23
Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» Equipa CIV 220: Carlos Miguel Coelho Azevedo João Manuel Coelho Rodrigues José Ricardo Monteiro Maeiro tos Carvalho Luís Maria Cudell San Tiago da Silva Santos Monitor: edro Miguel Azevedo Paupério P Supervisor: Engenheiro Xavier das Neves Romão Porto, outubro de 2011

Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ação Sísmica sobre Edifícios

 

«Por que razão alguns edifícios não caem?» 

 

 

 

Equipa CIV 220: 

Carlos Miguel Coelho Azevedo 

 João Manuel Coelho Rodrigues

José Ricardo Monteiro Maeiro 

tos Carvalho Luís Maria Cudell San

Tiago da Silva Santos 

Monitor: 

edro Miguel Azevedo Paupério P

 

Supervisor: 

Engenheiro Xavier das Neves Romão 

Porto, outubro de 2011

Page 2: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  I

Resumo 

 

 

  O  presente  relatório  pretende  servir  como  instrumento  de  registo  do  trabalho 

efetuado no âmbito da unidade curricular Projeto FEUP sobre os  efeitos da ação sísmica 

em edifícios, procurando ajudar a explicar por que razão alguns edifícios não caem quando 

 ela sãa o sujeitos. 

  Primeiramente,  serão  introduzidos  alguns  conceitos  relativos  à  sismologia, 

necessários para a exposição das matérias posteriores, seguindo‐se uma breve análise da 

distribuição  global  de  eventos  sísmicos,  com  especial  ênfase  na  relação  entre  esta  e  a 

s tlocalização da  placas  ectónicas. 

  Serão  depois  estudadas  soluções  arquitetónicas  e  estruturais  que  visam  a 

salvaguarda  de  pessoas  e  bens  na  sequência  de  ações  sísmicas,  com  particular  atenção 

para  as  últimas,  onde  se  inserem  sistemas  de  proteção  ativa  e  passiva  de  comprovada 

ficácia no cumprimento do objetivo enunciado. e

 

 

 

 

 

Palavras­Chave 

 

 

sismos 

risco sísmico 

placas tectónicas 

o sísmica sistemas de proteçã

isolamento de base 

dissipação de energia 

Page 3: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  II

Agradecimentos 

 

 

  A  equipa  CIV  220  pretende  agradecer  ao  seu  supervisor,  Engenheiro  Xavier 

Romão, pela orientação eficaz dispensada a este projeto, traduzida no fomento da criação 

de métodos de pesquisa autónomos e no esclarecimento de todas as dúvidas que a mesma 

azia suf rgir. 

  Em  segundo  lugar,  expressa  também  a  sua  gratidão  para  com  o  monitor  Pedro 

Paupério,  a  quem  se  deve  um  auxílio  importante  na  calendarização  de  tarefas  e  no 

esclarecimento  de  dúvidas  científicas  ou  relativas  ao  funcionamento  da  unidade 

curricular. 

  Por último, uma referência para  todos os que ministraram formação em diversas 

áreas  durante  a  semana  exclusiva,  por  terem  possibilitado  o  desenvolvimento  de 

ompetências que se pretendem ver agora convenientemente aplicadas. c

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 4: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  III

Índice 

 

 

Resumo............................................................................................................................................................. I 

Palavras‐Chave ............................................................................................................................................. I 

Agradecimentos............................................................................................................................................ II 

1. Introdução .................................................................................................................................................1 

2. Distribuição Global de Eventos Sísmicos ......................................................................................3 

2.1. Relação entre Placas Tectónicas e Sismicidade .........................................................3 

2.2. Sismicidade em Portugal .....................................................................................................5 

3. Proteção Sísmica de Edifícios ............................................................................................................7 

3.1. Soluções Arquitetónicas ......................................................................................................8 

3.2. Soluções Estruturais .............................................................................................................11 

3.2.1. Sistemas de Proteção Sísmica Ativa ...............................................................12 

3.2.2. Sistemas de Proteção Sísmica Passiva ..........................................................12 

3.2.2.1. Isolamento de Base...............................................................................13 

3.2.2.2. Dissipação de Energia..........................................................................14 

4. Conclusão ...................................................................................................................................................17 

eferências Bibliográficas........................................................................................................................19 R

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 5: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 1 ‐

1. Introdução 

 

 

  Os sismos desde sempre constituíram uma das mais trágicas catástrofes naturais, 

provocando  todos  os  anos  milhares  de  desalojados  e  inúmeros  danos  materiais.  Estas 

consequências sociais, bem como os prejuízos que provocam, levam a que sejam notícia de 

e edestaque em qualqu r m io de comunicação. 

  Apesar  de  ser  impossível  impedir  esta  catástrofe  natural,  investigadores, 

engenheiros e arquitetos têm desenvolvido novas técnicas para atenuar os seus danos. De 

facto, em grande parte das vezes as destruições são noticiadas e perpetuam‐se na história, 

as o trm abalho por detrás de todos os edifícios que permanecem é desmerecido. 

