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INSTITUTO JOÃO NEÓRICO - IJN Mantenedor da FACULDADE DE RONDÔNIA - FARO BR 364, km 6,5, sentido Cuiabá, CEP 76.815-800, Porto Velho - RO. Telefone: (69) 3217-5100. Site: www.faro.edu.br Curso de Graduação Superior: DIREITO Disciplina: ECONOMIA E FINANÇAS Professor: Econ. Esp. João Bosco Peixoto de Almeida Telefones: (69) 9231-8686 (Claro), 8104-6945 (Tim). E-mail: [email protected] ECONOMIA E FINANÇAS FARO – HORÁRIO DE AULA DA TARDE – 2015.1 – Prof. João Bosco Peixoto de Almeida Tempo Horário Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 14:00h as 14:45h DIR03TA 14:45h as 15:30h DIR03TA Intervalo 15:30h as 15:40h Intervalo / Recreio 15:40h as 16:25h DIR03TA 16:25h as 17:10h DIR03TA FARO – HORÁRIO DE AULA DA NOITE – 2015.1 – Prof. João Bosco Peixoto de Almeida Tempo Horário Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 18:50h as 19:35h DIR03NA DIR03NB 19:35h as 20:20h DIR03NA DIR03NB Intervalo 20:20h as 20:30h Intervalo / Recreio 20:30h as 21:15h DIR03NA DIR03NB 21:15h as 22:00h DIR03NA DIR03NB FARO – CALENDÁRIO DE TRABALHOS E PROVAS 2015.1 – Prof. João Bosco Peixoto de Almeida Disciplina / Carga Horária Curso / Período / Turma 1º Bimestre 2º Bimestre Prova Recuperadora Média Final Total de Faltas Trabalho Prova Trabalho Prova Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota Ciência das Finanças/ 66h Direito / 3º / DIR03TA Ciência das Finanças/ 66h Direito / 3º / DIR03NA Ciência das Finanças/ 66h Direito / 3º / DIR03NB Início das Aulas: ______/______/_________ Término das Aulas: ______/______/_________ Aluno (a): __________________________________________, Telefone: __________________, E-mail: _______________________________________ Porto Velho – RO Fevereiro de 2015.1

Apostila - Economia e Finanças - Prof. Bosco - 2015.1 - Versão 1.1

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Ótima apostila de economia

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  • INSTITUTO JOO NERICO - IJN

    Mantenedor da

    FACULDADE DE RONDNIA - FARO

    BR 364, km 6,5, sentido Cuiab, CEP 76.815-800, Porto Velho - RO.

    Telefone: (69) 3217-5100. Site: www.faro.edu.br

    Curso de Graduao Superior: DIREITO

    Disciplina: ECONOMIA E FINANAS

    Professor: Econ. Esp. Joo Bosco Peixoto de Almeida

    Telefones: (69) 9231-8686 (Claro), 8104-6945 (Tim). E-mail: [email protected]

    ECONOMIA E FINANAS

    FARO HORRIO DE AULA DA TARDE 2015.1 Prof. Joo Bosco Peixoto de Almeida Tempo Horrio Segunda Tera Quarta Quinta Sexta Sbado

    1 14:00h as 14:45h DIR03TA

    2 14:45h as 15:30h DIR03TA

    Intervalo 15:30h as 15:40h Intervalo / Recreio

    3 15:40h as 16:25h DIR03TA

    4 16:25h as 17:10h DIR03TA

    FARO HORRIO DE AULA DA NOITE 2015.1 Prof. Joo Bosco Peixoto de Almeida Tempo Horrio Segunda Tera Quarta Quinta Sexta Sbado

    1 18:50h as 19:35h DIR03NA DIR03NB

    2 19:35h as 20:20h DIR03NA DIR03NB

    Intervalo 20:20h as 20:30h Intervalo / Recreio

    3 20:30h as 21:15h DIR03NA DIR03NB

    4 21:15h as 22:00h DIR03NA DIR03NB

    FARO CALENDRIO DE TRABALHOS E PROVAS 2015.1 Prof. Joo Bosco Peixoto de Almeida Disciplina /

    Carga Horria

    Curso / Perodo /

    Turma

    1 Bimestre 2 Bimestre Prova Recuperadora

    Mdia Final

    Total de

    Faltas Trabalho Prova Trabalho Prova

    Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota Data Nota

    Cincia das Finanas/

    66h

    Direito / 3 /

    DIR03TA

    Cincia das Finanas/

    66h

    Direito / 3 /

    DIR03NA

    Cincia das Finanas/

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    Direito / 3 /

    DIR03NB

    Incio das Aulas: ______/______/_________ Trmino das Aulas: ______/______/_________

    Aluno (a): __________________________________________, Telefone: __________________, E-mail: _______________________________________

    Porto Velho RO

    Fevereiro de 2015.1

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    JOO BOSCO PEIXOTO DE ALMEIDA1

    1 ALMEIDA, Joo Bosco Peixoto de. Graduado Bacharel em Cincias Econmicas (Fundao Universidade Federal

    de Rondnia - UNIR, 1992-1997). Ps-Graduado Latu Senso Especialializao em Metodologia do Ensino Superior

    (Fundao Universidade Federal de Rondnia - UNIR, 1998). Ps-Graduado Latu Senso Especialializao em

    Judicializao das Questes Sociais (Faculdade de Rondnia - FARO, Porto Velho - RO e Universidade Federal

    Fluminense - UFF, Niteri - RJ, de 09/05/2014 a 28/02/2015). Mestrando em Cincias Jurdicas e Sociais (Faculdade

    de Rondnia - FARO, Porto Velho - RO e Universidade Federal Fluminense - UFF, Niteri - RJ, de abril de 2015 a

    abril de 2017). Professor da Faculdade de Rondnia (FARO), tendo como mantenedor o Instituto Joo Nerico (IJN);

    no curso de graduao de ensino superior de Direito, ministrando as disciplinas: Economia Poltica, Cincia das

    Finanas e Economia e Finanas, em Porto Velho - RO, a partir de 01/02/2012. Professor da Unio das Escolas

    Superiores de Rondnia (UNIRON), mantenedora da Faculdade de Educao de Porto Velho (UNIPEC) e da

    Faculdade Interamericana de Porto Velho, nos cursos de ensino superior: Administrao, Cincias Contbeis,

    Secretariado Executivo, Zootecnia, Agronomia, Direito, CST em Gesto Empreendedora, CST em Gesto de Recursos

    Humanos, CST em Gesto Comercial; ministrando as disciplinas: 1. Fundamentos de Economia; 2. Legislao

    Cooperativista e Trabalhista; 3. Planejamento Empresarial; 4. Planejamento Estratgico; 5. Economia I, 6. Economia

    II; 7. Geografia Econmica; 8. Economia de Empresas; 9. Economia e Mercados; 10. Gerncia de Projetos; 11.

    Planejamento Governamental; 12. Finanas e Contabilidade Pblica; 13. Economia I - Micro; 14. Economia II -

    Macro; 15. Relaes Trabalhistas e Sindicais; 16. Desenvolvimento Econmico; 17. Administrao Pblica; 18.

    Mercado I; 19. Cooperativismo; 20. Economia Poltica; 21. Responsabilidade Social; 22. Economia e Administrao

    Rural; em Porto Velho - RO, 01/02/2004 a 30/04/2010. Consultor do SEBRAE-RO, nos seguintes Programas e

    Projetos: Programa no Campo: apresentao do Programa no Campo; Oficina Liderar no Campo; Oficina Atender

    Bem no Campo; Oficina Negociar no Campo; Oficina Comercializar no Campo; Oficina Gerenciar no Campo, desde

    maro de 2015; Oficina Empreender no Campo; da Oficina Sebrae de Empreendedorismo (OSE), desde 2013. Projeto

    Cidadania Ribeirinha, integrante do Programa Mulheres Mil, do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia

    de Rondnia (IFRO), em 2012. Projeto Produo Agroecolgica Integrada e Sustentvel (PAIS), em 2012. Projeto

    Agentes Locais de Inovao (ALI). Unidade Temtica 4 - Tcnicas de Negociao, em 2012. Projeto Mandiocultura

    do Assentamento Joana DArc III em 2011. Programa Sebrae Empreendedor Individual (SEI), oficinas: SEI / Planejar; SEI / Empreender; SEI / Unir Foras para Melhorar; a partir de 2011. Projeto Tempo de Empreender Rondnia,

    custeado pelo Instituto Camargo Corra; este Projeto atende os cooperados da UNICOOP, produtores de banana, em

    Unio Bandeirantes e os cooperados da COOPERTAP, produtores de abacaxi em Abun. Projeto Desenvolvimento

    Econmico e Social Urbano da Cidade de Porto Velho, de 2010 a 2013. Programa Varejo em Movimento; de setembro

    a novembro de 2006. Projeto Empreender, de 2002 a 2004. Programa Redes Associativas. 1 Oficina: Despertando

    para o Associativismo; 2 Oficina: Praticando o Associativismo; 3 Oficina: Planejando nosso Empreendimento

    Coletivo; 4 Oficina: Estruturando e Legalizando; desde 2002. Gerente da Gerncia de Polticas e Informaes

    Agrcolas, subordinada a Coordenadoria de Gesto de Programas e Projetos Estratgicos, da Secretaria de Estado da

    Agricultura, Pecuria e Regularizao Fundiria - SEAGRI; dentre outras atividades, elaborou a minuta do projeto de

    lei, o qual foi transformado na Lei Complementar n 714, de 17/05/2013, que Institui a Poltica Estadual de apoio ao Associativismo e Cooperativismo - POLECOOP e revoga a Lei n 1.462, de 2005; Porto Velho - RO, de 01/06/2011 a 31/05/2013. Assessor Executivo Especial, da Sececretaria Municipal de Planejamento e Gesto (SEMPLA), da

    Prefeitura de Porto Velho, de 01/04/2009 a 31/05/2011. Gerente Administrativo do Instituto de Previdncia e

    Assistncia dos Servidores do Municpio de Porto Velho (IPAM), de 02/02/2007 a 31/03/2009. Analista de

    atendimento de suporte tcnico, da Fundao Aplicaes de Tecnologias Crticas (ATECH), prestando servios no

    Centro Tcnico Operacional Porto Velho (CTO-PV), do Sistema de Proteo da Amaznia (SIPAM), de 19/08/2004 a

    01/06/2006. Instrutor do SEST e do SENAT, no Programa Gesto Empresarial do Transporte, em Porto Velho, em

    2006. Presidente da Cooperativa Multiprofissional de Trabalho da Amaznia (COOPLUS), em Porto Velho, de 1999 a

    2003. Scio-fundador e diretor do Sindicato dos Professores de Instituies de Ensino Superior Privadas do Estado de

    Rondnia - SINPRO-RO, de 2009 a 2014. Presidente da Federao das Cooperativas de Trabalho de Rondnia

    (FETRABALHO-RO), em Porto Velho, de 2001 a 2005. Diretor financeiro da Cooperativa de Trabalho Mltiplo de

    Rondnia (COOTRARON), em Porto Velho, de 1997 a 1999. Professor de matemtica, do ensino fundamental e do

    ensino mdio, no Centro Estadual de Educao de Jovens e Adultos (CEEJA) Padre Moretti, em Porto Velho, em

    1999. Elaborou a metodologia e coordenou a execuo da pesquisa de opinio do nvel de satisfao do pblico interno

    e externo e as perspectivas aps a privatizao das empresas estatais TELERON Fixa e TELERON Celular, Solicitado

    pelo Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicaes de Rondnia (SINTTEL-RO), em Porto Velho, em 1998.

