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7/30/2019 AP 470 -- Voto Do Ministro Ricardo Lewandowski Sobre Perda de Mandato Dos Parlamentares
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Supremo Tribunal Federal
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AP 470- MINAS GERAIS
VOTO SOBRE PERDA DO MANDATO PARLAMENTAR
Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (Revisor:
A perda definitiva ou a suspenso temporria -
dos direitos polticos s se mostra vivel, em nosso
ordenamento legal, nas hipteses taxativamente arroladas no
art. 15 da Constituio da Repblica. Quer dizer, apenas em
situaes excepcionais, descritas pelo legislador
constituinte em numerus clausus, que a Lei Maior admite
que um cidado seja privado, de forma permanente ou
transitria, de um de seus mais importantes direitos
fundamentais, qual seja, o direito de votar e ser eleito
para um cargo pblico.
O mandato poltico, que resulta da vontade popular,
expressa pelo voto direto, secreto universal e peridico,
confere ao seu titular um plexo de prerrogativas
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constitucionalmente asseguradas, dentro do respectivo prazo
de durao.
A perda do mandato configura, pois, uma sano
excepcional, que se encontra regrada, adicionalmente pelo
art. 55, I, II e VI, da Lei Maior, ao passo que a sua
extino, acha-se disciplinada nos incs. III, IV e V do
mesmo dispositivo.
Na presente AP 470, porm, como se ver adiante, de
modo mais detalhado, a hiptese de aplicao do disposto
nos incs. IV e VI do art. 55, de acordo com os quais ficar
sem mandato o deputado que perder ou tiver suspensos os
direitos polticos ou que sofrer condenao criminal em
sentena transitada em julgado.
Antes de ingressar no tema propriamente dito, ressalto
que o disposto no j mencionado inc. III do art. 15 da
vigente Carta Magna, o qual prev a suspenso dos direitos
polticos, no caso de condenao criminal transitada em
julgado, enquanto durarem seus efeitos, no configura
novidade no constitucionalismo brasileiro.
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De fato, tal consequncia foi prevista originalmente
no art. 8o da Constituio de 1824, que, no entanto,
impunha essa sano adicional somente aos rus condenados
s penas de priso ou de degredo. As Constituies
posteriores no fizeram qualquer distino entre os
diversos tipos de pena que poderiam gerar tal efeito,
bastando que se impusesse a algum uma condenao criminal,
qualquer que fosse a sua natureza, para acarretar a
suspenso dos direitos polticos. Todas elas, porm, sem
exceo, exigiam o trnsito em julgado da sentena
condenatria, tal como o faz o texto constitucional em
vigor.
No h, por outro lado, qualquer dvida a respeito da
auto-aplicabilidade desse dispositivo constitucional, seja
na doutrina, seja na jurisprudncia, existindo diversos
precedentes em tal sentido nesta Suprema Corte. Exemplos:
RE 179.502; RE 418.876; e Ag. Reg. em RE 22.470.
Como regra geral, a suspenso dos direitos polticos,
inclusive no caso de condenao criminal transitada em
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julgado, traz como consequncia aperda do mandato eletivo.
Em outras palavras, esse efeito acessrio da condenao
leva cessao do exerccio do mandato do poltico que
dela foi alvo.
Tal corolrio, a princpio, aplica-se a todos aqueles
que exercem mandatos eletivos, abrangendo tambm os
parlamentares federais, quando decretada a suspenso de
seus direitos polticos.
Com relao aos senadores e deputados, contudo, a
Constituio contempla uma exceo regra geral, no art.
55, 2, no tocante perda imediata do mandato na
hiptese de condenao criminal transitada em julgado.
Nessa situao diferenciada, a perda do mandato no
ser automtica, embora seja vedado, desde logo, aos
parlamentares atingidos pela condenao criminal, enquanto
durarem os seus efeitos, disputar novas eleies, porquanto
perderam a condio de elegibilidade. Veja-se, a propsito,
o Resp 13.324 do Tribunal Superior Eleitoral.
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Essa ressalva no contempla apenas os parlamentares
federais, estendendo-se igualmente aos deputados estaduais
e distritais, conforme explicitarei a seguir. A regra da
cassao imediata dos mandatos, no entanto, aplica-se, por
inteiro e de imediato, aos vereadores, bem como aos
prefeitos, governadores e ao prprio Presidente da
Repblica, por fora do que se contm no referido art. 15,
III, da Constituio. Nessa linha cito RE 179.502 e RE
225.019, ambos do Pleno desta Corte.
Vale lembrar, contudo, por oportuno, que a perda do
mandato do Presidente da Repblica regula-se por um
procedimento complexo, regido pelo disposto nos arts. 85 e
86 de nossa Lei Maior. Ou seja, depende da observncia de
um rito especial, caracterizado por um maior cuidado, por
tratar-se do afastamento do Chefe de Estado e de Governo do
Pas.