  Conforme  sabido,  os  sismos  são  fenómenos  naturais  resultantes,  na maior  parte 

dos  casos,  de  uma  rutura  mais  ou  menos  violenta  no  interior  da  crosta  terrestre, 

correspondendo  à  libertação  de  uma  grande  quantidade  de  energia  e  à  propagação  de 

vibrações que se transmitem a uma vasta área. A zona no interior da Terra na qual se dá a 

libertação de energia designa‐se por foco ou hipocentro; já o ponto à superfície situado na 

vertical do foco é o epicentro, que corresponde à zona onde o sismo é sentido com maior 

intensidade. 

  A  duração  de  um  sismo  pode  variar  desde  poucos  segundos  até  dezenas, 

raramente  ultrapassando  um  minuto.  Após  o  sismo  principal,  seguem‐se  geralmente 

reajustamentos do material  rochoso que dão origem a sismos mais  fracos, denominados 

réplicas. 

  Embora muitos cientistas estejam a fazer a investigação no sentido de desenvolver 

métodos de previsão de sismos, tal ainda não pode ser feito. No entanto, é possível tentar 

minimizar  os  seus  efeitos,  identificando  zonas  de  maior  risco,  construindo  estruturas 

resistentes,  elaborando  planos  de  emergência  e  promovendo  a  educação  da  população, 

nomeadamente  no  que  diz  respeito  às  medidas  de  segurança  a  ter  em  atenção  antes, 

durante e depois de um sismo. 

  A  escala  de  Richter  é  uma  escala  de  magnitude,  relacionando‐se  com  a  energia 

libertada  durante  o  sismo.  Foi  desenvolvida  pelos  sismólogos  Charles  Francis  Richter  e 

Beno Gutenberg. O aumento de uma unidade nesta escala corresponde a um aumento de 

dez  vezes  na  amplitude  da  onda  sísmica  e  de  cerca  de  32  vezes  na  energia  libertada 

durante o sismo. 

Page 6: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 2 ‐

  Já a escala de Mercalli é usada para definir a intensidade do sismo, sendo que esta é 

uma  medida  qualitativa  que  descreve  os  efeitos  produzidos  pelo  mesmo  em  locais  da 

superfície terrestre. A classificação da intensidade é feita através da observação dos danos 

 de inquéritos à população afetada (Tabela 1). e

 

I  não s ntos entido pelo ser humano; vibrações registadas apenas por instrume

II  sentido por pessoas em repouso nos andares elevados de edifícios 

III  sentido por algumas pessoas dentro de casa; objetos pendentes baloiçam 

IV  senti tam do por quase todas as pessoas dentro de casa; vidros e louças tilin

V  sentido fora de casa; as pessoas acordam; caem pequenos objetos 

VI  os m as óveis deslocam‐se; caem estuques; alvenarias de má qualidade abrem fend

VII é difícil permanecer de pé; há fendas nos edifícios; os sinos tocam; tijolos e 

mosaicos caem 

VIII afeta a condução de veículos; há colapsos parciais de edifícios de má qualidade e 

fendas no solo 

IX  danos consideráveis em todo o património edificado 

X  destruição da maioria dos edifícios; grandes deslizamentos de terras 

XI  ferrovias gran subterrâneas demente deformadas; grandes danos nas condutas 

XII  destruição total; significativa alteração topográfica 

Tabela 1 – escala de Mercalli. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 7: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

2. Distribuição Global de Eventos Sísmicos 

 

 

  Devido ao  facto do planeta Terra não apresentar uma estrutura homogénea, nem 

todos os locais à superfície estão igualmente expostos à ocorrência de catástrofes naturais 

como os sismos. Por este motivo, é possível elaborar mapas onde se apresentam as zonas 

terrestres  onde  será mais  provável  a  ocorrência  de  sismos  e,  portanto, mais  expostas  a 

esse  risco.  Dada  a  sofisticação  e  evolução  das  técnicas  utilizadas,  atualmente  é  possível 

efinir as áreas de maior perigo sísmico com reduzida margem de erro (Figura 1). d

 

 

 

  ‐ 3 ‐

 

 

 

 

igura 1 – distribuição global das áreas de maior risco sísmico (1999). F

 

  Podem‐se então definir duas grandes zonas sísmicas no globo terrestre: 

cintura mediterrânico‐asiática (estende‐se desde a Península Itálica e Balcãs até à Ásia 

central, Himalaias, Tibete e China ocidental); 

cintura circumpacífica (onde ocorrem os sismos mais violentos e com consequências 

mais  devastadoras;  esta  zona,  conhecido  como  anel  de  fogo  do  Pacífico,  inclui  por 

exemplo, a Nova Zelândia, as Filipinas, o Japão e países da América central e do sul). 

 

 

2 lação entre Placas Tectónicas e Sismicidade 

  Conforme conhecido, a  superfície do planeta Terra encontra‐se  dividida por uma 

série  de  placas  rígidas  em  situação  de  contínuo  deslocamento  –  as  placas  tectónicas. 

.1. Re

Page 8: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

Tratam‐se  de  várias  placas,  com  diferentes  formas  e  tamanhos,  englobando  cada  uma 

elas, n id a sua maioria, uma parte cont nental e outra oceânica.  

