73
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS À PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO Pedro Santa Rita Siqueira da Silva Niterói 2017

APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

ESCOLA DE ENGENHARIA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS À

PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO

Pedro Santa Rita Siqueira da Silva

Niterói

2017

Page 2: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS À

PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO

Pedro Santa Rita Siqueira da Silva

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Departamento de Engenharia Química e

de Petróleo da Universidade Federal

Fluminense como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Bacharel

em Engenharia de Petróleo.

Orientador: Prof. Geraldo de Souza Ferreira, D. Sc.

Niterói

2017

Page 3: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

PEDRO SANTA RITA SIQUEIRA DA SILVA

APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS À

PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Graduação em Engenharia de Petróleo da Escola de

Engenharia da Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em

Engenharia de Petróleo

Aprovado em 24 de novembro de 2017.

NITERÓI, RJ

NOVEMBRO DE 2017

Page 4: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos
Page 5: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a minha mãe Fernanda, pelo apoio durante toda minha

vida. Se não fosse por ela, eu nunca teria chegado aonde cheguei e nunca teria a

possibilidade de chegar aonde ainda quero. Também a meu irmão Lucas e a meu pai

Jairo, por conversas e incentivo.

Aos meus amigos Mayara, Allícia, Arnaldo e André, construídos ao longo desses

anos de universidade, que me ajudaram a superar todos os obstáculos com grande

alegria. Os estudos sempre foram compartilhados de forma que tudo se tornasse mais

agradável e fácil. Cada dificuldade foi transposta em conjunto e, se consegui chegar ao

final, foi porque eles estavam ao meu lado durante todo o trajeto.

Ao meu “tio” César, que me abrigou durante boa parte da faculdade,

possibilitando meu estudo. Sem isso, as dificuldades seriam ainda maiores diante de um

trajeto diário exaustivo até minha casa. Agradeço muito por esse ato de gentileza e

amizade.

A todos os meus amigos que, por também reconhecerem a importância do

estudo, sempre me impulsionaram. Cada um em sua particularidade, através de seu

próprio meio, fazia-me esquecer os problemas e acreditar que tudo daria certo ao final.

Em especial Vitória, Pablo e Maryana, que estiveram por perto durante a confecção deste

trabalho e serviram de motivação.

A todos que participaram da experiência de morar e estudar nos Estados Unidos.

O tempo em outro país me ajudou a reconhecer novos caminhos e me estimulou a

continuar minha trajetória acadêmica. Gostaria de agradecer à CAPES, que financiou o

programa, e também aos amigos Ana, Michell, Igor, Omar e Joe, que tornaram tudo

inesquecível.

A todos os professores que passaram em minha vida, desde criança até a

universidade, passando pelos cursos de idiomas. Cada um teve sua contribuição de

extrema relevância para a formação do cidadão que hoje me considero, além de para a

aquisição de todo o conhecimento trazido até hoje. Em especial aos professores de UFF

Page 6: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

que possibilitaram a execução desse trabalho, ao meu orientador, professor Geraldo, e à

banca, professores Carrasco e Valdecy.

Aos que confiaram em mim para exercer postos de trabalho durante o período

da faculdade, mesmo precisando apoiar e entender meus horários tão voláteis.

Agradecimento especial ao Curso Pierre e ao Yes de Itaipuaçu. Também a todos os meus

alunos, que são parte da minha trajetória e me ensinam muito mais que eu a eles.

Por fim, a todos que passaram em minha vida até hoje. Cada pessoa com a qual

tive contato tem certa relevância em minha formação. Pequenos gestos mudam nossa

forma de ver o mundo e participações singelas em nossos caminhos conseguem marcar

e servir de experiência para sempre.

Page 7: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

RESUMO

O petróleo tomou o cotidiano das pessoas em diversas formas, como produtos

processados ou como derivados. Hoje se tornou um recurso estratégico que define

decisões políticas e econômicas a níveis local e global. A perfuração de poços, como

principal fonte de obtenção, destaca-se entre os grandes empreendimentos da época

atual. Projetos envolvendo milhões de dólares são implementados a cada dia. Diante de

sua crescente complexidade, acompanhada pelo desenvolvimento tecnológico,

compreender cada aspecto referente ao tema exige um estudo profundo das técnicas e

dos processos utilizados. Falhas nos projetos podem causar impactos extremamente

negativos sob os pontos de vista ambiental e econômico. Dessa forma, estudiosos de

várias áreas tornam sua atenção à pesquisa acerca de como se deve desenvolver o

projeto de perfuração de um poço. O presente trabalho aplica as técnicas de

Gerenciamento de Projetos nessa busca pelo sucesso dos empreendimentos.

Palavras-chave: Petróleo. Perfuração. Gerenciamento de Projetos.

Page 8: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

ABSTRACT

Petroleum has been incorporated to people’s daily lives in different ways, as processed

goods and as derivatives. Today it has become a strategic resource that defines politic

and economic decisions locally and globally. Drilling, as the main manner of obtaining it,

is highlighted among the huge investments of the current time. Projects involving millions

of dollars are implemented each day. Facing its growing complexity, accompanied by

technological development, understanding each aspect of the theme requires deep

studying the techniques and the processes used. Failure in projects may cause extremely

negative impacts under both the environmental and the economic points of view.

Therefore, scholars from many areas turn their attention to research about how to conduct

an oil well project. The present paper applies techniques of Project Management in this

search for success.

Key-words: Petroleum. Drilling. Project Management.

Page 9: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Teoria da Tripla Restrição ............................................................................. 16

Figura 1.2: Distribuição temporal e de esforções ao longo do projeto ............................ 18

Figura 1.3: Estrutura Analítica do Projeto (Pesquisa de Opinião) ................................... 19

Figura 2.1: Organizações típicas envolvidas na perfuração ........................................... 28

Figura 2.2: Tipos de sondas de perfuração ..................................................................... 29

Figura 2.3: Aplicações comuns da cimentação ............................................................... 35

Figura 2.4: Energia acústica transpondo a formação ...................................................... 35

Figura 2.5: Coluna de testes ........................................................................................... 40

Figura 2.6: Programa de completação ............................................................................ 42

Figura 3.1: Fluxograma de planejamento de um poço de petróleo ................................. 45

Figura 3.2: Janela de operação ...................................................................................... 50

Figura 3.3: Relatório simplificado de cimentação ........................................................... 52

Figura 3.4: Exemplo de composição: lama base água ................................................... 54

Figura 3.5: Diagrama de rede da perfuração .................................................................. 55

Figura 3.6: Fatores determinantes de tempo e custo ...................................................... 58

Figura 3.7: Documento de Autorização de Despesas ..................................................... 59

Figura 3.8: Fluxograma de controle ................................................................................ 64

Page 10: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1: Benefícios da implementação do Gerenciamento de Projetos .................... 16

Tabela 2.1: Tipos de brocas utilizadas nas diferentes formações .................................. 30

Tabela 2.2: Classificação do fluido de perfuração .......................................................... 32

Tabela 2.3: Indicadores de desempenho do fluido de perfuração .................................. 33

Tabela 2.4: Classes de cimento API ............................................................................... 36

Tabela 2.5: Principais perfis a cabo ................................................................................ 39

Tabela 3.1: EAP de projeto de perfuração ...................................................................... 48

Tabela 3.2: Seleção da coluna de revestimento ............................................................. 51

Tabela 3.3: Exemplo de fluidos utilizados ....................................................................... 53

Tabela 3.4: Lista de atividades e predecessores ............................................................ 56

Tabela 3.5: Matriz de avaliação de riscos ....................................................................... 62

LISTA DE ABREVIAÇÕES

API – American Petroleum Institute

CMP – Critical Path Method

EAP – Estrutura Analítica do Projeto

ECD – Equivalent Circulating Density

IADC – International Association of Drilling Contractors

LOT – Leak-off Test

PMI – Project Management Institute

ROP – Rate of Penetration

Page 11: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

OBJETIVO ......................................................................................................... 12

METODOLOGIA ................................................................................................ 12

1. GERENCIAMENTO DE PROJETOS ............................................................. 14

1.1. CICLO DE VIDA ...................................................................................... 17

1.2. PLANEJAMENTO ................................................................................... 17

1.3. EXECUÇÃO ............................................................................................ 22

1.4. GERENCIAMENTO DE RISCOS ............................................................ 23

1.5. GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO .............................................. 24

1.6. O GERENTE DE PROJETOS ................................................................. 25

2. PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO ............................................... 27

2.1. POÇOS E SONDAS................................................................................ 28

2.2. BROCAS ................................................................................................. 29

2.3. FLUIDO DE PERFURAÇÃO ................................................................... 31

2.4. REVESTIMENTOS ................................................................................. 33

2.5. CIMENTAÇÃO ........................................................................................ 34

2.5.1. Verificação da qualidade da cimentação .......................................... 34

2.3. TESTES EM POÇOS .............................................................................. 37

2.3.1. Perfil litológico .................................................................................. 37

2.3.2. Perfil da taxa de penetração ............................................................. 38

2.3.3. Perfil de lama ................................................................................... 38

2.3.4. Perfis a cabo .................................................................................... 38

Page 12: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

2.3.5. Leak-off Test (LOT) .......................................................................... 38

2.3.6. Teste de formação............................................................................ 39

2.4. COMPLETAÇÃO .................................................................................... 41

3. PROJETO DE POÇO .................................................................................... 43

3.1 INICIAÇÃO ............................................................................................... 43

3.2. PLANEJAMENTO ................................................................................... 43

3.2.1. Estabelecer o objetivo do projeto ..................................................... 45

3.2.2. Definir o escopo ............................................................................... 46

3.2.3. Criar a Estrutura Analítica do Projeto (EAP) ..................................... 47

3.2.4. Criar o dicionário da EAP ................................................................. 47

3.2.5. Definir atividades e sequenciá-las .................................................... 54

3.2.6. Estimar recursos e durações e desenvolver cronograma ................. 55

3.2.7. Estimar os custos das atividades ..................................................... 57

3.2.8. Determinar orçamento ...................................................................... 57

3.2.9. Fechar o plano ................................................................................. 60

3.3. GERENCIAMENTO DE RISCOS ............................................................ 60

3.4. EXECUÇÃO E CONTROLE .................................................................... 62

3.5. FINALIZAÇÃO DO PROJETO ................................................................ 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 66

Conclusões .................................................................................................... 66

Sugestões para trabalhos futuros .................................................................. 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 68

Page 13: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

11

INTRODUÇÃO

O mundo globalizado traz à tona um universo de empreendimentos cada vez

mais complexos e mutáveis. Diante dessa realidade constantemente reajustada, o

planejamento e o controle de inúmeros e concomitantes processos se tornam uma

necessidade. Empresas que desejem obter e sustentar sua prosperidade precisam ser

renovadas através de projetos estratégicos que levem em conta todo o contexto em que

se inserem (ASRILHANT et al., 2004).

O Gerenciamento de Projetos surge como disciplina com o intuito de nortear a

atuação das instituições que almejem o sucesso. Pode-se pensar em projetos como

inerentes à racionalidade humana e esses são implementados há milhares de anos ao

longo da existência do homem. Entretanto, o estudo formal de técnicas que visem à

maximização dos resultados a partir de um processo bem definido ainda é algo recente

(VALLE et al., 2010).

A exploração dos recursos naturais do planeta é uma necessidade humana e se

torna crescente diante da evolução das sociedades. O petróleo, como um desses

recursos, insere-se no cotidiano das formas mais variadas, tomando papel estratégico na

configuração política e econômica mundial. Dessa forma, projetos ligados à sua obtenção

adquirem grande relevância no cenário nacional e internacional da atualidade

(CHIPALAVELA, 2013).

Para maximizar os lucros obtidos por empresas que explorem o recurso, a

aplicação de técnicas bem definidas se torna essencial. O estudo da perfuração de poços,

principal fonte de aquisição do petróleo, tornou-se de extrema relevância devido a seus

crescentes custos. A evolução tecnológica, impulsionada pela alta lucratividade do setor,

levantou investimentos e tornou necessário o correto gerenciamento de toda a cadeia de

processos envolvidos (ASRILHANT et al., 2004).

O Gerenciamento de Projetos aplicado à perfuração de poços de petróleo traz ao

setor práticas que possibilitam melhor planejamento e controle das operações. Diante de

cenários de riscos que envolvem altos custos, a correta gestão torna-se o limite entre o

Page 14: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

12

sucesso e o fracasso. Dessa forma, as técnicas utilizadas norteiam o trabalho de gerentes

que se veem obrigados a vencer as complexidades já inerentes a esses projetos

estratégicos (ASRILHANT et al., 2004).