    Assessor comercial da Organizao dos Seringueiros de Rondnia - OSR; em Porto Velho, de 1997 a 1998. Secretrio

    Geral da Prefeitura do Municpio de Cujubim - RO, em 1997. Diretor do Depto. Planej. Scio-Econmico, da

    SEMPLA, de Porto Velho, de 1993 a 1996. Tcnico em Edificaes das Telecomunicaes de Rondnia S/A

    (TELERON), em Porto Velho, de 1982 a 1990. Fundador e diretor administrativo e financeiro da Federao

    Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicaes (FITTEL) em Braslia, de 1987 a 1990. Fundador e secretrio

    geral da CUT-RO, de 1985 a 1990. Fundador, presidente e diretor do Sindicato dos Trabalhadores em

    Telecomunicaes de Rondnia (SINTTEL-RO), 1984 a 1999.

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    SUMRIO

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    UNIDADE 1 - INTRODUO ECONOMIA

    1 CONCEITO DE ECONOMIA

    Economia.2 a cincia que estuda a atividade produtiva. Ocaliza estritamente os problemas referentes ao uso mais eficiente de recursos materiais escassos para a produo de bens; estuda as variaes e combinaes na alocao dos fatores de produo (terra, capital, trabalho, tecnologia), na distribuio de renda, na oferta e procura e nos preos das mercadorias. Sua preocupao fundamental refere-se aos aspectos mensurveis da atividade produtiva, recorrendo para isso aos conhemcimentos matemticos, estatsticos e economtricos. De forma geral, esse estudo pode ter por objeto a unidade de produo (emprea), a unidade de consumo (famlia), ou ento a ativiade econmica de toda a sociedade. No primeiro caso, os estudos pertencem microeconomia e, no segundo, macroeconomia, A palavra economia, na Grcia Antiga, servia indicar a administrao da casa, do patrimnio paricular, enquanto a administrao da polis (cidade-estado) era indicada pela expresso economia poltica. A ltima expresso caiu em desuso e s voltou a ser empregada, na poca do mercantilismo, pelo economista francs Antoine Montchrestien (1615); os economistas clssicos utilizvam-na para caracterizar os estudos sobre a produo social de bens visando a satisfao de necessidades humanas no capitalismo. Foi somente com o surgimento da escola marginalista, na segunda metadade do sculo XIX, que a expresso economia poltica foia abandonada, sendo substituda apenas por economia. Desde ento denominao dominante nos meios acadmicos, enquanto o termo economia poltica ficou restrito ao pensamento marxista. Modernamente, de acordo com os objetivos tericos ou prticos, a economia de divide em vrias reas: economia privada, pura, social, coletiva, livre, nacional, internacional, estatal, mista, agrcola, industrial etc. Ao mesmo tempo, o estudo da economia abrange numerosas escolas que se apiam em proposies metodolgicas comumente conflitantes enre si. Isto porque, ao contrrio das cincias exatas, a economia no desligada da concpo de mundo do invstigador, cujos interesses e valores interferem, conscientemente ou no, em seu trabalho cientfico. Em decorrncia disso, a economia no apresenta unidade nem mesmo quanto ao seu objeto de trabalho, pois este depende da viso que o economista tem do processo produtivo.

    2 CONCEITO DE ECONOMIA POLTICA

    Economia Poltica.3 a cincia que estuda as relaes sociais de produo, circulao e distribuio de bens materiais, definindo as leis que regem tais relaes. Procura tambm analisar o carter das leis econmicas, sua especificidade, sua natureza e suas relaes mtuas. Nesse sentindo, uma cincia fundamentalmente terica, valendo-se dos dados fornecidos pela economia descritiva e pela histria econmica. Para atingir seu objetivo, a economia poltica recorre a um conjunto de categorias que formam seu instrumental terico e uma metodologia capaz de conduzir o investigador cientfico a um conhecimento objetivo do processo produtivo e de suas leis. Impossibilitada de recorrer experimentao, como ocorre nas cincias exatas; a economia poltica vale-se da abstrao, que se baseia na observao comparativa dos processos estudados. A partir da, procura estabelecer as relaes mais gerais, eliminando os aspectos secundrios e ocasionais da problemtica econmica. A sntese desse procedimento metodolgico a formulao de teorias econmicas que definem a posio de indivduos e at mesmo de grupos sociais em fase dos fenmenos e dos fatos econmicos. Embora a questo dos problemas econmicos tenha sido objeto de preocupao de pensadores da Antiguidade clssica (Aristteles) e da Idade Mdia (Santo Toms de Aquino), foi somente na era

    2 SANDRONI, Paulo, org. Novssimo dicionrio de economia. 13. Ed. So Paulo : Best Seller, 2004. p. 189.

    3 SANDRONI, Paulo, org. Novssimo dicionrio de economia. 13. Ed. So Paulo : Best Seller, 2004. p. 191-192.

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    moderna que surgiu o estudo emprico e sistemtico dos fenmenos econmicos de um ponto de vista cientfico. Esse estudo assumiu a denominao de economia poltica, sendo o termo poltica sinnimo de social, segundo a tradio aristotlica de que o homem um animal poltico, isto , um animal social. Os estudos da economia poltica comearam com a escola mercantilista, cujos principais representantes foram Thomas Mun, Josiah Child e Antoine de Montchrestien. Este ltimo foi quem restabeleceu a nomenclatura grega: economia poltica. Avano considervel dos estudos econmicos ocorreu com os fisiocratas no sculo XVIII (Quesnay, Turgot), conhecidos como les conomistes, que, ao contrrio dos mercantilistas, deslocaram o foco de sua anlise da circulao para a produo, fundamentalmente para a produo agrcola. Com a Escola Clssica William Petty, Adam Smith e David Ricardo a economia poltica definiu claramente seu contorno cientfico integral, passando a centralizar a abordagem terica na questo do valor, cuja nica fonte original foi identificada no trabalho, tanto agrcola quanto industrial. A Escola Clssica firmou os princpios da livre-concorrncia, que exerceram influncia decisiva no pensamento capitalista. A escola marxista, fundada por Karl Heinrich Marx e Friedrich Engels, seguindo a teoria do valor-trabalho, chegou ao conceito de mais-valia, fonte do lucro, do juro e da renda da terra. Centrando seu estudo na anatomia do modo de produo capitalista, o marxismo desvendou a lei principal desse sistema e forneceu a base doutrinria para o pensamento revolucionrio socialista. Com Marx e Engels, a economia poltica passou a ver o capitalismo como um modo de produo historicamente determinado, sujeito a um processo de superao. A partir de 1870, a concepo ampla da economia poltica foi sendo paulatinamente abandonada, dando lugar a uma viso mais restrita do processo produtivo, que ficou conhecido apenas como economia. Essa postura terica foi iniciada pela escola neoclssica: William Stanley Jevons, Carl Menger, Lon Walras e Vilfredo Pareto. A abordagem abstrata de contedo histrico e social foi substituda pelo enfoque quantitativo dos fatores econmicos. A inovao mais importante na tradio neoclssica ocorreu com a obra de John Maynard Keynes Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda publicada em 1936, que refutou a teoria do equilbrio automtico da economia capitalista, apresentando uma nova viso do problema do desemprego, dos juros e da crise econmica. Aps a Segunda Guerra Mundial, o pensamento econmico capitalista vem seguindo duas linhas fundamentais: a dos ps-keynesianos, com sua nfase nos instrumentos de interveno do Estado e voltada para o planejamento e o controle do ciclo econmico, e a corrente liberal neoclssica, tambm chamada de monetria, que volta sua ateno fundamentalmente para as foras espontneas do mercado. No que diz respeito economia poltica marxista, trava-se em seu interior um amplo debate (sobretudo no Ocidente), visando a aprofundar certos aspectos tericos no desenvolvidos por Marx e tambm a levar adiante a anlise crtica do capitalismo moderno. Ao mesmo tempo, empreende-se um esforo semelhante visando a abordagem, tambm crtica, dos problemas econmicos do chamado socialismo real, e tentativa de elaborar a economia poltica a partir das formaes sociais pr-capitalistas.

    3 NECESSIDADES ECONMICAS

    O ser humano, para a sua atividade econmica, impelido por suas necessidades objetivando a obteno de coisas teis que possam satisfaz-las. Elas constituem, assim, a prpria essncia da economia, o ponto de partida de toda a cincia econmica. Guitton, do mesmo modo, acentua que "a atividade econmica tem como fim a satisfao das necessidades", acrescentando: "Na terminologia econmica, a palavra necessidade tomada em acepo mais larga que na linguagem corrente. Nem designa simplesmente um estado de sofrimento, de doena ou de aborrecimento, que sentimos se nos falta alguma coisa, se tal coisa se d ou no.

    No sentido econmico da palavra, diz-se que se tem necessidade de tudo quanto se deseja, seja de um diamante, de um charuto caro, de uma entrada para o teatro ou de uma garrafa de absinto. Como a atividade econmica dos homens tem por fim satisfazer necessidades, elas constituem, por conseguinte, o motor central de todo o mecanismo econmico.

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    Desde Adam Smith, as necessidades so consideradas como a forma da economia. O ser humano, como ser vivente, est em constante dependncia do mundo exterior, quer para conservar sua vida, quer para elevar-lhe o nvel. Os elementos necessrios sua sobrevivncia, desenvolvimento e consecuo dos seus fins so-lhe fornecidos pelo meio externo. As necessidades crescem com o prprio desenvolvimento humano e reclamam, cada vez mais, o auxlio de meios externos, que servem para satisfazer ou conter as necessidades derivadas da dependncia do ser humano ao ambiente que o cerca.

    Para tal fim, o ser humano lana mo de uma atividade preparatria, a qual representa a criao dos meios que o conduziro a tal fim. Decorre da o afirmar-se que "a economia essencialmente uma atividade preparatria, com a finalidade de possibilitar uma satisfao de necessidades vindouras, isto , pressupondo a consecuo de um fim para o futuro" (Gustavo Cassei, Economia social y terica, p. 4). Deve-se acentuar, porm, que nem todas as necessidades interessam economia, por exemplo, aquelas de natureza puramente psquica, como as originadas pelos sentimentos religiosos, ou, ainda, aquelas para as quais existe uma quantidade ilimitada de matrias e foras.

    Como a economia uma cincia profundamente dominada pelo princpio da escassez ou da raridade, da o dizer-se que so econmicas apenas aquelas atividades que se exercem sob a condio de uma possibilidade limitada da satisfao das necessidades.

    Ver-se- agora, os fundamentos da atividade econmica. Umbreit, Hunt e Kinter assinalam, com propriedade: "Mostrou-se que a atividade econmica resulta dos esforos dos seres humanos para satisfazer seus desejos de bens econmicos. Todavia, as formas particulares que a atividade econmica toma dependem, em qualquer sociedade, de trs fatores fundamentais, os quais podem variar, consideravelmente, de um grupo social para outro, tanto por causa das diferenas de ambiente natural como pelas diferenas de cultura, so eles:

    a) a natureza e a extenso das necessidades humanas;

    b) os recursos disponveis, como base para satisfazer essas necessidades; e

    c) a tecnologia ou os mtodos de produo que podem ser aplicados aos recursos disponveis.

