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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 465 • ANO XLII JULHO 2012 • MENSAL • € 1, 50 “MARE NOSTRUM” TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICO

“MARE NOSTRUM”€¦ · grados na Coroa, por D. Dinis, em 1298. A Quinta do Alfeite, assim chamada, manteve-se integrada nos bens da Coroa até D. Fernando a incluir no dote de

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 465 • ANO XLII JULHO 2012 • MENSAL • € 1,50

“MARE NOSTRUM”TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICO

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Árvores classificadas de Interesse Público no Jardim do Palácio do Alfeite

A Base Naval de Lisboa (BNL), localizada no Alfeite, compreende uma área de cerca de 440 hectares, que se estende desde a Romei-ra até à Ponta dos Corvos. Trata-se de uma vasta área cuja história

remonta a 1147, altura em que o território de Almada foi doado aos cru-zados ingleses que auxiliaram D. Afonso Henriques na tomada de Lisboa. Em 1186, D. Sancho I doou à Ordem de Santiago de Espada, entre outros, o castelo de Almada, parte de uma série de bens que voltariam a ser inte-grados na Coroa, por D. Dinis, em 1298.

A Quinta do Alfeite, assim chamada, manteve-se integrada nos bens da Coroa até D. Fernando a incluir no dote de D. Leonor Teles. Estes bens, en-tretanto doados a um judeu, David Negro, viriam a ser mais tarde confis-cados por D. João, Mestre de Aviz e entregues a D. Nuno Álvares Pereira. O Condestável doaria a Quinta do Alfeite à Ordem do Carmo, em 1404.

No final do Séc. XVII, os bens do Alfeite foram transferidos para os Tarou-cas e posteriormente integrados, por D. Pedro II, na Casa do Infantado. O património da Casa do Infantado foi enriquecido ao longo de diversos rei-nados e em 1833, com D. Miguel, o Real Sítio do Alfeite compreendia já sete quintas: Alfeite, Antelmo, Bomba, Outeiro, Piedade, Quintinha e Romeira.

A Casa do Infantado foi extinta por D. Pedro IV em 1834, tendo os res-petivos bens revertido para a Fazenda Real. Ficaram de fora, para usufruto régio, alguns dos palácios, entre eles o Palácio do Alfeite.

O Palácio do Alfeite foi desde meados do Sec. XVII até à República, re-sidência de lazer da família real (“ O Rei está nas suas sete quintas…”, dizia--se). A sua versão atual resultou de uma remodelação levada a cabo por D. Pedro V no antigo Paço Real do Alfeite e inclui um jardim que alberga uma grande diversidade de vegetação de significativa importância a ní-vel nacional, quer em termos de idade, quer em termos de singularidade.

Recentemente, deslocou-se à BNL uma equipa da Autoridade Florestal Nacional, do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e do Ordenamen-to do Território com o intuito de identificar e reconhecer espécies de flora relevantes no que concerne à sua raridade. Tendo existido, já há cerca de dez anos, uma visita com idêntico propósito, em que foram identificadas outras espécies relevantes, só presentemente, e na sequência deste estudo, foram identificadas duas árvores com características adequadas à atribui-ção da classificação de Árvores classificadas de Interesse Público. Esta classi-ficação destina-se, segundo o aviso nº4/2012 da entidade anteriormente referida, a ser concedido a espécies que “ … por serem árvores centenárias, consideradas como dos maiores exemplares das respectivas espécies existentes em Portugal e por estarem implantados num jardim histórico, propriedade da Coroa e actualmente do Estado Português, merecem a distinção de interesse público…”

As espécies distinguidas são:– Jubaea chilensis (Mol.) Bailli, vulgarmente conhecida por coquito-do-Chile;– Ficus macrophylla Desf. Ex Pers., vulgarmente conhecida por árvore-

-da-borracha-australiana.A primeira é referenciada pela Autoridade Florestal Nacional como “… bonito

exemplar de grande porte, centenário, que enobrece e valoriza o Palácio e o jardim do Alfeite. A palmeira está implantada num canteiro circular rodeado de buxo talhado de grande efeito cenográfico. Apresenta bom aspecto vegetativo, com copa verde, redon-da, equilibrada e com abundante frutificação. O nome Jubaea é a designação atribuída pelo botânico alemão Karl Sigismund Kunth em honra de Juba II, rei da Numídia...”.

Quanto à segunda, é identificada como “… espécie originária da costa leste da Austrália. Em Portugal é usada como ornamental e de sombra. As folhas ficam aderentes durante todo o ano e sempre verdes. Os frutos asseme-lham-se aos figos da nossa figueira portuguesa embora sejam mais peque-nos e não sejam comestíveis. Esta espécie desenvolve uma seiva esbranquiçada designada por lactex, cuja matéria-prima era usada para o fabrico de borracha. Uma das características mais marcantes são as suas raízes aéreas, que ao atingirem o solo lenhificam criando novos troncos que suportam a expansão da copa, servindo igualmente para a planta captar a humidade do ar…”.

A atribuição desta classificação vem dignificar todo o esforço desenvol-vido na conservação da flora existente no perímetro da BNL e na preocu-pação ambiental constante de todos os que lá prestam serviço.

Colaboração da BASE NAVAL DE LISBOA

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 465 • Ano XLII

Julho 2012

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedaçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Paginação eletrónica e produçãoPágina Ímpar, Lda

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: ALM - OFTALMOLASER; LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, Lda.; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

ÁRVORES CLASSIFICADAS DE INTERESSE PÚBLICO NO JARDIM DO PALÁCIO DO ALFEITE 2A “ARTE DA GUERRA DO MAR” 4NRP CORTE-REAL NA OPERAÇÃO ATALANTA 7NRP TRIDENTE – DOCAGEM DE GARANTIA 8A GESTÃO ESTRATÉGICA DA MARINHA 14É O SEU NAVIO! 17ECOS DO DIA DA MARINHA 18PRÉMIOS REVISTA DA ARMADA / ACADEMIA DE MARINHA 21ESCOLA NAVAL 22A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (32) 24TIMOR 1973 / 75 RECORDAÇÕES DE UM MARINHEIRO 25HIERARQUIA DA MARINHA 18 / VIGIA DA HISTÓRIA 45 28MAQUETA DO AQUÁRIO VASCO DA GAMA / “ENSEMBLE DE PERCUSSÃO” DA BANDA DA ARMADA 29SACADURA CABRAL – O HOMEM, O NAVIO 31QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 3

Foto 1SAR FZ Pereira.

16Creoula 75 anos.

A Marinha na Cooperação Técnico-Militar.

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Comemorações do 10 de Junho.

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10TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICO

Em reforço da defesa militar e apoio à política externa.

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 465 • ANO XLII JULHO 2012 • MENSAL • € 1,50

“MARE NOSTRUM”TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICO

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4 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A “Arte da Guerra do Mar”O tratado da Arte da Guerra do Mar, pu-

blicado no ano de 1555, revela-nos com clareza o pioneirismo do padre

Fernando Oliveira no tratamento dos assuntos navais, segundo uma abordagem focalizada no plano da estratégia. Apesar de escrito há mais de quatro séculos, este tratado continua a revelar-se extremamente proveitoso e incon-tornável para o estudo da estratégia naval por-tuguesa quinhentista, nas suas três vertentes: genética, estrutural e operacional. Porém, é pouco conhecido em Portugal e pratica-mente ignorado no estrangeiro.

Este artigo aborda a estrutura da Arte da Guerra do Mar, sintetizando o essencial do prólogo e das duas partes, cada uma delas composta por quinze capítulos. Também realça a fundamentação apresentada pelo padre Fernando Oliveira para, sendo sacer-dote, tratar o tema da guerra do mar.

No prólogo, depois de justificar o que o leva a escrever tal tratado, o padre Fernando Oliveira defende a importância da guerra do mar, pelo muito lucro, prestígio e poder que os portugueses obtiveram rapidamente através do seu uso: «É matéria esta proveito-sa e necessária, em especial para os homens desta terra que agora mais tratam pelo mar que outros, donde adquirem muito provei-to e honra, e também correm ventura de perderem tudo isso, se o não conservarem com esta guerra, com que seus contrários lho podem tirar. Dando-se a esta guerra têm ganho os nossos portugueses muitas riquezas e prosperidade, e senhorio de ter-ras e reinos, e têm ganho honra em poucos tempos quanta não ganhou outra nação em muitos» (pp. 5 e 6).

Logo de seguida, o padre Fernando Oli-veira atribui ao seu tratado a primazia de abordar a guerra do mar, dizendo: «Da qual nenhum autor, que eu saiba, escreveu antes de agora arte nem documentos, ou se al-guém dela escreveu confesso que não veio a minha noticia sua escritura, somente de Vegécio coisa pouca.». Assim, comprova que conhecia a obra intitulada Epitoma rei milita-res, sive institutiorum rei militaris libre quinque, da autoria do escritor romano Flávio Renato Vegécio, cuja fama era grande no século XVI.

A primeira parte da Arte da Guerra do Mar trata «de como é necessário fazer guerra e apercebimento dela», ou seja, da necessida-de da guerra do mar e do seu estudo. Esta par-te contém um conjunto de matérias que, ac-tualmente, são do âmbito da ciência política, da estratégia, da organização e da logística de produção, e pode ser dividida em três gran-des núcleos temáticos. Do primeiro ao quin-to capítulo são apresentados os fundamentos morais que justificam a guerra. Estes capítulos intitulam-se: Que é necessário fazer guerra; De quem pode fazer a guerra; Que é neces-sário guerra no mar; Qual é guerra justa; e Da tenção e modo de guerra. Do sexto ao déci-

mo primeiro capítulo, a logística de produção constitui a tónica dominante dos temas. Estes capítulos intitulam-se: Do ofício de almirante; Das taracenas e seus provimentos; Da madeira para as naus; De quando se cortará a madeira; Dos armazéns e seus provimentos; Das victua-lhas. Do décimo segundo ao décimo quinto capítulo, o tratado aborda temas relativos ao pessoal, de modo bastante diversificado. Estes capítulos intitulam-se: Dos homens do mar;

Dos capitães do mar e seu poder; De como devem ser escolhidos, e assentados os solda-dos; Do exercício dos soldados.

A segunda parte da Arte da Guerra do Mar trata «de como se porá em execução essa guerra, da esquipação das frotas armadas, de quando navegarão, e se combaterão com avi-sos certos e vivos ardis». Esta parte contém um conjunto de matérias que, actualmente, são do âmbito da logística operacional, da ciência náutica e da táctica, e também possui três nú-cleos temáticos, a que acrescem, na parte final, dois capítulos singulares. Do primeiro ao ter-ceiro capítulo, faz uma apresentação das em-barcações, dos efectivos e dos mantimentos a bordo. Estes capítulos intitulam-se: Dos navios para as armadas; Do número de gente para os navios; Da esquipação dos mantimentos, mu-nições e enxerceas. Do quarto ao oitavo capí-tulo, debruça-se sobre as condições de navega-

ção. Estes capítulos intitulam-se: Do tempo de navegar as armadas, e a mudança dos tempos; Dos sinais das tempestades e variações dos temporais; Dos ventos e suas regiões, e nomes; De alguns avisos necessários para navegar; Das marés, correntes e aguagens do mar. O texto adopta uma característica militar-naval do ca-pítulo nono ao décimo terceiro, nos quais são apresentados os requisitos para a navegação em formatura de combate, para as tácticas e

para a área de operações. Também é anali-sado um caso de estudo relativo a uma ba-talha. Estes capítulos intitulam-se: De como as armadas farão vela; Da batalha no mar / e alguns ardis necessários nelas; Do lu-gar para pelejar; De como se perderam os navios que foram com El rei de Belez; Das ordenanças da guerra do mar. No capítulo catorze, intitulado D’algumas regras gerais da guerra, o autor identifica padrões e as-pectos que regulam os combates. O capí-tulo quinze encerra o tratado e intitula-se: Da conclusão da obra.

O padre Fernando Oliveira justifica o seu interesse e defende o seu trabalho re-lativo à guerra do mar, dizendo: «E por ser eu sacerdote não pareça a matéria incompetente à minha pessoa, porque aos sacerdotes convêm ir à guerra quanto mais falar dela. (pp. 6 e 7). Depois de várias refle-xões sobre as tarefas do sacerdote na guerra, que considera serem o apoio moral, religio-so e disciplinar às tropas, o padre Fernando Oliveira refere-se à guerra da seguinte for-ma: «... a guerra dos cristãos que temem a Deus não é má, antes é virtuosa, cá se faz com desejo de paz sem cobiça nem cruel-dade, por castigo dos maus e desopressão dos bons.». Desta forma, o padre Fernan-do Oliveira, evocando de forma crítica o conceito canónico medieval de “guerra justa”, clarifica que a guerra se destina à prática do bem, que é alcançar uma paz mais justa entre as partes em contenda. De seguida, acrescenta: «Pois escreverem de

tal matéria, e ensinar meios por onde os bons saibam resistir aos maus, não mo estranharam os que entendem quanto isto releva nesta vida, e como não é disforme da dos céus, onde os bem-aventurados têm, diz o salmista, espadas para castigar as nações das gentes pecadoras, em cujo sangue lavaram suas mãos.». Neste parágrafo o padre Fernando Oliveira realça que os textos e o ensino das matérias milita-res não devem causar estranheza aos que en-tendem a sua relevância nas relações entre as nações, porque a ordem terrena, baseada no recurso à guerra, condiz com a ordem divina, onde os santos também usam a força para pu-nir os pecadores.

António Silva RibeiroCALM

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

A “Arte da Guerra do Mar”

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 5

O Presidente da República presidiu a 10 de Junho, em Lisboa, à Ceri-mónia Militar comemorativa do

Dia de Portugal, de Camões e das Comu-nidades Portuguesas, na qual participaram representações dos três Ramos das Forças Armadas, com cerca de 1470 militares. Na parada militar, formaram cerca de 820 militares, constituindo o 1º. Bloco, o Grupo de Comando, Bloco de Estandartes e guarda de honra, 7 Batalhões e Banda do Exército (total de efetivos 820), e o 2º. Bloco constituído por duas forças, uma da Mari-nha e outra do Exército (total de efetivos 350) comandados pelo MGEN José Carlos Filipe Antu-nes Calçada, atual Comandante da Brigada de Intervenção.

Em atividades complementa-res e no apoio geral à cerimónia estiveram mais 300 militares.

A chegada do Presidente da Républica foi assinalada por uma salva de 21 tiros de bordo no NRP Sagres.

Na cerimónia, o Presidente Aníbal C avaco Silva proferiu o seguinte discurso:

Evocamos hoje, em Portugal e na Diáspo-ra, os laços intemporais que ligam toda a co-munidade portuguesa, unida numa língua e numa identidade que encontram a sua maior expressão em Luís Vaz de Camões, cuja voz se funde com a História deste “… Reino Lu-sitano, onde a terra se acaba e o mar começa...”.

Este ano, as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas regres-sam à cidade de Lisboa, que se abre ao Tejo de onde partiram os nos-sos antepassados para dar início à maior das epopeias, moldando para sempre a alma e o sentir de uma Nação.

Cada monumento à nossa vol-ta reproduz um pedaço da nossa História, feito de vidas e de proe-zas de homens simples, cuja cora-gem e crença se sobrepuseram aos receios do desconhecido e do risco. Todos eles têm, como traço comum, o amor pátrio e a vitória sobre cir-cunstâncias adversas, numa ad-mirável demonstração da capaci-dade de abraçar e realizar grandes empresas.

Perante os duros desafios que se perfilam, festejar este dia, onde quer que estejamos, é também lembrar que a grandeza dos povos está na capacidade e na determina-ção em vencer as contrariedades, mantendo-se fiéis aos seus valores identitários.

Militares,O contributo do esforço militar está profun-

damente ligado à construção da nacionalidade e à preservação da nossa soberania, indepen-dência e liberdade.

Neste dia, prestamos justa e sentida homena-gem àqueles que tudo deram e que sacrificaram

o melhor das suas vidas e da sua juventude por este Portugal que amamos, em particular aos que perderam a vida ou viram afetada a sua in-tegridade física ao serviço das Forças Armadas e que o Estado não pode esquecer.

Aos ex-combatentes, a estes homens de cará-ter, que trilharam um caminho árduo, feito de provações e dificuldades, e às famílias que, fora das fileiras, sofreram as ausências e perdas dos seus entes queridos, quero expressar, em nome dos Portugueses, um sentimento de gratidão,

mas, sobretudo, o respeito, o apoio e a solida-riedade que lhes são devidos.

Portugueses,Numa conjuntura em que as ameaças que

impendem sobre os Estados se tornaram mais difusas, mesmo as Instituições secularmente presentes na nossa história, como a institui-

ção militar, devem encontrar uma renovada proximidade e um claro sentido de utilidade junto das po-pulações, evitando um indesejável afastamento e a eventual incompre-ensão do verdadeiro significado da sua existência.

Todas as sociedades têm como grandes objetivos garantir a sua segurança e assegurar o seu de-senvolvimento. Acontece que, sem segurança, não é possível atingir a estabilidade necessária ao desen-volvimento, do mesmo modo que o desenvolvimento não é garantia de segurança.

E é com referência àqueles objetivos que sur-ge a Defesa Nacional, conceito transversal à ação do Estado e que tem nas Forças Armadas um elemento central e incontornável.

As Forças Armadas são uma instituição es-truturante do Estado de Direito democrático, pilar de afirmação da identidade nacional e ins-trumento por excelência para a manifestação da vontade da Nação em assumir e fazer respeitar a sua soberania e independência e assegurar o seu futuro.

Militares,A soberania nacional afirma-se,

hoje, no quadro de uma pluralidade de dependências, sendo que a defesa dos nossos interesses se processa, em primeira instância, nas diversas organizações internacionais de na-tureza política, económica, cultu-ral e militar de que fazemos parte. Neste mundo globalizado dos nos-sos dias, a segurança está mais in-ternacionalizada e caracteriza-se por uma maior cooperação entre os Estados.

Ao participar em missões no âmbito das organizações interna-cionais em que nos integramos, as nossas Forças Armadas estão na primeira linha de defesa dos inte-resses nacionais, no apoio à políti-ca externa do Estado, honrando os compromissos assumidos pelo País. Servindo em Teatros de Operações de grande exigência e risco, os nos-sos militares têm valorizado a con-tribuição de Portugal para a paz, para o desenvolvimento e para a segurança de outros povos e países.

No Líbano, e após 6 anos em operação, as nossas forças irão ter-minar a sua missão, no decurso da

COMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHOCOMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHO

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6 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

qual desenvolveram um trabalho notável no apoio à Força das Nações Unidas e no auxílio às populações, tendo incorporado, na última fase, um destacamento de militares dos nossos irmãos de Timor-Leste.

Continuamos no Kosovo, no Afeganistão e no Oceano Índico, onde contribuímos com uma Força Naval na repressão e prevenção de atos de pirataria na região.

No próximo mês de agosto, iniciaremos, no âmbito da NATO, a missão de policiamento do espaço aéreo da Islândia.

No domínio da Cooperação Técnico-Militar, com 43 projetos a decorrer em seis países, as Forças Armadas portuguesas reforçam a liga-ção solidária aos Países de Língua Oficial Por-tuguesa, assumindo-se também como elemento relevante para a afirmação da nossa língua e da nossa cultura, como pude testemunhar na mi-nha recente visita a Timor-Leste.

Permitam-me que dirija, neste momento, uma saudação particular ao povo irmão de Cabo Verde e às suas Forças Armadas, na pes-soa do seu Presidente, a quem agradeço a sua presença entre nós, neste dia e nesta cerimó-nia militar.

Merece destaque, igualmen-te, o importante contributo dos nossos militares para o desen-volvimento e a unidade do todo nacional, através das Missões de Interesse Público e no apoio às populações em situações de calamidade, na preservação do ambiente e no planeamento e recolha de cidadãos nacionais em zonas de conflito.

É desta forma, diversa mas sempre muito exigente, que as Forças Armadas cumprem hoje a sua inalienável razão de ser: defender e servir Portugal.

Militares,Vivemos um tempo de grande dificuldade

e sacrifício para toda a sociedade portuguesa. As Forças Armadas têm vindo a assumir a sua quota parte de esforço, rentabilizando e gerindo com parcimónia e rigor os recursos que lhes são disponibilizados.

Os homens e mulheres que servem nas For-ças Armadas continuam a ser o seu recurso

mais valioso. Ao longo dos últimos vinte anos, cerca de 40 mil militares portugueses cum-priram de forma notável missões em dezoi-to T eatros de Operações, revelando exemplar conduta humana e valor militar, sem falhas nas ações e nos procedimentos. Um facto, ali-ás, sempre reconhecido pelas populações e pe-las diferentes partes em conflito, que muito tem contribuído para o reforço da imagem do País.

Um tal desempenho só é possível porque se alicerça numa sólida formação ética e moral dos militares e assenta numa estrutura coesa, disciplinada e bem preparada, que deriva da partilha dos mais profundos valores castren-ses, congregados na condição militar. Trata-se de uma condição que diferencia os militares dos demais servidores do Estado, pela acres-cida responsabilização que decorre da particu-lar natureza dos seus deveres e da permanente disponibilidade e orgulho em servir Portugal, mesmo nas situações de risco da própria vida.

A preservação da condição militar deve cons-tituir uma obrigação claramente assumida pelo

Estado perante a Nação e que deve ser cultivada com honra e sobriedade pelos militares.

Militares,Quaisquer reformas nas Forças Armadas

devem basear-se num processo de responsa-bilidade e decisão política, envolvendo neces-sariamente as chefias militares, e ser objeto de um consenso alargado entre os diversos órgãos de soberania.

É por isso que as decisões a tomar devem ser encaradas num horizonte temporal mais alar-

gado, de modo a evitar, a prazo, o enfraqueci-mento do desempenho e da capacidade opera-cional das Forças Armadas.

É que, como afirmei há um ano, “a diminui-ção da capacidade de produzir segurança pode acarretar riscos não desprezáveis para o desen-volvimento e para o bem-estar social”.

Militares,As Forças Armadas estão profundamente li-

gadas à construção de Portugal e ao sentir do seu povo, assumindo uma importância única na preservação dos valores da Soberania e In-dependência, que dão sentido à vida e à conti-nuidade das Nações.

Gostaria, por isso, de reafirmar a minha to-tal confiança nos homens e mulheres que, com profunda devoção e profissionalismo servem Portugal nas Forças Armadas, e cujo desem-penho está hoje, reconhecidamente, ao nível das melhores unidades militares dos países aliados e parceiros com as quais operam em missões no exterior do território nacional, na constan-te salvaguarda dos ideais da Paz, da Liberdade

e da Democracia.Exorto-vos a vencer as difi-

culdades com a determinação, o espírito de sacrifício e a von-tade forte que vos caracteri-zam, numa atitude que sirva de exemplo e motivo de orgulho a todos os Portugueses.