OBJETIVO

O petróleo, como recurso estratégico mundial, incentiva uma extensa e complexa

cadeia de processos que envolve inúmeros projetos. A decisão de se perfurar um poço

exige uma análise econômica que ultrapassa barreiras técnicas e de financiabilidade,

obtendo valor político e macroeconômico. Quando um empreendimento de tamanha

dimensão é colocado em prática, seu monitoramento de forma a garantir o sucesso se

torna imprescindível.

O presente trabalho objetiva analisar a inserção das ferramentas de Estrutura

Analítica do Projeto (EAP) e de Método do Caminho Crítico (CPM) do Gerenciamento de

Projetos ao setor de exploração do petróleo. Diante da importância do sucesso da

perfuração, busca-se implementar práticas que possam maximizar o controle das

operações envolvidas de forma a garantir o objetivo final. Dessa maneira, tem-se como

finalidade demonstrar os meios de se obter os benefícios decorrentes da correta gestão

aplicada aos projetos de perfuração.

METODOLOGIA

A metodologia proposta no presente projeto envolve a revisão bibliográfica

acerca dos temas envolvidos, a coleta de dados exemplos e a integração das áreas de

conhecimento.

A revisão bibliográfica busca permitir a compreensão tanto das técnicas de

Gerenciamento de Projetos quanto das operações de perfuração. Essa foi desenvolvida

Page 15: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

13

de forma exclusiva a cada tema a fim de que os processos individuais sejam identificados

e suas particularidades compreendidas.

Em seguida, realiza-se uma coleta de dados, ainda na literatura atual disponível,

objetivando-se aproximação com a realidade de um programa de perfuração. Os dados

correlacionados de diferentes fontes são base para a elaboração de uma exemplificação

teórica que seja condizente com a realidade envolvida nesses empreendimentos reais.

Por fim, integram-se as áreas e exemplifica-se a aplicação das diferentes

técnicas de gerenciamento ao programa de um poço. São descritas etapas que

correlacionam as duas disciplinas, demonstrando a aplicabilidade de uma à outra. Como

resultado, obtém-se uma metodologia simplificada de gerenciamento para um projeto de

perfuração.

Page 16: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

14

1. GERENCIAMENTO DE PROJETOS

Grandes empreendimentos em forma projetada já estão presentes na história

humana há muitos anos. As pirâmides de Guizé representam um enorme esforço para a

demonstração do poder do Egito antigo, empregando inúmeros recursos ao longo dos

anos de sua construção. As muralhas da China, com mais de dois mil quilômetros de

extensão, demonstram hoje a grandiosidade da Engenharia da época. Essas obras

exemplificam a utilização já de conhecimentos sobre projetos que permitiram sua

finalização mesmo em tempos em que não se possuíam muitos dos recursos

tecnológicos disponíveis hoje (CAMARGO, 2014).

As técnicas utilizadas atualmente datam suas primeiras aparições do período da

Guerra Fria. O esforço militar para demonstração de poder entre as duas potências

mundiais à época, Estados Unidos e União Soviética, possibilitou grande avanço

tecnológico e na área de projetos. Técnicas para acompanhamento e desenvolvimento

do trabalho puderam ser desenvolvidas e testadas nos grandiosos empreendimentos de

guerra implementados. As primeiras aparições do termo “Gerenciamento de Projetos”

ocorreram nos anos 1960 e, rapidamente, os conhecimentos adquiridos foram

popularizados e atingiram outras áreas (VALLE et al., 2010).

Um projeto pode ser definido como a tentativa formal de atingir um objetivo

específico único através da combinação de certas tarefas interligadas e com a correta e

efetiva utilização dos recursos. Um projeto tem uma data de início e uma de término, ou

seja, possui duração finita. Seus recursos também podem ser limitados e são providos

por um patrocinador (sponsor) para servir a clientes finais (stakeholders). Um projeto

ainda pode demonstrar certo nível de incerteza (GIDO et al., 2012).

Nos tempos modernos, a necessidade pelo sucesso, diante de um mundo cada

vez mais globalizado e competitivo, fez com que técnicas de gerenciamento fossem

implementadas de maneira a minimizar erros e maximizar lucros. O Gerenciamento de

Projetos surge como uma base de ação que possa nortear o trabalho dos gerentes com

a introdução de “boas práticas” ao setor (VALLE et al., 2010).

Page 17: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

15

O Gerenciamento de Projetos surgiu como ciência na década de 60 e atingiu

disseminação a partir da criação do Project Management Institute (PMI) em 1969. Essa

associação não governamental desenvolve técnicas a fim de difundir práticas que

padronizem o gerenciamento ao redor do mundo. Hoje o PMI possui membros e chapters

em todo o globo e as edições de seu livro de boas práticas, o Project Management Body

of Knowledge (PMBOK), são amplamente difundidas e adotadas como referência para

inúmeros projeto (PACHECO, 2009).

Segundo estudo de 2004, à época, apenas 27% dos projetos mundiais eram

bem-sucedidos (em termos de tempo, custo e qualidade); enquanto aqueles que se

utilizavam das técnicas de gerenciamento de projetos apresentavam sucesso em 75%

dos casos (PACHECO, 2009). O benefício trazido pela utilização dessas técnicas é a

satisfação do cliente – sendo você seu próprio cliente ou terceiros. Completar o projeto

de acordo com o programado, dentro dos limites temporais e de custos, traz a satisfação

que pode gerar novos contratos ou a ampliação do negócio (GIDO et al., 2012).

Pesquisa realizada pela seção Rio de Janeiro do PMI em 183 grandes empresas

gerou um relatório que contém os principais benefícios obtidos por essas com a utilização

das técnicas de Gerenciamento de Projetos. A Tabela 1.1 ilustra os resultados e permite

perceber que os principais benefícios retratados pelas empresas são o comprometimento

com os objetivos e a melhora na tomada de decisões (VALLE et al., 2010).

Para atingir o sucesso, o gerente de projetos deve balancear os recursos focando

sempre nas necessidades e expectativas dos stakeholders, que definem o objetivo a ser

alcançado. As diferentes demandas concorrem ao longo do desenvolvimento do projeto

e devem ser analisadas com cuidado. Um projeto que leve muito tempo para ser

executado pode talvez atingir uma qualidade maior, mas ao mesmo tempo deve se

mostrar mais custoso (GIDO et al., 2012).

Segundo a teoria da tripla restrição, três fatores conflitantes são balanceados e

um quarto é obtido como resultado. Dessa forma, uma alteração em um desses fatores

gera mudança também nos outros. Existem duas visões que interpretam essa teoria. Para

a primeira, pode-se considerar que a qualidade é o resultado do balanceamento entre

Page 18: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

16

tempo, custo e escopo. Para a segunda, o escopo é o resultado do balanceamento entre

tempo, custo e qualidade. A Figura 1.1 ilustra essa relação (PACHECO, 2009).

Tabela 1.1: Benefícios da implementação do Gerenciamento de Projetos

Benefícios Resultado (%)

(%) Aumento do comprometimento com objetivos e resultados 78

Disponibilidade de informação para tomada de decisões 71

Melhoria de qualidade nos resultados dos projetos 70

Aumento da integração entre as áreas 61

Aumento da satisfação do cliente (interno/ externo) 59

Minimização dos riscos em projetos 58

Otimização na utilização de recursos humanos 44

Redução nos prazos de entrega 38

Aumento de produtividade 36

Redução nos custos relacionados a projetos 34

Aumento no retorno sobre o investimento (ROI) 18

Não estamos obtendo benefícios 6

Fonte: Valle et al. (2010).

Figura 1.1: Teoria da Tripla Restrição

Fonte: Pacheco (2009).

Para Gido et al. (2012), o sucesso de um projeto depende, além dos quatro

fatores levados em conta pela Teoria das Três Restrições, também dos recursos

Page 19: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

17

disponíveis, dos riscos envolvidos e da satisfação do cliente. O gerente de projetos deve

tentar antecipar e prevenir os possíveis riscos durante todo o processo. Os recursos

devem ser otimizados, tanto em se tratando de materiais e facilidades, quanto de

recursos humanos. A satisfação do cliente (stakeholders) deve ser o objetivo último do

gerente, o que envolve, além de cumprir suas necessidades e atingir suas expectativas,

manter boa relação bilateral ao longo de todo o projeto.

1.1. CICLO DE VIDA

Os projetos possuem um período de tempo finito e delimitado, dessa forma,

pode-se caracterizar um ciclo de vida para esses. Certas fases precisam ser definidas

para que o sucesso seja alcançado. A primeira fase ocorre com a iniciação, em que o

projeto é selecionado e o Termo de Abertura (Project Charter) é assinado. Então entra-

se no planejamento, em que se definem escopo, cronograma, recursos, custos e

possíveis riscos. A terceira e mais longa fase é a execução, em que o trabalho é

desenvolvido e monitorado a todo tempo; é nessa fase que o objetivo é cumprido. A última

fase é a finalização, em que lições aprendidas são registradas e documentos são

arquivados. A Figura 1.2 mostra as distribuições temporal e de esforços comuns em

grande parte dos projetos (GIDO et al., 2012).

1.2. PLANEJAMENTO

O gerente de projetos deve compartilhar com a equipe a decisão de todo o

planejamento do trabalho. As entregas (deliverables) devem ser definidas desde o início,

alinhadas com os objetivos do projeto, que devem estar contidos no Termo de Abertura

(VALLE et. al., 2010). O objetivo deve ser detalhado o suficiente para que o trabalho seja

bem executado. Um objetivo de “terminar a casa”, por exemplo, pode se mostrar bastante

ambíguo, já que dá margem a interpretações diferentes. Deveria ser definido como

“terminar a casa de acordo com as especificações enviadas, com um gasto total de

R$100.000 e em 90 dias corridos a partir da data do Termo de Abertura” (GIDO et al.,

2012).

Page 20: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

18

Figura 1.2: Distribuições temporal e de esforços ao longo do projeto

Fonte: Gido et al. (2012).

O time deve preparar um documento relatando com detalhes os itens

mencionados no Termo de Abertura: a Declaração de Escopo. Esse deve conter

justificativa, objetivos, limites, descrição do escopo, critérios de aceite, restrições e

premissas (APPLEYARD, 2013). A descrição do escopo subsidia a criação da Estrutura

Analítica do Projeto – EAP (Work Breakdown Stucture – WBS), que apresenta os pacotes

de trabalho a serem distribuídos entre o time, com orientações. Dessa forma, o conteúdo

poderá ser explorado em detalhes, com o constante monitoramento do gerente e com o

efetivo planejamento (VALLE et. al., 2010). Esse documento cria um acordo entre as

partes, de forma que tanto o time quanto os clientes fiquem cientes do escopo a ser

desenvolvido. Pode ser apresentado em forma de tabela ou de fluxograma. A Figura 1.3

ilustra um exemplo de EAP para uma pesquisa de satisfação (GIDO et al., 2012).

Após o desenvolvimento da EAP, pode-se construir a Matriz de Alocação de

Responsabilidades (Responsibility Assignment Matrix), em que cada pacote de trabalho

contido nessa será delegado de um responsável. Pessoas podem ser alocadas em mais

de um item e um só item pode ser dividido para mais de uma pessoa. Dessa forma, se

define o nível de responsabilidade como primário (P) e de suporte (S) (GILDO et al.,

2012).

Page 21: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

19

Figura 1.3: Estrutura Analítica do Projeto (Pesquisa de Opinião)

Fonte: Adaptado de Gido et al. (2012).

Feito isso, pode-se mover à definição das atividades (ou tarefas) necessárias à

conclusão dos pacotes de trabalho da EAP. Essa pode se mostrar bastante complexa

principalmente para projetos de grande escopo e longa duração. Entretanto, atividades

podem ser quebradas em pacotes menores e alteradas ao longo do ciclo de vida (GIDO

et al., 2012).

A definição das atividades possibilitará a criação do Diagrama de Rede do projeto

(GIDO et al., 2012). Os recursos necessários a cada tarefa serão contabilizados de forma

a se definir uma sequência lógica a ser seguida. Atividades que se utilizem das mesmas

equipes não podem ser executadas ao mesmo tempo, por exemplo. Alguma que

necessite de produtos advindos de uma outra também deve ser executada

posteriormente. Quando todas as necessidades e prioridades forem definidas, o

sequenciamento estará completo e será computado no diagrama (CAMARGO, 2014).

Com a informação acerca das tarefas a serem desenvolvidas, podem-se estimar

os recursos a serem utilizadas em cada uma (assim como o tempo). Recursos englobam

trabalhadores, equipamentos, materiais, subcontratos etc. Realiza-se então o plano de

recursos requeridos, estimando-se todos os que serão utilizados e seus respectivos

momentos. Logo após, tenta-se nivelar os recursos ao longo do projeto, de forma que

esses não fiquem concentrados em certas frações (GIDO et al., 2012).

