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Departamento Cultural do Clube Naval Círculo Literário Mare Nostrum - Ano XIV - Nº63 - 2014. Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada, entra, e, sob este teto encontrarás carinho: Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho, vives sozinha sempre, e nunca foste amada... Alceu Wamosy Duas Almas Poema completo na pág. 23

Mare Nostrum 63 03 de abril -

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Page 1: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Departamento Cultural do Clube NavalCírculo Literário Mare Nostrum - Ano XIV - Nº63 - 2014.

Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,entra, e, sob este teto encontrarás carinho:Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

Alceu WamosyDuas Almas

Poema completo na pág. 23

Page 2: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Presidente

Diretor Cultural

Assessor do Diretor Cultural

Departamento Cultural

site:www.clubenaval.org.br

Idealizador

Conselho Editorial

Ilustrações

Jornalista Responsável

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Atenção:

Nossa Capa

A responsabilidade pelo conteúdo dasmatérias é exclusiva dos autores, quedeclaram, por escrito, ao final delas, a cessãode seus DireitosAutorais.

As colaborações enviadas serão publicadasapós aprovação do Conselho Editorial e nãoserão devolvidas.

Sócios Fundadores

Coordenador Interino

Diretor CulturalCF(Ref-IM) Osmar Boavista da Cunha Junior

Homenagem a Gabriel García Márquez.Óleo sobre tela, autoria de Sibéria Sperle

A celebração dos 50 anos domomento histórico de reaçãoenfática da Nação Brasileira contra atentativa de desvio das suas tradiçõesfez-se presente em março de 2014.

A participação militar noperíodo se encerrou há 29 anos,legando o saldo da construção denoventa por cento das estruturas dopaís em energia, transporte,indústrias de base, legislação sociale, ressaltamos com ênfase no MareNostrum, em educação. Foi uma boatransição.

Cabe a nós que cuidamos dasletras, buscar a inspiração literária deincentivo ao entusiasmo para o povobrasileiro, lembrando sempre que onosso fortalecimento contínuo é aúnica via de afastar do Brasil perigoscomo os que assolam, agora, aUcrânia.

Não há na história das naçõespiedade para com os fracos, nemrelato exato que se narre sem odomínio da literatura.

Paulo Frederico Soriano Dobbin

[email protected]

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Sempre haverá lugar,Diante dum olhar, obstruídoPelo pessimismo, do novo se apresentar...

Sempre haverá lugarPara o que está ficando apodrecido,Renascer, e a vida restaurar...

Sempre haverá lugarPara a gentileza, valor esquecido,As atitudes humanas revolucionar...

Sempre haverá lugarPara levantar o caídoE com palavras e atos inspirar...

Sempre haverá lugarPara um gesto decididoE a compaixão, por fim, triunfar...

Sempre haverá lugarNalgum coração feridoPara o perdão brotar...

Sempre haverá lugarOnde o Amor, escondidoPelo orgulho, venha a se manifestar...

Sempre haverá lugarEm que o rancor curtido,Sentimento maldito, possa se apagar...

Sempre haverá lugarNeste mundo, quase destruído,Para a esperança se renovar...

Sempre haverá lugar,Naquele que está desiludido,Do sonho se realizar...

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A glória do ser MãeA glória do ser MãeJosé Augusto de Oliveira

MÃE, consagrado ser que ainda consola a terraE cuja glória fê-la soberana pelo materno amor,Que sublima sua existência até mesmo na dor,Se pelo filho se exausta, mesmo quando ele erra.

A glória do ser mulher é o de ser mãe também.E o seu ventre ser do filho o seu primeiro mundo!É quando o amor materno se toma mais profundoE no sacrifício é que esse amor vai mais além.

Quando vê gemer no berço, enferma, a criancinhaÉ o momento em que mais se avulta a sua aflição.Todavia não se desespera, e no silêncio da oraçãoA DEUS suplica livrá-la da dor que a espezinha.

Sacrossanto amor que na dor mais se agiganta- E se o coração de mãe com veneração abençoa,Ao castigar o filho com mais amor o perdoa ...E para ele então sua mãe é a verdadeira santa.

