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1 ANOTAÇÕES DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Direcionada para os estudos Defensoria Pública do Estado do Paraná Professor Luciano Alves Rossato Complexo de Ensino Renato Saraiva. Junho de 2014. https://www.facebook.com/DireitoDaCriancaEDoAdolescente?ref=hl I) Bibliografia Indicada: ROSSATO, Luciano Alves. LÉPORE, Paulo Eduardo. CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São Paulo: RT. CUNHA, Rogério Sanches. ROSSATO, Luciano Alves. (coord.). REVISAÇO – Defensoria Pública. Salvador: Juspodivm. II) MATÉRIA ISOLADA – COMPLEXO DE ENSINO RENATO SARAIVA – Direito da Criança e do Adolescente. Professor Luciano Alves Rossato. www.renatosaraiva.com.br III) Links de leitura importante: Princípio do Juízo Imediato, por Luciano Alves Rossato: http://s3.amazonaws.com/manager_attachs/cms/downloads/2013/ 07/20-Luciano_Rossato_- _Princ%C3%ADpio_do_Juizo_Imediato.pdf?1373026258 Ato Infracional, Medida Socioeducativa e Processo, por Flávio Américo Frasseto: http://www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_29_2_2.php Pela Necessidade de uma Doutrina do Processo de Execução, por Flávio Américo Frasseto (cuidado, anterior à Lei 12.594/2012). http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=306 6 Vídeo sobre o Sinase, por Flávio Américo Frasseto:

Apostila Luciano Rossato - DPEPR

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    ANOTAES

    DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    Direcionada para os estudos

    Defensoria Pblica do Estado do Paran

    Professor Luciano Alves Rossato

    Complexo de Ensino Renato Saraiva.

    Junho de 2014.

    https://www.facebook.com/DireitoDaCriancaEDoAdolescente?ref=hl

    I) Bibliografia Indicada:

    ROSSATO, Luciano Alves. LPORE, Paulo Eduardo. CUNHA, Rogrio Sanches.

    Estatuto da Criana e do Adolescente Comentado. So Paulo: RT.

    CUNHA, Rogrio Sanches. ROSSATO, Luciano Alves. (coord.). REVISAO

    Defensoria Pblica. Salvador: Juspodivm.

    II) MATRIA ISOLADA COMPLEXO DE ENSINO RENATO SARAIVA

    Direito da Criana e do Adolescente. Professor Luciano Alves Rossato.

    www.renatosaraiva.com.br

    III) Links de leitura importante:

    Princpio do Juzo Imediato, por Luciano Alves Rossato:

    http://s3.amazonaws.com/manager_attachs/cms/downloads/2013/

    07/20-Luciano_Rossato_-

    _Princ%C3%ADpio_do_Juizo_Imediato.pdf?1373026258

    Ato Infracional, Medida Socioeducativa e Processo, por Flvio Amrico

    Frasseto:

    http://www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_29_2_2.php

    Pela Necessidade de uma Doutrina do Processo de Execuo, por

    Flvio Amrico Frasseto (cuidado, anterior Lei 12.594/2012).

    http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=306

    6

    Vdeo sobre o Sinase, por Flvio Amrico Frasseto:

  • 2

    http://www.youtube.com/watch?v=rDYgHknRlW4

    Temas diversos, por Flvio Amrico Frasseto:

    http://slideplayer.com.br/slide/43058/

    Vide, principalmente, AS SMULAS 108, 265, 338, 342, 383, 492 e 500

    STJ

  • 3

    Em 1898 circulava em So Paulo uma revista chamada lbum das Meninas, que

    procurava iniciar as jovens leitoras no universo da arte, literatura e boa

    educao, com orientao para o ingresso na vida adulta. Na poca, foi

    publicado um soneto, de autoria de Amlia Rodrigues, intitulado O

    vagabundo, que tratava uma preocupao das cidades: o grande nmero de

    menores que causavam intranquilidade nas famlias paulistanas.

    O vagabundo

    O dia inteiro pelas ruas anda

    Enxovalhando, rosto indiferente:

    Mos aos bolsos olhar impertinente,

    Um machucado chapeuzinho a banda.

    Cigarro boca, modos de quem manda,

    Um dandy de misrias alegremente,

    A preocupar ocasio somente

    Em que as tendncias blicas expanda

    E tem doze anos s! Um corola

    De flor mal desabrochada! Ao desditoso

    Quem faz a grande, e peregrina esmola

    De arranca-lo a esse trilho perigoso,

    De atira-lo pra os bancos de uma escola?!