Page 22: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

20

Utilizando-se da informação de todas as tarefas necessárias à conclusão dos

pacotes de trabalho, pode-se estimar também a duração de cada uma. O cálculo deve

se basear em dados passados e em análises estatísticas. O gerente deve dividir a

responsabilidade de estimativa com as equipes de execução, que possuem

conhecimento técnico e experiência acerca das atividades. Um método probabilístico

utilizado é a Estimativa de Três Pontos (CAMARGO, 2014):

𝐷𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 =𝑇𝑂 + 4. 𝑇𝑀 + 𝑇𝑃

6

Em que TO é o tempo otimista, TM é o tempo médio mais provável e TP é o

tempo pessimista.

De posse da estimativa de duração de cada atividade do Diagrama de Rede,

pode-se calcular a duração total de cada caminho desse. Sabendo-se a data de início

prevista e a data limite de término do projeto, calculamos, utilizando as durações, as datas

mais cedo de início e de término e as datas mais tarde de início e de término de cada

atividade. As datas mais cedo são calculadas somando-se as durações a partir da data

de início do projeto (até que a última atividade seja atingida). As datas mais tarde são

calculadas subtraindo-se as durações a partir da data de término do projeto (até que a

primeira atividade seja atingida). A diferença entre as datas mais tarde e mais cedo é a

chamada folga (slack) e essa deve ser positiva para que o caminho seja viável dentro do

cronograma. Cada sequência possui sua folga e define-se o Caminho Crítico (Critical

Path) como a que mais despenderá tempo, ou seja, a de folga mínima (GIDO et al., 2012).

Não é incomum que o planejamento do trabalho gere um cronograma que passe

do prazo estipulado para a finalização do projeto. Quando isso acontece, é importante

que se haja com racionalidade para que os devidos ajustes sejam feitos. Não se pode

simplesmente fazer o trabalho caber em um cronograma de forma aleatória sem que

profundas análises ocorram. As atividades todas devem ser revisadas junto às equipes

para que recursos sejam recalculados de forma a reduzir o tempo das possíveis tarefas

e consequentemente o total (GIDO et al., 2012).

A partir da definição dos recursos, obtém-se também uma estimativa de custo

associada. Uma boa prática é delegar a pessoa responsável por certa atividade para

Page 23: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

21

estimar os custos associados a ela. O algoritmo para realização do orçamento total

depende de algumas variáveis, como se o contrato tem preço fechado. Na realidade,

estimativas globais são feitas ainda na fase de iniciação; durante o planejamento, essas

são refinadas de forma a atender às especificidades de cada tarefa (GIDO et al., 2012).

Os tipos de custos geralmente levados em conta nas estimativas são

(CAMARGO, 2014):

- Custos diretos: São aqueles direta e exclusivamente associados ao projeto. Incluem-se

mão-de-obra contratada/alocada, passagens para a locomoção da equipe e

equipamentos comprados.

- Custos indiretos: São aqueles relacionados indiretamente ao trabalho que deverá ser

realizado, mas que não são exclusivamente contratados para esse. Incluem-se gastos

com luz, internet e água.

- Custos fixos: São aqueles que não estão diretamente relacionados ao projeto. Incluem-

se despesas fixas da empresa como aluguel do local em que se instala e pagamento de

funcionários fixos.

- Custos variáveis: São aqueles também diretamente relacionados ao trabalho, mas que

variam conforme o projeto anda. Incluem-se aluguel de instalações necessárias a uma

fração do projeto e pagamento de funcionários temporários, de consultoria por exemplo.

Outro documento a ser desenvolvido é o Plano de Qualidade do Projeto. Esse

deve conter as especificações a serem cumpridas a fim de se atingir os critérios de aceite.

Normas, padrões e códigos usados como referências também devem estar contidos.

Devem ser descritos os processos e técnicas de checagem da qualidade, como testes,

inspeções, auditorias, etc, bem como quando e para que serão utilizados. Para se atingir

objetivos de qualidade, deve-se comparar o andamento com o plano de qualidade ao

longo de toda a vida do projeto, tomando devidas medidas corretivas sempre que

necessário (GIDO et al., 2012).

Page 24: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

22

1.3. EXECUÇÃO

O gerente deve comunicar-se com cada responsável que cuidará dos pacotes de

trabalho definidos na EAP. Os detalhes devem ser repassados de forma que as partes

entendam seus papéis. Apesar de o gerente delegar tarefas, ele ainda é responsável pelo

sucesso final. Dessa maneira, é comum que ele acompanhe os processos e se envolva

com pacotes abaixo de sua estrutura organizacional. Percebe-se a importância do

extensivo controle e, principalmente, da comunicação efetiva a todo o tempo (VALLE et

al., 2010).

Na reunião de lançamento (kick-off), o gerente delega as tarefas ao time e define

explicitamente as entregas, seus prazos e custos, assim como os critérios de aceite. A

partir de então, cada pacote de tarefa deverá ser autorizado em seu devido tempo. O

gerente deve criar um processo no qual possa verificar o trabalho desenvolvido para que

autorize os próximos. Esses planos não são estáticos, podendo sofrer alterações

necessárias, mas toda mudança deve ser informada com antecedência (VALLE et al.,

2010).

O monitoramento deve ser constante e todo o planejamento deve ser seguido

rigorosamente. Os documentos gerados na fase anterior, como o cronograma e o

orçamento, subsidiarão o controle dos processos. Cada atividade deve ser comparada à

previsão de custos e tempo realizada anteriormente e medidas corretivas devem ser

tomadas assim que divergências sejam constatadas. Reuniões precisam ser incluídas no

cronograma do projeto, de forma que as diversas partes estejam cientes de seus prazos.

Isso impulsiona a produtividade dessas, já que os envolvidos estarão cientes do que e

quando reportar (CAMARGO, 2014).

Nessa etapa, o gerente de projetos deve constantemente entrar em contato com

os diferentes responsáveis pelos pacotes de trabalho e atualizar um sistema de controle.

A comunicação deve ser precisa para que não se subestimem pequenos atrasos ou

gastos extras. Os riscos serão avaliados de acordo com o andamento do projeto, de

forma que suas probabilidades sejam atualizadas e suas possíveis consequências sejam

previstas e amenizadas (CAMARGO, 2014).

Page 25: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

23

1.4. GERENCIAMENTO DE RISCOS

Riscos são definidos como incertezas que podem gerar efeitos sobre o objetivo

do projeto. Esses são classificados como positivos (oportunidades) ou negativos

(ameaças). Suas causas podem possuir diferentes origens, enraizadas na própria

estrutura organizacional da instituição ou mesmo na natureza do trabalho a ser

implementado. Suas consequências podem alterar o escopo, o cronograma, o custo, o

desempenho e/ou a qualidade finais (PMI, 2013).

O gerenciamento de riscos visa a maximizar os impactos positivos e minimizar

os negativos. Os processos envolvidos em seu desenvolvimento são (PMI, 2013):

- Planejamento: definição de como as atividades relacionadas ao tema serão tratadas.

- Identificação: determinação dos possíveis riscos e de suas características.

- Análise quantitativa: atribuição matemática aos possíveis impactos nos objetivos do

projeto, ou seja, valoração das perdas.

- Planejamento de respostas: desenvolvimento de respostas que diminuam os efeitos

negativos sobre os objetivos do projeto.

- Controle: Implementação de planos de respostas, acompanhamento e monitoramento,

identificação de novos riscos e avaliação contínua do sistema de gerenciamento de

riscos.

Os riscos são consequência das incertezas envolvidas nos projetos. Por

exemplo, um projeto pode depender de subcontratos ou de uma autorização ambiental,

que podem atrasar ou até mesmo ser negados pelos responsáveis. As empresas

precisam definir como lidarão com os riscos, o que depende dos fatores (PMI, 2013):

- Apetite de risco: grau de incerteza que uma organização aceitará em prol de certo

retorno.

- Tolerância ao risco: volume de risco que uma organização estará disposta a tolerar.

- Limite de riscos: medida máxima de risco que uma organização poderá tolerar.

A aceitação do risco depende do perfil e do porte da empresa. Entretanto, esse

deve estar de acordo com as possíveis recompensas frente a sua tolerância. Para que

Page 26: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

24

ocorra um correto gerenciamento, as empresas precisam adotar uma abordagem

proativa em se tratando de inseguranças. As atitudes devem ser conscientes em todos

os níveis e medidas de identificação e mitigação devem ser tomadas ao longo de todo o

ciclo de vida. Ameaças não gerenciadas se tornam grandes problemas a longo prazo e

podem comprometer de forma significativa o sucesso do projeto (PMI, 2013).

1.5. GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO

O desafio dos gerentes de projeto é a interação com grupos bastante diversos.

Ele precisa controlar inúmeros processos coexistentes e então se comunica em

diferentes níveis organizacionais. Além disso, ainda existem os projetos inter-regionais

ou mesmo internacionais, em que barreiras culturais e linguísticas devem ser

transpassadas. Cada variável deve ser levada em conta para que a mensagem chegue

a todos os interessados de maneira clara e compreensível. Problemas de comunicação

podem gerar grandes distúrbios no andamento do trabalho e ainda são os mais

frequentes em projetos (CHAVES et al., 2014).

A compreensão do projeto é condição essencial ao seu efetivo fechamento. Cada

membro da equipe deve saber de maneira bastante clara o seu papel e a importância do

produto gerado por ele. Feedbacks devem ser absorvidos a todo tempo acerca de

qualquer fato observado. Para isso, deve existir um canal aberto de comunicação. Sabe-

se que as relações humanas são muito mais complexas que o gerenciamento de arquivos

ou softwares. Deve-se perceber a importância das demandas de cada indivíduo do time.

Cada membro precisa se sentir confortável em se comunicar com o gerente, que deve

ser visto como um mentor (CHAVES et al., 2014).

Em 2012, o resultado do PMSurvey, pesquisa organizada por capítulos do PMI,

indicou a comunicação como a principal habilidade necessária ao gerenciamento de

projetos. Um total de 58,3% das respostas das organizações a indicava como necessária

e valorizada, enquanto 41,8% das respostas colocavam essa mesma como a principal

deficiência dos gerentes. Nota-se que, mesmo sendo um processo de suma importância,

a comunicação tem apresentado muitas falhas. Os gerentes precisam perceber que essa

Page 27: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

25

é uma habilidade adquirida com a prática, buscando-se aprimoramento contínuo a partir

da reflexão sobre próprias experiências (CHAVES et al., 2014).

A comunicação, como um processo do gerenciamento, deve também ser

planejada, gerenciada e controlada. Reuniões sem o devido preparo e relatórios em

frequência inapropriada podem causar impactos negativos. Deve existir um plano de

comunicação com objetivos específicos, focando nas necessidades e no objetivo final,

principalmente para contato efetivo com os stakeholders. Os canais podem variar, mas é

importante que se mantenham reuniões presenciais e que os clientes sejam sempre

ouvidos (CHAVES et al., 2014).

1.6. O GERENTE DE PROJETOS

O gerente possui um papel integrador no projeto. É quem se comunica com as

partes de forma que a garantir que o trabalho seja feito continuamente de acordo com o

planejamento realizado e levando em conta os objetivos finais. É a pessoa responsável

por decompor o trabalho, possibilitando sua realização gradativa, e também por

reagrupar os resultados para a satisfatória conclusão. Dessa forma, exige-se que ele

possua habilidades e ferramentas relacionadas à própria natureza de sua função (VALLE

et al., 2010).

O gerente de projetos precisa desenvolver características que possibilitarão a

correta realização de seu trabalho. Conhecimento técnico acerca do tema e experiência

na função são essenciais à formação dessas. Podem-se citar como necessidades:

habilidade de liderança, habilidade de desenvolver pessoas, habilidade comunicativa,

habilidade interpessoal, habilidade de lidar com o estresse, habilidade de solução de

problemas, habilidade de negociação e habilidade de gerenciamento de times (GIDO et

al., 2012).

Não se nasce com essas competências essenciais, adquire-se ao longo de uma

sólida formação. O gerente precisa possuir constante interesse em aprimorar-se. Ele

necessita construir uma rede de networking, com que possa trocar experiências, e

também obter o máximo de informações, através da leitura e da participação em

programas educacionais. Além disso, o credenciamento em instituições como o PMI

Page 28: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

26

adiciona valor a seu currículo, já que exige estudo e dedicação ao tema (GIDO et al.,

2012).

Page 29: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

27

2. PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO

O aparecimento do petróleo na civilização humana data de tempos bíblicos. Esse

era encontrado em exsudações naturais e utilizado em diversos setores da vida cotidiana.

Seus usos incluíam a pavimentação de estradas, o embalsamento de mortos, a

construção civil, entre outros. Alguns povos que registraram essa utilização remota foram

os fenícios, os egípcios, os gregos e os romanos (THOMAS et al., 2001).

