65
CARTOGRAFIA APLICADA À BIOGEOGRAFIA Simone Rodrigues de Freitas 2004 Reprodução autorizada desde que citada a fonte FREITAS, S. R. Cartografia aplicada à biogeografia, 2004. Disponível em <http://www.geocities.com/simonerfreitas>. Acesso em:....

Apostila Cartografia - Simone Freitas

Embed Size (px)

Citation preview

  • CARTOGRAFIA APLICADA BIOGEOGRAFIA

    Simone Rodrigues de Freitas

    2004

    Reproduo autorizada desde que citada a fonte

    FREITAS, S. R. Cartografia aplicada biogeografia, 2004. Disponvel em . Acesso em:....

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    2

    NDICE

    CARTOGRAFIA APLICADA BIOGEOGRAFIA................................................................ 3

    COMO E PARA QUE A BIOGEOGRAFIA USA MAPAS? ....................................................................... 3

    CONCEITOS BSICOS DE CARTOGRAFIA NECESSRIOS PARA A CONFECO CORRETA DE MAPAS

    PARA ESTUDOS BIOGEOGRFICOS ................................................................................................. 4

    O geide, o elipside e o datum .............................................................................................. 4

    Sistema de coordenadas .......................................................................................................... 6

    Escala ...................................................................................................................................... 8

    Erro e Preciso Grfica ........................................................................................................ 10

    Sistemas de Projeo Cartogrfica....................................................................................... 13

    O Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM).......................................................... 17

    REPRESENTAO CARTOGRFICA: LENDO CARTAS TOPOGRFICAS ........................................... 20

    Mapas, cartas ou plantas ...................................................................................................... 20

    ONDE ADQUIRIR A BASE CARTOGRFICA? .................................................................................. 23

    COMO CONSTRUIR OU ATUALIZAR A BASE CARTOGRFICA?....................................................... 24

    Sensoriamento remoto e fotografias areas.......................................................................... 25

    O uso do GPS na biogeografia ............................................................................................. 45

    AS ESCALAS E PROJEES DOS MAPAS MAIS USADOS EM BIOGEOGRAFIA E SUAS LIMITAES.... 54

    AS INFORMAES QUE NO PODEM DEIXAR DE ENTRAR EM UM MAPA ....................................... 55

    COMO FAZER OS MAPAS DE DISTRIBUIO GEOGRFICA ............................................................ 57

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................. 62

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    3

    CARTOGRAFIA APLICADA BIOGEOGRAFIA

    Esse apostila tem o objetivo de capacitar alunos e profissionais da rea de biogeografia na

    leitura e produo de mapas usados em trabalhos biogeogrficos. Dessa forma, pretende fornecer

    os conhecimentos cartogrficos bsicos, discutir as limitaes e aplicaes das bases de dados

    cartogrficos, e apresentar as ferramentas necessrias para a construo da base de dados e para a

    confeco dos mapas, possibilitando, assim, aumentar a qualidade e a confiabilidade do material

    cartogrfico gerado em estudos biogeogrficos.

    Como e para que a biogeografia usa mapas?

    O principal objetivo da biogeografia explicar os padres de distribuio de espcies

    animais e vegetais, no presente e no passado (HENGEVELD, 1990; COX & MOORE, 1993;

    BROWN & LOMOLINO, 1998). Dessa forma, a biogeografia relaciona os pontos de ocorrncia

    de uma determinada espcie s caractersticas ambientais e histricas destes pontos e da espcie

    (Figura 1). A distribuio das aves amaznicas e atlnticas em matas de galeria do cerrado

    (SILVA, 1996) e a distribuio do mico-leo-dourado no Estado do Rio de Janeiro

    (CERQUEIRA et al., 1998) so exemplos de estudos biogeogrficos.

    Figura 1. Mapa mostrando as localidades (nmeros) de coleta das espcies Bola sp., Tringulo sp., Estrela sp. e Quadrado sp. no Brasil e no Peru (modificado de WEKSLER et al., 1999).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    4

    Para realizar esses estudos biogeogrficos necessrio conhecer os pontos de ocorrncia

    da espcie estudada, e as caractersticas climticas, vegetacionais, topogrficas, geolgicas,

    hidrolgicas, entre outras, destes pontos. A maioria desses estudos, se utiliza de mapas para

    mostrar a distribuio geogrfica da espcie estudada, com o limite de distribuio e os pontos

    de ocorrncia plotados. Neste sentido, conhecimentos cartogrficos so fundamentais para que os

    mapas sejam o mais precisos e confiveis possvel, sem o risco de perda de informao.

    Conceitos bsicos de cartografia necessrios para a confeco

    correta de mapas para estudos biogeogrficos

    Para coletar os pontos de ocorrncia de forma que eles possam ser plotados

    adequadamente no mapa, preciso conhecer os conceitos de geide, datum e sistemas de

    coordenadas. Para confeccionar um mapa adequado para o estudo em questo, necessrio, alm

    disso, saber a escala e a projeo mais adequada para representar a rea do estudo. de

    fundamental importncia ter conscincia de que existe sempre um erro de localizao intrnseco

    aos mapas, e que esse erro deve ser minimizado ao mximo, se adequando s necessidades do

    estudo.

    O geide, o elipside e o datum

    A Terra possui a forma de um geide, a superfcie equipotencial do campo da gravidade

    terrestre que mais se aproxima do nvel mdio dos mares (Figura 2) (ROBINSON et al., 1995).

    No entanto, no caso de mapeamentos de preciso, necessria a adoo de uma figura

    geomtrica regular, matematicamente definida e semelhante ao geide, chamado de elipside de

    revoluo, que um slido gerado pela rotao de uma elipse em torno do eixo dos plos (eixo

    menor) (IBGE, 1999; INPE, 2002). O geide usado como referncia altimtrica para

    determinar o nvel mdio dos mares, e conseqentemente o datum vertical, que a origem das

    coordenadas verticais para todas as observaes de altitude. O datum vertical oficial do Brasil,

    atualmente, corresponde ao nvel mdio determinado por um margrafo instalado no Porto de

    Imbituba, em Santa Catarina, sendo utilizada como origem para toda rede altimtrica nacional,

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    5

    exceo do estado Amap (IBGE, 1999). Para referenciar a rede altimtrica do Amap, usa-se o

    margrafo instalado no Porto de Santana (AP) (IBGE, 1999). O elipside a superfcie de

    referncia utilizada nos clculos que fornecem subsdios para a elaborao de uma representao

    cartogrfica (Figura 2) (IBGE, 1999). A forma e tamanho de um elipside, bem como sua

    posio relativa ao geide define um sistema geodsico, ou datum geodsico (Figura 3). No caso

    do Brasil, atualmente utiliza-se o Sistema Geodsico Sul Americano de 1969 (SAD69), que

    adota o elipside de referncia da Unio Geodsica e Geofsica Internacional de 1967, sendo a

    origem das coordenadas (ou datum planimtrico) a estao Vrtice Chu, em Minas Gerais

    (IBGE, 1999; PINA & CRUZ, 2000). No Brasil, at 1977, adotava-se como datum geodsico, o

    elipside Internacional de Hayford, de 1924, sendo o datum planimtrico a estao Crrego

    Alegre, em Minas Gerais (PINA & CRUZ, 2000). O Sistema Geodsico Brasileiro constitudo

    por cerca de 70.000 estaes implantadas pelo IBGE em todo o Territrio Brasileiro, divididas

    em trs redes: a) Rede Planimtrica (latitude e longitude de alta preciso); b) Rede Altimtrica

    (altitudes de alta preciso); e c) Rede Gravimtrica (valores precisos de acelerao da gravidade

    para determinar a forma e dimenso da Terra) (IBGE, 1999). No caso global, o datum

    considerado mais acurado o WGS84, Sistema Geodsico Mundial, cujo elipside orientado

    globalmente (ROBINSON et al., 1995).

    S u p e r f c i e d o

    E l i ps ide

    S u p e r f c i e d o G e i d e

    Super f c ie Topogr f i ca

    Superfcies Terrestres

    Figura 2. O geide e o elipside na superfcie terrestre (modificado de NASA, 2001a).

    O conceito de datum importante para o georreferenciamento de pontos na superfcie

    terrestre. Por exemplo, no uso do GPS (Sistema de Posicionamento Global) importante definir

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    6

    o datum na configurao do sistema, para que as coordenadas obtidas sejam comparveis s de

    cartas topogrficas usadas como base cartogrfica. As cartas topogrficas do IBGE e do

    Exrcito, dependendo do ano de sua produo, podem ter como datum o SAD69 ou Crrego

    Alegre. Tendo datum, e conseqentemente elipsides de referncia diferentes, as coordenadas

    obtidas em um estudo de campo atravs de GPS no sero comparveis. Dessa forma,

    coordenadas obtidas em um mesmo ponto da superfcie terrestre, usando data distintos, sero

    diferentes. Apesar da proximidade entre os sistemas Crrego Alegre e SAD69 ser grande, o fato

    de no se efetuar as transformaes devidas para a compatibilizao dos documentos utilizados,

    pode introduzir erros da ordem de 10 a 80 metros, que pode ser significativo de acordo com o

    objetivo e/ou a escala em uso (PINA & CRUZ, 2000).

    Figura 3. Datum regional e global.

    Sistema de coordenadas

    Os sistemas de coordenadas so necessrios para expressar a posio de pontos sobre

    uma superfcie, seja ela um elipside, uma esfera ou um plano (IBGE, 1999). Para o elipside

    usualmente emprega-se um sistema de coordenadas cartesiano curvilneo, constitudo por

    paralelos e meridianos, enquanto que para o plano, emprega-se um sistema de coordenadas

    cartesiano retangular X e Y.

    No sistema de coordenadas cartesiano curvilneo, tambm conhecido como, sistemas de

    coordenadas geogrficas, considera-se que qualquer ponto na superfcie terrestre dista

    igualmente do centro da esfera (PINA & CRUZ, 2000). Meridianos so crculos mximos que

    Elipside com melhor ajuste regionalmente

    Geide

    Elipside mdio da Terra globalmente

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    7

    cortam a Terra em duas partes iguais de plo a plo, sendo o meridiano internacional de

    referncia ou meridiano de origem, Greenwich (0o) (IBGE, 1999). Paralelos so crculos que

    cruzam os meridianos perpendicularmente, sendo o nico crculo mximo, o paralelo de origem,

    o Equador (0o). Os outros crculos, tanto no hemisfrio Norte quanto no Sul, vo diminuindo de

    tamanho proporo que se afastam do Equador, at se transformarem num ponto, em cada plo

    (90o) (IBGE, 1999). A latitude geogrfica ( ) a distncia angular entre um ponto qualquer da

    superfcie terrestre e a linha do Equador, enquanto que a longitude geogrfica ( ) a distncia

    angular entre um ponto qualquer da superfcie terrestre e o meridiano de origem (Greenwich)

    (INPE, 2002). A latitude medida no sentido do plo Norte considerada positiva e no sentido

    Sul, negativa. A longitude medida no sentido oeste considerada negativa e no sentido leste,

    positiva (Figura 4). Por ser um sistema que considera desvios angulares a partir do centro da

    Terra, o sistema de coordenadas geogrficas no um sistema conveniente para aplicaes em

    que se buscam distncias ou reas, onde indica-se o uso do sistema de coordenadas planas

    (INPE, 2002).