  Os  limites  entre  as  placas  coincidem  com  os  locais  mais  prováveis  para  a 

corrência de sismos (Figuras 2 e 3). o

 

 

 

  ‐ 4

gigante que originará um tsunami. 

  É devido a estes acontecimentos que surge a grande maioria dos sismos registados, 

sendo tais factos os geradores da estreita relação entre placas tectónicas e sismicidade. 

 ‐

 

 

 

 

igura 2 – distribuição geográfica das placas tectónicas. F

 

 

 

 

 

 

 

igura 3 – localização dos epicentros de sismos ocorridos entre 1963 e 1998. F

 

  Dado que as placas  tectónicas se encontram em constante movimento, por vezes 

colidem, afastam‐se ou deslizam uma sobre a outra, gerando‐se entre elas forças e tensões 

que irão alterar os materiais rochosos até estes atingirem o seu limite de elasticidade, após 

o qual a matéria entra em rutura. Libertam‐se, assim, enormes quantidades de energia que 

e props agarão através de ondas sísmicas pela superfície e interior da Terra. 

  Quando o foco da libertação de energia se situa sob o oceano, é gerada uma onda 

Page 9: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

2 smic dade em Portugal 

  Após  a  análise  da  sismicidade  em  diferentes  períodos  de  tempo,  também  foi 

.2. Si i

possível elaborar um mapa representativo das áreas de maior perigo sísmico em Portugal. 

  Os atuais níveis de conhecimento acerca da ação sísmica que afeta o país permitem 

concluir que a exposição do território nacional ao risco de eventos sísmicos é moderada, 

comparativamente  com  os  níveis  do  resto  do  mundo,  embora  não  esteja  igualmente 

distribuída. 

  Portugal,  no  contexto  da  tectónica  de  placas,  situa‐se  na  placa  Euro‐Asiática, 

limitada a sul pela falha Açores‐Gibraltar (que define a fronteira com a placa Africana) e a 

oeste  pela  falha  dorsal  do  oceano Atlântico.  Por  estes motivos,  é  no  sul  e  a  oeste  que  o 

erritório está mais exposto ao risco de ocorrência de atividade sísmica (Figuras 4 e 5) t

 

 

  ‐ 5 ‐

 

 

 

 

 

igura 4 – carta de isossistas máximas observadas até à atualidade. F

 

 

 

 

 

 

 

Figura 5 – localização dos epicentros de sismos ocorridos entre 33 a.C. e 1991. 

 

Page 10: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  Assim, em virtude do seu enquadramento, o território de Portugal continental tem 

experimentado,  ao  longo  do  tempo,  as  consequências  de  alguns  eventos  sísmicos  de 

magnitude moderada  a  forte,  que  resultaram muitas  vezes  em  danos  consideráveis  em 

várias cidades e vilas do país, como o comprovam diversos relatos históricos. O sismo de 1 

de Novembro de 1755 terá sido um dos mais destruidores, com uma magnitude estimada 

de 8,75 na escala de Richter,  tendo  resultado de um movimento  interplacas  e destruído 

rande parte da capital (Figura 6). g

 

 

  ‐ 6 ‐

 

 

 

 

 

Figura 6  –  gravura  da  época  alusiva  à  destruição  da  cidade  de  Lisboa  na  sequência  do 

ismo de 1 de Novembro de 1755. s

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 11: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

3. Proteção Sísmica de Edifícios 

 

 

  As características arquitetónicas e estruturais do parque edificado constituem um 

fator de extrema  influência nos  efeitos da ação  sísmica  sobre as populações. Em  termos 

diretos, o não colapso das estruturas poderá evitar a perda de vidas humanas; por outro 

lado, a extensão dos danos infligidos pelo sismo tem um impacto relevante sobre o esforço 

económico  necessário  no  momento  da  reconstrução.  A  isto  acresce  que  a  perda  de 

funcionalidade  de  instalações  necessárias  para  assistência  às  populações,  como  os 

hospitais  e  os  centros  de  decisão,  dificultará  a  resposta  das  entidades  competentes  e  a 

xecuçã .e o dos planos de emergência  

  A  correspondência  entre  a  qualidade  das  construções  e  as  consequências  acima 

relevadas é facilmente comprovada pela comparação entre eventos sísmicos ocorridos em 

tempos  próximos,  mas  afastados  em  termos  de  avanços  nas  soluções  arquitetónicas  e 

estruturais previamente adotadas. A título de exemplo, aponte‐se o terramoto ocorrido no 

Japão, a 17 de Janeiro de 1995 (com epicentro a 20 km da cidade de Kobe e magnitude de 

momento de 6,8), que causou 6434 vítimas mortais,  e  confronte‐se este número com as 

cerca  de  316  000  pessoas  que  o  governo  haitiano  estimou  terem  perdido  a  vida,  na 

sequência  do  sismo  com magnitude  de  7,0  que  a  12  de  Janeiro  de  2010  assolou  o  país 

(Figuras 7 e 8). De facto, principalmente desde o violento terramoto de 1923 que no Japão 

têm sido desenvolvidas e aplicadas técnicas de proteção sísmica, enquanto que no Haiti as 

construções  eram de  carácter precário  e  encontravam‐se  em processos de  reconstrução 

unca finalizados, dada a frequência de vários tipos de tempestades tropicais. n

 

 

 

  ‐ 7 ‐

 

 

 

 

Figura 7 –  colapso do quinto piso de um edifício na  zona  comercial de Kobe  (note‐se  a 

manutenção dos vidros nos restantes pisos e no prédio situado por trás). 

