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APOLOGÉTICA DA GENTILEZA NOTA: O que se segue é um sermão pregado pelo pastor Jonas Madureira no dia 24/05/14 no culto “Inter Jovens” realizado na Igreja Batista Maranata em São José dos Campos, SP. Não se trata de uma transcrição integral do sermão, embora grande parte dele tenha sido transcrita. Alguns trechos foram adaptados para a linguagem formal e a essência da mensagem não foi alterada. “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (1Pedro 3.15-16a). Quando paramos para pensar em apologética, a imagem que mais se assimila é a de alguém beligerante que discorda de todos. Porém, a palavra “apologética” na tradição cristã tem origem jurídica. Os primeiros apologetas do cristianismo não ficariam o dia inteiro no Facebook respondendo a perguntas que as pessoas fazem sobre teologia. Eles iriam para o contexto de uma defesa jurídica porque, se fizessem uma boa defesa de que o cristianismo é razoável, que não é uma religião ateísta – como eram acusados os cristãos –, que não praticavam canibalismo – isto por conta da ceia – evitariam a morte. Esses apologetas, portanto, entram no cenário porque estão diante de alguns cristãos que serão lançados aos leões e a defesa que farão pode salvá-los. A apologética, no início, tem o tom de mostrar a relevância do evangelho, mas com a finalidade de defendê-lo, pois a defesa dele garantiria a prática cristã, a vida baseada no evangelho. O contexto de uma vida baseada no evangelho, na ocasião, era uma vida marginalizada. A ideia era defender o evangelho para mostrar que os cristãos não eram nocivos à sociedade, que não deveriam ser tratados como estavam sendo tratados. Curvar-se diante de Cristo não significava que eles não obedeciam às leis. Eles queriam ter o direito de dizer que somente Cristo era o Senhor, mas isso não significava que César não tinha que ser respeitado. Ao não se curvarem diante do imperador, não significava que não respeitavam César com toda autoridade que lhe era concedida. A tarefa do apologista, então, era a de um advogado, de fornecer as peças de um argumento para mostrar que aquele que está sendo acusado é inocente.

Apologética Da Gentileza

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APOLOGÉTICA DA GENTILEZA

NOTA: O que se segue é um sermão pregado pelo pastor Jonas Madureira no dia 24/05/14 no culto “Inter Jovens” realizado na Igreja Batista Maranata em São José dos Campos, SP. Não se trata de uma transcrição integral do sermão, embora grande parte dele tenha sido transcrita. Alguns trechos foram adaptados para a linguagem formal e a essência da mensagem não foi alterada.

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir

razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (1Pedro 3.15-16a).

Quando paramos para pensar em apologética, a imagem que mais se assimila é a de alguém beligerante que discorda de todos. Porém, a palavra “apologética” na tradição cristã tem origem jurídica. Os primeiros apologetas do cristianismo não ficariam o dia inteiro no Facebook respondendo a perguntas que as pessoas fazem sobre teologia. Eles iriam para o contexto de uma defesa jurídica porque, se fizessem uma boa defesa de que o cristianismo é razoável, que não é uma religião ateísta – como eram acusados os cristãos –, que não praticavam canibalismo – isto por conta da ceia – evitariam a morte. Esses apologetas, portanto, entram no cenário porque estão diante de alguns cristãos que serão lançados aos leões e a defesa que farão pode salvá-los.A apologética, no início, tem o tom de mostrar a relevância do evangelho, mas com a finalidade de defendê-lo, pois a defesa dele garantiria a prática cristã, a vida baseada no evangelho. O contexto de uma vida baseada no evangelho, na ocasião, era uma vida marginalizada. A ideia era defender o evangelho para mostrar que os cristãos não eram nocivos à sociedade, que não deveriam ser tratados como estavam sendo tratados.Curvar-se diante de Cristo não significava que eles não obedeciam às leis. Eles queriam ter o direito de dizer que somente Cristo era o Senhor, mas isso não significava que César não tinha que ser respeitado. Ao não se curvarem diante do imperador, não significava que não respeitavam César com toda autoridade que lhe era concedida.A tarefa do apologista, então, era a de um advogado, de fornecer as peças de um argumento para mostrar que aquele que está sendo acusado é inocente.Do que estamos sendo acusados hoje? Do que a igreja está sendo acusada? Diante de uma acusação, nossa primeira reação pode ser a reação de simplesmente responder com a mesma medida, de odiar aqueles que nos odeiam, de responder com perseguição, com aspereza.

