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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE i ‘p’66 v º+ Farmácia Ana ilva Carolina da Costa Sousa Pereira Farmácia Ana Silva Carolina da Costa Sousa Pereira 2018-2019

‘p’66 v º+ · 2019-12-12 · iii Declaração de Integridade Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro curso ou unidade curricular,

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

i

‘p’66 v

º+

Farmácia Ana ilva

Carolina da Costa Sousa Pereira

Farmácia Ana Silva

Carolina da Costa Sousa Pereira

2018-2019

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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Ana Silva

Maio a Novembro 2019

Carolina da Costa Sousa Pereira

Orientador: Dr.ª Ana Paula Cruz e Silva

Tutor FFUP: Prof. Doutora Manuela Morato

Dezembro 2019

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Declaração de Integridade

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente

noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a

outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as

regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas

referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho

consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 4 de dezembro de 2019

Carolina da Costa Sousa Pereira

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer à equipa de professores, da Faculdade de Farmácia da

Universidade do Porto, que ao longo da minha formação me transmitiram os conhecimentos

e competências para que pudesse tornar-me numa profissional de saúde de excelência.

O meu ENORME AGRADECIMENTO à Dra. Ana Paula Silva, proprietária e diretora técnica

da Farmácia Ana Silva, e ao Dr. Marcelo Cardoso, proprietário e diretor técnico da Farmácia

Moreira, pela possibilidade da realização deste estágio, bem como todo o apoio, simpatia,

compreensão e confiança.

Agradecer ao Dr. Paulo Arriscado e toda a equipa da Farmácia Abelheira.

Agradecer à minha Sophia, companheira de viagem e de estudo, a sua amizade, paciência,

força e inspiração, durante estes 7 anos, e principalmente hoje: uma verdadeira guerreira.

Agradecer às minhas amigas Ana Cristina e Cristiana, que mesmo à distância nunca deixaram

de me apoiar.

À Rita, minha referência profissional, o seu incondicional apoio desde o primeiro dia e toda a

sua amizade.

Às minhas primas Anita, Fátima, Céu e Laura, pelo carinho e apoio.

À minha estrela no céu, Catarina.

A ti meu amor, Patrick.

Por fim, agradecer aos meus pilares, os meus PAIS e aos meus IRMÃOS o apoio

incondicional, a força e o carinho para que pudesse concretizar o meu sonho!

Bem-haja!

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RESUMO

A imagem do farmacêutico é a de um profissional com um papel ativo na sociedade, próximo

do utente. É o agente determinante no uso racional dos medicamentos, na divulgação de

medidas preventivas, na promoção do bem-estar das populações em áreas muito diversas.

O estágio tem por objetivo garantir uma formação adequada ao exercício farmacêutico, de

modo a que este venha a ser desempenhado de forma competente e responsável. A fase de

formação desenvolvida na farmácia comunitária destina-se a garantir a iniciação nos aspetos

práticos da profissão e uma aprendizagem das competências técnicas e exigências

deontológicas da profissão; assegurar que os estagiários ao transitarem para a vida

profissional estejam aptos à prática do exercício farmacêutico. Esta fase de formação visa um

desenvolvimento e aprofundamento da vivência da profissão, promovendo o contacto com as

instituições relacionadas com a classe farmacêutica, outros profissionais de saúde e os

utentes.

“O farmacêutico é um agente de saúde, cumprindo-lhe executar todas as tarefas que ao

medicamento concernem, todas as que respeitam às análises clínicas ou análises de outra

natureza de idêntico modo suscetíveis de contribuir para a salvaguarda da saúde pública e

todas as ações de educação dirigidas à comunidade no âmbito da promoção da saúde.”

In Código Deontológico da Atividade Farmacêutica (Art 80º)

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ÍNDICE

Agradecimentos .................................................................................................................... iv

Resumo .................................................................................................................................. v

Abreviaturas ........................................................................................................................ viii

Índice de Figuras ................................................................................................................... ix

Índice de tabelas ................................................................................................................... ix

Parte 1 - Descrição das atividades desenvolvidas na Farmácia Ana Silva ............................ 1

1. Organização do espaço físico e funcional ................................................................... 1

1.1. Localização da Farmácia Ana Silva ..................................................................... 1

1.2. Horário de funcionamento .................................................................................... 1

1.3. Composição e função dos recursos humanos ..................................................... 1

1.4. Espaço físico exterior .......................................................................................... 2

1.5. Espaço físico interior ........................................................................................... 2

1.5.1. Sala de atendimento ao público .................................................................... 2

1.5.2. Sala de atendimento personalizado .............................................................. 3

1.5.3. Área de receção e conferência de encomendas ........................................... 3

1.5.4. Armazém ...................................................................................................... 3

1.5.5. Laboratório ................................................................................................... 4

1.5.6. Gabinete DT ................................................................................................. 4

1.5.7. Sistema informático ...................................................................................... 4

2. Aprovisionamento e gestão de stocks ......................................................................... 4

2.1. Gestão de stocks ................................................................................................. 5

Fornecedores ...................................................................................................... 5

2.3. Execução de encomendas ................................................................................... 6

2.4. Receção de encomendas e marcação de preços ................................................ 6

2.5. Armazenamento de medicamentos ..................................................................... 7

2.6. Controlo dos prazos de validade .......................................................................... 8

2.7. Reclamações, devolução de produtos e regularização de notas de devolução .... 9

3. Dispensa de medicamentos ........................................................................................ 9

3.1. Medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) ..............................................10

Modalidades de prescrição médica .....................................................................10

3.3. Dispensa MSRM .................................................................................................12

3.4. Dispensa de psicotrópicos e/ ou estupefacientes................................................12

3.5. Medicamentos genéricos, sistema de preços de referência ................................13

3.6. Sistemas de comparticipação e regimes de complementaridade ........................14

3.7. Conferência do receituário e faturação ...............................................................14

3.8. Dispensa de medicamentos não sujeitos a receita médica obrigatória e outros produtos de saúde .........................................................................................................16

4. Papel do farmacêutico nas situações de automedicação ...........................................17

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5. Medicamentos manipulados ......................................................................................18

6. Aconselhamento e dispensa de outros produtos........................................................19

6.1. Medicamentos veterinários .................................................................................19

6.2. Produtos de Dermofarmácia, Cosmética e Higiene Corporal e Oral....................20

6.3. Artigos de Puericultura........................................................................................20

6.4. Artigos de ortopedia, dispositivos médicos e outros acessórios ..........................21

7. Outros cuidados de saúde prestados na FAS ............................................................21

7.1. Serviços farmacêuticos .......................................................................................21

7.1.1. Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos .............................22

7.1.2. Serviços não farmacêuticos .........................................................................22

7.2. VALORMED .......................................................................................................22

7.3. Recolha de radiografias ......................................................................................22

Parte 2: Descrição das atividades desenvolvidas na Farmácia Ana Silva ............................23

1. VALORMED ..............................................................................................................23

1.1. Contextualização ................................................................................................23

1.2. VALORMED o que é e como atua ......................................................................24

1.3. Descrição do projeto e objetivos .........................................................................24

1.4. Resultados..........................................................................................................25

1.5. Discussão dos resultados e conclusões .............................................................27

2. Introdução da canábis no mercado dos medicamentos e suplementos alimentares em Portugal. ...........................................................................................................................30

2.1. Contextualização ................................................................................................30

2.2. Cânhamo indiano (Cannabis sativa) ...................................................................30

2.3. Canabinóides ......................................................................................................31

2.4. Mecanismo de ação dos canabinóides ...............................................................32

2.5. Uso medicinal da canábis ...................................................................................33

2.5.1. Medicamentos à base de canábis ................................................................33

2.5.2. Introdução no mercado Português de medicamentos à base de canábis ....35

2.5.3. Suplementos alimentares, produtos de saúde e dermocosmética com canábis na sua composição .......................................................................................37

Considerações finais ............................................................................................................40

Referências bibliográficas ....................................................................................................41

Anexos .................................................................................................................................46

Anexo 1: Contentores VALORMED. ..............................................................................46

Anexo 2: Diversidade farmacoterapêutica dos medicamentos fora de uso. ...................46

Anexo 3: Diversidade comercial de MNSRM à base de Cannabis sativa, atualmente comercializados em farmácia comunitária. ....................................................................47

Anexo 4: Power-point apresentado na formação realizada na FAS sobre a introdução da canábis na farmácia comunitária. ..................................................................................50

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ABREVIATURAS

ACSS Administração Central do Sistema de Saúde, IP

AIM Autorização de introdução no mercado

ANF Associação Nacional de Farmácia

BCP β-cariofileno

BDNP Base de Dados Nacional de Prescrições

CBN Canabinol

CBD Canabidiol

DCI Designação Comum Internacional

DGAV Direção-Geral de Alimentação e Veterinária

DT Diretor-técnico

FAS Farmácia Ana Silva

FSA Faça segundo a arte

INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I. P.

IVA Imposto de Valor Acrescentado

MG Medicamentos genéricos

MM Medicamento manipulados

MSRM Medicamentos sujeitos a receita médica

MSRM-EF Medicamentos sujeitos a receita médica de dispensa exclusiva em

farmácia

MNSRM Medicamentos não sujeitos a receita médica

MNSRM-EF Medicamentos não sujeitos a receita médica de dispensa exclusiva em

farmácia

PIM Preparação Individualizada da Medicação

PR Preço de referência

PVA Preço de venda ao armazenista

PVF Preço de venda à farmácia

PVP Preço de venda ao público

RSP Receita eletrónica sem papel

SIGREM Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e

Medicamentos

SNS Sistema Nacional de Saúde

SPR Sistema de Preços de Referência

SPMS Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E.

VALORMED Sociedade Gestora de Resíduos de Embalagens e Medicamentos

Δ9-THC Δ-9-tetra-hidrocanabinol

Δ8-THC Δ-8-tetra-hidrocanabinol

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Comparação gráfica das variáveis em estudo. ......................................................26

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Número de embalagens depositadas no contentor VALORMED. ........................25

Tabela 2: Valor PVP das embalagens depositadas no contentor VALORMED. ....................26

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 1

PARTE 1 - DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA

FARMÁCIA ANA SILVA

1. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E FUNCIONAL

1.1. LOCALIZAÇÃO DA FARMÁCIA ANA SILVA

A Farmácia Ana Silva (FAS) localiza-se no número 201, face à Estrada Nacional 13,

no Lugar de Sanfins, em Belinho, freguesia pertencente ao concelho de Esposende. A

proximidade à estrada nacional, serviços e transportes públicos e a fácil acessibilidade tanto

para peões como veículos, proporcionam à farmácia uma localização privilegiada.

A faixa etária dos utentes que a procuram é variável, no entanto, os utentes habituais

são sobretudo idosos polimedicados.

Com 22 anos de existência e sob a direção técnica da Dr.ª Ana Paula Cruz e Silva, a

FAS constitui uma referência, quer pelos diversos serviços prestados como pelo seu

atendimento personalizado e de qualidade.

1.2. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO

A FAS funciona de segunda a sexta-feira das 9h00 às 20h00, de modo contínuo,

assegurando as necessidades dos utentes que têm maior disponibilidade de deslocação na

hora de almoço ou após o horário laboral. O serviço é igualmente prestado ao sábado das

9h00 às 19h00 e aos domingos e feriados das 10h às 12h.

1.3. COMPOSIÇÃO E FUNÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS

Da equipa da FAS fazem parte os seguintes elementos:

• Dra. Ana Paula Cruz e Silva (proprietária e diretora-técnica (DT));

• Dra. Esmeralda Morim (Farmacêutica Adjunta Substituta);

• Dr. Nuno Sousa (Farmacêutico);

• Inês Rolo (Técnica de Farmácia);

• Flávio Moura (Técnico de Farmácia);

• Rita Vieira (Técnica de Farmácia).

Toda a equipa desempenha funções de atendimento ao público, todos estão

devidamente identificados, mediante o uso de um cartão, contendo o nome e o título

profissional. [1]

Para que todas as tarefas sejam executadas da maneira ordenada e funcional, todos

os membros da equipa têm funções e responsabilidades devidamente definidas.

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 2

1.4. ESPAÇO FÍSICO EXTERIOR

De acordo com o Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de agosto, a FAS apresenta na sua

fachada principal uma cruz verde luminosa ligada, indicando a sua disponibilidade. Na entrada

está presente uma placa onde se lê o nome da DT, o horário de funcionamento e o mapa de

turnos do município. Acessibilidade a todos os potenciais utentes, incluindo deficientes

motores, crianças e idosos, é possível através de uma rampa e pisos contínuos. A montra é

periodicamente renovada segundo acordos publicitários e a sazonalidade, contém ainda

informação sobre os serviços prestados: serviço de enfermagem, determinação de

parâmetros bioquímicos, consulta de nutrição, entre outros. [1]

1.5. ESPAÇO FÍSICO INTERIOR

As farmácias devem dispor de instalações adequadas a garantir: a segurança,

conservação e preparação dos medicamentos, a acessibilidade, comodidade e privacidade

dos utentes e do respetivo pessoal. [1] Desta forma a FAS dispõe das seguintes divisões:

- Sala de atendimento ao público;

- Sala de atendimento personalizado;

- Área de receção e conferência de encomendas;

- Armazém;

- Laboratório;

- Instalações sanitárias;

- Gabinete da diretora técnica (DT).

1.5.1. Sala de atendimento ao público

O local de atendimento ao público é uma zona espaçosa, iluminada naturalmente,

climatizada e organizada. Esta zona é constituída por quatro postos de atendimento, cada um

com o seu sistema informático.

Em torno da zona de atendimento existem lineares, divididos por várias secções:

produtos de cosmética, higiene capilar, higiene dentária, podologia, fitoterapia, nutrição e

Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM). Paralelamente aos postos de

atendimento, existe um módulo temático que é regularmente alterado, é sobretudo usado para

a exposição de produtos sazonais.

Os MNSRM estão localizados por trás dos balcões de atendimento e estão divididos

nas prateleiras por especificidade de consumo, como, antigripais, analgésicos, vitaminas,

laxantes, etc.

Junto à porta de entrada existe um contentor VALORMED e uma balança eletrónica

com medidor de pressão arterial. A pensar nos mais pequenos a FAS possui uma zona de

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MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 3

entretenimento e duas zonas de espera: uma junto aos postos atendimento e outra junto à

área de atendimento personalizado.

1.5.2. Sala de atendimento personalizado

A FAS dispõe de duas salas de atendimento personalizado. Este espaço

individualizado e independente da área de atendimento ao público destina-se à realização de

atendimentos que necessitem de mais privacidade. Para além disso, é o local onde se fazem

determinações de parâmetros bioquímicos e fisiológicos, como: determinação da pressão

arterial, colesterol total, triglicerídeos, glicémia entre outros.

Nesta área decorrem consultas de nutrição, osteopatia e serviço de enfermagem.

