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“Ser professor”, um produto de experiências Relatório de Estágio Profissional Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, com vista à obtenção do grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do (Decreto-Lei nº74/2006 de 24 de março e do Decreto-Lei nº43/2007 de 22 de fevereiro). Professora orientadora: Professora Doutora Maria Olga Fernandes Vasconcelos Marcos António Ferreira Vidal Porto, setembro de 2014

“Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

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“Ser professor”, um produto de experiências

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de Estágio Profissional

apresentado à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto, com vista à obtenção do

grau de Mestre em Ensino da Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do

(Decreto-Lei nº74/2006 de 24 de março e do

Decreto-Lei nº43/2007 de 22 de fevereiro).

Professora orientadora: Professora Doutora Maria Olga Fernandes

Vasconcelos

Marcos António Ferreira Vidal

Porto, setembro de 2014

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II

Ficha de Catalogação

Vidal, M. (2014). “Ser Professor”, um produto de experiências. Porto: M. Vidal.

Relatório de Estágio Profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em

Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO FÍSICA; EXPERIÊNCIA; ESTÁGIO

PROFISSIONAL; COORDENAÇÃO MOTORA;

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III

Agradecimentos

Aos meus pais por todo o apoio e carinho.

Ao meu irmão, Fábio pela força dada para finalizar com sucesso mais um

capítulo da minha vida.

A todos os meus amigos da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

por me proporcionarem 5 anos fantásticos de convivência e formação pessoal

e profissional.

Á minha Professora Orientadora de Estágio, a Professora Doutora Olga

Vasconcelos, pela disponibilidade, carinho, apoio, e sobretudo por me

encorajar e acreditar em mim.

À Patrícia Gomes e Carla Santos pelo apoio prestado e acompanhamento do

meu percurso durante todo o processo.

Ao “Mundo do Futebol” por tudo aquilo que me ensinou ao longo dos anos.

Aos meus amigos que de muitas formas foram participando nesta etapa, mas

em especial ao Diogo que sempre esteve presente. E aos meus primos pela

forma com que sempre pude contar com vocês em todos os momentos para

arranjar forças e coragem, de forma a seguir o meu caminho.

À professora, cooperante, Maria José, pela orientação prestada e discussão de

ideias.

A todos, Muito Obrigado!

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V

Índice

Índice de Anexos ............................................................................................. VIII

Índice de Figuras ............................................................................................... IX

Índice de Quadros .............................................................................................. X

Lista Abreviaturas .............................................................................................. XI

Resumo ........................................................................................................... XIII

Abstract ........................................................................................................... XV

1. Introdução .................................................................................................... 3

2. Enquadramento pessoal .............................................................................. 7

2.1. Enquadramento autobiográfico ............................................................. 7

2.2. Expectativas em relação ao estágio profissional ................................... 8

2.3. Entendimento do estágio profissional.................................................... 9

3. Enquadramento da prática profissional...................................................... 13

3.1. Enquadramento legal e institucional ................................................... 13

3.2. Enquadramento conceptual ................................................................ 14

3.2.1. A pertinência da educação física .................................................. 14

3.2.2. A importância de um professor reflexivo ....................................... 15

3.2.3. O estágio profissional ................................................................... 17

3.3. Enquadramento funcional ................................................................... 18

3.3.1. O Agrupamento Vertical Clara de Resende .................................. 18

3.3.2. A organização da educação física na Escola S / 2, 3 de Clara de

Resende .................................................................................................... 20

3.3.3. O núcleo de estágio ...................................................................... 21

3.3.4. Caracterização da turma .............................................................. 22

4. Realização da prática profissional ............................................................. 27

4.1. Área 1 - Conceção, planeamento, realização e avaliação do ensino .. 27

4.1.1. Planeamento e conceção do ensino ............................................. 27

4.1.1.1. Currículo e programa de educação física .............................. 27

4.1.1.2. O que é ser professor ............................................................ 28

4.1.1.3. Plano anual ............................................................................ 29

4.1.1.4. Modelo de estrutura do conhecimento – Unidade temática ... 30

4.1.1.5. Plano de aula ......................................................................... 32

4.1.2. A aula e o processo de ensino...................................................... 33

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VI

4.1.2.1. Eficácia do ensino .................................................................. 33

4.1.2.2. Gestão da aula: controlo da turma e gestão do tempo de

aula…………………………………………………………………………….34

4.1.3. A avaliação ................................................................................... 36

4.1.3.1. Avaliação como uma consequência do processo de ensino .. 36

4.1.3.2. Avaliação diagnóstica ............................................................ 37

4.1.3.3. Avaliação formativa ................................................................ 38

4.1.3.4. Avaliação sumativa ................................................................ 39

4.2. Área 2 e 3 – Conceção, planeamento de atividades e o

desenvolvimento profissional ........................................................................ 40

4.2.1. Direção de turma .......................................................................... 40

4.2.2. Projeto “Clara Solidária” e “Rota dos Povos” ................................ 41

4.2.3. Torneio de Futebol ........................................................................ 42

5. Estudo Investigação-Ação ......................................................................... 47

5.1. Resumo ............................................................................................... 47

5.2. Abstract ............................................................................................... 49

5.3. Introdução ........................................................................................... 51

5.4. Metodologia ......................................................................................... 55

5.4.1. Caracterização da amostra ........................................................... 55

5.4.2. Procedimento de recolha de dados .............................................. 55

5.4.3. Instrumento ................................................................................... 55

5.4.4. Análise Estatística ........................................................................ 56

5.5. Resultados .......................................................................................... 57

5.5.1. Semáforo relativamente aos praticantes de desportos individuais e

de desportos coletivos ............................................................................... 57

5.5.2. Diferenças nos domínios entre os praticantes de desportos

individuais e os desportos coletivos ........................................................... 58

5.5.3. Semáforo relativamente ao sexo .................................................. 58

5.5.4. Efeito do sexo na coordenação motora ........................................ 59

5.5.5. Diferenças nos domínios no grupo do sexo masculino entre os

praticantes de desportos individuais e os desportos coletivos ................... 60

5.5.6. Diferenças nos domínios no grupo do sexo feminino entre os

praticantes de desportos individuais e os desportos coletivos ................... 60

5.6. Discussão ............................................................................................ 63

Page 7: “Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

VII

5.7. Conclusões e sugestões ..................................................................... 65

5.8. Bibliografia .......................................................................................... 67

6. Conclusão e perspetivas futuras ................................................................ 71

7. Bibliografia ................................................................................................. 75

8. Anexos ................................................................................................... XVIII

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VIII

Índice de Anexos

8.1. Anexo 1 - Questionário para o estudo ............................................. XVIII

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IX

Índice de Figuras

Figura 1: Modalidade preferida. Número de alunos. ........................................ 23

Figura 2: Cartaz do evento "Na rota dos Povos” .............................................. 42

Figura 3: Cartaz evento "Clara Solidária" ......................................................... 42

Figura 4: Cartaz do torneio de Futebol "Clara World Cup" ............................... 43

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X

Índice de Quadros

Quadro 1: Número de alunos e membro dominante ........................................ 22

Quadro 2: Prática de modalidades extracurriculares. Número de alunos. ....... 23

Quadro 3: Resultados dos praticantes de desportos individuais e coletivos no

semáforo. ......................................................................................................... 57

Quadro 4: Diferenças entre os praticantes de desportos individuais e coletivos

na coordenação motora (MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p. .......... 58

Quadro 5: Resultados segundo o sexo no semáforo. ...................................... 58

Quadro 6: Efeito do sexo na coordenação motora (MABC-2). Média, desvio

padrão e valor de p. ......................................................................................... 59

Quadro 7: Sexo masculino. Efeito do tipo de prática na coordenação motora

(MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p. ................................................. 60

Quadro 8: Sexo feminino. Efeito do tipo de prática na coordenação motora

(MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p. ................................................. 60

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XI

Lista Abreviaturas

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

EF- Educação Física

PES - Prática de Ensino Supervisionada

RE - Relatório Estágio

EP – Estágio Profissional

UT – Unidade Temática

PC – Professor Cooperante

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XIII

Resumo

O presente trabalho é o culminar do Estágio Profissional realizado durante o

ano letivo 2013/2014 no Agrupamento Vertical Clara de Resende, no concelho

do Porto. Está incluído nas unidades curriculares do Mestrado em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário.

Com a elaboração do presente documento pretendi descrever as experiências

vividas enquanto Estudante Estagiário de Educação Física no exercício da vida

profissional, através da prática de ensino supervisionada em contexto real de

ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do

professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação para esta

profissão. Sempre acompanhado pela professora titular da turma, designado

por Professora Cooperante e por uma Professora Orientadora da Faculdade,

que orientaram o trabalho desenvolvido.

O trabalho está estruturado em seis capítulos. O primeiro, a “Introdução” refere

o objetivo do relatório de estágio e explica o trabalho a realizar. O segundo é o

“Enquadramento Pessoal” que faz uma apresentação pessoal e expõe o nosso

percurso pessoal e académico, realçando as expectativas acerca do estágio

profissional e o que nos levou a seguir este caminho. O terceiro capítulo,

“Enquadramento da Prática Profissional”, procura contextualizar o estágio em

várias dimensões, nomeadamente legal, institucional e funcional, expondo uma

breve caracterização da escola, do grupo interveniente no estágio e da turma

que me foi atribuída. O quarto, a “Realização da Prática Profissional” reporta-se

ao trabalho desenvolvido durante o ano letivo e com aplicação prática,

retratando as vivências mais significativas do estágio para o meu

desenvolvimento pessoal e profissional. O quinto capítulo é o estudo

investigação-ação intitulado “Análise das diferenças na coordenação motora

entre os alunos que praticam desportos individuais e os que praticam desportos

coletivos.”. E por último, o sexto capítulo com a “Conclusão e perspetivas

futuras”.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO FÍSICA; ESTÁGIO PROFISSIONAL;

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL; COORDENAÇÃO MOTORA

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XV

Abstract

The present paper is to culminate the internship during the school year of

2013/2014 in “Agrupamento Vertical Clara de Resende”, in Porto. This is

included in the courses of the Master’s Degree in Physical Education Teaching

in Middle School and High School Education.

With the preparation of the present document I intend to describe how

experiences lived as Student Trainee in Physical Education, in professional life,

through practice of supervised teaching in the context of the real work

environment, the school.

This process ensures a realistic view over the rule of being a teacher

nowadays, helping students to prepare for this job. Always accompanied by the

lecturer of the class, designated as Cooperating Teacher, and a Guidance

Professor from the university, that guided my developed work.

This paper is structured in six chapters; the first is the “Introduction” and it

states de goal of internship and explains the work being undertaken. The

second is the “Personal Background”, this chapter contains a personal

presentation and exposes our personal and academic career, highlighting the

expectations about the internship and what led us to follow this path. The third

chapter “The Framing of Professional Practice”, seeks to contextualize the

internship on several dimensions, particularly legal, institutional and functional

dimension, exposing a brief characterization of the school, the group intervening

in the internship and the class that was given to me. The fourth is the

“Realization of Professional Practice”, it refers to the work developed during the

school year, with practical application, portraying the most significant

experiences of the internship for my personal and professional development.

The fifth chapter is the action-research study entitled “Analysis of the

differences in motor coordination between students who play individual sports

and those who play team sports. And the last one, the sixth chapter “Conclusion

and future prospects”.

KEYWORDS: PHYSICAL EDUCATION; INTERNSHIP; PROFESSIONAL

DEVELOPMENT; MOTOR COORDINATION

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1. Introdução

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3

1. Introdução

O presente relatório foi realizado no âmbito do Estágio Profissional

(EP), durante o 2º Ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre no Ensino

de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário. Tem como objetivo

principal interpretar, analisar e refletir sobre as atividades desenvolvidas e

vivências obtidas ao longo do ano letivo 2013/2014 no EP.

O EP encerra a formação inicial do estudante-estagiário (EE), criando

uma etapa fundamental para o percurso profissional. É o momento em que

confrontamos a literatura com a sua aplicação na prática e temos o primeiro

contacto com a realização da profissão. Segundo Matos (2012, p.3) “o EP visa

a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada,

em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam

nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder

aos desafios e exigências da profissão”.

A construção do “eu” professor por parte dos EE nesta unidade

curricular é uma ocasião pertinente de aprendizagem constante. A aquisição de

novos saberes provem da confrontação da teoria com a prática, sempre

presente pelo trabalho e desenvolvimento das capacidades pessoais. O ponto

de partida para a reflexão direcionou-se sempre para os problemas e

dificuldades encontrados, as estratégias utilizadas, as atividades realizadas,

procurando construir progressivamente a nossa aprendizagem do que é “ser

professor”. Como refere Pacheco e Flores (1999) o EE desempenha dois

papéis num modelo integrado de formação, um como aluno da instituição de

formação e o outro como professor da escola.

