Upload
mauro-r-b-silva
View
48
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
1/125
Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - AnvisaNovembro/2007
MANUAL TCNICO DE HEMOVIGILNCIA - INVESTIGAO DASREAES TRANSFUSIONAIS IMEDIATAS E TARDIAS NO INFECCIOSAS
HEMOVIGILNCIA
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
2/125
HEMOVIGILNCIA
BRASLIA/DFNOVEMBRO/2007
MANUAL TCNICO DE HEMOVIGILNCIA - INVESTIGAO DASREAES TRANSFUSIONAIS IMEDIATAS E TARDIAS NO INFECCIOSAS
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
3/125HEMOVIGILNCIA2
Copyright 2007. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria.
permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Depsito Legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n. 1.825, de 20 dedezembro de 1907.
Diretor-PresidenteDirceu Raposo de Mello
Adjunto de Diretor-PresidenteNorberto Rech
Diretores
Cludio Maierovitch P. HenriquesMaria Ceclia Martins BritoJos Agenor lvares da Silva
Chefe de GabineteAldima de Ftima Oliveira Mendes
Gerncia Geral de Sangue, outros Tecidos, Clulas e rgoGerente Geral: Renato SpindelGerente: Amal Nbrega Kozak
Assessoria de Divulgao e Comunicao Institucional - Ascom
Assessora-chefe: Renatha Melo
Projeto Grfico e Capa: Joo Del Negro
Brasil. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria.Hemovigilncia: manual tcnico para investigao das reaes transfusionais imediatas etardias no infecciosas / Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Braslia : Anvisa, 2007.
124 p.
ISBN 978-85-88233-27-0
1. Vigilncia Sanitria. 2. Sade Pblica. I. Ttulo.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
4/125ANVISA 3
SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................................................4
LISTA DE TABELAS E FIGURAS...............................................................................................................6
1 APRESENTAO ................................................................................................................................7
2 INTRODUO .....................................................................................................................................9
3 HISTRICO DO CONTROLE DO SANGUE NO BRASIL OS ASPECTOS
IMUNO-HEMATOLGICOS DA TERAPIA TRANSFUSIONAL ..............................................11
4 O CICLO DO SANGUE ..................................................................................................................17
5 CUIDADOS NA INSTALAO DE SANGUE E COMPONENTES
E O ACOMPANHAMENTO DA TRANSFUSO. .......................................................................27
6 REAES TRANSFUSIONAIS .....................................................................................................45
7 SISTEMATIZAO DO PROCESSO DE INVESTIGAO CLNICA
E LABORATORIAL DAS REAES TRANSFUSIONAIS .........................................................93
8 HEMOVIGILNCIA .......................................................................................................................101
9 GESTO DE ERROS E QUASE-ERROS COMO FERRAMENTA
DE MELHORIA DO PROCESSO DE TRANSFUSO ............................................................111
10 ASPECTOS TICOS E LEGAIS RELACIONADOS
AO ATO TRANSFUSIONAL ........................................................................................................117
EQUIPE TCNICA RESPONSVEL PELA ELABORAO DO MANUAL..................................121
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
5/125HEMOVIGILNCIA4
AABB American Association of Blood BanksAnvisa Agncia Nacional de Vigilncia SanitriaBNP Brain natriuretic peptideBNP Brain Natriuretic PeptideC Antgeno C (denominao verbal: C grande, denomi-
nao escrita: C em letra maiscula) pertencente aosistema Rh
c Antgeno c (denominao verbal: c pequeno, denomi-nao escrita: c em letra minscula) pertencente ao
sistema Rh
CDC Centers for Disease Control and PreventionCFU Unidades formadora de colniaCIVD Coagulao intravascular disseminadaCNH Comisso Nacional de HemoterapiaDHL Desidrogenase lticaDHL Desidrogenase lcticaDNA cido desoxirribonuclicoE Antgeno E (denominao verbal: E grande, denomina-
o escrita: E em letra maiscula) pertencente ao siste-
ma Rh
e Antgeno e (denominao verbal: e pequeno, denomi-nao escrita: e em letra minscula) pertencente ao
sistema Rh
ECA Enzima conversora de angiotensinaEHN European Haemovigilance NetworkFDA Food and Drug AdministrationGGSTO Gerncia Geral de Sangue, outros Tecidos, Clulas e rgos
GVHD Graft versus host diseaseHLA Antgeno leucocitrio humano
LISTA DE ABREVIATURAS
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
6/125ANVISA 5
IGIV Imunoglobulina intravenosaIM IntramuscularK Antgeno K (denominao verbal: Kell, denominao es-
crita: K em letra maiscula) pertencente ao sistema Kell
LPA Leso Pulmonar AgudaNotivisa Sistema Nacional de Noticao em Vigilncia SanitriaPAI Pesquisa de anticorpos irregulares
PPT Prpura ps transfusionalPVC Presso venosa centralRDC/Anvisa Resoluo da Diretoria Colegiada da Agncia Nacional de
Vigilncia Sanitria
RFNH Reao febril no hemolticaRHA Reao hemoltica agudaRhD Antgeno D, pertencente ao sistema Rh
RHT Reao hemoltica tardiaRST Reao sorolgica tardiaRST Reao sorolgica tardiaSF Soluo FisiolgicaSH Sndrome de hiperemliseSHOT Serious Hazards of TransfusionSNH Sistema Nacional de HemovigilnciaSUS Sistema nico de SadeTAD Teste da antiglobulina direto (Coombs direto)TAGVHD Transfusion AssociatedGraft versus Host DiseaseTMO Transplante de medula sseaTRALI Transfusion Related Acute Lung Injury
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
7/125HEMOVIGILNCIA6
LISTA DE FIGURAS,
QUADROS E TABELASFIGURA 1 Fluxograma do ciclo do sangue .................... ..................... ..................... ..................... ................. 23
FIGURA 2 Fluxograma de rotinas de transfuso de sangue e hemocomponentes ............ 38
FIGURA 3 1. Situao - Investigao de reao transfusional imediata com
sinais e sintomas ocorridos em menos de 24h do incio da transfuso .............. 97
FIGURA 4 2. Situao - Investigao de reao transfusional imediata com
sinais e sintomas ocorridos aps de 24h de iniciada a transfuso ................... ....... 99
FIGURA 5 Fluxo de melhoria de Deming ................... ..................... ..................... ..................... ..................114
QUADRO 1 Especicaes de temperatura para transporte de hemocomponente ............. 31
QUADRO 2 Obteno, composio e cuidados dos diferentes tipos
de hemocomponentes .................... ..................... ..................... ..................... ...................... ............. 41
QUADRO 3 Resumo das reaes transfusionais imediatas e condutas gerais
para atendimento .................. ..................... ..................... ..................... ..................... ...................... ...... 85
QUADRO 4 Resumo das reaes transfusionais tardias e condutas gerais
para atendimento ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ... 88
TABELA 1 Distribuio do nmero e percentual de reaes segundo o ano
de noticao Brasil 2002 a 2005 ................... ..................... ..................... ...................... ...104
TABELA 2 Reaes transfusionais que devem ser consideradas evitveis .................. ...........114
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
8/125ANVISA 7
APRESENTAO
1
A Hemovigilncia est Inserida nas aes de Vigilncia em Sade desenvolvidas no Brasil
e representa uma das reas estratgicas de atuao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
(Anvisa) e do Ministrio da Sade. A incorporao das aes de Hemovigilncia no Sistema nico
de Sade (SUS) traduz-se como um processo importante dentro da qualicao da medicina
transfusional. Dessa forma, o objetivo maior da Hemovigilncia o direcionamento de aes
que ampliem e aprimorem a segurana nas transfuses sanguneas, com particular nfase nos
incidentes transfusionais.
Com o objetivo de orientar a populao brasileira dentro desse processo de vigilncia, ini-
ciou-se, em 2000, uma srie de discusses sobre o modelo de Hemovigilncia a ser adotado no
pas por meio da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria e a construo de uma proposta de im-
plementao de um sistema brasileiro. Consolidando esse movimento, em 2001, a Anvisa lanava
a primeira verso do Manual Tcnico de Hemovigilncia, sendo a ltima verso editada em 2004,
e que teve por objetivo apresentar o Sistema Nacional de Hemovigilncia (SNH) e a estrutura fun-
cional do SNH e do uxo da informao. Apresentava-se, tambm, a primeira proposta nacional
de algoritmo de noticao e investigao das reaes transfusionais.
A reviso do Manual Tcnico de Hemovigilncia iniciou-se com a publicao do Manual
Tcnico para Investigao da Transmisso de Doenas pelo Sangue, publicado em 2004, que
sistematiza as informaes referentes investigao da suspeita de reaes transfusionais tardias
infecciosas, reunindo aspectos importantes para a investigao, o reconhecimento, a conduo
e a concluso dos casos.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
9/125HEMOVIGILNCIA8
Nesse momento, a Anvisa conclui a reviso do Manual Tcnico de Hemovigilncia por meio da
edio do Manual Tcnico de Hemovigilncia Investigao das Reaes Transfusionais Imediatas e
Tardias no Infecciosas, abordando, de forma ampla, as diretrizes do Sistema Nacional de Hemovigiln-cia e concluindo a sistematizao do processo de investigao das reaes transfusionais.
O contedo apresentado nesta publicao reete o conhecimento e a experincia de pro-
ssionais atuantes na rea e que se dedicaram na sistematizao do que h de mais atual na
literatura mundial sobre o tema, sob a luz da legislao vigente da Hemoterapia no pas.
Este manual destina-se a todos os prossionais de sade em especial a mdicos de todas as
especialidades, enfermeiros e equipe de enfermagem, farmacuticos, bilogos, bioqumicos, tcnicosde laboratrio, dentre outros que, de alguma forma, participam do processo de identicao, inves-
tigao e conrmao das reaes transfusionais imediatas e tardias no infecciosas.
Esperamos que esta publicao seja uma ferramenta importante e cotidiana de consulta,
no apenas para a atuao prossional do dia-a-dia, mas tambm para a formao de novos pro-
ssionais da rea, fortalecendo ainda mais a estruturao de aes qualicadas na rede brasileira
de servios de sade.
Dirceu Raposo de Mello
Diretor-presidente da Anvisa
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
10/125ANVISA 9
A terapia transfusional um processo que mesmo em contextos de indicao precisa e ad-
ministrao correta, respeitando todas as normas tcnicas preconizadas, envolve risco sanitrio
com a ocorrncia potencial de incidentes transfusionais, sejam eles imediatos ou tardios.
Em algumas situaes clnicas, a transfuso pode representar a nica maneira de se salvar
uma vida, ou melhorar rapidamente uma grave condio. Contudo, antes de se prescrever o
sangue ou hemocomponentes a um paciente essencial sempre medir os riscos transfusionais
potenciais e compar-los com os riscos que se tem ao no se realizar a transfuso.