1.5.3. Área de receção e conferência de encomendas

Na parte posterior da farmácia, com acesso direto ao exterior, encontra-se a área de

receção e conferência de encomendas. Esta área encontra-se equipada com diversos

dispositivos informáticos que facilitam a receção de encomendas e auxiliam nos processos de

consulta, receção e de devolução de produtos. Junto a esta área, em prateleiras devidamente

identificadas encontra-se a documentação que é necessária arquivar (guias de remessa,

notas de encomenda, faturas). Em armário individualizado encontram-se os produtos para

devolução, produtos com prazo de validade próximo do fim (3-4 meses de antecedência) e

produtos fora do prazo de validade que aguardam devolução direta ao fornecedor/

armazenista ou quebra.

1.5.4. Armazém

O armazém é de acesso restrito aos profissionais da farmácia e encontra-se dividido

em duas zonas. Na primeira zona, visível dos balcões de atendimento, encontram-se dois

armários divididos em gavetas que se encontram organizados por ordem alfabética do nome

comercial (para os medicamentos sujeitos receita médica (MSRM)) ou da denominação

comum internacional (DCI) (no caso dos medicamentos genéricos (MG)). No segundo armário

encontram-se os MG segundo a organização anteriormente referida, sendo que a parte

inferior do mesmo se destina ao armazenamento de produtos oftálmicos e alguns dispositivos

médicos. Esta área possui ainda um conjunto de estantes onde são armazenados os MNSRM.

A segunda área de armazenamento é uma zona mais resguardada onde se encontram

armazenados todos os produtos cujo stock é elevado, bem como produtos de higiene oral,

farinhas e leites infantis. Neste espaço encontra-se em frigorífico a temperatura apropriada

(2-8ºC) a medicação sujeita a refrigeração como vacinas, colírios, insulinas, entre outros.

Relativamente aos estupefacientes e psicotrópicos estes possuem um local específico e de

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 4

maior segurança para o seu armazenamento, o cofre. Esta zona possui igualmente um

controlo de temperatura e humidade.

1.5.5. Laboratório

O laboratório encontra-se equipado com uma bancada de trabalho, lavatório e material

de laboratório e destina-se essencialmente à preparação de manipulados e reconstituição de

preparações extemporâneas. Todo este espaço reúne as condições necessárias à

conservação das matérias primas (existentes nas prateleiras) e à operação de manipulação.

1.5.6. Gabinete DT

Constitui o espaço em que a DT, Ana Paula Cruz e Silva, exerce as funções de

administração e gestão farmácia. É aqui que se realizam reuniões, atendimentos de

delegados de informação médica e vendedores de diversos laboratórios. Também aqui se

pode consultar alguma bibliografia relacionada com o exercício da profissão farmacêutica ou

publicações periódicas.

1.5.7. Sistema informático

A FAS é simultaneamente um estabelecimento de saúde pública e um estabelecimento

comercial, que para o seu bom funcionamento, encontra-se equipada com o sistema

informático SIFARMA 2000 da responsabilidade da Associação Nacional das Farmácias

(ANF), e neste momento faz parte do projeto piloto de introdução do novo SIFARMA 2000. O

recurso ao sistema informático, permite uma utilização mais fácil e intuitiva, auxiliando o

farmacêutico no desempenho de várias atividades: gestão das encomendas, gestão de stocks

e controlo de prazos de validade, gestão de devoluções, consulta rápida de informações

técnicas sobre medicamentos (efeitos adversos, interações, contraindicações, etc.), consulta

de grupos homogéneos, tratamento do receituário e faturação para os diferentes organismos,

gestão de utentes e seu acompanhamento farmacoterapêutico, entre outras.

2. APROVISIONAMENTO E GESTÃO DE STOCKS

O aprovisionamento de uma farmácia é uma das etapas fulcrais que influencia o seu

bom ou mau funcionamento, pois a ele compete controlar inúmeras variáveis que fazem parte

integrante do dia-a-dia de uma farmácia: gestão de stocks, registo da entrada e saída dos

produtos, controlo das quantidades e seus prazos de validade, execução e receção de

encomendas, análise de investimentos, nomeadamente em produtos sazonais, etc. Se esta

operação for bem executada, está garantida uma boa gestão financeira e administrativa da

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 5

farmácia pois evitam-se perdas financeiras, empate de capital e investimentos

desnecessários.

2.1. GESTÃO DE STOCKS

A gestão de stocks de uma farmácia é fundamental para o seu bom funcionamento,

pois só desta forma se consegue obter um rápido atendimento que satisfaça os utentes e um

equilíbrio financeiro que permita um bom desenvolvimento da farmácia.

Na gestão de stocks é importante analisar diversos parâmetros, nomeadamente a

localização da farmácia e hábitos de prescrição dos médicos, as necessidades e preferências

dos utentes, tendo em conta a sua idade e poder de compra, a época do ano, o capital

disponível, as modalidades de pagamento, as bonificações e a promoção dos produtos pela

comunicação social. Além disso, é fundamental conhecer o histórico de consumo de cada

produto para que não ocorra nem presença de stock excessivo, que é sinónimo de capital

empatado, nem rutura de stock que prejudica a imagem da farmácia perante o utente e o leva,

talvez, a procurar o produto pretendido noutra farmácia. Só tendo em conta todas estes

parâmetros se pode efetuar a aquisição de produtos de forma objetiva e racional.

FORNECEDORES

A seleção dos fornecedores grossistas deve ter como base critérios tais como a

capacidade de prontidão e rapidez de entrega, a garantia de qualidade dos produtos, as

condições comerciais (facilidade de pagamento, descontos e bonificações) e a resolução das

devoluções.

Todos os dias são realizadas encomendas na FAS com vista à aquisição de

medicamentos e outros produtos. A FAS trabalha simultaneamente com diferentes

distribuidores de modo a colmatar os produtos em falta, no menor tempo possível e beneficiar

das melhores ofertas a nível económico. Diariamente trabalha com dois distribuidores

grossistas (Alliance HealthCare e a Cooprofar) aos quais efetua duas ou três encomendas em

períodos distintos do dia, de acordo com a proposta de encomenda gerada pelo sistema

informático e necessidade desses mesmos produtos. Existem ainda durante o dia situações,

como exemplo, um produto novo que nunca existiu em stock, em que há necessidade de

realizar uma encomenda adicional, que pode ser feita de forma instantânea através do

sistema informático ou por contato telefónico. Em casos excecionais poderão ser feitos

pedidos por via telefónica às farmácias mais próximas com vista a satisfazer algum pedido

urgente.

Além destes fornecedores, também são efetuadas encomendas regulares diretamente

aos laboratórios, o que representa uma vantagem económica para a farmácia, pois desta

forma conseguem-se maiores descontos.

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 6

Durante o período de estágio pude realizar encomendas diárias, o que me permitiu

perceber as necessidades diárias da FAS, a rotatividade de produtos e como se encontram

esgotados muitos medicamentos. Realizei também encomendas instantâneas e via telefone

(principalmente durante o atendimento de modo a satisfazer pedidos dos utentes). Pude

acompanhar com a DT alguns atendimentos a comerciais de diversos laboratórios e perceber

como decorre a venda e a negociação entre ambos.

2.3. EXECUÇÃO DE ENCOMENDAS

As encomendas diárias são realizadas informaticamente, através da opção “Gestão

de Encomendas” existente no programa SIFARMA 2000, à exceção de produtos pontuais que

são pedidos por telefone. A primeira etapa da encomenda consiste em escolher o fornecedor

desejado e, em seguida, o programa informático fornece uma proposta de encomenda com

base no histórico de vendas e na informação de stock mínimo e máximo presente em cada

ficha de produto (definida pelo operador). Assim, quando o stock mínimo de um produto é

atingido, a quantidade necessária para atingir novamente o stock máximo é automaticamente

transferida para a listagem proposta. Porém, o farmacêutico que efetua a encomenda não se

deve limitar a encomendar apenas as quantidades que são sugeridas pelo programa, mas sim

analisar atentamente a proposta do sistema e alterá-la, sempre que achar necessário. Para

isso, é conveniente estudar a “Informação de Compra e Vendas” da ficha do produto que

indica qual foi a rotatividade desse produto nos últimos meses, ter em conta a altura do mês

em que é efetuada a encomenda e analisar as bonificações dos fornecedores. No final, a

encomenda é aprovada e enviada por modem ao fornecedor pretendido.

Quando se efetuam encomendas diretas ao laboratório é criada uma nota de

encomenda, com o que está previsto chegar, a qual é arquivada até comparação com a fatura

que acompanha a entrega dos produtos.

2.4. RECEÇÃO DE ENCOMENDAS E MARCAÇÃO DE PREÇOS

As encomendas chegam à farmácia em contentores adequados ao transporte de

medicamentos, devidamente acompanhadas de fatura e/ ou guia de remessa. Este é o

primeiro passo na conferência de uma encomenda, perceber se esta se destina à FAS.

Na fatura que acompanha a encomenda permite-nos o acesso a várias informações:

identificação do fornecedor da farmácia, número de encomenda e da fatura, descrição dos

produtos pedidos e enviados, preço de venda ao armazenista (PVA), preço de venda à

farmácia (PVF), preço de venda ao público (PVP), imposto de valor acrescentado (IVA),

descontos aplicados, total da encomenda, entre outros.

A receção da encomenda é feita através do sistema informático no separador “receção

de encomenda”, onde é visível a proposta de encomenda enviada ao fornecedor. Caso se

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - FFUP 7

tenha efetuada a encomenda por telefone deverá criar-se a encomenda “manual” e enviar a

mesma para o separador de receção. Através do leitor ótico, procede-se ao registo dos

códigos dos produtos, comparando-se posteriormente o que foi registado com o que consta

na fatura. Neste processo é fundamental verificar:

• Código do produto e respetiva designação (DCI ou nome comercial);

• Forma farmacêutica, dose e número de unidades por embalagem

• Validade;

• Quantidade pedida/ enviada;

• Preço impresso na cartonagem, preço de faturação, preço de venda ao público;

• Estado de conservação da embalagem.

Nos produtos de venda livre deverá calcular-se o PVP em função do PVF, IVA e

margem de lucro previamente estabelecida pela farmácia. Sempre que se verifique uma

alteração de PVP de determinado produto e o mesmo exista em stock é necessário proceder

à sua remarcação. No final é comparado o número total de unidades recebidas e o valor total

faturado com o que consta na fatura e finaliza-se a receção da encomenda. Todos os produtos

em falta e esgotados são posteriormente transferidos para uma nova encomenda a outro

fornecedor. Sempre que se verifica uma inconformidade entre a fatura e a encomenda, o

elemento da equipa que executa a receção da encomenda contata o fornecedor via telefone

para efetua a reclamação.

No caso de constarem medicamentos psicotrópicos e estupefacientes estes são

rececionados com os outros medicamentos, no entanto ficam em espera no sistema, para

posteriormente serem confirmados online através do sítio da internet de cada fornecedor.

As faturas são arquivadas para posterior comparação com o resumo mensal que o

fornecedor envia à farmácia e posteriormente enviados para a contabilidade.

A realização, a receção e conferência de encomendas é uma das primeiras etapas no

estágio curricular a meu ver fundamental e de grande importância. Esta função permite ter um

primeiro contato com o stock da farmácia, com a gestão de stocks, como o nome dos

medicamentos, como a rotatividade que são alvo.

2.5. ARMAZENAMENTO DE MEDICAMENTOS

O local e as condições de armazenamento dos medicamentos são imprescindíveis

para o bom funcionamento da farmácia, sendo este feito com rigor, de forma criteriosa e

metódica de modo a que todos os colaboradores estejam aptos, em qualquer circunstância,

quer arrumar, quer a localizar um produto quando necessário. Tudo começa durante a

receção da encomenda. Nesta fase é feita a separação dos produtos consoante o seu local

de armazenamento (MG, produtos do frio, MSRM, produtos oftálmicos) para tornar o seu

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armazenamento mais fácil e rápido de ser exequível. Os produtos são então armazenados

seguindo a regra “First Expire First Out” (FEFO) de modo a promover uma rotação de stock

eficaz e evitar que as embalagens com prazo de validade mais curto fiquem “esquecidas” nas

gavetas ou prateleiras. Os produtos de frio são os primeiros medicamentos a serem

armazenados (no frigorífico 2-8ºC) assim que a encomenda dá entrada na farmácia, sendo os

restantes produtos armazenados nos respetivos locais com as condições de luminosidade,

temperatura (< 25ªC) e humidade (<60%) adequados.

Por fim, mas não menos importante, a integridade de todas as cartonagens dos

produtos deve ser bem preservada de modo a transmitir uma imagem de cuidado e

profissionalismo da farmácia.

A receção, conferência e armazenamento de encomendas foram as minhas primeiras

tarefas de estágio e foi aí que tive o primeiro contato direto com os produtos farmacêuticos,

os nomes comerciais dos medicamentos e também com a própria logística da FAS. Foram

tarefas que me permitiram familiarizar com os locais de armazenamento e aperceber-me da

orgânica de funcionamento da farmácia.

2.6. CONTROLO DOS PRAZOS DE VALIDADE

De forma a conseguir uma boa gestão de stocks, é fundamental conhecer o prazo de

validade de todos os produtos existentes na farmácia. Para atingir esse objetivo, na FAS, no

início de todos os meses é impressa uma listagem dos produtos cujo prazo de validade

termina dentro de três meses, exceto para os produtos inseridos no Protocolo da Diabetes e

Medicamentos de Uso Veterinário cujo prazo é de seis meses. O prazo de validade a retirar

é definido pela farmácia, pois este pode variar de acordo com os critérios de gestão. Após a

impressão dessas listagens, um dos profissionais confere, produto a produto, se o prazo de

validade está de facto a terminar e, em caso afirmativo, recolhe os produtos. No caso de o

prazo de validade das embalagens ser superior ao referido na listagem, procede-se à correção

desse prazo e volta-se a colocar o produto no seu lugar. Isto acontece frequentemente pois,

na receção das encomendas, o prazo de validade só é alterado caso o stock do produto seja

nulo ou se for inferior ao prazo indicado na ficha do produto.

Terminada a verificação de todos os produtos, é emitida uma nota de devolução e os

produtos, cujo prazo de validade de facto termina nos limites estipulados, são enviados ao

fornecedor de onde foram provenientes. Por fim, procede-se à correção dos prazos de

validade no sistema informático, modificando esse parâmetro na ficha do produto. Este

procedimento permite comparar também o stock do sistema informático com o stock real

procedendo-se ao seu acerto em caso de discordância.

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Durante o estágio pude acompanhar este procedimento e ajudar na sua realização.

2.7. RECLAMAÇÕES, DEVOLUÇÃO DE PRODUTOS E REGULARIZAÇÃO DE NOTAS DE

DEVOLUÇÃO

A devolução de produtos aos laboratórios ou fornecedores pode ser efetuada por

várias razões: embalagem danificada ou em mau estado de conservação, prazo de validade

a terminar ou mesmo já caducado, envio de um produto não pedido na encomenda, retirada

de um produto do mercado (notificada através de circulares informativas), etc.