    No sistema de coordenadas cartesiano retangular, tambm chamado de sistema de

    coordenadas planas, a posio de um ponto qualquer definida atravs de um par de

    coordenadas (x, y) (Figura 5). Este sistema pode ser tridimensional, quando se considera mais

    um componente perpendicular ao x e y, representado pelo z, que pode ser, por exemplo, cotas

    altimtricas ou profundidades (PINA & CRUZ, 2000). Estas coordenadas planas so

    relacionadas matematicamente s coordenadas geogrficas, de maneira que umas podem ser

    convertidas nas outras (INPE, 2002).

    Meridiano Origem

    Equador

    f +l +

    f -l -

    f -l +

    f +l -

    Figura 4. Sistema de Coordenadas Cartesiano Curvilneo.

    (Paralelo Origem)

    (Greenwich)

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    8

    Figura 5. Sistema de coordenadas planas ou cartesianas (INPE, 2002).

    Escala

    Todo mapa a representao da superfcie topogrfica projetada sobre um plano. A

    representao possui menores propores do que o mundo real, essa proporo a escala.

    Dependendo da escala utilizada, determinados elementos podem se tornar imperceptveis, esse

    problema resolvido pela generalizao e utilizao de smbolos cartogrficos (IBGE, 1999). A

    escala , por definio, a relao entre a medida de um elemento representado no mapa e sua

    medida no mundo real, dada pela seguinte equao:

    Por exemplo, para um mapa com escala 1:100.000, 1cm na carta corresponder a 1km no

    terreno (Tabela 1).

    E = d/D

    onde: d = um comprimento tomado no mapa

    D = um comprimento tomado no terreno

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    9

    Tabela 1. Escala e a relao dos comprimentos da carta e no terreno.

    Escala Comprimento no mapa (d) em cm

    Comprimento no terreno (D) em cm

    Comprimento no terreno (D) em m

    Comprimento no terreno (D) em km

    1:500 1 500 5 0,005 1:1.000 1 1.000 10 0,01 1:5.000 1 5.000 50 0,05

    1:10.000 1 10.000 100 0,1 1:25.000 1 25.000 250 0,25 1:50.000 1 50.000 500 0,5

    1:100.000 1 100.000 1.000 1 1:250.000 1 250.000 2.500 2,5 1:500.000 1 500.000 5.000 5

    1:1.000.000 1 1.000.000 10.000 10 1:2.500.000 1 2.500.000 25.000 25 1:5.000.000 1 5.000.000 50.000 50

    1:20.000.000 1 20.000.000 200.000 200

    A escala pode ser representada no mapa na forma grfica e/ou nmerica (Figura 6). Como

    a escala uma frao, quanto maior o denominador, menor a escala e menores so os detalhes

    contidos no mapa (Figura 7). As escalas ecolgica e geogrfica so o oposto, quanto menor a

    escala, maiores so os detalhes (WIENS, 1989).

    Figura 6. Escalas Grfica (acima) e Numrica (abaixo) (MELHORAMENTOS, 1998).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    10

    Figura 7. Nvel de detalhamento em mapas de diferentes escalas (modificado de MELHORAMENTOS, 1998)

    Erro e Preciso Grfica

    A menor unidade de percepo grfica, ou erro grfico, est associada a escala de

    representao no mapa. O olho humano permite distinguir uma medida linear de

    aproximadamente 0,1mm, enquanto um ponto ser perceptvel com valores em torno de 0,2mm

    de dimetro (PINA & CRUZ, 2000; CRUZ et al., 2001). A experincia demonstrou que o menor

    comprimento grfico que se pode representar em um desenho de 0,2mm, sendo este o erro

    admissvel (IBGE, 1999). Assim, dependendo da escala do mapa, o erro grfico corresponder a

    um erro de localizao no mundo real (Tabela 2). O erro tolervel varia na razo direta do

    denominador da escala e inversa da escala, ento quanto menor for a escala, maior ser o erro

    admissvel (IBGE, 1999). Sendo assim, o erro de medio (em) ser calculado da seguinte forma:

    Seja: E = 1/M e E = d/D Ento: M = D/d ou M = em/0,2 ou em = M x 0,2

    onde: E = escala do mapa M = denominador da escala do mapa d = um comprimento tomado no mapa D = um comprimento tomado no terreno em = erro de posicionamento no terreno (em mm) 0,2 = erro grfico no mapa (em mm)

    Menor detalhe (p.ex. 1:50.000) Escala cartogrfica menor

    Escala ecolgica e geogrfica maior

    Maior detalhe (p.ex. 1:20.000) Escala cartogrfica maior

    Escala ecolgica e geogrfica menor

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    11

    Tabela 2. Escalas e erros de posicionamento correspondentes. Escala Erro Grfico

    no mapa Erro de posicionamento no mundo

    real (mm) Erro de posicionamento no mundo

    real (m) 1:1.000 0,2mm 200mm 0,2m 1:2.000 0,2mm 400mm 0,4m 1:5.000 0,2mm 1.000mm 1m

    1:10.000 0,2mm 2.000mm 2m 1:20.000 0,2mm 4.000mm 4m 1:25.000 0,2mm 5.000mm 5m 1:40.000 0,2mm 8.000mm 8m 1:50.000 0,2mm 10.000mm 10m

    1:100.000 0,2mm 20.000mm 20m 1:250.000 0,2mm 50.000mm 50m 1:500.000 0,2mm 100.000mm 100m

    1:1.000.000 0,2mm 200.000mm 200m

    O erro grfico representa, na verdade, a componente final de todos os erros acumulados

    durante o processo de construo do mapa (CRUZ et al., 2001). Por exemplo, no processo de

    digitalizao de um mapa, onde as informaes impressas em papel (meio analgico) so

    transferidas para arquivos de computador (meio digital), o erro mdio encontrado de 0,5mm.

    Outro exemplo, o erro intrnseco do mapeamento realizado pelo Projeto RADAM-BRASIL,

    cujo produto final tem escala de 1:1.000.000, devido ao erro de posicionamento fornecido pelo

    uso de imagens de radar que atinge de 3 a 5km. Outras imagens de satlite possuem limitaes

    na escala de representao devido a resoluo espacial dos sensores (Tabela 3). J o GPS, que

    trabalha na escala de 1:1, possui um erro de preciso intrnseco de 20m, sendo sua escala de

    representao recomendada de 1:100.000 ou menor. Para mapear coordenadas coletadas no

    campo na escala maior do que 1:100.000 (p.ex. 1: 20.000), se faz necessrio o uso de aparelhos

    de GPS com correo diferencial (DGPS), cuja preciso chega a ser abaixo de 1m. Usando um

    DGPS, com preciso de menos de 5m, pode-se trabalhar em escala cadastral, ou seja, maior do

    que 1:25.000 (IBGE, 1999).

    Tabela 3. Resoluo espacial e escala de representao recomendada, baseada no erro grfico de alguns tipos de imagens de satlite.

    Satlite Resoluo espacial Erro Grfico Escala de representao recomendada Landsat 30m = 30.000mm 0,2mm 1:150.000 SPOT 10m = 10.000mm 0,2mm 1:50.000 IKONOS 1m = 1.000mm 0,2mm 1:5.000

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    12

    Durante trabalhos cartogrficos, geralmente necessrio unir mapas em escalas

    diferentes afim de compatibiliz-los em um nico produto, tendo-se que reduzir alguns e ampliar

    outros. O ideal trabalhar com a menor escala por causa dos problemas relacionados

    ampliao, onde ocorre um aumento no erro grfico em proporo quadrtica. Quando se amplia

    uma carta, ocorre perda de informao e de preciso cartogrfica, o que no recomendvel

    (Figura 8). Assim, o melhor seria reduzir as cartas com escala maior, compatibilizando a base

    cartogrfica na menor escala, levando em conta a fuso de linhas e demais componentes que as

    redues grandes podem gerar (IBGE, 1999).

    Figura 8. Exemplo de reduo e ampliao para compatibilizar mapas com escalas diferentes.

    A escolha da escala mais adequada para mapear uma rea ou objeto de estudo depender,

    ento, da extenso desta rea ou objeto (IBGE, 1999). Alm disso, a escolha da escala de

    representao do mapa depender da finalidade do mapa e da convenincia da escala,

    considerando as dimenses da rea do terreno que ser mapeado, o tamanho do papel em que o

    mapa ser traado, a orientao da rea, o erro grfico e a preciso do levantamento e/ou das

    informaes a serem plotadas no mapa (CRUZ et al., 2001). Por exemplo, uma bacia

    hidrogrfica de 60.000ha cujo mapeamento ser baseado em uma imagem de satlite Landsat, o

    erro grfico estar associado s limitaes da resoluo espacial da imagem, sendo a escala

    recomendvel 1:150.000 (Tabela 3). Neste mapeamento, o georreferenciamento poder ser feito

    usando como referncia cartas topogrficas 1:50.000 e/ou GPS. J o mapeamento de um

    Escala 1:25.000

    Erro Grfico

    5m

    Escala 1:50.000

    Erro Grfico

    10m

    REDUO EM 2X Erro reduz metade (2,5m)

    Erro 1/4 de 10m = aceitvel

    Escala 1:25.000

    Erro Grfico

    5m

    Escala 1:50.000

    Erro Grfico

    10m Erro 4x de 5m = inaceitvel

    AMPLIAO EM 2X Erro dobra (20m)

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    13

    fragmento florestal de 20ha, cujo menor elemento que dever ser representado so as copas das

    rvores cujo dimetro mnimo de 3m, dever ser representado na escala de 1:15.000. Sendo

    assim, esse mapeamento dever usar como base fotografias areas nessa escala ou maior, mapas

    cadastrais ou uma imagem IKONOS, e o georreferenciamento depender de um DGPS sub-

    mtrico.

    Sistemas de Projeo Cartogrfica

    O globo geogrfico a representao mais semelhante da Terra, principalmente quando a

    reduzimos escalas muito pequenas (p.ex. 1:127.560.000). Mas este tipo de representao possui

    limitaes de tamanho, s atendendo representaes com grandes redues, muitas

    generalizaes e pouca quantidade de informao (PINA & CRUZ, 2000; CRUZ et al., 2001).

    Esta limitao resolvida quando se utiliza uma representao plana da superfcie terrestre, ou

    seja, um mapa ou carta (Figura 9). Para efetuar essa representao necessrio fazer uma

    correspondncia entre pontos da superfcie terrestre e do mapa, tendo cada ponto da superfcie

    terrestre apenas um ponto correspondente na carta ou mapa (CRUZ et al., 2001). Essa

    correspondncia possvel atravs do uso de Sistemas de Projeo Cartogrfica.

    Figura 9. Representaes da Terra o globo terrestre e o mapa (MELHORAMENTOS, 1998).

    Todos os sistemas de projeo apresentam deformaes, j que no possvel achatar

    uma superfcie esfrica em uma superfcie plana sem a deformar. Usando como exemplo uma

    laranja com um corte de 180 (de um plo ao outro) sendo esticada em um plano, qualquer

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    14

    imagem traada sobre a sua superfcie ficar distorcida ou deformada (CRUZ et al., 2001).

