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NÚCLEO ESTADUAL DE JOVENS E ADULTOS-CULTURA POPULAR CONSTRUINDO UM NOVO MUNDO APOSTILA DE LITERATURA ENSINO MÉDIO MÓDULO 08 PROFª: ELAINE MARIA EITELWEIN

APOSTILA DE LITERATURA - neejaportela.com.br · tradição clássica -, assume em nossa literatura a conotação de um movimento anticolonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição

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NÚCLEO ESTADUAL DE JOVENS E ADULTOS-CULTURA POPULAR

CONSTRUINDO UM NOVO MUNDO

APOSTILA DE LITERATURA

ENSINO MÉDIO

MÓDULO 08

PROFª: ELAINE MARIA EITELWEIN

ARCADISMO:

O Arcadismo brasileiro originou-se e teve expressão principalmente em Vila

Rica (hoje Ouro Preto), Minas Gerais, e seu aparecimento teve relação direta com o

grande crescimento urbano verificado no século XVIII nas cidades mineiras, cuja vida

econômica girava em torno da extração de ouro.

Os escritores brasileiros desta época comportavam-se em relação ao Arcadismo

importado de Portugal de modo peculiar. Por um lado, procuravam obedecer aos

princípios estabelecidos pelas academias literárias portuguesas ou seja se inspiravam em

certos escritores clássicos consagrados ,como Camões. Por outro lado, porém, acabaram

por apresentar em suas obras outros aspectos como a natureza e a expressão dos

sentimentos é mais espontânea e menos convencional.

Além dessa espécie de adaptação ao modelo europeu a peculiaridades locais, não

se pode esquecer a forte influência barroca exercida no Brasil durante o século XVIII.

PRINCIPAIS POETAS ÁRCADES:

Claudio Manuel da Costa:

Considerado o iniciador do arcadismo no Brasil, com a publicação de “OBRAS”

(1768). Nasceu em 1729 e formou-sebacharel em direito na Universidade de Coimbra.

Estabeleceu-se em Vila Rica (MG). Quando os inconfidentes foram delatados, foi preso

e encontrado enforcado na prisão onde aguardava julgamento. Publicou, ainda, um

poema épico: Vila Rica, de valor histórico que literário.

Tomás Antônio Gonzaga:

Formou-se em Coimbra. Preso como inconfidente, foi deportado para

Moçambique, onde reconstitui a vida. Lá faleceu em 1810. Obras: “Marilia de Dirceu (

reconstituem a paixão do poeta pela jovem Maria Dorotéia de Seixas), Cartas Chilenas (

texto satírico em que os desmandos morais e administrativos do governador da

Capitania de Minas, chamado de Fanfarrão Minésio).”

Basílio da Gama:

Sua mais conhecida obra é o Uruguai, cuja divisão segue a de um poema épico.

O centro narrativo gira em torno da luta travada entre índios que viviam nas Missões

dos Setes Povos (Uruguai) e um exército luso-espanhol, incumbido de transferir tais

terras para os portugueses e a Colônia de Sacramento para os espanhóis, o que dispunha

o Tratado de Madri (1750). O trecho mais conhecido é o episodio em que é narrada a

morte da índia Lindóia.

Santa Rita Durão:

Frei de Santa Rita Durão também se dedicou a poesia épica. Celebrizou com a

obra “ O Caramuru”, que desenvolveu história do desconhecido e da conquista da Bahia

por Diogo Correia. Português que naufragou na região.

Principais características do Arcadismo:

Predomínio da razão;

Universalismo;

Objetivismo;

Materialismo, cientificismo;

Universalismo, nativismo;

Respeito às formas fixas;

Sobriedade na adjetivação e na figuração;

Vocabulário e síntese com influencialusitanas;

Gosto pelo decassílabo;

Imitação da cultura clássica grego-latina;

Natureza com pano de fundo para idílios amorosos;

Belo artístico equivalente à imitação perfeita dos modelos clássicos;

Paganismo;

Mulher idealizada, distante abstrata;

Amor convencional, racionalizado; Gosto pela claridade; Conhecimento,

Erudição.

O Arcadismo se caracteriza pelo estilo simples, ordem direta, expressão clara e

inteligível, palavras e expressões que retomam a Antiguidade Clássica e exaltação da

natureza.

Liria XV ( 2ª parte)

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,

Fui honrado Pastor da tua aldeia;

Vestia finas lãs, e tinha sempre

A minha choça do preciso cheia.

Tiraram-me o casal, e o manso gado,

Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.

Tomás Antônio Gonzaga- Marília de Dirceu

O ROMANTISMO NO BRASIL – A POESIA

A história do Romantismo no Brasil confunde-se com a própria história política

brasileira da primeira metade do século passado. Com a invasão de Portugal por

Napoleão, a Coroa portuguesa muda-se para o Brasil em 1808 e eleva a colônia à

categoria de Reino Unido, ao lado de Portugal e Algarves.

As consequências desse fato são inúmeras. A vida brasileira altera-se

profundamente, o que de certa forma contribui para o processo de independência

política da nação. Dentre essas conseqüências, “a proteção ao comércio, à indústria, à

agricultura; as reformas do ensino, criações de escolas de nível superior e até o plano,

que se realizou, de criação de uma universidade; as missões culturais estrangeiras,

convidadas e aceitas pela hospitalidade oficial, no setor das artes e das ciências; as

possibilidades para o comércio do livro; a criação de tipografias, princípios de atividade

editorial e da imprensa periódica; a instalação de biblioteca pública, museus, arquivos; o

cultivo da pela oratória religiosa e das representações cênicas”.