Em qualquer das situações, o procedimento para efetuar uma devolução é o seguinte:

a) Recolha do produto que se pretende devolver;

b) Emissão de uma nota de devolução onde consta a identificação da farmácia, o número

da nota de devolução, o nome comercial e código do produto, o número da fatura de

compra do produto e o motivo da devolução. A nota de devolução é emitida em

triplicado, em que o original e duplicado seguem para o fornecedor e o triplicado é

arquivado na farmácia;

c) Envio de crédito à farmácia, após a aprovação da devolução pelo

laboratório/fornecedor, quer através de uma nota de crédito, quer do envio do mesmo

produto ou de produtos semelhantes de igual valor, se a farmácia estiver de acordo;

d) Regularização da devolução através da opção “Gestão de devoluções” do sistema

informático.

Durante o estágio tive oportunidade efetuar devoluções com emissão das respetivas

notas de devolução devido a vários motivos anteriormente mencionados, bem como

regularizar notas de crédito.

3. DISPENSA DE MEDICAMENTOS

A cedência do medicamento representa o centro de toda a atividade farmacêutica em

farmácia comunitária, permitindo ao farmacêutico desempenhar um papel ativo e essencial

como agente de saúde pública, colocando os seus conhecimentos técnico-científicos ao

dispor dos utentes. Muitas vezes, o farmacêutico é o último profissional de saúde com quem

o doente contata, encontrando-se assim numa situação privilegiada na rede de cuidados de

saúde.

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3.1. MEDICAMENTOS SUJEITOS A RECEITA MÉDICA (MSRM)

Entende-se por MSRM todo o medicamento que apenas pode ser dispensado

mediante apresentação de prescrição médica válida. Estão sujeitos a receita médica os

medicamentos que preencham uma das seguintes condições:

a) Possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo

quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica;

b) Possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados

com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam;

c) Contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja, atividade

ou reações adversas seja, indispensável aprofundar;

d) Destinem-se a ser administrados por via parentérica [3].

Todos os dias são dispensados na farmácia comunitária inúmeros MSRM que

pertencem aos mais variados grupos terapêuticos. Porém, verifica-se que existe uma maior

predominância de vendas, nomeadamente a nível dos medicamentos antihipertensores,

antidislipidémicos, analgésicos e anti-inflamatórios, antidiabéticos orais e anticoncepcionais.

MODALIDADES DE PRESCRIÇÃO MÉDICA

A Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I. P. (INFARMED)

juntamente com Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) aprovaram um conjunto

de “Normas relativas à prescrição de medicamentos e produtos de saúde”. Segundo esta

norma, a prescrição de medicamentos é efetuada por Denominação Comum Internacional

(DCI), com vista a centrar a prescrição médica na escolha farmacológica, e assim contribuir

para uma utilização mais racional dos medicamentos. A legislação aplicável às modalidades

de prescrição médica foi alterada para promover a desmaterialização de todo o circuito, desde

a prescrição, dispensa e conferência de receituário. [4, 5]

A prescrição de medicamentos, incluindo medicamentos manipulados, medicamentos

contendo estupefacientes e psicotrópicos, produtos de saúde com ou sem comparticipação

pelo SNS, como por exemplo dispositivos médicos tem de ser efetuada por meios eletrónicos,

através da utilização de soluções ou equipamentos informáticos reconhecidos pelos Serviços

Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E. (SPMS). Esta modalidade de prescrição visa

aumentar a segurança no processo de prescrição e dispensa, facilitar a comunicação entre

profissionais de saúde de diferentes instituições e agilizar processos. [4,5]

As prescrições médicas eletrónicas, estão disponíveis em duas modalidades:

• Prescrição eletrónica desmaterializada: a prescrição é acessível e interpretável por

equipamentos eletrónicos, ou seja, no momento de prescrição, o software tem de

validar e registar a receita de medicamentos no sistema central de prescrições

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(também denominado de BDNP – Base de Dados Nacional de Prescrições). Neste tipo

de prescrição, é possível prescrever, no máximo, duas unidades do mesmo

medicamento, caso se trate de uma situação aguda. Se se tratar de um tratamento

prolongado, podem ser prescritas até seis embalagens. Se os medicamentos

estiverem na forma de embalagem unitária, podem ser prescritas quatro embalagens

do mesmo medicamento, para uma situação aguda ou doze caso para um tratamento

prolongado.

• Prescrição eletrónica materializada – a prescrição é impressa. Esta apenas pode

ocorrer em modo online, ou seja, no momento de prescrição, o software tem de validar

e registar a receita de medicamentos no sistema central de prescrições, antes da sua

emissão em papel. Este tipo de receita tem um prazo de trinta dias após a data da sua

emissão. Esta prescrição pode ser realizada em três vias, passando a ter uma validade

de seis meses. Apenas os medicamentos para tratamentos prolongados é que

poderão ser prescritos neste tipo de receitas. Assim, dependendo da situação, o

médico poderá prescrever uma, duas ou três vias da receita, conforme a duração do

tratamento. Além disso, poderão ser prescritos quatro medicamentos diferentes ou

dois medicamentos diferentes com duas embalagens de cada um. Se os

medicamentos estiverem na forma de embalagem unitária, poderão ser prescritas

quatro embalagens do mesmo medicamento ou doze caso se trate de um tratamento

prolongado.

No que diz respeito às receitas manuais (em papel), têm a limitação de prescrição até

quatro medicamentos diferentes, não podendo o número de embalagem prescritas ultrapassar

o limite de duas por medicamento, nem o total de quatro embalagens. As receitas manuais,

tal como cada linha da receita eletrónica, são válidas por 30 dias. [4,5] Excecionalmente, os

médicos poderão recorrer à receita médica manual, nas seguintes situações:

- Falência do sistema informático;

- Indisponibilidade da prescrição através de dispositivos móveis;

- Situações de prescrição em que o utente não tenha a possibilidade de receber a prescrição

desmaterializada ou de a materializar. [6]

A prescrição eletrónica desmaterializada está a assumir a maioria dos atendimentos.

Foram com estas que pude mais contactar, mesmo perante a reclamação de muitos utentes,

na maioria os mais velhos, sobre a “receita no telemóvel”, cabe-nos o dever de informar o

motivo, para além de que podemos imprimir o talão da dispensa em que é possível visualizar

o que está prescrito. As receitas manuais, são para mim mais desafiantes, pelo fato de para

além da verificação de todos os dados da receita, relativos ao utente e prescritor, a nossa

capacidade de interpretação e análise da prescrição ser mais ativa.

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3.3. DISPENSA MSRM

Com a introdução do novo modelo RSP o aviamento passou a ser muito mais fácil e intuitivo.

Para isso, seleciona-se a opção “Atendimento – Com Receita” no programa informático e

introduz-se o código da receita e o código da dispensa, a partir daí surgem todos os

medicamentos que o médico prescreveu, a comparticipação surge automaticamente, só

temos que adicionar o organismo de comparticipação complementar caso exista, e o utente

pode optar por aviar o que realmente necessita, sem necessidade de ter que aviar todos os

medicamentos e despender de tanto dinheiro. Nas receitas manuais o processo é similar, mas

por fim, é feita a impressão do verso da receita, onde constam os dados da farmácia (nome,

direção técnica, número de contribuinte, telefone e fax), os dados relativos à venda (data de

aviamento, número da venda, código do operador) e os dados relativos à receita (organismo

comparticipante, número da receita, número do lote e número da série). O verso da receita

deve ser assinado pelo utente ou seu representante, como prova que os medicamentos

registados foram dispensados. Finalmente, o farmacêutico assina, data e carimba o verso da

receita no momento da dispensa.

Importante salientar, que desde o dia 9 de fevereiro deste ano encontra-se em vigor a

Diretiva sobre Medicamentos Falsificados, que obriga à verificação e desativação do código

bidimensional (datamatrix) de todas as embalagens de medicamentos, aquando da sua

dispensa. [7]

Durante o ato da dispensa dos MSRM, o farmacêutico deve informar o utente de todos

os aspetos relevantes para que haja um uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos, de

modo a otimizar o resultado terapêutico. Desta forma, compete ao farmacêutico mostrar-se

disponível para o esclarecimento de qualquer dúvida, prestar informações e conselhos sobre

posologia, modo de administração, duração do tratamento (se necessário reforçar a

informação oral por escrito), alertar para possíveis efeitos secundários, promover o uso

racional dos medicamentos e estilos de vida saudáveis. Toda esta informação deve ser

sempre transmitida de forma clara e objetiva, utilizando uma linguagem simples que seja

compreendida pelo utente.

3.4. DISPENSA DE PSICOTRÓPICOS E/ OU ESTUPEFACIENTES

Os medicamentos estupefacientes e psicotrópicos são substâncias que provocam

alterações na atividade psíquica, podendo originar fenómenos de dependência e tolerância.

Devido às suas propriedades farmacológicas e por terem margens terapêuticas estreitas, são

medicamentos que estão sujeitos a legislação específica e o seu uso é restrito a situações

clínicas particulares. Deste modo, a farmácia, como entidade responsável pela aquisição,

armazenamento e dispensa destes produtos, fica obrigada a cumprir a referida legislação,

sendo a fiscalização da responsabilidade do INFARMED. [8, 9]

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Com a desmaterialização da receita médica, estes medicamentos podem ser

prescritos na RSP, juntamente com outros medicamentos. Podem ser adquiridos pelo próprio

utente ou por outra pessoa, maior de 18 anos, sendo obrigatório apresentação de um

documento de identificação.

A dispensa deste grupo especial de medicamentos é feita de igual forma que os outros

MSRM. Porém, ao terminar a venda, o programa informático reconhece a especialidade

farmacêutica como sendo estupefaciente ou psicotrópico e obriga ao preenchimento dos

seguintes dados:

- Nome do médico prescritor;

- Nome e morada do doente;

- Nome, morada, número e data de validade do cartão de cidadão do adquirente

e idade (porque na maioria das vezes o adquirente não é o doente).

3.5. MEDICAMENTOS GENÉRICOS, SISTEMA DE PREÇOS DE REFERÊNCIA

O mercado dos medicamentos genéricos em Portugal ainda é alvo de desconfiança,

quer por parte dos utentes, quer mesmo dos médicos prescritores, sobre a sua eficácia e

segurança.

A importância atual dos medicamentos genéricos prende-se com a atribuição dos

preços de referência. O Sistema de Preços de Referência (SPR) encontra-se definido no

artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 97/2015, de 1 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 115/2017,

de 7 de setembro. O SPR estabelece um valor máximo a ser comparticipado, correspondendo

ao escalão ou regime de comparticipação aplicável calculado sobre o preço de referência ou

igual ao PVP do medicamento, conforme o que for inferior, para cada conjunto de

medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas,

forma farmacêutica, dosagem e via de administração, ou seja, que pertençam ao mesmo

grupo homogéneo. [10, 11] Assim, a cada grupo homogéneo está associado um preço de

referência, que corresponde à média dos cinco PVP mais baixos praticados no mercado,

tendo em consideração os medicamentos que integram aquele grupo. [11] O valor da

comparticipação dos medicamentos que integram um grupo homogéneo é sempre relativo ao

preço de referência, pelo que, independentemente do preço do medicamento, a

comparticipação é sempre a mesma, sendo o utente que paga a diferença entre o PR e o PVP

de cada medicamento.

A introdução do Sistema de Preços de Referência (SPR) prevê a revisão periódica

trimestral quer do preço dos grupos homogéneos quer da criação de novos grupos

homogéneos e visa equilibrar os preços dos medicamentos.

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3.6. SISTEMAS DE COMPARTICIPAÇÃO E REGIMES DE COMPLEMENTARIDADE

Existe um elevado número de sistemas e subsistemas de comparticipação, cada um

com regras específicas e que podem variar de organismo para organismo.

O maior volume das receitas que surgem na FAS pertence ao Sistema Nacional de

Saúde (SNS), cujo regime de comparticipação é estabelecido pelo Estado.

O SNS considera, para efeitos de comparticipação, dois tipos de regime:

- Regime Geral: abrange todos os utentes do SNS;

- Regime Especial: exclusivo dos utentes abrangidos por condições especiais, como é

o caso dos pensionistas (vencimento inferior ao salário mínimo nacional).

Além disso, a comparticipação do Estado no preço dos medicamentos é fixada de

acordo com quatro escalões [12, 13]:

Escalão A – a comparticipação do Estado é de 90% do PVP dos medicamentos;

Escalão B – a comparticipação do Estado é de 69% do PVP dos medicamentos;

Escalão C – a comparticipação do Estado é de 37% do PVP dos medicamentos;

Escalão D – a comparticipação do Estado é de 15% do PVP dos medicamentos.

No caso de utentes com regime especial, a comparticipação é acrescida de 5% no

escalão A e de 15% nos escalões B, C e D. [14]

Utentes portadores de patologias como lúpus, hemofilia e hemoglobinopatias, são

abrangidos por um regime de comparticipação de 100%. [12]

Existem muitos outros organismos comparticipantes com os quais a Associação

Nacional de Farmácias (ANF) estabeleceu acordos, servindo como intermediária entre as

farmácias e esses organismos, como por exemplo Serviço de Assistência Médico-Social

(SAMS) do Sindicato de Bancários, SAD-PSP, Caixa Geral de Depósitos (CGD), SAVIDA

(EDP), Fidelidade Mundial, MEDIS, entre outros. A cada organismo referido corresponde um

código para uso informático, sendo as respetivas taxas de comparticipação estabelecidas

internamente por cada organismo. Uma vez que, para todos eles existem regras específicas,

em caso de dúvida, é sempre possível consultar o Livro dos Acordos da ANF.

É possível existir complementaridade entre os diferentes sistemas e subsistemas de

saúde, permitindo ao utente beneficiar de comparticipação simultânea por dois organismos

diferentes.

Atualmente, existem programas criados pelos próprios laboratórios para

medicamentos específicos como é o caso do Betmiga®, beneficiando o utente de uma

comparticipação especial.

3.7. CONFERÊNCIA DO RECEITUÁRIO E FATURAÇÃO

Com a desmaterialização da receita médica, a conferência e organização do

receituário tornou-se uma tarefa mais simples, uma vez que o número de receitas em papel é

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cada vez menor. As receitas eletrónicas quando introduzidas no sistema informático são

automaticamente validadas, para além de que evitamos o risco de perdermos a receita ou de

que esta seja extraviada. No entanto, as receitas manuais em papel necessitam após o

aviamento de uma contra conferência, para garantir que nenhuma irregularidade foi cometida

no aviamento e que as receitas apresentam todos os requisitos como:

- Data, nome, vinheta e assinatura do médico;

- Organismo e regime de comparticipação;

- Exigências específicas de cada organismo, como o número possível de

especialidades farmacêuticas diferentes e o número total máximo de embalagens;

- Correspondência entre os medicamentos prescritos e os dispensados relativamente

a: substância ativa, forma farmacêutica, dosagem e número de unidades por embalagem;

- Carimbo da Farmácia, data, assinatura do operador que efetuou a dispensa e do

utente que aviou.

