX e XX, quando se impôs a matrícula e numeração das embarcações piscatórias (por parte da Alfândega do Funchal, exercendo actividade fiscalizadora por intermédio de vários postos fiscais situados nos embarcadouros e portos da Madeira), e salvo melhor opinião, existiu uma dada oscilação ou alternância, entre os mesmos profissionais do mar, no desempenho ora de uma ora de outra actividades. O serviço na cabotagem51 insular, de resto, terá sido mais rentável para os homens do mar do que a pesca. Não obstante, permanece por fundamentar, de modo mais satisfatório, esta proposição.

As Câmaras pretendiam igualmente regulamentar o tipo de peixe capturado. E, de novo em Machico, nos séculos XVII e XVIII, é o peixe de escama – que se pode inserir no grupo de espécies

45 «O peixe em Machico era abundante, mas os pescadores teimavam em vendê-los, sobretudo no Funchal. Foram várias as deliberações camarárias para que a população local fosse abastecida. Uma delas, datada de 1617, recomendava que em Machico deveria ficar um quarto do pescado.» (RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 116). Outras medidas seguem-se, mais agudas – em 1638 e em 1640; neste ano, uma provisão «[...] advertia os homens do mar daquela localidade para que deixassem lá ficar, pelo menos, um terço do peixe», em virtude da escassez (VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII, p. 191; RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 117).

Observam-se ainda outras restrições concelhias; em Santa Cruz, em Janeiro de 1516, a vereação prescreve que somente de quinzena em quinzena possam os pescadores da vila vender no Funchal (SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I, pp. 372-373); na Ponta do Sol, por falta de pescado, proíbe-se em 1704 a venda em espaços exteriores ao da jurisdição concelhia (RIBEIRO, 1993, PontadoSol–subsídiosparaahistóriadoconcelho, p. 146).

46 Na Ponta do Sol, em 1727 e 1728, a Câmara tenta também obrigar os pescadores dos portos deste concelho a exercerem a faina diariamente, para que o peixe não faltasse (RIBEIRO, 1993, PontadoSol–subsídiosparaahistóriadoconcelho, p. 146).

47 VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII, p. 188.

48 SANTOS, 2008, OSalnaIlhadaMadeiranaSegundaMetadedeSetecentos–Penúria,PodereAbastecimento, p. 107.

49 VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII, p. 188.

50 RIBEIRO, 1993, PontadoSol–subsídiosparaahistóriadoconcelho, p. 148.

51 Veja-se, a este respeito, RIBEIRO, 1998, «A Cabotagem no Arquipélago da Madeira», pp. 147-166.

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conhecido por peixe-fino ou peixe bom – que, de acordo com o poder municipal, os pescadores teriam também de pescar, para que não houvesse exclusivamente a captura de atuns e gaiado, alimentos dos mais desfavorecidos52.

Neste mesmo concelho, na centúria setecentista, é do nosso conhecimento que o almotacé tinha, como uma das suas atribuições, a repartição do peixe pelos consumidores. Na verdade, indicadores aduzidos mostram que esta competência constituiu foco de problemas53, devido à necessidade de, nesta distribuição, estar regulamentado o provimento, em primeiro lugar, de certos grupos sociais privilegiados, dentro e fora de Machico (tendo, pois, a primazia comunidades conventuais do Funchal – que parecem assumir-se como verdadeiras consumidoras de peixe fresco, já o vislumbrámos –, o governador e capitão-general e os grupos da governança e elites de Machico)54.

Em Santa Cruz, de acordo com um capítulo de correição do corregedor do ano 1781, a repartição do peixe – e da carne – mostrava o quanto o privilégio, nesta sociedade de Antigo Regime, era na verdade garante de um acesso mais facilitado aos referidos géneros. Em primeiro lugar, era o corpo da vereação que deveria ser munido; depois o capitão-mor do distrito, autoridade máxima a nível local do corpo castrense; seguidamente, os clérigos e a nobreza – pequena nobreza, como só houve na Madeira nesta época –; os letrados (escrivão da câmara e tabeliães); e, só por fim, o povo55.

52 Em 1696, a Câmara de Machico, tendo em vista o abastecimento de peixe, «Obrigava [...] aos arrais dos barcos de pesca, sob pena de 500 rs., a pescarem, rotativamente, «peixe de escama», mais precisamente pargo e garoupa. Assim, diariamente uma embarcação deveria dedicar-se à pesca destas espécies, enquanto as outras poderiam ocupar-se da faina do atum» (VERÍSSIMO, 1998, «Poder Municipal e Vida Quotidiana: Machico no século XVII», p. 293). «Os oficiais camarários recomendavam também aos arrais que pescassem peixe bom para o povo, já que o peixe preferencialmente pescado pelos pescadores era o gaiado, conforme afirmam «iam todososdiaspescargaiados», pois seriam mais rentáveis, destinados à secagem, à extracção de óleo e aproveitamento da pele. Assim, em 3 de Setembro de 1724, lançam um termo «sobreosaraisdepescarhiremtomarpechebomperaopovo», e onde se estabelece que não vão pescar apenas gaiado «tratandodasuaconveniensiaenãodobemcomum».» (GOMES, 2002, Machico–AVilaeoTermo:FormasdoExercíciodoPoderMunicipal(finsdoséculoXVIIa1750), p. 190).

53 Leia-se Fátima Freitas Gomes: «O exercício do cargo [de almotacé] era, na verdade, sujeito a muitas pressões, já que a repartição e o controle da venda dos bens alimentares provocavam descontentamentos, devendo igualmente privilegiar as regras de precedência, pelo que equilibrar a oferta e a procura não era fácil. Ainda mais que o abastecimento de peixe estava, portanto, sujeito a privilégios especiais que os barcos deveriam respeitar para abastecer preferencialmente o capitão-general, os conventos da cidade e a governança da ilha.» (GOMES, 2002, Machico–AVilaeoTermo:FormasdoExercíciodoPoderMunicipal(finsdoséculoXVIIa1750), p. 80).

54 Refere Ana Madalena Trigo de Sousa: «Os recursos do mar eram igualmente importantes para o sustento da população de Machico, daí as providências da vereação em relação ao pescado. Estavam os arrais dos barcos de pesca da vila incumbidos de vender, em primeiro lugar, o peixe aos religiosos do convento de São Francisco, no Funchal, e ao governador e capitão-general, o que prejudicava o abastecimento dos habitantes de Machico; por outro lado, tinham os oficiais camarários prioridade na aquisição daquele género, nomeadamente às quintas-feiras santas. Todavia, apesar de haver estes grupos privilegiados, era intenção da Câmara zelar para que a população tivesse o seu quinhão. Enquadrava-se nessa perspectiva a adopção de medidas como a notificação dos arrais dos barcos, para que se comprometessem a vender à população um terço da pescaria e só podiam vender para fora da vila uma vez por semana. [...] Garantir a repartição do peixe, mesmo quando os arrais se mostrassem reticentes, era da responsabilidade da vereação, devendo, para o efeito, os almotacés apreenderem, logo que os barcos aportassem, a terça parte do pescado que era, então, vendida ao povo. Os arrais incumpridores estavam sujeitos a uma pena de prisão.» (SOUSA, 2004, OExercíciodoPoderMunicipalnaMadeiraePortoSantonaÉpocaPombalinaePost-Pombalina, p. 156).

55 O povo, isto é, «[...] goardando na qualidade e quantidade hua rectisima purpução, e atendendo ao Numero das pessoas de que se compuzerem as suas familias» (apud SOUSA, 2004, OExercíciodoPoderMunicipalnaMadeiraePortoSantonaÉpocaPombalinaePost-Pombalina, p. 157).

A posição social é com efeito factor relevante no acesso ao peixe. E, quando não permite uma primazia na compra, pode pelo menos permitir uma situação excepcional quanto à captura. Assim, ao bispo do Funchal foi concedido, em 1732, o privilégio de ter um barco para abastecimento privado. Tal privilégio decorre de um «[...] pedido [...] formulado ao rei pelo prelado, que alegara que, tendo mandado o seu vedor comprar peixe para si e para a sua família, algumas pessoas o tomavam, sem guardarem a atenção que lhe deviam, o que provocava um vexame; situação que podia ser evitada, argumentava o bispo, se tivesse um pescador certo que lhe fornecesse o peixe; e acrescentava que não

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O açambarcamento também restringia em muito a distribuição e transacção do pescado. Em 1782, a título de exemplo, na Ponta do Sol foi designado um dos homens bons do concelho com a competência de assistir à divisão do pescado no porto de Anjos, um dos ancoradouros deste município; tal medida deve-se ao facto de muitos consumidores não lograrem o acesso a este alimento, devido à açambarcagem por parte de alguns indivíduos56. No Funchal, nos princípios de 1784, em virtude de João Leacock, segundo os Procuradores dos Mesteres, vender bacalhau apenas numa fancaria – daí decorrendo prejuízo ao povo consumidor –, foi assentado que este comerciante haveria de redistribuir o peixe por outros estabelecimentos57.

A intervenção e controle dos concelhos não cessa nas normas e medidas referenciadas. Por acção ainda dos almotacés e dos guardas-mores, alonga-se tal intervenção na fiscalização da qualidade do pescado – fresco, seco, fumado, salgado – disponibilizado nas estruturas comerciais (fancarias e açougues até ao século XIX); na inspecção dos pesos e medidas; na afixação do preço a praticar58. Além disto, toda a actividade profissional requeria licença municipal. Assim acontecia, identicamente, com os arrais dos barcos de pesca, bem como com os exploradores de espaços comerciais e vendedores vários – ambulantes (almocreves) ou sedentários (pescadeiras ou peixeiras e fanqueiros).

A partir do século XIX, as Câmaras tentarão concentrar nas praças e mercados do peixe a venda do pescado, de modo a salvaguardar a qualidade indispensável do alimento para o consumo59. (Note-se, de passagem, que o mercado do peixe, no Funchal, foi várias vezes referido pelos visitantes estrangeiros.60)

A partir de meados do século XX – 1953, mais precisamente – estabeleceram-se lotas em vários pontos do arquipélago61.

Este comércio interno – no que toca à transacção do pescado, porém não somente –, dentro de um mesmo concelho, entre os vários concelhos, estabelecendo as ligações mais frequentes, os pólos e micro-pólos centralizadores, atendendo aos agentes e estruturas comerciais e ao controle e normatização das instâncias de poder – demanda, hoje, um estudo problematizador e de fôlego, em períodos de tempo latos (para se percepcionar evoluções e permitir comparações), com base em fontes diversificadas.

acarretaria prejuízo ao povo por haver muitos barcos na Ilha. O rei autorizou, mas sujeito às posturas da Câmara» (PETIT, 2009, AMadeiranaPrimeiraMetadedeSetecentos, p. 36).

56 RIBEIRO, 1993, PontadoSol–subsídiosparaahistóriadoconcelho, p. 148.

57 SANTOS, 2008, OSalnaIlhadaMadeiranaSegundaMetadedeSetecentos–Penúria,PodereAbastecimento, pp. 105, 254.

58 Colhem-se exemplos destes factos, relativos nomeadamente aos séculos XVI-XVIII, nos seguintes estudos (entre outros): VIEIRA, MENESES, RODRIGUES, 1990, «O Município do Funchal (1550-1650). Administração, Economia e Sociedade. Alguns elementos para o seu estudo»; SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I; VERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedadeMadeirensedoSéculoXVII; SOUSA, 2004, OExercíciodoPoderMunicipalnaMadeiraePortoSantonaÉpocaPombalinaePost-Pombalina; SANTOS, 2008, OSalnaIlhadaMadeiranaSegundaMetadedeSetecentos–Penúria,PodereAbastecimento, pp. 105, 108.

59 Alguns indicadores: no Porto do Moniz, a praça do peixe foi construída em 1894 (RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz–subsídiosparaahistóriadoConcelho, p. 126); em S. Vicente, existe nova praça em 1896 (VIEIRA, 1997, S.Vicente–UmSéculodeVidaMunicipal(1868-1974), p. 131); no Porto Santo, a construção do mercado do peixe conclui-se em 1889 (RIBEIRO, s.d., «III – Assuntos Históricos da Segunda Metade de Oitocentos», in ViagensRomânticasnoPortoSanto.Notícias, p. 23).

60 Um exemplo apenas: «I never saw a fi shmarket equal to that of Madeira [...] there is a glowing metallic lustre to be Um exemplo apenas: «I never saw a fishmarket equal to that of Madeira [...] there is a glowing metallic lustre to be found in the scale rarely to be met with in the feather. A choicer spot could not be selected by the icthyologist than Madeira, as it combines all the fishes of the Mediterranean, with many of those of the West Indies, and the coast of Africa; and its insular position catches, on their way, many migratory shoals, besides the regular frequenters.» (WILDE, 1840, NarrativeofaVoyagetoMadeira,Teneriffe,AndAlongtheShoresoftheMediterranean,includingaVisittoAlgiers,Egypt,Palestine,Tyrè,Rhodes,Telmessus,Cyprus,andGreece. [...], pp. 92-93). Veja-se AGRELA, 2005, NotassobreaMadeiranaliteraturadeviagensinglesa(1850-1894), p. 65.

61 PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, p. 122.

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Acrescente-se ainda, no que toca ao comércio interno, que as trocas directas eram, até há duas ou três décadas, realidade na Madeira. E, transmitindo um fenómeno exemplar, sabe-se que, no quadro de um núcleo piscatório do norte da Madeira, Seixal, as mulheres dos pescadores trocavam o peixe fresco que sobejava da faina por produtos da terra, no espaço da mesma freguesia ou na freguesia vizinha de S. Vicente62.

Seria deveras relevante conhecer como se processava a divisão do trabalho – no seio da comunidade, da família, entre mulheres e homens, entre adultos e crianças – nos núcleos piscatórios; na falta de uma análise deste teor, avançamos com a hipótese, a confirmar ou infirmar, que, de um modo global, sobretudo fora de circuitos e estruturas de mercado institucionalizados, o homem colhe e a mulher distribui.

Actividade da Pesca

A actividade piscatória é uma das constantes económicas da História da Madeira. Os indicadores são escassos – ou quase inexistentes – no início do povoamento63 do arquipélago e tornam-se substanciais consoante percorremos a Época Moderna e, sobretudo, os séculos XIX e XX.