O marco da era moderna do petróleo se dá em 1859, ano a que se atribui o

primeiro poço de petróleo perfurado no mundo, ocorrido na Pensilvânia e desenvolvido

por Edwin L Drake (“Coronel Drake”). O método utilizado foi o percussivo movido a vapor,

em ambiente onshore. Com uma extensão de vinte e um metros, sua produção média

diária era de dois metros cúbicos de óleo (CHIPALAVELA, 2013).

A partir de então, o petróleo teve extrema ascensão e dominou a economia

global. Novas tecnologias são constantemente criadas desde a época até os dias atuais

e sua exploração tornou-se altamente rentável. No século XIX, o método rotativo foi

desenvolvido e possibilitou o aprofundamento das técnicas e a aquisição de óleo em

maiores profundidades (CHIPALAVELA, 2013). Atualmente o método percussivo é

encontrado em situações limitadas, como a perfuração de poços de água e/ou de

superfície (REGALLA, 2011).

O método rotativo possibilitou a perfuração em ambientes desafiadores, como o

offshore, em que se concentra grande parte das jazidas a serem exploradas pelo mundo.

No ano de 2015, 96,1% das reservas totais de petróleo brasileiras se localizavam em

mar. As operações para a retirada desse óleo exigem grande conhecimento técnico e

envolvem empreendimentos financeiros de enormes dimensões (ANP, 2016).

Devido aos altos custos da perfuração, essa ocorre vinte e quatro horas por dia

nas plataformas. Os turnos de trabalho podem ser definidos de oito em oito horas ou de

doze em doze. A empresa responsável por organizar e financiar a perfuração é a

chamada Operadora. O responsável pela plataforma é o chamado Encarregado da

Sonda, que supervisa as operações e reporta todas as informações acerca do andamento

Page 30: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

28

da perfuração diariamente ao superintendente no escritório (HYNE, 2001). A Figura 2.1

esquematiza as organizações envolvidas na perfuração.

Figura 2.1: Organizações típicas envolvidas na perfuração

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

2.1. POÇOS E SONDAS

Existem diferentes tipos de sondas que se aplicam a diferentes ambientes de

perfuração. A Figura 2.2 mostra esquematicamente a classificação dessas.

Nas sondas, para que a perfuração ocorra, faz-se necessária a equipagem com

certas ferramentas essenciais. Essas são agrupadas nos chamados sistemas, que

possuem, cada um, uma função global associada. Os principais sistemas presentes nas

plataformas de perfuração rotativa são: sistema de sustentação de cargas, sistema de

geração e transmissão de energia, sistema de movimentação de carga, sistema de

rotação, sistema de circulação, sistema de segurança, sistema de monitoração e sistema

de subsuperfície (CHIPALAVELA, 2013).

Page 31: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

29

Figura 2.2: Tipos de sonda de perfuração

Fonte: Adaptado de Bourgoyne et al. (1986).

Os poços são perfurados em diferentes momentos com diferentes intuitos

durante a produção de um campo. Isso permite a classificação desses como segue (ANP,

2016):

- Exploratórios: perfurados com o objetivo de descobrir novos campos ou jazidas. São

divididos em pioneiro, estratigráfico, extensão, pioneiro adjacente, para jazida mais rasa

e para jazida mais funda.

- Explotatórios: Perfurados com o objetivo de extrair o hidrocarboneto presente na rocha

reservatório. São divididos em de produção e de injeção.

- Especiais: Perfurados com o objetivo de permitir operações que não as anteriores, como

os que objetivam a produção de água.

2.2. BROCAS

As brocas têm a função de degradar as rochas de forma que a perfuração ocorra.

São escolhidas de acordo com o tipo de formação perfurada e seu tempo útil deve ser

calculado, assim como seu custo (THOMAS et al., 2001). Seus mecanismos de

funcionamento incluem o acunhamento, a torção, a raspagem e a moagem, a percussão

ou o esmagamento e a erosão por ação do fluido de perfuração (REGALLA, 2011). O

Page 32: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

30

IADC (International Association of Drilling Contractors) agrupou as brocas em grupos

classificativos conforme a Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Tipos de brocas utilizadas nas diferentes formações

Classificação IADC Formações

1 – 1 1 – 2 5 – 1 6 – 2

Formações moles apresentando baixo esforço compressivo e alta capacidade de perfuração (folhelhos moles, argilas, red beds, sais, calcários moles, formações inconsolidadas, etc.)

1 – 3 6 – 1

Formações moles a médias ou moles interpostas por camadas duras (folhelhos firmes, inconsolidados ou com areia, red beds, sais, anidrita, calcários moles, etc.)

2 – 1 6 – 2

Formações médias a médio-duras (foflhelhos mais duros, folhelhos com areia, folhelhos alternando com camadas de arenitos ou calcários, etc.)

2 – 3 6 – 2

Formações médio-duras abrasivas a duras (rochas de alto esforço compressivo, dolomita, calcários duros, etc.)

3 – 1 7 – 2

Formações duras semi-abrasivas (dolomita, granito, chert, etc.)

3 – 2 3 – 4 8 – 1

Formações duras e abrasivas (chert, quartizito, pirita, granito, etc.)

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

Para adequá-las ao ambiente de operação, o programa de broca é desenvolvido

a partir de poços de correlação, de dados dos fabricantes e de perfis geológicos. Para

efeito de comparação, utiliza-se seu custo métrico, dado por (THOMAS et al., 2001):

𝐶𝑀 =𝐶𝐵 + 𝐶𝐻. (𝑡𝑝 + 𝑡𝑚)

𝑀𝑝

Em que: CM = Custo métrico; CB = Custo das brocas, CH = Custo horário da sonda

de perfuração, tp = Tempo gasto perfurando; tm = Tempo gasto manobrando; Mp =

Intervalo perfurado.

As brocas ainda podem ser classificadas em (THOMAS et al., 2001):

Page 33: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

31

- Brocas sem partes móveis: Apresentam menores índices de falha devido à inexistência

das partes móveis. Seus principais exemplares são: integral de lâminas de aço,

diamantes artificiais e diamantes naturais.

- Brocas com partes móveis: São compostas por cones (um a quatro); as mais comuns

são as tricônicas. Possuem estruturas cortantes e rolamentos.

2.3. FLUIDO DE PERFURAÇÃO

O fluido ou lama de perfuração tem papel de extrema relevância na perfuração

de um poço de petróleo. Possuindo funções como a de remover cascalhos, a de resfriar

e lubrificar a broca e a de exercer pressão sobre a formação, esse necessita ser bem

planejado para que a perfuração ocorra de acordo com as necessidades da operadora.

A Tabela 2.1 mostra as diferentes classes em que esse pode se inserir (THOMAS et al.,

2001).

O plano de fluido de perfuração leva em conta uma série de características,

químicas e físicas, que são particularizadas a cada formação perfurada. Com a finalidade

de exercer a função primordial de proteção, esse deve ser estável e estabilizar

quimicamente a parede do poço. Essa tarefa se torna ainda mais relevante quando se

tratam de paredes argilosas, que apresentam comportamento quimicamente ativo e que

incham na presença de água (THOMAS et al., 2001).

As propriedades físicas e químicas mais utilizadas para fluidos de perfuração

são: densidade, parâmetros reológicos, forças géis, parâmetros de filtração, teor de

sólido (físicos), pH, teor de cloreto e de bentonita e alcalinidade (químicos). Para que as

propriedades ideais sejam adquiridas de forma a otimizar a produção e reduzir custos,

deve haver intenso estudo do tópico (THOMAS et al., 2001).

A lama base óleo tem diversas vantagens em campo em relação por exemplo à

reatividade da formação e à facilidade de escoamento, mas apresenta altos custos

monetário e ambiental. Dessa forma, o tipo de fluido mais utilizado hoje ainda é o fluido

base água. Entretanto, para se adquirir propriedades necessárias à perfuração, suas

Page 34: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

32

propriedades precisam ser controladas de forma a se adequar ao ambiente de operação

(MELO, 2008).

Tabela 2.2: Classificação do fluido de perfuração

Classe Subclasses comuns

Lamas de água doce pH 7-9

Spud muds (lama inicial de perfuração)

Lamas de bentonita

Lamas de fosfato

Lamas de lignito

Lamas de lignossulfonato

Lamas de coloides orgânicos

Lamas inibidas Lamas de cal

Lamas de gesso

Lamas de água do mar

Lamas de água salgada saturada

Lamas com baixo teor de sólidos Menos de 3% - 6% de sólidos

Emulsões Óleo em água

Água em óleo

Fase reversa

Lamas de base óleo Menos de 5% de água

Mistura de diesel e asfalto

Fonte: Caenn et al. (2013).

A formulação das lamas se utiliza de diferentes materiais que lhes proporcionam

as características necessárias: os aditivos. Esses incluem: adensantes, viscosificantes,

alcalinizantes e controladores de pH, bactericidas, emulsificantes, controladores de

argila, redutores de filtrado e outros (HYNE, 2001).

A não adequação do fluido pode causar sérios impactos à perfuração e um

potencial problema é a manutenção fora da janela de operação. O fluido deve ser tal que

permita um poço submetido a pressões entre o valor da pressão de poro da formação e

Page 35: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

33

o valor de sua pressão de fratura. Esses parâmetros precisam ser observados a todo

tempo de forma a garantir a boa operação, principalmente para regiões de janela estreita

ou formações problemáticas. Os indicativos de problemas relacionados ao peso da lama

(ECD – Equivalent Circulating Density) estão indicados na Tabela 2.3 (GALA et al., 2010).

Tabela 2.3: Indicadores de desempenho do fluido de perfuração

Indicators for Mud Weight (ECD) Too Low

Unexpected high rate of penetration (ROP)

Torque/drag increase

Cavings – particularly “concave” or “splintered”

Flow rate increase

Shut-in drilling pipe pressure + - well control

Drilling break gas failing to “fallout” after circulating

Bottomhole assembly (BHA) drift (principles stress vectors)

Hole fill-up (sloughing or colapsing hole)

Indicators for Mud Weight (ECD) Too High

Unexpected low ROP

Hight bit wear

“Over wet” shales, lessen chemical inhibitive effectiveness and increases shale stress because of fluid penetration

Creates unnecessary fluid losses, differential sticking, and risk of fracturing softer formations

Increase opportunities for “ballooning”, possibly creating unsafe drilling conditions

Other Hazard Indicators

“D” exponents: changing drillability trends (analogue of mud weight, ROP, and WOB)

Pinched bits, elliptical hole (principle stress vectors)

Fluffy, wetted shales (chemical instability)

Fonte: Gala et al. (2010).

2.4. REVESTIMENTOS

Os revestimentos são assentados quando se faz necessário perfurar uma nova

fase do poço não compatível com a anterior, em termos de pressões de poro e de fratura.

O API (American Petroleum Institute) estipulou procedimentos de classificação e seleção

Page 36: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

34

das colunas de revestimento de forma a padronizar o processo. Ainda assim, se fazem

necessários certos cálculos particulares ao poço, como a análise das pressões e do fluido

de perfuração, que permitem perceber a solicitações presentes durante a descida e ao

longo da vida do poço. As funções da coluna de revestimento são as seguintes (THOMAS

et al., 2001, p. 89):

- Prevenir o desmoronamento das paredes do poço.

- Permitir o retorno do fluido de perfuração à superfície.

- Evitar a contaminação da água potável dos lençóis freáticos mais próximos à superfície.

- Prover meios de controle de pressões dos fluidos, permitindo aplicação de pressão adicional desde a superfície.

- Permitir a adoção de sistema de fluido de perfuração diferente, mais compatível com as formações a serem perfuradas adiante.

- Impedir a migração de fluidos das formações.

- Sustentar os equipamentos de segurança de cabeça de poço.

- Sustentar outra coluna de revestimento.

- Alojar os equipamentos de elevação artificial.

- Confinar a produção ao interior do poço.

2.5. CIMENTAÇÃO

Após a descida de cada coluna de revestimento, é essencial que essa seja

cimentada. Esse procedimento assegura que o revestimento fique bem fixado e que não

haja migração de fluidos entre as diferentes camadas. A composição do cimento a ser

utilizado também é padronizado pelo API. A Figura 2.3 apresenta as aplicações comuns

de cimento durante a perfuração e a Tabela 2.4 apresenta as classes de cimento API.

2.5.1. Verificação da qualidade da cimentação

A verificação da cimentação primária é essencial para assegurar a estabilidade

posterior do poço e evitar problemas futuros. Caso a cimentação defeitos sejam

detectados, cimentação secundária deve como medida corretiva. Para a avaliação, são

usados perfis a cabo que analisam a aderência do cimento à formação e ao revestimento

Page 37: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

35

(MALOUF, 2013). A Figura 2.4 representa a fundamentação do funcionamento de um

perfil acústico para esse fim.