Page 12: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

 

 

 

  ‐ 8 ‐

 

 

 

 

igura 8 – colapso de edifícios em Port‐au‐Prince, capital do Haiti. F

 

  A  engenharia  sísmica,  por  meio  do  desenvolvimento  de  novas  tecnologias  de 

construção  e  pela  criação  de  diferentes  metodologias  de  análise,  tem  procurado  dar 

resposta ao duplo objetivo já evidenciado de salvaguarda de vidas e minoração de danos. 

Obviamente, a garantia de que uma estrutura será totalmente segura quando sujeita a um 

evento  sísmico  não  poderá  nunca  ser  dada,  dadas  as  incertezas  na  definição  da  ação 

sísmica e no modelo de análise (Guerreiro 2008). Nesse sentido, a regulamentação apenas 

pode estipular um nível mínimo de desempenho estrutural para uma ordem de grandeza 

do evento previamente definida. 

  Neste capítulo serão apontadas algumas soluções arquitetónicas e estruturais que 

têm  vindo  a  ser  adotadas  com  o  propósito  de  garantir  respostas  adequadas  a  estes 

objetivos. Naturalmente, dada a área de estudos em que o trabalho se insere, às primeiras 

erá feita uma abordagem menos demorada. s

 

 

3 luções Arquitetónicas

  A  concretização  de  muitas  das  recomendações  relativas  à  proteção  sísmica  de 

edifícios dependerá do projeto de  arquitetura. Nesse  sentido,  a melhor  garantia de uma 

boa  resposta  na  sequência  de  um  evento  sísmico  é  dada  por  uma  eficiente  articulação 

entre as necessidades estéticas ou funcionais e a conceção estrutural do edifício, traduzida 

um tra n i

.1. So  

n balho realizado em conju to e desde o  nício pelo arquiteto e pelo engenheiro. 

  Considere‐se,  a  título de  exemplo, um projeto de arquitetura de um edifício  com 

vários pisos, diferentes uns dos outros. Se as paredes que limitam os compartimentos de 

Page 13: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 9 ‐

cada piso não  se  encontrarem no mesmo alinhamento  vertical,  poderá  ser difícil  definir 

pilares ou paredes que possam ser prolongados até às fundações e sejam compatíveis com 

a arquitetura (por exemplo, que não atravessem quartos ou casas de banho). Neste caso, 

dada  a  relevância  deste  prolongamento  no  comportamento  sísmico  do  edifício  e  a 

impossibilidade de compensar a sua ausência com medidas posteriores de igual eficácia, o 

projeto de arquitetura deveria ser alterado em favor do de engenharia, de modo a garantir 

a implantação dos elementos verticais de suporte com continuidade total até às fundações 

Lopes ( 2008). 

  Obviamente, esta prioridade da conceção e segurança estrutural em detrimento da 

arquitetura,  quando  estas  são  incompatíveis  entre  si,  não  constitui  uma  regra  a  ser 

aplicada  em  todos  os  casos.  Há  situações  qualitativamente  diferentes:  é  sabido,  por 

exemplo,  que  as  paredes  mais  resistentes  de  um  edifício  deverão  estar  situadas  na 

periferia dos mesmos. No entanto, estes locais têm de ser destinados a varandas e janelas, 

sem  as  quais  o  edifício  perderia  funcionalidade.  Neste  caso,  alterar  o  projeto  de 

engenharia com vista a colocar as paredes na zona central da planta dos pisos (se bem que 

mantendo  uma  certa  simetria  para  resistir  melhor  à  torção)  garante  uma  solução  que, 

embora  não  seja  a  ideal,  é  compatível  com  a  resposta  e  segurança  pretendidas  e  vai  de 

encontro ao desejado pelo arquiteto. 

  No  caso  de  edifícios  concebidos  para  cumprir  diferentes  funções  ao  longo  do 

tempo,  como  sucede  nas  instalações  de  escritórios  (sujeitas  a  frequentes  alterações  da 

compartimentação interior, devido a mudanças da entidade responsável pelo espaço ou da 

estrutura  organizacional  dessa  entidade),  verifica‐se  ser  necessária  a  alteração  das 

paredes  interiores (Lopes 2008). Para que tal seja  feito sem comprometer a resposta do 

edifício quando sujeito a um evento sísmico, a remoção das paredes divisórias não poderá, 

naturalmente,  interferir  com a estrutura principal. Nesse sentido, essas paredes deverão 

ser de materiais leves, de menor resistência do que a restante estrutura, e as lajes terão de 

ser projetadas para  suportar o  seu peso qualquer que  seja  a  sua  localização. Na prática, 

«Isto  pode  ser  conseguido  facilmente  admitindo  no  cálculo  que  o  peso  destas  paredes  é 

equivalente a uma carga distribuída na superfície total das lajes e não apenas na localização 

prevista para as paredes na utilização inicial.» (Lopes 2008). 