Acompanho-vos no desígnio de edificar um futuro promis-sor, em respeito pela memória daqueles que nos antecederam e no dever que nos assiste de prosseguir Portugal.

Após a cerimónia militar o PR presidiu à cerimónia civil e procedeu à impo-sição de condecorações a

um conjunto de personalidades e insti-tuições (36) na Sessão Solene Comemo-rativa do Dia de Portugal, de Camões e das C omunidades Portuguesas, que se r ealizou no Centro Cultural de Belém. Na altura foi condecorado, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis, o VALM Vilas Boas Tavares.

Fotos: Luís Filipe Catarino / Fotógrafo Oficial do Presidente da República

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 7

Após a reparação do helicóptero “Fénix” e reposta toda a sua capacidade opera-cional, a fragata Corte-Real lançou-se

em mais uma patrulha da bacia da Somália, rumo a Sul, ao arquipélago das Seicheles.

No dia 4 de maio, a fim de garantir a sua sustentabilidade no mar até à próxima esca-la logística, o navio português reabasteceu de combustível recorrendo ao navio norte-ame-ricano USNS Joshua Humphreys.

Nos dias seguintes, não descurando o patru-lhamento das águas do oceano Índico, foram efetuadas a bordo diversas ações de treino in-terno. Realizou-se tiro com armamento ligei-ro com a peça de 100 mm e com o sistema de defesa próxima de 20 mm Vulcan-Phalanx. Adicionalmente, foram ainda conduzidas ope-rações de voo noturnas com o “Fénix”.

No dia 9 de maio, a Corte-Real atracou em Port Victória, na ilha de Mahé, ar-quipélago das Seicheles. O grande valor das ilhas Seicheles reside no seu património natural, tornando--as um autêntico paraíso na terra. A beleza tropical da vegetação lu-xuriante, as praias de areia branca e o mar azul cristalino são autênti-cos monumentos naturais dos quais os militares portugueses tiveram a oportunidade de contemplar e usufruir. Este porto, pela sua bele-za e pela simpatia e gentileza dos seus habitantes, terá sempre um espaço reservado na memória da guarnição. Durante a estadia, rea-lizaram-se ações de Local Maritime Capability Building, para instrução e partilha de conhe-cimentos técnico-profissionais com a Guarda Costeira das Seicheles, incluindo demonstra-ções de manobra de embarcações miú das e das técnicas utilizadas na abordagem a navios de maior dimensão.

No âmbito dos compromissos internacionais assumidos por Portugal no domínio da Defe-sa, embarcaram, nas Seicheles, cinco oficiais da Marinha de Moçambique, com o objetivo de lhes dar a conhecer as rotinas de bordo e de os integrar nas atividades do nosso navio.

Após uma semana de repouso, já de ener-gias retemperadas e motivação reafirmada, o navio português e a sua guarnição estavam prontos a iniciar a sua última patrulha na área de operações. Assim, na manhã de 14 de maio, a Corte-Real largou de Victória, rumando para norte, em direção ao Golfo de Áden. Percor-reu-se a costa leste do continente africano, tendo sido assegurada a vigilância das suas águas através do emprego do “Fénix” e dos sensores do navio.

Nos dias 17 e 18 de maio, o “Fénix” foi em-pregue em operações de recolha de informação, tendo sobrevoado alguns campos e ancoradou-ros piratas situados na costa leste da Somália, monitorizado a sua atividade e reunido dados

valiosíssimos para suportar o combate à pirata-ria no oceano Índico.

No dia que assinala a chegada da Arma-da de Vasco da Gama à India, 20 de Maio de 1498, Dia da Marinha, a fragata portuguesa, aproveitando a proximidade do reabastecedor norte-americano USNS Laramie, atestou os seus tanques de combustível.

O dia seguinte, 21 de maio, foi o último da Corte-Real enquanto navio integrado na EUNA-VFOR e na operação Atalanta. Após desintegrar da força, rumou a Djibuti, para desembarcar o linguista da Marinha do Djibuti e algum material específico da operação Atalanta. Aproveitou-se também para dar algum descanso à guarnição e preparar o navio para o trânsito até La Vallet-ta, último porto antes do regresso a Portugal.

Na manhã seguinte, largou-se pela última vez de Djibuti com um novo objetivo de comando

– “Efetuar trânsito para a Base Naval de Lisboa”. Nos dias que se seguiram, atravessou-se todo o Mar Vermelho até à baía do Suez. Na madru-gada de dia 28 de maio, deu-se início a mais uma passagem do Canal do Suez. Inserida no início de um longo comboio de navios, a fraga-ta percorreu os 163km que constituem o canal, tendo atravessado o Egito, para chegar ao Mar Mediterrâneo ainda nessa tarde.

No dia seguinte, a Corte-Real abasteceu com o navio alemão FGS Berlin, também a navegar em direção a La Valletta.

Durante o trânsito para Malta, aproveitou-se para realizar exercícios de tática naval, para trei-nar a reação do navio a situações de emergên-cia (incêndios, alagamentos, homem ao mar e avaria no leme) e para efetuar operações de vôo com o “Fénix”.

Após dez dias de mar, na tarde do dia 1 de junho, a Corte-Real atracou no porto de La Val-letta, na ilha de Malta, com o objetivo de dar algum descanso à guarnição e preparar o navio para a última tirada da missão. O nome da ci-dade deriva do seu construtor, Jean de La Val-lette, antigo Grão-Mestre da Ordem de Malta, que defendeu a cidade dos Otomanos. As ruas desta cidade estão dotadas duma riqueza ar-quitetónica impressionante, sendo a presença de monumentos e edifícios renascentistas uma

constante. Também aqui os portugueses tiveram a sua influência, contribuindo diretamente para a construção da cidade. Com o navio pronto, largou-se no dia 4 de Junho para a tirada final desta missão, rumo à Base Naval de Lisboa.

No dia 6 de junho, realizou-se a bordo uma cerimónia para a imposição da medalha da Operação Atalanta a todos os militares da guar-nição. Esta medalha é atribuída aos militares pelo serviço prestado e atividades realizadas no âmbito da política de Segurança e Defesa Co-mum da União Europeia. Nesse dia, um senti-mento de alegria, orgulho e de missão cumprida imperou por entre todo o navio.

Na véspera do regresso a casa, dia 8 de junho, durante a madrugada, atravessou-se o estreito de Gibraltar, que liga o Mar Mediterrâneo às águas do familiar Oceano Atlântico. Nessa tarde, já a sul do Algarve, aproveitou-se a passagem do na-

vio espanhol ESPS Juan Carlos I por águas nacionais, para efetuar alguns exercícios de oportunidade, nomea-damente treino de guerra de superfí-cie, de guerra aérea, de manobras de reabastecimento e de comunicações.

A Corte-Real chegou a Lisboa na manhã de 9 de junho, onde rece-beu as visitas dos Ministro da Defesa Nacional, Embaixador de Moçambi-que em Portugal, do General Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada, o Comodoro da Marinha de Moçambique e o Vice--almirante Comandante Naval, en-

tidades que manifestaram o apreço e reconhe-cimento pelo desempenho do navio. Prestes a entrar na BNL foi apresentado o balanço de 90 dias de missão, 1800 horas de navegação, 80 horas de voo do “Fénix”, cerca de 19000 mi-lhas percorridas, com 7 visitas a portos em 5 países, navegando pelo Atlântico, no Mediter-râneo e pelo Índico. O navio atracou no cais de honra da Base Naval de Lisboa sob os sorrisos e os acenos dos familiares e amigos dos militares da guarnição. Ao dar volta à faina, chegaram os tão aguardados abraços e beijos de boas-vindas, complementados por um delicioso sentimento de missão cumprida.

A fragata Corte-Real garantiu o cumprimen-to dos compromissos assumidos internacional-mente por Portugal perante a União Europeia, participando ativamente no seio da Força Na-val Europeia, na Operação Atalanta. A Mari-nha Portuguesa, representada pelos homens e mulheres que serviram a bordo da Corte-Real, assumiu uma vez mais, um papel de relevo na cena internacional, contribuindo para o comba-te à pirataria e para a salvaguarda da segurança marítima. Assim, os marinheiros portugueses fizeram, uma vez mais, cumprir no mar o seu lema: “Talant de bien faire”.

Colaboração do COMANDO DO NRP CORTE-REAL

NRP CORTE-REAL NA OPERAÇÃO ATALANTANRP CORTE-REAL NA OPERAÇÃO ATALANTA

CONCLUSÃO

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eira

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8 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Foi em 10 de agosto de 2011 que, após um ano de intensa actividade operacional, a guarnição do NRP Tridente se reuniu

mais uma vez no cais nº 6 da BNL para rece-ber as últimas instruções relativas à preparação da navegação para Kiel para posteriormente ir para o mar.

Efetuados os Postos de Combate de Verifi-cação, largámos da BNL às 10h00, iniciando assim a viagem que poria fim a mais uma fase relevante na vida dos Submarinos da Classe Tri-dente, a Docagem de Garantia. Importa referir ao leitor que, desde 2007, a guarnição esteve envolvida num longo processo de formação, desde a instrução dedicada a sistemas/equipa-mentos, treino a cais e, finalmente, o treino de mar, culminando este período com a entrega do NRP Tridente em 17 de julho de 2010. Desde então, a Marinha fez um esforço no sentido de proporcionar ao navio o máximo tempo de mar, permitindo à guarni-ção observar a estabilidade dos sis-temas, componente cada vez mais importante quanto mais complexo é o sistema.

A navegação de 11 dias até Kiel foi calma, com o treino próprio ine-rente a uma unidade naval. À altu-ra, estava em estudo a validação de uma carreira acústica portátil, podendo vir a ser utilizada em ter-ritório nacional, diminuindo desta forma os custos associados a des-locar um navio e sua guarnição ao estrangeiro, para a execução dos testes acústicos. Assim, o NRP Tri-dente foi incumbido de testar esta carreira, tendo ido para o largo da ilha dina-marquesa de Bornholm, área mais adequada à realização das provas acústicas com este equi-pamento de medida que exige pouco ruído, pouca navegação de superfície na área e fundos com pouco gradiente.

As provas acústicas correram dentro da nor-malidade, tendo o NRP Tridente atracado em Kiel a 26 de agosto, para verdadeiramente dar início à tão esperada Docagem de Garantia.

De forma muito resumida, o objetivo inicial desta docagem, com duração prevista de três meses, consistia em executar três ações: a ins-peção a seco do estado geral do navio após um ano de operação (peça fundamental do contrato, e com duração prevista de 10 dias); a integração do sistema de comunicações sa-télite SHF SATCOM (duração de 3 meses); a modificação dos circuitos e órgãos externos ao circuito de óleo hidráulico (duração de 1,5 meses). À data da docagem do NRP Tridente, encontrava-se como Chefe da PNID1 o CMG EMQ Almeida Machado que, com a sua expe-riência de longos anos na antiga IRS, conseguiu demonstrar ao estaleiro HDW a importância de, nos 3 meses previstos para a instalação das comunicações satélite, aproveitar e fazer um conjunto de trabalhos necessários e que cer-

tamente aprontariam o navio para mais uns anos de mar.

A pensar no futuro, a Direção de Navios – Divisão de Submarinos, na pessoa do CMG EMQ Costa Campos, no âmbito da manutenção planeada, submeteu uma lista de trabalhos ao estaleiro para execução durante o período em que decorreria a Docagem de Garantia, com o objetivo claro de evitar docar o navio em 2012.

No atual quadro orçamental, procedeu-se ainda à otimização da dimensão da guarnição para o acompanhamento da docagem, permi-tindo uma mais eficiente gestão de recursos hu-manos e financeiros. Com uma lotação com-pleta de 33 militares, o NRP Tridente dispensou 11 militares que voaram para Lisboa cinco dias após a atracação em Kiel. Estes dias foram os ne-cessários para retirar todo o material de bordo, assegurando assim as pré-condições para docar.

A docagem é sempre uma manobra diferente, não só pela muito reduzida margem para erro, mas pelo sentimento marinheiro inerente a re-tirar um navio do seu ambiente natural, a água. A verdade é que após sete meses de estaleiro, dezanove fainas, três docagens e três alagens, esta manobra acabou por ser só isso mesmo, mais uma manobra.

As desmontagens foram iniciadas no primei-ro dia. Inicialmente, no exterior, depois no in-terior, e passada uma semana o NRP Tridente estava irreconhecível. Fazia-nos recordar o NRP Tridente, no seu tempo de construção, aquando em estaleiro. Apesar de triste, esta fase de des-montagens foi de extrema importância, tendo permitido identificar avarias e colmatar falhas que, com a utilização dos sistemas, mais cedo ou mais tarde acabariam por surgir. Certamen-te existiram constrangimentos em tempo, mas a atempada deteção de falhas salvaguardou o acionamento das condições de garantia e, ine-rentemente, os interesses do Estado português. Para além disso, permitiu, ainda, uma muito profícua parceria com o estaleiro e demais fa-bricantes no desenvolvimento de soluções téc-nicas inovadoras, sendo reconhecido, também aqui, a valia do contributo da Marinha.

Permitam-me os leitores, desde já, referir que

o NRP Tridente, tinha de início, à semelhança de qualquer outro navio, melhorias a fazer que nunca colocaram em causa a segurança para navegar ou operar.

Às sucessivas desmontagens e montagens as-sociavam-se sempre, duas vezes por semana, as reuniões de coordenação onde estavam os re-presentantes de cada uma das entidades envol-vidas no projeto: o estaleiro, a PNID, a DN-DS2 e o navio. Foi durante a fase das desmontagens que começaram a surgir as primeiras ocorrên-cias que nos indicavam, afinal, que teríamos o nosso regresso atrasado em uma ou duas se-manas, mas que ainda nos permitiria chegar à BNL antes do Natal. A fase das desmontagens foi sui generis, não só porque do nada surgiam ocorrências inesperadas, mas também pela par-ticularidade destas novas ocorrências também o serem “novas” para o estaleiro e subcontra-

tantes, não existindo assim respos-tas prontas e soluções estudadas. Surgiam assim os primeiros grandes impactos no planeamento. Agora que o modelo deixava de funcionar, devido à imponderabilidade, havia que repensar os processos. Analisar consequências, estudar desfechos, tomar decisões e implementar so-luções, foram grandes consumido-res de tempo. Tempo que ninguém tinha, mas que todos insistiam em dar, com o objectivo máximo de largar de Kiel, deixando o NRP Tri-dente nas condições previstas. Até na Alemanha, com os fabricantes de componentes/órgãos mais aces-síveis, a logística não deixou de dar

um ar da sua graça. Devido à especificidade e complexidade do material necessário, o tem-po de entrega era moroso, condicionando so-bremaneira a data de aprontamento do navio.

Com a ideia de que o planeamento estava a mudar, deu-se início à sensibilização da guarni-ção, comandos operacionais e administrativos para as eventuais consequências nas datas de disponibilidade do navio. Para quem estava em Kiel há já 2 meses, esta antecipação do proble-ma parecia-nos óbvia e se na área do material os imponderáveis fossem aceites, na área do pessoal poderia ser feito ainda alguma coisa. Estabeleceram-se contactos com o estaleiro e a Marinha, no sentido de garantir que os mili-tares pudessem vir a Portugal pelo Natal e Ano Novo, até porque esta estadia em Portugal ali-viaria os custos referentes ao pessoal, imputa-dos ao projeto.

Kiel, outubro de 2011. Da mesma manei-ra que se vislumbra o cair massivo das folhas das copas das árvores, recolhem-se ensina-mentos importantes sobre o novo modelo da manutenção preventiva e corretiva aplicada à classe de submarinos “Tridente”. Reveem-se as regras para fornecimento de sobressalentes, observa-se o esforço e as dificuldades senti-das por um estaleiro de nome mundial, como

NRP Tridente – Docagem de GarantiaNRP Tridente – Docagem de Garantia

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 9

a HDW, em dar bom termo a este projeto, e tenta-se extrapolar a capacidade do AA-SA, ou qualquer outro estaleiro em Portugal para fazer o que ali estava a ser feito. Em meados de Outubro, a HDW recebe o Diretor de Na-vios, CALM Garcia Belo, acompanhado pelo CMG EMQ Costa Campos, para tratar de as-suntos relacionados com a Lista de Fabricos a realizar durante a Docagem de Garantia e ver in loco a intervenção levada a cabo no NRP Tridente. A visita teve a duração de dois dias, e da agenda constou um ponto de situação dos fabricos, uma visita às instalações do estalei-ro, uma apresentação sobre as capacidades e potencialidades do estaleiro e uma visita de-talhada a bordo onde foi exposta a complexi-dade das intervenções em curso.

Pouco a pouco as correções às anomalias detetadas vão sendo resolvidas, umas atrás de outras, umas de forma mais demorada, outras de forma mais célere, mas todas tendo exigi-do muito tempo dispendido em reuniões que apoiaram o estudo, implementação e avaliação das medidas corretivas.

A 24 de novembro, desloca--se oficialmente a Kiel o Che-fe da MCSUB-PNID, CALM Nunes Teixeira, no âmbito das competências do Contrato de Aquisição, para dirimir assun-tos diversos em curso, tendo ainda tido oportunidade de visitar o navio e ser notificado in loco das anomalias surgi-das e dos estudos e soluções em curso.

À semelhança do leitor que desfolha página a página esta revista, também os dias foram sendo desfolhados pelo tempo. Estávamos agora em finais de novembro, princípios de dezembro e o clima muda substancialmente.

Estão agora -150 C, com o típico wind chill de -210 C. As tomadas de água, os lagos e o fiorde congelam deixando somente deslumbrar água quando um quebra-gelo passa permitindo deste modo a atracação do cruzeiro Color Line (ferry que faz regularmente trânsito Kiel-Oslo). Não só os militares sofreram com estas mudanças, também as actividades a bordo sofrem com es-tas mudanças climáticas. São necessários equi-pamentos externos para aquecer os fluidos, ar e óleo hidráulico, no interior do navio, não se podem deixar bidões de óleo no exterior do na-vio, sob o pretexto de não termos como o des-congelar no dia seguinte.

O Natal e o Ano Novo aproximam-se a uma velocidade vertiginosa. Sente-se a ansiedade de ir a casa, após 4 meses de missão. Não tanto pelo tempo que passou, afinal foram só 4 meses, mas principalmente pelo que se “desconfiava” faltar. Estávamos agora a entrar na fase de res-tabelecimento e provas aos sistemas, processo que impõe sempre acertos finais. Alguns eram já esperados, porque todos os que andam no mar sabem que parar sistemas complexos durante meses a fio exige posteriormente muito traba-lho e dedicação para os estabilizar. A acrescer a

estas dificuldades, estávamos perante mudanças radicais na climatologia.

Mais uma semana que passa, esta muito mais rápido do que era desejável, e quase sem nos apercebermos estávamos outra vez embrenha-dos em acções de manutenção, acompanha-mento de trabalhos e aprontamento e restabe-lecimento dos sistemas, setting to work. Durante esta fase continuam a ocorrer ajustes ao pla-neamento e ao normal desenrolar do Projeto. Foram estudadas causas, estabelecidos planos de contingência, identificadas soluções mesmo que não definitivas, com o objetivo de minimi-zar os impactes. O facto de se terem de identifi-car as potenciais causas, de não existir histórico sobre as ocorrências identificadas, dos sistemas serem muito complexos, da necessidade de tempo para se encontrarem e implementarem soluções técnicas, da necessidade de manufa-tura ou fornecimento de sobressalentes cujo tempo de fornecimento é elevado, foram fato-res que acresceram complexidade ao objetivo de minimizar o impacte do atraso.

Inícios de Fevereiro, agora com menos frio, ora com neve, ora com frequentes aguaceiros, o NRP Tridente ia ficando pronto e surgiam ou-tras necessidades. O aprontamento do navio para efetuar provas de mar aos sistemas/equi-pamentos no Skagerak. Apesar da guarnição ter antecipado e trabalhado em avanço, acabamos sempre por chegar à altura e se soubéssemos tí-nhamos antecipado ainda mais os preparativos. Ora porque o estaleiro não libertava o navio, não permitindo por isso que fizéssemos o nosso trabalho, ora porque tínhamos que implemen-tar um plano de treino suficientemente exigente para repor padrões de desempenho, fruto de 6 meses sem navegar. Dias de semana e de fim de semana, o plano de treino foi muito abreviado, 7 dias. Consistiu numa fase inicial em palestras, seguidas de treino prático a bordo, incremen-tando de forma estruturada o grau de dificulda-de aplicado aos exercícios LA e compilação e esclarecimento do panorama de superfície. As consequências de ter uma guarnição separada e sem capacidade de treinar, durante 6 meses, foi notória. Por via da proliferação de sistemas de automação e controlo, as guarnições são cada vez mais tentadas a utilizar os automatismos, porque de facto são elementos facilitadores na operação. Não é que haja mal nisso, desde que

nos lembremos disso mesmo, são automatismos que facilitam, mas não podemos pura e simples-mente abdicar do conhecimento de controlar os sistemas em modo manual/local. Este relembrar exige treino das e para as guarnições, indepen-dentemente da condição em que o navio se encontra. Só ao sexto dia de treino a organiza-ção e os processos começaram a funcionar de forma natural, deixando o Comandante e todos os que navegam num submarino mais descan-sados. Estávamos em condição de iniciar uma nova etapa, conduzir o navio nas provas de acei-tação dos sistemas intervencionados durante a Docagem de Garantia.

As provas de mar no Skagerak, realizadas en-tre 20 e 24 de fevereiro, correram dentro da nor-malidade, muito embora o mar, vento e baixas temperaturas quisessem assinalar a sua presen-ça. Acabámos por fazer todas as provas previstas exceto o teste ao SHF SATCOM, levando ao seu adiamento para a viagem de regresso a Lisboa.

Terminadas as provas, regressámos a Kiel, diretos ao denominado lift, instalação em terra

com um princípio de funcio-namento semelhante à de um elevador por cabos, que eleva da água o submarino assente numa plataforma. Passadas 3 horas, com o navio já a seco, tí-nhamos mais uma vez à nossa espera cerca de 20 técnicos do estaleiro e empresas subcontra-tadas, desejosos para entrar a bordo e iniciarem os trabalhos que se tinham comprometido a realizar para que os sistemas estivessem operacionais para o nosso regresso a Lisboa. O fim era agora uma meta que a guarnição do NRP Tridente já vislumbrava.

Os poucos trabalhos pendentes iam sendo resolvidos uns atrás dos outros, desta vez sem percalços, tendo todas as ações de manuten-ção corretiva e preventiva sido efetuadas e o navio entregue à guarnição para novamente preparar o “nosso” Tridente para a tão espe-rada viagem de regresso às águas nacionais, viagem essa que se iniciou em 29 de março e terminou a 09 de abril de 2012, tendo o NRP Tridente pelo caminho, na zona do Skagerak, realizado as provas ao SHF SATCOM com su-cesso. Por muito mau tempo que tivéssemos apanhado, sem possibilidade de entrar em imersão devido aos fundos baixos do Mar do Norte, a guarnição estava satisfeita pelo senti-mento de missão cumprida.

