Apagão de Visão

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  • 8/6/2019 Apago de Viso

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    Momentum

    Apago de viso

    Marcos Gouva de Souza ([email protected]), diretor-geral da GS&MD

    Gouva de Souza

    O pas no est preparado para o nvel de atividade econmica que viveneste momento. E tudo leva a crer que o quadro vai piorar ainda mais.

    No trnsito, nos aeroportos, na falta de mo-de-obra especializada, nasestradas, nos portos, enfim, em tudo que diga respeito infraestrutura. E oque se acompanha no dia a dia um processo moroso, complexo e quaseinconsequente no encaminhamento de solues estruturais para correo derumos. Um apago absoluto de viso na compreenso da dimenso da

    transformao que o pas vive.E tudo seria por si s dramtico, no fosse a perspectiva de um profundoagravamento nos prximos anos, por conta da Copa do Mundo em 2014 edas Olimpadas em 2016. Beira a inconsequncia a forma como essestemas tm sido tratados. E j h quem lembre que outros pases declinaramde sediar a Copa do Mundo por conta de problemas internos.O convvio com filas, desconforto, ausncia de servios, custos maiselevados, preos acima do mnimo bom senso e um constante sentimentode frustrao se incorporaram ao nosso dia a dia e j comeam a amortecer

    o esprito mais crtico, dentro de uma perversa lgica de que o crescimentogera dores.No quadro atual, os espritos mais crticos comeam a ser abatidos pelosentimento de que assim mesmo e dessa forma dever continuar. E a,mais do que apago de viso, temos um apago do senso de cidadania.O pas se transformou numa das mais expressivas economias do mundo,em condies de subir ainda mais na escala dos pases mais maduros, massua infraestrutura no est preparada para tal e existe um profundo descasocom as consequncias atuais e futuras desse quadro, sendo as medidas que

    poderiam minimizar tudo isso adotadas de forma homeoptica e custosa,impedindo que vivenciemos em sua plenitude essa transformaoestrutural.E o custo dessa ausncia de determinao na necessidade de umatransformao profunda se incorpora aos custos dos produtos, dos servios,da mo-de-obra, do transporte e da logstica, sendo repassado como umcusto inevitvel que distancia o pas de um cenrio mais competitivo,onerando o que quer que se produza por aqui.O drama vai das condies dos aeroportos ao trnsito catico das maiorescidades, que j no tm dia ou hora para travar; das condies desumanas

    da sade pblica educao oferecida aos que no podem pagar peloensino privado; do estado crtico da maioria das estradas no privatizadas

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 8/6/2019 Apago de Viso

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    aos custos dos portos; dos constantes apages de energia ao preo dosprodutos e servios; da falta de quartos em hotis saturao das estradas.E ainda faltam trs anos para a Copa do Mundo!Um tempo que em cidades como na China, no Qatar, em Cingapura, na

    Austrlia, no Japo ou na ndia permitiram uma transformao radical eestrutural, mas que, em nossa realidade, dificilmente ser possvel, porconta da mquina e dos processos burocrticos que atravancam essamudana. E definitivamente no uma questo de dinheiro: seria muitomais uma questo de viso, determinao, projetos, planejamento e

    processos.O exemplo do que aconteceu nos Jogos Pan Americanos no Rio de Janeiro

    paira como uma advertncia no ar. O oramento inicial estourou de formainconsequente por conta da falta de planejamento e o que se fez, em boa

    parte, est se desmanchando ou inaproveitvel. E a Copa do Mundo e asOlimpadas podem exponenciar esse efeito. Como tudo na vida, muitos

    perdem e alguns poucos ganham com essa perversa realidade.Mas no houvesse esses dois megaeventos o quadro j seria por demaisdramtico, expondo a populao s consequncias desse caos que seinstaura no pas. E surpreende a passividade com que se tratam os

    problemas que decorrem dessa situao, como se no houvesse prazos porcumprir e um quadro dirio de crescente deteriorao.O que de pior poderia acontecer parece se desenhar: uma acomodao da

    populao e das lideranas e a no manifestao de repdio e

    inconformismo, exigindo da forma como for possvel uma mudana deatitude e o resgate de um mnimo de bom senso no trato do que pblico,no aceitando que, pagando o que se paga de impostos neste pas,estejamos expostos ao que temos vivenciado.Que falte viso, mas no pode faltar indignao.