A exceo em que se enquadram os senadores e
deputados, como afirmei acima, abrange tambm os deputados
estaduais e distritais, por fora do que se contm nos
arts. 27, 1, e 32, 3, da CF, segundo os quais se
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aplicam queles as mesmas garantias asseguradas aos
parlamentares federais.
Em outras palavras, a perda do mandato dos
parlamentares federais, estaduais e distritais, no caso de
condenao criminal transitada em julgado, ser decidida
pela Casa Legislativa a que pertencem, pelo voto secreto e
maioria absoluta, mediante provocao de partido poltico
nela representada ou da respectiva Mesa, nos exatos termos
do que dispe o art. 55, 2, da Lei Maior.
Observo, na sequncia, que no h falar, na
espcie, de incidncia do art. 43, V, do Cdigo Penal, que
autoriza a interdio temporria de direitos, na qual se
enquadraria a suspenso de direitos polticos. que, nos
termos do art. 44 do mesmo Codex, as penas restritivas de
direito so autnomas e substituem as penas privativas de
liberdade, quando a pena privativa de liberdade no for
superior a quatro anos, o que no o caso dos rus desta
AP detentores de mandato parlamentar.
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Depois, assinalo que a hiptese de perda do mandato
eletivo, decorrente de condenao criminal transitada em
julgado, tambm encontra respaldo na legislao
infraconstitucional, ou seja, no art. 92, I, a e b, do
Estatuto Repressivo, o qual, no entanto, por bvio, deve
ser interpretado em harmonia com o que dispe a Carta
Magna, e no o contrrio.
Gomes Canotilho, nesse sentido, chama a ateno para o
verdadeiro contrassenso lgico e jurdico de interpretar-se
a Constituio segundo a lei ordinria, porquanto se
incorreria em evidente inconstitucionalidade1,
reverberando, nesse aspecto, a advertncia de juristas
alemes que repudiam essa exegese, que subverte a
hierarquia normativa, qual denominam de gesetzeskonformen
Verfassungsinterpretation.
Com efeito, a jurisprudncia consolidada, bem assim a
melhor doutrina sobre o assunto sinaliza que a perda do
mandato nos casos de condenao criminal transitada em
1 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 5a. Coimbra: Almedina1991, p. 242.
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julgado, em se tratando de deputados e senadores, regrada
pelo art. 55, 2, da Lei Maior, no automtica.
Isso porque tal hiptese no se confunde com a perda
de mandato acarretada, por exemplo, em virtude de faltas
injustificadas s sesses parlamentares ou por fora de
deciso da Justia Eleitoral, quer dizer, aquelas situaes
previstas no art. 55, III, IV e V, da Constituio em que a
cessao do mandato ser declarada pela Mesa da Casa
respectiva, de ofcio ou mediante provocao de qualquer de
seus membros, ou de partido poltico representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa, nos termos do
que estabelece 3 do mesmo dispositivo.
So situaes bem distintas, s quais o constituinte
desejou conferir um tratamento diferenciado, apartando com
clareza as consequncias jurdicas que elas ensejam.
Com efeito, absolutamente diversa daquela aqui tratada
a hiptese de perda automtica de mandato por decreto da
Justia Eleitoral, uma vez que ela se encontra
expressamente prevista no inc. V do art. 55 da
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Constituio.
que o constituinte originrio, nesse caso, houve por
bem conferir ao Judicirio o poder de cassar mandatos
daqueles que foram ilegitimamente eleitos, seja porque
deturparam a manifestao da vontade popular, seja porque
fraudaram processo eleitoral.
Nesse sentido, ressalto que o art. 14, 10, da Lei
Maior autoriza a impugnao do mandato eletivo ante a
Justia Eleitoral no prazo de quinze dias contados da
diplomao, instruda a ao com provas de abuso do poder
econmico, corrupo ou fraude.
Por isso, no caso do art. 55, V, da Constituio, a
saber, quando o decretar a Justia Eleitoral, nos casos
previstos nesta Constituio, o 3 do mesmo dispositivo,
como visto, estabelece que a perda ser declarada pela
Mesa da Casa respectiva (grifei). Cuida-se, pois, de um
ato meramente declaratrio do rgo dirigente do
Legislativo.
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Sublinhe-se, todavia, que, quando o mandato resulta do
livre exerccio da soberania popular, ou seja, quando o
parlamentar legitimamente eleito, excluda a existncia
de fraude, e inocorrendo impugnao sua eleio, falece
ao Judicirio, competncia para decretar a perda automtica
de seu mandato, pois ela ser, nos termos do art. 55, VI,
2, da Constituio, decidida pela Cmara dos Deputados ou
pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta,
mediante provocao da respectiva Mesa ou de partido
poltico representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa(grifei).