Após 8 meses de missão, muitas vezes sob condições de trabalho árduas, longe das famí-lias, temos agora novo desafio: zarpar, em breve, com destino aos EUA, para nova missão. Mas essa será outra história a contar oportunamente!

Colaboração do COMANDO DO NRP TRIDENTE

Notas1 PNID – Portuguese Navy Inspection Delegation; Dele-

gação da Missão de Construção de Submarinos (MCSUB) para a inspeção e acompanhamento dos trabalhos a bordo.

2 DN-DS – Direção de Navios – Divisão de Submarinos.

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10 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A viagem cujo presente relato pretende ilustrar refere-se à primeira travessia do Atlântico Norte efetuada por um sub-

marino Português, 99 anos após a criação da Arma Submarina em Portugal.

O facto dos submarinos da classe TRIDEN-TE, com a sua tecnologia e autonomia, terem visto aumentado o seu raio de ação, permite ao Estado Português exercer a sua influência por suposta presença mais além. Assim, esta foi a oportunidade de comprovar esta mais valia num cenário real. A necessidade de se proceder à certificação do sistema de Armas do submarino permitiu o convite para participar no exercício War 1812 - Fleetex, por parte da US Navy, no decorrer das comemorações do Bicentenário da Guerra de 1812, que colocou frente a fren-te as potências marítimas dos Estados Unidos da América e Inglaterra. Nesta conjugação de circunstâncias criou-se o ce-nário ideal para mais uma vez demonstrar as capacidades da Marinha Portuguesa, que tem nos submarinos da classe TRI-DENTE uma arma dissuasora de significativo impacto, reco-nhecida na comunidade naval internacional.

A viagem começou no dia 25 de maio de 2012, cerca de um mês e meio após a saída dos estaleiros de Kiel, onde durante 8 meses o navio so-freu uma rigorosa e meticulosa intervenção por parte dos estaleiros da HDW e de exigente acompanhamento por parte da guarnição, por forma a terminar a fase de ga-rantia do NRP Tridente.

À passagem de entre torres o espírito pre-sente era de desafio pelos cerca de 20 dias de viagem que se avizinhavam. O tempo de imersão que se aproximava não era variável desconhecida para a experiente guarnição do NRP Tridente, no entanto, o fator psicológico da distância a percorrer e o peso de uma tra-vessia oceânica, era um desafio nunca antes enfrentado e, neste ponto, este era o nosso “Monstrengo” e presente no nosso espírito es-tava a vontade de querer “o mar que é teu” 1.

O planeamento da viagem contemplou um vasto cardápio de exercícios de adestramento da guarnição que cobriram todas as áreas fun-cionais de bordo, desde a limitação de avarias, operações, manobra de embarque rápido de armas, manobra da plataforma, navegação e comunicações. A organização a bordadas du-rante os 20 dias de viagem permitiu uma eleva-da percentagem de execução do planeamen-to de exercícios e um incremento do nível de adestramento da guarnição para os desafios que se aproximavam.

Paralelamente ao planeamento de exercí-

cios, a atividade de bordo teve a normal com-ponente de manutenção do material, onde os desafios com que se depararam os técnicos de bordo foram claramente superados, alicerça-dos no seu conhecimento técnico e experiên-cia da plataforma.

Quanto à travessia do oceano Atlântico, o caminho até às nossas ilhas dos Açores era conhecido pela maioria, pelo que o primei-ro terço da viagem foi tranquilo e em águas conhecidas.

À passagem pela ilha das Flores, entrámos para lá do nosso “Bojador”. O conhecimento das características do meio submarino era li-mitado e novidade para todos. O mau tempo à superfície, com ondulação de 5 a 6 metros, tornava bastante complicada a nossa navega-

ção snorkel e os nossos ouvidos começavam a ressentir-se. Todos os submarinistas embarcados conheciam os efeitos do fecho da válvula de ca-beça, mas o facto de estarmos em território nun-ca antes explorado e a indefinição do que nos esperava pela frente tornavam mais difícil que o habitual lidar diariamente com os efeitos da depressão atmosférica, ainda mais quando nos dias subsequentes não havia previsão de melho-rias, pois o anti-ciclone dos Açores teimava em não se deslocar para norte de forma a trazer-nos a tão esperada bonança. Para ajudar, o efeito da corrente de Labrador, associada à corrente do Golfo, começou a fazer-se sentir, incrementan-do dificuldade ao avanço do navio, induzindo uma corrente contra de cerca de 4 nós. Este fac-to obrigou a um ajustamento do planeamento, baseado num elevado grau de incerteza quanto à altura ideal para realizar as cargas da bateria, às idas para a imersão profunda e consequente determinação da cota ideal por forma a mini-mizar o efeito da corrente.

A passagem de uma tempestade tropical que se fez sentir aos 50 metros de profundidade, tendo por base os registos de banda e caimen-to, normalmente estáveis, do sistema de gestão de dados de navegação, tornava percetível a razão de um elevado nível de ruído ambiente

na nossa escuta, onde nem os nossos habituai s companheiros de viagem, os habitantes das profundezas, se faziam ouvir. Nos resquícios da passagem da frente, em mais uma exigente navegação snorkel, foi avistada no periscópio uma tromba de água, sinal da violência da tem-pestade que acabávamos de passar.

O efeito da corrente, o estado de mar altero-so e os fenómenos meteorológicos observados faziam surgir diversos comentários no sentido de que o Rei Neptuno estaria a testar, mais uma vez, o marinheiro português, mas agora não eram as Caravelas com a cruz de Cristo, mas os 33 elementos da guarnição do seu novo Triden-te, que só passando por esta provação estariam aptos para cruzar os seus mares e ser dignos de operar a sua arma preferida ao serviço de Por-

tugal e dos Portugueses.Como é bem sabido e de

conhecimento de todos, a se-guir à tempestade vem a bo-nança e esta trouxe navega-ções snorkel mais calmas. No entanto, o efeito da corrente do Golfo continuava a fazer--se sentir. Apesar deste facto, através de um estudo empírico do efeito da corrente ao longo da coluna de água, foi possível cumprir com o planeamento definido, mantendo o subma-rino sempre dentro do Moving Haven, ou seja, dentro da área definida para uma navegação em imersão segura.

A chegada a Norfolk começou bem cedo, a cerca de 25 milhas da costa, uma vez que as características da batimetria da zona obri-garam o submarino a fazer a aproximação a terra à superfície. A entrada no Hampton Road (que junta a foz dos rios James e Elizabeth), fez--se acompanhar de duas unidades da Guarda Costeira que escoltaram o navio até à base na-val, evitando que qualquer curioso se aproxi-masse mais do que o permitido, face à grande curiosidade que um submarino convencional moderno naturalmente suscita.

Ao atracar, fomos recebidos pelos militares portugueses que prestam serviço em unidades sediadas na Base de Norfolk e pelos militares do USS Montpelier, que serviu como navio de acolhimento, tendo já agendadas diversas ativi-dades de confraternização entre submarinistas dos dois lados do Atlântico.

Os dias atracados servirão para descanso da guarnição e preparação da nova etapa desta missão histórica, que será provar, em cenário operacional, o verdadeiro valor da arma sub-marina operada por portugueses.

Colaboração do COMANDO DO NRP TRIDENTE

Notas1 in Mensagem, Fernando Pessoa

TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICOEm reforço da defesa militar e apoio à política externa

TRIDENTE ATRAVESSA ATLÂNTICO

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 11

ENQUADRAMENTO

O nosso relacionamento com os Países Africanos de Língua Oficial Portu-guesa (PALOP) e Timor-Leste é, por

motivos culturais e históricos, um dos pilares fundamentais da cooperação e da política externa portuguesas.

Assim, as ações desenvolvidas por Portugal “para a realização de um mundo melhor e mais es-tável, muito em particular nos paí ses lusófonos, caraterizado pelo desenvolvimento económi-co e social, e pela consolidação e o aprofundamento da paz, da de-mocracia, dos direitos humanos e do Estado de direito”2, consti-tuem a missão fundamental da cooperação portuguesa.

Neste domínio, as Forças Arma-das desempenham, naturalmente, um papel essencial na componen-te de defesa da cooperação portuguesa, através da realização de ações de cooperação técni-co-militar (CTM), junto dos países lusófonos.

A CTM, de natureza essencialmente bila-teral, iniciou-se no final dos anos 70, após as independências dos países africanos lusó-fonos, de forma pontual e avulsa, ao sabor das solicitações. Posteriormente, no decénio de 90, atingiu uma maior matu-ridade e consolidação quando adotada uma metodologia de execução centrada na maximi-zação dos recursos, em prol das necessidades e prioridades dos PALOP e em consonância com as capacidades nacionais.

Esta componente da cooperação portuguesa, dirigida pelo Ministé-rio da Defesa Nacional (MDN), em estreita colaboração com o Minis-tério dos Negócios Estrangeiros, ultrapassa o quadro estritamente militar, contribuindo para a segu-rança, estabilidade e desenvolvi-mento económico e social. No quadro específico da defesa com-pete à Direcção-Geral de Política de Defesa Nacional (DGPDN) dirigir a CTM, em articulação direta com o Estado-Maior Ge-neral das Forças Armadas (EMGFA) e os três ra-mos das Forças Armadas.

A CTM operacionaliza-se através da execu-ção de programas-quadro (PQ), acordo técnico definido ao nível político, após uma solicita-ção expressa de apoio por parte de um Estado parceiro. São delimitados temporalmente e compostos por um ou mais projetos de coo-peração, de âmbito naval, terrestre ou aéreo.

Dependendo da natureza do apoio solicitado e do objetivo global a atingir, a consecução dos projetos é conferida à DGPDN, ao EMGFA ou a um dos ramos das Forças Armadas.

Para efeitos de execução dos projetos de cooperação, o MDN, através da DGPDN, su-porta financeiramente as atividades acorda-das, as quais são complementadas por verbas provenientes do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento3 e dos ramos das Forças Armadas.

Cada projeto, composto por um objetivo

global e por vários objetivos específicos, é executado no terreno por diretores técnicos4, assessores residentes, permanentes ou tempo-rários, e por assessores não residentes.

Nas situações em que um Estado parceiro solicita apoio ao desenvolvimento na área de segurança e da maritimidade, a Marinha, na qualidade de entidade técnica responsável5 por esta área, apoia a DGPDN no desenvolvi-mento de um PQ através da concretização de um, ou mais, projetos.

O CONCEITO DE CTM NA MARINHAA Marinha é, assim, a componente na-

val da cooperação técnico-militar portu-guesa, que se desenvolve sob a direção

do MDN, através da DGPDN. Concorre para os objetivos das políticas externa e de defesa na-cional, e destina-se a promover a segurança e o desenvolvimen-to sustentado das instituições congéneres, através da valori-zação dos recursos humanos, da modernização dos meios, da reorganização das estruturas e do ajustamento às realidades específicas dos PALOP e de Ti-mor-Leste.

A Marinha, enquanto entida-de técnica responsável, apoia localmente a consecução dos objetivos dos PQ e respetivos projetos, através dos seus efeti-vos, designados para o exercício

das funções de diretores técnicos e asses-sores, tendo em conta as solicitações dos países parceiros e a capacidade de respos-ta da Marinha.

As atividades são conduzidas em parce-ria com as marinhas, guardas-costeira ou componentes navais das Forças Armadas dos países parceiros e visam, em concreto:

Desenvolver o planeamen-to genético, estrutural e ope-racional;

Integrar parcerias com países vizinhos para o desenvolvimen-to articulado da segurança marí-tima (security e safety);

Incrementar a atitude colabo-rativa no relacionamento com outras entidades ou organiza-ções com responsabilidades e competências no mar;

Desenvolver uma capacida-de de Conhecimento Situacio-nal Marítimo;

Empenhar meios operacio-nais em atividades de interesse comum.

A Marinha Portuguesa, através do apoio ao desenvolvimento das capaci-dades das suas congéneres dos PALOP e de Timor-Leste, países com uma dimensão marítima significativa, onde o exercício da autoridade do Estado no mar é fundamen-tal, procura que estas últimas consigam, de forma autónoma, garantir o uso do mar e aplicar a autoridade dos Estados nos espa-ços marítimos sob sua soberania ou juris-dição, em particular nas respetivas Zonas Económicas Exclusivas (ZEE).

A Marinha na Cooperação Técnico-MilitarA Marinha na Cooperação Técnico-Militar«A cooperação é um modelo de relações internacionais que implica colocar em prática uma política continuada, destinada a

tornar mais íntimos, através de mecanismos permanentes, os contactos entre Estados em vários domínios, sem pôr em causa a sua independência.»1

Timor – Formação de especialidade de Marinha.

Moçambique – Aula de eletrotecnia.

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12 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO DA CTM NA MARINHA

Sob a responsabilidade do Vice-almirante Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada6, as ações de CTM desenvolvidas pela Marinha são apoiadas pelo Estado-Maior da Armada (EMA) e pelos Órgãos Centrais de Administração e Direção, Comando Naval, Direção-Geral de Autoridade Marítima, Instituto Hidrográfico, Escola Naval e Comissão Cultural de Marinha.

Ao EMA incumbe coordenar e controlar, interna e externamente, a progra-mação de atividades e recursos, articulando, ao nível estratégico, o relacionamento da Marinha com a DGPDN e os órgãos congéneres das marinhas parceiras. Aos Ór-gãos Centrais de Administração e Direção, Comando Naval, Direção Geral de Autoridade Marítima, Ins-tituto Hidrográfico, Escola Naval e Comissão Cultural de Marinha in-cumbe a planificação e o apoio à execução das actividades, no âm-bito das respetivas áreas técnicas. Em particular, ao Comando Naval compete coordenar e apoiar todos os órgãos da Marinha, relativamen-te às tarefas de aprontamento dos cooperantes, de forças e meios em-pregues nesse âmbito.

No âmbito do paradigma estrutural, que procura a racionalização de tarefas, a coor-denação do emprego de meios e a articula-ção interdepartamental, procedeu-se, no âm-bito da reestruturação do EMA, em janeiro de 2010, à extinção do Gabinete para a Coopera-ção, transferindo e integrando as suas funções e responsabilidades na atual Divi-são de Relações Externas do EMA.

Perante um novo quadro de cooperação que exige a conju-gação, de forma consistente e coerente, dos objetivos e priori-dades da CTM com outros temas da agenda internacional de se-gurança e defesa, das organiza-ções de que o país é membro, a reorganização funcional da CTM foi fundamental para a eficácia do esforço integrado de coope-ração e para a credibilidade da ação da Marinha como parceiro internacional.

OS PROJETOS REALIZADOS PELA MARINHA

Em consonância com os objetivos específi-cos delineados para os projetos da Marinha, os assessores residentes desenvolvem uma intensa atividade no âmbito da formação lo-cal, visando apoiar a constituição, consoli-dação e autonomização das Forças Armadas parceiras. O esforço na componente do en-sino e da formação é uma dimensão impor-tante dos projetos executados pela Marinha Portuguesa. A título de exemplo, em 2011,

através das assessorias residentes e temporá-rias, a Marinha apoiou localmente a forma-ção de 2299 militares, a saber:

Apoio à formação de militares7

Angola Cabo-Verde Guiné-Bissau

654 167 0

Moçambique São Tomé e Príncipe Timor-Leste

1271 90 117

Presentemente, no âmbito dos PQ em vigor, a Marinha participa nos seguintes projetos CTM:

Angola – Projeto n.º 8: Apoio à Marinha de Guerra de Angola

Este projeto contempla o apoio técnico: ao Estado-Maior da Marinha e à Academia Naval, em Luanda; aos Fuzileiros Navais, no

Ambriz; e ao Grupo de Escolas de Especialis-tas Navais, no Lobito. Este apoio é materiali-zado em permanência por sete oficiais e um sargento. Considera-se o arranque do 1º ano da Academia Naval Angolana, em julho de 2011, como um marco muito importante da CTM da Marinha uma vez esta ser a primei-ra academia naval de um estado parceiro de CTM. Devemos realçar, ainda neste âmbito, o apoio que três assessores prestaram naque-la academia ao ministrarem as disciplinas de

Navegação, de Cálculos Náuticos, de Mari-nharia e de Sistemas e Equipamentos de Na-vios aos cadetes navais angolanos.

Cabo-Verde – Projeto n.º 4: Apoio à Guarda--costeira e Projeto n.º 5: Apoio aos Fuzileiros

O projeto n.º 4 contempla o apoio técnico à Guarda-costeira, e o projeto n.º 5, o apoio aos Fuzileiros Navais, ambos na Cidade da Praia e no Mindelo. Este apoio é materializado em permanência por dois oficiais. Em 2011, e para além do apoio dedicado das assessorias técnicas residentes destes dois projetos, releva-se o apoio

prestado a Cabo-Verde através da projeção de três assessorias tempo-rárias da Marinha, com o apoio do Comando Naval, nomeadamente:

• a instalação do Sistema de Apoio à Decisão na Atividade de Patrulha – Versão Cooperação (SADAP-C) e respetiva formação de operadores deste sistema;

• um estágio de técnicas de salvamento e resgate de monta-nha, no intuito de apoiar a edi-ficação desta capacidade militar com aplicação a atividades de proteção e salvamento civil;

• um curso de aperfeiçoamen-to em botes e motores para fuzi-leiros navais.

Durante o ano de 2012, e pela primeira vez, a Marinha projetou onze mili-tares do Departamento de Treino e Avaliação do CITAN que durante um mês, e em três fases distintas, auxiliaram o treino e o adestramento da guarnição do novo patrulha cabo-verdiano “Guardião”.

Moçambique – Projeto n.º 2: Apoio à Ma-rinha de Guerra de Moçambique

Este projeto contempla o apoio técnico: ao Estado-Maior da Ma-rinha, em Maputo; aos Fuzileiros Navais, na Machava; e ao Grupo de Escolas de Formação, em Maputo. Este apoio é materializado em per-manência por três oficiais, três sar-gentos e uma praça. A projeção de três assessorias temporárias, nomea-damente, um curso de serralheiro mecânico e uma assessoria técnica às escolas de limitação de avarias e escola de eletricidade, ministrados por assessores da Escola de Tecno-logias Navais, e o curso dedicado à Organização e Funcionamento de um Centro de Operações Navais e Segurança Marítima realizado por dois oficiais do Comando Naval –

COMAR, constituíram as principais ações locais em 2011. Recentemente, a assessoria residente apoiou a elaboração do Regulamento Interno da Marinha que se crê vir a ser um marco para a organização interna da Marinha deste país.

São Tomé e Príncipe – Projeto n.º 4: Apoio à Guarda costeira e Serviço de Navegação e assinalamento Marítimo

Este projeto contempla o apoio técnico à Guarda costeira santomense, é dirigido em permanência por um oficial e está sediado em

Cabo-Verde – Desembarque anfíbio.

Exercício Hércules durante o 19º Curso de Formação de FZ's em Cabo-Verde.

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São Tomé. Em 2011, concretizou-se uma as-sessoria temporária, composta por um oficial e dois militarizados da Direção de Faróis, que visou a inspeção técnica de todos os faróis e farolins, bem como a realização pelo assessor residente de um Estágio para Patrão-mor e Es-crivão de Capitania.

Timor-Leste – Projeto n.º 3: Apoio à com-ponente naval das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL)

Este projeto, sediado na Base Naval de Hera, contempla o apoio à componente naval das F-FDTL e é apoiado lo-calmente por dois oficiais e três sargentos.

Em 2011, constitui-se de relevo uma assessoria técnica temporária, de três militares da Marinha, che-fiada pelo Contra-almirante Supe-rintendente dos Serviços de Tec-nologias da Informação, integrada noutro projeto de CTM.

Esta assessoria visou o apoio à elaboração de um estudo de cober-tura da componente de VHF e HF, que assegurem as comunicações na sua ZEE, e o apoio à elaboração das especificações técnicas para a aqui-sição dos equipamentos ativos de rede.

Em Portugal, a Marinha proporciona apoio na área dos recursos humanos dos Estados parceiros, através do ensino e da formação, na Escola Naval (vinte e três cadetes) e nos esta-belecimentos do Sistema de Formação Profis-sional da Marinha (onze militares), distribuídos do seguinte modo:

Bolseiros CTM em Portugal 8

Angola Cabo-Verde Guiné-Bissau

11 12 1

Moçambique São Tomé e Príncipe Timor-Leste

5 4 1

AS FERRAMENTAS DE GESTÃO DE PROJETO

O EMA tem vindo a desenvol-ver, desde 2010, para os militares envolvidos na CTM, um conjunto de mecanismos e ferramentas de apoio à gestão dos seus projetos, nomeadamente:

O ambiente colaborativo; Este portal, de gestão e partilha de

informação, visa disponibilizar a in-formação e agilizar a assessoria téc-nica relativa aos projetos de CTM, através da ligação em rede de todos os agentes de cooperação e da par-tilha de informação entre projetos.

O portal das marinhas dos Países de Língua Portuguesa (PLP);

Este portal, acedido através do endereço www.marinhasplp.org, é uma plataforma aberta à sociedade civil que permite aprofundar o rela-cionamento entre as marinhas dos PLP, através da difusão das atividades, das ações de coman-

do e dos projetos de interesse comum, junto das respetivas comunidades.

O Manual da Marinha para a Cooperação Técnico-Militar;

Este manual, elaborado pelo EMA, aplica-se aos militares, militarizados e civis da Marinha envolvidos em ações de CTM e procura dar a conhecer, no âmbito da missão da Marinha, a atuação desejada dos agentes de CTM, enquan-to instrumentos securitários da cooperação por-tuguesa, no âmbito da defesa nacional e da Ma-

rinha, e no quadro da ação externa do Estado.O Conceito de CTM da Marinha;É um documento doutrinário, elaborado no

EMA, que define a noção de CTM para o uni-verso da Marinha.

O Despacho do Almirante CEMA n.º 33/11.Este despacho aplica-se aos efetivos da Mari-

nha indigitados para o exercício de cargos pro-jetáveis ou para missões fora do território nacio-nal. Define o tipo de aprontamento sanitário, de uso de uniformes e de preparação individual para o exercício das funções.

O FUTURO DA COOPERAÇÃO NA MARINHA

As situações de fragilidade representam um enorme desafio para o desenvolvimento sus-

tentável e para a paz, podendo traduzir-se em ameaças importantes para a segurança regional e mundial. Neste sentido, a CTM assume hoje em dia um papel de destaque na arquitetura da paz, da segurança e do desenvolvimento inter-nacional, nomeadamente no quadro da acção externa de Portugal.