    Assumindo a existncia dessas distores nas caractersticas de forma, rea, distncia ou direo,

    importante escolher um tipo de projeo que preserve as caractersticas mais importantes para

    o nosso estudo, e que minimizem as outras distores. Em toda tentativa de se desenvolver uma

    esfera em um plano, a rea com menos distoro se encontra em torno do centro desta projeo,

    ampliando-se as deformaes conforme nos afastamos do mesmo. Diferentemente da esfera,

    existem superfcies que podem se desenvolver em um plano sem qualquer deformao, estas

    superfcies so denominadas superfcies de revoluo, e so ideais para serem usadas como

    superfcies intermedirias, ou auxiliares, na projeo dos elementos do globo em um plano

    (CRUZ et al., 2001). As superfcies de revoluo (em relao ao eixo z) so o cone, o cilindro e

    o plano perpendicular ao eixo z (Figura 10).

    Figura 10. Superfcies de revoluo (cilindro e cone) desenvolvidas em um plano (modificado de IBGE, 1999).

    Os paralelos e os meridianos da superfcie terrestre so representados diferentemente no

    cilindro, cone e plano (Figura 11). Dependendo da regio da Terra a ser representada, uma

    superfcie de revoluo ser mais adequada do que outra. Por exemplo, para representar os plos,

    o cilindro no pode ser usado, j que no existe convergncia meridiana, enquanto o cone mais

    adequado pois os meridianos projetados se cruzam no plo, guardando assim, semelhana com a

    esfera. Para representar a linha do Equador, o cilindro seria mais adequado do que o cone ou o

    plano, porque no cilindro o equador conserva a dimenso original, enquanto no cone e no plano

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    15

    as distores so maiores nessa regio (CRUZ et al., 2001). O plano, ou projeo azimutal, seria

    mais adequado em escalas maiores, onde seria projetada uma pequena regio em qualquer lugar

    na superfcie terrestre, sendo seus limites mais prximos possvel do centro da projeo. Para

    aumentar o contato com a superfcie de referncia e, portanto, reduzir as distores, utiliza-se

    mais de uma superfcie de projeo do mesmo tipo, como o caso da Projeo Policnica

    (IBGE, 1999).

    Projeo cilndrica

    Projeo cnica

    Projeo plana ou azimutal

    Figura 11. Projees geradas sobre superfcies de revoluo (modificado de INPE, 2002).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    16

    Quanto s propriedades geomtricas conservadas, as projees podem ser classific adas

    em equivalentes (em ingls, equal-area), que no deformam reas, assim todas as regies sero

    mostradas em um tamanho relativo correto; conformes (em ingls, conformal), que no

    deformam a forma nem os ngulos de pequenas reas, assim todas as direes ao redor de cada

    ponto sero representadas corretamente e os paralelos e meridianos se interseptaro 90o; e

    eqidistantes (em ingls, equidistant), que no apresentam deformaes lineares, sendo seus

    comprimentos representados em escala uniforme (ROBINSON et al., 1995). Uma projeo ter

    apenas uma dessas caractersticas, j que essas no podem coexistir (BUGAYEVSKIY &

    SNYDER, 1995; PINA & CRUZ, 2000). As projees equivalentes so muito usadas em mapas

    de referncia para instrues e para escalas pequenas, devido a possibilidade de comparar reas

    geogrficas, por exemplo, as projees equivalentes de Albers e de Lambert (ROBINSON et al.,

    1995). Existem quatro projees conformes que so comumente usadas: a de Mercator (Figura

    13A), a Transversa de Mercator (Figura 13B), a cnica conforme de Lambert com dois paralelos

    padro, e a azimutal estereogrfica. Como as projees conformes conservam a equivalncia das

    formas e ngulos, mas no das reas e distncias, no se pode medir reas sobre elas devido s

    distores (ROBINSON et al., 1995). Exemplos de projeo eqidistante so a Cilndrica

    Eqidistante (Figura 12) e a Eqidistante Azimutal, usada para medir movimentos originados de

    um centro, tais como impulsos de rdio ou ondas ssmicas (ROBINSON et al., 1995).

    Figura 12. Projeo Cilndrica Equidistante com o equador como paralelo padro (modificado de ROBINSON et al., 1995).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    17

    Existem diversas projees com suas respectivas caractersticas e distores prprias.

    Nesse elenco de opes, a melhor projeo ser aquela que minimiza e otimiza as distores, e

    que satisfaz da melhor forma possvel, uma srie de requerimentos para projees de acordo com

    o objetivo do mapa que est sendo criado (BUGAYEVSKIY & SNYDER, 1995). Mapas usados

    para analisar, guiar ou registrar movimentos ou relaes angulares necessitam de projees

    conformes, por exemplo, cartas de navegao de marinheiros ou aviadores e mapas topogrficos

    (ROBINSON et al., 1995).

    Na preparao de dados digitais para sistemas de informao geogrfica, comum a

    necessidade de efetuar transformaes geomtricas entre mapas em projees distintas, para

    permitir sua compatibilizao em um mesmo projeto, adotando-se um sistema de projeo nico

    (PINA & CRUZ, 2000). Conhecendo-se as propriedades de cada projeo, possvel transformar

    a projeo de uma para outra, mantendo a acurcia (ROBINSON et al., 1995).

    No Brasil, as projees utilizadas para o mapeamento sistemtico so: Cilndrica

    Transversa de Mercator Secante (utilizada no Sistema UTM) para cartas topogrficas nas escalas

    de 1:25.000 a 1:250.000; Conforme de Lambert para escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000;

    Policnica (Meridiano Central = -54o) para a escala de 1:5.000.000; e Cilndrica Transversa de

    Mercator Tangente para cartas nuticas (IBGE, 1999; PINA & CRUZ, 2000). A projeo

    Policnica usada em mapas da srie Brasil, regionais, estaduais e temticos (IBGE, 1999) e da

    Amrica do Sul. A projeo cnica conforme de Lambert com dois paralelos padro foi adotada

    para a Carta Internacional do Mundo ao Milionsimo, a partir de 1962. Para obter mais detalhes

    sobre as propriedades das projees cartogrficas veja PEARSON II (1990) e BUGAYEVSKIY

    & SNYDER (1995).

    O Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM)

    A conhecida projeo UTM, na verdade, no uma projeo, mas sim um sistema de

    grade, usando o sistema de coordenadas planas, onde o metro a unidade bsica de medida

    (ROBINSON et al., 1995). Esse sistema de grade se baseia na Projeo Transversa de Mercator

    Conforme de Gauss (Figura 13B), onde o cilindro se encontra em posio transversa (PINA &

    CRUZ, 2000).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    18

    No sistema UTM, o mundo dividido em 60 fusos, onde:

    1. Cada um se estende por 6o de longitude, numerados a partir do antimeridiano de Greenwich

    (180o), seguindo de oeste para leste;

    2. Cada fuso possui um meridiano central (MC) que o divide ao meio;

    3. A contagem de coordenadas idntica em cada fuso e tem sua origem a partir do

    cruzamento entre a linha do Equador e o meridiano central do fuso; e,

    4. A extenso em latitude vai de 80o Sul at 84o Norte, ou seja, at as calotas polares (Figura

    14) (PINA & CRUZ, 2000).

    O Brasil dividido em 8 fusos do Sistema UTM, sendo que o Estado do Rio de Janeiro

    ocupa os fusos 23 e 24 (Tabela 4, Figura 15). Vale notar que o sistema UTM, j que se baseia em

    uma projeo conforme, altera reas, distncias e direes, porm, o posicionamento da grade

    coordenada relativa ao mapa resulta em uma acurcia geral do sistema UTM de uma parte em

    2.500. Assim, pode-se calcular distncias e direes entre dois pontos na faixa UTM com uma

    acurcia de 1cm em 2.500cm, ou 2,5m (ROBINSON et al., 1995). J as distores em relao a

    reas no ultrapassam 0,5% (INPE, 2002).

    A)

    B)

    Figura 13. A) Projeo de Mercator e B) Projeo Transversa de Mercator conforme de Gauss, na qual o Sistema UTM se baseia (modificado de INPE, 2002).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    19

    Figura 14. Fuso do Sistema UTM.

    Tabela 4. Fusos do Sistema UTM que ocorrem no territrio brasileiro (PINA & CRUZ, 2000).

    Fusos Meridiano Central (MC) Limites do Fuso

    18 75oW 78oW - 72oW 19 69oW 72oW - 66oW 20 63oW 66oW - 60oW 21 57oW 60oW - 54oW 22 51oW 54oW - 48oW 23 45oW 48oW - 42oW 24 39oW 42oW - 36oW 25 33oW 36oW - 30oW

    importante notar que as mesmas coordenadas se repetem em todos os fusos, sendo

    fundamental conhecer a numerao do fuso ou a coordenada do Meridiano Central, j que esses

    parmetros distinguem os fusos e possibilitam sua transformao para coordenadas geogrficas

    (PINA & CRUZ, 2000). Para evitar coordenadas negativas, so acrescidas as constantes

    10.000.000m para o Equador no hemisfrio sul e 500.000m para o meridiano central de cada

    fuso (Figura 14). Para o Brasil, quase totalmente inserido no hemisfrio sul, considera-se as

    coordenadas acima do equador, crescendo seqencialmente a partir dos 10.000.000m, no se

    considerando o equador como 0m (PINA & CRUZ, 2000). A simbologia adotada para as

    coordenadas UTM N para as coordenadas Norte-Sul e E para as coordenadas Leste-Oeste.

    Assim, um ponto qualquer P, ser definido no sistema UTM pelo par de coordenadas E e N,

    correspondendo aos eixos X e Y das coordenadas planas (PINA & CRUZ, 2000). No sistema

    Limite de

    Fuso

    Limite de

    Fuso 3o 3o

    0m Equador

    10.000.000m E

    Quadrante 2 E < 500km N > 0km

    Quadrante 1 E > 500km N > 0km

    Quadrante 3 E < 500km

    N < 10.000km

    Quadrante 4 E > 500km

    N < 10.000km

    Meridiano Central

    500.000m N

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    20

    UTM, quanto mais afastada uma coordenada estiver do Meridiano Central, maior ser a

    deformao em escala e maior ser o erro de posicionamento deste ponto na superfcie terrestre.

    Caso a rea de estudo esteja prxima do limite do fuso, permitido o prolongamento de at 30'

    sobre os fusos adjacentes, criando assim uma regio de superposio de 1o de largura (IBGE,

    1999).

    Representao cartogrfica: lendo cartas topogrficas

    Mapas, cartas ou plantas

    Podemos chamar de mapa qualquer representao cartogrfica em uma superfcie plana e

    numa determinada escala, com a representao de acidentes fsicos e culturais da superfcie da

    Terra, ou de um planeta ou satlite. Carta a representao cartogrfica subdividida em folhas,

    de forma sistemtica, obedecendo um plano nacional ou internacional (Figura 15). Planta

    representa uma rea de extenso suficientemente restrita para que a sua curvatura no precise ser

    levada em considerao, assim as escalas destes documentos tendem a ser muito grandes, ou

    seja, com bastante detalhe. Seu uso bastante comum em arquitetura e na engenharia civil

    (CRUZ et al., 2001).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    21

    Figura 15. Distribuio das folhas da Carta do Brasil ao Milionsimo (INPE, 2002).