V-se, pois, que o Texto Magno claro ao outorgar,
nesse caso, Cmara dos Deputados e ao Senado Federal, a
competncia de decidir e no meramente declarar a perda de
mandato de parlamentares das respectivas Casas.
Auro Augusto Caliman, estudando a questo, em obra
especializada, assevera o seguinte:
Da anlise das normas, conclui-se como especial
a hiptese prevista no inciso VI do artigo 55, da sua
superior imperatividade em relao norma geral de
perda dos direitos polticos prevista no inciso IV
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deste mesmo artigo, combinado com o artigo 15, inciso
III. Consequentemente, a deciso da perda do mandato
parlamentar ser constitutiva quando ocorrer
condenao por infrao criminal; e declaratria para
as demais hipteses de perda de direitos polticos.
A perda do mandato, no s dos parlamentares
federais, como tambm dos estaduais e distritais, em
decorrncia de condenao por infrao criminal, no
ser automtica, mediante ato declaratrio da Mesa da
respectiva Casa Legislativa. Poder ocorrer, sim, mas
somente aps soberana deciso do plenrio, na votao
do projeto de resoluo que preveja a perda em razo
de condenao criminal. Trata-se de deciso poltica,
no vinculada a nada. Se, em escrutnio secreto,
maioria absoluta dos parlamentares da Casa Legislativa
decidir aprovar o projeto de resoluo que concluiu
pela perda de mandato, o mandato estar cassado. Posto
a votos e no atingido o quorumde maioria absoluta
para aprovao do projeto, o parlamentar continuar
investido no mandato e a propositura ser considerada
rejeitada, pois a simples maioria importa
absolvio2 (grifei).
De seu turno, o Ministro recm-empossado desta Casa,
Teori Albino Zavascki, em artigo acadmico publicado no ms
de maro de 1997, expressa o seguinte entendimento acerca
do assunto:
2 CALIMAN, Auro Augusto. Mandato Parlamentar: Aquisio e PerdaAntecipada. So Paulo: Atlas, 2005, p. 153.
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Aos agentes polticos titulares de cargos
eletivos ou no exige-se, portanto, o pleno gozo dos
direitos polticos, no apenas para habilitar-se ou
investir-se no cargo, mas igualmente, para nele
permanecer. Assim, a superveniente perda ou suspenso
dos direitos de cidadania implicar, automaticamente,
a perda do cargo. H, porm, uma exceo: a do
parlamentar que sofrer condenao criminal. O trnsito
em julgado da condenao acarreta, como j se viu, a
suspenso, ipso iure, dos direitos polticos (CF, art.
15, III),mas no extingue, necessariamente, o mandato
eletivo. Ao contrrio das demais hipteses de perda ou
suspenso dos direitos polticos, que geram automticaperda do mandato (art. 55, IV, da CF), perda que ser
declarada pela Mesa da Casa respectiva... (art. 55,
3), em caso de condenao criminal a perda do mandato
(art. 55, VI) ...ser decidida pela Cmara dos
Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e
maioria absoluta... (CF, art. 55, 2). Ou seja: no
havendo cassao do mandato pela Casa a que pertencer
o parlamentar, haver a a hiptese de exerccio do
mandato eletivo por quem no est no gozo dos direitos
de cidadania. Esta estranha exceo poder
representar, quem sabe, um mecanismo de defesa contra
o exacerbado rigor do art. 15, III, do texto
constitucional, mas curioso que assim seja, dado que
a condenao do parlamentar s se tornou vivel ante a
prvia licena dos seus pares para a instaurao da
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ao penal (CF, art. 53, 1).
25. A essa altura cumpre referir o art. 92, I, do
CP, que prev como efeitos da condenao: I a perda
do cargo, funo pblica ou mandato eletivo, nos
crimes praticados com abuso de poder ou violao de
dever para com a Administrao Pblica quando a pena
aplicada for superior a quatro anos; .... luz daConstituio passada entendia-se que no era legtimo
o dispositivo no que se referia ao mandato eletivo, j
que, implicando suspenso de direito poltico, a pena
no poderia ser criada seno em lei complementar, como
exigia o 3, do art. 149, da CF/69. Pois bem, no
regime constitucional vigente, com mais razo a
disposio inaplicvel: o mandato eletivo ou se
extingue automaticamente pela suspenso dos direitos
polticos acarretada pela sentena penal condenatria
transitada em julgado, ou, no caso de mandato
parlamentar, depender de deciso da respectiva Casa
Legislativa, como antes se viu3(grifei).
A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal aponta
para a mesma direo. Seno vejamos.
No Mandado de Segurana 21.443/DF, relatado pelo Min.
Octvio Gallotti, esta Suprema Corte enfrentou o tema da
3
ZAVASCKI, Teori Albino. Direitos Polticos perda, suspenso econtrole jurisdicional. Revista de Processo n 85, do InstitutoBrasileiro de Direito Processual. Jan-Mar de 1997, pp. 188-189.
