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Prof. Marcos Figueiredo Página 1
UNIDADE III - CADEIA DE SUPRIMENTO E SEU
GERENCIAMENTO
Quando adquirimos um produto não imaginamos o longo processo necessário para
converter matéria-prima, mão-de-obra e energia em algo útil ou prazeroso. Muitas
vezes, produtos complexos, como o automóvel, requerem matéria-prima de natureza
variada (metais, plásticos, borracha, tecidos) e são montados a partir de um número
muito elevado de componentes. Noutros casos, como uma bandeja de ovos frescos, o
produto é formado pelo elemento básico (os ovos), mas há que se considerar também o
suporte de plástico, a etiqueta e o código de barras. Mas, na maioria dos casos, o
caminho é mais longo. Uma geladeira, por exemplo, utiliza componentes fabricados por
outras indústrias, como é o caso do compressor. A fábrica de compressores, por sua vez,
necessita de fios elétricos, metais e outros elementos para sua produção, componentes
esses fornecidos por outras empresas. O longo caminho que se estende desde as fontes
de matéria-prima, passando pelas fábricas dos componentes, pela manufatura do
produto, pelos distribuidores, e chegando finalmente ao consumidor através do varejista,
constitui a cadeia de suprimento.
Fornecedores de matéria-prima entregam insumos de natureza variada para a indústria
principal e também para os fabricantes dos componentes que participam da fabricação
de um certo produto. A indústria fabrica o produto em questão, que é distribuído aos
varejistas e, em parte, aos atacadistas e distribuidores. Esses últimos fazem o papel de
intermediários, pois muitos varejistas não comercializam um volume suficiente do
produto que lhes possibilite a compra direta, a partir do fabricante. As lojas de varejo,
abastecidas diretamente pelo fabricante ou indiretamente pelo fabricante ou
indiretamente por atacadistas ou distribuidores, vendem o produto ao consumidor final.
Há ainda outros aspectos não considerados, como a Logística Reversa e as operações de
pós-venda.
Há algumas décadas, as grandes indústrias produziam a maior parte dos componentes
necessários à fabricação de seus produtos. Isso ocorria, em parte, porque conseguiam
produzi-los com custos mais baixos. De outro lado, por razões estratégicas e de poder
econômico, não gostavam de ficar na dependência de fornecedores. A tendência então
era a verticalização industrial. Hoje, os conceitos de vantagem competitiva e de core
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competence (Porter, 1986) estão presentes na definição das estratégias das grandes
empresas. É mais proveitoso concentrar as atividades naquilo que a empresa consegue
fazer bem, diferenciando-a positivamente dos concorrentes, e adquirindo externamente
componentes e serviços ligados a tudo que não estiver dentro de sua competência
central (core competence). Assim, não somente componentes e matérias-primas são hoje
adquiridos de outras empresas, como também serviços de variadas espécies:
distribuição, armazenagem e transporte de produtos e insumos, alimentação de
empregados, estacionamento, e muitos outros. É claro que, nesse contexto, é muito
importante o adequado entrosamento entre as empresas participantes, com um grau de
confiança mútua elevado.
A atitude clássica das empresas numa fase preliminar da Logística, e que infelizmente
ainda perdura em muitas organizações nacionais, era tirar a máxima vantagem de cada
situação, visando, com isso, ganhar sempre dos concorrentes, numa perspectiva
imediatista. Por exemplo, com a integração mais efetiva das empresas nos dias de hoje,
é comum um lote de um certo produto ser entregue atrasado à transportadora, mas com
a documentação indicando a data acertada previamente com o cliente, numa tentativa de
passar a ineficiência de um dos participantes aos demais elementos da cadeia. Esse tipo
de atitude está obviamente ligado ao desbalanceamento de poder entre as empresas
participantes. Aquela que fala mais alto, mostrando seu poder, acaba, muitas vezes,
impondo situações irregulares aos elos mais fracos da cadeia de suprimento.
