APOSTILA DE CULTURA TEOLÓGICA fevereiro

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Centro Universitrio Catlico Auxilium - Araatuba Cultura TeolgicaProf. Aparecida S. P. Tocchio

CULTURA TEOLGICAA experincia religiosa: fenmeno e evoluo histrica. O fenmeno religioso, com sua linguagem especfica e com especial ateno experincia religiosa individual: O aspecto social da religio e as funes que ela exerceu e exerce na transformao da sociedade com especial ateno crise da religio na modernidade e s perspectivas contemporneas.

Prof. Cida [email protected]

Caro Universitrio1

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Primeiro seja bem sucedido no lar. Busque e seja digno da ajuda divina. Jamais comprometa sua honestidade. Lembre-se das pessoas envolvidas. Oua os dois lados antes de julgar. Procure se aconselhar com os outros. Defenda os ausentes. Seja sincero e firme. Desenvolva uma nova habilidade por ano. Planeje hoje o trabalho de amanh. Ocupe-se enquanto espera. Mantenha uma atitude positiva. Tenha senso de humor. Seja organizado pessoal e profissionalmente. No tenha medo de erros, tema apenas falta de respostas criativas, construtivas e capazes de superar os erros. Facilite o sucesso de seus subordinados. Oua o dobro do que fala. Concentre todas as habilidades e esforos no trabalho que tem sua frente, sem preocupar com o prximo emprego ou com sua promoo. Seja aluno dentro e fora da sala de aula e com certeza a recompensa ser o mrito da aprovao. BOM SEMESTRE!!!

Autoconhecimento aula inaugural com dinmicas Textos para reflexo2

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Quem sou eu? Sou sua companhia constante. Sou seu maior ajudante ou seu mais pesado fardo. Eu o conduzirei ao sucesso ou o levarei ao fracasso Estou completamente a seu dispor e sob suas ordens. A maioria das coisas que precisar fazer pode pass-las a mim, porque estarei apto a faz-las rpida e corretamente. fcil lidar comigo, basta ser firme. Mostre-me exatamente como quer que algo seja feito e, depois de algumas lies, eu o farei de maneira automtica. Sou o servo de todos os grandes seres e tambm, infelizmente, de todos os fracassos. Aos vitoriosos, eu os fiz vencer. Aos fracassados, eu os fiz fracassar. No sou uma mquina, embora trabalhe com toda preciso de uma mquina e com a inteligncia de um humano. Voc pode me usar para lucrar ou para se arruinar. No faz diferena para mim. Use-me, treine-me, seja firma comigo e eu colocarei o mundo a seu dispor. Esmorea comigo e eu o destruirei. Quem sou eu? R: Hbito (Franklin Covey)

Voc um NmeroSe voc no tomar cuidado vira um nmero at para si mesmo. Porque a partir do instante em que voc nasce classificam-no com um nmero. Sua identidade no Flix Pacheco um nmero. O registro civil

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um nmero. Seu ttulo de eleitor um nmero. Profissionalmente falando voc tambm . Para ser motorista, tem carteira com nmero, e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte identificado com um nmero. Seu prdio, seu telefone, seu nmero de apartamento - Tudo nmero. Se dos que abrem credirio, para eles voc tambm um nmero. Se tem propriedades, tambm. Se scio de um clube tem um nmero. Se imortal da Academia Brasileira de Letras tem nmero da cadeira. por isso que vou tomar aulas particulares de Matemtica. Preciso saber das coisas. Ou aulas e Fsica. No estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemtica, preciso saber alguma coisa sobre clculo integral. Se voc comerciante, seu alvar de Localizao o classifica tambm. Se contribuinte de qualquer obra de beneficncia tambm solicitado por um nmero. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negcio recebe um nmero. Para tomar um avio, do-lhe um nmero. Se possui aes tambm recebe um, como acionista de uma companhia. claro que voc um nmero no recenseamento. Se catlico recebe um nmero de batismo. No Registro civil ou religioso voc numerado. Se possui personalidade jurdica tem. E quando a gente morre, no jazigo, tem um nmero. E a certido de bito tambm. Ns no somos ningum? Protesto. Alis intil o protesto. E vai ver meu protesto tambm nmero. A minha amiga contou que no Alto do Serto de Pernambuco uma mulher estava com o filho doente, desidratado, foi ao Posto de Sade. E recebeu a ficha com o nmero 10. Mas dentro do horrio previsto pelo mdico a criana no pode ser atendida porque s atenderam at o nmero 9. A criana morreu por causa de um nmero. Ns somos culpados. Se h uma guerra, voc classificado por um nmero. Numa pulseira com placa metlica, se no me engano. Ou numa corrente de pescoo, metlica. E Deus no nmero.

Eu, etiqueta

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(Carlos Drumond de Andrade) Em minha cala est grudado um nome que no meu de batismo ou de cartrio, um nome... estranho. Meu bluso traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que no fumo, at hoje no fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas so comunicados a meus ps. Meu tnis proclama colorido de alguma coisa no provada por este provador de idade. Meu leno, meu relgio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xcara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabea at o bico dos sapatos, so mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordem de uso, abuso, reincidncia, costume, hbito, preemncia, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anncio itinerante, escravo da matria anunciada. Estou, estou na moda. doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, troc-la por mil, aambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos de mercado. Com que inocncia demito-me de ser eu que antes era e me sabia to diverso de outros, to mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solitrio de sua humana invencvel condio. Agora sou anncio, ora vulgar, ora bizarro, em lngua nacional ou em qualquer lngua (qualquer, principalmente). E nisto me comprazo, tiro glria de minha anulao. No sou - v l - anncio contratado. Eu que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias prgulas piscinas, e bem vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandlia de uma essncia to viva, independente, que moda ou suborno algum compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas indiossicrasias to pessoais, to minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada olhar, cada vinco de roupa resumia uma esttica? Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, asio de estamparia, no de casa, da vitrine me tiram, me recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo dos outros objetos estticos, tarifados. Por me ostentar assim, to orgulhoso de ser no eu, mas artigo industrial, peo que meu nome retifiquem. J no me convm o ttulo de homem, meu nome novo coisa. Eu sou a coisa, coisamente.

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As dimenses do homemDimenso Psico Corporal Corpo: elementos qumicos organizados que do a estrutura corporal, humana: tamanho, forma, sensibilidade, vida... Cuido deste corpo com muito carinho: alimentao, higiene, ginstica, trabalho, repouso, esttica, medicina, satisfaes... Alma (psique, mente, esprito), formada por: = VONTADE, capacidade de deciso, sede da liberdade; = AFETO, capacidade de AMAR e SER AMADO, sensibilidade afetiva com relao ao outro: pai, me, amigo, namorado(a); RAZO, capacidade de CONHECER, saber, descobrir, acumular e ligar conhecimentos, inventar, imaginar... = RELIGIOSIDADE, capacidade de buscar sempre ALGO MAIS, SENTIDO PARA A VIDA, PARA OS HOMENS, PARA O MUNDO, capacidade de comunho espiritual com Deus, filialmente, e com os outros, fraternalmente, capacidade de vislumbrar do ps morte em vida nova... Origino-me de um ponto minsculo, a unio de espermatozide com o vulo; Sou chamado a CRESCER, CRESCER, corporal e espiritualmente; Minha estrutura corporal com a morte transformada; Continuo EXISTINDO de outro modo (pela ressurreio), numa corporeidade espiritual.

Dimenso Psico SocialPara existir preciso dos outros. Sem PAI e ME eu no existiria. Portanto, a famlia o invlucro vital, no s para meu surgimento fsico, mas sobretudo para minha sobrevivncia e realizao, o que implica forosamente, por eu ser humano, em cuidados com relao alma: afeto, educao, liberdade, inteligncia... Alm da FAMLIA, e complementando-a, h o OUTRO o amigo, o grupo, a pessoa amada) e todos os outros na minha vida. Sou um SER SOCIAL. Necessito, absolutamente do OUTRO. Sem amor, sem amizade, o ser humano no consegue ter paz, realizar-se sentir-se bem. Neste horizonte de necessidade do outro, situam-se tambm as COISAS que so automaticamente humanizadas por ns. Passam a fazer parte de nossa vida: gua, terra, ar, animais, dinheiro, coisas, roupas, casa... O que d a dimenso social, no apenas o estar junto, o aglomerado, o ser da mesma espcie, E a dimenso PSICOLOGICA. Um aglomerado de animais no forma sociedade. Macho, fmea e filhote no do uma famlia, pois lhes falta a dimenso especfica que a riqueza espiritual do ser humano tem e que possibilita a famlia: amor, vontade, inteligncia...

Dimenso Psico TranscendentalH em mim, pelo fato de ser gente, um dado muito especial, nico, entre os seres existentes e que d s pessoa uma especificidade ainda maior e nica: A BUSCA CONSCIENTE DA PLENITUDE, DO INFINITO DA REALIZAO... QUERO - VIDA PLENA AMOR PLENO VALOR PLENO... No consigo, ficar prisioneiro da matria, das limitaes do espao tempo. Busco ALGO MAIS na raiz do meu ser, no destino da minha vida. Sou um ser ABERTO AO INFINITO. Tudo em mim me evidncia que ESTOU CRESCENDO de um ponto to pequeno, de onde me originei, para o INFINITO, maior que minha famlia, que as coisas, o outro, a

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sociedade. E que envolve tudo... E exatamente esta DIMENSO que sintetiza as demais dimenses, da sentido a tudo, valoriza as limitaes humanas porque revela nelas o algo mais...