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cassao do mandato parlamentar, decidindo, unanimemente,
conforme segue:
Cassao de mandato de parlamentar (art. 55, II,
da Constituio Federal). Ato disciplinar da
competncia privativa da Cmara respectiva, situado eminstncia distinta da judiciria e dotado de natureza
diversa da sano penal, mesmo quando a conduta
imputada ao deputado coincida com tipo estabelecido no
Cdigo Penal. Pedido indeferido.
No obstante o caso concreto cuidasse de perda de
mandato por falta de decoro parlamentar, a questo
constitucional subjacente cassao de mandato parlamentar
foi profundamente discutida, sendo de grande relevo
jurdico o pronunciamento do Min. Paulo Brossard feito na
ocasio, in verbis:
10. A Constituio reserva Cmara e ao
Senado a competncia para decretar a perda do mandato
de Deputado ou Senador, cujo procedimento for
declarado incompatvel com o decoro parlamentar. A
deciso h de ser tomada por voto secreto e maioria
absoluta, mediante provocao da respectiva Mesa ou de
partido poltico representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa, art. 55, II, pargrafo 2.
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Observadas as formalidades constitucionalmente
enunciadas, a deciso, da Cmara ou do Senado, poder
ser discutvel, poder ser injusta, poder ser
desacertada, mas ser definitiva e irrecorrvel; ser
insuscetvel de reviso judicial. Porque a
Constituio deu Cmara e s Cmara, ao Senado e
s ao Senado, a competncia para decidir algo que
Cmara e ao Senado diz respeito.
(...)
11. Trata-se de uma competncia exclusiva da
Cmara e s ela, bem ou mal, pode exercitar. Segundo a
Constituio, perder o mandato o Deputado ou
Senador... cujo procedimento for declarado
incompatvel com o decoro parlamentar, art. 55, II;
declarado por quem? Pela Cmara a que pertencer o
parlamentar, Cmara dos Deputados ou Cmara dos
Senadores, observados os requisitos taxativamente
indicados no pargrafo 2 do mesmo artigo: voto
secreto, maioria absoluta, provocao da Mesa ou de
partido poltico com representao no Congresso,
assegurada ampla defesa.
(...)
O fato que, bem ou mal, a Constituio conferiu
Casa, a que pertencer o parlamentar, a competncia,
exclusiva, para decretar a perda de mandato, numa
deciso que constitutiva-negativa, na lio de
PONTES DE MIRANDA, Comentrios, 1970, III, 39. Dessa
deciso, insisto, no cabe recurso. A Cmara
instncia originria e final.(...)
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14. Alis, em princpio, das decises da Cmara,
como do Senado, relativas a atribuies
constitucionais privativas, no cabe recurso ao Poder
Judicirio. Melhor seria dizer, no cabe recurso. Se
as casas do Congresso procederem mal, em assunto de
sua competncia exclusiva, s caber o remoto e
incerto recurso para a opinio pblica e o eleitorado.
Como disse RUI BARBOSA,
em todas as organizaes polticas ou judiciais
h sempre uma autoridade extrema para errar em ltimo
lugar... O Supremo Tribunal Federal, no sendo
infalvel, pode errar, mas a algum deve ficar o
direito de errar por ltimo, de decidir por ltimo, de
dizer alguma cousa que deva ser considerada como erro
ou como verdade. Isto humano, Obras Completas, XLI,
1914, III, p. 259.
O STF tambm erra. E errando em ltimo lugar, s
escassamente haver meio de corrigir o erro, por meio
de rescisria ou reviso criminal.
15. Sem contradio, o parlamentar poder ser
absolvido no juzo criminal e ter seu mandato extinto
por falta de decoro, decretada pela Cmara. Os
pressupostos de uma e outra deciso so diferentes.
Ocorrendo condenao criminal, hiptese prevista no
inciso VI do art. 55, da Constituio, a Cmara
declarar a perda do mandato ou no; a hiptese se no
confunde com a prevista no inciso II do mesmo artigo;neste caso, e independente de sentena, a Cmara
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decretar ou no a perda do mandato; se o fizer, nada
impede que o ex-parlamentar, contra o qual tenha sido
oferecida denncia pelo MP pela prtica de suposto
crime, possa vir a ser absolvido.
Desse modo, o parlamentar pode ser condenado sob
o ponto de vista disciplinar e absolvido no juzo
criminal, e a reciproca verdadeira, tanto assim que,
mesmo havendo condenao criminal, por no ter relao
com o exerccio do mandato, pode no sofrer a perda do
mandato.
16. Em outras palavras, se o parlamentar cometer
um crime a Cmara no o processar nem o condenar por
isso; atribuio do Poder Judicirio faz-lo; mas se
o fato implicar em descompostura parlamentar, em falta
de decoro, a Cmara poder aplicar-lhe a sano
disciplinar da perda do mandato, seguindo-se o
processo criminal na esfera prpria, que poder estar
instaurado ou vir a instalar-se; a responsabilidade
penal no exclui a responsabilidade disciplinar, e
esta no elide aquela(grifei).