Hoje, a visão desse processo é totalmente diferente. Chegou-se a conclusão de que de
que os ganhos que podem ser obtidos através da integração efetiva dos elementos da
cadeia, com a otimização global de custos e de desempenho, são mais expressivos do
que a soma dos possíveis ganhos individuais de cada participante, quando atuando
separadamente. No jargão logístico a união dos participantes da cadeia de suprimento,
buscando ganhos globais, deve se transformar num processo ganha-ganha em que
todos ganham e não somente uns em detrimento dos demais.
Mas, para se chegar a esse estágio de integração plena, com benefícios globais
expressivos, o caminho é árduo, requerendo a eliminação de inúmeras barreiras. Uma
delas é o esquema organizacional da empresa, que precisa ser revisto, modernizado.
Outro requisito é a necessidade de um sistema de informações bem montado e
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interligando todos os parceiros da cadeia. Também é preciso implantar, nas empresas
participantes, sistema de custos adequados aos objetivos pretendidos, permitindo a
transparência de informações entre os parceiros da cadeia. Esse tipo de operação
logística integrada moderna é denominado de Supply Chain Management (SCM), ou,
em português, Gerenciamento da Cadeia de Suprimento. A seguinte definição de
Supply Chain Management foi adotada pelo Fórum de SCM realizado na Ohio State
University:
SCM è a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do
consumidor final e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e
informações que agreguem valor para o cliente.
É importante notar que o novo conceito de SCM focaliza o consumidor com um
destaque excepcional, pois todo o processo deve partir dele, buscando equacionar a
cadeia de suprimento de forma a atendê-lo na forma por ele desejada. Outro ponto
importante a destacar é a integração exigida entre todos os elementos da cadeia de
suprimento. Há também o caráter estratégico Logístico, dentro da conceituação moderna
do SCM.
A LOGÍSTICA INTEGRADA
É responsável pelo planejamento, operação e controle de todo o fluxo de mercadorias e
informação, desde a fonte fornecedora até o consumidor. De fato, ela começa no
instante em que o cliente resolve transformar um desejo em realidade.
A Associação Européia de Logística levantou que 10,1 % do preço final de um produto
resulta do custo de logística, isso sem contar que a implantação das ferramentas de
logística integrada já havia reduzido estes custos em 30%.
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Pontos básicos da logística
O produto – movimento sempre no sentido produtores primários até o consumidor
final;
A informação – é bidirecionada. Começa no sentido do lojista para o produtor final,
sendo repassada até o primário. No decorrer do processamento ela pode fluir nos
dois sentidos, em função dos feedbacks e controles;
O tempo decorrido entre a manifestação do desejo de compra e a entrega efetiva de
um pedido – junto com a qualidade e o custo, representará o diferencial competitivo
da empresa perante o cliente. O lead time é de responsabilidade total do sistema
logístico, já a qualidade e o custo dependem de outros fatores;
O custo – é importante a logística identificar a quem deve atribuir um custo;
O nível de serviço – é a percepção pelo cliente da qualidade de atendimento.
Componentes do sistema logístico
É composto por vários elos que influem na cadeia logística. Dentre eles temos a área
comercial, a operação industrial, os fornecedores, administração e finanças e
distribuição física.
Petrônio Martins & Paulo Renato Alt Editora Saraiva 4
Interfaces da Logística
PRODUÇÃO
- Controle da
qualidade
- Planejamento
detalhado
- Manutenção de
equipamento
- Manuseio
interno
Atividades de
interface:
- Programação
da produção
- Localização
industrial
- Suprimentos
Atividades de
interface:
- Padrões níveis
de serviço
- Formação de
preço
- Embalagem
- Localização de
depósitos
MARKETING
- Promoção /
Propaganda
produção
- Pesquisa de
mercado
- Administração
da força de
vendas
LOGÍSTICA
Atividades típicas:
- Manutenção de
estoques
- Processamento de
pedidos
- Armazenagem
- Manuseio de
materiais
As Interfaces do Sistema LogísticoAs Interfaces do Sistema Logístico
Fonte: Fonte: Ballou Ballou (1993)(1993)
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1. Área comercial
É o primeiro elo da cadeia logística. É ela, juntamente com a área de marketing, quem
capta o desejo latente ou já explícito do consumidor e usa dos recursos de que dispõe
para, ao torná-lo realidade, estabelecer uma relação biunívoca permanente com ele.