Cultura Religiosa na Universidade: Mais que desmistificar a religiosidade humana Luis Henrique Marques - Jornalista ; Mestre em Comunicao e Cultura de Massa pela UNESP-Bauru. H quem ainda se debata com a questo da existncia de Deus sobretudo agora com a pretensa atitude do homem em criar clones, quem sabe, humanos e, por tabela, sobre o valor da religiosidade na sociedade. E no s: a prpria misria humana j motivo, para muitos, mais que suficiente para a descrena em Deus e a negao da religio. Pois bem, antes de tudo, preciso que se diga o que muita gente j sabe ou deveria saber: Deus e a religio so realidades distintas. A primeira perfeita e fim em si mesma; a segunda realidade, imperfeita porque humana -, no fim, mas meio atravs do qual se chega ao Infinito. Logo, fica quase bvio concluir que a concepo e, em particular, o uso da religio so capazes de aproximar mais ou menos o homem de Deus e, por conseqncia, o homem de si mesmo e do seu semelhante. Ora, para compreender at que ponto as prticas religiosas quaisquer que sejam esto contribuindo para a relao equilibrada do homem consigo mesmo, com o outro e com Deus, necessrio que se reflita criticamente. E mais: preciso desmistificar o fenmeno religioso na sociedade, de modo a superar antigas e retrgradas vises da prtica religiosa, como tambm promover a sua re-criao, sempre mais sintonizada com a realidade do nosso tempo. Esses so pois, propsitos da reflexo teolgica desenvolvida por muitas universidades confessionais junto aos alunos de todos os seus cursos. As disciplinas que abordam tal temtica recebem nomes diversos, conforme a instituio: Teologia, Cultura Religiosa, Antropologia Filosfica, entre outros. O fato que parecem ter uma primeira preocupao comum: orientar o universitrio para a reflexo sobre Deus e sua relao com o ser humano. A seguir, vem a reflexo sobre a religio, conforme dito acima. .O universitrio um ser humano e como tal busca a felicidade, razo e valor pleno para a vida. O que talvez ele no tenha se dado conta ainda que na alma campo por excelncia na qual Deus se revela ao homem reside toda a possibilidade de felicidade. Logo, se unir-se a Deus significa encontrar a felicidade, valer-se da religio para unir as realidades humanas e divinas, significa promover o encontro do homem com o valor pleno da vida humana. A experincia religiosa verdadeira, sobretudo quando concreta. Enquanto for apenas discurso, vazia e imatura. Por outro lado, o homem um todo do qual faz tambm sua racionalidade. reflexo teolgica (aliada particularmente filosofia) cabe sustentar e amadurecer a prtica Religiosa. As concluses s quais o aluno pode chegar a partir de sua reflexo ntima so de responsabilidade e interesse exclusivamente seus.

Introduo Teologia

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O termo teologia compe-se etimologicamente de dos termos, que lhe definem j grandemente a natureza: THES + LOGIA = DEUS + CINCIAS. No centro est Deus, seu objeto principal. Qualquer reflexo teolgica refere-se de alguma maneia a Deus. Ao determinar-se mais exatamente o estudo terico, veremos como tal referncia de produz. Teologia a reflexo metdica e crtica sobre o que vem exposto no querigma ( pregao) da igreja, aceito no ato da f, pelo qual se submete Palavra de Deus.Deus o objeto da teologia. Teologia como a palavra sugere o discurso sobre Deus e de todas as coisas vistas luz de Deus. Constitui uma singularidade de nossa espcie que, num momento da evoluo de milhes de anos, tenha surgido a conscincia de Deus. Com essa palavra - Deus - se expressa um valor supremo, um sentido derradei ro do

universo e da vida e uma fonte originria de onde provm todos os seres.Esse Deus sempre habita o universo e acompanha os seres humanos. Os textos sagradas das religies e das tradies espirituais testemunham a permanente atuao de Deus no mundo. Ele sempre atua favorecendo a vida, defendendo o fraco, oferecendo perdo ao cado e prometendo a eternidade da vida em comunho com Ele.

Segundo Santo Agostinho crede ut intelligas necessrio crer para que possas entender. Teologia no um saber individualizado, fechado e independente. sim uma relao de f e a razo. A f entendida como encontro e adeso a Deus que se revela e se comunica aos seres humanos, o fundamental da teologia. O ato teolgico fundamenta-se na experincia da f. Teologia no pode ser feita sem f. Sem base na f, o discurso torna-se filosofia da religio, sociologia da religio ou antropologia da religio.Esses conhecimentos so importantes para o saber teolgico, mas no teologia.TAREFAS DA TEOLOGIA As trs tarefas gerais executadas no trabalho teolgico so: a tarefa hermenutica, a tarefa crtico-construtiva e a tarefa dialgica (LIBANIO & MURAD, 1996. Pg. 335). Essas trs tarefas, absolutamente ligadas ao trabalho exegtico, tm funo preponderante no trabalho teolgico. A TAREFA HERMENUTICA

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Toda cincia procura interpretar os fatos do seu estudo. A cincia teolgica, por sua vez, realiza um trabalho eminentemente interpretativo, hermenutico. Os dados da considerada revelao so estudados e interpretados em face de uma situao humana. Neste contexto, a empreitada teolgica objetiva esclarecer a compreenso humana sobre a divindade. Na compreenso de Paul Tillich, a teologia apoia-se em dois pilares: a verdade da revelao e a interpretao dessa verdade. Esses dois aspectos esto vinculados a uma compreenso da situao em que o homem se encontra no dado momento em que dever receber a mensagem da revelao. Na verdade, um trip: verdade, interpretao e situao. O telogo precisa conhecer esses trs fatores se quiser conseguir xito na tarefa hermenutica. Para Tillich,

a Situao, como um plo de todo trabalho teolgico, no se refere ao estado psicolgico ousociolgico no qual os indivduos e os grupos vivem. Ela se refere s formas cientficas e artsticas, econmicas, polticas e ticas,1[1] nas quais se exprimem as suas interpretaes da existncia. A "situao", qual a teologia deve falar com relevncia, no a situao do indivduo como indivduo e no situao do grupo como grupo. Teologia no nem pregao, nem aconselhamento (TILLICH, 1987. Pg. 13-14). Por esta perspectiva, consulta-se a situao do homem para se conhecer as suas perguntas existenciais e s assim podem ser apresentadas respostas teolgicas a esse mesmo homem. No uma atividade de interpretao da mensagem por si, mas antes uma interpretao da mensagem porque perguntas lhe foram feitas de antemo. Este o chamado mtodo da correlao, no qual as indues existencialistas parecem estar bem presentes. E, desde que "O lugar social condiciona o lugar hermenutico" (LIBANIO & MURAD, 1996. Pg. 338), isso significa dizer que toda interpretao de uma situao ter sempre a marca da subjetividade de quem foi afetado por inmeros fatores no processo de contato. Toda hermenutica encontra-se, pois, condicionada. A TAREFA CRTICO-CONSTRUTIVA Duas funes bsicas so da teologia: a funo de criticar e a de construir ou reconstruir. Essas duas funes precisam caminhar juntas. Nunca dissociadas. A crtica sempre deve visar (re)construo; nunca destruio. A crtica deve acontecer para desconstruir; nunca para destruir absolutamente. Desconstruir para, em seguida, (re)construir. Este o momento no qual o telogo, j tendo chegado interpretao do texto, instala uma nova perspectiva sobre a prpria situao humana. Situao esta que apresenta questes que orientam a busca de respostas na interpretao do texto.

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A TAREFA DIALGICA Chama-se dialgica a tarefa teolgica que se refere comunicao entre o telogo e seu interlocutor. Pode-se dizer que esta tarefa acontece concomitantemente ao momento crtico-construtivo. No h como isolar essas duas tarefas teolgicas. No momento em que uma acontece, a ao das outras, em maior ou em menor escala, vigente. no instante dialgico que o telogo responde, propriamente, s questes captadas no contato com a situao da humanidade. O ponto marcante do trabalho teolgico a sua dinamicidade. Estas trs tarefas teolgicas esto envolvidas em um processo que resulta numa atualizao da revelao no ambiente do intrprete. E neste processo radica-se um dos prazeres do teologar: o prazer de se sentir um canal contemporneo de uma possvel revelao. O ESPRITO E A ESPOSA Se a teologia pensamento do encontro entre o humano caminhar e o divino vir, o sujeito dela, em sentido prprio e fontal, s pode ser Aquele que neste encontro tem a iniciativa absoluta: o Deus vivo e santo. ele que, vindo ao homem, suscita tambm a abertura da criatura ao mistrio, ele que, amando, nos torna capazes de amar, e, conhecendo, abre os olhos da mente de quem por ele conhecido. Deus sempre prior!: Deus vem sempre em primeiro lugar. ele a eterna pr-suposio de toda possvel iniciativa do xodo, de toda via que, da morte, se abre vida, ele o criador e o redentor do homem. Por pura gratuidade, sem ser de nenhum modo constrangida, sua Palavra sada do eterno silncio do dilogo sem fim do amor; ela se fez carne (Jo 1,14) a fim de tornar-se acessvel e comunicvel ao homem. E tudo o que nela nos foi dado de invisvel, de inaudito e de impensvel, o Esprito que o faz presente para ns: O que os olhos no viram, os ouvidos no ouviram e o corao do homem no percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam. A ns, porm, Deus o revelou pelo Esprito. Pois o Esprito sonda todas as coisas, at mesmo as profundidades de Deus... Quanto a ns, no recebemos o esprito do mundo, mas o esprito que vem de Deus, afim de que conheamos os dons da graa de Deus (1Cor 2,9s.120). Todos (os cristos) recebem o dom da verdade e da vida e todos devem generosamente transmiti-los: uma tradio apostlica da Igreja, que compromete na recepo, bem como na transmisso ativa do advento divino, todo o povo dos peregrinos de Deus... O telogo aquele que pelo carisma recebido do esprito e pelo reconhecimento e recepo da comunidade se esfora para levar palavra de maneira orgnica e acabadamente reflexiva e vivncia pessoal e coletiva da experincia do advento divino. Ele pertence massa e possui a palavra (C.L. Milani): como tantos outros,

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ele crente que experimentou o dom do encontro, que lhe mudou a vida; com estes outros povo da Palavra escutada, proclamada e crida ele se sabe ligado por vnculos de profundssima e concreta comunho, articulada no tempo e no espao; a seu servio ele pe a inteligncia e seu corao, enamorado do seu mistrio e tambm consciente dos limites que lhe so prprios. Como Toms, ele confessa: Eu que a tarefa principal da minha vida seja a de expressar Deus em toda palavra e em todo meu sentimento (Bruno Forte, A teologia como companhia, memria e profecia, So Paulo, Paulinas, 1991, 134, pp. 135,137).