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Pedro, ao escrever essas palavras, escreve-as para forasteiros, para pessoas que estão no contexto que não é o habitat natural delas. É um mundo diferente. Diante disso, eles ainda vivem debaixo do evangelho. O evangelho exige que eles, por natureza, adotem padrões que a cultura rejeita. Pedro sabe que aquela comunidade está sofrendo.Ao defendermos o evangelho, não precisamos falar grosso ou gritar para que ele mexa com as estruturas de alguém. Mesmo que falemos com toda gentileza, o evangelho tem garras. Ele vai mexer com a estrutura de toda e qualquer cultura. Pedro sabe que não conseguiremos evitar o confronto do mundo. Os primeiros defensores enfrentavam essa oposição. Lutero dizia que sempre que o evangelho fosse pregado geraria conflito. Nesse contexto é que apresentaremos o evangelho. Irão nos perguntar a razão da esperança que há em nós e o desafio de Pedro é que estejamos preparados para isso.Para que possamos responder, precisamos aprender a ouvir e a perguntar. O que as pessoas à nossa volta estão nos perguntando? As pessoas querem saber se somos inteligentes ou que, no fundo, quando entram num debate, querem saber o porquê você acredita naquilo que você diz ser o evangelho? Esta é a pergunta mais importante que o apologeta deve responder. Quando perguntamos por que acreditamos no evangelho, fazemos um exercício de reflexão, para saber o porquê acreditamos. Refletimos na razão de nossas atitudes, e no por que cremos naquilo que cremos.Pedro usa palavras que tentam despertar em cada um a resposta da esperança que há em nós. Para isso, temos que fazer uma reflexão sobre aquilo que cremos. Vivemos num contexto onde aquilo que chamamos de evangelho está diluído, é superficial. As pessoas não sabem o que significa o evangelho. Eu acho que esperamos que o evangelho seja algo simples, mas confundimos algo simples com algo simplista, de tal forma que não queremos mais mastigar o evangelho, queremos que alguém o mastigue por nós. Não queremos pensar. O evangelho só vai transformar você se você mastigá-lo. Se você não entendeu o evangelho e não tem convicção dele, não há como você defendê-lo. Como você defende algo do qual não acredita? Se você não acreditar naquilo que está pregando, terá que defender a técnica do cinismo, como vendedores que não acreditam na qualidade do produto. Não dá pra fazer isso com o evangelho. Ou acreditamos no evangelho ou não conseguiremos defendê-lo. O evangelho deve ter o padrão que toca o seu coração e faz você admirá-lo. Para sustentar o evangelho, precisamos admirá-lo e, para admirá-lo, precisamos nos aprofundar nele.Lewis e o cristianismo “água-com-açúcar”