Trago colao, ainda, elucidativa passagem do voto
de nosso decano, Min. Celso de Mello, exarado durante o
julgamento do RE 179.502, de relatoria do Min. Moreira
Alves, ocorrido em 31/5/1995, oportunidade em que o tema da
perda do mandato parlamentar por cometimento de infrao
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criminal transitada em julgado foi extensamente debatido.
Confira-se:
Finalmente, a alegada existncia de conflito
antinmicoentre a regra inscrita no art. 15, III, da
Constituio e o preceito consubstanciado no art. 55, 2, da Carta Federal foi corretamente analisada, e
repelida, pelo em. Relator em seu douto voto.
(...)
A concepo sistmica do ordenamento jurdico
impe que se reconhea, desse modo, uma situao de
coexistncia harmoniosa entre as prescries normativa
que integram a estrutura em que ele se acha
formalmente positivado.
A relao de antinomia referida constitui, no
plano do sistema normativo consagrado pelo novo
ordenamento constitucional, situao de
conflituosidade meramente aparente.
A norma inscrita no art. 55, 2, da Carta
Federal, enquanto preceito de direito singular,
encerra uma importante garantia constitucional
destinada a preservar, salvo deliberao em contrrio
da prpria instituio parlamentar, a intangibilidade
do mandato titularizado pelo membro do Congresso
Nacional, impedindo, desse modo, que uma deciso
emanada de outro Poder (o Poder Judicirio) implique,
como consequncia virtual dela emergente, a suspenso
dos direitos polticos e a prpria perda do mandatoparlamentar.
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No se pode perder de perspectiva, na anlise da
norma inscrita no art. 55, 2, da Constituio
Federal, que esse preceito acha-se vocacionado a
dispensar efetiva tutela ao exerccio do mandato
parlamentar, inviabilizando qualquer ensaio de
ingerncia de outro Poder na esfera de atuao
institucional do Legislativo.Trata-se de prerrogativa que, instituda em favor
dos membros do Congresso Nacional, veio a ser
consagrada pela prpria Lei Fundamental da Repblica.
O legislador constituinte, ao dispensar esse
especial e diferenciado tratamento ao parlamentar da
Unio, certamente teve em considerao a necessidade
de atender ao postulado da separao de poderes e de
fazer respeitar a independncia poltico-jurdica dos
membros do Congresso Nacional.
Essa , portanto, a ratiosubjacente ao preceito
consubstanciado no art. 55, 2, da Carta Poltica,
que subtrai, por efeito de sua prpria autoridade
normativa, a nota de imediatidade que, tratando-se de
cidados comuns, deriva, exclusivamente, da condenao
penal transitada em julgado.
Esse sentido da norma constitucional em questo
tem sido acentuado, sem maiores disceptaes, pela
doutrina, cujo magistrio proclama que, nessa
particular e especfica situao(CF, art. 55, VI), a
privao dos direitos polticos somente gerar aperda
do mandato legislativo, se a instituio parlamentar,
em deliberao revestida de natureza constitutiva,assim o decidir em votao secreta e sempre por
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maioria absoluta (...).
Em decises posteriores esta Suprema Corte trilhou o
mesmo entendimento. Cito, nesse sentido, dois substanciosos
acrdos sobre tal questo, o RE 225.019/GO, Rel. Min.
Nelson Jobim, e o RE 418.876/MT, Rel. Min. Seplveda
Pertence.
O primeiro julgado tratou da auto-aplicabilidade do
art. 15, III, da Constituio, tendo como recorrente um
Prefeito de uma cidade goiana. O Min. Nelson Jobim, com a
sua habitual objetividade, explicitou bem as
caractersticas da hiptese prevista no art. 55, 2, da
Carta Magna, nestes termos:
A perda do mandato, por condenao criminal, no
automtica: depende de um juzo poltico do plenrioda casa parlamentar (art. 55, 2).
A Constituio outorga ao Parlamento a
possibilidade da emisso de um juzo poltico de
convenincia sobre a perda do mandato.
Desta forma, a rigor, a condenao criminal,
transitada em julgado, no causar a suspenso dos
direitos polticos, tudo porque a perda do mandato
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depende de uma deciso da Casa Parlamentar respectiva
e no da condenao criminal (grifei).
No segundo precedente, que tambm tratava da perda do
mandato eletivo de Prefeito, constou da ementa o seguinte:
Da suspenso de direitos polticos efeito da
condenao criminal transitada em julgado ressalvada
a hiptese excepcional do art. 55, 2, da
Constituio resulta por si mesma a perda do mandato
eletivo ou do cargo do agente poltico (grifei).