Neste documento está inserido o entendimento que tenho do EP e do

seu significado na minha evolução como professor, quer pelos aspetos

positivos, quer pelos aspetos menos positivos, vivenciados durante a prática

pedagógica. O Relatório de Estágio (RE) é uma reflexão sobre as experiências

marcantes durante a prática pedagógica. É constituído por quarto grandes

áreas sendo elas o enquadramento pessoal, o enquadramento da prática

profissional, a realização da prática profissional e o estudo investigação-ação.

Na primeira área é abordado todo o meu percurso de vida até ao

momento da escolha por esta área e o que influenciou essa decisão, referindo

Page 20: “Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

4

ainda as expectativas que tinha do EP e o que encontrei no contexto real. Na

segunda foi abordado o contexto em que se desenvolveu o estágio

identificando o enquadramento legal, institucional e funcional, visando

contextualizar a nossa prática ao caracterizarmos e analisarmos todos os

intervenientes durante o processo como a turma, a escola, o grupo de

Educação Física (EF) e o núcleo de estágio. A terceira área dá conta do

trabalho a realizar na prática pedagógica, realçando a conceção e o

planeamento para posterior aplicação prática junto da turma, mostrando o que

é ser professor e as dificuldades sentidas ao longo do processo na criação de

um processo de ensino-aprendizagem com sucesso. No quinto capítulo

abordamos o estudo investigação-ação e a sua influência na prática

pedagógica nas escolas.

Assim, com o trabalho realizado pretendo mostrar o significado

atribuído a todo este processo como forma de melhorar a nossa intervenção no

futuro e contribuir para o nosso desenvolvimento profissional, procurando

formar um professor plural já que ninguém é professor em partes, mas sim na

sua globalidade.

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2. Enquadramento Pessoal

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7

2. Enquadramento pessoal

2.1. Enquadramento autobiográfico

Para falar de mim e do meu percurso, é fundamental apresentar-me.

Sou o Marcos António Ferreira Vidal e nasci no Porto no ano de 1991 durante o

dia 21 do mês mais pequeno do ano, Fevereiro. E resido na Trofa com os meus

pais e irmão mais velho.

Mesmo já residindo há muitos anos na Trofa, todo o meu percurso

académico foi realizado nas Escolas do Castêlo da Maia. Foi ai que descobri o

gosto pelo desporto, passando a ser uma parte essencial no meu caminho.

Desde pequeno praticava vários desportos fora da escola e adorava as aulas

de EF, estava inato em mim o gosto pela prática do desporto e tudo o que o

envolve me entusiasmava.

Com 12 anos entrei para o Futebol e esse passo foi fundamental para a

minha decisão de seguir esta área. Conforme ia crescendo ficava com maior

determinação que era o caminho certo para mim, inclusive, ainda com 13 ou 14

anos dava comigo a tentar perceber tudo o que o meu treinador estava a fazer,

já não me preocupava só com o jogar, mas com as ações e decisões do meu

treinador. A partir desse momento tive a intenção de um dia ser treinador de

Futebol e estar sempre ligado ao desporto. O gosto pela disciplina de EF e de

ser professor seguiu o mesmo percurso gradual de interesse e curiosidade pelo

outro lado enquanto aluno, ajudado pelas boas experiências com os

professores que tive ao longo dos anos.

Um dos momentos a destacar no meu percurso foi a escolha do curso

a seguir no Ensino Secundário, foi um momento preponderante de reflexão

pessoal onde pude interiorizar e refletir sobre a área com a qual me identificava

mais e sentia entusiasmo para trabalhar ao longo da vida. Foi assim, após

perceber melhor a minha relação com o desporto que decidi seguir pelo Curso

Tecnológico de Desporto, traçando como objetivo entrar na faculdade onde

felizmente neste momento estou, a Faculdade de Desporto da Universidade do

Porto (FADEUP). Paralelamente, a lesão que sofri no joelho fez com que

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8

decidisse terminar a prática do futebol e me dedicasse a ser treinador nesta

área.

Os desafios inerentes a essa função são algo que cada vez gosto mais

de enfrentar pela necessidade de investigação e superação constante. E o

gosto de trabalhar com jovens cresceu com as experiências vividas nesta

atividade. Por isso, no fim da Licenciatura decidi seguir a área da EF com o

intuito de trabalhar com os mais novos numa área com maior abrangência

quanto às modalidades, para lhes ensinar a valorizar o desporto como um todo

e usar isso no seu crescimento pessoal.

Por causa de gostar do desporto na sua globalidade, a minha escolha

recaiu pelo Mestrado de Ensino da Educação Física. O processo de ensino-

aprendizagem e a relação com os alunos que detêm características pessoais

intransmissíveis obriga-nos a evoluir e a procurar respostas às muitas questões

existentes incidindo numa formação contínua.

Por último, no que confere às minhas potencialidades penso que

devido aos contextos que vivenciei anteriormente, tive mais capacidade em

lecionar os desportos coletivos, porque apesar de ser um ambiente diferente

existe uma relação com o treino onde estou ligado e detenho experiência na

organização e gestão do mesmo.

Contudo, e apesar do que mencionei, inicialmente senti alguma

dificuldade na questão da disciplina e empenhamento dos alunos, que se

diferencia muito do treino e também na postura, comportamento e reações que

tenho, pelo lugar que estava a exercer.

2.2. Expectativas em relação ao estágio profissional

O EP é o culminar de um processo de formação contínuo que

representa em grande parte a nossa capacidade para exercer uma função. Por

isso fiquei entusiasmado com o que pude vivenciar, experienciar e evoluir

durante o ano letivo no meu EP no Agrupamento Vertical Clara de Resende.

Pretendia conseguir aprender o máximo possível para colmatar os

verdadeiros problemas, aqueles que são inerentes da prática e que ninguém

consegue prever. Evoluindo com todas as experiências e reflexões sobre as

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9

ações tomadas e situações existentes. Progredindo como professor, não pela

soma das partes, mas pelo todo. Para isso, foi fundamental a relação que tive

com os meus colegas de estágio, criando boas dinâmicas de trabalho e de

construção critica perante o que fomos todos realizando ao longo do ano letivo.

Da mesma forma, criei uma boa relação com os alunos, conseguindo que eles

diferenciem bem os momentos de aula e os momentos fora da aula. Esperava

que o clima com os outros professores fosse de bom relacionamento

profissional, o que veio mais tarde de encontro com as minhas expectativas,

vendo-nos estes como se fossemos professores “normais”, e estando

disponíveis para ajudar na nossa evolução, tornando-se em alguns momentos

modelos para nós.

Com isto, este ano serviu para passar a representar o verdadeiro papel

de professor, para que no futuro atue e aja como tal, representando da melhor

forma essa classe social, deixando de ser um projeto de professor.

Foi com este pensamento que fui para o EP, com o intuito de

desenvolver todas as minhas capacidades, quer formativa, quer social, quer

pessoal. E a meu ver o mesmo foi completo abrangendo a globalidade do meu

ser, desenvolvendo não só as questões formais e do processo de ensino-

aprendizagem, mas a minha forma de estar, ser e pensar.

2.3. Entendimento do estágio profissional

Como referem Pimenta e Lima (2004, p. 46), “O estágio é o eixo central

na formação de professores, pois é através dele que o profissional conhece os

aspetos indispensáveis para a formação da construção da identidade e dos

saberes do dia-a-dia”.

O EP é uma ferramenta fulcral para o desenvolvimento do professor

que desejamos ser no futuro. É aqui que vamos moldar e criar o professor que

seremos no futuro após a finalização do curso. Por isso, é fundamental ter um

estágio rico em conhecimento e experiências, porque esses fatores são a base

do nosso crescimento profissional. O nível de envolvimento que colocamos e a

forma com que vamos encarar este processo extenuante mas muito rico para

nós será revelado na nossa evolução no final do processo.

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10

Assim, como refere Matos (2012,p.3), “O Estágio Profissional entende-

se como um projeto de formação do estudante com a integração do

conhecimento proposicional e prático necessário ao professor, numa

interpretação atual da relação teoria prática e contextualizando o conhecimento

no espaço escolar. O projeto de formação tem como objetivo a formação do

professor profissional, promotor de um ensino de qualidade.”. Sendo

necessário ao longo do EP um trajeto sustentado e supervisionado com o

objetivo de uma aprendizagem com significado pessoal e profissional muito

enriquecedora.

O EP deve ter então como objetivo principal a aplicação de todos os

conhecimentos assimilados ao longo do processo de formação, numa situação

real, com o intuito de criar problemas reais e todo o tipo de constrangimentos,

levando-nos a ter de aplicar na prática os nossos saberes e a desenvolve-los

para responder da melhor forma a todas as situações existentes. Não

esquecendo que mesmo em formação temos de ter em atenção que a atuação

do professor-estagiário deverá ter como último objetivo a promoção de um

ensino de qualidade e que proporcione aprendizagens com significado para os

alunos.

Por isso, penso que é fundamental que o professor-estagiário seja

capaz de ir de fortalecendo a sua atuação ao longo do ano letivo a partir da

reflexão e da capacidade de justificar todas as suas ações perante os outros,

porque o pretendido é criar um professor competente e capaz de formar os

alunos da melhor forma. Tendo como produto final “Um professor reflexivo que

analisa, reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do

profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes entre as quais

sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigativas e de

cooperação.” (Matos, 2012,p.3).

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3. Enquadramento da Prática Profissional

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1 “Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de Estudos

Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e

Secundário da FADEUP” é um documento interno elaborado pela Doutora Zélia Matos

para a unidade curricular Estágio Profissional da FADEUP, ano letivo 2013-2014.

13

3. Enquadramento da prática profissional

3.1. Enquadramento legal e institucional

A Iniciação à Prática Profissional do Ciclo de Estudos conducente ao

grau de Mestre em Ensino de Educação Física da FADEUP integra o Estágio

Profissional – Prática de Ensino Supervisionada (PES) e o correspondente

Relatório (RE), rege-se pelas normas da instituição universitária e pela

legislação específica acerca da Habilitação Profissional para a Docência,

nomeadamente as constantes do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o

Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro e têm em conta o Regulamento Geral

dos segundos Ciclos da UP, o Regulamento geral dos segundos ciclos da

FADEUP e o Regulamento do Curso de Mestrado em Ensino de Educação

Física1.

O EP funciona como uma unidade curricular que se encontra inserida

no plano de estudos do Mestrado de Ensino da Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário, decorrendo ao longo do 3º e 4º semestre do curso. Visa a

integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada,

através da PES em contexto real, desenvolvendo as competências

profissionais que promovam nos futuros docentes um desempenho crítico e

reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências da profissão1. Criando

um professor plural com as experiências vividas e analisadas no EP, capaz de

formar uma pluralidade de respostas consoante a necessidade do momento e a

polivalência das situações encontradas, levando a uma constante ligação entre

a teoria e a prática para criar a melhor solução possível. E estas competências

profissionais, associadas a um ensino da Educação Física e Desporto de

qualidade, reportam-se ao Perfil Geral de Desempenho do Educador e do

Professor (Decreto-lei nº 240/2001 de 17 de agosto) e organizam-se nas

seguintes áreas de desempenho:

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14

organização e gestão do ensino e da aprendizagem, participação na

escola, relação com a comunidade e desenvolvimento profissional1.

Todo este processo evolutivo da PES é realizada por um docente da

FADEUP, adiante denominado orientador da FADEUP, nomeado pelo órgão

competente, ouvido o professor regente da unidade curricular EP. E pelo

professor cooperante (PC), escolhido pela comissão científica1. Ao estudante-

estagiário é atribuída uma turma, ficando o PC responsável por supervisionar

todas as aulas e orientar o percurso ao longo do ano letivo.

3.2. Enquadramento conceptual

3.2.1. A pertinência da educação física

Para Delors (2003, p. 73), “um dos principais papéis reservados à

educação consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de

dominar o seu próprio desenvolvimento”. Demonstrando a necessidade de uma

formação de base sólida e plural, que leve ao crescimento pessoal em todas as

áreas. Capacitando as pessoas de ferramentas para dar resposta a todas as

situações que ocorrem na vida.