    As cartas topogrficas, cuja escala varia de 1:25.000 a 1:250.000, se caracterizam por

    possurem informaes planimtricas, altimtricas, hidrogrficas e de vegetao (Figura 16). As

    informaes planimtricas correspondem, principalmente, ao sistema virio (rodovias, ferrovias,

    caminhos,...); aos limites e fronteiras (municipal, estadual,...); s localidades (reas urbanas,

    cidades,...); s obras e edificaes e a pontos de controle. As informaes altimtricas, tambm

    conhecidas como hipsografia, compreendem as diferentes formas de representao do relevo

    (curvas de nvel e pontos cotados). As informaes hidrogrficas correspondem aos rios

    (permanentes, temporrios,...) e canais; aos lagos e lagoas; s reas inundadas e linha de costa.

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    22

    As informaes de vegetao correspondem as reas cobertas por mangues, mata, culturas,

    pasto, etc (CRUZ et al., 2001).

    Figura 16. Carta topogrfica.

    Toda carta topogrfica possui uma referncia, que consiste de trs nortes (norte da

    quadrcula, norte geogrfico ou verdadeiro, e o norte magntico), informando a orientao do

    sistema de coordenadas (CRUZ et al., 2001). A direo das linhas de coordenadas paralelas ao

    meridiano central, ou seja, as linhas verticais de um mapa so o norte da quadrcula. O norte

    geogrfico ou verdadeiro dado pela direo da convergncia de todos os meridianos, apontando

    para o Plo Norte. O norte magntico a direo determinada pela agulha magntica, livre de

    influncia de massas metlicas, baseada na orientao do campo magntico da Terra. Os mapas

    indicam a diferena entre o norte verdadeiro e magntico atravs de um valor denominado

    declinao magntica (Figura 17). Esse valor varia conforme o local da Terra em que se est, e

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    23

    no tempo (as cartas topogrficas apresentam a variao anual em minutos). O norte da quadrcula

    geralmente coincide com o norte geogrfico. Quando se utiliza um mapa e uma bssola para

    localizao, necessrio fazer a converso entre o ponto de apoio adquirido atravs da bssola

    (magntico) e o ponto correspondente no mapa (quadrcula), usando a declinao magntica

    (BROWN & HUNTER, 1975).

    Figura 17. Legenda de uma carta topogrfica mostrando os nortes magntico (NM), da quadrcula (NQ) e geogrfico (NG), e a declinao magntica.

    Onde adquirir a base cartogrfica?

    No Brasil, os rgos ou instituies governamentais responsveis pela produo de dados

    cartogrficos so (RIPSA, 2000):

    Fundao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica): responsvel pelo mapeamento sistemtico de todo o territrio nacional em escalas pequenas (1:25.000 e menores);

    DSG (Diretoria de Servio Geogrfico do Exrcito): divide com o IBGE a responsabilidade pelo mapeamento sistemtico;

    DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegao da Marinha): responsvel pela gerao de cartas nuticas;

    ICA (Instituto de Cartografia de Aeronutica): responsvel pela gerao de cartas aeronuticas;

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    24

    INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): responsvel pela aquisio e distribuio de imagens de satlite Landsat e CBERS;

    Prefeituras: responsveis pelo levantamento cadastral dos municpios (escalas maiores que 1:25.000).

    O mapeamento sistemtico no Brasil, feito principalmente pelo IBGE, no cobre

    todo o territrio nacional e so, em sua maioria, da dcada de 60 e 70 (Tabela 5). Existe

    um esforo para atualizar as cartas topogrficas existentes usando imagens de satlite como

    base, mas os recursos so escassos. O Projeto SIVAM, por exemplo, visa levantar, tratar e

    integrar as informaes obtidas por cada rgo governamental (p.ex. IBGE, IBAMA,

    INPE) que trabalha na Amaznia Legal, com o propsito de vigiar, controlar e fiscalizar as

    fronteiras e a regio amaznica em diversas escalas.

    Tabela 5. Objetivos e proporo de cobertura no territrio nacional das cartas topogrficas produzidas no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

    ESCALA OBJETIVO COBERTURA NACIONAL

    1:25.000 Planejamento socioeconmico e base para anteprojetos de engenharia, principalmente em reas das regies metropolitanas

    1,01%

    1:50.000 Planejamento socioeconmico e base para anteprojetos de engenharia, principalmente em zonas densamente povoadas

    13,9%

    1:100.000 Representao de reas com notvel ocupao, priorizadas para os investimentos governamentais

    75,39%

    1:250.000 Subsidiar o planejamento regional e elaborao de estudos e projetos que envolvam ou modifiquem o meio ambiente

    80,72%

    Fonte: IBGE (1999).

    Como construir ou atualizar a base cartogrfica?

    Quando a base cartogrfica disponvel no suficiente ou inexistente necessrio

    constru-la ou atualiz-la. A aquisio de dados para a base cartogrfica atualmente feita

    principalmente por meio digital para serem utilizadas em sistemas de informaes

    geogrficas. As metodologias empregadas para a aquisio de dados digitais so o

    levantamento de campo (atravs de mtodos tradicionais de topografia e do uso de

    aparelhos GPS), sensoriamento remoto (imagens de satlite ou fotografias areas),

    digitalizao de dados (atravs de teclado, mesa digitalizadora ou scanner) (RIPSA, 2000).

    A CDTECA do INPE distribui imagens Landsat gratuitamente (http://www.dpi.inpe.br/cdteca/) http://www.sivam.gov.br/INDEX.HTM

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    25

    Sensoriamento remoto e fotografias areas

    Imagens de sensoriamento remoto vem servindo de fontes de dados para estudos e

    levantamentos geolgicos, ambientais, agrcolas, cartogrficos, florestais, urbanos,

    oceanogrficos, entre outros. Acima de tudo, as imagens de sensoriamento remoto passaram a

    representar uma das nicas formas viveis de monitoramento ambiental em escalas locais e

    globais, devido rapidez, eficincia, periodicidade e viso sinptica que as caracterizam. Neste

    momento em que a humanidade comea a encarar seriamente a necessidade de monitorar as

    mudanas globais que vem ocorrendo na superfcie do planeta, o sensoriamento remoto aparece

    como uma das ferramentas estratgicas para o futuro (CRSTA, 1992).

    Definio de Sensoriamento Remoto O campo do sensoriamento remoto vem sendo definido de vrias formas, mas o conceito

    central o da tecnologia que permite a aquisio de informaes distncia.

    Sensoriamento remoto a cincia e a arte de obter informao de um objeto, rea ou fenmeno atravs da anlise de dados adquiridos por um equipamento que no est em

    contato com o objeto, rea ou fenmeno sob investigao. (LILLESAND, 1994)

    Esta definio , no entanto, muito ampla, necessitando ser refinada. Quando se

    especifica o tipo de energia utilizada na transferncia de informao do objeto ao sensor para

    energia ou radiao eletromagntica, o sensoriamento remoto fica restrito, principalmente s

    imagens de satlite, s fotografias areas e aos radimetros.

    Sensoriamento remoto a utilizao conjunta de modernos sensores, equipamentos para

    processamento de dados, equipamentos de transmisso de dados, aeronaves, espaonaves, etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre atravs do registro e da anlise das

    interaes entre a radiao eletromagntica e as substncias componentes do planeta Terra em suas mais diversas manifestaes. (NOVO, 1992)

    Sensoriamento remoto a prtica de derivar informao sobre a superfcie terrestre usando imagens adquiridas de uma perspectiva area, usando radiao eletromagntica em uma ou

    mais regies do espectro eletromagntico, refletida ou emitida da superfcie terrestre. (CAMPBELL, 1996)

    que aparece, juntamente e de uma nica vez, vista; resumido, sinttico (MELHORAMENTOS, 2000).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    26

    O sensoriamento remoto fundamenta-se na interao entre a radiao incidente e os alvos

    de interesse, envolvendo sete elementos (CCRS, 1998):

    1. Fonte de Energia ou Iluminao (A): o primeiro requisito para o sensoriamento remoto possuir uma fonte de energia que ilumina ou fornece energia eletromagntica para o alvo de interesse.

    2. Radiao e a Atmosfera (B): como a energia viaja de sua fonte ao alvo, esta entrar em contato e ir interagir com a atmosfera pela qual passar. Esta interao pode ocorrer novamente quando a energia viajar do alvo at o sensor.

    3. Interao com o Alvo (C): atravessando a atmosfera, a energia interage com o alvo. O resultado desta interao depender das propriedades do alvo e da radiao.

    4. Registro da Energia pelo Sensor (D): depois da energia ter sido refletida pelo alvo, necessrio um sensor (remoto, ou seja, sem contato com o alvo) para coletar e registrar a radiao eletromagntica.

    5. Transmisso, Recepo, e Processamento (E): a energia registrada pelo sensor deve ser transmitida, freqentemente eletronicamente, para a estao receptora onde os dados sero processados em imagem (analgico ou digital).

    6. Interpretao e Anlise (F): a imagem processada interpretada, visualmente e/ou digitalmente, para extrair informaes sobre o alvo que foi iluminado.

    7. Aplicao (G): o elemento final do sensoriamento remoto alcanado quando informaes sobre o alvo so extradas da imagem para melhor compreend-lo, revelando algumas informaes novas, ou auxiliando na soluo de um determinado problema.

    Fonte: CCSR, 1998

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    27

    Sensoriamento Remoto como sistema de aquisio de informaes

    O processo pelo qual o registro da interao entre a radiao eletromagntica e os objetos,

    reas ou fenmenos ocorridos na superfcie terrestre so transformados em informao e

    interpretados longo. Esse processo dividido por NOVO (1992) em dois sistemas: Sistema de

    Aquisio de Dados e Sistema de Anlise de Dados.

    Segundo NOVO (1992), para que o sistema de aquisio de dados funcione necessrio

    preencher as seguintes condies: existncia de fonte de radiao, propagao de radiao pela

    atmosfera, incidncia da radiao sobre a superfcie terrestre, ocorrncia de interaes entre a

    radiao e os objetos da superfcie, produo de radiao que retorna ao sensor aps propagar-se

    pela atmosfera. Sendo assim, a aquisio de dados depende da interao energia-matria. No

    sensoriamento essa interao se d entre a energia eletromagntica e os objetos da superfcie

    terrestre. O sol a principal fonte de energia eletromagntica disponvel para o sensoriamento

    remoto da superfcie terrestre. Essa energia emitida pelo sol, incidente (I) sobre a superfcie

    terrestre, parte absorvida (A), parte transmitida (T) e parte refletida (R) pelo objeto ou alvo

    (Figura 18). Alm disso, antes dela atingir o objeto, parte dessa energia dispersa ou absorvida

    por partculas e gases da atmosfera. O sensor, ento, captura a energia refletida e emitida

    reflectncia por estes objetos. As formas de interao entre a radiao e os componentes da

    superfcie terrestre variam ao longo do espectro eletromagntico (Figura 19). A resposta de um

    sensor depende no s da quantidade de luz, como tambm da freqncia da luz. comum,

    portanto, descrever a caracterstica de um sensor atravs de uma curva de resposta espectral que

    fornece a intensidade da resposta para cada freqncia ou comprimento de onda. O espectro

    eletromagntico dividido em faixas denominadas regies ou bandas espectrais, desde os raios

    gama at as ondas de rdio (Figura 19).

