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Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna 1- Fundamentos da Biologia da Conservação A Biologia da Conservação tem suas raízes nas muitas culturas que ao longo de milhares de anos através de suas crenças religiosas e filosóficas relacionam o valor das espécies a vida natural (Hargrove,1986; Callicott, 1994). Filósofos como Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau elegeram a natureza como um elemento importante para o desenvolvimento moral e espiritual do homem (Callicott, 1990). Defensores da vida natural, tais como John Muir e Aldo Leopold, trabalharam pela preservação das paisagens e manutenção da saúde dos ecossistemas naturais. Segundo os adeptos da Hipótese de Gaia, a Terra apresenta as propriedades de um “super organismo” cujos componentes biológicos, físicos e químicos interagem para manter as características da atmosfera e do clima (Lovelock, 1988). Muitos que defendem esta tese pedem a interrupção total ou parcial das atividades industriais que perturbam a interação parcial ou total dos componentes da terra. Com uma visão mais ponderada e técnica um silvicultor chamado Gifford Pinchot (1865-1946), propôs uma tese onde afirmava que os elementos da natureza a biodiversidade de animais e plantas e a água potável e até as paisagens seriam tidos como recursos naturais e que estes recursos deveriam ser democratizados e utilizados de forma racional. Uma evolução deste conceito é o da administração de ecossistemas que prioriza a saúde dos ecossistemas e das espécies silvestres (Grumbine, 1994b; Noss e Cooperrider, 1994). Semelhantemente ao que defendia Pinchot a proposta mais atual de desenvolvimento sustentado pede o desenvolvimento de recursos naturais para atender as necessidades humanas de forma a não prejudicar as comunidades biológicas e considerar também as necessidades das futuras gerações (Lubchenco et al.,1991;IUCN/UNEP/WWF, 1091). A Biologia da Conservação fundamenta-se hoje em pressupostos básicos (Soulé, 1985). Pressupostos estes que representam um conjunto de proposições éticas e ideológicas que sugerem abordagens científicas e aplicações práticas.

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Apostila do Curso de Biologia da Conservação

com Ênfase em Monitoramento de Fauna

1- Fundamentos da Biologia da Conservação

A Biologia da Conservação tem suas raízes nas muitas culturas que ao

longo de milhares de anos através de suas crenças religiosas e filosóficas

relacionam o valor das espécies a vida natural (Hargrove,1986; Callicott,

1994). Filósofos como Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau

elegeram a natureza como um elemento importante para o

desenvolvimento moral e espiritual do homem (Callicott, 1990).

Defensores da vida natural, tais como John Muir e Aldo Leopold,

trabalharam pela preservação das paisagens e manutenção da saúde dos

ecossistemas naturais. Segundo os adeptos da Hipótese de Gaia, a Terra

apresenta as propriedades de um “super organismo” cujos componentes

biológicos, físicos e químicos interagem para manter as características da

atmosfera e do clima (Lovelock, 1988). Muitos que defendem esta tese

pedem a interrupção total ou parcial das atividades industriais que

perturbam a interação parcial ou total dos componentes da terra. Com

uma visão mais ponderada e técnica um silvicultor chamado Gifford

Pinchot (1865-1946), propôs uma tese onde afirmava que os elementos da

natureza a biodiversidade de animais e plantas e a água potável e até as

paisagens seriam tidos como recursos naturais e que estes recursos

deveriam ser democratizados e utilizados de forma racional. Uma

evolução deste conceito é o da administração de ecossistemas que

prioriza a saúde dos ecossistemas e das espécies silvestres (Grumbine,

1994b; Noss e Cooperrider, 1994). Semelhantemente ao que defendia

Pinchot a proposta mais atual de desenvolvimento sustentado pede o

desenvolvimento de recursos naturais para atender as necessidades

humanas de forma a não prejudicar as comunidades biológicas e

considerar também as necessidades das futuras gerações (Lubchenco et

al.,1991;IUCN/UNEP/WWF, 1091). A Biologia da Conservação

fundamenta-se hoje em pressupostos básicos (Soulé, 1985). Pressupostos

estes que representam um conjunto de proposições éticas e ideológicas

que sugerem abordagens científicas e aplicações práticas.

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A diversidade de organismos é positiva:

O ser humano tem atração pela diversidade, isso fica claro quando

pensamos na importância que damos a jardins zoológicos, jardins

botânicos, aquários, etc. Esta predisposição a diversidade pode ter uma

explicação evolutiva, ao buscar uma diversidade de animais e vegetais

para caça e coleta respectivamente, o homem primitivo protegeu sua

descendência da extinção em tempos de catástrofes naturais, quando

havia escassez de diversas fontes de alimentos. Esta predisposição

genética para a diversidade biológica chama-se biofilia.

A extinção prematura de populações e espécies é negativa:

Naturalmente durante a evolução do nosso planeta, muitas espécies

foram extintas por processos naturais, e outras a partir daí evoluíram e

deram origem a novas espécies. Porém este equilíbrio foi quebrado

quando o homem começou a alterar significativamente o meio ambiente

expandindo seus domínios e caçando maciçamente algumas espécies, até

levá-las a extinção.

A complexidade ecológica é positiva:

A co-evolução é um fenômeno ecológico que Só acontece na natureza,

dentro de um ecossistema onde comunidades de animais ou plantas

interagem de tal forma em relações de pregador-presa, parasitismo, ou

simbiose, que as obriga a evoluir, ou co-evoluir, formando novas espécies.

A evolução é positiva:

A adaptação evolutiva é um processo que muitas vezes leva a formação de

novas espécies aumentando assim a diversidade biológica. Porém, devido

ao desequilíbrio causado pelo homem, sobretudo com a redução

significativa de muitas populações e dos próprios biomas onde estas

comunidades estão inseridas, esta capacidade evolutiva acaba sendo

prejudicada.

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A diversidade biológica tem valor em si:

Independente do valor econômico que o homem possa dar a algumas

espécies, o verdadeiro valor de qualquer espécie está na sua própria

existência, na história evolutiva e na sua função ecológica que ocupa.

2- Diversidade Biológica

Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (1989), a diversidade

biológica é “a riqueza da vida na Terra, os milhões de plantas, animais e

microorganismos, os genes que eles contêm e os intrincados ecossistemas

que eles ajudam a construir no meio ambiente.” Desta maneira

entendemos a existência de três níveis compondo a diversidade biológica:

Nível das espécies: a diversidade biológica inclui todas as formas de vida,

desde a bactéria mais simples até a criatura mais complexa.

Nível da variação genética: a diversidade biológica inclui a variação

genética entre as espécies, tanto entre populações geograficamente

separadas como entre indivíduos de uma mesma população.

Nível de comunidade e ecossistemas: a diversidade biológica também

compreende a variação de comunidades biológicas onde as espécies

vivem e os ecossistemas onde as comunidades se encontram e interagem.

Diversidade das espécies:

Uma espécie pode ser definida de dois modos, primeiro, uma

espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos que é

morfológica, fisiológica ou bioquimicamente distinta de outros grupos em

algumas características (definição morfológica de espécie). Cada vez mais

as diferenças de DNA estão sendo utilizadas para distinguir espécies que

parecem quase idênticas, como é o caso das bactérias, segundo, uma

espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos que podem

potencialmente procriar entre si, mas que não procriam com indivíduos de

outros grupos (definição biológica de espécie).

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Os biologistas freqüentemente têm dificuldade de distinguir as

variações de uma única espécie das variações entre as espécies

aparentadas. O problema está na capacidade de algumas espécies

aparentadas em cruzar e gerar híbridos, a hibridação é comum entre

espécies de plantas em habitats alterados.

Os taxonomistas descreveram apenas de 10% a 30% das espécies

existentes no mundo e muitas espécies serão extintas antes de serem

descritas. Os esforços de identificação devem se concentrar em áreas com

alta diversidade de espécies, onde devem ser treinados grandes

contingentes de taxonomistas. (Raven e Wilson, 1992).

Taxonomia é a ciência que classifica os seres vivos. O objetivo da

taxonomia moderna é criar um sistema de classificação que reflita a

evolução de grupos de espécies desde seus ancestrais. Identificando a

relação entre as espécies, os taxonomistas ajudam os biologistas de

conservação a identificar as espécies ou grupos que são, pela evolução,

únicos ou de valor especial para a conservação.

Classificação moderna:

As espécies semelhantes são agrupadas em um gênero, os gêneros

semelhantes são agrupados em uma família, as famílias similares são

agrupadas em uma ordem, as ordens similares são agrupadas em uma

classe, as classes similares são agrupadas em uma divisão, para as plantas,

ou filo para os animais. Os filos ou divisões são agrupados em um reino.

Os biologistas do mundo todo têm usado uma padronização para

dar nomes às espécies. Este sistema de denominação conhecido como

nomenclatura binominal foi desenvolvido no século XVIII por um

biologista sueco chamado Carolus Linaeus. Os nomes científicos das

espécies são compostos de duas palavras. O nome do gênero é o que

identifica aquele grupo dentro de uma família, já o nome específico é o

nome particular da espécie dentro daquele gênero. Os nomes científicos

seguem um padrão. A primeira letra do nome do gênero é sempre

maiúscula, já o nome da espécie deve ser escrito em letra minúscula. Os

nomes científicos sã oescritos sempre em itálico ou sublinhados. Os

nomes científicos podem vir seguidos do nome do cientista os descreveu.

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Por exemplo, veremos a classificação sistemática do jacaré-de-papo-

amarelo Caiman latirostris (DAUDIN, 1801)

Classe: Reptilia; Ordem: Crocodylia; família: Alligatoridae; Subfamília:

Alligatorinae; Gênero: Caiman; Espécie: Caiman latirostris.

3- Conservação de Populações e Espécies

Os programas de conservação de espécies geralmente são criados

para salvar espécies cujas populações estão em declínio ou ameaçadas e

extinção.

As espécies, principalmente animais de topo de cadeia como, por

exemplo, os grandes felinos, necessitam de um território muito grande

para sobreviver. Os Parques Naturais, no geral, não apresentam as

dimensões necessárias para a manutenção destas populações por muito

tempo. E muitas vezes as populações estão de tal forma reduzida, que sua

manutenção se torna incerta.

Shaffer (1981) define o numero de indivíduos necessários para

assegurar a sobrevivência de uma espécie como sendo sua população

viável mínima (PVM): “Uma população viável mínima para qualquer

espécie em um determinado habitat é a menor população isolada que

tenha 99% de chances de continuar existindo por 1.000 anos, a despeito

dos efeitos previsíveis de aleatoriedade genética, ambiental e

demogtafica, e de catástrofes naturais”. Ou seja: Uma PVM é a menor

população que tenha grande chance de sobreviver no futuro.

Para se chegar a um número preciso da PVM de uma determinada

espécie, é necessário um estudo demográfico detalhado da população e

uma analise ambiental da área. Isso pode custar muito e exigir meses ou

até anos de pesquisa (Thomas, 1990). Alguns biólogos têm sugerido de

500 a 1000 indivíduos para vertebrados como o numero a ser protegido.

Esta quantia parece ser a adequada para que se consiga preservar uma

variabilidade genética (Lande, 1988). Para espécies com tamanhos

populacionais extremamente variáveis, tais como certos invertebrados e

plantas anuais, tem-se sugerido a proteção de uma população de cerca de

10.000 indivíduos, como estratégia eficaz.

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Uma vez que uma população viável mínima tenha sido determinada

para certa espécie, a área dinâmica mínima (ADM), ou seja, a extensão de

habitat adequado para manter esta PMV pode então ser calculada. A ADM

pode ser estimada através de um estudo dos tamanhos de áreas dos

indivíduos e dos grupos (Thiollay, 1989). As estimativas são de que

reservas de 10.000 a 100.000 ha são necessários para a preservação de

populações de mamíferos de pequeno porte (Schonewald-Cox, 1983). Já

para a preservação das onças do Pantanal, por exemplo, a superficie

envolvida é enorme. Uma única onça ocupa 14.200 ha (Crawshaw e

Quigsley, 1991).

Perda de Variabilidade Genética

A variabilidade genética é importante na medida em que permite

que as populações se adaptem a um ambiente em transformação.

Indivíduos com certos alelos ou combinações de alelos podem ter as

características necessárias para sobreviver e reproduzir em situações

novas. Dentro de uma população, certos alelos podem ter uma freqüência

que varia de comum a muito rara. Em populações pequenas, as

freqüências podem ser diferentes de uma geração para outra,

aleatoriamente, dependendo simplesmente do acasalamento e

reprodução dos indivíduos. Este é um processo conhecido como deriva

genética. Quando a freqüência de um alelo em uma população pequena é

baixa, este tem grandes chances de se perder a cada geração que passa.

Considerando, teoricamente, uma população isolada na qual a dois alelos

por gene Wrigth (1931) propôs uma formula para expressar a expectativa

de declínio de heterozigozidade (indivíduos possuindo duas formas de

alelos do mesmo gene) por geração em função de determinado tamanho

efetivo de população.

De acordo com esta equação, uma população de 50 indivíduos

demonstraria um declínio em heterozigozidade de 1% por geração, devido

à perda de alelos raros. Uma população de 10 indivíduos teria um declínio

de 5% por geração.

Esta fórmula demonstra que perdas significativas de variabilidade

genética podem ocorrer em populações pequenas isoladas. Entretanto, a

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migração de indivíduos de outras populações e a mutação regular dos

genes tendem a aumentar a variabilidade genética em uma população e a

equilibrar os efeitos da deriva genética. Mesmo uma baixa freqüência de

movimentos entre populações minimiza a perda de variabilidade genética

associada ao pequeno tamanho de população (Lacey, 1987). Se apenas um

novo imigrante chegar, a cada geração, em uma população isolada de 100

indivíduos, a deriva genética será mínima.

Pequenas populações sujeitas à deriva genética são mais suscetíveis

a efeitos genéticos deletérios, tais como depressão endogâmica, perda da

flexibilidade evolucionária e depressão exogâmica. Estes fatores podem

contribuir para um declínio no tamanho da população e para uma maior

probabilidade de extinção (Ellstrand e Elam 1993; Loeschcke et al. 1994).

Depressão endogâmica:

Causada pelo acasalamento entre parentes próximos, tais como pais

e sua crias, irmãos e primos, e a auto-fertilização em espécies

hermafroditas podem resultar na depressão endogâmica, caracterizada

por um número menor de cria ou por cria fraca estéril (Ralls et al., 1988).

Depressão exogâmica:

Quando uma espécie é rara ou seu habitat é danificado pode

ocorrer o cruzamento de espécies próximas, o que não ocorreria em

condições normais devido a fatores comportamentais, fisiológicos e

morfológicos, a cria resultante do cruzamento de indivíduos de espécies

diferente é freqüentemente fraca e estéril devido à falta de

compatibilidade dos cromossomos e sistemas enzimáticos herdados dos

pais diferentes.