Para permitir responder de forma mais efi-caz às exigências das ações de cooperação portuguesa, nomeadamente, no âmbito da Estratégia Nacional sobre Segurança e Desen-volvimento e, em particular, da CTM, a Mari-nha procedeu a uma reestruturação interna, a nível funcional e estrutural, com o objecti-vo de obter uma maior articulação e capaci-dade de resposta entre as diversas entidades, colmatando eventuais duplicações de tarefas. Com esta reorganização, pode afirmar-se que

a Marinha encontra-se agora me-lhor preparada para responder aos desafios futuros da cooperação.

Assim, a Marinha, através do EMA, continuará a estudar as transformações estruturais e a trabalhar no sentido de inserir a CTM numa cooperação militar alargada e integrada na política de relações internacionais, visan-do sempre o desenvolvimento do conhecimento técnico-naval, dos recursos humanos necessários à edificação autónoma e sustentada das capacidades navais dos nos-sos parceiros, para que estes pos-sam garantir o uso do mar.

A Marinha assume, pois, um papel de re-levo assinalável no quadro da Estratégia para a Cooperação Portuguesa, designadamente no contexto da CTM, contribuindo de forma significativa para consecução da política de defesa nacional e da política externa de Por-tugal, em prol de um mundo que se deseja mais seguro, mais desenvolvido e economi-camente mais forte.

B. Ferreira TelesCTEN

EMA (Divisão Relações Externas)

Notas1 Cfr. GODINEC (1997), Relations Internacionales,

Paris, Edições Mont Chrestien2 “Uma Visão Estratégica para a Cooperação

P ortuguesa”, aprovado pela resolução do Conse-lho de Ministros n.º 196/2005 de 22 de dezembro.

3 O IPAD foi extinto e será integrado no novo instituto público, Camões - Ins-tituto da Cooperação e da Língua, I.P.

4 O diretor técnico é um oficial nomea-do para promover a execução técnica de um projeto de CTM.

5 Entidade técnica responsável (ETR) – órgão ao qual compete a direção téc-nica de um projeto de um programa--quadro. Deverá promover a sua exe-cução, direção, planeamento técnico, avaliação de resultados e a elaboração de propostas de alteração ou desenvol-vimento à tutela.

6 O pessoal, as forças e os meios atri-buídos à CTM estão na dependência hierárquica do VALM VCEMA por de-legação de competências do Almirante CEMA. Excetuam-se os militarizados da

Marinha do quadro da Polícia Marítima, que perma-necem na dependência hierárquica do Comandante--Geral da Polícia Marítima e os militares da Marinha atribuídos no apoio a outros projetos sob a égide de outra Entidade Técnica Responsável.

7 Dados relativos ao período de 01 de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2011.

8 Dados relativos a maio de 2012.

Cabo-Verde – Treino LA.

Angola – Instrução de tiro de combate.

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14 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A Marinha é uma organização orien-tada para o cumprimento da mis-são, que pode ser definida como

“contribuir para que Portugal use o mar, na justa medida dos seus in-teresses”. Para cumprir esta missão, a Marinha desem-penha três funções essen-ciais: Defesa militar e apoio à política externa; Seguran-ça e autoridade do Estado; e Desenvolvimento económi-co, científico e cultural. No seu conjunto, estas funções e as tarefas em que se sub-dividem, representadas na figura 1, fazem com que a Marinha esteja presente com utilidade e produza valor no mar, respondendo a um le-que alargado e diferenciado de desafios.

Manter a relevância neste exigente quadro, com altera-ções contínuas no ambiente externo, implica visão, dou-trina e capacidade de gestão estratégica.

A análise da cadeia de valor da Marinha, seguida-mente apresentada, pode ajudar a compreender o pa-pel da gestão estratégica e o seu contributo para a efici-ência dos processos e para a eficácia da ação no mar.

Conforme ilustrado na fi-gura 2, o cumprimento da missão assenta num con-junto de processos chave, responsáveis pelos produtos operacional, científico e cul-tural, ou seja, o produto ins-titucional da Marinha. Nele se incluem as operações militares, como o combate à pirataria no oceano Índi-co, as missões de embargo e de interdição marítima, o controlo da proliferação ou o resgate de cidadãos nacio-nais de territórios em situa-ção de conflito; e as ações de âmbito não-militar, de que são exemplos o salva-mento marítimo, o comba-te ao narcotráfico, a fiscali-zação da pesca, o combate à poluição do mar, a inves-tigação científica no apoio ao projeto de extensão da plataforma con-tinental portuguesa e as atividades culturais museológicas, entre outras.

Os processos chave são apoiados pelos processos de suporte, que englobam a ges-

tão de recursos humanos, materiais, finan-ceiros e informacionais, e ainda a atividade inspetiva, através da qual se avalia o méri-to, a conformidade legal e a regularidade

processual das ações desenvolvidas pelos diferentes órgãos da Marinha.

Simultaneamente, para que a Marinha possa evoluir e manter a sua relevância, é fundamental promover uma transforma-

ção contínua, assegurando, por um lado, a permanente e prospetiva adaptação ao am-biente externo, aproveitando oportunida-des e contrariando ameaças, e, por outro,

a melhoria do desempenho interno, explorando as for-ças próprias e mitigando as vulnerabilidades.

O processo de gestão es-tratégica promove, precisa-mente, esta transformação contínua da Marinha, tendo em vista atingir uma situação futura desejada. (Fig. 3)

É desta forma que se ga-rante uma formulação estra-tégica consequente, na me-dida em que esta é seguida de uma coerente operacio-nalização da estratégia e de um sistemático controlo dos resultados obtidos, que são utilizados para implementar as subsequentes adaptações e correções necessárias.

Pela sua natureza, os re-sultados do processo de ges-tão estratégica acabam por influenciar a forma como a Marinha desenvolve os seus processos chave e de supor-te, concedendo-lhes a ne-cessária moldura estratégi-ca segundo perspetivas de gestão genética, estrutural e operacional. Estas três pers-petivas internas, que procu-ram a eficiência, confluem na perspetiva de missão, que visa a criação de valor para a sociedade, através da eficá-cia da ação no mar (Fig. 4).

Da explicação anterior de-preende-se que o processo

de gestão estratégica se desenvolve segun-do três fases fundamentais, a formulação (pensamento), a operacionalização (alinha-mento, planeamento e ação) e o controlo (monitorização, aprendizagem e adapta-

A Gestão Estratégica da MarinhaA Gestão Estratégica da Marinha

Figura 4 – Cadeia de valor da Marinha.

Figura 3 – Processo de gestão estratégica.

Figura 2 – Cadeia de valor da Marinha (parcial).

Figura 1 – Missão, funções e tarefas da Marinha.

O processo de gestão es-tratégica assegura a trans-formação contínua da Ma-rinha, para fazer face às necessidades de adaptação ao ambiente externo e de melhoria de desempenho interno, influenciando de forma decisiva a execução eficiente dos processos cha-ve e de suporte, o que resul-ta no cumprimento eficaz da missão.

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ção), as quais importa saber sistematizar e articular devidamente. Para o conseguir, a Marinha adotou o modelo da figura 5, que se resume a um conjunto de passos sequen-ciais, realizados ciclicamente e subdividi-dos naquelas três grandes fases, visando a materialização dos objetivos estratégicos estabelecidos pelo Chefe do Estado-Maior da Armada/Autoridade Marítima Nacional (CEMA/AMN).

Estes objetivos, expressos na Diretiva de Política Naval (DPN), esta-belecem “o que fazer” du-rante o mandato do CEMA/AMN (três a cinco anos), tendo presente as circuns-tâncias do ambiente estra-tégico, bem como a influ-ência das políticas públicas e outras condicionantes de escalão superior.

Os objetivos estratégicos do CEMA/AMN exprimem a política naval de curto prazo e são enquadrados e delimitados pela doutrina naval1, de natureza mais perene, que estabelece os grandes princípios e orien-tações, i.e. o “como fazer”. A doutrina naval define também as quatro perspe-tivas de gestão e os respeti-vos temas estratégicos, que servem de base aos paradig-mas da transformação, onde se detalham as medidas a prosseguir pela Marinha no longo prazo:

Assegura-se, assim, a con-formidade das opções de curto e médio prazo com os propósitos perseguidos pe-los processos de transforma-ção, que se desenvolvem de forma estruturada, e estrutu-rante, para garantir a permanente relevân-cia da instituição num ambiente dinâmico. Tentando, ao nível da operacionalização e controlo da estratégia, garantir que esta não se centra apenas nos resultados (perspeti-va de missão), mas que abrange e integra as perspetivas de gestão internas (genética, estrutural e operacional), adotou-se a me-todologia Balanced Scorecard (BSC), que promove esta abordagem equilibrada. O BSC visa, sobretudo:

• Traduzir os objetivos estratégicos da DPN em aspetos mensuráveis (indicado-res e metas);

• Alinhar todos os setores com a estra-tégia da Marinha, desdobrando a DPN em Diretivas Setoriais (DS);

• Comunicar a visão e a estratégia, para envolver as pessoas na execução das inicia-tivas que permitem materializar os objeti-vos estratégicos, mantendo-as focadas nos grandes desígnios da instituição.

Para planear e controlar as iniciativas es-tratégicas (programas e projetos intersecto-riais), é utilizada a ferramenta colaborati-

va Enterprise Project Management (EPM). O EPM é parte integrante da aplicação de Monitorização e Controlo da Gestão Estra-tégica, desenvolvida pela Marinha e dis-ponível na intranet, a qual permite ajuizar em que medida os objetivos estão ou não a ser atingidos. Esta monitorização é efetu-ada através da sinalização semafórica dos mapas da estratégia, conforme ilustrado na figura 6. A aplicação permite ainda aceder ao scorecard de cada objetivo, que contém informação ampliativa, incluindo os indica-dores, as metas, as iniciativas estratégicas e a identificação do seu responsável. Esta

aplicação é também utilizada para apoiar a revisão periódica da estratégia.

A implementação prática do modelo de gestão estratégica da Marinha é realizada com o apoio do Núcleo de Consultoria In-terno (NCI), composto por oficiais do EMA e da Superintendência dos Serviços de Tecno-logias da Informação (SSTI). O NCI intera-ge com as equipas congéneres dos setores, com vista a garantir o alinhamento da es-tratégia, a padronização de procedimentos

e a minimização do esforço administrativo requerido por esta atividade de gestão.

Em suma, pode afirmar--se que a gestão estratégica é uma atividade fundamen-tal em qualquer organização onde exista uma visão de futuro e a preocupação de adotar um posicionamento que, de forma continuada, acrescente valor para os seus públicos de interesse.

No caso da Marinha, é indispensável garantir uma transformação contínua, que permita uma adaptação bem fundamentada à envol-vente externa. Neste senti-do, a contínua melhoria de desempenho é fundamental para sustentar a relevância da instituição perante a so-

ciedade. É por este motivo que a Ma rinha tem investido, ao longo dos últimos anos, na edificação de uma capacidade efe tiva de gestão estratégica, percorrendo um ca-minho que ainda não terminou, mas que já a distingue como uma insti tuição ímpar nesta matéria.

Sérgio da Silva PintoCFR EN-AEL

Notas1 Ao conjunto de documentos de política e de dou-

trina naval, dá-se o nome de documentação estrutu-rante da estratégia da Marinha.

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 15

Figura 6 – Aplicação de monitorização da estratégia.

Figura 5 – Modelo de gestão estratégica da Marinha.

PERSPETIVAS DE GESTÃO

TEMAS E STRATÉGICOS

Missão Eficácia

Operacional Duplo Uso

Estrutural Otimização

Genético Equilíbrio

O modelo de gestão es-tratégica da Marinha con-templa três fases: formu-lação, operacionalização e controlo. A metodologia Balanced Scorecard é usa-da para traduzir, alinhar e comunicar a estratégia, en-volvendo as pessoas na sua materialização. O Enterpri-se Project Management e a aplicação de Monitoriza-ção e Controlo da Gestão Estratégica são ferramentas colaborativas que apoiam a gestão das iniciativas estra-tégicas e o controlo/revisão da estratégia.

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INTRODUÇÃO

No passado dia 10 de maio de 2012 comemorou-se o septuagésimo quinto aniversário do Creoula, e

o vigésimo quinto como Navio de Treino de Mar (NTM).

Para comemorar esta efeméride, o na-vio atracou no cais da Ma-rina do Parque das Na-ções, onde permaneceu no período de 6 a 14 de maio. Os festejos de aniversário revestiram-se de especial significado entre os dias 09 e 12 de maio com a presen-ça do Santa Maria Manuela, navio gémeo do Creoula, facto que já não acontecia há mais de três décadas, proporcionando uma exce-lente imagem e boa oportu-nidade para visitar ambos os navios.

O LUGRE CREOULAO Creoula, lugre de qua-

tro mastros construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF em Lisboa no tempo record de 62 dias úteis, foi lançado à água no dia 10 de maio do mesmo ano, tendo iniciado logo a sua primeira campanha na Faina Maior.

Ao longo da sua vida como bacalhoeiro, o Creoula fez-se ao mar todos os anos tendo efetuado 37 campanhas de pesca do bacalhau na Terra Nova até 1973. Percorreu mais de 300 000 milhas em 160 000 horas de navega-ção tendo capturado cerca de 30 000 toneladas de Ba-calhau.

Em 1979 o navio foi com-prado à Parceria Geral de Pescarias pela Secretaria de Estado das Pescas com a intenção de o converter em navio museu. Contudo, após algumas inspeções, verificou-se que o casco se encontrava em excelentes condições, tendo-se então optado por o manter a na-vegar.

Face à situação socio-eco-nómica e demais circunstâncias que o País atravessava na época, a Marinha Portugue-sa revelou-se como sendo a única entida-de com capacidade para receber e operar o navio, pelo que, em 1987, o Creoula pas-sou para a tutela do Ministério da Defesa Nacional, tendo recebido a classificação de Unidade Auxiliar da Marinha e, dentro desta, a de Navio de Treino de Mar.

AS NOVAS MISSÕES DO CREOULAAtualmente, a mais frequente missão

atribuída ao Creoula é a de “treino de mar”. Esta missão tem como objetivo principal proporcionar aos instruendos uma viagem em que se confere uma forte componente de marinharia e navegação.

A realidade, no entanto, é sempre bem mais abrangente. De facto, os jovens (e me-nos jovens) que se aventuram no Creoula têm, para além do treino de mar, a opor-tunidade de constatar in loco a importân-cia que o mar tem para Portugal, ao lhes ser mostrado e chamada a atenção para as inúmeras questões que nele interagem nas

mais variadas vertentes, tais como a am-biental, a social e económica ou a de segu-rança e defesa.

Por outro lado, quem embarca no Creou-la integra-se numa guarnição proposita-damente reduzida e aprende a realizar as várias rotinas necessárias para o bom funcionamento do navio; desde as tarefas ligadas à navegação, à preparação e con-

feção de refeições ou às inevitáveis limpe-zas diá rias, os instruendos participam em tudo. Estas tarefas decorrem ao longo das 24 horas de cada dia, exigindo uma enor-me cooperação e organização por parte de todos os intervenientes, emergindo um es-pírito de entreajuda inigualável.

A representação do Es-tado Português e o apoio à comunidade científica são outras missões que se têm vindo a realizar, de forma independente ou conci-liadas com a de treino de mar, constatando-se que o Creoula tem capacidades muito relevantes naqueles âmbitos, que importa tam-bém aproveitar. Por certo outras mais haverá, de que a cooperação-técnico mili-tar é só uma de entre tantas possibilidades…

Nos últimos 25 anos ao serviço de Portugal, pelo Creoula já passaram mais

de 15.500 cidadãos ao longo de mais de 100.000 milhas percorridas em 20.000 horas de navegação, uma escola de vida flutuante, deixando uma enorme saudade na hora da despedida. Assim, este navio passou a ser uma verdadeira “arma de instrução massi-va”, assumindo-se como elemento chave na ligação dos Portugueses com o mar.

AS COMEMORAÇÕES DOS 75 ANOS

Por tudo isto, as bodas de diamante foram celebradas através de uma série de ati-vidades com o navio atra-cado na Ponte Cais da Ma-rina do Parque das Nações. Assim, para além da tradi-cional abertura a visitas, o navio recebeu professores e escolas no âmbito do proje-to Ciên cia Viva do Pavilhão do Conhecimento, acolheu um espetáculo de varie-dades circenses com alu-nos do Chapitô, integrou o “Rally Paper” do “Kit do Mar” como checkpoint, en-tre outras.

No âmbito protocolar e de representa-ção, o Creoula ofereceu uma receção à As-sociação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações, à Associação Naútica da Marina do Parque das Nações e ao Clu-be ANA, entidades que apadrinharam as comemorações do aniversário do Navio. Recebeu-se também a visita da Confraria Marítima de Portugal.

16 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

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No dia 10 de maio, decorreu a bordo a ce-rimónia militar oficial dos 75 anos, que foi presidida pelo Contra-almirante Comandan-te da Flotilha em representação do Almiran-te Chefe do Estado-Maior da Armada, tendo sido descerrada uma placa alusiva à efeméri-de. Seguiu-se um almoço na Câmara de Ofi-ciais com os antigos comandantes do navio, presidido pelo Vice-almirante Vice-chefe do Estado-Maior da Armada.

Ainda no mesmo dia, realizou--se a bordo um pôr-do-sol com diversos convidados e amigos do navio. De salientar que este evento foi realizado numa parceria com a Comissão Vitivinícola da Regional da Península de Setúbal (CVRPS), no sentido de se promover e di-vulgar produtos portugueses e o que se faz de melhor em Portugal, tendo contado com a participação dos produtores Malo Tojo, Sivipa e José Maria da Fonseca. Aliás, es-tes produtores vinícolas da região de Setúbal aceitaram prontamen-te um desafio lançado pela Mari-nha Portuguesa, em que cada um produziu um tipo de vinho com o nome “CREOULA 75” alusivo ao aniversário. O resultado desta par-ceria foram 4 vinhos diferentes, sendo estes: Vinho Tinto 2010 e Vi-nho Tinto Reserva 2009 ambos da Malo Tojo, Vinho Branco da José Maria da Fonseca e Moscatel Roxo da Sivipa. A Casa de Santa Eufê-mia vai lançar em breve um Vinho do Porto com o mesmo intuito.

Contou-se também com a parce-ria com a prestigiada marca de sabonetes portugueses Ach Brito/Claus, a qual pro-duziu um sabonete com a imagem e logo-tipo dos 75 Anos do navio.

Durante este ano serão ainda lançados pelos CTT um selo1 e pela Imprensa Nacio-nal e Casa da Moeda uma medalha. A pres-tigiada Philae lançará um prato de porcela-na portuguesa. Por sua vez, a Quebramar manifestou a sua intenção de lançar uma coleção de Inverno alusiva ao Creoula e às suas epopeias.

Numa vertente de divulgação, o Turis-mo de Portugal trouxe ao Creoula os ato-res Jeremy Irons, Charlotte Rambling e Bruno Ganz, bem como o progra-ma Food Tripper. A RTP2 homena-geou o Creoula no seu programa So-ciedade Civil.

Estas parcerias de sucesso confirmam o potencial da diplomacia económica que pode ser desenvolvido através dos meios da Marinha, contribuindo assim para que as empresas nacionais e a imagem de Por-tugal prosperem.

Importa dar nota de reconhecimento e agradecimento do comando do Creoula pelo empenho e apoio do Contra-almirante Tavares de Almeida no desenvolvimento de todo o programa e contactos referentes às comemorações.

O REGRESSO À BASE NAVAL DE LISBOA

Aproveitando o inexorável regres-so ao nosso porto de abrigo, em 14 de maio embarca-ram meia centena de elementos da família e do Grupo Bensaude, que fo-ram os primeiros e únicos armadores do Creoula durante

50 anos, para realizar uma viagem de memória desde o Parque das Nações até à Base Naval de Lis-boa. Foi um momento de grande emoção. Gente do mar a testemu-nhar as suas vidas e a manifestar um imenso carinho pelo navio. Foi com grande satisfação e gosto que recebemos estes nossos amigos.

O FUTUROApós 75 anos sempre ao serviço

de Portugal, o Creoula continua a representar a ligação viva de um passado da maior importância his-tórica a um presente de serviço à cultura e à formação dos portu-gueses, na perpetuação de uma tradição marítima sem igual no mundo, proporcionando aos jo-vens o contacto com o mar e a ex-periência de vida a bordo de um navio. O Creoula vem cumprindo e bem, já há 25 anos, a missão de

mostrar o mar aos Portugueses; ou seja, o Creoula é hoje um vetor real, é o navio que “passa das palavras aos atos”, e, por isso, para sermos coerentes com o discurso, te-mos de dar continuação à sua existência dinamizando a sua utilização.

Colaboração do COMANDO DO NTM CREOULA

Notas1 A emissão do selo está prevista acontecer em

Agosto de 2012 e será complementada com a edição de um livro em 2013.

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 17

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Realizou-se no dia 14 de junho, no Clube Militar Naval, o lançamento do livro “É o Seu Navio!”, do Comandante D. Michael Abrashoff, ex-Comandante do USS Benfold .

Editado pelas OASIS/ENN, o livro, cujo título original é “It’s Your Ship”, foi traduzido pela Dra. Maria Luísa Dias Pereira e apresentado pelo VALM Alexandre da Fonseca, proprietário da ENN, e pelos CALM Rodri gues Cancela e Major-general Luís Sequeira.

Trata-se de uma obra em que o autor, Comandante Abra shoff, conta como conseguiu transformar, apenas num ano, o USS Benfold no melhor navio da Esquadra do Pacífico. Livro em que são eviden-ciadas as técnicas de management e os segredos da liderança que o tornam de leitura muito agradável e indispensável para os marinheiros.

A Revista da Armada recomenda vivamente a sua leitura.

É O SEU NAVIO!

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18 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Dia da Marinha na Madeira

O programa das comemorações do Dia da Marinha na Região Autóno-ma da Madeira (RAM) incluiu um

conjunto alargado de atividades realizadas entre os dias 7 de maio e 5 de junho.

Dentre as iniciativas levadas a efeito, destaca-se o embarque do Representante da República para a RAM, Juiz-conselhei-ro Ireneu Barreto, a bordo do NRP Schultz Xavier, e do Comandante Operacional da Madeira, MGEN Tiago Vasconcelos, a bor-do do NRP Cuanza, deslocações realizadas à Ilha Deserta Grande e às ilhas Selvagens respetivamente, no âmbito das missões de rendição dos vigilantes da natureza em ser-viço nessas Reservas Naturais.

Em 24 de maio teve lugar a bordo do NRP Cuanza a cerimónia de entrega de uma pla-ca de homenagem à Marinha pelo apoio prestado à preservação da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, tendo o Governo Re-gional da Madeira sido representado pelo Secretário Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Dr. Manuel António Correia, placa que viria a ser colocada em local de desta-que e descerrada na Ilha Selvagem Grande, no passado dia 4 de junho.