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Quero apresentar um apologeta da gentileza por excelência. C. S. Lewis.Em seu livro “Cristianismo Puro e Simples”, Lewis explica porque o ateísmo é simplista. Mas ele diz que há também o cristianismo simplista, que é o cristianismo água-com-açúcar, aquele cristianismo de respostas prontas, que não nos faz pensar. Ele diz:“Pois bem, então o ateísmo é simplista. E vou lhes falar de outro ponto de vista igualmente simplista que chamo de ‘cristianismo água-com-açúcar’. De acordo com ele, existe um bom Deus no Céu e tudo o mais vai muito bem, obrigado – o que deixa completamente de lado as doutrinas difíceis e terríveis a respeito do pecado, do inferno, do diabo e da redenção. Os dois pontos de vista são filosofias pueris.”Ele compara esse tipo de cristianismo com o ateísmo porque é o tipo de cristianismo que tentar tirar do evangelho a força de desestabilização de estrutura de nós mesmos. É o tipo de cristianismo que, quando você estiver passando por dificuldades, lhe dirá coisas do tipo: “Menino vai orar, você está em pecado”.Não conseguimos aprofundar uma questão, queremos respostas simplistas. Não queremos pensar na profundidade. Ser simples é uma coisa, ser simplista é outra. O evangelho é simples como a luz, mas isso não significa que seja fácil de entender. A luz é entendida tanto como uma onda como uma partícula e nenhum dos dois entendimentos está errado. É algo que não se resolve, é complexo. Você quer que Deus seja assim simples? Você acredita que, por causa dessa simplicidade de Deus, você está diante de algo simplista? A riqueza de Deus está no fato de Ele ser simples, mas isso demanda profundidade. O evangelho exige profundidade de mim e de você. Vivemos num contexto hoje onde as pessoas pagam dobrado para fazer coisas em vez de pensar. Por isso passamos tanto tempo no videogame. É legal, mas não dá em nada. Você sai de uma partida depois de várias horas e deve se perguntar: “Legal, e aí? Puxa, quanta coisa poderia ter feito nesse tempo!”Por que passamos horas em frente ao videogame ou no shopping? Sabe por quê? Porque pensar dói. Porque pensar exige um movimento doloroso.A alegoria da caverna de PlatãoTodos nós conhecemos a alegoria da caverna. O que Platão dizia que aconteceria se aqueles prisioneiros fossem libertos de suas correntes e vissem a luz, se vissem o sol brilhando? O que aconteceria se vissem que o mundo deles não se resume àquela “caixinha”, mas que existe um mundo superior e que aquilo são apenas sombras? Eles sofreriam. Ficariam cegos por causa da luz, sentiriam dor porque não estão acostumados a fazerem isso.

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Similarmente, você somente irá se sentir à vontade quando começar a estudar o evangelho. No início, terá sono. Só quando começarmos a praticar é que não irá doer. Isso exige de nossa parte um movimento que dói. Temos que ler o texto bíblico várias vezes. Dói. Com o passar do tempo, porém, esse movimento se torna comum e deixa de doer, você se acostuma.Quando o prisioneiro fica cego, isto é o símbolo da ignorância. Quando alguém se converte e se depara com o evangelho, fica cego, ignorante. Isto acontece, por exemplo, com pessoas que vão à igreja pela primeira vez. Não sabem o que fazer. A constatação da ignorância não é algo gostoso. Temos dificuldade de reconhecer nossa ignorância.Como podemos resumir o evangelho em três minutos? Isso diz muito sobre se compreendemos ou não o evangelho. No momento de olharmos para a luz, podemos ficar cegos. Mas a cegueira passa com o tempo.O texto da caverna é a alegoria de que todos estão presos. Platonismo e cristianismo se parecem bastante, mas possuem muitos contrapontos. No caso da caverna, é o homem que se liberta. Basta que ele reflita sobre a realidade à sua volta. Em contrapartida, no cristianismo, nós é que somos libertos pelo Espírito Santo. Somente Ele liberta nosso coração para enxergarmos o evangelho.Para pregarmos o evangelho, para que possamos defendê-lo e o anunciarmos, temos que nos aprofundar. As pessoas se aproximarão não por causa de argumentos, mas por causa de nosso testemunho. Somente pelo Espírito Santo seremos libertos. Não adianta explicarmos através da lógica que o evangelho é a verdade se não aceitarmos a Bíblia na cabeça. A obra é do Espírito Santo.Quando alguém enxerga a realidade, porém, ele volta para a caverna para tentar libertar os demais. Fazemos a mesma coisa quando conhecemos o evangelho. Nasce em nós o desejo de ir à caverna para proclamá-lo. Isso, no entanto, só irá acontecer quando admirarmos o evangelho. Antes de desenvolvermos qualquer argumento, o que você e eu precisamos é da experiência do evangelho. Ele não é um folheto evangelístico, é o fundamento da igreja. Também não é apenas uma mensagem para ganhar pessoas para Cristo, é o fundamento da igreja. Enquanto não nos aprofundarmos nesse evangelho e fizermos dele nossa reflexão diária e o tema de nossa vida, não conseguiremos falar da Palavra de Deus ao mundo.O que é o evangelho?Gostaria de encerrar pensando no evangelho.O que é o evangelho? Imagine um artista que está focado em sua obra e nada desvia sua atenção dela. Ele é perito na obra. Ele é o ser