Perda da flexibilidade evolucionária:

Alelos raros e combinações incomuns de alelos que, em

determinado momento não ofereceriam vantagem alguma, podem mais

tarde ser considerados adequados para determinadas condições

ambientais. A perda da variabilidade genética em uma população

pequena, pode limitar a capacidade da população em conviver com

mudanças em longo prazo no ambiente, tais como poluição, novas

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doenças ou a mudança climática global (Allendorf e Leary, 1986). Sem

variabilidade genética suficiente, uma espécie pode chegar à extinção.

Monitoramento de populações:

O modo para se conhecer a situação das espécies raras de interesse

especial, é o seu censo no campo e o monitoramento de sua população ao

longo do tempo. Fazendo repetida e regularmente o censo de uma

população, as mudanças ocorridas através do tempo podem ser

determinadas (Simberloff, 1988; Schemske et al., 1994).

Esforços de monitoramento podem também ser direcionados para

espécies sensíveis, tais como as borboletas, usando-as como indicadores

da estabilidade, ao longo prazo, das comunidades ecológicas (Sparrow et

al., 1994).

Inventario:

Um inventario é simplesmente uma contagem do numero de

indivíduos de uma população. Repetindo um inventario em sucessivos

intervalos de tempo, pode ser determinado se uma população permanece

estável, se está crescendo ou diminuindo.

Estudos demográficos:

São realizados utilizando-se de indivíduos conhecidos de uma

população para determinar suas taxas de crescimento, reprodução e

sobrevivência. Podem ser estudadas tanto uma população completa como

uma amostra.

Metapopulação:

Com o passar do tempo, populações de uma espécie podem se

tornar extintas em uma escala local, e novas populações podem se formar

em áreas próximas. Estas espécies podem ser caracterizadas por uma ou

mais populações centrais, com densidade razoavelmente estáveis, e várias

áreas satélites com populações flutuantes (Bleich et al., 1990). Populações

nas áreas satélites podem se tornar extintas em anos desfavoráveis, mas

as áreas são recolonizadas por migrantes da população central quando as

condições se tornam mais favoráveis.

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Reintrodução:

Um programa de reintrodução compreende soltar indivíduos

retirados do ambiente selvagem ou criados em cativeiro, dentro de uma

área de sua ocorrência histórica onde esta espécie não mais existe ou está

em declínio (kleiman, 1996).

O principal objetivo de um programa de reintrodução é criar uma

nova população no ambiente original.

Dois outros tipos de programas de liberação também são usados.

Programa de acréscimo: consiste em liberar indivíduos em uma população

existente para aumentar seu tamanho e seu pool genético. Estes

indivíduos liberados podem ser indivíduos selvagens ou criados em

cativeiro.

Programa de introdução: consiste em transportar animais ou plantas para

áreas fora de sua extensão histórica na esperança de estabelecer novas

populações (Conant, 1988). Esta abordagem pode ser adequada quando o

ambiente dentro da extensão histórica de uma espécie se deteriorou a tal

ponto da espécie não conseguir mais sobreviver ali, ou quando o fator que

causa o declínio original ainda está presente, tornando a reintrodução

impossível. A introdução de uma espécie para novos sítios deve ser

cuidadosamente pensada, para assegurar que a espécie não danifique seu

novo ecossistema ou prejudique populações de qualquer espécie

ameaçada no local. Também deve ser tomado cuidado para garantir que

os indivíduos liberados não tenham contraído doenças enquanto em

cativeiro que poderiam se espalhar e dizimar populações selvagens.

Comportamento social em animais soltos:

Os programas de reintrodução, acréscimo e introdução precisam

considerar a organização social e o comportamento dos animais que estão

sendo liberados. Quando animais sociais como mamíferos e alguns

pássaros, crescem num ambiente selvagem, eles aprendem sobre seu

ambiente e como interagir socialmente com outros membros de sua

espécie. Os animais criados em cativeiro podem não ter as habilidades

necessárias para sobreviver no seu ambiente natural, assim como as

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habilidades sociais para encontrar comida de maneira cooperativa,

perceber o perigo, encontrar parceiros e criar seus filhotes. Para superar

estes problemas de socialização os animais criados em cativeiro podem

necessitar de um treinamento prolongado, tanto antes como depois da

soltura.

4- Conservação de Comunidades

A conservação de comunidades biológicas intactas é o método mais

eficaz, e único capaz, de preservação da diversidade biológica como um

todo. As comunidades biológicas podem ser preservadas através do

estabelecimento de áreas protegidas, implementação de medidas de

conservação fora de áreas protegidas, e restauração de comunidades

biológicas em habitats degradados.

Mesmo as comunidades mais intactas como as do fundo oceânico

ou áreas intocadas da Amazônia podem sofrer a influencia da ação do

homem através do aumento do nível dióxido de carbono ou com o

conseqüente aquecimento global, porém, por outro lado mesmo nos

ambientes mais modificados pelo homem ainda encontramos

remanescentes da biota original.

Alguns conservacionistas argumentam que as comunidades e

ecossistemas, muito mais que as espécies, deveriam ser alvos de esforços

de conservação (McNaughton, 1989; Scott, et al. 1991; Reid, 1992;

Grumbine; 1994b). A conservação das comunidades pode preservar

grande quantidade de espécies em uma unidade auto-sustentável,

enquanto que o resgate de espécies alvo é muitas vezes difícil, caro e

ineficaz, especialmente em um país com um numero gigantesco de

espécies, como Brasil. O uso de US$ 1 milhão na proteção e manejo de um

habitat pode preservar mais espécies a longo prazo do que se conseguiria

com a mesma quantia sendo gasta no esforço de salvar uma única espécie

notável.

Analise de lacunas

Uma forma de se determinar a eficácia dos programas de

conservação de comunidades e ecossistemas é comparar as prioridades

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de biodiversidade com as áreas de proteção existentes e aquelas

propostas (Scott, et al. 1991). Este trabalho visa identificar “lacunas” na

preservação da biodiversidade que precisam ser preenchidas com novas

áreas protegidas. Silva e Dinnouti, 2001, levantaram a área em unidades

de conservação de uso indireto (ou proteção integral), em cada uma das

13 ecorregiões da Mata Atlântica ou Campos Sulinos. Eles concluíram que

além da área coberta por unidades de conservação ser reduzida, ela está

mal distribuída, pois inclui apenas uma pequena parte da variabilidade

ambiental existente nos dois domínios.

Corredores de Habitat

São corredores de vegetação, ou faixas de terra protegidas,

utilizados para conectar áreas protegidas isoladas a um grande sistema,

permitindo que plantas e animais se dispersem de uma reserva para outra

garantindo o fluxo gênico entre populações isoladas aumentando assim a

variabilidade genética das populações. Estes corredores podem servir

também para a migração sazonal de espécies em busca de comida.

Embora sendo talvez a única maneira de salvar da extinção muitas

populações de espécies isoladas, por questões políticas e financeiras estes

corredores podem não sair do papel. Outro problema seria a disseminação

de espécies daninhas invasoras e exóticas e a propagação de doenças para

populações até então saudáveis. E ainda existe o risco expor os animais

que trafegariam nos corredores a maiores riscos de serem caçados ou

predados, já que caça dores e predadores tendem a concentrar-se em rota

de animais selvagens.

5- Conservação e desenvolvimento sustentável

Os esforços para preservar a biodiversidade, às vezes se chocam

com as necessidades humanas. O desenvolvimento sustentável seria

aquele desenvolvimento que satisfaz tanto as necessidades humanas de

recursos e emprego presentes e futuras, enquanto minimiza seu impacto

sobre a diversidade biológica (WCED 1987;WRI/IUCN/UNEP, 1992).

Segundo alguns economistas ambientais, desenvolvimento, que se refere

a progressos na organização sem aumento de consumo de recursos, é

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nitidamente diferente de crescimento, que é o aumento da quantidade de

recursos utilizados (Costanza e Daly, 1992).

O desenvolvimento sustentável, para ser de fato sustentável, deve prover

investimento na estrutura de unidades de conservação para melhorar a

proteção da diversidade biológica, promover o desenvolvimento

financeiro e social de populações tradicionais e priorizar meios de

produção com tecnologias limpas e manejos racionais de recursos

naturais.

2- Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)

“Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação.

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;

II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral;

III - diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas;

IV - recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora;

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V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais;

VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais;

VII - conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características;

VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas;

IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais;

X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais;

XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável;

XII - extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis;

XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original;

XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original;

XV - (VETADO)

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XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz;

XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade;

XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade; e

XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.

CAPÍTULO II DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA – SNUC

Art. 3o O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei.

Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;

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IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

Art. 5o O SNUC será regido por diretrizes que:

I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico existente;

II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação;

III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação;

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IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;

V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;

VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação;

VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;

VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;

IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;

X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;

XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;

XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e

XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores

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ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.

Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

I – Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema;

II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o Sistema; e

III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. (Redação dada pela Lei nº 11.516, 2007)

Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que, concebidas para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista nesta Lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara distinção.

CAPÍTULO III DAS CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas:

I - Unidades de Proteção Integral;

II - Unidades de Uso Sustentável.

§ 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.

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§ 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Art. 8o O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação:

I - Estação Ecológica;

II - Reserva Biológica;

III - Parque Nacional;

IV - Monumento Natural;

V - Refúgio de Vida Silvestre.

Art. 9o A Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas.

§ 1o A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico.

§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

§ 4o Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de:

I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;

II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;

III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;

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IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares.

Art. 10. A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.

§ 1o A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico.

§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e

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restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

§ 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.

Art. 12. O Monumento Natural tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.

§ 1o O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.

§ 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 3o A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento.

Art. 13. O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

§ 1o O Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.

§ 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da

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propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 3o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

§ 4o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de conservação:

I - Área de Proteção Ambiental;

II - Área de Relevante Interesse Ecológico;

III - Floresta Nacional;

IV - Reserva Extrativista;

V - Reserva de Fauna;

VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e

VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

§ 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas.

§ 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental.

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§ 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade.

§ 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais.

§ 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.

Art. 16. A Área de Relevante Interesse Ecológico é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.

§ 1o A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas.

§ 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.

Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.

§ 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.

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§ 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.

§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.

§ 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes.

§ 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.

Art. 18. A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.

§ 1o A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.

§ 3o A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área.

§ 4o A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade,

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às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento.

§ 5o O Plano de Manejo da unidade será aprovado pelo seu Conselho Deliberativo.

§ 6o São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional.

§ 7o A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.

Art. 19. A Reserva de Fauna é uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.

§ 1o A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2o A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração.

§ 3o É proibido o exercício da caça amadorística ou profissional.

§ 4o A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos.

Art. 20. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.

§ 1o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da

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qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações.

§ 2o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 3o O uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais será regulado de acordo com o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica.

§ 4o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.

§ 5o As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável obedecerão às seguintes condições:

I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área;

II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento;

III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e

IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área.

§ 6o O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de

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amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade.

Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.

§ 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis.

§ 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento:

I - a pesquisa científica;

II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;

III - (VETADO)

§ 3o Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade.

CAPÍTULO IV DA CRIAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.

§ 1o (VETADO)

§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.

§ 3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.

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§ 4o Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que trata o § 2o deste artigo.

§ 5o As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

§ 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Art. 22-A. O Poder Público poderá, ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento e obras públicas licenciadas, na forma da lei, decretar limitações administrativas provisórias ao exercício de atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, para a realização de estudos com vistas na criação de Unidade de Conservação, quando, a critério do órgão ambiental competente, houver risco de dano grave aos recursos naturais ali existentes. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005) (Vide Decreto de 2 de janeiro de 2005)

§ 1o Sem prejuízo da restrição e observada a ressalva constante do caput, na área submetida a limitações administrativas, não serão permitidas atividades que importem em exploração a corte raso da floresta e demais formas de vegetação nativa. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005)

§ 2o A destinação final da área submetida ao disposto neste artigo será definida no prazo de 7 (sete) meses, improrrogáveis, findo o qual fica extinta a limitação administrativa. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005)

Art. 23. A posse e o uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais nas Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável serão regulados por contrato, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.

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§ 1o As populações de que trata este artigo obrigam-se a participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção da unidade de conservação.

§ 2o O uso dos recursos naturais pelas populações de que trata este artigo obedecerá às seguintes normas:

I - proibição do uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de práticas que danifiquem os seus habitats;

II - proibição de práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos ecossistemas;

III - demais normas estabelecidas na legislação, no Plano de Manejo da unidade de conservação e no contrato de concessão de direito real de uso.

Art. 24. O subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação.

Art. 25. As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos.

§ 1o O órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação.

§ 2o Os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1o poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente.

Art. 26. Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.

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Parágrafo único. O regulamento desta Lei disporá sobre a forma de gestão integrada do conjunto das unidades.

Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo.

§ 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.

§ 2o Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente.

§ 3o O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação.

§ 4o § 4o O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais categorias de unidade de conservação, observadas as informações contidas na decisão técnica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio sobre:

I - o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;

II - as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado;

III - o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e parentes silvestres; e

IV - situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade. (Redação dada pela Lei nº 11.460, de 2007)

Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.

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Parágrafo único. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais.

Art. 29. Cada unidade de conservação do grupo de Proteção Integral disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e, na hipótese prevista no § 2o do art. 42, das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.

Art. 30. As unidades de conservação podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão.

Art. 31. É proibida a introdução nas unidades de conservação de espécies não autóctones.

§ 1o Excetuam-se do disposto neste artigo as Áreas de Proteção Ambiental, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, bem como os animais e plantas necessários à administração e às atividades das demais categorias de unidades de conservação, de acordo com o que se dispuser em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.

§ 2o Nas áreas particulares localizadas em Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais podem ser criados animais domésticos e cultivadas plantas considerados compatíveis com as finalidades da unidade, de acordo com o que dispuser o seu Plano de Manejo.

Art. 32. Os órgãos executores articular-se-ão com a comunidade científica com o propósito de incentivar o desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e a ecologia das unidades de conservação e sobre formas de uso sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das populações tradicionais.

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§ 1o As pesquisas científicas nas unidades de conservação não podem colocar em risco a sobrevivência das espécies integrantes dos ecossistemas protegidos.

§ 2o A realização de pesquisas científicas nas unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, depende de aprovação prévia e está sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração.