Logo, um dos importantes desafios da EF é criar condições de

autoconhecimento e desenvolvimento ao nível motor, cognitivo, afetivo e social,

promovendo um estilo de vida ativo e saudável, interligando o corpo e a mente

pelas vivências diferenciadas de atividade física.

Ou seja, Bento et al. (1999) mostrou a intenção de reafirmar a relação

entre desporto e educação, de vincular o desporto a princípios normativos que

enfatizem o carácter educativo da sua prática e apontem o caminho nessa

direção. Criando uma relação corpo-educação numa só disciplina, algo que não

é incorporado pelas outras.

Sendo assim, a importância da EF provêm da capacidade de educar a

partir do corpo, fundamentando-se no movimento, nas interações sociais e nas

normas comportamentais. Como refere Bento et al. (1999, p. 66) “traduz a

maneira como o sistema educativo olha o corpo, como o observa sob a

perspetiva da sua possível importância educativa. Mais ainda, a existência da

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15

educação Física expressa a intenção de o sistema educativo intervir na

criação, configuração e modelação do corpo ou de não se alhear

completamente deste processo”.

3.2.2. A importância de um professor reflexivo

“A reflexão é o processo a partir do qual o profissional aprende a experiência”

(Shulman, 1987, p. 19).

Todo o processo de formação do Mestrado de Ensino da Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário promove a utilização da reflexão como

uma ferramenta fulcral para o nosso desenvolvimento como professores. A

nossa capacidade de entender e desmontar as experiências passadas é um

dos processos mais importantes na nossa construção e formação profissional,

tocando a nós aproveitar as vivências e experiências como um meio

significativo de aprendizagem. Deste modo, é que Bento (2003, p. 176) refere

que os “professores críticos e exigentes procuram as causas na própria

atuação e interrogam-se acerca dela. As causas das falhas devem ser

procuradas tanto no professor como nos alunos”.

O planeamento e preparação do processo de ensino-aprendizagem

realizado por um professor deve manter a maior coerência e proximidade à

realidade que este vai encontrar, para que seja, capaz de criar metas, objetivos

e adequar os exercícios de forma correta aos alunos que irá ensinar. Para que

isso seja atingível, é necessário a utilização da reflexão. Assim, como refere

Alarcão (1996, p. 98), “o objeto da reflexão é tudo o que se relaciona com a

atuação do professor durante o ato educativo: conteúdos, contextos, métodos,

finalidades do ensino, conhecimentos e capacidades que os alunos estão a

desenvolver, fatores que inibem a aprendizagem, o envolvimento no processo

da avaliação, a razão de ser professor e os papeis que se assumem”.

No EP, durante o ano letivo foi preponderante a utilização da reflexão

como meio de ajustamento e melhoramento perante as circunstâncias

existentes. Inicialmente ajudou-me muito a melhorar a minha postura durante

as aulas e na sua preparação, fortalecendo a diferenciação entre os dois

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mundos treino-escola. Procurando soluções, aplicando novas estratégias, para

resolver problemas e retirar os benefícios que dai advêm. Como referem,

Amaral et al. (1996, p. 98) “O mundo da prática, mundo real, permite fazer

experiências, cometer erros, tomar consciência dos mundos e tentar de novo

de modo diferente. Surge como espaço privilegiado de integração de

competências e isso só é possível se o professor refletir sistematicamente

sobre o que faz e sobre o que vê fazer. A experimentação e reflexão são

elementos auto formativos que levam a uma conquista progressiva de

autonomia e descoberta de potencialidades”.

Contudo, durante o EP e, principalmente, numa fase inicial, pela falta

de experiência é nos difícil comparar ou encontrar soluções já aplicadas e que

saibamos que funcionam. De acordo com Amaral et al. (1996), os estudantes-

estagiários, regra geral, não têm ainda um número significativo de experiencias

que possam usar para refletir, de modo a alterar as suas práticas pela

reconstrução/reconceptualização e conhecimentos anteriores. A investigação e

vivência de inúmeras situações são o que nos vai levar ao encontro das

resoluções possíveis. Pelo que o papel do PC se torna vital para encontrarmos

os melhores caminhos a tomar durante a nossa formação. A meu ver, deveria

dar enfase à discussão de ideias em detrimento da reflexão individual do

estudante-estagiário, porque a passagem de experiências e “dicas” pessoais

ajuda na modelação das soluções, já que têm em si acoplado a parte prática.

Como mencionam Amaral et al. (1996, p. 97), “o papel do supervisor enquanto

alguém que tem por objetivo principal ajudar o professor em formação a

melhorar o seu ensino, através do seu desenvolvimento pessoal e profissional.

O supervisor é o facilitador da reflexão, consciencializando o formando da sua

atuação, ajudando-o a identificar problemas e a planificar estratégias de

resolução dos mesmos, numa base colegialidade que enquadra o formando

como pessoa capaz de tomar a seu cargo a responsabilidade pelas decisões

que afetam a sua prática profissional”.

Por tudo o que já foi referido, podemos afirmar que a reflexão é um

instrumento mobilizador de saberes, apoiando a reconstrução das práticas de

atuação do professor. Tendo em conta que “a reflexão não consiste num

conjunto de passos ou procedimentos específicos a serem usados pelos

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17

professores. Pelo contrário, é uma maneira de encarar e responder aos

problemas, uma maneira de ser professor” (Zeichner, 1993, p. 18).

3.2.3. O estágio profissional

A realização do EP na fase final da formação reforça o nosso

conhecimento no domínio do ensino e da aplicação do conhecimento científico

adquirido na prática pedagógica. A PES torna-se um momento relevante para

aprendizagem, aquisição de conhecimentos, competências e autonomia,

formando professores capazes de se adaptarem às singularidades dos alunos

e dos contextos no futuro quando tiverem de exercer autonomamente a

profissão.

O estágio é entendido por Caires (2001) como um lugar privilegiado de

articulação da teoria transmitida no contexto universitário com a experiência de

campo, num contexto real, permitindo deste modo que o estudante transforme

os seus conhecimentos, adaptando-os às exigências da prática, pois ambos os

domínios são imprescindíveis à atuação do professor, ganhando significado na

coexistência (Batista et al., 2012). Por mais conhecimento que os EE detenham

é determinante a sua capacidade de o colocar em prática, isso será o que os

vais distinguir. A forma como o estudante-estagiário consegue interligar o

conhecimento com a sua experiência e dá resposta às situações existentes,

superando e encontrando estratégias para adaptar os seus comportamentos.

É fundamental que esta etapa da formação dos futuros docentes,

ocorra em contexto real, para que, em situações de imprevisibilidade, o futuro

profissional aprenda a agir e reagir, perante a diversidade de situações com

que se pode deparar, em concordância com as exigências específicas do

contexto. Esta contextualização do estágio é importante não só no que se

refere às atividades diretamente ligadas à lecionação, mas também com as

restantes tarefas e funções que o professor assume, nomeadamente fora do

contexto de sala de aula (Batista et al., 2012).

Desta forma, concordo com Caires (2001) quando refere que devem

ser mobilizados esforços de modo a garantir que o estágio promova

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experiências com qualidade, bem como aprendizagens ao nível global, como a

cultura organizacional da escola.

O EP deve ser encarado como um momento de viragem para o

estudante-estagiário, onde deve construir uma relação forte entre as

experiências vividas, a sua evolução como professor e a mudança dos seus

comportamentos para ir ao encontro do “eu professor”.

3.3. Enquadramento funcional

3.3.1. O Agrupamento Vertical Clara de Resende

Podemos definir este Agrupamento de Escolas como um dos mais

carismáticos na região do Porto, que foi sofrendo ao longo da sua história

algumas mudanças, mas manteve sempre o seu nível de exigência e

excelência nos resultados obtidos na educação e formação que proporciona. A

maioria dos alunos que o frequenta são alunos de classe média alta, pela sua

localização geográfica, numa zona economicamente favorecida da cidade do

Porto.

Assim, a sua História começa como Escola Técnica Elementar Clara de

Resende que foi criada em 1949, como escola anexa à Escola Comercial Filipa

de Vilhena, numa época em que, por todo o país, se assistia à implementação

de uma vasta rede de escolas técnicas. Após a promulgação do estatuto do

ensino técnico profissional industrial e comercial em agosto de 1948. O sistema

educativo português caracterizava-se então, e até 1919, pela existência de

duas vias de ensino a partir do ensino primário: a liceal e a técnica.

A Escola Clara de Resende apareceu em 1949, com o objetivo de

ministrar o ensino do ciclo preparatório do ensino técnico, a uma população

escolar exclusivamente feminina. Funcionou de 1949 a 1953 na rua das Taipas

e de 1953 a 1959 na rua Aires de Gouveia, adquirindo a sua autonomia no ano

letivo de 1959/60, ano em que ocupou as atuais instalações.

Ainda e sempre obedecendo a um projeto de difusão do ensino técnico

é convertida em escola industrial em 1966, com o curso de formação feminina,

e em escola industrial e comercial em 1969, com a criação do curso geral de

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19

comércio. Com as transformações verificadas na sociedade portuguesa após

abril de 1974, abrem-se novas perspetivas ao sistema educativo com a

extinção das duas vias escolares, consideradas de desigual prestígio e

discriminação social.

Com a atualização de currículos, programas, métodos e processos de

trabalho e procurando dar uma formação e informação de base, permitindo

mais sólidas opções escolares e profissionais e maior capacidade de

adaptação ao trabalho, em 1975, começa a funcionar, na escola, o 7º ano do

curso unificado. Considerando que a unificação do ensino tornara obsoleta a

distinção entre liceus e escolas do ensino técnico, a nossa escola, em 1978,

passa a designar-se: Escola Secundária Clara de Resende.

Mais tarde, uma nova designação se impõe: a Escola Secundária com

3º ciclo Clara de Resende. E de novo, no ano letivo 2004/05, passa a ser a

sede do Agrupamento Vertical de Clara de Resende e muda a sua designação

para Escola Secundária com 2º e 3º ciclo Clara de Resende. Este agrupamento

é constituído pela Escola S / 2, 3 de Clara de Resende (sede de agrupamento)

e pela escola básica do 1º ciclo nº 47 (atualmente designada por escola básica

do 1º ciclo João de Deus).

Recentemente a escola sofreu uma requalificação nas instalações pelo

projeto Parque Escolar. Especificamente para a disciplina de EF foi criado um

ginásio, um campo de jogos exterior, uma pista de atletismo com 50m e

balneários anexos aos espaços. Para além destas instalações a escola tem um

protocolo com o Boavista Futebol Clube, onde pode utilizar o campo relvado

sintético e duas salas de ginástica para as aulas de EF.

Para finalizar, demonstrando a qualidade do ensino existente na escola

e o trabalho desenvolvido com os alunos é de realçar que a escola ficou nos

exames nacionais do secundário em 2012/2013 classificada no 25º lugar entre

599 escolas públicas e privadas de todo o país, e em terceiro lugar nas escolas

públicas nacionais.

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20

3.3.2. A organização da educação física na Escola S / 2, 3 de Clara de

Resende

A EF encontra-se inserida no Departamento Curricular de Expressões

e Tecnologias com as disciplinas de Tecnologias da Informação e

Comunicação, Música, Educação Visual e Educação Tecnológica. Aqui é

delineado todo o planeamento e as diretrizes gerais relativas a cada disciplina.

Inserido neste departamento ainda temos pequenos grupos de professores de

uma ou mais disciplinas que tratam de assuntos específicos.

O núcleo de EF é composto por professores do 2º ciclo, 3º ciclo e

ensino secundário. Realizam-se reuniões de subsecção onde todo o grupo

reúne para discutir assuntos relacionados com a disciplina, a definição do

Plano Anual de Atividades (PAA), a definição dos critérios de avaliação, entre

outros. Reuniões de secção em que todos os professores do 2º Ciclo e 3º Ciclo

se juntam, e as reuniões de Conselho Curricular (CC), onde se reúnem os

professores das turmas de um determinado ano letivo e discutem o currículo e

o trabalho que estão a desenvolver para se manterem em sintonia. Os

professores de EF têm ainda Reuniões de Equipa Pedagógica (REP), para em

conjunto com os professores das outras disciplinas resolverem assuntos

relacionados com as respetivas turmas.

Por último, denotar que todo o grupo mantém uma relação cordial, mas

é muito pouco ligado. Existe pouco trabalho em conjunto entre os professores,

estando basicamente todos preocupados com o seu trabalho, não fazendo uma

ligação ao trabalho dos colegas. Isso leva a uma fraca ligação entre os

elementos do grupo. E torna-se visível nas atividades de promoção da EF,

onde existe pouca colaboração na realização dos eventos, inclusive levou à

extinção do desporto escolar, limitando-se às obrigações letivas e não

promovendo nem pensando em projetos novos que ajudem na Promoção da

EF junto dos alunos.