    Figura 18. As trs formas de interao entre a energia eletromagntica e o alvo (CCRS, 1998).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    28

    Figura 19. Faixas do espectro eletromagntico dos raios gama at as ondas de rdio, passando pela faixa do visvel entre 0,4 e 0,7mm (Violeta: 0,4-0,446mm; Azul: 0,446-0,500mm; Verde: 0,500-0,578mm; Amarelo: 0,578-0,592mm; Laranja: 0,592-0,620mm e Vermelho: 0,620-0,7mm) e pela faixa do infravermelho entre 0,7 e 3mm (MSSL, 2000).

    O sistema de aquisio de dados pode ser digital, sendo composto por elementos de cena

    discretos, chamados pixels, ou contnuos, chamados vetores. A imagem constituda por vetores

    chamada imagem vetorial. A imagem produzida por pixels imagem matricial ou raster pode

    ser representada por uma matriz onde o cruzamento das linhas e das colunas definem as

    coordenadas espaciais de cada pixel (Figura 20). No sensoriamento remoto, quando a energia

    eletromagntica proveniente do alvo chega ao sensor, ela transformada em sinal. Esse sinal

    dividido em nveis discretos de intensidade (conhecidos como DN, digital numbers, ou BV,

    brightness values, ou ainda, NC, nveis de cinza) traduzindo a resoluo radiomtrica do sensor.

    Dessa forma, cada pixel receber um valor de nvel de cinza (Figura 21).

    Raios Gama

    Raios-X

    Ultravioleta

    Visvel

    Infravermelho

    Micro-ondas

    Ondas de Rdio

    Comprimento de onda (em metros)

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    29

    Figura 20. Representao de um mapa base nos formatos vetorial e matricial. Adaptado de TURNER et al. (2001).

    Figura 21. Representao matricial em uma imagem de satlite, onde cada pixel possui um valor de nvel de cinza (CCSR, 1998).

    MAPA BASE

    VETOR MATRIZ

    Campo

    Floresta Lago

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    30

    Resoluo, em um sentido geral, refere-se habilidade do sensor registrar e exibir

    detalhes finos (CAMPBELL, 1996). A resoluo radiomtrica o nmero de nveis discretos de

    intensidade de energia eletromagntica que o sensor capaz de capturar. Quanto maior o nmero

    de nveis de intensidade, ou nveis de cinza, maior e mais fina ser a resoluo radiomtrica

    (Figura 22). Outros trs tipos de resoluo so utilizados no sensoriamento remoto: a resoluo

    espectral, a espacial e a temporal. A resoluo espectral o nmero de intervalos de

    comprimentos de onda (faixas ou bandas) definidos pelo sensor. Quanto mais estreitos so os

    intervalos de comprimento de onda e maior for o nmero de bandas, mais fina e maior ser a

    resoluo espectral (Figura 23). A resoluo espacial a capacidade de identificar objetos na

    superfcie abrangida pelo pixel. Quanto menor a rea coberta pelo pixel, maior ser a resoluo

    espacial (Figura 24). A resoluo temporal dada pela freqncia de aquisio de dados pelo

    sensor. Quanto maior a freqncia, maior ser a resoluo temporal (Figura 25).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    31

    Figura 22. Resoluo radiomtrica usando como exemplo uma imagem do Maracan (RJ) tomada pelo satlite IKONOS: A) menor resoluo (2 bits ou 4 nveis de cinza), B) maior resoluo (11 bits ou 2048 nveis de cinza), C) detalhe da imagem com menor resoluo, D) detalhe da imagem com maior resoluo (Fonte: SPACEIMAGING, 2002).

    A B

    C D

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    32

    Figura 23. Resoluo espectral comparando o filme preto e branco com menor resoluo e o filme colorido com maior resoluo espectral (modificado de CCRS, 1998).

    Imagem CBERS/WFI 09/04/2000

    Resoluo 260m

    Imagem Landsat 7 ETM+ 05/08/1999

    Resoluo 30m

    Imagem IKONOS 20/08/2000

    Resoluo 4m Figura 24. Resoluo espacial comparando imagens de menor (CBERS/WFI) a maior resoluo (IKONOS). Fonte: INTERSAT (2002).

    Filme Preto e Branco Azul+Verde+Vermelho

    0,4mm 0,7mm

    Filme Colorido Azul Verde Vermelho

    0,4mm 0,5 0,6 0,7mm

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    33

    Figura 25. A resoluo temporal calculada pelo tempo que o satlite leva para completar o ciclo orbital (CCRS, 1998).

    Sistemas sensores e sistemas orbitais

    Existem diversos sistemas de aquisio de dados, tais como cmaras fotogrficas

    aerotransportadas, satlites, sistemas de radar, sonares de microondas, etc. Os sistemas podem

    ser ativos, independendo da energia emitida pelo sol, como o caso dos sistemas de microondas

    que registram a diferena de freqncia entre o sinal emitido por eles e o sinal recebido da

    superfcie (p.ex. radares); ou passivos, como o caso das cmaras fotogrficas que registram a

    reflectncia de uma superfcie produzida pela emisso da energia eletromagntica oriunda do sol

    (CMARA et al., 1996).

    Os radares transmitem os sinais de microondas e recebem sua reflexo como base para

    formar imagens da superfcie terrestre (Figura 26). Os sinais de radar so capazes de penetrar

    alm da cobertura vegetal e da superfcie do solo. A rugosidade e a geometria superficiais so os

    parmetros mais importantes para analisar imagens de radar sendo estas utilizadas

    principalmente para anlises geomorfolgicas (FRANCISCO, 1999). Usando como exemplo

    uma imagem de radar da regio Amaznica prxima aos Andes pode-se destacar elementos do

    relevo e da drenagem da rea (Figura 27).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    34

    Figura 26. Resultados da imagem de radar para diferentes superfcies no terreno (modificado de CCRS, 1998).

    Figura 27. Imagem de radar JERS1-SAR de uma regio da Amaznia Andina (NASA, 2001b).

    Superfcie

    Superfcie Lisa

    Floresta Plantao Montanhas Superfcie Rugosa

    Cidade

    Imagem de Radar

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    35

    Sensores passivos detectam a radiao solar refletida ou a radiao emitida pelo objeto da

    superfcie terrestre, dependendo assim, de uma fonte de radiao externa. Esses sensores podem

    ser fotogrficos ou de varredura (scanning systems). Os sensores fotogrficos so as cmaras

    fotogrficas cuja operao consiste em focalizar e capturar instantaneamente (framing) a energia

    proveniente da superfcie sobre um filme foto-sensvel (Figura 28A). Esses sensores utilizam,

    principalmente, as faixa do visvel, podendo captar emisses da faixa do ultravioleta prximo a

    do infravermelho distante (LILLESAND & KIEFER, 1994; MOREIRA, 2001; SPRING, 2002).

    J os sensores imageadores (ou de varredura eletro-ptica) transmitem seus dados distncia e

    as imagens produzidas so formadas pela aquisio seqencial dos pixels (Figura 28B). Alm

    disso esses sensores utilizam uma faixa maior do espectro eletromagntico, tendo uma maior

    resoluo espectral. Comparando-se as vantagens e desvantagens das fotografias areas sobre as

    imagens produzidas por sensores de varredura pode-se dizer que apesar de apresentar condies

    mais fceis de operao, devido as suas caractersticas geomtricas bem definidas, e baixos

    custos para escalas cartogrficas maiores, as fotografias areas limitam-se as horas de sobrevo e

    devido a fenmenos atmosfricos no permitem frequentemente observar o solo a grandes

    altitudes (SPRING, 2002).

    A)

    Figura 28. Esquema apresentando o funcionamento de sensores passivos fotogrfico (A) e de varredura (B) (modificado de NASA, 2001a).

    Satlite

    Sensor

    Varredura

    Cena

    B)

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    36

    As fotografias areas e alguns sensores de varredura permitem a estereoscopia. Durante o

    aerolevantamento, sucessivas fotografias so tomadas de forma que tenha sobreposio de 50 a

    60% entre elas (Figura 29). Essa sobreposio permite que duas fotos subseqentes

    (estereopares) forneam duas perspectivas diferentes de uma rea. Quando essas imagens so

    visualizadas atravs de um estereoscpio, cada olho observa um ponto a partir do qual aquela

    imagem do estereopar foi tomada no vo (Figura 30). O resultado a percepo da imagem em

    trs dimenses (LILLESAND & KIEFER, 1994). Fotografias areas podem servir de base para

    mapeamentos e para localizao de reas de estudo (Figura 31).

    Figura 29. Esquema de plano de vo mostrando as sobreposies entre as fotografias, que possibilitam a estereoscopia (ROBINSON et al., 1995).

    60% de sobreposio

    Linha de vo

    Sobreposio lateral de 30%

    de vo

    Sobreposio lateral

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    37

    Figura 30. Tipos de estereoscpios: A) estereoscpio de bolso (Abrams CB-1 Pocket Stereoscope), B) esterescpio de espelho (TOPCON Mirror Stereoscope, C) microscpio 3D (SRM20 Stereo Dissecting Microscope).

    R Figura 31. Fotografia area (1:20.000, feita em Janeiro de 1996) do Garrafo (G=Guapimirim, R=Rio Soberbo, P=Posto de gasolina Garrafo, C=Grade C, S=Buraco da Sunta/Alan, B=Grade B, L=Laboratrio/Alojamento, A=Grade A, I=Rio Iconha, T=Terespolis, X=Paraso das Plantas).

    A B C

    FOCUS SCIENTIFIC, 2002BEN MEADOWS, 2002 BEN MEADOWS, 2002

    Centro de Informaes e Dados do Rio de Janeiro (CIDE), Palcio Guanabara, Prdio Anexo

    I

    X A

    T

    B S

    C

    L

    P

    G

    R

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    38

    Sensores bordo de satlites permitem a realizao de medidas consistentes

    multitemporais relativas a grandes reas, durante perodos de tempo que chegam a dcadas.

    Muitos sensores so transportados em satlites em rbitas prximas dos plos e sincronizadas

    com o sol, para cruzar sempre o Equador na mesma hora solar atingindo uma cobertura global e

    uma geometria de iluminao consistentes. Este o caso dos satlites das sries Landsat e SPOT

    e do NOAA/AVHRR. O intervalo de repetio varia entre esses satlites dependendo de sua

    altitude e velocidade. Outros sensores so transportados em satlites orbitais geoestacionrios a

    fim de proverem uma grande freqncia de cobertura de uma mesma regio. Este o caso dos

    satlites meteorolgicos da srie GOES (CMARA et al., 1996).