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criador. Ele não falha. É da natureza do barro estragar, mas é da natureza do oleiro criar. Embora o barro esteja estragado, o oleiro não o joga fora, ele pega o mesmo barro e cria novamente. Isso é redenção.Deus criou o mundo de uma maneira perfeita e maravilhosa e estragamos tudo. Mas não é o fim. A natureza do Criador também é a natureza do redentor. Temos a natureza da destruição, mas Ele tem a natureza da redenção. Eu e a você podemos estragar histórias lindas que Deus está criando, mas não temos o poder de estragar a história eterna que Deus prepara para nós. Não podemos destruir Deus. Enquanto Deus existe, há redenção dos estragos.Não é bonito o evangelho, a história de Deus? Ele cria tudo de maneira perfeita porque Ele é perito. Ele não desiste. Esta é a história do evangelho. Você não pode fazer um estrago tão grande para o qual não haja redenção. Para defender o evangelho, temos que amá-lo, admirá-lo. Como está nossa admiração pelo evangelho pela obra de redenção? O peso de nossa admiração representa o peso de nosso amor às respostas que são feitas ao nosso tempo. Não só apresentando e defendendo o evangelho de uma maneira lógica, mas, sobretudo, fazendo com carinho e gentileza, que só os seres dóceis podem ter diante dos seres brutos. Que o evangelho seja dito de uma forma dócil, mas não de uma forma domesticada, ou seja, uma forma que não desestabilize. Não espere que a pregação do evangelho não mexa com as estruturas das pessoas. Não temos que ficar de chateados quando alguém nos ofende. Isso irá acontecer sempre quando pregarmos o evangelho. O que não pode faltar em mim e em você é o amor. Amor por Deus e por pessoas, ou seja, que não iremos humilhá-las. Não temos que mostrar que somos inteligentes. Estamos aqui para pregarmos o evangelho e mostrar o que ele tem feito conosco.

Uma expedição em busca da verdade – Parte 1

Esta é uma série intitulada “Expedição em busca da Verdade”, que tem por objetivo fornecer uma perspectiva racional e filosófica a respeito da existência de Deus e da veracidade do Cristianismo. Clique aqui para

conferir todos os textos da série.Introdução à minha jornada

por Fábio Mendes

Eu gostaria de convidar vocês para uma jornada. Uma jornada em busca da verdade. Uma aventura explorando diversas afirmações da verdade. Se olharmos ao nosso redor, veremos que a verdade não está clara. Diversas religiões, diversos meios de pensamentos, nos

