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APLICAÇÃO DOS CONCEITOS E PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA NO RERREFINO DE ÓLEO LUBRIFICANTE: UM ESTUDO DE CASO
Elizandra Machado Ogliari, Rafael Mozart da Silva, Eliana Terezinha Pereira Senna,
Guilherme Bergmann Borges Vieira (Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Centro Universitário Univates; Universidade de
Caxias do Sul)
Resumo: A prática da logística reversa para algumas organizações pode significar muito além de um negócio com fins lucrativos, pois o tratamento de resíduos de forma adequada pode proporcionar benefícios ao meio ambiente, sociedade e as pessoas. Neste sentido o presente trabalho apresenta às práticas e conceitos aplicados a logística reversa de pós-consumo, realizados por uma empresa que atua no segmento de óleos lubrificantes. Constata-se ao longo desta pesquisa que as práticas adotadas pela empresa no que tange ao processamento e rerrefino do óleo lubrificante usado, estão adequados e aderentes aos conceitos da logística reversa.
Palavras-chaves: Logística Reversa; Canais Reverso; Pós-Venda; Pós-Consumo;
Sustentabilidade
ISSN 1984-9354
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
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1. INTRODUÇÃO
A constante competição por uma maior eficiência tem levado algumas empresas a se
atualizarem e utilizarem novas formas para a realização de seus negócios, tendo como um de seus
principais objetivos a busca de melhorias sob a forma de desenvolvimento de novos modelos de
gestão ou mesmo adotando o uso intenso de tecnologia no aprimoramento de processos, produtos
e serviços. O aumento deste dinamismo condiciona as empresas a utilizar de novas formas de
organização, que possam ser capazes de responder rapidamente e com flexibilidade as exigências
do mercado, mantendo, sobretudo a qualidade e os custos dos produtos.
Os negócios atualmente transitam em um ambiente global que reforça as empresas,
independentemente da sua base de mercado ou localização, a considerar o restante do mundo em
uma análise mais estratégica (DORNIER et al., 2000).Nos ambientes globalizados e de alta
competitividade, as empresas modernas reconhecem cada vez mais que, além da busca pelo lucro
em suas transações, se faz necessário atender a uma variedade de interesses sociais, ambientais e
governamentais, garantindo sua lucratividade e seus negócios, satisfazendo desta forma os
diferentes stakeholders que avaliam a empresa sob diferentes perspectivas (LEITE, 2009).
O objetivo deste trabalho foi apresentar as práticas de logística reversa utilizada por uma
empresa que atua no mercado de fornecimento de óleos lubrificantes e realiza o rerrefino deste
mesmo óleo reinserindo-o este produto no próprio processo produtivo, pois a coleta, rerrefino e
produção de óleo básico atende a três princípios fundamentais da política ambiental dos
organismos gestores brasileiros: reduzir, reutilizar e reciclar, desta forma possibilitam um
equilíbrio no meio ambiente e também corrobora sob o aspecto econômico minimizando a
necessidade de importação de matéria-prima o petróleo leve para uma posterior transformação em
óleo lubrificante.
Na Seção 1 deste trabalho é apresentado o tema e uma breve contextualização do problema
investigado. Na Seção 2, apresenta-se o referencial teórico sobre logística reversa, gestão
ambiental e ciclo de vida do produto que serviu de base para o desenvolvimento da pesquisa. A
metodologia de pesquisa utilizada para a realização deste trabalho é demonstrada na Seção 3. A
aplicação do estudo de caso e o desenvolvimento da pesquisa é apresentada na Seção 4. Por fim,
na Seção 5, apresenta-se as conclusões e contribuições do trabalho, as quais poderão ser utilizadas
como hipóteses para novas pesquisas.
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2. LOGÍSTICA REVERSA
A logística das organizações vem se adaptando ao longo dos anos, conforme definição do
próprio Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP) “Logística é parte da
cadeia de suprimentos, que planeja, implementa e controla de modo eficiente o fluxo direto e
reverso e a armazenagem de bens, serviços e informações relativas entre o ponto de origem até o
ponto de consumo de modo a atender os requisitos do cliente” (CSCMP, 2013). Desta forma a
logística reversa que trata dos fluxos de pós-venda e pós-consumo, pode ser compreendida sob as
perspectivas estratégicas e operacionais, tornando-se mais holística em suas atenções a eliminação
ou utilização dos inibidores das cadeias reversas (LEITE, 2009).