A segurana e a qualidade do sangue e hemocomponentes devem ser asseguradas em todo
o processo, desde a captao de doadores at a sua administrao ao paciente. A hemovigilncia
se insere nessa perspectiva como um sistema de avaliao e alerta, organizado com o objetivo
de recolher e avaliar informaes sobre os efeitos indesejveis e/ou inesperados da utilizao de
hemocomponentes, a m de prevenir seu aparecimento ou recorrncia.
Com o objetivo de direcionar aes para aumentar a segurana nas transfuses sangneas,
com particular nfase nas reaes transfusionais, a construo de mecanismos para a estrutura-
o e qualicao de uma rede nacional de Hemovigilncia vem sendo feita desde o ano 2000.
Nesse sentido, vrias aes vm sendo desenvolvidas, desde ento, pela ANVISA. O presente Ma-
nual vem, entre outras aes, colaborar com Estados e municpios no aperfeioamento dos pro-
cessos de Hemovigilncia j implantados e estimular o desenvolvimento de aes voltadas para
a qualidade transfusional nos servios que ainda no o zeram.
O Manual Tcnico para Investigao das Reaes Transfusionais Imediatas e Tardias no In-
fecciosas prope uma sistematizao do processo de investigao das reaes em questo, en-
INTRODUO
2
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
11/125HEMOVIGILNCIA10
volvendo aes intersetoriais articuladas, visando tomada de decises e ao estabelecimento de
aes estratgicas de hemovigilncia.
Considerando o carter dinmico da legislao, a partir da agregao de novos conhecimen-tos, recomenda-se que a leitura deste manual seja sempre realizada luz da legislao vigente.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
12/125ANVISA 11
Ao longo dos anos, a prtica hemoterpica no Brasil tem sido alvo de constantes norma-
tizaes. Entretanto, nem sempre foi assim. Desde a criao do primeiro banco de sangue, em
1942, at 1964 no existiam registros de leis nacionais referentes sua regulamentao tcnica.
Somente na dcada de 60, com a criao da Comisso Nacional de Hemoterapia (CNH) surgem
as primeiras regulamentaes tcnicas da prtica hemoterpica no pas.
A partir da dcada de 80, ocorrem grandes avanos nos procedimentos tcnicos, caracte-
rizados por medidas de precauo, cujo objetivo promover a segurana dos procedimentostransfusionais. Assim, a incorporao de novas tecnologias ir promover constantes adequaes
nas futuras regulamentaes, haja vista, as lacunas existentes dentro do extenso universo da imu-
no-hematologia.
BREVE HISTRICO
A utilizao de transfuses mediante a realizao prvia de testes imuno-hematolgicos no
preparo de transfuses tem origem no Brasil desde o incio do sculo passado, por iniciativa de
alguns cirurgies pioneiros. Desde ento, vrios fatores tm contribudo de forma decisiva para a
segurana da prtica transfusional no pas.
HISTRICO DO CONTROLE DOSANGUE NO BRASIL OS ASPECTOSIMUNO-HEMATOLGICOS DA TERAPIATRANSFUSIONAL
3
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
13/125HEMOVIGILNCIA12
A criao do primeiro servio de hemoterapia, em 1942 no Hospital Fernandes Figueiras,
no Rio de Janeiro, em virtude dos esforos de guerra, acabou sendo o ponto de partida para a
inaugurao de diversos servios de hemoterapia no pas.A realizao do primeiro curso de especializao em hemoterapia, organizado pelo Instituto
Osvaldo Cruz tambm no Rio de Janeiro e na dcada de 40, se tornou um catalisador do cresci-
mento cientco da rea.
A organizao da especialidade a partir da criao da Sociedade Brasileira de Hematologia e
Hemoterapia, entre os anos de 1949 e 1950, contribuiu profundamente para a padronizao das
prticas transfusionais, assim como, para a incorporao de novas tcnicas.
O intercmbio entre prossionais brasileiros e de outros pases foi outro fator de signicativa
importncia para o desenvolvimento da prtica imuno-hematolgica e que proporcionou a reali-zao dos primeiros cursos realizados no pas. Dentre estas atividades de intercmbio, destaca-se
o Programa de Cooperao Brasil-Frana em Hemoterapia, iniciado em 1961, com a vinda do m-
dico hemoterapeuta francs Pierre Cazals, e que se estendeu at o nal da dcada de 70, o qual
ofereceu as bases para a futura reestruturao da assistncia hemoterpica brasileira.
Entretanto, somente no nal da dcada de 60, devido preocupao do governo ditatorial
em manter um estoque de sangue em virtude das circunstncias da poca apontarem para um
possvel conito civil, foi publicada a primeira regulamentao tcnica da prtica hemoterpica, a
Portaria CNH 4/69, que determinava entre outras coisas a obrigatoriedade de realizao dos tes-tes de tipagem ABO e RhD nas amostras de sangue do doador e do receptor, medida que visava
reduo do risco de reao hemoltica aguda. Apesar de todo o atraso, o Brasil, juntamente
com a Argentina, o Chile e a Costa Rica foram os primeiros pases a regulamentarem a prtica
hemoterpica na Amrica Latina.
Aps vinte e oito anos, em 1989, com a publicao da Portaria 721/89 so introduzidas na ro-
tina transfusional as provas de compatibilidade, de pesquisa de anticorpos irregulares nas amos-
tras de sangue do receptor e do doador e a tipagem ABO e RhD da bolsa de hemocomponente
a ser transfundida.
A REGULAMENTAO DE MEDIDAS PARA O CONTROLE DA PRTICA
TRANSFUSIONAL
A ocorrncia de reaes transfusionais est associada a diferentes causas, dentre as quais,
aquelas relacionadas aos erros clericais, ao uso de equipamentos descalibrados ou inadequados,
ao uso de insumos inadequados e a processos de trabalho equivocados, alm de fatores intrn-
secos de cada receptor como a existncia de anticorpos irregulares no detectados nos testes
pr-transfusionais utilizados na rotina dos servios de hemoterapia.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
14/125ANVISA 13
Sobre os erros de identicao, a estimativa de sua ocorrncia grande. Dados do sistema
de noticao de reaes transfusionais do Reino Unido (SHOT Serious Hazards of Transfusion)
revelam que aproximadamente 66,7% das reaes transfusionais noticadas esto relacionadosa erros de identicao de receptores. Dados de um estudo desenvolvido no Departamento de
Sade do Estado de Nova Iorque, com base nos registros de ocorrncia de reaes transfusionais
ocorridos em um perodo de 10 anos, calculou-se o risco de administrao errada de transfuso
de concentrado de hemcias em 1 para cada 14.000 transfuses realizadas e de erros de classi-
cao ABO em 1 para cada 38.000 transfuses realizadas.
No Brasil, a introduo de medidas com vistas reduo e ao controle destes erros aconte-
ceu em 1989, com a publicao da Portaria 721/89. Esta norma estabelece padres mnimos de
identicao das requisies de transfuso, das amostras de sangue de receptor e de seu armaze-namento por um perodo mnimo de 48 horas, a m de possibilitar o esclarecimento das reaes
transfusionais, e de etiquetas de identicao das bolsas de hemocomponentes preparadas para
transfuso.
Nos ltimos vinte anos esta norma tem sido substituda por outras, havendo pequenas alte-
raes quanto ao prazo de armazenamento de amostras de sangue dos receptores e das bolsas
transfundidas. Entretanto, em relao os padres mnimos de identicao, no foram realizadas
alteraes.
A introduo de um instrumento utilizado pelas Boas Prticas de Fabricao de medicamen-tos, o Procedimento Operacional Padro, tambm contribui para a reduo de erros clericais, uma
vez que estabelece as rotinas bsicas a serem seguidas para a execuo das diferentes atividades
desenvolvidas no servio de hemoterapia. Esta medida introduzida por meio da Portaria 121/95
e permanece em vigor at os dias atuais, tornando-se elemento das Boas Prticas em Hemote-
rapia.
A utilizao de equipamentos adequados fundamental para se conseguir o resultado es-
perado em um procedimento. Assim, centrfugas sorolgicas com velocidade de centrifugao
precisa, banhos-maria mantendo a temperatura necessria para a incubao das amostras desangue dos receptores e refrigeradores mantendo temperaturas de armazenamento adequadas
para a conservao de hemocomponentes so fundamentais para a segurana transfusional.
Com a publicao da Portaria 121/95 estes requisitos tornaram-se obrigatrios, contribuindo para
a melhoria de todo o processo de obteno dos hemocomponentes e de preparo das bolsas para
o ato transfusional.
Outro importante quesito a ser considerado quando o assunto segurana transfusional
a qualidade dos insumos e dos procedimentos tcnicos desenvolvidos. A partir da publicao
da Portaria 121/95 so estabelecidas os princpios para a garantia da qualidade para os serviosde hemoterapia no Brasil. Assim, algumas medidas que inuenciam diretamente nos riscos da
terapia transfusional so introduzidas na rotina dos servios de hemoterapia, como o controle de
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
15/125HEMOVIGILNCIA14
qualidade dos lotes utilizados, a obrigatoriedade na participao de Programas de Procincia
Tcnica e a investigao das reaes transfusionais, permanecendo como obrigatrias at os dias
atuais, uma vez que a referida Portaria permanece em vigor.Um histrico transfusional preciso fundamental para a preveno de ocorrncias de rea-
es transfusionais. A partir de seus dados pode-se avaliar a ocorrncia de reaes anteriores ou a
presena de anticorpos irregulares encontrados anteriormente, assim como, a freqncia de uso
de hemocomponentes.
Assim, possuir a cha transfusional de cada receptor atendido pelo servio de hemoterapia
procedimento extremamente importante para a segurana da prtica transfusional. A partir
da publicao da Portaria 1376/93, esta cha, que j era utilizada na rotina de muitos servios
de hemoterapia no Brasil, com destaque para os hemocentros, passou a se tornar obrigatria.Apesar das constantes atualizaes da referida norma, este quesito no deixou de ser obrigatrio
naquelas que a substituram, como a atual Resoluo RDC/Anvisa 153/04.
Alguns procedimentos extraordinrios utilizados na prtica hemoterpica podem ser exe-
cutados sem que etapas fundamentais do processo sejam cumpridas. Estes so os casos de libe-
rao das bolsas de hemocomponentes sem o trmino dos resultados das provas pr-transfusio-
nais em situao de emergncia, da utilizao de sangue incompatvel em situaes onde no
haja bolsas compatveis e da transfuso de grandes volumes de hemocomponentes, as transfu-
ses macias. Estas prticas representam introduo de novos fatores de risco que necessitamde critrios que promovam seu controle.
Assim, a partir da Resoluo RDC/Anvisa 343/02 so introduzidas estas questes acima e so
estabelecidos os critrios para sua utilizao, exceto para a liberao das bolsas de hemocompo-
nentes sem o trmino das provas pr-transfusionais em caso de emergncia, cuja normatizao
prevista desde 1993, de acordo com a Portaria 1376/93 e permanece com os mesmos critrios
at os dias atuais, conforme a Resoluo RDC/Anvisa 153/04.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
16/125ANVISA 15
REFERNCIAS
BONINI, Pierangelo; et al: Erros in Laboratory Medicine. Clinical Chemistry. 2002, 45(05):691-698.