    Dentre os principais satlites em operao atualmente destacam-se os satlites

    meteorolgicos GOES Geostationary operational environmental satellite, operado pelo

    National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, EUA) e METEOSAT

    Meteorological Satellite, operado pela European Space Agency (ESA) ; os satlites de

    aplicao hbrida como o caso do NOAA (EUA); e os satlites de recursos naturais como a

    srie Landsat operado pela NASA, sendo as imagens comercializadas pela United States

    Geological Survey (USGS, EUA) , a srie SPOT Systeme Probatoire d Observation de la

    Terre, operado pela empresa privada SPOT Image (Frana) , o CBERS (Chinese Brazilian

    Earth Resources Satellite, Brasil e China), o IRS (Indian Remote Sensing, desenvolvido pela

    Indian Space Research Organization, ndia), o JERS (Japanese Earth Resources Satellite,

    Japo), o ERS (European Remote Sensing Satellite, administrado pela European Space Agency,

    Unio Europia), o RADARSAT (lanado pela Agncia Espacial Canadense e operado pela

    empresa privada RADARSAT International Inc.), o IKONOS (lanado pelos EUA) (ROCHA,

    2000) e o QuickBird (lanado e operado pela empresa norte-americana Digital Globe)

    (DIGITAL GLOBE, 2002). A Tabela 6 apresenta as caractersticas dos principais satlites em

    operao atualmente.

  • Tabela 6. Caractersticas dos principais sistemas orbitais (baseado em CRSTA, 1997; ROCHA, 2000; INTERSAT, 2002).

    Resoluo Satlite (Origem) Altitude Sensor

    Espectral (mm) Espacial Radiomtrica Temporal Largura da faixa Site (WWW)

    NOAA 15 (EUA) 870km AVHRR

    0,58-0,68 0,78-1,10 3,55-3,93

    10,30-11,30 11,50-12,50

    1,1km 10 bits

    1024 NC 6 horas 2.700km http://www.noaa.gov/

    GOES 11 (EUA)

    35.000km VAIN

    0,65 3,90 6,70

    11,00 12,00

    1km 13,8km

    8 bits 256 NC

    15 minutos At 1/3 da superfcie terrestre

    http://www.noaa.gov/

    0,45-0,52 0,53-0,61 0,63-0,69 0,75-0,90 1,55-1,75

    30m

    10,4-12,5 60m

    ETM+

    2,09-2,35 30m

    LANDSAT 7 (EUA)

    705km

    PAN 0,52-0,90 15m

    8 bits 256 NC

    16 dias 185 km http://geo.arc.nasa.gov/sge/landsat/lands

    at.html

    39

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    40

    Tabela 6. Caractersticas dos principais sistemas orbitais (baseado em CRSTA, 1997; ROCHA, 2000; INTERSAT, 2002) (continuao 1).

    Resoluo Satlite (Origem) Altitude Sensor

    Espectral (mm) Espacial Radiomtrica Temporal Largura da

    faixa Site (WWW)

    0,50-0,59 20m

    0,61-0,68 10 e 20m

    0,79-0,89 HRV-IR

    1,58-1,75 20m

    10 bits 1024 NC

    PAN 0,51-0,73 10m 6 bits 64 NC

    60km

    VEGETATION 0,61-0,68 0,78-0,89 1,58-1,75

    1,16km 2.250km

    SPOT 4 (Frana)

    832km

    HRV-IR 0,43-0,47 (oceanografia)

    20m

    10 bits 1024 NC

    26 dias ou at 2 dias

    60km

    http://www.spot.com/

    CCD

    0,45-0,52

    0,52-0,59

    0,63-0,69

    0,77-0,89

    PAN 0,51-0,73

    20m 26 dias ou at

    3 dias

    1,55-1,75

    2,08-2,35

    0,50-1,01

    80m IR-MSS

    10,4-12,5 160m

    26 dias

    120km

    CBERS 1 (Brasil e China)

    778km

    WFI 0,63-0,69

    0,76-0,90 260m

    8 bits 256 NC

    3 dias 900km

    http://www.cbers.inpe.br/

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    41

    Tabela 6. Caractersticas dos principais sistemas orbitais (baseado em CRSTA, 1997; ROCHA, 2000; INTERSAT, 2002) (continuao 2). Resoluo

    Satlite (Origem) Altitude Sensor Espectral Espacial Radiomtrica Temporal

    Largura da faixa Site (WWW)

    MSS

    0,45-0,52mm

    0,52-0,60mm 0,63-0,69mm 0,76-0,90mm

    4m 1,5 dias

    IKONOS II (EUA)

    680km

    PAN 0,45-0,90mm 1m

    11 bits

    2048 NC

    3 dias

    13km http://www.spaceima

    ging.com/

    Multispectral

    0,45-0,52mm 0,52-0,60mm 0,63-0,69mm

    0,76-0,90mm

    2,44 m QUICKBIRD II (EUA)

    450km

    PAN 0,45-0,90mm 0,61m

    11 bits

    2048 NC 1 a 3,5 dias 16,5km

    http://www.digitalglobe.com/

    JERS-1 (Japo) - radar

    568km SAR

    (Polarizao HH) Banda L (23,5cm) 18m

    8 bits

    256 NC 44 dias 75km

    http://www.nasda.go.jp/projects/sat/jers1/in

    dex_e.html

  • Devido a suas caractersticas e aplicaes especficas cada grupo de satlites possui

    sensores que permitem a extrao de diferentes informaes. Em geral, cada sensor cobre

    um determinado nmero de faixas ou bandas espectrais que devido ao intervalo espectral

    representado por elas tero aplicaes distintas (Figura 32). As aplicaes de cada banda

    esto relacionadas ao comportamento espectral dos alvos naquele intervalo espectral. No

    Brasil, os sistemas mais utilizados so Landsat e NOAA para estudos ambientais e GOES

    para estudos climticos e metereolgicos.

    Figura 32. Imagens adquiridas pelas sete bandas do Landsat-TM mostrando as diferenas na distino dos alvos e em suas potenciais aplicaes (modificado de NASA, 2001a).

    Comportamento Espectral de Alvos

    Uma premissa fundamental em sensoriamento remoto que se pode identificar

    objetos localizados na superfcie terrestre estudando a radiao refletida e/ou emitida por

    estes objetos. Atravs dos sensores, a reflectncia dos objetos pode ser quantificada e

    representada atravs de faixas de comprimento de onda. O conjunto de tais observaes

    constitui o padro de resposta espectral do objeto, ou assinatura espectral do alvo (Figura

    33). O conhecimento detalhado do padro de resposta espectral de determinado alvo

    permite a identificao deste, possibilitando, por exemplo, separar tipos de plantaes, de

    florestas ou de solos.

    42

    Visvel Azul

    Visvel Verde

    Visvel Vermelho

    Infra-vermelho Prximo

    Infravermelho Mdio

    Infravermelho Termal

    Miami, Flrida - 15 de Maro de 1988

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    43

    Figura 33. Assinaturas espectrais de diferentes alvos: gua, neve, nuvem, asfalto, areia, vegetao e solo. Abaixo, as faixas espectrais correspondentes do sensor TM do Landsat so mostradas (modificado de NOVO, 1992).

    Interpretao de Imagens

    A diferena entre o comportamento espectral de objetos distintos possibilita

    distingir entre e identificar as composies dos diferentes alvos na imagem (CRSTA,

    1992). Com o processamento digital das imagens de sensoriamento remoto possvel obter

    como resultado um mapa temtico da rea imageada. O processamento consiste na

    execuo das seguintes etapas: georreferenciamento, realce (brilho, contraste e saturao),

    composio colorida e classificao (CRSTA, 1992). A classificao a associao dos

    6 IVT 7

    IVM 5

    IVM 4

    IVP 3 V

    2V

    1V

    Bandas Landsat TM

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    44

    pixels da imagem a um "rtulo" descrevendo um objeto real (vegetao, solo, gua, etc.).

    Essa "rotulao" possibilita a confeco de mapas temticos partir da imagem digital.

    Pode-se dizer, ento, que uma imagem de sensoriamento remoto classificada uma forma

    de mapa digital temtico (CRSTA, 1992). A produo de cartas-imagem e mapas

    temticos partir de imagens provenientes de sensores remotos , atualmente, um trabalho

    usual (Figura 34).

    Figura 34. Carta-imagem e Mapa Temtico do Entorno do Parque Nacional de Jurubatiba (RJ).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    45

    O uso do GPS na biogeografia

    O Sistema de Posicionamento Global (GPS) um sistema cada vez mais utilizado

    na biologia para coletar pontos de ocorrncia de espcies (localidades) ou posicionar na

    superfcie terrestre as reas de estudo. O NAVSTAR-GPS um sistema de posicionamento

    contnuo e determinao de velocidade, baseado em satlites e operado pelo Departamento

    de Defesa dos Estados Unidos. O sistema define a posio de um ponto sobre a superfcie

    terrestre a partir de satlites com rbitas conhecidas (Figura 35) (RIPSA, 2000).

    Atualmente, o sistema norte-americano (NAVSTAR-GPS) monopoliza o Sistema de

    Posicionamento Global, no entanto a Unio Europia vem desenvolvendo um projeto para

    lanar no mercado, em 2008, um sistema de localizao global mais avanado do que o

    atual, chamado GALILEO (ESA/EC, 2003a). Existe um sistema similar ao GPS que foi

    criado pela antiga Unio Sovitica, chamado GLONASS, que ainda se encontra em uso,

    mas devido a falta de manuteno e investimentos, est obsoleto (FONTANA, 2002).

    Figura 35. Posio dos satlites GPS na rbita terrestre (GARMIN, 2000).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    46

    O sistema funciona da seguinte forma: os satlites na constelao so ajustados com

    um relgio atmico que mede o tempo muito acuradamente. Esses satlites emitem sinais

    personalizados indicando o tempo exato em que o sinal deixa o satlite e a posio

    (efemrides) deste. Ento, o receptor no solo, que um aparelho GPS de mo ou que pode

    estar incorporado em um telefone celular, possui em sua memria os detalhes precisos das

    rbitas de todos os satlites da constelao. Dessa forma, lendo o sinal captado, o aparelho

    GPS pode reconhecer cada satlite em particular e determinar o tempo que o sinal levou

    para chegar, calculando assim, a distncia dele em relao ao satlite. Quando o receptor

    no solo capta os sinais de pelo menos quatro satlites simultaneamente, ele pode calcular

    sua posio exata atravs da interseo entre os sinais (RIPSA, 2000; FONTANA, 2002;

    ESA/EC, 2003b).

    O sistema composto de trs segmentos bsicos (Figura 36) (GARMIN, 2000;

    RIPSA, 2000; FONTANA, 2002):

    Segmento Espacial: Sistema NAVSTAR-GPS (Navigation Satellite Timing and

    Ranging) que consiste em uma constelao de 24 satlites (8 satlites em cada um dos

    trs planos orbitais) posicionados 20.000km de altitude em rbita circular no perodo

    de 12 horas, usando o elipside global WGS-84. Para permitir que de qualquer lugar da

    superfcie da Terra, em qualquer hora do dia, seja possvel determinar a posio de um

    ponto foi estabelecido um esquema orbital, de tal forma que sempre exista no mnimo

    seis satlites eletronicamente visveis.

    Segmento de Controle: estaes de controle localizadas nos Estados Unidos e que

    monitoram e determinam a rbita de todos os satlites GPS, fazendo as correes

    orbitais e determinando erros nos relgios atmicos a bordo dos satlites.

    Segmento Receptor ou Usurio: receptores (aparelhos de GPS) e antenas que captam

    os sinais transmitidos pelos satlites e calculam a sua posio precisa e a sua

    velocidade.

