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Curso DE DIDÁTICA
(Prof. MS. Pe. Dirceu Montovani)
Introdução:
E, o que é Didática?
A didática é o principal ramo da Pedagogia que investiga os fundamentos, as
condições e os modos de realizar a educação mediante o ensino.
- COMÊNIO: (1592-1670) – Em sua Didática Magna, elabora uma proposta de reforma
da escola e do ensino e lança as bases para uma pedagogia que prioriza a “arte de
ensinar” por ele denominada de Didática, em oposição ao pensamento pedagógico
predominante até então.
Assim ele expõe seu pensamento ao explicar o título de sua obra: “A proa e a popa de nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso; (...)”
Desde o seu primeiro momento, a Didática organizou-se como um corpo de
doutrina, de prescrição. Lembre-se que Comênio definiu sua “Didática Magna”, que
inaugurou a disciplina, como um artifício universal para ensinar tudo a todos. A partir
daí, a Didática – em sua produção intelectual e em seu ensino – outra coisa não tem
sido senão um conjunto de normas, recursos e procedimentos que devem
(deveriam?) informar e orientar a atuação dos professores.
À didática cabe:
• Converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino;
• Selecionar conteúdos e métodos em função dos objetivos de ensino;
• Estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o
desenvolvimento das capacidades dos alunos.
A didática se divide em:
• Didática Geral – estuda os princípios, as normas e as técnicas que devem
regular qualquer tipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. Ela nos dá uma
visão geral da atividade docente.
• Didática Especial – estuda os aspectos científicos de uma determinada
disciplina ou faixa de escolaridade. Analisa os problemas e as dificuldades que
o ensino de cada disciplina apresenta e organiza os meios e as sugestões para
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resolvê-los. Assim, temos as didáticas especiais das línguas (inglês, espanhol
etc.), as didáticas especiais das ciências (física, química etc.).
• Li, não me lembro onde, uma fábula que dizia, mais ou menos, isso: • "Era uma vez uma tribo pré-histórica que se alimentava de carne de tigres de dentes de sabre. A educação nesta
tribo baseava-se em ensinar a caçar tigres de dentes de sabre, porque disto dependia a sobrevivência de todos. Os mais velhos eram os responsáveis pela tarefa educativa. Passado algum tempo os tigres de dentes de sabre extinguiram-se. Criou-se um impasse: o apego à tradição dos mais velhos exigia que se continuasse a ensinar a caçar tigres de dentes de sabre; os mais jovens clamavam por uma reforma no ensino. O impasse perdurou por muito tempo. Mais precisamente até um dia que, por falta de alimento, a tribo extinguiu-se também."
I. Didática: Suas Relações, Seus Pressupostos.
Desde os Jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Paulo Freire, Saviani, dentre
muitos outros, a educação escolar percorreu um longo caminho do ponto de vista
de sua teoria e de sua prática.
Vivenciada através de uma prática social específica – a pedagógica – esta
educação organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor-
aluno e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o
saber erudito produzido pela humanidade.
A escola, como direito de todos, foi instituída socialmente a partir da necessidade
de organizar uma forma de transmitir o saber que a humanidade sistematizou ao
longo da existência. Esta necessidade somente ocorreu aproximadamente há dois
séculos, pois antes disso a escola como responsabilidade do Estado praticamente
não existiu.
Sendo estas sociedades constituídas pelo trabalho escravo por um lado, e
senhores por outro, as classes sociais eram estratificadas e a educação sistemática,
como privilégio de alguns, cumpria bem a função conservadora da instituição social.
Sócrates, Platão, Aristóteles, na antiguidade, e Santo Tomas de Aquino, na idade
média, representam bem o pensamento da época ao desenvolverem e difundirem
suas concepções de mundo. O homem a serem concebidos era o que compunha a
classe de homens livres.
Para Platão a educação: “deve proporcionar ao corpo e à lama a perfeição e
beleza de que são suscetíveis”. Para Aristóteles, deve “moldar a matéria com a
energia do sentido contido na noção de forma humana”; Para Santo Tomás de
Aquino deve ser “uma atividade em virtude da qual os dons potenciais se tornam
realidade atual”.