BRASIL. Portaria CNH 4 de 25 de setembro de 1969. Dirio Ocial da Unio.Comisso Nacional deHemoterapia, Braslia, DF. 15 JAN 1970. Nmero 10, Seo 1, p. 343.
BRASIL. Portaria 1376 de 19 de novembro de 1993. Dirio Ocial da Unio. Ministrio da Sade,Braslia, DF. 02 DEZ 1993. Nmero 229, Seo 1, p.1840.
BRASIL. Portaria 121 de 24 de novembro de 1995. Dirio Ocial da Unio. Secretaria de VigilnciaSanitria, Braslia, DF. 30 NOV 1995. Nmero 229, Seo 1, p.19767.
BRASIL. Portaria 721 de 09 de agosto de 1989. Dirio Ocial da Unio. Secretaria de Vigilncia Sani-tria, Braslia, DF. 11 AGO 1989. Nmero 153, Seo 1, p.13648.
BRASIL. Resoluo 343 de 30 de junho de 2002. Dirio Ocial da Unio. Agncia Nacional de Vigi-lncia Sanitria, Braslia, DF. 19 NOV 2002. Seo 1, p.133.
BRASIL. Resoluo 153 de 13 de junho de 2004. Dirio Ocial da Unio. Agncia Nacional de Vigi-lncia Sanitria, Braslia, DF. 24 JUN 2004. Seo 1, p.68.
BRASIL. Decreto Lei 79.094 de 05 de janeiro de 1977. Dirio Ocial da Unio. Presidncia da Rep-blica, Braslia, DF. 05 JAN 1977.
BREANNDAN MOORE, S.; FOSS, Mary L.: Error management theory and application in transfu-sion medicine at a tertiary-care institution. Archives of Pathology and Laboratory Medicine.2003;127(11):1517-1522.
CHAMONE, Dalton Alencar Fischer (Coord.): Compilao das Legislaes da Hemoterapia Brasileira.So Paulo. Ed. Pillares. 2004.
CHENG, G.; LIN, C.K.: Will transfusion errors due to human factors ever be eliminated? Hong KongMedical Journal.1999. 5(3):304-305
DIAS, Almir Ges: Hemoterapia no Brasil 1942 a 1947. Revista Mdica do HSE. Rio de Janeiro.2000, 34(1). Disponvel em: http://www.hse.rj.saude.gov.br/prossional/revista/34/hemote.asp.
DOMEN, Ronald E.; SMITH, Martin L.: Professionalism and ethics in transfusion medicine: a focuson medical errors and patient safety. Blood Therapies in Medicine.3(2):42-48.
GAFOU, A. et al: Review in the literature of the new solutions to an old problem: human error intransfusion practice. Haema.2005; 8(4):598-611.
GUADAGNINO, Maria da Conceio Muniz,; AZEVEDO, Jos Guido; GUIMARES, Darcy da Silva: AHistria da Hemoterapia no INCA. Revista Brasileira de Cancerologia.2001, 47(1):69-70.
JUNQUEIRA, Pedro C.; ROSENBLIT, Jacob; HAMERSCHLACK, Nelson: Histria da hemoterapia noBrasil.Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.So Jos do Rio Preto. 2005, 27(3): 201-207.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
17/125HEMOVIGILNCIA16
LINDEN, Jeanne V.: Errors in transfusion medicine Scope of the problem. Archives of Pathologyand Laboratory Medicine.1999; 123(6):563-565.
LINDEN, Jeanne V.; SCHMIDT, Gale B.: An overview of state efforts to improve transfusion medici-ne.Archives of Pathology and Laboratory Medicine.1999; 123(6):482-485.
MELO, Larcio; PELLEGRINO JR, Jordo; BIANCO, Celso; CASTILHO, Llian: Twelve years of the Brazi-lian External Quality Assessment Program in Immunohematology: benets of the program.Jour-nal of Clinical Laboratory Analysis. 2005, 19(5):209-218.
NOVARETTI, Mrcia C. Z. et al: Controle de qualidade interno de regentes em imunohematologia:aspectos prticos. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, So Jos do Rio Preto. 2002,24(4). Disponvel em: .OMS: PIC/S GMP Guide For Blood Establishments.Geneva, July 2004.
SACHER, Ronald A.; SANDLER, Gerald: Impact of inovations on transfusion medicine. Archives ofPathology and Laboratory Medicine.1999, 123(6):672-676.
SARAIVA, Joo Carlos Pina: A histria da hemoterapia no Brasil.Revista Brasileira de Hematologia eHemoterapia. So Jos do Rio Preto. 2005, 27(3): 153-158.
SCHMUNIS, Gabriel A.; CRUZ, Jos R.: Safety of the Blood Supply in Latin America. Clinical Micro-biology Reviews.2005, 18(1):12-29.
SHOT- Serious Hazard of Transfusion: Annual Report 2004.London, 2004. p.51.
THORPE, Susan J. et al: International standard for minimum potency of Anti-D blood groupingreagents. WHO/BS. Genebra. WHO Press, 2004, Rev.1, p. 2-26.
UNIO EUROUPIA: Directiva 2005/62/CE da Comisso de 30 de setembro de 2005. Dirio Ocial
da Unio Europia.Parlamento Euroupeu. Portugal. 01 de out. de 2005. 256, p. 41-48.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
18/125ANVISA 17
Os efeitos bencos das transfuses de sangue so observados desde o incio do sculo XIX,
perodo ao qual atribuda a realizao da primeira transfuso de sangue humano. Entretanto, as
reaes adversas sempre acompanharam de perto o uso dessa teraputica.
A partir da descoberta dos grupos sanguneos A, B e O, por Landsteiner, no incio do scu-
lo 20, a medicina transfusional evoluiu muito, se beneciando, como as demais especialidades
mdicas, dos avanos tecnolgicos ocorridos, principalmente na segunda metade do sculo.
Mudanas relacionadas coleta do sangue, processamento, estocagem e transfuso certamente
diminuram os riscos transfusionais.
UM BREVE ENTENDIMENTO DO CICLO DO SANGUE
O ciclo do sangue, apresentado na Figura 1 se inicia com o candidato doao chegandoao servio de hemoterapia. Entretanto, importante lembrar a existncia de uma fase anterior
a esta conhecida como Captao de Doadores de Sangue. Essa fase visa sensibilizar pessoas em
bom estado de sade para que sejam potenciais doadores de sangue. Pode ser desenvolvida de
diversas maneiras tais como nas campanhas realizadas em escolas, nos ambientes de trabalho,
na mdia etc. No nosso meio, ainda muito comum a captao de doadores de sangue realizada
pelos prprios servios de hemoterapia ou por hospitais, junto aos familiares de pacientes inter-
nados. Os prossionais de sade envolvidos em todo o ciclo do sangue devem estar treinados e
capacitados.
O CICLO DO SANGUE
4
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
19/125HEMOVIGILNCIA18
CANDIDATO DOAO
Podem doar sangue as pessoas saudveis, com peso acima de 50 kg, que tenham idadeentre 18 e 65 anos e que no tenham antecedentes e/ou maior vulnerabilidade para a transmis-
so de doenas veiculadas pelo sangue. O candidato, a m de possibilitar uma maior garantia de
sua identicao, deve se apresentar ao servio de hemoterapia e se identicar por meio de um
documento que contenha sua foto.
TRIAGEM CLNICA
Os candidatos doao devem passar por uma seleo antes de doarem sangue. Essa se-
leo, de responsabilidade do servio de hemoterapia que realiza a coleta do sangue, chamada
de triagem clnica e deve ser realizada por prossional de sade habilitado, sob superviso m-
dica, no mesmo dia da doao/coleta. realizada com o intuito de selecionar, dentre os candi-
datos apresentados, somente aqueles que preencherem os critrios desejveis para um doador
de sangue.
Desse modo, como a triagem clnica visa proteger a sade do doador e a sade do receptor,
devem ser vericados, dentre outros, os seguintes dados:
Peso;
Presso arterial (PA);
Temperatura;
Dosagem de Hemoglobina (Hb) ou do Hematcrito (Ht).
Alm disso, o candidato passar por uma avaliao realizada por meio de entrevista, em
local com privacidade, na qual se utiliza um roteiro padronizado que contem questes referentes
histria de doena prvia ou atual, cirurgias, maior vulnerabilidade para doenas sexualmente
transmissveis etc.
O candidato que for considerado apto nessa fase ser encaminhado para a fase seguinte:
coleta do sangue e amostras e, o candidato considerado inapto temporria ou denitivamente,
no ter o seu sangue coletado e ser dispensado.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
20/125ANVISA 19
COLETA DO SANGUE
O processo de coleta do sangue pode se dar de duas formas, sendo a mais comum a coletado sangue total. A outra forma, mais especca e de maior complexidade, realiza-se por meio de
afrese*.
O sangue total deve ser coletado em uma bolsa descartvel, estril e mltipla (a tripla a
mais comumente utilizada em nosso meio), para permitir o posterior processamento, isto , a
separao do sangue total coletado em vrios hemocomponentes.
No momento da doao o doador deve estar confortavelmente instalado. A puno venosa
para coleta do sangue deve ser precedida de uma anti-sepsia adequada e o volume coletado
deve ser aquele denido na triagem clnica (em mdia 450 ml). Durante a coleta a bolsa deverser constantemente movimentada a m de permitir que o sangue coletado seja homogeneizado
com o anticoagulante nela contido.
Tambm sero coletadas nesse momento, em tubos adequados, as amostras de sangue
que se destinaro aos testes imuno-hematolgicos (tipagem sangnea e pesquisa de anticorpos
irregulares) e sorolgicos. H necessidade de especial ateno para que as identicaes da bolsa
e dos tubos com as amostras de sangue sejam feitas concomitantemente para evitar erros, tais
como a troca de amostras.
Concluda a coleta, a bolsa de sangue ser encaminhada para o processamento e as amos-
tras de sangue sero destinadas ao laboratrio para a realizao dos testes imuno-hematolgicos
e sorolgicos obrigatrios, sem os quais nenhuma bolsa poder ser liberada para o consumo.
Ainda na fase de coleta, h que se garantir tambm o pronto atendimento ao doador que
apresentar alguma reao adversa. Assim, obrigatrio que exista pessoal treinado para dar esse
atendimento, num local de recuperao do doador com disponibilidade de material e medica-
mento para essa nalidade.
HIDRATAO E ALIMENTAO
Aps a doao, o servio de hemoterapia deve oferecer para todos os doadores uma hidra-
tao oral acompanhada de algum alimento (lanche). Terminada essa fase o doador pode ser
dispensado estando, portanto, concludo o ciclo do doador.