No dia 20 de maio, Dia da Marinha, realizou-se uma cerimónia de lançamen-to ao mar de uma coroa de flores no “Mar das Almas”, em homenagem aos homens e mulheres falecidos no mar, iniciativa que contou com a adesão de expressivo nú-mero de embarcações de recreio, pesca, marítimo-turísticas e outras, traduzindo um momento de particular proximidade com a comunidade marítima.

Nessa ocasião realça-se a presença de uma Força Naval alemã, TG 501.01, consti-tuída pelos navios FGS Hessen, FGS Emden e FGS Frankfurt am main, que se associou à cerimónia, lançando ao mar uma coroa de flores de uma das suas lanchas com a presença a bordo do Cônsul Honorário da Alemanha na Madeira, CTG 501.01 e co-mandantes, cujos navios embandeiraram em arco no Porto do Funchal.

Nesse mesmo dia, o NRP Cuanza deslo-cou-se ao Porto Santo, tendo acompanhado o cortejo de embarcações por ocasião da vi-sita das insígnias do Espírito Santo.

No fim de semana de 25/27 de maio rea-lizou-se um acampamento de escuteiros na Fortaleza do Pico, durante o qual foi cele-brada uma missa campal por S. Exa Reve-rendíssima o Bispo do Funchal, D. António Carrilho, por ocasião da cerimónia de pro-messas de novos escuteiros do CNE-Junta Regional da Madeira. Foram ainda reali-zados embarques de escuteiros a bordo de embarcações da autoridade marítima, uma apresentação sobre a Missão da Polí-cia Marítima na RAM e um atelier de arte de marinheiro.

No âmbito desportivo foram realizadas provas de canoagem, vela de cruzeiro, vela ligeira e pesca desportiva, organizadas por Associações e Clubes Náuticos, contando com cerca de centena e meia de partici-pantes, e organizados batismos de mar, embarques de jovens às Ilhas Desertas e no Porto Santo, incluindo visitas aos Fa-róis de S. Jorge, Ilhéu de Cima e Ponta de S. Lourenço.

No âmbito destas comemorações foi também assinado um protocolo relativo à utilização partilhada do Farol do Ilhéu de Cima no âmbito do projeto Life – Ilhéus do Porto Santo, com vista ao desenvolvimento de ações de educação e sensibilização am-biental e divulgação dos faróis.

No dia 2 de junho, o Comandante da Zona Marítima, Chefe do Departamento Marítimo, Capitão dos Portos do Funchal e Porto Santo, e Comandante Regional da Polícia Marítima, CMG Amaral Frazão, proferiu uma conferên-cia sobre a “Missão da Marinha/Autoridade Marítima Nacional na RAM”, iniciativa inte-grada nas comemorações do 60.º aniversário do Clube Naval do Funchal.

Terminada a celebração do Dia da Ma-rinha na RAM, são merecedoras de um es-pecial agradecimento todas as entidades, públicas e privadas, que se associaram às várias iniciativas levadas a efeito, proporcio-nando inúmeras oportunidades de contacto com a população e com o mar.

Colaboração do COMANDO DA ZONA M ARÍTIMA DA MADEIRA/DEPARTAMENTO

M ARÍTIMO DA MADEIRA/COMANDO REGIONAL DA POLÍCIA MARÍTIMA DA MADEIRA

ECOS DO DIA DA MARINHA

Dia da Marinha na Madeira

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 19

Dia da Marinha nos Açores

Concurso de radioamadorismo

O programa das comemorações do Dia da Marinha em São Miguel decorreu entre 19 e 22 de maio e incluiu diversas atividades que envolveram as comunidades locais, merecendo particular refe-

rência a colaboração prestada pelos Clubes Navais de Ponta Delgada, Rabo de Peixe, Vila Franca do Campo e Lagoa.

As atividades realizadas foram as seguintes:• Exposição temática de faróis no Salão Nobre do Clube Naval de

Ponta Delgada;• Prova de canoagem (25 participantes) em Rabo de Peixe;• Batismos de mar (39 participantes);• Batismos de mergulho (26 participantes);• Regata de vela ligeira (31 participantes);• Regata de vela de cruzeiro (6 veleiros e 2 catamarans);• Prova de jet-ski (22 participantes);• Competição de surf e bodyboard;As celebrações terminaram com uma

cerimónia de entrega de prémios no Salão Nobre do Clube Naval de Ponta Delgada.

As comemorações na Ilha de São Jorg e, concentraram-se no dia 20 de maio, com a realização de um “Pico de Honra”, a bordo do NRP João Coutinho, presidido pelo capitão do porto da Horta. Este even-to contou com a presença de 22 convidados.

Desde que há registo, esta foi a primeira vez que uma unidade naval em missão na Zona Marítima dos Açores esteve presente no porto das Velas para a celebração do Dia da Marinha.

O Navio esteve aberto a visitas durante todo o dia, tendo sido visitado por cerca de 40 pessoas.

Na ilha Terceira, no dia 19 de maio, realizou-se a 10ª Regata da Mari-nha ao largo de Angra do Heroísmo, com um percurso total de 12 milhas e que contou com regatas de vela de cruzeiro, “hobie cat” e vela ligeira.

No dia 22 de maio, no porto de Praia da Vitória, a bordo do NRP João Coutinho, foi realizada a cerimónia de entrega de prémios, a qual con-tou com a presença do comandante Vieira Branco, capitão de porto de Angra do Heroísmo e cerca de 20 velejadores da “Angra Iate Club”. O evento culminou com um pequeno beberete e uma visita guiada, pelo navio, a todos os participantes.

Em Angra do Heroísmo, a Capitania e a Polícia Marítima, deram a co-nhecer as diversas capacidades dos órgãos locais da Autoridade Maríti-ma, de uma forma adequada às idades dos 450 alunos envolvidos, das quatro escolas secundárias da cidade.

Na área do salvamento marítimo, foi apresentada a exposição estática de uma mota de água equipada para este tipo de missão, de um posto de praia e de uma balsa salva-vidas insuflada e foram também realiza-dos jogos lúdicos, palestras teórico-práticas de segurança nas praias e de uma demonstração de salvamento rea lizada por um formador do curso de nadador salvador.

Foram feitas apresentações de vídeos de divulgação da Marinha, um workshop e concurso de barcos de papel, uma exposição de armamen-to e equipamento utilizado pela Policia Maritima, um workshop de tra-balhos de arte de marinheiro, um jogo da batalha naval da Marinha e um jogo para descobrir tesouro escondido utilizando termos náuticos.

No domínio da sensibilização dos cidadãos para a atividade opera-cional dos órgãos da Autoridade Marítima, ao abrigo de uma actividade

de divulgação “Um dia na vida de um profissional”, foram convidados alunos da Escola Básica Integrada de Angra do Heroísmo e da Escola Secundária Jeróni-mo Emiliano de Andrade, os quais acom-panharam os profissionais da Capitania e do Comando Local da Polícia Marítima nas suas tarefas diárias, tendo participado numa visita ao porto comercial, na visto-ria a um navio de comércio, na visita ao

porto de pesca e à lota, na fiscalização a uma embarcação de pesca, na visita ao Farol das Contendas e no embarque numa das embarcações semirrígidas da Marinha.

Na ilha de Santa Maria, a Marinha proporcionou aos alunos da Uni-dade Especializada de Currículo Adaptado (UNECA) da Escola Básica Integrada, a participação numa visita à Capitania e numa sessão de sen-sibilização para as atividades que a Marinha desenvolve e ainda em ba-tismos de mar com o embarque nos meios da Capitania de Vila do Porto.

As diferentes iniciativas realizadas permitiram à população contactar e conhecer melhor as missões, as competências, os meios e as pessoas que servem a Marinha nos Açores.

Em termos de balanço das comemorações do Dia da Marinha nos Açores, pode afirmar-se que constituíram uma jornada de reforço do sentimento de utilidade pública da Marinha junto dos cidadãos e per-mitiram confirmar a forte ligação existente entre a Marinha e a comuni-dade açoriana, em especial os mais jovens, que participaram de forma entusiástica nos diversos eventos.

Colaboração do COMANDO DA ZONA MARÍTIMA DOS AÇORES

ECOS DO DIA DA MARINHA

Dia da Marinha nos Açores

Concurso de radioamadorismo

Uma vez mais o Núcleo de Radioamado-res da Armada (NRA) realizou, no âmbito das comemorações do Dia da Marinha,

o tradicional concurso de radioamadorismo, que ocorreu pela primeira vez em 8 de julho de 1977 e foi retomado em 2003 pelo NRA.

Desde então o Núcleo, com apoio da Co-missão Cultural, tem organizado e conduzido o Concurso através do qual o nome de Portu-gal, da Marinha e dos que a servem, tem sido levado além fronteiras.

Isso mesmo voltou a acontecer nos dias 12 e 13 de maio, a partir da sua Sede no Alfeite, onde uma equipa de membros do NRA, composta pelos radioamadores 1SAR FZ António Pereira - CT1EGH, SAJ ETC Joa-

quim Mela – CT1CLO, e SMOR CE An-tónio Gamito – CT1CZT, realizou o Con-curso operando a Estação CS5NRA nas modalidades CW, SSB e PSK.

Em condições melhoradas relativa-mente a anos anteriores, verificou-se uma con-siderável participação, não sendo ainda conhe-cidos os números finais, já que os contactos só são validados após receção dos correspondentes cartões de QSL, no entanto, de salientar a grande e efetiva presença de estações espanholas, espe-

cialmente da Galiza, as quais muito dinamizaram o evento.

Colaboração do NRA

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CNOCA no Dia da Marinha

20 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

O CNOCA como é habitual, associou-se às comemo-rações do Dia de Marinha

2012 com a organização de diversas atividades desportivas nas modalida-des de ténis, pesca submarina, golfe, voleibol, remo, vela ligeira, vela de cruzeiro, windsurf, que se realiza-ram entre os dias 10 e 20 de maio.

Decorreu desde 10 de maio o tor-neio de ténis do CNOCA. A classifi-cação final deste torneio irá definir o ranking dos jogadores e servirá como ponto de partida para o tor-neio de escada que se inicia em Junho.

No dia 12 de maio, com o apoio da Federação Portuguesa de Ativida-des Subaquáticas (FPAS), realizou-se o IV Troféu de Pesca Submarina do Dia da Marinha no formato de du-plas à barbatana. O local foi mais uma vez a Praia das Bicas – Meco, reunindo 26 praticantes da modali-dade. A prova teve a duração de 5 horas e foi brindada com um exem-plar de destaque, uma corvina com 6,195 kg – o maior exemplar. O ven-cedor foi a dupla João Guerreiro e Paulo Videira do CNOCA, seguido de Paulo Silva e Manuel Maia, do Clube de Vela de Lagos e de Miguel Ferreira e Pedro Domingues, do clu-be “Open Ocean”.

No dia 17 de maio, realizou-se no campo da Aroeira o XVI Torneio de Golfe “Dia da Marinha”, contando com a participação de 128 joga-dores. Os vencedores do dia foram José Delgado em “gross” e Nuno Maia em “net”, com 29 e 42 pontos respetivamente. Também houve lu-gar para os prémios especiais: José Pedro Jesus com a bola mais perto da bandeira, Tiago Almeida com a bola mais longa (homens) e Mila-gros Pascual com a bola mais longa na categoria de senhoras. Ao torneio seguiu-se o jantar de encerramento e entrega de prémios, na Messe de Cascais – Farol da Guia, presidido pelo VALM João Carvalho Abreu, em representação do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

A recriada secção de voleibol or-ganizou no dia 19, com o apoio do CEFA, o primeiro torneio de volei-bol feminino do CNOCA. A pro-va contou com a participação de 4 equipas: CNOCA, G.D. Instituto Nacional de Estatística, A.A.A. São João de Brito e A. D. Três Toques,

tendo a equipa do CNOCA obtido o 2º lugar, marcando assim a sua es-treia em competições nesta sua nova “vida”. Para além do sempre salutar espírito competitivo, realça-se o ex-celente ambiente de convívio e boa disposição, que se prolongou pela tarde, com as participantes e fami-liares e acompanhantes em interes-sadas visitas à exposição e aos na-vios patentes na BNL, tendo ainda realizado batismos de mar.

Com o apoio essencial e determi-nante da ANL-Remo, voltou o CNO-CA a organizar uma competição de remo por ocasião do Dia da Mari-nha. Participaram 145 atletas, distri-buídos por 29 barcos e diversas cate-gorias, que cumpriram 6 provas em Yole 4+, Yoleta 4X+ e Yole 8+. De re-gistar as saudações e os elogios dos clubes presentes pela reativação da secção de Remo do CNOCA, bem como pelo nível dos atletas, que apesar do pouco tempo decorrido e treino, já começam a dar mostras do seu valor.

No fim-de-semana de 19 e 20 de maio cumpriram-se as tradicionais regatas de vela ligeira no Mar da Pa-lha. Estiveram no Alfeite mais de 50 velejadores distribuídos por diversas classes, sendo mais uma vez a classe Snipe a predominante, mas contan-do também com uma representação bastante considerável de atletas na prova de windsurf. As regatas de cru-zeiro realizaram-se no dia 20, tam-bém com o apoio da ANL, secção de vela, tendo contado com a presença 45 embarcações em prova. A largada em Belém e o percurso a rondar a bóia cardeal do Alfeite, permitiu que os veleiros passassem junto de Alma-da, em Cacilhas, ao largo do local onde decorria a cerimónia militar e a demonstração naval. Pelo CNOCA participaram diversas embarcações propriedade de sócios, assim como os veleiros da Escola Naval Bellatrix e Catau de Espia, estes tripulados por sócios e cadetes, demonstrando a vitalidade e validade do projeto de equipa de vela de cruzeiro.

Nos dias 19 e 20 respetivamen-te no Alfeite e em Cacilhas, com a colaboração do Clube Náutico de Almada, o CNOCA realizou ainda batismos de mar nos veleiros Sabik, Altair II e Stratus.

Colaboração do CNOCA

ECOS DO DIA DA MARINHA

CNOCA no Dia da Marinha

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 21

O ALM CEMA entrega ao Dr. Paulo Santos o prémio “Almirante Pereira Crespo”.O ALM CEMA entrega o prémio “Comandante Joaquim Costa” ao CFR Sardinha Monteiro.

PRÉMIOS

Dentro das solenidades do Dia da Marinha, decorreu no pas sado dia 26 de junho, no Salão do Gabinete do Almirante CEMA, a ce rimónia de entrega dos prémios da Revista da A rmada

refe rentes ao ano de 2011.O Almirante CEMA, ALM Saldanha Lopes, acompanhado dos ele-

mentos do seu Gabinete, do Diretor da Comissão Cultural da Mari-nha, do Sub-Chefe do Estado-Maior da Armada, do Diretor e Corpo Redatorial da R.A. e colaboradores, procedeu à entrega do prémio “Comandante Joaquim Costa”, destinado ao me lhor trabalho publi-cado na R.A. no ano de 2011, ao CFR Luís Nuno da Cunha Sardinha Monteiro, pelo artigo “Sir Julian Stafford Corbett, a caneta por detrás da Royal Navy”, publicado no número 454.

Seguidamente, o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Almiran te Pereira Crespo”, destinado à melhor colaboração da R.A. no ano de 2011, com que foi contemplado o Dr. Paulo Santos, pelos artigos “O Forçamento do Tejo em 1831 na Iconografia Marítima Francesa” e “O Famoso ‘Botão de Âncora’ da Marinha Portuguesa”, publicados respetivamente nos números 452, 457 e 458.

De seguida, o Almirante CEMA, após uma breve referência à ação da Revista da Armada no último ano, enalteceu os laureados reco-nhecendo o valor dos trabalhos premiados, que contribuíram para a difusão cultural da Marinha e valorização da Revista da Armada.

Após a cerimónia o Almirante CEMA ofereceu um almoço aos pre-miados, tendo estado presentes o Diretor e o Chefe de Redação da R.A.

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itoTeve lugar no passado dia 6 de junho, na Sala

D. Luís I, no Museu de Marinha, a cerimónia de inauguração da XII Exposição de A rtes

Plásticas O Mar e Motivos Marítimos, presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

Abrangendo as modalidades de pintura, escultura e modelismo, com esta exposição bienal a Academia de Marinha prossegue o seu propósito de estudar e divulgar a história marítima, as artes, letras e ciências relacionadas com o mar.

Estas atividades artísticas constituem componen-tes importantes da nossa rica cultura marítima, pelo que a sua divulgação contribui também para o esfor-ço que sentimos estar agora a ser feito na sociedade portuguesa de renovação da imagem do mar, um tanto esquecido nas últimas décadas. A XII Bienal de Arte da Academia de Marinha é mais um contribu-to para a afirmação da cultura marítima portuguesa, enquanto promotora da tão necessária nova imagem do mar, através da visão perspicaz e inteligente com que os artistas perscrutam os horizontes marinhos.

Esta Bienal de Arte contou com a participação de 92 artistas, apresentando um total de 141 obras nas três modalidades de expressão plástica.

Sobre a sua valia artística pronunciou-se o quali-ficado Júri, que atribuiu o prémio Comandante Raul

de Sousa Machado à obra “Estaleiro”, de Victor Ri-beiro, pintura que expressa o rigor de um casco de embarcação de vela em construção. Ainda na Pintura, foram distinguidas com menções honro-sas as obras “Guincho-Cascais”, de Isabel Zamith, e “Boneca”, de Mariana Filippe, de onde sobres-saem apuradas sensibilidades interpretáveis da zona de concordância mar-terra e de uma tradi-cional embarcação de vela, tentando navegar em calmaria absoluta.

O prémio Maufroy de Seixas, para modelismo, foi atribuído ex aequo aos modelos “Muleta de Pesca” e “Jacinto Cândido”, respetivamente de Nelson Anjos e Rui Figueiredo. Foram ainda atribuídas menções honrosas aos modelos “Dori na Faina” e “Base Naval Imaginária”, de Mário Figueiredo e João Cancela, respetivamente.

Também na escultura os motivos marítimos es-tão bem vivos nas ondas, nos seres marinhos, nas correntes e até na casca de noz, armada com gu-rupés a descer ondas gigantes.

A XII Exposição de Artes Plásticas contou – tal como nas anteriores edições – com a grata colabo-ração da Empresa Tintas Hempel de Portugal, e da Lusitânia, Companhia de Seguros.

XII Exposição 2012 “O Mar e Motivos Marítimos”XII Exposição 2012 “O Mar e Motivos Marítimos”ACADEMIA DE MARINHA

ECOS DO DIA DA MARINHA

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“A Resiliência e a Perenidade no Ensino Superior Militar”

Conferência

22 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

No passado dia 20 de abril, realizou-se na Escola Naval a conferência intitula-da “Resiliência e Perenidade no Ensino

Superior Militar”, tendo a sessão de abertura sido presidida por Sua Excelência, o Secretá-rio de Estado do Ensino Superior, Dr. João Fi-lipe Queiró, contando com a presença do Chefe do Estado--Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes.

A conferência teve como objetivo iniciar uma reflexão abrangente da atual situação do Ensino Superior Militar, de forma a perspetivar o futuro, assegurando que a Escola Na-val se mantem alerta, dotada da necessária agilidade e com a capacidade de adaptação que lhe permitirá estar alinha-da com os desafios presentes e futuros e, assim, ser também a Instituição do Ensino Superior Universitário para o desejado reforço do papel de Portugal no Mar.

Para garantir a qualidade e sucesso da confe-rência foi convidado um painel de conferencis-tas, formado por docentes do Ensino Superior Universitário, militares e civis e outras indivi-dualidades de reconhecido mérito na matéria, possibilitando à audiência ficar a conhecer os diferentes pontos de vista de uma temática de-veras complexa, e atual.

Entre a audiência, estiveram presentes diversas personalidades e representantes de entidades nacionais do ensino superior, civis e militares, amplamente conhecedoras dos desafios que o ensino superior militar tem vindo a enfrentar, e dos que o futuro lhe poderá reservar, assegurando, desta forma, que os períodos destinados a debate, no fim das intervenções dos oradores dos diversos painéis, se tornassem ricos, diversificados e pertinentes.

A sessão de abertura teve como orador o Comandante da Escola Naval, CALM Seabra de Melo, que realçou o facto da Escola Naval ser a única entidade do país que forma oficiais da Armada, que o faz com qualidade desde há 230 anos a esta parte, no entanto, este legado do passado não é garante suficiente para um futuro consentâneo, sendo esta uma das razões da realização da confe-rência, face aos tempos de incerteza e da tão falada reforma do ensino superior militar. Mais afirmou o CALM Seabra de Melo que ao trazer este assunto a terreiro não quis a Escola Naval chamar a exclusividade da discussão, dada a

transversalidade do tema às outras academias militares, mas sim ser o catalisador desta abor-dagem temática, quiçá a primeira de muitas outras reflexões e encontros. Concluiu, real-çando que as instituições, por mais sólidos que sejam os pilares em que assentam a sua orga-

nização, devem procurar adaptar-se às novas realidades por forma a resistirem aos desafios que vão enfrentar no futuro e aproveitar para se transformarem em conformidade. Terminou realçando que se pretende com a realização da conferência, “…uma reflexão que permita contribuir para dotar a Escola Naval da neces-sária Resiliência para reforçar a desejada Pe-renidade…“

Finda a sessão de abertura, seguiu-se de

imediato o primeiro painel. A título explicati-vo, refere-se que a conferência foi organizada de modo a contemplar dois painéis, o primei-ro designado por “Passado e presente do Ensi-no Superior Militar em termos de Resiliência e Perenidade”, que se subdividiu em dois mó-dulos: “Perspetivas Conceptual e Histórica” e “Ensino Superior Militar”. O segundo pai-nel designado por “Futuro do Ensino Superior Militar” foi igualmente subdividido em dois

módulos: “Qualidade, Certificação e Acredi-tação” e “Modelos possíveis e futuro expetá-vel/desejado”.

O primeiro painel, no módulo “Perspeti-vas Conceptual e Histórica” teve como mo-derador o Tenente-general Paiva Monteiro e

contou com duas comunica-ções: “Perspetiva concetual de Resiliência Organizacional - principais elementos e como melhorar a Resiliência Organi-zacional”, proferida pelo Prof. Doutor Cruz Machado da Uni-versidade Nova de Lisboa, e “Perspetiva Histórica da Resili-ência Organizacional – exem-plos de Resiliência das Orga-nizações militares e fatores distintivos”, proclamada pelo Prof. Dr. José Pacheco Pereira.