    Do vagabundo faz-se o criminoso!...

    Como pensamos a infncia?

  • 4

    1 Paradigmas legislativos em matria de infncia e juventude

    A Constituio Federal representou um verdadeiro divisor de guas,

    ao substituir a ultrapassada Doutrina da Situao Irregular pela Doutrina da

    Proteo Integral.

    Houve, portanto, uma mudana de paradigma amparada no texto

    constitucional e, este, por sua vez, em textos internacionais de proteo aos

    direitos da criana, representados pela Doutrina das Naes Unidas de Direitos

    da Criana.

    Estabeleceu-se um rompimento com os procedimentos anteriores,

    com a introduo no sistema dos conceitos jurdicos de criana e adolescente,

    em substituio expresso menor, superando-se o paradigma de incapacidade

    para o reconhecimento das crianas e adolescentes como sujeitos em condio

    peculiar de desenvolvimento (art. 6 do ECA).

    Pela Doutrina da Situao Irregular havia duas infncias no Brasil:

    uma relativa aos menores, pessoas em situao irregular, e outra relativa a

    crianas e adolescentes e, a quem os direitos eram assegurados.

    Com a Doutrina da Proteo Integral, foi concebida uma

    nica infncia, no sentido de que todas as crianas e adolescentes so

    tidas como sujeitos de direitos, pessoas em peculiar condio de

    desenvolvimento, com a introduo de conceitos que permitem

    abordar essa questo sob a tica dos direitos humanos.

  • 5

    2 A criana e o adolescente na normativa internacional.

    Na segunda metade do sculo XX, principalmente em razo das

    barbries ocorridas em virtude dos horrores da Segunda Guerra Mundial, o

    mundo presenciou a chamada internacionalizao dos direitos humanos, pela

    qual o monoplio do direito de punir deixou de ser exclusivamente de cada

    nao para se estender a toda comunidade internacional, importando,

    necessariamente, num processo de relativizao da soberania nacional.

    E esse processo de internacionalizao englobou os direitos humanos

    em suas vrias ramificaes, quer de modo geral, quer de modo especfico.

    Neste particular, a interveno do Estado frente a interesses de crianas passou

    a sofrer certos limites pela comunidade internacional.

    Os ordenamentos jurdicos internos, nesse passo, passaram a ter a

    necessidade de se adequarem aos novos rumos e princpios internacionalmente

    reconhecidos.

    2

  • 6

    Como j sabido, a proteo internacional dos direitos humanos

    engloba notadamente dois sistemas, um universal, e outro regional.

    No mbito universal, o principal autor a Organizao das Naes

    Unidas ONU cuja autoridade planetria. No mbito regional, destacam-se

    a Organizao dos Estados Americanos e o Conselho da Europa.

    A proteo dos direitos da criana constitui uma preocupao antiga

    da ONU, tanto que criou o Fundo das Naes Unidas para a Infncia

    (FISE/UNICEF). Porm, a preocupao da comunidade internacional com a

    questo da criana antecede mesmo a criao da ONU, remontando a 1924. A

    seguir, um quadro dos documentos internacionais que trataram do assunto,

    partindo da Declarao de Genebra.

    a) Declarao de Genebra: adotada pela Liga das Naes em

    1924, constituindo a primeira declarao de direitos humanos adotada por uma

    organizao intergovernamental;

    b) Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948): a

    DUDH representa o ponto de partida da internacionalizao dos direitos

    humanos, estabelecendo que a infncia tem direito a cuidados e assistncias

    especiais;

    c) Como se sabe, com a finalidade de garantir a obrigatoriedade

    da DUDH, foi necessria a adoo de outros dois documentos, o Pacto

    Internacional relativo aos Direitos Civis e Polticos e o Pacto

    Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais. Esses dois

    documentos ressaltam a importncia de se reconhecer as necessidades

    especiais das crianas, bem como consagram a proteo contra a sua

    explorao. Verifica-se, at aqui, que a proteo internacional global restringia-

    se a um documento especfico e a outros documentos gerais de proteo de

    direitos humanos;

    d) Nesse passo, foi aprovado um documento especfico sobre os

    direitos da criana, qual seja: a Declarao Universal dos Direitos da

    Criana de 1959, quando a necessidade de uma proteo e de cuidados

    especficos infncia reaparece como conseqncia do reconhecimento de sua

  • 7

    vulnerabilidade. No obstante, tanto quanto o texto de 1924, limitou-se a emitir

    mera declarao, mera enunciao de princpios gerais, sem prever obrigaes

    especficas de cada Estado. Sentia-se, em razo disso, necessidade de uma

    Conveno que desse o carter de obrigatoriedade e que previsse meios de

    controle atuao estatal.