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21

3.3.3. O núcleo de estágio

O Núcleo de Estágio é parte importante para a concretização com

sucesso do EP. Como é uma experiência repleta de trabalho individual e de

grupo é necessário que se trabalhe de forma unida, exista ajuda, compreensão

e cooperação. Apesar de não selecionar a escola pelos colegas que conhecia

acabamos por formar um bom grupo de trabalho. O núcleo era formado por três

EE e estivemos comprometidos e dedicados nas variadas tarefas

concretizando-as de forma ativa e conjunta. Sempre funcionamos bem

coletivamente mantendo uma boa convivência entre nós, bem como

mostramos sempre disponibilidade para ajudar e apoiar os colegas em

qualquer situação. Tivemos cuidado para criar um bom funcionamento entre

nós, ouvindo cuidadosamente todos os colegas para depois tomarmos uma

decisão até na divisão de trabalhos.

Ao longo do ano letivo fomos realizando várias reuniões semanais com

a professora cooperante, onde eram discutidas algumas ideias sobre as aulas,

planeávamos o trabalho a realizar e procurávamos soluções para os problemas

que iam aparecendo. Houve também momentos após as aulas em que

falávamos da mesma com a professora cooperante e preparávamos o que se

tinha de realizar nas próximas, muitas vezes servindo de aprendizagem para

todos nós. Contudo, este tipo de trabalho foi realizado intermitentemente, o que

descorou a nossa aprendizagem por ser essencial a discussão com o PC e os

colegas que observam externamente o nosso trabalho, uma vez, que é nos

difícil pela falta de experiência percecionar os erros e encontrar soluções para

os mesmos.

O Núcleo de Estágio constituiu-se como uma mais-valia para o nosso

desenvolvimento e progresso enquanto futuros professores. Tratou-se de uma

experiência repleta de desafios e experiências, que sempre que tratadas em

grupo enriqueceram-se ainda mais, aumentando o meu leque de experiências

adquiridas que fortalece o meu futuro como professor, pelas ferramentas

obtidas ao longo do ano letivo.

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3.3.4. Caracterização da turma

A turma pela qual fiquei responsável era o 8ºB do 2º Ciclo da escola S /

2, 3 Clara de Resende, onde todos os alunos transitaram em conjunto do ano

letivo anterior. É formada por 28 alunos, com uma variação nas idades dos 12

aos 14 anos e sendo constituída por 13 alunos do sexo masculino e 15 do sexo

feminino. Deste grupo só 3 já tinham reprovado em anos anteriores.

Verificou-se que a grande maioria da turma tem preferência lateral

direita. Mas os alunos com preferência lateral esquerda mesmo em minoria,

levam a que deva ter cuidado nas explicações principalmente nos jogos de

raquetes como é o caso do Badmínton. No quadro 1, está representado o

número de alunos turma repartidos pelo membro dominante.

Quadro 1: Número de alunos e membro dominante

Pé Dominante Nº de Alunos Mão Dominante Nº de Alunos

Direito 26 Direito 25

Esquerdo 2 Esquerdo 3

Continuando a análise dos alunos pode ser levado em conta que 7

alunos dos 28 constituintes da turma têm problemas de visão e utilizam óculos.

Apesar de alguns não necessitarem da sua utilização durante as aulas de EF,

tive atenção a este pormenor alertando os colegas e os próprios dos perigos

adjacentes a isso. Como é o caso, na realização dos elementos gímnicos, na

utilização de bolas ou raquetes e no contacto possível durante a realização dos

exercícios na aula. Também constatei que o maior número dos alunos tem uma

alimentação regulada, realizando 4 (46%) ou 5 (42%) refeições por dia.

Somente um aluno inspira cuidado, uma vez que só faz 3 refeições por dia o

que pode afetar o seu rendimento nas aulas.

Ao nível das modalidades pude verificar que a turma é de forma geral

ativa. Mais de metade dos alunos realiza uma modalidade fora da escola, o que

serviu de base para uma boa progressão na aprendizagem dos alunos e

ajudou na motivação dos mesmos com a exemplificação dos exercícios quando

era pertinente. Como está representado no quadro 2 quanto à modalidade

preferida existe heterogeneidade nas preferências. As modalidades que os

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alunos preferem mais praticar é o Futebol e a Ginástica, estando em maior

número os Jogos Desportivos Coletivos.

Quadro 2: Prática de modalidades extracurriculares. Número de alunos.

Realiza alguma Modalidade Sim Não

Nº de alunos 18 10

Figura 1: Modalidade preferida. Número de alunos.

Dito isto, este trabalho de análise da turma identifica fatores

fundamentais para a intervenção do professor sobre o aluno e a turma. O

conhecimento destes fatores reflete-se no processo de ensino-aprendizagem,

uma vez, que ajuda na preparação atempada de qualquer tipo de situação que

possa acontecer, promove uma boa relação entre o professor e os alunos e

tornando o ambiente propício à aprendizagem e à transmissão de informação

por parte do professor.

0123456789

Modalidade Preferida

Nº de Alunos

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4. Realização do Estágio Profissional

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4. Realização da prática profissional

4.1. Área 1 - Conceção, planeamento, realização e avaliação

do ensino

4.1.1. Planeamento e conceção do ensino

4.1.1.1. Currículo e programa de educação física

O currículo nacional provém da necessidade de se criar e balizar a

liberdade no processo de ensino por parte dos professores, criando um

documento que delineia a operacionalização no terreno. Tendo como objetivo

colocar os alunos todos no mesmo patamar ao longo dos ciclos de ensino.

Para isso, dentro do currículo nacional foram criados os programas nacionais

referentes a cada ciclo de ensino (1º Ciclo, 2º Ciclo, 3º Ciclo e Ensino

Secundário/ Cursos cientifico-humanísticos/ Cursos tecnológicos) redigidos

pelo Ministério da Educação.

A primeira tarefa que realizei no início do EP foi a leitura e

interpretação do documento referente à EF. Os programas são como uma

primeira orientação para os professores pelo que todo o projeto de

planeamento deve ter o seu ponto de partida na conceção e nos conteúdos dos

programas ou normas programáticas, dando um principal enfase ao

desenvolvimento multilateral da personalidade e no grau de cientificidade e

relevância prático-social do ensino (Bento, 2003).

Tendo a meu cargo uma turma do 8ºano comecei por analisar os

critérios referentes a esse ano letivo no programa do 3º Ciclo. Centra a EF no

desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno, a partir da aquisição de

habilidade técnicas, conhecimentos teóricos consistentes e na formação de

valores. De forma geral o documento refere que a carga horária está definida

em 135 minutos semanais distribuídos em 45’+45’+45’ em dias não

consecutivos. E as matérias de ensino na área das Atividades Físicas deverão

ser 5 ou 6 matérias abordadas, sendo dois desportos coletivos entre futebol,

voleibol, basquetebol e andebol. E as restantes 3 ou 4 devem ser ginástica

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(solo, aparelhos, acrobática), atletismo, raquetas, dança, patinagem, ou outras

(opcionais). Todos estes conteúdos estão divididos em três níveis (introdutório,

elementar e avançado) pela qual podemos ajustar a nossa intervenção

segundo a qualidade da turma. Na área da Aptidão Física faz referência à

utilização do Fitnessgram, definindo como critério a colocação do aluno na

zona saudável de aptidão física. Por último, a área dos Conhecimentos

somente sintetiza o que os alunos devem aprender segundo os objetivos do

programa.

4.1.1.2. O que é ser professor

Com o início do EP na escola tive oportunidade de estar na pele de um

verdadeiro professor. Consciente da complexidade do percurso e da mudança

que era necessária tentei adaptar-me ao máximo a esse posto a partir da ideia

que tinha e da experiência já adquirida. O tempo passado no terreno durante o

ano letivo proporcionou-me uma aprendizagem útil, dando resposta a algumas

dúvidas.

A contribuição dos professores é fulcral para levar os jovens não só a

encarar o futuro com confiança, mas a construí-lo por si mesmos de maneira

determinada e responsável. É logo a partir dos ensino primário e secundário

que a educação deve tentar vencer estes novos desafios: contribuir para o

desenvolvimento, ajudar a compreender e, dalgum modo, a dominar o

fenómeno da globalização, favorecer a coesão social. Os professores têm um

papel determinante na formação de atitudes – positivas ou negativas – perante

o estudo. Devem despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular

o rigor intelectual e criar as condições necessárias para o sucesso da

educação formal e da educação permanente (Delors, 2003, p. 131).

Com o contacto direto com a EF na escola que me foi proporcionado,

percebi a influência que pode ter no desenvolvimento dos jovens. Realço

Siedentop e van der Mars (2012), que referem que apesar de o desporto estar

presente em toda a sociedade, a escola ainda é a manifestação onde a EF

pode servir da melhor forma a maioria das crianças e jovens. A passagem pela

escola deve ser encarada como um momento de formação de acordo com o

mundo atual, dando ferramentas para trabalharem em grupo, serem solidários,

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e desenvolverem as suas capacidades, proporcionando o envolvimento no

desporto ao longo da vida.

Para isso, o professor deve ter em mente que não pode cingir-se aos

conteúdos a lecionar, mesmo sendo importante, o professor necessita de ter os

saberes transversais à educação, isto é, “de ser também um especialista

conhecedor de técnicas científicas através das quais explica e justifica o

porquê da sua acção didáctica” (Pacheco, 2007, p. 50). Segundo Siedentop e

Tannehill (2000), a mestria no ensino combina ensino eficaz com conhecimento

da matéria de ensino e a capacidade para relacionar com os alunos num

contexto particular. O professor tem de ser capaz de ganhar a empatia dos

alunos criando uma relação de liderança fundamentada pelo reconhecimento

dos alunos na capacidade do professor. Ser professor é ter competência para

motivar os alunos para a prática, independentemente do contexto ou da sua

manifestação.

Como professores de EF, temos que nos fazer sentir necessários à

sociedade e tornar-nos prescindíveis para os nossos alunos, fazendo com que

ao longo do processo os alunos se tornem autónomos e se envolvam na

prática e organização desportivas como elementos enriquecedores da sua

existência e formação (Siedentop & van der Mars, 2012).

Ser professor é ter competência para liderar, motivar e proporcionar

condições e experiências diversificadas aos alunos que promovam o seu

desenvolvimento multilateral, e que enraízem hábitos desportivos da qual

possam beneficiar ao longo da sua vida.

4.1.1.3. Plano anual

O Plano anual é um documento com o objetivo de situar e concretizar o

programa de ensino no local e nas pessoas envolvidas (anexo I). Contém os

objetivos para cada ano mas sem pormenores de atuação ao longo do mesmo

(Bento, 1987).

O planeamento é uma tarefa global, sendo o primeiro a ser elaborado.

Serve de base para toda a planificação nos níveis seguintes influenciando

marcadamente o processo ensino-aprendizagem, por conter informações

gerais sobre a estruturação do ensino ao longo do ano.

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Na elaboração do planeamento anual parte da informação que consta

no documento está pré-determinada como o número de aulas, o roulement dos

espaços desportivos e os conteúdos a lecionar, pela planificação da escola. As

decisões que foram tomadas restringiram-se na determinação da organização

das matérias segundo os espaços que tinha. Definindo que no primeiro período

iria lecionar Ginástica (solo), Atletismo (corrida de barreiras) e basquetebol,

mesmo não sendo as modalidades onde me sentia mais confiante percebi que

a altura do ano e o tempo disponível nos espaços correspondia com o que era

necessário, dando enfase aos critérios dos espaços e das condições

climatéricas. Na mesma linha de decisão no segundo período lecionei Voleibol,

Atletismo (corrida de velocidade), Andebol e no terceiro Badmínton, Atletismo

(salto em comprimento) e Futebol.

O planeamento anual estava estruturado pelos três períodos letivos

tendo o número de aulas, o roulement dos espaços desportivos, os conteúdos

a lecionar e acontecimentos importantes que necessitava de ter em conta, indo

ao encontro de (Bento, 1987, p. 18) sobre o conteúdo do plano anual: objetivos

do ano, o volume de horas, as matérias a abordar e em que período o fazer, e

datas relevantes.