Cada estudo teolgico desve-lhe um trao do rosto. Quando se imagina que o pensar teolgico se esgotara, eis que surgem novos rebentos verdes de esperana. Para a teologia vale o pensamento de Guimares Rosa ao referir-se ao nascimento de uma criana: minha senhora dona, uma criana nasceu e o mundo tornou a comear... em cada teologia que nasce, em cada ano de estudo teolgico que se empreende, em cada estudante de teologia que encenta seus estudos, a teologia torna a comear.

Bblia: uma biblioteca a Bblia no apenas um livro. O termo bblia , etimologicamente, o plural da palavra grega bblion (= livro) e significa, originalmente, os livros. A bblia uma biblioteca. Contm uma diversidade de escritos autnomos. Cada livro tem sua prpria histria e deve ser lido sobre o fundo de seu prprio contexto histrico, gnero literrio, inteno do autor, etc. Mas a Bblia pode e deve tambm ser considerada na sua unidade, para se compreender por que e em que sentido essa biblioteca foi constituda e assumida por determinados grupos religiosos. A Bblia contm duas grandes partes. A primeira parte, mais ou menos 80% do livro, chamada o Antigo (ou Velho, ou Primeiro) Testamento, enquanto o restante leva o ttulo de Novo Testamento, isso, nas Bblias de edio catlicas ou protestante. Uma Bblia de edio judaica, no se encontra essa diviso : a parte correspondente ao Novo testamento falta por completo, e a outra parte no se chama Antigo Testamento, mas Bblia, sem mais... O termo testamento no significa, aqui, um legado deixado por algum, mas a aliana atestada entre Deus e o povo (bert). Para o judasmo, a Aliana, sem mais, aquela que foi selada entre Deus e o povo de Israel por intermdio de Moiss (e por extenso, tambm as alianas de Deus com Abro e com No: 4.5.1-3). Segundo a compreenso crist, a Aliana mediada por Moiss (Antigo Testamento) foi renovada de modo mais pleno por Jesus (Novo Testamento). Como o judasmo no reconhece a Jesus esse papel, tambm no acolhe os escritos a seu respeito. A Bblia judaica menor que a Bblia crist, por no conter os escritos cristos. Mas existem tambm diferenas entre as Bblias crists: quanto ao Antigo Testamento, a Bblia catlica contm sete livros a mais que a protestante. Com intuito de voltar s origens, o protestantismo adotou a maneira judaica quanto ao contedo de At, embora seguindo a Bblia grega ( e latina) quanto ordem dos livros. Assim, a Bblia protestante 11

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tem no AT os mesmos livros que a Bblia judaica, sete a menos que a catlica. (quanto ao NT, no h diferena entre catlicos e protestantes). A opo catlica se justifica porque os sete livros a mais faziam parte da Bblia dos primeiros cristos. Por causa da discusso em torno sua recepo no cnon (7.1), estes livros so chamados deuterocannicos [= canonizados num segundo momento; os protestantes os chamam de apcrifos, mas prefervel reservar essa designao para os livros recusados tanto pelos protestantes como pelos catlicos (7.1.1)]. Embora nem sempre usada com a devida preciso, til conhecer a terminologia exata quanto s diferentes formas da Bblia: Bblia hebraica: o conjunto dos livros bblicos escritos em hebraico. Bblia judaica (Tanak): a Bblia aceita pelo judasmo hoje, ou seja, a Bblia hebraica e as tradues que seguem o texto hebraico. Septuaginta ou Setenta (abrev. LXX): a traduo da Bblia hebraica para o grego, efetuada nos sculos III-I a.C. Contm sete livros a mais que a Bblia hebraica. Bblia crist: a Bblia do Antigo Testamento em traduo grega (LXX e outras tradues) e o Novo Testamento, no original grego; ou, mais corriqueiramente, a Setuaginta e o NT grego, que constituem a Bblia dos primeiros cristos e das Igrejas gregas at hoje. Bblia latina: Antigo Testamento e Novo Testamento em traduo latina. Vulgata: verso latina da Bblia crist elaborada por S. Jernimo; a forma mais conhecida da Bblia latina (quanto Nova Vulgata, cf. infra {1.3.2}). Bblia catlica: a Bblia conforme definida pela Igreja catlica, com o cnon amplo do AT {1.1.4}. Bblia protestante: a Bblia crist segundo o uso protestante, com o cnon restrito do AT {1.1.4}. A Bblia judaica organiza os livros em trs categorias: T Tor, a Lei (de Moiss) N Nebim, os Profetas - anteriores, ou seja, primeira coleo - posteriores, ou seja, segunda coleo K Ketubm, os Escritos Unindo as letras iniciadas das trs categorias resulta a palavra Tanak, pela qual os estudiosos costumam denominar o cnon ou lista dos livros da Bblia judaica, constando de 24 livros (segundo o modo judaico de elenc-los, contando respectivamente Samuel, Reis, Crnicas, Esdras-Neemias e os Doze Profetas como um s livro). Os livros bblicos so subdivididos em captulos e versculos. Esta diviso no existia inicialmente. A diviso em captulos data da Idade Mdia (Stephan Langton, 1228), e a diviso em versculos, do incio da Modernidade (Robert Estienne, 1559). Essas divises no correspondem sempre ao sentido do texto; havendo argumentos vlidos, o estudioso dever s vezes desconsidera-las. A numerao dos versculos e captulos pode at exibir diferenas de uma edio da Bblia para outra. Nos grupos de estudo bblicos, freqente constatar que a Bblia do vizinho est um versculo frente da prpria. Quanto aos Salmos, existe uma defasagem entre a numerao da Bblia hebraica e das

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tradues modernas por um lado, e a Bblia grega e latina. No livro de Jeremias, a Bblia grega traz as matrias numa ordem que diverge da Bblia hebraica. Curiosidades Ao comparar as diferentes cpias do texto da Bblia entre si e com os originais disponveis, menos de 1% do texto apresentou dvidas ou variaes, portanto, 99% do texto da Bblia puro. Vale lembrar que o mesmo mtodo (crtica textual) usado para avaliar outros documentos histricos, como a Ilada de Homero, por exemplo; 2. o livro mais vendido do mundo. Estima-se que foram vendidos 11 milhes de exemplares na verso integral, 12 milhes de Novos Testamentos e ainda 400 milhes de brochuras com extratos dos textos originais; Foi a primeira obra impressa por Gutenberg, em seu recm inventado prelo manual, que dispensava as cpias manuscritas; A diviso em captulos foi introduzida pelo professor universitrio parisiense Stephen Langton, em 1227, que viria a ser eleito bispo de Canturia pouco tempo depois. A diviso em versculos foi introduzida em 1551, pelo impressor parisiense Robert Stephanus. Ambas as divises tinham por objetivo facilitar a consulta e as citaes bblicas, e foi aceita por todos, incluindo os judeus; A primeira Bblia em portugus foi impressa em 1748. A traduo foi feita a partir da Vulgata Latina e iniciou-se com D. Diniz (1279-1325); O Salmo 14 e o 53 so iguais; Os livros II Reis cap 19 e Isaas cap 37 so iguais; O versculo que se encontra no meio da Bblia est em Salmo 118:8. Recadinhos baseados na Bblia Acredite em si mesmo. Persista. Grandes vitrias requerem tempo, dedicao e trabalho. Sentimento de inferioridade? Nunca!!! Sempre alegria, bondade, amizade e honradez, para colher a paz. Quem vive preocupado sofre antes que as coisas aconteam. Resolva os problemas do dia, um de cada vez. Antes de concentrar-se nos problemas, fortalea-se nas relaes positivas. Seja tolerante, consigo e com os outros. Os intolerantes terminam solitrios. D o melhor de si aos outros. Ningum to rico que no tenha algo para receber, nem to pobre que no tenha algo para oferecer. Pare um pouco, respire, reflita. Apenas depois aja. No seja precipitado. Se no der hoje, resolva amanh. Trabalhe com amor. Acabe com o pessimismo. Elimine a fofoca. Lembre-se que o seu mau humor no modifica a vida. Apenas a torna mais difcil. Sua irritao no solucionar problema algum. Apenas o tornar maior.

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CARTA ENIGMTICA Decodifique a mensagem abaixo, utilizando seus conhecimentos Prvios sobre a lngua escrita. Para o cumprimento da tarefa, considere que: estabeleceu-se uma nova relao grafema-fonema, que se mantm constante em toda mensagem. As regras de acentuao e de pontuao foram mantidas. As regras ortogrficas e semnticas foram mantidas.