Assim, não se trata de estabelecer uma transação eventual, mas um vínculo.
2. Operação industrial
Em função dos desejos do cliente, é projetada a operação da área industrial. Ela envolve
a escolha dos recursos tecnológicos que usarão o conceito do Just in Time.
O JIT (Just in Time), pode ser, conforme a linha de produto e o grau de automação:
JIT automatizada e flexível – poucos processos manuais e multiprodutos;
JIT automatizada focalizada – poucos processos manuais e linha única de produtos;
JIT manual focalizada – predominância de processos manuais e linha única de
produtos;
JIT manual flexível – muitos processos manuais e multiprodutos.
3. Fornecedores
O papel dos fornecedores dentro da logística moderna é o de parceiros operacionais.
Esse conceito exige um relacionamento aberto, que compreende desde o
desenvolvimento conjunto do produto até contratos de fornecimento com preços,
qualidade e prazos sujeitos a uma mútua administração, visando à conservação do
mercado pela contínua satisfação do cliente.
O conceito de fornecedor preferencial, comum na década de 80, já limitava o número de
fontes de aprovisionamento e era um primeiro passo em relação aos modelos JIT e de
TQC. A rede Le Postiche, por exemplo, especializada em artigo de couro e acessórios,
com cerca de 120 lojas, reduziu em 1998 o número de fornecedores de 400 para 80 e
centralizou os fretes em três grandes transportadoras. Entretanto, este conceito está
evoluindo ainda mais. São novas formas de associação, que chegam a lembrar o modelo
japonês, com laços profundos entre pequenas empresas e grandes conglomerados
(keiretsus). É o caso da Volkswagem, na fábrica de caminhões de Resende, no Rio de
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Janeiro, ao introduzir o Consórcio Modular, com atividade física do fornecedor levada
ao chão da fábrica do comprador (ou melhor, parceiro).
4. Administração e finanças
A agilização da atividade logística leva a uma rapidez da geração de caixa pelas
empresas. Dentro de uma estrutura global, onde os fluxos de capital são extremamente
rápidos, via internet, cada vez menos as empresas podem contar com os esquemas
clássicos de financiamento bancário privado ou oficial, dependendo de sua própria
geração de recursos e liquidez para agilizar as operações e manter ou criar uma estrutura
acionária que lhes permita crescer ou mesmo sobreviver.
5. Distribuição física
A localização da fábrica é hoje função do mercado a ser atendido. Muito mais do que
considerações sobre incentivos fiscais, importa às empresas a agilidade de entrega de
seus produtos, sejam eles dirigidos ao consumidor final ou a um transformador e/ou
montador.
Os depósitos regionais são localizados em função da estrutura de transportes existente.
A principal ferramenta utilizada para sua localização é a pesquisa operacional.
A palavra de ordem é reduzida em inventários, a ponto de ser comum o conceito de que
o próprio meio de transporte é um miniarmazém.
Com o advento do transporte multimodal, isto é, o uso de vários meios de transporte
utilizando um único manifesto de embarque, como transporte por navio, trem,
caminhão, barcaça, sucessivamente, o principal problema da distribuição física passou a
ser a roteirização, ou seja, a determinação do esquema de prioridades de entregas em
função de rotas predeterminadas
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Lead Times ou Tempo de Entrega
É o tempo decorrido desde o início até o fim de um processo. Os principais tempos
(lead times) que devem ser reduzidos na estrutura integrada de logística são lead times:
de cotação – desde o pedido até a aceitação ou rejeição;
de material ou de confirmação da existência do material - desde o aceite até a
confirmação da existência;
total de manufatura – desde a confirmação da existência até a prontificação. Inclui
os lead times de:
atraso de arquivo - desde a confirmação da existência até a liberação (Ex:
pedidos não liberados para a produção);
tempo de execução no chão da fábrica (liberação do PCP) – desde a
liberação para a produção até a prontificação. Inclui:
o lead time de operação – desde a entrada na linha de produção até a
prontificação;
tempo de entrega – desde a prontificação até a entrega.