§ 3o Os órgãos competentes podem transferir para as instituições de pesquisa nacionais, mediante acordo, a atribuição de aprovar a realização de pesquisas científicas e de credenciar pesquisadores para trabalharem nas unidades de conservação.

Art. 33. A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento.

Art. 34. Os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas físicas que desejarem colaborar com a sua conservação.

Parágrafo único. A administração dos recursos obtidos cabe ao órgão gestor da unidade, e estes serão utilizados exclusivamente na sua implantação, gestão e manutenção.

Art. 35. Os recursos obtidos pelas unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral mediante a cobrança de taxa de visitação e outras rendas decorrentes de arrecadação, serviços e atividades da própria unidade serão aplicados de acordo com os seguintes critérios:

I - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na implementação, manutenção e gestão da própria unidade;

II - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na regularização fundiária das unidades de conservação do Grupo;

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III - até cinqüenta por cento, e não menos que quinze por cento, na implementação, manutenção e gestão de outras unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral.

Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei.

§ 1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento.

§ 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação.

§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo.

CAPÍTULO V DOS INCENTIVOS, ISENÇÕES E PENALIDADES

Art. 37. (VETADO)

Art. 38. A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à flora, à fauna e aos demais atributos naturais das unidades de conservação, bem como às suas instalações e às zonas de amortecimento e corredores ecológicos, sujeitam os infratores às sanções previstas em lei.

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Art. 39. Dê-se ao art. 40 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a seguinte redação:

"Art. 40. (VETADO)

"§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre." (NR)

"§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (NR)

"§ 3o ...................................................................."

Art. 40. Acrescente-se à Lei no 9.605, de 1998, o seguinte art. 40-A:

"Art. 40-A. (VETADO)

"§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural." (AC)

"§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (AC)

"§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade." (AC)

CAPÍTULO VI DAS RESERVAS DA BIOSFERA

Art. 41. A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações.

§ 1o A Reserva da Biosfera é constituída por:

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I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;

II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e

III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis.

§ 2o A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado.

§ 3o A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria específica.

§ 4o A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade.

§ 5o A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e a Biosfera – MAB", estabelecido pela Unesco, organização da qual o Brasil é membro.

CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes.

§ 1o O Poder Público, por meio do órgão competente, priorizará o reassentamento das populações tradicionais a serem realocadas.

§ 2o Até que seja possível efetuar o reassentamento de que trata este artigo, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das populações tradicionais residentes com os objetivos da unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de

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subsistência e dos locais de moradia destas populações, assegurando-se a sua participação na elaboração das referidas normas e ações.

§ 3o Na hipótese prevista no § 2o, as normas regulando o prazo de permanência e suas condições serão estabelecidas em regulamento.

Art. 43. O Poder Público fará o levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo de definir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco anos após a publicação desta Lei.

Art. 44. As ilhas oceânicas e costeiras destinam-se prioritariamente à proteção da natureza e sua destinação para fins diversos deve ser precedida de autorização do órgão ambiental competente.

Parágrafo único. Estão dispensados da autorização citada no caput os órgãos que se utilizam das citadas ilhas por força de dispositivos legais ou quando decorrente de compromissos legais assumidos.

Art. 45. Excluem-se das indenizações referentes à regularização fundiária das unidades de conservação, derivadas ou não de desapropriação:

I - (VETADO)

II - (VETADO)

III - as espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Público;

IV - expectativas de ganhos e lucro cessante;

V - o resultado de cálculo efetuado mediante a operação de juros compostos;

VI - as áreas que não tenham prova de domínio inequívoco e anterior à criação da unidade.

Art. 46. A instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infra-estrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais.

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Parágrafo único. Esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não indenizadas.

Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Art. 49. A área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral é considerada zona rural, para os efeitos legais.

Parágrafo único. A zona de amortecimento das unidades de conservação de que trata este artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.

Art. 50. O Ministério do Meio Ambiente organizará e manterá um Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, com a colaboração do Ibama e dos órgãos estaduais e municipais competentes.

§ 1o O Cadastro a que se refere este artigo conterá os dados principais de cada unidade de conservação, incluindo, dentre outras características relevantes, informações sobre espécies ameaçadas de extinção, situação fundiária, recursos hídricos, clima, solos e aspectos socioculturais e antropológicos.

§ 2o O Ministério do Meio Ambiente divulgará e colocará à disposição do público interessado os dados constantes do Cadastro.

Art. 51. O Poder Executivo Federal submeterá à apreciação do Congresso Nacional, a cada dois anos, um relatório de avaliação global da situação das unidades de conservação federais do País.

Page 37: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Art. 52. Os mapas e cartas oficiais devem indicar as áreas que compõem o SNUC.

Art. 53. O Ibama elaborará e divulgará periodicamente uma relação revista e atualizada das espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção no território brasileiro.

Parágrafo único. O Ibama incentivará os competentes órgãos estaduais e municipais a elaborarem relações equivalentes abrangendo suas respectivas áreas de jurisdição.

Art. 54. O Ibama, excepcionalmente, pode permitir a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinadas a programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas, de acordo com o disposto nesta Lei e em regulamentação específica.

Art. 55. As unidades de conservação e áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores e que não pertençam às categorias previstas nesta Lei serão reavaliadas, no todo ou em parte, no prazo de até dois anos, com o objetivo de definir sua destinação com base na categoria e função para as quais foram criadas, conforme o disposto no regulamento desta Lei.

Art. 56. (VETADO)

Art. 57. Os órgãos federais responsáveis pela execução das políticas ambiental e indigenista deverão instituir grupos de trabalho para, no prazo de cento e oitenta dias a partir da vigência desta Lei, propor as diretrizes a serem adotadas com vistas à regularização das eventuais superposições entre áreas indígenas e unidades de conservação.

Parágrafo único. No ato de criação dos grupos de trabalho serão fixados os participantes, bem como a estratégia de ação e a abrangência dos trabalhos, garantida a participação das comunidades envolvidas.

Art. 57-A. O Poder Executivo estabelecerá os limites para o plantio de organismos geneticamente modificados nas áreas que circundam as unidades de conservação até que seja fixada sua zona de amortecimento e aprovado o seu respectivo Plano de Manejo.

Page 38: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica às Áreas de Proteção Ambiental e Reservas de Particulares do Patrimônio Nacional. (Redação dada pela Lei nº 11.460, de 2007)

Art. 58. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que for necessário à sua aplicação, no prazo de cento e oitenta dias a partir da data de sua publicação.

Art. 59. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 60. Revogam-se os arts. 5o e 6o da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965; o art. 5o da Lei no 5.197, de 3 de janeiro de 1967; e o art. 18 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.

Brasília, 18 de julho de 2000.”

3- Biomas Continentais Brasileiros

Introdução:

Os biomas são as maiores unidades ambientais. Eles são paisagens

de fauna e de flora específicas cuja variedade e diversidade resultaram de

climas e de diferentes histórias geológicas.

A Biodiversidade Brasileira:

O Brasil é um subcontinente rico em ambientes muito diversos, que

abrigam uma biodiversidade que representa entre 15% e 20% das espécies

vegetais, animais e de microorganismos do mundo.

O Conceito de Bioma:

O termo fitofisionomia foi proposto praticamente ao mesmo tempo

em foi proposto o termo formação. O termo bioma, proposto mais tarde,

apenas adicionou a fauna à uniformidade fitofisionômica e climática,

características desta unidade biológica.

Várias modificações conceituais foram apresentadas por diversos

autores, ao longo do tempo, acrescentando outros fatores ambientais ao

Page 39: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

conceito original, como o solo, por exemplo. Walter propôs um conceito

essencialmente ecológico, considerando bioma como uma área de ambiente

uniforme, pertencente a um zonobioma, o qual é definido de acordo com a

zona climática em que se encontra. Este conceito considera ainda outros

fatores ambientais ecologicamente importantes, como altitude e solo,

distinguindo, então, orobiomas e pedobiomas.

Outro fator a ser considerado seria o fogo natural (pirobiomas).

Bioma e domínio morfoclimático e fitogeográfico não são sinônimos, uma

vez que este último não apresenta necessariamente um ambiente uniforme.

Bioma Amazônia:

Historia Geológica do Rio Amazonas

Desde o inicio do Paleozóico, a bacia do Amazonas estava encravada

entre os dois escudos pré-cambrianos, o Escudo do Brasil e o Escudo das

Guianas. Mesmo assim o Rio Amazonas na sua forma presente é muito

jovem, tem possivelmente menos de 3 milhões de anos.

Até a época recente, a bacia do Amazonas encontrava-se sempre

dividida em pelo menos três bacias independentes: o alto, o médio e o

baixo Amazonas. No Devoniano e no Carbonífero o mar penetrou até a

altura do atual Rio Juruá. A formação carbonífera Juruá acompanha hoje o

médio Amazonas em duas bandas estreitas. Esta formação representa as

terras mais ricas em nutrientes do Amazonas, além de ser repleta de

depósitos de gás e de minerais ferrosos. No fim do Carbonífero elevou-se a

barreira Gurupá, na altura do Rio Xingu, que separou a bacia do baixo

Amazonas do resto das bacias. Enquanto esta barreira e a barreira do Purus

o médio amazonas tornou-se uma bacia freqüentemente fechada, no oeste,

na região do alto Amazonas formou-se a grande bacia do Acre, que

desaguava no Pacífico. Na bacia central existia um grande lago chamado

“Lago de Belterra”. Desde o Mioceno, com a elevação dos Andes, o

contato com o Pacífico foi se restringindo e uma abertura para o recém

formado Oceano Atlântico foi estabelecendo, de modo que o Lago Belterra

foi pouco a pouco drenado. Acredita-se que a rede fluvial na sua forma

Page 40: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

presente originou-se no Plioceno, cerca de 3 milhões de anos atrás,

especialmente sob a influencia dos níveis muito baixos do mar, que

levaram os rios a uma grande atividade erosiva.

O Rio Amazonas atual, com mais de 3.500km de comprimento,

atravessa a antiga bacia rasa e conseqüentemente a diferença de altitude no

percurso do rio é de somente 0,5 centímetros por quilômetro. Durante as

repetidas épocas inter-glaciais, o nível do mar subia de 4 a 5 metros, um

longo e estreito golfo do mar penetrava até a altura de Manaus, com

ramificações nos grandes tributários. Durante as épocas glaciais ao

contrário, quando o nível do mar caía até 150 metros abaixo do nível atual.

Os grandes rios como o Amazonas, e tributários como o Rio Negro

cavavam leitos que até hoje têm mais de 100 metros de profundidade. Hoje

em dia, em certas condições, a onda da maré atlântica, chamada de

Pororoca, pode chegar a uma distancia de até 800 quilômetros do mar.

As águas da bacia do Amazonas apresentam características das suas

origens geológicas. Os rios procedentes do Escudo das Guianas são em sua

maioria rios de águas pretas. Estes rios tais como o Rio Negro, têm uma

carga mínima de nutrientes, uma acidez bastante alta e uma coloração

marrom, devido aos ácidos húmicos. Os rios que drenam o Escudo

Brasileiro, tais como o Rio Tocantins, o Rio Xingu e outros são chamados

de rios de águas claras. Eles são também pobres em nutrientes,

provenientes das antigas terras pré-cambrianas lixiviadas, mas não têm a

cor marrom, finalmente o Rio Solimões, o Rio Amazonas abaixo de

Manaus e o Rio Madeira, são rios de águas brancas. A grande massa de

águas do Rio Amazonas vem das terras altas neozóicas andinas e são ricas

em nutrientes e sedimentos, que lhe proporcionam uma coloração turva. A

transparência dos três tipos de águas são as seguintes: águas brancas,

visibilidade de 0,5 a 1,5m; águas pretas, visibilidade de 1,3 a 2,3m; águas

claras de 1,1 a 4,3m. Acrescentamos ainda que por sua coloração escura, a

água dos rios pretos é até 2°C mais quente que a dos outros tipos de água.

A história geológica da Mata Amazônica data do Eoceno. Durante

as épocas glaciais, muito mais secas e com temperaturas médias anuais de

até 5ºC mais baixas, a floresta de hoje se encontrava invadida pelo cerrado,

enquanto a flora montanhosa, por exemplo, o pinheiro Podocarpus, se

espalha temporariamente pelas planícies da bacia. Durante o Pleistoceno, a

floresta Amazônica permaneceu fechada, sendo que provavelmente não se

Page 41: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

chegou a mais de quatro meses sem chuva, o limite para a existência de

uma mata pluvial. O atual regime climático definiu-se em torno de 7.000

anos atrás. Com a subida do nível do mar, as várzeas e os igapós se

estabeleceram na sua extensão presente, em torno de 7.700 anos atrás.

Limites e Parâmetros

A mata pluvial amazônica é uma mata de planície, seu limite de altitude

estando em geral situado a 200 metros. Além desta altitude a mata pluvial

se transforma numa mata de sopé, a mata subandina do Peru e da Bolívia. É

preciso assinalar que este tipo de mata pluvial é às vezes, mais rica em

espécies que a da planície.

Os limites de temperatura ocorrem entre as isotermas de médias

anuais de 24 a 27ºC e os limites da pluviosidade anual estão entre as

isoietas de 1.800 a 3.500 mm, mesmo que taxas de pluviosidade de até

10.000 mm anuais não sejam raras. Não existe sazonalidade em termos de

temperaturas e não existem também meses com menos de 100 mm de

chuva. Na medida em que estes limites são ultrapassados no sul e no

noroeste da mata Amazônica, o clima fica mais sazonal e ocorre uma

transição gradual para um tipo de mata Amazônica semi-decídua ou um

cerrado.

Tendo em vista estas delimitações, a mata fluvial de planície

propriamente dita cobre uma área aproximada de 6 milhões de quilômetros

quadrados.

Acredita-se que até 40% das chuvas que caem na Amazônia são

provenientes da condensação dos vapores de água produzidos pela própria

floresta. Os rios da bacia carregam, entretanto, águas provenientes de

outras regiões climáticas com alternância de estações chuvosas e secas.

Predominam na bacia Amazônica brasileira os rios que vêm do hemisfério

sul, sendo que os rios que nascem ao norte do equador têm uma influencia

muito menor. Portanto durante as chuvas do verão meridional, as águas do

Rio Amazonas e de muitos tributários podem crescer até 15 metros. Esta

imensa onda de inundação estacional imprime um ritmo decisivo sobre a

biota nas várzeas e nos igapós. A própria dinâmica destas inundações

podem causar durante os anos deficientes em chuvas do El Niño, flutuações

ecológicas importantes na Amazônia.

Page 42: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

É evidente que neste grande território são encontrados diferentes

tipos de solo, determinando uma variedade de expressão da mata pluvial.