A dinamização da vida cultural da colônia e a criação de um público leitor

(mesmo que, inicialmente, de jornais) criam algumas das condições necessárias para o

florescimento de uma literatura mais consistente e orgânica do que eram as

manifestações literárias dos séculos XVII e XVIII.

Quem deixa o trato pastoril, amado

Pela ingrata, civil correspondência,

Ou desconhece o rosto da violência,

Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos

transladado

No gênio do pastor, o da inocência!

E que mal é no trato, e na aparência

Ver sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;

Aqui sempre a traição seu rosto

encobre;

Um só trata a mentira, outro a

verdade.

Ali não há fortuna, que soçobre;

Aqui quanto se observa, é

variedade:

Oh ventura do rico! Oh bem do

Pobre.

CLAUDIO MANUEL DA COSTA (1996)

Trato: (do latintrach):

região também pode

ser entendido como

comportamento

maneiras.

Civil

correspondência:

comportamento

urbano, a cidade;

Traslado:

transportado,

transformado;

Cortesão: homem que

vive na corte, aqui

homem que vive

urbano.

A Independência política, de 1822, desperta na consciência de intelectuais e

artistas nacionais a necessidade de criar uma cultura brasileira identificada com suas

próprias raízes históricas, lingüísticas e culturais.

O Romantismo, além de seu significado primeiro – o de ser uma reação à

tradição clássica -, assume em nossa literatura a conotação de um movimento

anticolonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição à literatura produzida na época

colonial, em virtude do apego dessa produção aos modelos culturais portugueses.

Portanto, um dos traços essenciais de nosso Romantismo é o nacionalismo, que

orientará o movimento e lhe abrirá um rico leque de possibilidades a serem exploradas.

Dentre elas se destacam: o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica,

folclórica e linguística, além da crítica aos problemas nacionais – todas elas posturas

comprometidas com o projeto de construção de uma identidade nacional.

Primeira Geração: a busca nacional

Gonçalves de Magalhães talvez seja considerado o introdutor do Romantismo no

Brasil, mas foi, na verdade, Gonçalves Dias quem implantou e solidificou a poesia

romântica em nossa literatura. Sua obra pode ser considerada a realização de um

verdadeiro projeto de construção da cultura brasileira.

Filho de um português e de uma Cafuza, Gonçalves Dias (1823-1864) fez seus

primeiros estudos no Maranhão, seu Estado Natal e completou-os em Coimbra onde

cursou Direito. De volta ao Brasil,em 1845, já trouxe em sua bagagem boa parte do seus

escultores. Fixou-se no Rio de Janeiro e ali publicou sua primeira obra: Primeiros

Contos(1857) seguidas por outras publicações como Segundos Contos e Sextilhas de

Frei Antão(1848) Últimos Contos(1851) e os Timbiras(1857).

Fez várias viagens pelo país, incluindo a Amazônia, tendo chegado a escrever

um dicionário da língua Tupi.

Poesia nativista:

Intenção de divulgar uma identidade nacional que promovesse o sentimento

de amor à pátria e se libertasse das influências literárias portuguesas.

Resgate do índio e da natureza como símbolos de caráter nacional.

Influência dos textos dos participantes das missões estrangeiras e da

independência política.

Os poetas tinham um olhar idealizado da pátria, pois estavam vivendo no

exterior, o que deu um tom exagerado de saudade à produção literária deste

período.

Exemplo de poema nativista:

O poema abaixo é um exemplo de poema nativista, a natureza e a beleza da nova

nação estão sendo mostradas para que, quem mora no Brasil passe a ter orgulho do país

onde vive e passe a respeitá-lo diante de outros locais.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Emcismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar sozinho, à noite

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Poesia Indígena:

É sabido que o índio teve papel relevante no romantismo brasileiro. Sabe-se

também que esse mesmo índio dentro da vertente romântica possui atributos de

perfeição, um ser idealizado, cujo comportamento seria reflexo do modelo ideal da

“nobre civilização” branca. Na Europa essa idealização deu-se através da mitificação

dos heróis da Idade Média, tida como uma época de glórias, período pelo qual se

formaram as grandes nações.

Como não houve “Idade Média” no Brasil, elegeu-se o índio para exercer a

função de um nobre e ostentoso cavaleiro medieval. De acordo com o ensaísta Eugênio

Gomes, é especificamente no poema I - Juca Pirama que o índio perde a sua “riqueza”.

Afirma ele: “...é atribuído a tribos dos Timbiras um sentimento que eles não tiveram

jamais: a compaixão”.

Na Literatura brasileira, o papel do herói foi ocupado pelo indígena,

identificado, por seus valores positivos, como o cavaleiro medieval. É o caso de Peri,

personagem de O Guarani. Na visão romântica de mundo, o indígena se recobre de

valores positivos, heroicos, e vive em um ambiente fabuloso, de beleza paradisíaca e de

grandiosos perigos. Para compor esse retrato, o autor romântico recorre a fortes doses

de fantasia e tenta emocionar os leitores exagerando na expressão dos sentimentos.

O termo a seguir é o canto IV de I- Juca-Pirama. Conforme as tradições

indígenas, o prisioneiro é preparado para um cerimonial antropofágico em que serão

vingados os mortos timbiras. Ao lhe pedirem, como próprio do ritual, que cante seus

feitos de guerra e que se defenda da morte, o prisioneiro responde aos inimigos.

I – Juca Pirama

Meu canto de morte

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi

Já vi cruas brigas,

De tribos imigas,

E as duras fadigas

Da guerra provei;

Nas ondas mendaces

Senti pelas faces

Os silvos fugaces

Dos ventos que amei.