Para Rogers e Tibben (1999), adaptando a definição de logística do Council of Supply
Chain Management Professionals (anteriormente denominado de Council of Supply Chain
Management - CLM), definem a logística reversa como o processo de planejamento,
implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em
processo, produtos acabados e informações correspondentes do ponto de consumo ao ponto de
origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição.
Conforme Lacerda (2006), o conceito de logística reversa é amplo e está correlacionado ao
ciclo de vida, pois a vida de um produto do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega
ao cliente. Produtos se tornam obsoletos, danificados, ou não funcionam e deve retornar ao seu
ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados. Sob o
ponto de vista financeiro, que além dos custos de compra de matéria-prima, de produção, de
armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também outros custos que estão
relacionados a todo o gerenciamento do seu fluxo reverso. Outro aspecto a considerar é o ponto de
vista ambiental, pois é necessário verificar e avaliar qual o impacto que um produto tem sobre o
meio ambiente durante toda a sua vida. Esta última abordagem sistêmica é fundamental para um
adequado planejamento e utilização dos recursos logísticos de forma a contemplar todas as etapas
do ciclo de vida dos produtos.
Através dos programas e práticas de Logística Reversa, as empresas podem substituir,
reutilizar, reciclar e descartar seus produtos de maneira eficiente e eficaz, atendendo não somente
as exigências dos clientes e parceiros, como também podendo cumprir as leis. A adequada
administração da Logística Reversa não somente pode resultar em redução dos custos, como
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também pode aumentar as receitas mesmo que estes itens sejam considerados refugo e não
representem a base principal da competição da empresa, sendo possível ter uma eficiência e
eficácia do fluxo reverso (ROGERS, TIEBBEN-LEMBKE, 1999). Ainda para os autores a
Logística Reversa é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de
baixo custo de matérias-primas, materiais em processo, produtos acabados e informações
relacionadas desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recuperar valor
ou obter o descarte apropriado.
2.1. OS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS
De acordo com Leite (2009), os canais de distribuição reversos (CDRs) podem ser
compreendidos como canais reversos de Pós-Venda e Pós-Consumo.
Os canais reversos de Pós-Venda: O produto logístico de pós-venda, de natureza durável,
semidurável ou descartável, constitui-se de bens comercializados por meio dos diversos
canais de distribuição mercadológicos e que são devolvidos sem uso ou com pouco uso,
por diferentes motivos, pela própria cadeia de distribuição direta ou pelo consumidor final
(LEITE, 2009). Para Kotler (2005), a atividade de simplesmente efetuar a venda do
produto é um pressuposto básico do marketing. A real estratégia de marketing de pós-
venda está na possibilidade de se estabelecer o marketing pró-ativo, de parceria com o
cliente, que após a concretização da venda continua a ser trabalhado o relacionamento com
o cliente, com o objetivo de descobrirem-se meios de se alcançar melhor desempenho no
que diz respeito ao atendimento das expectativas do cliente e na oportunidade de serem
desenvolvidos novos produtos;
Os canais reversos de Pós-Consumo: Para Kobaiashi (2000), a logística como um sistema
que serve como uma espécie de ferramenta para responder às demandas de mercado,
necessita integrar-se com os sistemas de produção e vendas, exigindo uma maior
flexibilidade nos seus processos. Todo bem durável ou semidurável produzido pela
indústria que após o seu uso por parte do consumidor é descartado passa a fazer parte do
ciclo reverso de pós-consumo. O ciclo reverso de pós-consumo pode ser caracterizado
como o retorno de produtos que podem ser reciclados ou reutilizados, como por exemplo,
os bens industriais que depois de utilizados são descartados pelo consumidor de diferentes
maneiras e possuem ciclo de vida útil, agregando novamente valor a estes produtos.
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Conforme Leite (2009) uma parcela dos bens que são vendidos por meio da cadeia de
distribuição direta retorna ao ciclo de negócios ou produtivo pelos canais de distribuição reversos.
Os bens de pós-venda, com pouco ou sem nenhum uso, constituem os canais reversos de pós-
venda, enquanto os bens de pós-consumo, que foram usados e não apresentam interesse ao
primeiro possuidor, serão retornados pelos canais reversos de pós-consumo.
Para Sheu et al. e Stock et al. (apud. Nascimento et al., 2008) as questões ambientais
podem ser ajustadas de forma simultânea com os processos operacionais do gerenciamento da
cadeia de suprimentos, incluindo soluções de logística reversa. Logística reversa abrange os
retornos e também as atividades relacionadas aos itens de movimentação “para trás” (backwards)
na cadeia de suprimentos, sendo que estes retornos tradicionalmente podem resultar de problemas,
dificuldades ou erros de venda e também decorrer dos níveis de estoque mínimos para atender os
consumidores.