    Em outras palavras, as trs determinantes significativas da atividade econmica so: necessidades, recursos e tecnologia.

    3.1 ESPCIES DE NECESSIDADES

    As necessidades, conforme o seu objeto, revestem-se dos mais multiformes matizes, indo desde aquelas que reclamam uma satisfao praticamente imediata (alimentao, vesturio etc.) at as denominadas necessidades artificiais, que, diferentemente das naturais ou fisiolgicas, podem, por vezes, ter a sua satisfao diferida, embora excitem do mesmo modo o desejo.

    Vale frisar que a necessidade difere do desejo, pois, enquanto este sempre possui um objeto determinado, supondo uma relao de conhecimento entre este objeto e a necessidade, essa sempre representa um sentimento de privao por um objeto indeterminado.

    As necessidades so, pois, as mais variadas, indo desde as de subsistncia ou fisiolgicas at as de civilizao ou sociais. Cobos distingue entre necessidades individuais e coletivas; Roscher as classifica em naturais, de situao e de luxo; Wagner distingue as necessidades de existncia das necessidades de civilizao. evidente que as necessidades variam muito de uma sociedade para outra, sendo influenciadas, no seu surgimento, no apenas pelas condies de clima, topografia e recursos naturais, mas tambm por diferenas nos padres culturais e na estrutura social.

    Tem-se ainda a classificao de Jennings, que distingue as necessidades primrias e secundrias, e a de Heller, que as divide em necessidades vitais e necessidades de cultura, conforme

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    se trate de necessidades imprescindveis para a conservao da vida ou de necessidades utilizadas para elevar o seu padro. As necessidades tambm podem ser encaradas conforme o crescimento das condies de bem-estar da sociedade; assim, aquelas que melhor se acomodam diante das variaes do nvel de vida so denominadas elsticas, enquanto as demais, com menor facilidade de adaptao, recebem o nome de necessidades rgidas ou inelsticas.

    3.2 CARACTERSTICAS DAS NECESSIDADES

    O homem, no dizer de Aristteles, um animal social; mas o ser vivente , antes de qualquer coisa, um animal insatisfeito, pois mal obtida a satisfao de um seu desejo e as suas atenes esto j voltadas para a satisfao de um desejo diferente.

    Gide, com base no subjetivismo das necessidades e nos seus aspectos individuais e coletivos, apresenta uma classificao dessas necessidades, conforme as suas principais caractersticas. Tem-se assim, que as necessidades, primeiro, so ilimitadas em nmero.

    Essa multiplicao sem fim das necessidades se tem constitudo na mola propulsora do progresso e das civilizaes: tal carter recebe tambm o nome de multiplicidade; o necessrio de hoje era o luxo de ontem e o suprfluo de hoje ser o necessrio de amanh, na feliz expresso de Guitton.

    Por outro lado, as necessidades so limitadas em capacidade, o que significa que as necessidades so limitadas no sentido de bastar determinada poro de um objeto para a satisfao de cada uma delas. Os desejos diminuem gradativamente de intensidade medida que vo sendo satisfeitos, at desaparecerem por completo.

    Viu-se, contudo, que as necessidades denominadas naturais ou fisiolgicas possuem um limite mais definido de satisfao, enquanto as necessidades ditas artificiais (luxo, riqueza, ostentao) possuem limite mais elstico. sua limitao em capacidade d-se a denominao de carter de sociabilidade. Esse decrscimo de intensidade das necessidades, conforme sua gradativa satisfao serviu de fundamento importante Escola Econmica Moderna.

    As necessidades so tambm naturalmente concorrentes entre si, pois, no geral, uma surge em detrimento de outra (exemplo: a trao por via frrea veio em prejuzo s diligncias, o transporte pelo veculo a motor veio operar em prejuzo do ferrovirio etc.). Esse princpio conhecido por lei da substituio, sendo que a possibilidade de substituir um objeto de consumo por outro, no dizer de Guitton, merece ser notada, porque serve de freio s exigncias dos monopolizadores e aambarcadores.

    As necessidades possuem ainda a caracterstica da complementaridade, geralmente surgindo em grupos ou em cadeia, exigindo satisfao comum ou simultnea.

    Finalmente, e esta seria sua quinta caracterstica ou lei econmica, as necessidades tendem a se reproduzir com regularidade; uma vez aplacada ou satisfeita, uma necessidade logo ressurge, com a mesma intensidade. A sucesso de satisfaes de uma mesma necessidade gera o hbito (para as naturais) ou o vcio (para as artificiais). O momento ou instante em que desaparece todo o interesse pela satisfao recebe o nome de ponto de saciedade, do qual decorre a lei da saturao de Gossen.

    Buscando levar aos acadmicos a definio e importncia das necessidades, do ponto de vista da cincia econmica, pode-se resumir da seguinte forma:

    a) necessidade o desejo de acabar ou prevenir uma insatisfao ou aumentar uma satisfao. Corresponde a um estado de carncia que o ser humano sente e deseja ver satisfeito;

    b) o consumo uma maneira de satisfazer uma necessidade recorrendo utilizao de bens ou servios, os quais possuem uma aptido para satisfazer a necessidade, atravs da sua utilizao, ou seja, a sua utilidade.

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    Caractersticas das necessidades

    Multiplicidade: so ilimitadas, pois o ser humano sente um nmero variado de necessidades e no apenas uma ou duas. Alm disso, elas renovam-se, ou seja, no basta satisfaz-las uma nica vez, mas sim um processo contnuo (por exemplo: a alimentao e novidades tecnolgicas). Assim, as necessidades tm um carter relativo.

    Saciabilidade: medida que o ser humano satisfaz uma necessidade, a intensidade sentida vai diminuindo progressivamente at desaparecer (por exemplo: quando se bebe gua).

    Substituibilidade: uma necessidade pode ser substituda por outra (princpio da substituio). Alm destas caractersticas, as necessidades variam no tempo e no espao.

    Classificao das necessidades

    Quanto importncia

    Primrias (indispensvel) fundamentais e prioritrias e que podem pr em risco a sobrevivncia do ser humano, se no forem satisfeitas: alimentao, habitao, sade etc.

    Secundrias (necessrio) satisfeitas depois das primrias, pois caso estas no sejam satisfeitas a vida do ser humano no colocada em risco. Referem-se ao que necessrio, mas no indispensvel, mas se forem satisfeitas pode-se aumentar a qualidade de vida: ir ao cinema, ler um livro etc.

    Tercirias (suprfluo) tudo aquilo que, numa determinada sociedade e determinado momento, considerado um luxo: perfumes e roupas de marca, joias caras etc.

    Quanto ao custo

    No econmicas so aquelas que no se depende de moeda ou trabalho para satisfaz-las, pois a natureza permite a sua satisfao livre e gratuita: respirar, tomar banho no mar etc.

    Econmicas so aquelas que se depende de moeda ou trabalho para satisfaz-las: ir ao teatro, andar de avio etc.

    Quanto vida em coletividade

    Coletiva as que derivam do fato do ser humano viver em grupo, atingindo todos os elementos da comunidade: necessidade de policiamento, justia, regras de trnsito etc.

    Individuais as que dizem respeito a cada um dos indivduos de uma sociedade, em funo das caractersticas da pessoa.

    4 BENS ECONMICOS

    Ficou devidamente acentuado, quando se examinou o conceito de necessidades, que a atividade econmica do ser humano est na dependncia constante do mundo exterior. Isso ocorre porque o indivduo, para satisfazer as suas necessidades, precisa de toda uma srie de bens materiais, oferecidos pelo mundo externo. E como tais bens, como se sabe, "no se encontram em todas as partes (ou pelo menos em quantidade suficiente em todas as regies), impe-se uma atividade preliminar, que ser a de localiz-los" (Kleinwachter, Economia, p. 7).

    Posteriormente, como segunda fase da atividade econmica, defronta-se com a seleo desses bens, passando, em seguida, para a fase transformativa, pois comumente os bens naturais dependem de um processo econmico para a sua transformao em bens efetivamente aptos para o consumo.

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    Os bens, assim, seriam as coisas teis e que podem satisfazer, direta ou indiretamente, as necessidades do ser humano. Mas, para possurem valor econmico, devem existir naturalmente limitados, pois os bens no escassos ou abundantes escapam rbita do econmico.

    Existe, por regra geral, certa escassez de bens. Essa escassez est sujeita a duas circunstncias: por um lado, deve ser disponvel em quantidade limitada de qualquer forma e, por outro, deve ser utilizvel, com proveito para a satisfao das necessidades do ser humano, uma quantidade que exceda disponvel. Assim a escassez econmica seria uma ideia completamente relativa, somente existindo em funo das necessidades humanas.

    Tambm, os bens podem ser materiais ou consistir em servios imateriais. Conquanto os economistas muitas vezes utilizem a expresso bens e servios, no sentido restrito, os bens incluem os servios. Um servio que satisfaz uma necessidade , intrinsecamente, um bem, ainda que sua natureza no seja material.

    5 CATEGORIAS DE BENS ECONMICOS E CONCEITO DE VALOR

    Bem, em sentido econmico, ser algo capaz de satisfazer uma necessidade humana. Os bens podem ser materiais ou consistir em servios imateriais, pois, desde que satisfaa uma necessidade, um servio ser intrinsecamente um bem, embora no forosamente material. Os bens econmicos materiais so denominados riquezas e os imateriais, servios.

    A principal caracterstica dos bens econmicos, como intuitivo, est na respectiva utilidade ou capacidade de satisfazer direta ou indiretamente uma necessidade. Logicamente, como o acentua Cobos (Curso, p. 122), embora alguns elementos sejam necessrios ao ser humano (o ar para respirar ou a gua para mitigar a sede), eles no so considerados bens econmicos, no sentido estrito da nossa cincia.

    Da a diviso dos bens em diferentes categorias:

    a) bens livres, cuja utilizao ou aquisio no implica relaes de ordem econmica, e

    b) bens econmicos, cujo contedo de molde a satisfazer, direta ou indiretamente, uma necessidade de natureza econmica.

    Os bens livres, que por sua abundncia podem ser apropriados ou adquiridos com pouco ou nenhum esforo, so aqueles que no estimulam os homens atividade econmica. Os bens econmicos, diferentemente, por serem relativamente escassos ou quantitativamente limitados, implicam dispndio de energias e capitais para a sua formao.

    Os bens ainda podem classificados em:

    a) bens materiais;

    b) bens imateriais ou servios.

    Os bens denominados de materiais so aqueles bens que ocupam espao e bens imateriais so aqueles no reais e que no ocupam espao (virtude, inteligncia etc.).

    Os bens materiais e os servios so designados pela denominao comum de bens. Os denominados servios podem, ainda, constituir meras faculdades, como ocorre normalmente com os direitos.

    Os denominados servios so, em parte, executados por pessoas e, em parte, pelos denominados bens de longa durao ou duradouros.