Na intervenção do Prof. Doutor Cruz Machado, foi re-ferido que no atual ambiente

de crise (social, de valores etc.) as organizações são alvos fáceis e frequentes das novas adver-sidades. Para garantir a sua sobrevivência, as organizações devem assentar em três pilares fundamentais – Estratégia, Recursos e Estrutu-ra de Controlo de forma a aumentar a compe-titividade, acompanhada de uma diminuição do desperdício – atividades que não acrescen-tam valor. Apontou que as organizações para reagir à crise devem apostar numa resiliência

individual alta (nas caraterísticas das pesso-as) que conduz a uma resiliência organiza-cional elevada. O Professor Cruz Machado concluiu fazendo menção aos cinco princí-pios de uma organização resiliente: Cultura e Ambiente de trabalho, Pessoas, Conheci-mento, Risco e Liderança.

O Dr. José Pacheco Pereira, na sua in-tervenção, evocou alguns factos históricos reveladores da característica resiliente de determinadas organizações políticas e mili-tares, mostrando preocupação, face ao atua l contexto social, pelo futuro do “militar” e não tanto pelo “Ensino Superior Militar” – O Ensino Superior Militar vale por se dife-

renciar na sua identidade militar.Ainda no primeiro painel, no módulo “O

Ensino Superior Militar”, foram proferidas três comunicações: a “Situação atual da Acade-mia Militar”, realizada pelo Coronel Vieira Borges da Academia Militar; a “Situação atual da Academia da Força Aérea”, proferida pelo Coronel Lourenço da Saúde da Academia da Força Aérea; e por fim a “Situação atual da Escola Naval”, pelo CMG Custódio Lopes da

“A Resiliência e a Perenidade no Ensino Superior Militar”

ESCOLA NAVAL

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Júlio

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 23

Escola Naval. Foi moderador o Tenente-gene-ral Mimoso e Carvalho, Diretor do Instituto de Estudos Superiores Militares.

Nestas intervenções foram apresentadas as situações atuais das academias militares, um pouco da história de cada uma, alguns dos projetos futuros e a forma como têm procura-do adaptar-se às novas realidades.

No período de debate, salienta-se a inter-venção do CALM Gameiro Marques, que questionou o painel sobre quais as ações de colaboração e cooperação que as academias militares têm tido entre si, sem que haja perdas de identidade, com o objetivo da harmoniza-ção e adaptação ao presente e futuro, atentas as alterações impostas pelo processo de Bolonha e o contexto atual de restrições financeiras e de redução de custos. Todos os elementos do painel responderam que têm sido dados passos no sentido de uma maior colabora-ção e cooperação entre os estabelecimen-tos militares de ensino superior universitá-rio, relevando-se o Estatuto comum, cuja proposta de decreto-lei foi elaborada em conjunto, e os Regulamentos dos respeti-vos estabelecimentos de ensino superior militar, que foram elaborados em sede do Conselho do Ensino Superior Militar, com o mesmo fio condutor.

O segundo painel foi também subdivi-dido em dois módulos, intitulados “Quali-dade, Certificação e Acreditação” e “Modelos possíveis e futuro expetável/desejado”

O módulo “Qualidade, Certificação e Acre-ditação” contou com duas apresentações: “Qualidade e Certificação no Ensino Supe-rior Militar como caminho para aumentar a Resiliência e reforçar a Perenidade”, proferi-da pelo Prof. Doutor Jesus Carrasqueira; e “A acreditação do Ensino Superior – requisitos fundamentais para o Ensino Superior que se perspetiva”, pelo Prof. Doutor Alberto Ama-ral, Presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.

O moderador destas apre-sentações foi o CMG Mónica de Oliveira, da Secretaria de Estado do Mar.

O Prof. Doutor Jesus Car-rasqueira na sua apresenta-ção real çou os benefícios e por outro lado também obri-gações, na implementação de um sistema de gestão da qua-lidade nas Instituições de En-sino Superior, de modo a re-forçar a resiliência e aumentar a perenidade.

O Prof. Doutor Alberto Amaral fez referência ao enquadramento legal que sustenta a Agên-cia de Avaliação e Acreditação do Ensino Su-perior e também da estratégia de implementa-ção da atividade da agência, tendo em conta as recentes alterações decorrentes do Proces-so de Bolonha. Abordou ainda a temática dos padrões de acreditação e o futuro próximo ex-petável. No período de debate foram coloca-das várias questões acerca da forma como as

instituições de ensino superior universitário se devem adaptar para cumprir com os requisi-tos impostos, nomeadamente em termos dos quantitativos dos respetivos corpos docentes, em mestres e doutorados. Foram referenciados pelo Prof. Doutor Alberto Amaral algumas si-tuações negativas de instituições de ensino su-perior que entretanto têm vindo a ser sujeitas a avaliação pela agência a que preside.

No segundo painel no módulo “Modelos possíveis e futuro expetável/desejado”, foram apresentadas as seguintes comunicações: “O Ensino Superior Militar – Evolução no atual contexto de mudança”, proferida pelo CMG Rapaz Lérias, Assessor do Gabinete do Vice Chefe do Estado-Maior da Armada; e “Gestão

Prospetiva aplicada ao Ensino Superior Mili-tar – desde o Ensino Superior em geral, até ao Ensino Superior Militar Naval, o que podemos esperar”, pelo Prof. Doutor Cruz Serra, Reitor da Universidade Técnica de Lisboa.

O moderador do debate destas duas inter-venções foi o CALM Gameiro Marques, Supe-rintendente dos Serviços de Tecnologias da Informação.

Na sua intervenção, o Eng. Rapaz Lérias começou por fazer uma caraterização do

Ensino Superior Militar e o atual momento de mudança, sob a perspetiva dos temas da segurança internacional, tipologia dos novos conflitos e a inserção de Portugal na Europa e no mundo. Relacionou o seu tema com a situação atual dos recursos humanos na Ma-rinha em particular, e nas Forças Armadas em geral, e com as tendências futuras do empre-go, edificação e sustentação das Forças Ar-madas. Referiu que toda a atual conjuntura e

tendências futuras irão implicar consequên-cias no Ensino Superior Militar, quer ao ní-vel da formação inicial – menor expressão da formação em ciências formais e naturais e manutenção da formação de natureza mi-litar, quer ao nível da formação complemen-tar, onde se espera a generalização do ensino à distância, o aprofundamento das ciências formais e naturais – investigação científica, o aprofundamento da formação científica das ciências militares e o aperfeiçoamento da formação técnica de natureza politécnica e profissionalizante.

O Prof. Doutor Cruz Serra começou por salientar o atual estado deficitário de finan-ciamento e restrições orçamentais do ensino

superior, tornando extremamente difícil a missão das universidades e pondo em causa a própria sobrevivência do ensino superior. Paralelamente, o ensino superior nacional enfrenta o desafio da internacio-nalização e da competitividade, em perío-do pós Processo de Bolonha. Mais afirmou que as lideranças universitárias nacionais devem assumir e liderar a mudança, num esforço de reorganização assente na pro-moção da adoção de modelos de gestão e financiamento que garantam a sustentabi-lidade das diferentes Instituições de Ensino Superior, baseados numa otimização dos recursos disponíveis, numa maior opera-

cionalidade dos serviços e numa maior capa-cidade de rentabilização das valências exis-tentes. Concluiu, referindo que a organização do Ensino Superior Militar deve acompanhar e manter a sua integração com o sistema do ensino superior nacional, e que o assunto, pela sua importância, deveria ser pensado em ambiente multicultural e multidisciplinar.

No período de debate, foi colocada uma questão pelo VALM Macieira Fragoso, acer-ca de um possível modelo a adotar no futu-

ro dos estabelecimentos de ensino superior militar, ao que o Prof. Doutor Cruz Ser-ra opinou que há diversos tipos de modelos conheci-dos a nível europeu e que deve ser analisado e avalia-do o que melhor se adequa à rea lidade e contexto do país, dando como exemplo o de integração das acade-mias militares em universi-dades de reconhecido pres-tígio no panorama nacional, casos da Espanha e da Itália.

A sessão de encerramen-to da conferência “Resiliên-

cia e Perenidade no Ensino Superior Militar”, foi presidida pelo VALM Vice-chefe do Estado--Maior da Armada, na qual o VALM Sabino Guerreiro, presidente do Conselho do Ensino Superior Militar apresentou as conclusões da conferência, onde abordou alguns aspetos acerca da atividade atual e objetivos futuros do Conselho do Ensino Superior Militar.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

Foto

Júlio

Tito

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24 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (32)

A jornada de Alcácer QuibirA jornada de Alcácer QuibirNo ano de 1574, D. Sebastião fez a sua

primeira incursão no território afri-cano. Esteve por lá pouco tempo e

acabou por regressar ao reino, acedendo à insistência de quase todos os conselheiros e outras figuras gradas, sabendo, talvez, que não tinha condições para continuar a campa-nha que voluntariosamente tinha encetado. Reembarcou em Tânger a 25 de Outubro e, a 2 de Novembro, entrava na barra de Lisboa, jantando em Xabregas com a sua avó Dª Ca-tarina (Marinha de D. Sebastião (25)). Diz-nos um testemunho coevo que voltou contrariado e com vontade de regressar a África tão breve quanto lhe fosse possível.

Diz-se que o assaltava um fervor re-ligioso incontrolável, capaz de o impul-sionar a insensatas acções, que acabaram por levar à perda do reino na sequência da fatídica batalha de Alcácer Quibir. En-tendo eu que é uma justificação recorren-te e redutora. Muitos chefes militares fo-ram ardentes cristãos e não deixaram de tomar decisões acertadas, guiadas pela ponderação e prudência. É certo que foi uma figura perturbada, como tive oca-sião de dizer anteriormente, mas não dei-xou de conviver com um mundo que era o seu, na qualidade de governante atento a pormenores da política europeia e pe-ninsular, com projectos próprios e uma estratégia para alcançar os seus objecti-vos. Ninguém é apenas um obcecado ou visionário a agir por impulsos de ir-racionalidade descontrolada, ao longo de uma vida inteira. E aceitar estas justi-ficações simplistas é negar a essência da História, onde os personagens são sobre-tudo humanos, cujo verdadeiro carácter é preciso discernir.

Há alguns meses atrás, na Marinha de D. Sebastião (23), falava eu de um projecto a tlântico português, prometendo voltar a ele mais tarde. Na verdade, tratou-se de recentrar o Império no Oceano Ocidental, com pólos no Brasil, em Angola, nas ilhas do Golfo da Guiné e, naturalmente, em Lisboa. A empre-sa de Paulo Dias de Novais é um episódio dessa nova política, que passava por uma re-novação moral ou por um retorno a valores enfraquecidos, entendidos como a fonte de uma prosperidade antiga a esfumar-se. É cla-ro o esforço para o desenvolvimento do Bra-sil, e a necessidade de o complementar com a consolidação da presença na costa angola-na, percebendo-se uma tentativa de criar um sistema económico assente no Atlântico. Mas esse sistema exigia um domínio claro das vias marítimas, nomeadamente dos acessos a Lis-boa, ao Mediterrâneo e ao Norte da Europa. É nesta perspectiva que crescem as preocu-pações com a Berbéria, nomeadamente com

o controlo dos portos do nordeste africano, e com a navegação e o corso islâmico fora do Estreito de Gibraltar.

Em 1574 morreu Mulei Abd Allah, sul-tão de Marrocos, conhecido pela sua política de resistência ao avanço e à influência turca que crescera no Mediterrâneo. Era um ami-go dos cristãos – dizia-se. Devia suceder-lhe o filho, Mulei Mohamet (Mohammed el--Motawakkil), mas os seus tios afastaram-no e obrigaram-no a refugiar-se em Espanha. Quem tomou o poder foi Abd el-Malik (Mu-lei Maluco nos textos portugueses), cujas sim-

patias com os turcos eram conhecidas, tanto mais que servira sob as ordens de Istambul. Temos notícia ainda que, por essa altura, cres-ce a presença dos navios islâmicos no sul de Portugal e na costa andaluza, com sobressal-tos para a navegação portuguesa. Em concre-to sabemos que, em 1575, foram apresadas três embarcações berberes no Algarve e, em 1576, o próprio D. Sebastião fez-se à vela, em direcção ao sul, para dar combate a uma fro-ta de 13 galés turcas, supostamente avistadas por perto de Sagres.

Nesse mesmo ano, o rei envia um embaixa-dor a Castela com a proposta de um encontro pessoal com o seu tio, Felipe II. Pretendia dis-cutir duas questões que o próprio reputava de muito importantes e de interesse nacional: o seu casamento com a infanta Isabel Clara Eu-génia, filha primogénita do rei vizinho; e a preparação de uma expedição contra o Norte de África, de que a conquista de Larache seria objectivo determinante. Partiu de Lisboa no

dia 2 de Dezembro de 1576, para se encontrar com o tio no dia 23, por perto do Mosteiro de Guadalupe, na Estremadura Castelhana. Dos projectos que o jovem soberano português ti-nha, Felipe mostrou-se muito satisfeito, con-siderando-os da maior importância, mas não dizendo que sim (ou que não) a nenhum de-les: agradou-lhe a ideia do casamento, mas diferiu a decisão e o anúncio para mais tarde, com múltiplos argumentos; e sobre a guerra, elogiou o espírito voluntarioso do sobrinho, mas não lhe pareceu que a mesma tivesse a urgência que a sua argumentação expressava.

Eram as posturas de dois monarcas mui-to diferentes na experiência governativa, na astúcia diplomática e na ponderação política. E desta diferença se percebem as dificuldades de D. Sebastião enquan-to governante: os seus argumentos eram porventura justos e correspondiam a um projecto louvável, e até coerente, mas li-dava mal com a marcha do tempo políti-co, sem capacidade para esperar ou para intuir o momento certo de cada acção.

Em Julho de 1577, o alcaide de Arzila entrega a cidade aos portugueses, e em Dezembro é o próprio Mulei Mohamet, o sultão deposto, que lhe oferece vassala-gem em troca de uma campanha militar que o volte a colocar no poder. A mente do rei português ardia como pólvora e enviou uma embaixada a Castela para obter a ajuda de que falara em Guadalu-pe. Felipe deixara no ar a hipótese de lhe dar 50 galés de combate e 5000 infantes, mas agora resistia com pretextos diver-sos e adiava qualquer decisão, sem que o impaciente D. Sebastião compreendesse o que se passava. Ingenuamente achava que a culpa da demora era da inépcia do

embaixador e exaltava-se. O tio acabou por mandar dizer-lhe que precisava desses meios para a defesa dos seus portos de Itália, e não podia ajudá-lo. Aconselhou-o a que não fosse e que entregasse a empresa a um chefe militar experiente, mas D. Sebastião não ouviu nada disso. Não ouviu nem compreendeu o que lhe diziam, porque a força da sua argumentação assentava num desejo muito forte que punha as conclusões antes das razões, como sempre acontece nestas circunstâncias. Os dados esta-vam lançados e, como em qualquer tragédia clássica, o herói caminhava inexoravelmente para o abismo e o sacrifício, mau grado os avi-sos frementes do coro. Alcácer Quibir estava à vista e não havia nada a fazer. Mas disso da-remos notícia no próximo número.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

Felipe II.Sofonisba Anguissola – Museu do Prado.

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Timor 1973 / 75 Recordações de um Marinheiro

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 25

No passado dia 22 de Maio, na Aca-demia de Marinha, o CALM Leiria Pinto proferiu uma palestra que teve

o título em epígrafe e da qual se transcreve o seguinte:

“Cheguei a Timor em 1 de Outubro de 1973 com o posto de capitão-tenente para exercer os cargos de Comandante da Defesa Marítima e de Chefe da Repartição Provincial dos Serviços de Marinha, tendo, por inerên-cia, as presidências da Comissão Administra-tiva dos Serviços de Transportes Marítimos (STM) e da Junta Autóno-ma do Porto de Díli. Inte-grados na Defesa Marítima encontravam-se a lancha Tibar (ex-NRP Albufeira) e a Estação Radionaval de Díli. Aos STM estavam atribuí-das as barcaças Comoro e Lois, de características se-melhantes às lanchas de desembarque médias.

Timor vivia num am-biente totalmente calmo e rotineiro tendo nos últi-mos anos sido dotado de algumas infra-estruturas importantes.

Era ainda viva a recorda-ção do Arbiru, navio mercante pertencente aos STM, naufragado recentemente em águas indonésias. Fui então encarregado de estu-dar o tipo de embarcação apropriada para substituir o Arbiru e proceder à sua aquisição.

DO 25 DE ABRIL DE 1974 AOS PRIMEIROS DIAS DE AGOSTO DE 1975

Nas primeiras horas não se teve qualquer noção do que realmente sucedera em 25 de Abril, no entanto, fui a primeira autoridade militar ou civil de Timor a tomar conhecimen-to oficial da situação, já que na madrugada de 25 para 26 de Abril recebi uma mensagem nes-se sentido, directamente do Gabinete do Al-mirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

Em Maio, foram criadas: a União Demo-crata Timorense (UDT), que propunha uma autonomia, mas mantendo fortes ligações com Portugal; a Associação Social Democra-ta Timorense (ASDT), que advogava uma autonomia progressiva com vista a futura in-dependência, e a Associação Popular Demo-crática Timorense (APODETI), que defendia pura e simplesmente a integração de Timor na Indonésia.

Em inícios de Março de 1974 parti para Macau onde foi concretizada a compra de um rebocador, o Lifau. Com uma guarnição

dos Serviços de Marinha de Timor larguei de Macau em meados de Junho e após uma navegação essencialmente estimada e as-tronómica, em que percorri 2.300 milhas, demandei o porto de Díli a 31 desse mês.

Devido a problemas nos Serviços de Trans-portes Aéreos de Timor, que tinham entrado em greve, fui então nomeado, em acumula-ção, Director desses Serviços, cargo que de-sempenhei até Outubro.

No meio militar e civil sucederam-se mu-danças nas chefias tendo em 15 de Julho

o Governador, Coronel Alves Aldeia, sido substituído pelo Tenente-coronel Níveo Herdade que ficou como Encarregado do Governo.

Entretanto, a situação deteriorava-se, para o que muito contribuiu a chegada, em Se-tembro, de estudantes timorenses que em Lisboa frequentavam a universidade e que provocaram a radicalização esquerdista da ASDT, que passou a denominar-se Fren-te Revolucionária de Timor Leste Indepen-dente (FRETILIN). Em Outubro, a vinda de uma Companhia de Polícia Militar constituiu igualmente um enorme foco de instabilidade.

Apenas em Novembro chegou o novo Go-vernador, Coronel Lemos Pires, após o Encar-regado do Governo ter recusado repetidos convites para assumir aquele cargo.

Com o novo ano aumentou a agitação nos meios civis e militares, multiplicando-se inci-dentes de crescente gravidade que não foram devidamente reprimidos. Em 7 de Abril veio um destacamento de paraquedistas, militares disciplinados e operacionais que mais tarde teriam um papel decisivo e altamente me-ritório perante o completo desmoronar do Exército em Timor.

Em fins de Abril, larguei no Lifau para Macau a fim de trazer para Díli a nova bar-caça destinada aos STM, a Laleia, embarca-ção do tipo lancha de desembarque grande.

A estadia em Macau teve que ser encur-tada já que a instabilidade em Timor tinha atingido níveis preocupantes devido a con-frontos partidários perante um Governo que, receando ser acusado de parcialidade, não tomava medidas com vista a reprimir os in-fractores e repor a ordem.

Com um mínimo aceitável de condições de segurança e treino das guarnições, o Li-fau rebocando a Laleia, que transportava no seu poço a Laga, uma pequena lancha para os p ilotos do porto de Díli, largou de Macau

em 27 de Julho e depois de uma viagem sem escalas chegou a Díli a 6 de Agosto.

DE 11 A 26 DE AGOSTO - OS ÚLTIMOS DIAS EM DÍLI

São apresentados segui-damente relatos diários dos acontecimentos que ocorre-ram durante este período.

Dia 11A UDT assumiu o con-

trolo dos pontos vitais de Díli: Aeroporto, Por-to, Emissora Oficial de

Radiodifusão, Central Telefónica, Rádio Marconi, Central Eléctrica e Reservatório da Água, impondo, simultaneamente, uma greve do funcionalismo público. A partir desta data a Radionaval de Díli passou a ser a única “Voz de Timor” para o exterior.

No porto, além da Tibar e das quatro em-barcações dos STM: Lifau; Laleia; Comoro e Lois (que estava inoperativa, em fabricos), encontravam-se fundeados os navios mer-cantes Mac-Díli, na sua primeira viagem da carreira Macau-Díli e o Musi, na habitual es-cala mensal, vindo de Singapura.

Na tarde desse dia o Governador determi-nou-me que solicitasse ao Governo de Macau o fretamento do Mac-Díli a fim de evacuar os familiares dos militares metropolitanos. Apesar de me ter frontalmente oposto a esta ordem, na medida em que iria provocar o pânico e um sentimento de insegurança na população, a mesma manteve-se e foi pron-tamente cumprida.

A partir desta data enviei diariamente uma mensagem ao Almirante CEMA infor-mando-o da situação e simultaneamente rea lizei uma reunião de esclarecimento com o pessoal.

Dia 12O Mac-Díli largou com destino a Darwin

transportando 272 pessoas, a maioria famílias

Vista do porto de Díli.

Timor 1973 / 75 Recordações de um Marinheiro

ACADEMIA DE MARINHA

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de militares. Da Marinha apenas ficaram em Díli a família do Comandante da Defesa Ma-rítima, coerente com a sua discordância em avançar com evacuações, de um sargento e de dois marinheiros, uma das quais timorense.

Dia 13Por decisão da UDT, o Governo reassumiu

o controlo do porto de Díli e da Estação de Radiodifusão, mas foi-lhe negado a utilização do Aeroporto e da Rádio Marconi.

Dia 14Os dois helicópteros da Força Aérea foram

retirados do Aeroporto, por uma firme e des-temida iniciativa dos paraquedistas que che-garam a ameaçar elementos da UDT se fos-sem impedidos de movimentar os aparelhos.

Dia 15O Musi atracou e iniciou a

descarga após várias diligên-cias para se conseguirem esti-vadores. A Radionaval iniciou escuta à estação australiana de Darwin.

Dia 16A zona portuária, a única

“porta de saída” de Díli não controlada totalmente pela UDT, foi considerada zona neutra tendo sido destacada uma força de paraquedistas para a sua defesa. A partir desta data os únicos milita-res que ficaram isolados e em autodefesa foram os marinheiros em serviço na Radionaval.

Entretanto, tinha começado a evacuação de militares metropolitanos do interior, o que levou a que as unidades militares ficassem desenquadradas e na sua grande maioria entregues a sargentos timorenses.

Dia 17Por se comemorar o Dia Nacional da In-

donésia, fui ao consulado apresentar cum-primentos. Na ocasião o cônsul mostrou-se muito preocupado com a evolução da situ-ação política e reiterou a posição oficial do seu Governo – A Indonésia não tinha quais-quer ambições territoriais, mas Timor não poderia jamais constituir uma ameaça à sua segurança.

