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“O FORNOVO” - Informativo eletrônico do IHGGS e da AHIMTB/SP ANO: III (2015) JANEIRO N.º 12 1 ______________________________________________________MENSAGEM DO PRESIDENTE A retaguarda: importante, mas sempre esquecida! Adilson Cezar (*) Sempre que nos referimos a uma luta, refrega, etc. a valorização de imediato vai para o “front”, isto porque certamente somos inclinados a atender e valorizar mais os embates cuja visualização e dramaticidade são privilegiadas. Entrementes, quando do uso mais concentrado e sensato, percebemos através de reflexão que a retaguarda, pode e é em algumas vezes, até mais importante do que o que acontece na frente. E vamos mais além, visto que se não existir uma retaguarda “logística” e bem estruturada, não haverá “front” que resista. Há muito se sabia que grandes expedições militares, ou melhor, aquelas que executam maior profundidade em território inimigo, tendem a ser cada vez mais suscetíveis ao desastre quanto mais distantes estiverem de suas bases. Em outras palavras, quanto mais distante estiver a linha de frente das suas bases de sustentação, apoio de alimentos, transportes, abastecimento de munições, etc, mais difícil será a manutenção do avanço sobre o inimigo. E se houver ruptura dessas linhas de comunicação, então tudo será levado de roldão. Um exemplo clássico desse problema pode ser obtido no estudo da campanha Napoleônica sobre o Império Russo. O avanço Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba IHGGS O Fornovo Casa de Aluísio de Almeida Sorocaba Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil AHIMTB/SP Gen Bertholdo klinger Órgão informativo eletrônico do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil / São Paulo “Gen Bertholdo Klinger” Federada à Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil ANO: (III) 2015 JANEIRO N.º 12 Editor responsável: Jorn. Reinaldo Galhardo de Carvalho Presidente do IHGGS e AHIMT/SP: Prof. Adilson Cezar

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______________________________________________________MENSAGEM DO PRESIDENTE

A retaguarda: importante, mas sempre esquecida!

Adilson Cezar (*)

Sempre que nos referimos a uma luta, refrega, etc. a valorização de imediato vai para o “front”, isto porque certamente somos inclinados a atender e valorizar mais os embates cuja visualização e dramaticidade são privilegiadas. Entrementes, quando do uso mais concentrado e sensato, percebemos através de reflexão que a retaguarda, pode e é em algumas vezes, até mais importante do que o que acontece na frente. E vamos mais além, visto que se não existir uma retaguarda “logística” e bem estruturada, não haverá “front” que resista. Há muito se sabia que grandes expedições militares, ou melhor, aquelas que executam maior profundidade em território inimigo, tendem a ser cada vez mais suscetíveis ao desastre quanto mais distantes estiverem de suas bases. Em outras palavras, quanto mais distante estiver a linha de frente das suas bases de sustentação, apoio de alimentos, transportes, abastecimento de munições, etc, mais difícil será a manutenção do avanço sobre o inimigo. E se houver ruptura dessas linhas de comunicação, então tudo será levado de roldão. Um exemplo clássico desse problema pode ser obtido no estudo da campanha Napoleônica sobre o Império Russo. O avanço

Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico

de Sorocaba

IHGGS

O

Fornovo

Casa de Aluísio de Almeida

Sorocaba

Federação das Academias de História

Militar Terrestre do Brasil

AHIMTB/SP Gen Bertholdo klinger

Órgão informativo eletrônico do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e da

Academia de História Militar Terrestre do Brasil / São Paulo “Gen Bertholdo Klinger” Federada à Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil

ANO: (III) 2015 JANEIRO N.º 12

Editor responsável: Jorn. Reinaldo Galhardo de Carvalho

Presidente do IHGGS e AHIMT/SP: Prof. Adilson Cezar

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das tropas francesas e aliadas se deu em tal profundidade, que atingiu Moscou. Os russos sem possibilidade de deter o inimigo em combate optaram por exaurir as forças deste através do corte de recursos proveniente de sua retaguarda. Chegaram mesmo a se retirar de Moscou, entregando a sua capital ao invasor, mas antes a queimaram, para que nada pudesse ser aproveitado pelo conquistador. Chegava o inverno, cujo papel foi fundamental na derrota dos invasores que chegamos mesmo a alcunhar esse fenômeno climático, de “General Inverno”. Aliados à condição climática e imensa distância em que se encontravam, há outros fatores decisivos; aconteceu o óbvio: a retaguarda trabalhadora não conseguiu manter as remessas para sustentar a ação do exército. A este não houve outra escolha, a não ser se retirar e sempre acutilado pelas baionetas inimigas. A revolução industrial foi outra demonstração inequívoca do que representa a retaguarda de importante para a manutenção dos exércitos litigantes. Isso chegou a um ponto a determinar a mudança da conduta da guerra, que dos simples e clássicos enfrentamentos entre as forças inimigas, passou-se a conceber uma fórmula de estender o conflito às cidades. Isso aconteceu pela percepção da fundamental importância em se destruir o conjunto industrial que estava de maneira geral, localizado nas periferias das cidades. Destruindo-se o parque industrial do inimigo, as forças litigantes ficavam a mercê de seus oponentes e a diferença entre vitória e derrota estava sempre reservada àquela nação que melhor conseguisse atender ao interesse de seus soldados. Para o presente número, graças à colaboração do amigo e empresário Manoel Affonso Monteiro de Castro, filho de quem enfocamos como agente principal do cotidiano (o soldado n.º 362) daqueles dias de apreensão pelo desenrolar do teatro bélico. Ele nos brindou com o documento, que reproduzimos, por considerarmos interessante, na medida em que muitos passaram pelas mesmas adversidades e ou situação, por isso mesmo retorna à nossa compreensão de como era a vida de um soldado na retaguarda. Juntaram-se a essa ficha militar algumas fotografias que o soldado em destaque guardou para sua eterna recordação. Como agentes da criação da narrativa histórica, desejamos que mais participantes, coparticipantes, ou mesmo meros expectadores, tenham o cuidado de guardar esses testemunhos valiosos, imprescindíveis ao trabalho eficiente e verdadeiro do historiador. A história particular do soldado n.º 362, nos remeteu a outras aventuras, todas elas nos bastidores da História. Como parte de seu serviço foi realizado na cidade de Natal; isso nos deu o gancho necessário, para lembrarmos que essa cidade foi considerada a melhor localização estratégica para que os aliados, de maneira, digamos confortável, atingissem o ponto extremo da África e dar assim decisivo apoio às tropas em beligerância. Em termos geopolíticos, Natal – foi o trampolim para a vitória. A imprescindível presença americana nessa região determinou além da evidente adequação às necessidades das forças armadas, a uma digamos “sutil” aproximação cultural. Das absolutas necessidades de interação entre os seres humanos, adquirimos hábitos da cultura norte-americana. Assim é que percebemos e adquirimos costumes como o de beber “coca-cola” e mascar “chicletes”, dentre outros menos ostensivos. Vale a pena pesquisar essa importante tarefa dos homens nos bastidores, em seu trabalho em prol da vitória.

(*) Presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil de São Paulo “Gen Bertholdo Klinger”.

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Soldado, n.º 362 Manoel de Castro Affonso

A HISTÓRIA DE UM PRACINHA NA RETAGUARDA

Manoel de Castro Affonso

2.º Batalhão de Carros de Combate Leves

3.ª Companhia

O soldado, n.º 362 – Manoel de Castro Affonso – pertenceu à 3.ª Companhia e o relato que se segue, deve-se à sua ficha corrida enquanto esteve a serviço nessa Sub-Unidade. Relação das alterações ocorridas com a praça abaixo declarada, durante o tempo em que a mesma serviu nesta Sub-Unidade. Alterações – Em 1943. MARÇO: Á 3, foi incluído no estado efetivo do Btl, e no desta Cia, como reservista convocado e por ser especialista em motores e óleo, vindo com transferência do Regimento Sampaio, tomando o n.º 371 e ficando considerado não apresentado. Á 16, apresentou-se. Á 29, foi matriculado no C. C. C. por ter sido aprovado nos exames de seleções realizado no dia 27. ABRIL: Á 15, foi público estar amparado pelo Decreto n.º 4.902, de 31/X/1942, não devendo ser sacado vencimentos para o mesmo por este Btl. MAIO: Á 3, embarcou com o Btl. Na Estação de Alfredo Maia, às 23 horas e 27 minutos com destino á nova sede do Btl., em Natal, onde chegou às 22 horas do dia 24. JUNHO: Á 2, foi público ter embarcado para Recife á 1.º afim de trazer os carros Médios deste Btl. Á 25, foi elogiado pelo Snr. Major Pedro Macena Junior, Comandante do B. C. C., por ter tomado parte e cooperado na formatura do dia 10, por ocasião da visita do Exmo. Snr. Ministro da Guerra á Guarnição de Natal, dando sua cooperação para que a formatura tivesse maior brilhantismo, vencendo todos os impecilhos e dificuldades que se lhe depararam no cumprimento de uma missão aparentemente irrealizável, em vista de terem sido recebidos os carros de combate ainda cobertos com esparadrapos, betumes e graxas. JULHO: Á 12, apresentou-se por ter regressado de Recife, onde fora á serviço do Btl.. Á 15, o Snr. Cap Wolfango Teixeira de Mendonça, comandante da Cia., assim se expressou: Elogio individualmente, o soldado Manoel de Castro Affonso, pelas atividades relevantes, leal dedicação, plena eficiência, competência, amor as responsabilidades, capacidade de ação postos em evidencia em todas as ocasiões, concorrendo de tal maneira para o pleno êxito deste deslocamento. Á 20, o snr. Cap Wolfango Teixeira de Mendonça, Comandante da Cia, assim se expressou. Elogio individualmente, o soldado Manoel de Castro Affonso, pela dedicação ao serviço, capacidade de ação, operosidade, iniciativa, firmeza de propósito, vontade de sobrepujar as precárias condições de trafego e outras dificuldades de que deu sobejas provas durante o recebimento, trabalhou preliminares de conservação, transporte dos carros e material de diversas naturezas. Á 28, foi publico precisar consultar ao dentista. Á 29, foi dispensado do serviço por 24 horas. Á 29, o snr. Cap Wolfango de Mendonça, ao deixar o comando da Cia., assim se expressou: Cumpro o grato dever de tornar publico o elogio individual, que faço ao: Reservista convocado Manoel de Castro Affonso, pela sua fidalga educação civil, facilidade de adaptação ao novo ambiente, pratica consciente de seus deveres militares e, sobretudo por sua experiência e vasto cabedal de conhecimentos técnicos e por contagiosa disposição para os problemas de técnica auto, é um dos mais destacados elementos da Companhia e capaz de receber missões de grandes responsabilidades, do ponto de vista técnico. AGOSTO: Á 9, baixou no H. M. N.. Á 14, teve alta do H. M. N., ficando de convalescência por 3 dias. Á 27, foi elogiado individualmente pelo snr, Majór Pedro Messena Junior, comandante do B. C. C., autorizado pelo Exmo. Snr. Gen Gustavo Cordeiro de Farias ao deixar o comando da I. D. 14. SETEMBRO: Á 3, foi publico precisar consultar ao dentista. OUTUBRO: Sem alteração. NOVEMBRO: Á