A mata Amazônica é quase sempre uma mata fechada com copas de

arvores ultrapassando os 20 m de altura. Portanto, podemos acrescentar

outros parâmetros microclimáticos específicos com efeitos ecológicos

importantes. Em baixo do dossel não existe movimento de vento e a

umidade alcança normalmente 100%. A luminosidade no chão escurecido

da floresta pode estar bem abaixo dos 2% da luz do dia. No que diz respeito

a estes três parâmetros, a mata pluvial atlântica apresenta condições bem

menos extremas.

Matas alagadas

Extensas áreas da floresta amazônica são alagadas pelas enchentes

do Rio Amazonas e de seus afluentes. A duração média destas enchentes é

de seis meses e o nível da água ultrapassa os 10 m. Este é um dos

fenômenos característicos unicamente da Amazônia. A área que sofre estas

inundações acompanha o Rio Amazonas e os trechos baixos dos seus

tributários, numa faixa de 20 a 100 quilômetros de largura. Esta floresta

periodicamente inundada se chama várzea, quando de trata de áreas de

águas brancas e de deposição de sedimentos ricos em nutrientes. Os

chamados igapós encontram-se em áreas com águas pretas ou claras, com

substratos lixiviados pobres em nutrientes ou sujeitos a erosão. A várzea é

claramente localizada nas margens do Rio Solimões e do Rio Amazonas.

Os igapós clássicos acompanham o baixo Rio Negro, mas algumas áreas de

inundação que acompanham alguns rios de águas claras, como o baixo Rio

Xingu e também os igarapés, canais de ramificação do delta do Rio

Amazonas, são considerados como ambientes de igapó. As florestas do tipo

igapó podem ser encontradas em áreas que são permanentemente alagadas,

enquanto o ritmo das cheias e das vazantes é muito mais claro nas várzeas.

A vegetação da várzea é muito mais rica que a vegetação dos igapós

de água preta, por causa da fertilidade das águas brancas e dos solos

aluvionais por elas trazidos.

Um dos aspectos mais interessantes na ecologia das matas de

inundação é a dependência da vegetação arbórea em relação à fauna de

Page 43: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

peixes para a dispersão das frutas e das sementes. Neste caso os peixes

comprem a função das aves e dos mamíferos na dispersão de sementes em

outras formações vegetais, na Amazônia vivem em torno de 1.500 espécies

de peixes.

A fauna de vertebrados superiores terrestres das florestas é pobre em

espécies e predominam animais com adaptações anfíbias.

As águas das florestas alagadas são ricas em répteis aquáticos. As

tartarugas são importantes herbívoros da vegetação aquática e os jacarés,

predadores, são considerados importantes reguladores ecossistêmicos nas

várzeas. Não podemos deixar de falar na serpente sucuri, Eunectes

murinus, que pode chegar a 9 m de comprimento.

A floresta de terra firme

História Geológica Recente

A maioria da floresta amazônica é constituída de uma “floresta de terra

firme”. Esta é uma floresta que nunca é alagada e se espalha por uma

grande planície de 130 até 200 m de altitude nos sopés das montanhas. A

grande planície corresponde aos sedimentos deixados pelo grande lago

“Belterra” ocupou uma grande parte da bacia Amazônica durante o

Mioceno e o Plioceno, entre 25 e 03 milhões de anos atrás, o silte e as

argilas depositados neste antigo lago foram submetidos a um leve

movimento de inclinação epeirogônico, enquanto os Andes se ergueram e

os rios modernos começaram a cavar seus leitos.

As flutuações climáticas do Pleistoceno se manifestaram numa

secessão repetida de climas, “frio-seco” e “quente-úmido” ou “quente-

seco”. A ultima fase “frio-seco” data de 18.000 a 12.000 anos atrás, quando

o clima de uma parte da Amazônia era semi-árido. Em seguida houve o

retorno do clima quente-úmido que chega ao máximo em torno de 7.000

anos atrás, no Holoceno.

O Ciclo da Matéria Vegetal

Nos solos pobres da mata de terra firme, a reciclagem da abundante matéria

vegetal é feita através de um circuito curto. Os minerais resultantes da

decomposição não se acumulam no solo, como ocorre nas matas das

regiões temporadas. Eles são recapturados pelas densas redes de fungos, as

Page 44: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

chamadas micorrizas, e devolvidos as raízes das arvores. Este fenômeno

simbiótico entre as micorrizas e as arvores é o principal ele ecológico que

possibilita a existência da rica mata de terra firme. Embaixo da

serrapilheira e das colônias de micorrizas, o solo da floresta é

extremamente oligotrófico, e às vezes contém até taxas nocivas de

alumínio.

Vertebrados terrestres

Especialmente rica é a fauna de anuros, que possuem interessantes

adaptações reprodutivas, como o Colosthetus, que desova no chão e os

girinos são levados para os igarapés pelos pais. Os Leptodactylus

constroem ninhos de espuma para os girinos.

A fauna de lagartos é caracterizada por várias espécies de Anolis.

Destacam-se também as lagartixas Gekkonidae.

A mata Amazônica é a terra dos grandes mutuns (Gracidae) de

muitos inhambus (Tinamidae) de tucanos e araçaris (Ramphastidae) de

araras e papagaios (Psittacidae) pica-paus (Picidae) e de muitos

passeriformes.

Entre os mamíferos, os roedores aparecem em maio número,

seguidos por marsupiais dos gêneros Marmosa, Caluromys, etc. A fauna de

primatas também é bastante variada.

Bioma Cerrado:

Localização

Os cerrados cobriam cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados,

ocupando em torno de 22% do território brasileiro. A área central dos

cerrados se encontra no planalto central brasileiro e áreas vizinhas.

O clima

Como ocorre com todas as savanas, nas regiões do cerrado há uma

estação seca pronunciada. No Planalto Central Brasileiro, a estação seca vai

do início de junho ao final de outubro e a pluviosidade é cerca de 1400 mm

por ano. Em certas áreas do cerrado no planalto brasileiro, ocorrem geadas

Page 45: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

durante o inverno seco. O limite cerrado - caatinga no nordeste encontra-se

nos valores de pluviosidade anual de menos de 800 mm por ano.

A insolação no cerrado é muito alta sem uma cobertura vegetal

contínua, e as temperaturas podem oscilar até 45ºC em 24 horas.

Condições extremas que combinam uma temperatura maior que 30ºC

e uma umidade atmosférica abaixo de 20% podem ocorrer. Nestas

condições o cerrado é freqüentemente atingido pelo fogo.

Vegetação xerofítica

Para sobreviver à falta estacional de água, sejam elas ervas, escrubes

(arbustos, bromeliáceas, cactáceas, etc.) ou árvores, têm características

xeromórficas. Em outras palavras, são adaptadas a escassez de água e

apresentam formas que refletem esta adaptação. As árvores e arbustos

possuem freqüentemente caules e ramos tortuosos, troncos com cascas

grossas, muitas vezes com vestígios de carvão deixados pelas queimadas.

Varias árvores têm um tipo de tronco subterrâneo, uma estrutura lenhosa

inchada que rebrota na época das chuvas, chamadas de xilopódio. As raízes

lenhosas de um pé de mata-barata, Andira laurifólia, cobrem uma área com

diâmetro de 10 m.

As folhas geralmente são grossas, duras, coriáceas e ásperas ao tato.

As árvores são total ou parcialmente decíduas: perdem as folhas na estação

seca. Em busca de água, as raízes das plantas podem chegar a 20 m

profundidade. Provavelmente as raízes das plantas do cerrado levam anos

para alcançar um lençol freático profundo. Durante este tempo necessitam

de estruturas xerofíticas para superar a escassez de água. Entretanto os

cerrados ocupam muitas vezes solos rasos. Quase sempre há nos cerrados

uma vegetação rasteira de capins e outras plantas herbáceas, alem de

escrube baixo, interrompida por trechos irregulares de solo nu.

Sucessão ecológica

Existe toda uma transição entre cerrados muito abertos, campestres e

cerrados densos, predominantemente arbóreos, que constituem verdadeiras

florestas. Estes são comumente chamados de cerradões. Os ecossistemas do

cerrado são um complexo heterogêneo de vegetação xerofítica, que migrou

de acordo com as flutuações do clima no Quaternário. Os cerrados são

Page 46: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

comumente classificados segundo seu aspecto, nas categorias de campo

limpo, campo sujo, campo cerrado, cerrado propriamente dito e cerradão.

Eles apresentam um gradiente, do cerrado que apresenta uma ou outra

árvore, até o cerradão, que é um tipo de floresta.

As veredas

Em áreas baixas a alternância entre a estação seca e a estação úmida

pode ser extrema. As chamadas veredas chegam a ser submersas

temporariamente durante o verão para depois serem submetidas durante i

inverno a condições áridas, muitas vezes estremas. As veredas encontram-

se em varias regiões do cerrado, sendo as palmeiras buriti (Mauritia

flexuosa) e buritirana (Mauritiella aculeata). Os ambientes de vereda

constituem um ambiente úmido onde as áreas alagadas predominam e o

próprio cerrado aparece como um arquipélago dentro dos pântanos. As

veredas são ilhas de maior densidade e diversidade animal dentro dos

cerrados.

Os solos

Os solos do cerrado freqüentemente são profundos, do tipo latossolos

vermelhos ou amarelos, mas às vezes são litossolos rasos. São solos pobres

em sais minerais, com um pH baixo e alto teor de alumínio. Os solos dos

cerradões são mais ricos em cálcio e magnésio, com valores de pH mais

altos. por isso se considera que a falta de nutrientes e até a ação fisiológica

do alumínio livre sejam responsáveis pelo baixo porte e outras

características da vegetação do cerrado.

Vegetação

Considera-se que o cerrado contém cerca de 10.000 espécies de

plantas superiores. Entre elas, 4.400 (44%) são endêmicas. Uma das causas

desta altíssima taxa de endemismo é provavelmente a evolução de espécies

adaptadas especialmente as condições do solo distrófico, rico em alumínio.

Entre as muitas árvores do cerrado estão o pau santo (Kielmeyera

coriacea), o pau de tucano (Salvertia convallariaeodora), o faveiro ou

sucupira branca (Pterodon pubescens), os paus terra (qualea spp). As

árvores do cerrado geralmente não apresentam epífitas. Entre as plantas de

menos porte e arbustos estão os gravatás (bromeliáceas) e canelas de emas

Page 47: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

(velloziaceae). A vegetação herbácea está sempre presente e constitui-se

principalmente de gramíneas.

As queimadas

O fogo muitas vezes é um fator ecológico natural. Raios e vulcões

sempre provocaram fogo natural na vegetação. No fim do Cretáceo quando

o teor de oxigênio na atmosfera era mais de 50% maior do que é hoje,

queimadas catastróficas eram muito mais freqüentes e alcançavam

dimensões globais. Considera-se que um galho de árvore de 1 cm de

diâmetro que contem menos de 15% de umidade é vulnerável e inflamável

numa queimada. As plantas ali existentes sofrem, em média a cada 3 anos,

os efeitos da presença do fogo. As árvores são protegidas do fogo

principalmente pela casca grossa. Algumas espécies chamadas de pirófitas,

tais como a Bowdichia nítida mostram uma resistência grande contra

incêndios.

Formigas e cupins

Os cerrados são savanas de cupins, muito mais típicas que as savanas

africanas. Na quase ausência dos grandes mamíferos herbívoros, a

reciclagem da produção vegetal é feita principalmente pelas formigas e

cupins. Uma grande parte da fauna dos cerrados alimenta-se destes insetos;

além disso os cupinzeiros fornecem um ambiente especifico para muitos

animais.

Entre os insetos, as formigas saúvas (Atta spp) têm uma grande

importância nos cerrados: elas cortam as folhas das plantas e mobilizam

grande quantidade de terra na construção seus ninhos. Dentro dos ninhos o

material vegetal serve para o cultivo de fungos, dos quais as formigas se

alimentam. Os restos de vegetais e de fungos, bem como toda a sorte de

detritos, permanecem dentro dos ninhos. Esta matéria orgânica decompõe-

se em nutrientes minerais que são reabsorvidos e reaproveitados pelas

raízes das plantas.

Os cupins, com seus ninhos de barro podem ser encontrados, podem

ser encontrados em qualquer lugar, seja construindo elevações sobre a

superfície do solo, seja como uma estrutura semi-esférica sobre os troncos

e galhos das arvores. Os cupins são muito importantes na reciclagem do

rico material lenhoso dos cerrados.

Page 48: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Fauna de vertebrados

A fauna dos cerrados é variada, mas, a sua biomassa e o numero de

espécies são relativamente baixos, em comparação com a fauna da floresta

úmida. Cerca de 85% dos mamíferos do cerrado têm menos de 5

quilogramas.

Entre os répteis destacam-se as cascavéis (Crotalus spp), o calango

verde (Ameiva ária), é o lagarto mais conspícuo das formações abertas do

Brasil. Encontra-se também a lagartixa (Gymnodactylus geckoides). O

cerrado é caracterizado pela relativa diversidade de rapteis

Amphisbaenidae (“cobras de duas cabeças ou cobras cegas”), espécies

fossoriais , cavadoras, que sobrevivem nas secas e incêndios nas suas tocas.

Varias aves importantes do cerrado andam pelo chão e voam pouco:

a siriema (Cariama cristata), a perdiz (Rhynchotus rufescens), a codorna

(Nuthura maculosa). A ema (Rhea americana) é a maior ave brasileira; não

voa mas corre muito bem. Ela é útil comendo pequenas cobras e outros

animais, mas está se tornando rada no planalto central. Nos cerrados densos

encontra-se o jacu pomba (Penelope superciliaris). A maioria das aves do

chão podem ser caracterizadas como seguidoras de fogo. Elas costumam

concentrar-se em áreas queimadas. A cor predominante entre as aves do

cerrado é um pardo marrom. Muitas aves são associadas aos cupinzeiros. O

papagaio de cara amarela (Amazona xanthops) faz ninho nos grandes

cupinzeiros terrestres. A jandaia rei (Aratinga áurea) nidifica nos

cupinzeiros construídos nas arvores. A coruja do campo ou buraquira

(Speotyto cunicularia) escava túneis na base dos cupinzeiros que lhe

servem de ninho. Várias espécies de roedores habitam o cerrado. Eles são

bastante sparsos e nem o mais comum deles, o rato de rabo peludo

(Bolomys lasiurus) forma grandes populações. Entre os mamíferos de

grande porte prevalecem as espécies que preferem formações abertas e

semi-abertas. O mais bem sucedido é a raposa (Cerdocyon thous). Também

encontramos o lobo guará (Chysocyon brachyurus) e a onça parda ou

suçuarana (Felis concolor) e ainda o grande tatu canastra (Priodontes

giganteus), o tamanduá bandeira (Myrmercophaga tridactylus). Dois

primatas vivem no cerrado, o bugio do cerrado (Allouatta caraya), muito

raro, e o saqüi de cara preta (Callithrix penicillata).