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levam a concluir que é impossível que tudo o que escutamos seja verdade. Muitas delas são contraditórias, de forma que não podem ser mutuamente corretas.Eu fiz essa jornada há alguns anos e gostaria de compartilhar essa experiência. Dois pontos na minha vida me motivaram a essa jornada. O primeiro deles aconteceu há alguns anos quando era consultor e viajava muito. Em uma dessas viagens, fui abordado por um colega de trabalho que me pegou de surpresa quando se apresentou como muçulmano de uma denominação chamada Ahmadiyya. São originários da Índia e tecnicamente não são considerados parte dos muçulmanos pelos mais tradicionais.Esse rapaz, sabendo que eu era crente, me abordou de uma forma muito tranquila e educada questionando a ideia de Jesus ter sido Deus na terra. Mantendo a tradição muçulmana, defendia que Deus não poderia se tornar humano, de forma que Jesus não podia ser Deus. Além do mais, por crer que Jesus era um profeta de Alá, e por considerar que quem morria na cruz era considerado amaldiçoado, acreditava que Jesus não havia morrido na cruz. Teriam substituído o corpo dele.Confesso que ele me pegou de surpresa e eu não estava preparado para essa conversa. Não tinha respostas claras e confesso que ele abalou minha fé. Minha mente ficou confusa com a possibilidade de crer em algo que não era verdade. Os seus argumentos pareciam muito sólidos. Ele apresentava versículos bíblicos e tinha um conhecimento aparentemente profundo das Escrituras. Isso me deixou confuso por um bom tempo. No entanto, o tempo passou e voltei no “ponto de equilíbrio” sem muita análise. Simplesmente deixei que a inércia do meu contexto cristão me colocasse de volta onde eu estava sem uma análise e conclusão racional.Alguns anos se passaram. Um segundo momento ocorreu. Uma pessoa muito próxima de mim, a quem amo muito, um dia me confessou que havia se tornado ateu. O choque foi grande. Eu não esperava por isso. No entanto, o choque foi maior quando escutei seus argumentos para essa decisão. Notei que ele havia analisado muito bem a questão. Não foi uma decisão “irracional”. Ele tinha argumentos fortes e detalhados. Havia sido “educado” por um ateu no YouTube que, quando escutei, fiquei muito perplexo. A perplexidade originou-se pela força dos seus argumentos. Isso coincidiu com minha frustração com vários meios evangélicos, pois muitos não tratavam de várias dessas questões controvertidas. Os jovens estavam sendo atacados com esses argumentos e não tinham onde recorrer. Ou aceitavam o que criam “pela fé e tão somente pela fé” ou teriam que ceder a esses argumentos. Será que, para ser

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crente, a solução deveria ser ignorar esses argumentos, taxá-los como falta de fé e continuar crendo?O meu problema com esse raciocínio é que ele é válido para QUALQUER crença. Se creio em Saci Pererê, Mula sem Cabeça ou Fada Madrinha, o que tenho que fazer é simplesmente ignorar evidências e crer na fé que tenho, independentemente de qualquer coisa. Isso me incomodava, pois, com esse tipo de cosmovisão, o conhecimento da verdade se tornaria uma loteria, um tiro no escuro em que a sorte determinaria se você estava certo ou não. Não haveria meios de argumentar nada. Você simplesmente determina uma crença, corre com ela para o gol e ignora todo o resto. Algo não se enquadrava para mim. A busca da verdade seria uma questão de sorte ou acaso?Havia, ainda, outro problema que me incomodava bastante: o fato de eu ser crente por muitos anos. Não sei o porquê, mas isso, por alguma razão, criava uma barreira para uma análise mais profunda. Eu teria que fazer perguntas básicas e questionamentos que eu considerava infantis para fazer essa busca. Você já foi apresentado a alguém e depois esqueceu o nome da pessoa? Você já percebeu o quão difícil é lidar com essa situação à medida que o tempo passa? Parece que existe uma barreira para se perguntar o nome da pessoa depois de tanto tempo. O mesmo ocorria no meu caso questionando algo depois de tanto tempo de crente. Para mim, isso se parecia como perguntar o nome de alguém depois de haver passado um tempo.Para que eu superasse essa barreira, o que eu precisava era de algo muito simples: humildade. Humildade para saber que eu havia seguido muito tempo em “piloto automático” e precisava tomar controle dessa situação. Se eu fosse continuar abraçado à fé, teria que fazê-la MINHA FÉ. Teria que passar pelo processo de considerar, informar-me e tornar essa fé MINHA e não do meu pai, da minha mãe ou da minha igreja. Eu teria que abraçar essa fé, apoderar-me dela e ser completamente responsável pela minha decisão. Fazemos isso para diversas áreas de nossa vida quando decidimos nossa profissão, namorada, etc.Se você já se sentiu ou se sente nessa posição, gostaria de convidar você para ir nessa jornada comigo. Para tornar a fé que você tem SUA, para abraçá-la e torná-la parte de quem você é. E para finalmente fazer o que nos fala 1 Pedro 3:15, “Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”.Arrume as malas então e vamos lá! Pretendo abordar temas como a existência de Deus, o cânon bíblico (como a lista de livros da Bíblia

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foi decidida), outras religiões, etc. Espero abordar temas que vocês estão enfrentando ou enfrentarão. Preparem-se para acompanhar-me na minha expedição em busca da verdade.