Novas formas de relacionamento
A criação de novas formas de relacionamento entre clientes e fornecedores, tais como
o consórcio modular, em que o fornecedor trabalha com sua equipe e seu equipamento
dentro da fábrica do cliente, do JIT II, onde fornecedor mantém seus funcionários no
setor de suprimentos do cliente, tem um estoque de peças no local a seu custo e controla
esse inventário de acordo com a necessidade do cliente que ele mesmo levanta.
Assim, o JIT II tem como principais premissas:
a) o cliente e o fornecedor estabelecerem uma aliança a longo prazo;
b) o fornecedor disponibilizar nas instalações físicas do cliente, funcionários com nível
de tomada de decisões gerenciais;
c) o cliente permitir que esses profissionais conduzam e controlem as atividades
ligadas a seu programa de suprimentos, como operações cotidianas, ordens de
entregas, exigências de planejamento, melhoria de processos, enfim, tudo o que seja
apropriado a dar corpo e maturidade à aliança;
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d) o cliente autorizar o representante “implantado” a “trabalhar com” e “vender para”
as pessoas designadas por ele em sua organização;
e) o fornecedor dar autonomia a seu funcionário “implantado” para que ele possa lutar
pelos interesses do cliente quando em contato com seus colegas de empresa.
LOGÍSTICA INTEGRADA NO BRASIL
No Brasil, o ambiente altamente inflacionário que caracterizou o país por cerca de duas
décadas, combinado com uma economia fechada e com baixo nível de competição,
levou as empresas a negligenciarem o processo logístico dentro das cadeias de
suprimento, gerando um atraso de pelo menos 10 anos em relação às melhores práticas
internacionais.
A LOGÍSTICA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA
Paulo Fernando Fleury
Apesar de amplo, o movimento de mudanças é ainda recente. Até meados da década de
90, a logística era o elo perdido da modernização empresarial no Brasil. A explosão do
comércio internacional, a estabilização econômica produzida pelo Real e as
privatizações da infra-estrutura foram os fatores que mais impulsionaram esse
processo de mudanças.
No nível empresarial, o processo de modernização vem sendo liderado por dois
segmentos industriais: o automobilismo e o grande varejo. Como conseqüência,
verifica-se um crescente movimento de alianças entre empresas de logística locais e
internacionais, com evidente efeito modernizante sobre as primeiras. Um bom exemplo
desse processo foi a constituição da CRTS, uma joint venture criada para servir a
Volkswagen em suas operações de logística internacional, formada por duas empresas
nacionais, a Colúmbia e a Translor, e duas empresas internacionais, a Schnelecker e a
Ryder.
No caso do setor varejista, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) deu início
ao Movimento ECR Brasil, juntamente com empresas produtoras de bens de consumo
não duráveis, cujo objetivo é aumentar a cooperação nos canais de suprimento, visando
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reduzir custos e melhorar a qualidade de serviços. As primeiras análises estimam que
existe o potencial de redução de custos num montante estimado entre U$$ 3 bilhões e
U$$ 5 bilhões, mediante melhor coordenação logística entre clientes e fornecedores.
Grandes empresas multinacionais, como Coca-Cola, Nestlé e Gessy Lever, estão
participando desse esforço.
No entanto, todo esse esforço empresarial esbarra na enormes deficiências ainda hoje
encontradas na infra-estrutura de transportes e comunicações. Com gastos equivalentes
a 10% do PIB, o transporte brasileiro possui uma dependência exagerada do modal
rodoviário, o segundo mais caro, atrás apenas do aéreo. Considerando apenas as
oportunidades de migração do rodoviário para o ferroviário, podemos estimar uma
economia de mais de U$$ 1 bilhão por ano. Residem nos portos as maiores
oportunidades para a redução dos custos de transporte.