Page 49: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Vários autores mencionam a predominância das cores cinzentas nos

animais do cerrado como uma possível adaptação mimética aos ambientes

pós-queimada. Merece ser enfatizado também o fato de que a forma mais

comum de alimentação dos mamíferos do cerrado é a insetívora.

Bioma Mata Atlântica:

Biodiversidade

A Mata Atlântica apresenta a maior biodiversidade do mundo, são

encontradas no sul da Bahia, 250 espécies de árvores por hectare. A Mata a

mais rica flora de bromélias e orquídeas do mundo e a fauna mais rica de

anfíbios. Das mais de 1.300 espécies de arvores, 54% são endêmicas. Das

bromélias 74% são endêmicas da Mata Atlântica, da mesma forma 40% das

espécies de vertebrados são endêmicas e das 261 espécies de mamíferos

27% são endêmicas. Das 10 espécies de primatas, nove estão em perigo de

intenção.

Extensão

A Mata atlântica propriamente dita estendia-se por mais de 4000

quilômetros ou 27 graus de latitude, numa faixa relativamente estreita

desde o Rio Grande do Norte até Santa Catarina, basicamente d, ividida em

três trechos. PE-AL, nos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas é uma

floresta chamada de “brejos”, que ocupava várias serras com um clima

mais úmido. Desta floresta não sobrou quase nada. Ao sul da

desembocadura do Rio São Francisco, o trecho BA-ES ocupa o litoral sul

da Bahia até o Rio Doce. Esta é uma floresta de tabuleiro altos de 20 a 100

metros, pertencendo à formação arenosa Barreiras, de origem pliocênica.

Sendo de fácil acesso a floresta BA-ES foi muito derrubara e sobrevive em

pequenas áreas protegidas.

Depois de interrupção na altura do Cabo Frio e da foz do Rio Paraíba

do Sul, Rio de Janeiro para o Sul, o trecho RJ-SP da Mata Atlântica ocupa

uma faixa relativamente estreita nas encostas íngremes da Serra do Mar e

de outras cadeias de montanhas que acompanham o litoral atlântico. A

mata do Estado do Rio de Janeiro está limitada a Serra dos Órgãos e a Serra

da Mantiqueira, a ultima, estendendo-se para o Estado de Minas Gerais. A

Page 50: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Serra do Mar apresenta ainda hoje uma mata pluvial que se estende por

1000 Km, apresentando uma largura de algumas dezenas de quilômetros ao

longo dos litorais paulista, paranaense e catarinense. A extensão mais

meridional da mata encontra-se na Serra Geral (RS).

A altura das serras chega a mais de 2000m na Serra dos Órgãos e na

Serra da Mantiqueira, mas raramente excede os 1000 m na serra do Mar.

Vários maciços isolados, tais como a Serra da Juréia e várias ilhas do

litoral, apresentam também uma densa floresta pluvial. Os maiores e mais

conservados maciços da Mata Atlântica de planície encontram-se nas Ilhas

do Cardoso (SP) e de Superagui (PR).

Rumo ao interior do continente, no planalto brasileiro, a floresta

atlântica tem uma composição cada vez mais pobre em espécies, que vivem

em condições climáticas mais secas. Este é um tipo de floresta de árvores

semi-decíduas proveniente do inventario florístico da Mata Atlântica. No

sudoeste antes da influencia humana, este tipo de mata, freqüentemente

interrompida por grandes clareiras, acompanhava também os grandes rios.

O limite da Mata Atlântica no interior do sul do Brasil é difuso, difícil de

precisar e muito controvertido. Porém a mata pluvial densa e ombrófila do

litoral é a própria Mata Atlântica, centro de evolução e fonte de distribuição

do riquíssimo acervo biótico deste bioma.

História Geológica

Existem provas fósseis de que alguns gêneros de árvores da Mata Atlântica

já estavam presentes na área no Eoceno, há cerca de 50 milhões de anos

atrás, enquanto isso, a Serra do Mar se levantava, chegando as alturas

máximas da Serra da Mantiqueira somente a 4 ou 5 milhões de amos atrás.

Foi esta longa história de variação ambiental contínua que explica em parte

a grande variedade diversidade de espécies da Mata Atlântica.

No auge do clima quente e úmido nas primeiras fazes do Plioceno

existia um contato entre as matas nascentes na Amazônia e do Atlântico.

Porém este contato foi interrompido pelo resfriamento subseqüente do

clima global.

O soerguimento final da Serra do Mar correspondeu ao inicio da

glaciação Antártica. O clima do continente sul Americano tornou-se mais

Page 51: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

seco, e foi aí que as florestas Atlânticas separaram-se da Mata Amazônica

pelo cinturão dos cerrados.

No fim do Plioceno, as áreas glaciais estenderam-se pelo globo e a

Serra do Mar passou por flutuações entre períodos glaciais e interglaciais

com uma freqüência de cerca de 100.000 anos.

No sul, a mata pluvial se retraiu, sendo parcialmente suplantadas

pelas florestas de araucária.

O clima contemporâneo quente e úmido instalou-se provavelmente

em torno de 6.500 anos atrás, quando a cobertura vegetal presente começou

a recompor-se na forma existente.

Fisionomia Florística

A fisionomia da Mata Atlântica é definida pelas principais espécies de

plantas que a compõem e apresenta variações com a altitude. A

variabilidade norte-sul não é muito grande, pelo menos quando se trata da

vegetação arbórea, apesar do fato da Mata pluvial Atlântica estender-se ao

sul até as ultimas cordilheiras litorâneas, por milhares de quilômetros.

A Mata Atlântica pluvial do Sudeste é uma floresta de montanhas,

com grande declividade e com e com melhor desenvolvimento ao nível das

neblinas quase permanentes. As árvores formam um dossel de 15 a 20

metros de altura com relativamente poucas árvores emergentes de até 40m.

A declividade permite a penetração de bastante luz no interior da floresta.

Por isso, na mata atlântica as arvores têm troncos mais grossos e menos

altos que os da floresta Amazônica, e o sub-bosque de arbustos é mais

denso. O solo aparece coberto por uma densa vegetação nas áreas de menor

declividade, mas é limpo nas encostas abruptas, devido à forte erosão. As

epífitas são mais abundantes, se comparadas com as da Amazônia,

enquanto a presença das palmeiras é menos pronunciada.

Diversidade vegetal

Os gêneros de árvores mais importantes são as leguminosas Dalbergia,

Piptadenia e Myrocarpus, as bignoniáceas, Tabebuia, Tecoma e

Jacaranda, as lauráceas Ocotea e Nectandra.

As Restingas

Page 52: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Nos cordões arenosos e nas dunas que separam a Mata Atlântica do Mar

desenvolveu-se uma vegetação pioneira. Mudanças freqüentes no nível do

mar impedem o desenvolvimento de uma mata fechada madura. Esta é uma

floresta baixa de arbustos e árvores contorcidas, espinhosas e xerofíticas,

misturada com brejos e lagoas. A área da restinga estende-se em áreas que

foram expostas após o ultimo afastamento do mar, há cerca de 5.000 anos

atrás. Calcula-se que menos de 3% da vegetação é típica de especifica para

a restinga. A restinga é mais rica em espécies e mais e mis parecida com a

Mata Atlântica, na medida em que os cordões distanciam-se do mar. Nas

costas mais abrigadas as restingas são separadas do mar pelo manguezal.

As restingas sempre acompanham a Mata Atlântica, mas no Rio de

Janeiro, especialmente onde existe a grande descontinuidade da mata, as

restingas têm um desenvolvimento especial.

Entre as árvores predominam as espécies de Myrtaceae, tais como a

Eugenia e a Myrcia. Xerófitas da família Euphorbiaceae.

Nas depressões entre os cordões onde o solo é mais úmido e as vezes

encharcado, encontra-se a caixeta Tabebuia cassinoides e a palmeira gerivá

Syagrus romanzoffiana.

Entra a fauna das restingas existem várias espécies endêmicas de

répteis, tais como o lagarto Liolaemus. Já entre os insetos se destaca a

borboleta-da-praia, Parides ascanius.

Herpetofauna da mata Atlântica

Entre os anfíbios, a fauna dos anuros, as pererecas e os sapos, com

304 espécies é a mais rica do mundo. O gênero mais rico em espécies é o

da perereca Hyla. Uma família de após os Brachycephalidae, vive somente

na Mata Atlântica.

Entre os répteis de mata Atlântica temos o teiú Tupinambis, o maior

lagarto brasileiro, e várias espécies endêmicas de Tropidurus e Mabuya. O

gênero Enyalius, pequeno lagarto arborícola, é especialmente rico em

espécies.

Entre as serpentes podemos destacar as endêmicas de ilhas como a

jararaca ilhoa Bothrops insularis da Ilha da Queimada Grande (SP) e as

cobras corais (Micrurus).

Page 53: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Nos rios vivem espécies de cágados Phrynops e nas corrediras do alto das

montanhas vive o cágado pescoço de cobra Hydromedusa maximiliani.

Aves da Mata Atlântica

A mata atlântica contém 688 espécies de aves, das quais umas 200 são

endêmicas. Somente na Serra da Mantiqueira (RJ-MG) foram registradas

mais de 300 espécies.

Bioma Caatinga:

Dimensões, Clima e definições

O bioma das caatingas abrange os estados de Piauí, Ceará, Rio

Grande do Norte e Paraíba. As regiões interioranas dos estados de Bahia,

Pernambuco, Alagoas e Sergipe pertencem também a este bioma.

Metade das caatingas recebe menos de 700 mm de chuva por ano, e a

sazonalidade é extrema. Entre 50 e 70% das chuvas concentram-se nos três

meses do verão. A temperatura é quente e bastante estável nas caatingas,

oscilando entre 26 e 28ºC. Temperaturas muito altas em torno de 40ºC

ocorrem ocasionalmente em áreas restritas, tais como o baixo rio São

Francisco. A temperatura pode baixar 4ºC, porem isso só ocorre nos

relevos mais altos.

Uma faixa de vegetação transicional chamada de “agreste” se

interpõe entre a Mata Atlântica litoral e o interior seco, o “sertão”. Além

disso existem, espalhados mela área, vários locais mais úmidos, tais como

na caatinga de Pernambuco, chamados de “brejos”. Existem também varias

áreas elevadas, chamadas de “chapadas” e “ilhas de morros” cobertos por

uma vegetação do tipo cerrado. A mais elevada destas chapadas é o Pico de

Jabre (PB), que chega até 1.099 m de altitude. Algumas são muito extensas

como a chapada do Araripe e o Maciço de Borborema.

Os fitossociólogos subdividem a área em vários tipos de caatinga.

Tais como:

1- Floresta de caatinga.

2- Floresta de caatinga media.

Page 54: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

3- Floresta de caatinga baixa.

4- Caatinga arbustiva baixa.

Existem vários subtipos e varias outras categorias. A discussão em

torno deste assunto é indicativa da complexidade deste bioma. As

florestas de brejos e o cerrado das chapadas fazem a feição de

mosaico das caatingas serem ainda mais evidente.

As águas da caatinga

Por causa do clima semi-árido, a maioria dos cursos de água é

intermitente e secam por um período de sete a nove meses no ano.

Quando a chuva chega, muitos se tornam torrentes de vida curta que

podem mesmo ser catastróficos. Existem, porém, indícios que

durantes fases mais úmidas do Quaternário, muitos destes rios

intermitentes tiveram um fluxo permanente e continuo. Na situação

de hoje os rios temporários são povoados por insetos aquáticos de

desenvolvimento rápido, por moluscos e especialmente por pequenos

peixes guarás ornamentais da família dos Rivulidae. Levantamentos

recentes acharam nas caatingas 12 espécies do gênero

Simpsonichthys, 11 de Cynolebias e uma espécie de Rivulus. Estes

peixes colocam na lama ovos resistentes a seca, que eclodem depois

rapidamente quando chegam as chuvas. Eles podem desenvolver-se

em poucas semanas a partir de ovos que podem ficar vários anos na

lama seca dos açudes e das poças de água.

O Rio São Francisco é um grande e longo rio com 2.700

quilômetros de comprimento, o terceiro maior rio do Brasil. Ele é um

rio alóctone, que é alimentado por nascentes situadas fora da área de

clima árido. Atualmente o São Francisco está desaguando no Oceano

Atlântico, porém existem indícios que durante as fases mais secas do

Pleistoceno acabava-se na caatinga, tornando-se temporariamente um

rio endorréico.

O Rio São Francisco possui uma rica fauna de peixes, com 116

espécies. Como em outros rios da América do Sul, a família

predominante é a Characinidae. Calcula-se que a taxa de

endemismos entre os peixes do São Francisco seja em torno de 50%.

Page 55: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

As dunas que acompanham o São Francisco ambientes

ecologicamente importantes, principalmente no que diz respeito a

herpetofauna.

História Geológica

As caatingas têm uma história bastante antiga, sendo originaria

do Mioceno seco, há 12 ou 14 milhões de anos atrás. Naquele tempo

a área da caatinga se encontrava coberta por sedimentos deixados

pela grande transgressão Cretácica. Com a aridização progressiva

iniciou-se um processo de pediplanação pela ação erosiva dos rios

torrenciais, que acabaram por levar para o mar a maioria destas

camadas Cretácicas, desnudando a velha rocha-mãe Pré-Cambriana.

As chapadas que hoje se sobressaem no relevo das caatingas são

formações residuais desta cobertura mesozóica.

Conseqüentemente as caatingas são um complexo de terras

interplanálticas e inter-montanhosas caracterizadas por solos rasos,

pedregosos, e freqüentemente por lajedos cristalinos.

A flora

A vegetação predominante da caatinga é xerofítica e decídua,

plenamente adaptada à escassez periódica de água. Os arbustos e

escrubres, na maioria deles sem folhagem durante a maior parte do

ano, chegam somente a uma média de 4 m de altura. As famílias

predominantes são Cactaceae, Bromeliaceae, Euphorbiaceae, e a

Leguminosae.

As espécies mais comuns são os cactos, o mandacaru Cereus

jamacaru. Considerado com a espécie mais típica das caatingas,

assim como o xique-xique Pilosocereus gounellei, e as diferentes

espécies de coroa de frade Melocactus e a palma de espinhos

Opuntia. Muitos cactáceas são endêmicas. Uma das mais típicas

bromélias da caatinga é a macambira Bilbergia fosteriana. Todas

esta xerófitas mantêm suas partes vegetativas durante a estação seca.