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    47

    Figura 36. Segmentos do Sistema de Posicionamento Global (GARMIN, 2000).

    Cada satlite GPS transmite em duas bandas de freqncias: Civil (L1) na

    freqncia de 1575,42MHz e Militar (L2) na freqncia de 1227,60MHz. Na banda L2, o

    erro mdio de aproximadamente 18 metros, enquanto que na L1, ser de 30 a 300 metros

    (com SA, que a Disponibilidade Seletiva inserida pelo Departamento de Defesa

    Americano na banda civil como um meio de controle de preciso) (FONTANA, 2002).

    Desde maio de 2000, a SA (Selective Availability) foi interrompida tendo-se conseguido

    atingir uma preciso na determinao das coordenadas de um ponto, de cerca de 10m

    (GARMIN, 2000).

    Os receptores de GPS civis possuem potencialmente erros de posicionamento

    resultantes do acmulo de erros causados pelas seguintes fontes (GARMIN, 2000; RIPSA,

    2000; FONTANA, 2002):

    Sombreamento/Geometria do satlite: se refere posio relativa dos

    satlites em qualquer dado tempo. A geometria ideal do satlite ocorre

    quando os satlites esto localizados em um ngulo de aproximadamente 45o

    em relao ao receptor. A geometria pobre ocorre quando os satlites esto

    SEGMENTO ESPACIAL

    SEGMENTO DE CONTROLE SEGMENTO USURIO

    S1 S2

    S3

    S4

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    48

    posicionados em linha ou em um agrupamento estreito (Figura 37). Todos os

    aparelhos GPS possuem uma pgina que exibe a erro causado pela geometria

    dos satlites, chamado de GDOP (Geometric Dilution of Precision) ou DOP

    (mdia dos erros GDOP, VDOP (vertical) e HDOP (horizontal). Assim,

    quanto mais prximo ao nmero 1 (escala de 1 a 10), melhor a configurao

    dos satlites para realizar o posicionamento (BERNARDI & LANDIM, 2002;

    FONTANA, 2002). Segundo FONTANA (2002), o DOP de 2 a 4 significa

    uma boa qualidade e geometria dos satlites. Em alguns aparelhos GPS, esse

    erro exibido em metros (ou ps), apenas calculando o erro causado pela

    geometria dos satlites.

    Meio de Propagao: os clculos assumem que o sinal de rdio viaja a uma

    velocidade constante - a velocidade da luz. No entanto, a velocidade da luz s

    constante no vcuo; quando o sinal de rdio entra na ionosfera e na

    toposfera diminui de velocidade, o que ocasiona erros de clculo de

    posicionamento. Os aparelhos de GPS usam um modelo que calcula o atraso

    mdio, mas no o atraso exato do sinal.

    Qualidade dos sinais: para que o aparelho GPS trabalhe melhor com as

    informaes emitidas pelos satlites, essas devem chegar com uma certa

    clareza. Normalmente os receptores apresentam uma pgina para demonstrar

    a qualidade do sinal, na forma de barras grficas e nmeros contendo o

    nmero do satlite, sua posio em relao ao norte (azimute) e o ngulo de

    inclinao em relao ao horizonte.

    GEOMETRIA IDEAL GEOMETRIA POBRE

    Figura 37. Geometria dos satlites (modificado de CRUZ et al., 2001).

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    49

    Mltiplas interferncias: ocorre quando o sinal do GPS refletido por

    outros objetos na superfcie terrestre, tais como edifcios, grandes superfcies

    rochosas ou vegetao densa, ou por interferncias eletrnicas antes alcanar

    o receptor GPS. Isso aumenta o tempo de viagem do sinal, causando erros

    (Figura 38). Alm da reflexo pelos obstculos no solo, esses obstculos

    podem bloquear a recepo de sinais, causando erros no posicionamento ou

    at nenhuma leitura de posicionamento, prejudicando, assim, a qualidade do

    sinal (Figura 38). A viso mais clara possvel fornecer a melhor recepo,

    assim aparelhos de GPS no funcionam corretamente em locais fechados,

    embaixo d'gua ou no subsolo.

    Figura 38. Mltiplas interferncias sendo fonte de erros de posicionamento no sistema GPS

    (GARMIN, 2000).

    Outros tipos de erro que devem ser considerados:

    a) Problemas nos relgios;

    b) Mau posicionamento da antena: que deve ser posicionada para se obter o ngulo de viso mximo;

    c) Danos nas antenas;

    d) Panes no processador interno do receptor;

    e) Problemas de alimentao de energia.

    Mltiplas interferncias Sinais

    bloqueados

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    50

    Entretanto, a acurcia pode ser aumentada pela combinao de um receptor GPS

    com um receptor GPS Diferencial (ou DGPS), o qual pode operar a partir de vrias fontes

    possveis para ajudar a reduzir alguns das fontes de erro descritas acima. O GPS

    Diferencial o nome dado ao mtodo pelo qual se determina entre a posio informada

    pelo aparelho e a verdadeira posio geogrfica, existindo dois tipos: o DGPS em Tempo

    Real (Real Time DGPS) e o DGPS de ps-processamento (Invert DGPS) (FONTANA,

    2002).

    O receptor GPS Diferencial baseia-se na observao simultnea de 2 estaes, onde

    as coordenadas do ponto so determinadas em relao a um ponto fixo (coordenadas

    precisamente conhecidas), chamado estao de referncia (Figura 39) (GARMIN, 2000). O

    processador analisa a posio informada pelo GPS e calcula a relao de erros gerada pelos

    satlites (ponto de posio GPS), sendo o GPS diferencial propriamente dito, a diferena

    entre os valores obtidos pelas estaes (FONTANA, 2002). A acurcia de um DPGS tpico

    de 1 a 5m, podendo atingir at 30mm nos modelos mais sofisticados (GARMIN, 2000;

    FONTANA, 2002).

    Figura 39. Funcionamento do GPS Diferencial (GARMIN, 2000).

    SINAL GPS

    SINAL DGPS (CORREO)

    SINAL GPS

    ESTAO DO

    RECEPTOR GPS E TRANSMISSOR

    DGPS GPS E RECEPTORES DGPS BORDO DO NAVIO

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    51

    Dependendo da aplicao, os receptores GPS podem ser classificados em (CRUZ et

    al., 2001):

    Navegao: Equipamento porttil que armazena somente as coordenadas dos pontos.

    Diferenciam-se na capacidade de memria, no nmero de canais de recepo do sinal,

    possibilidade de visualizao de mapas, tela com zoom ou colorida. As marcas mais

    conhecidas so Garmin e Magellan. O preo varia entre $100 e $600;

    Topogrfico/Geodsico (L1): efetua observao do cdigo e da portadora.

    Necessita de software para ps-processamento dos dados. Custam cerca de $20.000 o

    par. No incio de 2001 foi lanado o 1o equipamento brasileiro - GTR-1 - com o preo

    de R$20.000 o par.

    Geodsico (L1/L2): idem ao anterior com a possibilidade de observar a frequncia

    L2 (militar). Custam cerca de $40.000.

    Para estudos biogeogrficos, o uso de receptores GPS se faz necessrio para marcar

    coordenadas de localidades de ocorrncia da espcie estudada ou da rea de estudo onde o

    levantamento faunstico ou florstico foi realizado. Devido a escala de estudo ser pequena

    (1:100.000 ou menores), geralmente no necessrio o uso de GPS diferencial

    (topogrfico ou geodsico). Erros de posicionamento na ordem de 15m (com a SA

    desligada) no campo so desprezveis, j que so menores do que o erro de posicionamento

    associado ao erro grfico, encontrado nessas escalas, de no mnimo 20m. Quando a SA

    est ligada, os erros podem chegar a 250m, sendo a escala de estudo abaixo de 1:1.250.000

    mais indicada (o que corresponderia a um mapa englobando grande parte do Brasil ou uma

    rea ainda maior). Assim, o uso de aparelhos GPS de navegao so adequados para

    estudos biogeogrficos (Tabela 7). Vale ressaltar que o que torna um aparelho GPS melhor

    que outro a preciso dos receptores e a capacidade que os mesmos possuem de captar os

    sinais transmitidos pelos satlites, alm da relao custo/objetivo de uso (FONTANA,

    2002).

    http://www.techgeo.com.br/

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    52

    Tabela 7. Alguns modelos de GPS e suas caractersticas.

    Modelo GPS II GPS III GPS V eTrex eTrex Venture eTrex Vista

    Receptor MultiTrac8 12 canais 12 canais 12 canais 12 canais 12 canais

    No de pontos 250 500

    500 (com 15 caracteres para o nome e mais 50

    para comentrios) 500 500 500

    Memria - - 19Mb - 1Mb 24Mb

    Base de dados ou mapa

    - Amricas ou Internacional

    Sistema virio das Amricas ou Atlntico -

    Cidades do Mundo

    Sistema virio das Amricas, Atlntico ou Pacfico, e

    pontos marinhos

    Durao da bateria 20h 36h 25h 22h (2AA) 20h (2AA) 12h (2AA)

    Tipo de exibio

    Cristal lquido (azul-verde)

    Cristal lquido (4 nveis de

    cinza)

    Cristal lquido (4 nveis de cinza)

    Cristal lquido (4 nveis de

    cinza)

    Cristal lquido (4 nveis de

    cinza)

    Cristal lquido (4 nveis de

    cinza)

    Clculo de rea No No No No Sim Sim

    Pixels (H x W) 100 x 64 160 x 100 256 x 160 128 x 64 288 x 160 288 x 160

    Sistema prova d'gua

    Submerso a 1m por 30min.

    Submerso a 1m por 30min.

    Submerso a 1m por 30min.

    Submerso a 1m por 30min.

    Submerso a 1m por 30min.

    Submerso a 1m por 30min.

    cones para pontos

    - Sim Sim Sim Sim Sim

    Preo (dlares)

    Fora do mercado

    Fora do mercado

    $536 $145 $194 $375

    Fonte: GARMIN International (www.garmin.com).

    Para configurar um aparelho GPS necessrio o conhecimento de alguns dados

    cartogrficos como datum, sistema de coordenadas e fuso horrio (time zone). Para que o

    receptor GPS localize a constelao de satlites (efemrides) e calcule corretamente a

    posio do ponto, necessrio inform-lo em que fuso horrio (Tabela 8) o usurio est.

    Uma maneira simples de determinar seu fuso horrio saber quantas horas est atrasado ou

    adiantado em relao ao UTC, ou Tempo Universal Coordenado (tambm denominado

    hora Greenwich ou zulu). Em 1986, o UTC substituiu a Hora Mdia de Greenwich

    (GMT), sendo considerado o Padro Mundial de Tempo, e se baseia-se em medies

    atmicas em vez da rotao da Terra. Por exemplo, o horrio de Braslia est 3 horas atrs

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    53

    do UTC; ento, a diferena ser 3. Subtraia uma hora para cada fuso horrio medida que

    viaja para oeste (GARMIN, 2000).

    Tabela 8. Fusos horrios UTC aproximados para vrias zonas delimitadas em longitudes. Se voc estiver no perodo de horrio de vero, some uma hora diferena horria do fuso (GARMIN, 2000).