Estes homens definiram a educação do homem através de um ideal de moral, de
formação do caráter, de hábitos, do domínio das paixões, da justiça, do
desenvolvimento intelectual, físico e artístico, etc.
Para conduzir o educando ao alcance desse ideal foi utilizada uma prática
pedagógica baseada em dogmas na autoridade do mestre, na disciplina.
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EDUCAÇÃO pratica DOGMAS Autoridade
Pedagógica do Mestre
Disciplina
Se para a sobrevivência das respectivas relações sociais de produção do mundo
antigo e medieval a educação escolar era privilégio e necessidade de determinada
classe social, para atender as necessidades do capitalismo (burguesia,
individualidade, igualdade e a liberdade do homem, condições para o
desenvolvimento do capital), a educação foi instituída como um direito de todos. Daí
passa a ser responsabilidade do Estado.
Para desenvolver este homem, a educação escolar passou por transformações
fundamentais, veiculando em sua prática pedagógica, uma compreensão de
homem, educação, ensino, sociedade, adequadas à sociedade capitalista.
Por um lado o Papel da Prática Pedagógica:
Prática interesses individuais Mão de
Pedagógica (aluno) Obra Diversificada
Por outro o Papel do Professor:
Professor Tornar atraente Fácil o
O Ensino Aprender
Lutero e Comênio foram importantes ao constituírem em oposição à
pedagogia escolástica, predominante até então. Seu enfoque, no ensinar, foi
introduzir, no cenário pedagógico, uma discussão que atendeu às necessidades do
capitalismo nascente.
A Companhia de Jesus, fundada em 1540, com a finalidade de lutar contra as
idéias luteranas, através do ensino do catolicismo, valorizavam o homem como ser
individual, buscou divulgar concepções e valores predominantes na Idade Média.
De acordo com as suas necessidades a sociedade capitalista produz teorias
pedagógicas que visam desenvolver, na criança a aptidão e o interesse individuais,
necessários à sua manutenção, em detrimento do Ideal de perfeição humana
desenvolvido pelas relações sociais anteriores.
Então, a educação escolar capitalista, se preocupa com o processo de ensinar
que enfatiza o desenvolvimento da individualidade humana. Esta mudança de
enfoque alterou a prática diária da escola do ponto de vista da relação professor-
aluno, dos meios e procedimentos utilizados, do conteúdo ensinado e gerou a
produção de teorias pedagógicas direcionadas para a “arte de ensinar”.
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De um ponto de vista crítico o objeto de estudo da Didática não pode continuar
atendendo às necessidades da do capitalismo e enfatizar ora um, ora outro
componente da relação pedagógica. Neste sentido, o ensino da “arte de ensinar”
para ser crítico não pode se restringir aos meios desvinculados dos fins sociais da
educação escolar, uma vez que a escola, enquanto instituição social que transmite
uma compreensão-explicação de mundo está inserida em um contexto mais social
mais amplo.
Compreender a articulação entre ensino-sociedade supõe a compreensão de
qual concepção de educação, de homem, de sociedade, fundamenta
determinada forma de se organizar os objetivos, os conteúdos, os procedimentos e os
recursos utilizados na relação professor-aluno. Repensando a Didática,
Colaboradores Antonia Osima Lopes... [et al.];
Coordenadora Ilma P. A. Veiga – 5ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1991.
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II. O que é Ensinar
O primeiro grande problema quando se procura compreender o ensinar, é o risco
de cair na armadilha de reduzir o ensino à instrução.
Instruir visa à erudição, enquanto o amplo ensinar visa à compreensão, à
sabedoria de vida. O ensinar é um movimento de vida entre o educador e o
educando, ou seja, se quisermos usar termos mais especializados, entre o mestre e o
discípulo.
O ensino não pode ser reduzido à simples instrução, menos ainda aceito como
forma de adestramento. O adestramento não é aplicável somente aos irracionais,
para que sejam treinados, o adestrar é estendido também a crianças e adultos.