    e) A Conveno Internacional sobre os Direitos da

    Criana: 1989. Conclui todo um processo de positivao dos direitos da

    criana na esfera internacional universal. A idia de proteo continua

    existindo, mas a criana abandona o simples papel passivo para assumir um

    papel ativo e transformar-se num sujeito de direito, de modo que o interesse

    superior da criana passa a ser a viga mestra, o princpio basilar das

    decises. Ver artigo 3 da conveno. O artigo 40 consagra o direito ao devido

    processo legal. Paralelamente Conveno, existem outros textos

    internacionais que consagram, dentre os direitos da criana, proteo

    relacionada a tema especfico, como, por exemplo, a criminalidade juvenil e a

    adoo, e que abaixo sero estudados.

    f) Regras de Beijing Regras Mnimas das Naes

    Unidas para a Administrao da Justia da Infncia e da Juventude

    1985:

    g) Diretrizes das Naes Unidas para a Preveno da

    Delinqncia Juvenil Diretrizes de Riad de 1990;

    Quanto questo da infncia e de sua delinqncia, os

    Estados devem, em primeiro lugar, aplicar medidas visando a sua

    preveno (Diretrizes de Riad). Em seguida, quando uma infrao

    penal cometida, a reao do Estado e da sociedade deve seguir as

    orientaes dos tratados gerais de proteo dos direitos humanos e

    principalmente as orientaes contidas nas Regras de Beijing e na

    CIDC. Finalmente, se a interveno deve inevitavelmente resultar na

    aplicao de uma medida privativa de liberdade, as Regras de Tquio

    devem ser observadas. Textos Reunidos. ILANUD. MARTIN-CHENUT,

    Kathia Regina. Pg. 79, Revista n 24.

  • 8

    Estes documentos, somados Conveno sobre os Direitos

    da Criana, compe a chamada Doutrina das Naes de Proteo

    Integral Criana, a qual tem fora de lei interna para os seus pases

    signatrios, dentre os quais o Brasil.

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    7

    8

  • 10

    VIDE O LTIMO PROTOCOLO FACULTATIVO CONVENO

    SOBRE OS DIREITOS DA CRIANA DA ONU!!!!!!.

    ARTIGO INTERESSANTE:

    http://www.surjournal.org/conteudos/getArtigo17.php?artigo

    =17,artigo_10.htm

    9

  • 11

    3 Os direitos da criana e do adolescente na Constituio Federal.

    A proteo infncia, no seu sentido lato, direito social amparado

    pelo art. 6 da Constituio Federal. A Constituio atribuiu infncia e a

    juventude um momento especial na vida do ser humano e, por isso, conferiu-

    lhe no seu artigo 227 uma proteo jurdica especfica, assegurando: o status

    de pessoas em situao peculiar de desenvolvimento, a titularidade de direitos

    fundamentais e determinou ao Estado que estes direitos sociais fossem

    promovidos por meio de polticas pblicas.

    Vejamos o tratamento constitucional a vrios pontos relacionados

    infncia e juventude:

    a) Competncia legislativa da Unio e dos Estados.

    10

  • 12

    A Constituio estabelece ser de competncia exclusiva da Unio

    legislar sobre normas de direito civil (art. 22, I, ECA), e de competncia

    concorrente entre esta e os Estados para legislar sobre a proteo infncia e

    juventude (art. 24, XV).

    Pois bem. Em dispositivos de natureza penal (atos infracionais) e de

    natureza civil (tutela, guarda, adoo, poder familiar etc), a competncia da

    Unio privativa.

    No obstante, em razo do permissivo contido no pargrafo nico do

    art. 22, poder a Unio, por meio de lei complementar, autorizar os Estados a

    legislar sobre essas questes.

    De outro lado, tem-se a competncia concorrente da Unio e dos

    Estados para legislar sobre proteo infncia e juventude.

