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Prof. João Coelho [email protected] AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA PROVA B ESPECIALISTA MANHÃ 02 DE JUNHO DE 2013 REGULAÇÃO 41. Assinale a alternativa que apresenta a Agência Reguladora brasileira supervisionada pelo Ministério do Meio Ambiente. (A) Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL. (B) Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS. (C) Agência Nacional de Transportes Aquaviários ANTAQ. (D) Agência Nacional de Águas ANA. (E) Agência Nacional do Petróleo ANP. COMENTÁRIO: A ANEEL E A ANP são vinculadas ao Ministério de Minas e Energia MME; a ANS é vinculada ao Ministério da Saúde e a ANTAQ, ao Ministério dos Transportes. Conferir a legislação federal sobre as agências reguladoras <clicando aqui > 42. Em relação à Análise do Impacto Regulatório (AIR), assinale a alternativa incorreta. (A) Em 2007, a Anvisa realizou o primeiro evento sobre AIR no país, em conjunto com a Casa Civil e os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, Orçamen- to e Gestão, denominado “Seminário Internacional de Avaliação do Impacto Regulatório: experiências e contribuições para a melhoria da qualidade da regu- lação”. (B) A AIR pode ser compreendida como um processo de gestão de riscos regulatórios com foco em resul- tados, orientado por princípios, ferramentas e meca- nismos de transparência, participação e accountabi- lity. (C) A AIR contribui para se ter como produto final uma regulação de alta qualidade, que não distorça desnecessariamente a concorrência, que seja sim- ples, proporcional, consistente e transparente, ou seja, que atenda os objetivos de política a que ela se destina, ao menor custo possível para a sociedade. (D) A AIR ainda não foi adotada pela ANVISA, embo- ra levando em consideração a relevância do modelo institucional da gestão da regulação para o cresci- mento econômico sustentado do país, a Secretaria de Gestão de Programas de Transportes (Seges) tem apoiado o fortalecimento institucional do sistema regulatório brasileiro por meio da adoção deste ins- trumento. (E) A AIR é utilizada desde 1974 pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimentos Econômico (OCDE), e embora cada país adote um formato de acordo com suas características, existem elementos chaves adotados como boas práticas de Avaliação de Impacto Regulatório, tais como, maxi- mizar o comprometimento político com a AIR, de- senvolver e implementar estratégias de coleta de dados para AIR, integrar a AIR com o processo de elaboração de políticas públicas e usar métodos ana- líticos consistentes e flexíveis COMENTÁRIO: A AIR já foi adotada pela ANVISA, no âmbito do Programa de Melhora Regulatória PMR-ANVISA, desde 2008, con- forme expressamente mencionado em sala de aula. Não eram ne- cessários conhecimentos aprofundados sobre a metodologia e a sistemática da AIR: bastava saber que a ANVISA já a praticava. Convém lembrar que mencionamos, igualmente, que outras agên- cias como a ANEEL, que implantou AIR agora em março tomaram por base o exemplo da ANVISA e que essa agência também foi pio- neira na utilização da Agenda Regulatória como instrumento de melhoria da qualidade regulatória. 43. As principais teorias que aportaram fundamentos para o estudo da regulação econômica dos serviços públi- cos são: teoria da regulação econômica, teoria do bem estar social, teoria dos monopólios naturais e teoria dos mercados contestáveis. Sobre o assunto, marque V para verdadeiro ou F para falso e, em seguida, assinale a al- ternativa que apresenta a sequência correta. ( ) Para a teoria da regulação econômica, a intervenção do Estado na economia visa à regulação de eventuais desequilíbrios do mercado e promover o desenvolvimento econômico. As diretrizes dessa intervenção são: maximi- zação da utilidade coletiva,fomentação e estabilização do crescimento econômico e redistribuição da renda. COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, a fundamentação econômica da intervenção indireta do Estado na economia é a preo- cupação com as situações que não são equilibradas apenas pelo próprio processo econômico; é dizer: a correção das falhas de mer- cado pela regulação visam aumentar a maximização da utilidade (eficiência alocativa), a maximização da produção a baixos custos (eficiência produtiva) e a redistribuição dos recursos econômicos (eficiência distributiva). Correta, portanto, a assertiva. ( ) A teoria dos monopólios naturais defende que o Esta- do vede exclusividade para uma única empresa privada, alegando não ser a forma mais eficiente de exploração de determinado serviço público, pois haveria assim um custo maior de produção do que em qualquer outra situação. COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, em situações que configuram monopólio natural, além de já haver uma barreira eco- nômica à entrada de concorrentes, existe uma barreira legal à en- trada: ante a impossibilidade de concorrência NO mercado, o Estado realiza o procedimento licitatório em busca de uma concorrência prévia PELO mercado e, posteriormente, controla os preços pratica- dos pelos agentes econômicos e regula também qualidade e infor- mação para que o monopolista natural não pratique qualquer condu- ta lesiva ao consumidor. O erro da questão está em dizer que, nessas situações, o Estado veda a exclusividade: muito contraria- mente, em situações de monopólio natural o Estado promove a exclusividade, dada a impossibilidade e a irracionalidade econômica de duplicar a estrutura necessária à instalação da indústria caracte- rizada por altos custos fixos, economias crescentes de escala, rendas marginais decrescentes e custos irrecuperáveis. ( ) A teoria dos mercados contestáveis considera que o comportamento competitivo é a melhor meta a se buscar com a regulação. Os dois pontos básicos da teoria são os conceitos de mercado contestável e desustentabilidade. COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, a existência de barrei- ras à entrada dizem respeito ao custo de entrar em um mercado. No entanto, em alguns mercados, não basta entrar: é preciso entrar, manter-se e efetivamente rivalizar, ao longo do tempo, com as firmas incumbentes (isto é, aquelas já atuantes no segmento consi- derado). Desse modo, estimular a competição por meio de diminui- ção de barreiras à entrada (econômicas, técnicas, sanitárias) e au- mento de bens substitutos (políticas de incentivo à inovação, política