No final do mês, procede-se à recolha de todas as receitas aviadas, ou talões

comprovativos do aviamento, sendo necessário, separá-las por organismos e agrupá-las em

lotes de trinta receitas, com exceção do último, que pode conter um número inferior. Dentro

de cada organismo as receitas são organizadas com base na sua numeração (número de lote,

número da receita e número da série), a qual foi estabelecida informaticamente no decorrer

do aviamento.

Após a conferência de todas as receitas médicas, efetua-se a emissão dos verbetes

de identificação do lote, documento este que contém a seguinte informação: identificação da

farmácia e do mês a que se refere, resumo das receitas desse lote, quantidade de receitas,

importância total, encargos para o utente, fração comparticipada e respetivo organismo. Este

documento é então anexado ao lote de receitas e deve ser carimbado e assinado.

No final de cada mês, realiza-se o fecho do receituário para cada organismo, de modo

a que se inicie uma nova série de receitas, e procede-se, também, à emissão de mais dois

documentos, em triplicado: Relação de Resumo de Lotes (de cada organismo) e Fatura

Mensal.

Após o processamento do receituário, tem ainda de se efetuar a separação dos lotes

pertencentes ao SNS e dos lotes pertencentes a outros organismos, uma vez que estes

seguem destinos diferentes.

Por forma a garantir o normal tratamento e pagamento da faturação, esta tem de ser

entregue entre o dia 1 e 10 de cada mês; a embalagem que contém estes documentos deve

estar devidamente acondicionada e identificada com o nome e o código da farmácia (topo da

caixa). A expedição da faturação e do receituário do SNS é feita através do transportador CTT

Expresso que passa na farmácia no dia 5 de cada mês, ou no dia útil seguinte em caso de

fim-de-semana ou feriado. [15]

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Os lotes dos restantes organismos, as receitas e os respetivos documentos (em

triplicado) são enviados por correio à ANF, até ao dia 10 de cada mês. A ANF reencaminha

as receitas, a Relação de Resumo de Lotes e as faturas mensais às respetivas entidades

comparticipantes. Desta forma, a ANF funciona como intermediário entre as farmácias e estas

entidades, uma vez que é ela que efetua o reembolso das comparticipações às farmácias.

Quando ocorre algum erro, detetado pelo Centro de Conferência de Receitas, as

receitas são devolvidas à farmácia com o respetivo motivo da devolução. Cabe à farmácia

proceder à correção do erro, de modo a obter o valor da comparticipação. Quando esta

correção não é possível, a farmácia assume o prejuízo das receitas em causa.

Compreender a importância do “fecho do mês”, tratar do receituário e faturação foi das

tarefas que mais gostei de acompanhar. É extremamente importante e de grande

responsabilidade, uma vez que a faturação não elaborada de acordo com estas regras será

devolvida, a farmácia pode incluí-la no mês seguinte, no entanto com prejuízo e atraso nos

pagamentos.

3.8. DISPENSA DE MEDICAMENTOS NÃO SUJEITOS A RECEITA MÉDICA OBRIGATÓRIA

E OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE

Os Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) constituem um vasto

grupo de medicamentos cuja dispensa pode ser efetuada sem receita médica, sendo

frequentemente utilizados para a prevenção, alívio ou tratamento de patologias ligeiras que

não necessitam de observação médica. Estes não são comparticipáveis, salvo nos casos

previstos na legislação que define o regime de comparticipação do Estado no preço dos

medicamentos. [4]

Devido à dificuldade de obter uma consulta médica de forma rápida, para evitar o

absentismo no trabalho e mesmo por haver cada vez mais informação disponível, o recurso

a este tipo de medicação é cada vez mais frequente. Porém, o consumo destes medicamentos

é feito muitas vezes de forma abusiva, devido à ideia errada, por parte dos doentes, de que

são desprovidos de contraindicações e de efeitos adversos. Além disso, é preciso ter sempre

presente que o alívio dos sintomas pode mascarar a etiologia de uma patologia mais grave.

A partir de 2017, de forma a garantir um maior controlo e aconselhamento diferenciado

no ato de dispensa, surge uma nova subcategoria dos MNSRM, Medicamentos sujeitos a

receita médica de dispensa exclusiva em farmácia (MSRM-EF). Os MNSRM-EF são

medicamentos que embora possam ser dispensados sem prescrição médica, a respetiva

dispensa é condicionada a intervenção do farmacêutico e aplicação de protocolos de

dispensa, diferenciando desta forma a farmácia de outros postos de venda de MNSRM. A

existência de MNSRM-EF tem como vantagem o aumento do número de medicamentos e das

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áreas terapêuticas em que estão disponíveis MNSRM, estando o acesso a estes fármacos

sob a responsabilidade do farmacêutico, de acordo com os protocolos de dispensa publicados

para cada DCI, que estabelecem condições em que os medicamentos podem ser utilizados

sem receita médica. [16]

Durante o meu estágio, verifiquei que as situações em que mais se recorre à

automedicação são as gripes, constipações, dores de garganta, tosse, dores musculo-

esqueléticas, rinites alérgicas sazonais, afeções cutâneas (eczemas, queimaduras solares,

bolhas e verrugas), alterações a nível do trato digestivo (obstipação, diarreia e azia) e cansaço

físico/ psíquico. Desta forma, os MNSRM com maior rotatividade são os analgésicos e

antipiréticos, descongestionantes nasais, anti-inflamatórios, mucolíticos, expetorantes,

antitússicos, pomadas para o tratamento de afeções cutâneas, laxantes, antidiarreicos,

antiácidos e suplementos vitamínicos.

4. PAPEL DO FARMACÊUTICO NAS SITUAÇÕES DE AUTOMEDICAÇÃO

A Farmácia é uma unidade de prestação de cuidados de saúde primários que ocupa

uma posição privilegiada no Sistema de Saúde, uma vez que tem um fácil acesso, um horário

permanente mais alargado e a presença contínua de um farmacêutico. Por este motivo, o

farmacêutico deve adotar uma postura ativa nas situações de automedicação e, antes de

dispensar qualquer MNSRM, deve efetuar um pequeno questionário que lhe permita avaliar a

situação clínica que o doente descreve. As questões fundamentais a colocar devem abordar

os seguintes tópicos:

➢ Destinatário do medicamento, tendo em conta a idade e o sexo da pessoa;

➢ Tipo de medicação que o doente toma, de forma a evitar interações e efeitos

secundários, sobretudo em doentes polimedicados;

➢ MNSRM já usados em situações semelhantes e qual foi o efeito observado;

➢ Contraindicações devido a patologias eventualmente existentes,

nomeadamente, insuficiência hepática, renal ou cardíaca, asma ou diabetes.

Após a avaliação da situação, se o Farmacêutico considerar oportuna a cedência de

um MNSRM, é essencial que indique, de forma clara e objetiva, a forma de administração (via

oral, uso tópico, etc.), dose e posologia, duração do tratamento e possíveis efeitos

secundários. Além disso, deve ainda promover a adoção de medidas não farmacológicas,

explicando ao doente que estas, provavelmente, permitirão uma resolução mais rápida do seu

problema. Também é muito importante focar a importância de recorrer à consulta médica no

caso de não haver melhoria dos sintomas em três dias e resolução da situação em sete a dez

dias após o início da terapêutica ou se houver manifestação de nova sintomatologia.

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5. MEDICAMENTOS MANIPULADOS

Os medicamentos manipulados (MM) são todas as formas farmacêuticas preparadas

em Farmácia de Oficina a partir de matérias-primas e material aí existentes, segundo a arte

de manipular (FSA – “faça segundo a arte”) e respeitando as Boas Práticas de Fabrico de

Manipulados. Estas formulações podem ser preparadas de acordo com uma receita médica –

fórmulas magistrais – ou com as indicações de uma farmacopeia ou formulário – fórmulas

oficinais – sendo destinados a um determinado doente. [17]

O desenvolvimento da Indústria Farmacêutica, juntamente com a produção em grande

escala de inúmeras formas e formulações farmacêuticas que permitem o tratamento da

maioria das patologias que afetam a população, levaram a uma diminuição da necessidade

de produzir medicamentos individualizados na Farmácia Comunitária. Porém, ainda existem

determinadas situações em que se justifica o recurso a MM, nomeadamente quando há

necessidade de:

➢ Ajuste terapêutico às características individuais do doente;

➢ Preparação de medicamentos de curta estabilidade, os quais não podem ser

comercializados como especialidades farmacêuticas;

➢ Preparação de medicamentos que a Indústria não explora comercialmente devido à

sua baixa rentabilidade.

Atualmente, os MM preparados na farmácia comunitária destinam-se quase

exclusivamente ao uso pediátrico e dermatológico.

Na prescrição de manipulados, devem constar na receita médica os seguintes dados:

➢ Fórmula farmacêutica, ou seja, a informação qualitativa e quantitativa quer da(s)

substância(s) ativa(s) quer dos excipientes;

➢ Modo de preparação do medicamento que o médico prescritor ache mais adequado

ou, alternativamente, pode deixar ao critério do farmacêutico escrevendo “f.s.a.”;

➢ Posologia e o modo de administração destinada ao doente.

No que respeita à comparticipação, os MM comparticipados pelo SNS são os que

constam de lista publicada no Despacho nº 18694/2010, de 16 de dezembro, aprovada pelo

Governo, e proposta pelo Conselho Diretivo do INFARMED. A esta lista podem ainda ser

acrescidos medicamentos manipulados que cumpram, cumulativamente, as seguintes

condições:

➢ Inexistência no mercado de especialidade farmacêutica com igual substância ativa, na

forma farmacêutica pretendida

➢ Existência de lacuna terapêutica a nível dos medicamentos preparados

industrialmente

➢ Necessidade de adaptação de dosagens ou formas farmacêuticas às carências

terapêuticas de populações específicas, como é o caso da geriatria e da pediatria.

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Para ser comparticipável, o medicamento manipulado deve ser prescrito manualmente

mediante indicação, na receita médica, com indicação no canto superior direito MM, da(s)

substância(s) ativa(s), respetiva(s) dosagem(ns), excipiente(s) e forma farmacêutica. A

comparticipação é de 30% do respetivo PVP. [18]

Uma vez que a FAS não prepara medicamentos manipulados, durante o estágio não

tive oportunidade de observar nem realizar este tipo de preparações. No entanto, a prescrição

médica de manipulados apesar de pouco frequente, tive oportunidade de contatar e poder

encomendar (via telefone/ email) a preparação dos medicamentos manipulados a outra

farmácia com condições para os elaborar.

6. ACONSELHAMENTO E DISPENSA DE OUTROS PRODUTOS

6.1. MEDICAMENTOS VETERINÁRIOS

Define-se como produto de uso veterinário “a substância ou mistura de substâncias

destinadas quer aos animais, para tratamento ou prevenção das doenças e dos seus

sintomas, maneio zootécnico, promoção do bem-estar e estado hígio-sanitário, correção ou

modificação das funções orgânicas ou para diagnóstico médico, quer às instalações dos

animais e ambiente que os rodeia ou a atividades relacionadas com estes ou com os produtos

de origem animal.” [19]

Hoje em dia, os medicamentos de uso veterinário deixaram de ser produtos de venda

exclusiva nas clínicas veterinárias, passando a ter uma solicitação cada vez mais frequente

nas farmácias. Verifica-se muitas vezes que os utentes recorrem ao aconselhamento

farmacêutico não só no interesse da sua saúde, mas também dos seus animais de companhia.

Por este motivo, o farmacêutico deve procurar ter uma intervenção mais ativa nesta área,

informando e aconselhando os utentes acerca dos cuidados que devem adotar com os seus

animais, no que respeita a higiene, vacinação e prevenção de doenças transmissíveis ao

Homem.

Na FAS, os medicamentos de uso veterinário encontram-se separados fisicamente

dos medicamentos de uso humano. Os produtos mais procurados são os desparasitantes,

tanto externos como internos, os antibióticos, os anti-sépticos, os suplementos vitamínicos e

os anticoncepcionais. Realço a dificuldade no aconselhamento destes produtos, o que me fez

procurar apoio adicional, tendo a farmácia proporcionado uma pequena formação com uma

delegada de informação médica de um laboratório que comercializa medicamentos

veterinários.

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6.2. PRODUTOS DE DERMOFARMÁCIA, COSMÉTICA E HIGIENE CORPORAL E ORAL

Hoje em dia, os produtos de cosmética e higiene corporal assumem um papel cada

vez mais proeminente na farmácia, motivado pela crescente procura e exigência por parte do

consumidor, fruto da influência de fortes campanhas publicitárias para a promoção da saúde

e do constante aparecimento de novos produtos desenvolvidos pelos laboratórios.

Embora estes produtos não sejam todos de venda exclusiva em farmácia, os utentes

optam muitas vezes por os adquirirem neste espaço, pois confiam no farmacêutico como um

conselheiro credível e informado, que o pode orientar e esclarecer com segurança na escolha

do produto que melhor se adapta às suas características e necessidades.

O aconselhamento deste tipo de produtos é uma das minhas áreas preferidas, apesar

de não conhecer todas as gamas disponíveis na FAS, as dificuldades em conhece-las foram

rapidamente ultrapassadas através da consulta de bibliografia disponível na farmácia, da

informação prestada pelos delegados de informação médica e pelo recurso a formações e-

learning que os laboratórios disponibilizam.

6.3. ARTIGOS DE PUERICULTURA

Os artigos de puericultura englobam uma gama variada de produtos, nomeadamente,

a alimentação do bebé, os produtos de higiene corporal e cosmética adaptados ao seu tipo

de pele e mucosas, acessórios e brinquedos infantis e também os produtos específicos que

facultam o bem-estar de grávidas ou recém-mamãs.

Embora, hoje em dia, já existam várias lojas especializadas neste tipo de produtos, os

consumidores continuam a procurar a farmácia para a sua aquisição, pois este é um local

onde podem adquirir os produtos com segurança e, além disso, beneficiam de um

aconselhamento técnico, muitas vezes procurado por pais inexperientes e com muitas

dúvidas.

Na FAS, a maioria dos produtos de puericultura está exposta em lineares na zona de

atendimento. A gama de produtos destinada aos bebés que podem ser encontrados na

farmácia engloba:

• Leites em pó para as diferentes fases de crescimento (leites para lactentes e leites de

transição);

• Leites adaptados: hipoalergénicos, sem lactose, anticólicas, anti obstipação, anti

regurgitação;

• Farinhas lácteas e não lácteas, com ou sem glúten;

• Papas de frutas, de carne, de peixe ou legumes, para substituição ou suplemento da

refeição da criança;

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• Cremes e loções para limpeza e proteção da pele, champôs, geles de banho e águas-

de-colónia;

• Fraldas, chupetas, biberões, termómetros e brinquedos.