2.2 GESTÃO AMBIENTAL E CICLO DE VIDA DO PRODUTO
Atualmente a necessidade de compartilhamento entre fornecedores, produtores e clientes
através de mecanismos da gestão da produção, gestão da qualidade e planejamento estratégico tem
garantido o aumento da competitividade e sobrevivência de muitas organizações em diferentes
setores produtivos. Benefícios sociais, econômicos e ambientais também podem ser verificados
em função da adoção de medidas de adequação aos critérios de responsabilidade social,
governança corporativa e gestão ambiental, respectivamente (TZENG e HENDERSON, 1999;
HEISKANEN, 2005).
Para Barbieri (2007), o conceito de Sistema de gestão Ambiental (SGA) compreende a
articulação de funções administrativas e operacionais para amenizar ou impedir impactos
negativos das atividades econômicas sobre a natureza, possibilitando além de soluções pontuais,
um adequado SGA pressupõe um nível de sistematização maior, incluindo a criação de normas e
objetivos e monitoramento contínuo onde a gestão não fica concentrada nas mãos de
departamentos específicos. Com relação à SGA o autor ainda destaca que em primeiro lugar está o
comprometimento com a sua efetivação por parte da alta direção ou dos proprietários, se estes
forem os dirigentes. Um alto grau de envolvimento facilita a integração das áreas da empresa e
permite a disseminação das preocupações ambientais entre funcionários, fornecedores, prestadores
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de serviço e clientes. Um bom sistema é aquele que consegue integrar o maior número de partes
interessadas para tratar as questões ambientais. Outros elementos essenciais são o estabelecimento
das políticas ambientais, a avaliação dos impactos ambientais atuais e futuros, os planos fixando
objetivos e metas, os instrumentos para acompanhar e avaliar as ações planejadas e o desempenho
do SGA como um todo (BARBIERI, 2007).
Para Ramalho-Filho et al. (1997), a implantação de um sistema de gestão ambiental
(SGA), “é a resposta dada pelas empresas para controlar os impactos causados, isto é, representa
uma mudança organizacional, motivada pela internalização ambiental e externalização de práticas
que integram o meio ambiente e a produção”. Podem ser alcançados inúmeros benefícios com a
implementação da SGA como: a melhoria da imagem perante os diversos atores que interagem
com o empreendimento (stakeholders); redução dos custos ambientais; menores riscos de
infrações e multas; aumento de produtividade; melhoria da competitividade e surgimento de
alternativas tecnológicas inovadoras.
Conforme Ljungberg (2005), a Análise do Ciclo de Vida (ACV) consiste em uma técnica
de avaliação de aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um produto e compreende
etapas que vão desde a retirada, no meio ambiente, das matérias-primas (berço) até a disposição
do produto final.
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
O estudo foi realizado através de uma pesquisa aplicada do tipo descritiva exploratória. A
pesquisa aplicada, de acordo com Cervo e Bervian (1996), é utilizada quando o investigador é
movido pela necessidade de contribuir para fins práticos, buscando soluções para problemas
concretos, que se difere da pesquisa básica, em que o pesquisador tem como meta o saber,
buscando satisfazer uma necessidade intelectual pelo conhecimento.
Para Malhotra et al. (2005), a pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tem como
objetivo principal, descrever algo que normalmente se refere à características ou funções de
mercado. Gil (2010) acrescenta que, este tipo de pesquisa, além de descrever características de
uma determinada população, pode ainda, identificar relações entre variáveis. A pesquisa também
pode ser caracterizada como exploratória, que segundo Malhotra et al. (2005), permite explorar
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um problema ou situação para promover critérios e compreensão, e em geral, é utilizada em
situações em que o pesquisador não possui entendimento suficiente para prosseguir com o estudo.
Quanto ao caráter desta pesquisa, configura-se através da abordagem qualitativa que de
acordo com Malhotra et al. (2005), proporciona melhor visão do problema, já que o explora com
poucas idéias preconcebidas sobre o resultado da investigação, sendo geralmente utilizada para
definir o problema com mais precisão, podendo fornecer julgamentos antes ou depois do fato,
sendo desta forma, mais adequada para o estudo em questão, pois busca descrever os
procedimentos e não quantificá-los.