Temos de principiar a análise desta temática com uma pergunta. Quais foram os núcleos piscatórios da Madeira? Adolpho Loureiro fornece uma panorâmica respeitante ao ano de 1909. Refere como portos piscatórios os seguintes: Funchal, Caniço, Porto Novo, Aldonça, Santa Cruz, Seixo, Machico, Caniçal, Porto da Cruz, Faial, São Jorge, Ponta Delgada, São Vicente, Seixal, Porto do Moniz, Ponta do Pargo, Paul do Mar, Jardim do Mar, Calheta, Fajã do Mar, Madalena do Mar, Anjos, Lugar de Baixo, Tabua, Ponta do Sol, Ribeira Brava, Campanário, Câmara de Lobos e Porto Santo64.

Ora, de acordo com estes dados, a pesca exercia-se um pouco por toda a Ilha da Madeira, de modo dissemelhante ao que decorre na actualidade65. Os estudos que se debruçam sobre épocas passadas apontam, todavia, cinco ou seis destes núcleos piscatórios como os principais: Câmara

62 RIBEIRO, s.d., HistóriaeEstóriasdoSeixal, pp. 14, 66; RIBEIRO, 1998, «Reflexões sobre o Estudo dos Municípios Rurais da Madeira», p. 479. Diga-se também, em jeito de acréscimo, que as mulheres do Paul do Mar vendiam e trocavam o peixe – atum – nas freguesias próximas, «[...] desde os Prazeres até a Ponta do Pargo» (PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, p. 125).

63 Fernando Jasmins Pereira, acerca da economia da capitania do Funchal nos idos de Quatrocentos – e não obstante, em nosso entender, conceder demasiada relevância à actividade piscatória –, refere que «Embora naturalmente seja lícito calcular que a pesca deve ter constituído uma actividade económica de certa importância, quase nenhuns dados se encontram a seu respeito.» Apenas nos despachos de D. Diogo, de 1483, se encontra notícia; decidiu, com efeito, este Donatário «[...] estabelecer um posto onde todos os pescadores tivessem de ir varar seus bateis e lhes fosse cobrado o direito devido das pescarias, determinação esta mantida apesar das reclamações em contrário – o que nos mostra ser esta uma actividade de alguma importância.» (PEREIRA, 1991, «Alguns Elementos para o Estudo da História Económica da Madeira (Capitania do Funchal – Século XV)», pp. 80-81).

Atente-se ainda numa síntese: «O povoamento e exploração do espaço madeirense filia-se numa dupla actividade; com efeito, o carácter agrário desta sociedade nascente tem de compatibilizar com as necessidades derivadas da subsistência e das solicitações externas. Ambos os sectores alicerçaram o rumo desta economia, definida, por um lado, pela aposta numa agricultura de subsistência, assente nos componentes da dieta alimentar europeia, e, por outro, pela imposição de produtos estranhos, capazes de activarem o sistema de trocas.

A estrutura do sector produtivo adaptar-se-á a estas circunstâncias. Em consonância com a actividade agrícola, teremos a valorização dos recursos do meio insular, que irão integrar os produtos para alimentação – pesca, silvicultura – e as trocas comerciais – urzela, sumagre, madeiras e derivados, como o pez.» (ALBUQUERQUE, VIEIRA, 1987, OArquipélagodaMadeiranoSéculoXV, p. 43).

64 LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

65 «A pesca, ao contrário do que hoje acontece não era a actividade exclusiva de alguns núcleos do sul, pois se alargava a toda a ilha.» (VIEIRA, 1998, «O Mar na História da Madeira», p. 28).

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de Lobos66, Funchal, Machico, Paul do Mar, Caniçal67, Porto Santo. Os cinco primeiros – situados na costa sulista madeirense68 – provavelmente são os que merecem, verdadeiramente, a designação de comunidades piscatórias: pela relevância da actividade exercida, no contexto da localidade onde se implantavam; e pelas práticas, dinâmicas e tradições sociais que forjaram, em povoados e bairros69 circunscritos.

Diga-se, todavia, que os núcleos de Santa Cruz, da Ribeira Brava e Calheta (no sul) e do Seixal, Porto Moniz e Porto da Cruz (ao norte) poderão ter atingido, em dados momentos que, por agora, não podemos balizar de modo circunstanciado, uma relevância não despicienda – o que hoje, reafirme-se, de modo algum se observa.

De grande interesse será, pois, a questão da evolução histórica – nascimento, progresso, declínio70 e morte71 – dos núcleos piscatórios, perscrutável com indicadores concretos ou análises fundamentadas de ordem económica, e ainda através de inquéritos de ordem social e etnográfica dos centros piscatórios72, principalmente quando os dados numéricos e estatísticos não abundam.

Quanto aos núcleos piscatórios menos relevantes73, seria interessante percebermos essa

66 «A população cedo se dedicou à exploração das riquezas naturais, à pesca e à agricultura. [...] Esta freguesia é dos centros piscatórios mais importantes da Madeira, com um número considerável de homens que se dedicam a tão árdua tarefa. Uma das variedades de peixe capturado é o peixe espada preto, muito saboroso e que abastece o mercado do Funchal. Outra espécie característica desta região é o peixe denominado vulgarmente de «gata» que depois de seco e demolhado constitui um dos pitéus que acompanham o copo de vinho ou a «ponche» após a chegada da faina.» (FREITAS, SANTOS, 1990, «Notas sobre a Freguesia de Câmara de Lobos, p. 180).

67 Sobre esta freguesia, um artigo assume-se como fulcral: ORNELAS, 1995, «Os Meios de Vida e Reprodução da Unidade Doméstica numa Povoação Piscatória Madeirense: O Caniçal», pp. 121-150.

68 «Também na pesca encontramos o contraste várias vezes assinalado, entre o Norte e o Sul [da ilha da Madeira]» (RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 105).

69 Alguns construídos pelas instâncias administrativas na Madeira, provavelmente reproduzindo o carácter gregário da comunidade. Um exemplo: no ano de 1958, encetou-se a edificação de um bairro para os pescadores de Machico (RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 121), os quais viviam, na sua maioria, no sítio de Banda de Além (SILVA, 1934, DicionárioCorográficodoArquipélagodaMadeira, p. 22). No Funchal, seguindo as palavras de António Aragão, «[...] ainda antes de 1425, se implantou e depois desenvolveu uma modesta concentração urbana na zona de Santa Maria do Calhau. Tratava-se dum aglomerado composto por simples construções [...] onde vivia, na sua quase totalidade, gente laboral ligada à prática de variados ofícios – carpinteiros, pedreiros, ferreiros, sapateiros, tecelões, pescadores e uns quantos mais. Em resumo, focada sob diversos aspectos (sociológico, económico ou cultural), essa remota povoação não passava afinal dum povoado de artesãos.» (ARAGÃO, António, 1987, ParaaHistóriadoFunchal.2.ªediçãorevistaeaumentada, pp. 29-30; o itálico é nosso). No caso de Câmara de Lobos, leia-se o que se segue: «O lugar de Câmara de Lobos agrupa-se no sopé e encosta dum pico mediano […], onde um cabeço de rocha, embora não molhada, chamado – Ilhéu – aplanado ao cimo em talhe de palmilha é como que uma colmeia de pescadores onde enxameiam garotitos cheirando a peixe e sabendo nadar.» (SARMENTO, 1953, FreguesiasdaMadeira, p. 35). Hoje o Ilhéu, enquanto bairro de pescadores, já não existe.

70 O Padre Eduardo Pereira refere-se, provavelmente por uma observação de factos coevos, ao declínio do núcleo piscatório do Paul do Mar, notando que a «[...] população deste já reduzido núcleo piscatório decresce devido à emigração dos seus mais válidos, corajosos e activos pauleiros que debandam fascinadouramente para terras estranhas como Estado da Califórnia, Panamá e África do Sul onde enriquecem. Os velhos e os novos é que se dedicam às campanhas do atum.» (PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, p. 125).

71 No que toca à freguesia dos Canhas, Gabriel Pita diz que «A actividade pesqueira, que até à década de 1960 teve alguma importância sócioeconómica, com núcleos no Montado (Fajã) e nos Anjos, é hoje [início do século XXI] apenas uma nostálgica recordação.» (PITA, 2003, AFreguesiadosCanhas.Umcontributoparaasuahistória, p. 21).

72 Um exemplo deste tipo de pesquisas, o único note-se, é o estudo de Pedro Ornelas sobre o Caniçal, no qual o autor queixa-se da inexistência de inquéritos semelhantes acerca de outras comunidades piscatórias madeirenses, para efeitos comparativos (ORNELAS, 1995, «Os Meios de Vida e Reprodução da Unidade Doméstica numa Povoação Piscatória Madeirense: O Caniçal» p. 121).

73 Em artigo de 1937, publicado num periódico regional, lê-se que «A colónia marítima foi sempre diminuta, na Ponta do Sul[sic] [Sol]. Os poucos barcos de pescadores, não se aventuram para muito longe da costa, nem para o mar alto, muito menos para as ilhas Desertas ou para a do Porto Santo, como costumam fazer os pescadores de outras partes da Ilha, como Machico, Santa Cruz, Paul, etc.» (CAETANO, PITA, 2007, NotasHistóricaseOutrasEstóriasdaPontadoSol, p. 186).

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condição de marginalidade (dentro de um sector económico que é também ele marginal), através porventura da análise das seguintes variáveis: as condições que o mar oferece em termos de navegação; a apropriação e demanda de recursos (sabemos que pescadores do sul, camara-lobenses e pauleiros74, aventuraram-se pela costa norte; não nos parece que tal atitude tenha sido posta em prática de modo sustentado e continuado, pelas comunidades nortenhas); a faina que era exercida à vista de terra e não em mar alto; a exploração de outros recursos mais rentáveis – e concorrentes –, com base no entendimento da extracção dos frutos do mar enquanto mero expediente de subsistência ou de simples acréscimo aos frutos da terra; a dedicação parcial75 à faina; a dinâmica do mercado interno; a configuração das baías e dos ancoradouros (é significativo que os portos menos relevantes correspondem sempre a ancoradouros maus76 ou, na melhor das hipóteses, sofríveis); a constituição – ou não – de uma verdadeira tradição piscatória.

Uma história de tentativas de fomento, planeados e dirigidos (por instâncias de poder na Ilha) ou patrocinados (por instâncias de poder sobre a Ilha, como a Coroa), é também, em certa medida, a da pesca da Madeira. Algumas épocas são fulcrais nestes ensaios, ou esboços de ensaio, de desenvolvimento da actividade piscatória na Madeira e no Porto Santo. A segunda metade de Setecentos – quando se faz eco de políticas e projectos de inspiração pombalina, segundo uma matriz racionalista de apropriação e de exploração dos recursos marítimos e terrestres, visando o desenvolvimento das actividades do sector primário – e os inícios do século XIX são bem uma dessas épocas.

No entanto, diga-se, estes desideratos planificadores e desenvolvimentistas – e não só no que concerne à actividade piscatória – saem gorados. As intenções existem, mas os empreendimentos não vingam. Uma história das condicionantes destes fracassos deslindaria aspectos fulcrais dos

74 Na verdade, conta Alberto Artur Sarmento, sem indicar fonte, que, a partir da década de 60 do século XIX, pescadores de Câmara de Lobos e, depois, do Paul do Mar, «[...] atraídos pela baratesa e maior abundância dos produtos locais, se abalançaram a vir tentar fortuna e exercer ali [em S. Vicente] a sua profissão, trazendo aparelhos próprios para a pesca de profundidade, até ali não empregados nesta região do norte, como a goraseira,oespinhel,oaparelho-das-espadas.» (SARMENTO, 1944, VilaeFreguesiadeS.Vicente.IlhadaMadeira, pp. 65-66).

Curioso, neste capítulo de pescadores em trânsito na ilha da Madeira, é também o facto de, na freguesia do Seixal, os pescadores serem denominados de pauleiros, alusão à condição destes de naturais da freguesia do Paul do Mar (RIBEIRO, s.d., HistóriaeEstóriasdoSeixal, p. 65).

Dois autores de uma monografia sobre o Faial referem ainda que «Para o mar do Faial, que é muito fértil em peixe, deslocam-se pescadores de outras localidades, pois os faialenses praticam apenas pesca amadora.» (VELOSA, VELOSA, 2000, Faial–MemóriasdeumaFreguesia, p. LI). No prefácio a esta obra, o «Editor» refere-se aos seus autores como um «[...] casal de observadores ou indagadores que, com o apoio de algumas entidades, procurou dar a conhecer os vários aspectos do ambiente, da sociedade, da economia, da religião e da cultura da sua terra.» (VELOSA, VELOSA, 2000, Faial–MemóriasdeumaFreguesia, p. VIII).

75 De facto, em finais do século XIX, consoante o InquéritosobreapescaemPortugalContinentaleIlhasnoanode1890, nos portos do Funchal, Câmara de Lobos, Paul do Mar e Machico – os principais – ocorre uma dedicação exclusiva dos pescadores à actividade da pesca; ao invés, nos restantes portos, impera a conjugação desta actividade com a agricultura (FREITAS, 2007, «A Comunidade Piscatória do Arquipélago Madeirense», p. 65).

76 Um exemplo, respeitante ao porto da vila nortenha de S. Vicente, dado por Alberto Artur Sarmento no seu estilo próprio: «O porto da vila, na bôca da Ribeira, apinha-se de calhau grosseiro, de arrasto e de quebra, batido pelas vagas e torrentes, rolado ao embale contínuo da onda que trabalha e remove, formando o camaIhão do litoral incerto, em pequenas enseadas descontínuas, gibosas, resvaladias, sem varagem de confiança.

Os barcos fundeam longe por causa da restinga que faz arrebentação no mar.» (SARMENTO, 1944, VilaeFreguesiadeS.Vicente.IlhadaMadeira, p. 65).

Leia-se ainda Fernando Góis, que se refere em 1977 à costa norte: «O único porto de mar na costa Norte da Ilha que oferece condições mínimas para o exercício da pesca normalmente durante todo o ano é o do Porto Moniz.