Andei longes terras

Lidei cruas guerras,

Vaguei pelas serras

Dos vis Aimorés;

Vi lutas de bravos,

Vi fortes - escravos!

De estranhos ignavos

Calcados aos pés.

E os campos talados,

E os arcos quebrados,

E os piagas coitados

Já sem maracás;

E os meigos cantores,

Servindo a senhores,

Que vinham traidores,

Com mostras de paz.

Aos golpes do inimigo,

Meu último amigo,

Sem lar, sem abrigo

Caiu junto a mi!

Com plácido rosto,

Sereno e composto,

O acerbo desgosto

Comigo sofri.

Meu pai a meu lado

Já cego e quebrado,

De penas ralado,

Firmava-se em mi:

Nós

ambos,mesquinhos,

Por ínvios caminhos,

Cobertos d’espinhos

Chegamos aqui!

O velho no entanto

Sofrendo já tanto

De fome e quebranto,

Só qu’ria morrer!

Não mais me contenho,

Nas matas me

embrenho,

Das frechas que tenho

Me quero valer.

Então, forasteiro,

Caí prisioneiro

De um troço guerreiro

Com que me encontrei:

O cru dessossego

Do pai fraco e cego,

Enquanto não chego

Qual seja, - dizei!

Eu era o seu guia

Na noite sombria,

A só alegria

Que Deus lhe deixou:

Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Que filho lhe sou.

Ao velho coitado

De penas ralado,

Já cego e quebrado,

Que resta? - Morrer.

Enquanto descreve

O giro tão breve

Da vida que teve,

Deixai-me viver!

Não vil, não ignavo,

Mas forte, mas bravo,

Serei vosso escravo:

Aqui virei ter.

Guerreiros, não coro

Do pranto que choro:

Se a vida deploro,

Também sei morrer.

Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p.119-

122)

O poema tem esse nome, pois conta a historia de um jovem guerreiro tupi, cuja

tribo havia sido dizimada pelos brancos. Sobreviveram apenas ele e seu pai cego e

doente. Um dia, o jovem cai prisioneiro de uma nação inimiga e antropófaga, os

Timbiras, que acreditam que se alimentar de carne de um bravo inimigo os faz mais

fortes. Por isso, exigem que o prisioneiro diga quem é e morra lutando contra guerreiros

aimorés. No canto IV, o jovem responde aos timbiras quem é, chora e pede para ser

libertado para cuidar do pai, velho e doente. Afirma, no entanto, que voltarás para se

entregar e lutar como guerreiro, assim que o pai falecer.

O jovem é então libertado pelo chefe dos Timbiras e vai ao encontro do pai.

Este, no entanto, percebe que o filho estava sendo preparado para a morte: sente cheiro

de tinta e percebe os ornamentos do ritual de morte. Obriga, então o filho a retornar com

ele à nação inimiga e, lá pede que o ritual se cumpra, que o jovem seja sacrificado. O

chefe dos Timbiras, porém, se nega a atendê-lo, afirmando que o rapaz é fraco e

covarde, pois chorou na presença da morte. (ler cantoVIII).

Segunda Geração: O Mal do Século

Álvares de Azevedo (maior representante), Junqueira Freire, e Fagundes Varela.

As décadas de 50 e 60 do século XIX, durante o Romantismo, jovens poetas

universitários de São Paulo e Rio de Janeiro reuniram-se em um grupo, dando origem à

poesia romântica brasileira conhecida como Ultrarromantismo. Sem acreditar nas idéias e

valores que levam a revolução Francesa e sem ter nenhum outro projeto no qual se apegasse,

essa segunda geração sentia-se como uma geração perdida, È a forma encontrada para

expressar seu pessimismo e seu sentimento de inadequação á realidade foi, no plano pessoal,

levar uma vida desregrada, dividida entre estudos acadêmicos, o ócio, os casos amorosos e a

leitura de obras como as de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitava.

Plano literário - essa geração caracterizava-se pelo espírito do mal do século, uma

onda de pessimismo doentio que se traduzia no apego a certos valores decadentes, como a

bebida e o vício, na atração pela noite e pela morte. Álvares de Azevedo acrescentava a isso

temas macabros e satânicos. Desprezam temas com o nacionalismo e o indianismo.

Acrescentam temas como subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliado a

experiência de sondagem interior e preparação o terreno para investigação psicológica

que, três décadas mais tarde, iria caracterizar o Realismo.

Álvares Azevedo (1831-1852), fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o

5º ano de Direito em São Paulo sofreu um acidente (queda de cavalo), cujas complicações o

levaram a morte antes de completar 21 anos. Cultivou a poesia, a prosa e o teatro.

A característica intrigante em sua obra reside na articulação do consciente de um

projeto literário baseado na “contradição”. Nela aparece um mundo decadente, povoado

de viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculo e sem destino.

Observe nos exemplos abaixo

Lira dos Vinte anos

3- TERCEIRA GERAÇÃO:

A POESIA CONDOREIRA: CAS

Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,

Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma fria

Pela maré das águas embalada...

- Era um anjo entre nuvens d'alvorada,

Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...

Negros olhos, as pálpebras abrindo...

Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti - as noites eu velei chorando,

Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Álvares de Azeredo (1982)

Quanto ao amor, às obras dos ultra-

românticos apresenta uma visão dualista,

que envolve atração e medo, desejo e

culpa.

Vagabundo

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,

Fumando meu cigarro vaporoso;

Nas noites de verão adoro estrelas;

Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;

Mas tenho na viola uma riqueza:

Canto à lua de noite serenatas,

E quem vive de amor não tem pobreza.

(...)

Tenho por meu palácio as longas ruas;

Passeio a gosto e durmo sem temores;

Quando bebo, sou rei como um poeta,

E o vinho faz sonhar com os amores.