*Afrese um termo derivado de uma palavra grega que signica separar ou retirar. O procedimento de afrese con-siste na retirada do sangue total do indivduo (neste caso, o doador), separao dos componentes sangneos por meiode centrifugao ou ltrao, reteno do componente desejado numa bolsa e retorno dos demais componentes dosangue para o doador. Tudo isso feito concomitantemente.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
21/125HEMOVIGILNCIA20
PROCESSAMENTO
As bolsas de sangue total coletadas devem ser processadas para a obteno dos hemocom-ponentes. Esse processamento, que feito por meio de centrifugao, em centrfugas refrigera-
das, separa os hemocomponentes possibilitando que o paciente (receptor de uma transfuso de
sangue) receba num menor volume somente o hemocomponente do qual necessita.
Nesta fase, ou quando a coleta for realizada por afrese, podemos obter os seguintes hemo-
componentes: concentrado de hemcias, concentrado de plaquetas, concentrado de granulci-
tos, plasma (plasma fresco congelado/rico, plasma comum/normal/simples/de banco e plasma
isento do crioprecipitado) e o crioprecipitado.
Cada um desses hemocomponentes, devidamente identicado, ser armazenado e perma-necer em quarentena at a concluso dos testes laboratoriais (tipagem sangnea e sorologia).
ARMAZENAMENTO
A temperatura de conservao e o prazo de validade variam de acordo com o tipo de he-
mocomponente.
O sangue total e o concentrado de hemcias devem ser armazenados em geladeira prpria,
na temperatura de 2 a 6 C. O perodo de validade oscila entre 21 a 42 dias, variando de acordo
com o tipo de anticoagulante contido na bolsa. O anticoagulante mais freqentemente utilizado
o CPDA-1 (Citrato, Fosfato, Dextrose e Adenina), que proporciona um perodo de validade de 35
dias a partir da data da coleta do sangue.
O plasma fresco congelado e o crioprecipitado devem ser armazenados em freezer em tem-
peratura inferior a -20 C e tm validade de 1 ano. Caso seja conservado em temperatura inferior
a -30 C, o plasma fresco congelado ter validade de 2 anos. Aps esse perodo (1 ou 2 anos) ele
passar a ser considerado como plasma comum e ter, ento, a validade mxima de 4 anos. O
plasma comum e o plasma isento do crioprecipitado devem ser conservados na mesma tempe-
ratura (inferior a -20 C) e tm validade de 5 anos.
O concentrado de plaquetas e o concentrado de granulcitos devem ser armazenados em
temperatura entre 20 e 24C. O primeiro deve permanecer sob agitao constante e tem validade
de 3 a 5 dias, dependendo do tipo de plstico utilizado na confeco da bolsa. O segundo tem
validade de apenas 24 horas.
Para minimizar a possibilidade de uso de hemocomponentes ainda no liberados para o
consumo, os hemocomponentes em quarentena (sem resultados dos testes imuno-hematol-
gicos e sorolgicos) devero estar obrigatoriamente separados daqueles j liberados para uso
(hemocomponentes e exames sem restries de uso). A liberao para consumo dos mesmos
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
22/125ANVISA 21
dever ser feita de forma segura, sendo imediatamente descartados aqueles hemocomponentes
considerados imprprios para o consumo.
EXAMES LABORATORIAIS DO DOADOR
Os hemocomponentes processados s podero ser liberados para o consumo aps a con-
cluso dos testes imuno-hematolgicos e sorolgicos. A seguir citamos os testes obrigatrios
que devero ser feitos na amostra do doador.
Imuno-hematolgicos:
Tipagem sangnea ABO (direta e reversa) Tipagem sangnea RhD (pesquisa do D fraco, quando aplicvel)
Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI)
Sorolgicos (para deteco das seguintes infeces/doenas):
Doena de Chagas
Hepatite B
Hepatite C
HIV/AIDS HTLV I/II
Slis
Alm dos testes citados, em algumas situaes especiais, deve ser realizada sorologia para
citomegalovrus. E, nas regies endmicas com transmisso de malria, deve ser realizado um
exame parasitolgico do sangue para esse m.
Os testes sorolgicos devero ser de alta sensibilidade a m de minimizar a possibilidade de
resultados falso-negativos.Os laboratrios responsveis pela realizao dos testes citados devero registr-los e infor-
mar os seus resultados para o setor ou servio responsvel pela liberao dos hemocomponentes
processados, indicando aqueles que podem ser utilizados e aqueles que devem ser descartados.
PREPARO DA TRANSFUSO
Os hemocomponentes liberados para o consumo somente podero ser transfundidos
quando devidamente prescritos por mdico e aps a realizao dos testes pr-transfusionais pelo
servio de hemoterapia responsvel pelo preparo da transfuso. Tais testes tm o objetivo bsico
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
23/125HEMOVIGILNCIA22
de garantir a compatibilidade sangnea entre o doador e o receptor. Desse modo, as seguintes
etapas devero ser seguidas pelo servio de hemoterapia sempre que for solicitada uma trans-
fuso: Recebimento e conferncia dos dados da requisio da transfuso, feita pelo mdico
responsvel por ela, juntamente com a amostra de sangue do receptor;
Realizao da Tipagem ABO (direta e reversa), tipagem RhD (pesquisa do D fraco quando
aplicvel) e pesquisa (e identicao se necessrio) de anticorpos irregulares na amostra
do receptor;
Retipagem ABO (direta) e RhD (quando esse for negativo) do(s) hemocomponente(s)
contendo hemcias.
Seleo do(s) hemocomponente(s) respeitando-se a compatibilidade ABO/RhD. Realizao da prova de compatibilidade, sempre que se tratar da prescrio de hemo-
componentes contendo hemcias.
Identicao do(s) hemocomponente(s) preparado(s) com os dados de identicao do
receptor.
Liberao do(s) hemocomponente(s) para transfuso.
Nota: O preparo da transfuso pode incluir outras atividades complementares tais como a
lavagem, irradiao de hemocomponentes, desleucocitao, quando indicadas e/ou solicitadaspelo mdico.
TRANSFUSO
A conferncia dos dados contidos no rtulo da bolsa e dos dados do pronturio do paciente,
alm da identicao positiva do receptor, devem ser obrigatoriamente realizadas antes da ins-
talao de uma transfuso, no sentido de prevenir, entre outros riscos, a sua instalao indevida.
Alm disso, e tambm antes da instalao do sangue, imprescindvel a vericao dos sinaisvitais do paciente para orientar os cuidados pr e ps transfusionais, alm de auxiliar, quando da
suspeita de uma reao transfusional, quer no seu diagnstico, quer nos cuidados que devem ser
prestados ao paciente.
Durante todo perodo de transfuso o paciente deve ser rigorosamente observado e, pelo
menos nos primeiros 10 minutos da transfuso, um tcnico preparado dever permanecer ao seu
lado observando-o. O tempo de infuso de cada bolsa deve ser indicado pelo mdico, entretan-
to, nunca deve exceder 4 horas.
Na suspeita de reao transfusional, a transfuso deve ser suspensa, o paciente prontamenteatendido e o servio de hemoterapia comunicado.
Aps a transfuso, os sinais vitais do paciente devero ser novamente vericados.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
24/125ANVISA 23
FIGURA 1 FLUXOGRAMA DO CICLO DO SANGUE
DE HEMODERIVADOS
CANDIDATO
DOAO
TRIAGEMCLNICA SADA
COLETADO SANGUE
HIDRATAOE
ALIMENTAO
PROCESSAMENTOTESTES
SOROLGICOSEXAMES
IMUNOHEMA-TOLGICOS
ARMAZENAMENTOTEMPORRIO(QUARENTENA)
HEMOCOMPO-NENTE SEMRESTRIO(LIBERADO)
ARMAZENAMENTODE SANGUE E
COMPONENTESLIBERADOS
PREPARO DATRANSFUSO(TESTES PR-
TRANSFUSIONAIS)
TRANSFUSO
DESCARTEDA BOLSA
PRODUODE
HEMODERIVADOS
LAVAGEMIRRADIAOALIQUOTAGEM
INAPTO
APTO
DOADOR
SANGUEPROCEDIMENTOS
COMPLEMENTARES
NO
SIM
PLASMA P/ INDSTRIA
AMOSTRAS
DESLEUCOCITAO
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
25/125HEMOVIGILNCIA24
O PROCESSO HEMOTERPICO EM REDE
A transfuso de um hemocomponente pode ser considerada o ato nal de um conjuntode atividades que constitui o processo hemoterpico. Esse processo, dividido em etapas ou sub-
processos (Figura 1), pode ser integralmente desenvolvido num nico servio de hemoterapia
ou, freqentemente, completado com o envolvimento de outros servios.
O desenvolvimento total ou parcial desse processo uma das caractersticas utilizadas para
denir os tipos de servios de hemoterapia, ou seja, servios que realizam quaisquer procedi-
mentos hemoterpicos, incluindo a coleta, o processamento, a testagem, o armazenamento, o
transporte, o controle de qualidade e o uso humano de sangue, e seus hemocomponentes. He-
mocentros e Ncleos de Hemoterapia desenvolvem, ou podem desenvolver todas as etapas; jos outros tipos de servios, tais como Unidade de Coleta e Transfuso, Unidade de Coleta, Central
de Triagem Laboratorial de Doadores e Agncia Transfusional, executam apenas algumas etapas
do ciclo do sangue. Neste caso, o processo hemoterpico s se completar com a participao
de outros servios de hemoterapia.
Isso signica que uma unidade hemoterpica (bolsa) transfundida num servio de sade
pode ter sido coletada e processada totalmente nesse mesmo servio, ou, de outro modo, pode
ser coletada num primeiro servio (Unidade de Coleta), encaminhada para processamento/fra-
cionamento e exames em outro (Hemocentro, Ncleo de Hemoterapia), transferida para arma-zenamento num terceiro (Agncia Transfusional) que far os testes pr-transfusionais e liberar a
unidade hemoterpica para transfuso em um quarto servio (Hospital).
A possibilidade desse grande trnsito de hemocomponentes torna o processo hemote-
rpico mais vulnervel do que j por sua prpria caracterstica, exigindo maior organizao da
rede de servios de hemoterapia.
Assim, todos os servios de hemoterapia, independentemente do tipo, devem registrar de-
talhadamente a realizao dos procedimentos que compem as etapas do processo hemoter-
pico por eles desenvolvidas e manter tais registros arquivados por pelo menos 20 anos. Aquelesservios que no desenvolvem o processo hemoterpico na sua totalidade devem tambm re-
gistrar os dados que fazem a ligao do produto com o servio que o antecedeu ou sucedeu.
Por meio desses registros, e percorrendo o sentido inverso do uxo apresentado na Figura 1,
possvel fazer o rastreamento de uma unidade de hemocomponente transfundida cuja hist-
ria necessita ser reconstruda, fato esse, freqentemente observado quando da investigao de
uma reao transfusional.