ANVISA ESPECIALISTA REGULAÇÃO - GABARITO COMENTADO

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AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA PROVA B – ESPECIALISTA

MANHÃ – 02 DE JUNHO DE 2013

REGULAÇÃO

41. Assinale a alternativa que apresenta a Agência

Reguladora brasileira supervisionada pelo Ministério

do Meio Ambiente.

(A) Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.

(B) Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS.

(C) Agência Nacional de Transportes Aquaviários –

ANTAQ.

(D) Agência Nacional de Águas – ANA.

(E) Agência Nacional do Petróleo – ANP.

COMENTÁRIO: A ANEEL E A ANP são vinculadas ao Ministério

de Minas e Energia – MME; a ANS é vinculada ao Ministério da

Saúde e a ANTAQ, ao Ministério dos Transportes. Conferir a

legislação federal sobre as agências reguladoras <clicando

aqui>

42. Em relação à Análise do Impacto Regulatório

(AIR), assinale a alternativa incorreta.

(A) Em 2007, a Anvisa realizou o primeiro evento

sobre AIR no país, em conjunto com a Casa Civil e os

Ministérios da Fazenda e do Planejamento, Orçamen-

to e Gestão, denominado “Seminário Internacional

de Avaliação do Impacto Regulatório: experiências e

contribuições para a melhoria da qualidade da regu-

lação”.

(B) A AIR pode ser compreendida como um processo

de gestão de riscos regulatórios com foco em resul-

tados, orientado por princípios, ferramentas e meca-

nismos de transparência, participação e accountabi-

lity.

(C) A AIR contribui para se ter como produto final

uma regulação de alta qualidade, que não distorça

desnecessariamente a concorrência, que seja sim-

ples, proporcional, consistente e transparente, ou

seja, que atenda os objetivos de política a que ela se

destina, ao menor custo possível para a sociedade.

(D) A AIR ainda não foi adotada pela ANVISA, embo-

ra levando em consideração a relevância do modelo

institucional da gestão da regulação para o cresci-

mento econômico sustentado do país, a Secretaria de

Gestão de Programas de Transportes (Seges) tem

apoiado o fortalecimento institucional do sistema

regulatório brasileiro por meio da adoção deste ins-

trumento.