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13, pelo Bol. Int. n.º 247 foi mandando ser matriculado no C. C. C. por ter sido aprovado no exame de seleção que foi submetido. DEZEMBRO: Sem alteração. Em 1944. JANEIRO: Á 21, foi dispensado da instrução por 3 dias. Á 25, foi desligado do curso de candidato a cabo por falta de aproveitamento e doença. FEVEREIRO: Á 24, o snr. 1.º Ten Carlindo Rodrigues Simão, ao deixar o comando da Cia. por ter sido transferido para o 23.º Batalhão de Fronteiras externou os seus louvores e agradecimentos nos seguinte teor: Ao soldado Manoel de Castro Affonso, agradeço a sua colaboração cujos serviços prestados a Cia., foram das mais altas relevâncias, quer como auxiliar da Secção de Manutenção onde impoz como técnico competente, quer como colaborador propriamente da instrução da Sub-Unidade em proveito da qual traduziu várias notas sobre o carro de combate M3A3 e seu giro-estabilizador. Possuidor de excelente educação, inteligência penetrante é ainda o soldador Affonso, possuidor das belas qualidades que integram um militar. (individual). MARÇO: Sem alteração. ABRIL: Á 8, o snr. 1.º Ten Walter Hart, ao deixar o comando da Cia., externou os seus conhecimentos no seguinte teor: O soldado Affonso é disciplinado, conhecedor dos seus deveres, foi ótimo auxiliar deste comando. O soldado Affonso, pela sua competência técnica, pelos seus conhecimentos especializados sobre óleos, resistência, desgaste e manutenção das viaturas, foi de atenção fundamental para toda Companhia, desenvolvendo suas atividades no Pelotão Auxiliar. Com seus conhecimentos da língua inglesa, também tem contribuído para a tradução de várias instruções e estudos sobre Moto-Mecanização. (individual). Á 10, foi publico que para fins do n.º 9 do Art. 323 do R. I. S. G., que deixou de gozar o período de férias relativo ao ano de 1943. Á 28, foi publico os seus sinais característicos: Reservista de 2.ª categoria pela E. I. M. n.º 55 da classe de 1916, filho de Manoel Affonso e de D. Olinda de Castro Affonso, natural de São Paulo, cidade de Sorocaba, nascido em 11 de janeiro de 1916, vacinado, lê e escreve, mecânico, cor branca, cabelos castanhos, olhos castanhos, altura 1.68 mts., nariz aquilino, rosto comprido, boca regular. Sem sinais característicos. Possue o certificado de 2.ª categoria n.º 35.893 passado pela 4.ª C. R. – 2.ª R. M.. Ainda á 8, foi entregue á este Corpo e a esta Sub-Unidade a sua relação de alterações remetidas com oficio n.º 1656/91 do 1.º R. I.. MAIO: Sem alteração. JUNHO: Á 15, foi publico que á 8 do corrente passou a perceber como engajado de acordo com o Art. 56 do C. V. V. M. Ex.. Á 30, foi publico em aditamento ao Bol. Int. n.º 19 de 22/V/1944, que foi classificado na categoria “E” na inspeção de saúde á qual foi submetido pela J. M. S. para efeito de inclusão na F. E. B.. JULHO: Sem alteração. SETEMBRO: Sem alteração. OUTUBRO: Á 3, embarcou com o Btl. ás 17 horas no porto de Natal, com destino ao sul do pais, tendo chegado ao porto do Rio de Janeiro ás 8,45 horas do dia 15. Á 23, foi publico ter ficado na Capital Federal á Serviço do Btl.. NOVEMBRO: Á 25, foi publico ter se apresentado á nova sede do Btl. em Caçapava, no dia 23 corrente. DEZEMBRO: Á 4 foi elogiado pelo snr. Cap. Hiram Serejo Pinto, comandante da Cia., no seguinte teor: Agradeço e louvo pela dedicação e boa vontade com que sempre se prontificou a trabalhar, qualidades essas que ainda mais se ressaltaram durante as operações de embarque em Natal, desembarque no Rio e ainda durante a entrega dos C. C. Medica e ......mento de viaturas de D. M. M., ocasiões em que trabalhou com o mesmo bom humor em horas fora de expediente para que tudo se apressasse em tempo e na mais perfeita ordem. Em 1945. JANEIRO: Á 2, de acordo com aviso 201 de 18/IV/1932, tomou o número 362. Na mesma data, foi elogiado pelo snr. Ten Cel Pedro Massena Júnior, Comandante do Btl., no seguinte teor: Elogio o soldado Manoel de Castro Affonso, que, por seu exemplar comportamento e qualidade de caráter foi considerado, por seu comandante de Cia. o melhor soldado da Sub-Unidade a que pertence e concito-o a que, durante o ano que agora se inicia, a prosseguir na trilha em que enveredou, elevando, como tem elevado, o bom nome do nosso Batalhão e o prestigio em que é tido o nosso Exército. Finalmente, aponto o soldado acima aos seus camaradas para que lhes sigam o belo exemplo de disciplina, amor ao trabalho, dedicação, e abnegação, que vem demonstrando. (individual). Á 16, baixou ao H. M. S. P.. Á 17, foi publico não ter gozado o período de férias relativo ao ano de 1944. Á 27, foi publico ter tido alta a 23 do H. M. S. P.. Á 30 foi elogiado pelo snr. Cap. Hiram Serejo Pinto, ao deixar o comando da Cia., no seguinte teor: Soldado Manoel de Castro Affonso – Agradeço e louvo pelos inestimáveis serviços que vêem prestando á Cia. desde a organização do Btl., cooperando eficazmente para o bom rendimento da instrução, o soldado Affonso vem traduzindo os manuais técnicos americanos, tornando possível a divulgação de ensinamentos especializados de real interesse para o preparo dos homens e manutenção das viaturas da Cia.. Competente, disciplinado, educado e muito trabalhador, impoz-se á consideração dos oficiais da Cia. e amizade de seus camaradas, conquistando pelo seus méritos o título de soldado n.º1 da Cia.. (Individual). FEVEREIRO: Á 15, foi publico ter acampado com esta Cia. na Região da Fazenda do Ribas no dia 5 e regressando á 7, tudo do corrente. MARÇO: Sem alteração. ABRIL: Sem alteração. MAIO: Á 7, foi mandado apresentar-se ao Snr. Comandante do N. D. M. acompanhando o Cap. Waldemar Bittencort afim de receber os carros de combate que se acham na Cia. Especial de Manutenção, já foi a serviço, ficando encostado a

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1.ª C. E. M.. Á 25, foi publico ter se apresentado neste Btl. á 23, ás 23,30 horas com oficio n.º 606 de 22/V/1945 da 1.ª Cia. Esp. De Manutenção. JUNHO: Á 12, o snr. Comandante da 3.ª Cia., Cap. Waldemar Bittencourt elogiou-o nos seguintes termos: soldado Manoel de Castro Affonso, também designado para seguir comigo afim de receber viaturas do B. C. C. Na 1.ª Cia. Esp. de Manutenção, cooperou eficientemente para o recebimento normal dos carros. Louvo-o também pelo interesse demonstrado na missão que lhe foi confiada de acompanhar a manutenção afim de adquirir pratica e pela cooperação prestada no recebimento de material e ferramentas do Dep. da Direct. de Moto-Mecanização. (individual). Á 15, o sr. Cap Cmt. da Cia., Waldemar Bittencourt, elogiou-o nos seguintes termos: o soldado Manoel de Castro Affonso, pela grande cooperação durante o período. Ótimo mecânico, motorista inteligente, disciplinado, concorreu eficientemente para que o material estivesse sempre em condições satisfatórias dentro das precárias possibilidades da Cia.. O soldado Affonso ainda colaborou para serviços estranhos á Cia., mostrando grande interesse pelo Btl.. (individual). JULHO: Á 17, foi vacinado contra febre tifóide. AGOSTO: Á 16, foi publico ter embarcado na mesma data ás 05,00 horas, com destino á cidade de Santo Ângelo, R. G. do Sul, com esta Cia.. Á 22, foi publico ter sido vacinado contra varíola.

Documento transcrito relativo ao Soldado, n.º 362

Papeis amarelados pelo tempo, Testemunham a saga de um homem, que pela labuta cotidiana auxiliou no esforço brasileiro de guerra.

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Dos arquivos particulares do soldado 362, resurgem para a história algumas fotografias ilustrando o esforço brasileiro bélico da retaguarda.

A ficha corrida do soldado, conta muito de como eram os soldados brasileiros. Pode se assim ter uma ideia de nossas necessidades e também das enormes possibilidades que o homem brasileiro pode oferecer.

Natal /RN. – 1942 – Apreciando nossas praias, e vislumbrando no horizonte o local mais próximo do continente Africano.

Soldados embarcados / destinados a reforçar os quartéis em locais considerados mais viáveis de um possível ataque inimigo.

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O soldado 362, com companheiros em Natal, Rio Grande do Norte.

O soldado 362, com amigos, em uma pausa para refeição e jogando conversa fora.

Tanques do 2º BCC – Batalhão de Carros de Combate. Abaixo momento de exercícios.

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Flagrantes de uma parada militar Natal / Rio Grande do Norte

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Zé Carioca – criação de Walt Disney, no início da década de 1940, como parte da Política de Boa Vizinhança.

“Pin Ups” – para os aviões americanos. Lembravam seu estilo de vida.

Esta “Cobra Fumando” é uma homenagem dos estúdios de Walt Disney à FEB.

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Brasão de Armas da cidade de Natal.

Nestor – o principal amigo de Zé Carioca. Sempre preocupado com seu procedimento.

Zé Carioca e sua eterna namorada Rosinha.

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Brasão da Base de Parnamirim

A formalização dos laços de amizade entre o Pato Donald (EUA) e o Zé Carioca (BR). Em um boteco no Rio de Janeiro.

Carmen Miranda - “a pequena notável”. Foi a nossa embaixadora cultural, encurtando as distâncias entre as Américas.

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Referencias:

AFFONSO, Manoel de Castro. Do arquivo fotográfico do Soldado 362. (cedido pelo seu filho Manoel Monteiro de Castro Affonso) Fotos da época, de Natal no Rio Grande do Norte. As fotos mostram os tanques do 2º BCCL – Batalhão de Carros de Combate Leves do Exército Brasileiro, onde serviu o soldado n.º 362 – Manoel de Castro Affonso. Esse batalhão guarnecia a base aérea de Parnamirim, hoje Barreira do Inferno e chamado na época de Trampolim da África.

Panfleto em homenagem a FEB do Clube Militar às famílias dos pracinhas.

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Natal – trampolim para a África Os geopolíticos, na tentativa de serem bastante objetivos com relação a explicação, a escolha de determinados pontos como estratégicos com relação a outros, utilizan-se da metáfora, trampolim (prancha que fornece aos atletas o impulso necessário para suas acrobacias) para demonstrar que de determinadas localizações o acesso a outros lugares é facilitado. Importa lembrar que uma vez estabelecido o ponto ou área, isto se torna válido para ambos os contentores, visto que o reverso também é verdadeiro. De forma que precisamos raciocinar por meio desses ângulos. Segundo os geógrafos, a menor distância terrestre entre os continentes Americano e a África, situa-se entre as cidades norte-rio-grandense de Natal e a cidade de Dakar no nordeste Africano.

Mapa do mundo, demonstrando o roteiro a ser utilizado pelos aliados. Partindo dos Estados Unidos da América para o Nordeste Brasileiro e daqui para o Noroeste Africano.

Localização da cidade de Dakar no Senegal / África.

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Capa da revista “Life”, de 02 de março de 1942, que apresenta o sombrio prognóstico de uma possível invasão dos Estados Unidos da América.

Uma vez estabelecido o consenso da importância da posição do nordeste brasileiro para o acesso a África e deste para a Europa, torna-se fundamental para os norte-americanos a cooptação do Brasil para os aliados. Como é de conhecimento de todos, na ocasião o Brasil encontrava-se debaixo do regime chamado de “Estado Novo” e cujo ditador Getúlio Dornelles Vargas, oscilava em sua decisão de fornecer apoio a um dos lados beligerantes. Sua política era sábia com relação ao Brasil, pois com isso pretendia obter as maiores benesses possíveis. Não desconhecíamos as diferenças e dependências entre o nosso país e os demais em termos econômicos e de desenvolvimento tecnológico. Por isso a nossa entrada na Grande Guerra Mundial não foi apenas a reação contra os afundamentos de navios mercantes brasileiros ao longo da costa. (Existe sim comprovação de que esses afundamentos foram realizados

pelos temidos U-Boats alemães – visto que após o torpedeamento, estes emergiam e seus comandantes se identificavam). Getúlio, entretanto desejava a independência no quesito da técnica-siderúrgica e por isso no trato com os norte-americanos foi a cessão de terrenos na cidade de Natal para a construção de uma base aérea norte-americana, além do envio de soldados brasileiros para os campos de batalha da Europa. A contrapartida foi o apoio financeiro e técnico para o Brasil construir a Usina Siderúrgica Nacional (Volta Redonda).1

O trampolim para a África ou para a América?