Terceira Geração: Condoreira/ Social.

Castro Alves (1847-1871) é considerado a principal expressão condoreira da poesia

brasileira. Nascido em Muritiba, na Bahia, estudou direito em Recife e em São Paulo. A sua

obra representa, na evolução da poesia romântica brasileira, um momento de maturidade e

de transição. Maturidade em relação a certas atitudes ingênuas das gerações anteriores, como

a idealização amorosa e o nacionalismo ufanista, substituídas por posturas mais críticas e

realistas.

Em seu percurso como escritor e estudante de direito, no Recife e em São Paulo,

castro Alves foi personalidade importante não apenas no cenário literário da época: o poeta

dos escravos participou ativamente de grupos abolicionistas e republicanos, tornando-se uma

espécie de porta-voz da abolição da escravatura.

A canção de Gilberto Gil, composta quase um século depois de a escravatura ser

abolida, o que ocorreu em 1888, denuncia o preconceito em relação aos afrodescendentes e a

desigualdade existente em nossa sociedade. Também no século XIX, ainda durante a

escravidão, autores fizeram da literatura um meio para denunciar a situação em que vivia o

escravo no Brasil.

A mão da limpeza ( Gilberto Gil)

O branco inventou que o negro

Quando não suja na entrada

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Que mentira danada, ê

Na verdade a mão escrava

Passava a vida limpando

O que o branco sujava, ê

Imagina só

O que o branco sujava, ê

Imagina só

O que o negro penava, ê

Mesmo depois de abolida a escravidão

Negra é a mão

De quem faz a limpeza

Lavando a roupa encardida, esfregando o chão

Negra é a mão

É a mão da pureza

Negra é a vida consumida ao pé do fogão

Negra é a mão

Nos preparando a mesa

Limpando as manchas do mundo com água e

sabão

Negra é a mão

De imaculada nobreza

Na verdade a mão escrava

Passava a vida limpando

O que o branco sujava, ê

Imagina só

O que o branco sujava, ê

Imagina só

Êta branco sujão.

Vejamos um trecho de seu poema mais conhecido: “O navio negreiro”:

(Tragédia no mar)

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

ALVES, Castro. Espumas flutuantes. in Poesias Completas. São Paulo : Ediouro, s.d.

A poesia lírica

Embora a lírica amorosa de Castro Alves ainda contenha um ou outro vestígio do

amor platônico e de idealização da mulher, de modo geral ela representa um avanço

decisivo.

Castro Alves foi o fundador da poesia social e engajada no Brasil (poesia engajada é

toda aquela que se coloca a serviço de uma causa política ideológica procurando ser uma arte

de contestação e conscientização).No século XX, vários poetas deram continuidade a

suatradição: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Thiago de Melo e outros.

A música popular brasileira também cumpriu esse papel nas décadas de 60-70 do século

XX, durante o regime militar, principalmente pela voz de Geraldo Vandré e Chico Buarque de

Holanda.

BOA NOITE!!!

Boa-noite, Maria - Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.

Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...

Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes - Boa noite.

Mas não digas assim por entre beijos...

Mas não me digas descobrindo o peito,

Mar de amor onde vagam meus desejos. (...)

É noite ainda! Brilha na cambraia (...)

(ALVES, Castro. Espumas flutuantes)

A literatura tem registrado já há algum tempo a presença da cultura afro-brasileira

em nossas vidas e também tem denunciado os preconceitos que permanecem em nossa

sociedade tanto tempo depois da abolição da escravatura. Nos textos acima estudados

observa-se a denúncia do preconceito e das crueldades sofridas por africanos escravizados

em textos de diferentes épocas, principalmente em obras românticas do século XIX

O ROMANCE BRASILEIRO E A IDENTIDADE NACIONAL

Com a independência, em 1822, os artistas e intelectuais brasileiros empenharam-se

em definir uma identidade cultural do país. Afinal, o que era ser brasileiro naquele

momento? Qual a nossa língua, nossa raça, nosso passado histórico, nossos costumes e

tradições?

O romance, muito mais do que a poesia, procurou dar respostas a essas perguntas,

assumindo o papel de principal instrumento de construção da cultura brasileira. assim,

procurando “re-descobrir” o país, o romance brasileiro está radicalmente ligado ao

reconhecimento dos espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que

deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), o

romance regional (a vida rural) e o romance urbano (a vida citadina). José de Alencar, por

exemplo, o maior romancista de nosso romantismo, escreveu obras que enfocaram esses três

espaços, como “O Guarani”, romance histórico-indianista; o gaúcho, romance regional; e

senhora, romance urbano.

O nome, condoreirismo, associa-se ao

condor ou outras aves, como Baleia,

águia, o falcão e o albatroz, que foram

tomadas como símbolo dessa geração de

poetas com preocupações sociais.

Identificando-se com o condor, ave de vôo

alto e solitário, com capacidade de

enxergar a grande distância, os poetas

condoreiros supunham ser eles também

dotados dessa capacidade e, por isso,

tinham o compromisso, como poetas-

gênios iluminados por Deus, de orientar os

homens comuns para os caminhos da

justiça e da liberdade.

As principais características da prosa romântica:

Sentimentalismo;

Impasse amoroso, com final feliz e trágico;

Oposição aos valores sociais;

Peripécia;

Flash back narrativo;

O amor como redenção;

Idealização do herói;

Idealização da mulher;

Personagens planas;

Linguagem metafórica

O Romance Indianista

O indianismo foi uma das principais tendências do romantismo brasileiro. Dele

saíram, tanto na poesia quanto na prosa, algumas das melhores realizações da nossa

literatura romântica. na poesia destacou-se Gonçalves dias e na prosa, José de Alencar.