Figura 2.3: Aplicações comuns da cimentação

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

Figura 2.4: Energia acústica transpondo a formação

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

Page 38: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

36

Tabela 2.4: Classes de cimento API

Classe A Uso da superfície a 6.000 ft (1830 m), quando propriedades especiais não são requeridas. Disponível apenas em tipo ordinário (similar ao ASTM C 150 Tipo I)

Classe B Uso da superfície a 6.000 ft (1830 m), quando as condições exigem moderada a alta resistência a sulfato. Disponível em tipos de moderada (similar ao ASTM C 150 Tipo II) e alta resistência a sulfato.

Classe C Uso da superfície a 6.000 ft (1830 m), quando as condições exigem alto esforço inicial. Disponível em tipos de moderada (similar ao ASTM C 150 Tipo III) e alta resistência a sulfato.

Classe D Uso de 6.000 ft a 10.000 ft (1830 m a 3050 m) em condições de pressões e temperaturas moderadamente altas. Disponível em tipos de moderada ou alta resistência a sulfato.

Classe E Uso de 10.000 ft a 14.000 ft (3050 m a 4270 m) em condições de altas temperaturas e pressões. Disponível em tipos de moderada ou alta resistência a sulfato.

Classe F Uso de 10.000 ft a 16.000 ft (3050 m a 4880 m), sob condições de extremamente altas temperaturas e pressões. Disponível em tipos de moderada ou alta resistência a sulfato.

Classe G Uso como cimento básico da superfície a 8.000 ft (2440 m) e pode ser usado com aceleradores e retardadores para cobrir uma grande variedade de profundidades e temperaturas. Nenhuma adição além de sulfato de cálcio e água deve ser misturada ao clínquer durante a manufatura do cimento classe H. Disponível em tipos de moderada ou alta resistência a sulfato.

Classe H Uso como cimento básico da superfície a 8.000 ft (2440 m) e pode ser usado com aceleradores e retardadores para cobrir uma grande variedade de profundidades e temperaturas. Nenhuma adição além de sulfato de cálcio e água deve ser misturada ao clínquer durante a manufatura do cimento classe H. Disponível apenas em tipo de moderada resistência a sulfato.

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

Page 39: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

37

2.3. TESTES EM POÇOS

A completação de um poço costuma ser mais cara que sua perfuração. Por isso,

testes devem ser corridos para avaliar a viabilidade econômica do projeto subsequente.

Existem diferentes tipos de testes que ocorrem em diferentes momentos da vida de um

poço, descritos abaixo se encontram os principais dentre esses (HYNE, 2001).

2.3.1. Perfil litológico

O perfil litológico para a formação perfurada é desenvolvido a partir dos

cascalhos retirados durante a perfuração. O fluido carrega pedaços de rocha até a

superfície e esses são retirados e avaliados em intervalos de tempo definidos. Para que

se forme um perfil adequado, leva-se em conta o tempo de locomoção do local de origem

à superfície (lag time). De posse das informações, se constrói um documento que exibe

cada faixa específica de rocha esperada em cada camada do solo (HYNE, 2001).

Outra maneira de se definir a litologia do subsolo é a testemunhagem, que, em

vez de fragmentos carreados, retira pedaços reais da formação. Essa opção exibe maior

acurácia, já que amostras de um local específico são adquiridas. Para isso, a coluna de

perfuração precisa ser retirada, de forma que uma broca especial seja instalada para

retirar o testemunho (amostra cilíndrica de rocha). Assim, a testemunhagem se mostra

mais cara frente à análise dos cascalhos, sendo utilizada em situações limitadas (HYNE,

2001).

Outra alternativa é a amostragem da parede lateral, que é mais barata que a

técnica tradicional. Após a perfuração, a ferramenta é descida e as amostras das paredes

laterais são coletadas nas profundidades de interesse. Esse método se utiliza de

explosivos que podem alterar as propriedades a serem analisadas (HYNE, 2001).

Técnicas mais modernas permitem a captação ainda durante a perfuração, em diâmetros

entre 8 e 10,5 polegadas (VILLAREAL et al., 2010).

Page 40: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

38

2.3.2. Perfil da taxa de penetração

A taxa de penetração é o registro, normalmente em minutos por pé (min/ft), do

tempo de perfuração de cada seção durante toda a perfuração. Essa é afetada por

parâmetros como rotação da broca, peso sobre a broca e tipo de broca, mas também

pelas propriedades das rochas presentes. Se os parâmetros forem mantidos

relativamente constantes, as rochas serão a principal causa de variação na taxa (HYNE,

2001).

Uma mudança brusca na taxa de penetração é chamada de drilling break e é

indicativa de possível mudança na litologia. Essa é utilizada para a identificação das

camadas atingidas, permitem saber o início e o fim de cada um. Ainda se podem perceber

diferenças de porosidade, já que regiões muito porosas apresentam menor densidade

(HYNE, 2001).

2.3.3. Perfil de lama

Testes na lama de perfuração são feitos em um caminhão de perfilagem. Para

isso, normalmente se contrata uma empresa terceirizada. Óleo e gás presentes no fluido

são analisados e concentrações mais altas (show) são detectadas para que análises

químicas mais detalhadas sejam rodadas. Assim, se calculam porcentagens de

hidrocarbonetos presentes e se comparam os resultados com os outros perfis (HYNE,

2001).

2.3.4. Perfis a cabo

A Tabela 2.5 demonstra os principais perfis geofísicos a cabo corridos em poços

de petróleo e suas respectivas aplicações.

2.3.5. Leak-off Test (LOT)

Teste também conhecido como Ensaio de Integridade de Pressão, é realizado a

cada descida de revestimento. Após a cimentação, o poço é fechado e fluido é bombeado

Page 41: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

39

até atingir o limite suportado pela formação. Quando a formação começa a ser invadida,

define-se a pressão máxima a que o poço pode ser submetido. Esse teste é utilizado para

estimativa da tensão horizontal mínima e da pressão de fratura. Um fator de segurança

ainda é adotado e o peso do fluido aplicado na perfuração subsequente será ligeiramente

abaixo do resultado do LOT.

Tabela 2.5: Principais perfis a cabo

Perfil Aplicação

Potencial Espontâneo Identificar potenciais rochas reservatório.

Raios Gama Medir radioatividade natural;

Identificar potenciais rochas reservatório;

Correlacionar formações;

Determinar conteúdo de folhelho nas rochas.

Resistividade

Laterolog

Indução elétrica

Determinar presença de fluidos nas formações.

Neutrônico Determinar porosidade das formações.

Densidade Determinar densidade e porosidade das formações.

Sônico Determinar tempos de trânsito das ondas S e P;

Calcular porosidade;

Determinar litologia.

Caliper Medir diâmetro do poço.

Fonte: Adaptado de Hyne (2001).

2.3.6. Teste de formação

A empresa operadora pode optar por realizar um teste de formação para avaliar

o poço e as condições do reservatório. Esses são executados com fluxo de fluido da

formação à superfície, excluindo aqueles em que fluido é coletado no interior da coluna.

Os testes normalmente são de pequena duração, mas, como envolvem produção, os

resultados devem ser enviados às agências de regulação (ANP no Brasil) para possíveis

taxações (ANP, 2016).

Page 42: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

40

O teste de formação é feito com ferramentas que permitem uma completação

temporária do poço. A Figura 2.5 mostra os equipamentos que são descidos de forma a

permitir a realização desse teste (THOMAS et al., 2001).

Figura 2.5: Coluna de testes

Fonte: Thomas et al. (2001).

A zona de interesse é isolada pelos obturadores (packer) que podem ocorrer

apenas acima da zona de interesse ou acima e abaixo. Esses isolam o anular, impedindo

entrada do fluido de perfuração ou completação e permitindo o fluxo da formação ao

interior da coluna (THOMAS et al., 2001).

No momento do teste, a válvula de fundo é aberta e, devido à diferença de

pressão entre o reservatório e o poço, fluido invade a coluna e é produzido. A válvula é

então fechada e aberta algumas vezes e as pressões durante cada operação são

registradas. Assim, as informações da análise do fluido produzido e das variações de

Page 43: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

41

pressões são utilizadas para a definição do potencial produtivo daquela formação

(THOMAS et al., 2001).

2.4. COMPLETAÇÃO

A Completação é a interface entre o poço perfurado e a efetiva produção. Tem o

papel de garantir um ambiente seguro e preparado para que esse poço possa operar. O

engenheiro de completação se depara com diferentes particularidades para cada

operação e é desafiado a cada dia. Tendo que balancear teoria e prática, varia seu

escopo desde poços abertos onshore a complicadas operações em grande lâmina d’água

(BELLARBY, 2009).

O programa de completação é baseado em dados crus ou em previsões. Esses

podem demonstrar incertezas, mas é papel da equipe responsável identificá-las e garantir

um ambiente de produção seguro e bem planejado. Os procedimentos realizados nessa

fase precisam levar em conta o tempo em que o sistema operará e sua economicidade.

Os principais dados que subsidiam essa tarefa são mostrados na Figura 2.3 (BELLARBY,

2009).

Os poços podem ter diferentes funções, como já mencionado, o que implica em

diferentes tipos de completação. Poços podem ser produtores ou injetores e ainda podem

ser associados ao escoamento de mais de um tipo de fluido. Pode haver ainda poços que

adquirem diferentes características ao longo de sua vida útil, primeiro de produção e

depois de injeção por exemplo (BELLARBY, 2009).

A completação ainda é dividida em: de reservatório (conexão desse com o poço)

e superior (conexão do poço com a superfície). Dessa forma, essa deve seguir os

parâmetros necessários à sua finalidade. As decisões comuns nesse processo são

(BELLARBY, 2009):

- Reservatório (reservoir completion): trajetória do poço e inclinação, poço aberto ou

revestido, necessidade de controle de areia e seu tipo, estimulação (propante ou ácido),

zona única ou múltipla.

Page 44: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

42

- Superior (upper completion): elevação artificial e tipo, dimensionamento da coluna,

completação única ou dupla, isolamento da coluna ou não (packer).

Figura 2.6: Programa de completação

Fonte: Bellarby (2009).

Assim que os parâmetros são definidos, a sequência de operações para se

completar um poço são: instalação dos equipamentos de segurança de superfície,

condicionamento do poço, avaliação da qualidade de cimentação, canhoneio, avaliação

das formações, equipagem da cabeça do poço, start (CHIPALAVELA, 2013).

Page 45: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

43

3. PROJETO DE POÇO

Esse capítulo conterá a integração das técnicas de Gerenciamento de Projetos

de EAP e COM à Perfuração de Poços, levando em conta os parâmetros médios

encontrados na literatura. Os dados considerados não representam a realidade de

nenhum poço existente, servem apenas como ilustração da metodologia aqui proposta.

Os dados de poços apenas ilustrarão as entregas das diferentes seções, sem descrição

detalhada de seus passos intermediários e justificativas técnicas. Cada seção conterá

sua exemplificação de entrega, não mantendo relação umas com as outras devido ao

fato de serem baseadas em fontes não correlatas.

3.1 INICIAÇÃO

A construção de um poço costuma passar por quatro estágios: design,

planejamento, execução e análise. As duas primeiras são a fundamentação necessária

para os procedimentos subsequentes. A iniciação consiste em uma proposta

desenvolvida por geólogos e engenheiros de reservatório. Essa disponibiliza as

informações preliminares com as quais o poço será planejado (KAISER, 2009).

Nessa fase, estrutura-se: seleção do time do projeto; design do poço; parâmetros

de saúde, de segurança e ambientais; contratos; financiamento e administração; plano

de operações; logística. Dessa maneira, o Engenheiro de Perfuração prosseguirá ao

planejamento levando em conta as informações necessárias para se perfurar de forma

segura e eficiente, atuando como o gerente de projeto (KAISER, 2009). Nesse tipo de

empreendimento, de grande investimento, é importante que a pessoa responsável seja

altamente qualificada e saiba integrar parâmetros técnicos e de gerenciamento.

3.2. PLANEJAMENTO

O correto gerenciamento de projetos envolve planejar o trabalho para trabalhar

o plano (GIDO et al., 2012). Isso significa que há detalhado planejamento de forma que

Page 46: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

44

as atividades posteriores sejam fortemente embasadas no plano base desenvolvido.

Apesar de o pico de esforço durante o ciclo de vida de um projeto acontecer durante sua

execução, essa fase se mostra mais prática e menos teórica.

Existe, na literatura, uma variedade de estudos que explorem a fase de

planejamento de um poço de petróleo observando diversos aspectos. Em se tratando de

uma indústria de altos custos e riscos, essa etapa ganha extrema importância. Como o

Gerenciamento de Projetos se propõe a ser um conjunto de boas práticas que pode ter

diversas aplicabilidades, aqui será integrado ao plano de um poço de petróleo como uma

nova alternativa.

Um modelo real e tangível de avaliação de desempenho precisa ser

implementado na perfuração. Isso se torna possível através de um planejamento que leve

em conta as ferramentas tecnológicas disponíveis e o cenário econômico do momento.