O estudo de caso será apresentado como forma de delineamento de pesquisa, pois segundo
Gil (2010), este tipo de estudo caracteriza-se como profundo e exaustivo de um ou de poucos
objetos, de forma que permita seu amplo e detalhado conhecimento. Para o autor, o método
apresenta diversas vantagens, como: o estímulo a novas descobertas, em virtude da flexibilidade
de seu planejamento; a ênfase na totalidade, em que o pesquisador foca o problema como um todo,
e; a simplicidade dos procedimentos quando comparados com outros tipos de delineamento.
3.1 UNIDADE DE ANÁLISE
Para Collis e Hussey (2005) uma unidade de análise é o tipo de caso que se referem às
variáveis ou os fenômenos em estudo, bem como o problema de pesquisa, e sobre os quais são
coletados e analisados os dados. A unidade de análise utilizada no estudo de caso foi uma empresa
produtora de óleos lubrificantes que também atua no segmento de rerrefino, que segundo o
Sindicato das empresas de rerrefino do Brasil é uma das maiores empresas da América Latina
neste segmento. Aborda-se com mais profundidade as características da empresa e mercado que
esta inserida no tópico quatro denominado estudo de caso.
3.2 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Para a coleta de dados da presente pesquisa, utilizou-se de dois tipos de fontes, sendo que
muitas das informações necessárias para uma adequada compreensão do processo de rerrefino
foram obtidas através de dados secundários, principalmente em registros internos da empresa
estudada como: planilhas de controle de estoques e solicitações de materiais. Com relação aos
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dados primários, foi realizada a aplicação de entrevistas em profundidade, que conforme citado
por Cervo e Bervian (1996), devem ser conversas orientadas para um objetivo definido: recolher,
através do interrogatório do informante, dados para a pesquisa, e são normalmente utilizadas
quando se tem necessidade de obter dados que não podem ser encontrados em registros e fontes
documentais, mas podem ser fornecidos por determinadas pessoas. No caso da presente pesquisa,
as entrevistas em profundidade tiveram como participantes, as pessoas que atuam na área de
logística da empresa estudada. Apresenta-se a seguir o Quadro 1 das pessoas que foram
entrevistadas:
Quadro 1: Pessoas Entrevistados na Empresa Respondente Função Idade Tempo de Empresa
R1 Gerente de Logística 45 anos 12 Anos R2 Supervisor de Logística 39 anos 08 Anos R3 Analista de Coleta 28 anos 06 Anos
Fonte: Elaborado pelos autores
Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário semi-estrutura o qual foi
subdivido em blocos de perguntas (Quadro 2):
Quadro 2: Questões do Bloco 1 utilizadas nas Entrevistas
Bloco 1
Processo de Coleta do OLUCs
1. Quais são os critérios de recebimento do óleo devolvido pelo cliente?
2. Quais são os tipos de resíduos industriais gerados em sua empresa e a sua destinação?
3. Há geração de efluentes líquidos e como estes são monitorados e controlados?
Bloco 2
Processo de Rerrefino o Óleo Lubrificante 1. Quais são e como funciona o processo de rerrefino utilizado pela
empresa? Quais as formas de controle do deste processo? 2. Na empresa Alfa, há geração de subprodutos derivados de suas
atividades? Qual o destino dos mesmos?
Bloco 3
Estratégia e Visão do Negócio da Empresa
1. A empresa desenvolve algum tipo de pesquisa sobre óleo lubrificante?
2. Na visão da empresa, as penalidades impostas pela Legislação Ambiental são suficientes para garantir à sociedade e às empresas o respeito ao meio
ambiente? Por quê? 3. A empresa ao preocupar-se com o tratamento de resíduos e/ou a gestão
ambiental obtém o retorno financeiro através da maximização de seu rendimento econômico?
4. Existem planos de expansão do modelo de negócio da empresa? Fonte: Elaborado pelos autores
As respostas das entrevistas resultantes do questionário foram transcritas de forma parcial,
levando em consideração o objetivo da pesquisa.
De acordo com Mattar (1998), a etapa de análise de dados é tão importante quanto
qualquer outra etapa do estudo e tem como principal objetivo, permitir que o pesquisador consiga
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estabelecer conclusões, a partir dos dados coletados. O método a ser utilizado para a análise dos
dados obtidos através da pesquisa foi a análise de conteúdo, que representa um método formal que
visa analisar dados qualitativos, podendo ser uma maneira de converter sistematicamente texto ou
outras formas de comunicação como áudio e vídeo, em variáveis numéricas de acordo com
unidades de códigos que são pré-construídas pelo pesquisador.