Para as grávidas ou recém-mamãs, os artigos mais solicitados na farmácia são:

• Cintas pré ou pós-parto, discos de amamentação e mamilos de proteção em silicone,

bombas extratoras de leite manuais ou elétricas e sacos para congelar o leite materno;

• Produtos cosméticos específicos para o busto, pernas cansadas, anti estrias, etc.

6.4. ARTIGOS DE ORTOPEDIA, DISPOSITIVOS MÉDICOS E OUTROS ACESSÓRIOS

A FAS, apesar de possuir um stock composto por poucas unidades de cada artigo de

ortopedia, tem uma grande variedade de produtos de modo a poder satisfazer as diferentes

necessidades dos utentes. No entanto, também dispõe de vários catálogos de ortopedia que

podem ser consultados para efetuar a encomenda de algum artigo solicitado mais específico.

Assim, dos artigos de ortopedia destacam-se: meias de descanso e elásticas (com vários

graus de compressão), pés e joelhos elásticos, cintas abdominais ou lombares, colares

cervicais, fundas para herniados, canadianas, bengalas, andarilhos e cadeiras de rodas, entre

outros.

Ao nível dos dispositivos médicos a FAS dispõe de artigos de penso, sutura, sondas

gástricas, nasogástricas e duodenais, sistemas de aplicação parentérica, material para

ostomizados, algálias e sacos coletores de urina, termómetros, aparelhos de medição de

tensão e de parâmetros sanguíneos, nebulizadores por compressão ou por ultrassons, frascos

esterilizados para colheitas biológicas (urina, fezes, expetoração), etc.

Os produtos como fraldas, luvas cirúrgicas, luvas em látex ou vinil, dedeiras, sacos de

água quente, preservativos, tampões para os ouvidos, material para o cuidado das unhas

(removedor de verniz, tesouras, limas, etc.), entre outros, são acessórios que também se

podem encontrar na FAS.

7. OUTROS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS NA FAS

7.1. SERVIÇOS FARMACÊUTICOS

O farmacêutico, como profissional de saúde, não se limita apenas à dispensa de

medicamentos e ao aconselhamento. Ele tem uma posição privilegiada que lhe permite

fomentar e participar em programas que visam a promoção da saúde e a prevenção da

doença. Assim, a ele lhe compete, também, efetuar o controlo dos diversos parâmetros

fisiológicos e bioquímicos que muitas vezes ajudam a detetar precocemente certas doenças.

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7.1.1. Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos

Na FAS os parâmetros bioquímicos e fisiológicos frequentemente determinados são

os seguintes:

• Glicémia

• Colesterol

• Triglicerídeos

• Pressão Arterial

• Índice de Massa Corporal

Estes são determinados na área de atendimento personalizado e registados num

cartão de modo a tornar possível o acompanhamento do utente. A afluência destes serviços

é significativamente maior no período da manhã, sendo a medição da pressão arterial e a

glicémia os parâmetros mais avaliados. Após a determinação e interpretação dos valores

obtidos o farmacêutico deve, caso seja aplicável, informar e aconselhar o utente a adotar um

estilo de vida saudável, promover a sua adesão à terapêutica, ou consultar apoio médico.

7.1.2. Serviços não farmacêuticos

A FAS possui outros serviços com bastante aderência e atividade regular:

• Serviço de Nutrição;

• Serviço de Osteopatia;

• Serviço de Enfermagem (todos os dias das 17h30-19h30 e ao domingo das 10h-12h).

7.2. VALORMED

A VALORMED contribui grandemente para o uso racional do medicamento e para a

prevenção de danos ambientais. Esta sociedade gere o Sistema Integrado de Gestão de

Resíduos de Embalagens e Medicamentos fora de PV. Durante o estágio procedi a

preparação de contentores para recolha pelos armazenistas e verifiquei que vários utentes

entregam na farmácia embalagens de medicamentos vazias ou com PV a expirar.

7.3. RECOLHA DE RADIOGRAFIAS

A Assistência Médica Internacional (AMI) realiza anualmente uma campanha de

Reciclagem de Radiografias nas Farmácias Portuguesas, que consiste na sensibilização das

pessoas que possuem radiografias em casa (sem valor de diagnóstico) com vista a

procederem à sua entrega na farmácia. A reciclagem destas permite não só a angariação de

fundos para fim humanitários como também a proteção do ambiente.

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PARTE 2: DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA

FARMÁCIA ANA SILVA

1. VALORMED

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Uma das perguntas mais frequentes por parte dos utentes para além de “como tomar?”

e “para que serve o medicamento?” é, “o que fazer com os medicamentos que deixei de

tomar?”, “ainda estão na validade!”. Sim, esta é uma realidade diária e com a qual temos de

saber lidar e explicar a todos os utentes de que se não usou, não deve deitar no lixo comum,

mas sim entregar na farmácia para colocar no contentor VALORMED. Muito importante

também passa explicar ao utente a diferença entre um medicamento fora de uso e um

medicamento com validade expirada e aconselha-lo sempre a devolver estes medicamentos

à farmácia. [20]

No entanto, à medida que o tempo passa e nos apercebemos da quantidade de

contentores de VALORMED que são recolhidos todas as semanas verificamos que há muita

medicação em casa dos utentes. Sempre que reforçamos, é melhor “fazer uma limpeza na

farmácia de casa!”, os utentes trazem sacos cheios de medicamentos. Desta forma, coloca-

se a questão, como podem os utentes acumular tanta medicação em casa? De que forma, o

farmacêutico poderia ter um papel ativo no combate ao desperdício de tantos medicamentos?

Foi por estas questões, que decidi avaliar o número de embalagens, estabeleci um

intervalo de PVP destes medicamentos e quis perceber os custos que estes medicamentos

sujeitos e não sujeitos a receita médica, têm para o utente e para todos os contribuintes do

Estado. Será que a individualização da terapêutica, não seria uma alternativa ao desperdício

e evitar a caducidade dos medicamentos? Ou quem sabe, a criação de um “banco

farmacêutico” para guardar as embalagens que ainda estão na validade para ceder a outras

pessoas? Que alternativa poderia ser a mais adequada?

Mais importante será realçar o papel do farmacêutico sobre o uso responsável do

medicamento. Para isso devemos trabalhar diariamente explicando ao utente, por exemplo,

da importância de tomar um antibiótico até ao fim, de que se vai experimentar uma medicação

não necessita de aviar todas as embalagens prescritas, de que se consulta mais do que um

médico informar a medicação que toma ou tomou, se um medicamento é gratuito não tem que

aviar todas as embalagens se não precisa. Estes são vários exemplos de como devemos ser

ativos sobre o uso responsável e racional de todos os medicamentos. Não só a nível

financeiro, mas a nível ambiental, a destruição destes medicamentos tem consequências.

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1.2. VALORMED O QUE É E COMO ATUA

Desde 1999 que a VALORMED, isto é, a Sociedade Gestora de Resíduos de

Embalagens e Medicamentos, é responsável pela recolha dos resíduos de embalagens vazias

e medicamentos de uso humano e veterinário fora da validade. O despacho 9592/ 2015 de 10

de agosto, emitido pelos Ministérios da Economia e Ambiente autoriza a principal atividade

desta sociedade que visa a gestão de resíduos de embalagens através do SIGREM (Sistema

Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e Medicamentos) até 31 de dezembro de

2020. [21]

Tendo como ponto de partida, de que um medicamento ou o que resta de uma caixa

de medicamentos não pode ser considerado um resíduo comum a ser depositado juntos com

outros resíduos orgânicos, esta sociedade surge da cooperação entre a indústria

farmacêutica, distribuidores e farmácias. Desta fazem parte, a Associação Portuguesa da

Indústria Farmacêutica (APIFARMA), a ANF e a Associação de Grossistas de Produtos

Químicos e Farmacêuticos (GROQUIFAR). A VALORMED é tutelada pela Agência

Portuguesa do Ambiente (APA), sendo licenciada pelos Ministérios do Ambiente e da

Economia para a gestão do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens de

Medicamentos (SIGREM). [22]

Nas farmácias de oficina, a VALORMED coloca à disposição de todos os cidadãos,

contentores para recolha de embalagens vazias e medicamentos fora de uso, um sistema

similar a um “ecoponto”, acessível e seguro, uma vez que estes resíduos deverão ser reunidos

sob controlo farmacêutico para posteriormente seguir via armazenista para estações de

tratamento. Posteriormente, estes contentores seguem para um Centro de Triagem por um

operador de gestão de resíduos, onde são separados e classificados para assim, serem

entregues a gestores de resíduos autorizados responsáveis pelo seu tratamento. Desta forma,

papel, plástico, vidro e outros produtos heterogéneos vão para reciclagem, e os restantes

resíduos seguem para incineração segura com valorização energética. [23]

Um aspeto positivo como resultado das inúmeras campanhas de informação

sensibilização realizadas por parte da VAMORMED juntamente com as farmácias reflete um

aumento nas taxas de recolha destes resíduos, de ano para ano. [23]

1.3. DESCRIÇÃO DO PROJETO E OBJETIVOS

Os objetivos inicialmente propostos para este projeto são:

➢ Quantificar o número de embalagens com restos no interior, de MSRM e

MNSRM colocadas no VALORMED;

➢ Quantificar a entrega de MSRM e os MNSRM;

➢ Quantificar a entrega de MSRM com validade e com validade expirada;

➢ Quantificar a entrega de MNSRM com validade e com validade expirada;

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➢ Verificar o valor do PVP desses medicamentos.

➢ Analisar se há algum padrão nos resíduos de medicamentos, ou seja, se

haveria alguma classe terapêutica mais notória.

Assim para a concretização destes, durante dois meses, sempre que o contentor

VALORMED estava cheio era posto de parte, para que antes de seguir para o armazenista,

pudesse abri-lo e com as devidas medidas de segurança, através da utilização de luvas

descartáveis, pudesse verificar cada embalagem individualmente (anexo 1).

A verificação de cada embalagem exigia a análise de três parâmetros:

1. Verificar se era um MSRM ou um MNSRM e se continha restos de medicamentos;

2. Verificar se estava ou não no prazo de validade;

3. Verificar o PVP de cada embalagem.

Desta forma, criei duas tabelas em Excel, uma que contabilizasse os MSRM e os

MNSRM com validade e com validade expirada, e outra tabela com os PVP.

No que respeita aos PVP, iria ser difícil registar cada um individualmente, desta forma

estabeleci intervalos de PVP, nomeadamente, (< 10€, [10-20€], [20-30€], [30-40€], [40-50€] e

> 50€), e penso que desta forma, conseguirei perceber para a amostra recolhida o valor

aproximado.

1.4. RESULTADOS

Com recurso ao programa informático Excel, criei uma primeira tabela onde o objetivo

era registar e dividir a contagem das embalagens que continham medicamentos e categorizar

por MSRM e MNSRM com e sem validade. A segunda tabela contabilizei os PVP das

embalagens segundo o intervalo de PVP estabelecido nos objetivos.

No espaço de 2 meses abri 16 contentores VALORMED e o número final de

embalagens contabilizadas de medicamentos fora de uso foram de 378 embalagens, 307 de

MSRM e 71 de MNSRM.

TABELA 1: NÚMERO DE EMBALAGENS DEPOSITADAS NO CONTENTOR VALORMED.

Contabilização

VALORMED 12/09/2019 14/09/2019 01/10/2019 18/10/2019 02/11/2019 07/11/2019 10/11/2019

Total de

embalagens

MSRM com

validade 24 64 9 24 14 8 5 148

MSRM com

validade expirada 12 28 83 36 159

MNSRM com

validade 5 1 3 3 12

MNSRM com

validade expirada 15 9 26 9 59

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TABELA 2: VALOR PVP DAS EMBALAGENS DEPOSITADAS NO CONTENTOR

VALORMED.

PVP 12/09/2019 14/09/2019 18/10/2019 02/11/2019 07/11/2019 10/11/2019 Total de

embalagens

PVP > 50€ 1 2 1 4

PVP 50€ - 40€ 3 3 2 3 11

PVP 40 - 30€ 4 2 7

PVP 30 - 20€ 5 1 13 3 23

PVP 20 - 10€ 22 15 30 13 88

PVP < 10€ 21 42 90 46 8 2 245

aaaa

aaaa

FIGURA 1: COMPARAÇÃO GRÁFICA DAS VARIÁVEIS EM ESTUDO.

Pela análise da figura 1, podemos verificar que neste período de tempo os MSRM

foram os mais encontrados com 81% comparativamente aos MNSRM que representavam

19% desta amostra.

Dentro dos MSRM a diferença entre os com e sem validade apresenta uma diferença

ténue, em que nesta amostra 48% dos MSRM ainda estava com resíduos e na validade

81%

19%

MSRM

MNSRM 48%52%

MSRM comvalidade

MSRM comvalidadeexpirada

17%

83%

MNSRM comvalidade

MNSRM comvalidadeexpirada

1%3% 2%6%

23%65%

PVP > 50€

PVP 50€-40€

PVP 40-30€

PVP 30-20€

PVP 20-10€

PVP < 10€

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quando rejeitados. Nos MNSRM essa proximidade já não se verifica, uma vez que a maioria

dos MNSRM, 83%, já estava com a validade expirada.

Aquando da análise do PVP, foi possível verificar que a percentagem maior do PVP

dos medicamentos era inferior a 10€, 65%, seguindo se 23% do PVP [20-10€], 6% do PVP

[30-20€], 2% do PVP [40-30€], 3% do PVP [50-40€] e 1% do PVP > 50€.

1.5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

Com a reunião destes dados, muitas questões poderão ser colocadas. Uma vez que a

diversidade farmacoterapêutica era percetível aquando da análise dos resíduos no contentor

da VALORMED, na medida em que, desde antibióticos, anti-inflamatórios, diuréticos,

analgésicos, anti-hipertensores, entre outros grupos terapêuticos, como poderíamos, nós

farmacêuticos ajudar a evitar tanto desperdício?

Um dos objetivos inicialmente propostos passava pela análise farmacoterapêutica, no

entanto, não foi concretizado, uma vez que depois de abrir o primeiro contentor percebi que

a diversidade farmacoterapêutica era tal, que o que realmente era importante para este

projeto era avaliar e quantificar se os medicamentos entregues estavam ou não na validade

ou se se tratavam apenas de embalagens vazias (anexo 2).