Como tivemos anteriormente a oportunidade de nos referir, o pensamento centrado na utilização de pontos estratégicos funciona teoricamente na base da ambiguidade, de forma que na prática será aproveitado pelo primeiro que dele se apossar. Este raciocínio é tão simplista e de fácil compreensão, que não fica visível apenas nas pranchetas dos políticos e militares, mas chega mesmo a ser de domínio público. Assim temos, por exemplo, a especulação, dada como de ficção científica de Philip Wylie e publicada pela revista “Life” em 02 de março de 1942. Nela se encontram os mapas de uma possível invasão da America do Norte pelas tropas nazistas. Para alguns, trata-se da teorização do terror para intimidar a população americana, mas para outros tudo isso era bastante viável: “Os mapas mostravam as pretensas movimentações de forças alemãs, italianas e japonesas invadindo o país através de vários locais – do Atlântico em direção a costa leste, um bombardeio ao Canal do Panamá e outros is. Seu propósito era

servir como um aviso aos leitores, que os Estados Unidos já não eram

1 A esse respeito devemos observar que o construtor de Volta Redonda, Gen Edmundo de Macedo Soares, sempre rebateu

essa afirmativa, “de que a Usina foi o resultado de financiamento dos EUA com a condição de o Brasil entrar na guerra”. BENTO, Cláudio Moreira /e/ GIORGIS, Luís Ernani Caminha. Brasil lutas contra invasões, ameaças e pressões externas. Resende /RJ : FAHIMTB/IHTRGS, 2014. p.: 390 a 391. Realmente entre os acordos formados entre os EUA e o Brasil nada especifica a esse respeito, mas, “embora não apareçam nos acordos, os créditos necessários à siderúrgica estavam agora largamente assegurados... com os quais se iniciará a construção de Volta Redonda ainda em 1942”. TRONCA, Ítalo. O Exército e a industrialização: entre as armas e Volta Redonda (1930-1942) p.: 359. In: História Geral da Civilização Brasileira. Vol. 10 – III O Brasil Republicano: 3 Sociedade e Política (1930-1964). DIFEL : São Paulo, 1983.

Posição geográfica da cidade de Dakar com relação ao continente Africano.

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apenas um observador da Segunda Guerra Mundial. A situação era real e uma invasão era tida como uma possibilidade muito plausível na época.”

Imaginação + Conhecimento + Realidade Pontos Estratégicos

As projeções são absolutamente necessárias nesse jogo de forças, para se prevenir e executar um planejamento com possibilidades de sucesso, graças às variantes de cenários a que foram submetidas. Um dos projetos elaborados data da imediata realidade mundial em final dos anos 1941 e meados de 1942, quando a Alemanha, havia conquistado boa parte da Europa e ainda lutava contra a Inglaterra e a União Soviética. Seus exércitos estavam sendo vencedores no Norte da África. Inegável eram também as grandes probabilidades de que o Feldmarschall (Marechal de Campo) Erwin Rommel, no comando de seu exército, o Afrika Korps, fosse vitorioso sobre os ingleses. Isso implicaria no domínio do então estratégico canal de Suez e garantiria aos alemães acessos aos riquíssimos campos de petróleo do Oriente Médio. Os italianos, seus aliados, controlavam a Etiópia e a Líbia. O Estado Francês de Vichy era formado por um governo fantoche e colaboracionista dos nazistas. Em razão desse domínio crescente era fácil prever o controle da África Ocidental Francesa e com isso Dakar cederia seu porto e aeroporto. Dessa cidade seu destino inevitável, seria o Nordeste Brasileiro, mais especificamente a cidade

A revista “Life” de 02 de março de 1042 – apresenta: “Six ways to invade U. S.. Axis Powers can try it if they combine fleets to win sea superiority”. (Seis caminhos para uma possível invasão dos Estados Unidos pelas potências do eixo, se estes combinarem suas frotas e ganharem a superioridade marítima.)

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Hipotéticos cenários pelo qual os Estados Unidos da América são atacados pelas potências do Eixo.

de Natal e transformaria esse ponto em um trampolim para acesso à cidade de New Orleans. Isso pode facilmente ser depreendido na observação do estudo projetado em um dos mapas. Como não bastasse essa perspectiva aterrorizante, os especialistas criavam outros cenários igualmente catastróficos para os Estadunidenses. Os japoneses dominavam nesse histórico momento boa parte do sudeste asiático. Seu ataque a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, fez com que os americanos do norte vislumbrassem a real possibilidade de seu território vir a sofrer ataques por parte das potências do Eixo. O significativo avanço japonês permitia inferir a possibilidade de partindo da

Indochina um ataque à Índia. Nesse país os rancores contra a dominação inglesa certamente levariam a uma situação de apoio aos nipônicos. Isso também possibilitaria o acesso ao mar vermelho, dominando assim uma provável rota contrária ao Marechal Rommel. Todas essas elocubrações são importantes para prevenção e projeção de ações de contra ataques. Destas a com maior probabilidade de acerto era aquela ação que acontece através de nosso território e para isso utiliza-se

Mapa da invasão dos Estados Unidos, pelos nazistas, partindo da África para o Brasil.

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Recorte de jornal da época, mostrando que Natal era o centro de atenções / tensões de todos.

Reunião do Movimento Integralista (AIB – Ação Integralista Brasileira).

Ministro Osvaldo Aranha – sempre atuou em defesa das relações brasileiras com os Estados Unidos.

da cidade de Natal. Devemos ainda salientar que o Brasil ainda não havia se definido a quem apoiaria se aos aliados ou as potências do Eixo. Em todo caso é importante que tenhamos em vista que nessa época tínhamos um governo ditatorial cujos métodos mais se assemelhavam aos dos nazi-fascistas. Havia mesmo grupos organizados, que comungavam de filosofias semelhantes – os chamados Integralistas. Lembramos também que se sofrêssemos um ataque com a finalidade de conquistar a região do Nordeste, não disporíamos de meios guerreiros para fazer oposição. O controle da cidade de Natal, portanto, era prioritário para qualquer um desses grupos.

O panorama da guerra, entretanto, evoluiu em pouco tempo e a rapidez da mesma não se fez como era de se esperar pelos componentes do Eixo (Alemanha X Itália X Japão). A resistência dos Ingleses em não se renderem, o ineditismo Francês na criação da França Livre em oposição, a persistência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a contenção de Rommel na África do Norte a resposta Norte-Americana aos Japoneses no teatro do Pacífico, dentre outros fatores, eclipsaram o sucesso Nazi-fascista. Em 1943 o cenário

mundial, apresentava contornos

bem diferenciados de um ano antes e durante esse período, levou-se a tomadas de decisões para fortalecerem as oportunidades surgidas. Uma delas foi a concretização da inversão da fórmula Dakar, para Natal e deste para a América do Norte; para da América do Norte, para Natal e deste para Dakar. Acentuaram-se os contatos diplomáticos entre o Governo Norte-Americano e o Brasileiro. Este último deixou de lado as pressões dos germanófilos e

Estados Unidos da América X Brasil

Bandeira Integralista

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pendeu decididamente para a orientação do Ministro de Relações Exteriores Osvaldo Euclides de Souza Aranha. A conclusão do processo foi a Conferência do Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, presidida pelo nosso Ministro, que defendia suas convicções pan-americanas. Nessa ocasião o Brasil e todos os países americanos, decidiram romper as relações com os países do Eixo, menos a Argentina e o Chile. Esses dois países o fariam posteriormente.

Nazistas no Brasil

Imagem de um Congresso Integralista.

Grupo de homens e mulheres

integralistas afixando a

bandeira da causa.

Cartaz Integralista bastante sugestivo, com o Sigma (Somar) e a saudação originária do indígena habitante, “ANAUÊ” (Eis-me aqui!).

Nazismo ao lado da suástica a bandeira do Brasil.

01.05.1937 -Estádio do Renner em Porto Alegre.

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Mapa da colonização alemã no sul do país, em 1905.

Natal, 28 de janeiro de 1943 – O presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, faz sua segunda visita ao Brasil. Acompanhado do ditador Getúlio Dornelles Vargas encontram-se para a “Conferência de Natal”.

A presença da ideologia nazista no Brasil ainda precisa de muitos estudos. Entretanto, é inegável a sua atuação, principalmente nos estados do Sul do país onde a colonização alemã se processou de forma mais densa. Claro não se descartam os interesses por outros Estados, haja vista a questão geopolítica exposta. A cultura alemã no sul do país ocorreu de forma intensa e por descuido da adoção de uma política de assimilação e integração, deixou-se em liberdade para se aglutinarem como desejassem. Isso gerou grupos de manutenção de culturas, que poderiam em futuro próximo ameaçarem a própria autonomia Nacional. Tal fato também foi bem observado durante o Estado Novo com comentários irônicos, mas que bem demonstra o “perigo” dessa formação. Uma dessas frases era que no interior do Estado de Santa Catarina, havia comunidades, onde até o “negro falava alemão?”. Tais quistos onde haveria obrigatoriedade do conhecimento do idioma germânico e não se preocupavam com o da língua portuguesa, sugerem problemas no futuro. Apenas com a intenção meramente ilustrativa, adicionamos um Mapa de 1905 (portanto anterior à era nazista), mas que assinala os grupos de colonização alemã no sul do Brasil (Die Deutschen Kolonien in Süd-Brasilien). Repare nas manchas cor de rosa, a sinalização da intensidade desses grupos étnicos e nos

pontos em negrito, os lugares com igrejas alemãs. Essas colônias alemãs seriam também prováveis alvos para servirem de extensão do III Reich na América do Sul. Afirma-se que Adolfo Hitler em 1933 declarou: "Criaremos

no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos".

Acertada a participação do Brasil a favor dos Aliados e contrários às potências do Eixo. Firmaram-se acordos de interesses mútuos entre os Estados Unidos e o Brasil. Com isso os Americanos do Norte ganharam a possibilidade de instalar uma base militar na cidade de Natal e a formação de uma Força Expedicionária Brasileira (FEB) para apoiar as ações bélicas dos Exércitos em combate. O Brasil recebeu financiamento para sua desejada implantação de Usina Siderúrgica, bem como transferência de tecnologia para esse setor. Deveria ainda os Estados Unidos de América armar as nossa forças, visto que o armamento estava obsoleto, bem como a necessidade de outros detalhes, se as desejassem com capacidade para enfrentar as eficientes tropas alemãs. As consequências desses atos são imensas e merecem todo um estudo especial, uma vez que a intensificação dessa aliança alteraria completamente o modo de viver, bem como os usos e costumes do povo brasileiro. Embora a decisão de apoiar os americanos do norte tenha sido tomada na reunião dos Chanceleres no Rio de Janeiro e estivessem em andamento, às conversações sobre “as trocas” que seriam produzidas por esse apoio, Getulio Vargas continuava a relacionar-se com alemães e italianos como se nada estivesse acontecendo. As transações comerciais e diplomáticas encontravam apenas alguns embaraços ou dificuldades devido ao teatro bélico, fora o qual tudo continuava como sempre. Mas os submarinos (U-Boats)

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As manchetes anunciavam com alarde a Conferência de Natal, que teve como uma de suas consequências a criação da FEB.

alemães, surpreendendo navios Brasileiros de carga, pesca e até mesmo de passageiros, aos quais acreditava fazer transporte de matéria prima para o EUA, os afundaram entre os dias 15 a 19 de agosto de 1942. Esses torpedeamentos, com grande número de vítimas, calcula-se por volta de 500 pessoas, teve grande reflexo na população, que começou a exigir do governo uma postura definida. Assim no dia 31 de agosto de 1942, finalmente, feita a declaração de guerra às potências do Eixo. A vida no pais já complicada pela ausência de vários produtos que eram obtidos exclusivamente pela importação, cada vez mais rara, iria ser modificada completamente. As nossas cidades, em especial aquelas litorâneas, chegaram mesmo a ensaiar os chamados “black- out’s”, pois não se ignorava a capacidade de nossos adversários. Era aceitável sim, tentativas de bombardeios e até mesmo algum tipo de desembarque. A população brasileira, desgostosa com as notícias, vibrou com a decisão e chegou mesmo a sair às ruas do Rio de Janeiro em manifestação de apoio. A região, entretanto de maior vulnerabilidade pela sua posição geográfica continuava a ser as costas do Nordeste Brasileiro e a cidade de Natal, quatro dias após a declaração de guerra recebe os primeiros aviões da US Navy, que se instalam na Rampa. Importa lembrar que a “rampa” é o local de um píer construído no Rio Potengi, para os hidroaviões militares que pousavam e decolavam desse Rio.