Poucos arbustos tal como o juazeiro Ziziphus joazeiro, o icô

Capparis yco e o umbuzeiro Spondias tuberosa também guardam as

folhas durante o inverno seco.

Page 56: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Entre as muitas espécies de árvores caducifólias, duas são

típicas por acumulas água nos troncos. São estas as chamadas

barrigudas , Ceiba glaziovii, e a Cavanillesia arborea com seus 30

metros de altura e um diâmetro de 3 m, é a mais alta árvore da

caatinga.

A taxa de endemismos entre as plantas superiores da caatinga chega

a 30%.

A Fauna das Caatingas

As poucas semanas de vegetação exuberante são aproveitadas por

dezenas de espécies de insetos das ordens Lepidoptera,Coleoptera,

Diptera, Hymenoptera. Outros artrópodes, especialmente vários

Arachnida e Orthoptera permanecem ativos também durante a seca.

Até agora foram identificadas nas caatingas 17 espécies de

escorpiões, entre elas 4 espécies endêmicas.

Na época seca os anfíbios procuram abrigo em microhabitats

mais protegidos da dessecação, tais como buracos no solo, o interior

de cactos e bromélias. Quando chove, milhares de indivíduos de

mais de 20 espécies se reúnem a noite em volta das águas novamente

acumuladas.

Os répteis também são mais ativos durante a estação úmida.

Durante esta época proliferam as jararacas da caatinga Bothrops

erythromelas, a cascavel Crotalus diurssus e a coral Micrurus

ibiboboca. Os batixós Tropidurus hispidus, a lagartixa de lajeiro ou

leixa Tapinurus semitaeniatus e os calangos dos gêneros Ameiva e

Cnemidophorus estão entre os lagartos mais comuns das caatingas. O

sinimbu Iguana iguana e o teiú Tupinambis merianae são os maiores

lagartos da região.

As 10 espécies de Amphisbaenidae, cobras de duas cabeças,

são também típicas cãs caatingas; quatro delas são consideradas

endêmicas.

Já foram registradas 510 espécies de aves na caatinga. A

família dos Tyrannidae, com 75 espécies, é a melhor representada.

Page 57: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Somente um terço das aves da caatinga são espécies típicas de

espaços abertos.

A mastofauna das caatingas é considerada uma variante do

cerrado. Encontram-se ma caatinga 10 espécies de marsupiais, a mais

freqüente sendo a cuíca Monodelphis domesticus. Nas caatingas

vivem quatro espécies de tatus. O único macaco que sobrevive nas

matas secas é o sagüi Callithrix jaccus, que se alimenta também da

goma das plantas xerofíticas. O único predador freqüente nas

caatingas é o gato do mato pequeno Leopardus tigrinus, mesmo que

algumas espécies de felinos possam ser encontradas de vez em

quando.

Preservação

A caatinga foi o bioma menos estudado e injustamente o mais

negligenciado. Porém, ele é um dos grandes biomas que se encontra

inteiramente no Brasil. Recentemente as caatingas foram

oficialmente reconhecidas como um dos três principais biomas de

florestas secas do mundo.

O perigo mais concreto e imediato é o continuo desmatamento

da vegetação nos poucos brejos úmidos dos remanescentes, porque

estes brejos são locais com fauna endêmica e servem também de

refúgios de fauna durante as estações de seca. Proteção urgente

também é necessária para algumas áreas especiais, tais como as

dunas de Xique-Xique no Rio São Francisco, que possuem uma

herpetofauna especialmente rica.

Bioma Pantanal:

O Pantanal do Mato Grosso, apresentando 136.700 Km², é a maior

área alagada do mundo. Sendo uma imensa bacia intra-continental, sua

elevação é de apenas 80 a 150 m acima do nível do mar.

Origem Geológica:

O Pantanal é um remanescente de uma lagoa intra-continental

neogênica. O grande lago funcionou desde o Cretáceo como berço de

Page 58: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

evolução da riquíssima fauna da Bacia Amazônica. Quando o Rio Madeira

conseguiu no início do Pleistoceno, cavar seu leito repleto de cataratas e

separar a Serra Três Irmãos do Escudo Brasileiro, só então a maior parte

deste paleo-pantanal foi drenada para o mar. Sobraram somente as áreas

meridionais, fora da influencia dos afluentes amazônicos, retidas por

cadeias de rochas eruptivas mesozóicas. O Pantanal surgiu devido a um

abaixamento tectônico durante o Quaternário, e uma camada de

aproximadamente 500 m de areia e argila foi depositada na depressão,

enquanto a sua hidrologia sofreu flutuações hidrológicas extremas. A arraia

pintada, Patamotrygon, um peixe de antigo parentesco marinho, é uma

testemunha viva da complicada historia aquática do Pantanal.

Entre as matas fechadas da Amazônia e da borda atlântica de um

lado e dos Andes do outro, o Pantanal formou parte do grande corredor

terrestre através do qual se espalhou pelo continente os grandes animais da

América do Norte que no final do Plioceno, atravessaram a re ente conexão

entre os dois continentes.

Durante as fases de aridez das eras glaciais, a bacia do Pantanal

encontrava-se sem escoamento para o atlântico, tornando-se uma bacia

endorréica de lagoas salgadas.

Fluxos de água:

A drenagem deste delta inteiro pelo médio Paraguai, através da barra

estreita e rasa do Fecho dos Morros do Sul, se fez com muita dificuldade.

Porém grande quantidade e água estagnada atrás desta barragem, tornam o

Pantanal um labirinto imprevisível de águas paradas e correntes,

temporárias ou permanentes. Calcula-se que no clima atual somente 8% da

água acumulada na depressão do Pantanal chega a se escoar Rio Paraguai

Abaixo, enquanto 45 bilhões de metros cúbicos de água ficam parados

dentro da bacia. Em anos chuvosos, cerca de 78% do Pantanal encontra-se

temporariamente coberto por água.

O Pantanal está situado em uma região de clima semi-árido onde a

pluviosidade média anual de menos de 1.100 mm é ultrapassada por uma

evaporação direta e evapotranspiração através da vegetação que chega a

uma media anual de mais de 1.400 mm. As chuvas concentram-se em

poucos meses de verão e são seguidas por um longo inverno seco. O que

Page 59: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

permite manter o aporte de águas e evitar a aridez são os rios que nascem

em áreas de clima mais úmido e alcançam o Pantanal.

O Rio Paraguai e outros rios pantaneiros têm declividade muito

pequena, da ordem de 0.7 a 6.5 cm por quilometro. As águas que se

acumulam no período chuvoso se escoam com muita lentidão, e em

conseqüência, as enchentes, que são máximas ao norte nos meses de março

e abril, chegam para o sul do Pantanal somente em julho e agosto. O

percurso das enchentes leva entre 130 e 150 dias, o que representa um

fluxo no rio de 9 a 11 cm por segundo. Para os olhos não treinados parece

que o rio está estagnado. Enquanto isso, enormes quantidades de água

perdem-se por evaporação para a atmosfera. O Pantanal pode ser

considerado a maior “janela” de evaporação de água doce do mundo.

As diferenças do nível da água entre as estações de seca e de cheias

são em media de 4 m, podendo em anos de muita cheia chegar a 6 m, mas

devido à pequena declividade podem chegar a grande maioria do pantanal.

Nestas ocasiões, os rios Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Miranda

e outros, assim como seus inúmeros afluentes, ultrapassam seus leitos. As

áreas alagadas formam uma densa rede de lagoas, baias, baixadas alagadas,

interligadas por cursos de águas perenes, os “corixos” ou as efêmeras

“vazantes”. Somente os terrenos situados de 2 a 4 metros acima dos

alagados, chamados de “cordilheiras”, além de poucos “capões” escapam a

inundação.

Quando as águas voltam ao normal, varias baías e lagoas

permanecem, enquanto as vazantes e as baixadas secam. Uma rica

vegetação de ervas espalha-se pelas baixadas, aproveitando a camada de

lodo nutritivo deixado pela inundação. O Pantanal apresenta um mosaico

de solos aluvionais hidromórficos bem lavados e de solos salinos com uma

lixiviação deficiente. Em cada ciclo de precipitação-evaporação, os sais

minerais acumulam-se, resultando numa certa salinização dos solos e das

baías.

Plantas da fase aquática:

As plantas flutuantes são os principais produtores primários nas águas do

Pantanal. A vegetação de macrófitas é abundante e variada. Entre as plantas

flutuantes encontram-se as Victoria cruziana, destacam-se também os

aguapés Eichhornia azurea e E. crassipes, Reussia subovata e R.

Page 60: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

rotundifolia, a alface d’água, Pistia stratiotes, as espécies de “Cruz de

Malta” Ludwigia, a euforbiácea flutuante Phyllanthus, a quebra-pedra, as

pteridófitas flutuantes, a orelha de onça Salvinia auriculata, Azolla

filiculoides, Marsilea polycarpa e Ceratopteris thalictroides. Estas formam

uma cobertura densa denominada “batume”, ou verdadeiras ilhas flutuantes

chamadas de “camalote”.

Fauna aquática:

A fauna bentônica coletada em algumas lagoas é constituída por ricas

populações de vermes oligoquetos e de larvas de insetos. Nas lagoas a

diferença de tamanho, profundidade, salinidade e duração sazonal se

manifesta também numa grande variedade de microflora e da fauna.

Destacam-se as ricas populações de caramujos aruas, os cardumes de pitu e

as variadas espécies de caranguejos Trichodactylus, Dilocarcinus, entre

outros.

Uma grande variedade de peixes se alimenta da vegetação aquática e

da rica fauna bentônica de invertebrados. Dentre os peixes muitas são

espécies amazônicas com ampla distribuição. Com as cheias, estes peixes

penetram nos pântanos, ricos em matéria vegetal e lodo nutritivo, para

depois na chegada as vazante, migrarem de volta para seus rios, onde

desovam. Essas migrações são conhecidas como piracemas. Os peixes de

piracema nadam centenas de quilômetros durante esta migração sazonal.

Os pacus (Mylosoma e Piaractus) e outros caracídeos alimentam-se de

frutas de arvores e de sementes levadas pelas águas; o cascudo,

Plecostomus, é um comedor de detritos; as piranhas, Serrasalmus, são

micro-carnívoras ferozes; o pintado, Pseudoplatystoma, o dourado,

Salminus e o jaú, Paulicea, são predadores de outros peixes. Típica das

baías que secam no inverno é a pirambóia, Lepidosiren, um pequeno peixe

dipnóico, capaz também de respiração pulmonar.

A diversidade de peixes endêmicos do pantanal é baixa em

comparação com a bacia amazônica, isso se deve provavelmente à

qualidade da água sempre turva dos rios, além disso, todos os rios

pantaneiros comunicam-se entre si durante as grandes cheias, sendo

permanente a mistura de faunas.

Entre os comedores de vegetação destacam-se as capivaras,

Hydrochoerus hydrochaeris, e de búfalos, Bubalus bubalus, descendentes

Page 61: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

ferais dos búfalos domésticos. O cágado, Platemys, é também um

vegetariano. A ariranha, Pteronura brasiliensis, importante predador

piscívoro, outrora abundante, foi quase exterminada por caçadores. Um

grande predador é o jacaré Caiman yacaré. Os jacarés têm papel importante

nas águas pantaneiras, onde funcionam como predadores reguladores da

fauna piscícola, e as vezes, agentes relevantes na ciclagem de nutrientes.

Onde à muitos jacarés tem poucas piranhas. Quando dizimados peles

coureiros, a população de piranhas aumenta em detrimento de outras

espécies de peixes, podendo até ser perigosa a humanos. Um outro

predador importante é a sucuri, Eunectes notaeus. A víbora do pantanal,

Dracaena paraguayensis, um lagarto de mais de um metro de comprimento

é um comedor de moluscos.

As aves do Pantanal:

A fauna de aves aquáticas e anfíbias do Pantanal está entre as mais

ricas do mundo. Destacam-se diversos patos e marrecos com três espécies

do gênero Dendrocygna, filtradores de pequenos animais e algas.

Pelo menos seis espécies de garças e socós (Ardeidae) formam

grandes colônias nas arvores da mata ciliar. Cada uma delas é especializada

na caça de varias presas, tais como peixes, anfíbios e pequenos répteis.

Ajaia ajaja, o lindo colhereiro cor de rosa é um filtrador especializado.

As cegonhas brasileiras como, maguari ou joão-grande (Euxenura

maguari) o tuiuiú (Jabiru mycteria) e o cabeça-seca (Mycteria americana),

alimentam-se de presas anfíbias ou procuram animais dentro no lodo.

Na época da seca, entre agosto e outubro, as grandes aves do

Pantanal se reúnem em “ninhais” para nidificar.

4- MONITORAMENTO DE FAUNA

Introdução: O Monitoramento de Fauna tem sido costumeiramente

exigido como uma das condicionantes ambientais a serem executadas pelo

Plano Básico Ambiental (PBA) no licenciamento dos grandes

empreendimentos no Brasil.

MASTOFAUNA

Page 62: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

1-Introdução: Estão descritas atualmente no Brasil mais de 650 espécies de mamíferos, o

que representa aproximadamente 12% da mastofauna mundial. Sendo

assim, o Brasil é o país com maior número de espécies de mamíferos em

toda a região neotropical.

2-Metodologia:

2.1- Pequenos Mamíferos Terrestres O monitoramento de pequenos mamíferos terrestres pode ser feito através

do método de captura-marcação-recaptura. Sendo instalado um número

pré-determinado de armadilhas tipo live trap, (Shermans e gaiolas de

arame), dispostas duas a duas alternadamente (sherman/ gaiola), ao longo

de uma linha de transecto em cada sítio amostral, estas sendo, dispostas

distantes 20 metros umas das outras.

▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪

•] [• • • • • • • •

20m

▪ - Shermans

• - Gaiolas

Esquema de distribuição de armadilhas tipo Live trap, instaladas em

transecto.

Quando não é possível a colocação de todas as armadilhas em um único

transecto, elas podem ser colocadas em dois transectos.

Sempre que possível, as armadilhas do tipo Sherman devem ser instaladas

no alto de árvores ou arbustos (aproximadamente 1,5 m do solo), para

maximizar as chances de captura da fauna que utiliza exclusivamente o

extrato arbóreo/arbustivo.

As armadilhas do tipo Sherman podem ser iscadas com uma mistura de

farinha (fubá e paçoca de amendoim), sardinha e banana, pode-se oferecer

também uma fruta hidratante. Já as gaiolas podem ser iscadas com abacaxi

embebido em óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scotti).