O adestramento é a criação de comportamentos úteis, isto é, interessante a
determinados grupos, mas que não consideram o crescimento do indivíduo que os
tenha, ele é o exato contrário da educação. Exemplo: cursinho pré-vestibular.
Em nossa época são usadas duas maneiras de vincular o conceito de ensino:
1. Inteiramente ligada a uma concepção mecanicista que tenta estabelecer
como ensino o mais pragmático e imediatista dos adestramentos.
2. Fazer com que o exercício de ensinar permaneça vinculado ao intento de
promover as condições necessárias para, transcendendo o instruir e o adestrar,
auxiliar o encontro da inteligência do educando com a vida, o encontro de
sua sensibilidade com a pluralidade rica do viver.
Do século XVII para cá nasceu uma idéia que foi crescendo até se tornar uma
expressão: “ninguém ensina ninguém, é o indivíduo que aprende”. Afinal, por mais
que se procure demonstrar o contrário, vivemos numa época muito mais de
paixões do que de exercício do senso crítico.
De fato, o mundo ensina e os homens também ensinam. Digo isto pensando no
ensinar informal do cotidiano, no qual o simples fato de se dar a uma criança uma
língua, um idioma que será seu, é marcá-la com a estrutura de uma mentalidade.
Portanto, todo mundo que está à nossa volta constantemente nos ensina, nos
marca e modela. O meio no qual uma criança vive sua primeira infância,
principalmente o ambiente familiar, é de suma importância para a vida adulta
que tal criança terá. Pois os primeiros anos são aqueles nos quais a família mais
ensina a criança.
Do latim popular formou-se a palavra ensinar: in-signare, marcar com um sinal.
De onde se vai vendo que todos os efeitos marcantes que se exercem sobre uma
mente são efeitos ensinantes. Por isso, todos nós fomos marcados positivamente ou
negativamente por um professor.
Ora, se ninguém ensina ninguém, mas tão somente é o indivíduo que aprende,
fica comprometida toda a responsabilidade moral das famílias e das escolas sobre
os produtos dos seus ensinamentos, ou seja, tais produtos inexistem.
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O ensinar tem direta implicação no detonar da criatividade do educando, e as
“iluminações” interiores que o levam quase ao êxtase não lhe são diretamente
ensinadas, brotando da sua criatividade no se defrontar com a vida.
Uma coisa é certa: “a iluminação é de cada um, mas as luzes são do mundo,
pois o próprio eu só se estrutura e se conhece a partir do mundo.”
O chinês Lao-Tsê, já dizia que a vida é um Caminho e que ninguém pode
caminhar pelo outro o caminho que é do outro. Mas dizia também que uns
podem ir no caminho com outros, sendo-lhes companheiros.
COMPANHEIROS: Aquele que come do mesmo pão junto comigo (cun-panere).
Quero dizer que só há ensino quando há companheirismo entre ensinantes,
educador e educando, pois o que caracteriza o ensinar é a ultrapassagem da
coexistência para a convivência.
A convivência que caracteriza o ensinar precisa vir dosada de comunhão
humana e, ao mesmo tempo, do mais completo respeito pela privacidade dos
elementos nele envolvidos.
A sociedade contemporânea faz um desafio ao qual só podem responder
espíritos muito fortes e determinados. Ensinar, é hoje, transpor as mediações de
uma sociedade objetal (voltada para o ter coisas) para atingir a sensibilidade e a
inteligência do educando.
O ensino que não se volta para a pessoa em sua historicidade é a
representação de uma farsa de péssima qualidade e que consome injustamente
os cofres públicos bem como as economias particulares.
Voltar-se para a pessoa é tentar uma caminhada no sentido do melhor que
uma época pôde idealizar-se a partir de suas angústias, sonhos e necessidades.
O encontro humano convivente ainda é a única forma de ensino, se não nos
esquecermos do in-signare. Marcar com um sinal, fazendo-se o possível para que
tal marca nem seja ruim nem seja “marca de propriedade”, lutando para que o
ensinar não se constitua em expropriar uma personalidade de si mesma.