Após um percurso pela localidade para conhecimento da área, os Presidentes se recolheram a bordo de um navio de guerra americano, o USS Humboldt, que se encontrava ancorado no estuário do Rio Potengi, para as deliberações. Os norte-americanos desejavam rapidez nos procedimentos e comprometimento do Brasil com relação à causa. Mesmo tendo sido realizada a declaração de guerra contra a Alemanha e a Itália e havendo o compromisso de levar contingente de nossos soldados para a Europa, os procedimentos erram morosos. A atitude de ganhar tempo parecia ser evidente, a ponto de alguns dizerem que o Brasil somente participaria da guerra, quando a “cobra fumasse”. Essa questão impregnou a imaginação de alguns de forma que mais tarde o brasão de identificação da nossa Força Expedicionária teria por símbolo uma “cobra fumando um cachimbo”. Nossos soldados poderiam agora dizer “e a cobra fumou” (o Brasil foi a guerra). Os norte-americanos, tinham pressa e por isso uma vez formalizados os acordos, trataram de apossarem-se da área a eles reservada no Campo de Parnamirim, e deram início à construção do que seria conhecido como o Trampolim para a Vitória.

O segundo hidroavião Boeing B-314 Clipper, na Rampa, com a comitiva de acompanhamento do Presidente Franklin Delano Roosevelt.

Boeing B-314 Clipper da Pan American Airways, camuflado amerissando, na Rampa em Natal. A bordo o Presidente dos EUA.

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A grande base aérea americana de Parnamerim Field.

Vista de alojamentos da maior base americana fora dos EUA.

PARNAMIRIM FIELD = TRAMPOLINE TO VICTORY Natal se transformou nesse momento na cidade de América do Sul mais engajada no esforço de luta dos Aliados contra as potências Nazi-Fascistas. Deu-se início a pequena distância desta capital, na área denominada de Parnamirim, a maior base aérea Norte-Americana fora dos Estados Unidos da América. Segundo dados demográficos, a cidade de Natal em 1940 contava com 54.836 habitantes e somente a base estadunidense vai incorporar entre os anos de 1943 a 1945, um efetivo de aproximadamente 15.000 homens. Pode-se refletir sobre esse dado, para imaginarmos o tremendo impacto que a construção dessa Base significou para a “provinciana” comunidade. Para o processo dessa construção, a mão de obra que independia de características técnicas, foi cooptada na localidade e isso significou uma retirada de grande número de trabalhadores das áreas rurais adjacentes. Por questões de segurança da população, da manutenção da ordem, apoio as atividades das Forças Americanas e para que se evitassem conflitos entre outros itens necessários, o governo brasileiro através de seu exército, fez deslocar para Natal o 2.º Batalhão de Carros de Combate, do qual um dos integrantes era o soldado n.º 362.

“É inegável que a construção das bases aérea de Natal e Parnamirim Field tenha proporcionado um crescimento econômico nunca antes visto no Estado, gerando cerca de 6 mil empregos e atraindo trabalhadores da capital, interior e outros Estados, além das empreiteiras, todas nacionais e trabalhando em três turnos, 24 horas por dia. O

lado negativo do avanço, com excesso de dinheiro circulando e o inchaço populacional, foi um alto índice inflacionário pois a cidade...” A capital Potiguar se transformou em um verdadeiro gargalo aéreo, por onde passaram milhares de aeronaves de transporte, de bombardeiros, que cruzaram o Oceano Atlântico, rumo aos combates. “Durante todo período da Segunda Guerra Parnamirim Field era muito movimentada. Estima-se que pelo menos 100 pousos e decolagem ocorressem diariamente, com relatos de até 300 em dias de pico, resultando numa média de 3 minutos a cada decolagem. Um dado curioso é que a dificuldade de navegação entre o Brasil e a África e a deficiência tecnológica à época,

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Chegada de mão de obra para a construção da Base Aérea de Parnamirim.

Término de trabalho e retorno para os caminhões da mão de obra.

exigia a decolagem apenas à noite, pois a navegação seguia as estrelas, a exemplo dos primeiros navegadores.”

Trabalhadores em ação. A construção de alojamentos.

Impressiona a quantidade de trabalhadores. A gente simples do nordeste.

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Recorte de jornal, pelo qual se percebe que no início a Base de Parnamirim dispunha de trincheiras defensivas.

A Base aérea da Parnamirim Field, em 1944. Percebe-se com nitidez a sua expansão.

Segundo a fonte: Ivan Dmitri /Micheal Ochs -Arquives / Getty Images, via http://www.buzzfeed.com; Provavelmente brasileiras, que trabalhavam como enfermeiras e ou no Cassino dos Oficiais.

Mesmo lembrando que a base aérea de Parnamirim Field era inicialmente um segredo militar, pois a região poderia no início de seus trabalhos ser facilmente transformada em alvo e os esforços iniciais de construção da vasta infraestrutura necessária para esses serviços ser perdida. Entretanto, quando ao iniciar o ano de 1943, os aliados estavam revertendo o jogo bélico ao seu favor, um jornalista norte-americano, James Alan Coogan da agência de notícias “United Press para a América do Sul”, resolveu mostrar ao mundo o esforço de guerra que estava acontecendo na retaguarda, precisamente no Brasil. Esse espírito de comunicação vinha ao encontro do fortalecimento da autoestima dos aliados, pois as forças alemãs, italianas e japonesas, não apenas estavam sofrendo derrota nas regiões por eles anteriormente dominadas e reuniam cada vez mais condições para superar a capacidade de luta dos inimigos. Essa informação era o energético indispensável para a continuidade do apoio popular à base “Parnamirim Fild”, era “energia pura”, ou como alguns desejam “energia aérea”. Os trabalhos iniciais para a implantação dessa base foram realizados dentro de um esquema de forte proteção; a área estava cercada de trincheiras, (algumas fotografias comprovam essa existência) cujos ocupantes eram soldados brasileiros e americanos. Temia-se que os esforços pudessem ser alvos de ação de bombardeios das potências do Eixo. Somente após novembro de 1942, quando as mudanças no rumo da guerra no Norte da África é que aconteceu um relaxamento das partes, pois se tornou bastante improvável qualquer ataque em grandes proporções. As notícias eram alvissareiras, as tropas norte-americanas, executando a “Operação Torch”, garantiram a posse da parte ocidental africana e da estratégica cidade de Dakar ( na época capital colonial da África Ocidental Francesa). Os trabalhos prosseguiam de forma intensiva e a animação tomava conta de todos. Não se encontravam na frente de combate, mas o “espírito” era bastante semelhante, visto que partiam da experiência de poderem chegar próximos à região do combate e retornarem, senão mesmo o de auxiliarem em

algumas incursões para bombardear. De início, apenas uns tímidos voos entre os Estados Unidos e o Brasil, depois pouco a pouco, mas em

tempo acelerado,

entre o Brasil e a África. Estes cada vez

ampliavam mais a sua

capacidade operativa e habilidades nos mais diferentes tipos de

transportes, agregando

importância para a essa

base aérea. Dia e noite, milhares de aviões de transporte contendo homens e materiais necessários eram levados para as zonas de combates, projetando o poderio aliado a outras partes do mundo. Surpreendia o número de aviões que decolavam e aterrisavam em pequeno intervalo de tempo entre eles. Os observadores relatam: eram “Fortalezas

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Outro ângulo da intensa movimentação da Base Aérea de Parnamirim.

Mulheres provavelmente americanas, junto aos oficiais da US Army.

Voadoras”, “Liberators”, “Mauraders” e outros tantos modelos de aviões que partiam e chegavam de forma ininterrupta. Tal era a quantidade de voos que os próprios pilotos se autodenominavam de “os acorrentados”, visto que mal dava tempo de se libertarem dos cintos que os prendiam aos seus assentos.

A Base aérea de Parnamirim, sem trincheiras e ou apoios para defesa antiaérea. Isso se deve certamente a não temer mais um ataque. Percebe-se também o grande número de aviões bombardeiros.

Soldados americanos antes do embarque para a África.

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No contexto das construções, não bastava apenas a construção do aeroporto, era necessário muito mais, todo um complexo de infraestrutura, indisponível na época e no local. Assim um dos empreendimentos que mais chamou a atenção de imediato foi a construção da primeira estrada com leito asfáltico, ligando Paranamirim a Natal. Eram vinte quilômetros a chamada “Parnamirim Road”, mas conhecida pela população simplesmente com a “a pista”.

Oficial americano vistoriando a Base Aérea de Parnamirim.

Militares na Base: supõe-se que dois deles estejam usando as afamadas “Natal Boots”, feitas pelo sapateiro Edísio.

Manchetes de revista australiana, a divulgar a nossa e a história deles.

A Pista construída pelos americanos no trecho onde hoje é a Avenida Hermes da Fonseca.

Avião na Base Área de Paranamirim.

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Portão em ”Parnamirim Field”, guarnecido por brasileiros e americanos.

O avião Consolidated C-87 Liberator Express, em manutenção na base de Parnamirim. A aeronave era do ATC Air Tranport Command.

Praças norte-americanos, na entrada de uma “tenda”, ou alojamento.

Militares norte-americanos, recebendo os “malotes” do correio. Era felicidade geral com as “boas novas”.

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Referencias:

BENTO, Cláudio Moreira (Org.) et GIORGIS, Luiz Ernani Caminha. Brasil – Lutas contra invasões, ameaças e pressões externas (Em defesa de sua Integridade, Soberania, Unidade, Independência e Integração; e da Liberdade e Democracia Mundiais). Resende – RJ : FAHIMTB/IHTRGS, 2014. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal : Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1999. DAKAR SENEGAL Disponível em: <https://br.search.yahoo.com/yhs/search?type=avastbcl&hspart=avast&hsimp=yhs-001&p=dakar+senegal+africa> Acesso em: 16 Fev. de 2015. FOTOGRAFIAS. Fundação Rampa. Imagens Google.

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Algumas curiosidades do contexto cultural da convivência entre brasileiros e norte-americanos. • Os americanos mantinham distinções em locais de frequência entre – praças e oficiais. Por exemplo, como locais para alimentação e recreação para uns e outros. • A questão dos alojamentos era assim distribuída, para oficiais superiores eram individuais; já aos menos graduados formavam-se duplas. • Os praças ficavam alojados em grandes “tendas” montadas em sólidos alicerces de concreto, com pisos de ripas de madeira. Normalmente ficavam em número de quatro pessoas por barraca. • Afirma-se que devido a quantidade de tarefas a que os destacados para a base foram submetidos, a disciplina militar ali adotada foi mais facilitada ou “democrática”, ou ainda se desejarem como exprimiu um jornalista “folgada”. • Hábitos castrenses diferenciados, os brasileiros preocupavam-se muito com o tamanho do corte de cabelo, a posição da mão na hora da continência ou o lustre das botas; os americanos adotavam uma postura mais operacional e interessada no cumprimento de missões, na produtividade técnicas, etc. • Era incompreensível aos militares americanos, como a oficialidade brasileira aceitava tranquilamente conviver com negros em suas tropas. • Entre as maiores diversões dos militares americanos, estava a de escutar as emissoras estadunidenses em rádios (de válvulas) de ondas curtas; partidas de beisebol e jogos de cartas. • O jogo de beisebol era praticado em uma área existente entre a Base de Parnamerim Field e o setor exclusivo da Força Aérea Brasileira. Nesse local aconteciam as partidas entre os militares do corpo aéreo do exército e da marinha de guerra americana. • À medida que se ampliava a segurança com relação à possibilidade de ataques à Base de Parnamerim também permitia uma maior divulgação das atividades aqui desenvolvidas. Assim acolhiam a visita de inúmeros jornalistas, com o detalhe de que não eram apenas americanos que pela divulgação desta estavam interessados. Equipes de jornalistas norte-americanos, australianos, canadenses e ingleses encontravam-se entre os maiores divulgadores desse precioso ponto estratégico. • Uma das vantagens da Base de Parnamerim sobre outras, encontrava-se no recebimento de jornais norte-americanos, com apenas no máximo um ou dois dias de atraso. • Havia na Base de Parnamirim Field uma área da USAAF (Força Aérea do Exército dos Estados Unidos), uma da US Navy (a Marinha deles) e da nossa FAB (Força Aérea Brasileira).