Outro julgamento que convm ressaltar o da AP 481,
por ter tido a participao da maioria dos atuais membros
deste Tribunal. poca, pronunciei-me nos termos abaixo:
Acho que estamos diante de dois institutos que
so regrados distintamente: um, a suspenso prevista
no artigo 15, inciso III. Esta opera, a meu ver,
automaticamente e uma consequncia da condenao
criminal; outro, a perda. A perda outro instituto.
(...)
A perda algo to grave, que s pode ser
decretada pelo prprio Congresso Nacional.
Nos casos de suspenso, que equivalem queles
impedimentos em que o senador ou deputado substitudo por seu suplente, no h necessidade de
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uma decretao de um juzo de valor por parte do
Congresso Nacional.
Tambm merece destaque o voto do Ministro Cezar
Peluso, ento Presidente do STF, que observou o seguinte:
(...) a mera condenao criminal em si no
implica, ainda durante a pendncia dos seus efeitos,
perda automtica do mandato. Por que no implica?
Porque se implicasse, o disposto no artigo 55, VI, c/c
2, seria norma incua ou destituda de qualquer
senso; no restaria matria sobre a qual o Congresso
pudesse decidir. Se fosse sempre consequnciaautomtica de condenao criminal, em entendimento
diverso do artigo 15, III, o Congresso no teria nada
por deliberar, e essa norma perderia qualquer
sentido.
A situao ora enfrentada no difere substancialmente,
em suas balizas ftico-jurdicas, daquelas que acabei de
mencionar, merecendo, portanto, idntico tratamento por
parte desta Suprema Corte.
No existem dvidas, a meu ver, de que a decretao de
perda de mandato eletivo de parlamentar que se distancie
das hipteses regradas pelo texto constitucional implicar
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uma grave violao ao princpio da soberania popular e,
ademais, um srio agravo ao consagrado mecanismo de freios
e contrapesos estabelecido no art. 2, de nossa Lei Maior,
que prev a convivncia independente, porm harmnica,
entre os Poderes do Estado.
Recordo, alis, como reminiscncia histrica, que
a repulsa mais intensa a qualquer impedimento tendente a
tolher o pleno exerccio do mandato parlamentar nos vem da
Revoluo Francesa de 1789, que, como sabemos, teve a
primazia de substituir o absolutismo real pelo primado da
soberania popular, vivificado por meio da manifestao de
delegados eleitos pelos cidados.
Nesse contexto, os revolucionrios franceses
aboliram as mais que centenrias, mas nem por isso menos
temveis, lettres de cachet, grosso modo traduzidas por
cartas seladas, em verdade, mandados de priso secretos,
assinados pelos monarcas, em conjunto com algum ministro,
cerradas com o selo real, expedidas contra determinado
sdito, sem direito a julgamento ou apelao, no raro em
detrimento de representantes do povo, de maneira a impedi-
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los de exercer livremente a atividade poltica, em
particular de reunir-se com seus pares.
Na Frana ps-revolucionria, para que fosse, de
pronto, assegurado o livre funcionamento da Assembleia
Nacional, editou-se um decreto, datado de 20 de junho de
1789, por meio do qual se considerava traidor da nao e
sujeito pena capital qualquer pessoa, plebeu ou
aristocrata, juiz ou integrante de tribunal, que
interferisse na liberdade de ir e vir ou de manifestao de
deputado representante do Tiers tat.
Dito isso, relembro, por oportuno, que questo ora
examinada nesta Suprema Corte foi extensamente discutida em
nossa ltima Assembleia Nacional Constituinte, conforme se
extrai da Ata da 224 Sesso, realizada em 14/3/1988.
Naquela oportunidade, o seu Presidente, Deputado
Ulysses Guimares, encaminhou requerimento de destaque para
emenda proposta pelo constituinte Antero de Barros,
modificativa dos 2 e 3 do art. 68 do projeto, que
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correspondem aos mesmos pargrafos do atual art. 55 da
Constituio.
Leio esse registro, legado para a posteridade.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimares): a
seguinte a matria destacada:
EMENDA N 1.895 MODIFICATIVA
(Do Sr. Antero de Barros)
D-se aos 2 e 3 do art. 68 a seguinte
redao:
Art.68...................................
2 Nos casos dos incisos I, II e VI deste
artigo, a perda do mandato ser decidida pela Cmara
dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto
e maioria absoluta, mediante provocao da respectivaMesa ou de partido poltico representado no Congresso
Nacional.
3 Nos casos previstos nos incisos III a V, a
perda ser declarada pela Mesa da Casa respectiva, de
ofcio ou mediante provocao de qualquer de seus
membros, ou de partido poltico representado no
Congresso Nacional, assegurada plena defesa.
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O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimares): O texto
proposto de autoria do nobre Constituinte Antero de
Barros, com destaque do Constituinte Fernando Lyra,
que querem o preceituado no inciso VI, que se refere a
perda de mandato de Deputado e Senador.