    Em ltima anlise, os bens so econmicos e no econmicos, conforme satisfaam o propsito e diretamente as necessidades, ou devam antes sofrer processos transformativos, para adquirirem

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    caractersticas essencialmente econmicas. O po, por exemplo, destina-se satisfao de uma necessidade fisiolgica normal e inadivel, a da alimentao, portanto, ser um bem econmico de primeiro plano. Mas, para que ele chegue a assumir tal caracterstica, sofreu inmeras etapas transformativas ou elaborativas, desde o preparo do solo, a escolha da semente, o preparo do terreno, o plantio do trigo, a colheita e a sua triturao em farinha, o ensacamento, o transporte etc.

    Os bens ainda podem ser categorizados em:

    a) bens de consumo: so produtos adquiridos pelos consumidores para uso prprio;

    b) bens de produo: so os produtos no utilizados para satisfazer necessidades individuais, mas aplicados ao processo transformativo. Os primeiros sofrem um consumo direto, os outros um consumo indireto;

    c) bens presentes ou atuais: so assim denominados em contraposio aos bens de produo, pois estes somente aps certo perodo de tempo estaro aptos para ser utilizados, enquanto aqueles podem ser consumidos to logo sejam apropriados;

    d) bens de capital: so entendidos como os bens produzidos pelo ser humano no apenas para o seu consumo, mas para auxili-lo na produo de outros bens. Quanto maior, em determinadas sociedades, o estoque de bens de capital, tanto maior o nvel de vida e maiores as possibilidades de aumento e variedade dos bens disposio de crescentes contingentes das mesmas sociedades;

    e) bens complementares: so os bens que colaboraram para o resultado final da obteno do bem final (terra, veculos de transporte, sacaria trigo, farinha de trigo para a produo de po); so tambm denominados bens passivos ou intermedirios, enquanto o po, utilizando-nos do mesmo exemplo, seriam os bens ativos.

    Soma-se a essas caractersticas outra, imprescindvel para a existncia e a qualificao dos bens econmicos: a sua transmissibilidade. E, ento, Cobos d a definio perfeita: "Bens econmicos so todos aqueles meios teis para a satisfao das necessidades humanas, que se encontram em quantidades escassas e podem ser trocados ou vendidos (Curso, p. 122).

    Esse poder de troca das mercadorias recebe a denominao de valor de mercado. O valor implica a ideia de relao entre coisas, relao que se materializa na troca e tambm na ideia de raridade. O valor, em sentido econmico, sempre o resultado de uma comparao seletiva, dependendo intimamente das necessidades humanas. Valor, na cincia econmica, sempre um juzo, uma estima, uma importncia atribuda a um bem.

    O valor de cada bem representado pela utilidade contida nesse mesmo bem ou objeto. A noo do valor econmico, porm, no se fundamenta apenas na utilidade, mas principalmente na relao existente entre a utilidade e a quantidade do bem econmico no mercado.

    Alguns objetos preciosos, como os brilhantes, as esmeraldas e os diamantes, possuem maior valor do que outros bens muito mais indispensveis s necessidades humanas, como a gua, o po etc. Essa aparente contradio explicada pelo fato bvio de que a unidade de bem raro, como o ouro, tenha valor mais elevado do que a unidade de um bem do qual se dispe em quantidades muito maiores, como um pedao de po.

    Desde Aristteles, distinguiam-se duas classes de valor: o valor de uso e o valor de troca. Tais investigaes tericas, porm, evoluram de modo muito lento, e durante muito tempo o valor foi encarado apenas como uma propriedade intrnseca dos prprios bens. Somente em data bem mais recente ligou-se o valor dos bens ao ntimo do ser humano, relacionando-o com o uso. a clebre teoria subjetiva do valor, contrapondo-se teoria objetiva ou do valor de troca.

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    Portanto, o valor de uso, por uns, chamado de valor subjetivo, por outros, valor individual, representa a importncia atribuda a um bem, isto , representa apreciaes ou estimas individuais.

    O valor de troca, tambm conhecido por valor objetivo e valor social, embora tambm represente uma importncia, refere-se s apreciaes ou estimas coletivas.

    7 TEMAS ECONMICOS

    Seja no cotidiano, seja nos jornais, rdio e televiso, deparar-se- com inmeras questes econmicas, como:

    aumentos de preos;

    perodos de crise econmica ou de crescimento;

    desemprego;

    setores que crescem mais do que outros;

    diferenas salariais;

    vulnerabilidade externa;

    valorizao ou desvalorizao da taxa de cmbio;

    dvida externa;

    diferenas de renda entre as vrias regies do pas;

    comportamento das taxas de juros;

    dficit governamental; e

    elevao de impostos e tarifas pblicas.

    Esses temas, j rotineiros no dia-a-dia da sociedade, so discutidos pelos cidados comuns, que, com altas doses de empirismo, tm opinies formadas sobre quais polticas devem ser adotadas pelo governo. Entretanto, um estudante de graduao em quaisquer reas das Cincias Sociais, para melhor desenvolver suas atividades, necessitar de conhecimentos tericos mais slidos para poder analisar os problemas econmicos que modelam a sociedade diariamente.

    O objetivo do estudo das cincias econmicas analisar os problemas econmicos e formular solues para resolv-los, de forma a melhorar a qualidade de vida da sociedade.

    8 PROBLEMAS ECONMICOS FUNDAMENTAIS

    Da escassez dos recursos ou fatores de produo, associadas s necessidades ilimitadas do ser humano, originam-se os chamados problemas econmicos fundamentais:

    O qu e quanto produzir?

    Como produzir?

    Para quem produzir?

    O qu e quanto produzir? Dada a escassez de recursos de produo, a sociedade ter de escolher, dentro do leque de possibilidades de produo, quais produtos sero produzidos e as respectivas quantidades a serem fabricadas;

    Como produzir? A sociedade ter de escolher ainda quais recursos de produo sero utilizados para a produo de bens e servios, dado o nvel tecnolgico existente. A concorrncia entre os

  • 13

    diferentes produtores acaba decidindo como sero produzidos os bens e servios. Os produtores escolhero, entre os mtodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo de produo possvel;

    Para quem produzir? A sociedade ter tambm de decidir como seus membros participaro da distribuio dos resultados de sua produo. A distribuio da renda depender no s da oferta e da demanda nos mercados de servios produtivos, ou seja, da determinao dos salrios, das rendas da terra, dos juros e dos benefcios do capital, mas tambm da repartio inicial da propriedade e da maneira como ela se transmite por herana.

    O modo como as sociedades resolve os problemas econmicos fundamentais depende da forma da organizao econmica do pas, ou seja, do sistema econmico de cada nao.

    9 SISTEMAS ECONMICOS

    Um sistema econmico pode ser definido como a forma poltica, social e econmica pela qual est organizada uma sociedade. um particular sistema de organizao da produo, distribuio e consumo de todos os bens e servios que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padro de vida e bem-estar.

    Os elementos bsicos de um sistema econmico so:

    Estoque de recursos produtivos ou fatores de produo: aqui se incluem os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia.

    Complexo de unidades de produo: constitudo pelas empresas.

    Conjunto de instituies polticas, jurdicas, econmicas e sociais: que so a base da organizao da sociedade.

    Em toda comunidade organizada, mesclam-se, em maior ou menor medida, os mercados e a atividade dos governos.

    O grau de concorrncia dos mercados variado, indo do monoplio, em que apenas uma empresa opera economia de livre mercado, que apresenta uma verdadeira concorrncia, com vrias empresas operando.

    O mesmo ocorre quanto interveno pblica, que engloba desde uma interveno mnima em impostos, crdito, contratos e subsdios at o controle dos salrios e os preos dos sistemas de economia centralizada que imperam nos pases comunistas.

    Entretanto, em ambos os sistemas ocorrem divergncias: no primeiro, existem somente monoplios estatais, sobretudo nas linhas areas e na malha ferroviria; no segundo, somente concesses empresa privada.

    As principais diferenas entre a organizao econmica centralizada e a capitalista residem em quem o proprietrio das fbricas, fazendas e outras empresas, assim como os diferentes pontos de vista sobre a distribuio da renda ou a forma de estabelecer os preos.

    Em quase todos os pases capitalistas, uma parte importante do Produto Nacional Bruto (PNB) produzida pelas empresas privadas, pelos agricultores e pelas instituies no governamentais, como universidades e hospitais particulares, cooperativas e fundaes.

    Os problemas mais importantes enfrentados pelo capitalismo so o desemprego, a inflao e as injustas desigualdades econmicas enquanto nas economias centralizadas os problemas mais graves so o subemprego, o macio emprego informal, o racionamento, a burocracia e a escassez de bens de consumo.

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    Em uma situao intermediria entre a economia centralizada e a economia de livre mercado, encontram-se os pases socialdemocratas ou liberal-socialistas. Neste misto de sistema a atividade econmica recai, em sua maior parte, sobre o setor privado, mas o setor pblico regula essa atividade, intervindo para proteger os trabalhadores e redistribuir a renda. a chamada economia mista.

    Os sistemas econmicos podem ser classificados em:

    sistema capitalista, ou economia de mercado, regido pelas foras de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produo; e

    sistema socialista, ou economia centralizada, ou ainda economia planificada. Nesse sistema as questes econmicas fundamentais so resolvidas por um rgo central de planejamento, predominando a propriedade pblica dos fatores de produo, chamados nessas economias de meios de produo, englobando os bens de capital, terra, prdios, bancos, matrias-primas.

    Os pases organizam-se segundo esses dois sistemas, ou alguma forma intermediria entre eles.

    Pelo menos at o incio do sculo XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrncia pura, em que no havia a interveno do Estado na atividade econmica. Era a filosofia do Liberalismo, que ser discutida mais adiante.

    Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de economia mista, no qual ainda prevalecem as foras de mercado, mas com a atuao do Estado, tanto na alocao e distribuio de recursos como na prpria produo de bens e servios, nas reas de infraestrutura, energia, saneamento e telecomunicaes.

    Em economias de mercado, a maioria dos preos dos bens, servios e salrios determinada predominantemente pelo mecanismo de preos, que atua por meio da oferta e da demanda dos fatores de produo.

    Nas economias centralizadas, essas questes so decididas por um rgo central de planejamento, a partir de um levantamento dos recursos de produo disponveis e das necessidades do pas. Ou seja, grande parte dos preos dos bens e servios, salrios, cotas de produo e de recursos calculada nos computadores desse rgo, e no pela oferta e demanda no mercado.

    Aps o fim da chamada Cortina de Ferro ao final dos anos 1980, mesmo as economias guiadas por governos comunistas, como Rssia, China e mais recentemente Cuba, tm aberto cada vez mais espao para atuao da iniciativa privada, caracterizando um socialismo de mercado: regime poltico comunista, com economia de mercado.

    10 FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO: FLUXOS REAIS E MONETRIOS

    Para se entender o funcionamento de um sistema econmico, supor-se- uma economia de mercado que no tenha interferncia do governo nem transaes com o exterior (economia fechada). Os agentes econmicos so as famlias (unidades familiares) e as empresas (unidades produtoras). As famlias so proprietrias dos fatores de produo e os fornecem s unidades de produo (empresas) no mercado dos fatores de produo. As empresas, pela combinao dos fatores de produo, produzem bens e servios e os fornecem s famlias no mercado de bens e servios. A esse fluxo de fatores de produo, bens e servios denominou-se de fluxo real da economia.4

    4 Um fluxo definido ao longo de um dado perodo de tempo (ano, ms etc.). Diferencia-se do conceito de

    estoque, que definido num dado momento do tempo, e no ao longo de um perodo. Em Economia, essa

    diferenciao particularmente importante: por exemplo, o conceito de dficit pblico um fluxo (mensal,

    trimestral, anual), enquanto a dvida pblica um estoque acumulado, at um dado momento.