ZQHQ

QRNOUNH Q BDHTQTD, D ODLDAAQHNG, IXQ BDJ OQ BNTQ, TIBNTQH

TD RITG RQORG PIQORG ZGAANBDF. TDALQHRDA

Fenmeno religioso e fundamento religioso Frei Silvestre Gialdi, OFMCap Caxias do Sul, RSExiste uma questo religiosa impertinente, que aparece ao longo dos tempos e nas diferentes culturas religiosas. Trata-se de problemtica entre fenmeno religioso e fundamento religioso: a experincia e a doutrina, o sentimento e a forma, a sensibilidade e a racionalidade, o emocional e a essncia. O fenmeno irrompe, espontaneamente, de forma instantnea e livre. O fenmeno aparece sem uma explicao aparente. uma manifestao da realidade sensvel e simblica. No uma expresso da estrutura, da hierarquia, do poder, da forma e da lgica. Portanto, o fenmeno no faz parte de uma reforma ou de uma proposta estratgica. O fenmeno no provocado, previsto, programado. Aparece por si mesmo, surpreendente, de dentro para fora, do sensvel para a forma, do espontneo para a organizao. O poder constitudo, num primeiro momento, indiferente, depois reage com explicaes superficiais e, por fim, aceita o fenmeno como provocador de mudanas. Ao mesmo tempo, aparece um lder, com mstica pessoal. Abraa e interpreta o fenmeno latente, a partir da pacincia sensvel e dos sinais dos tempos: assume os anseios, os desejos e as utopias do povo. No fenmeno religioso, o novo lder, informalmente e espontaneamente, interpreta as mudanas desejadas a partir do resgate de valores religiosos abandonados, de ritos esquecidos ou de celebraes marginalizadas. Ao mesmo tempo, provoca experincias religiosas afetivas a partir do simblico e do celebrativo. Nesta perspectiva, o importante no a estrutura, a organizao, a hierarquia e a instituio, O importante vivenciar a f, expressa na celebrao espontnea, alegre, jubilosa e

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participativa atravs da msica, do movimento, da dana, do gesto e do canto. Por sua vez, o celebrante, o rito e a forma validam a celebrao. Na virada do milnio, multiplicam-se as experincias religiosas como fenmeno religioso: o surgimento de novas Igrejas e novas expresses religiosas das Igrejas histricas, como o Padre Marcelo Rossi, outros padres e pastores que irrompem como fenmenos religiosos. Na outra ponta, existe a necessidade da doutrina para dar consistncia e legitimar a religio: o fundamento religioso. A doutrina da Igreja Catlica fundamenta-se na revelao bblica, na sagrada tradio e no magistrio da Igreja. A doutrina fundamenta e aponta para o ideal, a utopia, o desejo ltimo. Por sua vez, a pastoral atua sobre o real e na realidade existencial, histrica e cultural. A pastoral conduz a prtica da comunidade e dos membros da comunidade, considerando os seus problemas, as suas necessidades, as suas expresses, culturas, crenas e manifestaes religiosas. A pastoral fundamenta-se no bom pastor. E o bom pastor aquele que se interessa por todas as ovelhas, a partir da desgarrada (Lc 15,4; J0 10,10-14). No dizer do pensador franciscano Duns Scotus o fenmeno cristo se apia no trip: amor, f e ao. Por isso, religio no se assiste de camarote: distncia, do alto, de cima e nos aplausos. E tambm, a religio no nominal: s de nome, na estatstica e nas opinies. Na entrada de uma igreja em Sassuolo, norte da Itlia, encontra-se esta inscrio no mrmore: Esta igreja foi construda com a ofertas dos pobres e com os palpites dos ricos. Crer em Jesus Cristo, na pessoa e na ressurreio, implica atuao, vivncia, participao, presena, cooperao, testemunho e comunho fraterna e comunitria. A prtica da religio no significa limitar-se participao de celebraes alegres, festivas, jubilosas, movimentadas e massivas, importantes mas insuficientes. E, tambm, no significa domesticar as celebraes em rituais sisudos, imveis, mecnicos, lgubres, tristes e pessimistas. A prtica da religio a vivncia do cotidiano com Deus, com os mistrios de Deus, conforme a sua vontade e os seus desgnios. Pois o destino humano segue os passos e os desejos de Deus, desde que a pessoa humana se disponha a andar nos passos de Deus (Gn 33,12-14; SI 5,9). Neste sentido, o pobre, na sua dignidade humana simples, humilde e singela, acolhe com benevolncia, prontido e reverncia a Palavra de Deus e celebra com f os mistrios de Jesus Cristo: encarnao, paixo, morte, ressurreio e eucaristia. Acolhe na sua intencionalidade e no seu corao os desgnios de Deus sem formular perguntas e sem buscar certezas: o pobre acolhe as bem-aventuranas. Ao passo que a riqueza concentradora e opulenta se preocupa com a felicidade. Impulsiona o corao humano auto-suficincia e rebeldia frente s questes existenciais e ltimas da vida: o sentido do sofrimento, a dvida conflitual, o destino, a morte e a transcendncia. A vida humana, na perspectiva da riqueza exploradora, gera a angstia existencial, o medo social e as perguntas sem respostas frente aos mistrios e aos desgnios de Deus. A experincia amorosa, afetiva e apaixonante de Deus valoriza e dignifica as relaes humanas a partir dos sentimentos de amor, solicitude, alegria, benevolncia, gratido e solidariedade. Ao mesmo tempo, purifica as prticas religiosas reduzidas desobriga ou em busca de vantagens e interesses pessoais ( Jo 6,26). Portanto, a prtica e a vivncia da religio no significam competio, onde todos correm na mesma direo, conforme incentivos e prmios. A religio no se entende como debandada, onde cada um corre para um lado em busca de vantagens pessoais. E, tambm, no depredao, onde cada um tira proveito dos esplios. Numa poca de pluralismo religioso e de multiplicao de Igrejas de expresso crist, possvel entender e religio como competio, debandada, ou depredao.

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A religio uma experincia pessoal de f, que provoca converso. E uma vivncia comunitria da prtica celebrativa da f,que gera relaes fraternas e os desejos das bem-aventuranas. Em conseqncia brotam do corao humano sentimentos de estupor, despojamento, gratido, alegria e jbilo. No corao humano Deus se estabelece e faz sua morada (Jo 14,23) e a graa permanece na f (Jo 15,4). A problemtica do fenmeno religioso e do fundamento religioso uma questo impertinente. Na virada do sculo XIX acentuava-se a profisso da f a partir da verdade universal dogmatizada e unilateral, de cima para baixo, sem a possibilidade de considerar os elementos dinmicos , histricos e culturais. A religio pautava-se pelo princpio inquestionvel: Roma locuta, causa finita (Roma falou, est decidido). O problema religioso concentrava-se na condenao do modernismo atravs da Encclica Silabo (1864) de Pio IX. Verificavam-se a ritualizao das celebraes e a moralizao da pregao, tendo o Direito Cannico como fundamento determinante para todas as aes da Igreja Catlica. Hoje, na virada do milnio, acentua-se o interesse pelas questes religiosas. Floresce o fenmeno religioso do surgimento de inmeras Igrejas crists independentes, das filosofias de vida de inspirao oriental e da renovao carismtica catlica. Os movimentos religiosos da virada do milnio acentuam o subjetivismo da f, o simplismo ritual, o simbolismo celebrativo. Destacam-se, tambm, o fundamentalismo, o biblismo, o intimismo, o fanatismo, o pantesmo e o sincretismo religioso. Por sua vez, a Igreja Catlica garante com as culturas, com as religies, com a cincia e com a razo. A Encclica Fades iterativo (1998) de Joo Paulo II torna- se um documento central para a compreenso dos temas sobre a f, a razo e a verdade. O fenmeno religioso irrompe e aparece de forma espontnea e instantnea. E pode desaparecer sem deixar marcas. Faz-se necessrio o fundamento para dar consistncia f e prtica da f, a inteligncia cardes, conforme Duns Cactos: o fundamento do corao (f, graa e inteno) e o fundamento da razo (argumento, doutrina e convencimento). Na virada do milnio, atesta-se, particularmente, a questo impertinente: a multiplicao do fenmeno religioso em muitas vias e a busca do fundamento religioso atravs do estudo, da reflexo e da pesquisa no campo da teologia, da bblia e da cultura religiosa. Texto extrado da Revista: Grande Sinal

Para que ter religio? Muitos indagam: Para qu ter religio? Em sntese: A religio a nica resposta cabal s aspiraes fundamentais do ser humano, pois o eleva ao Transcendental e Absoluto. A tentativa de procurar na cincia e na tcnica a soluo dos anseios congnitos do homem tem decepcionado o cidado de nossos dias: atesta-o ressurgimento da religio nos pases submetidos a regimes ateus como tambm o surto de novas e novas seitas; estas infelizmente so mais emotivas e fantasiosas do que racionais. O indiferentismo religioso de muitas pessoas de nossos dias explica-se, em parte, pelo consumismo, que embota o senso religioso e d ao homem, a impresso de poder saciar-se com os bens materiais: cedo ou tarde, porm, os bens materiais falham, abrindo um vazio no corao do homem, que s Deus pode adequadamente ocupar. Verifica-se tambm que a agitao e as preocupaes do ganha-po, o barulho da civilizao contempornea dificultam ao homem o encontro consigo mesmo no silncio; muitos no esto acostumados ao recolhimento e reflexo o que torna difcil aprofundar o senso religioso inato em tais cidados. 16

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A perda da religio grave dano para os homens, pois se observa que a morte de Deus vem a ser a morte do homem. S. Agostinho: Deus superior sumo meo, intimior intimo meo. Deus mais elevado do que o que tenho de mais elevado e mais ntimo do que o que tenho de mais ntimo.

Experincia ecumnica e de dilogo inter-religiosoUm contributo particular da Cultura Religiosa em nvel superior est ligado diretamente prpria religio. Trata-se da contribuio ao fecundo dilogo entre fiis de diversas confisses crists e destes com membros das religies no crists ou ainda com aqueles que no assumem uma f. Numa classe de 40 ou mais aluno encontra-se um universo ecltico, pelo menos no campo religioso. Assim numa mesma turma, h catlicos (entre os quais esto maioria dos catlicos nem to catlicos assim), e evanglicos de todas as tribos, membros de outras religies no crists (budistas, judeus, muulmanos, bahis), espritas kardecistas, entre outros. O dilogo em sala de aula no se d, talvez, to profundamente no campo teolgico (j que no se trata de uma turma de telogos), mas, sobretudo na relao de profundo respeito pessoa humana. Depois, quanto mais convicto da sua prpria opo religiosa e teologicamente maduro, tanto mais o aluno consegue respeitar as demais opes. E nesse momento que a troca de informaes e experincias da cada convico religiosa torna o estudo ainda mais fecundo. E a experincia ecumnica e de dilogo inter-religioso ainda mais frutfera, segundo Enrique Cambn (3): aprende-se a conhecer e a compreender as diversas culturas e tradies religiosas no que possuem de mais significativo ao mesmo tempo em que se torna maior a sensibilidade experincia da unidade, isto , a valorizao do que une e no do que divide. (1) Coleo Pensar Mundo Unido, Editora Cidade Nova. S. Paulo, 1996. (2) ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. S. Paulo: Cortez Editora, 28 ed., 1993 (3) CAMBON, Enrique. Fazendo Ecumenismo uma exigncia evanglica e uma urgncia histrica. S. Paulo: Ed. Cidade Nova, 1994. () texto publicado no site Boletim Educao, projeto da Unesp-Bauru.