Oficiais norte-americanos preparando-se para uma reunião.

O avião Consolidated PBAY-1 da US Navy (Marinha Norte-Americana).

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O avião “Douglas C-47 da US AAF”, a serviço da aviação Aliada. Esse tipo de avião era utilizado para o transporte aéreo dos Aliados na II Grande Guerra. Os nossos o denominavam de “burro de carga”, evidentemente em relação a sua capacidade.

Em 20 de janeiro de 1944, o jornalista australiano J. A. Marris, da revista Western Mail, da cidade de Perth da Austrália Ocidental, publicava o seu artigo intitulado “Skayway Base”. Em texto bastante accessível detalhava a importância estratégica de Parnamirim Field e relatava o seu intenso movimento aéreo. Graças à reportagem como essa é possível hoje reconstituir o dia a dia da vida nessa Organização Militar.

“Havia muita poeira e calor em Parnamirim Field, além de um barulho constante dos grandes motores aéreos ligados e guardas verificando as credenciais de todos que chegavam. Logo, os outros passageiros presentes ao setor de embarque e desembarque (um holandês; um coronel da Força Aérea Chinesa; outro chinês da cidade de Chongquing; um outro de Glasgow (Escócia); outro de Tripoli (Libia); etc.) davam ao jornalista uma idéia do caráter internacional da grande base aérea”.

O Douglas C-47, desembarca militares do Commonwealth, observa-se o transporte de um ferido.

“A informação faz referência à aeronave que estava deixando um grupo de soldados feridos, que seriam levados para a principal unidade hospitalar que atendiam estes militares em Natal e hoje é conhecido como Maternidade Januário Cicco. Um dos feridos não passava de um simples garoto, mas que trazia um grande ferimento na perna e era um calejado veterano. Recuperava-se depois de dois anos de combate. Da mesma forma toda uma equipe de enfermeiras era transportada”.

O Douglas C-47, desembarca militares do Commonwelt, são feridos que chegam à busca de tratamento.

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Trabalhando juntos Brasileiros e Norte-Americanos para reabastecer aviões durante a guerra.

A manutenção das aeronaves.

A movimentação de grandes bombardeiros.

Momento da chegada de um bombardeiro na Rampa em Natal.

Aviões sendo reparados, abastecidos, etc. em Natal.

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DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA DA CRIAÇÃO DA BASE DE PARNAMIRIM

DECRETO-LEI Nº 4.142, DE 2 DE MARÇO DE 1942

Cria a Base Aérea de Natal, Estado do Rio Grande do Norte.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o art. 180 da Constituição, DECRETA: Art. 1º Fica criada uma Base Aérea em Natal, Estado do Rio Grande do Norte, guarnecida inicialmente com um Corpo de Base Aérea de 3ª classe. Art. 2º Os elementos que se tornem necessários para a constituição desse corpo de Base Aérea serão recrutados e transferidos de outras Unidades da F.A.B. Art. 3º A Companhia de Infantaria de Guarda sediada em Natal passa a fazer parte do efetivo desta Base Aérea. Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 2 de março de 1942, 121º da Independência e 54º da República.

GETÚLIO VARGAS J. P. Salgado Filho

Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 04/03/1942 Publicação: Diário Oficial da União - Seção 1 - 4/3/1942, Página 3341 (Publicação Original)

Jornal “A República” de 3 de março de 1942, da cidade de Natal /RN, destaca a criação da Base Aérea de Natal (BANT).

A Base Aérea de Natal (BANT) foi criada pelo Decreto Lei n.º 4.142 de 2 de março de 1942, porém só iniciou suas atividades em 7 de agosto desse mesmo ano. Em novembro de 1942, estabeleceram-se nesse mesmo aeródromo, duas unidades militares: a. Norte-Americana, estabelecida no Setor Leste (o Trampolim da Vitória); e b. Brasileira, localizada no Setor Oeste. A segurança na região costeira durante o período de envolvimento bélico foi executada pela Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil, que atuavam nas missões de patrulhamento e de cobertura a navios ou comboios, em cooperação com as forças navais e aéreas Norte-Americanas.

Brasão d’Armas da

BANT Base Aérea de Natal

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2.º Batalhão de Carros de Combate ou 61º Batalhão de Infantaria de Selva

Curiosidade: a evolução do 2.º BCC

Referências:

DECRETO LEI N.º 4.142 DE 2 DE MARÇO DE 1942. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4142-2-marco-1942-414156-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 22 Jan. de 2015. MEDEIROS, Rostand. A primeira notícia sobre a base aérea de Natal – 70 anos de muita história. Segunda Guerra Mundial Publicado em 25 de fevereiro de 2012. Disponível em: < http://tokdehistoria.com.br/2012/02/25/a-primeira-noticia-sobre-a-base-aerea-de-natal-70-anos-de-muita-historia/> Acesso em: 23 Fev. de 2015.

Suas origens remontam ao ano de 1942, quando foi criado com o nome de 2º Batalhão de Carros de Combate (2º BCC). Foi instalado na cidade do Rio de Janeiro em janeiro de 1943. Em abril deste mesmo ano, foi transferido para Natal, onde se instalou temporariamente em decorrência da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de defender a base aérea estadunidense situada em Parnamirim. Em 1944 o 2° BCC embarcou com destino à região sudeste do país, instalando-se na cidade paulista de Caçapava, onde ocupou o aquartelamento do então 6° Regimento de Infantaria. Em 1945, passou a denominar-se 2° Batalhão de Carros de Combate Leves (2º BCCL). No mesmo ano, o batalhão deslocou-se para a capital paulista, de onde iniciou o deslocamento para o município gaúcho de Santo Ângelo. Em 1973, deixou de ser uma unidade blindada para tornar-se uma unidade motorizada, passando a denominar-se 61° Batalhão de Infantaria Motorizado (61º BIMtz). Finalmente, com a Portaria Ministerial Nr 36-Res, de 10 de julho de 1992, o 61° BIMtz mudou sua sede para Cruzeiro do Sul, ocupando as antigas instalações do 7º BECnst. Transformou-se em unidade de selva, com o nome de 61º Batalhão de Infantaria de Selva. O 61° BIS é subordinado à 17ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Porto Velho, em Rondônia.

Referencias: 61.º BATALHÃO DE INFANTARIA DA SELVA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/61%C2%BA_Batalh%C3%A3o_de_Infantaria_de_Selva> Acesso em: 15 Fev. de 2015. EXÉRCITO BRASILEIRO Revista Verde Oliva, N.º 212. Brasília-DF • ano XXXiX • nº 212 • JUL/AGO/SET 2011 Melhor Gestão do Projeto Soldado-Cidadão 2010 (Item: Histórico do 61.º Batalhão de Infantaria de Selva). Disponível em: <http://pt.calameo.com/read/00123820666bb65fcadd2> Acesso em: 15 Fev. de 2015.

Brasão d’Armas do

61º Batalhão de Infantaria da

Selva

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Base Aérea de Acra durante a Guerra. localizada na atual Gana, África, foi um dos destinos dos aviadores Aliados depois de partirem de Parnamirim.

INTERESSANTES DESDOBRAMENTOS DA FUNÇÃO PRINCIPAL DE PARNAMIRIM FIELD Como foi amplamente demonstrado, sabemos da fundamental importância estratégica de Base Aérea de Parnamerim Field, como “trampolim” para o continente Africano e deste para a Europa. Entretanto, pouquíssimos são os autores que permitem a visibilidade de outras dimensões mais amplas desse suporte estratégico fundamental e que aqui denominamos de desdobramentos. Se a rota Natal / Dakar foi a essência, outras também aconteceram, embora sem aquela função de essencialidade. Assim a nossa pesquisa conduziu, por exemplo, à Base Aérea de Acra em Gana (antiga Costa do Ouro) na África, que talvez por volta de 1942 tenha sido uma das pensadas alternativas para contornar o problema causado pelas sucessivas vitórias do Afrika Kkorps na África do Norte. Se o problema persistisse ou se ampliasse e a francesa Dakar (África Ocidental Francesa) atendesse as ordens da República de Vich, constituir-se-ia em autêntico grande problema. Igual ação poderia ter a aviação, deslocando-se de Acra, para atingir objetivos no Norte da África, como para realizar bombardeios no “canal de Suez” e outras importantes rotas do petróleo. G

Outra utilização aventada para a Base Aérea de Parnamerim Field, foi a de apoio as incursões no sudoeste do Pacífico. O avanço das forças niponicas, foram em primeiro momento surpreendentes, ampliando o seu domínio no Oceano Pacífico. Os Norte-Americanos, tendo a necessidade de dispor de uma linha de comunicações segura com o sudoeste do Pacífico, aproveitaram-se de sua Base em Natal. O chamado “Projeto X”, de transferência de

O Continente Africano, a situação geográfica da República de Gana. Para poder observar as possibilidades das ações aéreas. Ampliada Gana e marca a posição de Acra.

GANA

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aeronaves de bombardeio para apoiar a luta contra os japoneses nas Filipinas, teve o seu primeiro grande esforço bélico passando por Natal. Registram-se pelo menos a “passagem de 44 bombardeirros do tipo B-24 e B-17 a caminho da guerra no Pacífico”.

Uma das B-17 do Project X que comprovadamente passaram por Natal no primeiro mês de 1942, foi a B-17E, número 41-2471, do 7Th Bomb Group e pilotado pelo tenente Donald R. Strother. Foi metralhada no solo pelos caças Zeros japoneses em 8 de fevereiro em Java e ficou inoperante.

O mapa apresenta projeção de rotas de voo de Natal para Gana e daí para o Marrocos.

O mapa apresenta projeção de rota de voo de Gana, em direção ao interior do continente Africano e até o Egito.

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O quadrimotor Boeing B-17 foi um dos ícones da aviação militar durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua história tem início antes do conflito. Em 1934 o então Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC – United States Army Air Corps) emitiu as normas para a criação de um bombardeiro multimotores. Com grande clarividência, a empresa Boeing Airplane Company projetou o seu Model 299 em junho daquele ano. Era um bombardeiro pesado completo, que voaria mais rápido, mais alto e com longo alcance. O Model 299 realizou seu primeiro voo em 28 de julho de 1935 em Boeing Field, chamando a atenção da imprensa na época. Mas em outubro o protótipo do 299 caiu desastrosamente no seu voo de avaliação para os militares da USAAC. O acidente foi atribuído a erro humano, mas o Air Corps reconheceu o potencial do modelo e mandou a Boeing produzir treze exemplares para avaliação.

MODELO 299 - A FORTALEZA VOADORA (Flying Fortress).

A B-17 era potente como bombardeiro de longo alcance, capaz de se defender e voltar para casa, apesar dos

danos de batalha. Rapidamente tomou proporções míticas entre os aviadores, com notáveis histórias dos B-

17 que sobreviviam com enormes danos. Até o fim da guerra, em 1945, o B-17 foi um dos bombardeiros

americanos mais ativos durante o conflito.

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O COMANDANTE – EM – CHEFE DA BASE AÉREA DE PARNAMERIM FIELD.