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    Como pode ser observado na figura 1, famlias e empresas exercem um duplo papel. No mercado de bens e servios, as famlias demandam bens e servios, enquanto as empresas os oferecem; no mercado de fatores de produo, as famlias oferecem os servios dos fatores de produo (que so de sua propriedade), enquanto as empresas os demandam.

    Figura 1 - Fluxo real da economia

    MERCADO DE FATORES DE PRODUO

    FAMLIAS

    MERCADO DE BENS E SERVIOS

    EMPRESAS

    OFERTA DEMANDA

    DEMANDA OFERTA

    No entanto, o fluxo real da economia s se torna possvel com a presena da moeda, que utilizada para remunerar os fatores de produo e para o pagamento dos bens e servios.

    Desse modo, paralelamente ao fluxo real, tem-se um fluxo monetrio da economia (ver a Figura 2)

    Figura 2 - Fluxo monetrio da economia

    MERCADO DE FATORES DE PRODUO

    FAMLIAS

    MERCADO DE BENS E SERVIOS

    EMPRESAS

    OFERTA DEMANDA

    DEMANDA OFERTA

    Unindo os fluxos real e monetrio da economia, tem-se o chamado fluxo circular de renda (ver a Figura 3).

    Em cada um dos mercados atuam conjuntamente as foras da oferta e da demanda, determinando o preo. Assim, no mercado de bens e servios formam-se os preos dos bens e servios, enquanto no mercado de fatores de produo so determinados os preos dos fatores de produo (salrios, juros, aluguis, lucros, royalties5, dentre outros).

    Figura 3: Fluxo circular de renda

    MERCADO DE FATORES DE PRODUO

    FAMLIAS

    MERCADO DE BENS E SERVIOS

    EMPRESAS

    OFE

    RTA

    DEMAN

    DA

    DEM

    ANDA

    OFERTA

    PARA QUEM PRODUZIR

    O QU E QUANTO PRODUZIR

    COMO PRODUZIR

    5 Refere-se a uma importncia cobrada pelo proprietrio de uma patente de produto, processo de produo, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercializao.

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    Esse fluxo, tambm chamado de fluxo bsico, o que se estabelece entre famlias e empresas. O fluxo completo incorpora o setor pblico, adicionando-se o efeito dos impostos e dos gastos pblicos ao fluxo anterior, bem como o setor externo, que inclui todas as transaes com mercadorias, servios e o movimento financeiro com o resto do mundo.

    11 BENS DE CAPITAL, BENS DE CONSUMO, BENS INTERMEDIRIOS E FATORES DE PRODUO

    Bens de capital ou bens de produo: so os equipamentos e instalaes, so bens ou servios necessrios para a produo de outros bens ou servios. O bem de capital no diretamente incorporados no produto final, indivduos, organizaes e governos usam bens de capital na produo de outros bens ou mercadorias.

    Bens de capital incluem fbricas, mquinas, ferramentas, equipamentos, e diversas construes que so utilizadas para produzir outros produtos para consumo. Existem algumas confuses, por exemplo, carros so considerados bens de consumo, pois so geralmente adquiridos para uso pessoal, porm um caminho pode ser considerado um bem de capital, pois utilizado por empresas de construo na produo de outros produtos, como casas e edifcios.

    A tecnologia utiliza uma combinao de fatores para a produo de bens e servios. A agricultura e a indstria podem ser de capital intensivo e trabalho intensivo, que utilizam mais o trabalho ou mo de obra. s fatores de produo so formados pela terra ou recursos naturais, pelo trabalho, pelo capital, pela tecnologia e pela capacidade empresarial.

    Bens de consumo: so os bens utilizados pelos indivduos ou famlias. A quantidade de bens de consumo que so comercializados em cada pas reflete o nvel de vida da populao e tambm permitem avaliar os gostos e as caractersticas da sociedade em questo. Bem de consumo um bem que tem o objetivo de satisfazer as necessidades de consumo de um indivduo.

    Os bens de consumo esto divididos em durveis, semidurveis e no durveis. Os bens de consumo no durveis so aqueles feitos para serem consumidos imediatamente, como alimentos (sorvetes, chocolate etc.). Os bens de consumo durveis so aqueles que podem ser utilizados vrias vezes durante longos perodos, como um automvel; j os bens de consumo semidurveis podem ser considerados os calados, as roupas etc. que se desgastam com o tempo.

    Em geral, os melhores exemplos de bens de consumo so alimentos, roupas, cadeiras, televises e outros, e destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas.

    Bens intermedirios: so bens manufaturados ou matrias-primas processadas empregadas na produo de outros bens, como o acar nas balas, os componentes na televiso, etc. Os bens intermedirios tambm podem ser definidos como os insumos que uma empresa compra de outra para a elaborao dos seus produtos. Um exemplo disto a bobina de ao produzido pelas siderrgicas, que considerada um bem intermedirio na fabricao de um automvel. Diferenciam-se dos bens finais, que so vendidos para consumo ou utilizao final. Os bens de capital, como no so consumidos no processo produtivo, so bens finais, e no intermedirios.

    Recursos produtivos ou fatores de produo: so elementos utilizados nos processos produtivos de todos os tipos de bens (mercadorias) necessrios vida material da sociedade. Dessa forma, referem-se aos chamados insumos (como o trabalho, a matria-prima e o capital).

    Assim, em linhas gerais, os principais recursos produtivos esto entre: trabalho, terra, matria-prima, capital e capacidade de produo. Ao se iniciar pela questo da terra enquanto fator de produo, de maneira geral refere-se aos recursos naturais que dela podem ser extrados.

    Logo, da terra dependem certas atividades, como extrao de minrios (minrio de ferro, cobre, estanho, ouro, prata, etc.), extrao de petrleo, alm claro das mais diversas culturas agrcolas e da

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    prpria construo civil, ou seja, enquanto insumo, ora a terra fornece matrias-primas naturais (petrleo e ferro, por exemplo) que apenas so extradas pelo homem, ora ela contribui com seus nutrientes s plantaes, sem se falar de sua necessidade fsica para a construo de casas, prdios, fbricas e outros empreendimentos.

    Da seu valor econmico ser um dos maiores em termos de recursos produtivos. Logo, independente da natureza do ramo de atividade que tem a terra como meio de produo, vale dizer que os recursos provenientes so recursos escassos.

    Outro fator de produo fundamental e que certamente sofreu e sofre transformaes ao longo da histria o trabalho: esforo humano, fsico ou mental (intelectual) para a produo de bens e servios.

    Obviamente, enquanto fator de produo, o trabalho dispensa maiores explicaes, pois, a despeito de estar entre os recursos produtivos de menor valor econmico, certamente protagonista de qualquer modelo de produo.

    Afinal, por meio do trabalho que o homem interage e transforma seu meio e a natureza (e, atravs de tcnicas, obtm o que necessita para sua vida material). Seja no campo, colhendo frutos, seja na cidade, no cho da fbrica, o trabalhador est presente com sua fora de trabalho, em maior ou menor grau de especializao.

    A cada fator de produo corresponde uma remunerao ao seu proprietrio, conforme o quadro 1, a seguir.

    Quadro 1 - Fator de produo e tipo de remunerao

    Fator de Produo Tipo de Remunerao

    Trabalho Salrio

    Capital Juro

    Terra Aluguel

    Tecnologia Royalty

    Capacidade Empresarial Lucro

    12 DIVISO DO ESTUDO ECONMICO

    A anlise econmica, para fins metodolgicos e didticos, normalmente dividida em duas grandes reas de estudo quais sejam:

    anlise microeconmica; e

    anlise macroeconmica.

    12.1 ANLISE MICROECONMICA

    o ramo da teoria econmica que trata individualmente do comportamento dos consumidores e produtores com o objetivo de compreender o funcionamento geral do sistema econmico, ou seja, como consumidores e empresas interagem no mercado e como decidem os preos e a quantidade para satisfazer a ambos simultaneamente.

    Dentre os assuntos tratados pela microeconomia, tm-se: (i) a teoria do consumidor; (ii) teoria da firma; (iii) teoria da produo; (iv) teoria dos custos; e (v) teoria da repartio.

    12.2 ANLISE MACROECONMICA

    o ramo da teoria econmica que trata do estudo agregativo da atividade econmica, ocupando-se de magnitudes globais, com o objetivo de determinar as condies necessrias do crescimento e

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    equilbrio do sistema econmico, ou seja, estuda a determinao e o comportamento dos grandes agregados nacionais, como o produto interno bruto (PIB), investimento agregado, a poupana agregada, o nvel geral de preos, entre outros.

    A macroeconomia estuda: (i) teoria geral do equilbrio e do crescimento econmico; (ii) teoria da moeda; (iii) teoria das finanas pblicas; (iv) teoria das relaes internacionais; (v) teoria do desenvolvimento. importante ressaltar que a macroeconomia trata da formulao de polticas econmicas.

    13 A INTER-RELAO DA ECONOMIA COM OUTRAS REAS DO CONHECIMENTO

    Embora a Economia tenha seu ncleo de anlise e seu objeto bem definidos, ela tem interdependncias com outras cincias. Afinal, todas estudam a mesma realidade e, evidentemente, h muitos pontos de contato.

    Economia, Fsica e Biologia

    O incio do estudo sistemtico da Economia coincidiu com os grandes avanos da tcnica e das cincias fsicas e biolgicas nos sculos XVIII e XIX.

    A construo do ncleo cientfico inicial da Economia comeou a partir das chamadas concepes organicistas (biolgicas) e mecanicistas (fsicas), Segundo o grupo organicista, a Economia se comportaria como um rgo vivo. Da utilizarem-se termos como rgos, funes, circulao e fluxos na teoria econmica. J para o grupo mecanicista, as leis da Economia se comportariam como determinadas leis da Fsica. Da advm termos como equilbrio, esttica, dinmica, acelerao, velocidade, foras e outros,

    Com o passar do tempo, predominou uma concepo humanstica, que coloca em plano superior os mveis psicolgicos da atividade humana. Afinal, a Economia repousa sobre os atos humanos, e por excelncia uma cincia social.

    Economia, Matemtica e Estatstica

    Apesar de ser uma cincia social, a Economia limitada pelo meio fsico, dado que os recursos so escassos, e se ocupa de quantidades fsicas e das relaes entre essas quantidades, como a que se estabelece entre a produo de bens e servios e os fatores de produo utilizados no processo produtivo.

    Da surge a necessidade da utilizao da Matemtica e da Estatstica como ferramentas para estabelecer relaes entre variveis econmicas.

    A Matemtica torna possvel escrever de forma resumida importantes conceitos e relaes de Economia e permite anlises econmicas na forma de modelos analticos, com poucas variveis estratgicas, que resumem os aspectos essenciais da questo em estudo.6 Tome-se como exemplo uma importante relao econmica: O consumo nacional est diretamente relacionado com a renda nacional.

    6 Modelos tambm podem ter formulao verbal, como as experincias histricas para fundamentar a anlise

    econmica.