    Muito embora se curve legislao federal e a estadual a respeito, ao

    Municpio compete papel de suplementar a proteo infncia e juventude,

    como, por exemplo, tratar do funcionamento dos Conselhos Tutelares, sem,

    claro, colidir com as regras dos artigos 134 e seguintes do ECA.

    b) Princpio da prioridade absoluta.

    O artigo 227 da CF afirma o princpio da prioridade absoluta dos

    direitos da criana, do adolescente e do jovem, tendo como destinatrios da

    norma a famlia, a sociedade e o Estado. Pretende, pois, que a famlia

    responsabilize-se pela manuteno da integridade fsica e psquica; a sociedade

    pela convivncia coletiva harmnica; e o Estado pelo constante incentivo

    criao de polticas pblicas. Trata-se de uma responsabilidade que, para ser

    realizada, necessita de uma integrao, de um conjunto devidamente articulado

    de polticas pblicas.

    Essa competncia difusa, que responsabiliza uma diversidade de

    agentes pela promoo da poltica de atendimento criana e ao adolescente,

    tem por objetivo ampliar o prprio alcance da proteo dos direitos infanto-

    juvenis.

  • 13

    Como se sabe, dentro da estrutura chamada ordem social, est

    englobada a chamada Seguridade Social, esta compreendida como um conjunto

    integrado de aes de iniciativas dos Poderes Pblicos e da sociedade,

    destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e

    assistncia social.

    E a assistncia social, que ser prestada independentemente de

    contribuio seguridade social, tem, dentre os seus objetivos, a proteo e

    amparo criana e ao adolescente, cabendo a coordenao e as normas gerais

    esfera federal e a coordenao e a execuo dos respectivos programas s

    esferas estadual e municipal. E o ECA uma dessas normas gerais, pelo qual

    estabelece uma poltica de atendimento.

    Essa poltica de atendimento deve ser, segundo o art. 204 da CF,

    descentralizada poltica e administrativamente (sendo dever dos Estados,

    Municpios e das entidades no governamentais de assistncia social a

    coordenao e execuo destes programas). Tambm impe a participao

    popular, por meio de organizaes representativas, para formulao de polticas

    pblicas em todos os nveis. J o 1 do artigo 227 determina que o Estado

    promova, admitida a participao da sociedade civil, programas de assistncia

    integral sade da criana e do adolescente.

    A Constituio tambm faz meno assistncia integral sade da

    criana e do adolescente, estabelecendo que parte dos recursos pblicos

    destinados sade ser dirigida assistncia materno-juvenil, cabendo-lhe,

    ainda, a criao de programas de preveno e atendimento especializado para

    os portadores de deficincia fsica, sensorial ou mental.

    c) Garantia da inimputabilidade.

    O artigo 228 da CF estabelece a garantia da inimputabilidade aos

    menores de dezoito anos, assegurando ao adolescente o direito de ser

    submetido a um tribunal especial, regido por uma legislao especial e

    presidido por um juiz especial, o Juiz da Infncia e da Juventude.

  • 14

    Assim, por se tratar de direito fundamental, no pode ser alterado,

    nem mesmo por Emenda Constitucional, de modo que, em nosso sentir, faz-se

    impossvel a reduo da maioridade penal.

    VIDE, A PROPSITO, O SEGUINTE LINK SOBRE O ASSUNTO:

    http://www.youtube.com/watch?v=B46RiP5bDNQ

    d) Possibilidade de adoo por estrangeiros e assistncia do

    poder pblico a qualquer tipo de adoo.

    Segundo a Lei Fundamental, a adoo por estrangeiros permitida,

    nos termos da Lei Especfica. de se registrar que o Brasil signatrio da

    Conveno Relativa Proteo das Crianas e Cooperao em Matria de

    Adoo Internacional. O Estatuto foi alterado pela Lei 12.010-2009, quando

    houve a incluso das regras da aludida conveno ao texto do Estatuto.

    e) Isonomia entre os filhos.

    Por fim, estabelece a isonomia entre os filhos, independentemente da

    sua condio de havidos ou no da relao de casamento.

    f) Idade mnima para o trabalho.

    4.O Estatuto da Criana e do Adolescente.

    O ECA incorporou em definitivo a Doutrina das Naes Unidas de

    Proteo Integral Criana. Estrutura-se em dois livros, ou em duas partes:

    uma Parte Geral (art.1 a 85) e uma Parte Especial (art. 86 a 258).