Ao longo do ano a maior dificuldade sentida foi cumprir com o que

estava planeado adequando às várias contrariedades existentes no dia-a-dia,

como na diferença existente entre as aulas disponíveis e as necessárias para a

aquisição dos conteúdos por parte dos alunos, as condições climatéricas que

ocorreram no segundo período obrigando a reorganizar todos conteúdos de

Atletismo e mesmo simples contrariedades diárias que tinham repercussão no

que estava programado. E como em todo o planeamento, o plano não pode ser

visto como algo fixo e imutável, devendo ser flexível para se adaptar às

alterações existentes no contexto da prática.

4.1.1.4. Modelo de estrutura do conhecimento – Unidade temática

Segundo Bento (1987, p. 65) as unidades temáticas (UT) constituem

unidades fundamentais e integrais do processo pedagógico e apresentam aos

professores e alunos, etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem.

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31

O planeamento após a sua estruturação anual é progressivamente

refinado em diferentes unidades de matéria, em unidades temáticas. Abrangem

um propósito de ensino relativamente integral e tematicamente delimitado, que

se estende por várias aulas e que encarna um contributo bem delineado para a

realização dos objetivos e tarefas inscritas no plano anual de uma disciplina

(Bento, 2003, p. 75).

Seguindo a linha de pensamento do autor em anos distintos, as UT são

uma forma de organização do processo de aprendizagem apresentando uma

intenção de ensino com objetivos bem definidos, destinado a um tema

específico durante um conjunto de aulas. No caso da EF esses temas são

fáceis de definir por serem as modalidades a abordar como o Futebol, a

Ginástica e o Andebol.

“Na única aula de 90 minutos antes da avaliação de Voleibol e já

estando atrasado na introdução de conteúdos, decidi reestruturar a

UT mantendo o serviço por cima e as componentes táticas do jogo

2x2, mas retirando a introdução do serviço em apoio e da situação

de jogo 3x3 e 4x4”.

Reflexão da aula 30 (24/01/2014) – UT Voleibol

A UT não pode ser uma mera disposição dos conteúdos pelo número

de aulas que a constituem. A sua elaboração pressupõe que o tempo de ensino

seja “utilizado racionalmente, uma vez que existe clareza acerca daquilo em

que nos devemos concentrar e que devemos alcançar em cada aula” (Bento,

1987, p. 68).

O Modelo de Estrutura de Conhecimento (MEC) proposto por Vickers

(1989) é uma forma de responder a todos os pressupostos antes referidos

tornando-se como um guia ao nível do planeamento, orientando o processo de

aprendizagem. Tem em conta os conhecimentos teóricos e práticos dos

professores com a intenção de melhorar a transmissão de informação para os

alunos levando a um ganho na aprendizagem e desenvolvimento das

capacidades dos alunos.

Para um professor estagiário apesar de numa fase inicial existir

dúvidas na estruturação e nas decisões a tomar para organizar a abordagem

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32

dos conteúdos, acaba por se tornar numa ferramenta muito útil. Consegue

sintetizar os conhecimentos que necessitamos de saber e dá-nos uma visão

geral ao longo do tempo da evolução dos alunos. Levando-nos a pesquisar,

estudar e procurar atualizar os nossos conhecimentos que depois é percetível

nos resultados obtidos já que estamos mais preparados para a lecionação dos

conteúdos.

4.1.1.5. Plano de aula

O plano de aula é a colocação a partir da prática dos conteúdos

definidos nos níveis anteriores. E como refere Bento (2003) é a unidade

pedagógica do processo de ensino, é nela que os conteúdos, a direção do

processo de educação e formação, mas também os princípios básicos,

métodos e meios deste processo devem se encontrar na aula e por meio dela a

sua correta concretização.

De acordo com Rink (1985), de todas as tarefas do professor, o

planeamento das situações de aprendizagem é a mais importante pois é nelas

que os alunos são verdadeiramente chamados à prática no processo

instrucional, consistindo numa configuração de condições e ações que

estruturam a experiência do aluno, em relação com os objetivos do professor.

Tendo perceção da importância de uma boa preparação para obter o

sucesso na aquisição dos conteúdos por parte dos alunos por experiências

anteriores tive sempre cuidado na organização e estruturação da aula.

Procurando criar uma progressão sustentada para atingir no final da aula os

objetivos definidos, dando prioridade à exercitação como meio de

aprendizagem. Mas como menciona Rink (1985), o plano de aula guia o

processo de instrução, devendo traduzir objetivos e metas mais amplas em

experiências de aprendizagem específicas. Por este motivo, são difíceis de

redigir, pois quanto mais especificas são as descrições das intenções do

professor mais difícil se torna planear. No início do EP conseguir ajustar

corretamente as situações de aprendizagem aos alunos necessitou de uma

preparação sustentada antecipadamente, principalmente pela necessidade

constante de ajustar o plano aos condicionalismos externos que influenciavam

a prática.

Page 49: “Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

33

Na elaboração do plano de aula dei enfase à objetividade e brevidade

na sua explicação e estruturação para ser de fácil leitura, interpretação e

aplicação, assemelhando-se ao proposto por Bento (2003, pp. 102 - 104).

Antes de entrar na aula o professor tem já um plano da forma como ela deve

decorrer, uma imagem estruturada, naturalmente, por decisões

fundamentadas. Tais são, por exemplo, decisões sobre o objetivo geral e

objetivos parciais ou intermédios, sobre a escolha e ordenamento da matéria,

sobre os pontos fulcrais da aula, sobre as principais tarefas didáticas, sobre a

direção principal das ideias e procedimentos metodológicos.

Assim, concordo com Bento (2003) quando aponta que a boa

preparação da aula está associada ao seu sucesso, já que um planeamento

superficial leva a que o professor tenha de tomar decisões inesperadas durante

a prática, que sem o processo de reflexão que havia de ter acontecido sobre o

plano de aula e também no caso dos EE pela pouca experiência no contexto de

prática, são muitas vezes erradas.

Por último, devemos reter que para atingir com sucesso os objetivos

definidos as situações de aprendizagem devem ser bem programadas e

estruturadas, dando seguimento ao referido por Rink (1985), sendo que existe

aprendizagem quando o professor determina de forma apropriada a ação dos

alunos, estrutura o exercício para resultados específicos, e organiza o contexto

para que os resultados sejam atingidos.

4.1.2. A aula e o processo de ensino

4.1.2.1. Eficácia do ensino

No processo de aprendizagem é preciso perceber que

independentemente do tipo de abordagem utilizada o que vai balizar a sua

eficácia é a capacidade de colocar os alunos aprender o que estava definido.

No caso da EF isso ocorre na sua grande maioria pela exercitação e

reprodução de imagens visuais, contextualizando-as a determinados momentos

e mostrando a sua importância para atingir o sucesso. O professor deve ter a

perceção como refere Rink (1993) que aprender é usualmente considerado

Page 50: “Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

34

como uma mudança relativamente permanente no comportamento resultante

da experiência, treino e interação com processos biológicos.

O fomentador dessas mudanças nos alunos é o professor a partir da

sua capacidade de intervir e transmitir o que pretende pelas suas decisões e

ações fomentando-as com base na investigação, com recurso a um conjunto

de princípios para a prática. Isso vai determinar a eficácia da aprendizagem por

parte dos alunos com as situações apresentadas pelo professor à qual são

sujeitos.

Principalmente, os estudantes que dedicam mais tempo a uma boa

prática aprendem mais, preferencialmente quando a prática está adequada aos

objetivos de aprendizagem e a cada aluno, sendo que aprendem mais os

estudantes que praticam com uma taxa de sucesso razoavelmente alta;

aprendem mais os estudantes que praticam com um nível alto de

processamento (cognitivo); os que dispõem de professores eficazes que criam

um bom ambiente para a aprendizagem; de professores eficazes que são bons

comunicadores, já que o bom desenvolvimento do conteúdo pode aumentar a

aprendizagem, e de professores que procuram tentar perceber as perceções

dos estudantes sobre o que foi pedido para realizar (Rink, 1993). Com base

nisto podemos percecionar que a eficácia do ensino está intimamente ligada à

capacidade do professor de se adaptar ao contexto e às necessidades dos

alunos em prol da obtenção de sucesso nas tarefas.

Assim, eu consideraria a minha capacidade para ensinar de forma

geral positiva, mesmo tendo na fase inicial do EP em alguns momentos isso ter

ficado comprometido por problemas no clima de aprendizagem, no

desajustamento das tarefas perante os alunos e na gestão do tempo

necessário para atingirmos níveis bons de eficácia no ensino das

aprendizagens.

4.1.2.2. Gestão da aula: controlo da turma e gestão do tempo de aula

Toda a dinâmica conseguida na aula tem uma influência crucial para

atingir os objetivos definidos antecipadamente. No desenrolar da aula a nossa

capacidade enquanto professores para orientar e organizar os alunos é

preponderante. Durante a realização da aula existe uma triangulação muito

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35

intima que interliga o controlo da turma, a gestão do tempo de aula e o alcançar

dos objetivos propostos. Um professor competente tem a capacidade de gerir

de forma controlada os três fatores levando ao sucesso na aprendizagem.

De acordo com Doyle cit. por Rosado e Ferreira (2009, p. 189), a

gestão de aspetos organizacionais, nomeadamente a regulação da ordem e da

disciplina, é crucial na criação de ambientes positivos de interação e

aprendizagem, e envolve a boa gestão das regras, das rotinas, das

expetativas, das consequências, bem como a monitorização e a avaliação.

Para um melhor controlo da turma a criação de regras e rotinas é

fundamental. Contudo, é importante conhecer os alunos para aplicar

estratégias que direcionem para a direção pretendida consoante as

características próprias dos alunos que se apresentam à sua frente. Pois, tal

como Oliveira (2002, p. 88) afirma, um conhecimento profundo dos seus alunos

por parte do professor facilita uma maior compreensão das suas necessidades

e problemas, e capacita o professor para o estabelecimento de respostas mais

adequadas, nomeadamente na ajuda ao aluno, a fim de desenvolver o seu

autoconceito e autoconhecimento.

Neste sentido o PC foi importante para obter informação de uma turma

que já lhe pertencia no ano anterior. Todos os alunos eram diferentes e ao

longo do tempo senti necessidade de ajustar a minha forma de estar em

relação a cada um deles para os conseguir direcionar para o que pretendia.

Igualmente neste aspeto a minha experiência na área do futebol foi por um lado

positiva, uma vez que já detinha algumas ferramentas para controlar a turma,

mas por outro colocou-me com muitas dúvidas por ser muito díspar a reação e

disponibilidade para a prática entre as duas realidades. Um dos problemas

comportamentais que tive de lidar logo no início provem dos alunos já se

conhecerem, porque apesar de demonstrarem uma ótima relação, o que era

uma grande vantagem na manutenção de um ambiente de aprendizagem

positivo, por vezes se tornava um transtorno quando os alunos se distraiam uns

com os outros, afastando-se das tarefas propostas na aula. Como solução

recorri ao método da responsabilização, criando tarefas e estratégias que

mantivessem os alunos em exercitação e a corrigirem-se mutuamente.

Seguindo a linha de pensamento de Rosado e Mesquita (2009), a

responsabilização dos alunos nas tarefas de aprendizagem, permite ao

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36

professor um controlo efetivo do comportamento dos alunos, bem como a

avaliação do próprio processo de instrução. A relação que o aluno estabelece

com a tarefa, ainda que exista uma obrigatoriedade do seu cumprimento, é

flexível, pois “as tarefas são negociáveis, de forma mais ou menos manifesta,

quase sempre com o intuito de serem mais facilmente solucionadas” (Rosado &

Mesquita, 2009, p. 109).

A gestão do tempo da aula no início do EP e a organização das

situações aprendizagem no tempo destinado é um dos aspetos mais

complicados de conseguir controlar, já que mesmo realizando uma correta

preparação da aula existe sempre constrangimentos que vão alterar todo o

planeamento e, ainda, não temos uma clara noção do tempo que dispomos. Na

fase inicial por vezes perdia demasiado tempo na transição entre exercícios,

outras vezes deixava o exercício continuar por sentir que estava a atingir

plenamente o que era pretendido e isso obrigava a reorganizar todo o plano de

aula o que numa fase inicial ainda era difícil e por vezes não conseguia realizar

tudo o que era pretendido no tempo útil de aula. Desta forma, a organização e

as transições são particularmente importantes para estabelecer um ritmo eficaz

durante a aplicação de um plano (Siedentop, 2008).

Para um melhor controlo do tempo de aula é fundamental antecipar.