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    Essa relao pode ser representada da seguinte forma:

    A primeira expresso diz que o consumo (C) uma funo (f) da renda nacional (RN). A segunda informa que, dada uma variao na renda nacional (RN), teremos uma variao diretamente proporcional (na mesma direo) do consumo agregado (C).

    Como as relaes econmicas no so exatas, mas probabilsticas, recorre se Estatstica.

    Por exemplo, (em que C = comprimento da circunferncia, = letra grega pi e r = raio) uma relao matemtica exata qualquer que seja o comprimento da circunferncia. Em Economia tratamos de leis probabilsticas. Na relao vista anteriormente ( C f (RN) ), conhecendo o valor da renda nacional num dado ano, no obtemos o valor exato do consumo, mas sim uma estimativa aproximada. Embora a renda seja a varivel mais importante, o consumo no depende s da renda nacional, mas de outros fatores (como condies de crdito, juros, patrimnio).

    Se a Economia tivesse relaes matemticas, tudo seria previsvel. No entanto, no existe no mundo econmico regularidades como C = 2r, equivalncia entre massa e energia, leis de Newton. Na Economia, o tomo aprende, pensa, reage, projeta, finge. Imagine como seria a Fsica e a Qumica se o tomo aprendesse: aquelas belas regularidades desapareceriam. Os tomos pensantes logo se agrupariam em classes para defender seus interesses: teramos uma Fsica dos tomos proletrios Fsica dos tomos burgueses e outros.7

    Contudo, a Economia apresenta muitas regularidades, que podem ser estimadas estatisticamente, tais como:

    o consumo nacional depende diretamente da renda nacional;

    a quantidade demandada de um bem tem uma relao inversamente proporcional com seu preo, tudo o mais constante;

    as exportaes e as importaes dependem da taxa de cmbio.

    A rea da Economia que est voltada para a quantificao dos modelos a Econometria, que combina Teoria Econmica, Matemtica e Estatstica.

    Convm lembrar, porm, de que a Matemtica e a Estatstica so instrumentos, ferramentas de anlise necessrias para testar as proposies tericas com os dados da realidade. Permitem colocar prova as hipteses da teoria econmica, mas elas so meios e no fins em si mesmas. A questo da tcnica deve auxiliar, mas no predominar, quando se tratar de fatos econmicos, pois esses sempre envolvem decises que afetam relaes humanas.

    Economia e Poltica

    A Economia e a Poltica so reas bastante interligadas. A poltica fixa as instituies sobre as quais se desenvolvero as atividades econmicas. Nesse sentido, a atividade econmica se subordina estrutura e ao regime poltico do pas (se um regime democrtico ou autoritrio). As prioridades de poltica econmica (crescimento, distribuio de renda, estabilizao) so determinadas pelo poder poltico.

    7 Extrado de Delfim Netto, A. Moscou, Freiburg e Braslia: ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994.

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    Entretanto, por outro lado, a estrutura poltica se encontra muitas vezes subordinada ao poder econmico. A seguir, cita-se apenas alguns exemplos:

    poltica do caf com leite antes de 1930, quando Minas Gerais e So Paulo dominavam o cenrio poltico do pas;

    poder econmico dos latifundirios;

    poder dos oligoplios e monoplios;

    poder das corporaes estatais;

    poder do sistema financeiro.

    Economia e Geografia

    A Geografia no o simples registro de acidentes geogrficos e climticos. Ela permite avaliao de fatores muito teis anlise econmica, como as condies geoeconmicas dos mercados, a concentrao espacial dos fatores produtivos, a localizao de empresas e a composio setorial da atividade econmica.

    Atualmente, algumas reas do estudo econmico, esto relacionadas diretamente com a Geografia, como a economia regional, a economia urbana, as teorias de localizao industrial e a demografia econmica.

    Economia e Histria

    A pesquisa histrica extremamente til e necessria para a Economia, pois facilita a compreenso do presente e ajuda nas previses. As guerras e revolues, por exemplo, alteraram o comportamento e a evoluo da Economia.

    Por outro lado, tambm os fatos econmicos afetam o desenrolar da Histria. Alguns importantes perodos histricos so associados a fatores econmicos, como os ciclos do ouro e da cana-de-acar no Brasil, e a Revoluo Industrial, a quebra da Bolsa de Nova York (1929), a crise do petrleo, que alteraram profundamente a histria mundial. Em ltima anlise, as prprias guerras e revolues so permeadas por motivaes econmicas.

    Economia, Moral, Justia e Filosofia

    Antes da Revoluo Industrial, no sculo XVIII, a atividade econmica era vista como parte integrante da Filosofia, Moral e tica. A Economia era orientada por princpios morais e de justia. No existia ainda um estudo sistemtico das leis econmicas, e predominavam princpios como a lei da usura, o conceito de preo justo (discutidos, dentre outros filsofos, por Santo Toms de Aquino).

    Ainda hoje, as encclicas papais refletem a aplicao da filosofia moral e crist s relaes econmicas entre homens e naes.

    Para o estudo aqui referido, merece um captulo parte a relao existente entre Economia e Direito uma vez que estas duas cincias devem caminhar de mos dadas.

    A relao da Economia com o Direito

    Aqui procura-se mostrar como importantes conceitos da teoria econmica esto relacionados ou dependem do quadro de normas jurdicas do pas. No mundo real, por um lado, as normas jurdicas

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    molduram o campo de anlise da teoria econmica e, por outro, o surgimento de novas questes econmicas atuam de modo a modificar esse arcabouo jurdico.

    Particularmente, nas ltimas dcadas, em funo do expressivo avano da liberalizao dos mercados, tanto do comrcio como das finanas internacionais, - e a consequente reduo da atividade econmica do Estado (o chamado neoliberalismo), vem ganhando mais importncia o papel regulador do governo, visando garantir a defesa da concorrncia e os direitos dos consumidores.

    Os estudos envolvendo Direito e Economia, at recentemente, se restringiam a algumas reas especficas do conhecimento jurdico, tais como regulamentao e fiscalizao dos monoplios e oligoplios, concorrncia, leis antitrustes dentre outras. Contudo, a partir da dcada de 60 do sculo XX, que o dilogo entre Direito e Economia torna-se frutfero, expandindo-se a campos mais tradicionais do Direito, como o contratual, o dos direitos reais, o criminal e o constitucional. Surge, ento, uma teoria voltada a uma inter-relao entre estas duas cincias, intitulada Law and Economics, ou Direito e Economia, como ser tratada aqui.8

    Tal disciplina tem sua origem nos estudos dos juristas e economistas americanos, com destaque para Ronald Coase e Guido Calabresi, cujas diretrizes contriburam decisivamente para a aplicao de princpios econmicos ao Direito. (PIMENTA, 2006, p. 168). Os trabalhos pioneiros de Coase e Calabresi trouxeram comunidade jurdica um novo recurso hermenutico, sob um enfoque primordialmente econmico. A referida disciplina parece ter se tornado, ao longo do tempo, uma ferramenta de interpretao jurdica com especial relevo no cenrio mundial, sendo, inclusive, classificada como um notvel desenvolvimento dessa cincia no sculo XX.9

    Deve ser esclarecido que o estudo de Direito e Economia tem o propsito de rejeitar o Direito como um ramo cientfico autnomo em relao s demais disciplinas sociais, ou seja, aspira utilizao de ideias e conceitos da Economia, principalmente aqueles j abordados no presente ensaio, na anlise da realidade jurdica. O Direito deixa de ser visto como uma cincia isolada, podendo ser interpretado e compreendido tambm mediante critrios e princpios essencialmente econmicos.

    Com apoio nas premissas econmicas aqui estabelecidas, acredita-se que o estudo em Direito e Economia prope que os institutos jurdicos sejam, tambm, estabelecidos e empregados em prol da eficcia econmica, visando a maximizao da riqueza e a tima alocao dos recursos escassos, satisfazendo as necessidades humanas.

    No se defende aqui a ideia de que a relao entre Direito e Economia traga todas as respostas para a melhor e justa aplicao dos institutos jurdicos. Entretanto, a disciplina se justifica como uma

    8 El anlisis econmico del derecho antimonoplico, y de otras regulaciones legales de los mercados

    econmicos explcitos, sigue siendo un campo prspero. Sin embargo, la marca distintiva del nuevo derecho y economia el derecho y la economa que han surgido desde 1960 es la aplicacin del anlisis econmico al sistema legal en su conjunto; a campo del derecho comn; como los cuasidelitos, los contratos, la restitucin y la

    propiedad; a la teoria y la prctica del castigo; al proceso civil, penal y administrativo; a la teoria de la

    legislacin y la regulacin; a la aplicacin de la ley y la administracin judicial, e incluso al derecho

    constitucional, el derecho primitivo, el derecho del almirantazgo, el derecho familiar y la jurisprudencia (POSNER, 2007, p. 55).

    9 Fato que a aplicao do instrumental da Economia anlise do Direito considerada, entre os juristas

    americanos, o maior avano da cincia jurdica no sculo XX, tendo se tornado a mais robusta e moderna

    corrente de estudo do Direito nos Estados Unidos da Amrica, alm de mostrar em franca expanso em outros

    relevantes ordenamentos. (PIMENTA, 2006, p.168) No mesmo sentido: Nas ltimas dcadas do sculo XX, o movimento conhecido como Analise Econmica do Direito, ou simplesmente como Law and Economics, deixou de ser um pequeno e alternativo programa de pesquisa nas reas do Direito e da Economia, para

    estabelecer-se como uma das principais escolas jurdicas dessa poca. Seu desenvolvimento e aplicao

    resultaram em profundas mudanas tanto no contexto disciplinar das Faculdades de Direito como na prtica

    jurdica norte-americana. (COELHO, 2007, p.01).

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    ferramenta hermenutica relevante a ser considerada no mundo jurdico, uma vez que as repercusses econmicas de uma deciso judicial, de uma nova norma legal ou de uma nova regra contratual, por exemplo, no podem ser desprezadas.

    Metodologicamente, a anlise econmica do direito apresenta uma abordagem positiva e uma normativa. A primeira pretende prever qual o comportamento dos agentes para a formulao e aplicao dos institutos jurdicos. Aqui se est diante de uma anlise entre meios e fins, ou seja, pretende-se, diante das opes jurdicas que se dispe (meios), investigar e antecipar a possibilidade de ocorrncia dos objetivos pretendidos (fins), avaliando, inclusive, as possveis consequncias, primordialmente econmicas, na sociedade.10

    Por outro lado, em linhas gerais, a abordagem normativa analisa valorativamente o impacto do direito em termos de eficcia e de bem estar social. Trata-se, pois, de avaliar e analisar empiricamente os institutos jurdicos, sob os olhos da Economia.