O processo de privatização dos portos e ferrovias, assim como a nova legislação
dutoviária, criaram grandes oportunidades para aumento de produtividade, redução de
custos e melhoria de serviços.
Nos portos, vêm ocorrendo substanciais reduções de preços e melhoria dos serviços. Por
outro lado, pressentindo o aumento da competição por parte dos outros modais e
pressionadas pela crescente exigência por qualidade de serviços por parte dos
embarcadores, as transportadoras rodoviárias estão passando por um processo de
modernização que implica adoção de sofisticadas tecnologias de informação, como
roteirizadores, sistemas de rastreamento por satélite e Intercâmbio Eletrônico de Dados
(Eletronic Data Interchange - EDI).
As mudanças são muitas, mas ainda existem grandes barreiras a serem vencidas. Entre
elas, destaca-se a pequena oferta de profissionais com formação adequada para
implementar os novos conceitos e tecnologias que caracterizam a moderna logística
integrada.
2.1 Paradoxo da Logística
A logística é um verdadeiro paradoxo. É, ao mesmo tempo, uma das atividades
econômicas mais antigas e um dos conceitos gerenciais mais modernos.
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O conceito de Logística integrada
Serviço
ao cliente
Produto
Preço
Promoção
Praça
Processamento
de pedidos
Armazenagem
Estoques
Compras
ou vendas
Transporte
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Modelo Conceitual de Logística Integrada
O primeiro conceito é o de marketing mix, ou composto mercadológico, representado
na parte superior da figura. Segundo esse conceito, a estratégia de marketing é definida
com base na ênfase relativa dada a cada uma de quatro variáveis, ou seja, produto,
preço, promoção e praça.
O segundo conceito importante para o entendimento da Logística integrada é o conceito
de sistema.
Para que possa ser gerenciada de forma integrada, a logística deve ser tratada como um
sistema, ou seja, um conjunto de componentes interligados, trabalhando de forma
coordenada, com o objetivo de atingir um objetivo comum. Um movimento em
qualquer um dos componentes de um sistema tem, em princípio, efeito sobre outros
componentes do mesmo sistema. A tentativa de otimização de cada um dos
componentes, isoladamente, não leva à otimização de todo o sistema. Ao contrário, leva
à subotimização. Tal princípio é normalmente conhecido como trade-off, ou seja, o
princípio das compensações, ou perdas e ganhos.
A parte inferior da figura busca representar o conceito de sistema logístico, em que os
retângulos representam os componentes, e as setas os trade-offs entre os mesmos.
Segundo a figura, a Logística deve atender aos níveis de serviço ao cliente,
estabelecidos pela estratégia de marketing, ao menor custo total de seus componentes,
ou seja, o somatório dos custos de transporte, armazenagem, processamento de pedidos,
estoques, compras e vendas. Tentativas de atuar sobre qualquer um dos componentes
isoladamente podem representar aumento de custos de outros componentes, ou
deterioração do nível de serviço. Vejamos, por exemplo, o resultado de uma política
cujo objetivo seja minimizar o custo de transporte, independentemente dos outros
componentes. Tal objetivo poderia ser alcançado mediante uma política de consolidação
de cargas, que teria efeitos negativos sobre a quantidade de estoques e sobre os prazos
de entrega, que ficariam dilatados. Uma outra alternativa poderia ser a utilização de um
modal mais barato, mas que em compensação seria mais lento e menos confiável,
resultando portanto num nível inferior de serviço, obrigando o cliente a trabalhar com
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um maior nível de estoque de segurança. Da mesma maneira, uma política voltada para
a minimização do custo de compras pela aquisição de grandes lotes resultaria num
aumento dos custos de armazenagem e de estoques.
Portanto, para alcançar a excelência logística, torna-se necessário conseguir ao mesmo
tempo redução de custos e melhoria do nível de serviço ao cliente. A busca simultânea
desses dois objetivos quebra um antigo paradigma, segundo qual existe um trade-off
inexorável entre custos e qualidade de serviços, ou seja, a crença de que melhores níveis
de serviço implicam necessariamente maiores custos.