A possibilidade de rastreamento de qualquer unidade hemoterpica considerada pelo Minis-
trio da Sade atributo do Sistema de Qualidade que permite identicar todas as responsabilidadese itens utilizados ao nal de um processo ou a partir de um produto nal, e est estabelecida em
norma legal, denominada: Normas gerais de garantia de qualidade em unidades hemoterpicas.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
26/125ANVISA 25
REFERNCIAS
AABB - American Association of Blood Banks. Technical Manual. 14th ed. Bethesda (MD); 2002.Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. RDC No 343, de 13 de dezembro de 2002. Dirio Oficialda Unio, Braslia, 19 dez 2002. Seo 1, p. 133.
Amorim Filho L, Brando MRV, Cardoso MVG, Fretz C, Lopes MED, Lopes MI e al. Textos de apoioem Hemoterapia (Volume I). Org. Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio. Rio de Janeiro:Editora Fiocruz; 2000 (Srie Trabalho e Formao em Sade).
Amorim Filho L, Ferreira TM, Fretz C, Lopes MED. Textos de apoio em Hemoterapia (Volume II) .Org. Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2000. (Srie
Trabalho e Formao em Sade).
Chamone DAF, Dorlhiac-llacer PE, Novaretti MCZ. Manual de Transfuso Sangnea. So Paulo:Editora Roca; 2001.
Congresso Nacional e Presidncia da Repblica. Lei 10.205, de 21 de maro de 2001.Dirio Oficialda Unio, No 57-E, Braslia, 22 mar 2001. Seo I, p. 1.
Fernandes MFA. Hemovigilncia: Anlise das informaes disponveis para sua implantao,de acordo com a (re)investigao de casos de AIDS associados transfuso.So Paulo;2001. [Dissertao de Mestrado - Faculdade de Sade Pblica da USP].
Ministrio da Sade. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Resoluo RDC n0151, de 21.08.2001.Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, 22 ago 2001.
Ministrio da Sade. Portaria SVS n0121, de 24 de novembro de 1995: Institui como normas deinspeo para rgos de vigilncia sanitria do Sistema nico de Sade, o Roteiro para inspe-es em unidades hemoterpicas, conforme o Anexo I e, determina o cumprimento das Nor-mas gerais de garantia de qualidade para unidades hemoterpicas, conforme o Anexo II. DirioOcial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, 30 nov 1995. Seo I, p. 19767.
Oberman HA. The History of Blood Transfusion. In: Petz LD and Swisher SN. Clinical Practice ofBlood Transfusion. New York: Churchill Livingstone; 1981. p. 9-28.
Serinolli MI. Evoluo da medicina transfusional no Brasil e no mundo.Hematologia e Hemo-
terapia 1999; 5(1): 16-38.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
27/125
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
28/125ANVISA 27
CUIDADOS NA INSTALAO DESANGUE E HEMOCOMPONENTESE O ACOMPANHAMENTO DATRANSFUSO
5
A administrao de sangue e de hemocomponentes exige dos prossionais de sade envol-
vidos o conhecimento de tcnicas corretas e a capacidade de identicao de potenciais eventos
adversos.
A teraputica transfusional um procedimento que potencialmente salva vidas, no entanto,
excetuando-se o risco inerente sua utilizao, pode levar o paciente a graves riscos e complica-
es imediatas ou tardias, quando houver falhas ou atrasos nas etapas deste procedimento.
Toda a equipe de sade deve estar atenta para a correta aplicao da terapia transfusional.Entretanto, considerando-se que o prossional de enfermagem est diretamente envolvido com
os cuidados ao paciente que receber a transfuso, importante lembrar que o sangue correta-
mente instalado, sem erros na identicao ou sem trocas, depende muito da atuao da equipe
de enfermagem.
A seguir, sero apresentadas recomendaes que visam contribuir para a melhoria da quali-
dade da ateno prestada, visando segurana do procedimento e do paciente, dando subsdios
aos prossionais de sade, principalmente os de enfermagem, no manejo da transfuso, tendo
em vista que a padronizao das tcnicas possibilita a organizao das atividades, diminui osriscos de erros, trocas ou instalaes indevidas do sangue ou de seus hemocomponentes.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
29/125HEMOVIGILNCIA28
PREVENINDO ERROS
A experincia do quase erro to grave quanto a do erro. Atitudes incorretas e pequenasfalhas comuns no dia-a-dia so indicativas de que um erro maior pode estar prestes a aconte-
cer. Para o reconhecimento das etapas crticas, principalmente durante a fase de identicao, o
acompanhamento, a avaliao e o treinamento peridico objetivando a segurana nas etapas do
processo, so indispensveis.
Prevenir erros garantir que os hemocomponentes foram corretamente conferidos e insta-
lados no paciente com a devida indicao e prescrio.
Os procedimentos de conferncia, registros e monitoramento do sangue e dos hemocom-
ponentes tm incio no recebimento da requisio da transfuso e prescrio mdica, e terminana concluso das anotaes no pronturio do paciente.
Em todas as etapas do processo a ateno deve ser redobrada para a conferncia e identi-
cao correta do paciente, o que colabora para uma transfuso mais segura.
A equipe de sade deve criar mecanismos que facilitem a identicao de falhas no proces-
so e correo de problemas.
O levantamento de dados estatsticos do quase erro ajuda a impulsionar e implementar
medidas de segurana, com objetivo de prevenir a ocorrncia de erros futuros.
Vale ressaltar que importante haver interao e envolvimento entre os servios de he-moterapia (responsvel pela liberao do hemocomponente) com as unidades que realizam a
transfuso, para uma melhor qualidade do processo transfusional.
O MONITORAMENTO DAS AES PR E PS-TRANSFUSIONAL
Para o adequado monitoramento das aes, desde o momento pr-transfusional at o ps-
transfusional, cinco etapas devem ser executadas corretamente e com ateno para minimizar os
riscos de erros nos procedimentos:
I. Identicao e coleta das amostras de sangue para testes pr-transfusionais;
II. Transporte das amostras de sangue e dos hemocomponentes;
III. Registro do histrico de antecedentes transfusionais;
IV. Conferncia e registro dos dados dos hemocomponentes preparados para transfuso;
V. Monitoramento do ato transfusional.
As atividades a serem executadas durante o processo transfusional so apresentadas a seguir:
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
30/125ANVISA 29
I. Identicao e coleta das amostras de sangue para testes pr-transfusionais
Uma conferncia cuidadosa da requisio de transfuso deve ser feita comparando-se onome completo e o nmero do registro hospitalar do paciente com o pronturio.
As etiquetas para identicao dos tubos devem ser preparadas por sistema informatizado
(cdigo de barras, digitao) ou manualmente com letra legvel e sem rasuras, contendo no m-
nimo os seguintes dados:
Nome completo do paciente;
Nmero de registro hospitalar (carto ou pronturio);
Data da coleta
Nome do responsvelComo medida preventiva para uma identicao mais segura, principalmente quando h
pacientes homnimos na clnica, importante tambm acrescentar:
Data de nascimento do paciente;
Leito e clnica
Aps o preparo importante vericar se a etiqueta est bem colada ao tubo, integra bem
visvel e de forma que proporcione fcil identicao.
O paciente deve ser orientado quanto ao procedimento e acomodado confortavelmente de
forma que facilite a puno venosa.
O responsvel pela coleta deve proceder a identicao do paciente de forma ativa e passi-
va, conforme segue:
Identicao ativa: perguntar ao paciente o seu nome completo e comparar as informaescom a etiqueta e a solicitao mdica. Obs. sempre que possvel, conferir a identicao do
paciente impossibilitado de se comunicar, por intermdio de familiar ou responsvel;
importante lembrar que o erro durante a identicao dos tubos uma das causas maiscomuns de reao hemoltica aguda por incompatibilidade ABO, muitas vezes fatais. Es-tatsticas mostram que a maioria das mortes associadas transfuso, ainda ocorre por errohumano na fase de identicao da amostra de sangue, geralmente por troca de nomee/ou nmero de registro do paciente.De modo diferente de outras reaes transfusionais imprevisveis, as reaes hemolticasagudas so evitveis, portanto vale ressaltar que a ateno redobrada na identicao daamostra e do paciente crucial.
Desta forma a reviso contnua dos processos, objetiva a correo de futuros erros e falhasnas etapas da transfuso.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
31/125HEMOVIGILNCIA30
Identicao passiva: conferir a etiqueta e a requisio de transfuso e comparar com a
pulseira/crach/bracelete de identicao do paciente.
Quando houver no conformidades, discrepncias de dados, reiniciar o processo a partir doitem I e assim que possvel registrar as ocorrncias.
Vale ressaltar que a dupla conferncia (procedimento de conferncia dos dados feita
por dois tcnicos, sendo uma por vez, e em momentos distintos comparando os dados), minimi-
za os riscos de erros.
No momento da coleta das amostras para os testes pr-transfusionais, os seguintes itens
devem ser observados:
1. O acesso venoso para a puno deve ser selecionado em local com integridade cutnea,livre de leses e/ou hematomas, evitando locais muito prximos s articulaes. , (prin-
cipalmente quando necessrio manter a venopuno para a transfuso), considerando
os pacientes com difcil acesso;
2. A movimentao delicada do tubo com anticoagulante (quando aplicado) deve ser rea-
lizada para total homogeneizao do sangue;
3. O descarte do material deve ser feito respeitando as normas de biossegurana;
4. O sangue coletado deve ser enviado ao servio de hemoterapia juntamente com a re-
quisio de transfuso.
Alerta: Nos pacientes internados, inconscientes, com diculdades em verbalizar, sob efeitoanestsico ou crianas pequenas, providencie uma pulseira, bracelete ou crach de identi-cao para ser colocada no paciente e realizar a coleta da amostra do sangue.Este passo importante para maior segurana e correta identicao do paciente no mo-mento da conferncia e instalao do sangue ou hemocomponente.
Ateno: Se o paciente foi transfundido com sangue ou hemocomponentes que conten-ham hemcias (sangue total, concentrados de hemcias, concentrados de plaquetas, con-centrados de granulcitos), nos 3 meses que antecedem a transfuso, ou caso o receptorseja uma mulher que tenha estado grvida nos 3 meses que antecedem a transfuso ou,ainda, se no se dispe de informaes acerca destes antecedentes, as amostras pr-trans-fusionais devem ser obtidas dentro das 72 horas que antecedem o ato transfusional.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
32/125ANVISA 31
II. O transporte das amostras de sangue e dos hemocomponentes
Para o transporte de amostras e hemocomponentes os recipientes devem ser rgidos, resis-tentes e impermeveis, que possibilitem higienizao e fechamento seguro, garantindo a inte-
gridade dos mesmos durante o transporte. O recipiente deve estar identicado com o smbolo
de risco biolgico.
Os tubos de amostras devem ser devem ser acondicionados em suportes rgidos, envolvidos
com material absorvente de forma que atenue o impacto e, em casos de acidente, absorva o
material extravasado.
As amostras para testes transfusionais, realizados fora da instituio em que se encontra o
paciente, e os hemocomponentes devem ser transportados acompanhados de documentaopara garantia da rastreabilidade e com registro de controle de temperatura durante todo o trans-
porte. No recebimento dos produtos, o prossional dever conferir e registrar as condies, consi-
derando a integridade e temperatura. Os responsveis pelo transporte devem ter conhecimento
e treinamento sobre a importncia da correta conservao do produto.