(E) A AIR é utilizada desde 1974 pelos países da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimentos

Econômico (OCDE), e embora cada país adote um

formato de acordo com suas características, existem

elementos chaves adotados como boas práticas de

Avaliação de Impacto Regulatório, tais como, maxi-

mizar o comprometimento político com a AIR, de-

senvolver e implementar estratégias de coleta de

dados para AIR, integrar a AIR com o processo de

elaboração de políticas públicas e usar métodos ana-

líticos consistentes e flexíveis

COMENTÁRIO: A AIR já foi adotada pela ANVISA, no âmbito do

Programa de Melhora Regulatória – PMR-ANVISA, desde 2008, con-

forme expressamente mencionado em sala de aula. Não eram ne-

cessários conhecimentos aprofundados sobre a metodologia e a

sistemática da AIR: bastava saber que a ANVISA já a praticava.

Convém lembrar que mencionamos, igualmente, que outras agên-

cias – como a ANEEL, que implantou AIR agora em março –tomaram

por base o exemplo da ANVISA e que essa agência também foi pio-

neira na utilização da Agenda Regulatória como instrumento de

melhoria da qualidade regulatória.

43. As principais teorias que aportaram fundamentos

para o estudo da regulação econômica dos serviços públi-

cos são: teoria da regulação econômica, teoria do bem

estar social, teoria dos monopólios naturais e teoria dos

mercados contestáveis. Sobre o assunto, marque V para

verdadeiro ou F para falso e, em seguida, assinale a al-

ternativa que apresenta a sequência correta.

( ) Para a teoria da regulação econômica, a intervenção

do Estado na economia visa à regulação de eventuais

desequilíbrios do mercado e promover o desenvolvimento

econômico. As diretrizes dessa intervenção são: maximi-

zação da utilidade coletiva,fomentação e estabilização do

crescimento econômico e redistribuição da renda.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, a fundamentação

econômica da intervenção indireta do Estado na economia é a preo-

cupação com as situações que não são equilibradas apenas pelo

próprio processo econômico; é dizer: a correção das falhas de mer-

cado pela regulação visam aumentar a maximização da utilidade

(eficiência alocativa), a maximização da produção a baixos custos

(eficiência produtiva) e a redistribuição dos recursos econômicos

(eficiência distributiva). Correta, portanto, a assertiva.

( ) A teoria dos monopólios naturais defende que o Esta-

do vede exclusividade para uma única empresa privada,

alegando não ser a forma mais eficiente de exploração de

determinado serviço público, pois haveria assim um custo

maior de produção do que em qualquer outra situação.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, em situações que

configuram monopólio natural, além de já haver uma barreira eco-

nômica à entrada de concorrentes, existe uma barreira legal à en-

trada: ante a impossibilidade de concorrência NO mercado, o Estado

realiza o procedimento licitatório em busca de uma concorrência

prévia PELO mercado e, posteriormente, controla os preços pratica-

dos pelos agentes econômicos e regula também qualidade e infor-

mação para que o monopolista natural não pratique qualquer condu-

ta lesiva ao consumidor. O erro da questão está em dizer que,

nessas situações, o Estado veda a exclusividade: muito contraria-

mente, em situações de monopólio natural o Estado promove a

exclusividade, dada a impossibilidade e a irracionalidade econômica

de duplicar a estrutura necessária à instalação da indústria caracte-

rizada por altos custos fixos, economias crescentes de escala, rendas

marginais decrescentes e custos irrecuperáveis.

( ) A teoria dos mercados contestáveis considera que o

comportamento competitivo é a melhor meta a se buscar

com a regulação. Os dois pontos básicos da teoria são os

conceitos de mercado contestável e desustentabilidade.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, a existência de barrei-

ras à entrada dizem respeito ao custo de entrar em um mercado. No

entanto, em alguns mercados, não basta entrar: é preciso entrar,

manter-se e efetivamente rivalizar, ao longo do tempo, com as

firmas incumbentes (isto é, aquelas já atuantes no segmento consi-

derado). Desse modo, estimular a competição por meio de diminui-

ção de barreiras à entrada (econômicas, técnicas, sanitárias) e au-

mento de bens substitutos (políticas de incentivo à inovação, política

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industrial e políticas voltadas à diminuição do efeito das mar-

cas, em prol do aumento do grau de substituição dos produtos)

são formas de promover a concorrência e deixar mercado

pouco competitivos (e, portanto, mais propensos a adoção de

abusos de poder econômico) mais desafiáveis, isto é, contestá-

veis, sujeitos a pressões competitivas efetivamente sustentá-

veis. Correta, portanto, a assertiva.