A implementação do moderno conceito de Logística integrada exige substanciais
mudanças culturais e organizacionais, assim como significativos investimentos em
tecnologia de informação.
Gerenciamento da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management)
O gerenciamento da cadeia de suprimentos, nada mais é do que administrar o sistema de
logística integrada da empresa, ou seja, o uso de tecnologias avançadas entre elas,
gerenciamento de informações e pesquisa operacional, para planejar e controlar uma
complexa rede de fatores visando a produzir e distribuir produtos e serviços para
satisfazer o cliente. A expressão supply chain management e sua sigla, SCM, muitas
vezes não são traduzidas para o português, por já estarem incorporadas ao jargão
empresarial.
É necessária um alto grau de integração entre fornecedor e cliente. Cadeias de
suprimentos, só poderão existir se tiverem a capacidade de adaptação.
Gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos
Não se trata de uma função, mas de um processo que atravessa horizontalmente um
organograma funcional. Sua gestão é caracteristicamente matricial.
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Um bom exemplo é a cadeia de suprimentos da indústria automobilística, na qual as
montadoras estão cada vez mais horizontalizadas, isto é, dedicadas ao seu negócio
principal (core business) que é montar veículos, sendo abastecidas de componentes e
subconjuntos pré-montados pela indústria de autopeças, que por sua vez é abastecida,
entre outras, por indústrias mecânicas e de transformação de plásticos, que recebem
materiais das siderúrgicas e petroquímicas, que recebe matérias-primas da natureza, via
mineração e extração de petróleo.
Em relação a fornecedores o importante é estabelecer um relacionamento permanente
entre cliente e fornecedor, envolvendo não apenas compras eventuais ou programadas,
mas o próprio desenvolvimento de produtos. A esse casamento entre cliente e
fornecedor é dado o nome de comakership.
Um exemplo disso é a Kolynos, que utilizou-se de duas lojas do supermercado Cândia
para aplicar uma técnica do ECR (Efficient Consumer Response), que colocava o
produto certo no lugar certo, baseando-se em informações fornecidas pelas caixas
registradoras e pesquisas com consumidores. Com isso, ela descobriu que se separasse
as escovas de dentes infantis das de adultos e mudasse a disposição dos produtos de
higiene bucal, esses produtos poderiam ter suas vendas aumentadas em 12%. O Cândia
também recebeu várias informações importantes, como a de que os consumidores
queriam poder comprar no supermercado artigos para dentaduras, só encontrados em
farmácia, passando então a investir nisso.
Um sistema de abastecimento, baseado na filosofia JIT, deve apresentar cinco pontos
extremamente importantes:
A qualificação prévia do fornecedor, sua certificação pela engenharia da fábrica, o
estabelecimento do sistema de comunicações interparceiros, preferivelmente por
meio de recursos eletrônicos, como o EDI;
A importância do meio de transporte para entrega, já que envolve rapidez e
confiabilidade, bem como o custo do frete. É muito comum, atualmente, a utilização
do chamado milk run, um acordo entre o fornecedor, o produtor e o operador
logístico encarregado das entregas do produto final do produtor, para que esse
operador aproveite a volta em vazio da entrega para recolher os insumos da fábrica
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ou depósito do fornecedor. As vantagens do sistema são que o faturamento pode ser
negociado FOB (free on board) com o fornecedor, e o custo do frete cai;
Cliente e fornecedor devem negociar o custo da embalagem de transporte. Como ela
também é usada na movimentação interna na fábrica do cliente, seu custo pode ser
compartilhado entre os dois;
As entregas nos grandes centros urbanos estão cada vez mais limitadas pelo trânsito
congestionado e pela falta de espaço para o estacionamento dos veículos junto às
fábricas. Isso leva à necessidade de estabelecer horários de entrada de mercadorias,
confirmação eletrônica de recebimento e prazo máximo de descarga;
Deve-se analisar cuidadosamente quais componentes comprados serão objeto de JIT
e quais terão tratamento convencional, ou seja, serão controlados por meio do
estoque mínimo ou outros métodos de reposição. Essa é uma análise puramente
econômica.