Não lhe importa que do filho seja a ingratidãoE se dela não reconhecer sua própria existênciaNem prestar-lhe na velhice sequer a assistência ...Mas dela também a vingança será o perdão.

Quem tem mãe terá sempre o mais fiel protetorE a DEUS deve agradecer por sua existência,Pois não se fez rainha da família por clemência,Mas por devotar ao filho o mais soberano amor.

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l

Nem sua própria vida já não mais lhe pertence,Se pelo filho renuncia a tudo e desafia a morte!E mesmo sendo frágil na luta se fará mais forte,Ainda que esse filho há muito esteja ausente.

Mãe não é profissão, mas a graça que o SenhorConcede à mulher, glória que somente deveriaMerecer aquelas cujo exemplo da Virgem MariaFosse-lhes a visão perfeita do verdadeiro amor.

Memorável seja sempre o Dia das Mães!Salve o dia 11 de maio de 2014!

Homenagem do autor às Mães associadas do Clube Nava

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Lágrimas de amor –

as mais doces?... as mais amargas? ...Impossível se chegar a uma conclusão...Geralmente, não brotam puras;Podem até agregar mais de um sentimento,apesar de oriundas do mais belo, mais enriquecedor ,mais profundo de todos - o amor!...Chora-se de alegria e amor...Chora-se de tristeza e amor...Só para citar os dois opostos mais comuns...Quantas mesclas poderíamos listar? ...

Uma lágrima de amor foi a que Jesus derramou,na Cruz, pela Humanidade -e quanto de perdão naquela lágrima ...Uma lágrima de amor foi a que Maria, a Pietà, derramoupor seu Filho amado, morto, em seu colo -e quanto de dor naquela lágrima ...Uma lágrima de amor foi a que a mulher traída derramoue quanto de desespero naquela lágrima ...Uma lágrima de amor foi a que a jovem mãe derramou,emocionada, ao receber, em seus braços, o filho recém-nascido -e quanto de esperança naquela lágrima ...Uma lágrima de amor foi a que a futura vovó derramou,ao saber, naquele momento, que iria ganhar seu primeiro netinho -e quanto de agradecimento naquela lágrimae no seu coração, embevecido...

Uma lágrima de amorAngela Guerra

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Pensei que tivesse vistoou pressentido, logo percebi queera miragem.

A d m i t o q u e m esensibilizei com tão repentinapresença, embora prevenido porpreconceituosa cautela.

Não, eu não seria capazde transportar no tempoinstantes que surgem nopresente mas que já sãopeculiares ao passado.

C o m o e n t e n d e r eprojetar tais momentos em cadaespaço de tempo?

Como assumir umaconvivência afetiva com esteespectro se o tempo sinalizameditação.

Caro espectro, sejatransparente na tua graça masfugaz, inacessível e invisível àminha percepção, ao meu aceno,à minha sensibilidade e ao meusonho.

Talvez seja mais sensatoafastar-me de devaneios eregressar a minha realidade,certamente saudoso de tervivido com tão agradável masvirtual imagem.

EspectroAluizio da Cunha Garcia

Prefiro ser vizinho dasolidão, mas embalado nos meusirriquietos, tímidos e românticospensamentos,

Guardo, porém, o teujovial semblante como umcanteiro florido, como umacascata de meigos sorrisos.

Obrigado, espectro debeleza, de bondade e carinho.

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Nossas BodasNossas BodasEdna das Dores de Oliveira Coimbra

Te amei como a filha ama o pai que a acalenta.Te desejei como a mulher deseja o gozo do esposo amado.Te abençoei como a mãe abençoa o filho pródigo que regressa.Sempre tive orgulho do teu nome, tua origem, do teu poder.Muitas vezes brigamos, é verdade,Outras tantas reatamosEu, perdoando tuas falhas e omissõesTu, aceitando meus erros e transgressões.De ti, tirei o alimento que me nutriuE o teto que me abrigou.Em ti, vivi, usufruí, cresciAtravés de ti, conheci, subi, venci.Acolheste prazerosamente minha juventudeE observas, silenciosamente, meu envelhecer.Meu corpo cheira a vocêE minhas vestes guardam o teu perfume.Se um dia me perguntassemEm que braços eu gostaria de descansarCertamente eu responderia: nos braços do Arsenal.