O prestígio dessa corrente entre o público foi amplo e imediato. Vários fatores

contribuíram para sua implantação e solidificação em nossa cultura, tais como: tradição e

riqueza.

No século XVIII, a épica de Basílio da Gama e a de santa Rita durão deram

continuidade ao tema.

O índio visto como o “bom selvagem” – as ideias do pensador iluminista e pré-

romântico Jean-JacquesRousseau tiveram ampla aceitação entre os românticos brasileiros.

Partindo do princípio de que o homem é originalmente puro, mas se corrompe ao entrar em

contato com a civilização, Rousseau via no homem primitivo, no selvagem, o modelo de ser

humano. Tanto o índio quanto o próprio Brasil passaram a ser vistos como partes de um

“paraíso americano”, a salvo da decadência da civilização.

Observe, no trecho abaixo, um capítulo do livro “O Guarani”:

As principais realizações indianistas em prosa de nossa literatura são três:

romances de Jose de Alencar: O Guarani (1857), Iracema (1865), e Ubirajara

(1874).

O capítulo inicia com a destruição descrita da casa de Dom Antônio de Mariz:

"Quando o sol, erguendo-se no horizonte, iluminou os campos, um montão de ruínas cobria

as margens do Paquequer"[...]"Toda a noite o índio tinha remado sem descansar um

momento; não ignorava que Dom Antônio de Mariz na sua terrível vingança havia

exterminado a tribo dos Aimorés, mas desejava apartar-se do teatro da catástrofe, e

aproximar-se dos seus campos nativos.Não era o sentimento da pátria, sempre tão poderoso

no coração do homem; não era o desejo de ver sua cabana reclinada à beira do rio e

abraçar sua mãe e seus irmãos, que dominava sua alma nesse momento e lhe dava esse

ardor.Era sim a ideia de que ia salvar sua senhora e cumprir o juramento que tinha feito ao

velho fidalgo; era o sentimento de orgulho que se apoderava dele. pensando que bastava a

sua coragem e a sua força para vencer todos os obstáculos, e realizar a missão de que se

havia encarregado."

(José de Alencar. O guarani. São Paulo: Ática, 1992.)

O Romance Regional

Coube ao romance regionalista, mais do que aos romances indianistas, histórico e

urbano, a missão nacionalista que o Romantismo, se atribuiu de proporcionar ao país uma

visão de si mesmo.

Sem apoio em modelos europeus, o romance regionalista romântico teve de abrir

sozinhos seus próprios caminhos. Portanto, constituiu em nossa literatura uma experiência

nova, que exigiu dos escritores pesquisa e senso de observação da realidade. Como resultado

desse empenho, os romances regionais românticos deram um passo decisivo no rumo da tão

desejada autonomia cultura européia.

Principais autores:

1)Visconde de Taunay

Alfredo d’Escragnolle (1843-1899), Visconde de Taunay, era carioca e exerceu

acarreira militar, chegando a participar da guerra do Paraguai. Mais tarde abandonou a

Exercito e ingressou na carreira política alcançando o cargo de senador.

Das mudanças que, como militar, realizou pelo país, principalmente pela região de

Mato Grosso.

Principais obras: Inocência (1872), Retirada da Laguna (1871)

Inocência: A busca do sertão

Inocência pode se considerada a obra-prima do romance regionalista de nosso

Romantismo. Inocência é uma história de amor impossível, envolvendo Cirino, prático de

Farmácia que se autopromoveu médico, e Inocência, uma jovem do Sertão de Mato Grosso,

filha de Pereira, pequeno proprietário típico da mentalidade vigente entre os habitantes

daquela região.

A realização amorosa entre os jovens é invisível porque Inocência fora prometida em

casamento pelo pai a Manecão, um rústico vaqueiro da região; e também porque Pereira

exerce for vigilância sobre a filha, pois, de acordo com seus valores, ele tem de garantir a

integridade de Inocência até o dia do casamento.

Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque

de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira

à procura de borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio

urbano europeu.

2)Bernardo Guimarães:

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em Ouro Preto (MG), em 1825, e

faleceu na mesma cidade em 1884. Foi advogado ( formou-se em direito, em São Paulo),

magistrado, jornalista, critico, literário, professor, poeta e romancista.

Obras:

O Ermitão de Muquém; A escrava Isaura; Rosana, a enjeitada; O seminarista;

O garimpeiro; A filha do fazendeiro.

Como romancista, condição que lhe oferece sua devida importância na literatura

brasileira, foi um dos iniciadores do regionalismo romântico, graças a publicação de O

Ermitão de Muquém, em que se encontra o retrato das paisagens, tipos, usos, e costumes do

sertão do Brasil Central, do qual era profundo conhecedor. Por isso, é marcante, em sua obra

narrativa, uma linguagem impregnada, de oralidades, isto é, suas historias parecem estar

sendo contadas com simplicidade e num tom de conversa.

O Seminarista

Neste livro, o autor aborda o problema do celibato clerical ( os padres, por uma

norma da igreja, não podem ter relações amorosas nem se casar). Eugenio, cumprindo a

vontade dos pais, abandona omundo, o amor de Margarida, para seguir o sacerdócio, Depois

de certo tempo no seminário, não suportando mais viver sem seu grande amor, resolve

abandonar a vida religiosa, mas seus pais o fazem continuar, dando-lhe uma falsa noticia:

Margarida já havia se casado. Sem mais motivos para sair do seminário, Eugenio é ordenado

sacerdote. Entretanto, ao voltar à sua cidade natal, em certa ocasião, é chamado às presas

para atender a uma doente que necessitava de sua ajuda espiritual. Esta doente não é outra

pessoa senão Margarida. Com quem realiza seus sonhos de amor reprimido desde a

juventude.