O Seixal tem um fraco remedeio que na maior parte do ano não permite funcionar sem perigo. S. Vicente (Fajã da Areia) e Ponta Delgada não têm mais do que pequenas rampas lodacentas e perigosas que só

podem servir meia dúzia de vezes por ano. E seguindo para o lado leste da costa nem vale a pena falar sequer, pois praticamente são inexistentes os portos

de pesca com condições de viabilidade para esse fim» (GÓIS, s.d., AspectosEconómicos-SociaisdoMeioRuralMadeirense.ColectaneadeEscritos(PublicadosnaImprensaRegional), pp. 140-141).

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mecanismos de mercado e da relação homem/meio-ambiente.Refiram-se rapidamente alguns factos.O Governador e Capitão-General Sá Pereira envia uma missiva, de 26-IV-1768, ao Conde

de Oeiras, futuramente Marquês de Pombal, referindo uma representação dos «Moradores» da Madeira,

«[...] sobre o promover-se a pescaria tam util, e tam necessaria aqui para que este povo possa livrar-se da miseria, à que está redusido por falta de alimento obrigado à sustentar-se de carnes, e peixes salgados, e corruptos, que aqui introduzem os Ingleses com grave prejuiso dos seus habitantes.»77.

Como se vê, os madeirenses, inclusive, ansiavam por este desenvolvimento das pescarias.No título 26 do «Regimento dado pelo Governador e Capitão General da Madeira [João António

de Sá Pereira], sobre o bom regimen da agricultura no Porto Santo», de 1771, prescreve-se que«[...] os moços que não forem encabeçados em Fazenda, ou não as tiverem proprias,

não se poderão escusar do serviço dos Lavradores; [...] e aquelle que não quizer servir depois de se sujeitar ao tal serviço, fugir de caza do Lavrador sem cauza justa, se reputará vadio, e incorrerá na pena da lei da Policia, e nas mesmas penas incorrerão todos os que não servirem na Lavoura, ounãoseoccuparemnasPescarias»78.

Em 1783, o Corregedor institui um método«[...] pratico para a instituição, e Direcção do novo estabelecimento das Pescarias

das Ilhas do Porto Santo, e Madeira; a que se unem os Instatutos, que devem observar os Pescadores d’ambas as Ilhas, nas suas respectivas Corporaçoens. Ordenado tudo pello actual Corregedor da Comarca, Pedro Antonio de Faria, en concequencia da Carta que lhe dirigio o Ill.mo e Ex.mo Senhor D. Diogo Pereira Forjáz Coutinho, Governador, e Capitam General da Ilha da Madeira»79.

Em 1792, D. Maria I autoriza o estabelecimento, a ser dirigido pelo britânico Thomas Edward Watts, de uma «Fabrica de Pescaria, e Salinas» a ser instalada na Praia Formosa. Tal empreendimento industrial de extracção de sal e de pescaria será instituído no seio da denominada SociedadedeRealPescaria,eSalinasInsulanas. O patrocínio régio manifesta-se através de isenções fiscais – na importação de equipamentos industriais, na exportação de peixe salgado e na ocupação das áreas necessárias para infra-estruturas –, e ainda na cedência de exploração monopolista da extracção de sal. Por alvará da monarca nomeada, datado de 1797, é ampliado o espaço físico de exploração concedido à Sociedade; em 1792 – a Praia Formosa; agora, todo e qualquer local das ilhas da Madeira e Porto Santo que for considerado conveniente80. Esta empresa, no entanto, não foi bem sucedida.

Em Novembro de 1822, é formada uma Sociedade Piscatória na Madeira; os seus administradores«[...] convencidos da necessidade de homens praticos, que dirigissem seus

77 Arquivo Regional da Madeira, GovernoCivil, Governo de João António de Sá Pereira, Livro I do Registo Particular (1768-1774), lv.º 530, fl. 11v.º. Tal circunstância é referenciada em SOUSA, 1967, «O Porto do Funchal e a Economia da Madeira no Século XVIII», p. 69, nota de rodapé 6 e em SANTOS, 2008, OSalnaIlhadaMadeiranaSegundaMetadedeSetecentos–Penúria,PodereAbastecimento, p. 72.

78 Documento transcrito em RIBEIRO, 1995, OPortoSantonosSéculosXVII-XVIII.ContribuiçãoparaasuaHistória, vol. II, DocumentoseQuadros, p. 128; o itálico é obviamente nosso.

79 Arquivo Histórico Ultramarino, MadeiraePortoSanto, cx. IV, doc. 665.

80 Veja-se SANTOS, 2010, «De “Rapar” a Fazer Sal: dos “Penhascos” da Ilha da Madeira à SociedadedeRealPescaria,eSalinasInsulanas (Finais do Século XVIII)».

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trabalhos os mandarão vir de Cezimbra e aqui chegarão em fevereiro do corrente anno [1824], os quaes munidos de todos os apparelhos, que requererão como necessarios, entrarão a fazer diversos ensaios, e em differentes paragens81, de que se se não tirarão tão grandes lucros como era de esperar de um tal estabelecimento, tambem não erão para desanimar de que, com o tempo e maiores conhecimentos destes mares, se não viessem a realisar».

A Companhia, todavia, é extinta por falta de fundos, entre outras contrariedades, no ano de 182482.

Em 1822, no contexto da «Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e Artes», uma sessão extraordinária é realizada com o escopo de discutir «o melhor método das salgas, donde poderia resultar muita utilidade, verificando-se o estabelecimento da pescaria»; é formada uma comissão de oito membros, sete dos quais formados em Medicina, para considerar tal assunto83.

Na viragem de Oitocentos para o século XX, é do nosso conhecimento que foram tomadas medidas para desenvolver a pesca do atum e da sardinha84.

Um apontamento especial sobre a caça à baleia – ou, sendo mais precisos, aos cetáceos – é fundamental85. O primeiro estabelecimento de uma companhia de captura de cetáceos foi intentada, por Nicolau Soares, na primeira metade de Setecentos na Madeira. Não logrou aprovação por, alegadamente, ser potencial concorrente à mesma actividade que se exercia no Brasil. Apesar de, ocasionalmente, e desde o século XVI, alguns cetáceos mortos darem às costas da Madeira, dos quais sobretudo se fazia aproveitamento do óleo e do espermacete, a faina baleeira só veio a ser instalada no século XX, em finais da década de 30 – por açorianos –, no Porto do Moniz86; depois, tal armação foi deslocalizada para o Caniçal, freguesia situada na extremidade oriental da Madeira, aí permanecendo até o início da década de 8087.

Não é possível conhecer a actividade piscatória madeirense sem considerarmos e medirmos algumas variáveis: a quantidade de pescado capturado; o produto ou valor das pescarias; o número de embarcações a exercer a faina; o número de pescadores intervenientes; o imposto – ou os vários

81 Em 1885, o processo decorre, de certo modo, ao contrário; neste caso, pescadores madeirenses «[...] deslocaram-se a Sesimbra […], para aprenderem novas formas de pescar.» (RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 124).

82 O documento citado, um ofício do Governador e Capitão-General, D. Manuel de Portugal e Castro, com informações sobre a Companhia de Pescarias, data de 11-XI-1824 e é transcrito por Castro e Almeida (ALMEIDA, 1909, ArchivodeMarinhaeUltramar.Inventário.MadeiraePortoSanto.1820-1833, vol. II, pp. 115-156).

83 CASTELO BRANCO, 1990, «A Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e Artes», p. 322.

84 Dois factos, com base em periódicos, são dados por João Adriano Ribeiro: «Em 1897, Alfredo Cordeiro Feio pediu ao governador para pescar atum com aparelhos especiais. Foram-lhe ditadas uma série de condições.

Em 20 de Setembro de 1903, um comunicado alterava o regime de pesca da sardinha. O ministério da Marinha reconhecia que deveria ser dada de arrematação a enseada de Machico, onde foram lançadas armações fixas de sardinha. Era uma experiência levada a cabo pela firma Gonçalves & Figueira.» (RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 120.

85 Acerca deste tópico, consulte-se sempre RIBEIRO, 1991, «A pesca da baleia na Madeira», pp. 22-27.

86 «A partir de 1939, a Companhia Açoriana de pesca à baleia, enquanto não instalou a fábrica do Caniçal, esteve sediada no concelho do Porto do Moniz. As instalações provisórias foram levantadas na foz da Ribeira da Janela […].

Foram os homens vindos dos Açores que se deslocaram ao Porto do Moniz para ensinarem como se arpoava as baleias e toda a faina relacionada com as baleias. A partir de então, tanto os arrais, como os trancadores e os remadores eram dali e passaram a pescar as baleias. [...]» (RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz– subsídiosparaahistóriadoConcelho, pp. 155, 156).

87 «Em 1944, constituiu-se a Empresa Baleeira Madeirense, com sede provisória na rua das Fontes, no Funchal. […] Em 1947, foi autorizada a montagem da fábrica do Caniçal, no sítio da Ponta da Cancela. O edifício estava finalizado em 1949 e ocupava mais de 200m2, mas foi melhorado significativamente em 1951. […] Esta fábrica manteve-se em laboração até 1981 e as suas instalações foram expropriadas, em 1987, para dar lugar à Zona Franca Industrial […].» (RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 102»).

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impostos, ao longo do tempo – arrecadados que oneravam a actividade.Na época contemporânea, até ao período que marca o início da autonomia político-administrativa

(1976), as cifras necessárias para uma análise dos tópicos referenciados são, salvo para alguns anos, pontuais ou parcelares88. Alguns historiadores têm, na verdade, se ocupado da transmissão de dados isolados respeitantes a tempos anteriores ao último quartel do século XX, quando com efeito as estatísticas89 de ordem económica são deliberada e continuadamente feitas e publicadas.

No que toca aos séculos XV-XVIII, diga-se o óbvio: esta é uma época pré-estatística. O método será o de coligir e interpretar, de modo cruzado, indicadores qualitativos e quantitativos, exercendo apertada crítica de fonte.

De tudo isto decorre que os números que se apresentam aqui respeitam ao século XX e inícios do XXI, e foram colhidos de fontes secundárias (de acordo com o nosso propósito enunciado acima, no princípio deste artigo). Não nos ocupamos, por conseguinte, de uma crítica circunstanciada das fontes referidas nos estudos existentes. Se a nossa atenção direccionou-se, nas linhas sobre o abastecimento, para a Época Moderna, agora viramo-nos forçosamente para a centúria vintista.

Visionem-se, partindo dos anos mais remotos para os mais recentes, alguns dados avulsos, dispostos no gráfico e tabelas seguintes, os quais comentaremos a par e passo.

TABELAI«ComparaçãodopessoalematerialdepescaempregadonaMadeira

nosannosde1907e1909»

AnosNúmero de

embarcações

Tonelagem –

Arqueação

Valor

(em réis)

Número de pescadores

maiores e menores

1907 893 2 071 813 11 744$100 2 002

1909 509 1 268 221 29 113$000 2 482

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 172.

Comparando as informações respeitantes a número de embarcações, sua tonelagem, valor da pesca e número de pescadores em 1907 e 1909, cumpre assinalar a flagrante diferença entre um e outro anos. O número de embarcações decresce – de quase 9 centenas para pouco menos de meio milhar – e, no entanto, o que causa alguma perplexidade, o valor da pesca mais que duplica. E tal facto, que só um melhor conhecimento do contexto e de outras variáveis explicaria, não se deverá somente ao aumento dos indivíduos implicados na faina – cerca de dois milhares em 1907 para menos de 2500 dois anos depois.

Atente-se, neste momento, no valor da pesca no ano de 1909, em termos absolutos e percentuais.

88 A partir de 1976, o Instituto Nacional de Estatística passou a publicar «[...] as contas económicas da Região Autónoma da Madeira» (VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 125).

89 De acordo com o Padre Fernando Augusto da Silva, que sumariou a legislação portuguesa concernente ao arquipélago da Madeira, várias iniciativas pontuais legislativas tiveram lugar no sentido de se conhecer o panorama da indústria piscatória. Citamos os sumários que este autor apresenta: 05-X-1909: «Portaria, encarregando um oficial da armada […] de coadjuvar o capitão do Porto do Funchal no inquerito sôbre a pesca no arquipélago da Madeira.»; 17-II-1922: «Decreto, dividindo o Continente e ilhas adjacentes em quatro circunscrições para a execução do inquérito sôbre o estado, condição e necessidades da industria da pesca.» (SILVA, 1941, OArquipélagodaMadeiranaLegislaçãoPortuguesa, pp. 32, 52). No entanto, outras estatísticas, a acrescentar àquelas que têm origem nesta legislação, existem, algumas das quais são usadas por autores aqui citados.

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TABELAIIValoresdaPescanoArquipélagodaMadeira,porporto,emréis–190990

Porto de Pesca Valor

Funchal 43 371$430

Caniço 1 224$120

Santa Cruz 3 188$400

Machico 5 787$100

Porto da Cruz 1 610$000

S. Vicente 1 040$300

Porto do Moniz 673$480

Paul do Mar 8 245$000

Calheta 1 607$595

Ponta do Sol 9 361$940

Câmara de Lobos 47 683$400

Porto Santo 2 730$400

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

GRÁFICOIValoresdaPescanoArquipélagodaMadeira,porporto,empercentagens–190991

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, Archipelago

90 Adolpho Loureiro, como se mencionou, aponta 29 portos de pesca no Arquipélago. Não obstante, por razões para nós desconhecidas, apresenta valores da actividade piscatória apenas para 12 portos.

91 Ver, em anexo, TabelaXVI–ValoresdaPescanoArquipélagodaMadeira,porporto,empercentagens–1909.

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daMadeira, p. 169.

Com efeito, confirmam-se, de um modo global, as apreciações exaradas acima quanto aos núcleos piscatórios mais e menos relevantes. Devemos apontar a preponderância de Câmara de Lobos e do Funchal, seguidos da Ponta do Sol, do Paul do Mar e de Machico. A estes seguem-se um conjunto de pequenos portos, três na costa sul, três na costa norte e o Porto Santo. Note-se a omissão do Caniçal.

A análise do rendimento deve identicamente ser comparativa. Nesse sentido, podemos visionar os dados que se seguem, retirados de estatísticas das pescas oficiais.