Sentimentos CMG Joãomar Aragão

Se não sentes a chuvaE somente a tens quando molhado

Se não sentes o solE somente o tens quando queimado

Então sentirásA luz que emana de todos,Em quaisquer lugares.

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Nascimento daArteCMG (Md) Djalma Mendonça

Carlos Castellar

A vida nasceu do amorO amor é dádiva de DeusDo espírito que Dele legouMichelangelo com maestriaNa Capela Sistina mostrou

Na imagem de DeusPelo toque da mãoTransmitiu pelo Espírito, a luzE das Belas Artes do CéuAqui na terra implantou

Dando ao músico, ao poeta e ao pintorA essência suprema do amor

Sinais Peso dos anos, chegandoVigor, diminuindoOlhar, perdendo brilhoPele, ressecandoPálpebras, caindoDecrepitude, aproximando.

Não se entregarCompreender os sinais vitaisMente se positivarSais e mineraisAo espírito alimentar.

Continuar vivenciandoTropeçar e levantarVistas ao alto!O mundo continua girandoNão perder a esperançaPersistir no viver, sonhar!

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Ainda criança, visitei pelaprimeira vez, com meus pais, o sertãonordestino. Alguns dias em pequenafazenda de amigos no interior do RioGrande do Norte. Tempo de secaprolongada. Paisagem triste eesturricada, amarela. Arbustosretorcidos. Plantação raquítica,espigas anãs, gado desnutrido, tudoparecendo agonizar. Feio, triste.

Foi quando o vi pela primeiravez. Subia a pequena ladeira queantecedia a propriedade. Baixinho,magro, pele sulcada, cabelos ralos,sem cor, camisa, que um dia foibranca, então encardida, calçascinzentas, surradas, arregaçadasdesigualmente. Idade? Indeterminada,mas certamente próximo dos oitenta.Cajado longo, talhado de arbusto daregião. Surgiu como que de repente,sa ído do ambiente , es t ranhomimetismo. Curiosidade infantil,perguntei-lhe o nome. Emitiu som.Ininteligível. Passou por mim,afastou-se pouco, logo absorvido denovo pela paisagem. Regressava pelomesmo caminho no fim da tarde,vindo não se sabia de onde. Percebidosó bem próximo. Mimetismo repetido.

Era conhecido pelo povo dasredondezas como Zé Catolé. Ninguém

O que aconteceu a Zé Catolé?CMG (ref.) Paulo Roberto Gotaç

sabia onde morava, até que ponto ia,em sua peregrinação diária, se tinhafamília, como se alimentava. Poucofalava, e quando o fazia, era porpigarros guturais, indecifráveis.

Já na adolescência, voltei aosertão. Alguns dias na mesmapropriedade. Dessa vez, porém, tudoverde. Árvores atrevidas, alegres.Feijão, milho, espigas gigantes,mangas, frutas locais, galinhasenérgicas e esfuziantes. Gado gordo,parecendo sor r i r. Povo bemhumorado, falante, pessoas excitadas.Vida explodindo por toda parte. Éassim no sertão. A chuva abençoada,delírio. Quando chega, parece que aseca nunca existiu. Todos inebriadospela fartura.

Ao chegar, perguntei por ZéC a t o l é . T u d o c o m o a n t e s ,informaram-me. Passagem pelamanhã, surgimento repentino, semorigem, parecendo brotar do solo,destino desconhecido, regresso no fimda tarde.

Vi-o no dia seguinte pelamanhã, ao passar. De novo, à tarde.Algo, porém, me chamou atenção. OZé, como um todo, me pareceu verde,meio que incorporado ao ambiente,como quando o vi pela primeira vez,

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confundido com a seca. Descobri quea gente da terra não percebia isso.Talvez porque o visse todos os dias.Como fui em ocasiões separadas,notava a diferença.