Referências:

HISTÓRIA DO SÉCULO XX. Nazismo no Brasil. Disponível em: <http://historiadoseculoxx.blogspot.com.br/2010/09/nazismo-no-brasil.html> Acesso em: 16 Jan. de 2015.

MEDEIROS, Rostand. A B-17 DO AERO CLUBE DO RN AQUELA QUE NUNCA FOI, MAS QUE NUNCA DERVERIA TER IDO! História da Aviação do Rio Grande do Norte. Segunda Guerra Mundial. Publicado em: 18 de maio de 2015. Disponível em: <http://tokdehistoria.com.br/category/segunda-guerra-mundial/page/3/> Acesso em: 31 Jan. de 2015.

22 FOTOS COLORIDAS DOS AMERICANOS EM NATAL DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. História da Aviação do Rio Grande do Norte . Segunda Guerra Mundial. Publicado em: 23 de junho de 2014. Imagens disponíveis em: <http://www.buzzfeed.com> Acesso em: 10 Fev. de 2015. MINHA ENTREVISTA PARA A ASSOCIATED PREES SOBRE NATAL DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. História da Aviação do Rio Grande do Norte. Segunda Guerra Mundial. Publicado em: 15 de junho de 2014. Disponível em: <http://tokdehistoria.com.br/category/segunda-guerra-mundial/page/2/> Acesso em: 08 Fev. de 2015.

O COMANDANTE DA BASE AÉREA DE PARNAMERIM Quando se pretenderam a construção da Base Aérea de Parnamerim no Brasil, as Forças Armadas dos Estados Unidos da América do Norte ainda não dispunham de uma Força Aérea independente. Motivo pelo qual o Comandante é do Exército. O Comandante em Chefe das Forças do Exército Americano para o Atlântico Sul era o General Robert LeGrow Walsh. Em quadro anexo, informamos a biografia desse ilustre Comandante. Proveniente do setor de inteligência do Exército, acumulava experiência como piloto desde 1918, quando ingressou no quadro de aviadores do exército. Veio assumir a função no Brasil em 20 de novembro de 1942. Foi considerado pela imprensa como o “mais modesto general americano”. Em entrevista concedida a jornalistas, o General, demonstra que tinha consciência da “importância do trabalho dos seus homens e daquela grande base aérea, tida pelo Alto Comando Aliado como vital. Comentou que apesar de algumas improvisações iniciais, do limitado tempo para o lazer dos seus homens naquele inicio de 1943, a missão a eles passada estava sendo cumprida a contento.” Comentavam que todas as Bases Aéreas Norte-Americanas no Brasil eram fundamentais no auxílio para o combate às tropas nazifascistas. Mas “igualmente era notável a contribuição dos operários e técnicos brasileiros para a construção das bases aéreas, especialmente Parnamirim Field, a maior e mais movimentada”. Pessoa dotada de extrema simpatia, pelos gestos calmos, serenos e simples, apesar de sua condição de Comandante em Chefe, conquistou a todos. Elogiava os brasileiros, colocando em primeiro lugar os nossos operários e técnicos civis, somente então tecia encômios às autoridades. Os operários eram na maioria sertanejos fugindo da grande seca (1942) que com certa frequência castiga aquelas regiões. Estes foram os bravos que com humildade, suor e muito sacrifício, entenderam as ordens e trabalharam de forma intensiva para a criação dessa Base que possibilitou o estabelecimento de uma rede de linhas aéreas que na época supriu boa parte das frentes de combate. Esse detalhe não passava despercebido e era recebido como grande gentileza. Com relação ao clima inclemente do sol nordestino, informava que a tropa norte-americana, o considerava agradável graças à ação dos ventos o que permitia as noites serem tranquilas e agradáveis.

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MAJOR GENERAL ROBERT L. WALSH Retired February 01,1953 Died June 23,1985 Robert LeGrow Walsh was born in Walla Walla, Wash., in 1894. He graduated from the U.S. Military Academy June 13, 1916, and was commissioned a second lieutenant of cavalry. His first service was on border patrol duty with the Third Cavalry, between September 1916, and February 1917, when he moved to Fort Sam Houston, Texas. General Walsh went to France with the American Expeditionary Forces in November 1917, for duty at the First Corps School at Gondrecourt, France. In February 1918, he moved to Issodun with the Air Service. He was attached to the 22nd Aero Squadron during the St. Mihiel and Meuse-Argonne offensives and then moved to headquarters of the Air Service of the First Army. In March 1919, General Walsh was assigned to the Division of Military Aeronautics at Washington, D.C., where he served for one year before moving to Mather Field, Sacramento, Calif. In July 1921, he enrolled in the Air Corps Engineering School at Dayton, Ohio, and graduated a year later. He was then assigned to Bolling Field, D.C., as an engineering officer. In January 1924,General Walsh joined the Office, Chief of Air Corps, as Engineering Division representative in Washington, D.C., and later was chief of its Information Division and assistant military aide to the White House. He enrolled in the Air Corps Tactical School at Langley Field, Va., and after graduation a year later entered the Command and General Staff School at Fort Leavenworth, Kan. He graduated in June 1929, and became assistant attache for air in the American Embassy at Paris, France and Madrid, Spain. General Walsh, in July 1931, was assigned to Wright Field, Ohio, in the Air Corps Materiel Division, and in January 1933, became chief of the Administrative Branch, Field Service Section there. In July 1933, he assumed command of Albrook Field, Panama Canal Zone, and in September became commanding officer of the 16th Pursuit Group in addition to his other duties. In September 1935, he was assigned in the Office, Chief of Air Corps, and chief of the Reserve Division. In September 1938, he enrolled in the Army Industrial College and graduated in June 1939. The following September he was detailed to the Amy War College from which he graduated in June 1940. He then was assigned at Langley Field where he became assistant chief of staff for intelligence at General Headquarters Air Forces and Air Force Combat Command at Langley Field, and Bolling, Field, D.C.

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General Walsh, in February 1942 was appointed assistant chief of staff for intelligence at Air Force headquarters, and in June became commander of the South Atlantic Wing, Air Transport Command, with station in Brazil. In November 1942, he was made commanding general, U.S. Army Forces in the South Atlantic, continuing as wing commander of the South Atlantic Wing of ATC. He subsequently was assigned overseas and in June 1944, was announced as commanding general of the Eastern Command of the U.S. Strategic Air Forces in the U.S.S.R. and Air Member of the U.S. Military Mission to Moscow. In November 1944,General Walsh was appointed special assistant to the commanding general of the Army Air Force at Washington, D.C., and in December was given additional duty as U.S. air member of the Inter-American Defense Board. In March 1946, he became U.S. Army air member on the Joint Brazil-United States Defense Commission, in addition to his other duties. In October 1946 he joined the U.S. Air Forces in Europe, and the following month was designated commanding general of headquarters and headquarters squadron of the 12th Tactical Air Command. In April 1947 he became director of intelligence of the European Command, with station at Ber1in, Germany. General Walsh was assigned, in October 1948 to Air Force headquarters, Washington, D.C., and soon afterward to the Central Control Group as Air Force steering and coordinating member for the military representation on the Permanent Joint Board on Defense for Canada and the United States and the Joint-Mexico-United States Defense for Canada and the United States and the Joint Mexico-United States Defense Commission. In addition, he was named senior Air Force member on the Joint Brazil-United States Commission and senior Air Force delegate to the Inter-American Defense Board. On July l, 1952, he was given another additional duty as director of the Continental U.S. Defense Planning Group. On Jan. 22, 1953, General Walsh was appointed chairman of the Inter-American Defense Board at Washington, D.C. General Walsh has been awarded the Distinguished Service Medal with oak leaf cluster and the Legion of Merit. He is rated a command pilot, combat observer and aircraft observer. (Up to date as of Jan. 30, 1953)

Referências: JUNTA INTERAMERICANA DE DEFESA. Galeria de Presidentes.

Major General Robert L. Walsh (Agosto 1952 - Fevereiro 1953). Disponível em: <http://iadb-pt.jid.org/el-consejo-de-delegados/biografia-del-presidente/galeria-de-presidentes> Acesso em: 22 Jan. de 2015.

MAJOR GENERAL ROBERT L. WALSH. Biographies. U.S. AIR FORCE. Disponível em: <http://www.af.mil/AboutUs/Biographies/Display/tabid/225/Article/105289/major-general-robert-l-walsh.aspx> Acesso em: 17 Jan. de 2015. PIN UPS PARA FOR ALLS. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=pin+ups+para+for+alls&espv=2&biw=1280&bih=923&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0CCsQsARqFQoTCOyymcjYmcgCFcODkAodxq4HhQ#imgrc=osZSL-eBui6sRM%3A> Acesso em: 10 Fev. de 2015.

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ALGUNS REGISTROS DA INTERAÇÃO ENTRE NORTE-AMERICANOS E BRASILEIROS

Norte-Americanos sediados na Base de Parnamirim Field em momento de lazer, na praia – e segundo um comentário a riqueza dessa fotografia é que nela apenas o jumento é brasileiro!

Norte-Americanos, degustando melancias e interagindo com moradores das proximidades de Natal.

Norte-Americanos, relaxando na praia e saboreando um abacaxi.

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Norte-Americanos e pessoas humildes, provavelmente habitantes de pequenas vilas de pescadores como a da Ponta Negra. As mulheres estão oferecendo lagostas.

Norte-Americanos e brasileiros em passeio pelas praias de Natal e em contato com moradores, apreciam produtos da terra.

Referências:

22 FOTOS COLORIDAS DOS AMERICANOS EM NATAL DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. História da Aviação do Rio Grande do Norte. Segunda Guerra Mundial . Publicado em: 23 de junho de 2014. Imagens disponíveis em: <http://www.buzzfeed.com> Acesso em: 10 Fev. de 2015.

“Pin Ups American Flag”.

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Alteração de hábitos

Americanização Pesquisadores apontam que a mudança de hábitos mais intensa entre os natalenses, aconteceu entre as mulheres. Estas com facilidade se adaptaram e aceitaram os novos costumes. As moças passaram a agir com mais autonomia e incorporando modismos americanos. Dentre estes destacamos o hábito de fumar cigarros (a marca preferida era a Chesterfield); a bebida mais consumida, entre os refrigerantes era a Coca-Cola e com teor alcoólico, a “Cuba Libre” (mistura de rum com coca-cola); mascar Chicletes e participar de bailes no estilo americano.

Propaganda americana para os brasileiros A Coca-Cola O cigarro Chesterfield A Cuba Libre

1942 - A população de Natal foi a primeira a consumir Coca-Cola na América do Sul.

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Baile em Parnamirim Field – “For All”

A chegada das tropas aliadas a Natal aconteceu de forma tranquila e progressivamente, de forma a afetar o mínimo possível a vida da povoação. Mesmo com todos os cuidados, foi inevitável o confronto cultural e a crescente gradativa assimilação de costumes. Um dos exemplos mais gritantes está a disseminação do uso do novo refrigerante, a Coca-Cola. Em um primeiro momento, foram as primeiras garrafas trazidas pelos próprios soldados, que ofereceram a alguns habitantes nativos. Logo depois, seguindo uma política da empresa, apareceram pequenas fábricas móveis, que acompanhavam o deslocamento das tropas. “Na época, a política adotada pela empresa em relação à Segunda Guerra Mundial era de apoiar seus combatentes, oferecendo seus produtos onde quer que estejam, sendo comercializada, a um preço de cinco centavos de dólar o copo.”

O contraste entre os idiomas, logo suscitou a incorporação de algumas expressões, e dentre estas citamos como mais frequentes na nova linguagem do potiguar: "change money", "drink beer", "give me a cigarrette", "blackout" etc. Alguns autores, chegam mesmo a identificar a palavra forró como o resultado da expressão inglesa de “For All”

(para todos). O motivo de tal afirmativa é que se deve aos soldados americanos a introdução também de vários ritmos musicais estrangeiros, como: "rumba", "conga", "bolero",

ENTREVISTA COM O SOLDADO

A primeira Coca-Cola no Brasil. A primeira Coca-Cola não foi “nas asas da Panair”, como canta Milton Nascimento. Surgiu em Natal, na base aérea de Parnamirim. O soldado está sendo entrevistado, antes mesmo de tomar o primeiro gole.