ANTROPOLOGIA CRIST

Definio de Antropologia A antropologia uma cincia que se prope estudar sistematicamente a cultura dos povos. A palavra cultura vem da antiga tradio de cultivar o solo, dessa forma, podemos considerar que cultura a forma que a sociedade, tribo, ou povo se organiza e se comporta para garantir a sua sobrevivncia. Portanto a Antropologia se ocupa no estudo das diferenas culturais com que as pessoas sentem, observam, explicam, comparam, controlam, pensam e agem dentro de um determinado grupo. Podemos dizer tambm que ela estuda os valores, costumes, tradies convices e hbitos especficos de um grupo.

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Definio de Antropologia Crist A antropologia crist estuda o homem tendo em vista que um ser espiritual, criado imagem e semelhana de Deus e possui um sentido eterno em sua existncia. Tem sua base na Palavra de Deus e olha o homem pelo prisma bblico. A antropologia bblica tem sua origem em Ado. Ali no Jardim do den, Ado e Eva receberam uma identidade (o self) pelo prprio Deus. Eles tiveram o entendimento sobre o que era o ser humano com todas as suas atribuies, sejam elas naturais ou espirituais. O constante contato com Deus os fazia conhecer-se a si mesmo. Deus tambm deu um propsito para a existncia a eles (concomitantemente a toda humanidade) no mundo criado por Deus: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos cus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que d semente, que est sobre a face de toda a terra; e toda a rvore, em que h fruto de rvore que d semente, ser-vos- para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos cus, e a todo o rptil da terra, em que h alma vivente, toda a erva verde ser para mantimento. E assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom. (Gn 1:28-31). Como vemos no texto ureo da Criao em Gnesis, Deus cria o mundo e o entrega nas mos do homem. Ou seja, Deus traz existncia do nada o mundo, para trazer posteriormente criar o homem para nele viver e dominar sobre ele, e poder relacionar-se com Deus e no seu propsito final de Seu Plano Eterno adot-lo como filho atravs de Cristo. Antropologia o estudo da humanidade. Christian Antropologia o estudo da humanidade a partir de uma perspectiva crist / bblica. principalmente focada na natureza da humanidade - como o imaterial e os aspectos materiais do homem se relacionam entre si. Aqui esto algumas perguntas comuns na antropologia crist: "A crena religiosa no s a crena em Deus, a crena sobre os seres humanos. E o que inegocivel na f no simplesmente um conjunto de doutrinas sobre o transcendente, mas um conjunto de compromissos a respeito de como os seres humanos so para ser visto e respondido. Nem todo mundo na nossa sociedade tem uma antropologia, uma doutrina da natureza humana, nem todo mundo tem um conjunto de tais compromissos e que provavelmente nunca ser. Mas uma sociedade muito pobre, e uma poltica muito limitada educacional, que assume que voc pode fazer sem a memria de tais doutrinas e compromissos ao redor. Antropologia crist, a viso crist de que os seres humanos esto prestes, assume uma srie de coisas sobre a humanidade que moldam as respostas crists existncia humana. Ele assume que os seres humanos so chamados a responder a uma iniciativa de Deus, que os seres humanos so convocados para dar forma a uma vida que vai se comunicar algo de Deus para os outros, e algo da prpria humanidade a Deus. Assume-se que a humanidade chamada a questionar fices sobre a sociedade eo ser humano em nome de algum 18

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destino maior capacidade ou na humanidade do que a maioria dos sistemas polticos ou filosofias permitem. Ento, bem entendido, a antropologia crist - a doutrina crist da natureza humana - uma daquelas coisas que deveriam reforar na universidade e na sociedade em geral, um conjunto de suspeitas profundas sobre as maneiras em que essa faixa de capacidade humana reduzido por convenincia poltica e convenincia ". A misso da Igreja dirige-se s pessoas, povos, naes e culturas. Enfim pessoa humana, homem e mulher. Este homem/mulher o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento da sua misso: ele o primeiro e fundamental caminho da Igreja, caminho traado pelo prprio Cristo. Sendo misso da Igreja se dirige as pessoas humanas, reais, concretas, histrias e a antropologia o estudo sistemtico do ser humano, ter um conhecimento fundamental desta cincia um dever obrigatrio de todo o missionrio (a). A antropologia (antropos = homem e logos = palavra, estudo) ocupa-se das questes fundamentais do ser humano: quem , qual sua origem e seu destino, como se comporta e porque se comporta de uma forma ou de outra. A antropologia uma cincia de coordenao. No o resultado de partes de cada tipo de cincia, mas uma cincia no sentido pleno. Ela tem um contedo bem determinado: a nossa humanidade. O significado fsico, biolgico, cultural, social, psicolgico e espiritual do ser humano estudado com a finalidade de chegar a uma imagem mais completa possvel e integrada do que entendemos por pessoa. a cincia por excelncia. Tenta compreender o ser humano (homem/mulher) de forma total, completa (holstica). A antropologia olha a humanidade como um todo. Por isso, a cincia coordenadora do ser humano (no s sob o aspecto fsico, biolgico, psicolgico, social, histrico...). Evita o erro dos quatro cegos da antiga fbula indiana, em que cada um descreve como o elefante a partir de sua percepo: O 1 abraou as pernas e achou que o elefante como uma rvore; O 2 tocou a barriga: ficou convencido que ele semelhante a uma parede; O 3 pegou o rabo: igual a uma corda, afirmou; O 4 colocou a mo num dente: e concluiu que como uma lana. O ser humano maior que um ser fsico que pode ser descrito em termos de tomos e de elementos qumicos... Ele muito mais. Tudo deve ser visto numa imagem orgnica, global. Esta a finalidade da antropologia: elaborar uma imagem composta, correlacionada e viva deste ser que chamamos homem, mulher, pessoa. Os antroplogos comportam-se de forma semelhante aos arquitetos que devem construir um prdio grande e complexo: no basta ter s uma planta baixa... mas necessitam de muitas outras e de muitos clculos. antropologia interessa: 1 Todas as caractersticas do ser humano; 2 Os elementos comuns e as suas diferenas; 3 O global: o ser humano de todos os tempos; 4 No s o indivduo, mas o grupo humano organizado e relacionado, a comunidade, a humanidade. Numa palavra, s uma descrio composta, globalmente relacionada e integrada pode exprimir plenamente a magnfica maravilha arquitetnica da realidade dos seres humanos: quem so, de onde

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vm, como se comportam e porque se comportam desse jeito ou de outro, como so semelhantes e, ao mesmo tempo, diferentes: o que significa ser pessoa humana, homem/mulher. Coordenar e integrar as diversas vises cientficas do que significa ser pessoa, descobrir as interrelaes das diversas concepes do ser humano, eis o objetivo da antropologia. Por isto a antropologia considera-se, com direito, cincia do ser humano.A antropologia procura descobrir as inter-relaes entre diversos modelos cientficos do ser humano sistemas culturais

sistemas psicolgicos

sistemas sociais

O SER HUMANO

sistemas religiosos

1. O que homem/mulher? Esta pergunta tem sua origem, em torno do sculo VII a.C., na Grcia. Permanece no centro de todas as expresses culturais: mito, literatura, cincia, filosofia, poltica... o ser singular por ser o interlocutor de si mesmo. Ele o sujeito-objeto e abre-se ao mundo exterior... animal que fala, animal poltico... A filosofia, a partir do sculo V a.C., concentra-se sobre o homem, a fim de compreender sua verdadeira natureza. Conhece-te a ti mesmo o lema no portal do templo dedicado a Apolo, em Delfos. a mxima atribuda a um dos antigos sbios e que se tornou a base do pensamento de Scrates. 1.1. A filosofia grega considerou o homem numa perspectiva cosmocntrica. Tomou o mundo como ponto de observao. Baseava-se no cosmos e inclua o homem nessa perspectiva e nela interpretava qualquer acontecimento histrico. Por isso a posio do homem permanece sempre incerta, subordinada. Ele no o senhor do universo, nem de sua histria. Autonomia, liberdade, so condenadas falncia, pois ele permanece preso s foras do destino, da natureza e da histria. A liberdade uma v aspirao de escapar s garras da morte para alcanar a eternidade. Inteligente, corajoso, forte, sagaz... o homem sente-se envolvido por potncias sobrenaturais mais fortes. o Prometeu acorrentado! Nessa viso temos as concepes elaboradas por Plato, Aristteles, Plotino.