Nunca mais voltei. Hoje, trintaanos após a última visita, ao acordar,lembrei-me de Zé Catolé. Dispondodos itens da modernidade, telefoneipara os amigos e perguntei por ele.Havia desaparecido. Ninguém sabeaté hoje o que aconteceu. Foi vistopassando pela propriedade de manhã,como sempre acontecia. Nãoregressou à tarde, como esperado.

Foram realizadas buscas na regiãodurante dias. Nada, nenhum cadáverencontrado, nenhum vestígio deviolência ou assalto.

Tenho um palpite: Zé Catolénão morreu. Incorporou-se, naderradeira ida, a um dos arbustos docaminho, mudando de cor, a partir daí,em cada estação do ano. Deve estar láaté hoje, emitindo sons guturais que opessoal confunde com o ruídoprovocado pelo vento nos galhos.

Nós, humanos urbanos, nãoentendemos isso.

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Soldados da LiberdadeSoldados da LiberdadeLetra e música: Luiz Felipe de Meneses MagalhãesLetra e música: Luiz Felipe de Meneses Magalhães

Somos fortes, valentes guerreiros,Combatentes de armas na mão:Da Marinha leais fuzileiros!Defensores do augusto pendão!Sentinelas de terra e dos maresNossa vida é combate virilTendo em mente os heróis militaresQue tombaram em prol do Brasil.Soldados da liberdade,Lutemos que o combate é nossa vidaDefendamos a integridadeDa Pátria Brasileira estremecida.Sentinelas de terra e do marTemos sempre em mira o canhão.Pelo nobre ideal de lutarPara a glória do auri-verde pavilhão.Desde os tempos remotos na históriaO Brasil canta os feitos navaisPara nós é orgulho, é glóriaSempre ouvimos na guerra ou na pazQuem são estes vibrantes guerreiros?Estes homens valentes quem são?Da Marinha, leais fuzileiros !Combatentes de armas na mão.

Por ocasião da Viagem deInstrução do NE Duque de Caxias,em 1956, estava a bordo o ComteLuiz Felippe de Magalhães, autor do“Hino da Escola Naval”, da “Escolade Aeronáutica” e do “Viva aMarinha”. Certo dia ele reuniu osGuardas Marinha Fuzileiros Navaise para nós cantou um hino que tinhacomposto para o Corpo de FuzileirosNavais. Fez várias repetições, paraque aprendêssemos, e nos forneceu aletra.

Passados vários anos, eu jáCapitão-de-Corveta, liguei para oArsenal de Marinha, onde estavaservindo o Comte Luiz Felippe epedi-lhe a partitura, para que pudessedistribuir às nossas bandas. Ele riu demim e disse que não tinha partiturade nada. Assim, eu parti para a

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Companhia de Bandas do Batalhão deComando do Corpo de FuzileirosNavais, solicitei ao Comte Fagundes,um músico, e ele escalou o SargentoJorge de Oliveira Si lva, quetransportou meus solfejos para o papel,formando a linha melódica do hino. Nasequência, os componentes da bandaprovidenciaram os respectivos arranjosinstrumentais e montaram a partituraque foi várias vezes ouvida por mim,até que estivesse exatamente como mefoi cantada originalmente.

Isto posto, providencieidiversas cópias e as enviei para todas asbandas sediadas no Rio. E o hino nãotocava. Parecia até que havia uma mãoinvisível que bloqueava qualquer obraque não fosse convencional. Procuravasempre me entender com os mestres debanda, por onde passava, como por

exemplo no Comando de Reforço, enada. Foi então que assumi aimediatice do CIAdest CFN e entãoele tocou - e muito!

Apartir daí, o hino despertou ointeresse geral tendo, inclusive, sidogravado pela Banda Sinfônica doCFN, cujo CD recebi e, para surpresaminha, verifiquei que nele outronome, em parceria com Comte LuizFelippe, o que não corresponde àrealidade, porque aquele oficial éautor exclusivo da música e da letra. .