No final, Margarida morre e Eugênio fica louco.

(Bernardo Guimarães. O Seminarista. São Paulo: Ática.)

Romances Urbanos ou de Costumes

São romances que retratam o Rio do Segundo Reinado, apontando alguns aspectos

negativos da vida urbana e dos costumes burgueses, Giram em torno de intrigas de amor e

desigualdades econômicas, mas tudo com final feliz e a vitoria do amor. São exemplos dessa

modalidade: Cinco minutos ( a moça tuberculosa encontra no amor forças para viver); A

viuvinha( dinheiro e fidelidade); Sonhos d’ouro( Guida Soares esconde sua fortuna para

encontrar o amor desinteressado); Encarnação( Hermano, viúvo de Julieta, a mantém viva na

imaginação, mesmo depois de casado com Amália: vitoria do amor e da dedicação).

A relação se completa com os três perfis de mulher: Lucíola ( a jovem prostituta que

se julga indigna de um verdadeiro amor): Diva ( a luta entre o ódio e o amor, o qual

obviamente vence): Senhora ( o amor puro entre dois jovens; a separação motivada pelo

dinheiro; o caça-dotes; o casamento por vingança; a redenção: o amor vence, acima de tudo).

Senhora: José de Alencar

Aurélia Camargo, filha de uma pobre costureira e órfã de pai, apaixonou-se por

Fernando Seixas – homem ambicioso – a quem namorou. Este, porém, desfez a relação,

movido pela vontade de se casar com uma moça rica. Passado algum tempo, Aurélia, já

órfã, recebe uma grande herança do avô e fica milionária. Passa, pois, a ser figura de

destaque nos eventos da sociedade da época.

Como vingança, manda oferecer a Seixas um dote de cem contos, mas sem que fosse

revelado o nome da noiva, só conhecido no dia do casamento. Seixas aceita e se casam;

porém na noite de núpcias, Aurélia revela seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto

fora vil em sua ganância. Vivem como estranhos na mesma casa durante onze meses, mas

socialmente formam um casal perfeito. Ao longo desse período, Seixas trabalha arduamente

até conseguir obter a quantia que recebera como sinal pelo acordo. Devolve os cemmil-réis à

esposa e se despede dela. Nesse momento, porém Aurélia revela –lhe seu amor. Os dois,

agora igualados no amor e na honra, podem desfrutar o casamento, que ainda não havia se

consumado.

( José de Alencar – Senhora)

Lucíola: José de Alencar

Seduzida ainda jovem por um homem devasso em um momento de dificuldades

infortúnio em que precisava de dinheiro para salvar os familiares doentes, Maria é expulsa

de casa pelo próprio pai, trocando então seu nome de Maria da Glória para Lúcia. Lúcia

começa a viver como uma prostitua caprichosa, explorando seus ricos amantes, por quem

manifesta um claro desprezo. Um dia conhece Paulo da Silva, um jovem pernambucano que

chega ao Rio de Janeiro e se apaixona por ela. Esse afeto sincero faz com que a verdadeira

natureza de Lúcia venha à tona. E essa luta entre a força regeneradora do amor puro e uma

vida de pecados e devassidão que José de Alencar focaliza com muito vigor. Dedicando-se

de corpo e alma ao amor de Paulo, que foi capaz de compreender e perdoar seu passado,

Lúcia encontra pela primeira vez na vida a tão almejada paz de espírito. Mas, vitimada por

uma doença fatal, vem a falecer na flor da idade, cercada pelos carinhos de Paulo, a quem

encarrega de cuidar - como pai - de sua irmã mais nova, Ana.

(José de Alencar – Lucíola)

O REALISMO E O NATURALISMO NO BRASIL (1881-1893): PRINCIPAIS

AUTORES E OBRAS

Realismo:

1)Machado de Assis.:

Romances: Ressurreição, a mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Memórias póstumas

de Brás Cuba, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires.

Contos: contos fluminenses, histórias da meia-noite, papeis avulsos, histórias sem

data, várias histórias, páginas recolhidas, relíquias da casa velha.

2 )Raul Pompeia:

Romances: Uma Tragédia no Amazonas; O Ateneu; Canções sem Metro.

Naturalismo:

1)Aluísio Azevedo:

Romances: Casa de Pensão; O Cortiço; O Mulato; O homem, O coruja.

2) Inglês de Souza:

Romances: Cenas da vida amazônica; o coronel sangrado; o missionário;

3)Adolfo Caminha:

Romances: O bom crioulo; a normalista

4) Manuel de Oliveira Paiva

Romances: Dona Guidinha do poço

O Realismo

O desenvolvimento do movimento realista está ligado às profundas mudanças

ocorridas na Europa durante a segunda metade do século XIX. O capitalismo entra num

novo estágio: de um lado, grande progresso industrial e formação de grandes empresas; de

outro, uma volumosa classe operária fazendo reivindicações sociais.

Essas transformações criam novas tensões sociais e, consequentemente, novas

posições ideológicas. Nesse contexto, a Europa é agitada por novas idéias no campo da

Filosofia e das ciências, o que permite um conhecimento mais amplo do ser humano.

Dos avanço dos ideais abolicionistas e republicanos, à quebra da unificação do

Império e à urbanização cada vez mais acentuada a partir de 1870, surge o Realismo no

Brasil, fortemente influenciado pelo Positivismo de Augusto Comte, pelo Evolucionismo de

Charles Darwin, pelo Socialismo de Marx e Engels, pela teoria determinista de Hipólito

Taine e pelo surgimento das primeiras correntes da Psicologia moderna.