( ) O monopólio natural é uma situação de mercado

cujos investimentos necessários são muito elevados

e os custos marginais são muito baixos.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, custos marginais

decrescentes e custos irrecuperáveis são características dos

monopólios naturais. Correta, portanto, a assertiva.

ALTERNATIVA CORRETA: (C) V/ F/ V/ V

44. Em geral, a prática e a legislação que abor-

dam as Agências Reguladoras atribuem algu-

mas características a elas. Assinale a alternati-

va que não apresenta uma dessas característi-

cas.

(A) Independência e transparência.

(B) Prestação de contas e responsabilidade.

(C) Autonomia financeira e gerencial.

(D) Competência e excelência técnica.

(E) Visão estratégica e abordagem política.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, as agências

reguladoras desempenhas funções DE ESTADO, e não DE GO-

VERNO, razão pela qual sua abordagem não tem orientação

política, mas sim técnica, voltada a cumprir e exercer FUNÇÃO

ADMINISTRATIVA TÉCNICA por meio de ATOS ADMINISTRATI-

VOS (isto é, atos de CUMPRIMENTO CONCRETO, DIRETO e

IMEDIATO da LEI, e não o exercício livre orientado política e

ideologicamente). Dessa forma, a alternativa E está incorreta.

45. Em relação à Regulação de Mercados, analise as

assertivas abaixo.

I. A necessidade de regular os mercados tem dois

motivos essenciais: existência de falhas de mercados

e o controle do abuso de poder econômico.

II. As falhas de mercado são originadas pela estrutu-

ra dos mercados regulados, existência de externali-

dades, imperfeições de informação e pela presença

de bens públicos.

III. As estruturas de mercado concentradas, quando

existem altas escalas de produção em relação à de-

manda, permitem que as empresas possam abusar

de seu poder, praticando preços monopolistas, difi-

cultando a entrada de novos competidores e, através

desses preços monopolistas, distorcer a alocação de

recursos.

IV. As externalidades advêm do fato de que, em de-

terminadas situações, a decisão de um agente eco-

nômico cria ganhos ou perdas para outros indiví-

duos, sem que o responsável se aproprie destes ga-

nhos, ou incorra em seus custos.

V. As Externalidades são também chamadas econo-

mias ou deseconomias externas cujos efeitos podem

ser positivos, mas nunca negativos, em termos de custos

ou de benefícios gerados pelas atividades de produção ou

consumo exercidas por um agente econômico, e que atin-

gem os demais agentes sem que haja incentivos econô-

micos para que seu causador produza ou consuma a

quantidade referente ao custo de oportunidade social.

É correto o que se afirma em

(A) I, II, III e IV, apenas.

(B) III, IV e V, apenas.

(C) I, III, IV e V, apenas.

(D) II, apenas.

(E) I e V, apenas

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, a correção das falhas

de mercado, dentre as quais o abuso de poder de poder de mercado

nas mais diferentes estruturas de oferta (monopólio, oligopólio,

concorrência monopolística) e demanda (inclusive na demanda:

monopsônio e oligopsônio), é fundamento da regulação, ao lado da

correção das distorções das externalidades positivas e negativas,

tanto na produção quanto no consumo, e dos bens públicos, cujo

aproveitamento econômico não é redutível a um preço (especial-

mente nos públicos puros) e, no caso dos semi-públicos, existem

custos positivos de produção (isto é, algum grau de rivalidade).

Quanto aos efeitos negativos e à mecânica do monopólio, correta a

assertiva III, o mesmo podendo ser dito da conceituação de externa-

lidade na assertiva IV. A única incorreta foi a assertiva V, que des-

considerou a existência de externalidades negativas.

46. As Agências Reguladoras são autarquias especiais e

têm uma relativa independência no tocante aos seguintes

aspectos, exceto:

(A) independência política dos gestores, investidos de

mandatos e com estabilidade nos cargos durante um ter-

mo fixo.

(B) independência técnica decisional, predominando as-

motivações apolíticas para seus atos.

(C) independência normativa, necessária para o exercício

de competência reguladora dos setores de atividades de

interesse público ao seu cargo.