Recentemente, no dia 11 demarço, foi comemorado o aniversáriode 194 anos do Corpo de FuzileirosNavais, no Grupamento de FuzileirosNavais de Natal, quando presenciei,emocionado, a tropa cantandogarbosamente o hino "Soldados daLiberdade”.

(*) O CMG (FN-Ref) Afonso Henriques Corte Real Nunes, autor desta brevereminiscência, entrou para o Colégio Naval em 1952, foi declarado GM FN em 1955 efoi transferido para reserva.

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PROCURAVA EM TI, UM MAR QUE ME ABRIGASSEDESSA TORMENTA, QUE A VIDA FEZ CRUEL

CONFESSO AGORA, LONGE DO TEU ENLACESOU SEM SOCORRO, SOU NÁUFRAGO AO LÉU

IIÉS MAR CHÃO, SINGRADO EM CALMARlA

LONGE A TORMENTA, DOR DE TANTOS ANOSÉ TÃO DISTANTE A SINA DE TAIS DANOS

QUE MAL LEMBRO: VERDADE OU FANTASIA?

IIIAGRADEÇO, AJOELHADO, MEU TESOURO

O TEU AMOR, QUE BEM SEI, NEM MERECIAFULGE EM BRILHO SOBRE ANDOR DE PEDRARlA,TEU CORAÇÃO, QUE DEUS FEZ UM PURO OURO.

IVA VIDA NEGRA QUE ANTES EU CUNHAVA

RESSURGIU À TUA FORJA, EM TONS DOURADOSQUIMERAS VÃS, QUE EU TANTO ACALENTAVA

HOJE REAIS MERCÊ DOS TEUS AGRADOS

Continentino

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Em imenso Salão, entre livros e livros,percebo vida, nas palavras diversas.

eternas, grifadas em sendas expressas,

que atravessam o espaço luminoso,sem limites e sem idade,

em passos largos de liberdade.

Folheando as obras literárias,vejo sonhos, imagens incessantes,

emoções a cada instante.

Em minha frente um olhar. Um passado,emoldurado, explicitamente sereno,

exemplo de dignidade, pleno

Em meio a tudo, procuro um livroque jamais será esquecido,

assinado por um consciente vívido.

Ouço precisas e desejadas palavrasguiando-me em iluminada direção.

Verbo em eterna comunicação.

À mesa o presente se descortina.Visualizo uma caneta rubi.

Com saudade encontro um livro:

"Eu estou aqui!"

Em imenso Salão, entre livros e livros,percebo vida, nas palavras diversas.

eternas, grifadas em sendas expressas,

que atravessam o espaço luminoso,sem limites e sem idade,

em passos largos de liberdade.

Folheando as obras literárias,vejo sonhos, imagens incessantes,

emoções a cada instante.

Em minha frente um olhar. Um passado,emoldurado, explicitamente sereno,

exemplo de dignidade, pleno

Em meio a tudo, procuro um livroque jamais será esquecido,

assinado por um consciente vívido.

Ouço precisas e desejadas palavrasguiando-me em iluminada direção.

Verbo em eterna comunicação.

À mesa o presente se descortina.Visualizo uma caneta rubi.

Com saudade encontro um livro:

"Eu estou aqui!”

Ao seu encontro...Mara Joaquim

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De mim mesma, o que tenho a oferecer?Parada no sinal vermelho, observo uma movimentação diferente entre os

carros. Eram meninas adolescentes, de classe média, pintadas dos pés à cabeçacom tintas coloridas. Provavelmente estavam cumprindo algum tipo de trote deinício na universidade.

Minha filha também passou por isso. Lembro bem que, em sua primeirasemana, só podia circular nas dependências da faculdade se estivesse carregandoum balde de lavar roupas.

As adolescentes pintadas que andavam entre os carros, não. Estascarregavam sacolas de plástico, dessas de supermercado, onde depositavam ostrocados que recolhiam dos veículos.