TABELAIIIValoresdaPescanosArquipélagosdosAçoresedaMadeira,emescudos–1928-1934

Anos Açores Madeira e Porto Santo1928 4 524 786 3 270 0771929 4 224 815 3 401 8901930 4 428 906 4 369 9941931 4 299 766 3 055 6661932 3 745 264 2 324 7951933 4 342 627 2 128 3541934 4 276 428 2 088 354

Fonte: FARO, 1938, PortugalnoAtlantico.PortosPrincipais.Comércio–Turismo–Estratégia, 1.º vol, p. 124.

Algumas considerações cumprem-se, um pouco na sequência das ilações do autor da obra citada. O produto da pesca nos Açores é mais elevado do que na Madeira. Isso é indiscutível. O que devemos assinalar, com igual interesse, é a oscilação assinalável, a tender para o decréscimo dos valores (a partir de 1930), no arquipélago madeirense – o que não decorre no açoriano. Podemos sobretudo aventar que este sector apresenta-se como inconstante ou deveras oscilante, em termos de gerador de capital económico – o que é também visível nas duas tabelas próximas, que abarcam os anos de 1949 a 1952, e que compreendem também quantidades e espécies de peixe.

TABELAIVQuantidadeseValoresdaPescanaIlhadaMadeira,emtoneladaseemcontos–

1949-195292

Anos Quantidades Valores

1949 1 944 7 577

1950 1 905 6 330

1951 1 938 6 541

1952 2 471 9 333

Fonte: RODRIGUES, 1955, QuestõesEconómicas, 2.º Tomo, AMadeiranoPlanodaEconomiaNacional, p. 173.

92 Diz Ramon Rodrigues que a «[...] estas quantidades há que juntar os crustáceos e os moluscos, cerca de 15 toneladas, média nestes anos.» (RODRIGUES, 1955, Questões Económicas, 2.º Tomo, AMadeira no Plano daEconomiaNacional, p. 173.

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TABELAVQuantidadesdaPescanaIlhadaMadeira,porespéciedepeixe,emtoneladas–

1949-1952

EspéciesAnos

1949 1950 1951 1952

Atum 986 709 645 618

Cavala e Sardo 74 158 138 181

Chicharro e Carapau 205 344 320 236

Peixe espada 514 512 681 1 147

Outras 164 182 154 289

Fonte: RODRIGUES, 1955, QuestõesEconómicas, 2.º Tomo, AMadeiranoPlanodaEconomiaNacional, p. 173.

Notem-se agora algumas cifras, sobre a segunda metade do século XX, em jeito de cortes cronológicos, referentes aos pescadores no arquipélago da Madeira.

TABELAVIPopulaçãoActivanaPescanoArquipélagodaMadeira–1950;1960;1970;1981

AnosPopulação

Residente (RAM)

População Activa

(a)

População Activa

na Pesca

% da População

Activa na Pesca

1950 266 990 83 129 2 679 3,2%

1960 268 937 82 270 2 616 3,2%

1970 251 135 89 070 1 540 1,7%

1981 252 844 91 440 1 737 1,9%

«(a) População activa a exercer profissão na RAM»

Fonte: PESTANA, 1986, Câmara de Lobos. Caracterização. Equipamentos Colectivos noConcelho, p. 79.

Além da ínfima percentagem de pescadores, no cômputo da população activa (3,2% em 1950 e 1960; 1,9% em 1981), é de apontar uma tendência – a confirmar com dados mais completos e menos pontuais – para o decréscimo, em termos absolutos e relativos, do número de profissionais que se dedicam à faina, tendência essa que principiará em ano incerto mas após 1960.

Conhecemos as quantidades de pescado descarregado, e o seu valor, nos portos da Região, em 1975 e 1984, baseadas em estatísticas oficiais. Contemple-se a tabela seguinte, elaborada por Gilberto Pestana.

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TABELAVIIQuantidadeseValoresdaPescaDescarregada,porpostosdedescarga,emtoneladase

contos–1975-1984

Anos Postos de Descarga Quantidades Valores

1975

RAM 8 002 117 831

Câmara de Lobos 1 499 27 647

Funchal 6 159 85 603

Outros 344 4 581

1984

RAM 5 646 768 630

Câmara de Lobos 142 18 817

Funchal 5 093 679 995

Outros 317 69 812

Fonte: PESTANA, 1986, Câmara de Lobos. Caracterização. Equipamentos Colectivos noConcelho, p. 77.

Constata-se que não há uma relação exacta entre o volume de pescado descarregado, que apresenta uma diminuição em 1984 comparativamente com 1975, e o valor do mesmo – que denuncia uma tendência deveras ascendente, inversa ao da quantidade de pesca.

Forçoso é dizer que a pesagem e a análise da actividade da pesca tem de levar em linha de conta vários factores (não nos coibimos de repetir), e a riqueza gerada pela mesma deve ser interpretada em confronto com outras variáveis, e, com certeza, tendo presente no horizonte os mecanismos de mercado e a sua mutação ao longo da História mais recente.

Outros indicadores complementares são fornecidos por Rui Vieira e João Abel de Freitas. Na realidade, em termos globais, os volumes da pesca atingiram, de 1973 a 1978, cifras anuais superiores a 8000 toneladas, inferiores porém às dos anos de 1960-1972 e de 1979-1984. Após o ano de 1985, a média anual é da ordem das 7000/8000 toneladas. De um modo geral, cerca de metade destas espécies capturadas é composta por tunídeos93.

Perante tudo o que fica dito, parece que está é uma actividade que, no século XX, apresenta-se sem tendências evolutivas constantes – em termos não só de produto gerado, mas também do número de pescadores e de embarcações.

No entanto, falta verdadeiramente confirmar ou matizar tal hipótese – a de um sector económico volátil e oscilante –, o que será conseguido apenas mediante estudos profundos e fazendo face a problemáticas, onde se interpretem informes qualitativos a par de dados quantitativos.

Além disso, este sector de actividade apresenta-se como secundário no quadro da economia regional94.

Em meados do século XX, segundo Orlando Ribeiro, apenas 1%95 da população activa tinha

93 VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 163.

94 Note-se que, na tese de doutoramento que dedica à economia da Madeira, durante a segunda metade de Oitocentos até o início da I Guerra Mundial, Benedita Câmara não faz referência à actividade da pesca (CÂMARA, 2002, AEconomiadaMadeira(1850-1914)).

95 Vimos todavia que, para 1950, Gilberto Pestana apresenta 3,2% da população activa no arquipélago da Madeira como empregue na pesca (PESTANA, 1986, CâmaradeLobos.Caracterização.EquipamentosColectivosnoConcelho, p. 79).

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a faina piscatória por ocupação96 e o peso desta actividade no PIB regional, em tempos mais recentes, cifra-se por 1%97 – cifra que ganha maior expressão se confrontada com a extensão da Zona Económica Exclusiva da Região Autónoma da Madeira, composta por 100 000 milhas quadradas ou 400 000 Km2. Aliás, um dos sectores reconhecidos como «frágeis», pela antiga CEE, nos arquipélagos atlânticos das Canárias e Madeira, era precisamente a pesca98.

As espécies mais importantes, no início do século XXI, em termos quantitativos, são as dos atuns e da espada-preta, seguidas de longe pelas principais que compõem a ruama – a cavala e o chicharro99. Uma observação da oscilação temporal da relevância das espécies com maior valor comercial seria interessante.

De um modo geral, hoje este sector de actividade serve o abastecimento do mercado interno – a mesa do consumidor e a indústria da restauração e da hotelaria100.

O número de pescadores, por sua vez, tem vindo a declinar no último quartel do século XX e início da actual centúria (ano de 1978: 2000 pescadores; 1989: 1500; 2006/2007: 850), bem como o de embarcações (ano de 1978: 642 pequenos barcos; 1989: 308)101.

Uma questão relevante, já o referimos, prende-se com a dedicação exclusiva ou parcial dos pescadores à actividade da pesca. Apenas alguns factos: em S. Vicente, por exemplo, por volta de 1860, a faina piscatória não constituía ocupação exclusiva, sendo acumulada com o cultivo agrícola ou com outro trabalho102; no Porto Santo, a faina era exercida, em meados do século XX, a par da agricultura, pelos mesmos indivíduos103.

A divisão dos proventos entre proprietários, pescadores e outros intervenientes na faina é igualmente assunto a atender. No Porto Santo, em meados do século XX, procedia-se dos seguintes modos; na pesca do chicharro, o produto da pesca, retirado o dinheiro para contribuições religiosas e o pagamento de despesas, era repartido em oito quinhões, sendo um para cada pescador e dois para o dono da embarcação; na pesca do gaiado, retirava-se dois espécimens por cada 100, e o que restava dividia-se em 16 quinhões – um para cada um dos 12 pescadores, quatro para o

96 RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 104.

97 VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», pp. 163

98 «Tanto en el POSEICAN como en el POSEIMA se dan las mismas razones para explicar el retraso estructural: insularidad, acusada lejanía, escasa superficie, relieve y cima difíciles. [...] Ambos Programas se basan en un doble principio: pertenencia a la Comunidad, y reconocimiento de la realidad regional derivada de la situación geográfica, y en Canarias también del R.E.F. histórico. Como ámbitos frágiles de Madeira y Azores, y de Canarias citan: transportes, pesca, fiscalidad, realidad social, investigación y desarrollo y protección medioambientel.» (GONZALEZ MORALES, MARTIN GOMEZ, 1993, «Los Modelos de Ahesion de Canarias y Madeira a la C.E.: Los Aspectos Agrarios», p. 747; o itálico é nosso).

99 Na verdade, no ano de 2002, em termos de pescado descarregado, destacam-se o peixe-espada e o atum, que significaram 51% e 37,1% do total ou 3 873 e 2 819 toneladas de peixe, respectivamente (SOUSA, 2004, OPortodoFunchalnoContextodoSistemaPortuárioInsularRegional:Asinfraestruturas,ostráfegoseasfunçõesportuárias, p. 206).

100 VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 164.

101 VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 163.

102 SARMENTO, 1944, VilaeFreguesiadeS.Vicente.IlhadaMadeira, p. 65.

103 «No Porto Santo, o pescador [...] vai para terra lavrar o campo... e, inversamente, o lavrador, em ano de seca, socorre-se do mar. Muitos lavradores, se não a maioria deles, vão pescar no litoral e até às vezes de barco.

Que diferença enorme em relação ao pescador de Machico, Câmara de Lobos e Paul, o verdadeiro lobo do mar, sem possibilidades de transplantação!» (COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, pp. 55-56).

Em 1914, segundo o ElucidárioMadeirense, sem menção de fonte, «Os pescadores registados como tais, pagando o seu imposto de capitão e concorrendo para o Instituto de Socorros a Naúfragos, eram em número de 893, sendo 835 adultos e 58 menores, havendo porém outros indivíduos com autorização para exercerem a indústria da pesca, mas que não se entregavam a ela senão na falta de outros trabalhos. Com este adicionamento, subia a 1648 o total dos pescadores matriculados, sendo 1585 adultos e 63 menores.» (SILVA, MENESES, 1978, «Indústria Piscatória», in ElucidárioMadeirense, vol. segundo, p. 145).

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proprietário do barco104.Outra questão que deve ser, ao menos, considerada, difícil porém de ser abordada e quantificada,

é a actividade da pesca à linha e a apanha de marisco junto às rochas da orla costeira. Com o fito de assegurar uma maior subsistência ou, porventura hoje, com fins recreativos, esta prática deve ser porém atendida e deve estar sempre presente nos horizontes dos estudiosos105.

Fiscalidade

Refiram-se alguns factos concernentes à fiscalidade sobre o pescado no arquipélago da Madeira. À partida, note-se, devemos fazer uma destrinça entre: impostos sobre a actividade piscatória; e tributos sobre a transacção ou comércio. São aqueles que ocupam, sobretudo, a nossa atenção.

Por carta régia de 26-IX-1433, iniciado que era há poucos anos o povoamento, D. Duarte doa à Ordem de Cristo, cumprindo uma solicitação de seu irmão, o Infante D. Henrique, o espiritual do arquipélago da Madeira; não obstante, retém para a Coroa o dízimo do pescado106.

O foral de 1515 da cidade do Funchal, estabelecendo novos preceitos no tocante aos dízimos eclesiásticos, estipula os produtos por cuja extracção haveria de se pagar tal imposição; além dos recursos terrestres (cereais, gado, vinho, etc.), são também taxados os «pescados». Isto no que diz respeito à exploração do meio insular. Em termos de abastecimento vindo do exterior, todos os víveres estão isentos do pagamento da dízima, neles incluídos, como é óbvio, os «pescados»107.

104 COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, pp. 57, 59.

105 Seguimos Orlando Ribeiro: «Uma actividade cuja importância é difícil de calcular é a dos pescadores à linha e dos apanhadores de mariscos nos rochedos da costa. O número de lapas consumidas pelos vilões é sem dúvida considerável, tendo em vista as acumulações de conchas que se encontram por vezes bastante longe da costa.» (RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 105). A título de exemplo mais circunscrito, leia-se o que escreve João Adriano Ribeiro sobre o Porto Santo: «Apesar da abundância de peixe, poderá dizer-se que os portossantenses nunca foram arrojados pescadores, pois procuravam nunca afastar-se da costa. Sobretudo na costa Norte, muitas pessoas pescavam de cana, apanhavam um marisco em forma de concha, vulgar neste arquipélago, a que chamam «lapas» ou ainda, eventualmente, outro, com aspecto de caracol, que denominam «caramujos».» (RIBEIRO, 1997, PortoSanto–Aspectosdasuaeconomia, p. 133).

106 FERRAZ, 1962, AIlhadaMadeiranaÉpocaQuatrocentista, p. 155; SOUSA, 1989, «A Casa do Infante D. Henrique e o Arquipélago da Madeira (Algumas notas para o seu estudo)», p. 111. Álvaro Rodrigues de Azevedo transcreve, nas suas «Notas» ao volume 2.º das SaudadesdaTerra de Gaspar Frutuoso, esta carta de doação:

Carta da doaçam aa hordem de xpo pera todo sempre de todo ho spirituall das ylhas da madeyra & porto samto & da ylha Deserta.