    Zona Longitudinal Diferena Horria Zona Longitudinal Diferena Horria

    180,0 W a 172,5 W -12 007,5 E a 022,5 E +1 172,5 W a 157,5 W -11 022,5 E a 037,5 E +2 157,5 W a 142.5 W -10 037,5 E a 052,5 E +3 142,5 W a 127,5 W -9 052,5 E a 067,5 E +4 127,5 W a 112,5 W -8 067,5 E a 082,5 E +5 112,5 W a 097,5 W -7 082,5 E a 097,5 E +6 097,5 W a 082,5 W -6 097,5 E a 112,5 E +7 082,5 W a 067,5 W -5 112,5 E a 127,5 E +8 067,5 W a 052,5 W -4 127,5 E a 142,5 E +9 052,5 W a 037,5 W -3 142.5 E a 157,5 E +10 037,5 W a 022,5 W -2 157,5 E a 172,5 E +11 022,5 W a 007,5 W -1 172,5 E a 180,0 E +12 007,5 W a 007,5 E 0

    Usar o GPS juntamente com um mapa amplia o poder de ambos durante a

    navegao. Para isso preciso selecionar o formato de apresentao das posies (sistema

    de coordenadas), datum, unidades e norte de referncia que combinem com o mapa

    (GARMIN, 2000). O sistema de coordenadas mais usado latitude e longitude em graus e

    minutos decimais (hdddmm.mmmm), mas o GPS possui vrios outros como coordenadas

    planas (UTM), e coordenadas geogrficas no formato graus, minutos e segundos decimais

    (hdddomm'ss.ssss''). O datum inicial da maioria dos aparelhos GPS o WGS 84 (World

    Geodetic Survey de 1984). No entanto, caso o usurio pretenda plotar as coordenadas

    coletadas pelo GPS em uma carta topogrfica, o mais adequado utilizar o datum da carta

    (SAD-69 ou Crrego Alegre). A unidade de medida comumente utilizada para todas as

    leituras de velocidade e distncia a mtrica. A maioria dos aparelhos GPS possibilitam

    escolher outras unidades como milhas terrestres (statute) ou milhas nuticas (GARMIN,

    2000).

    As marcaes angulares do GPS correspondero s da agulha magntica se o GPS

    estiver referenciado ao norte magntico (configurao inicial). Devido a erros introduzidos

    pelo processo de planificar a superfcie terrestre em um mapa, nem todas as linhas de

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    54

    posio desenhadas no mapa apontam exatamente para o norte verdadeiro. Assim, o norte

    indicado pelas linhas denominado Norte da Carta ou Norte da Quadrcula (Grid

    North). Entretanto, a diferena normalmente to pequena que o norte da quadrcula pode

    ser considerado igual ao norte verdadeiro para deslocamentos terrestres. FONTANA

    (2002) sugere que use o norte verdadeiro (true) quando o usurio empregar unicamente a

    carta topogrfica e o GPS, descartando o uso da bssola.

    As escalas e projees dos mapas mais usados em biogeografia

    e suas limitaes

    Estudos em biogeografia geralmente usam mapas do Brasil, da Amrica do Sul ou

    regionais (p. ex. parte da Amaznia Legal). Em geral, esses mapas esto em projeo

    Policnica, coordenadas geogrficas e em escalas cartogrficas pequenas (menores de

    1:50.000). Mapas usados para localizar a rea de estudo, em reas como ecologia, usam

    escalas maiores (menores ou iguais a 1:50.000), geralmente com projeo UTM e

    coordenadas planas. importante notar que a acurcia do posicionamento de determinada

    localidade ou ocorrncia de uma espcie em um mapa depender da escala, e do erro

    grfico intrnseco a esta escala.

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    55

    As informaes que no podem deixar de entrar em um mapa

    Os mapas produzidos para publicaes em biogeografia devem seguir as normas

    cartogrficas para que os leitores possam avaliar a preciso dos dados mostrados nessa

    representao cartogrfica. Alguns elementos cartogrficos so impressindveis para a

    produo de um mapa (Figuras 40 e 41):

    Ttulo (descreve o propsito da carta)

    Norte geogrfico (que geralmente coincide com o norte da quadrcula)

    Escala (grfica e/ou numrica)

    Projeo e datum usados

    Gratculas indicando as coordenadas

    Legenda indicando os elementos do mapa

    Localizao da rea em uma escala menor

    Informaes sobre a base cartogrfica utilizada

    Figura 40. Algumas informaes contidas na legenda de uma carta topogrfica.

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    Figura 41. Informaes que devem ser apresentados em um mapa.

    56

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    57

    Como fazer os mapas de distribuio geogrfica

    Existem duas formas de confeccionar um mapa: manual (cartografia analgica) e

    atravs do computador (cartografia digital). Diferentemente da cartografia analgica, a

    cartografia digital pode fornecer uma base de dados digital mais rapidamente atualizvel e

    produzir mapas visualizados em diferentes meios, podendo ser interativos e animados

    (PETERSON, 1995; ROBINSON et al., 1995). Existem diversos programas (softwares) de

    automao de tarefas cartogrficas e visualizao de dados, denominados de CADs que

    podem ser usados para gerar mapas como, por exemplo, AutoCAD, AutoCAD Map e

    MapMaker (Tabela 9). Vale ressaltar que os CADs diferem dos SIGs (Sistemas de

    Informaes Geogrficas), j que esses ltimos superam a simples manipulao de mapas

    digitais atravs da explorao das relaes existentes entre seus dados grficos e

    descritivos, permitindo a execuo de funes de anlise espacial, envolvendo

    proximidade, adjacncia e conectividade, alm de anlises envolvendo compatibilizaes

    de diversos mapas, oriundos de diversas fontes, escalas, sistemas de projeo, etc.

    (BURROUGH & MCDONNELL, 1998; RIPSA, 2000). No entanto, alguns SIGs podem

    ser sub-utilizados para gerar mapas como, por exemplo, ArcView, MapInfo, SPRING e

    Idrisi (Tabela 9). Existem alguns programas que vem sendo usados, principalmente por

    bilogos, para gerar mapas como, por exemplo, Fishmap, SURFER e DMAP (Tabela 9).

    Alm dos programas de computador, necessrio obter uma base de dados

    constituda por mapas e localidade georreferenciadas de ocorrncia de espcies. Os mapas,

    como j vimos, podem ser adquiridos (IBGE, Exrcito, Prefeituras, etc.) ou confeccionados

    (usando como base, p.ex., imagens de satlite). J as coordenadas das localidades pode ser

    adquiridas atravs de GPS, no prprio local, ou atravs dos Gazetteer (livros que contm

    mais de 6.000 localidades e suas coordenadas geogrficas). Alguns Gazetteer so: United

    States Board on Geographic Names (USBGN) (Quadro 1), Ornithological Gazetteer

    (Paynter & Traylor) (Quadro 2), e CALLE** (Quadro 3). A escala sugerida para os mapas

    que usam as coordenadas dos Gazetteer de 1:1.000.000 ou menor, j que eles usam como

    fonte a Carta do Brasil ao Milionsimo entre outras.

    ** http://www.calle.com/world/

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    58

    Tabela 9. Programas usados para gerar e/ou visualizar mapas digitais. Programas Utilidades Gratuito Site na Internet AutoCAD e AutoCAD Map Produo de desenhos tcnicos e mapas http://www.autodesk.com Fishmap Produo de mapas http://www.bcfisheries.gov.bc.ca/fishinv/fishmap.htm iMap (Macintosh) Produo de mapas http://www.kuleuven.ac.be/bio/sys/imap/ MapMaker Produo de mapas X http://www.mapmaker.com/ Natural Resources Database Produo de mapas X http://www.nrdb.co.uk/ Versamap Produo de mapas http://www.versamap.com/ GPS TrackMaker Produo de mapas com os waypoints do GPS X http://www.gpstm.com/port/ SURFER Produo de mapas em 3D http://www.goldensoftware.com/products/surfer/surfer.shtml DMAP Produo de mapas de distribuio http://www.dmap.co.uk/welcome.htm MapMate Produo de mapas de distribuio http://www.mapmate.co.uk/ DIVA-GIS Produo de mapas de distribuio e anlise X http://www.diva-gis.org/ ArcView Produo de mapas e anlise http://www.esri.com/software/arcgis/arcview/overview.html Christine GIS System Produo de mapas e anlise X http://www.christine-gis.com/ Floramap Produo de mapas e anlise http://www.floramap-ciat.org/ MapInfo Produo de mapas e anlise http://www.mapinfo.com/ MapViewer Produo de mapas e anlise http://www.goldensoftware.com/products/mapviewer/mapviewer.shtml

    Idrisi Tratamento de imagens de satlite, anlises e produo de mapas

    http://www.clarklabs.org/

    SPRING Tratamento de imagens de satlite, anlises e produo de mapas

    http://www.dpi.inpe.br/spring/

    MapBrowser Visualizador de mapas X http://www.vdstech.com/mapbrowser.htm

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    59

    QUADRO 1

    Exemplo de localidades contidas no USBGN Gazetteer, onde so apresentados o nome da localidade (ex. Serra do Cip), sua designao (p.ex. morro), suas coordenadas geogrficas (latitude 7o52'S, longitude 36o52'W), sua unidade administrativa (p.ex. ,

    Estado da Paraba) e a referncia das coordenadas dessa localidade (p.ex. Carta do Brasil ao Milionsimo).

    Nome da Localidade Designao Latitude Longitude Unidade Administrativa

    Referncia da localidade

    Cinco Ilhas ISLS 20 29 S 51 26 W 77000 01 Cip, Crrego do STM 17 16 S 44 19 W 77033 01 Cip, Rio see Cip, Riacho do

    STMI 9 53 S 38 49 W 77041 00

    Cip, Serra do HLL 7 52 S 36 52 W 77025 01 Cipoal PPL 1 43 S 55 26 W 77015 01

    DESIGNAO: ISLS = ilhas; STM = rio; STMI = rio intermitente; HLL = morro; PPL = lugar povoado UNIDADE ADMINISTRATIVA: 77000 = Brasil (geral); 77033 = Estado de Minas Gerais; 77041 = Estado de So Paulo; 77025 = Estado da Paraba; 77015 = Estado do Par REFERNCIA DA LOCALIDADE: 01 = Carta do Brasil ao Milionsimo (IBGE); 00 = Outras referncias ou referncias cruzadas.

  • Cartografia aplicada biogeografia - Simone R. Freitas - 2004

    60

    QUADRO 2

    Exemplo de localidades contidas no Ornithological Gazetteer, onde so apresentados o nome da localidade (ex. Serra do Cip, Estado de Minas Gerais),

    suas coordenadas geogrficas (latitude 19o14'S, longitude 43o33'W) e as referncias bibliogrficas onde essa localidade foi citada.

    CIP, SERRA (Ruschi, 1961:32); see Cip, Serra do.

    CIP, SERRA DO; Minas Gerais 1914 / 4333 (Vanzolini, pers. comm.)

    Alt ?; in eastern Minas Gerais, in southern Serra do Espinhao [ 1730/4330 (USBGN)

    ], NE of Belo Horizonte [ 1930/4345 (USBGN) ] ; not named on our maps; Berlioz, at

    1,400m, 9 Aug.