Assinala-se o ano de 1881como o marco inicial do Realismo no Brasil, com a

publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e de O

Mulato, de Aluísio Azevedo.

O Realismo surgiu como uma reação ao subjetivismo, ao individualismo e ao eu

romântico. Em seu lugar surgem o objetivismo e o impessoalidade (que é impessoal) do

artista. A razão, a pesquisa e a ciência vêm ocupar o lugar do sentimentalismo. Os realistas

procuram retratar o homem e a sociedade a partir da observação do ambiente, dos costumes,

das atitudes, dos comportamentos, buscando as causas dos fatos e fenômenos que abordam.

Leia o Capítulo 1, da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas:

Capítulo 1

Óbito do Autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se

poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja

começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a

primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem

a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.

Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença

radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na

minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era

solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.

Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia —

peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um

daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à

beira de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo

que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres

que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras

que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza

as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que

cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country

de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como

quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez

pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, — a filha, um

lírio-do-vale, — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora.

Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as

parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar

pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que

expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma

tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à

cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia

crer na minha extinção.

— Morto! morto! dizia consigo.

É a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o vôo desde o

Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa

senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil...

Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos.

Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas

baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som

estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro.

Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo

ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos

de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o

corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.

Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma idéia

grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é

verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.

(Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de janeiro: Nova Aguiar, 1994. P. 12-5)

Dom Casmurro: a temática da traição

A temática da traição, presente em Dom Casmurro, é instigante por si só. A traição

conduz o ser humano aos limites da racionalidade e à beira da perda da razão. No entanto, o

traço fundamental da obra é o questionamento da verdade, entendida como um dos edifícios

do realismo a que o próprio escritor pertencia. A intensidade desse diálogo – com o tempo,

com as emoções humanas e com a arte – faz de Dom Casmurro um romance de releituras

sempre proveitosas.

Leia, no trecho abaixo, a parte em que Bentinho desconfia da traição de

Capitulina, sua mulher, com seu amigo ( agora morto) Escobar:

(Machado de Assis. Dom Casmurro. 32 Ed. São Paulo: Ática)

O Naturalismo

Os ideais do Realismo levados às últimas consequências originaram o que se chamou

de Naturalismo, movimento que considera o ser humano como um produto biológico,

profundamente marcado pelo meio ambiente, pela educação, pelas pressões sociais e pela

hereditariedade. Todos esses fatores determinam a sua condição, o seu comportamento. O

escritor naturalista observa, estuda, segue o seu personagem de perto, para entender as

causas desse comportamento e chegar ao Conhecimento objetivo dos fatos e situações.

Capítulo CXXIII

Olhos de ressaca

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do

marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também,

as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a

outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns

instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem

algumas lágrimas poucas e caladas...

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a

furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas

o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram

o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como

a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

Dom Casmurro

O Mulato, de Aluísio Azevedo, publicado em 18881, foi o primeiro grande

romance naturalista brasileiro.

Principais personagens de O Mulato:

Raimundo: personagem principal. Filho da escrava Domingas com José Pedro da

Silva. Sua figura idealiza a superioridade física, intelectual e moral.

Ana Rosa: filha de Manuel Pescada, noiva e prima de Raimundo. O pai de Ana Rosa

não concordava com sua relação com Raimundo, que era filho de escrava.

Personagem utilizada para citações literárias, pois gostava de ler Eça de Queirós e

Flaubert.

Manuel Pescada: Pai de Ana Rosa. De origem portuguesa, era um homem com tino

para o comércio, apreciava livros e a leitura de jornais.

A importância de O Mulato para o naturalismo brasileiro pode ser observada nos

seguintes elementos:

Sensualidade: paixão carnal de Ana Rosa em relação a Raimundo

Crítica social: sátira feita com a criação dos tipos que habitavam São Luis. O escritor

criou personagens imorais e grotescos como um comerciante grosseiro e rico, uma

beata odiosa e velha, entre outros.

Anti-clericalismo: um padre assassino e descompromissado com a batina, cônego

Diogo, personagem extremamente hipócrita.

Preconceito perante os negros: em toda a trama de O Mulato, o escritor opõe-se aos

abusos relacionados aos escravos.

Triunfo do mal: o livro termina com a gratificação dos criminosos. O padre Diogo

torna-se cônego e a heroína casa-se com o homem que assassinou Raimundo.

Entre outros aspectos, O Mulato foi um livro publicado em meio à forte campanha a

favor da abolição da escravatura, outro fator que aumentou o escândalo causado pela obra

naquela época. Um grande mérito do livro é a análise da posição do mestiço na sociedade do

Maranhão e os ataques ao preconceito contra os negros.

De acordo com as leis autorais atuais do Brasil, O Mulato encontra-se em domínio público.

Aluísio Azevedo (1853-1913) é a principal expressão da prosa naturalista no Brasil.

O ponto alto nos escritos de Aluísio Azevedo, principalmente em suas obras de maturidade,

O Cortiço (1890) e Casa de Pensão (1894), é a maneira como são retratados ambientes,

paisagens e cenas coletivas.

Veja dois fragmentos de O Cortiço e note as características mencionadas acima: O

Cortiço narra a vida de um grupo de pessoas que habitam o cortiço pertencente ao

imigrante português João Romão, esse livro é o palco dos mais variados tipos

humanos: trabalhadores, prostitutas, malandros, lavadeiras, homossexuais:

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo

fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia

de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados.

Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e

pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores

apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E

começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e

baldes que se despejavam sobre as chamas.

Os sinos da vizinhança começaram a badalar.

E tudo era um clamor.

A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível;

nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em

brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens,

dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação,

sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que

ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.

Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que

abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.(Aluísio Azevedo.O cortiço

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua

infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.

[…].

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não

destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço.

Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se

gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação

sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na

lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar

sobre a terra.

(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.)

Entre outros aspectos, O Mulato foi um livro publicado em meio à forte campanha a favor

da abolição da escravatura, outro fator que aumentou o escândalo causado pela obra naquela

época. Um grande mérito do livro é a análise da posição do mestiço na sociedade do

Maranhão e os ataques ao preconceito contra os negros.

O PARNASIANISMO

O Realismo, na poesia, chamou-se Parnasianismo. Os poetas parnasianos adotam a

teoria de “arte pela arte” e deixam transparecer, em suas obras, uma espécie de

impassividade, de indiferença moral. Muitas vezes pintam uma beleza exterior, arcaica,

exótica. Protestam contra o individualismo e subjetivismo exagerados dos românticos.

Principais Parnasianos: Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.

O poema abaixo é um grande exemplo da forma com que os poetas parnasianos

escreviam seus poemas, dando importância total a forma e pronunciam-se contra qualquer

sentimento, principalmente as idealizações produzidas pelo Romantismo.

Este poema foi escrito por Olavo Bilac e tem muitas rimas ricas, objetivo central da

produção parnasiana.

PROFISSÃO DE FÉ

Invejo o ouvires quando escrevo:

Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto relevo

Faz de uma flor,

Por isso, corre, por servi-me.

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.

Torce, aprimora, alteia, lima,

A frase; e, enfim,

No verso de ouro engasga a rima,

Como um rubi.

Assim procedo. Minha pena

Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,

Serena Forma.

(Olavo Bilac – poesias – coleção prestígio- editora Tecnoprint S.A. 1978)

SIMBOLISMO (1893-1902)

Tanto o Simbolismo francês quanto o brasileiro foram fortemente

influenciados pela obra de Charles Baudelaire (1821 – 1867), poeta pós-romãntico

francês considerado precursor não apenas do Simbolismo, mas de toda a poesia

moderna.

Contexto Social do Simbolismo no Brasil:

Como afirma Massaud Moisés, “O Simbolismo é, antes de tudo,

antipositivista, antinaturalista e anticientificista”. Tal postura reflete uma atmosfera de

desilusão e frustração que envolveu alguns grupos de intelectuais no final do século

passado, influenciado por correntes contrárias ao pensamento cientifico- mecanicista e

de tendências irracionais.

Principais autores simbolistas:

Cruz e Sousa; Emiliano Perneta; Alphonsus de Guimarães; Augusto dos

Anjos; Raul de Leoni.

Compare as características do Simbolismo com as do Parnasianismo:

SIMBOLISMO PARNASIANISMO

Subjetivismo Objetivismo

Linguagem vaga, fluida Linguagem precisa, objetiva

Abundância de metáforas Busca do equilíbrio formal

Antimaterialismo, antirracionalismo Materialismo, racionalismo

Religiosidade Racionalismo

Pessimismo Contenção dos sentimentos

Religiosidade Paganismo

Retomada romântica Retomada da tradição clássica

Soneto Soneto

Leia os poemas de Cruz e Souza, notando suas características mais marcantes:

desilusão e frustração:

Acrobata da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,

como um palhaço, que desengonçado,

nervoso, ri, num riso absurdo, inflado

de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,

agita os guizos, e convulsionado

salta, gavroche, salta clown, varado

pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!

Vamos! retesa os músculos, retesa

nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,

afogado em teu sangue estuoso e quente,

ri! Coração, tristíssimo palhaço.

.

O Horror dos Vivos

Ao menos junto dos mortos pode a gente

Crer e esperar n'alguma suavidade:

Crer no doce consolo da saudade

E esperar do descanso eternamente.

Junto aos mortos, por certo, a fé ardente

Não perde a sua viva claridade;

Cantam as aves do céu na intimidade

Do coração o mais indiferente.

Os mortos dão-nos paz imensa à vida,

Não a lembrança vaga, indefinida

Dos seus feitos gentis, nobres, altivos.

Nas lutas vãs do tenebroso mundo

Os mortos são ainda o bem profundo

Que nos faz esquecer o horror dos vivos.

Cruz e Souza

BIBLIOGRAFIA:

Linguagens e Culturas: Linguagem e códigos: ensino médio: educação de jovens e

adultos/ Neide Aparecida de Almeida...(et al). 1 ed. São Paulo: Global, 2013.

Português Linguagens: volume 1 / Willian Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães

- 7 ed. Reform. – São Paulo: Saraiva, 2010.

Português: literatura, gramática, produção de texto/ Leila Lauar Sarmento, Douglas

Tufano. – 1 ed. – São Paulo: Moderna, 2010.

Língua e Literatura: vol. 03/ Carlos Emílio Faraco & Francisco Marto Moura. 19 ed.-

São Paulo: Ática, 1998.

Nilson Souza. Jornal Zero Hora, 02 de novembro de 2013. Opinião. P. 23

.

LISPECTOR, Clarice. O Mistério do Coelho Pensante. São Paulo: Rocco.

NETO, João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina. Editora Tuca. 1968.

Poemas escolhidos de Gregório de Matos/ seleção de José Miguel Wisnik. São Paulo:

Companhia das Letras.2011.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguiar,

1994.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio. 1956.

QUEIROZ, Rachel. O Quinze. São Paulo: José Olympio. S. d.