Dom Duarte [...] fazemos sabeer que nos por seruiço de deus & homrra da hordem de xpo & por ho ymfamte dom amrrique meu Irmaão Regedor & gouuernador da dita hordem que nollo requereo outorgamos & damos aa dita hordem deste dia pera todo sempre todo ho spirituall das nossas ylhas da madeyra & de porto samto & da ylha Deserta que agora nouamente per nosa auctoridade pobra [...] reseruandoquefiqueperanos&peraacorooadenososReygnoshoforo&hoDizimodetodohopescadoquesenasditasylhasmatarquequeremosquenompaguem [...]» (AZEVEDO, 1873, «Notas», p. 325; o itálico é nosso).

Desobrigados deste imposto – isentos, na verdade, de qualquer imposto – estão os franciscanos, ordem religiosa que acompanhou desde os primórdios o processo de ocupação do espaço madeirense. É D. Afonso V que outorga tal privilégio, no ano de 1457.

Leia-se o seguinte documento: «Preuilegio gerall comçedido aos relegiosos framciscanos. Dom Affomso [...] A quamtos esta nosa carta birem fazemos saber que nos querẽdo fazer graça & mercee por esmolla

aos frades de s. francisco de nosos regnos temos per bem & tomamollos em nosa garda & emcomẽda sob nosa defençom [...]. E queremos que sejam escusados de pagarem fimtos talhas tribvtos nẽ outros nenhũs emcareguos que per nos & polos comçelhos sejam lamçados nem paguẽ sizas nem dizimos portagem costumagem de pam nem de binho carne pescados ou outras quaes quer cousas que comprarẽ pera seus mamtimẽtos [...]», etc. (AZEVEDO, 1873, «Notas», pp. 632-633; o itálico é nosso).

107 «Treslado authentico do Foral da cidade do Funchal da Villa da Ponta do Sol & da Villa Nova da Calheta na Capitania do Funchal na Ilha da Madeira.

[...]

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Portanto, peixe capturado nas águas do arquipélago é taxado; peixe importado entra sem imposição.No cômputo do rendimento da capitania do Funchal, nos finais do século XVII, as redízimas

conjuntas do pescado, açúcar e sabão atingem valores insignificantes (ao lado da renda dos moinhos – com 44% –, das redízimas da alfândega – 30% – e da Calheta e da Ponta do Sol – 22% –, da renda do Bugio – 2% – e, por fim, da renda dos foros – 1%)108. Tais informes, que expressam realidades financeiras, constituem indício, previmente à existência de estatísticas ou de cálculos do PIB regional, da ínfima relevância da actividade piscatória na capitania do Funchal, que ocupava a orla costeira do sul da Madeira, com excepção das freguesias atlânticas dos concelhos de Santa Cruz e algumas de Machico.

Álvaro Rodrigues de Azevedo apresenta, nas suas «Notas» ao livro segundo d’AsSaudadesdaTerra, de Gaspar Frutuoso, uma conta do triénio de 1759-1761 das rendas, impostos e rendimentos que constituíam os bens dos Jesuítas, sequestrados em 1759. Entre tais bens e fontes de receita, encontrava-se o dízimo do pescado, associado a outros tributos ou por si só, de três freguesias da costa sul da ilha da Madeira109. Veja-se a seguinte tabela.

TABELAVIIIDízimodoPescadodevidoaosJesuítas,emréis–1759-1761

Renda – Freguesia Anos Dízimo

pescado e miúças –

Campanário

1759 23$000

1760 22$000

1761 145$500

pescado, verduras e

miúças – RibeiraBrava

1759 101$700

1760 100$500

1761 189$000

pescado – Tabua

1759 40$000

1760 61$000

1761 50$000

Fonte: AZEVEDO, 1873, «Notas», p. 747.

Parte dos rendimentos do donatário da ilha do Porto Santo, em 1770, consistia na «renda grande dos dízimos, miúças, peixe e gados» (além da exploração de pedreiras de cal), que era

6 Pagarão dizima do trigo cevada milho centeo gaados lãa pescados vinho linho que houver em a dita Ilha & assy das moendas.

[...] 14 Nam pagaraõ dizima de todollos mantimentos que forem aa dita Ilha convem a saber trigo cevada milho centeo

azeite grãos castanhas hervilhas favas amendoas figos passados queijos carnes pescados vinho mel manteiga azeitonas & de toda outra cousa que se possa comer ou beber assy pera sãos como pera doentes & per qualquer nome que se possa nomear & cuidar & esto quer vam em navios estrangeiros & per pessoas estrangeiras como per quaesquer outras pessoas de quaesquer partes que sejam assy do Regno & Senhorio como de fóra delle» (AZEVEDO, 1873, «Notas», pp. 494, 497, 498; o itálico é nosso).

108 MATOS, LOPES, 1990, «Da «Avaliação dos Ofícios» Madeirenses e das Demais Ilhas Portuguesas do Atlântico nos Finais do Século XVIII», p. 996.

109 O usufruto dos réditos provenientes dos dízimos que incidiam sobre o pão, vinho, pescado, miúças e verduras das freguesias do Campanário, Ribeira Brava, Tabua e Serra de Água, foi concedido aos Inacianos a partir do ano de 1580 (MIRANDA, 1994, AFazendaRealnaIlhadaMadeira.SegundaMetadedoSéculoXVI, p. 92). Não se coloca o caso do dízimo sobre o pescado na Serra de Água porque, evidentemente, esta freguesia não confronta com o oceano.

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arrecadada por rendeiros. Estes teriam de entregar a redízima, de todo este imposto arrecadado, ao donatário110.

No que toca aos intervenientes e ao processo de percepção do imposto, dispomos de alguns factos.

A comenda do pescado e miúças da capitania de Machico e da ilha do Porto Santo é arrendada por Manuel António da Estrela, escrivão das marcas da Alfândega do Funchal, o qual, por sua vez, em 1772, subarrendou as miúças e o pescado do Porto Santo a José Francisco de Vasconcelos (lojista do Funchal), durante três anos, por 100 000 réis e dois alqueires de lentilhas e duas libras de açafrão por ano. Este contrato é alvo de renovação em 1775, com as mesmas contrapartidas. A referida comenda foi arrendada por Domingos de Oliveira Alves em 1794111.

Os dízimos do peixe pertencentes a esta comenda eram, segundo João Adriano Ribeiro, divididos por freguesia e arrendados a particulares. Conhecemos o exemplo de algumas freguesias do norte da ilha da Madeira. O referido imposto respeitante ao Seixal, Ribeira da Janela e Porto do Moniz foi arrendado, por três anos, em 1772, ao alferes José Gonçalves Pereira, por 35 000 réis por cada freguesia. Em 1779, é José Dias das Neves o arrendatário, durante o mesmo lapso de tempo e pelo mesmo encargo, a que acresciam oito galinhas e duas libras de linho cada ano112.

É do nosso conhecimento que a renda do pescado, respeitante à Alcaidaria-Mor do Funchal, foi arrematada por Domingos Tomás Cunha, em 1797. De novo, confrontamo-nos com um fenómeno de subarrendamento, o qual, no que respeita à porção de Câmara de Lobos, teve como interveniente – isto é, como subarrendatário – Manuel Fernandes Rosa, lojista do Funchal, por 500 000 réis o ano, isentos do pagamento da redízima113. A arrecadação da redízima do pescado desta freguesia de Câmara de Lobos, que era pertença, em finais do século XVIII, do Alcaide-Mor do Funchal (antigo Donatário, até 1766, da mesma capitania), estava a cargo, no ano de 1792, da firma Scott & C.ª. Neste mesmo ano, a redízima foi arrendada a um sangrador do Funchal, Manuel Luís Gomes, por 105 000 réis114.

No caso específico da Ribeira Brava, o dízimo do pescado, como vimos ao abordar os réditos pertencentes à Companhia de Jesus, estava ligada ao das miúças e verdura. No ano de 1783, tais impostos foram arrendados a António José Garcês, ribeira-bravense, por 250 000 réis anuais, durante três anos. Em 1786, foi Joaquim dos Santos Gomes o arrendatário destas contribuições, por três anos também, pelo preço de 300 000 réis o ano115.

No Campanário, a renda do pescado era parte de um conjunto de impostos no qual estavam igualmente as rendas da verdura, miúças e cabritos. António Francisco Gil, desta freguesia, arrendou tais impostos, no ano de 1786, por 130 000 réis cada ano, durante um triénio116.

Relativamente ao espaço de jurisdição do concelho de Machico, em 1775, os dízimos do peixe de várias freguesias deste município (S. Jorge, Arco de S. Jorge, Santana, Porto da Cruz, Caniçal e Machico) foram arrendados a Manuel Vaz Pereira, funchalense, por 250 000 réis cada ano, além de dois chernes (ou seu valor correspondente, isto é, 2000 réis cada), durante três anos. Outros exemplos, de arrendamento e subarrendamento deste imposto, em finais do século XVIII, no quadro municipal de Machico, são conhecidos117.

110 SOUSA, 2004, OExercíciodoPoderMunicipalnaMadeiraePortoSantonaÉpocaPombalinaePost-Pombalina, p. 37.

111 RIBEIRO, 1995, OPortoSantonosSéculosXVII-XVIII.ContribuiçãoparaasuaHistória, vol. I, Estudo, p. 212.

112 RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz–subsídiosparaahistóriadoConcelho, p. 123.

113 RIBEIRO, 1991, «Rendas no Concelho de Câmara de Lobos nos Finais do século XVIII», p. 320.

114 RIBEIRO, 1991, «Rendas no Concelho de Câmara de Lobos nos Finais do século XVIII», p. 320.

115 RIBEIRO, 1998, RibeiraBrava–SubsídiosparaaHistóriadoConcelho, p. 190.

116 RIBEIRO, 1998, RibeiraBrava–SubsídiosparaaHistóriadoConcelho, p. 190.

117 RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 118.

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Patentes são na verdade os fenómenos de arrendamento e sub-arrendamento deste imposto. Uma interpretação dos mesmos implica um conhecimento mais lato; não obstante, é notório que, através destes meandros relativos à arrecadação do imposto, dispomos de um observatório relevante para a percepção de redes e relações sociais, bem como para a análise de interesses e práticas de investimento em tempos de Antigo Regime.

Em Abril de 1808, em plena segunda ocupação da Madeira pelos britânicos (que durou de 1807 até 1814), William Carr Beresford, comandante das tropas de língua inglesa, procede à abolição de quaisquer tributos – entre eles o dízimo – sobre o pescado, liberalizando as trocas no mercado doméstico; excepção é feita, a esta liberalização, através da inalterabilidade da legislação que ordena que porções de peixe de várias comunidades piscatórias da ilha venham convergir ao único centro urbano da Madeira (Funchal)118.

No Porto Santo, em Abril de 1832, na sequência da ocupação desta ilha pelas forças liberais, procede-se à abolição do dízimo sobre o pescado, situação que durou pouco tempo119.

Em Janeiro de 1835, legislação régia estabelecia a elaboração de uma relação das embarcações de pesca da Madeira, sobre cada qual pendia a obrigatoriedade do pagamento de 3 000 réis por ano120.

De acordo com legislação de 10 de Julho e 30 de Dezembro de 1843, os pescadores pagavam o imposto do pescado, de 6%, a que acrescia ou um contributo sobre os lucros advindos da faina ou mais 5%121.

E, de facto, no Porto do Moniz, na costa norte da Madeira, em 1866, os pescadores pagavam aqueles 6% sobre o pescado; além disso, tinham ainda por obrigação, segundo informação do Director da Alfândega ao Administrador do Concelho, de contribuir com adicionais 5% e com outros 5% para a viação122.

Alguns indicadores esparsos, e mais recentes, ilustram práticas de fuga ao pagamento do imposto sobre o pescado. Em 1916, o arrematante desta imposição nas freguesias do Caniçal e Machico participa ao Director da Alfândega o facto de os pescadores venderem o peixe em pleno mar, com o fito de escaparem à sua obrigação fiscal123.

118 Alberto Artur Sarmento reproduz o documento que dá corpo à abolição das imposições, do qual transcrevemos o seguinte excerto:

«[...] Hei por bem Mandar e por esta Mando que o Dizimo a que o peixe fresco conduzido a esta Ilha tem sido athé agora sujeito, não será exigido pelo futuro;

ficando outrossim abulido todos mais Direitos, ou tributo qualquer que elle seja sobre o mesmo genero e tendo os Pescadores a inteira liberdade de disporem e venderem o peixe que com o seu trabalho apanharam, como bem lhes parecer e em seus proprios beneficios;

Com advertencia, porém, que esta minha determinação não deve mudar de forma alguma a Ley que manda que certas porçoens de peixe apanhado pelos pescadores de Cama de Lobos, St.ª Cruz, Machico e outros lugares sejam conduzidas á Cidade do Funchal.» (SARMENTO, 1930, Madeira.1801a1802.1807a1814.NotaseDocumentos, p. 31).

119 NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, p. 14. O ofício é endereçado à Câmara Municipal do Porto Santo pelo Governador da mesma Ilha, Bento José de Oliveira, transmitindo as resoluções de D. Pedro IV. Castro e Almeida transcreve parte desse ofício: «Ill.mo Snr. Presidente da Camara. Como S. M. Imperial o Snr. Duque de Bragança, Regente dos Reinos de Portugal, Algarves e seos Dominios, em Nome da Senhora D. Maria 2.ª, tem mostrado que se não pague dizimos do pescados em todas as partes do Reino, para augmentar a industria n’este ramo, motivo porque o faço saber á Camara desta Ilha para que desde hoje para o futuro se não pague mais dizimo algum, ou outro qualquer imposto ao ramo da pescaria» (ALMEIDA, 1909, ArchivodeMarinhaeUltramar.Inventário.MadeiraePortoSanto.1820-1833, vol. II, p. 318).