MORAIS, Regis de,
O que é Ensinar,
São Paulo: EPU, 1986.
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III. Didática: Uma Breve Retrospectiva Histórica.
1. Contexto Histórico:
1.1. Renascença: Séc. XV e XVI
Grandes Invenções:
Bússola navegação
Pólvora guerras
Imprensa (papel) difusão da cultura
Grandes Descobertas:
Caminho para as Índias
Descoberta das Américas
Revolução Comercial:
Decadência do Feudalismo
Novo modo de produção Capitalista
Reforma e Contra-Reforma:
Crítica à estrutura autoritária e decadente da Igreja Católica;
Interesses políticos e nacionalistas
Lutero recebe adesão dos nobres, interessados no confisco dos bens da
Igreja.
Calvino tem apoio da burguesia rica.
Contra-Reforma: a Igreja reage em recuperação do espaço perdido.
Concílio de Trento (1545 – 1563).
Humanismo:
Nova imagem do homem e da cultura;
Esforço para superar o teocentrismo medieval buscando os valores
antropocêntricos.
2. A Educação Religiosa - Reformada:
2.1. Educação Protestante
A educação se torna importante instrumento para a divulgação da Reforma,
permitindo a todos os homens a leitura e interpretação da Bíblia.
Lutero (1483 – 1546)
Melanchthon (1497 – 1560)
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Implantação da “Escola Primária para Todos”
Competência do Estado
Diferença no enfoque educacional:
Classe trabalhadora: educação primária
Classe privilegiada: ensino médio e superior
2.2. Educação Contra-Reforma
Concílio de Trento: (1545 – 1563)
Reafirma os princípios da fé;
Confirma a supremacia papal;
Reforça a ação da inquisição;
Criação dos seminários.
Colégio dos Jesuítas
Inácio de Loyola (1491 – 1556)
era soldado;
envolvido por um súbito ardor religioso;
funda a Companhia de Jesus (Jesuítas) em 1534;
a ordem estabelece a rígida disciplina militar e seu objetivo inicial:
- é a propagação da fé,
- a luta contra os infiéis
- e heréticos.
No início dos trabalhos descobrem que, diante da intolerância dos adultos¸ é
mais segura a conquista das almas jovens. O instrumento adequado seria a
criação e multiplicação das escolas.
Em 1579 - 144 colégios no mundo
Em 1749 – 669 colégios.
Educação Jesuítica:
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Honnête Homme: trata-se da formação do homem educado, do homem
perfeito conforme a sociedade aristocrática, o gentil-homem, o homem culto e
polido.
Para alcançar seu objetivo:
Se preocupam com a formação humanística: obras clássicas
espírito religioso
Cícero, Sêneca, Ovídio, Virgílio, Esopo ...
Retoma o pensamento Aristotélico e Tomista
Formação dos Mestres:
“Ratio atque Institutio Studiorum” – 1599 – Pe. Aquaviva.
Organização e Plano de Estudos
Trata-se de um cuidadoso documento:
Com regras práticas sobre a ação pedagógica;
Organização administrativas.
O Ensino nos Colégios:
A Disciplina: - proteção e vigilância: mais marcantes;
Controle na admissão dos alunos (internatos);
Disciplina rigorosa (substitui a autoridade do pai ausente e férias bem curtas a
fim de evitar que o contato com a família afrouxe os hábitos morais adquiridos);
Os externos também são controlados e orientados ao afastamento da vida
mundana;
O mestre só pode castigar com palavras e admoestações;
Se a falta for muito grave: são permitidas as punições físicas, desde que o
padre não encoste a mão no aluno, isto fica a cargo de um “corretor”.
Para contrabalancear a disciplina rigorosa é estimulada as atividades
recreativas que proporcionam ambiente mais alegre e vida mais saudável.
A Didática: - os alunos estudam cinco horas por dia: 2,30 h. de manhã e 2,30 h.
à tarde.