4. ESTUDO DE CASO
Conforme apresentado anteriormente o estudo de caso foi realizado em uma empresa
produtora de óleos lubrificantes e que também atua no segmento de rerrefino do óleo. Atualmente
é considerada uma das maiores empresas da América Latina que atua neste mercado. A sede da
empresa possui uma área construída de 61.000 m² e localiza-se na região metropolitana de Porto
Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente a empresa possui mais de 200 colaboradores
e conta com uma frota 60 caminhões do tipo tanque, adequado para o transporte de óleos e
derivados.
4.1 Processo de Coleta de OLUCs
A empresa realiza a coleta dos óleos lubrificantes usados através do próprio canal de
distribuição de venda, com objetivo de tornar economicamente viável a operação. Em relação as
tratativas adotadas para o de recebimento do óleo lubrificante usado e que foi devolvido pelos
próprios clientes, a empresa procura observar principalmente as medidas técnicas de manuseio e
armazenagem, conforme a respostas dos próprios entrevistados. Para o R1 “[...]o produto tem que
ser manuseado com cuidado, por que trabalhamos com produto perigoso e deve-se preservar
acima de tudo a integridade das pessoas”. O R2 corrobora da mesma ideia, pois segundo o mesmo
“a empresa procura adotar sempre medidas preventivas obedecendo às normas e procedimentos de
segurança e higiene industrial”.
A empresa necessita constantemente observando as condições para retirada do óleo
lubrificante usado ou contaminado dos pontos de geração ou recolhimento, pois a característica
dos clientes onde a empresa retira o óleo usado são postos de gasolina, pontos de troca de óleo
dentre outros. Conforme relatado pelo R3 se faz necessário para a coleta de óleos lubrificantes
usados, utilizar-se de veículos especificamente equipados, identificados e apropriados para este
fim, proporcionando condições adequadas para o transporte urbano e rodoviário de forma segura
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do resíduo. Segundo o R1 os veículos dedicados ao transporte deste resíduo “não podem, sob
hipótese alguma, serem autorizados também ao transporte de outros tipos de produtos”.
A Figura 1 ilustra um exemplo do tipo de veículo que é utilizado para a coleta de óleo
lubrificante usado, conforme informações do Sindirerrefino.
Figura 1: Veículo Coletor de Óleo Lubrificante
Fonte: Sindirerrefino (2011)
Por tratar-se de um resíduo perigoso às condições de carga e descarga do óleo lubrificante
usado ou contaminado nas bases de armazenamento também são diferenciadas, pois a
movimentação e armazenagem deste tipo de produto deve seguir os procedimentos de segurança,
verificação constante das condições dos equipamentos utilizados na operação. No que tange aos
tipos de resíduos industriais gerados e o tratamento dos mesmos, o R1 informou que há o controle
do volume de resíduos gerados nos processo de rerrefino, o qual apresenta a indicação dos
componentes químicos gerados.
Foi possível constatar através das entrevistas com R1 e R2 que ocorre na empresa estudada
o tratamento de forma adequada dos efluentes gerados ao longo do processo de rerrefino, pois a
água removida do processo passa por um tratamento intenso e complexo antes de ser efetivamente
descartada, em função da alta contaminação e concentração de componentes como o fenol e os
hidrocarbonetos leves.
Conforme o R1 para o descarte da água é necessário um documento que outorga o uso da
água, sendo este emitido pelo órgão fiscalizador competente, que atesta a utilização, o tratamento
e o descarte final dos recursos hídricos de forma correta. Constata-se ainda durante as entrevistas
que os resíduos e a água decorrente do processo de desidratação são encaminhados a um forno
onde através de um processo de superaquecimento onde é realizada a separação e eliminação dos
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resíduos presentes na água. Após este processo a água passa por uma filtragem de forma que os
contaminantes sejam eliminados antes do descarte final.
4.2 Processo de Rerrefino
De acordo com o R2 as tecnologias mais conhecidas para o rerrefino são os processos de
Ácido-Argila com Termocraqueamento; Desasfaltamento à Propano (PDA); Processo interlinear;
Evaporação Pelicular (TFE); Desasfaltamento Térmico (TDA) dentre outros tipos.