120 RIBEIRO, 2001, Machico–SubsídiosparaaHistóriadoseuConcelho, p. 119.

121 RIBEIRO, 1992, «A indústria de conserva de peixe na Madeira», p. 61.

122 RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz–subsídiosparaahistóriadoConcelho, p. 124.

123 RIBEIRO, 1992, «A indústria de conserva de peixe na Madeira», p. 65.

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Lançando mão dos dados compendiados por Adolpho Loureiro sobre o estado da pesca no arquipélago da Madeira no ano de 1909, apresentamos os seguintes quadro e gráfico com o imposto sobre o pescado arrecadado em 28 dos 29 portos de pesca elencados pelo dito autor, bem como a respectiva relação percentual.

TABELAIXValoresdoImpostosobreoPescadonoArquipélagodaMadeira,porporto,emréis–1909

Portos de Pesca Imposto

Câmara de Lobos 1 924$239

Funchal 1803$271

Paul do Mar 440$103

Machico 268$705

Ribeira Brava 179$201

Santa Cruz 162$299

Madalena do Mar 147$112

Campanário 121$018

Ponta do Sol 88$721

Calheta 74$707

Porto da Cruz 69$189

Ponta Delgada 63$154

Porto Santo 62$467

Caniço 57$674

S. Vicente 44$436

Lugar de Baixo 39$371

Porto Moniz 38$489

Seixal 26$903

Caniçal 25$342

Tabua 16$967

Jardim do Mar 13$592

Faial 7$780

Ponta do Pargo 6$093

Aldonça 4$875

Porto Novo 4$687

Anjos 4$687

S. Jorge 2$625

Seixo 1$875

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugale IlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

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GRÁFICOIIValoresdoImpostosobreoPescadonoArquipélagodaMadeira,porporto,empercentagens

–1909124

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

124 Ver, em anexo, Tabela XVII – Valores do Imposto sobre o Pescado noArquipélago daMadeira, por porto, empercentagens–1909.

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Relativamente a este ano de 1909, o que se visiona deve ser confrontado com as considerações que acima expusemos tocantes aos valores da pesca, neste mesmo ano. Na verdade, Câmara de Lobos e Funchal continuam a ser preponderantes (no seu conjunto com pouco mais de 64%), agora em termos de imposto arrecadado, seguidos dos relevantes portos de pesca de Paul do Mar e Machico, e de todo um conjunto de núcleos situados na costa sul da ilha da Madeira (Ribeira Brava, Santa Cruz, Madalena do Mar, Campanário, Ponta do Sol e Calheta). Dois portos do norte – Porto da Cruz e Ponta Delgada –, o do Porto Santo e do Caniçal são os ulteriores. Os restantes apresentam, cada um, menos de 1% do total do tributo percepcionado no ano mencionado. O posicionamento de Ponta do Sol, em termos tributários, apresenta-se dissonante com o relativo ao produto. Caniçal, não referenciado por Adolpho Loureiro quando se referiu aos valores, surge agora em secundaríssima situação (com 0,445%). Será que este porto de pesca evolui e adquire, no conjunto dos núcleos piscatórios madeirenses, maior relevância apenas com a implementação da armação de caça à baleia, na década 40 do século XX?

O Visconde do Porto da Cruz, com base em informações colhidas no Instituto Nacional de Estatística, dá-nos as cifras do imposto do pescado arrecadado de 1920 a 1922. Visione-se a tabela seguinte.

TABELAXValoresdoImpostodoPescadonoArquipélagodaMadeira,emescudos–1920-1922

Anos Valores

1920 22 252$65

1921 50 080$94

1922 59 257$96

Fonte: CRUZ, 1940, AfaunamarítimadaMadeira, p. 8.

Apenas a apontar, de facto, a notória diferença entre os valores respeitantes a 1920 e 1921; neste ano, a cifra é maior que o dobro do ano anterior. Três anos consecutivos não permitem perceber quaisquer tendências. No entanto, na sequência do que escrevemos sobre a actividade da pesca, a arrecadação do imposto do pescado poderá bem espelhar, no século XX, o carácter oscilante da actividade da pesca.

O processo de arrecadação do imposto não se apresentava, por vezes, escorreito, e levava a queixas por parte dos pescadores. Nos vários postos fiscais ao longo da costa madeirense, no século XIX, os quais estavam sob alçada da Alfândega do Funchal, a cobrança era escriturada em livros, dos quais se destacavam recibos de talão como comprovativo do cumprimento fiscal. No ano de 1877, os portomonizenses que se dedicavam à pesca queixavam-se que o funcionário da Alfândega que arrecadava o imposto não procedia à entrega do referido comprovativo125.

Um decreto de 24-VIII-1928 vem simplificar «[...] o serviço de cobrança do imposto de pescado nas alfândegas do Continente e ilhas adjacentes.»126.

À parte o tributo oficial que incidia sobre a actividade piscatória, e sobre o peixe capturado, vários indicadores respeitantes ao Antigo Regime mostram que os pescadores contribuíam com parte do peixe, mais precisamente «meia parte» (ou meio quinhão), para as confrarias das freguesias onde o respectivo núcleo piscatório se implantava. Veja-se, a título de ilustração, a próxima tabela – que não é exaustiva127.

125 RIBEIRO, 1996, PortodoMoniz–subsídiosparaahistóriadoConcelho, pp. 124-125.

126 SILVA, 1941, OArquipélagodaMadeiranaLegislaçãoPortuguesa, p. 70

127 Adriano Ribeiro diz que «Este contributo, de meia parte de peixe para a Igreja, era quase geral no Arquipélago,

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TABELAXIContribuiçãode«meiaparte»doPeixenaIlhadaMadeira–freguesiaseconfrarias

Freguesia Confraria Fonte

Porto Santo Santas Almas

RIBEIRO, 1995, O Porto Santo nos Séculos XVII-

XVIII.ContribuiçãoparaasuaHistória, vol. I, Estudo,

p. 211.

Seixal Santíssimo SacramentoRIBEIRO, 1996, Porto doMoniz – subsídios para a

históriadoConcelho, p. 123.

Tabua N.ª Sr.ª do RosárioRIBEIRO, 1998, Ribeira Brava – Subsídios para a

HistóriadoConcelho, p. 188.

Câmara de Lobos Corpo SantoVERÍSSIMO, 2000, RelaçõesdePodernaSociedade

MadeirensedoSéculoXVII, p. 386.

Certas contribuições sobre o pescado têm uma incidência municipal. Em 1838, alguns arrais de barcos piscatórios do Lugar de Baixo e da Ponta do Sol peticionaram para que a Câmara da Ponta do Sol anulasse a obrigação do pagamento de uma libra por cada arroba de peixe de posta transaccionado. Os camaristas entendem não cumprir com esta solicitação. O recebimento desta imposição era feito por meio de arrematação periódica; na falta desta arrematação, a Câmara delegava a arrecadação num oficial camarário128.

Em finais de Oitocentos, mais precisamente em 1889, consoante o InquéritosobreapescaemPortugalContinentale Ilhasnoanode1890, sobre o peixe recaíam impostos diferenciados consoante os concelhos da Madeira. Podemos visioná-los na tabela seguinte.

TABELAXIIImpostosConcelhiossobreoPeixenaIlhadaMadeira–1889129

Concelhos

Funchal Santa Cruz Porto do Moniz Machico

Impostos

20réis – celha de

peixe fresco, lapas

ou caranguejos;

10réis – celha de

peixe salgado;

50réis – 1 atum

rabil;

20réis – 1 atum;

5réis – 1 peixe-

espada

10réis – venda no

mercado, por dia;

20réis – celha de

peixe;

200réis – centena

de gaiados

frescos

15réis – 15 kgs

de atum salgado;

30réis – 15 kgs

de atum fresco

5% do valor do

peixe vendido nos

mercados

Fonte: FREITAS, 2007, «A Pesca do Atum no Arquipélago da Madeira nos Finais do séc. XIX», p. 99.

variando de uma localidade para outra as devoções a que se destinavam tais ofertas.» (RIBEIRO, 1998, RibeiraBrava–SubsídiosparaaHistóriadoConcelho, p. 188).

128 RIBEIRO, 1993, PontadoSol–subsídiosparaahistóriadoconcelho, p. 148.

129 Não era cobrado imposto em Câmara de Lobos e Porto Santo (FREITAS, 2007, «A Pesca do Atum no Arquipélago da Madeira nos Finais do séc. XIX», p. 99).

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Instrumentos e Técnicas

As técnicas e instrumentos aplicados na actividade da pesca na Madeira merecem o qualificativo global de artesanais130.

Em termos gerais, segundo os estudiosos, a aparelhagem usada na faina não é muito variada. O aparelho de anzol é predominante, de acordo com os recursos naturais esboçados acima131. O melhor será sistematizarmos a utensilagem por intermédio de uma representação gráfica.

TABELAXIIIAparelhosdePescausadosnoArquipélagodaMadeira

Aparelhos

anzol

rede covos/nassashaste e linha linha

um anzolvários

anzóisum anzol

vários

anzóis

Designações/

Tipos

saltodo

atum;

varado

gaiado;

canade

pescar

briqueira;

cherriola

agulheira;

linhado

atum

gorazeira;

espinhel;

aparelho

das

espadas

redecircular

oudefole;

redede

atravessar;

redede

arrasto;

tresmalhos;

tarrafas;

peneiro

cilíndricos (covo

demoreias);

poliédricos (covo

desalmonetes);

truncónicos (covo

decaramão);

semi-esferoidal

(murjona)

Fonte: NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, pp. 48-53.

130 «Esta actividade, [...] apesar de alguma evolução tem mantido uma feição artesanal» (VIEIRA, FREITAS, 2008, «A Economia da Madeira no período pré-autonómico», p. 162).

131 Com efeito, «Com águas profundas e solo marinho escabroso, o pescador destas ilhas tem de preferir os aparelhos flutuantes de anzol, usando mais raramente os que exigem o contacto com o fundo do oceano.

Assim, os arrastões a vapor, êsses modernos aparelhos de pesca intensiva que à metrópole fornecem grande massa de alimento piscatório, estão pela natureza e altura dos fundos, excluídos destas acidentadas regiões insulares.» (NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, p. 44).

Orlando Ribeiro sintetiza de modo eloquente: «A queda brusca do relevo submarino na Madeira não é favorável ao desenvolvimento do plâncton que atrai os cardumes de peixes aos fundos elevados. Um grande número de espécies vive a profundidades de 1500 a 2000 metros, onde as redes não podem descer. Devido a este facto, a pesca toma um carácter muito especial: pratica-se por meio de anzóis fixados na ponta de linhas com algumas centenas de metros. [...]

a originalidade da pesca na Madeira provém do emprego de um grande número de tipos de linha e canas de pesca, na extremidade das quais são fixados os anzóis» (RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, pp. 103, 106).

Numa monografia de teor linguístico, etnográfico e folclórico sobre o Porto Santo, de finais da década de 40 do século XX, lê-se ainda o seguinte: «São raramente usados nestas regiões, de grandes profundidades e acidentado solo marinho, os aparelhos de pesca que tocam os fundos. Preferem-se os flutuantes e os de meia altura, estando o pescador impossibilitado de empregar os modernos processos, já usados no nosso Continente, de arrastões a vapor» (COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, p. 54).

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Além do que fica esquematizado132, refira-se ainda um processo piscatório denominado de corrico,

«[...] que consiste em fazer correr uma embarcação que leva após si uma ou duas linhas com anzol no extremo, onde se fixa a isca, a qual pelo movimento é obrigada a deslizar não muito longe da superfície da água.»133.

Algumas questões, porventura impossíveis de responder por agora de forma satisfatória, são de se colocar.

A primeira é a origem destas artes da pesca. É presumível que as técnicas e aparelhos usados, e apresentados acima, tenham vindo das comunidades piscatórias do continente português – o que remete, desde logo, para a problemática da origem geográfica dos povoadores da Madeira. Apesar de sobre tal assunto não haver unanimidade, e restarem sempre dúvidas devidas ao silêncio da documentação quatrocentista, o povoamento da Madeira terá sido feito preponderantemente por minhotos. Etnógrafos, como Jorge Dias, e historiadores, como Luís de Sousa Melo, têm afirmado essa proveniência; indicadores usados – os mais fiáveis, apesar de tudo – são os dados demográficos colhidos dos registos paroquiais quinhentistas e a utensilagem agrícola (entre outros elementos da cultura material), semelhante nos espaços madeirense e do norte de Portugal134. A metodologia subjacente a estes últimos indícios – a comparação dos aparelhos artesanais usados no arquipélago da Madeira com os de outros locais – podia deslindar acerca da génese do saber dos pescadores do arquipélago da Madeira135. Diga-se, ainda assim, que os autores de clássicos sobre o arquipélago têm mencionado a filiação das artes da pesca na Madeira no saber e na mão-de-obra, digamo-lo assim, algarvios136 – o que, a nosso ver, permanece por provar. Acerca, ainda, da proveniência e evolução destas artes, que espelhe ou não a adaptação dos utensílios e modos de fazer, recebidos do exterior, a este contexto espacial, os estudos linguísticos podem deitar luz

132 Sobre os instrumentos e as técnicas usados especificamente na pesca do atum, em finais do século XIX, neste arquipélago – de acordo com o InquéritosobreapescaemPortugalContinentale Ilhasnoanode1890, veja-se FREITAS, 2007, «A Pesca do Atum no Arquipélago da Madeira nos Finais do séc. XIX», pp. 101-102. Acerca das «artes de pesca» em Câmara de Lobos, consulte-se RIBEIRO, 1993, «A Pesca em Câmara de Lobos», pp. 11-12.

133 NORONHA, SARMENTO, 1948, VertebradosdaMadeira, 2.º vol., Peixes, p. 53.

134 Luís de Sousa Melo procedeu a uma revisão bibliográfica da questão, mencionando os contributos, neste particular, de: Padre Fernando Augusto da Silva, Jorge Dias, Raquel Soeiro de Brito, Orlando Ribeiro, Joel Serrão, Alberto Iria e Ernesto Gonçalves. Tendo por base os assentos de matrimónio da freguesia da Sé, de 1539 a 1600, Sousa Melo conclui que «[...] a imigração na Madeira constituiu-se predominantemente, [...] com naturais dos distritos de Braga, Viana do Castelo e Porto». O autor alvitra que tal considerando serve para o período anterior de ocupação humana da Ilha da Madeira, pois «[...] não foi durante os 115 anos ou nas quatro gerações anteriores que se alteraram as bases geográficas da emigração portuguesa continental» (MELO, 1988, «O problema da origem geográfica do povoamento», pp. 21, 29).