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Como estudam?
- conversação exclusiva em latim e análise de autores latinos;
- os exercícios são fixados mediante repetição constante, memorização.
- os alunos “decuriões” - devem cuidar de mais nove colegas e tomar as lições deles.
- as classes inferiores, aos sábados, repetem-se as lições da semana toda (sabatinas);
- as classes mais adiantadas, são organizados os torneios de erudição;
- Emulações: estímulos à competição entre os indivíduos e as classes. Daí recebe
títulos: Imperador, Ditador, Cônsul, Tribuno, Senador, Cavaleiro, Decurião e Edil.
- Prêmios: aos alunos mais destacados nos trabalhos escolares – são feitas verdadeiras
cerimônias solenes na entrega dos prêmios com a presença de autoridades e
familiares.
- Academias: onde os melhores alunos mostram sua produção intelectual;
- peças teatrais.
Conteúdos do Ensino:
- Conteúdo supõe fins da educação.
Studia Inferiora: - Letras Humanas
Nível médio (3 anos)
Gramática – Humanidades – Retórica
Filosofia e Ciências:
Nível superior: (3 anos)
Formação de Filósofos
Base Filosófica: Tomás de Aquino e Aristóteles
Studia Superiora:
Teologia e Ciências Sagradas: (4 anos)
Formação do Padre
Crítica ao Ensino dos Jesuítas
- Século XVIII: mais de 200 anos de ação pedagógica jesuítica, surgem as críticas:
- Voltaire: “Os jesuítas não me ensinaram senão latim e tolices”;
- Michelet: “Nenhum homem em trezentos anos!”
- Em 1759, o marquês de Pombal, 1 ministro de Portugal, expulsa os jesuítas do reino
de seus domínios (inclusive o Brasil).
Brasil: A colonização e Ensino Jesuítico
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- Contexto histórico:
- A ação dos portugueses no Brasil se restringiu, de início, à extração do pau-brasil e
algumas expedições exploratórias. A partir de 1530 tem início a colonização, com o
sistema de capitanias hereditárias, e começa a monocultura da cana-de-açúcar.
- Estrutura econômica: - Latifundiários, escravatura, monocultura, caráter patriarcal
da sociedade (senhor de engenho).
- a educação não é meta prioritária para o colonizador.
- São enviados, pelas metrópoles européias, religiosos a fim de desenvolver um
trabalho missionário e pedagógico. Com a finalidade de convertes os pagãos (índios)
e impedir que os colonos se desviassem da fé católica.
- Em 1549 – Tomé de Souza (1 governador geral) vem acompanhado por diversos
jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega.
- Em Salvador, fazem funcionar uma escola “de ler e escrever”. É o início de um
processo de criação de escolas elementares, secundárias, seminários e missões,
espalhadas pelo Brasil até o ano de 1759.
- Criam o Colégio São Vicente – depois transferido para Piratininga onde, 1554,
fundam o Colégio São Paulo.
- Personagens:
- Nóbrega (o político) – soube organizar as estruturas iniciais da educação
adaptando às exigências locais;
- Aspilcueta (o pioneiro) – o primeiro a aprender a língua dos índios;
- Anchieta (o santo) – organiza a gramática tupi.
- Com a expulsão dos jesuítas em 1759, tiveram seus bens confiscados e muitos livros e
manuscritos importantes foram destruídos.
- O marquês de Pombal só inicia a reconstrução do ensino uma década mais tarde.
Isso revela um retrocesso em todo os sistema de ensino cultural brasileiro.
- A reforma pombalina, começa em 1772 com a implantação do ensino público
oficial. A Coroa se encarrega de organizar a educação, nomeando professores
(leigos) e estabelecendo planos de estudos e inspeção. Porém, cheio de falhas, com
professores leigos sem formação alguma, mal pagos, etc.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda
História da Educação,
São Paulo: Moderna, 1989.
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IV. Uma Retrospectiva Histórica da Didática no Brasil
A retrospectiva histórica da Didática abrange duas partes:
- Período que vai de 1549 até 1930;
- A partir de 1930 até os dias atuais.