  Algo de muito similar ocorre na requalificação de edifícios antigos, que em regra 

apresentam  compartimentos  de  dimensões  mais  reduzidas:  é  necessário  conhecer  as 

funções estruturais dos vários elementos e distinguir as paredes‐mestras de tabiques sem 

funções resistentes, sendo que apenas alguns destes poderão ser removidos. 

Page 14: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  Fica,  deste  modo,  evidente  que  só  a  perceção  da  importância  relativa  entre  as 

necessidades estéticas ou funcionais do projeto de arquitetura e a conceção estrutural do 

edifício  permite  o  estabelecimento  claro  de  prioridades  para  cada  caso,  pelo  que  será 

r  o qsempre necessária a refe ida articulação entre  ar uiteto e o engenheiro. 

  Infelizmente,  só  mais  recentemente  tal  tem  vindo  a  suceder.  A  arquitetura 

moderna  iniciada  por  Le  Corbusier,  por  exemplo,  levanta  inúmeros  desafios  aos 

engenheiros  responsáveis  por  garantir  uma  resposta  adequada  das  estruturas  a  um 

evento sísmico. Note‐se o esboço do arquiteto franco‐suíço (Figura 9) e vejam‐se os pilares 

que  suportam dois  pisos  acima do  chão,  a  ausência  de  quaisquer  vigas  e  as  escadas  em 

etão armado que induzem movimentos de torção (Charleson 2008). b

 

 

 

  ‐ 10 ‐

 

 

 

 

igura 9 – esboço de Le Corbusier para a casa Dom­Ino, de 1914. F

 

  De  facto,  os  cinco  princípios  da  nova  arquitetura  preconizada  por  Le  Corbusier 

(Figura  10)  –  planta  livre  (sem  paredes  a  exercer  funções  estruturais),  fachada  livre, 

janelas em banda,  terraço superior sob a  forma de  jardim e pilotis  (pilares que elevam a 

base  do  edifício,  permitindo  circular  debaixo  dele)  –  inspiraram  a  construção  de  vários 

edifícios em zonas de sismicidade cientificamente documentada, mas sem as precauções 

estruturais que esta última e a natureza do desenho arquitetónico adotado requeriam. Os 

resultados desta circunstância ficaram, por exemplo, patentes no colapso de estruturas em 

betão armado, construídas segundo os cânones da arquitetura moderna, na sequência da 

ação sísmica que afetou a cidade argelina de El Asnam a 10 de Outubro de 1980 (Figura 

1). 1

 

 

 

Page 15: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

 

 

 

  ‐ 11 ‐

 

 

 

 

Figura 10 – Villa Savoye,  obra de Le Corbusier  concluída em 1931 e  representativa dos 

inco princípios da nova arquitetura por ele preconizada. c

 

 

 

 

 

 

 

Figura 11 – ruínas de uma moderna escola em El Asnam, uma das 85 destruídas na pelo 

ismo (note‐se o colapso dos pilotis). s

 

 

3 luções Estruturais 

  Tradicionalmente,  a  abordagem  estrutural  à  proteção  sísmica  de  estruturas  tem 

por  base  a  exploração  do  seu  comportamento  dúctil,  sendo  que  esta  característica 

funciona  como  uma  medida  do  seu  deslocamento  horizontal  máximo  realizado  em 

segurança, isto é, até ao início da rutura. Neste sentido, a ductilidade permite concluir até 

que ponto a energia do evento sísmico é absorvida pela estrutura, evitando movimentos 

e resso c nd a i o a a n

.2. So

d nân ia e permiti o, por esta via, um  dim nuiçã  gradual d s forç s de i ércia. 

  No  entanto,  o  dimensionamento  de  uma  estrutura  com  base  no  seu 

comportamento dúctil  não  é,  por  vezes,  possível,  dados  os materiais  com os  quais  ela  é 

Page 16: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

 

 

 

‐ 12 ‐

construída (que podem não verificar esta propriedade) ou porque, simplesmente, mesmo 

havendo capacidade dúctil a conceção da estrutura não a permite explorar. 

  Nesta circunstância, revela‐se necessário o recurso a sistemas de proteção sísmica 

–  «...conjunto  de  dispositivos  que,  quando  incluídos  na  estrutura,  melhoram  o  seu 

comportamento  sísmico  sem  o  recurso  à  capacidade  de  deformação  da  estrutura.» 

(Guerreiro 2008). Consoante a necessidade de fornecimento de energia, é usual distinguir 

os sistemas de proteção passiva dos de proteção ativa, sendo que a estes últimos se  fará 

penas uma breve abordagem. a

 

 

3 istemas de Proteção Sísmica Ativa 

  Os sistemas de proteção sísmica ativa, mais recentes do que os passivos, procuram 

contrariar os efeitos dos sismos nas estruturas através da aplicação externa de forças que 

os  anulem.  Para  que  tal  suceda,  é  realizada  uma  previsão  da  reação  da  estrutura  ao 

movimento  exterior  provocado  pelo  evento  sísmico.  Em  seguida,  e  de  acordo  com  a 

previsão,  garante‐se  a  aplicação  de  um  conjunto  de  forças  que  efetue  o  já  enunciado, 

través t c . 