Podem ser utilizados concomitantemente ao uso das armadilhas tipo live

trap, o método de pitfall traps. Método este, empregado para captura de

espécimes da herpetofauna. Todos os indivíduos capturados devem ser

identificados a menor categoria taxonômica possível, além de coleta de

dados que inclui morfometria, peso, sexo, análise das condições

Page 63: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

reprodutivas, estimação de faixa etária e marcação para individualização

utilizando-se de brincos metálicos numerados.

Modelo de Tabela - Esforço de captura por área e total empregado para

pequenos mamíferos terrestres, através de armadilhas tipo live trap

(Sherman e gaiolas).

Esforço amostral - pequenos mamíferos

Área de

estudo

Sitio 1

Sitio 2

...

Sherman Gaiola Dias Total

Sitio

amostral

Nº de

armadilhas

Nº de

armadilhas

Nº de

dias

(Armadilhas X Nº de dias=

esforço)

Total armadilhas/ dia

Legenda: sitio 1 ...

Modelo de Tabela - Esforço de captura por área e total empregado para

pequenos mamíferos terrestres, através de armadilhas Pitfall trap.

Esforço amostral - pequenos mamíferos

Área de

estudo Pitfall (60 L) Dia

s Total (Baldes)

Sitio 1 Coordenadas

geográficas

1 (baldes X Nº de dias=

esforço) Sítio 2 Coordenadas

geográficas

3 (baldes X Nº de dias=

esforço) ... Coordenadas

geográficas

2 (baldes X Nº de dias=

esforço) Legenda I – Sítio 1...

Modelo de Tabela - Pequenos mamíferos registrados.

NOME

POPULAR

DI

ET

A

ATIVI

DADE

STA

TUS

HABIT

AT

TIPO

DE

REGI

STRO

LOCA

L DE

REGIS

TRO

Page 64: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

NOME

POPULAR

DI

ET

A

ATIVI

DADE

STA

TUS

HABIT

AT

TIPO

DE

REGI

STRO

LOCA

L DE

REGIS

TRO

Ordem

Família

Nome científico

Legenda: DIETA: On – onívoro; In – insetívoro; Fr – frugívoro; Gr –

graminívoro; Pe – piscívoro; Se – semente; ATIVIDADE: No – noturno;

Ma – manhã; Cr – crepuscular; HABITAT: MA – Mata Atlântica; CE –

Cerrado, AM – Floresta Amazônica; CA – Caatinga; PA – Pantanal; To –

todos; Ma – Mata (Florestal); Mg – Mata de Galeria; Cs - Campos sulinos;

Ab – área aberta; Pc – Planícies costeiras; As – Área de Serra. TIPO DE

REGISTRO: Af- armadilha fotográfica; Sh – Sherman; Ga – Gaiola; Pt –

Pitfall; ; ; LOCAL DE REGISTRO: I – Sítio amostral ... STATUS:

Categorias de ameaça segundo IUCN (2010)

2.2-Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte

Para o registro de médios e grandes mamíferos prioriza-se a utilização de

métodos não invasivos. Os animais devem ser encontrados por meio de

buscas ativas (censo), a fim de obter registros diretos (visualização e

vocalização) e indiretos mor meio de vestígios (fezes, tocas, pegadas,

carcaças, etc.), entrevistas com moradores locais e armadilhas fotográficos,

parcelas de areia para impressão de pegadas e método de buscas ativas por

pegadas principalmente em lugares que apresentam substratos propícios

para passagem e impressão de pegadas, como margens de córregos e

estradas.

As armadilhas fotográficas devem ser instaladas priorizando-se lugares em

que sejam encontrados indícios da passagem de animais como, por

exemplo, proximidade a cursos d’água (córregos, ribeirões, etc.) e estradas

ou “trilheiros” deixados pela mastofauna terrestre. As armadilhas

fotográficas devem ser iscadas com atrativos para frugívoros (mamão,

manga, laranja, abacaxi, banana, tubérculos como batata-doce), carnívoros

(enlatados para felinos domésticos e bacon) e ungulados (sal grosso).

Devem ser realizados censos a procura de vestígios e/ ou visualizações.

2.3-Mamíferos Alados

Para amostragem de morcegos (quirópteros), devem ser utilizadas redes,

mist-net. As redes devem ser abertas ao entardecer (18:00 h) e podem ser

fechadas à meia noite (24:00 h).

Page 65: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

As amostragens devem ser realizadas em locais propícios para captura de

morcegos tais como, pomares, proximidade com água, bordas de floresta e

interior de mata. Todos os indivíduos capturados devem ser identificados a

menor categoria taxonômica possível, devem ser feitas suas morfometrias,

pesados, sexados, analisadas as condições reprodutivas, estimado suas

faixas etárias e marcados com anilhas metálicas numeradas.

ORNITOFAUNA

1-Introdução:

A diversidade de espécies de aves do Brasil é uma das maiores do mundo,

ocupando o terceiro lugar em número de espécies da avifauna no cenário

mundial. Segundo dados divulgados pelo Comitê Brasileiro de Registros

Ornitológicos (CBRO, 2011) existem hoje no País 1832 espécies de aves,

dentre táxons residentes e migratórios ou visitantes. Em 2005, o número de

espécies de aves catalogadas em território nacional correspondia a 57% das

espécies de aves registradas para toda a América do Sul, e 10% destas

espécies eram endêmicas do Brasil (SICK, 2001; MARINI & GARCIA,

2005). Toda esta diversidade de espécies deve-se ao mosaico de habitats

representado pelos seus seis biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga,

Pantanal, Campo Sulino e Amazônia) e suas diversas fitofisionomias.

2- Metodologia:

Metodologias de campo empregadas: ponto fixo, transecto de varredura e

captura em rede de neblina devem ser utilizados para obter dados sobre a

riqueza e abundância das espécies de aves.

2.1- Transecto com pontos de amostragem ou Ponto Fixo

Devem ser realizados pontos fixos em cada sítio amostral, com

permanência de 10 minutos em cada ponto. Neste período de tempo serão

anotadas todas as espécies avistadas e/ou ouvidas em cada amostragem. As

amostragens devem ser realizadas no período mais ativo das aves, pela

manhã, entre 6:00 e 9:00 horas. Quando possível, as vocalizações das

espécies serão gravadas com auxílio do gravador digital para posterior

revisão e identificação de espécies não identificadas no campo. Deve ser

empregado o Índice Pontual de Abundância (IPA) (BLONDEL et al., 1970)

para estimar a abundância de cada espécie identificada nos pontos de

amostragens. As caminhadas realizadas entre cada um dos pontos fixos

devem ser incluídas como parte do método transectos de varredura.

Page 66: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

2.2- Transecto de Varredura

Devem ser realizados transectos de varredura por intermédio de

caminhadas realizadas com velocidade média de 1,5km/h, anotando-se

todos os contatos obtidos com espécies da avifauna, seja por avistamento

e/ou identificadas por meio de vocalizações. Esta metodologia deve ser

aplicada com caráter qualitativo.

2.3- Redes de Neblina: Captura e Marcação de Indivíduos

Esta metodologia de campo deve ocorrer concomitantemente com as

metodologias de Ponto Fixo e transecto de Varredura. Podem ser utilizadas

redes de neblina de (12,0m x 2,5m) abertas em bateria linear em cada um

dos sítios amostrais pré-selecionados. Em cada um dos sítios amostrais, as

redes devem ser abertas durante um número determinado de horas,

totalizando um esforço amostral previsto em horas/rede de amostragem. A

localização das redes de neblina deve ser georreferenciada com auxilio do

GPS. Todos os espécimes capturados devem receber anilhas coloridas, e

terem seus dados morfométricos coletados. Esta metodologia de avaliação

possui caráter qualitativo e quantitativo. Para cada espécie capturada deve

ser calculado o índice de abundância, utilizando-se do número de capturas

para cada 100 horas de rede (DEVELEY, 2003).

A identificação taxonômica dos espécimes é feita pela coloração da

plumagem de cada indivíduo utilizando-se de literatura adequada (livro

guia de campo), pelo canto (zoofonia), registros fotográficos, vestígios

(penas, pegadas, e outras). A nomenclatura científica pode seguir os

registros do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2011).

Listas secundárias da avifauna da região estudada também podem ser

utilizadas como registros.

As espécies devem ser averiguadas em relação à distribuição geográfica,

buscando identificar as espécies endêmicas.

A classificação quanto ao do grau de sensibilidade de cada espécie ao

ambiente também deve ser averiguado.

2.4- Informações Complementares da Avifauna

É importante classificar os microhabitats ou estrato florestal que as

espécies utilizam, como por exemlpo: chão; sub-bosque; dossel; aéreo;

brejo; vegetação rasteira; água e beira de água;

As aves podem ser classificadas quanto a alimentação em: frugívoras,

carnívoras, detritívoras, insetívoras, nectarívoras, granívoras, piscívoras e

onívoras.

HERPETOFAUNA

Page 67: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

1- Introdução

A herpetofauna costuma desempenhar um papel muito importante nos

ecossistemas. Os anfíbios, por exemplo, são considerados excelentes

indicadores da qualidade ambiental. Por estarem quase sempre associados

ao meio aquático, os anfíbios apresentam forte sensibilidade a alterações na

qualidade do hábitat (GASCON, 1991; DUELLMAN & TRUEB, 1994;

JOLY & MORAND, 1994; HECNAR & M’CLOSKEY, 1996). Isso se

deve a características peculiares a sua biologia, como ciclo de vida bifásico,

dependência de condições de umidade para a reprodução, pele permeável,

padrão de desenvolvimento embrionário, aspectos da biologia populacional

e interações complexas nas comunidades em que se inserem (VITT et al.,

1990; SKELLY, 1997; WAKE, 1998). Grande parte das espécies também

se relaciona fortemente com a vegetação próxima aos corpos d’água, sendo

extremamente suscetível a quaisquer alterações que a estrutura deste tipo

de vegetação venha a sofrer (PARRIS, 2004; RENKEN et al., 2004). Os

répteis também desempenham importante papel ecológico no ambiente em

que vivem, sendo que boa parte das espécies é constituída por predadores,

muitas vezes de topo de cadeia trófica, e outros são consumidores

secundários, alimentando-se principalmente de insetos. Há ainda alguns

que são herbívoros, funcionando como consumidores primários nas cadeias

tróficas ou atuando como dispersores para várias espécies de plantas. Por

ocorrerem muitas vezes em densidades relativamente altas, esses animais

possuem papel de grande importância no funcionamento dos ecossistemas

brasileiros (MARTINS, MOLINA, 2008).

Atualmente, são conhecidas aproximadamente 6771 espécies de anfíbios e

9300 espécies de répteis no mundo (FROST, 2011; UETZ &

HALLERMAN, 2011). Destas, 877 de anfíbios e 721 de répteis ocorrem no

território brasileiro (SBH, 2011a; 2011b). É na Mata Atlântica que se

encontra a maior diversidade de anfíbios no território brasileiro, totalizando

mais de 400 espécies descritas, sendo mais de 80% delas endêmicas deste

bioma, e muitas inseridas nos 20 gêneros também endêmicos

(DUELLMAN, 1999; HADDAD et al., 2008). Neste bioma também se

concentra a maior diversidade de serpentes do Brasil, além de diversas

espécies de lagartos, anfisbenas e quelônios (RODRIGUES, 2005).

Existem cerca de 200 espécies de répteis na Mata Atlântica, sendo que

cerca de 40 são endêmicas (BROOKS et al., 2002; RODRIGUES, 2005).

Das 20 espécies de répteis ameaçadas no Brasil, 13 delas ocorrem na Mata

Atlântica (MARTINS, MOLINA, 2008).

Apesar da riqueza da herpetofauna existente no Brasil, o nível de

conhecimento é ainda insatisfatório e muito fragmentado, sendo

insuficientes os estudos realizados e bastante regionalizados (FEIO &

CARAMASCHI, 2002; DRUMMONT et al., 2005), considerando que os

estudos sobre este grupo se concentram na sua grande maioria próxima aos

Page 68: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

grandes centros de pesquisas existentes (BÉRNILS et al., 2009;

NASCIMENTO et al., 2009).

2- Metodologia

No levantamento de dados primários são utilizadas duas metodologias:

captura passiva através de Armadilhas de Interceptação e Queda (AIQ), e

captura ativa através de Procura Visual Limitada por Tempo (PVLT), além

de registros de Encontro Ocasional ou de Terceiros (EOT).

2.1- Armadilha de Interceptação e Queda (AIQ)

O método de captura passiva por Armadilhas de Interceptação e Queda

consiste de recipientes enterrados no solo (pitfalls) até ao nível de sua

abertura, interligados por cercas-guia (drift-fences) (CORN, 1994)

dispostas de forma radial, com um balde central e outros três baldes

colocados a uma distância de aproximadamente 5 m e a 120° de angulação.

Este desenho foi selecionado por possibilitar que se interceptem indivíduos

em qualquer direção de deslocamento. Cada ponto amostral formado como

citado acima constitui uma estação de armadilhas. Em cada sítio amostral é

colocado um número determinado de estações de forma a amostrar o maior

número possível de ambientes em cada área, levando-se em consideração

características do terreno estudado.

As cercas devem ser instaladas com aproximadamente 5 m de extensão e

1m de altura e com cerca de 10 cm da base enterradas, evitando que os

animais passem abaixo delas. O animal que se depara com a cerca,

geralmente acompanha a mesma, caindo no recipiente que esteja na direção

do seu deslocamento. Os recipientes utilizados para compor as armadilhas

de queda podem ser baldes com volume de 60 litros, que recebem pequenas

perfurações na base com brocas de 6 mm para facilitar o escoamento da

água em dias de chuva, sendo colocados pedaços de isopor que

permitissem aos animais se refugiar do calor em áreas abertas ou evitar que

se afogassem devido à pluviosidade.

Estes tipos de armadilhas são muito utilizadas para a amostragem de

anfíbios e répteis (SEMLITSCH et al., 1981), como trabalhos de inventário

e monitoramento, tendo a vantagem de amostrar animais que dificilmente

são encontrados pelo método de procura visual (CAMPBELL &

CHRISTMAN, 1982; CORN, 1994).

As armadilhas devem ser vistoriadas diariamente na parte da manhã e,

sempre que possível, ao final da tarde, antes de se iniciarem buscas ativas.

No término das amostragens, caso as AIQ continuem instaladas para futura

campanha, todos os baldes devem ser fechados e lacrados para evitar que

animais caiam nas armadilhas no período entre as campanhas de

monitoramento.