“Pin Ups For Alls”

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Abertura do filme FORALL

O TRAMPOLIM DA VITÓRIA

Cartaz de propaganda do filme

“foxtrot”, “swing”, etc. A finalidade era incrementar os diversos bailes e entretenimentos aos soldados e extensivos agora à população. Quando se realizavam estes bailes abertos, os soldados utilizavam-se da frase para todos (For All). Apesar de certa lógica nesse raciocínio, o grande pesquisador e folclorista rio-norte-grandense Câmara Cascudo, não a aceita, preferindo atribuir a origem da palavra “forró”, “...a versão mais verossímil é a de que "forró é derivado do termo africano, forrobodó e era uma festa transformada em gênero musical pelo fascínio que exercia sobre as pessoas". Os bailes ou momentos dançantes tiveram que encontrar seu espaço para serem realizados e para isso fundaram-se associações recreativas, ou alugaram-se instalações existentes. Com destaque ao Aéreo Clube e a Associação Hipica; onde mais se realizavam essas danças era na própria Base de Parnamirim. Observa-se que na Base, os bailes de sábado, eram restritos aos americanos, enquanto no domingo eram aqueles destinados ao público em geral – os “For All”. A juventude

natalense, vibrava

intensamente com esses bailes, a ponto de dispor de

transporte especial. “Da Praça Augusto Severo, na Ribeira, saía o ônibus que transportava as meninas para as festas na base americana de Parnamirim. O ônibus era chamado pejorativamente de "marmita". Olha a Marmita! Ou olhem a

comida?

Algumas cenas do filme: FORALL O TRAMPOLIM DA

VITÓRIA.

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44 Enredo do filme.

1943. Na cidade brasileira de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, os Estados Unidos constroem a maior base militar fora de seu território em plena Segunda Guerra Mundial: Parnamirim Field.

A primeira dama norte-americana discursa na Base de Parnamirim, em 1944.

Chiclete com Banana

Chiclete com Banana é uma música de autoria de Gordurinha e Almira Castilho,

gravada por Jackson do Pandeiro em1959.

Eu só boto be-bop no meu samba Quando o Tio Sam tocar num tamborim Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba Quando ele aprender que o samba não é rumba Aí eu vou misturar Miami com Copacabana Chiclete eu misturo com banana E o meu samba vai ficar assim Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Eu quero ver a confusão Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Tirurururiruri bop-be-bop-be-bop Olhe o samba rock, meu irmão É, mas em compensação Eu quero ver o boogie-woogie de pandeiro e violão Quero ver o Tio Sam, de frigideira Numa batucada brasileira.

Esse aspecto de alteração de nosso cotidiano foi tão penetrante que cineastas decidiram e realizaram em 1997, o filme “For All – O Trampolim da Vitória”. Esse filme foi dirigido por Buza Ferraze e Luiz Carlos Lacerda e situa-se no gênero romance e comédia. Apresentado no festival de cinema de Gramado recebeu os prêmios de melhor filme, melhor roteiro, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhor filme do júri popular. Continuando a ser amplamente elogiado pela crítica, apresentou-se no festival de Miami onde foi considerado como o melhor filme, melhor ator e melhor direção de arte.

A presença dos norte-americanos não se restringe às questões bélicas e suas construções. A cidade torna-se atraente para a visitação de personalidades que procuram auxiliar de todas as formas possíveis no esforço da guerra. Registra-se a visita de

atores como Humphrey Bogart, Clark Gable; o músico Glenn Miller; o cantor Al Johnson; entre outros. A primeira-dama Anna Eleonor Roosevelt veio trazer a sua palavra de apoio e estímulo. Natal torna-se uma cidade “estrela”, visitantes ilustres de todo o mundo, vêm conhecer essa maravilha do Saliente Nordestino Brasileiro e não são somente norte-americanos, mas pessoas de todas as nacionalidades. Exemplificamos com as seguintes personalidades: o Príncipe de Holanda; o Ministro das Relações Exteriores da China;

A feição da cidade mudou, deixando-a com ares "americanizados"

Milhares de soldados americanos passam pela base e suas presenças alteraram a estabilidade das famílias locais trazendo não somente dólares e eletrodomésticos, mas também o glamour de uma cultura de Hollywood, a música das grandes bandas e a sensualidade de cantoras e atrizes famosas.

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Grande Hotel- principal ponto de hospedagem da cidade de Natal.

o Presidente do Paraguai; o Embaixador do Reino Unido; o Arcebispo de Nova York; dentre outros. Como a Parnamirim Field, era considerada uma das mais importantes bases construída fora dos Estados Unidos e sendo destacada a sua importância como uma das principais encruzilhadas das rotas aéreas do mundo, logo atraiu a atenção e a imprensa não poderia deixar de fazer a sua presença.

A instalação dessa a Base Aérea trouxe avanços e mudanças tanto para as tropas americanas quanto para Natal. A maior contribuição da presença americana se efetivou nos costumes e serviços. A formalidade predominante até então, deu lugar aos “shorts, camisetas, chicletes e óculos escuros”. Também foram inseridos ao cotidiano do natalense os ritmos do “foxtrot e do swing”, que embalaram as noites dos jovens da época. Pena que nesse embalo, deixamos nossa cultura de lado. Para muitos “era cafona (brega) gostar das nossas manifestações culturais”. Isto conforme o depoimento de uma jovem natural de Natal, que afirma que para a maioria de suas amigas, “participar delas (manifestações culturais locais) nem pensar! Recordava se de esforço do Prefeito Djalma Maranhão para resgatar nossas tradições, que ficaram tão distantes dos jovens da cidade quanto os

americanos que se foram. O entrosamento das jovens natalenses com os americanos resultou em alguns casamentos. A historiadora Flávia Pedreira faz o seguinte relato: "Consultando-se os cartórios da cidade, pode-se ver que a quantidade de casamentos entre estrangeiros e brasileiras nesse período foi bastante expressiva; entre os anos de 1942 e 1946, houve um acréscimo nos registros de nomes em línguas estrangeiras eprincipalmente em inglês, como por exemplo: David Eugene Reynolds e Josefa Miranda Reynolds, Darci Hoffmann e Eva Baraúna Moura Hoffmann, Frank Willian Knabb e Thais Vieira Knabb, entre outros". Apesar do clima de suposta cordialidade entre brasileiros e estrangeiros que a imprensa tentava passar, nem tudo eram flores nessa convivência. Atos de violência e tensão entre os nativos e gringos eram frequentes nos bares e cabarés da Ribeira e Cidade Alta. A respeito disso a Professora Flávia Pedreira escreve: "Nem tudo era um mar de rosas. Se por um lado, o relacionamento entre os americanos e moças natalenses fluía dentro de grande harmonia, ocorria o oposto com a população masculina. As disputas pelas damas comumente terminavam em brigas que só paravam com a chegada das polícias brasileira e americana". Vale registrar que nem só pelas "moças de família" os desentendimentos aconteciam”.

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Na zona do baixo meretrício, localizada no bairro da Ribeira, não era diferente; no Wonder Bar o mais famoso ponto de encontro local, as querelas advindas pelas preferências das prostitutas levavam a brigas e confusões. O antigo Wanderbar ou Wonder Bar era de propriedade do Dr. Lettieri, Vice-Cônsul da Itália. No andar térreo funcionava uma casa de secos e molhados e a entrada do bar. No primeiro andar ficava o salão de festas do bar com direito a bandas de músicas americanas, muitas bebidas e muitas "meninas". No último andar ficavam os quartos onde as meninas atendiam seus clientes.

Wonder Bar - Secos e molhados e "meninas”. Mais famoso ponto de encontros de Natal.

Desfile militar em Natal. Crescente integração entre militares norte-americanos e pessoas da terra.

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A “bela” MARIA BOA

MARIA BOA - A PRIMEIRA DAMA DA NOITE

Uma história derivada, mas resultante de toda a efervescência dessa época. A de um prostíbulo ou em uma linguagem menos agressiva, uma casa de Tolerância, que “pela qualidade oferecida aos seus clientes, a todos

encantava”. Trata-se daquela que chegando do interior da Paraíba, vai se tornar aos poucos proprietária de um Cabaré e reúne pouco a pouco pela

“excelência” de seus serviços, uma “grã-fina” clientela que a estimula a aumentar o número de “meninas” e pouco a pouco ganha espaço e influência.

Sua história não é diferente dos demais, em busca de sobrevivência, fugindo a seca, encontra uma cidade agitada e com um grupo de estrangeiros, sem raízes e

com costumes “glamorosos”, alguns chegam a dizer “cultura hollywoodiana”; e cheios de dólares para gastar. O espectro da guerra embora distante, em nenhum lugar da costa brasileira, se faz sentir mais do que presente, dada as condições de

poderem atingir o front e retornarem (?). Tudo isso conjugado em um pequeno

espaço de tempo que não houve para poder assimilar, e contribuiu para a dissolução de costumes. De qualquer forma esse episódio se fez importante no contexto histórico local e reflete-se como fenômeno sociológico a atingir modificando processos culturais antigos, ou simplesmente alicerçando-os.

Alguns intelectuais mais inflamados pela emoção chegaram mesmo a construir poemas, um dos quais tentamos reproduzir, mas infelizmente a leitura através do documento que nos chegou às mãos foi impossível em sua totalidade, mas mesmo assim o veiculamos para o conhecimento.

Maria Boa

Esta “comportada” senhora foi um ícone na vida cultural / social da cidade de Natal. Dona do famoso prostíbulo conhecido por “Cabaré de Maria Boa” era lugar preferido de todos os boêmios e amantes da noite. Durante décadas foi ponto referencial para estrangeiros e nacionais. A historiografia não pode ser preconceituosa e desprezar sua importância, pela sua decisiva participação em sanar o “stress”, proporcionado pela pressão e insegurança que se vivia. O clima proporcionado pelos favores concedidos, por ela e suas “meninas”, certamente criou uma ilusão de uma existência mais agradável.

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Elegia para “Maria Boa”

No réquiem o orbe da noite Diorama e guizos conduz Agora a madrugada Canaliza o nada E o desejo ................... Em meio a restos de luz .............sobras da ilusão Em delírio E da festa? Somente a dor de uma Lembrança Acabada Por consumida ternura Transformada em ........

J. CHARLIER FERNANDES Observamos que infelizmente não foi possível recuperar em íntegra o poema para “Maria Boa”. Grifamos com pontuação e em vermelho os espaços não recuperados.

Avião “B – 25” batizado de “Maria Boa”

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"As mulheres de Maria Boa (famoso prostíbulo de Natal) tem uma predileção pelo grego, em detrimento do latim. Usam a palavra "gala" e não esperma. Gala é leite em grego."

Luís da Câmara Cascudo

Documento de “Maria Boa”.

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DO INTERIOR, JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA

DEL. ESP. EM COSTUMES, ARMAS E MUNIÇÕES

Cadastro n.º fls – 026/93

Nome: MARIA OLIVEIRA BARROS Endereço: Rua Padre Pinto n.º 816 Cidade Alta Espécie de estabelecimento: CASA DE DRINK’S Nome de fantasia : MARIA BOA DRINK’S Início: 22.09.93 Obs.: Quando fechar ou mudar de endereço do estabelecimento comunicar a delegacia de Costumes. Pagou taxa de CR$ 650,00__

_______________________________________ O presente documento foi encontrado e posteriormente divulgado por um tenente do Esquadrão Flecha. Note-se que se trata de um testemunho que confirma a continuidade das atividades dessa “dama” que se iniciaram na década de 40 do século XX. Nesta altura dos acontecimentos ela estaria com 73 anos e viria a falecer com seus 77 anos.

A proprietária do mais famoso bordel de Natal, que se transformou mesmo em um mito é homenageada pela bebida da terra (RN) – a cachaça “Maria Boa”. O charme a beleza da mulher que com suas “meninas” encantou os oficiais americanos durante a II Guerra. Foi adotada como madrinha pelo Esquadrão de Aviadores, cuja imagem os ornamentou. Passada a guerra, suas atividades continuaram a atender uma refinada clientela, constituída pela “elite” do Rio Grande do Norte e estados nordestinos mais próximos.