Qual a importância de se saber a verdade? – Parte 2

A primeira parte de minha jornada em busca da verdade envolvia duas perguntas fundamentais que me dariam a direção e até mesmo a motivação para enfrentar essa aventura: 1) Vale a pena descobrir essa verdade? 2) Essa verdade é objetiva? Isto é, se aplica a todos da mesma forma?A primeira pergunta precisa ser respondida, pois a resposta te dá ou não a motivação de buscar essa verdade mesmo que envolva bastante esforço. Eu gostava de assistir o show “American Idol” onde que pessoas competiam para ver quem sabe cantar melhor. Eu gostava de assistir principalmente o começo do processo de seleção. Embora fosse óbvio que alguns estavam lá somente porque haviam perdido algum tipo de aposta – alguns pareciam que realmente pensavam que sabiam cantar. Eu me lembro de um comentário de uma pessoa que estava completamente surpresa pelo comentário do juiz, “mas minha família e amigos sempre me falaram que eu cantava bem”, falava o cantor frustrado. Eles não acreditavam que estavam ouvindo a verdade pela primeira vez. Ao contrário, eles estavam pensando que estavam escutando uma MENTIRA pela primeira vez. O que pode ser mais triste do que pensar que você está escutando uma MENTIRA pela primeira vez, quando você está na realidade escutando pela primeira vez a VERDADE?Mas esse incidente me fez pensar. E se, com a ajuda de um monte de pessoas, todos concordassem que essa pessoa podia cantar, mesmo que ela não pudesse? Vamos chamar essa pessoa de Ana. Suponha que Ana fosse completamente desafinada. Ela cresceu gostando de cantar. Ela cantava nas festas, no banheiro e em qualquer outro lugar onde cantar fosse permitido. Amigos próximos e parentes achavam muito engraçado que o fato de ela ser desafinada. Mas, comentários como “Muito bom”, “Bom trabalho!”, “Você cantou muito bem”, faziam parte de sua infância. Ela crescia mais e mais confiante.Quando ela chegou ao período de sua adolescência, ela continuava apaixonada em cantar. Um pequeno problema permanecia: Ela não sabia cantar! No entanto, parentes e amigos haviam mantido essa mentira por tanto tempo que ninguém tinha coragem de contar-lhe a

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verdade. Então decidiram que era melhor que ela continuasse a pensar que sabia cantar – afinal de contas, ela era uma garota feliz e se sentia bem cantando. Quem estava sendo prejudicado? Ela era feliz.À medida que o tempo passou, ela foi para a faculdade. Seus pais decidiram enviá-la para a faculdade onde seu pai tinha muita influência. Ele usou sua influência para garantir que sua filha nunca fosse exposta à verdade. Ela estava contente assim. Por que estragar? E Ana continuava por décadas cantando sem saber que ela realmente não sabia cantar. Ela morreu uma garota feliz, mas nunca sabendo a verdade.Será que era realmente importante para Ana saber a verdade? Ela havia morrido feliz no final, não? A verdade teria feito com que ela se sentisse pior, não? Sabendo que não sabia cantar? Imagine saber isso, e ainda por cima saber que as outras pessoas sabiam que ela não cantava? Quem iria dizer que saber a verdade nesse caso seria melhor? Seria pior!A princípio, esta história parecia interessante para mim. Verdade ou felicidade? É melhor viver feliz em uma mentira, ou triste com a verdade? O que pesa mais? Verdade ou felicidade? Se eu tivesse que escolher, o que escolheria? Esse pensamento ficou em minha cabeça por um tempo. Imagine – para ser honesto – felicidade parece ser melhor neste caso. Ana estava feliz toda a sua vida. Ela morreu em paz. Que problema havia a não ser uma mentira vitalícia que Ana nunca soube?Infelizmente, essa analogia não era suficiente para que eu abandonasse minha crença de que a verdade é importante. Embora a princípio muito convincente – algumas coisas me deixavam incomodado. Primeiro, a história não continha nenhuma consequência séria em relação ao fato de Ana não saber a verdade, a não ser o incômodo da família assistindo Ana se fazer de “boba” de vez em quando. Mas essa história era um bom exemplo da vida real? Eu cri que não. Eu creio que, na maioria das vezes no “mundo real”, não saber a verdade pode acarretar sérias consequências.Eu suponho que um pensamento melhor seria se Ana tivesse uma doença séria, mas tratável. Seus pais, querendo evitar falar-lhe a verdade, lhe diriam que tudo estava bem, que ela não tinha nada. Essa mentira se espalharia pela família e amigos – a ponto de que ninguém estaria confortável em falar a verdade para ela. À medida que o tempo passava, Ana se sentia pior e pior. Nenhum tratamento foi fornecido – afinal, ela estava “bem”. Quando Ana se sentia doente, seus pais falavam que era uma virose que todo mundo estava pegando. Ana se acostumou com isso e presumia que era normal. “As outras meninas devem sentir o mesmo. É normal”, ela pensava