Pela análise do resumo do relatório de atividades da VALORMED do ano 2018: “foram

recolhidas 1.115,55 toneladas de resíduos de embalagens de medicamentos, registando-se

um crescimento global de 7,54% em relação ao ano anterior, dos quais 94,2% procederam do

subsistema das Farmácias Comunitárias e 5,8% do subsistema da Veterinária”. Só no

primeiro semestre deste ano de 2019, já foram recolhidas 595,13992 toneladas de resíduos

de embalagens de medicamentos. No entanto, não podemos deixar de incluir que destes

valores fazem parte: embalagens de papel e cartão, embalagens plásticas e de vidro,

embalagens de medicamentos veterinários biológicos e material não reciclável. [24]

Em 2008, e segundo artigo publicado pela revista Visão: “PSD, BE e PCP concordam

com a comercialização generalizada de medicamentos por unidose”, posteriormente

chumbada pelo PS, que propunha para a redução do desperdício de medicamentos, a

prescrição por DCI e da dispensa em ambulatório de fármacos em unidose, isto é, pretendiam

que o médico prescrevesse a substância ativa e atribuir ao utente a opção de escolha entre

medicamento de marca ou pelo genérico. [26] Mas seria esta medida comparativamente à

dispensa da medicação em unidose uma mais valia para o Estado e principalmente para o

utente?

O mesmo artigo publica a opinião da deputada do CDS-PP, Teresa Caeiro que afirma:

"é inconcebível que, por falta de vontade política, uma medida justa que não penaliza ninguém

e permite poupar dinheiro ao Estado e aos utentes continue por concretizar. Se os médicos

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passassem a prescrever em unidose seria um sucesso a todos os níveis: os consumidores só

comprariam os medicamentos de que precisam e o Estado só comparticiparia o estritamente

necessário para a cura". [26]

Para além das diversas opiniões políticas, a indústria farmacêutica considera que esta

forma de dispensa de medicamentos “poderia acarretar um perigo para a saúde pública”, uma

vez que não estão garantidas as condições de segurança e qualidade, também pelo facto de

a maioria das doenças serem crónicas, pelo desajuste das embalagens e por fim, por falta de

adesão à terapêutica por parte dos utentes. [26]

Atualmente, a dispensa de medicamentos em unidose é exclusiva dos hospitais,

contudo, em 2018 foi publicada a portaria n.º 97/2018 de 9 de abril, que “prevê que as

farmácias possam prestar serviços farmacêuticos e outros serviços de saúde e de promoção

do bem-estar dos utentes”. Assim as farmácias comunitárias passam a poder ter um papel

ainda mais ativo junto do utente podendo desenvolver “programas de adesão à terapêutica,

de reconciliação da terapêutica e de preparação individualizada de medicamentos”. [27]

Neste sentido a Ordem dos Farmacêuticos, publica a Norma Geral para a Preparação

Individualizada da Medicação (PIM) cujo objetivo passa por definir um procedimento seguro

e de qualidade para a prestação deste serviço. Uma vez que muitas farmácias comunitárias

para além dos utentes que conseguem dirigir-se diretamente ao balcão, muitas fazem já o

apoio a lares, cuidadores de idosos, centros de dia, que por não terem serviços farmacêuticos,

veem neste serviço um apoio seguro para administração da medicação aos seus utentes. [28]

A PIM pode recorrer a diferentes mecanismos, através de dispositivos

multicompartimentais, dispositivos de auxílio à administração, mas o mais importante será

permitir ao farmacêutico fazer a organização da medicação do utente de forma a auxilia-lo e

permitir gerir melhor a sua medicação, quer a nível de custos bem como facilitar adesão à

terapêutica. [28]

Efetivamente e foi percetível durante o decorrer do estágio, muitos utentes, claro que

na sua maioria idosos, aquando da compra dos seus medicamentos, muitos optaram por aviar

a receita por completo, outros pelo facto de terem medo que os medicamentos esgotem ou

até acabem. Esta atitude acarreta muitos custos quer para o utente como para o Estado. São

inúmeras as razões que conduzem a este comportamento, fatores relacionados com o utente,

como o seu perfil psicossocial, comorbidades, capacidade cognitiva e crenças em saúde;

contudo o que posteriormente acontece, é que perante o número de medicamentos tomados

diariamente, efeitos adversos que possam surgir, complexidade terapêutica, a consulta a

diferentes médicos e inclusive diferentes farmácias, levam a que muitos utentes acumulem

em casa quantidades enormes de medicamentos. [30]

A criação deste serviço constitui uma mais valia para a redução dos custos com

medicamentos, como no combate ao desperdício, uma vez que, permite uma melhor gestão

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e planeamento da quantidade de medicamentos utilizados bem como possibilitar uma

abordagem que garanta que o utente efetivamente toma a medicação. Sabe-se que a maioria

dos utentes que tenham que seguir uma medicação crónica, mais cedo ou mais tarde, não

cumprem ou mesmo abandonam a terapia. Assim, a fim de promover a participação mais ativa

do utente, têm que existir medidas válidas e confiáveis para garantir a maior adesão à

terapêutica e combater o desperdício. [29]

A prática da PIM em farmácia comunitária é muito recente em Portugal, e os estudos

realizados têm como objetivo perceber se este serviço permite uma maior adesão à

terapêutica e compreender, se isso tem consequências na análise de biomarcadores clínicos

dos pacientes, como fez o estudo realizado pelo Grupo de Farmacologia e Cuidados

Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. [30]

Contudo ainda fica por esclarecer se esta é ou não a única medida que pode ser

tomada no combate ao desperdício de tantos medicamentos como os contabilizados neste

projeto.

Em 2010, numa entrevista ao jornal Público, João Cordeiro, antigo presidente da ANF

afirma: “a unidose é, antes de mais, uma forma de combate ao desperdício de medicamentos”,

prática já exercida em países na Europa como a Dinamarca, Finlândia, Holanda, Irlanda,

Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Alemanha e Áustria. João Cordeiro propôs inclusive:

“ao INFARMED a realização de um estudo que monitorizasse os ganhos económicos e em

saúde com a dispensa de medicamentos em unidose”, estudo que não foi realizado e que

infelizmente não permite que Portugal tenha dados possam ajudar à discussão deste projeto.

Na mesma entrevista, instala ainda a questão do tamanho das embalagens e de como estas

variam nas suas quantidades de país para país, colocando em ênfase mais uma vez do quanto

é urgente avaliar este sistema, uma vez que este já é aplicado nas farmácias hospitalares por

exemplo para doentes em ambulatório como os com o vírus da imunodeficiência humana

(VIH). [31]

A Dinamarca é um país em que todas as farmácias dispensam medicamentos em

unidose desde 2003. A agência do medicamento da Dinamarca dispõe online a lista dos

medicamentos que podem ser dispensados em unidose. Este serviço é válido quer para

indivíduos, instituições e empresas prestadoras de cuidados de saúde bem como pacientes

que recebam tratamento hospitalar. [32]

O Reino Unido é outro país que põe em prática a dispensa de medicamentos em

unidose, para além de que as farmácias são remuneradas por um conjunto alargado de

serviços, como vacinação, apoio ao viajante, cessação tabágica, monitorização de peso,

saúde sexual, combate ao alcoolismo e toxicodependência. Neste país, os farmacêuticos que

trabalham em farmácias comunitárias são os primeiros a contactar com os utentes ajudando-

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os por exemplo, a melhorar adesão a novos medicamentos, ajudando diabéticos, asmáticos,

hipertensos e outros doentes aderir bem a planos terapêuticos. [51]

Tendo como referência, por exemplo a Dinamarca e o Reino Unido, e presenciando

hoje a realidade portuguesa e o contacto com uma enorme diversidade de utentes não restam

dúvidas de que a dispensa de medicamentos em unidose, terá que tornar-se em breve numa

realidade e não uma utopia. A adesão à terapêutica, principalmente em doentes crónicos, a

diminuição dos custos de saúde, nomeadamente em medicação e cuidados de saúde

primários e o acompanhamento farmacoterapêutico personalizado são sem dúvida mais valias

para todos os utentes.

2. INTRODUÇÃO DA CANÁBIS NO MERCADO DOS MEDICAMENTOS E SUPLEMENTOS

ALIMENTARES EM PORTUGAL.

2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Os produtos de cannabis tornaram-se cada vez mais diversificados e divulgados. Nest

momento para além dos suplementos alimentares à base de canábis, já estão disponíveis na

indústria cosmética, cremes hidratantes, exfoliantes, ou então em cremes anti-inflamatórios à

base de canábis (anexo 3). E foi esta diversidade de produtos que surgiu durante o estágio

que conduziu à necessidade de aprofundar os conhecimentos científicos sobre a planta C.

sativa e numa pequena formação ajudar todos os colaboradores a perceber e relembrar todos

os conteúdos necessários para um melhor aconselhamento, uma vez que, as questões por

parte dos utentes eram diárias e muito curiosas: “a farmácia já vende droga?”. [46]

2.2. CÂNHAMO INDIANO (CANNABIS SATIVA)

A história do Cânhamo indiano (Cannabis sativa) remonta aos tempos antigos e a sua

primeira menção data cerca de 3000 A.C. no tempo do imperador chinês Shen Nong. Não

podemos esquecer que as plantas pelas suas ações terapêuticas foram durante muito tempo

utilizadas para o tratamento de muitas doenças, e neste caso em concreto, a Cannabis sativa

era utilizada no tratamento de dores reumáticas, problemas intestinais, malária e problemas

no sistema reprodutor feminino. [33]

Esta planta pode ser cultivada em diversas zonas geográficas com a vantagem de se

adaptar em climas quentes como temperados, inclusive secos, sempre que tenha o

necessário abastecimento de água. Por todas estas características esta planta pode integrar-

se num novo ecossistema. A Espanha na primeira metade do século passado foi considerada

a principal produtora, contudo ultrapassada pelos Estados Unidos, atualmente principais

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produtores mundiais. Assim, foi pela mão do Homem que esta se espalhou por todo o mundo,

tornando-se bastante popular pelos seus efeitos psicoativos. [34]

O crescente interesse científico pela canábis bem como pelos seus efeitos medicinais

e recreativos conduziram a vários estudos sobre a sua utilidade e sobre os seus constituintes,

os canabinóides. Sabe-se que pode ter vantagens terapêuticas como anti-eméticos,

estimulantes do apetite, analgésico, e no alívio da dor neuropática em doentes com esclerose

múltipla. [33]

Hoje, a canábis constitui a droga ilícita mais amplamente utilizada na União Europeia,

e representa 38% de todo o dinheiro gasto no mercado de drogas ilícitas. Entre os adultos (15

a 64 anos), estima-se que 24,7 milhões (7,4%) usaram canábis no último ano. Os dois

principais produtos de canábis usados na Europa são cannabis de ervas (maconha) e resina

de cannabis (haxixe). [35]

2.3. CANABINÓIDES

A Cannabis sativa pertence à família Moraceae, à ordem das urticales e à família das

canabináceas. É considerada uma planta dióica cujos pés apresentam, pés masculinos e pés

femininos, sendo estes últimos de maior tamanho e maior diâmetro. A planta feminina contém

maior quantidade de canabinóides comparativamente à planta masculina, sendo que esta

última apresenta um tempo de vida mais curto, morrendo logo a seguir à libertação do pólen,

enquanto que a planta feminina só morre após o amadurecimento das sementes. [36]

As substâncias psicoativas da canábis, os canabinóides, estão localizadas por toda a

planta, sendo que o principal princípio ativo da canábis é o Δ-9-tetra-hidrocanabinol (Δ9-THC),

seguido do canabinol (CBN), o canabidiol (CBD) e o Δ-8-tetra-hidrocanabinol (Δ8-THC). As

estruturas químicas encontram-se representadas na Figura 2, e apesar de semelhantes

podem ter diferentes ações farmacológicas. Outros análogos farmacologicamente

importantes são os ácidos canabinóides, canabigerol e canabivarinas. Além destes, outros

componentes, como os monoterpenóides mirceno, limoneno e pineno e o sesquiterpenóide

β-cariofileno, também podem mediar os efeitos farmacológicos da canábis. [36, 50]

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Figura 2 - Estrutura química dos canabinóides naturais mais representativos na Cannabis

sativa. [36]

2.4. MECANISMO DE AÇÃO DOS CANABINÓIDES

A descoberta de recetores canabinóides, CB1 e CB2 é recente (fim do século XX) e

veio alertar para a existência de canabinóides endógenos, com uma função fisiológica

específica. A ampla distribuição de recetores canabinóides no corpo humano sugere que

estes desempenham um papel importante na regulação das funções vitais. [35,36]

Os recetores CB1 localizam-se em estruturas neurológicas centrais (tálamo, medula,

etc.) e nos gânglios das raízes dorsais. Estão presentes a nível do fígado, pâncreas, pele,

coração, pulmão, vasos sanguíneos, trato urogenital e gastrointestinal. Os recetores CB2

localizam‑se a nível periférico, expressando‑se nos macrófagos, mastócitos, monócitos e

linfócitos, podendo também ser induzidos nas células da microglia (mas não em neurónios do

SNC) em determinadas situações patológicas. Estes pertencem à família de recetores

acoplados à proteína G, especificamente do tipo inibitório, e sua ativação está diretamente

envolvida no controle da neurotransmissão do ácido gama-aminobutírico (GABA) e

glutamatérgica no caso do CB1, na modulação do sistema imunológico e neuroinflamação no

caso do recetor CB2. A localização destes recetores em várias regiões do cérebro influencia

o prazer, a memória, a concentração, a perceção sensorial e temporal, bem como o

movimento coordenado. Daí o interesse no estudo deste sistema e as múltiplas funções nas

quais ele participa. [36]

O Δ9-THC é o principal componente psicoativo da canábis e funciona principalmente

como agonista parcial dos recetores CB1. É a este composto que se atribui os efeitos

“populares” associados ao consumo de canábis, como efeitos na dor, aumento do apetite,

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digestão, emoções e processos mediados pelo sistema endocanabinóide. Quanto aos

eventos psicoativos adversos podem ser causados por THC, dependendo da dose e da

tolerância anterior do paciente. Este pode causar comprometimento da memória, ansiedade

e alucinações. [35, 50]

O CBD é o segundo canabinóide mais abundante produzido na planta C. sativa, e

constitui o principal componente fitocanabinóide não psicoativo. O CBD, por sua vez, tem

pouca afinidade pelos recetores CB1 e CB2 e atua como antagonista parcial CB1 e como um

agonista CB2 inverso fraco. Este fitocanabinóide não é tóxico e existem já estudos que

demonstram a sua importância terapêutica como em doentes com epilepsia. O CBD pode, por

sua vez compensar alguns dos efeitos tóxicos do Δ9-THC, como comprometimento da

memória e as alucinações, sem alterar a sensação tão desejada de relaxamento. Algumas

evidências sugerem que o equilíbrio entre Δ9-THC e CBD pode contribuir para diminuir o nível

de dano causado pelo uso prolongado de cannabis. [35, 50]

Há ainda referência para o CBD de outros mecanismos não recetores CB1, como

agonismo no recetor serotonina 1A (ou 5-TH1A), recetor vanilóide 1 (TRPV1) e recetora

adenosina A2A. A combinação de THC e CBD com outros fitocanabinóides e outros

componentes, como terpenóides e flavonóides, na cannabis pode ter um efeito sinérgico no

tratamento da dor. [50]