Jorge Dias, por seu turno, num estudo preliminar com base em pesquisas de campo durante dez dias, verificou que, no que toca à origem do «quadro etno-cultural da Madeira», «[...] a influência de algumas regiões do país foi enorme.» Apurou, na verdade, «[...] que as analogias culturais [da Madeira] com o Norte de Portugal são numerosíssimas e revelam-se em aspectos muito variados.» (DIAS, 1952, «Nótulas de Etnografia Madeirense. Contribuição para o Estudo das Origens Étnico-Culturais da População da Ilha da Madeira», pp. 179, 181-182).

135 Leia-se o que deixou escrito José Manuel Azevedo e Silva: «Os processos e as técnicas de pesca, inspirando-se, embora, nas usadas no Reino, sofreram algumas inovações, de modo a melhor se adaptarem às espécies a pescar e às condições do meio (profundidade da plataforma submarina, morfologia do fundo marinho, amplitude das marés e das vagas, temperatura e limpidez das águas).» (SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I, pp. 294-295).

136 Sirva de exemplo Eduardo Pereira: «Não se abandonaram, no arquipélago madeirense, os processos primitivos de apanhar peixe a rede, a linha, a fisga ou arpão, introduzidos por pescadores algarvios que se estabeleceram com os primeiros colonizadores e formaram centros piscatórios nestas ilhas.» (NUNES, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, p. 126).

Afirma Jorge Dias: «É natural que a influência algarvia se faça notar sobretudo entre as populações do litoral, para quem a pesca constitui a principal fonte de riqueza. Infelizmente não nos foi possível estudar as culturas litorais relacionadas com a pesca.» (DIAS, 1952, «Nótulas de Etnografia Madeirense. Contribuição para o Estudo das Origens Étnico-Culturais da População da Ilha da Madeira», p. 182).

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significativa e elucidativa137. Um estudioso da cultura madeirense, Alberto F. Gomes, assinalou há mais de meio século alguns dos conceitos usados na pesca138 e Adão Nunes anotou, na sua obra Peixes na Madeira, os «Termos usados pelos Pescadores Madeirenses»139. Interessaria,antes de mais, reafirme-se, cotejar tais conceitos e termos com os de outros espaços, e arguir, assim, conjuntamente com uma análise da utensilagem, da sua originalidade.

Muito do que fica registado, em termos metodológicos, aplica-se precisamente, não só à origem, mas também à questão de se conhecer a evolução que tiveram estes aparelhos e as técnicas a eles associadas ao longo dos séculos de História da Madeira. É, na verdade, interrogação difícil de deslindar. Vimos atrás que os municípios regulamentavam acerca da necessidade de salvaguardar certos recursos. Decorre nesse contexto a referência a instrumentos específicos desta faina, fornecendo indicadores esparsos sobre aparelhos. Todavia, provavelmente não conseguiremos surpreender mutações claras nas artes piscatórias; podemos supor que uma análise exaustiva, de toda a documentação municipal existente, mormente vereações e posturas, poderia contribuir, relativamente à Época Moderna, para uma cabal dilucidação. Mas, repetimos, tal parece-nos duvidoso.

Recorde-se os factos mencionados acima acerca da troca de saberes entre pescadores madeirenses e de Sesimbra, a partir de inícios do século XIX, e da actividade baleeira ensinada por açoreanos. Estes indicadores devem igualmente ser considerados – e ser lidos com olhos direccionados para a tecnologia. De resto, a metodologia mais fecunda será de teor etnográfico, à semelhança do que se disse sobre a origem. Não obstante, como é constatável neste e noutros vários assuntos, alguns inquéritos deste cariz – etnográfico – têm sido realizados, embora desprovidos, de um modo geral, de uma clara explicitação dos passos metodológicos e das fontes (orais, preponderantemente) que constituem a sua base e ainda de preocupações metodológicas de teor comparativo.

De certa forma, quando nos referimos a origens, evoluções – e inovações ainda –, referimo-nos também a um dos tópicos mais relevantes da História da Técnica (e da Ciência): isto é, à transferência de saberes, de técnicas, de instrumentos. Essa história, afinal, permanece por fazer, em termos gerais e em moldes científicos, num espaço onde estes temas assumem particular acuidade – num espaço que é, de certo modo, periférico como o arquipélago da Madeira.

Ainda assim, sob pena de nos adiantarmos na explanação deste assunto, aponte-se um fenómeno, em épocas mais recentes, ilustrativo de uma transferência de saberes.

É do nosso conhecimento que, aquando a descolonização, alguns pescadores madeirenses radicados em Angola regressaram trazendo as embarcações que usavam na faina piscatória nesta parte de África. Vinha no seu espólio um instrumento de pescar inédito na Madeira, a rede de

137 Já uma autora fez, em termos globais, tal apelo: «Seria muito curioso e interessante um trabalho sobre a linguagem e vida destes centros madeirenses [Porto Santo, Machico, Câmara de Lobos, Paul do Mar].» (COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, p. 56).

138 «É auscultando o povo no seu labor cotídiano, na sua vida, junto á terra, no meio familiar, nas reuniões colectivas, nos seus anceios e reivindicações que havemos de colher os melhores frutos duma linguagem caraterística, estuante de rudeza e movimento.

[...] A tecnologia rural compreende uma grande variedade de termos que seria exaustivo enumerar. Apontemos, no entanto, alguns: DAS INDUSTRIAS: [...] Apesca: apoitar, aparelhos dos atuns, altio, baixa, babuja, briqueira, busegar, barbela, bucheiro, barquio; banda da

lasca e dos cães; cabrita; em caides; mar choco; de corrique; cambolhada, crequilha; espichel, isbralho, gorazeira; mar-mauco; pexio, fazer a calhota, engano da ré; marreira; tempo de vela; barco das Desertas etc.» (GOMES, 1949, «Achegas para um estudo do dialecto insular IV», p. 213).

139 NUNES, 1994, PeixesdaMadeira, pp. 253-272.

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emalhar. Sendo um aparelho que serve uma pesca não selectiva, os recursos piscícolas existentes ao largo das ilhas Desertas (onde se usaram tais redes) começaram a ficar esgotados. As espécies existentes não tinham hipótese de se regenerar e, após se descobrir que tal arte de pesca prejudicava também os lobos marinhos, o Estado teve de intervir, proibindo o uso desta técnica na nóvel reserva natural das Ilhas Desertas140. Exemplo este bem ilustrativo, de facto, de como um nova tecnologia vem aumentar os proventos de certos elementos da classe piscatória e causar desequilíbrios no ecossistema marinho.

Refira-se que os pescadores madeirenses vieram a desenvolver, de forma precoce comparativamente com outros espaços e comunidades piscatórias, a pesca em profundidade do peixe-espada. Um estudo comparativo mais profundo poderia reafirmar ou relativizar tal constatação, mas tudo aponta para o pioneirismo madeirense nesta prática, exercida especializadamente pelos marítimos de Câmara de Lobos141.

Atrás referimos a pesca da eiró, ou enguia. Em termos de técnicas usadas na pesca a esta espécie, nas ribeiras da Madeira, uma postura municipal do Funchal, de meados do século XVI, fornece indicador relevante:

«[...] nenhũa pessoa mate yros com secadas nas ribeiras, nem mude as agoas assy como correm, sob pena de duzentos reis»142.

Achamos útil reproduzir aqui uma tabela sobre a pesca neste arquipélago que correlaciona as espécies piscícolas com os aparelhos de pesca utilizados na sua captura.

TABELAXIVCorrespondênciaentreAparelhosdePescaeEspéciesdePeixe,

noArquipélagodaMadeira

Aparelhos de

pescaEspécies de peixe

agulheira finaAgulha, dobrada, boga, cavala, chicharro, encharéu, garoupa, pargo, pegador, peixe-

porco, ranhosa, romeiro, roncador, pargo, sargo veado e trombetaagulheira

grossapeixe-porco, romeiro e sargo

briqueira fina

aranha, arraia, besugo, bica, boga, castanheta, cavala, choupa, carnuda, dormideira,

dormideiro, encharéu, garoupa, goraz, lagartixa do mar, leitão do mar, papagaio, pargo,

peixe-cão, peixe-carneiro, peixe-galo, peixe-Iagarto, ratão, requeme, romeiro, roncador,

sapo, sargo, sargo veado, seifio, solha e truta do alto

140 Factos aduzidos por Henrique Costa Neves (NEVES, 1998, «As Descobertas Portuguesas e o Lobo Marinho no Atlântico», pp. 20, 22). A referida rede «[...] consiste numa arte de pesca composta por uma rede de nylon, com malha reduzida em forma de losango, podendo atingir várias centenas de metros de comprimento. Um dos lados da rede apresenta pequenos pesos de chumbo em todo o seu comprimento, enquanto que no lado oposto estão fixadas, em todo o comprimento, inúmeras pequenas bóias em plástico ou cortiça. A altura de uma rede de emalhar pode atingir os 3 metros. As redes assim constituídas são estendidas, a partir de uma pequena embarcação, ao longo do fundo do mar, ficando a parte da rede com os chumbos pousada no fundo enquanto as bóias, mantêm a rede vertical ao longo da coluna de água, formando assim «muros» com centenas de metros de comprimento, invisível aos peixes, que acabam por ficar presos pela cabeça e pelas guelras ao tentarem atravessar a rede. Quanto mais se debatem os peixes, mais se vão emaranhando na rede, sendo impossível a sua fuga.» (NEVES, 1998, «As Descobertas Portuguesas e o Lobo Marinho no Atlântico», p. 20).

141 Leia-se Alberto Artur Sarmento: «O pescador de Câmara de Lobos […] avançou mais ao mar, lançou as linhas mais ao fundo, arrancando do abismo azul peixes até então desconhecidos, muito antes ainda que as expedições de sábios viessem narrar ao mundo científico a fauna caprichosa das profundezas do mar.» (SARMENTO, 1953, FreguesiasdaMadeira, p. 34). Veja-se também TELES, 2006, «A Pesca do Peixe-Espada Preto e a sua Evolução», pp. 99-102.

142 Postura citada por SILVA, 1995, AMadeiraeaConstruçãodoMundoAtlântico(SéculosXV-XVII), vol. I, p. 296.

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briqueira

grossa

abrótea, bico doce, boca negra, cação, caneja, coelho, congro, cornuda, dormideira,

dormideiro, espada, freira, gata, leitão do mar, liro, moreão, moreia amarela, moreia

preta, moreia serpente, pescada, ratão, requeme, romeiro e salmonete do alto

espinhel fino

abrótea, aranha, arraia, besugo, boga, bica, choupa, cornuda, dormideira, dormideiro,

encharéu, garoupa, goraz, lagartixa do mar, lagarto, leitão do mar, as várias espécies de

moreia, moreão, pargo, peixe-carneiro, peixe-galo, ratão, requeme, romeiro, tormentina

e truta do alto

espinhel

grosso

albafar, alfonsim, bico doce, boca negra, cação, caneja, congro, cornuda, dormideira,

dormideiro, espada, freira, leitão do mar, liro, peixe-coelho, ratão, requeme, rebaldo,

romeiro, salmonete e tormentinacherriola fina cherne, leitão do mar, liro, peixe-coelho, pescada e salmonete do alto

cherriola

grossa

abrótea do alto, albafar, bico doce, cherne, escolar, gata, Ieitão do mar, liro, mona, peixe,

azeite, peixe-coelho, pescada, salmonete e salmonete do altochambião xara e espada preta

grozeira (ou

gorazeira) fina

aranha, boga, boqueirão, cabra, carneiro, castanheta encarnada, castanheta imperador,

cavala, chicharro, garoupa, goraz, pargo, peixe-cão, peixe-galo, peixe-porco, requeme,

sargo, sargo veado e tinta em pégrozeira (ou

gorazeira)

grossa

abrótea, peixe-porco, requeme e safio

linha vã badejo, bicuda, cação, enchova, medo e pargolinha para

atum

atum, bicuda, bicuda da Índia, cação, cornuda, dourado, enchova, escolar, marracho,

peixe-agulha, peixe-cavallo, peixe-cravo, peixe-rato, tintureira, truta, tubarão e voador.

peneirobodeão pequeno, caboz, castanheta baia, castanheta ferreira, garoupa pequena, peixe-

verde, rocaz, truta, seifia e peixe-rei.rede de fole

de malha

fechada

arenque, castanheta baía, castanheta ferreira, guelro, peixe-rei, peixe-verde, sardinha e

trombeteiro

rede de fole

de malha

larga

boga, castanheta, cavala, chicharro, peixe-rei, peixe-verde e sardinha

tarrafa dobrada, Iagosta, mujinha, salema, sargo e tainhacovos para

camarão

camarão (para isco da bica, garoupas, pargo, sargo veado e safio), congro, moreia e

polvocovos para

moreiaTodas as espécies de moreia e moreão.

covos para

salmonete

bodeão, castanheta, congro, moreia, peixe-verde, polvo, salmonete encarnado, sargo e

safio

cana de pescaarenque, bodeão, boga, cavala, chicharro, dobrada, dourado, peixe-verde, ranhosa,

rocaz, romeiro, salema, sapo, trombeta e voador de asas.vara para

gaiadobicuda, dourado, enchova e gaiado

vara de salto atum

Fonte: LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, pp. 166-167143.