.2.1. S

a  de vários sis emas hidráuli os

  A  principal  desvantagem  do  método,  ideal  em  teoria,  reside  no  facto  desses 

sistemas hidráulicos  terem de  transmitir  forças muito  elevadas  e  a  frequências  também 

altas,  o  que  se  traduz  em  elevados  custos monetários,  devido  à  energia  que  tem de  ser 

ornecida para o processo e às exigências tecnológicas apontadas. f

 

 

3 istemas de Proteção Sísmica Passiva 

  Ao contrário dos anteriores, os sistemas de proteção sísmica passiva dispensam o 

fornecimento de energia. Os custos mais reduzidos decorrentes da aplicação destes e a sua 

maior simplicidade, associada a uma eficácia perante eventos sísmicos que não deixa de 

.2.2. S

ser comprovada, têm como consequência que o seu uso seja mais frequente e acessível. 

  Em seguida, será feita referência aos dois mais comuns sistemas integrantes desta 

ategoria: os baseados no isolamento da base e os de dissipação da energia. c

Page 17: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 13 ‐

3  Isolamento de Base 

  A  ideia subjacente aos sistemas de  isolamento de base é, em teoria, algo utópica: 

pretende‐se separar as estruturas do chão, de forma a evitar que estas tenham de resistir 

às forças de inércia que se geram devido aos movimentos do solo. Na prática, obviamente, 

apenas  se  eliminam  as  ligações  entre  a  estrutura  e  o  exterior  no  plano  horizontal, 

mantendo‐as em pleno segundo a direção vertical. A superfície de descontinuidade assim 

criada isola a estrutura dos movimentos do solo (que se efetuam, principalmente, no plano 

horizontal).  O  efeito  gerado  é  similar  ao  de  assentar  a  estrutura  sobre  um  conjunto  de 

esferas,  permitindo  deslocamentos  horizontais  e  mantendo  a  necessária  capacidade  de 

.2.2.1.

suporte. 

  Em edifícios, este isolamento é feito, regra geral, em relação às fundações. De notar, 

contudo,  que  a  diminuição  da  rigidez  da  ligação  horizontal  tem  como  consequência  o 

aumento  dos  movimentos  efetuados  em  relação  ao  solo  segundo  essa  direção.  Nesse 

sentido, revela‐se necessário garantir que haja um espaçamento adequado entre edifícios 

adjacentes, de modo a permitir deslocamentos sem restrições (esta implicação leva a que 

não  seja  possível  recorrer  a  esta  via  em  edifícios  em  banda;  no  entanto,  existem  já 

sistemas  de  isolamento  de  base  que  possibilitam  a  dissipação  de  alguma  energia, 

minimizando  estes movimentos).  Obviamente,  se  é  previsto  o  deslocamento  da  base  na 

eventualidade  de  uma  ação  sísmica,  todas  as  habituais  ligações  entre  a  estrutura  e  o 

exterior (como a água, gás, eletricidade ou esgotos) terão de ser efetuadas por canais com 

lexibilif dade para os movimentos previstos. 

  A grande vantagem do isolamento de base reside no facto de nos pisos superiores 

os  deslocamentos  relativos  entre  eles  serem  praticamente  nulos,  embora,  conforme 

referido, os movimentos ao nível do solo sejam maiores do que os que se verificariam sem 

este sistema. Assim, a estrutura permanece quase indeformável. Tal é particularmente útil 

m inste alações onde se encontram sistemas de precisão sensíveis a acelerações. 

  Estão já disponíveis diversos tipos de dispositivos que possibilitam o cumprimento 

do  já  enunciado  objetivo  de  isolar  a  base  da  estrutura:  entre  eles,  destacam‐se,  pela 

frequência do seu uso, os blocos de borracha de elevado amortecimento (conhecidos pela 

sigla H.D.R.B., do inglês high damping rubber bearing), os apoios pendulares com atrito e 

os blocos de borracha com núcleo de chumbo (L.R.B., de  lead rubber bearing). De acordo 

com particularidades específicas de cada um deles, podem ser aplicados vários de um só 

tipo  ou  de  diferentes  tipos.  No  entanto,  regra  geral,  são  comuns  a  todos  as  seguintes 

características (Guerreiro 2008): 

Page 18: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

baixa  rigidez  horizontal  (que  permite,  tal  como  já  explicado,  a  realização  de 

movimentos em relação ao solo no plano horizontal, separando a estrutura do exterior 

segundo essa direção); 

capacidade de  suporte para  cargas verticais  (necessária para  transmitir  as  cargas  às 

fundações); 

dcapacidade  e regressar à posição original; 

capacidade  de  dissipação  de  energia  (especialmente  útil  no  controlo  dos 

deslocamentos máximos, minimizando os movimentos que daí decorreriam;  é  esta  a 

funç h s sistemasão do núcleo cilíndrico de c umbo nos blocos do  L.R.B.). 