O CBN também possui propriedades psicoativas, mas inferiores ao Δ9-THC. Este

canabinóide tem maior afinidade para o recetor CB2 (recetor periférico dos canabinóides) do

que para o recetor CB1 (recetor do sistema nervoso central), este facto explica a sua

participação no sistema imune. O CBD é um canabinóide sem ação psicoativa, contudo,

existem estudos que descrevem a sua capacidade neuroprotetora resultante do seu poder

antioxidante contra os radicais livres de oxigénio (ROS) produzidos nos neurónios por

libertação excessiva de glutamato. Outros estudos referem a sua capacidade anti-inflamatória,

sobre o sistema imune e anti convulsivante. O Δ8-THC aparece somente em algumas

variedades de plantas da canábis, e apresenta um pequeno poder psicoativo e um elevado

efeito antiemético. [36]

2.5. USO MEDICINAL DA CANÁBIS

2.5.1. Medicamentos à base de canábis

O potencial terapêutico dos canabinóides desde há muito tempo é conhecido. Contudo

nunca como hoje se ouviu falar tanto de canábis e da sua utilização farmacêutica. Esta

“explosão” de novos produtos comercializados à base de C. sativa levanta dúvidas

relacionadas sobre que tipo de compostos estão a ser utilizados e de que parte são extraídos

da planta, uma vez que isso condiciona a respetiva composição. Os fitocanabinóides são os

mais difundidos, é o caso do Δ9-THC e o CBD, são extraídos das flores e folhas da planta,

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juntamente podem ser extraídos compostos terpénicos como o β-cariofileno (BCP) e o

limoneno. As sementes por sua vez contem quantidades mínimas ou nulas de

fitocanabinóides, sendo predominantemente ricas em ácidos gordos essenciais como o

ómega-3 e ómega-6, quantidades mínimas de ácido ץ-linolénico e outros antioxidantes. A

tabela 3 mostra as diferenças dos constituintes que podem ser extraídos da C. sativa. [38]

Tabela 3: Óleo das sementes de cânhamo, CBD e canábis. (adaptado) [38]

Óleo da semente de

cânhamo Óleo de cânhamo/ CBD Óleo de canábis

Parte da planta extraída

Sementes Flores e folhas da planta do

cânhamo Flores e folhas de

maconha

Componentes principais

Ácidos gordos ómega-3 e ómega-6, ácido ץ-

linolénico e antioxidantes

Principalmente CBD e BCP com outros

fitocanabinóides e compostos terpénicos em

menor quantidade

Principalmente THC com alguns CBD e

outros fitocanabinóides e terpenóides

Níveis de THC Nenhum < 0,3% do peso seco

> 0,3% de peso seco (geralmente,

quantidades muito altas, como 80%)

Níveis de CBD Pouco ou nenhum

Mais do que a média de plantas de canábis (12% -

18% CBD, geralmente maior devido ao

enriquecimento pós-extração).

Níveis mais baixos (10% -15%)

Utilização Suplementos

nutricionais, produção de fibras e roupa.

Usos medicinais de CBD e óleos de cânhamo.

Utilizações medicinais de THC.

No que respeita aos suplementos alimentares, por exemplo, as diferentes

apresentações comercializadas, quer na forma farmacêutica de cápsulas ou como óleos

enriquecidos com CBD na forma de gotas orais ou cremes, para além dos fitocanabinóides

podem conter outros compostos, como por exemplo, lúpulo, açafrão, equinacea, entre outros,

e por essa diversidade de compostos, pode haver dificuldade em perceber qual o composto

efetivamente responsável pelo efeito. [38]

O Δ9-THC e o CBD são à partida os compostos da qual se esperam os efeitos, uma

vez que já há muito tempo são alvo de vários estudos de modo a perceber como atuam. De

uma forma geral, o Δ9-THC possui indicação terapêutica como antiemético e antinociceptivo.

O CBD está direcionado na terapêutica como antiepilético, anti nociceptivo, anti-inflamatório,

ansiolítico, antidepressivo, condições dermatológicas inflamatórias, neuroprotetor. [38]

O β-cariofileno, quimicamente um sesquiterpenóide, pode ser também encontrado, na

pimenta preta, alecrim e lúpulo, liga-se aos recetores CB2 e tem propriedades ansiolíticas e

antinociceptivo. O limoneno quimicamente um terpenóide com atividade antioxidante e

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antitumural, exerce a sua atividade através da indução da glutationa. Pode também ser

encontrado em frutas cítricas e no alecrim. [38]

Estes são os dados mais abrangentes acerca dos principais constituintes da C.sativa,

uma vez que a maioria dos estudos incide sobre o Δ9-THC e sobre os seus efeitos psicoativos,

comparativamente com o CBD.

2.5.2. Introdução no mercado Português de medicamentos à base de canábis

O Decreto-Lei n.º 8/2019 de 15 de janeiro descreve a Lei n.º 33/2018, de 18 de julho,

que estabelece o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias

à base da planta da canábis para fins medicinais e autoriza a sua prescrição e dispensa em

farmácia (a «Lei da Canábis para Fins Medicinais»). [40]

Esta lei esclarece que “medicamentos, preparações e substâncias à base da planta de

canábis para fins medicinais, as folhas e sumidas floridas ou frutificadas da planta, o óleo e

outros extratos padronizados ou conseguidos a partir da planta da canábis, prescritos por um

médico, mediante receita médica, com o objetivo de explorar as suas propriedades

medicinais”. [40,41]

A avaliação, acompanhamento e supervisão por parte do médico especializado é

fundamental, uma vez que a prescrição destes medicamentos se encontra limitada:

➢ Aos medicamentos, preparações e substâncias autorizadas pelo INFARMED e

disponibilizadas no seu sítio na Internet (Infomed);

➢ A casos em que os tratamentos convencionais em medicamentos autorizados não

produziram os efeitos esperados ou provocam efeitos adversos relevantes;

➢ Às indicações terapêuticas listadas na Deliberação nº11/CD/2019:

a) Espasticidade associada à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula;

b) Náuseas, vómitos (resultante da quimioterapia, radioterapia e terapia combinada

de HIV e medicação para hepatite C);

c) Estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes sujeitos a tratamentos

oncológicos ou com SIDA;

d) Dor crónica (associada a doenças oncológicas ou ao sistema nervoso, como por

exemplo na dor neuropática causada por lesão de um nervo, dor do membro

fantasma, nevralgia do trigémio ou após herpes zoster);

e) Síndrome de Gilles de la Tourette;

f) Epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como as

síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut;

g) Glaucoma resistente à terapêutica. [41, 42]

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Para a introdução destes medicamentos no mercado farmacêutico português, as

empresas estão sujeitas a uma autorização por parte do INFARMED de forma a garantir a

qualidade e segurança destes medicamentos. [40,41]

No que respeita à prescrição deste medicamento, é feita mediante uma receita médica

em formato eletrónico, que deve conter a identificação do utente e do médico, a identificação

do medicamento, preparação e substância à base da planta de canábis a ser dispensado, a

quantidade e a posologia, a via e modo de administração. O médico deve comunicar de forma

clara e objetiva todas a informações e instruções necessárias à correta utilização deste

medicamento. [41]

Quanto à dispensa em farmácia comunitária, este segue as regras aplicáveis aos

medicamentos psicotrópicos e estupefacientes, sendo necessária apresentação obrigatória

da receita médica e da identidade do adquirente. [41]

Assim um ano depois da entrada em vigor desta lei em Portugal, em agosto de 2019

chega à farmácia comunitária o primeiro medicamento à base de canábis, o Sativex®. [41]

Relativamente ao Sativex® não foi possível durante o período de estágio contactar com

a prescrição deste medicamento, no entanto, através do Infomed é possível ter acesso ao

folheto informativo e resumo das características do medicamento. Sativex® apresenta-se na

forma farmacêutica de solução para pulverização bucal e pertence à classe

farmacoterapêutica, sistema nervoso central, analgésicos e antipiréticos. Quanto à

composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, este é composto por 27 mg/ mL

de Δ9-THC e 25 mg/ mL de CBD. Sativex® está indicado como tratamento para a melhoria dos

sintomas em doentes adultos com espasticidade moderada a grave devida a esclerose

múltipla (EM), que não responderam de forma adequada a outra medicação antiespástica e

que demonstraram uma melhoria clinicamente significativa dos sintomas relacionados com a

espasticidade durante um ensaio inicial da terapêutica. [43,44]

Sobre o mecanismo de ação, os recetores canabinóides CB1 e CB2 já anteriormente

referido localizam-se nas terminações nervosas onde desempenham um papel na regulação

retrógrada da função sináptica. Assim, o Δ9-THC atua como agonista parcial a nível dos

recetores CB1 e CB2, simulando os efeitos dos endocanabinóides, os quais podem modular

os efeitos dos neurotransmissores, promovendo por exemplo a diminuição dos efeitos dos

neurotransmissores excitatórios como o glutamato, provocando ação relaxante. [44]

Sobre a segurança dos medicamentos contendo compostos canabinóides, sabe-se

que em geral, são bem tolerados e os efeitos adversos relatados mais comuns são tonturas

e fadiga. Contudo se existir suspeita de uma reação adversa detetada pelo utente esta deve

ser comunicada pelo próprio a um profissional de saúde. [41]

Com autorização em Portugal, desde setembro deste ano, está o medicamento

Epidyolex®, cujo princípio ativo é o CBD. Apresenta-se na forma de solução oral e cada ml de

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solução oral contém 100 mg de CBD. As indicações terapêuticas deste diferem do anterior

assim, este está indicado para utilização como terapêutica adjuvante de crises associadas à

síndrome de Lennox-Gastaut (SLG) ou síndrome de Dravet (SD) em associação com

clobazam, para doentes a partir dos 2 anos. O Epidyolex® pertence ao grupo

farmacoterapêutico: antiepiléticos, outros antiepiléticos, e os mecanismos precisos pelos

quais o CBD exerce os seus efeitos anticonvulsivantes em humanos são desconhecidos. O

CBD não exerce o seu efeito anticonvulsivo através da interação com recetores de

canabinóides. Este reduz a hiperexcitabilidade neuronal através da modulação do cálcio

intracelular através de canais do recetor 55 acoplado à proteína G (GPR55) e do recetor de

potencial transitório do tipo vanilóide 1 (TRPV1), bem como modulação de sinalização

mediada por adenosina através da inibição da captação da adenosina através do

transportador de nucleosídeos 1 equilibrativos (ENT-1). [45]

2.5.3. Suplementos alimentares, produtos de saúde e dermocosmética com canábis na

sua composição

Atualmente existe uma tendência internacional para a introdução de produtos no

mercado como suplementos alimentares, indústria cosmética, que contém óleo das sementes

de C. sativa, cujo principal ingrediente, é o CBD. Uma vez que este não possui os efeitos

psicoativos estimulantes do Δ9-THC, a sua utilização por exemplo, em suplementos

alimentares tem como objetivo a sua ação relaxante, podendo ser utilizado para o alívio da

dor, diminuição da ansiedade e melhorar a qualidade do sono. [37, 38]

Em Portugal, no que respeita aos suplementos alimentares estes estão sobre as

normas da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), entidade reguladora dos

géneros alimentícios, que estabelece que apenas o pó e o óleo das sementes da planta C.

sativa com um teor inferior a 0,2% de THC podem ser utilizados em géneros alimentícios.

Perante a legislação em vigor, os suplementos alimentares destinam-se a complementar ou

a suplementar uma alimentação normal. Não podem ser considerados medicamentos e por

isso, não podem alegar propriedades profiláticas, de prevenção ou cura de doenças, nem

fazer referência a essas propriedades. O lado menos positivo relaciona-se com as empresas

que comercializam os suplementos alimentares com C. sativa, uma vez que apesar destes

apresentarem uma pequena quantidade de THC, o marketing promove-os como produtos

proporcionadores de bem-estar geral, dadores de óleo essenciais, indicados para os ossos,

coração ou emagrecimento. [41, 46]

Para além dos suplementos alimentares, neste momento o CBD encontra-se presente

em inúmeros outros produtos, como em cosmética em cremes anti idade e exfoliantes, cremes

anti-inflamatórios, etc. No entanto, coloca-se a questão se estes produtos são ou não

seguros? [37]

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Ainda muito recente, foi notícia na comunicação social, a contaminação com

Escherichia coli (E. coli) num suplemento alimentar “Cannabis” do laboratório Bioceutica. O

Observatório Português de Cannabis Medicinal mandou analisar o óleo que está no interior

das cápsulas do suplemento alimentar, e no controlo microbiológico foi detetado a presença

desta bactéria. [47]

A EFSA (European Food Safety Authority) – Autoridade Europeia para a Segurança

dos Alimentos, tem como principal objetivo a proteção da saúde pública e o reforço da

confiança dos consumidores na cadeia alimentar europeia. A EFSA preocupa-se com a

segurança de todos os géneros alimentícios, onde se incluem os suplementos alimentares e

para isso, estuda todas as substâncias neles utilizadas. Para não suscitar dúvidas acerca da

qualidade e segurança, importante que a empresa produtora cumpra as regras da EFSA, e

que os laboratórios onde são produzidos cumpram as Boas Práticas de Fabrico (GMP). [46]

No entanto, não é só nos suplementos alimentares que o CBD é tendência, mas na

indústria cosmética este é o “ingrediente” do momento. Um estudo publicado no Journal of

Clinical Investigation revela as propriedades anti-acne do CBD. Neste estudo mostrou-se

como o CBD constitui um agente sebostático na glândula sebácea humana. O sistema

endocanabinóide regula múltiplos processos fisiológicos, incluindo crescimento e

diferenciação cutânea das células. Este é o ponto de partida para administração de CBD numa

cultura de sebócitos humanos e onde se verificou que este inibiu as ações lipogénicas de

vários compostos, como o ácido araquidónico e uma combinação de ácido linoléico e

testosterona. O CBD também exerceu ação anti-inflamatória, e que permite concluir que este

composto tem potencial como agente terapêutico no tratamento da acne vulgar. [48, 50]

O CBD demonstra ainda um potencial antioxidante como revela um estudo realizado

em 2011, ainda que inferior comparativamente às suas propriedades anti-inflamatórias. Neste

estudo pretendia-se verificar o CBD como estratégia terapêutica emergente para diminuir o

impacto da inflamação no stresse oxidativo, uma vez que estas duas condicionantes estão na

origem de muitas doenças humanas, como obesidade, síndrome metabólico, aterosclerose,

entre outras. O CBD devido à sua ação anti-inflamatória nas células imunes, como

macrófagos e micróglia e aliado ao facto de não exercer efeitos psicotrópicos parece

promissor para o desenvolvimento de novos medicamentos. [49]

Outro produto já comercializado constitui um creme para o alívio da dor muscular e

articular aguda ou crónica. As diferentes propriedades terapêuticas dos canabinóides foi

descrita ao longo deste projeto e por isso não será de estranhar que aplicação tópica deste

componente será igualmente uma promissora no mercado farmacêutico, uma vez que estes

compostos apresentam baixa biodisponibilidade oral. Por isso vários estudos estão sendo

feitos de forma a estudar outras vias de administração, como aplicação tópica, via

transdermica, etc. Contudo, a natureza altamente lipofílica dos canabinóides significa que

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estes são vistos como candidatos adequados para sistemas avançados de administração de

medicamentos nanodimensionados, que podem ser aplicados por várias vias. [50]

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da realização deste relatório profissionalizante, procurei descrever e explicar

todos os aspetos que achei relevantes sobre o de funcionamento de uma farmácia comunitária

e demonstrar o papel ativo da intervenção do farmacêutico em todas as suas áreas de

conhecimento.