Cada etapa deve ser claramente declarada de forma que a evolução do projeto possa

ser comparada em tempo real (NKWOCHA, 2010). Dessa forma, é essencial que o

gerente de projetos compreenda as diferentes etapas envolvidas e integre as partes

técnicas e gerenciais.

O custo do planejamento de um poço é insignificante perto daquele de se

efetivamente perfurar. O esforço nessa fase tem o intuito de minimizar os gastos,

mantendo-se padrões de segurança e de qualidade. Não se deseja perfurar um poço que

apresente falhas que possam dificultar a produção e nem que venham a causar

problemas irreparáveis posteriormente. Assim, o planejamento é essencial para

acompanhar as diferentes etapas da perfuração de modo a se obter um resultado

confiável ao menor custo possível (LAKE, 2006).

Lake (2006) propõe a sequência representada na Figura 3.1 para o planejamento

de um poço. Aqui o ponto de partida será a análise das pressões, pois considera-se que

a fase de aquisição de dados já ocorreu e que esses foram transmitidos à operadora.

Baseado nesse fluxograma, serão adaptadas as diferentes etapas técnicas à sequência

operacional de construção de um projeto segundo as práticas do Gerenciamento de

Projetos. Gido et al. (2012) definem alguns passos para a definição de um plano base,

como segue.

Page 47: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

45

Figura 3.1: Fluxograma de planejamento de um poço de petróleo

Fonte: Lake (2006).

3.2.1. Estabelecer o objetivo do projeto

O objetivo do projeto é o resultado a ser obtido ao final de sua implementação.

Esse deve ter a riqueza necessária para percepção dos interesses do consumidor e deve

incluir: orçamento, entrega final, duração e benefícios esperados (GIDO et al., 2012).

Para um poço, pode-se exemplificar um objetivo de: perfuração de um poço terrestre

produtor de 13000 ft de profundidade no canto nordeste da sessão 30, T18S, R15E,

Texas, EUA, em 60 dias e dentro de um orçamento de quatro milhões de dólares.

Page 48: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

46

3.2.2. Definir o escopo

3.2.2.1. Requisitos do cliente

Relaciona padrões de qualidade para a aceitação do produto final. Pode-se

exemplificar que: O poço deve atender aos parâmetros normativos API e ANP, além de

seguir a legislação brasileira em todos os seus processos. Estimando-se a zona

produtora em cerca de 13000 ft, deve-se perfurar um máximo de 13050 ft para localizá-

la. Os revestimentos devem ser assentados e a cimentação checada por perfilagem,

assegurando sua qualidade. Além disso, dever-se-á gerar documentos relativos a todas

as decisões tomadas e procedimentos adotados para posterior arquivamento.

3.2.2.2. Declaração de trabalho

Integra as tarefas a serem realizadas pelo time. Deve ser acordada entre as

partes, já que define o que será ou não feito durante o trabalho. Pode ser representado

como uma sequência de atividades gerais a serem implementadas com o objetivo de se

obter o produto final (GIDO et al., 2012).

3.2.2.3. Entregas

Deve declarar de forma mais detalhada as entregas a serem esperadas pelo

consumidor final. Serve como um acordo de ajuste das expectativas envolvidas. Deseja-

se que ambas as partes estejam cientes do que será produzido ao longo do projeto (GIDO

et al., 2012).

3.2.2.4. Critérios de aceitação

Cientes das entregas, as partes podem definir os critérios de aceitação de cada

uma. Podem ser representados em forma de normas específicas ou com detalhamento

de padrões de qualidade. Usa-se como uma maneira de medir quantitativamente a

adequação dos produtos entregues (GIDO et al., 2012).

Page 49: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

47

3.2.3. Criar a Estrutura Analítica do Projeto (EAP)

Projetos podem se mostrar bastante complexos, mas sempre podem ser

decompostos em pacotes de trabalho viáveis de realização. A EAP do projeto permite a

disposição dos itens necessários à conclusão do trabalho em uma estrutura hierárquica

de mais fácil visualização. A Tabela 3.1 mostra exemplo de EAP para projeto de poço

(GIDO et al., 2012).

As pessoas ou organizações responsáveis por cada item da EAP também devem

ser especificadas de forma que todos no projeto saibam suas responsabilidades

(GIDO&CLEMENTS, 2012). Isso aumenta a identificação dos gerentes locais por suas

atividades e permite que subordinados saibam a quem se direcionar em cada ocasião.

Ainda se cria uma forma fácil de integração entre as partes quando se expõem os itens

e seus respectivos encarregados.

3.2.4. Criar o dicionário da EAP

Com o objetivo de orientar a equipe em relação aos diferentes itens das EAP,

desenvolve-se seu dicionário. Abaixo apresenta-se exemplo:

3.2.4.1. Análise das pressões de poro e de fratura

A definição das pressões in situ é de grande relevância para o planejamento da

perfuração, da completação e da posterior produção dos poços de petróleo. Esses dados

foram de certa forma negligenciados no passado, mas ganharam importância da indústria

ao se perceber seu impacto nos projetos. Hoje há novas técnicas que buscam agregar

esses valores aos diversos bancos de dados (AADNOY et al., 2014).

Poços com pressões de formação normais não costumam gerar grandes

desafios a seu planejamento. Pressões anormais já podem causar problemas em

diversas áreas, como: design de tubos de perfuração e de revestimento, seleção das

profundidades do revestimento e da cimentação e confecção da lama. Além disso, ainda

podem ocorrer kicks e blowouts, perda de circulação e prisão da coluna por diferencial

de pressão (LAKE, 2006).

Page 50: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

48

Tabela 3.1: EAP de projeto de perfuração

EAP # Descrição

Perfuração

1. Análise de pressões de poro e de fratura

1.1. Estudo Preliminar

1.2. Controle com Testes

2. Profundidade e seleção do revestimento

2.1. Estudo Preliminar

2.2. Fornecedores

2.3. Operações

3. Cimentação

3.1. Estudo Preliminar

3.2. Fornecedores

3.3. Operações

4. Geometria do poço

Lama 5. Brocas

5.1. Estudo Preliminar

5.2. Fornecedores

6. Fluido de Perfuração

6.1. Estudo Preliminar

6.2. Manutenção da Janela de Operação

7. Coluna de Perfuração

7.1. Estudo Preliminar

7.2. Fornecedores

8. Testes e Perfis

9. Sonda de Perfuração

Fonte: Elaboração própria.

Page 51: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

49

A dificuldade em se obter os importantes parâmetros para as tensões in situ

reside na relação entre as disciplinas de Geologia e Engenharia. A primeira costuma

trabalhar com grandes escalas e pequena certeza; a segunda, com menores escalas e

maiores certezas. Para a Engenharia, necessita-se precisão para assegurar a segurança

de todas as operações (AADNOY, 2011).

As informações das tensões são obtidas por meios diretos e indiretos, podendo

assim haver medições mais ou menos precisas. Essa obtenção varia de acordo com os

dados disponíveis, buscando-se a otimização do processo. Como resultado, obtêm-se a

janela de operação do poço, que possibilita trabalhar em direção à estabilidade da

perfuração, da completação e ainda de operações posteriores como o fraturamento

hidráulico (AADNOY, 2011).

Durante o planejamento, não há dados disponíveis acerca da perfuração; dessa

forma, apenas outros poços na mesma área ou a sísmica podem fornecer informações.

As pressões de poro e fratura são assim estimadas a partir dos perfis (sônico e

densidade) de poços de correlação e ainda dos dados sísmicos. Quando se começa a

perfurar, novos dados são obtidos e servem para o ajuste das estimativas. (KUMAR et

al., 2006). A partir desse estudo, obtém-se a curva da janela de operação do poço. A

Figura 3.2 ilustra uma curva desse tipo.

3.2.4.2. Profundidade e seleção do revestimento

As condições geológicas, a política interna da companhia e a regulamentação

governamental devem ser levadas em conta no momento da seleção das profundidades

em que os revestimentos serão assentados e revestidos. Os diferentes tipos de

revestimento devem ser assentados de forma a manter a estabilidade do poço para as

operações posteriores de perfuração e/ou completação, a minimizar problemas na

perfuração e a otimizar a produção (LAKE, 2006).

A definição da janela de operação permite ter a ideia de onde se assentarão as

sapatas dos revestimentos. As predições de pressões de poro e fratura indicam os

valores máximos e mínimos para o fluido de perfuração em cada fase do poço. Dessa

forma, o revestimento será assentado assim que o fluido atingir o máximo de peso de

Page 52: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

50

forma a não fraturar a formação superior. O revestimento protegerá a parte superior e

permitirá que o peso do fluido seja aumentado para se prosseguir na perfuração

(ANDERSON et al., 1973).

Figura 3.2: Janela de operação

Fonte: Lake (2006).

A escolha dos tipos de revestimento a serem utilizados deve ser feita através de

cálculo das tensões a que será submetida a coluna, ainda levando em conta critérios e

fatores de segurança API (American Petroleum Institute). Hoje existem programas que

modelam a seleção de maneira mais precisa. A coluna é normalmente composta por:

condutor (primeiro revestimento), revestimento de superfície, revestimento intermediário

e revestimento de produção. (BOWERS, 1955; NASCIMENTO, 2010). A Tabela 3.2

ilustra o resultado de uma análise simplificada para o revestimento de um poço.

Page 53: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

51

Tabela 3.2: Seleção da coluna de revestimento

Intervalo de Profundidade (ft) Número de pés Peso e Grau

0 – 5000 5000 26 lb, J-55, LT&C

5000 – 6750 1750 23 lb, N-80, ST&C

6750 – 9550 2800 26 lb, N-80, ST&C

9550 – 10000 450 29 lb, N-80, ST&C

Fonte: Bowers (1955).

3.2.4.3. Cimentação

O cimento Portland é o comumente utilizados nas operações em poços de

petróleo. A seleção de sua classe e dos aditivos a serem utilizados leva em conta a

profundidade e as condições locais. Após a cimentação, o local efetivamente cimentado

é localizado através de pesquisa de temperatura no poço; a reação exotérmica de

hidratação libera calor e aumenta a temperatura a seu redor. Assim, verifica-se, com o

uso dos perfis acústicos, a qualidade da cimentação, podendo ainda haver operação

secundária de correção (BOURGOYNE et al., 1986).

A seleção deve ser registrada no plano e ajustada a novos dados eventualmente

obtidos ao longo da perfuração. Ao final, as informações acerca da operação real também

devem ser mantidas. A Figura 3.3 representa um relatório simplificado de registro das

especificações de cimentação.

3.2.4.4. Geometria do poço

Os tamanhos de broca e de revestimento definem se o poço será capaz de ser

completado e produzir economicamente. A seleção desses parâmetros pode definir o

sucesso ou a falha de engenharia ou de economicidade. Esse processo é feito com

auxílio de programas que levam em conta a capacidade do poço de conduzir os fluidos

até a superfície, assim como os problemas potenciais ao se atingir a zona de interesse.

Poços muito estreitos dificultam a produção devido à alta perda de energia por fricção,

Page 54: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

52

mas condições geológicas podem exigir a descida de mais revestimentos, reduzindo

diâmetro. Dessa forma, cuidadoso planejamento deve ser utilizado (LAKE, 2006).

Figura 3.3: Relatório simplificado de cimentação

Fonte: Moscrip (1951).

3.2.4.5. Programa de brocas

A seleção dos tipos de brocas é desenvolvida a partir de dados de poços de

correlação e pode ser feita em qualquer instante do planejamento, adaptando-se apenas

à geometria desejada (LAKE, 2006). Essa ocorre ainda por tentativa e erro, observam-se

os sucessos em poços próximos, levando em conta a classificação IADC, e utilizam-se

as mesmas brocas. Entre a performances de contratantes e de tipos, para efeito de

comparação, mede-se um parâmetro financeiro: o custo por metro (BOURGOYNE,

1986).

Page 55: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

53

3.2.4.6. Lama de perfuração

A lama de perfuração é selecionada levando em conta: (1) os tipos de formação

a serem perfuradas, (2) as temperaturas, permeabilidades, tensões e pressões de poro,

(3) o método de avaliação da formação, (4) a qualidade da água disponível e (5)

considerações ecológicas. Entretanto, a composição é ajustada basicamente por

tentativa e erro durante o processo. Por isso, um especialista em fluidos de perfuração é

mantido a todo tempo na função de ajuste (BOURGOYNE, 1986).

A Tabela 3.3 exemplifica a definição dos tipos de lamas a serem usados em um

poço e a Figura 3.4 mostra uma composição comum de lama base água.

Tabela 3.3: Exemplo de fluidos utilizados

Fonte: Nascimento (2010).

Figura 3.4: Exemplo de composição: lama base água

Fonte: Bourgoyne et al. (1986).