Conforme o R1 e R2, os processos de rerrefino utilizados pela empresa foram relacionados
em dois tipos processos, os quais demonstra-se na Figura 2:
Figura 2: Fluxo do Processo de Rerrefino
Fonte: Sindirerrefino (2014)
No processo de Ácido-Argila com Termocraqueamento ocorre uma redução do percentual
de ácido sulfúrico e dos neutralizantes, obtendo como resultado do rerrefino a produção de Óleo
Básico RR - Neutro Pesado. Com relação ao processo de Evaporação Pelicular, acontece a
redução de ácido sulfúrico e dos neutralizantes e clarificantes.
Percebe-se que além das precauções com relação à saúde e proteção do trabalhador, existe
à constante orientação e treinamentos para o adequado manuseio do material de forma segura.
Outra informação importante relatada pelo R2, diz respeito ao transporte, pois os resíduos são
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transportados e devem obedecer todos os requisitos previstos na regulamentação legal de
transporte de cargas perigosas. O descarregamento das embalagens mais pesadas é feito por meio
de empilhadeira. As embalagens contendo os produtos não devem ser manuseadas de forma
indevida e também colocadas sob qualquer tipo de superfície. As embalagens vazias possuem
local próprio para a lavagem, organização e acondicionamento.
De acordo com o R3 nas operações de carga e descarga existem procedimentos que visam
evitar a ocorrência de vazamentos do produto, pois evita-se que este produto químico atinja o
lençol freático ou o mesmo o solo. Ainda para o respondente, o mesmo informou que nos locais
onde se manipulam produtos químicos é realizado o monitoramento da exposição dos
trabalhadores, de acordo com o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais).
4.3 Estratégia e Visão de Negocio da Empresa
Com relação aos investimentos realizados em pesquisa, o R1 informou que a empresa
lançou no ano de 2010 uma nova linha de lubrificantes automotivos e industriais, sendo que este
tipo de ação não ocorria no mercado há aproximadamente quinze anos. Segundo relato do R1 “na
empresa convivemos com o desafio de atuar na conscientização da sociedade e das empresas sobre
a necessidade da preservação do meio ambiente e do respeito à legislação que regulamenta a
destinação correta do óleo usado”. Para o R2, “o trabalho também envolve a divulgação da
importância do rerrefino e de que a nossa empresa possui todas as licenças operacionais
necessárias tanto para a coleta, transporte, assim como para a destinação final do óleo lubrificante
usado e também esta apta a realizar a logística reversa”.
A empresa tem como foco garantir a qualidade de seus produtos, equipamentos e processos
operacionais, além de buscar constantemente reduzir as emissões de poluentes associadas ao
rerrefino do óleo lubrificante usado e à extração do óleo básico, pois segundo o R1 “a confiança
que temos por parte de nossos clientes direciona ainda mais nossas ações no sentido de cumprir a
legislação e buscar a melhoria contínua de nosso atendimento”.
Com relação aos principais produtos comercializados pela empresa são óleos lubrificantes
básicos, graxas para lubrificação de ferramentais, óleos para motor, óleo para engrenagens e
transmissões entre outros, onde observa-se de acordo com R1 a linha óleos básicos tem uma
elevada representatividade no negócio. Segundo o R2 “[...] para atender à demanda de óleos
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básicos, temos uma frota própria de 60 caminhões e carretas, com rotas diárias para São Paulo e
Rio de Janeiro”.
Conforme o R1, a empresa apresenta planos de expansão de seu negócio em face da
oportunidade que o mercado oferece, pois pretende expandir para outras áreas do estado do Rio
Grande do Sul, como a região do Planalto, Centro Oeste e Norte do estado. A empresa também
esta buscando expandir seus negócios para os estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e
Rio de Janeiro em prazo de até cinco anos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o objetivo proposta da pesquisa que buscava apresentar de que forma ocorria
o processo de rerrefino de óleos lubrificantes realizados pela empresa em estudo, constata-se que a
existência de procedimentos adequados e também que se faz necessário para este tipo de atividade
uma estrutura adequada para tratamento deste tipo de resíduo. A empresa também utiliza como
forme de minimizar os custos e tornar viável economicamente a operação, utilizar-se do mesmo
canal de distribuição de vendas junto aos seus clientes, para realizar a coleta do óleo lubrificante
usado. Contata-se que a empresa em estudo apresenta conceitos e práticas de logística reversa, por
se tratar de uma reutilização do material, um caso de pós-consumo. Percebe-se a relevância do
tema abordado nesta pesquisa, pois envolve aspectos relacionados ao meio ambiente e também de
alternativas de processos para minimizar os impactos decorrentes do descarte inadequado de
materiais ou produtos na natureza.
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