Todos os motoristas, homens e mulheres, abriram suas janelas econtribuíram alegremente com a brincadeira das meninas. Todas bonitinhas,graciosas, sorridentes e lambrecadas de tinta. Pude notar que as sacolas, em quecarregavam os donativos dos motoristas, estavam pesadas e havia até nota de cincoreais, como verifiquei pela transparência do saco da bela mocinha que meabordou.

Será que estas jovens têm algum quê de não sei que?A mais ou menos um quilômetro dali, novo sinal fechado. Mais

adolescentes pintados dos pés à cabeça. Agora, não circulavam entre osautomóveis com sacos plásticos cheios de moedas. Em vez disso, subiam nosombros uns dos outros em forma de pirâmide na frente dos veículos. O que ficavano cume, fazia malabarismo com limões.

De repente, saltavam ao chão com as mãos vazias estendidas. Desta vez,contudo, ninguém abriu a janela, ninguém sorriu, ninguém contribuiu e elesvoltaram, sem moedas, com visível cansaço estampado no rosto, às suas posições,esperando o sinal fechar novamente para continuar seu malabarismo por umamísera moedinha.

Por que doamos a quem não carece e fechamos a janela e a cara para quemrealmente precisa?

Muitos podem dizer que não doam porque eles vão se drogar. Outrospodem argumentar que não abrem a janela com medo de serem assaltados.

Um grupo pede porque não tem; e talvez até precise mais de um olhar, de

Aurea Stela

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uma palavra, de afeto do que de moeda. É para estes que doamos o nosso desprezo.Faça esta experiência. Eu já fiz várias vezes e é impressionante o resultado.

Tente abrir a janela e sorrir. Preste atenção no semblante de seja lá quem for que estejaà sua janela. Perceba como é importante para ele se sentir olhado.

O que será que lhes falta além de tudo? O principal é a dignidade. O pior não épedir e ninguém dar, mas ficar exposto àquela situação humilhante e indigna, muitasvezes para obter apenas um pedaço de pão. Ou alguém acha que aqui não existefome?

O outro grupo pede por causa de um trote, uma brincadeira para fazer umachopada na faculdade.

Por que evitamos o que é grave e aderimos muito mais facilmente ao que ébrincadeira? A vida não é uma brincadeira, embora as brincadeiras façam parte davida e a tornem muito mais leve. Se é inevitável que nos deparemos com certascircunstâncias em cada curva da vida, por que fechar a janela e seguir adiante como senão fossemos encontrar com ela novamente na outra esquina?

O intuito não é por em discussão ou criticar quem doa ou não, ou o destino quecada grupo dará ao dinheiro, mas entender a nossa visão, a nossa atitude, o nossocomportamento diante de situações como estas.

Por que tratamos os iguais de forma diferente?Agora sou eu quem está no topo da pirâmide, sem habilidade nenhuma e

tentando me equilibrar. De repente, salto ao chão e fico diante dos dois grupos deadolescentes.

Como tornar os iguais mais iguais?Existem os quês de não sei que, mas há também os por quês. É com estes que

tenho me ocupado cada vez mais.Eu só queria entender!

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A última estrofeAgostinho Fortes

Meus pensamentos hoje são dispersos,Já as palavras fogem da memória.Não sei como extrair a boa históriaDo dia a dia, para fazer versos.

E já não penso como um trovador.A criação tornou-se rara e lenta.E só vontade é pouco, não sustentaO sentimento para se compor.

Esta é talvez a última viagem,Desanimado e sem muita coragemVou procurando as rimas, mas em vão.

E este soneto será meu legadoDos dias já vividos, do passadoE das lembranças do meu coração.

Sei escrever poesiasEm mancos versos de amorFaço comidas gostosasTenho conta no floristaGosto de estar de mãos dadasApreciando o luar

Decorei alguns poemasDe Neruda e de DrummondE vivo contando históriasE as estrela do céu.Desenho bichos nas nuvensComponho e canto canções

Creio que sou anarquista... idealista talvez ...Algumas vezes eu choroDe emoção ou de saudade.Quando lembro Clara Nunes,Mercedes Sosa, Elis ...,

Me apaixono com frequênciaSou um romântico contumaz.Me entrego de corpo inteiroEm se tratando de amor.Acho que não sou perfeitoMas é assim mesmo que eu sou.