(D) independência gerencial, orçamentária e financeira

ampliada através de contratos de gestão celebrados com

o respectivo órgão supervisor da administração direta.

(E) independência político-estratégica e estatutária.

COMENTÁRIO: Conforme discutimos em sala, as agências possuem

diversos graus de autonomia (ou independência) em relação à Ad-

ministração Direta e, em especial, à Chefia do Poder Executivo; no

entanto, dentre essas são está a independêndia político-estratégica,

isto é, a de definir as políticas públicas, que é uma tarefa eminente-

mente política e, portanto, da competência da Administração Direta.

É dizer: a agência executa as políticas regulatórias sem margem de

liberdade de definição ou opção política, visto que, como exercício de

função administrativa, a regulação é, apenas, concretização da von-

tade das normas legais (em sentido amplo, incluindo os próprios

atos administrativos normativos).

47. Em relação ao conceito de falhas de governo, analise

as assertivas abaixo.

I. Uma falha de governo perniciosa é aquela caracterizada

pela captura do órgão regulador pelo agente regulado ou

outro grupo de interesse, haja vista a relação às vezes

muito próxima entre as partes (Teoria da Captura).

II. Uma falha de governo geralmente apontada pela dou-

trina é a alegada propensão dos atos regulatórios em

produzir regras complexas, inflexíveis e burocráticas,

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gerando custos adicionais e desnecessários para o

mercado.

III. Uma falha de governo está ligada ao escopo da

atividade regulatória. Por exemplo, quando a regula-

ção não é apenas federal, pode ocorrer sobreposição

de competências com as esferas estaduais e munici-

pais, gerando conflitos de interesse entre os entes,

com atos regulatórios incompatíveis, que confundem

o agente regulado e aumentam o custo do processo

produtivo.

IV. Uma falha de governo é descrita pela teoria a-

gente-principal, em que o governo, sendo agente,

recebe delegação da Agência Reguladora para exer-

cer um mandato, apresentando, assim, um conflito

de interesse que deve ser administrado.

É correto o que se afirma em

(A) I e II, apenas.

(B) III e IV, apenas.

(C) I, III e IV, apenas.

(D) I, II e III, apenas.

(E) I, II, III e IV.

COMENTÁRIO: ESSA ATÉ O EXEMPLO FOI DADO EM SALA!

ALÉM DISSO, FIZEMOS QUESTÕES EM SALA E DEMOS A DICA

DE QUE TENTARIAM CONFUNDIR O PAPEL DO AGENTE E DO

PRINCIPAL! LEMBRE-SE: PRINCIPAL É PACIENTE (COMEÇA

COM ‘P’); O AGENTE É QUEM AGE. A AGÊNCIA RECEBE, NA LEI

QUE A INSTITUI, A DELEGAÇÃO DE UMA TAREFA: A AGÊNCIA

REGULADORA É, PORTANTO, EM RELAÇÃO AO GOVERNO,

NESSE CASO, AGENTE E ELE, O GOVERNO, PRINCIPAL. ESSES

PAPEIS MUDAM, CONFORME A RELAÇÃO DE QUE SE CUIDE EM

CADA CASO. O IMPORTANTE É LEMBRAR AS CARACTERÍSTI-

CAS DADAS EM SALA: 1) ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO; 2)

COMPORTAMENTOS OPORTUNISTAS E ESTRATÉGICOS DA

PARTE MAIS INFORMADA EM RELAÇÃO À PARTE MENOS IN-

FORMADA; 3) CONFLITO DE INTERESSES; 4) RELAÇÃO IMPER-

FEITA ENTRE ESFORÇOS E RESULTADOS; 5) DELEGAÇÃO DE

TAREFAS E PODERES PARA O EXERCÍCIOS DESSAS.

48. Em relação às Agências Reguladoras, assinale a

alternativa incorreta.

(A) O Direito Administrativo brasileiro incorporou um

instrumento do direito europeu: as Agências Regula-

doras. Estas são consideradas “autarquias”, em face

da independência na sua operação.

(B) O princípio da legalidade administrativa traduz-

se, de modo simples, pela expressão: “a Administra-

ção deve sujeitar-se às normas legais”.