O sistema de produção pode ser do tipo puxar ou empurrar. No sistema tipo
puxar só serão fabricados os componentes necessários às montagens do dia, sendo
feito o uso de cartões kanban e existindo no processo apenas as peças em
processamento e as necessárias nos supermercados de produção.
No sistema tipo empurrar, os componentes são fabricados em lotes econômicos e
transferidos para almoxarifados de semi-acabados, ou são armazenados
temporariamente ao lado da próxima operação do fluxo produtivo (demora).
Geralmente, os materiais em processo terão um volume muito maior. Outro
problema inerente ao processo de empurrar é o da qualidade. Muitas vezes os lotes
já prontos são recusados por serem defeituosos.
DIFERENÇA ENTRE O SUPPLY CHAIN MANAGMENT E A LOGÍSTICA
INTEGRADA (Paulo Fernando Fleury)
A logística integrada, despontou no começo da década de 80 e evoluiu rapidamente.
Embora ainda em evolução, o conceito de logística integrada já está bastante
consolidado nas organizações produtivas dos países mais desenvolvidos. O Supply
Chain Managment (SCM), ou Gerenciamento de Cadeia de Suprimentos, começou a se
desenvolver apenas no começo dos anos 90. Mesmo em nível internacional, são poucas
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as empresas que já conseguiram implementá-lo com sucesso. Alguns profissionais que
consideram o SCM como apenas um novo nome, uma simples extensão do conceito de
logística integrada, ou seja, uma ampliação da atividade logística para além das
fronteiras organizacionais, na direção de cliente e na cadeia de suprimentos.
Em contraposição a essa visão restrita, Supply Chain Managment é mais do que uma
simples extensão da logística integrada, pois inclui um conjunto de processos de
negócios que em muito ultrapassa as atividades diretamente relacionadas com a
logística integrada. O desenvolvimento de novos produtos é talvez o mais óbvio deles,
pois vários aspectos do negócio deveriam ser incluídos nessa atividade, tais como: o
marketing para estabelecer o conceito; pesquisa e desenvolvimento para formulação do
produto; fabricação e logística para executar as operações; e finanças para a
estruturação do financiamento. Compras e desenvolvimento de fornecedores são outras
duas atividades que extrapolam funções tradicionais da logística, e que são críticas para
a implementação do SCM.
Temos também movimentos setoriais organizados com o objetivo de tirar proveito do
SCM, como o Efficient Consumer Response (ECR) nos setores de produtos de consumo
e varejo alimentar, e o Quick Response (QR) nos setores de confecções e têxteis, que
têm demonstrado o potencial de redução de custos e melhoria dos serviços na cadeia.
No Brasil, a onda do SCM começou a espalhar-se no final da década de 90,
impulsionada pelo movimento da logística integrada. Maior prova disso é o movimento
ECR Brasil.
Os diversos membros de uma canal de distribuição podem ser classificados em dois
grupos:
Membros primários - são os que participam diretamente, assumindo o risco
pela posse do produto, e incluem fabricantes, atacadistas, distribuidores e varejistas.
Membros secundários - são os que participam indiretamente, basicamente por
meio da prestação de serviços aos membros primários, não assumindo o risco da
posse do produto. Exemplos mais comuns são as empresas de transporte,
armazenagem, processamento de dados e prestadoras de serviços logísticos
integrados.
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SCM representa o esforço de integração dos diversos participantes do canal de
distribuição por meio da administração compartilhada de processos-chave de negócios
que interligam as diversas unidades organizacionais e membros do canal, desde o
consumidor final até o fornecedor inicial de matérias-primas.