1. Primórdios da Didática: O Período de 1549/1930.
Os Jesuítas foram os principais educadores de quase todo o período colonial,
atuando, aqui no Brasil, de 1549 a 1759.
No contexto de uma sociedade de economia agrário-explortadora-
dependente, explorada pela Metrópole, a educação não era um valor social
importante. A tarefa educativa estava voltada para a catequese e instrução dos
indígenas, mas, para a elite colonial, outro tipo de educação era oferecido.
O plano da educação era consubstanciado no Ratio Studiorum, cujo ideal era
a formação do homem universal, humanista e cristão. A educação se preocupava
com o ensino humanista de cultura geral, enciclopédico e alheio à realidade da vida
de Colônia.
A ação pedagógica dos jesuítas foi marcada pelas formas dogmáticas de
pensamento, contra o pensamento crítico. Privilegiavam o exercício da memória e o
desenvolvimento do raciocínio; dedicavam atenção ao preparo dos padres-mestres,
dando ênfase à formação do caráter e sua formação psicológica para
conhecimento de si mesmo e do aluno.
Por volta de 1870, época de expansão cafeeira e da passagem de um modelo
agrário-exportador para um urbano-comercial-exportador, o Brasil vive seu período
de “iluminismo”
No campo educacional, suprime-se o ensino religioso nas escolas públicas,
passando o Estado a assumir a laicidade. É aprovada a reforma de Benjamim
Constant (1890) sob influência do positivismo. A escola busca disseminar uma visão
burguesa do mundo e da sociedade a fim de garantir a consolidação da burguesia
industrial como classe dominante.
Neste período surge a vertente da Pedagogia Tradicional que mantém a visão
essencialista de homem, não como criação divina, mas aliada a noção de natureza
humana, essencialmente racional.
A Didática no bojo da Pedagogia Tradicional está centrada no intelecto, na
essência;
- o professor se torna o centro do processo de aprendizagem;
- o aluno um ser receptivo e passivo;
- a disciplina é a forma de garantir a atenção, o silêncio e a ordem.
2. A Didática nos Cursos de Formação de Professores a partir de 1930.
2.1. Período de 1930/1945
- Revolução de 1930
- Vargas constitui o Ministério da Educação e Saúde Pública.
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- 1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, preconizando a
reconstrução social da escola na sociedade urbana e industrial.
- Francisco Campos cria a primeira universidade brasileira: Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
- A Escola Nova propõe um novo tipo de homem, defende os princípios
democráticos, isto é, todos têm direito a se desenvolverem. No entanto, isso
é feito em uma sociedade dividida em classes, onde são evidentes as
diferenças entre o dominador e as classes subalternas.
- a característica mais marcante do escolanovismo é a valorização da
criança, vista como ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade,
iniciativa, autonomia e interesses devem ser respeitados. O problema
educacional passa a ser uma questão escolar técnica. A ênfase recai no
ensinar bem, mesmo que a uma minoria.
- A Didática, (Escola Nova) é entendida como um conjunto de métodos,
privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino, fundamentada
nos pressupostos psicológicos, psicopedagógicos e experimentais,
cientificamente validados na experiência e constituídos em teoria,
ignorando o contexto sócio-político-econômico. Perfil do professor:
técnico.
2.2. Período de 1945/1960
- Modelo político – democracia liberal;
- Estado populista; representando uma aliança entre empresariado e setores
populares.
- A educação, insere-se nesse cenário. Participação das massas;
- Entre 1948-1961, desenvolvem-se lutas ideológicas em torno da oposição
entre escola particular e escola pública.
- 1968-1971 – reformas no sistema escolar brasileiro;
- O convênio celebrado entre o MEC/Governo de Minas Gerais – Missão de
Operação dos Estados Unidos (PONTO IV) criou-se o PABAEE (Programa
Americano Brasileiro de auxílio ao Ensino Elementar), voltado para o
aperfeiçoamento de professores do Curso Normal.