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consigo mesma. Ana não conhecia a verdade e vivia a vida sem tratamento para sua doença. Se ela soubesse a verdade, tudo o que teria que fazer seria buscar o tratamento correto e ser curada, mas ela nunca fez isso. Ela nunca soube a verdade. Ela morreu.O segundo problema que eu tinha com a primeira analogia apresentada era uma pressuposição implícita nela de que tudo termina com a morte, de forma que as ações não requerem qualquer consequência após a morte. A única forma de aceitar isso seria tomar um passo de “fé” em não crer que existe vida após morte. Eu não cria nisso. Se tudo terminasse com a morte, então seria lógico presumir que nossas ações neste mundo só afetam aqueles que continuam vivendo. Se não existe julgamento final, ou um Juiz Supremo, então nossas ações e consequências terminam na sepultura. Eu não acreditava nessa ideia. Além do mais, uma expedição HONESTA em busca da verdade teria que determinar isso como RESULTADO e não como PREMISSA INICIAL. Desta forma, o conhecimento da verdade poderia ser mais do que vida ou morte – poderia ser uma questão de vida eterna ou morte eterna. No mínimo, seria lógico deixar esta opção “na mesa de discussão”. Agora, e se eu estivesse errado? Estar certo ou errado nesta questão não é a mesma coisa como no caso de Ana não saber cantar. Neste caso, parece ser mais semelhante ao fato de Ana não ser comunicada de que tem uma doença grave que tem tratamento e, devido à sua ignorância, sofreria sérias consequências por não saber a verdade.Se o Cristianismo é verdadeiro, então não crer que Deus existe, não confiar que Jesus é nosso Salvador, nos coloca em uma eternidade longe Daquele que nos criou. Uma eternidade desconectada da fonte da vida. Uma eternidade no inferno. Jesus disse que era o único caminho para Deus. O Cristianismo exclui outras possibilidades de estar na presença de Deus. O Cristianismo afirma que nossa vida eterna está em jogo. Ele afirma que a aposta é grande. Ele afirma que esta vida importa muito, pois há uma vida eterna chegando.O Islamismo também diz que é verdadeiro. Os muçulmanos creem em um Deus (Alá), assim como o Cristianismo crê em um Deus. Porém, não creem que Jesus é o Salvador, uma vez que nem creem que Jesus morreu na cruz para começo de história. Deus (Alá) é misericordioso e ganhamos sua misericórdia fazendo obras e dependendo da misericórdia de Deus para entrar ou não no paraíso. Aqueles que Alá julgar não apropriados para o céu baseado em sua boas obras, serão enviados para o inferno eternamente. Ou você é um muçulmano com uma chance de ir para paraíso ou um infiel num inferno eterno. O Islamismo também crê que a vida importa bastante, e que há uma vida eterna vindo logo após.