É importante para nós enquanto farmacêuticos, sermos pró-ativos, e não nos limitar

apenas à dispensa de medicamentos, sem nos preocupar em manter uma boa comunicação

com o utente que está perante si e fornecer um aconselhamento adequado.

As atividades desenvolvidas numa farmácia não têm nada de monótono e não pode

ser considerado um trabalho em que existe uma rotina. Todos os dias existe um trabalho muito

diversificado, novas aprendizagens, e o farmacêutico pode efetuar diferentes tarefas ao longo

do dia.

No entanto a atividade primordial e que só podemos por em prática nesta fase é a

relação com os utentes, muitos deles, idosos e que procuram em nós não só uma fonte de

informação segura que transmite confiança, mas também um conselheiro e confidente. São

os utentes que dão vida à farmácia, devendo o farmacêutico estar consciente da sua

importância na sociedade, adotando uma postura sempre profissional, mas também de amigo.

Estes seis meses são sem dúvida, uma mais valia, permitindo-me o contacto com a

realidade profissional e fundamental para a formação de um recém-licenciado em Ciências

Farmacêuticas, que aprende e põe em prática a sua profissão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Diário da República Eletrónico. Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de agosto - No uso da

autorização legislativa concedida pela Lei n.º 20/2007, de 12 de junho, estabelece o regime

jurídico das farmácias de oficina. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/641148

[consultado a 5 de outubro de 2019].

[2] Diário da República Eletrónico. Decreto-Lei n.º 171/2012 de 1 de agosto - Procede à

segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de agosto, que estabelece o regime

jurídico das farmácias de oficina. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/179072

[acedido a 5 de outubro de 2019].

[3] Diário da República Eletrónico. Decreto-Lei nº176/2006 de 30 de agosto - Estabelece o

regime jurídico dos medicamentos de uso humano, transpondo a Diretiva n.º 2001/83/CE, do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 6 de Novembro, que estabelece um código

comunitário relativo aos medicamentos para uso humano, bem como as Diretivas n.os

2002/98/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Janeiro, 2003/63/CE, da

Comissão, de 25 de Junho, e 2004/24/CE e 2004/27/CE, ambas do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 31 de Março, e altera o Decreto-Lei n.º 495/99, de 18 de Novembro. Disponível

em: https://dre.pt/application/conteudo/540387 [acedido a 5 de outubro de 2019].

[4] Diário da República Eletrónico. Portaria n.º 224/2015 de 27 de julho - Estabelece o regime

jurídico a que obedecem as regras de prescrição e dispensa de medicamentos e produtos de

saúde e define as obrigações de informação a prestar aos utentes. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/69879391 [acedido a 5 de outubro de 2019].

[5] INFARMED: Normas relativas à prescrição de medicamentos e produtos de saúde, 2012.

Disponível em:

https://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/Normas_Prescri%C3%A7%C3%A3o/bcd0

b378-3b00-4ee0-9104-28d0db0b7872 [acedido a 7 de outubro de 2019].

[6] Associação Nacional de Farmácias. Circular n.º 1031-2019 – Disponível em: ANF online.

[acedido a 5 de novembro de 2019].

[7] Associação Nacional de Farmácias. Circular n.º 0892-2019 – Disponível em: ANF online.

[acedido a 22 de setembro de 2019].

[8] Diário da República Eletrónico: Decreto Lei nº15/93, de 22 de janeiro – Revê a legislação

de combate à droga. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/585178 [acedido a 11

de outubro de 2019].

[9] Diário da República Eletrónico: Decreto Lei n.º 45/96, de 3 de setembro - Altera o Decreto-

Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro (regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes).

Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/241229 [acedido a 11 de outubro de 2019].

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[10] INFARMED: Medicamentos genéricos e sistema de preços de referência - Disponível em:

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-humano/medicamentos-

genericos [acedido a 15 de outubro de 2019].

[11] Diário da República Eletrónico: Decreto-Lei n.º 97/2015, de 1 de junho - Procede à criação

do Sistema Nacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/67356991 [acedido a 15 de outubro de 2019].

[12] Diário da República Eletrónico: Portaria n.º 195-D/2015, de 30 de junho - Estabelece os

grupos e subgrupos farmacoterapêuticos de medicamentos que podem ser objeto de

comparticipação e os respetivos escalões de comparticipação. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/67644327 [acedido a 15 de outubro de 2019].

[13] Diário da República Eletrónico: Decreto Lei nº48-A/2010, de 13 de maio – Regime geral

de comparticipações do Estado no preço dos medicamentos. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/227779 [acedido a 15 de outubro de 2019].

[14] Diário da República Eletrónico: Decreto-Lei n.º 106-A/2010, de 1 de outubro – Medidas

justas no acesso aos medicamentos, combate à fraude e abuso na comparticipação de

medicamentos. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/480967 [acedido em 15 de

outubro de 2019].

[15] Associação Nacional de Farmácias. Circular n.º 1111-2017 – Disponível em: ANF online.

[acedido a 22 de setembro de 2019].

[16] INFARMED: Lista de DCI identificadas pelo Infarmed como MNSRM-EF e respetivos

protocolos de dispensa - Disponível em:

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-humano/autorizacao-

de-introducao-no-mercado/alteracoes_transferencia_titular_aim/lista_dci [acedido a 15 de

outubro de 2019].

[17] INFARMED. Portaria nº 595/2004 de 2 de julho. Disponível em:

http://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/manipulados.pdf. [acedido a 16 de

outubro de 2019].

[18] INFARMED. Medicamentos manipulados. Disponível em:

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-humano/inspecao-

medicamentos/medicamentos-manipulados. [acedido a 16 de outubro de 2019].

[19] INFARMED. Decreto-Lei n.º 232/99, de 24 de junho: Estabelece as normas relativas ao

fabrico, autorização de introdução no mercado, armazenamento, transporte, comercialização

e utilização de produtos de uso veterinário. [acedido a 20 de outubro de 2019].

[20] VALORMED: Qualidade e ambiente. Manual de Procedimentos da Farmácia

Comunitária. Disponível em:

http://new.valormed.pt//assets/stores/1041/userfiles/SGQA/PC1A.01.04%20MANUAL%20DE

%20PROCEDIMENTOS%20DA%20FARMACIA%20COMUNITARIA.pdf [acedido a 20 de

novembro de 19].

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[21] Diário da República Eletrónico: Despacho n.º 9592/2015 - Concede à VALORMED -

Sociedade Gestora de Resíduos de Embalagens e Medicamentos, Lda., Licença para a

gestão de um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e Medicamentos

(SIGREM), válida até 31 de dezembro de 2020. Disponível em:

https://dre.pt/application/conteudo/70083894. [acedido a 1 de novembro de 2019].

[22] VALORMED: Quem somos. Disponível em: http://www.valormed.pt/paginas/2/quem-

somos/. [acedido a 1 de novembro de 2019].

[23] VALORMED: Processo. Disponível em: http://www.valormed.pt/paginas/8/processo

[acedido a 1 de novembro de 2019].

[24] VALORMED: Relatórios de atividades. Disponível em:

http://valormed.pt//assets/stores/1041/userfiles/RESUMO_Relat%C3%B3rio%20de%20Activi

dades%202018_2.pdf [acedido a 14 de novembro de 2019].

[25] VALORMED: Indicadores e dados gerais do 1º semestre. Disponível em:

http://www.valormed.pt/article/view/12/indicadores-e-dados-gerais-1-semestre-2019 [acedido

a 14 de novembro de 2019].

[26] Revista Visão: Venda em unidose em discussão. Disponível em:

http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/venda-em-unidose-em-discussao=f519548 [acedido

a 14 de novembro de 2019].

[27] Diário da República Eletrónico: Portaria n.º 97/2018 - Primeira alteração à Portaria n.º

1429/2007, de 2 de novembro, que define os serviços farmacêuticos que podem ser prestados

pelas farmácias. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/115006162 [acedido em

15 de outubro de 2019].

[28] Ordem dos farmacêuticos: Norma Geral: Preparação Individualizada da Medicação (PIM).

Disponível em:

https://www.ordemfarmaceuticos.pt/fotos/qualidade/norma_pim_vfinal_30_nge_00_010_02_

1834827175bf58d479434f.pdf [acedido 28 de novembro de 2019].

[29] Sabaté, E. (2003). Adherence to Long-Term Therapies: Evidence for Action. Geneva:

World Health Organization. Disponível em:

https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42682/9241545992.pdf?sequence=1&isAllo

wed=y [acedido a 28 novembro 2019].

[30] Mosca, C., Castel-Branco, M. M., Ribeiro-Rama, A. C., Caramona, M. M., Fernandez-

Llimos, F., & Figueiredo, I. V. (2014). Assessing the impact of multi-compartment compliance

aids on clinical outcomes in the elderly: a pilot study. International Journal of Clinical

Pharmacy. 36(1), 98-104.

[31] Jornal Público: Sic transit gloria mundi.... Disponível em:

https://www.publico.pt/2010/08/03/jornal/sic-transit-gloria-mundi-19950086 [acedido em 28 de

novembro de 2019].

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[32] Laegemiddel styrelsen. Dose dispensing. Disponível em:

https://laegemiddelstyrelsen.dk/en/pharmacies/pharmacies/dose-dispensing/# [acedido em

28 de novembro de 2019].

[33] Zuardi, A. (2005). History of cannabis as a medicine: a review. Revista Brasileira de

Psiquiatria. 28(2), pp. 153-157.

[34] SICAD: Derivados da Cannabis. Disponível em:

http://www.sicad.pt/PT/Cidadao/SubstanciasPsicoativas/Paginas/detalhe.aspx?itemId=8

[acedido em 23 de novembro de 2019].

[35] EMCDDA: Cannabis drug profile. Disponível em:

http://www.emcdda.europa.eu/system/files/publications/11391/TDAU19001ENN.pdf [acedido

em 23 de novembro de 2019].

[36] Netzahualcoyotzi-Pietra et al. (2009). La marihuana y el sistema endocanabinoide: De

sus efectos recreativos a la terapéutica. Rev Biomed. 20, pp. 128-153.

[37] Rubin R. (2019). Cannabidiol Products Are Everywhere, but Should People Be Using

Them? JAMA. doi: 10.1001/jama.2019.17361.

[38] Harrison J. VanDolah, BA; Brent A. Bauer, MD; and Karen F. Mauck, MD. (2019).

Clinicians’ Guide to Cannabidiol and Hemp Oils. Mayo Clin. 94(9):1840-1851 n

https://doi.org/10.1016/j.mayocp.2019.01.003.

[39] FDA: Regulation of Cannabis and Cannabis-Derived Products, Including Cannabidiol

(CBD). Disponível em: https://www.fda.gov/news-events/public-health-focus/fda-regulation-

cannabis-and-cannabis-derived-products-including-cannabidiol-cbd [acedido a 30 de

novembro de 2019].

[40] Diário da República Eletrónico: Decreto-Lei n.º 8/2019 de 15 de janeiro - Regulamenta a

utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins

medicinais. Disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/117821810 [acedido a 30 de

novembro de 2019].

[41] Centro de Documentação e Informação de Medicamentos (CEDIME): Medicamentos,

preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais – Prescrição e

Dispensa em Farmácia. ANF, agosto 2019, nº 146 [acedido a 30 de novembro de 2019].

[42] INFARMED: Deliberação N.º 11/CD/2019. Disponível em:

https://www.infarmed.pt/documents/15786/2893227/lista+das+indica%C3%A7%C3%B5es+t

erap%C3%AAuticas+aprovadas+para+as+prepara%C3%A7%C3%B5es+e+subst%C3%A2n

cias+%C3%A0+base+da+planta+da+can%C3%A1bis/294b3a2d-326b-46c3-9c08-

a3b57427d027 [acedido a 30 de novembro de 2019].

[43] INFOMED: Folheto informativo do medicamento Savitex®. Disponível em:

http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=55492&tipo_doc=fi [acedido

a 30 de novembro de 2019].

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[44] INFOMED: Resumo das características do medicamento Savitex®. Disponível em:

http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=55492&tipo_doc=rcm

[acedido a 30 de novembro de 2019].

[45] EMEA: Resumo das características do medicamento Epidyolex®. Disponível em:

https://www.ema.europa.eu/en/documents/product-information/epidyolex-epar-product-

information_pt.pdf [acedido a 30 de novembro de 2019].

[46] PhytoGold: Perguntas frequentes. Disponível em: http://phytogold.pt/ [acedido a 30 de

novembro de 2019].

[47] Jornal Público: Bactéria E. coli detetada em suplemento alimentar à base de cannabis à

venda em farmácias. Disponível em:

https://www.publico.pt/2019/11/05/sociedade/noticia/bacteria-coli-detectada-suplemento-

alimentar-venda-farmacias-base-cannabis-1892629 [acedido a 6 de novembro de 2019].

[48] Attila Oláh, et al. (2014) Cannabidiol exerts sebostatic and antiinflammatory effects on

human sebocytes. J Clin Invest.;124(9):3713-3724. https://doi.org/10.1172/JCI64628.

[49] George W. Booz (2011) Cannabidiol as an Emergent Therapeutic Strategy for Lessening

the Impact of Inflammation on Oxidative Stress. Free Radic Biol Med.; 51(5): 1054–1061.

[50] Natascia Bruni (2018) Cannabinoid Delivery Systems for Pain and Inflammation

Treatment. Molecules.; 23(10): 2478.

[51] Enes C. (2019) Volta ao mundo civilizado. Farmácia Portuguesa; 236: 22-23.

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ANEXOS

ANEXO 1: CONTENTORES VALORMED.

ANEXO 2: DIVERSIDADE FARMACOTERAPÊUTICA DOS MEDICAMENTOS FORA DE

USO.

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ANEXO 3: DIVERSIDADE COMERCIAL DE MNSRM À BASE DE CANNABIS SATIVA,

ATUALMENTE COMERCIALIZADOS EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA.

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ANEXO 4: POWER-POINT APRESENTADO NA FORMAÇÃO REALIZADA NA FAS SOBRE

A INTRODUÇÃO DA CANÁBIS NA FARMÁCIA COMUNITÁRIA.

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