- A Didática se voltava para as variáveis do processo de ensino sem
considerar o contexto político-social. Acentuava-se o enfoque renovador-
tecnicista da didática.
2.3. Período pós 1964
- Revolução de 64:
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- alteração na ideologia política;
- na forma de governo;;
- na educação.
O período compreendido entre 1960 – 1968 foi marcado pela crise da
Pedagogia Nova e articulação da tendência tecnicista, assumida pelo grupo
militar e tecnocrata.
A Pedagogia Tecnicista está relacionada com a concepção analítica da
Filosofia da Educação, mas não como conseqüência sua.
O papel da Didática a partir dos pressupostos da Pedagogia Tecnicista procura
desenvolver uma alternativa não psicológica, situando-se no âmbito da
tecnologia educacional, tendo como pressuposição básica a eficácia e a
eficiência do processo de ensino.
Na Didática Tecnicista, a desvinculação entre teoria e prática é mais
acentuada.
O professor torna-se mero executor de objetivos instrucionais, de estratégia de
ensino e de avaliação. Acentua-se o formalismo didático através dos planos
elaborados segundo normas pré-fixadas.
A partir de 1974, época em que tem abertura do regime político autoritário,
surgiram estudos empenhados a fazer a crítica da educação dominante.
Tais estudos foram agrupados e denominados por SAVIANI de “Teorias Crítico-
Reprodutivistas”. Apesar de considerar a educação a partir dos seus aspectos
sociais, concluem que a função primordial é a de reproduzir as condições
sociais vigentes.
A Teoria Crítico-Reprodutivista contribuiu para acentuar uma postura de
pessimismo, por outro lado, a atitude crítica passou a ser exercida pelos alunos
e os professores procuraram rever sua própria prática pedagógica a fim de
torná-la mais coerente com a realidade sócio-cultural.
2.4. A Década de 1980: Momento atual da Didática
Situação Sócio-econômica:
- elevação da inflação;
- elevação do índice de desemprego;
- aumento da dívida externa;
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- política recessionista – orientada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
- Instala-se a Nova República – iniciando-se uma nova fase na vida do país;
- ascenção do governo civil da Aliança Democrática – fim da ditadura militar.
A Educação não está centrada no professor ou no aluno, mas na questão
central da formação do homem. A educação está voltada para o ser humano
e sua realização em sociedade.
A Escola se organiza como espaço de negação de dominação e não mero
instrumento para reproduzir a estrutura social vigente. O agir no interior da
escola é contribuir para transformar a própria sociedade.
O enfoque da Didática, de acordo com o enfoque de uma Pedagogia
Crítica, é o de trabalhar no sentido de ir além dos conteúdos e técnicas,
procurando associar:
escola-sociedade,
teoria-prática
conteúdo-forma
técnico-político
ensino-pesquisa
professor-aluno
Ela deve contribuir para ampliar a visão do professor quanto às
perspectivas didático-pedagógicas mais coerentes, com nossa realidade
educacional, ao analisar as contradições entre o que é realmente o
cotidiano da sala de aula e o ideário pedagógico calcado nos princípios da
teoria liberal, arraigado na prática dos professores.
A Didática no âmbito desta pedagogia auxilia no processo de politização do
futuro professor, de modo que ele possa perceber a ideologia que inspirou a
natureza do conhecimento usado e a prática desenvolvida na escola.
Neste sentido, a Didática crítica busca superar o intelectualismo formal do
enfoque tradicional, evitar os efeitos do espontaneísmo escolanovista,
combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas
especificamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do discurso
reprodutivista. Procura, ainda, compreender e analisar a realidade social onde
está inserida a escola.
Enfim, é preciso a construção de uma Didática crítica, contextualizada e
socialmente comprometida com a formação do professor. Uma didática que
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proponha mudanças no modo de pensar e agir do professor e que este tenha
presente a necessidade de democratizar o ensino.
Repensando a Didática,
Colaboradores Antonia Osima Lopes... [et al.];
Coordenadora Ilma P. A. Veiga – 5ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1991.