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A primeira dama de Natal

Maria Boa

José Correia Torres Neto Natal, década de 40 - A cidade fervilhava de militares americanos e brasileiros. Aviões, hidroaviões, Catalinas e Jeeps patrulhavam a vida dos natalenses. Instalava-se na cidade a paraibana de Campina Grande, Maria de Oliveira Barros (24/06/1920 – 22/07/1997). Começava neste ínterim a história da mais conhecida casa de tolerância do estado (do país ou do mundo?). Entre as movimentações na Ribeira, nas pedidas de Cuba Libre no saguão do Grande Hotel, nas notícias pelas Bocas de Ferro, na Marmita, em Getúlio e em Roosevelt e na nova geração de meio americanos e meio brasileiros, lá estava Maria Barros enaltecendo-se na Cidade do Natal como a proprietária do melhor (ou maior) cabaré. Tornou-se conhecida como Maria Boa. Mesmo com pouco estudo ela despertou o gosto por música, cinema e leitura. O seu “estabelecimento” era o refúgio aos homens da cidade, com residência fixa ou, simplesmente, por passagem por Natal e servia de referência geográfica na cidade. Jovens, militares e figurões acolhiam-se envoltos as carnes mornas das meninas de Maria Boa. Muitas mães de família tiveram que amargar, em silêncio, a presença de Maria Boa no imaginário de seus maridos em uma época de evidente repressão sexual. Vários fatos envolveram a personagem. Um episódio muito comentado foi a pintura realizada pelos militares em um avião B-25. Um dos mais famosos aviões da 2a Guerra Mundial, os B-25 eram identificadas com cores características de cada Base Aérea. Os anéis de velocidade das máquinas voadoras da Base Aérea de Salvador eram pintados com a cor verde. Os aviões de Recife, com a cor vermelha, e os de Fortaleza, com a cor azul. Para a Base de Natal foi convencionada a cor amarela. Os responsáveis pela manutenção dos aviões em Natal imaginaram também que deviam ser pintados no nariz do avião, ao lado esquerdo da fuselagem junto ao número de matricula, desenhos artísticos de mulheres em trajes de praia. Autorizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo, a ideia foi colocada em prática. Pouco tempo depois, os B-25 de Natal surgiram na pista com caricaturas femininas e alguns até com nomes de mulheres. Alguns militares da Base escolheram o B-25 (5079), cujo desenho se aproximava mais da imagem de Maria Barros. Outras aeronaves também receberam nomes como “Amigo da Onça” e “Nega Maluca”. Quem custou a acreditar neste fato foi a própria Maria. Até que alguns tenentes decidiram levá-la até à linha de estacionamento dos B-25 logo após o jantar para não despertar a atenção dos curiosos. Ela constatou o fato. As lágrimas verteram de seus olhos quando viu à sua frente, pintada ao lado do número 5079, a inscrição “Maria Boa”. O mito “Maria Boa” rendeu trabalhos acadêmicos o de Maria de Fátima de Souza, intitulado: “A época áurea de Maria Boa (Natal-RN 1999)”. O trabalho aborda o “fenômeno da prostituição infanto/juvenil, suas consequências e causas no desenvolvimento físico e psicossocial de crianças e adolescentes (…). Com o aprofundamento dos estudos percebemos o importante papel dos bordéis na prostituição, bem como o fechamento dos mesmos (…). Chegamos então ao cabaré de Maria Boa, já fechado. Tivemos, assim, a oportunidade de conhecer um pouco da saga da Sra. Maria de Oliveira Barros, uma profissional do sexo, com grande importância na história da prostituição de adultos, ou ainda, tradicional; das histórias contadas a seu respeito chamou-nos atenção para sua representação social, seu “mito” e sua ligação com o imaginário masculino. Com isso, passamos a averiguar mais profundamente uma participação na sociedade da época e buscamos reconstruir parte de sua história enquanto meretriz, cafetina, e proprietária da mais famosa casa de prostituição que o RN já conheceu.”

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Em 26 de março de 2003 o cantor Valdick Soriano, quando entrevistado por Everaldo Lopes, registrou que quando esteve em Natal, pela primeira vez, cantou até para as meninas de "Maria Boa". Hoje bebe-se Maria Boa em alguns bares de Natal. Uma mistura de creme de cassis, vinho branco ou champanhe embriaga as lembranças da maior cafetina da cidade. O Professor Assistente do Departamento de Letras Márcio de Lima Dantas publicou 2002 o texto “Retratos de silêncio de Maria Boa”. “(…) Para além da atitude ética de proteger sua família, o que faz parecer um jogo com a hipocrisia da sociedade, penso que, na atitude de se manter reservada, se inscreve outro aspecto digno de ser ressaltado. Falo do mito que entorna a personagem Maria Boa, de certa maneira, criada e ritualizada por ela mesma, dimensão de fantasia para além do empírico vivenciado. (…) Astuciosamente se fez conhecer por “Maria”, o antropônimo mais comum no universo feminino, genérico e pouco dado a divagações semióticas. Ironicamente é o nome da mãe de Jesus… Quem não tinha conhecimento no Estado de uma proprietária de um requintado lupanar, e que se chamava Maria, a Boa. O mito, da constituição do éter, era aspirado por todos, preenchendo necessidades, ocupando lugares no espírito, imprimindo fantasias nos adolescentes, despertando em jovens mulheres às aventuras da carne, engendrando adultérios imaginários. Integrava, assim, o patrimônio individual e coletivo. (...)" Eliade Pimentel, no artigo "E o carnaval ficou na memória" destaca a presença de Maria Barros nos carnavais de Natal: Lá pela década de 50, os desfiles passaram a acontecer na avenida Deodoro da Fonseca. Maria Boa desfilava com Antônio Farache em carros conversíveis," O Jornalista Agnelo Alves quando escreveu o artigo "A Natal que governei e o 3º Milênio" citou o cabaré de Maria Boa como ponto de referencia geográfica para informar sobre as suas obras quando prefeito de Natal. "(...)Desobstruir para crescer. Alargar para trafegar. Conversei com os arquitetos João Maurício Miranda e Daniel Holanda. Como fazer? Lancei o desafio. Sem a contra-partida de nenhum pagamento, os dois me apresentaram o esboço da solução, surgindo daí o primeiro Plano Viário de Natal com a primeira estação metropolitana da cidade. Asfaltar a Hermes da Fonseca até o contorno com a Praça Aristófanes Fernandes, seguindo daí em linha reta até a Duque de Caxias. Ponto um. Asfaltar a Duque de Caxias, subindo pela Junqueira Aires, via Praça das Mães, pegando a lateral por trás do Tribunal de Justiça (hoje OAB) até a Praça André de Albuquerque, prosseguindo pela Praça das Laranjeiras, Padre Pinto, sobrando em Maria Boa para sair na lateral do cemitério, já no Alecrim, ou numa primeira etapa prosseguir pela Padre Pinto até o Baldo e aí tomar o rumo do Alecrim.(...)" Maria Barros é história. Mesmo sendo paraibana é a Primeira Dama (ou anti-Dama) de Natal. Impera nas lembranças dos seus contemporâneos e se faz presentes nos prostíbulos que ainda resistem nas periferias da cidade ou travestidos de casas de "drinks" nos bairros mais nobres. Maria Barros é citada no filme For All - O Trampolim da Vitória (vencedor do Festival de Gramado em 1997, com os prêmios de melhor filme brasileiro, melhor filme do júri popular, melhor roteiro, melhor direção de arte e melhor trilha sonora de filme brasileiro), de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz. O filme retrata a cidade do Natal em 1943 quando a base americana de Parnamirim Field, a maior fora dos Estados Unidos, recebe 15 mil soldados, que vão se juntar aos 40 mil habitantes da cidade. Para a população local a guerra possuiu vários significados. A chegada dos militares americanos alimentou fantasias de progresso material, romance e, também o fascínio pelo cinema de Hollywood. Em meio aos constantes blecautes do treinamento antibombardeio, dos famosos bailes da base aos domingos, dos cigarros americanos, da Coca-Cola e do vestuário estavam os sonhos natalenses. Sem questionamentos, "Maria Boa" foi uma das principais atrizes no elenco desse belicoso teatro. A Primeira Dama Maria Boa...

“Pin Ups” de avião B

– 25 Mitchell.

“Pin Ups” chamando

para o alistamento

..

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A II Grande Guerra deu lições que foram utilizadas para modificar a própria doutrina do Air Corps, que a partir de 18 de setembro de 1947, passou a ser chamada de

Força Aérea dos Estados Unidos (USAF – United

States Air Force), tornando-se assim um órgão independente

do Exército dos Estados Unidos da América, o qual era integrante.

Algumas considerações sobre Parnamirim Field :

Sobre a importância dessa Base: “certamente Hitler daria dez de suas divisões em troca daquele lugar”.

Para o autor de “Brasil: The Fortunes of War”, Neill Lochery, “... a guerra levou ao nascimento do Brasil moderno que prosperou e entrou para a pequena lista de países que se beneficiaram enormemente com o conflito”.

Referências: VENTO NORDESTE. Natal na Segunda Guerra Mundial – Parte I – O trampolim da vitória. Publicado em: 10 de setembro de 2011.Disponível em: <http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/09/natal-na-segunda-guerra-mundial-o.html> Acesso em: 22 Jan. de 2015. VENTO NORDESTE. Natal na Segunda Guerra Mundial – Parte II – Americanos em Natal. Publicado em: 13 de setembro de 2011. Disponível em: <http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/09/natal-na-segunda-guerra-mundial-parte.html> Acesso em: 22 Jan. de 2015. VENTO NORDESTE. Natal na Segunda Guerra Mundial – Parte III – Chiclete eu misturo com banana. Publicado em: 15 de setembro de 2011. Disponível em: <http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/09/natal-na-segunda-guerra-mundial-parte_15.html> Acesso em: 22 Jan. de 2015.

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“O FORNOVO” - Informativo eletrônico do IHGGS e da AHIMTB/SP – ANO: III (2015) JANEIRO N.º 12

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Um tema simples, com muitas ilações, a isso tudo motivado pela história singela do percurso de um soldado sorocabano, o soldado n.º 362 – Manoel de Castro Affonso que certamente, em vida, jamais imaginou que estivesse associado a tantos e tão importantes eventos. Ele foi uma pequena pedra, assim como milhares de outros foram coadjuvantes, mesmo sem ter noção do gigantesco capítulo histórico de que eram partícipes. Se atendermos a alguns dos inúmeros desdobramentos do tema sugerido, temos a certeza, entretanto que apenas arranhamos a superfície, desse colossal episódio. Sua repercussão para a existência dos habitantes locais, com reflexos para toda a comunidade, ainda precisa ser vista sobre aspectos essenciais como a questão econômica – o comportamento de injeção de grande quantidade de dólares no comércio local, o aparecimento de atividades diferenciadas e formas diversas de artesanato que se desenvolveu dentre outros tantos aspectos. Mas isso fica para outros momentos...

Contatos: Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e Academia de História Militar Terrestre do Brasil / São Paulo “Gen Bertholdo Klinger” R: Dr. Ruy Barbosa, 84 – Além Ponte 18040-020 - SOROCABA / SP. Tel.: (15) 3231-1669 E-mail: [email protected] E- mail: [email protected] – Presidente: Prof. Adilson Cezar E- mail: [email protected] – Jorn. Reinaldo Galhardo de Carvalho Editor Executivo: Prof. Adilson Cezar Editor Responsável: Jorn. Reinaldo Galhardo de Carvalho

_____________________________Friso grego de guerra entre deuses e gigantes____________________________

“Altos, louros e de olhos azuis, eles vêm com seus dólares, chicletes, coca-cola, música, festas (muitas festas) e mexem profundamente com o cotidiano local, com consequências sociais, econômicas e culturais para a cidade”.

Insígnia dos Veteranos da II Guerra Mundial, componentes do Corpo de Armas do Ar (Army Air Corps).