Page 56: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

54

3.2.4.7. Coluna de perfuração

A coluna de perfuração também possui padrões standard API, mas cálculos

devem ser feitos levando em conta as tensões a que será submetida devido ao fluido e à

profundidade. A quantidade de comandos, tubos mais densos que aplicam peso à broca,

é calculada levando em conta as linhas neutras de flambagem e de tração. Os tubos

pesados e os tubos de perfuração ficam submetidos a esforços de tração, compressão e

torção e possuem propriedades tabeladas.

3.2.4.8. Testes e perfis

Definem-se os testes e perfis que serão corridos no poço, assim como os

momentos em que ocorrerão. Testes comuns durante a perfuração são o LOT (Leak-off

Test) após a descida dos revestimentos, os perfis a poço aberto e a poço revestido e os

testes de formação na fase final.

3.2.4.9. Plataforma de perfuração

A seleção das plataformas de perfuração leva em conta principalmente o local do

projeto e o custo envolvido. Pode acontecer de mais de uma sonda ser utilizada para

diferentes fases do projeto, o que será definido por uma análise estratégica das

combinações que mais se adequam ao poço (FERREIRA FILHO, 2016).

3.2.5. Definir atividades e sequenciá-las

Deve-se revisar os itens da EAP e detalhar as atividades a serem executadas

em cada pacote de trabalho, assim como suas entregas. Em seguida, pode-se

sequenciá-las de forma a criar um diagrama de rede que mostre a relação de

dependência entre essas (GIDO et al., 2012). A Figura 3.5 mostra exemplo de diagrama

de rede para um projeto de perfuração.

Page 57: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

55

Figura 3.5: Diagrama de rede da perfuração

Fonte: Elaboração própria.

3.2.6. Estimar recursos e durações e desenvolver cronograma

Recursos incluem materiais, pessoas, equipamentos, entre outros, que são

necessários à realização de cada atividade proposta. A estimativa deve ser conduzida

em conjunto com as equipes responsáveis pelos pacotes de trabalho e cada atividade

deve possuir uma pessoa específica designada, de forma a que se utilizem

conhecimentos e experiências específicas na tarefa. Deve-se levar em conta a

disponibilidade e o tipo do recurso, assim como se será interno ou externo à companhia.

Essa pode se mostrar uma tarefa árdua para um projeto em totalidade, mas diminui sua

complexidade à medida que se decompõem os itens de forma estratégica (GIDO et al.,

2012).

Page 58: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

56

Baseando-se nos recursos a serem aplicados, pode-se estimar a duração de

cada atividade. Essa levará em conta o tempo de aquisição dos recursos, assim como a

realização das tarefas envolvidas. Mais uma vez, é importante que esse passo seja

realizado em consonância com as equipes responsáveis, para que se responsabilizem

pelo cumprimento dos prazos e custos associados (GIDO et al., 2012).

Baseado nas estimativas para cada atividade e nas relações lógicas, pode-se

desenvolver o cronograma do projeto e integrá-lo ao diagrama de rede. A Figura 3.5 é

um exemplo de diagrama que também mostra as datas de início e de término mais cedo

e mais tarde, assim como as estimativas de duração. A Tabela 3.4 ainda ilustra as

relações de dependência entre as diversas atividades.

Tabela 3.4: Lista de atividades e predecessores

Atividade Predecessores Intermediários

1. Estudo das Pressões

2. Programa de Fluido 1

3. Estudo da Geometria 1

4. Programa da Coluna de Perfuração 2

5. Programa de Revestimento 3

6. Programa de Brocas 3

7. Programa de Cimentação 5

8. Plataforma 4, 6, 7

9. Condutor Jateado 13 3/8” 8

10. Perfuração 12 1/4” 9

11. Rev. Superfície 9 5/8” + LOT 10

12. Perfuração 8 1/2” 11

13. Rev. Intermediário 7 5/8” + LOT + Log 12

14. Perfuração 6 1/2” 13

15. Rev. Produção 5” 14

16. Perfilagem + Testes 15

Fonte: Elaboração própria.

Page 59: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

57

O diagrama da Figura 3.5 considera um poço que deve ser finalizado em 80 dias,

desde seu planejamento até o final de sua perfuração. Cada atividade tem sua folga total

calculada como a diferença entre seu término mais tarde e seu início mais cedo. As

atividades presentes na sequência de menor folga (em cinza) compõem o chamado

caminho crítico. Esse deve obter o máximo de acompanhamento durante o projeto.

Durante a fase de execução, o diagrama ainda deve ser atualizado após a realização das

etapas de forma a recalcular os tempos e garantir que o projeto seja concluído dentro do

prazo.

Pode-se perceber que toda a execução da perfuração se encontra em série no

diagrama e pertence ao caminho crítico. Os procedimentos posteriores sempre

dependem dos anteriores nessa etapa, já que as fases do poço constituem uma

sequência. Apenas o planejamento permite flexibilização, exigindo um trabalho muito

acurado. Por essa razão, é importante que o plano seja corretamente executado e que

haja recursos de contingência, uma vez que não se podem admitir folgas nas atividades.

3.2.7. Estimar os custos das atividades

Baseado ainda nos tipos e quantidades de recursos requeridos para as

atividades a serem desenvolvidas, estimam-se custos (GIDO et al., 2012). Um fator crítico

para o custo final de um poço é seu tempo de perfuração. A análise dos custos se mostra

assim altamente dependente de uma correta análise dos tempos. (GALA et al., 2010). A

Figura 3.6 mostra os fatores que impactam tempos e custos do projeto.

3.2.8. Determinar orçamento

O orçamento total de um projeto pode ser determinado a partir da aglutinação

dos custos de cada uma das atividades detalhadas no diagrama de rede. O orçamento é

normalmente apresentado em um documento chamado Autorização para Despesas

(Authorization for Expenditures). A próxima etapa é a distribuição dos gastos ao longo da

duração do projeto, de forma a não os concentrar em certos momentos (GIDO et al.,

2012; ARCHER et al., 1986).

Page 60: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

58

Figura 3.6: Fatores determinantes de tempo e custo

Fonte: Kaiser (2009).

O custo da perfuração é altamente dependente de sua localização, sua

profundidade e seu propósito. (ARCHER et al., 1986). Os poços offshore são os mais

caros devido à sua complexidade, incluindo logística e modernas sondas. Os poços

onshore apresentam orçamentos mais baratos, normalmente variando entre um e quinze

milhões de dólares (ALMEIDA, 2010). O tempo é variável de grande impacto no custo

também, fazendo crescer a importância de um planejamento acurado de maneira a evitar

imprevistos que atrasem o projeto.

A perfuração possui certos riscos associados e, por isso, operadoras costumam

superestimar os custos cerca de 10 a 25%. Essa prática aumenta consideravelmente o

valor dos projetos e pode atuar de forma crítica na decisão de se esse será efetivamente

implementado. Entretanto, a avaliação correta das circunstâncias e o uso de técnicas

avançadas durante o processo podem reduzir essa estimativa e evitar a perda do poço

(GALA et al., 2010).

A Figura 3.7 exemplifica um documento de Autorização de Despesas e

demonstra as principais categorias levadas em consideração no processo de confecção

do orçamento.

Page 61: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

59

Figura 3.7: Documento de Autorização de Despesas

Fonte: Lake (2006).

Page 62: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

60

3.2.9. Fechar o plano

Uma vez que o planejamento do projeto se conclui, pode-se analisar sua

viabilidade. Deve-se avaliar se o projeto pode ser cumprido com todos seus requisitos

dentro do tempo e do orçamento. Caso necessário, modificações devem ser

implementadas de forma a ajustar o projeto aos recursos disponíveis. Essa etapa

assegura um plano base tangível que diminuirá a probabilidade de o projeto ir além no

tempo e/ou em custos (GIDO et al., 2012).

O planejamento determina uma sequência base, mas deve ser constantemente

atualizado à medida que novos dados são adquiridos. Há intenso monitoramento

enquanto se perfura, podendo-se utilizar os perfis, a análise da lama e dos cascalhos que

retornam e a testemunhagem. Essas informações devem ser incorporadas às já

utilizadas no planejamento de forma a correlacionar valores estimados e reais e calibrar

os diversos métodos utilizados anteriormente.

O plano do poço deve orientar o seu completo desenvolvimento, apesar de não

ser estático e poder ser modificado à medida que novos dados são obtidos. Esse plano

pode ser disposto em forma gráfica dividido em períodos, semanais ou mensais por

exemplo. Esse deve incluir informações sobre (GIDO et al., 2012): Começo e fim de cada

atividade; quantidade de recursos necessários; orçamentos dos períodos e acumulado.

3.3. GERENCIAMENTO DE RISCOS

Perfurar com sucesso, controlando as variáveis e garantindo segurança e

economia de recursos pode se mostrar uma tarefa árdua, principalmente em ambientes

hostis. A perfuração deve levar em conta o máximo de dados que se puder adquirir e os

riscos precisam ser claramente compreendidos. Apesar de parecer ilógico, alguns dados

de outros poços muitas vezes são ignorados na construção de um novo. De posse da

informação, deve-se criar um plano de gerenciamento de risco (drilling hazard

management), que considere as melhores alternativas diante da tecnologia disponível

para evitar ou lidar com eventualidades (GALA et al., 2010).

Page 63: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

61

Problemas durante a perfuração são bastante prováveis de ocorrer,

principalmente levando em conta que os dados em que se baseia o plano não costumam

ser de tão alta precisão. Além disso, formações normalmente apresentam

heterogeneidades não previsíveis que podem dificultar todo o processo. A chave do

sucesso do poço frente a esses problemas está em sua antecipação (LAKE, 2006). Uma

das práticas usadas hoje para a percepção e interpretação das dinâmicas da perfuração

é “ouvir o poço”. Dados como peso sobre broca, revoluções por minuto, ECD, cascalhos,

entre outros, permitem investigar seu desenvolvimento e prever riscos (GALA et al.,

2010).

Riscos são eventos incertos que, caso ocorram, podem comprometer o

andamento do projeto. O efetivo gerenciamento pressupõe identificá-los juntamente com

seus possíveis impactos. Deve-se agir de forma a minimizar a ocorrência desses eventos

e preparar-se para que seus reflexos não sejam drásticos. Esperar para que situações

inusitadas e perigosas aconteçam para então reagir pode causar grande

comprometimento em se tratando de tempos e custos (GIDO et al., 2012).

O gerente de projetos deve se familiarizar com a situação de risco. Desde a fase

de iniciação esses eventos já devem ser abordados na orientação quanto à possibilidade

de andamento do projeto. Em alguns casos (como o do projeto de poço), uma boa

margem de contingência deve ser planejada desde o início considerando o grau de

incerteza envolvido. Durante o planejamento, esses devem ser estudados mais a fundo

a fim de levar em conta a probabilidade de ocorrência e as possíveis soluções.

Finalmente, na fase de execução, esses devem ser acompanhados e recalculados

sempre que se fizer necessário (GIDO et al., 2012).

O correto gerenciamento de riscos envolve (GIDO et al., 2012):

- Identificar riscos e seus potenciais impactos;

- Prever a probabilidade de ocorrência e o grau de impacto;

- Planejar as respostas aos riscos.

- Monitorá-los.

Page 64: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

62

O resultado desse estudo é a criação de uma matriz de avaliação de riscos, como

a ilustrada na Tabela 3.5. Esses são avaliados e suas probabilidades e impactos são

classificados em baixos (B), médios (M) ou altos (A).

Tabela 3.5: Matriz de avaliação de riscos

Risco Probabilidade (B, M, A)

Impacto (B, M, A)

Indicativo de ação

Plano de resposta

Prisão da coluna B G - Aumento de torque e araste. - Inabilidade de retirar e/ou rodar coluna. - Circulação ininterrupta de fluido.

- Manter a menor perda de fluido possível. - Manter menos nível de sólidos no sistema de lama - Usar a menor pressão diferencial possível. - Selecionar sistema de lama de baixo coeficiente de fricção. - Manter coluna sempre em movimento.

Perda de circulação

M M - Menos fluido retornando que o injetado.

- Tentar selar formação com aditivos na lama. - Plug.

Instabilidade do poço

M B - Monitoramento de torque, pressão de circulação, arraste, viagens.

- Adaptação do fluido de perfuração,

Desvio de trajetória

B M - Ferramentas de medição enquanto se perfura.

- Diminuir o peso sobre a broca. - Usar estabilizadores.

Kick M M - Aumento de volume retornando - Aumento da taxa de penetração - Presença de óleo e gás no fluido

- Aumento do ECD.

Fonte: Elaboração própria baseado em Lake (2006).

3.4. EXECUÇÃO E CONTROLE

Durante a execução, os dados adquiridos devem fluir de maneira transparente

entre os membros da equipe, assim como os respectivos planejamentos. Deve-se evitar

a disseminação de informações distorcidas que possam causas erros de interpretação.