Dizem que eu tenho charmeE não sou tão feio assimE ainda guardo alguma prataPra poder fazer bonitoe lhe mandar umas florese uma caixa do bombom.E então?...quer namorar comigo?

...e então?São Beto

Meus pensamentos hoje são dispersos,Já as palavras fogem da memória.Não sei como extrair a boa históriaDo dia a dia, para fazer versos.

E já não penso como um trovador.A criação tornou-se rara e lenta.E só vontade é pouco, não sustentaO sentimento para se compor.

Esta é talvez a última viagem,Desanimado e sem muita coragemVou procurando as rimas, mas em vão.

E este soneto será meu legadoDos dias já vividos, do passadoE das lembranças do meu coração.

Page 19: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Muito se tem explorado a beleza do mar.Eu, porém,mergulho em seu silêncio.

O silêncio do mar me traspassa,como um sinal de eternidade.

O homem que retorna ao maré o homem que retorna a sua própria origem,à sua solidão fundamental.

No mar, eu me instaleicomo na minha casa.No mar, eu me encontreicomo no meu castelo interior.

Fui santo,fui poeta,fui homem,

no mar que é meu deserto,o meu céu,o meu reino.

Nele escrevi a poesia da minha liberdade,porque todas as portas do mar estavam escancaradas,todas as portas do mar tinham-se tornado leves como o vento,todas as portas do mar tinham-se tornadoapelos de sinceridade.

Muito se tem explorado a beleza do mar.Eu, porém,mergulho em seu silêncio.

O silêncio do mar me traspassa,como um sinal de eternidade.

O homem que retorna ao maré o homem que retorna à sua própria origem,à sua solidão fundamental.

No mar, eu me instaleicomo na minha casa.No mar, eu me encontreicomo no meu castelo interior.

Fui santo,fui poeta,fui homem,

no mar que é meu deserto,o meu céu,o meu reino.

Nele escrevi a poesia da minha liberdade,porque todas as portas do mar estavam escancaradas,todas as portas do mar tinham-se tornado leves como o vento,todas as portas do mar tinham-se tornadoapelos de sinceridade.

Lucimar Luciano de Oliveira

Page 20: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Contemplando a VidaAntonio Feitosa dos Santos

Hoje eu gritei mais alto do que ontem,E o silêncio se fez sombra em meu grito.As vozes não se escutaram. E eu gritei.E essas se fizeram sombra no silêncio.

Larguei o tempo ainda em movimento,Larguei a vida a tatear na luz do tempo.Sem raios ou as crepitantes fagulhas,Dessa luz que caminha como andarilho.

Soprei no cansaço, como sopra o vento,Gotas de suor resvalam como o orvalho.Na fadiga do labor deixada pelo tempo,Morre a semente na aridez ao germinar.

Lá vem o homem, mas não se sabe donde,Vai o homem caminhando o seu caminho.Este que já foi menino hoje ele retorna,Ao início do começo e onde tudo finda

Parto partes de mim em legadosque deixo guardados nas margens e parto.Peregrino cansado, seguindo o sagradocaminho sinuoso em busca do adiante.

E quando enfim chegar meu destino,será que ainda restarei comigo?Ou apenas um fantoche construídopor retalhos que trago de amores perdidos?

E qual névoa matutina que sopra imagens,que gélida envolve e distorce fatos,brota sorrateira a gota da saudade.

E o nó na garganta denuncia que os votosque volto um dia são meras bobagensadormecidas na memória sem piedade.

Adriana MarinsSoneto da Despedida

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TRIBUTO A ENFERMAGEMCapitão-de-Corveta (T) Cleber Ribeiro da Silva

A sublimação do destinoAlcança-me e me conduzImpulsiona-me sempre a prosseguirModula-me o tomAdapta-me a imagemE no afã do próximo servirEis que surgiu dentro de mimO gosto saboroso da enfermagem

Por isso sigo o meu destinoIsento de qualquer maquiagemE nas lides do meu dia a diaEntre curativos e bandagensBrota em mim a alegriaDe, tal qual uma miragem,Ver retomar no próximo, o sorriso.E ver que sou de Deus a imagem.