    Para uma melhor compreenso destas ideias, tome-se um exemplo apontado por Ronald Dworkin, um severo crtico das ideias de Direito e Economia: Examinemos um tipo de acidente que costumava ocupar os tribunais. Um trem que passa por dentro de uma fazenda lana fascas que incendeiam e destroem as plantaes nas proximidades da linha do trem. O agricultor deve arcar com os prejuzos? Ou deve ser indenizado pela empresa ferroviria? Que regra estabeleceria um legislador bem informado, ansioso por aumentar a riqueza total da comunidade? Imaginemos que os fatos econmicos so os seguintes (daremos a esses fatos a designao geral de Caso 1). Se a empresa reduzir a velocidade do trem ao ponto em que este no solte fascas, seus lucros sero reduzidos em mil dlares. Se o trem correr velocidade mais lucrativa para a empresa, o agricultor perder a colheita que lhe renderiam mil e cem dlares. Nessas circunstancias, a comunidade ser mais rica (segundo a definio estipulada de riqueza da comunidade) se a velocidade do trem for reduzida. Suponhamos agora (Caso 2) que os fatos econmicos sejam invertidos. Se o trem reduzir sua velocidade, a empresa perder mil e cem dlares, e, se no houver reduo da velocidade, o agricultor perder apenas mil dlares. Agora, a comunidade ser mais rica em seu conjunto se o trem correr mais e as colheitas forem queimadas. Parece, portanto, que uma pessoa desejosa de aumentar a riqueza da comunidade estabeleceria diferentes regras de responsabilidade para os dois casos. Tornaria a empresa ferroviria responsvel pelo prejuzo no primeiro caso, o que obrigaria o trem a reduzir sua marcha, e, no segundo caso, obrigaria o agricultor a arcar com a perda para que o trem pudesse manter a velocidade. (DWORKIN, 2007, 335).

    Diferentemente das concluses de Dworkin, entende-se que o citado exemplo deve ser analisado sobre outra tica, sob o efetivo vis do Direito e Economia. Primeiramente, importante destacar que os envolvidos, a empresa ferroviria e os agricultores, maximizam seus bem-estares, ou seja, iro agir, em uma avaliao custo/beneficio, visando seus prprios interesses.

    A empresa ferroviria somente alterar sua conduta se os custos forem maiores que os benefcios, e o agricultor, uma vez que sua plantao foi queimada, buscar maximizar seu prprio interesse, ou seja, uma indenizao junto companhia ferroviria. Assim, como dever agir o legislador e os aplicadores do direito em face da situao descrita?

    10 Bruno Salama trs um interessante exemplo que bem ilustra a analise positiva: Em maro de 2006, a Senadora Maria do Carmo do Nascimento Alves (DEM/SE) apresentou Projeto de Lei n 45/06, cuja inteno

    seria a de acrescentar ao Cdigo de Defesa do Consumidor CDC um dispositivo que facultaria ao consumidor antigo de produtos e servios executados de forma continua, a seu critrio, exigir a concesso de benefcios que

    so oferecidos pelos fornecedores para a adeso de novos consumidores.

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    Se a norma estabelecer (ou o prprio julgador imputar) uma indenizao menor do que os benefcios obtidos pela empresa ferroviria mantendo o trem em alta velocidade, esta assim agira, suportando a indenizao. Contudo, se a indenizao, ou os custos, superarem os benefcios a companhia agir alterando a velocidade do trem, ou , estabelecer meios para evitar o dano.

    A ideia central aqui demonstrar que no basta to somente imputar responsabilidade a empresa ferroviria, estipulando um valor aleatrio para indenizao, ou deixar que o agricultor arque com os custos, mas sim, que a elaborao da regra e sua aplicao estejam, tambm, orientadas por esses componentes econmicos, que inegavelmente, influenciaram na tomada de decises das partes envolvidas.

    interessante tambm observar que uma regra elaborada e aplicada sem o conhecimento dessa concepo econmica, pode inviabilizar as atividades desenvolvidas pelos litigantes. Se a indenizao for nfima, a empresa continuar queimando a plantao e, consequentemente, o agricultor poder at desistir de sua produo, o que, inegavelmente, traria repercusses em toda a sociedade, ainda mais se se pensar em uma relao ampla, com vrios agricultores envolvidos. Por outro lado, se o montante indenizatrio for exacerbado, acarretando uma penalidade excessiva, a qual a empresa no ter condies de suportar, essa poder, em uma consequncia limite, encerrar suas atividades.

    Diante disso que se sugere a articulao do Direito e da Economia como um recurso de hermenutica indispensvel na formulao e aplicao dos institutos jurdicos.11 Neste contexto, possvel aponta outro exemplo sobre a relevncia da Anlise Econmica do Direito.

    Trata-se de uma interessante deciso proferida nos autos da ao ordinria de n 1999.001.141054-2 pela Justia Estadual do Rio de Janeiro. Nessa demanda, os autores pleitearam ressarcimento por danos materiais e morais em razo da perda de 95% do valor por eles aplicado em derivativos junto a uma determinada corretora.

    Destaca-se que os autores j tinham experincia em investimentos variveis e foram devidamente informados sobre a oportunidade de rendimento que poderia alcanar (112% ao ano), bem como sobre os riscos, que incluam a possibilidade de perda significativa do valor investido. Todavia, mesmo assim o pedido foi julgado procedente para devolver aos autores todo o dinheiro perdido, bem como para lhes conferir o dano moral pleiteado no valor de R$ 10.000,00 para cada litigante.

    Analisando a situao descrita, sob o vis do Direito e Economia, possvel verificar a ineficcia da deciso judicial apontada. A sentena pode at ter apresentado o fundamento legal devido, todavia, a questo no deve ser tratada de forma to restrita e limitada. Primeiro, cumpre-se atentar ao fato dos autores serem investidores experientes, alm de deterem uma vasta informao dos benefcios e dos riscos do investimento. H, portanto, uma simetria de informaes.

    11

    Pietro Perlingieri posiciona-se com reservas ao Direito e Economia afirmando que no se nega que possa ser til o emprego de esquemas e critrios microeconmicos para escrutinar o direito e para avaliar a congruidade de seus institutos. , todavia, necessrio ter conscincia que se verdade que a anlise custo-benefcio contribui

    para realizar a eficincia, ela sozinha no consegue representar a especificao e a complexidade da cincia

    jurdica. (PERLINGIERI, 2002, p. 64). Contudo, Andrs Roemer salienta que nunca se h afirmado que el AED deba erigirse como uma disciplina autnoma tomando el lugar del derecho (ROEMER, 2004, p. 216).

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    Por outro lado, importante destacar que todos os envolvidos esto buscando maximizar seus interesses: os autores visam os benefcios no investimento e a corretora, por sua vez, aumentar o seu lucro (de forma bem genrica). Mas, uma deciso como essa foi alm dos interesses das partes envolvidas.12 Esse precedente jurdico poder acarretar em consequncias indesejadas para a sociedade e para a maximizao da riqueza. No h como negar que diante dessa deciso outros investidores, em prol de seu auto-interesse, podero demandar judicialmente suas corretoras para receber alguma compensao por perdas em investimentos.

    As corretoras, por outro lado, podem at ter sua atividade comprometida, pois podem no estar preparadas para suportar indenizaes como a ocorrida. Assim, as corretoras agiro visando seus prprios interesses, ou seja, podero tornar mais custosas as relaes com investidores (aumentando as taxas para realizar investimentos, por exemplo), ou at limitar as atividades de maior risco. A maximizao da riqueza estar comprometida e a sociedade arcar com as consequncias da deciso ineficiente.

    Torna-se clara a relevncia das ideias trazidas pelo Direito e Economia, que, certamente, tem a contribuir nas relaes jurdicas, entretanto, reafirma-se, no se acredita que essa disciplina apontar todas as melhores e justas respostas na elaborao e no emprego dos institutos jurdicos. Trata-se sim, de uma poderosa ferramenta hermenutica.

    Acreditar que o aspecto econmico no um valor para sociedade, pois se afastaria o bem social e da concepo de Justia (sem influncia nas decises dos agentes econmicos) inconcebvel no mundo moderno. A questo, portanto, no tanto se eficcia pode ser igualada justia, mas sim como a construo da justia, pode se beneficiar da discusso de prs e contras, custos e benefcios. Noes de justia que no levem em conta as provveis consequncias de suas articulaes prticas so, em termos prticos, incompletas (...). O resultado , em primeiro lugar, a abertura de uma nova janela do pensar, que integra novas metodologias (inclusive levantamentos empricos e estatsticos) ao estudo das instituies jurdicas-polticas, de forma que o Direito possa responder de modo mais eficaz s necessidades da sociedade. E, em segundo lugar, o enriquecimento da gramtica do discurso jurdico tradicional, com uma nova terminologia que auxilia o formulador, o aplicador, e o formulador da lei na tarefa de usar o Direito como instrumento do bem comum (SALAMA, 2008, P. 36).

    Segundo (RODRIGUES, 2007, p.09)

    A Anlise Econmica do Direito suscita, muitas vezes, relutncia e resistncia entre os que no esto treinados para olhar para estas questes de outra perspectiva. Frequentemente, os juristas consideram as premissas em que assenta a analise controversas, para no dizer outra coisa, e as concluses polmicas e, por vezes, at contrarias noo de justia (RODRIGUES, 2007, p.09)

    12

    Na mesma linha, Richard Posner: X es baleado por um cazador descuidado, Y y demanda. Lo nico que interesa a las partes y a sus abogados, y lo nico que el juez y el jurado decidirn, es si el costo de la lesin

    debiera desplazarse de X a Y; es decir, si es justo o equitativo que X reciba una compensacin. El abogado de X alegar que es justo que X sea compensado, puesto que Y incurri em falta y X no tuvo ninguna culpa. El

    abogado de Y podra alegar que X tambin fue descuidado, de modo que sera justo que la perdida permaneciera

    sobre X. (...) Al economista l interesa la prevencin de los accidentes futuros que no se justifiquen por los

    costos y, por lo tanto, la reduccin de la suma de los costos de los accidentes y de su prevencin. Las partes del

    litgio pueden no tener ningn inters por el futuro. Su nico inters puede ser el de las consecuencias financieras

    de un accidente pasado. Sin embargo, esta dicotoma es exagerada. La decisin de este caso afectar al futuro, de

    modo que deber interesar al economista porque establecer o confirmar una regla para la orientacin de los

    indivduos que realizan actividades peligrosas. La decisin es una prevencin en el sentido de que si nos

    comportamos de cierto modo y se produce um accidente, tendremos que pagar una compensacin (o no

    podremos obtener una compensacin, si somos la vctima). Al modificar as el precio de sombra (del

    comportamiento riesgoso) que afronta la gente, la prevencin podra afectar su comportamiento y, por ende, los

    costos de los accidentes.

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    Enquanto que Ronald Dworkin trs a seguinte critica:

    No to difcil imaginar mudanas no contexto econmico, social ou psicolgico que fariam de nossas intuies conhecidas no o melhor que um utilitarista pudesse inculcar. Os sdicos radicais poderiam tornar-se to numerosos entre ns, sua capacidade de prazer to profunda, e seus gostos to irredutveis que, mesmo no primeiro nvel quando examinamos as regras que poderiam aumentar a felicidade em longo prazo seriamos forados a fazer excees a nossas regras gerais e permitir somente a tortura dos negros. No uma boa resposta dizer que, felizmente, no existe nenhuma possibilidade verdadeira de que tal situao venha a verificar-se. Na verdade, uma vez mais o objetivo dessas hipteses terrveis no fazer uma advertncia prtica a de que, se nos deixarmos seduzir pelo utilitarismo, poderemos nos flagrar defendendo a tortura mas sim expor os defeitos do tratamento acadmico da teoria ao chamar a ateno para as convices morais que continuam poderosas, ainda que de forma hipottica. Se acreditamos que seria injusto torturar negros mesmo nas circunstncias (extremamente improvveis) em que tal procedimento pudesse aumentar a felicidade geral, se acharmos que essa prtica no trataria as pessoas como iguais, devemos ento rejeitar o segundo passo do argumento utilitarista (DWORKIN, 2007, p.350/351).