O material refrigerante deve ser em quantidade suciente para garantir a manuteno da
temperatura pelo tempo necessrio do processo de transporte, em quantidade previamente es-
tabelecida e validada.
As bolsas de concentrados de hemcias e plaquetas, submetidos ou no a procedimentosespeciais, no devem est em contato direto com o material refrigerante.
necessria a utilizao de recipientes exclusivos para o transporte de amostras e outro para
o transporte dos hemocomponentes, objetivando prevenir a contaminao das bolsas.
No Quadro 1 so apresentadas as especicaes de temperatura para transporte de hemo-
componentes.
QUADRO 1 ESPECIFICAES DE TEMPERATURA PARA TRANSPORTE DE HEMOCOM-PONENTES PARA TRANSFUSO
CH Concentrado de hemcias, CP Concentrado de plaquetas, CRIO Crioprecipitado, PFC Plasma fresco congelado,ST Sangue total.
Especicao Conc. deHemcias
Conc. dePlaquetas
Crioprecipitado Plasma Fresco
CongeladoSangue Total
Temperatura de
transporte
1 a 10 C
positivos
20 a 24 C
positivos
20 C
negativos
1 a 10 C positivos
20 a 24 C positivos para
produo de plaquetas
20 C
negativos
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
33/125HEMOVIGILNCIA32
III. Registro do histrico de antecedentes transfusionais
O histrico de antecedentes transfusionais tem por objetivo coletar dados da ocorrnciade transfuso prvia e de reao transfusional. Dados como o conhecimento prvio da tipagem
sangnea anterior do paciente, histrico de antgenos e anticorpos eritrocitrios e de gestao
(a gravidez pode aumentar o risco de reao devido aos anticorpos desenvolvidos por exposio
circulao fetal) podem ser teis.
Esses dados devem ser compartilhados com o servio de hemoterapia com o adequado
preenchimento de cha de antecedentes transfusionais (preenchida no sistema informatizado
ou escrita com letra legvel para cada receptor de transfuso).
A cha deve ser consultada antes de cada nova transfuso e ser atualizada a cada novo epi-sdio transfusional ou a cada novo exame imuno-hematolgico realizado.
importante ressaltar que a coleta de informaes no histrico de antecedentes do pacien-
te pode auxiliar na realizao dos exames imuno-hematolgicos, facilitando a seleo adequada
do sangue e condutas pr-transfusionais. Os dados coletados devem constar no pronturio do
paciente.
IV. Conferncia e registro dos dados dos hemocomponentes preparados para transfuso
O sangue e os hemocomponentes s podem ser liberados para transfuso aps realizao
dos testes de compatibilidade, exames pr-transfusionais e mediante prescrio mdica, salvo
em situaes de extrema urgncia denidas por mdico e de acordo com a legislao vigente. A
transfuso s poder ser iniciada aps a prescrio mdica no pronturio do paciente.
No recebimento do sangue ou hemocomponente o prossional da equipe de sade deve
realizar a conferncia sempre em dupla conferncia vide item I.
Para segurana e boa qualidade da transfuso, as seguintes etapas devem ser observadas:
1. Na bolsa de sangue ou hemocomponentes conferir: Aderncia do rtulo, numerao, validade e tipagem ABO/Rh da bolsa, resultado dos
testes sorolgicos e fenotipagem eritrocitria (quando aplicado);
Inspeo macroscpica da bolsa na deteco de cogulos, sinais indicativos de hem-
lise, sinais de violao, deteriorao, colorao anormal, (preta ou purprica) turvao e
bolhas de ar (crescimento bacteriano);
Integridade da bolsa nos produtos descongelados, pois pode haver vazamento aps o
descongelamento dos concentrados de plasma e crioprecipitado;
Procedimentos complementares solicitados pelo mdico, tais como lavagem, irradiaoe/ou desleucocitao do hemocomponente.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
34/125ANVISA 33
2. Na etiqueta/carto de identicao do paciente axada a bolsa, conferir:
Nome e registro do paciente, numerao da bolsa, tipagem sangnea do paciente e da
bolsa, data de preparo e nome do tcnico responsvel; Resultado da prova de compatibilidade, resultado de pesquisa de anticorpos irregulares
e, se aplicado, resultado de fenotipagem eritrocitria.
3. No pronturio do paciente conferir e comparar:
Nome e registro hospitalar, data de nascimento, nmero de leito, clnica e tipagem san-
gnea anterior do paciente (quando houver);
Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI) e, se aplicado, resultados fenotipagem eritrocit-
ria anteriores.
Quando houver no conformidades, discrepncia na conferncia dos dados, o servio de
hemoterapia deve ser comunicado e o sangue e/ou hemocomponentes devolvidos.
Os dados referentes s bolsas de hemocomponentes tais como, numerao, data e horrio
de validade, resultados de sorologia, resultados de fenotipagem e resultados de pesquisas imu-
noematolgicas, bem como procedimentos especiais (irradiao, desleucocitao e lavagem) de-
vem ser registrados no pronturio do paciente para garantir a rastrealibidade do procedimento.
V. Monitoramento do ato transfusional
1. Avaliao pr-transfuso
O paciente deve estar acomodado confortavelmente no leito, ter os sinais vitais aferidos
(presso arterial, pulso, freqncia respiratria e temperatura) e compatveis com a transfuso e
devidamente anotados antes do seu incio.
A equipe de sade responsvel pela transfuso deve observar e relatar ao mdico os seguin-tes pontos:
Histrico clnico: com ateno especial aos antecedentes de cardiopatia e nefropatias;
Histrico transfusional;
Sinais vitais: principalmente se alterados, (presso arterial, freqncia respiratria e tem-
peratura);
Prescrio mdica e condutas prvias transfuso;
O registro das aes datado e assinado deve constar no pronturio do paciente.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
35/125HEMOVIGILNCIA34
2. A administrao da transfuso
Na maioria das vezes, o servio de hemoterapia disponibiliza os hemocomponentes paraque servio de enfermagem realize a transfuso. Nesta fase, muita ateno deve ser dispensa-
da ao tempo de exposio das bolsas, pois os concentrados de hemcias s podem car em
temperatura ambiente por, no mximo, 30 minutos depois de retirados de sua temperatura de
armazenamento que de (4 2 C).
A equipe de sade deve estar atenta quanto aos cuidados com a conservao dos produtos
que sero transfundidos, pois dependendo do tipo de bolsa utilizada no armazenamento existe
variao no tempo de permanncia em temperatura ambiente.
Os concentrados de hemcias, na maioria das vezes, so transfundidos em 1 a 2 horas equando necessrias infuses mais lentas no podero ultrapassar o limite de 04 horas.
A infuso dos concentrados de plaquetas e plasma, normalmente, realizada em curto pe-
rodo de tempo, de 30 a 60 minutos.
O plasma fresco congelado dever ser descongelado a temperatura de 37C em banho-
maria com controle de temperatura, ou em outro dispositivo devidamente validado. Durante
o descongelamento a bolsa deve ser protegida por um invlucro plstico, para evitar contami-
nao. Os componentes plasmticos devem ser transfundidos, no mximo, 6 horas aps o seu
descongelamento se armazenados a 22 2 oC, e 24 horas se armazenados a 4 2 oC.O descongelamento do crioprecipitado segue os mesmos cuidados descritos para o plasma
fresco congelado, devendo ser transfundido dentro de, no mximo, 6 horas.
O Quadro 2 apresenta de que forma os hemocomponentes so obtidos, suas composies
e cuidados.
A. Pr-infuso
Os sinais vitais do paciente devem estar aferidos e compatveis para inicio da transfuso,
conforme citado no item V. Monitoramento do ato transfusional.Os seguintes cuidados devem ser observados na pr-infuso:
Ateno: Durante o preparo do paciente para a transfuso a equipe de sade deve estaratenta aos produtos que sero transfundidos. Os concentrados de hemcias s podempermanecer em temperatura ambiente por, no mximo, 30 minutos depois de retiradosde sua temperatura de armazenamento.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
36/125ANVISA 35
1. As mos devem ser lavadas e o uso de luvas indispensvel de acordo com as precau-
es padro;
2. Na seleo do material deve conter um equipo com ltro especco para transfuso desangue;
3. A abertura do lacre da bolsa deve ser cuidadosa para evitar contaminao das partes
estreis;
4. Aps conectar o equipo na bolsa, preencher um tero da cmara de gotejamento pos-
sibilitando a formao adequada do nvel residual para facilitar a visualizao do goteja-
mento;
5. Na etiqueta/carto de identicao do paciente axada bolsa, dever ser anotado o
horrio da abertura do sistema (monitoramento do horrio) e o nome do responsvel.
B. Infuso
O responsvel pela instalao da transfuso dever informar ao paciente sobre o procedi-
mento e realizar a identicao ativa e passiva, perguntando o nome completo do paciente e
comparando com a etiqueta/carto de identicao, conforme descrito no item I.
Redobrar a ateno ao paciente impossibilitado de se comunicar, inconsciente, confuso ou
em centro cirrgico e sempre que possvel, completar a conferncia da identicao por interm-dio de familiar ou responsvel, antes de iniciar a transfuso.
Quando houver discrepncia nas informaes, proceder devoluo da bolsa ao servio de
hemoterapia junto com novas amostras coletadas do paciente.Os primeiros dez minutos de transfuso devem ser acompanhados a beira do leito, e so
importantes para deteco precoce de incompatibilidade sangnea. Durante o transcurso, o
ATENO: Nunca perfure as bolsas de hemocomponentes; No adicione qualquer tipo de medicamento ou soluo na bolsa de hemocomponente; Nunca ultrapasse o perodo mximo de quatro horas de infuso; No remova as etiquetas de identicao at o termino da infuso;
Nunca transfunda hemocomponente sem o equipo especco para transfuso; Nunca instale outros udos no mesmo acesso venoso utilizado para transfuso; Nunca coloque hemocomponente debaixo de torneiras, seja de gua quente ou fria; Para descongelamento de plasma e crioprecipitado siga o protocolo do servio de he-
moterapia da instituio.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
37/125HEMOVIGILNCIA36
paciente deve ser observado constantemente e mantido sob vigilncia para facilitar a deteco
precoce de eventuais reaes transfusionais.
A avaliao fsica do paciente nas aes de enfermagem importante e permite a compara-o dos parmetros anteriores transfuso podendo ajudar a diferenciar os tipos de reao.
Ao iniciar a infuso certicar-se de que o acesso venoso satisfatrio, controlar o uxo de
infuso aps vericar as condies clnicas de cada paciente observando possveis riscos de so-
brecarga de volume (infuses rpidas).
O horrio do incio da infuso dever ser anotado no pronturio do paciente
A equipe de sade deve observar atentamente o transcurso da infuso, sinais e sintomas
sugestivos reao transfusional, tais como: ansiedade, desconforto respiratrio, inquietao, cala-frios, prurido, tosse freqente, dor intensa, principalmente em regio lombar, torcica e membros
superiores.