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Digenes rompeu a imagem clssica do grego: O problema do nosso filsofo se expressa inteiramente na clebre frase: procuro o homem, que, como se relata, ele pronunciava caminhando com a lanterna acesa em pleno dia, nos lugares mais cheios. Com evidente e provocante ironia, queria significar exatamente o seguinte: busco o homem que vive segundo sua mais autntica essncia: busco o homem que, para alm de toda extremidade, de todas as convenes da sociedade e do prprio capricho da sorte e da fortuna, sabe reencontrar sua natureza, sabe viver conforme essa natureza e, assim, sabe ser feliz. Uma fonte antiga afirma: Digenes, o cnico, andava gritando repeditamente que os deuses concederam aos homens fceis meios de vida, mas que todavia os esconderam da vida humana. O objetivo que Digenes se props foi exatamente o de trazer vista aqueles fceis meios de vida e demonstrar que o homem tem sempre sua disposio aquilo de que necessita para ser feliz, desde que se saiba dar-se conta das efetivas exigncias da sua natureza. 1.2. O Cristianismo apresenta uma concepo teolgica da tradio bblica com instrumentos conceptuais da filosofia grega. Coloca Deus no lugar do cosmos. Ele d fora e significado a todas as coisas. Dele que o homem/mulher tira sua imagem primeira, Nele que fixa o olhar como seu ltimo fim. Com o Cristianismo abre-se para o homem, e, portanto tambm para reflexo antropolgica, uma nova perspectiva. O fundo sobre o qual se desenvolve a vida humana no mais o da natureza, do cosmos, como para os gregos, mas sim aquele da histria da salvao, ou seja, a histria das relaes entre Deus e a humanidade. Por conseguinte, a reflexo antropolgica dos amores cristos tem como ponto de referncia constante o prprio Deus: uma reflexo, evidentemente, teocntrica. Destacam-se as antropologias de Santo Agostinho (pecado, mal, liberdade, pessoa, autotranscendncia) e de Santo Toms (homem composto de alma e corpo, alma imortal). 1.3. Como incio da poca moderna, a pesquisa antropolgica abandona a impostao cosmo-cntrica dos filsofos gregos e a teocntrica dos autores cristos e se dirige para a impostao antropocntrica: o homem constitui o ponto de partida de onde se origina e, em torno do qual, fica, constantemente polarizada a pesquisa filosfica. Destacam-se Descartes, Espinosa, Comte..., at encontrar a expresso clssica nas clebres questes de Emanuel Kant: - O que posso saber? (teoria do conhecimento); - O que devo fazer? (teoria do tico); - O que permitido esperar? (filosofia da religio); - O que o homem? (antropologia filosfica). 1.4. Na poca contempornea: O homem/mulher uma realidade extremamente complexa, primeiramente na ordem das aes, do agir: conhece, estuda, escreve, fala, trabalha, joga, reza, ama, sofre, diverte-se, come, bebe, etc... Esta complexidade acentua-se ainda mais quando se passa do plano do agir para o do ser: quem este indivduo singular a que chamamos eu, que qualificamos como pessoa? Qual a essncia: quais os elementos constitutivos fundamentais? Qual sua origem primeira e o fim ltimo? O que disseram dele os grandes pensadores?

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A crtica kantiana metafsica, os progressos da cincia, a emergncia da conscincia histrica e outros fatores deram uma reviravolta na investigao antropolgica abandona-se o terreno metafsico para outros terrenos: os da histria, da cincia, da fenomenologia, da religio, etc. De tal modo, obtm-se uma srie de novas imagens do homem, imagens que, frequentemente, suscitam grandes interesses, como os seguintes: - Homem econmico (Marx); - Homem falvel (Ricoeur); - Homem instintivo (Freud); - Homem hermenutico (Gadamer); - Homem angustiado (Kierkegaard); - Homem problemtico (Marcel); - Homem utpico (Bloch); - Homem cultural (Gehlen); - Homem existencial (Heidegger); - Homem religioso (Luckman). Todas estas definies mostram que, nos diferentes aspectos (tcnica, linguagem, jogo, cultura, religio, amor...), o homem/mulher est acima de todos os seres materiais que o circundam e cada um desses aspectos pode ajudar a entender quem o homem/mulher. 2. O homem/mulher na fenomenologia nas suas manifestaes 2.1. Um ser que tem corpo A primeira realidade que o homem/mulher manifesta o corpo perfeitssimo, no seu conjunto como partes, que nos deixa maravilhados e estupefatos. Um corpo, diferentemente dos animais, que est ainda em fase de estruturao. A pessoa humana chega a um poder capaz de manejar seu corpo, adestr-lo e torn-lo apto a realizar movimentos de uma perfeio admirvel. Ex.: o tocador de instrumentos musicais, os danarinos (as)... O homem senhor do seu corpo e, graas a ele, torna-se senhor do mundo. Outra caracterstica sua posio vertical, sinal de vida, de sade, de fora. um ser no mundo. Conhece o mundo e as coisas e a si mesmo, a partir do corpo. Capacidade de ter e de possuir. instrumento do fazer (bem ou mal), a funo moral. Alm disso, o homem/mulher tem, dentro de si, algo que o faz superar os limites do corpo, que o pensamento... 2.2.Um ser que conhece e se conhece Os animais tambm percebem, conhecem. Mas somente o homem/mulher possui a surpreendente faculdade de refletir sobre si mesmo, de ter idias, de julgar, de conhecer, de raciocinar. Conhecer ter conscincia de alguma coisa, por seus sentidos externos e internos. A inteligncia humana tem a capacidade de um conhecimento universal e abstrato (idia de bondade, de virtudes...), de raciocinar e de julgar sobre as coisas e, tambm, sobre si mesmo. Sente-se, no s objeto, mas sujeito. 2.3. Um ser livre que quer e ama Ele no est determinado por fatores externos como acontece com uma pedra ou automvel ou por automatismos como nas plantas e nos animais. A ao do homem/mulher nasce de suas decises: estuda porque quer. Ama porque quer amar... uma vontade que muda (ora estuda, ora brinca...): Que se adapta ao querer dos outros (modo, estmulos, governos...); Que transcende, quer tambm coisas espirituais: virtude, doaes, sacrifcios, martrio...

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Que livre, responsvel por seus atos, liberdade que analisada nas relaes com outros indivduos, com a sociedade, com o Estado... Liberdade condicionada diante dos outros e diante de suas paixes, afetividade... 2.4. Um ser que fala Ser falante o que o distingue dos animais e de qualquer outro ser deste mundo. Os animais tm uma forma de comunicao como meio de sobrevivncia dentro da mesma espcie. O ser humano utiliza a linguagem com a finalidade e modos variados: expresso de si mesmo, dos sentimentos, de desejos, de comunicao, de louvor, de diverso... 2.5. Um ser que vive em sociedade: um ser em relao O homem/mulher um ser essencialmente social e socivel, de relaes. Isso desde o seu aparecimento sobre a terra. Inicialmente, em grupos sociais muito pequenos (famlia, cl, tribo) depois, maiores (aldeia, cidade, Estado) e, hoje, internacionalmente, planetrios. O fenmeno da sociabilidade inato ao homem/mulher, e no uma manifestao casual, passageira. O conhecimento, a linguagem, o corpo, o amor, a liberdade colocam-se na disposio de relacionamento: fazer os outros participantes de sua prpria vida e do seu ser. Ele se distingue claramente dos animais. O que mais importante: o indivduo ou a sociedade? 2.6. Um ser culto Um ser que produz, que faz cultura. Culto no s o que l, estuda... mas tudo o que nasce da criatividade do homem/mulher numa determinada sociedade e num tempo especfico. necessrio distinguir entre natureza e cultura. Um rio natureza. Uma ponte cultura, produto do fazer. A cultura produto de todo um grupo. Por isso, caracteriza o ser social. O homem um ser que trabalha: descobriu o fogo, fonte de energia; a mquina que, mudou a estrutura e a eficcia da produo e das relaes prprias que o trabalho estabelece; hoje a informtica... Trs funes do trabalho: - csmica: mundo - antropolgica: homem - religiosa: Deus 2.7. Um ser que diverte O jogo uma atividade tpica do homem/mulher. Ele inventa jogos e se diverte. As propriedades especficas do jogo so a distrao e o divertimento e a realizao de si mesmo. Quem joga procura dar o melhor de si, por isso, em qualquer jogo, busca-se sempre a vitria. Jogamos para nos divertir e nos divertimos jogando. O jogo o fim de si mesmo e no um meio para conseguir outros objetivos: dinheiro, encargos, honras... (Por isso, para os jogadores profissionais de futebol, de basquete. O jogo no mais jogo, ???). O jogo pertence a uma dimenso humana muito rica que corresponde inteligncia e vontade, ao e habilidade, mas, ao mesmo tempo, implica alegria, satisfao e liberdade. No jogo, o homem/mulher tenta libertar-se dos vnculos sociais, espaciais, temporais que caracterizam sua vida diria. O jogo uma antecipao do reino de liberdade e da alegria, da serenidade e da felicidade subjacente aos sonhos de todas as pessoas.

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2.8. Um ser religioso Uma manifestao tipicamente humana a religio. Ela no est presente nos outros seres vivos, mas somente no homem/mulher. E trata-se de uma manifestao que encontramos na humanidade de todos os tempos e de todos os lugares. Com efeito, os antroplogos nos informam que o homem desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira apario no palco da histria e que todas as tribos e todas as populaes, de qualquer nvel cultural, cultivavam alguma forma de religio. Igualmente, todas as culturas esto marcadas pela religio. Religio vem de religar. Indica a vinculao do homem/mulher com sua origem e seu destino. A meta para qual se dirigem os anseios e as esperanas na religio destinada por um nome: Deus. Ele o significado ltimo da existncia, o Tu, o ideal supremo, o horizonte da caminhada. Este mistrio de Deus concebido e descrito de modos diferentes. Ele o iminente e o transcendente, no mundo, nos seres e tambm acima de todas os seres. A raiz da religiosidade a abertura do homem/mulher para o infinito, pois o ser humano insacivel. Mas, graas a Ele, a humanidade conseguiu viver suas alegrias e esperanas. A religio, a dimenso religiosa, faz parte, constitutiva do ser do homem/mulher: sem ela, a pessoa fica mutilada da dimenso fundamental da prpria existncia. Santo Agostinho, expressou a essncia da dimenso religiosa em sua frmula: Fizeste-nos, Senhor, para Ti e o nosso corao permanece inquieto enquanto no repousa em Ti. Ao anunciar Cristo aos no cristos, o missionrio est convencido de que existe j, nas pessoas e nos povos, pela ao do Esprito, uma nsia mesmo se inconsciente - de conhecer a verdade acerca de Deus, do homem, do caminho que produz libertao do pecado e da morte (Rmi 54). Crticas religio: Das cincias que atribui religio infantilidades e ignorncias pela explicao dos fenmenos naturais (raios, doenas...). Mas a religio no quer explicar os fenmenos da natureza, e sim encontrar o sentido mais profundo da vida. Pelo marxismo tradicional. alienao do mundo real. Justificando as injustias que existem, resta o consolo enganador: a religio, o pio do povo. Esse falso consolo sempre foi manipulado pelos dominadores da sociedade. A histria, porm, mostra o contrrio, pois a religio e os princpios religiosos constituram estmulo de libertao e busca de uma sociedade justa e solidria. A modernidade fragmentou a realidade, tornando-a contraditria. Atribui um valor absoluto economia, ao lucro e ao mercado em todos os nveis. Reduz a religio convico interior, pessoal, invisvel, questo de escolha. Minha religio sou eu. A religio concebida como busca de felicidade imediata, prxima do hedonismo (cf DGAEx, 1999-2002, Doc. 61, cap. 3 e ministrios dos cristos leigos e leigas Doc. 62/1).