Comunicou-me também que do seu país viria um avião para evacuar a família e parte do pessoal consular e que punha à disposição lugares para que a minha família pudesse ser igualmente retirada de Timor e colocada em segurança. Agradeci-lhe a oferta mas obvia-mente recusei-a.

Dia 18A situação tornou-se irreversível. Teve-se conhecimento que a FRETILIN as-

sumira na véspera o controlo do Centro de Instrução de Aileu, feito prisioneiros os mi-litares metropolitanos ali em serviço e retido

um helicóptero que nessa manhã se tinha deslocado ao aquartelamento. Um segundo helicóptero, com o Comandante Militar, em busca do primeiro, foi recebido a tiro mas conseguiu regressar incólume a Díli.

Posteriormente, o Comando do Sector de Maubisse foi ocupado pela FRETILIN após a chegada de uma coluna vinda de Aileu, ten-do igualmente sido aprisionados os militares metropolitanos.

A Tibar largou a fim de patrulhar as imedia-ções do porto de Díli, apoiar logisticamente o destacamento do Exército no Ataúro e eva-cuar os respectivos militares metropolitanos.

Dia 19 O Quartel-General e algumas unidades do

Exército em Díli foram ocupados pela FRE-

TILIN, ficando por esse facto o Governo im-possibilitado de ter contacto com as unidades situadas fora da capital.

Durante a noite foram ouvidos alguns disparos.

Dia 20 Na madrugada, os disparos, se bem que em

pequeno número, começaram a ter uma certa continuidade. O Musi largou com destino a Singapura, já que não era possível concluir a operação de carga e garantir a sua segurança.

Ao anoitecer, militares metropolitanos re-colheram ao porto, assim como centenas de civis fugidos às lutas entre a UDT e a FRETI-LIN. Na Radionaval, a Marinha mantinha-se isolada tendo começado a ser atingida por projécteis disparados pela FRETILIN contra o acampamento da UDT, que se situava num terreno confinante com o da Estação.

Dia 21Os dois partidos confrontavam-se dentro

de Díli empregando todo o tipo de arma-mento proveniente dos paióis do Exército, já ocupados pela FRETILIN na sua totalidade, inclusive morteiros de 81, que provocaram o aumento de mortos e feridos.

O ambiente de guerra civil originou o pânico entre a população que fugiu para a montanha ou para o porto. O sargento es-criturário que desempenhava o cargo de fiel

do Comando da Defesa Marítima foi ferido gravemente por um dos vários projécteis que atingiram a Estação, a qual se manteve opera-cional apesar de ser quase uma tentativa de suicídio circular, a céu aberto, entre a Central de Recepção e a de Transmissão.

O saque das lojas comerciais começou pe-rante os incêndios que alumiavam a escuridão de uma cidade que desde a tarde se encontra-va totalmente privada de energia eléctrica. A partir desta data a Radionaval passou a de-pender exclusivamente do seu gerador.

Dia 22 Os marinheiros, atravessando zonas da ci-

dade onde os combates eram mais acesos e confrontando-se com inúmeros riscos, foram buscar víveres de casas comerciais, após au-

torização dos respectivos pro-prietários, para os refugiados que no porto lutavam contra a fome. Esta acção humanitária durou até à saída para a Ataúro.

A Comoro largou de Díli para evacuar os militares e ci-vis metropolitanos de Baucau. Ao anoitecer, parte dos refu-giados no porto, sentindo-se inseguros, pediram auxílio e protecção ao cônsul indonésio.

Dia 23 Da parte da tarde começou

o transporte de refugiados na Laleia para o navio norueguês Lloyd Bake que, fretado através do Governo de Macau, tinha

fundeado ao largo.O pessoal da Marinha orientou o embar-

que, contrariando, dentro do possível, as restrições que no cais os representantes dos partidos políticos tentavam impor e simulta-neamente procurando controlar a multidão que, aterrorizada, queria entrar na barcaça.

Sob o fogo de morteiros a operação de eva-cuação, após o anoitecer, foi efectuada com o farol de Díli e a balizagem do porto total-mente apagados, tendo o seu êxito só sido possível devido ao elevado profissionalismo e abnegação dos marinheiros que, saliente--se, pela primeira vez manobravam a Laleia.

Os cônsules da Indonésia e da China fo-ram convidados a embarcar no Lloyd Bake, mas recusaram alegando que só o fariam com ordens dos respectivos Governos. O Bispo declarou que não saía de Díli qualquer que fosse a evolução da situação. Cerca da meia-noite tinham sido transportados para o Lloyd Bake 1.155 pessoas, encontrando-se o navio sobrelotado, pelo que foi mandado largar com destino a Darwin.

Dia 24A comunidade chinesa, que até à data se

tinha mantido numa atitude neutral e expec-tante, foi tomada de pânico e refugiou-se na Igreja de Motael. Mais projécteis atingiram a Radionaval aumentando as probabilidades de se tornar inoperativa a qualquer momento.

26 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Lancha de fiscalização Tibar.

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 27

Dia 25Foi recebido do Almirante CEMA a se-

guinte mensagem:CEM ARMADA SEGUE ATENTAMENTE

SITUACAO TIMOR VENDO COM ORGU-LHO ACTUACAO REDUZIDAS FORCAS MARINHA PD CEMA PRESTA HOMENA-GEM LOUVA ACTUACAO BRAVOS MA-RINHEIROS.

Dia 26Cerca das 13 horas o Governador infor-

mou–me, tendo eu na ocasião levantado ob-jecções, da saída do Governo para o Ataúro, após estar completada a evacuação de todos os militares metropolitanos no Mac-Díli.

À tarde, durante um violento ataque, caíram duas granadas de morteiro no por-to que provocaram mortos e feridos, entre os feridos dois paraquedistas. De imedia-to os paraquedistas, por sua inteira decisão, irromperam no Quartel-general, ocupado pelo FRETILIN e no acampa-mento da UDT, ameaçando com uma acção punitiva se os combates não terminas-sem. Efectivamente a ordem foi prontamente cumprida. Não só o fogo contra o porto cessou, como também termi-naram os confrontos na cida-de. Díli, após cerca de uma semana de tiroteio, mergu-lhou num profundo silêncio, facto que demonstrou, clara-mente, que ainda existia respeito por parte dos partidos políticos perante uma autori-dade exercida com firmeza.

Esta calma total apenas foi interrompi-da, momentaneamente, quando ao anoite-cer, o bote da lancha Tibar foi atingido por fogo de arma ligeira tendo o motor se in-cendiado. Os dois marinheiros que estavam a bordo foram recolhidos pela Laleia que andava a fazer o transporte de refugiados para o Mac-Díli.

Às 20.15 foram efectuadas as derradeiras comunicações com Lisboa e Macau e, após ser arriada a Bandeira Nacional, que desde 11 de Agosto se mantivera sempre içada no mastro de honra, a Estação Radionaval de Díli foi abandonada.

Durante duas semanas tinha assegura-do, ininterruptamente, o único contacto do Timor Português com o Mundo!

Às 21.40, com Díli envolta numa com-pleta quietude, depois da largada da La-leia, do Lifau e da Comoro, a Tibar saiu a barra de Díli.

Quatro séculos e meio tinham passado desde a chegada dos portugueses!

DE 27 DE AGOSTO A 22 DE OUTUBRO – NA ILHA DE ATAÚRO

No dia 27, cerca das 13 horas, a barcaça Comoro, levando a bordo o Governador e

Comandante Chefe, acompanhado do Co-mandante da Defesa Marítima, abicou à povoação de Maumeta na ilha de Ataúro.

Mais tarde, com a chegada na Laleia dos restantes elementos do destacamento de pa-raquedistas, no Ataúro tinham desembarca-do 12 elementos do Exército e a totalidade dos elementos da Armada e da Força Aérea de serviço em Timor, isto é, 27 marinheiros e 64 paraquedistas.

No dia 28 de Agosto a Comoro largou com a missão de evacuar os militares metropo-litanos do Oé-Cussi e de Batugadé, tendo regressado a 30. No enclave de Oé-Cussi conseguiu embarcar os militares metropo-litanos e alguns civis, enquanto na povoa-ção de Batugadé, quando se preparava para abicar, foram notados indivíduos armados

apontando as respectivas armas para a bar-caça não tendo na altura aparecido quais-quer europeus na praia preparando-se para embarcar e sido também avistada a bandei-ra da UDT içada no forte. Em virtude dos factos a barcaça afastou-se da margem na-vegando para o largo. Mais tarde teve-se conhecimento de que a UDT se preparava para capturar a Comoro.

A 29, na Tibar e acompanhado do Lifau, larguei para Kupang, a capital de Timor indonésio, onde meti mantimentos para o Ataúro, reabasteci de combustível as duas embarcações e entreguei pessoalmente ao Governador indonésio uma carta do seu congénere português, tendo aquele mos-trado a sua preocupação pela situação em Díli e a estranheza por Portugal não auto-rizar a Indonésia a pacificar a área onde se desenrolava o conflito.

No Mac-Díli, entretanto regressado de Díli, embarcou um marinheiro telegrafista que passou a estabelecer as comunicações com Darwin e em terra foi montado um equipamento que transmitia as mensagens para o navio.

Em 8 de Setembro, na Laleia, fui a Díli com a missão de receber 25 militares me-tropolitanos até então detidos pela FRETI-LIN, situação que não se concretizou pois os militares já tinham solicitado apoio à Cruz Vermelha Internacional com vista ao

seu repatriamento para Lisboa.Saliento que foram muito difíceis as con-

dições em que a Laleia atracou ao cais de Díli, devido não só à situação meteoroló-gica adversa mas principalmente à hostili-dade patente por parte de FRETILIN, que não teve consequências graves devido à presença de elementos da Cruz Vermelha.

Em 4 de Outubro, embarquei novamen-te, agora em Darwin, na corveta Afonso Cerqueira, que no dia seguinte fundeou em Maumeta.

O Governador Lemos Pires, no seu livro “Descolonização de Timor Missão Impos-sível?”, refere-se ao acontecimento nos se-guintes termos:

Em 6 de Outubro chega finalmente a Ataúro a corveta Afonso Cerqueira, o que melhora con-

sideravelmente a situação, por aumentar a segurança e garan-tir as comunicações com Lisboa, possibilitando também que se fizessem patrulhamentos, que permitiriam uma melhor ava-liação do que se estava a passar. Este foi o primeiro apoio militar vindo de Portugal, após quase dois meses passados do início dos acontecimentos e cerca de um ano depois de ter sido solici-tado! Lamentável que houvesse sido assim, pois se tivesse chega-do mais cedo poderia ter evitado muitas das situações vividas.

O pessoal da Marinha pas-sou a assegurar o abasteci-mento de água à corveta,

transportando-a numa lona impermeável colocada no poço da Laleia, e montou uma sinalização nocturna em terra a fim de pos-sibilitar a bordo a verificação da posição do fundeadouro.

A 11, o Mac-Díli, levando a reboque a Tibar e o Lifau, largou com destino a Macau.

Entretanto, embarcado na corveta, baixei no dia 13 à respectiva enfermaria por ter so-frido um grave ferimento devido a queda. A 22 de Outubro de 1975, por opinião de uma Junta Médica, fui evacuado com urgência para o Hospital de Darwin.

Terminavam assim, de um modo impre-visto, os dois anos da minha inesquecível comissão em Timor.

Fui o último Comandante da Defesa Ma-rítima e Capitão dos Portos de Timor. Tive a profunda tristeza de assistir aos dois derra-deiros anos da secular presença portuguesa na mais longínqua parcela dos seus terri-tórios ultramarinos mas, por outro lado, a grande satisfação e a inesquecível recorda-ção de ter comandado um pequeno grupo de marinheiros que, em situações extremas se pode afirmar, parafraseando o lema da Marinha, Honraram a Pátria”.

José Luís Leiria PintoCALM

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

Barcaça Comoro.

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28 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

HIERARQUIA DA MARINHA 18

O termo escrivão deriva do termo latino scribãnus. Na antiguida-de era uma pessoa educada nas

artes da escrita que, sob as ordens de uma autoridade, redigia as normas de um povo ou de uma religião. Cumula-tivamente, podia exercer várias funções administrativas, como contador, secre-tário, copista e arquivista.

Nesta linha, na Marinha Portuguesa os escrivães dos navios tinham como missão registar tudo o que se passava a bordo, como refere o contrato, cele-brado em 1317, entre o rei D. Dinis e o almirante-mor Manuel Pessanha: «… os seus escrivães que forem nas Galés / que Jurem a mim e aos meus sucessores que bem e direitamente escrevam em seus livros: as cousas que no mar ganhardes e as outras coisas / que devem escrever e de que devem dar fé…» (chancelaria D. Dinis liv. 3º, fl. 108). Por outras palavras, aos escrivães incumbia o registo fiel dos feitos marí-timos e de uma diversidade de «outras

coisas», que deviam ser dadas a conhe-cer, das quais se incluíam: o registo das vontades dos embarcados e dos óbitos, bem como dos inventários de bens dos defuntos; os registos de propriedade, dos conflitos e das queixas; o registo de todos os nomes, estado civil, filia-ção e soldos previstos para o pessoal embarcado.

Existem muitos registos feitos pelos escrivães dos navios. A título mera-mente ilustrativo, destacam-se dois ca-sos paradigmáticos. O primeiro registo e, porventura, o mais conhecido, é de Pedro Vaz de Caminha, que se notabili-zou como escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. Foi neste cargo que, a 1 de Maio de 1500, escreveu a célebre carta a D. Manuel I, que relata a chega-da dos portugueses ao Brasil.

O segundo registo foi extraído do r egimento que o rei D. Manuel I deu a D. Francisco de Almeida, em 1505, para a sua missão no oriente, onde se pode

ler: «…mandamos aos escrivães de todas as naus e navios que pelos livros da dita casa [da Índia] assente cada um em seu livro em título que disso fará apartado todas as pes-soas por seus nomes que receberem do dito soldo…e cada um capitão na sua fareis alar-do pelo assento dos ditos livros com toda a gente de cada nau e será então declarado no assento de cada um além do nome qualquer alcunha ou apelido que tiver, e se for casado e onde, e nome do pai ou mãe se o tiverem ou qualquer outra mais declaração para que ao diante se cumprir possam ser melhor co-nhecidos» (Arquino Nacional Torre do Tombo, Maço n.º 2 Leis, n.º 13).

Em suma, pode-se concluir que o escrivão era um funcionário adminis-trativo, incumbido de registar a vida a bordo dos navios, com a finalidade de apoiar a gestão das actividades marí-timas de Portugal.

António Silva RibeiroCALM

ESCRIVÃOESCRIVÃO

VIGIA DA HISTÓRIA 45

Monsenhor Caleppi, que era o Núncio Apostólico em Lis-boa, terá manifestado junto

ao Príncipe Regente, o interesse em acompanhar a corte portuguesa na fuga para o Brasil.

No dia 26 de Novembro, o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar diri-giu-se a casa do Núncio entregando-lhe a ordem para que os comandantes dos navios Medusa e Martim de Freitas o re-cebessem a bordo, na manhã seguinte, juntamente com o respectivo séquito.

Contactados os referidos oficiais, na manhã do dia 27, estes não puderam cumprir aquela ordem dado que os respectivos navios já se encontravam sobrelotados.

Falhadas as diligências oficiais ain-da tentou o Núncio seguir viagem na companhia do bispo da Madeira, que havia fretado um navio, hipótese que se gorou já que o respectivo capitão não compareceu ao embarque .

Obrigado a permanecer em Lisboa, assistiu o Núncio à entrada de Junot em Lisboa o qual, passando junto à sua re-sidência, teve a amabilidade de inquirir sobre a sua saúde.

Não tendo logrado a obtenção de passaporte e quando preparava a fuga através de Espanha teve o Núncio co-nhecimento que, a 17 de Abril de 1808, iria sair o navio português Estrela do Norte, capitaneado por Francisco Bení-cio de Carvalho que, a troco de 1200000 reis, se propôs garantir o transporte do Núncio para o Brasil, comprometendo--se, para o efeito, a esperar ao largo da barra do Tejo, durante três dias.

No dia 18, o organizador da fuga, cuja identidade não se encontra referida no texto consultado, compareceu pelas 18.30 horas, na residência do Núncio com uma carruagem que o levou, junta-mente com alguns acompanhantes, para Pedrouços onde embarcaram numa fra-gata do Tejo que, a coberto da noite, os transportou para a barra.

Durante o percurso, feito dissimu-ladamente, descobriram que a bordo seguiam ainda, escondidos, um casal de jovens.

Tendo conseguido sair a barra nessa noite não lograram encontrar o navio contratado vindo a ser recolhidos pelo navio inglês Ninfa que integrava a for-ça inglesa de bloqueio do Tejo.

No dia 19, tendo encontrado o Estre-la do Norte e apesar do oferecimento dos ingleses em os transportar, pas-saram para bordo daquele navio que passou a ser escoltado pelo navio in-glês Mediador; o transbordo deverá ter sido bastante difícil porquanto o Núncio seguia quase desfalecido de-vido ao enjoo.

Nas proximidades da Madeira, o Es-trela do Norte foi abalroado, pelo navio escolta, ficando em risco de naufragar pelo que o Núncio passou para bordo da fragata inglesa nela seguindo para Plymouth.

A atribulada viagem do Núncio só terminou em 8 de Setembro, quando, embarcado no navio inglês Stork, en-trou no Rio de Janeiro.

Ao que se refere, existirá no Arqui-vo do Vaticano, o diário da viagem efectuada.

Com. E. Gomes

Fonte: Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Tom. 61.

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

A FUGA DO NÚNCIO APOSTÓLICOA FUGA DO NÚNCIO APOSTÓLICO

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 29

No auditório do Aquário Vasco da Gama, no passado dia 18 de maio, no âmbito das comemorações do

Dia Internacional dos Museus 2012, decor-reu a apresentação pública da Maqueta do Aquário Vasco da Gama.

Evento único e relevante para a Institui-ção, realçando a sua versatilidade cultural, patrimonial e educacional, indo muito para além das suas fronteiras na constante sen-da de cumprir o seu objetivo primordial: o de servir a comu-nidade.

A apresentação da Maqueta repre-sentativa do edifício do Aquário Vasco da Gama, anterior à in-tervenção amputa-dora das suas insta-lações, aquando da construção da Ave-nida Marginal em 1940, representa um marco, não só pelo objeto em si, mas pela cooperação es-treita e profícua es-tabelecida com o Instituto dos Museus e Conservação, com o intento solidário de preservação do património e seu restauro/ /conservação.

A Maqueta do AVG esteve cerca de dois anos em processo de restauro, devido ao mau estado de conservação em que a mes-ma se encontrava. A sua estrutura dividida em dois corpos, com a fachada muito por-menorizada e com elementos arquitetónicos em madeira, revestida a papel pintado, e um segundo corpo representativo da fração tra-seira do edifício, mais simples ao nível dos pormenores estruturais, mas também em madeira e papel, sendo que toda a estrutu-ra interior de suporte é de madeira, a qual estava, igualmente, muito suja e danificada.

Os estragos causados pela humidade, manchas de líquidos, poeiras e manusea-mento indevido foram destrutivos para a Maqueta, principalmente na fachada, com visíveis danos e perdas estruturais signifi-cativas.

O trabalho de restauro desenvolvido pela equipa do Instituto de Museus e Conserva-ção, liderada pela Drª Joana Campelo, e no âmbito do Mestrado da Drª Isabel Ângelo,

revelou ser um trabalho de mestria, paciên-cia, rigor e detalhe. Como ficou demons-trado na palestra proferida pela Drª Isabel Ângelo, foram realizados passos meticu-losos e determinantes para alcançarem o objetivo final.

Foram determinantes os trabalhos reali-zados para a consolidação da estrutura in-terior da maqueta através da colocação de mais pontos de apoio, após uma minuciosa limpeza das poeiras e lixos.

A nível do restauro do papel, que cobre a superfície da Maqueta, foi necessário pro-ceder à consolidação dos pedaços que se encontravam degradados, e até soltos da es-trutura de madeira, através do uso de papel japonês, a fim de reforçar a sua resistência

antes da sua fixação. Toda a área de papel foi limpa de poeiras, manchas e foi refor-çada a sua resistência.

É bem visível através das fotografias do antes e após intervenção das técnicas do IMC do trabalho pormenorizado e demo-rado que implicou o restauro desta peça museológica.

Pormenor merecedor de destaque, os azulejos representados na Maqueta, alusi-

vos aos atuais azu-lejos do edif ício da autoria de Jorge Colaço, datados de 1931.

Na realidade, este “pequeno” porme-nor será de extrema importância para a determinação do ob-jetivo da construção da Maqueta.

Seria para…- Representação

arquitetónica para a construção do se-gundo piso do edifí-cio, em 1917?

- Preservação da memória, recriando o edifício existente an-tes de 1940?

- Exposição num evento comemorativo realizado nas instalações do Aquário Vas-co da Gama?

Várias explicações são viáveis, requeren-do um estudo aprofundado e comparativo com Maquetas similares existentes.

Não está identificado o objetivo pelo qual a Maqueta foi construída, nem o au-tor, nem a pedido de quem foi executada e na ausência de documentos discrimina-tivos disponíveis, só um trabalho de pes-quisa e investigação poderá esclarecer es-tas dúvidas.

Colaboração do AQUÁRIO VASCO DA GAMA

Maqueta do Aquário Vasco da GamaRecuperação

Maqueta do Aquário Vasco da GamaMaqueta do Aquário Vasco da Gama

No seio de um agrupamento com as características como as da Banda da Armada, nascem regularmente

vários agrupamentos de música de câma-ra para apresentações em público. Essas apresentações resultam das necessidades próprias de programação da Banda, mas também das intelectuais e profissionais dos próprios músicos, executando outros tipos de repertório específico, explorando assim um maior aperfeiçoamento técnico e mu-sical que se reflete diariamente no grande

agrupamento sinfónico que é a Banda da Armada.

O “Ensemble de Percussão” da Banda da Armada é um grupo de oito percussionis-tas que integram os quadros da Banda da Armada. Uma das principais características deste agrupamento, é a interpretação de te-mas originais, e que por ser um agrupamen-to com características muito próprias, pro-cura através da sua multiplicidade, cativar o público para a sua multifacetada família de instrumentos e de repertório.

A Percussão é uma das várias famílias de instrumentos que integram a Banda da Armada e nos últimos anos a sua evolução tem sido enorme. Os seus executantes es-pecializam-se em todos os instrumentos da família (daí ser normal e usual num concer-to os elementos rodarem pelos vários instru-mentos) e os compositores cada vez mais procuram novas sonoridades através de ins-trumental alternativo, (caixas, vassouras e outros utensílios do dia a dia). Explorando--os tecnicamente cada vez mais, não só na

“Ensemble de percussão” da Banda da Armada“Ensemble de percussão” da Banda da Armada

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sonoridade mas também as características próprias dos mesmos, faz com que hoje se consiga sonoridades a bsolutamente incríveis e até há bem pouco tempo impossíveis de se obter.