Normalmente, perdas de acesso venoso, bloqueios ou lentido do uxo sanguneo inter-
ferem no tempo programado para a transfuso. Assim, a equipe de sade e, principalmente os
prossionais de enfermagem, devem estar atentos, observando periodicamente a venopuno,
tendo em mente que o tempo aumentado de exposio da bolsa um fator de risco para o
crescimento bacteriano.
Caso no termine no tempo mximo em 4 horas a bolsa deve ser suspensa e descartada deacordo com as normas de biossegurana e o mdico do paciente deve ser comunicado.
Alerta: Toda ateno deve ser dispensada a pacientes que no verbalizam, inconscien-tes, sedados (pacientes de centro-cirrgico), confusos ou crianas pequenas. Certique-se de que a unidade a ser transfundida est destinada realmente para aquele paciente,conra a identicao da etiqueta/carto da bolsa com a pulseira/bracelete/crach deidenticao.
Ateno: Recomenda-se a troca do equipo de transfuso a cada unidade de sangue trans-fundida, objetivando diminuir o risco de contaminao bacteriana. Quando necessrioinfundir mais que uma unidade de sangue com o mesmo equipo de transfuso, cuidadopara no ultrapassar quatro horas de infuso.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
38/125ANVISA 37
C. Ps-infuso
Ao trmino da transfuso o paciente deve ter os sinais vitais aferidos (presso arterial, pulso,freqncia respiratria e temperatura) e comparados com os parmetros anteriores, caso ocorra
alguma alterao comunicar ao mdico responsvel e observar a descrio no item 4. Interven-
es da equipe de sade nas reaes transfusionais imediatas.
Recomenda-se que o paciente seja monitorado pelo menos em at 01 hora aps o trmino
da transfuso.
O material utilizado deve ser descartado de acordo com as normas de biossegurana e o
plano de gerenciamento de resduos de sade.
Ao trmino da transfuso anotar o horrio, guardar a etiqueta/carto de identicao, datare assinar.
A rotina para a equipe de sade na transfuso de sangue e hemocomponentes est repre-
sentada na Figura 2.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
39/125HEMOVIGILNCIA38
(A) Conferir em dupla checagem:Na bolsa: inspeo visual do produto, ad-erncia do rtulo, numerao, validade,tipagem, resultado de testes sorolgicos efenotipagem (se aplicado);Na etiqueta/carto de identicao do re-ceptor: nome e registro, clnica e leito dopaciente, numerao da bolsa, tipagemsangunea da bolsa e do paciente, data enome do responsvel pelo preparo e de-mais dados (se aplicado);
No pronturio: comparar o nome, registrodo paciente, tipagem sangunea (quandohouver), pesquisa de anticorpos irregula-res (PAI) e fenotipagem (quando aplicado)
(B) Atendimento das reaes transfu-sionais imediatas1. Interromper a transfuso;2. Manter acesso venoso com soluo
siolgica 0,9%;3. Vericar, a beira do leito, se o
hemocomponente foi corretamenteadministrado ao paciente destinado;
4. Vericar sinais vitais;5. Comunicar o ocorrido ao mdico do
paciente;6. Comunicar a reao ao servio de
hemoterapia;7. Enviar para o servio de hemoterapia
o hemocomponente, o equipo e asamostras de sangue;
8. Coletar e enviar amostras de sangue dopaciente para a avaliao laboratorial,quando indicada;
9. Noticar a reao ao servio dehemoterapia e comit transfusional pormeio de impresso prprio.
FIGURA 2 FLUXOGRAMA DE ROTINAS DA TRANSFUSO DE SANGUE EHEMOCOMPONENTES
Hemocomponente prescrito
Conferir a requisio com osdados do paciente
Coletar as amostras para testes pr-transfusionais
Enviar material ao servio de hemoterapia
Receber e conferir o hemocomponente (A)
Dados bolsa/pronturiocoerentes e bolsa ntegra?
Devolver o hemocomponente.coletar nova amostra, se necessrio.
Conferir a prescrio mdica eadministrar pr-medicaes, quando
prescritas
NO
SIM
NO
Solicitar avaliao mdica
Transfusoliberada?
NO
SIM
SIM
Identificar o paciente beira doleito e comparar com a etiqueta/
carto na bolsa
Dados conferem?
SIMInstalar o hemocomponente, registrar o horriode incio e permanecer beira do leito nos 10
primeiros minutos da transfuso.
Monitorar o paciente durante a transfuso
Suspeita de reaotransfusional?
SIM
NO
Suspender atransfuso e
comunicar ao serviode hemoterapia
Identificar o paciente e verificarhistrico transfusional
Paciente emcondies
para iniciar atransfuso?
Verificar sinais vitais
Coletar nova amostra e devolver ohemocomponente.
NO
Registrar nopronturio
Verificar sinais vitais ehorrio do trmino da
transfuso
Seguir condutas paraatendimento das reaes
transfusionais imediatas (B)
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
40/125ANVISA 39
O paciente deve ser orientado, a comunicar ao mdico ou a equipe de sade, a ocorrncia
de sinais e sintomas sugestivos de reaes transfusionais, tais como calafrios, febre, nuseas e/ou
vmitos, cefalia, urticria, dores, alterao na colorao da pele, alterao na colorao da urina,ou qualquer outro evento que considere anormal.
A equipe de sade deve estabelecer uma forma de contato do paciente com o servio para
possibilitar a noticao de eventuais reaes transfusionais.
As informaes ou queixa recebidas do paciente devem ser comunicadas ao mdico e re-
gistradas no pronturio
4. Intervenes da equipe de sade nas reaes transfusionais imediatas
O monitoramento de todo o processo transfusional, objetiva detectar queixas, sinais e sin-
tomas que possam evidenciar reaes transfusionais. A avaliao fsica do paciente importante
porque muitas complicaes tm sinais e sintomas semelhantes, como, por exemplo, descon-
forto respiratrio, taquicardia, tremores, calafrios, febre, sudorese, cianose, prurido, eritema, he-
matria, urticria, hipertenso, hipotenso e/ou dores. Desta forma, os prossionais envolvidos
no processo transfusional devem estar treinados e habilitados para serem capazes de identicar
estes eventos e iniciar o pronto atendimento do paciente.
A equipe de sade e principalmente responsvel pela unidade onde, o paciente recebe atransfuso, deve implementar medidas visando diminuir riscos e complicaes. Assim, equipa-
mentos e materiais para emergncia, suporte ventilatrio, devem estar disponveis e em perfeito
funcionamento.
Na suspeita de reao transfusional, segue as aes que devem se iniciadas:
i. Interromper imediatamente a transfuso;
ii. Manter o acesso venoso permevel com soluo siolgica 0,9%;
iii. Vericar, beira do leito, a identicao do hemocomponente, conferir se foi correta-
mente administrado ao paciente com a devida prescrio mdica e conferir se houveerros ou troca;
iv. Vericar os sinais vitais e observar o estado cardiorrespiratrio;
v. Comunicar ao mdico responsvel pela transfuso;
vi. Providenciar a puno de um segundo acesso venoso na suspeita de uma reao gra-
ve
vii. Comunicar a reao ao servio de hemoterapia;
viii. Coletar e enviar amostra do paciente ao servio de hemoterapia, junto com a bolsa de
sangue e o equipo, mesmo que a bolsa esteja vazia;ix. Coletar e enviar amostras de sangue e/ou urina para o laboratrio clnico quando indi-
cado pelo mdico;
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
41/125HEMOVIGILNCIA40
x. Noticar a suspeita da reao ao servio de hemoterapia e comit transfusional por
meio de impresso prprio.
xi. Registrar as aes no pronturio do paciente.
importante promover medidas de conforto ao paciente. Dependendo da intensidade da
reao e do desconforto respiratrio, mant-lo em decbito elevado e disponibilizar material
para oxigenoterapia e emergncia.
Quando prescritas, as medicaes devem ser administradas prontamente conforme pres-
crio mdica.
Os sinais vitais devem ser monitorados em intervalos freqentes. A diurese deve ser observa-
da, considerando colorao e volume urinrio, principalmente na suspeita de incompatibilidadesangnea. Nos episdios de calafrios o paciente deve ser mantido aquecido. Comunique ao
mdico sobre os achados.
Aps os cuidados prestados, as anotaes no pronturio devem evidenciar toda a conduo
da reao transfusional.
5. Intervenes da equipe de sade nas reaes transfusionais tardias
O paciente deve ser orientado quanto a complicaes que podem ocorrer tardiamente. Aocorrncia de eventuais alteraes na colorao da pele, tais como ictercia, anemia, hemoglobi-
nria, febre petquias, pele escura, ou outros sinais e sintomas compatveis com cardiomiopatia,
cirrose heptica, diabete melito e distrbios do trato-gastrointestinal devem ser considerados.
Quando sinais e sintomas de febre, anemia, ictercia e hemoglobinria ocorrerem aps 24 horas
da transfuso do sangue, deve ser investigado suspeita de reao transfusional tardia.
Sempre que o paciente retornar ao servio, deve ser feito o questionamento quanto ocor-
rncia destes sinais e sintomas. importante lembrar que estes dados devem ser levantados
tanto pelo mdico como tambm pelo enfermeiro durante a consulta de enfermagem. Em casosde alteraes observar as seguintes etapas:
i. Comunicar ao mdico sobre os achados;
ii. Orientar o paciente sobre a suspeita da reao;
iii. Coletar exames de sangue conforme indicao mdica;
iv. Noticar a suspeita da reao ao servio de hemoterapia e comit transfusional por
meio de impresso prprio.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
42/125ANVISA 41
QUADRO 2 OBTENO, COMPOSIO E CUIDADOS DOS DIFERENTES TIPOS DE HE-
MOCOMPONENTES
Ateno: Os exames ps-reao transfusional devem ser colhidos de acordo com o tipo
de reao, solicitao mdica e as diretrizes de cada instituio. A amostra deve ser colhidapreferencialmente de outro acesso que no aquele utilizado para transfuso devido pos-sibilidade de hemlise local.
HEMOCOMPONENTESCONCENTRADO DE HEMCIAS CUIDADOS COMPOSIO
Concentrado de hemcias
Obtido atravs dacentrifugao do sangue total,removendo-se o plasma da massaeritrocitria da bolsa.
A compatibilidade ABO obrigatria; Utilizar equipo descartvel com ltro; No ultrapassar 4 horas de infuso; No expor mais que 30 minutos em
temperatura ambiente; Validade entre 21 a 35 dias (depende
do anticoagulante da bolsa); Temperatura de armazenamento
entre 04 2 C.
Eritrcitos, ou glbulosvermelhos, pequenaquantidade de plasma.Hematcrito em mdia de75%.Volume aproximado:250/300 ml.
Concentrado de hemcias
desleucocitadas
Obtido atravs da centrifugaodo sangue total, separando se doplasma sanguneo e removendo-se cerca de 99% dos leuccitosatravs de ltrao.