3. O homem/mulher imagem de Deus Quem o homem, para que nele penses, e o ser humano, para que dele te ocupes? (Sl 8,5). Diante das diversas opinies que o homem/mulher teve e continua a ter de si mesmo, to diversas e at contraditrias entre si, o Conclio Vaticano II props sua resposta reafirmando o ensinamento bblico

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da criao do homem/mulher imagem e semelhana de Deus (cf. GS 12). Essa relao fundamental com Deus dever ser a primeira a ser ressaltada pela viso crist do homem com prioridade absoluta perante todas as outras questes, embora tambm necessrias. A partir da experincia humana, podem e devem ser feitas afirmaes vlidas sobre o homem, ainda que elas no alcancem a profundidade do plano de Deus. O discurso sobre o homem tem sentido e a teologia deve assumi-lo, o contedo daquelas dimenses que o homem pode alcanar com sua razo vamos cham-las de provisrias e impropriamente naturais nos dado pela graa, pela qual o homem existe. A ordem da criao est orientada para a ordem da graa, mas desta ltima no se deduzem os contedos da primeira. O importante no Gnesis o que nos dito sobre a ao de Deus: Ele cria o homem sua imagem e semelhana: O que Deus quer? O homem, cada homem/mulher, foi criado para existir em relao com Deus. Eis a condio de imagem. No devemos esquecer a condio social do homem: a bissexualidade (cf. Gn 2,18s). O livro do Gnesis volta a falar do homem feito semelhana de Deus em analogia com a gerao de Set (cf. Gn 5,1-3). A condio de imagem um elemento determinante do comportamento interpessoal das pessoas. O salmo 8 mostra-nos o homem/mulher como quase partcipe da condio divina e dominador da criao: tu o coroas de glria e de esplendor, tu o fazes reinar sobre as obras de tuas mos... (vv. 6s). A mensagem do Gnese foi reinterpretada luz de Cristo. Com efeito, a imagem de Deus, segundo o Novo Testamento, o prprio Jesus (2Cor 4,4; Cl 1,15). Esse conceito est relacionado com a teologia da revelao: Jesus, enquanto imagem do Pai, o revela. A idia do homem, que, no Antigo Testamento, aparece como central, agora reinterpretada de maneira cristolgica. Em Cristo fomos eleitos e predestinados antes da criao do mundo (cf. Ef. 1,3ss). E, em Cristo, imagem da Trindade, pois toda Trindade que cria o homem/mulher sua imagem, temos a perfeita concepo da pessoa humana. Ela tem a capacidade de conhecer e amar o Criador, de se relacionar com Deus, com as pessoas e com o cosmos para alcanar a perfeio. luz de Cristo, tudo o que podemos saber sobre o homem por outro caminho, sem dvida no desacreditado, contudo, profundamente reinterpretado. O sentido de sujeito pessoal e livre que somos em nossa comunho com Deus, a nossa liberdade, realiza-se em resposta ao amor de Deus, que nos deu seu Filho. Em Cristo, nossas esperanas so satisfeitas, muito mais do que poderamos imaginar. A relao com Deus e nossa capacidade de conhec-lo e am-lo realizam-se com mediao de Jesus. Jesus o nico que o Pai constituiu Senhor de tudo para que todas as coisas se encaminhem para Ele. A dimenso social do homem tende construo do corpo de Cristo que a Igreja, que se rene imagem da Trindade (cf. LG 4). Esta concepo no diz o que somos a partir de agora, mas o que desde o incio fomos chamados a ser. A cristologia revela o sentido da antropologia; Cristo revela a verdadeira essncia do homem. Ele e sempre foi a nica determinao humana. H uma unidade no projeto divino entre a criao e a salvao (cf. Cl 1,15-20)., A cruz de Jesus mostra-nos at que ponto o homem errou quando pretendeu determinar a si mesmo sem Deus ou contrariamente a seu amor. Com efeito, dir Irineu, nos tempos passados se dizia que o homem foi feito imagem de Deus, mas no parecia tal, porque ainda estava invisvel o Verbo, imagem do qual o homem fora feito: e justamente por isso perdeu facilmente a semelhana. Mas 25

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quando o Verbo de Deus se fez carne, confirmou ambas as coisas: mostrou verdadeiramente a imagem, tornando-se ele mesmo o que era sua imagem, e restabeleceu integralmente a semelhana, tornado o homem semelhante ao Pai invisvel por meio do Verbo que se v (Adv. Haer. V 16,2). A esse respeito, Tertuliano tem uma frmula, citada pelo conclio Vaticano II (GS 22, nota 10): Naquilo que se exprimia do barro, era pensado Cristo que devia fazer-se homem. 3.1. Homem/mulher: um ser sobrenatural Uma dimenso essencial da relao do homem com Deus seu chamado comunho com Deus em Jesus Cristo. Esta uma dimenso que vai alm da condio criatural, pois se refere a uma relao com Deus em seu Filho Jesus Cristo e no Esprito e, portanto, nos coloca no mbito da vida divina. Portanto, existem relaes no ser do homem/mulher, aspectos que ultrapassam o que seu ser de criatura ou sua natureza, de qualquer forma, podem ser por si mesmos. Como criaturas, somos puros dom da liberdade divina. Ningum pode invocar o direito de ser. Alm disso, fomos criados em e por Cristo, e nosso destino o nico que temos, a participao na prpria vida de Deus. 3.2. O homem/mulher pecador pecado original O homem/mulher pecador, no s porque peca pessoalmente, mas porque se acha inserido numa histria de pecado,que, segundo as narrativas bblicas, tem incio no princpio da histria e abrange toda a humanidade. o pecado original, pecado no incio da histria e dos seus efeitos que sofre cada homem e toda a humanidade. A doutrina do pecado original nada que o aspecto negativo da solidariedade dos homens e mulheres em Cristo. Ela pressupe ao mesmo tempo em que o homem/mulher tenha sido criado por Deus na graa, que desde o primeiro momento Deus tenha oferecido ao homem sua amizade. Somente partindo disso que tem sentido falar de pecado como ruptura da aliana com Deus, da comunho com Ele. 3.3. Homem/mulher na graa de Cristo salvao universal O homem/mulher foi criado imagem de Deus para chegar a realizar a perfeita semelhana. Tudo isto favor, graa. dom maior que se possa imaginar. O Dom de Deus Deus mesmo, que se d em Jesus Cristo, seu Filho e no Esprito Santo. O homem da graa o homem/mulher a que o prprio Deus se comunica em seu amor infinito. Cristo a graa, a Epifania do amor de Deus aos homens (Tt 2,11s; 3,4-7). A graa, segundo So Paulo, o prprio Jesus Cristo (cf. as frmulas de saudao Rm 16,20; 1Cor 16,23;2Cor 13,13...). A graa o mbito em que se evidencia a gratuidade do amor divino que torna possvel a verdadeira liberdade. Essa graa foi dada em Jesus, no qual temos a redeno dos pecados. Graas a Ele somos incorporados ao prprio Jesus (cf. Ef 2,5.7s). Para Paulo, a graa , tambm, dom do apostolado, a misso recebida de Deus, de que no pessoalmente digno (cf. Rm 1,5; 12,3; Gl 1,15). A vontade salvfica de Deus universal (cf. 1 Tm 2,4). A oferta da graa feita a todos. claro que Deus quer a resposta de todos a seu convite. Ele enviou seu Filho. Isto prova de amor infinito (cf. Jo 3,16-17). Tudo isto compreendido em Cristo, centro da histria. 26