Em suma, o SCM é uma abordagem sistêmica de razoável complexidade, que implica
alta interação entre os participantes, exigindo a consideração simultânea de diversos
trade-offs. O SCM vai além das fronteiras organizacionais e considera tanto os trade-
offs internos quanto os interorganizacionais, relativamente a quem se deve
responsabilizar pelos estoques e em que estágio do canal as diversas atividades
deveriam ser realizadas. Apenas como exemplo. Podemos comparar os trade-offs
existentes entre as opções de distribuição direta ou indireta por um dado fabricante.
Numa estrutura de canal em que o fabricante distribui diretamente para o consumidor
final, como faz a Dell Computer, a empresa tem muito maior controle sobre as funções
de marketing. No entanto, o custo da distribuição tende a ser muito maior exigindo do
fabricante um alto volume de vendas ou uma saturação geográfica em um mercado
regional. No caso da distribuição indireta, as situações externas ou agentes
(transportadores, armazenadores, atacadistas e varejistas) assumem grande parte do
controle e risco, e por essa razão o fabricante recebe um menor valor por seu produto.
Mas, se o SCM é tão bom, porque tão poucas empresas o implementaram ?
Devido:
A novidade do conceito, ainda em formação e pouco difundido entre os
profissionais; e
A complexidade e dificuldade de implementação do conceito, é uma abordagem
que exige mudanças profundas em práticas arraigadas, tanto no nível dos
procedimentos internos, quanto no nível externo, no que diz respeito ao
relacionamento entre os diversos participantes da cadeia.
Em nível interno, há objetivos funcionais conflitantes, em detrimento de uma visão
sistêmica em que o resultado do conjunto é mais importante que o resultado das partes.
Quebrar essa coluna arraigada e convencer os gerentes de que deverão estar preparados
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para sacrificar seus objetivos funcionais individuais em benefício do conjunto tem-se
mostrado uma tarefa desafiante.
Entre os processos de negócios (nível externo) considerados chave para o sucesso de
implementação do SCM, os sete mais citados são:
1. Relacionamento com os clientes - desenvolver equipes focadas nos clientes
estratégicos, que busquem um entendimento comum sobre características de
produtos e serviços, a fim de torná-los atrativos para aquela classe de clientes;
2. Serviço aos clientes - fornecer um ponto de contato único para todos os clientes,
atendendo de forma eficiente a suas consultas e requisições;
3. Administração da demanda - captar, compilar e continuamente atualizar os dados de
demanda, com o objetivo de equilibrar a oferta com a demanda;
4. Atendimento de pedidos - atender aos pedidos dos clientes sem erros e dentro do
prazo de entrega combinado;
5. Administração do fluxo de produção - desenvolver sistemas flexíveis de produção
que sejam capazes de responder rapidamente às mudanças nas condições do
mercado;
6. Compras/suprimento - gerenciar relações de parceria com fornecedores para garantir
respostas rápidas e a contínua melhoria de desempenho.
7. Desenvolvimento de novos produtos - buscar o mais cedo possível o envolvimento
dos fornecedores no desenvolvimento de novos produtos.
No Brasil, o principal esforço para implementação do conceito está sendo feito no
âmbito do movimento ECR Brasil. Liderando o processo estão os fabricantes de
produtos alimentícios e bebidas, por um lado, e os supermercados de outro.
No caso dos supermercados, existe um conjunto de antigas práticas que emperram o
andamento de projetos de SCM. Entre essas práticas se destacam: o relacionamento com
os fornecedores, ainda fortemente dominado pela política de queda de braço mensal
com relação aos preços dos produtos; a grande maioria dos produtos recebida
diretamente nas lojas, o que dificulta o controle do recebimento e a avaliação de
desempenho dos fornecedores; as empresas organizadas em silos funcionais, com
compras, logística e administração das lojas sendo gerenciadas de forma independente e
isolada; a mão-de-obra atualmente disponível não possui a formação ou capacitação
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necessária para operar com base nos novos requisitos do SCM; a tecnologia de
informação ainda apresenta fortes deficiências, principalmente no que diz respeito aos
softwares de análises de dados, e também aos procedimentos para manutenção dos
cadastros de produtos e fornecedores.