143 Adolpho Loureiro, após fazer referência à relevância das estatísticas oficiais relativas à pesca do «reino e ilhas adjacentes», em especial a que concerne ao ano de 1907, menciona a sua pretensão em dar «mais minuciosa

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Para além do que fica explanado em termos tecnológicos, é de atender ainda à pesca à bomba144 – realidade, certamente, dos séculos XIX e XX –, alvo de vigilância e de sanção por parte das instituições administrativas da Madeira. Parece-nos, pelos factos avulsos lidos na bibliografia, que tal expediente – uso da bomba ou dinamite na pesca – é ocorrência particular ou preponderante em espaços junto à orla costeira onde a actividade da pesca não era muito relevante, tal como era nos principais núcleos acima mencionados. Aliás, julgamos que tal prática, no mar da costa nortenha da ilha da Madeira145, mais ou menos solitária, era exercida com o fito de assegurar um outro alimento que permitisse uma maior subsistência. Ou seja, a economia de mercado não será elemento atendível, pelo menos de modo decisivo, nesta realidade. Tal prática era, apesar de perigosa, alvo de reincidência, por vários motivos. É da nossa opinião que tais motivos são: mar alteroso – no norte – que não aconselhava a navegação e o manejar dos aparelhos de pesca mencionados; uma relativa rapidez na captura de peixe; facilidade também na pesca, pela ausência de necessidade de domínio artesanais das artes; o vício – porque não dizê-lo? – de quem, em virtude da subida de adrenalina, não conseguia abandonar tal procedimento (mesmo depois de mutilação dos membros superiores).

Ainda no capítulo dos processos, técnicas e produtos usados na pesca, refira-se o caso da utilização da planta saião ou ensaião (Sempervivumglutinosum) com o fito de tornar mais resistentes e mais escuras (logo, menos visíveis aos peixes) as linhas e redes de pesca146.

Importante inovação foi o uso de iluminação a bordo das embarcações de pesca. Primeiro fazendo uso de petróleo147, depois de electricidade, tal iluminação não só prolongou e aumentou, como se afigura óbvio, o tempo dedicado à faina e o espaço marítimo explorado, como trouxe novas formas de atracção do peixe (especialmente no caso da ruama)148. Na verdade, algum pescado é

noticia» sobre a pesca na Madeira. Neste sentido, recorre aos «preciosos esclarecimentos» prestados por um oficial de marinha, que exerceu «[...] distinctamente um cargo official adjunto á capitania do porto do Funchal» O quadro reproduzido em corpo de texto é fruto precisamente desta partilha de informação (LOUREIRO, 1910, OsPortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, pp. 164-165).

144 Nas palavras do Visconde do Porto da Cruz, «Na Madeira apesar das penalidades, é corrente o emprêgo de BOMBAS DE CLORATO, que tão grandes estragos originam, matando milhares de peixes novos e afugentando outros.

No Pôrto Santo empregam, com freqüencia, a BOMBA DE CAL. Com uma pequena lata, cheia de calvirgem, que molham o bastante para ferver, e que logo fecham e atiram ao mar, conseguem o efeito da bombadeclorato, talvez ainda mais danosamente.» (CRUZ, 1940, AfaunamarítimadaMadeira, p. 4).

145 «Esta problemática das bombas para matar peixe não só no Seixal, como noutras localidades da costa Norte, tem persistido até quase aos nossos dias.» (RIBEIRO, s.d., HistóriaeEstóriasdoSeixal, p. 65).

146 «Para farrobar as rêdes e linhas de pesca, isto é, dar-lhes maior resistência e uma coloração escura, menos visivel, dentro da água, é usada uma composição taninosa obtida do saião e ensaião, Sempervivumglutinosum, curtido em urina, que na sua aplicação, exala um cheiro repugnante.» (SARMENTO, 1941, AspequenasindústriasdaMadeira, p. não numerada). Alberto Artur Sarmento regista que diversos sítios ou localidades na Madeira e Porto Santo têm o nome de Farrobo (SARMENTO, 1953, FreguesiasdaMadeira, p. 84). O estudo da toponímia, na verdade, poderia abrir novos horizontes no estudo da actividade da pesca, por exemplo como fonte de indicadores qualitativos da implantação de núcleos piscatórios hodiernamente inexistentes.

Acrescente-se que o ElucidárioMadeirense regista que o látex da planta arbustivaEuphorbiapiscatoria (uma de três que merecem o nome comum, na Madeira, de figueira do inferno), era usado para «[...] cegar ou atordoar o peixe que aparece à beira-mar.» (SILVA, MENESES, 1978, «Figueira do Inferno», in ElucidárioMadeirense, vol. segundo, p. 29).

147 Numa descrição da actividade da pesca do chicharro no Porto Santo, lemos o que se segue: «Noite escura sem lua. Seis homens numa canoa. Contrário ao vento, fogaréu do maçarico a petróleo, cuja torcida – uma grande boneca de serapilheira atada na extremidade do cano, – de fumarenta, transforma pescadores em carvoeiros, enegrecendo-lhes corpo e roupas. [...]

Atraído pelo engodo e pelo intenso facho luminoso, o peixe vem aos cardumes cair na rede de malha estreita.» (COSTA, 1950, PortoSanto.MonografiaLinguística,EtnográficaeFolclórica, pp. 56-57; os itálicos são da autora).

148 Käte Brüdt, na sua monografia de pendor linguístico e etnográfico sobre a ilha da Madeira, publicada na década de 30, dedicou apenas algumas frases à pesca. No entanto, refere esta prática ao largo da baía do Funchal. Eis o que deixou registado: «A pesca é um dos mais importantes meios de alimentação da população madeirense. Quem visite o Funchal pode gozar o interessante espectáculo da pescaria durante a noite. Os pescadores atraem o

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atraído à superfície pela incandescência e luminosidade, ficando à mercê de uma captura mais fácil.Mudanças importantes foram também a introdução de motores149 e de sistemas de refrigeração

nas embarcações, entre outras. Resta medir as implicações na faina trazidas pelas mencionadas inovações – saber, por exemplo (entre outros), o quanto fizeram aumentar, ao lado de técnicas de cariz artesanal, o peixe capturado.

Questões e Problemas para Análise Futura

Uma das constantes da História da Madeira é a da escassez de recursos marinhos. No que respeita à extracção de sal (que tem sido alvo da nossa análise) e à captura de fauna marinha para o consumo humano (à qual é nossa intenção dedicar futuramente um estudo profundo, em termos económicos, sociais e tecnológicos), para os madeirenses, contrariamente ao que qualquer ideia comum faria pensar, o mar cedo assumiu-se mais como uma via de comunicação, que permitia a importação de víveres, do que como uma reserva de alimentos.

Sem sermos exaustivos, certos problemas e questões, alguns já referidos, se colocam ainda para análise futura. Apresentamo-los a seguir.

Esclarecer a escassez de recursos piscícolas nas várias épocas150 e adentro dos micro-espaços do arquipélago da Madeira; observar os modos e dinâmicas sociais de apropriação dos recursos; indagar acerca da importação de pescado na Época Contemporânea, período ainda por observar; estudar o comércio interno, delineando as malhas da distribuição, e atendendo também aos agentes e estruturas comerciais e ao controle e normatização das instâncias de poder, nomeadamente durante os séculos XVIII a XX; estabelecer a relação de dialéctica entre as pressões do mercado consumidor, o abastecimento de peixe do exterior e a actividade piscatória; verificar, historicamente, o peso do sector das pescas na economia do arquipélago; averiguar da especialização de determinadas comunidades piscatórias em certas fainas e em certas espécies151; observar pormenorizadamente as flutuações sazonais da actividade152; atender à divisão sexual, etária, familiar e comunitária do trabalho; aprofundar o estudo das tentativas de fomento por parte de instâncias de poder locais, regionais e centrais; perscrutar estratégias e práticas de cunho empresarial; perceber e analisar a divisão dos proventos da pesca entre marítimos, proprietários

peixe acendendo grandes fachos. Uma enorme quantidade de barcos, feèricamente iluminados, dá então à baía um aspecto deslumbrante.» (BRÜDT, 1937, «Madeira. Estudo lingüístico-etnográfico», p. 65).

149 Em obra de divulgação dada à estampa em 1985, lê-se que neste espaço insular «Têm sido geralmente usadas embarcações para a pesca de pequeno costado, mas agora há barcos maiores a motor ou a gasolina ou a petróleo» (CÉSAR, 1985, IlhadaMadeira“ParaísoTerrestre”. SuaHistória,PovoeMentalidade. AspectoSocial,Económico,TurísticoeCultural, p. 193).

150 Atenção especial poderia ser dada ao século XX, quando a industrialização da captura e do processamento do pescado (referimo-nos às fábricas de conservas) se implantou no arquipélago; basicamente, seria relevante averiguar as respostas do meio, em termos de depredação de recursos piscícolas, a estes fenómenos. Por outro lado, o papel das mutações em termos geomorfológicos na orla costeira, por acção humana, e a sua influência nos ciclos de vida dos peixes, seria fenómeno igualmente a considerar.

151 Vimos como os pescadores de Câmara de Lobos especializaram-se na pesca do peixe-espada preto. Pedro Ornelas assevera – o que carece de maior demonstração, a nosso ver, mas aqui fica a título de hipótese deveras plausível – que os pescadores do Caniçal e de Machico, por outro lado, exerceram sobretudo a pesca dos tunídeos (ORNELAS, 1995, «Os Meios de Vida e Reprodução da Unidade Doméstica numa Povoação Piscatória Madeirense: O Caniçal», p. 131).

152 Um ponto de partida para tal perscrutação está em Orlando Ribeiro: «[...] o arco constituído pelo grupo da Madeira e das Desertas forma uma espécie de gigantesca rede natural. A protecção da ilha contra os ventos permite que as embarcações da costa sul vão para o mar durante quase todo o ano, excepto quando, no fim do Inverno, sopram os ventos de Oeste e Sudoeste. Assim, a pesca não apresenta aqui essas variações sazonais tão frequentes em Portugal, onde nas praias se puxam para terra as pequenas embarcações, durante os longos meses de mau tempo.» (RIBEIRO, 1985, AIlhadaMadeiraatéMeadosdoSéculoXX.EstudoGeográfico, p. 104).

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de embarcações, empresários, companhas e instituições de enquadramento social; aprofundar o estudo da fiscalidade – em especial dos processos de percepção dos impostos e respectivos intervenientes; traçar a origem e evolução das técnicas e aparelhos usados na faina.

Além disso, seria interessante direccionar a atenção, de modo problematizador e analítico, em visões a longo prazo, para: os suportes materiais desta actividade (infra-estruturas portuárias; construção naval; etc.); o estatuto social e profissional dos pescadores, perceptível através de práticas de sociabilidade153 e associativismo154, capacidade e poder económicos, formas de representação sócio-cultural155, grau de proximidade a outros grupos sociais e profissionais e ao poder; e for fim, a religiosidade e as crenças do foro sagrado e supersticioso156.

Uma metodologia comparativa impõe-se igualmente, a começar entre as ilhas habitadas do arquipélago, Madeira e Porto Santo, e a continuar entre outros espaços ilhéus atlânticos: Açores e Canárias.

153 Um relevante contributo é o de GRACIAS, 1998, PescadoreseTabernas:ManifestaçõesdeSociabilidadeemCâmaradeLobos–Madeira.

154 Nas quais imperam, como não podia deixar de ser, as confrarias (veja-se VERÍSSIMO, Nelson, 1992, «A Confraria do Corpo Santo no Séc. XVIII», in Islenha, n.º 10, pp. 116-124), a Associação de Socorros Mútuos dos Pescadores da Madeira, até 1937, e a Casa de Pescadores, a partir de 1939 (veja-se PEREIRA, 1989, IlhasdeZargo, vol. II, p. 139-143).

155 Um dos modos de averiguar tal representação surge pela observação da procissão do Corpo de Deus, a qual permite, no caso do Funchal, o mais conhecido, «[...] pelas suas características organizativas[,] espelhar a estratificação social do núcleo urbano.» Aí estão, com efeito, segundo documento de 1482, entre diversas outras categorias profissionais, os pescadores, antecedidos pelos cordoeiros e seguidos pelos pedreiros (BARROS, GOMES, SILVA, 1989, «A Festa Processional «Corpus Christi», no Funchal (Sécs. XV a XIX)», pp. 347, 348).

156 Segundo Fernando de Aguiar, «Os homens do mar ainda não perderam a fé dos costumes, nem a fé que lhes anda na alma, e não lançam rêde, nem suspendem cana, nem comandam embarcação, que em casa junto dos seus não esteja a lamparina com o Senhor alumiado pelas orações dos que ficam, nem que no coração e nas promessas dos que andam na faina sob o patrocino tutelar de Simão Pedro não esteja presente a meiga protecção de Nossa Senhora, Mãe dos Homens e dos pescadores.» (AGUIAR, 1950, «“A alma da Madeira”. Apontamentos Singelos para a sua Interpretação», p. 32). A realidade que estas palavras representam, e cuja veracidade deve ser confirmada, constitui bem um manancial para estudos de âmbito sociológico e antropológico.

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TABELAXVValoresdaPescanoArquipélagodaMadeira,

porporto,empercentagens–1909

Porto de Pesca %

Câmara de Lobos 37,69

Funchal 34,28

Ponta do Sol 7,40

Paul do Mar 6,52

Machico 4,57

Santa Cruz 2,52

Porto Santo 2,16

Porto da Cruz 1,27

Calheta 1,27

Caniço 0,97

S. Vicente 0,82

Porto do Moniz 0,53

Total 100

Fonte: LOUREIRO, 1910, Os PortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

TABELAXVIValoresdoImpostosobreoPescadonoArquipélagodaMadeira,porporto,

empercentagens–1909

Portos de Pesca %

Câmara de Lobos 33,761

Funchal 31,639

Paul do Mar 7,722

Machico 4,714

Ribeira Brava 3,144

Santa Cruz 2,848

Madalena do Mar 2,581

Campanário 2,123

Ponta do Sol 1,557

Calheta 1,311

Porto da Cruz 1,214

Ponta Delgada 1,108

Porto Santo 1,096

Caniço 1,012

S. Vicente 0,780

Lugar de Baixo 0,691

Porto Moniz 0,675

Seixal 0,472

Caniçal 0,445

Tabua 0,298

Jardim do Mar 0,238

Faial 0,137

Ponta do Pargo 0,107

Aldonça 0,086

Porto Novo 0,082

Anjos 0,082

S. Jorge 0,046

Seixo 0,033

Total 100

Fonte: LOUREIRO, 1910, Os PortosMaritimosdePortugaleIlhasAdjacentes, vol. V, parte I, ArchipelagodaMadeira, p. 169.

ANEXOS

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157 Foram vários os estudos consultados; no entanto, optámos por indicar somente aqueles de que fizemos citação neste artigo.

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