Cada parâmetro a ser avaliado deve ter seu plano base, de maneira que os dados locais

façam a composição do projeto global. Dessa forma, o Engenheiro de Perfuração

Page 65: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

63

alimentará uma base de dados construída em tempo real que poderá ser clara e

constantemente comparada ao planejamento (NKWOCHA, 2010).

Um período regular de reportagem e avaliação deve ser estabelecido para

comparar o progresso atual ao planejado. No caso de poços, os dados atuais costumam

ser incorporados diariamente a sistemas de informações que já avaliam o andamento.

Caso haja necessidade de mudanças no plano base, essas devem ser compartilhadas

com os envolvidos também. Dessa forma, é importante que o time discuta a situação do

poço em reuniões periódicas. A Figura 3.8 mostra um fluxo de decisões para o

acompanhamento de um projeto.

No passado, existiam mecanismos menos sofisticados que dificultavam um fluxo

de dados eficiente. Hoje existem bases de dados, sistemas integrados e redes de intranet

customizadas que permitem registros quase instantâneos. O avanço da tecnologia tem

refletido na perfuração em tempo real e tem facilitado os processos, aumentando eficácia

e diminuindo riscos (LAKE, 2006). Ainda assim, muita cautela deve ser empregada diante

de todo o investimento envolvido.

Eventos inesperados são bastante propícios de ocorrência, principalmente em

projetos de poços, que exibem grandes complexidade e incerteza. Em caso de se

fazerem necessários ajustes no plano, um sistema de controle deve ser implementado.

Todos os interessados no projeto devem ser notificados e devem concordar. Além disso,

toda mudança, assim como os outros eventos do projeto, deve ser devidamente

documentada e arquivada (GIDO et al., 2012).

3.5. FINALIZAÇÃO DO PROJETO

Após a coleta dos dados particulares de perfuração, a computação global pode

ocorrer e então pode-se desenvolver uma avaliação da performance. Essa levará em

conta os índices de eficiência da perfuração, da broca, de revestimento e cimentação, da

avaliação da formação e do fluido (NKWOCHA, 2010).

Page 66: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

64

Figura 3.8: Fluxograma de controle

Fonte: Gido et al. (2012).

Os dados de todo o projeto devem ser analisados e arquivados, tanto os

sucessos quanto os fracassos. As lições aprendidas precisam ser armazenadas de forma

que sirvam a novos projetos similares (GIDO et al., 2012). Em perfuração, muitos dados

são obtidos através de correlação de poços, o que justifica ainda mais intensamente a

coleta final.

Enfim, um índice simplificado para a análise do projeto de perfuração pode ser

utilizado:

Page 67: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

65

𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 =𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜

𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 𝑈𝑡𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜𝑠

Produtividade torna-se um grande objetivo para qualquer negócio. Portanto, é

considerada um importante indicador que ajuda a estabelecer metas para competir

estrategicamente no mercado. Deve-se tentar otimizar o resultado produzido em cada

projeto subsequente, garantindo um contínuo processo de melhora na qualidade dos

serviços prestados (GARCIA, 2015).

Page 68: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclusões

A revisão da bibliografia acerca do tema permite perceber que os processos de

planejamento e de controle de um poço já são percebidos como de suma importância

para o sucesso. Inúmeros artigos abordam o assunto e a perfuração já tem ocorrido com

intenso gerenciamento. É perceptível ainda que o Engenheiro de Perfuração tem atuado

como um gerente, encarregado da manutenção dos processos envolvidos.

Apesar da riqueza de fontes disponíveis, essas ainda se mostram muito isoladas,

cada uma trazendo uma pequena ideia de como se deve proceder no gerenciamento da

perfuração. Das revisadas, apenas Lake (2006) foi capaz de desenvolver um trabalho

bastante completo, mas possui ainda suas limitações. O livro demonstra detalhadamente

como se planejar um poço, mas não aborda com a mesma riqueza posteriores controle

e integração das partes.

Talvez a indústria de petróleo esteja ainda fechada para novos caminhos

provenientes de outras áreas de conhecimento. Quando se estuda algo relacionado a

petróleo, costuma-se fazê-lo com uma visão específica apenas para o setor. A tendência

entre os profissionais que trabalham com petróleo costuma ser de extrema

especialização. Enquanto outras indústrias muitas vezes se utilizam de conhecimentos

construídos em diferentes áreas para adaptação e implementação.

Por se mostrar bastante multidisciplinar, envolvendo desde análise econômica

até logística, essa indústria deveria talvez aglutinar mais os conhecimentos, não isolar

cada área. Essa é a tendência do Gerenciamento de Projetos, que surge como uma

proposta integradora, com possibilidade de utilização em inúmeros tipos de

empreendimentos. A adaptação das duas áreas pode mostrar um caminho para o

enriquecimento dessa literatura acerca do gerenciamento de um poço.

O Engenheiro de Perfuração já costuma ser encarregado do gerenciamento

global em campo, mas até chegar a tal posto, precisa adquirir vasta experiência. É de

grande importância que ele conheça a fundo os processos da perfuração, mas talvez a

disponibilização de técnicas mais precisas diminua a necessidade de tanta

Page 69: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

67

especialização. Além disso, ainda podem nortear o trabalho de forma mais natural e

diminuir as falhas.

Enfim, o presente trabalho buscou a integração das duas áreas, visando a

analisar outra forma de estudo da perfuração, com um olhar mais abrangente. Objetivou-

se mostrar que a troca de experiências entre setores pode enriquecer o conhecimento,

expandindo novos caminhos. Assim, conclui-se que é possível aplicar técnicas de

Gerenciamento de Projetos à perfuração de poços, complementando seu processo de

desenvolvimento e trazendo novas propostas.

Sugestões para trabalhos futuros

O presente trabalho abordou o tema de forma ainda superficial, exemplificando

muitos passos sem grande riqueza de detalhes. Sugere-se o aprofundamento dos

processos; por exemplo, um estudo isolado da estruturação de um cronograma para o

poço, ou de seu orçamento. Cada subtítulo desse trabalho pode gerar um novo estudo

mais preciso, que, ao final, integre sua totalidade com maior riqueza.

Além disso, pode-se comparar as propostas aqui presentes com o que se tem

feito na indústria. Como os dados de perfuração ainda costumam ser bastante restritos,

o presente trabalho se baseou em fontes teóricas. Informações mais técnicas e precisas

acerca de um poço específico podem ser utilizadas para fins de comparação e análise

da real aplicabilidade do aqui proposto. E, por fim, a metodologia pode ser testada em

campo, percorrendo as etapas de perfuração com o olhar do Gerenciamento.

Page 70: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AADNOY, B. Quality Assurance of Wellbore Stability Analyses. SPE/IADC Drilling

Conference and Exhibition, Amsterdam, 2011.

AADNOY, B.; LOOYEH, R. Mecânica de Rochas Aplicada: Perfuração e Projeto de

Poços. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2014. 392 p.

ALMEIDA, W. C. Análise da Evolução de Custos na Indústria Petrolífera e o Impacto nos

Planos de Desenvolvimento dos Campos. 49f. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Geológica e de Minas) – Instituto Superior Técnico. Universidade Técnica de Lisboa,

Lisboa, 2010.

ANDERSON, R. A.; INGRAM, D. S.; ZAANIER, A. M. Determining Fracture Pressure

Gradients from Well Logs. Journal of Petroleum Technology, 1973.

ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Anuário estatístico

brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis. Rio de Janeiro: ANP, 2016.

ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Teste de poço.

Disponível em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/exploracao-e-producao-de-oleo-e-

gas/gestao-de-contratos-de-e-p/orientacoes-aos-concessionarios/teste-de-poco>.

Acesso em jun. 2017.

APPLEYARD, L. The project scope statement: What should you include? Disponível em:

<http://www.projectmanagers.net/i/the-project-scope-statement-what-should-you-

include/>. Aceso em 28 mai. 2017.

ARCHER, J. S.; WALL, C. G. Petroleum Engineering: Principles and Practice. Oxford: Ed.

The Alden Press, 1986. 362 p.

ASRILHANT, B.; DYSON, R. G.; MEADOWS, M. Projetos estratégicos no setor de

exploração e produção de petróleo. Revista de Administração de Empresas, vol. 44. n. 1.

São Paulo: Ed. FGV, 2004.

Page 71: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

69

BELLARBY, J. Well completion design. Oxford: Ed. Elsevier, 2009. 711 p.

BOURGOYNE, A. T. et al. Applied drilling engineering. Vol. 2. Richardson: Ed. Society of

Petroleum Engineers, 1986. 502 p. (SPE Textbook Series).

BOWERS, C. N. Design of casing strings. 30th Annual Fall Meeting of the Petroleum

Branch of the American Institute of Mining and Metallurgical Engineers, New Orleans,

1955.

CAENN, R.; DARLEY, H.C.H.; GRAY, G. R. Fluidos de perfuração e completação. 6. ed.

Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2014. 691 p. (Série Engenharia de Petróleo).

CAMARGO, M. R. Gerenciamento de projetos: Fundamentos e prática integrada. Rio de

Janeiro: Ed. Elsevier, 2014. 239 p.

CHAVES, L. E. et al. Gerenciamento da comunicação em projetos. 3. Ed. Rio de Janeiro:

Ed. FGV, 2014. 198 p. (Série Gerenciamento de Projetos).

CHIPALAVELA, A. F. Análise e discussão das operações de perfuração e completação

em poços petrolíferos. 103 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Geológica e de

Minas) – Instituto Superior Técnico. Universidade de Lisboa, Lisboa, 2013.

FERREIRA FILHO, V. J. M. Gestão de operações de logística na produção de petróleo:

Fundamentos, metodologia e modelos quantitativos. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2016.

520 p.

GALA, D. M. et al. Drilling Hazard Mitigation Technologies Key in Eliminating Non-

Productive Time in Challenging Wells. SPE Oil & Gas India Conference and Exhibition,

Mumbai, 2010.

GIDO, J.; CLEMENTS, J. P. Successful project management. 5. ed. Mason: Ed. South-

Western Gengage Learning, 2012. 500 p.

HYNE, N. J. Nontechnical Guide to Petroleum Geology, Exploration, Drilling and

Production. 2 ed. Tulsa: Ed. Pennwell Corp, 2001. 575 p.

Page 72: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

70

KAISER, M. J. Modeling the time and cost to drill an offshore well. Energy Journal –

Elsevier, Baton Rouge, 2009.

KUMAR, K. M. et al. Pore pressure prediction using an Eaton’s approach for PS-waves.

Society of Exploration Geophysicists Annual Meeting, New Orleans, 2006.

LAKE, L. W. Petroleum Engineering Handbook. Richardson: Ed. Society of Petroleum

Engineers, 2006. 763 p. (Volume II: Drilling Engineering).

MALOUF, L. R. Análise das operações de perfuração de poços terrestres e marítimos.

120 p. Projeto de Graduação (Engenharia de Petróleo) – Escola Politécnica. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

MELO, K. C. Avaliação e modelagem reológica de fluidos de perfuração base água. 100

f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Departamento de Engenharia

Química. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.

MOSCRIP, R. P. Well Cementation. WPC Conference, Hague, 1951.

NASCIMENTO, A. Exploração de petróleo em camadas do pré-sal no Brasil: um estudo

de caso no poço 1-SPS-50. 134 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de

Energia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Energia. Universidade

Federal de Itajubá, Itajubá, 2010.

NKWOCHA, C. A Practical Approach to Evaluating Drilling Projects. SPE Russian Oil &

Gas Technical Conference and Exhibition, Moscow,2010.

PACHECO, L. M. Metodologia de planejamento, monitoramento e controle de projetos de

engenharia – estudo de caso: revitalização de plataformas. 290 f. Dissertação (Mestrado

em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos) – Escola de Química.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

PMI, Project Management Institute. Um guia de conhecimento em gerenciamento de

projetos (Guia PMBOK). 5. ed. Newtown Square: Project Management Institute, Inc.,

2013. 567 p.

Page 73: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE … Santa Rita.pdf · pedro santa rita siqueira da silva aplicaÇÃo das tÉcnicas de gerenciamento de projetos À perfuraÇÃo de poÇos

71

REGALLA, S. A. P. Correlação entre tipos de brocas, taxas de penetração e formações

rochosas. 81 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Petróleo)

– Escola Politécnica. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

THOMAS, J. E. et al. Fundamentos de Engenharia de Petróleo. Rio de Janeiro: Ed.

Interciência, 2001.

VALLE, A. B. et al. Fundamentos do gerenciamento de projetos. 2. ed. Rio de Janeiro:

Ed. FGV, 2010. 172 p. (Série Gerenciamento de Projetos).

VILLAREAL, S. et al. Characterization of sampling while drilling operations. In: IADC/SPE

Drilling Conference and Exhibition, New Orleans, 2010.