Situações como os atrasos no início da aula, os problemas climatéricos,

constrangimentos nos espaços ou materiais disponíveis são constrangimentos

extra que devemos acautelar, mas acima disso devemos preparar a aula

procurando evitar muitos tempos de organização, transição e explicação dando

prioridade à exercitação constante, uma vez que, tal como Siedentop (2008)

afirma, um momento de organização dos alunos não requer muito tempo, mas

o conjunto de todos os momentos de organização que existem numa aula de

EF, representam uma grande porção do tempo da aula.

4.1.3. A avaliação

4.1.3.1. Avaliação como uma consequência do processo de ensino

Segundo Melo (2006), a avaliação deve ser assumida como um

instrumento de análise, que deverá ser utilizado como base para a

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37

reconstrução de um processo, capaz de orientar o professor na busca de novos

procedimentos e na organização do seu trabalho. As finalidades da avaliação

são várias, permitindo classificar os alunos, verificar a sua evolução,

diagnosticar falhas e promover a reflexão dos alunos sobre os seus próprios

erros, e ainda, fornecer feedbacks ao professor sobre a forma como este

ensina, como estratégia de motivação e até mesmo como forma de

enriquecimento e orientação do ensino (Gonçalves et al., 2010).

A avaliação é uma necessidade vital do ser humano porque lhe serve

para orientar, de forma válida, as decisões individuais e coletivas (Gonçalves et

al., 2010, p. 9). Desta forma, a avaliação é um regulador importante para o

controlo do processo de ensino por conseguir quantificar o nível atingido pelos

alunos consoante o que foi estipulado antecipadamente, mostrando se houve

eficácia nas tarefas de aprendizagem delineadas. É o melhor instrumento para

detetar carências e auxiliar a orientação e objetividade contida no ensino.

Esta foi uma área onde ao longo do EP tive particular atenção, por

perceber a importância que tem para os alunos, quer formativamente, quer

como meio de motivação, quer de forma sumativa, uma vez, que consegue

criar uma ideia do nível pessoal a partir da avaliação. No primeiro período

essencialmente foi complicado conseguir estabelecer o que era essencial

avaliar, dificultando a objetivação dos vários níveis de aprendizagem e

complicando a tomada de uma decisão. O que foi melhorando com a

acumulação de experiência e pelo aumento da qualidade da preparação nessa

ação.

4.1.3.2. Avaliação diagnóstica

Segundo Gonçalves et al. (2010, p. 47), “a avaliação diagnóstica, como

o próprio nome indica, não é ”formular um juízo mas recolher informação para

estabelecer prioridades e ajustar a atividade dos alunos ao sentido do seu

desenvolvimento”.

Iniciámos quase todas as unidades temáticas com a avaliação

diagnóstica, sendo que não a realizamos nas matérias que os alunos iriam

abordar pela primeira vez como foi o caso do Atletismo e do Badmínton.

Page 54: “Ser professor”, um produto de experiências · ensino, a escola. Este processo garante-nos uma visão realista do papel do professor na atualidade ajudando os estudantes na preparação

38

Começamos de forma formal, dando aulas destinadas à introdução e

exercitação de conteúdos.

“Na aula número 18 realizei a avaliação diagnóstica de Basquetebol.

Foi uma primeira abordagem a este conteúdo para averiguar o nível

em que os alunos se encontravam. De forma geral depois de

observados a avaliação é positiva, já que os alunos mostraram ter

boas bases”.

Reflexão da aula 18 (22/11/2013) – UT Basquetebol

O professor de EF deve atribuir um grande valor a esta avaliação pois

é a base de toda a estrutura e sequência da UT (depende do tempo e do nível

dos alunos). Tendo como objetivo determinar o nível de desempenho motor

dos alunos para depois planear e ajustar os conteúdos a lecionar em cada

matéria de ensino perante o número de aulas disponíveis. Todavia, um errado

diagnóstico fará com que os objetivos, os conteúdos e os métodos

selecionados estejam errados, que levaria a um desajuste do processo aos

alunos que dificultará a aprendizagem.

Pessoalmente, a primeira avaliação diagnóstica que realizei, sendo de

Ginástica foi difícil, pela sua especificidade nos movimentos, pela falta de

conhecimento da turma e por uma preparação desacertada da ficha de

observação. Levando à carência na perceção do nível da turma para organizar

a abordagem dos conteúdos. Procurei sempre utilizar escalas de apreciação

por observação direta, já que por ter as tabelas que continham os conteúdos a

observar e os critérios para a sua qualificação, facilitava a observação dos

comportamentos desejados.

4.1.3.3. Avaliação formativa

A avaliação formativa é a aferição da evolução em direção a uma meta

(Rink, 1985). Esta avaliação promove uma análise ao nível da evolução dos

alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem.

Ao longo das aulas deve ser realizada permitindo uma deteção das

deficiências nos movimentos dos alunos. Permitindo uma melhor correção e

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39

orientação individual perante as características particulares de cada um,

promovendo o desenvolvimento do aluno.

Durante a abordagem de uma temática a avaliação formativa foi

realizada de forma informal em todas as aulas, através da reflexão sobre as

dificuldades sentidas pelos alunos. Com a informação obtida era preparada a

próxima aula e de forma específica algumas estratégias para o melhoramento

individual. Serviu também para realizar a avaliação sumativa dos alunos que

por algum impedimento não a pudessem fazer.

4.1.3.4. Avaliação sumativa

A avaliação sumativa é o meio para perceber quais dos objetivos

delineados inicialmente os alunos conseguiram atingir. Juntamente com os

registos já realizados ao longo das aulas é o culminar do processo de ensino-

aprendizagem, pois permite detetar as deficiências ainda mantidas pelos

alunos na sua execução. Segundo Rink (1985) a avaliação sumativa é a

aferição do nível em que os objetivos estabelecidos foram atingidos.

Para a execução deste processo foi notório a necessidade de existir

experiência, preparação e um grande conhecimento dos alunos.

“Na realização da avaliação consegui ver todas as ações e avaliar

de forma correta, o que é muito positivo, porque estava um pouco

apreensivo quanto a todo o processo. De futuro devo ter atenção na

construção da grelha de avaliação para exercícios em sequência,

uma vez, que estava organizada por conteúdos, logo não seguindo a

sequência e obrigando a uma maior atenção a colocar as notas no

sítio correto”.

Reflexão da aula 8 (11/10/2013) – UT Ginástica

Inicialmente esta tarefa criou algumas dificuldades por obrigar a que

observemos, qualifiquemos e registemos em tempo real. A utilização de registo

audiovisual foi fundamental para colmatar a inexperiência sentida ao início,

porque permitiu rever, analisar o movimento e comparar com a avaliação em

tempo real. Tornando o processo minucioso e claro porque permite fragmentar

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40

o movimento que vemos em movimento contínuo. Com o passar do tempo a

capacidade de analisar o movimento realizado e a atribuição de uma nota cada

vez se tornou mais rápido e preciso quando visto á posteriori. E por isso,

Siedentop e Tannehill (2000) referem que a qualidade da avaliação está

relacionada com a capacidade de combinar os resultados pretendidos e as

situações de aprendizagem. As questões de projeto de avaliação definidas

inicialmente permitem definir calcular a relevância e significado dos resultados

pretendidos, e se as situações de aprendizagem se adequam a eles.

Nestas aulas sempre procurei criar um ambiente de grande

concentração junto dos alunos para que estes tivessem as condições de

realizar o movimento o melhor possível, sempre a partir dos exercícios

anteriormente aprendidos. Foi permitido uma revisão e correção de alguns

erros antes de iniciar a avaliação.

“Esta aula tinha como finalidade exercitar muito os conteúdos até

agora abordados para que os alunos começassem a refinar a sua

execução. De forma a estarem preparados da melhor forma para a

avaliação”.

Reflexão da aula 22 (6/12/2013) – UT Basquetebol

Segundo Bento (2003, p. 179) “o empenhamento com a análise e

avaliação do ensino pode implicar, do professor, uma atitude voluntária e

volitiva, ação significante como ponto de partida para a mudança e capacidade

critica. Pode envolver ainda a técnica (simples) de registo dos acontecimentos,

uma análise (curta e informal) de cada aula e uma análise mais sistemática no

final de cada UT, face a dificuldades temáticas, metodológicas ou de interação

e sempre que se aproxima uma alteração do estilo de intervenção e de

atividade”.

4.2. Área 2 e 3 – Conceção, planeamento de atividades e o

desenvolvimento profissional

4.2.1. Direção de turma

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41

Durante o meu EP no Agrupamento Vertical Clara de Resende, auxiliei

nas funções de direção de turma. A turma com que trabalhei era a direção de

turma da professora cooperante, pelo que sempre tive presente e colaborei

nessa função.

Segundo Silva (2007, p. 45), “É o professor que acompanha, apoia e

coordena os processos de aprendizagem, de orientação, de maturação dos

alunos e de orientação e de comunicação entre os docentes, alunos,

Pais/encarregados de educação e restantes agentes da ação educativa”.

O cumprimento deste cargo é a realidade dos professores nas escolas

mas é uma tarefa para a qual não temos formação. O acompanhamento que

realizei foi importante para a compreensão das tarefas inerentes ao cargo.

Desempenhei tarefas de gestão, acompanhamento dos alunos, resolução de

problemas e de orientação das aulas de oferta complementar. Estive presente

nas reuniões de conselho de turma, de direção de turma e de final de período.

Nas reuniões aprendi bastante sobre o funcionamento da escola e a forma

como são colocadas em prática as normativas do Ministério da Educação e as

estratégias implementadas.

O Diretor de Turma desempenha um papel crucial no rendimento dos

alunos, é uma ponte entre a escola, os alunos, encarregados de educação e os

demais professores.

4.2.2. Projeto “Clara Solidária” e “Rota dos Povos”

O projeto “Clara Solidária”, representado na figura 3, abrangeu toda a

comunidade escolar e tinha como objetivo a recolha de bens materiais e

alimentares para doar a instituições de solidariedade localizadas na

comunidade em que a escola está inserida. Assim sendo, a comunidade

escolar teve a oportunidade de participar ativamente dando um imprescindível

contributo social.

Tivemos essencialmente funções organizativas na promoção do evento

e na organização dos bens alimentares durante as duas recolhas realizadas no

Natal e na Páscoa, bem como a sua entrega na instituição.

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42

Por último, colaboramos na promoção e organização dos materiais no

evento de cariz solidário “Na rota dos Povos” representado na figura 2 pelo seu

cartaz. Que tem como objetivo ajudar a Organização sem Fins Lucrativos

(ONG) para a recolha de material escolar com destino a escolas de Guiné-

Bissau.

Figura 2: Cartaz do evento "Na rota dos Povos”

Figura 3: Cartaz evento "Clara Solidária"

4.2.3. Torneio de Futebol

A organização do torneio de futebol foi da inteira responsabilidade do

núcleo de estágio e na figura 4 está o cartaz mostrando o tema subjacente ao

torneio. O evento ocorreu em dois dias, nas duas últimas sextas-feiras do ano

letivo, entre as 8.30 e as 17 horas, no estádio do Bessa e na escola.

Destinando-se a todos os alunos da escola, do 5º ao 12º ano. Tendo uma

adesão muito significativa, participaram equipas de basicamente todas as

turmas da escola.

O torneio estava organizado pelos anos letivo e tinha uma estrutura

com fase de grupos e posteriores eliminatórias. Para as turmas do ensino

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43

básico realizou-se o torneio na escola jogando 5x5, as turmas do ensino

secundário jogaram 7x7 no estádio do Bessa.

Podemos realçar a boa organização e gestão do tempo da atividade,

principalmente pela capacidade de adaptação devido ao mau tempo que se fez

sentir na primeira sexta-feira. Conseguimos realizar o plano previamente

planeado somente com alguns ajustes. E deve-se realçar o ambiente de

festividade que sempre existiu entre os alunos durante o torneio.

Figura 4: Cartaz do torneio de Futebol "Clara World Cup"

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5. Estudo de investigação-ação

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5. Estudo Investigação-Ação

“Análise das diferenças na coordenação motora entre os alunos que

praticam desportos individuais e os que praticam desportos

coletivos.”

5.1. Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar, em adolescentes, o efeito do tipo de

prática desportiva (prática de modalidades desportivas coletivas ou individuais)

e do sexo na coordenação motora. A amostra foi constituída por 51 alunos de

ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 13 e os 14 anos. Os

indivíduos foram submetidos à análise do índice da destreza e coordenação

motora. Para a avaliação da coordenação motora foi utilizada a bateria de

testes MABC-2. O questionário aplicado foi o Questionário de Preferência

Lateral (adaptado) de Van Strien, 2003 e Coren, 1993 (anexo 2), para recolher

os dados sobre lateralidade e sobre o tipo de atividade desportiva. Percebemos

que nem o tipo de prática nem o sexo apresentaram um efeito significativo nos

níveis de coordenação motora destes jovens. Além disso, os índices de

coordenação motora são elevados para a totalidade da amostra.