(C) O Poder normativo das Agências Reguladoras é a

competência a elas atribuída para a expedição de

normas gerais e abstratas pertinentes a sua área de

atuação.

(D) Um fundamento apontado para legitimar o poder

normativo das Agências Reguladoras é o de que as

respectivas leis de criação teriam lhes outorgado

competência regulamentar.

(E) As Agências Reguladoras podem editar regula-

mentos de complementação que não devem introdu-

zir obrigações novas, mas especificar as obrigações

introduzidas por leis que demandam complementação

técnica.

COMENTÁRIO: Essa, talvez, seja a questão mais polêmica da prova,

em especial por conta de a afirmativa “A” ter sido dado como errada.

É de se verificar que o modelo de agências reguladoras aplicado no

Brasil, conforme mencionado em sala de aula, tem direta influência

do Direito Norte-Americano (Independent Agencies; Public Utility

Authorities); no entanto, não nos parece errada a afirmação de que

o Direito Administrativo brasileiro incorporou um instrumento do

Direito Europeu, uma vez que o modelo francês de Autoridades

Administrativas Independentes (AAI) certamente influenciou o Direi-

to nacional. Nesse sentido é a lição de Mônica Spezia Justen (JUS-

TEN, Monica Spezia. O serviço público na perspectiva do direito

comunitário Europeu. Revista de Direito Público da Economia, Belo

Horizonte, v. 1, n. 1, p. 137-176, jan./mar. 2003. Disponível em:

http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/35376)

Denise Auad afirma que: “A França, através das Autoridades Admi-

nistrativas Independentes, foi um grande filtro do modelo de agência

reguladora norte-americano, baseado na commom law, limitando

sua autonomia para adaptá-lo à civil Law. O Brasil, ao implantar seu

modelo de agência reguladora, sofre influência do direito norte-

americano com as atenuações implantadas pelo regime francês”.

AUAD, Denise. Autoridades Administrativas Independentes na Fran-

ça. Direito Regulatório: Temas Polêmicos – Coordenação: Profª

Maria Sylvia Zanella Di Pietro – Belo Horizonte: Ed. Forum, 2003

p.475-489)

No mesmo sentido – e com ênfase muito maior - é a lição de LUIZ

ARMANDO BADIN: “A experiência francesa, no campo da regulação

jurídica efetuada por meio de órgãos autônomos, além de extrema-

mente rica e interessante, guarda mais afinidade com o modelo de

agências reguladoras implantado no Brasil. Apesar das diferenças,

pode-se dizer que nosso sistema está mais próximo das autoridades

administrativas independentes francesas que do modelo de matriz

norte-americana” BADIN, Luiz Armando – As autoridades adminis-

trativas independentes na França: finalidades institucionais e meios

de atuação. In: Direito Regulatório: Temas Polêmicos – Coordena-

ção: Profª Maria Sylvia Zanella Di Pietro – Belo Horizonte: Ed. Fo-

rum, 2003 p.492-508).

Assim é possível sustentar a correção da letra “A”.

Já a alternativa “B” parece desmerecer que o conceito de legalidade

para o Direito Administrativo é em sentido lato, isto é, amplo, não se

resumindo apenas às espécies normativas primárias (atos legislati-

vos), mas tendo de respeitar e se sujeitar à Constituição, às leis, às

Medidas Provisórias, às Resoluções da Câmara, do Senado e do

Congresso, além dos próprios ditames da Constituição, dos Tratados

Internacionais, das Súmulas Vinculantes do STF e, inclusive, dos

atos administrativos normativos etc. Nesse sentido, de que não

apenas as normas decorrentes do processo legislativo (art. 59,

CF/88) são consideradas para efeito de cumprimento ao princípio da

legalidade, é o magistério de JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO e

GUSTAVO SCATOLINO SILVA, para os quais: “O princípio da legali-

dade pode ser entendido em dois sentidos: legalidade em sentido

estrito e legalidade em sentido amplo”. (Manual de Direito Adminis-

trativo. Ed. Juspodivm, 2012). É dizer, não é apenas às normas

formalmente legais que traduzem o conceito de legalidade adminis-

trativa. A questão não foi completamente clara em diferenciar. De

todo modo, ainda que não se mude o gabarito para “B”, há razões

suficientes para indicar que a letra “A” está correta e que, portanto,

a questão merece ser anulada.