Diz o texto do Inciso VI:
Ser cassado o mandato do Deputado ou Senador
que sofrer condenao criminal, em sentena definitiva
ou irrecorrvel, pelo Supremo Tribunal Federal.
O texto do Centro estabelece que, na hiptese
como est escrito no 3 quando houver condenao
irrecorrvel, a Mesa da Cmara dos Deputados, ou do
Senado Federal, reconhece, homologa e ratifica essa
situao da sentena que transitou em julgado
sentena irrecorrvel do Supremo Tribunal Federal.
Querem os nobres autores que, havendo a sentena
do Supremo Tribunal Federal, ainda seja suscetvel de
deciso por parte do Plenrio, da Cmara dos Deputados
ou do Senado Federal. Ou se mantm o texto, pelo qual
a Mesa, de forma homologatria reconhece a deciso j
tomada pelo Supremo Tribunal Federal, ou permanece a
deciso pela Cmara ou Senado.
H que se recordar tambm e todos sabem disso
que, pela sistemtica adotada na hiptese, no
elastrio estabelecido, o processo contra Deputado e
Senador depende de autorizao da Cmara ou do Senado.
Somente com autorizao da Cmara e do Senado o
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processo poder ir a julgamento no Supremo Tribunal
Federal.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimares): Concedo a
palavra ao nobre Constituinte Nelson Jobim, para
encaminhar a votao.
O SR. NELSON JOBIM (PMDB RS. Sem reviso do
orador.): Sr. Presidente Srs. Constituintes, o texto
do projeto, no seu art. 66, enumera as hipteses de
perda de mandato de Deputado ou Senador, como segue
infringncia das hipteses do artigo anterior, ou
seja, daquelas que aprovamos, de autoria do Deputado
Egdio Ferreira Lima; procedimento considerado
incompatvel com o decoro parlamentar; o no-
comparecimento s sesses; perda ou suspenso de
direitos polticos; decretao da Justia Eleitoral;
condenao e sentena criminal, irrecorrvel e
definitiva, ou condenao em ao popular.
Portanto, so seis as hipteses de perda de
mandato nos 1 e 2 do artigo se esclarece como
ocorre a perda de mandato. Estabelecem esses
pargrafos que, naquelas hipteses de infringncia das
regras do artigo anterior, a perda do mandato ser
decidida pelo Plenrio da Casa Cmara ou Senado
como tambm, na hiptese de procedimento incompatvel
com decoro parlamentar, a decretao da perda de
mandato ser da competncia do Plenrio de cada uma
das Casas. J as hipteses de no-comparecimento ssesses, perda ou suspenso de direitos polticos,
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decretao da Justia Eleitoral e condenao criminal
em ao criminal ou em ao popular, seriam da
competncia da Mesa de cada uma das Casas, com efeito
meramente declaratrio.
Prope a emenda do eminente Constituinte Antero
de Barros, destacada pelo nobre Constituinte Fernando
Lyra, que, na hiptese de condenao em ao criminalou em ao popular, o ato seja da competncia do
Plenrio e no da Mesa da respectiva Casa. Por qu?
Porque o ato da Mesa meramente declaratrio da
sentena judicial que implique perda de mandato. Neste
caso, teramos a seguinte hiptese absurda; um
Deputado ou um Senador que viesse a ser condenado por
acidente de trnsito teria imediatamente, como
consequncia da condenao, a perda do seu mandato,
porque a perda do mandato pena acessria
condenao criminal.
Portanto, o ato da Mesa seria meramente
declaratrio.
Visa a emenda a repor este equvoco e fazer com
que a competncia para a perda do mandato, na hiptese
de condenao em ao criminal ou em ao popular,
seja do Plenrio da Cmara ou do Senado, e no de
competncia da Mesa.
Deste modo, tratar-se-ia de deciso poltica a
ser tomada pelo Plenrio de cada uma das Casas, na
hiptese de condenao judicial de um Parlamentar, e
no teramos uma imediata entre a condenao e a perda
do mandato, em face da competncia que est contida noprojeto.
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Portanto, fao um apelo aos Srs. Constituintes
para que corrijam este equivoco, a fim de que, nas
hipteses de condenao em ao criminal ou em ao
popular, a perda do mandato seja uma deciso soberana
do Plenrio da Cmara ou do Plenrio do Senado.
Este o sentido do encaminhamento, Sr. Relator.
Espero que abrace em seu parecer esta emenda.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimares): Concedo a
palavra ao nobre Relator Bernardo Cabral.
O SR. BERNARDO CABRAL (Relator) (PMDB AM. Sem
reviso do orador.): Sr. Presidente, Srs.
Constituintes, j por ocasio da publicao do
parecer, em janeiro, a Relatrio foi favorvel
emenda do eminente Constituinte Antero de Barros.