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Algumas ramificações do Hinduísmo, por outro lado, creem que existem vários deuses, enquanto outras creem que existem várias formas de se ver Deus representado. Alguns hindus aceitam algumas coisas sobre o Cristianismo, mas não aceitam as propostas cristãs de que há somente um caminho para Deus. Para muitos, podemos crer em vários deuses e nossas ações más passam por vários ciclos de vida onde o carma nos transforma em pessoas melhores. Parece que as consequências do Hinduísmo são menores que as do Cristianismo e do Islamismo. Esta vida conta, mas não tanto, pois há várias formas de se consertar as coisas.O ateísmo também acarreta consequências. A falta de existência de um ou mais seres supremos ou forças, torna nossa existência um acidente cósmico que poderia não ter acontecido. Isso significa que, dentro do ateísmo, não tem como haver propósito, design ou objetivo em nossa existência. Nenhuma força ou Ser Supremo está direcionando nada. Somos apenas o resultado de leis naturais aleatoriamente criadas através de um processo acidental e não direcionado. O significado na vida não pode ser intrinsecamente encontrado. Neste caso, o significado tem que ser literalmente inventado. Cada um pode inventar seu próprio significado baseado em seus critérios subjetivos. Dentro do pensamento ateísta, eu teria que criar meu próprio conto de fadas para que pudesse encarar o absurdo de uma vida sem um propósito intrínseco.O agnosticismo, por outro lado, me parece uma fuga intelectual que realmente não resolve o problema, mas simplesmente evita-o. O fato de alguém afirmar que não se pode saber a verdade, não muda em nada as consequências de não se saber a verdade. Se eu fosse cego e surdo e andasse numa rua congestionada e fosse atropelado por um carro, o fato de eu não ter como saber o que está acontecendo em nada muda a verdade sobre o perigo de andar numa rua congestionada. Simplesmente evitar lidar com a questão e não querer buscar a verdade não me fez sentir melhor. O agnosticismo poderia ser uma possibilidade, mas eu só podia aceitá-lo logicamente se eu chegasse a uma “rua sem saída”. Para mim, é como brincar de esconde-esconde em um parque. Eu nunca poderia afirmar que não se pode encontrar alguém no parque, a não ser que eu procurasse pelo parque inteiro e chegasse a esta conclusão, ou tivesse a ideia razoável de que eu não tinha condições de procurar no parque inteiro. O agnosticismo teria que ser uma conclusão lógica de uma busca fracassada e não a premissa inicial.Saber qual é a verdade não é uma questão trivial. Se o ateísmo fosse verdadeiro, eu teria que inventar um significado de vida que acabaria quando eu morresse. Se o Cristianismo fosse verdadeiro,

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uma vida eterna estaria em jogo. Se o Islamismo fosse verdadeiro, os cristãos estariam em sérios problemas eternamente. Se o Hinduísmo fosse verdadeiro, teríamos que “tentar a vida” algumas vezes para eventualmente ficarmos bem. Se o agnosticismo fosse verdadeiro, nada importaria, pois não haveria como saber.Ficou claro para mim que o conhecimento da verdade poderia acarretar sérias consequências. A aposta é grande o suficiente para que eu procurasse racionalmente a verdade. O agnosticismo deveria ser o último recurso – quando todas as opções fossem excluídas. O ateísmo acarretaria a consequência de se viver uma vida de conto de fadas, sem um propósito intrínseco. Desta forma, fazia sentido que eu analisasse as afirmações do Cristianismo, do Islamismo e de outras religiões antes de cair num agnosticismo como forma de fuga. Eu listei todas as grandes religiões que pude e cheguei a mais de cinquenta. Essas cinquenta religiões não podiam ser todas verdadeiras ao mesmo tempo, pois se contradizem entre si. Será que todas estavam erradas?Como eu havia concluído que a busca da verdade é importante e pode acarretar sérias consequências, eu havia chegado à conclusão de que valeria a pena continuar minha expedição em busca da verdade.

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