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3.4. Consumao escatolgica Existe, por um lado, o plano de Deus para o homem/mulher e para o mundo a plenitude da obra de Deus cuja realizao comea com a criao e tem em Cristo seu ponto culminante, seu sentido e seu cumprimento. Por outro, o homem/mulher, destinatrio do plano salvfico de Deus, deve receber sua plenitude a plenitude do homem/mulher que agora s possui em forma de primcia e na esperana. Estas duas dimenses esto intimamente unidas e se condicionam reciprocamente. Mas o ponto ltimo Jesus, nEle est a salvao e a plenitude. Jesus o evento escatolgico, luz do qual devem ser considerados todos os contedos da esperana crist. Ele o revelador do Pai e o nico mediador que nos leva a Ele. Este o objeto da esperana crist. Esta a mensagem da salvao. Mas esta plenitude, em que temos esperana, uma plenitude j possuda, em primcia, mas realmente. No poderamos ter esperana naquilo que no temos nenhuma idia. A salvao de Cristo j conhecida por ns, vivida e experimentada na f, que professamos no Creio, na Igreja, nas celebraes da Eucaristia. O centro do futuro a manifestao gloriosa do Nosso Senhor Jesus Cristo, fim e consumao de sua obra salvfica. A parusia de Jesus integra o mistrio nico da vinda de Cristo ao mundo para a salvao de todos. O nico movimento de amor do Pai em nossa direo, que leva a enviar se Filho, se articula nos diversos momentos da encarnao, da vida de Cristo, do mistrio pascal e da manifestao gloriosa do Senhor. A parusia, enquanto manifestao do domnio e do reino de Cristo ressuscitado, significa, tambm, a ressurreio de todos (as). Em sua manifestao gloriosa, Cristo, primcia dos ressuscitados, ressuscita tambm a todos os seus (cf. 1 Cor 15,20-28; Ts 4,14-18; Fl 3,21). Se a ressurreio de Jesus compreende sua humanidade inteira, nenhum aspecto ou dimenso de nosso ser pode ficar margem da salvao. Tambm ns devemos participar da glria do Senhor de modo completo. A f na ressurreio confere ao cristianismo sua especificidade, ento, como agora, em relao esperana da vida eterna do homem/mulher. E no podemos esquecer que, para o Novo Testamento, a ressurreio foi antecipada no batismo e j uma realidade, embora escondida, para aqueles que crem em Jesus (cf. Rm 6,4-11; Cl 2,12; 3,1-4; Jo 5,24-25; 11,25-26). Se o domnio de Cristo ressuscitado universal, tambm a ressurreio deve atingir a todos e em todos os aspectos de ser humano. Na tradio crist, a idia de ressurreio tem a ver com a corporeidade humana. No podemos ser totalmente ns mesmos se essa dimenso est ausente de nosso ser. O corpo ressuscitado o corpo em que desaparecem todas as ambigidades que caracterizam agora nossa existncia corprea: o corpo pneumtico, repleto de Esprito, plenitude de comunicao e de expresso, o corpo plenamente personalizado, e no mais objeto, como pode ser neste momento. A ressurreio implica uma plena identidade com ns mesmos e uma plena possibilidade de comunho com os outros. Tanto uma como outra so aspectos inseparveis de nosso ser pessoal, que, na ressurreio e por obra do Esprito Santo, recebe suas mximas potencialidades. Relacionada com a questo da ressurreio corporal est, sem dvida, tambm a questo da transformao do cosmos. Tanto a Antigo como o Novo Testamento nos falam de novos cus e de uma nova terra. (cf. Is 65,17-21; 2Pd 3,13; e sobretudo Rm 8,19-23). O domnio do Senhor 27

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ressuscitado no conhece fronteiras. No se trata somente de uma transformao do cosmos como tal, mas de transformao do cosmos como elemento da plenitude do homem. Se o homem no homem sem relao com o cosmos, ento tambm sua plenitude inclui uma nova relao com o mundo transformado. No devemos esquecer tambm que o mundo material no apenas a criao de Deus, mas que tambm incide sobre ele o trabalho e a ao humana, em seus diferentes aspectos. Qual o valor escatolgico da ao do homem sobre o mundo? O Conclio Vaticano II (GS 39) aborda esse problema de modo equilibrado. O progresso humano no pode ser confundido com o Reino de Deus e seu crescimento, e, por outro lado, tampouco se pode afirmar que este nada tenha a ver com aquele. A esperana do mundo futuro deve antes reavivar a responsabilidade cristo pelo presente. A caridade e os seus frutos tm, segundo o Conclio, um valor permanente. Os valores da dignidade humana e da comunho fraterna, os frutos da natureza e tambm os de nosso esforo, difundidas segundo o Esprito do Senhor, ns os reencontraremos, embora transformados e purificados de toda mcula. Evangelizar comunicar a novidade humana: os evangelizadores so as comunidades e os missionrios que mostram em si prprios o advento de um homem novo. A evangelizao desperta a vida, leva as pessoas e comunidades a entrarem num dinamismo novo. Quem nada fazia, comea a agir, quem agia de acordo com as estruturas de um mundo velho, corrupto, injusto, de denominaes e destruies, comea um mundo novo de novos relacionamentos. Assim como Deus criou pela fora da sua palavra, assim esta nova palavra tem fora para criar de novo. Como ao, a evangelizao consiste em ir ao encontro do outro, pessoas, multides, grupos ou povos. Evangelizao torna-se prxima (cf. Lc 10,29-37). Os evangelizados, pessoa ou comunidade, descobre-se e se expe ao encontro com o outro. Desse modo ele invade de certo modo o mundo do outro. Mas no para dominar e sim para oferecer e servir. No invade com sua fora e sim a sua fraqueza, no com atitude de superioridade e sim inferioridade. Por isso somente na pobreza que se pode evangelizar. Bibliografia 1. COMBLIN, J. Antropologia crist. Vozes, 1994. 2. LADARIA, L. Introduo antropologia Teolgica. Loyola, 1998. 3. MONDIN, B. Antropologia teolgica. Paulinas, 1986. 4. RAMPAZZO, L. Antropologia, Religies e Valores Cristos. Loyola, 1996. 5. VAZ, H. C. L. Antropologia filosfica. 2 Vol. Loyola, 1991. 6. LUZBETAK, L. Chiesa e culture. EMI, bologna, 1991. 7. JOO PAULO II. Redemptori Hominis. 1979.

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EMENTRIODisciplina: CULTURA TEOLGICA Professor (a): Termo: 1 APARECIDA SEBASTIANA PEDROSO TOCCHIO Perodo Letivo: Aulas Semanais: noturno 2 1 - EMENTA A experincia religiosa: fenmeno e evoluo histrica. O fenmeno religioso, com sua linguagem especfica e com especial ateno experincia religiosa individual: O aspecto social da religio e as funes que ela exerceu e exerce na transformao da sociedade com especial ateno crise da religio na modernidade e s perspectivas contemporneas. 2 - OBJETIVOS Perceber as fontes de valores ticos universais, capazes de dar sentido vida e elevar as pessoas ao melhor de si prprias. Compreender,como vivncia e prtica presente em todas as culturas e em todas as pocas da histria humana, que a religio est ligada a todos os campos do saber: s artes, poltica, filosofia, cincia... Auto- conhecimento Bibliologia AT - NT - Antropologia Crist - Escatologia do homem - Escatologia do mundo Celebrando a Escatologia do Homem - Histria da Igreja - Cristologia I e II- Mariologia Estudo especfico das grandes religies - Dilogo entre as culturas e as religies - Ecumenismo Carga Horria: 40

O fenmeno religiosoTpico 1- Auto-conhecimento Tpico 2 Bibliologia I e II Histria da igreja Cristologia Tpico 3 Antropologia Crist Escatologia do homem Escatologia do mundo Tpico 4 3. Viso geral das grandes religies 4. Islamismo Cristianismo - Judasmo Tpico 5 Ecumenismo Dilogo entre as culturas e as religies Fenmeno religioso CRONOGRAMA DA DISCIPLINA

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5 METODOLOGIA Aulas expositivas dinmicas de grupo trabalho em grupo exposio de trabalhos

6 AVALIAO Exemplo: 8. Nota 1: apurada atravs de 5 trabalhos (t1, t2, t3, t4, t5) realizados em sala de aula at o final do ms de maio. Cada trabalho tem nota mxima de 2,0 pontos. A Nota 1 ser a somatria das notas dos cinco trabalhos: t1 + t2 + t3 + t4 + t5 = mximo 10,0 pontos. 9. Nota 2: apurada atravs de prova bimestral. Nota mxima: 10,0 pontos 10. Nota 3: apurada atravs dos trabalhos das grandes religies ( pesquisa). 11. Nota 4: apurada atravs das apresentaes dos trabalhos (sala de aula). 12. Nota 5: apurada atravs de prova regimental segundo calendrio da instituio 13. Mdia semestral: Nota 1 + Nota 2+Nota3 + Nota 4 + Nota 5 5 14. Considera-se aprovado e dispensado do exame final o aluno que, no trmino do semestre letivo, atravs da mdia aritmtica simples das notas dos dois sub-perodos, alcance nota igual ou superior a 7,0 (sete). Submete-se a exame final o aluno que tenha obtido mdia das notas dos dois sub-perodos no inferior a 3,0 (trs). 15. EXAME: matria de todo perodo letivo. Composio da nota do exame: 10 questes objetivas no valor de 1,0 ponto para cada questo respondida corretamente. 7 BIBLIOGRAFIA Referncias bibliogrficas - bsica Cisalpino, Maurilo Religies So Paulo : Sipione. 1994 Aamral, L. et. Al. Nova Era: Um desafio para os Cristos. 2 ed. So Paulo: Paulinas. 1994 Valentini, alberto Cristiano e Marxismo: o homem, um ser social. Porto alegre: Sulina. 1971. Comblin. J antropologia Crist. Petrpolis: Vozes 1985. Paleri Georgio Religies do povo. Um Estudo a Inculturao. So Paulo AM 1990. Referncias bibliogrficas complementar Armstrong, Karen Uma histria de Deus. Companhia das Letras 2001. Albert Samuel, As religies hoje. 2 ed. Paulus 2003 PROJETO PEDAGGICO E COMPLETAR - atividades extra-classe para aprofundamento Antropologia crist, visita a Engenheiro Taveira Antropologia do mundo ( viagem no Barco) A professorinha Estudo especfico das grandes religies, visita s cidades Histricas Ouro Preto, Tiradentes... Mesquistas em So Paulo, Aparecida do Norte Araatuba, 10 de fevereiro de 2012 ______________________________ Prof.(a) Aparecida Tocchio

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Trabalhos com valor de 2.0 pontos 1. 2. 3. 4. 5. Produo de texto: Quem sou? Resenha Questes contextualizadas Analogia : O homem filho do obstculo Haicai

A soma dos 5 trabalhos igual a 10 pontos

Trabalho sobre as religies ( 20 pontos); A B1 ser assunto da apostila; (10 pontos); A B2 ser assunto das grandes religies(10 pontos);

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