Page 69: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

2.2- Procura Visual Limitada por Tempo (PVLT)

Este método de busca ativa consiste em percorrer cada ponto de

amostragem ao acaso, procurando espécimes por um determinado tempo ou

em transecções estabelecidas (VANZOLINI, 1967; HEYER et al., 1994;

CRUMP & SCOTT, 1994; ZANI & VITT, 1995). A PVLT deve ser

realizado das 07 às 12 horas no período diurno e entre 17 e 22 horas no

período noturno em vários pontos da área. Esta técnica cobre um terreno

significativamente maior e mais diversificado que as AIQ, i.e., explorando

visualmente áreas como tocas no solo e galerias de roedores, formigueiros

e cupinzeiros, serapilheira, abrigos sob pedras, troncos caídos, restos de

habitações humanas, trilhas e estradas, fendas de rochas, moitas de capim,

sobre pedras ao longo de córregos, ribeirões e brejos, e outros

microhábitats disponíveis, oferecendo assim a possibilidade de registrar

espécies diferentes, que poderiam possivelmente cair dentro da AIQ, mas

que escapariam facilmente (e.g. serpentes de grande porte ou anuros da

família Hylidae que pode escalar os baldes devido aos seus discos adesivos

digitais). No caso dos anfíbios, devido à preferência por ambientes úmidos,

locais como poças, lagoas, riachos, outros corpos d’água, assim como áreas

de isolamento direto (bromélias), afloramentos rochosos e quaisquer outros

microhábitats favoráveis ao encontro destes animais também devem ser

vistoriados.

A procura ativa no período diurno é importante, principalmente, para a

visualização de desovas registradas, assim como o registro de répteis

termorregulando ou forrageando nesse período. As buscas ativas

crepusculares e noturnas devem ter como objetivo principal a amostragem

de anfíbios através de procura ativa visual ou auditiva e também a procura

de serpentes de hábitos crepusculares e noturnos. A procura visual deve ser

realizada com auxílio de lanterna focal para a localização exata dos

exemplares da herpetofauna. Também devem ser registrados e, quando

necessário, coletados os répteis que se encontravam em atividade neste

período ou em repouso em seus abrigos e nos arredores dos corpos d’água.

A captura eventual e o manuseio de répteis devem ser auxiliados pela

utilização de gancho, garrotes de borracha e laços, ou realizadas

manualmente, com uso de luva de raspa de couro.

O período de amostragem através da PVLT amplia o tempo de coleta de

dados para maximizar o índice de captura de espécimes.

2.3- Encontros Ocasionais e por Terceiros (EOT)

Neste método são considerados todos os exemplares de anfíbios e de

répteis encontrados fora dos métodos de amostragem normalmente

utilizados, i.e., PVLT e AIQ. Especificamente, são incluídos os registros

efetuados durante os deslocamentos dos pesquisadores para chegar aos

pontos de amostragem (a pé ou de carro) – Road sampling – e aqueles

Page 70: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

feitos por pesquisadores de outros grupos de vertebrados atuando no

mesmo monitoramento ou ainda de animais cedidos por moradores locais

sendo encontrados vivos ou mortos.

3- Identificação dos espécimes

Todos os animais capturados pelos métodos usados devem ser identificados

e registrados. Para a identificação das espécies não reconhecidas

previamente, deve ser consultada literatura científica pertinente, com

chaves dicotômicas, quando disponíveis. Também devem ser utilizados

guias de campo disponíveis, evitando coletas desnecessárias, por se chegar

a uma determinação ainda em campo. Contudo, em muitos casos, a

identificação só é possível com a comparação de material adicional. Por

este motivo e para a manutenção de exemplares-testemunho, alguns

espécimes deverão ser fixados, preservados e depositados em coleções

científicas. Quando se fizer necessária a coleta dos espécimes, eles deverão

ser acondicionados em sacos plásticos contendo vegetação local para evitar

a desidratação dos exemplares. Após a coleta, os animais deverão ser

anestesiados e mortos com xilocaína a 5%, sendo em seguida fixados em

formalina a 10% e conservados em álcool à 70%. Dados secundários

também podem ser utilizados, através de fotografias com procedências

confirmadas de animais das áreas estudadas e que não coubesse dúvidas

quanto à identificação taxonômica.

4-Análise dos Dados

A estimativa da riqueza e freqüência das espécies de anfíbios e répteis será

obtida através da combinação dos três métodos de amostragem – AIQ,

PVLT e EOT. A combinação de diferentes métodos de amostragem é

essencial para capturar uma parcela significativa da biodiversidade, uma

vez que cada método possui um viés próprio.

Para cada sítio de amostragem, os dados coletados devem ser analisados

em termos de riqueza, composição e frequência (absoluta e relativa) das

espécies de anfíbios e de répteis registradas durante o monitoramento.

Nos sítios amostrais onde existem lagoas, brejos e corpos d’água lênticos

ou lóticos, os dados sobre abundância das espécies de anfíbios que são

encontrados vocalizando nestes ambientes devem ser analisados

separadamente, uma vez que estes dados podem exercer uma tendência em

superestimar ou subestimar as análises comparativas entre os sítios

amostrados. Portanto, as abundâncias para as populações de cada espécie

encontradas nestes ambientes, devem ser estimadas através do índice de

vocalização (SHIROSE et al., 1997; CROUCH & PATON, 2002;

NELSON & GRAVES, 2004). O índice zero será utilizado quando não for

possível ouvir nenhum indivíduo vocalizando; o índice 1 quando

vocalizações forem ouvidas distintamente sem nenhuma sobreposição

temporal entre elas; o índice 2 quando forem ouvidas vocalizações e houver

Page 71: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

sobreposição temporal entre elas, mas o número de indivíduos vocalizando

pode ser estimado. O índice 3 deve ser registrado quando ocorrerem

vocalizações contínuas, sem que houvesse possibilidade de estimar o

número de indivíduos que vocalizavam ou isso fosse muito difícil e

impreciso. Devem ser testadas as diferenças interespecíficas nos Índices de

Vocalização com ANOVA one-way e com a comparação Tukey posthoc

para determinar qual espécie difere na intensidade de vocalização (SOKAL

& ROHLF, 1981).

As curvas do coletor devem ser construídas para o grupo dos anfíbios e

répteis em cada localidade estudada, a fim de estimar se o número de

espécies encontradas esteve próximo da riqueza esperada para as áreas. As

curvas devem ser feitas através do método de curvas de acumulações de

espécies construídas a partir da média de 1.000 aleatorizações dos dias de

coleta com o programa EstimateS V. 8.2.0, através do estimador Jackknife

2 (COLWELL, 2006).

A análise da diversidade de espécies será calculada através do índice de

Menhinick. O índice de diversidade de Menhinick (Db) é estimado através

da seguinte equação:

Onde “s” é o número de espécies amostradas e “N” é o número total de

indivíduos de todas as espécies.

A Freqüência relativa das espécies deve ser calculada através da seguinte

equação:

Onde “n” é o número total de indivíduos de uma dada espécie e “N” é o

número total de indivíduos. A freqüência relativa é expressa em

porcentagem.

ENTOMOFAUNA

1- INTRODUÇÃO

O sucesso e a eficácia das ações de manejo em ecossistemas têm sido

testados com grupos de bioindicadores (CHRISTENSEN et al., 1996).

Geralmente os programas com grupos bioindicadores estão relacionados a

grupos de plantas ou vertebrados, e podem incluir insetos. TSCHARNTKE

et al. (1998) sugere que estudos de pequenas comunidades que oferecem

informações sobre riqueza de espécies e interações ecológicas podem ser

utilizados como ferramenta para avaliação de qualidade do habitat. Os

artrópodes correspondem a 75% dos animais sobre a terra, sendo que 89%

são insetos (BUZZI & MIYAZAKI, 1993). Os insetos são utilizados em

estudos de avaliação de impacto ambiental e de efeitos de fragmentação

florestal, pois, além de ser o grupo de animais mais numeroso do globo

terrestre, são importantes pelas funções ecológicas que exercem nos

Page 72: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

ecossistemas naturais atuando como predadores, parasitos, fitófagos,

saprófagos, polinizadores, entre outros (ROSENBERG et al., 1986).

O processo de polinização, desempenhado principalmente pelas abelhas, é

um dos mais importantes serviços do ecossistema, promovendo o fluxo

gênico entre as espécies vegetais, podendo determinar a estrutura genética

dessas populações (WASER et al., 1996). Estima-se que existam no

mundo de 20 a 30 mil espécies de abelhas (MICHENER, 2000). As abelhas

da subtribo Euglossina (Hymenoptera: Apidae) são tipicamente

neotropicais e com maior diversidade em sistemas florestais, sendo

responsáveis pela polinização de um grande número de famílias de

angiospermas. Uma das principais características destas abelhas é a relação

dos machos com espécies da família Orchidaceae e outras fontes de

compostos aromáticos (ROUBIK, 1989). Esse grupo apresenta forte

dependência de áreas naturais e podem ser consideradas bioindicadores de

qualidade ambiental (SILVA et al., 2009). Têm sido estudadas por suas

características como facilidade de captura, de identificação taxonômica e

abundância ao longo do ano (POWELL & POWELL, 1987).

Existem cerca de 9.538 espécies descritas de formigas (Hymenoptera:

Formicidae), distribuídas por todas as regiões do planeta (BOLTON, 1995).

As formigas são citadas como possível grupo indicador de biodiversidade e

de perturbação ambiental. Por apresentarem ampla distribuição geográfica,

as espécies são localmente abundantes, possuem importância funcional nos

variados níveis tróficos, a separação em morfo-espécies é relativamente

fácil por ocuparem nichos diversificados no ecossistema (OSBORN et al.,

1999).

A ordem Coleóptera possui aproximadamente 350.000 espécies descritas e

representam 40% do total de insetos (TRIPLEHORN & JOHNSON, 2005).

Os besouros têm sido sugeridos como grupo indicador em estudos sobre

diversidade de insetos ou artrópodos, sendo grupos importantes na

reciclagem de nutrientes do solo, no controle de alguns parasitos de

vertebrados e na dispersão de sementes (KLEIN, 1989). Apresentam

grande variabilidade morfológica, taxonômica, comportamental e ecológica

e são abundantes e sensíveis a mudanças ambientais (NIEMELÄ, 2001).

Os invertebrados apresentam respostas demográficas e dispersivas mais

rápidas do que organismos com ciclos de vida mais longos e podem ser

amostrados em maior quantidade do que os organismos maiores. No

entanto, ainda existem dificuldades taxonômicas em muitos, se não na

maioria, dos grupos. NEMÉSIO (2009) publicou uma revisão da subtribo

Euglossina em domínio de Mata Atlântica no Brasil, com chave de

identificação para todas as espécies presentes no bioma. As abelhas dessa

subtribo já vêm sendo recomendadas como grupo indicador de mudanças

ambientais por apresentarem grande abundância e diversidade em diversas

épocas do ano, serem bem dispersas e comparáveis entre sítios, devido a

Page 73: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

sua importância ecológica, facilidade de captura e sensibilidade a

alterações do ambiente (SILVA et al., 2009).

2- METODOLOGIA

A temperatura e umidade devem ser aferidas nos dias de amostragem com

auxílio de Termo-higrômetro manual. A temperatura e umidade podem ser

registradas no período da manha 8:00h e 13:00h, e a temperatura máxima

deve ser registrada até até as 15:30h.

2.1- Coleta e Amostragem

2.1.1- Redes Entomológicas Manuais

Em cada sítio amostral, devem ser feitas varreduras em caminhadas lentas

durante todo período diurno de atividade das abelhas, iniciando a partir de

7:30h. As abelhas devem ser campeadas nos recursos disponíveis: flores,

resina, barro, fezes, carniça e suor, sendo coletadas sempre que possível.

2.1.2- Procura Ativa por Ninhos

A busca por ninhos deve ser feita através de varreduras em ziguezague e

observação dos possíveis locais de nidificação existentes. A base e o tronco

das árvores devem ser analisados, até 10,0 m de altura. Operárias

representantes devem ser coletadas para identificação.

2.1.3- Coleta com Armadilhas de Iscas Aromáticas

Os machos de Euglossina devem ser amostrados utilizando quatro

fragrâncias artificiais, ou iscas odoríferas: eugenol, vanilina, eucaliptol e

salicilato de metila. Para atração dos machos pedaços de papel absorvente,

um para cada isca, podem ser amarados com pedaços de barbante e

umedecidos com os respectivos compostos e colocados dentro de

armadilhas confeccionadas com garrafa PET de 2L, segundo CAMPOS et

al. (1989)

Page 74: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Desenho esquemático da armadilha de isca aromática utilizada para a

coleta de abelhas da subtribo Euglossina.

Em cada área deve ser instalado um conjunto de armadilhas a 2,0 m do

solo, as armadilhas devem ser vistoriadas entre 7:00h e 15:30h, em

intervalos de aproximadamente duas horas. Durante as vistorias, as abelhas

encontradas nas armadilhas devem ser transferidas para frascos mortíferos

e as armadilhas contendo substâncias mais voláteis devem ser recarregadas

para manter sua atratividade. O mesmo conjunto de armadilhas pode ser

deixado em campo no período da noite, para a coleta de abelhas que

apresentem hábitos noturnos e sejam atraídas pelas essências.

2.1.4- Coleta com Armadilhas Pitfall

Para a coleta de Formicidae e Coleoptera, podem ser utilizados copos

plásticos de 300 ml, com uma mistura de 50 ml de água e detergente. Os

pitfalls devem ser dispostos em transectos lineares, distantes 5 m um do

outro. Em cada área deve ser instalado um número determinado de

transectos, totalizando determinado número de pitfalls por área. Os

indivíduos coletados nos pitfall devem ser triados, sendo analisada apenas a

macrofauna (acima de 2mm, segundo CORREIA & OLIVEIRA, 2000).

Todas as abelhas, formigas e besouros capturados serão levados ao

laboratório e identificados com o auxilio de chaves taxonômicas, literatura

pertinente e por comparação com exemplares de coleção de referência.

Destaca-se a lacuna existente no país para identificação de invertebrados.

Bibliografia Consultada:

Biologia da Conservação - RODRIGUES RICHARD B. PRIMACK & Efraim

Ed. PLANTA

Biomas do Brasil – Uma História Natural Ilustrada - Ed. Pensoft

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm

Page 75: Apostila do Curso de Biologia da Conservação com Ênfase em Monitoramento de Fauna

Contato:

Biólogo Marcus Pinto Silveira

CRBio-02 38.469/02

Especialista em Gestão Ambiental

Instrutor de Treinamento em Desenvolvimento Profissional

CNPJ: 11.654.686/0001-50

Tel.: (021) 3350-5222 ou Celulares: (021) 9211-8307 (TIM) ou (21) 8618-7037 (OI).

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