PALAVRAS-CHAVE: DESTREZA MOTORA; COORDENAÇÃO MOTORA;

DESPORTOS INDIVIDUAIS; DESPORTOS COLETIVOS.

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5.2. Abstract

The goal of this study was verifying, in teenagers, the effect of the type of sport

practice (practice of team or individual sports) and the gender in motor

coordination. The sample consisted in 51 students of both genders, aged

between 13 and 14 years.

The subjects were submitted to analyses of the index of dexterity and motor

coordination. For the evaluation of motor coordination it was used a test battery

MABC-2. The applied questionnaire was the Lateral Preference Questionnaire

(adapted) Van Strien, 2003 and Coren, 1993 (attachment 1), to collect the data

about laterality and the type of sport practice. We realized that neither the kind

of practice nor the gender had a significant effect on the levels of motor

coordination of these teenagers; besides, the indexes of motor coordination are

high for the entire sample.

KEYWORDS: MOTOR SKILL; MOTOR COORDINATION; INDIVIDUAL

SPORTS; TEAM SPORTS

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5.3. Introdução

A realização deste Estudo surge no âmbito da Unidade Curricular de

EP do 2º Ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e

Secundário da FADEUP.

Na realização do EP no Agrupamento Vertical Clara de Resende,

deparei-me com uma nova realidade para mim. Com a integração no estágio

da realização de um estudo prático, optei por realizar este no âmbito da

coordenação motora dos alunos, verificando se existe interferência na

coordenação pela experiência adquirida na prática de diferentes modalidades

fora do contexto escolar. Pretendo, desta forma, perceber se existe uma

relação entre os índices de coordenação dos alunos e o tipo de modalidade

praticada.

Segundo Araújo, Barela, Celestino, e Barela (2012), o comportamento

motor muda durante a vida, podendo acentuar ou reduzir as habilidades

motoras fundamentais, que sustentam as específicas. Estas habilidades

motoras são adquiridas ao longo do desenvolvimento individual. Assim, é

importante estudar as contribuições da participação efetiva em aulas de EF nas

escolas e de atividades desportivas, já que estas estimulam o ganho e

aprimoramento das habilidades motoras.

Como a falta de coordenação motora por parte dos alunos é um

conceito atual e de extrema relevância para o processo de ensino, optei por

tentar identificar se os alunos evidenciam diferenças, sobretudo coordenativas,

na execução de exercícios específicos de modalidades coletivas e individuais.

É fundamental conhecer essas diferenças para melhor planear a abordagem às

modalidades coletivas e às modalidades individuais com exercícios que

implementem a melhoria nas habilidades motoras específicas, nomeadamente

as que implicam exigências ao nível coordenativo.

Conceito de Coordenação Motora

Para Piaget (1968), a coordenação é um jogo de assimilação e

acomodação dos esquemas sensoriomotores. As capacidades motoras

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desenvolvem-se numa sistemática e regular interação, isto é, o nível motor é

estabelecido pela conexão de interação entre capacidades coordenativas e

condicionais.

Segundo Antonelli e Salvini (1978), a coordenação motora voluntária

não pode estar desunida dos seus condicionamentos neurológicos, isto é, da

disposição dos automatismos já adquiridos, nem de todas as premissas

neurológicas que facultam a utilização da energia, ritmo, força e duração do

movimento.

Por seu lado, referindo-se à teoria do circuito fechado como uma “teoria

periférica” Magill (1980), considera que a coordenação motora é o resultado da

união de sequências de movimentos independentes. Nesta cadeia, cada

resposta motora resulta das ordens efetoras corrigidas pela retroação do

movimento antecedente. Considerando ainda que a retroação é elementar para

o controlo do movimento, já que este, é controlado pelos centros motores

superiores, portadores das informações fundamentais para dirigir um

movimento complexo do princípio ao fim.

A coordenação tem de ser vista como uma estrutura onde um grupo de

músculos, habitualmente ligados a variadas articulações, é obrigado a atuar

como uma unidade funcional (Kelso, 1982). Para Meinel e Schnabel (1987), o

conceito de coordenação relaciona-se com a organização de ações motoras no

sentido de uma meta determinada.

Por sua vez, Bompa (1990), refere que a coordenação motora é uma

capacidade motora que engloba diferentes formas de manifestação com

alguma independência entre si. Embora esteja presente em todas as ações

motoras, tem uma influência preponderante na agilidade e tem como fim a

coordenação máxima.

Em 2001, Gallahue e Ozmun reportam-se à coordenação como sendo

uma habilidade de integração, em padrões eficazes de movimento, de sistemas

motores distintos com mobilidades sensoriais diversas. Quanto mais complexas

as tarefas motoras, maior é o nível de coordenação necessário para um

desempenho eficiente, de velocidade e agilidade. No entanto, esta capacidade

não está estreitamente ligada à força e à resistência. O comportamento

coordenado requer, assim, que se executem movimentos específicos em série,

rápidos e precisos. O movimento coordenado requer a integração dos sistemas

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motor e sensorial num protótipo de ação harmonioso e lógico, como que uma

combinação concordante dos deslocamentos dos segmentos corporais no

tempo e espaço, com o objetivo da execução de determinada tarefa.

Contudo, o consenso entre os vários autores à volta do conceito de

“coordenação motora” é, de certa forma, inexistente, uma vez que, apesar de

existirem alguns pontos em comum, muitas são as particularidades de cada

autor (Hirtz, 1986).

Capacidades coordenativas

Após uma análise da bibliografia disponível de vários autores sobre

este conceito, podemos constatar que não existe um consenso na sua

definição conceptual e operacionalização, bem como na sua forma de

avaliação.

Meinel e Schnabel (1987), a partir das características gerais da

condução e regulação do movimento nas atividades desportivas, afirmam que

se pode deduzir e descrever empiricamente sete qualidades coordenativas:

capacidade de acoplamento, capacidade de diferenciação, capacidade de

reação e capacidade de adaptação. Estas capacidades fazem parte de um

processo de interação de três capacidades funcionais de coordenação, que

são: a capacidade de aprendizagem motora (fundamenta-se em mecanismos

de recolha, tratamento e retenção de informação, isto é, processos preceptivos,

cognitivos e mnemónicos), a capacidade de condução (assenta nos diferentes

elementos de uma ação a serem ligados em simultâneo ou de forma

permanente e no número de graus de liberdade a serem dominados), e a

capacidade de adaptação (baseia-se na programação da ação sua correção e

transformação ou adaptação, em função de situações que se modificam ou se

afiguram de previsão difícil).

A classificação geralmente considerada é a de Hirtz (1986) onde refere

cinco capacidades de coordenação:

- Capacidade de diferenciação cinestésica – qualidades de

comportamento relativamente estáveis e generalizadas necessárias para a

realização de ações motoras corretas e económicas, com base numa receção

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e assimilação bem diferenciada e precisa de influências cinestésicas (dos

músculos, tendões e ligamentos)

- Capacidade de reação – qualidades de comportamento relativamente

estáveis e generalizadas necessárias a uma rápida e oportuna preparação e

execução no mais curto espaço de tempo de ações motoras e estímulos.

- Capacidade de ritmo – qualidades de comportamento relativamente

estáveis e generalizadas necessárias à perceção, acumulação e interpretação

de estruturas temporais e dinâmicas pretendidas às contidas na evolução do

movimento. Importante para ações motoras cuja realização exige um cunho

rítmico e para as convenientes estruturas de evolução do movimento que exige

uma determinada acentuação.

O desenvolvimento das capacidades coordenativas depende, ainda,

dos processos de maturação biológica, da quantidade e da qualidade de

atividade motora, das ações realizadas para a formação e educação e ainda

dos fatores da atividade social (Hirtz, 1986).

No entanto em todo caso, não deverá ser considerada como única,

nem tão-pouco como uma representação multidimensional definitiva de

capacidade complexa que á a coordenação motora (Andrade, 1996).

E segundo Vasconcelos (2006), em qualquer estudo ou investigação

acerca das capacidades coordenativas, esta complexidade de intervenções

deverá estar sempre em consideração.

O objetivo deste estudo foi verificar, em adolescentes, o efeito do tipo

de prática desportiva (prática de modalidades desportivas coletivas ou

individuais) e do sexo na coordenação motora dos alunos. Comparar os níveis

de coordenação motora em função do tipo de prática desportiva (desportos

individuais e desportos coletivos). E averiguar o efeito do tipo de prática

desportiva em cada sexo nos níveis de coordenação motora dos alunos.

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5.4. Metodologia

5.4.1. Caracterização da amostra

A amostra do presente estudo é constituída por 51 alunos de ambos os

sexos, com idades compreendidas entre os 13 e os 14 anos de uma Escola do

Ensino Básico da rede de ensino público de Portugal, durante o ano de 2013. A

amostra é composta por 15 elementos do sexo feminino e 36 elementos do

sexo masculino, sendo que 22 indivíduos praticam desportos individuais e 29

praticam desportos coletivos. Desses 22 indivíduos que praticam desportos

individuais, 4 são do sexo feminino e 18 do sexo masculino, dos 29 que

praticam desportos coletivos 11 são do sexo feminino e 19 do sexo masculino.

Como critérios de seleção foi tido em conta somente os alunos que

praticavam sistematicamente alguma modalidade desportiva, individual ou

coletiva, todos os outros que não praticavam foram excluídos.

5.4.2. Procedimento de recolha de dados

Para a recolha de dados foram disponibilizadas duas aulas de 90

minutos em cada uma das turmas.

5.4.3. Instrumento

Movement Assessment Battery for Children II (MABC-2)

Para a análise da destreza e coordenação motora foi utilizada a bateria

de testes Movement Assessment Battery for Children II – MABC-2 (Henderson,

Sugden, & Barnett, 2007), com uma tradução e adaptação linguística para a

língua portuguesa, realizada por peritos, do questionário original da bateria.

Foi adotada a bateria de teste adequada para a idade entre 11-16

anos, devido à idade da amostra. Foram avaliados os domínios da destreza

manual, da habilidade com bola e do equilíbrio do indivíduo, a partir dos

seguintes testes:

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Destreza manual: Girar Pinos (Turning Pegs); Triângulo com Porcas e

Parafusos (Triangle with Nuts and Bolts); Delinear Percurso da Bicicleta 3

(Drawing Trail 3).

Habilidade com a bola: Agarrar com uma mão (Catching with one

hand); Atirar a bola para alvo na parede (Throwing at wall target).

Equilíbrio: Equilibrar-se sobre uma trave (Two-Board Balance);

Caminha em calcanhar-pontas para trás (Walking toe-to-heel backwards);

Saltos em ziguezague (Zig-Zag hopping).

Para todos os domínios foi calculado o resultado total estandardizado e

o valor médio de desempenho em todas as tarefas. Com estes valores e

baseado nas tabelas de referência da bateria de testes foi possível classificar

os indivíduos no sistema denominado Traffic Light System (Semáforo). O

Semáforo referencia os alunos com três cores indicando, a cor vermelha

“prováveis desordens da coordenação motora (DCM)” (ponto de corte: <56%),

a cor amarela indicando “risco de desordens da coordenação motora” (ponto de

corte: 57 a 67%), e a cor verde “ausência de desordens da coordenação

motora” (ponto de corte: >67%) (Henderson et al., 2007).

5.4.4. Análise Estatística

A análise dos dados recolhidos foi realizada através de estatística

descritiva (média e desvio padrão), dos teste t de Student ou Mann-Whitney a

da análise de frequências absolutas e relativas. O nível de significância

adotado foi p≤0,05. A análise estatística foi realizada no programa IBM SPSS

STATISTICS (versão 21.0).

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5.5. Resultados

5.5.1. Semáforo relativamente aos praticantes de desportos

individuais e de desportos coletivos

Apresentamos de seguida o quadro 3, que expõe os resultados dos

praticantes de deportos individuais e coletivos no semáforo da bateria de testes

(MABCC-2).

Quadro 3: Resultados dos praticantes de desportos individuais e coletivos no

semáforo.