  Foi  estimado  que  no  final  de  2002  existissem  cerca  de  3000  aplicações  destes 

sistemas no mundo (Guerreiro 2008). Em Portugal, contudo, apenas em 2006 foi concluído 

o primeiro edifício com isolamento de base (instalações do Hospital da Luz construídas em 

isboa, freguesia de Benfica), tendo‐se recorrido a 315 dispositivos H.D.R.B. (Figura 12). L

 

 

 

  ‐ 1

da deformação da estrutura, ou dissipada em processos controlados (Guerreiro 2008). 

  Os sistemas de dissipação de energia são dispositivos que permitem cumprir este 

objetivo  de  forma  eficiente  e  fiável,  sem  se  deteriorarem  ou  dar  origem  a  danos 

estruturais,  reduzindo  os  efeitos  do  evento  sísmico  sobre  o  edifício.  Têm,  ainda,  como 

vantagem o  facto de poderem ser  facilmente aplicados na estrutura e de serem bastante 

4 ‐

 

 

 

 

igura 12 – dispositivos H.D.R.B. no Hospital da Luz. F

 

 

3  Dissipação de Energia 

  A  ocorrência  de  um  evento  sísmico  leva  a  que  seja  transferida  à  estrutura  uma 

grande quantidade de energia. Nestas circunstâncias, essa energia ou é absorvida, através 

.2.2.2.

Page 19: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

versáteis,  dando  ao  autor  do  projeto  estrutural  um  conjunto  variado  de  opções  na 

definição das suas características. 

  Dentro  desta  categoria  de  dispositivos  inserem‐se  os  dissipadores  histeréticos, 

cujo funcionamento se baseia na deformação plástica de metais e ligas metálicas, como o 

aço. Nestes materiais, os pares de valores correspondentes à força aplicada em função do 

deslocamento  não  se  repetem  do  mesmo  modo,  quando  variam  num  sentido  ou  no 

inverso, originando um gráfico característico cuja área permite avaliar a energia dissipada. 

  São,  igualmente, de uso bastante comum os sistemas viscosos, assaz semelhantes 

aos  amortecedores  dos  automóveis.  Neste  caso,  o  evento  sísmico  empurrará  um  pistão 

para dentro de um cilindro preenchido com um fluído bastante viscoso, obrigando à sua 

passagem por orifícios pequenos para uma outra câmara, até que as forças de compressão 

se  igualem em ambas. O  efeito de  ressalto  é  impedido por uma válvula de  controlo que 

permite libertar o fluido para uma terceira câmara, onde este fica acumulado. 

  No  caso  dos  edifícios,  de  forma  a  aumentar  a  deformação  dos  sistemas 

apresentados, maximizando por essa via a energia dissipada, estes deverão ser colocados 

segundo diagonais. 

  Também os dispositivos conhecidos por T.M.D. (do inglês tuned mass damper, isto 

é,  amortecedor  de  massa  sintonizada)  podem  ser  usados  para  controlar  vibrações 

ocasionadas por sismos (figura 13). São formados por um oscilador com uma frequência 

própria  calculada  de  forma  a  coincidir  com  a  da  vibração  da  estrutura.  Assim,  a 

deformação estrutural  será menor, devido à  transferência de energia para o dispositivo, 

ue verá então a sua deformação aumentada. q

 

 

 

  ‐ 15 ‐

 

 

 

 

Figura 13 – dispositivo T.M.D. situado no topo do arranha‐céus Taipei 101, em Taiwan (a 

esfera tem 5,5 m de diâmetro e massa de 660 000 kg). 

Page 20: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão   edifícios não caem?» alguns

  ‐ 16 ‐

  Os  dispositivos  T.L.D.  (de  tuned  liquid  damper)  têm  um  funcionamento  muito 

similar aos anteriores; a principal diferença reside no facto do oscilador ser o movimento 

e uma quantidade de líquido contida num depósito. d

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 21: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 17 ‐

4. Conclusão 

 

 

  Os sismos são responsáveis, várias vezes por ano, pela perda de vidas humanas; ao 

mesmo  tempo,  a  extensão  dos  danos  que  infligem  tem  um  impacto  relevante  sobre  o 

esforço económico necessário nos momentos de  reconstrução. Neste contexto,  conforme 

explicado,  as  características  do  parque  edificado  constituem  um  fator  de  extrema 

influência nos seus efeitos sobre as populações. 

  Com  o  propósito  de  garantir  respostas  adequadas  a  este  duplo  objetivo  de 

salvaguarda  de  vidas  e  minoração  de  danos,  têm  vindo  a  ser  adotadas  soluções 

arquitetónicas e estruturais diversas. 

  No  domínio  das  primeiras,  em  virtude  da  dependência  entre  o  projeto  de 

arquitetura e a concretização de muitas das recomendações relativas à proteção sísmica 

de  edifícios,  é  sobretudo  essencial  que  exista  uma  eficiente  articulação  entre  as 

necessidades  estéticas  ou  funcionais  e  a  conceção  estrutural,  traduzida  num  trabalho 

realizado em conjunto e desde o início pelo arquiteto e pelo engenheiro. Só desta forma se 

criará,  de  modo  claro  e  evidente,  uma  perceção  da  importância  relativa  entre  as  duas, 

havendo casos em que a conceção e segurança estrutural  terá prioridade em detrimento 

á n pda arquitetura e outros em que sucederá o contr rio, sempre em be efício das po ulações. 