Esta família divide-se em dois tipos de instrumentos, os de altura definida e os de altura indefinida:

Altura definida Idiofones: Marimba, Vi-

brafone, Xilofone, Glo-ckenspiel e Jogo de Sinos, Crotales.

Membranofones – Tím-panos.

Altura indefinida Idiofones: Tam-tam, Pratos, Castanholas,

Triângulo, etc.Membranofones: Bombo, Caixa, Pandeiro,

Congas, Bocos, etc.A criatividade dos compositores aliada

à imaginação e profissionalismo dos músi-cos faz com que este Ensemble quase não tenha limites na forma como se apresenta, podendo criar momentos musicais fantás-ticos, desde interpretar peças só com bati-mentos corporais (palmas, dedos, pernas e pés), a criar uma interessante parte cénica em que dois robots disputam entre si a me-lhor interpretação técnica de uma Tarola (caixa), criando no público uma boa dispo-sição. Mostrando uma originalidade inco-

mum na peça Escombrandrum os músicos interpretam interessantes movimentos rítmi-cos com vassouras, à imagem do grupo co-

nhecido internacionalmen-te e com muito sucesso os “STOMP”.

Compositores como E. Séjourné, Pat Metheny e Lyle Mays cada vez mais exploram as sonoridades deste tipo de agrupamen-tos, sendo de destacar que o “Ensemble de Percus-são” da Banda da Armada interpreta um tema escrito por um dos seus elementos (Valter Passarinho) que se intitula PapPass.

Assistir a um concerto do “Ensemble de Percussão” da Banda da Armada é uma

forma de conhecer todos os instrumentos que fazem parte desta numerosa família e, ao mesmo tempo, apreciar o rigor e arte de grandes artistas como os percussionistas da Banda da Armada.

No passado dia 6 de maio, pelas 11.00h, o ENSEMBLE DE PERCUSSÃO DA BANDA DA ARMADA fez o seu primeiro concerto público! A estreia foi no pavilhão das Ga-leotas do Museu da Marinha, com um con-certo integrado na temporada de música de câmara da CCM 2012.

Um concerto arrebatador onde a assistên-cia viveu intensamente todos os momentos do espetáculo!

Colaboração da BANDA DA ARMADA

Elementos do Ensemble de Percussão da Banda da Armada

SAJ B Domingos Borda D’Água1SAR B Joaquim Cunha Pereira1SAR B Joaquim Carrapato1SAR B Valter Passarinho2SAR B Luís Salgado2SAR B Marco ValenteCAB B David Correia1MAR B Fábio DiasCAB B Renato Andrade – Baixo Elétrico

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003 11REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2012 31

Sacadura Cabral – o Homem, o NavioSacadura Cabral – o Homem, o NavioConforme anunciado na edição de

março (RA 461) do corrente ano da Revista da Armada, um gru-

po de várias dezenas de oficiais, acompa-nhados de familiares, tendo em comum terem integrado guarnições da Fragata “Comandante Sacadura Cabral”, pres-tou, no passado dia 12 de maio, na Vila de Celorico da Beira, uma homenagem ao CFR Artur de Sacadura Freire Cabral, Filho Ilustre daquela terra, que lhe afirma, de forma inequívoca e muito relevante, o tributo de perpetuar a sua memória, com destaque para a Estátua colocada na Praça com o seu nome.

Esta iniciativa, tratando-se embora de um gesto de ca-maradas para Camarada, ancorada, assim, nos valores éticos que norteiam a Marinha, teve também o objetivo de informalmente se associar às Comemorações oficiais que ora decorrem, por ocasião da passagem do 90º aniversário da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul, Obra de Sacadura Cabral e Gago Coutinho.

Após a chegada, a comitiva, de cerca de setenta pessoas, foi recebida no Salão Nobre da Câmara Municipal, onde o Presidente, Engº José Monteiro, deu as boas vindas, manifestando o seu reconhecimento e agrado pela iniciativa, que considerou muito re-levante, tendo, na ocasião, oferecido um conjunto de livros, destinados, naturalmente, à BCM. Em resposta, o VALM Junqueiro Sarmento en-quadrou de forma muito clara os objetivos do grupo ali presente, rele-

vando o importantíssimo contributo que, com a sua ação, profissionalismo e heroi-cidade, o Cte. Sacadura Cabral deu em prol do prestígio da Marinha e do País.

Seguiu-se, então, a cerimónia na Pra-ça Sacadura Cabral, tendo o Imediato da primeira guarnição, CALM Ribeiro dos Ramos (em representação do primeiro Comandante, já falecido), deposto uma coroa de flores junto à Estátua, após o que proferiu uma breve alocução, historiando de forma sintética a evolução da tecnolo-

gia de navegação no ar e no mar, enaltecendo assim o feito de Sacadura e Coutinho, na experiência prática com que deram a conhecer ao mundo a capacidade dos portugueses.

A jornada prosseguiu com o almoço no Restaurante “Muralhas de Celoryco” a que se seguiu um programa so-cial, preparado pela Câmara Municipal, que incluiu visitas ao Castelo de Celorico da Beira e ao Solar do Queijo, insta-lado num belíssimo edifício do século XVII que ostenta na frontaria o brasão real e o brasão de armas da Vila e onde funcionaram os antigos Paços do Concelho, tendo sido igualmente tribunal e cadeia. Concretizou-se, assim, uma

iniciativa que, visando a satisfação de um justíssimo preito de homena-gem, igualmente proporcionou, na esteira da dinâmica da sua primeira guarnição, um agradável convívio entre oficiais de diferentes gerações, “unidos” pela sua condição comum de Sacadores.

Colaboração de um GRUPO DE OFICIAIS SACADORES

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REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 153

Todos vuln. Qual deve ser o plano de jogo de S para tentar cumprir o contrato de 6ST, recebendo a saída a ♠8?

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 153Analisando as 4 mãos facilmente se constata que se D♠ e R♦ estivessem bem con-taríamos as 12 vazas, havendo apenas 11 com o R♦ mal colocado, conforme se ve-rifica, pois teremos AV♦+2♠+2♥+5♣. Vejamos como encontrar a 12ª vaza: a saída mostra ser carta neutra e que a D estará em E, portanto joga pequena no morto, E o 10 e faz de R; joga ♣ para o A e ♦ de seguida para a passagem ao R que perde; W insiste em ♠ e joga obrigatoriamente o A; desfila apenas 3 ♣ e joga A♦, chegando--se a 5 cartas do fim a esta posição: S - ♥R976 ♣6, W – ♥V42 ♦107, N – ♠V ♥A8 ♦V9 e E – ♠D7 ♥D103; joga agora 6♣ e W terá de baldar ♥ para defender o ♦, po-dendo então N baldar 9♦ e E ♠ sem problemas. Finalmente vai ao morto no A♥ e ao jogar V♦ squeeza W que terá de baldar ♥ para segurar a D♠, permitindo que S faça as 2 últimas vazas em ♥R9, uma vez que W e E ficaram reduzidos a uma ♥ apenas.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):83

V42

R10752

732

Este (E):D10765

D103

84

1098

Norte (N):AV42

A85

V963

A4

R9

Sul (S):R976

AD

RDV65

HORIZONTAIS: 1-Família de plantas que tem por tipo a oxálide. 2-Ande; deusa grega do pensamento, filha de Zeus; letra grega. 3-Cobre com lastro. 4-No meio de anta; colocara asas; grito de dor. 5-Carro de duas ou quatro rodas, de origem inglesa, que o cocheiro guia da parte de trás; rezo; poderoso insecticída (sigla). 6-Grande lago salgado da Ásia; trio na confusão. 7-Entregar; trituro; apelido de he-roína francesa. 8-Cidade antiga da Caldeia, pátria de Abraão; parte externa e poste-rior da coxa do boi; rio costeiro da França. 9-Árvores palmáceas do Brasil. 10-An-tes do meio-dia; revestir de laca; graceja. 11-Tratado das partes solidas do corpo.

VERTICAIS: 1-Conjunto de óvens (náut.). 2-Soberano da Pérsia; pesar, para aba-ter a tara; pedra de moinho. 3-Cidade da Ucrânia. 4-Várzea (Guiné-Bissau); vício de comer e beber com excesso. 5-Relativo à Itália; físico e político francês (1743-1793) redactor de O Amigo do Povo (ap.) 6-Em que há desarmonia. 7-Caverna; es-tai (náut.). 8-Rosto; metal precioso de cor amarela. 9-Doutora (abrev.) 10-Aspecto; gosta muito; andar (inv). 11-Acção de somítico.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 435HORIZONTAIS: 1-Oxalidaceas. 2-Va; Atena; Ro. 3-Alastro. 4-Nt; Alara; Al. 5-Cab; Oro; Ddt. 6-Aral; Troi. 7-Dar; Moo; Arc. 8-Ur; Ganso; Aa. 9-Buritis. 10-Am; Lacar; Ri. 11-Somatologia.

VERTICAIS: 1-Oven caduras. 2-Xa; Tarar; Mo. 3-Bar. 4-Lala; Gula. 5-I talo; Marat. 6-Desarmonico. 7-Antro; Ostal. 8-Cara; Oiro. 9-Dra. 10-Ar; Adora; Ri. 11-Somiticaria.

Carmo Pinto1TEN REF

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 435

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

CONVÍVIOS

l Informam-se todos os “Filhos da Escola” desta Incorporação que, no próximo mês de setembro, se irão realizar as Confraterni-zações comemorativas do 50º Aniversário da nossa incorporação na A rmada, cuja programação decorrerá na Escola de Fuzileiros, Base de Fuzileiros e Base Naval de Lisboa.

Os interessados poderão contactar: Arnaldo Duarte (ex-17095) TM 965 758 340 ou Helder Raimundo (ex-17777) TM 934 253 557.

INCORPORAÇÃO DE SETEMBRO DE 1962

MARINHEIROS DO CONCELHO DO SABUGALl Vai realizar-se no próximo dia 4 de agosto, na cidade do Sabugal, o 18º encontro e almoço-convívio dos marinheiros do concelho do S abugal. As inscrições deverão ser efetuadas, até 15 de julho, para os contactos seguintes: João Luís Ferrão TM 967731589; João Robalo TM 966122191.

25º ANIVERSÁRIO DO CFT CRO/CCT 1987l No passado dia 26 de maio realizou-se, num restaurante em Riba mar, o jantar-convívio comemorativo do 25º Aniversário do CFT CRO/CCT de 1987. O momento de confraternização foi vivi-

do com emoção e saudade, especial-mente pelos que estão afastados da Marinha há já al-gum tempo.

Ficou a prome s-sa de marcar novo encontro, no pró-ximo ano, para o qual serão todos devidamente con-vocados.

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34 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS PESSOAISFALECIDOS

CFR EMQ REF Mário Pinto Amaral 1TEN EMQ REF Jaime Augusto de Oliveira Silvério Marques 1TEN SG REF Amílcar Raimundo Miranda 1TEN OTS REF José dos Santos Viegas 1TEN OT REF António Manuel Filipe de Oliveira 1TEN OTS REF Paulino de Jesus Marques SMOR FZ DFA REF Diogo Al-bino João Pires SAJ T REF António Seixas de Oliveira Coxo SAJ FZ REF Domingos António Correia do Nascimento SAJ A REF Júlio Tomaz das Neves SAJ A REF António Fernandes Lopes SAJ C REF José Maria de Sousa Marinho 1SAR L REF Sílvio Paiva Castanheira 1SAR B REF Cláudio Belo Nunes 2SAR FZ DFA REF Domingos da Costa Diniz CAB T REF Ar-tur Lopes Clérigo CAB CM REF António Manuel Pinto CAB TFD REF António Manuel Rego CAB REF Luís Policarpo Caei-ro CAB FZ REF Vitorino de Jesus Felicidade CAB FZ REF António Salgueiro Estrada 1MAR DFA REF Domingos Rodri-gues de Araújo Farol. 1ªClasse QPMM REF Eurico Ganchinho de Abreu Patrão Costa QPMM REF Luís Manuel Jorge Duque.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CALM António José Gameiro Marques nomeado representant e do Ministro da Defesa Nacional, na Constituição da Comissão Ins-taladora do Centro Nacional de Cibersegurança CMG Pedro Mi-guel de Sousa Costa nomeado Diretor de Serviços de Planeamento Estratégico de Defesa (DGPDN).

REFORMA

CMG Mário Alberto Dias Monteiro Santos CFR Rogério Paulo Antunes Chumbinho 1TEN STAEL José Manuel Borra-lho Albano SMOR FZ Amândio Afonso Paula SMOR V José Eduardo da Cruz Barreiros SCH M Júlio Manuel dos Santos Leito SAJ L Manuel Francisco Emídio Ventura SAJ L Ma-nuel Silva Santos SAJ FZ João Manuel de Santos Galvão SAJ FZ Manuel de Sousa Cruz CAB A José António Rodrigues dos Santos CAB L Fernando Manuel Paulos Pisca.

CONVÍVIOS

3ª GUARNIÇÃO DO NRP JOÃO COUTINHO Realizou-se no dia 12 de maio, na Quinta da Bigorna, Escalos de Bai-xo, Castelo Branco, o 8º almoço-convívio da 3ª guarnição (1974-1976) do NRP João Coutinho. A comemoração do 37º aniversário do “Adeus a Moçambique” decorreu com alegria e boa disposição e, mais uma vez, o passado se tornou presente, pois há memórias que prevalecem.

Destacou-se a presença do “nosso” enfermeiro, à data, João de Aqui-no, que veio de Moçambique, e como cantor que é agora, surpreendeu todos os presentes com a sua actuação, contribuindo para o sucesso do evento. Compareceram 26 elementos da 3ª guarnição acompanhados de familiares e amigos, totalizando 72 pessoas. Como sempre, con-támos com a inestimável presença do comandante de então, Moiti-nho de Almeida, enriquecendo o espírito desta família CORTINHO.

“FILHOS DA ESCOLA” DE ABRIL 73 No passado dia 14 de abril, reuniram-se com as respetivas famílias, em mais um almoço de confraternização, os “Filhos da Escola” de abril 73. No seu 20º Encontro, desta vez em Ferreira do Zêzere, seguiu-se uma sessão de boas vindas na Câmara Municipal, com o Vice-Presi-dente, Eng. Paulo Neves e a Vereadora da Cultura, Dr.ª Maria Emília.

Os 165 convivas embarcaram no SÃO CRISTÓVÃO, que zarpou para um passeio nas águas calmas da Albufeira de Castelo de Bode. O almoço foi servido a bordo, tal como o respetivo Bolo de Aniversário.

No próximo ano o evento realizar-se-á em Barcelos.

“FILHOS DA ESCOLA” DE ABRIL 70 Realizou-se no dia 14 de abril, o convívio dos “Filhos da Escola” de abril de 1970 que contou com a participação de cerca de 120 con-vivas. O encontro contou com uma missa e uma visita do Museu do Fuzileiro, seguido de um almoço na Quinta da Alegria, em Penalva.

Decorreu no passado dia 28 de abril, o encontro anual de Fu-zileiros Especiais nº13 (Guiné 1968/70). No cemitério de Sendim, Matosinhos, junto à campa do 1MAR FZE Abílio Ferreira, um dos mortos em combate do DFE, e com a presença de seus familia-res, teve lugar uma homenagem com a colocação de uma placa "Homenagem dos Combatentes do DFE13" e deposição de flores.

À evocação feita pelo Comandante do DFE, Almirante Vieira Matias, os Fuzileiros responderam "PRE-SENTE!".

Seguiu-se o conví-vio num restaurante da zona, que decorreu em ambiente marcado por grande camarada-gem e amizade.

ENCONTRO DO DESTACAMENTO DE FUZI-LEIROS ESPECIAIS Nº13 (GUINÉ 1968/70)

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REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003 11

Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

18. O NaviO HidrOgráficO Salvador Correia iiiConstruído em 1942 nos estaleiros Goole S. B. & Repair, na Escócia,

para a Marinha do Reino Unido com o nome de HMS Ruskholm, foi adquirido em 1948 pelo Governo Português e adaptado a navio ocea-nográfico destinado ao estudo das pescas.

Foi batizado de Baldaque da Silva em homenagem ao Capitão de mar e guerra António Artur Baldaque da Silva, personalidade que se dis-tinguiu pelos estudos que realizou no âmbito da geologia marinha, investigação das pescas, trabalhos portuários, hidrografia e oceano-grafia, tendo publicado diversos trabalhos científicos como o “Estu-do histórico-hidrográfico sobre a barra e o porto de Lisboa” e o primeiro tomo do “Roteiro marítimo da costa ocidental e meridio-nal de Portugal”.

Adquirido conjunta-mente com o Salvador Cor-reia II, possuía as mesmas características deste na-vio, a seguir indicadas, e pertencia à classe com o seu nome.

Deslocamento máximo .............................................780 toneladasComprimento (fora a fora) ......................................45,57 metrosBoca .............................................................................8,5 “Calado máximo ........................................................4,57 “Velocidade .................................................................9,5 nósPropulsionado por uma máquina de tríplice expansão com uma po-

tência de 850 cavalos, a sua guarnição inicial era de 36 homens.Em 4 de novembro de 1948, foi constituída a Missão de Estudos de

Pesca da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais que, três anos mais tarde, passou a denominar-se Missão de Estudos das Pescas de Angola, a qual foi então dotada com o N.O. Baldaque da Silva para apoio às suas actividades. Entretanto, em 1950, foi criado o Instituto de Biologia Marítima, entidade que centralizou as suas inves-tigações oceanográficas no domínio das pescas.

Em 1951, o N.O. Baldaque da Silva deu apoio à campanha que a Mis-são de Estudos de Pescas de Angola realizou sob a direção técnica do biólogo alemão Wilhelm Nümann e que se prolongou até 1953. Noti-ciava a revista “Anais da Marinha”, na sua edição de setembro de 1950:

Em breve, deverá seguir para a costa de Angola o navio oceanográfico e de estudos da pesca “Baldaque da Silva” que ali vai proceder a trabalhos cientí-ficos, promovendo estudos de natureza oceanográfica e biológica dos quais se possam tirar conclusões práticas que beneficiem a pesca. Este barco, adquirido recentemente pelo Ministério das Colónias e tripulado por pessoal da Marinha de Guerra, leva a bordo um grupo de cientistas e mestres de pesca que acom-panham uma moderna aparelhagem destinada aos respectivos estudos, além de um equipamento adequado à prática das pescas.

Em 1956, o Ministério da Marinha cedeu o navio à Missão de Biologia Marítima da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultra-mar, tendo servido até 1961 na Missão de Estudos de Pesca em Angola e Cabo Verde. Em 1957, realizou uma campanha oceanográfica em Ango-la, tendo os resultados destas campanhas sido publicados pelo Centro de Biologia Piscatória da Junta de Investigações do Ultramar e estado na origem das primeiras cartas da pesca de arrasto da costa de Angola.

Prestou ainda apoio a outras campanhas idênticas naquele territó-rio e também em Cabo Verde, onde participou em três integradas nos trabalhos da Missão de Biologia Marítima da Junta de Investigações

do Ultramar, sob a orientação dos biólogos Herculano Vilela e Pedro Guerreiro da Franca.

Em 22 de setembro de 1960, foi criado o Instituto Hidrográfico e, no ano seguinte, o N.O. Baldaque da Silva classificado como navio hidrográfico e rebatizado Salvador Correia, tendo sido o terceiro a ostentar o nome daquele Almirante dos Mares do Sul que, em meados do século XVII, reconquistou os territórios de Angola e São Tomé e Príncipe ocupados pelos holandeses.

Também em 1961 o N.H. Salvador Correia II alterou o seu nome para Baldaque da Silva. Tratou-se na realidade de uma permuta de nome entre

os dois navios. A confusão que daí resultou levou a que os próprios marinhei-ros passassem a denominá--los Baldaque Correia e Salva-dor da Silva

Em 1961, foi constituída a Missão de Oceanografia Física, tendo o N.H. Salva-dor Correia sido-lhe atribuí-do, continuando no entan-to a prestar em simultâneo apoio às actividades desen-

volvidas pelo Instituto de Biologia Marítima e pelo Centro de Biologia Piscatória da Junta de Investigações do Ultramar. Nesse ano, efetuou diversos cruzeiros e, em 1963, encontrava-se em Angola a prestar apoio à investigação das pescas.

A este propósito, conta o Capitão de mar e guerra José Parreira, à al-tura Diretor do Instituto Hidrográfico, nas suas “Notas sobre o Institu-to Hidrográfico – 1963”, o seguinte: “A Missão de Oceanografia Física está presentemente em Angola a realizar o programa de trabalhos determinado por este Instituto, de acordo com o Centro de Biologia Piscatória, e estava previsto o seu regresso a Lisboa, no navio, em meados de Dezembro próximo. Sucede, porém, que em princípios de Outubro comunicou a Junta de Investigações do Ultramar (Processo P.26.01-1) que, por despacho de Sua Exª o Subsecretário de Estado do Fomento Ultramarino, tinha sido mandada incluir a dotação de 1.700.000$00 no II Plano de Fomento para 1964, destinados a encargos do N.H. “Salvador Correia” em Angola.

Nestas circunstâncias, talvez seja mais conveniente ficar em Angola o N.H. “Salvador Correia”, até final da próxima campanha, assunto que tem que ser posto à consideração de Sua Exª o Ministro da Marinha.”

Entre 1964 e 1969, o N.H. Salvador Correia participou em diversos cru-zeiros realizados ao largo dos Açores para investigação das condições de propagação acústica submarina no âmbito da campanha MILOC (Mili-tary Oceanography), determinada pelo Grupo de Oceanografia Militar da NATO. No ano seguinte, foi integrado na campanha oceanográfica “Mediterrâneo Outflow” realizada entre Huelva e o Cabo de S. Vicen-te, destinada a estudar o grau de penetração da água do Mediterrâneo no Oceano Atlântico. Em 1966, foi ainda a bordo que se efetuaram os cruzeiros MALAC, junto ao Cabo de Santa Maria, destinados a apoiar a captura do atum.

O N.H. Salvador Correia foi abatido ao Efetivo dos Navios da Arma-da em 27 de março de 1967 e substituído, nas suas funções, pelo anti-go draga-minas S. Jorge. Pese embora a sua classificação como “navio hidrográfico”, o Salvador Correia prestou sempre apoio às atividades ocea nográficas para as quais estava destinado, desde que, em 1948, foi adquirido pelo Governo Português.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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14 JANEIRO 2003 • REVISTA DA ARMADA

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