Semáforo Desportos

Individual

Desportos

Coletivos Total

Vermelho 9,1% 24,1% 17,6%

Amarelo 36,4% 3,4% 17,6%

Verde 54,5% 72,5% 64,7%

O presente quadro revela algumas diferenças entre os praticantes de

desporto individuais e coletivos em relação ao semáforo. Verificamos que nos

desportos individuais aproximadamente metade da amostra (54,5%) é que se

encontra na zona verde, em comparação com o valor superior de 72,5% dos

desportos coletivos. Ao nível dos praticantes de desportos individuais

verificamos que 36,5% se encontra na zona amarela e somente 9,1% na zona

vermelha. Contudo, nos praticantes dos desportos coletivos existe uma

inversão dos valores, sendo que somente 3,4% da amostra se encontra na

zona amarela e encontram-se na zona vermelha 24,1% dos elementos,

revelando uma grande discrepância entre o grupo devido à extremidade dos

valores obtidos.

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5.5.2. Diferenças nos domínios entre os praticantes de desportos

individuais e os desportos coletivos

Expomos, de seguida, no quadro 4 os valores obtidos pelos elementos

praticantes de desportos individuais e desportos coletivos nos três domínios da

bateria de testes (MABC-2).

Quadro 4: Diferenças entre os praticantes de desportos individuais e coletivos

na coordenação motora (MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p. Domínios

Desportos Individuais

Desportos Coletivos

p

Destreza Motora

27,20±0,47 25,09±0,67 0,612

Habilidades com Bola

26,61±0,48 25,53±0,57 0,795

Equilíbrio 26,11±0,81 25,91±0,59 0,962

Observando os resultados dos testes, podemos verificar que os

praticantes de desportos individuais tiveram resultados ligeiramente superiores

nos três domínios, quando comparado com os praticantes de desportos

coletivos. As diferenças não foram, todavia, estatisticamente significativas.

5.5.3. Semáforo relativamente ao sexo

Apresentamos seguidamente, no quadro 5 a relação entre o sexo e os

resultados obtidos no semáforo da bateria de Testes (MABC-2).

Quadro 5: Resultados segundo o sexo no semáforo.

Semáforo ♂ ♀ Total

Vermelho 16,7% 20,0% 17,6%

Amarelo 16,7% 20,0% 17,6%

Verde 66,7% 60,0% 64,7%

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Analisando o quadro 5, observamos que 64,7% dos indivíduos que

praticam uma modalidade encontra-se na zona verde do semáforo. Contudo,

35,2% da amostra encontra-se dividida entre a zona vermelha e amarela,

revelando alguns problemas na sua coordenação motora. Entre os sexos

verificamos que o sexo masculino consegue ter mais indivíduos na zona verde

(66,7%), em comparação com o sexo feminino, que detêm 60,0%, isto pode ser

influenciado pela maior predisposição dos elementos do sexo masculino para a

prática de desporto. Nas outras duas áreas existe igualmente um resultado

tenuemente superior no sexo masculino.

5.5.4. Efeito do sexo na coordenação motora

No quadro 6 apresentamos as diferenças existentes entre o sexo

masculino e feminino nos três domínios da Bateria de testes (MABC-2).

Quadro 6: Efeito do sexo na coordenação motora (MABC-2). Média, desvio

padrão e valor de p. Domínios ♂ ♀ p

Destreza Motora

7,14±0,46 7,93±0,94 0,145

Habilidades com Bola

12,19±0,37 9,73±0,79 0,148

Equilíbrio 8,61±0,61 8,07±0,75 0,095

Observando o quadro 6, verificamos que os indivíduos do sexo

masculino obtiveram um valor médio superior nas Habilidades com bola (12,19)

e no Equilíbrio (8,61), mas na Destreza Manual o sexo feminino teve um valor

médio com 7,93. Comparando os dois grupos o sexo masculino tem resultados

mais lineares, enquanto o sexo feminino tem resultados mais díspares dentro

do grupo. Todavia as diferenças não foram estatisticamente significativas.

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5.5.5. Diferenças nos domínios no grupo do sexo masculino entre

os praticantes de desportos individuais e os desportos

coletivos

Exibimos, no quadro 7 os resultados do sexo masculino em relação à

prática de desportos individuais ou coletivos.

Quadro 7: Sexo masculino. Efeito do tipo de prática na coordenação motora

(MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p.

Domínios Desportos Individuais

Desportos Coletivos

p

Destreza Motora

19,11±0,43 17,89±0,84 0,726

Habilidades com Bola

17,86±0,52 19,14±0,56 0,713

Equilíbrio 18,53±0,99 18,47±0,75 0,987

Examinando o quadro 7, averiguamos que não existe diferenças

significativas entre os 2 grupos nos 3 parâmetros da coordenação motora.

5.5.6. Diferenças nos domínios no grupo do sexo feminino entre os

praticantes de desportos individuais e os desportos coletivos

No quadro 8, mostramos os resultados do sexo feminino em relação à

prática de desportos individuais ou coletivos.

Quadro 8: Sexo feminino. Efeito do tipo de prática na coordenação motora

(MABC-2). Média, desvio padrão e valor de p.

Domínios Desportos Individuais

Desportos Coletivos

p

Destreza Motora

9,25±1,68 7,55±1,63 0,510

Habilidades com Bola

8,63±1,03 7,77±1,03 0,741

Equilíbrio 7,50±0,82 8,18±1,01 0,786

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Estudando os resultados dos testes nos vários domínios para os

elementos do sexo feminino, apuramos que não existe diferenças significativas

entre os 2 grupos nos 3 parâmetros da coordenação motora.

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5.6. Discussão

Após análise dos dados recolhidos para a análise dos índices de

coordenação motora entre os praticantes de deportos individuais e coletivos

conseguimos tirar algumas ilações a este nível.

Primeiro, podemos verificar que os valores apresentados são bons,

sendo que em ambos os sexos a amostra encontra-se em grande parte com

índices de ausência de desordens da coordenação motora. Apesar dos

escassos estudos na literatura que abordem esta temática. Sabe-se que em

crianças com 6-10 anos, a coordenação motora é o um preditor do índice de

atividade física (Lopes et al., 2011).

Este facto pode ser justificado pela qualidade das atividades

executadas no treino desportivo, visto que a coordenação motora sofre extensa

influência da experiência motora em termos de qualidade e não somente da

quantidade de vivências a que os sujeitos estão expostos (Pelozin, Folle,

Collet, Botti, & Nascimento, 2009).

Verificamos que na realização das tarefas não houve diferenças entre

sexos. A ausência de diferenças pode ter ocorrido por todos os elementos

serem desportistas.

Em relação aos praticantes de desportos individuais e coletivos é

possível observar uma ligeira superioridade nos dois sexos nos domínios da

coordenação motora pelos praticantes de desportos individuais, que pode ser

justificado pela influência do trabalho que realizam no treino, sendo mais

específico, com mais repetições e centrado na qualidade de execução, dando

uma maior relevância às questões técnicas em comparação com os desportos

coletivos. Contudo, as diferenças não chegaram a ser significativas. E isso

pode provir como Butler, Southers, Gorman, Kiesel, e Plisku (2012) concluíram,

que nos atletas o equilíbrio será dependente do nível de competição a que

estão sujeitos. Vieira e Oliveira (2006) sugeriram que um aumento do equilíbrio

nos atletas traduz, nestes, adaptações fisiológicas provenientes do treino

intensivo e também uma capacidade acentuada de resistência à fadiga, quando

comparados com não atletas.

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Por último, apesar de conseguirmos verificar diferenças entre os sexos

e os praticantes de desportos individuais e coletivos nos índices da

coordenação motora, deve ser considerado para futuros estudos uma maior

amostra para obter-se resultados com maior significância. Também, deve ser

tido em conta os anos de prática desportiva dos alunos e o número de horas

que praticam, para que seja possível verificar se essas variáveis têm influência

nos resultados obtidos.

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5.7. Conclusões e sugestões

Concluímos que nem o tipo de prática nem o sexo apresentaram um

efeito significativo nos níveis de coordenação motora destes jovens.

Sugerimos para futuros estudos um maior número amostral para

obtermos resultados mais robustos e a comparação entre praticantes de

desportos coletivos, praticantes de desportos individuais e não praticantes

desportivos. Também, deverá ser tido em conta os anos de prática desportiva

anterior dos alunos e o número de horas que praticam, para que seja possível

verificar se essas variáveis têm influência nos resultados obtidos.

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6. Conclusão e perspetivas futuras

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6. Conclusão e perspetivas futuras

O EP não foi totalmente de encontro com as minhas expetativas, o

contexto que encontrei não proporcionou uma grande evolução. Porém, tive um

prazer enorme no desempenho do papel de professor, onde a minha

identificação com a profissão melhorou significativamente, já que, no início do

estágio sentia-me “mais aluno” do que professor e no final os papéis

inverteram-se.

Esta fase da minha vida que agora termina foi importante para crescer

a nível pessoal e profissional, tendo sido uma montanha russa de vivências,

sentimentos e emoções. Enquanto docente faço um balanço positivo, apesar

de ter sido difícil adaptar-me à realidade escolar pela minha ligação ao treino.

Procurei superar os desafios que foram aparecendo, sempre tentando

compreender a abrangência global do que é “ser professor” e as suas funções.

O maior desafio que superei, após a experimentação de diversas

estratégias ao longo do ano, foi a minha postura e forma de estar na aula e a

aplicação e adequação de estratégias que proporcionassem o máximo de

exercitação de qualidade.

As aprendizagens foram substancialmente mais ricas por serem

realizadas em contexto real, mesmo tendo a análise do trabalho realizado ter

sido um pouco descurado no dia-a-dia. Existem aspetos que são difíceis de

transcrever para o papel e a discussão de ideias para mim é mais

enriquecedora. Contudo, a elaboração deste RE apelou a uma grande

capacidade de reflexão que até ao momento nunca tinha experimentado.

Ao longo do ano letivo percebi que a EF é mais do que a aprendizagem

de habilidades motoras e o desenvolvimento de capacidades, o desporto é um

meio muito positivo para o desenvolvimento pessoal das crianças. Assim,

apesar do conhecimento adquirido ao longo deste percurso, é necessário dar

continuidade a esta formação para conseguir dar a melhor resposta a todos os

desafios que possam aparecer no futuro.

Caso me fosse dada a oportunidade de voltar atrás tendo a

oportunidade de repensar decisões e fazer mudanças, eu apenas seria mais

persistente para melhorar as minhas dificuldades e realizar experiências que

me fariam ter uma maior bagagem de conhecimentos.

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72

Quanto ao futuro, sei que não será fácil exercer esta profissão nas

escolas portuguesas, mas continuarei a lutar para ter uma nova experiência

nesta área do ensino da EF, de forma a poder perceber se o que desenvolvi no

estágio me preparou verdadeiramente para a realidade de ser professor.

Também continuarei a procurar o meu espaço no mundo do desporto, onde já

estou integrado na área do futebol.

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7. Bibliografia

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8. Anexos

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8. Anexos

8.1. Anexo 1 - Questionário para o estudo

QUESTIONÁRIO DE PREFERÊNCIA LATERAL (ADAPTADO)

MÃO: Dutch Handedness Questionnaire (Van Strien, 2003); PÉ: Lateral Preference Inventory

(Coren, 1993)

Nome ____________________________________Data Nascimento ___/___/___Ano/Turma _____

ATENÇÃO! A OPÇÃO “Qualquer delas” APENAS DEVE SER SELECIONADA QUANDO

NÃO EXISTIR MESMO UMA PREFERÊNCIA DECLARADA POR QUALQUER DAS

MÃOS.

MÃO Esquerda Direita Qualquer

delas

1– Qual das mãos prefere para pegar no lápis quando desenha?

2– Qual das mãos prefere para desenroscar a tampa de uma garrafa?

3– Qual das mãos prefere para lançar uma bola?

4– Qual das mãos prefere para abrir a tampa de uma caixa?

ATENÇÃO! A OPÇÃO “Qualquer deles” APENAS DEVE SER SELECIONADA QUANDO NÃO

EXISTIR MESMO UMA PREFERÊNCIA DECLARADA POR QUALQUER DOS PÉS.

PÉ Esquerdo Direito Qualquer

deles

1– Qual dos pés usa para saltar ao pé-coxinho?

2– Qual dos pés usa para fazer um desenho com o pé no chão?

3– Qual dos pés usa para subir para um degrau?

Que mão usa para escrever? Direita Esquerda Qualquer delas

Foi forçado(a) a usar a mão direita para escrever? Sim Não

Praticas desporto federado atualmente? Sim Não

Se sim, qual? _________________________ Se não, mas já praticou. Qual?_______________________

Em que clube? ________________________________________________________________________

Quantas vezes por semana praticas? _______________________________________________________

Quantos anos de prática?________________________________________________________________

Obrigado!

Marcos Vidal