  No  domínio  das  soluções  estruturais,  foram  abordados  sistemas  de  proteção 

sísmica ativa e passiva, divididos em função da necessidade de  fornecimento de energia. 

Da  aplicação  dos  últimos  decorrem  custos  mais  reduzidos,  o  que,  associado  à  sua 

comprovada  eficácia,  tem  como  consequência  que  o  seu  uso  seja  mais  frequente  e 

acessível. 

  Os dispositivos de isolamento de base, de proteção passiva, permitem eliminar as 

ligações entre a estrutura e o exterior no plano horizontal, mantendo‐as em pleno segundo 

a  direção  vertical  e  criando  uma  superfície  de  descontinuidade  que  a  isola  dos 

movimentos do solo. A sua aplicação obriga a que haja um espaçamento adequado entre 

edifícios e a que todas as habituais ligações com o exterior sejam efetuadas por canais com 

exibilifl dade. 

  Já  os  dispositivos  de  dissipação  de  energia,  que  se  inserem na mesma  categoria, 

permitem  a  realização  da  tarefa  que  lhes  dá  nome  de  forma  eficiente  e  fiável,  sem  se 

deteriorarem ou dar origem a danos estruturais,  reduzindo os efeitos do evento sísmico 

Page 22: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por  ue razão alguns edifícios não caem?» q  

  ‐ 18 ‐

sobre  o  edifício.  Os  dissipadores  histeréticos  e  os  sistemas  viscosos,  de  uso  bastante 

frequente,  deverão  ser  colocados  segundo  diagonais,  de  forma  a  aumentar  a  sua 

eformd ação, maximizando por essa via a energia dissipada. 

  É  uma  aplicação  eficaz  destas  diferentes  soluções  e  dispositivos,  decorrente  de 

uma seleção feita em função das necessidades da estrutura e do contexto sísmico em que 

esta  se  insere,  que  garante  uma  boa  resposta  ao  duplo  objetivo  já  enunciado  de 

salvaguarda  de  vidas  e  minoração  de  danos,  ajudando  a  explicar  por  que  razão  alguns 

edifícios não caem. 

  Portugal, apesar de ter um território moderadamente exposto ao risco de eventos 

sísmicos,  apenas  em 2006  viu  concluído  o  primeiro  edifício  com  isolamento de  base,  se 

bem  que  outros  sistemas  de  proteção  sejam  instalados  em  pontes.  Por  esse  motivo,  é 

necessária  uma  avaliação  concreta  das  características  do  parque  edificado  e  o 

cumprimento rigoroso da legislação estabelecida, de forma a minimizar hoje, para pessoas 

 bens, as consequências de um possível sismo de amanhã. e

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 23: Ação Sísmica sobre Edifícios - Faculdade de Engenharia ...paginas.fe.up.pt/~projfeup/bestof/11_12/files/CIV220_relatorio.pdf · Portugal, no contexto da tectónica de placas,

Ação Sísmica sobre Edifícios «Por que razão alguns edifícios não caem?» 

  ‐ 19 ‐

Referências Bibliográficas 

 

 

Charleson, Andrew. 2008. Seismic Design for Architects – Outwitting the Quake. Oxford: 

Architectural Press. 

Guerreiro, Luís. 2008. “Novas Técnicas de Proteção Sísmica”. In Sismos e Edifícios, ed. 

Mário Lopes, 365‐388. Amadora: Edições Orion. 

Lopes, Mário. 2008.  “Conceção de Estruturas”.  In  Sismos e Edifícios,  ed. Mário Lopes, 

189‐268. Amadora: Edições Orion. 

Santos, Mariana. 2008. Proteção Sísmica de Equipamentos com Isolamento de Base – 

Aplicação  a  Transformadores  de  Energia.  MSc.  Instituto  Superior  Técnico, 

Universidade Técnica de Lisboa. 

A.N.P.C.  (Autoridade Nacional  de  Proteção  Civil).  http://www.prociv.pt/PrevencaoPr 

oteccao/RiscosNaturais/Sismos/Pages/Oquee.aspx (accessed October 15, 2011). 

D.E.  (Departamento  de  Estruturas).  Núcleo  de  Engenharia  Sísmica  e  Dinâmica  de 

Estruturas.  http://www‐ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/tectonica.html. 

(acessed October 15, 2011). 

GeolAmb (Geologia Ambiental). 2000. http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sism 

os/57_Portugal/572_SismicidPort.html (acessed October 15, 2011). 

GeolAmb (Geologia Ambiental). 2000. http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sism 

os/52_Sismologia/5203_OndasSismicas.html (acessed October 15, 2011). 

N.O.A.A.  (National  Oceanic  and  Atmospheric  Administration).  National  Geophysical Data Center. http://www.ngdc.noaa.gov/nndc/struts/results?EQ_0=5399&t=101634& 

s=80&d=80. (accessed October 16, 2011).

N.O.A.A.  (National  Oceanic  and  Atmospheric  Administration).  National  Geophysical 

Data Center. http://www.ngdc.noaa.gov/nndc/struts/results?EQ_0=4896&t=101634& 

s=80&d=80. (accessed October 16, 2011).