    Reafirma-se assim que a Anlise Econmica do Direito pode contribuir para o o avano na elaborao, interpretao e aplicao das normas jurdicas mediante sua avaliao por meio de critrios e mtodos particulares cincia econmica (PIMENTA, 2006, p. 169).

    O Direito e a teoria dos mercados: defesa do consumidor e da concorrncia

    Quando se estuda a teoria dos mercados, que parte da Microeconomia, dois enfoques so encontrados: de um lado, no econmico, analisa-se o comportamento dos produtores e dos consumidores quanto s suas decises de produzir e de consumir; de outro, no jurdico, o foco reside nos agentes das reaes de consumo consumidor e fornecedor sendo que, conforme o Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor, os direitos do consumidor colocam-se perante os deveres do fornecedor de bens e servios.

    Quando se estuda o estabelecimento comercial e o papel do empresrio, novamente, duas vises emergem da anlise: a econmica e a jurdica. A viso econmica ressalta o papel do administrador na organizao dos fatores de produo capital, trabalho, terra e tecnologia, combinando-os de modo a minimizar seus custos ou maximizar seu lucro. A jurdica, extrada do Direito Comercial, apresenta vrias concepes, que enfatizam que o estabelecimento comercial um sujeito de direito distinto do comerciante, com seu patrimnio elevado categoria de pessoa jurdica, com a capacidade de adquirir e exercer direitos e obrigaes.

    Adam Smith, analisando os mercados, descobriu uma propriedade notvel: o princpio da mo invisvel, pelo qual cada indivduo, ao atuar na busca apenas de seu bem-estar particular, realiza o que mais conveniente para o conjunto da sociedade. Assim, em mercados competitivos, no concentrados em poucas empresas dominantes, o sistema de preos permite que se extraia a mxima quantidade de bens e servios teis do conjunto de recursos disponveis na sociedade, conduzindo a economia a uma eficiente alocao dos recursos.

    Adam Smith ficou impressionado com a ordem econmica estabelecida pelos mercados e preconizou que qualquer interferncia governamental na livre concorrncia seria prejudicial, tanto para compradores como para vendedores de mercadorias ou servios.

    Segundo essa viso do sistema econmico, o Estado deveria intervir o menos possvel no funcionamento dos mercados, porque estes livremente resolveriam da maneira mais eficiente possvel os problemas econmicos bsicos da sociedade: o qu, como e para quem produzir.

  • 26

    Contudo, quando seria necessria a interferncia do Estado na economia. A justificativa econmica para a interveno governamental nos mercados se apoia no fato de que no mundo real observam-se desvios em relao ao modelo ideal preconizado por Smith, isto , existem as chamadas imperfeies de mercado: externalidades, informao imperfeita e poder de monoplio.

    As externalidades ou economias externas se observam quando a produo ou o consumo de um bem acarreta efeitos positivos ou negativos sobre outros indivduos ou empresas, que no se refletem nos preos de mercado. As externalidades do a base econmica para a criao de leis antipoluio, de restries quanto ao uso da terra, de proteo ambiental etc.

    Por seu lado, se os agentes econmicos possuem falhas de informao, ou seja, no tm informao completa a respeito de determinado bem ou servio, eles no tomaro decises corretas quando forem ao mercado desejando adquiri-lo. A anlise da chamada assimetria de informaes um dos campos mais estudados na moderna teoria econmica. E como meio de proteger os consumidores, justifica-se a ao governamental, com a regulamentao da comercializao de bens e servios, por exemplo: estabelecendo-se normas quanto aos prazos de validade de produtos; ou, no caso da segurana do motorista, exigindo-se o uso do cinto de segurana etc.

    J o exerccio do poder de monoplio caracteriza-se quando um produtor (ou grupo de produtores) aumenta unilateralmente os preos (ou reduz a quantidade), ou diminui a qualidade ou a variedade de produtos ou servios, com a finalidade de aumentar os lucros.

    Em resposta a essas falhas de mercado, normas jurdicas possibilitaram que a atuao do governo na economia fosse cada vez mais abrangente. Pouco a pouco, a sociedade foi vivenciando a mo visvel do governo como forma de aumentar a eficincia econmica. Sua atuao se faz por meio de leis, as chamadas leis de defesa da concorrncia, que regulam tanto as estruturas de mercado, como a conduta das empresas.

    Historicamente, o controle de monoplios e oligoplios surgiu nos Estados Unidos, no final do sculo XIX. Naquele perodo, empresas de pequeno porte passaram a ser absorvidas por outras maiores, que passaram a limitar a oferta e a encarecer os preos dos bens e servios. Paralelamente, maquiagens nos balanos permitiram colocar no mercado aes com preos bem acima do valor real dessas empresas.

    Devido a esses fatos, em 1890, foi votada a lei Sherman contra os trustes, que proibiu a formao de monoplios, tanto no comrcio como na indstria. E, em 1914, com o Clayton Act, tratou-se de definir mais concretamente tais condutas seriam consideradas ilcitas. Finalmente, em 1950, a lei Celler-Kefauver proibiu as fuses de empresas por meio da compra de ativos, se fosse verificado que essas fuses reduziriam a concorrncia.

    O Brasil, desde os anos 1960, possui legislao em defesa da concorrncia. Contudo, esse conjunto de normas, at meados dos anos 1990, tinha sido pouco eficaz, devido aos altos nveis de proteo indstria nacional e aos elevados ndices de inflao. Em consequncia, o Estado brasileiro fez, durante muitos anos, a opo pelos controles de preos.

    Mudana expressiva ocorreu, todavia, a partir da Constituio Federal de 1988.13 Nela encontram-se os princpios bsicos da atuao do Estado na economia a sujeio do sistema econmico ao Estado sob a forma de proteo contra o abuso do poder econmico e, na forma da lei, as funes de fiscalizao, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor pblico e indicativo para o setor privado.

    13

    Artigos 173 e 174 da Magna Carta/88.

  • 27

    A partir dessa base legal, foi promulgada a Lei n 8.884, de 11 de junho de 199414, que criou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrncia (SBDC), formado pelos trs rgos encarregados da defesa da concorrncia no Pas: a Secretaria de Direito Econmico (SDE), do Ministrio da Justia, a Secretaria de Acompanhamento Econmico (SEAE), do Ministrio da Fazenda, e o Conselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE), autarquia vinculada ao Ministrio da Justia, que possuem diferentes funes: o CADE tem um poder decisrio sobre os processos por ele julgados, enquanto as secretarias apresentam um carter mais instrutor do processo.

    O Conselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE) foi criado em 1962 e transformado em autarquia vinculada ao Ministrio da Justia em 1994. Tem por finalidade orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econmico. O CADE , assim, a ltima instncia, na esfera administrativa, responsvel pela deciso final sobre a matria concorrencial.

    O CADE baseia suas decises na lei antitruste de 1994, que regulamenta os acordos de unio e cooperao entre as empresas. Esta lei tambm julga os atos de cooperao quando a juno representa mais de 20% do mercado. Aps receber os pareceres das duas secretarias (SEAE e SDE), o CADE tem a tarefa de julgar os processos, desempenhando trs papis principais: preventivo, repressivo e educativo. Em todas essas funes, o CADE tem por principal objetivo zelar pela conduta concorrencial, impedindo prticas que violem a essncia competitiva do mercado.

    Esses rgos do sistema atuam em duas frentes: a primeira, no controle das estruturas de mercado; a segunda, procurando coibir condutas ou prticas anticoncorrenciais.

    O controle das estruturas de mercado diz respeito aos atos que resultem em qualquer forma de concentrao econmica, seja por fuses ou por incorporaes de empresas, pela constituio de sociedade para exercer o controle de empresas ou qualquer forma de agrupamento societrio, que implique participao da empresa, ou grupo de empresas.

    O controle de condutas, por seu turno, consiste na apurao de prticas anticoncorrenciais de empresas que detm poder de mercado; por exemplo: a fixao de preos de revenda, as vendas casadas, os acordos de exclusividade, a cartelizao de mercados e os preos predatrios.

    Como se pode notar de extrema importncia a ao governamental para a poltica de defesa da concorrncia. Por meio dela, busca-se coibir e reprimir abusos no mercado: concorrncia desleal, utilizao indevida das invenes, de signos distintivos, marcas e nomes comerciais, tudo que possa induzir o consumidor a erro, causando-lhe prejuzos. Enfim, a defesa da concorrncia implica necessariamente a defesa do bem estar pblico.

    Arcabouo jurdico das polticas macroeconmicas

    As polticas monetrias, de crdito, cambial e de comrcio exterior so de competncia da Unio. Esse ente federal tem a competncia para emitir moeda e para legislar sobre o sistema monetrio e de medidas, ttulos e garantias de metais; sobre a poltica de crdito, cmbio, seguros e transferncias de valores; e sobre o comrcio exterior. No entanto, cabe ao Congresso Nacional, com a sano do Presidente da Repblica, dispor sobre moeda, seus limites de emisso e montante da dvida mobiliria federal.15

    A poltica fiscal (arrecadao e despesas pblicas) de competncia das trs entidades da federao: Unio, Estados e Municpios. No tocante s receitas, a Constituio Federal de 1988 trata

    14 A Lei n. 10.149, de 21 de dezembro de 2000, alterou e acrescentou dispositivos Lei n. 8884/94. 15

    Artigo 48 da constituio federal de 1988.

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    dos princpios gerais; das limitaes do poder de tributar; das competncias para instituir impostos da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, alm da repartio das receitas tributrias.16

    O papel da despesa do governo ganha destaque especial quando se estuda o papel do Estado na gerao de renda, produo e emprego. Como veremos ao longo do livro, o governo, por meio de gastos em investimentos obras de infraestrutura, hidroeltricas, rodovias, dentre outros, gera um aumento da demanda agregada, com importantes reflexos sobre a produo, o emprego e a renda nacional.

    O processo de globalizao, caracterizado pela integrao econmica internacional, fundamenta-se primordialmente sobre as bases econmicas e jurdicas. Especialmente no Brasil, esse fato deve-se grande regulao dos mercados e ao intenso uso de bases contratuais como forma de organizar, viabilizar e proteger a produo, especialmente aps a abertura comercial adotada a partir dos anos 1990.

    Justamente nesse momento em que pases em desenvolvimento comeam a passar por reformas, tanto institucionais quanto econmicas, faz se necessria a existncia de um poder judicirio forte e bem definido, que garanta o bom funcionamento da economia. No caso brasileiro, em particular com as privatizaes, o fim dos controles de preos, e a abertura comercial, muitas das transaes que antes eram realizadas dentro do aparelho estatal passaram a ser realizadas por meio dos mecanismos de mercado. Com o processo de privatizaes e concesses ocorrido no Brasil nos anos 1990, trouxeram a necessidade de criar rgos especiais de regulao, devido s especificidades de cada setor, tais como transportes, energia eltrica, telecomunicaes, antes monoplios do Estado.

    Como so setores estratgicos fortemente concentrados, a principal fun