Alternativas C, D e E estão corretas, conforme o que discutimos em

sala: mesmo sendo atos administrativos normativos, isto é, espécies

normativas secundárias, elas atingem a todos os agentes no setor

regulado ao longo do tempo (ou seja, de modo geral e abstrato) e

expedem atos complementares à lei, no exercício da competência

discricionária técnica outorgada conforme a lei instituidora.

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Nos mercados de produtos para a saúde e de servi-

ços de saúde, as condições de concorrência perfeita

não estão presentes. Do ponto de vista da teoria

econômica, as principais falhas de mercado que exis-

tem no setor da saúde decorrem da assimetria in-

formacional, da existência de barreiras à entrada e

da ocorrência de riscos e incertezas. Acerca desse

assunto, analise as assertivas abaixo.

I. O mercado de serviços de saúde é caracterizado

pela relação agente-principal, em que o médico atua

como o agente do seu paciente (principal), determi-

nando o seu nível de consumo de serviços de saúde

ou de produtos para uso médico. Essa relação decor-

re do conhecimento técnico que o médico possui e o

paciente não, devendo este se submeter ao diagnós-

tico e à prescrição do primeiro. Existe, portanto, uma

diferença no grau de informação (assimetria infor-

macional) entre o paciente e o médico.

II. A necessidade de registro prévio, na ANVISA, de

produtos ou equipamentos de uso médico, funciona

como uma barreira sanitária e regulatória à entrada

de novos produtos neste setor.

III. Na medida em que o mercado não consegue dis-

criminar o risco de cada indivíduo separadamente, as

operadoras e seguradoras privadas de saúde procu-

ram avaliar um risco médio, de acordo com as carac-

terísticas gerais do segurado, como por exemplo:

idade e histórico de doenças familiares.

É correto o que se afirma em

(A) I, apenas.

(B) II, apenas.

(C) I e III, apenas.

(D) I, II e III.

(E) II e III, apenas

COMENTÁRIO: ESSA ATÉ OS EXEMPLOS FORAM DADOS EM

SALA!

50. Em relação à regulação por incentivos, marque V

para verdadeiro ou F para falso e, em seguida, assi-

nale a alternativa que apresenta a sequência correta.

( ) No regime de Regulação (Price-Cap), ou de Regu-

lação por incentivos, o regulador estabelece um valor

teto para a tarifa, a qual se ajusta, anualmente, pela

taxa de inflação descontada de um índice de ganho

de produtividade pré-definido.

( ) O principal objetivo da Regulação por Incentivos

é estimular a produtividade, recompensando a em-

presa regulada se seu desempenho for superior a

parâmetros pré-determinados pelo regulador (ben-

chmarks). Se os ganhos de produtividade superarem

esse parâmetro, as empresas poderão se apropriar

da diferença, obtendo ganhos econômicos. Esses

ganhos serão parcialmente compartilhados com os

consumidores a partir da aplicação de um redutor de

tarifa em revisões tarifárias periódicas, o que, nor-

malmente, ocorre a cada 4 (quatro) anos.

( ) O regime de Regulação por Incentivos (Price-Cap)

tem sido considerado preferível ao Cost-Plus, motivo

que fez com que ele fosse escolhido na grande maioria

dos países onde a sustentabilidade do serviço depende

unicamente da tarifa, inclusive no Brasil.

(A) F/ F/ V

(B) V/ V/ V

(C) V/ V/ F

(D) F/ F/ F

(E) F/ V/ V

COMENTÁRIO: A primeira alternativa parece ser passível de recurso

pois, embora os conceitos estejam corretos, o índice de ganho de

produtividade só é pré-definido após a primeira revisão tarifária,

quando então é possível aferir-se o nível de eficiência agregada

pelos investimentos em redução de custos. Ou seja, antes da primei-

ra revisão, isto é, de se passar o primeiro “lag regulatório”, o modelo

price cap está em funcionamento sem aplicação do índice de ganho

de produtividade (fator X). Feita essa ressalva, as demais alternati-

vas estão todas corretas:regulação por incentivos busca aumentar

eficiência produtiva, alocativa e distribuitiva e o regime de preço teto

é largamente preferível ao de tarifação pelos custos.