Nas adversidades da minha vidaA compensação vem da alegriaVem da enfermagemVem da harmonia

E do bem servir, vem da minha emoção

Vem do fundo da minha almaVem de dentro do meu coração

Vem do sentimento mais puroVem da ajuda a um irmãoVem da felicidade infinitaVem da verdadeira emoção

Vem do salvar vidasVem do lhe dar coragem

Vem da força de DeusVem de dentro de mim esta vontadeVem do sentimento mais puroQue é o meu amor pela enfermagem.

Page 22: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Um AnjoBeto Cunha

EXISTEM ANJOS, SIM!ENCONTREI UM NA MINHA VIDA

ESTAVA EM DEPRESSÃO, DESILUDIDO,SEM PLANOS, REALMENTE PERDIDO.

MEU ANJO SURGIU EM UMA NOITE MÁGICACHEGOU DE MANSINHO, MEIGO, DOCE,

NO MEIO DE UMA BELA FESTA.BALBUCIOU AO MEU OUVIDO:

CALMA, TUDO AGORA VAI MELHORAR COMO NUM ENCANTO.MEU ANJO NÃO TINHA ASAS, NEM O BRILHO DE UM QUERUBIM.

MAS COM CERTEZA PARA MIM,ERA O MAIS BELO DE TODOS OS ANJOS.ELE ERA UM SER HUMANO ILUMINADO

UMA MULHER PERFEITA.ESSE ANJO É SÓ MEU, ME DESCULPEM O MEU EGOÍSMO.ELE ME ATURA, ME ACEITA, ME PROTEGE, ME CORRIGE.

GUIA TODA MINHA VIDA.DESCULPEM MAS NÃO É HERESIA,

ESTE "ANJO" É SIMPLESMENTE,VOCÊ, MINHA ROSA, MINHA MULHER, ROSA MINHA.

Page 23: Mare Nostrum 63 03 de abril -

Duas Almas*

Alceu Wamosy

Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,entra, e, sob este teto encontrarás carinho:Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.Entra, ao menos até que as curvas do caminhose banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:Há de ficar comigo uma saudade tua...Hás de levar contigo uma saudade minha...

*Este poema ilustra a homenagem da revista Mare Nostrum ao "DiaNacional da Poesia", ocorrido em 14 de Março. É oportuno destacar que esseilustre poeta cultivou o Simbolismo, já no seu final. Ele, foi admirador deCruz e Souza e recebeu influência, como no poema "Imortal Silêncio",constante do seu livro "Flâmulas" (De acordo com Andrade Muricy, em"PANORAMADO MOVIMENTO SIMBOLISTABRASILEIRO" - Vol. II,2ª edição, Brasília - Conselho Federal de Cultura e Instituto Nacional doLivro, 1973).

Monumentoem homenagema Alceu Wamosyem Uruguaiana

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Entre em contato conosco pelo e-mail: [email protected] a revista Mare Nostrum pelo site: www.clubenaval.org.br

Mensagem da Sereia

Com a finalidade de promover os/as poetas, cujospoemas foram publicados na Revista Mare Nostrum, aolongo do ano, o Círculo Literário do Clube Naval passará aescolher, por trimestre, três (03) obras. Na última ediçãotrimestral desse ano, serão publicadas (02) duas que sedestacaram em termos de qualidade do texto e de conteúdoliterário. Participem!

O Círculo Literário do Clube Naval informa aos sócios, eseus convidados, que tem a intenção de publicar suaantologia a ser lançada neste ano. Para tanto, espera a adesãodos interessados em participar dessa seleta publicação. E oscustos serão módicos! Mais detalhes serão divulgadosoportunamente.

CONCURSO MARE NOSTRUM

ANTOLOGIA DO CÍRCULO LITERÁRIO 2014