A compatibilidade ABO obrigatria; No ultrapassar 4 horas de infuso; Utilizar ltro de remoo de leucci-
tos Validade: entre 21 a 35 dias (depende
do anticoagulante da bolsa); Temperatura de armazenamento en-
tre 04 2 C.
Massa eritrocitria igual aoconcentrado de hemcias,diferenciando-se pelaremoo dos leuccitos(glbulos brancos). Contmum mnimo de plasma.Volume aproximado:200 ml.
Concentrado de hemcias
lavadas
Obtida aps centrifugao dosangue total, separando se doplasma e lavadas com soluosalina a 0,9%, estril, adicionadaa bolsa. A manipulao comtcnica assptica, mantendo aesterilidade do produto.
A compatibilidade ABO obrigatria; No ultrapassar 4 horas de infuso; Utilizar equipo descartvel com ltro; Armazenamento entre 04 2 C; Validade at 24 horas aps lavadas,
desde que conservados entre 04 2 C; Aps abertura da bolsa a infuso deve
ser em at 4 horas; Anotar a data e horrio de lavagem
do hemocomponente.
Massa eritrocitria com
remoo quase total doplasma (cerca de 98%),reduzindo tambm a quan-tidade de leuccitosVolume aproximado:200 ml.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
43/125HEMOVIGILNCIA42
Concentrado de plaquetas
Obtida atravs da centrifugaodo plasma.
A compatibilidade para o SistemaABO no obrigatria, mas aconsel-hvel;
A compatibilidade RhD recomen-dada para mulheres em idade frtil;
Habitualmente a infundir rapida-mente Infundir no ultrapassando4 horas. Aps sair do agitador deplaquetas no ultrapassar 24 horas;
Utilizar equipo descartvel com ltro; Evitar contaminao durante a troca
das unidades. No armazenar em
refrigerador. Validade: at 05 dias a partir da coleta Armazenamento: 20 e 24 graus em
agitador contnuo.
Estima-se que cada unidadede plaquetas contenha6x106plaquetas.Volume aproximado: 35 a50 ml/unidade.
Concentrado de plaquetas
por afrese
Coletada de um nico doadorcom tcnica especca e utilizao
de equipamento.
A compatibilidade para o Sistema ABOno obrigatrio, mas prefervel;
A compatibilidade para o sistema RhD necessria;
A infuso deve ser rapidamente; Utilizar equipo descartvel com ltro; Armazenamento: no colocar em re-
frigerador; Validade: at 05 dias a partir da coleta; Armazenamento: 20 e 24 graus em
agitador contnuo.
Equivale a 5-6 unidades deplaquetasVolume de plasma variaentre 200-400 ml.
Plasma Fresco Congelado
Obtido por centrifugao dosangue total. Separado e conge-lado.
A compatibilidade do Sistema ABO necessria (pacientes que necessitammltiplas transfuses);
Descongelar a 37C. (ver cuidados embanho-maria item 18);
Infundir em at 6 horas aps odescongelamento, quando mantidosentre 22 2 C. Em 24 horas quandoarmazenado a 4 2 C, se respeitadoo sistema fechado da bolsa.
Rico em fatores de coagu-lao, brinognio; fatoresV, VII e IX.Volume aproximado:200/250 ml.
Crioprecipitado
Obtido atravs do plasma con-gelado, uma parte do plasmainsolvel no frio.
Seguir os mesmos cuidados descritospara o plasma fresco congelado.
Contm o fator VIII decoagulao, FvW, fator XIII ebronectinaVolume aproximado: cercade 30 ml cada unidade
(congelado desidratado).
HEMOCOMPONENTESCONCENTRADO DE HEMCIAS CUIDADOS COMPOSIO
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
44/125ANVISA 43
REFERNCIAS
American Association of Blood Banks -Technical Manual 15
TH
edition:23:597-607; 2005American Association of Blood Banks -Teraputica Transfusional, Manual para Mdicos, 7 Edi-o:4-25;50-67;88-100; 2002
BRASIL. Resoluo 153 de 13 de junho de 2004. Dirio Ocial da Unio. Agncia Nacional de Vigi-lncia Sanitria, Braslia, DF. 24 JUN 2004. Seo 1, p.68.
Brunner/Suddarth.Tratado de Enfermagem Mdico-Cirrgica, volume 2, 9 edio: 30:751-752;2002
Carpenito, L. - Planos de Cuidados de enfermagem e Documentao - 2 edio
Chamone, D. A. F. et, Manual de Transfuso Sangunea: 56-75; 2001
CHAMONE, Dalton Alencar Fischer (Coord.): Compilao das Legislaes da Hemoterapia Brasilei-ra. So Paulo. Ed. Pillares. 2004.
Conselho Federal de Enfermagem. Resoluo Cofen-200/97, dispe sobre o regulamento da atu-ao dos prossionais de enfermagem na hemoterapia e transplante de medula ssea. In. Conse-lho Regional de Enfermagem. Documentos Bsicos de Enfermagem. So Paulo, 25-38; 1997
Conselho Federal de Enfermagem. Resoluo Cofen-306/2006, normatiza a atuao do enfermei-
ro em hemoterapia; 2006
Dirio Ocial, Governo do Estado de So Paulo. Lei n 10241, na verso promulgada por MarioCovas, So Paulo; 1999
Disposio sobre Regulamento Tcnico para funcionamento de Laboratrios Clnicos. ResoluoRDC n 302, de 13 de outubro de 2005. ANVISA. Dirio Ocial da Unio; Poder Executivo, de 14 deoutubro de 2005.
Heddle N.M. Universal leukoreduction decreases the incidence of febrile no hemolytic transfusionreactions to RBCs. Transfusion 44:25-29;2004
Horta, Wanda de Aguiar - Processo de Enfermagem, 15 reimpresso: II: 44-68 , 2004
Ministrio da Sade, Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - regulamento tcnico para os pro-cedimentos hemoterpicos, Resoluo 153: 14/06: 2004
Ministrio da Sade. Portaria SVS n0 121, de 24 de novembro de 1995: Institui como normas deinspeo para rgos de vigilncia sanitria do Sistema nico de Sade
Nanda - Diagnsticos de enfermagem da Nanda - Denies e Classicao:248-271; 2003-2004
NBR 14785:2002 Laboratrio clnico requisitos de segurana
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
45/125
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
46/125ANVISA 45
REAES TRANSFUSIONAIS
6
As transfuses de sangue e hemocomponente so um recurso teraputico valioso que ali-
viam sofrimentos e salvam vidas todos os dias. Da mesma forma que qualquer teraputica mdi-
ca, esto sujeitas a efeitos adversos, que por vezes podem ser severos e colocar a vida do paciente
em risco.
Nas ltimas dcadas, principalmente em vista do advento da AIDS, a segurana transfusio-
nal, do ponto de vista de transmisso de doenas infecto-contagiosas, evoluiu consideravelmen-
te. Os riscos de complicaes infecciosas, com a aplicao dos testes disponveis na atualidade,
so considerados muito baixos.
Infelizmente, o risco de transmisso de doenas no a nica complicao possvel das
transfuses. Eventos metablicos, imunolgicos e hidro-eletrolticos indesejados podem ocorrer,
e devemos estar sempre atentos.
medida que melhora o conhecimento cientco e clnico sobre as reaes transfusionais, as
oportunidades de identicao e tratamento melhoram, assim como a segurana do paciente.
Na atualidade, os pacientes correm maior risco de receber uma unidade de hemcias errada
do que de ser expostos ao HIV ou hepatite. Estes aspectos muitas vezes so ignorados ou mini-
mizados na prtica diria.
Estar cientes, treinados e atentos para prevenir, identicar, abordar e tratar possveis reaes
transfusionais obrigao de todos os prossionais da sade que lidam com transfuses. O resul-
tado a melhoria da segurana dos nossos pacientes.
As reaes transfusionais aqui descritas e resumidas nos Quadros 3 e 4 deveram ser notica-
das ao Sistema nacional de Hemovigilncia por meio do NOTIVISA, conforme descrito no Captulo
8. Hemovigilncia.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
47/125HEMOVIGILNCIA46
I. REAES IMEDIATAS
1. REAO HEMOLTICA AGUDA
Denio
Na reao hemoltica aguda (RHA) ocorre hemlise intravascular das hemcias incompa-
tveis transfundidas devido presena de anticorpos pr-formados na circulao do paciente.
considerada uma reao extremamente grave e de mau prognstico, estando sua gravidade
diretamente relacionada ao volume de hemcias infundido e s medidas tomadas.
Etiologia e incidncia
causada pela presena de anticorpos ativadores de complemento presentes no plasma
do receptor contra determinado antgeno eritrocitrio presente nas hemcias do doador. Habi-
tualmente deve-se incompatibilidade dentro do sistema ABO, porm, anti-Leacom amplitude
trmica, anti-vel, anti-PP1Pk e anti-P
1podem estar implicados nesse tipo de reao. Sua incidncia
estimada de 1:70.000 38.000 transfuses, sendo o nmero de mortes relacionadas a este tipo
de reao de 1 por 1.000.000 unidades transfundidas. Sua principal causa deve-se a erros de iden-ticao do receptor ou das amostras coletadas para os testes pr-transfusionais.
Diagnstico
O quadro grave, composto por dor no trax, no local da infuso, abdome e/ou ancos,
hipotenso grave, febre, calafrios, hemoglobinria, hemoglobinemia, ansiedade, inquietao e
sensao de morte iminente. Pode evoluir com insucincia renal aguda por necrose tubular
aguda e coagulao intravascular disseminada (CIVD). Alm do quadro clnico, o diagnstico ba-seia-se nos achados laboratoriais, como teste de antiglobulina direto-TAD (coombs direto) positi-
vo, aumento da hemoglobina livre, queda da hemoglobina/hematcrito e, aps algumas horas,
elevao dos nveis de bilirrubina indireta e do DHL (desidrogenase lctica) e diminuio da hap-
toglobina. Diagnstico diferencial deve ser feito com reao transfusional por contaminao bac-
teriana da bolsa, uma vez que o quadro clnico inicial de ambas as reaes semelhante, assim
sendo, deve sempre ser colhido sangue da bolsa e do paciente para a realizao de hemocultura
com vistas ao estabelecimento do diagnstico diferencial.
5/26/2018 Anvisa Manual T cnico de Hemovigil ncia
48/125ANVISA 47
Condutas e tratamento
Aps parar a transfuso, deve-se realizar a checagem da bolsa e do paciente (identicao eABO do paciente e da bolsa) para evidenciar possvel erro de identicao. Devem ser solicitados
exames imuno-hematolgicos para diagnstico da reao enviando amostra do paciente (colhi-
da de outro acesso que no aquele da infuso do hemocomponente) e a bolsa em questo para
o servio de hemoterapia. Identicada a reao hemoltica aguda, deve-se manter uma diurese
de 100 mL/h por pelo menos 18 a 24 horas por meio d