Salientava que a matria deve ser posta deliberao
plenria, no se sujeitando automtica declarao
dos membros da Mesa, embora compreensvel quanto a
este e outros fatos.
Sr. Presidente, entendemos que o Plenrio deve de
manifestar. O Plenrio que deve julgar se um crime
culposo, por acidente de trnsito, por atropelamento,
implica perda de mandato parlamentar. Opino pela
aprovao, Sr. Presidente (grifei).
A proposta foi aprovada por 407 votos favorveis,
dezesseis contrrios e seis abstenes.
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Visto isso, permito-me, ainda, fazer algumas
consideraes no tocante eventual incidncia da Lei
Complementar 135/2010, denominada Lei da Ficha Limpa, com
efeitos retroativos, quanto aos rus desta AP 470, os
quais, como se sabe, conquistaram os respectivos mandatos
nas Eleies Gerais de 2010.
Em primeiro lugar, rememoro aos eminentes pares que
este Plenrio, na Sesso de 23/11/2011, por apertada
maioria, ou seja, por seis votos a cinco, e contra o meu
entendimento, rejeitou a aplicao da Lei da Ficha Limpa
para as Eleies de 2010, invocando o princpio da
anterioridade da lei eleitoral, abrigado no art. 16 da
Constituio.
Na oportunidade, prevaleceu o voto do Relator, Min.
Gilmar Mendes, que deu provimento ao Recurso Extraordinrio
633.703, interposto por Leondio Correa Bouas, candidato a
deputado estadual pelo PMDB, em Minas Gerais, considerado
inelegvel com fundamento na LC 135/2010.
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Pois bem. Por conta daquele julgado do Pleno do STF,
caram por terra todas as decises prolatadas pelo Tribunal
Superior Eleitoral - que tive a honra de conduzir nas
Eleies Gerais de 2010 - as quais conferiam imediata
aplicabilidade Lei da Ficha Limpa, atingindo, inclusive,
os candidatos eleitos naquele pleito.
A deciso desta Suprema Corte, da qual discordei
respeitosa e fundamentadamente, permitiu, por exemplo, a
posse dos Senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Cssio Cunha
Lima (PSDB-PB), bem como a de inmeros outros candidatos
ento vetados pela Justia Eleitoral.
Recordo que, depois, no julgamento da questo de
fundo, esta Suprema Corte, embora tenha afastado a
aplicao da Lei da Ficha Limpa ao pleito de 2010, sufragou
a tese defendida pelo TSE, no sentido da plena
constitucionalidade do referido diploma legal, nas Aes
Declaratrias de Constitucionalidade 29 e 30 e na Ao
Direta de Inconstitucionalidade 4.578, todas julgadas na
Sesso de 16/2/2012.
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Assim, entendo que os rus desta Ao Penal, eleitos
no pleito de 2010, no podem, em consequncia de eventual
inelegibilidade decorrente da Lei Complementar 135/2010,
perder, de forma automtica, os respectivos mandatos,
revelia das regras constitucionais que lhe so aplicveis.
Em suma, penso que a condenao criminal dos deputados
na Ao Penal 470, depois de transitada em julgado,
configura apenas uma condio necessria, mas no
suficiente para a perda dos respectivos mandatos, a qual
depende da instaurao do competente processo pela Cmara,
que no pode deixar de faz-lo, se devidamente provocada
nos termos do art. 55, 2, da Constituio.
Outra questo a ser considerada a impossibilidade
fsica de o condenado exercer o mandato parlamentar caso
lhe seja imposto o regime fechado ou o semiaberto para o
cumprimento da pena corporal. Nessas hipteses, no ter
ele, a meu ver, como furtar-se ao cumprimento da sano que
a Justia lhe imps, ainda que possa, em tese, licenciar-se
da Cmara, se esta ainda no tiver cassado o seu mandato.
Caso o regime estabelecido seja o aberto, nada impede que
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os rus como qualquer reeducando na mesma situao
exeram alguma atividade laboral fora do estabelecimento
carcerrio em que cumpre a pena, durante o dia, retornando
a ele para o repouso noturno.
Por todas essas razes, concluo o meu voto assentando
que ao Supremo Tribunal Federal, na hiptese vertente,
compete to somente comunicar, Casa Legislativa a que
pertence o parlamentar condenado criminalmente, que ocorreu
o trnsito em julgado da deciso, para que esta proceda
conforme os ditames constitucionais.
Qualquer providncia alm dessa, a meu ver, teria o
potencial de desencadear um indesejvel conflito
institucional, contrastando com a salutar postura de self
restraint, ou seja, de autoconteno, que a Suprema Corte
dos Estados Unidos da Amrica, paradigma que inspirou a
criao do STF, prudentemente, adota em situaes
assemelhadas, desde o seu advento no sculo XVIII.