  • 15

    Em sua primeira parte, detalhado como o intrprete e o aplicador

    da lei havero de entender a natureza e o alcance dos direitos elencados na

    norma constitucional.

    J a parte especial contm as normas gerais a que se refere o art.

    204 da CF, e que correspondem s polticas pblicas dirigidas infncia e

    juventude.

    a) Disposies preliminares.

    Como j visto, o Eca, na esteira da nova ordem constitucional e em

    consonncia com os textos internacionais que tratam da matria, rompeu

    definitivamente com a doutrina da situao irregular (Cdigo de Menores Lei

    6.697, de 10.10.79), e estabeleceu como diretriz bsica a doutrina da proteo

    integral.

    Essa proteo se fundamenta no princpio do melhor interesse da

    criana. Trata-se da chamada regra de ouro do Direito da Criana e

    Adolescente, que considera superiores os seus interesses porque a famlia, a

    sociedade e o Estado, todos so compelidos a proteg-los.

    O Eca foi o responsvel pela introduo de novos conceitos no

    ordenamento jurdico brasileiro, dentre os quais os de criana e de adolescente.

    verdade que a Conveno sobre os Direitos da Criana, no faz tal separao.

    Porm, a soluo adotada pela legislao especial tutelar brasileira foi diversa,

    estabelecendo que criana aquela pessoa que tem at doze anos incompletos,

    e adolescente, aquele que tem entre doze e dezoito anos incompletos.

    vlido lembrar que se considera completada a maioridade a zero

    hora do dia em que o adolescente completa dezoito anos. A adolescncia,

    assim, inicia-se a zero hora do dia em que a criana completa doze anos, no

    importando, em qualquer dos casos, a hora em que se deu o nascimento do

    indivduo.

    A diferena entre criana e adolescente tem consequncia direta no

    tema ato infracional, este um novo conceito introduzido.

  • 16

    Como sabido, a resposta estatal frente prtica de uma conduta

    prevista na lei penal como infrao penal varia de conformidade com a idade do

    agente. Se imputvel, ter praticado um crime e ser apenado; se inimputvel

    em razo da idade, ter praticado um ato infracional e poder estar sujeito a

    uma medida scio-educativa e/ou medida de proteo, se adolescente, ou

    somente medida de proteo, se criana. Deve ser considerada a data do fato.

    De se ressaltar que o ECA, em uma situao excepcional, aplica-se

    queles que tm entre 18 e 21 anos. o caso da medida de internao, que

    pode ser prolongada at os vinte e um anos de idade.

    No artigo 3 inicia-se o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos

    indicados no art. 2, extraindo-se trs princpios: a) crianas e adolescentes

    gozam de todos os direitos fundamentais assegurados a toda pessoa humana;

    b) eles tm direito, alm disso, proteo integral que a eles atribuda pelo

    Estatuto; c) a eles so garantidos tambm todos os instrumentos necessrios

    para assegurar seu desenvolvimento fsico, mental, moral e espiritual, em

    condies de liberdade e dignidade.

    Nesse passo, crianas e adolescentes, sujeitos de direitos que so,

    tm mais direitos que os outros cidados, pois tm direitos especficos

    indicados nos captulos sucessivos da primeira parte, principalmente no art. 4.

    O artigo 6 faz referncia interpretao do ECA, e repete

    praticamente o contido no art. 5 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, com um

    alerta para o intrprete e aplicador do Direito, no sentido de se levar em

    considerao os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condio peculiar

    da criana e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, sobretudo no

    atinente convivncia familiar, proteo da criana e adolescente e das

    medidas scio-educativas.

    4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    A Constituio Federal adotou um sistema especial de proteo dos

    direitos fundamentais de crianas e adolescentes, explicitados nos artigos

  • 17

    226/228, sendo dever da famlia, da sociedade, da comunidade e do Poder

    Pblico zelar, com absoluta prioridade, pela sua efetivao.

    O carter de absoluta prioridade deriva da Doutrina da Proteo Integral,

    sustentada pela Conveno de New York sobre os Direitos da Criana, de 1990.

    Refere-se a uma primazia, precedncia e preferncia no atendimento das

    necessidades das crianas e adolescentes. A CF/88 utilizou tal expresso

    apenas uma vez, ao tratar dos interesses daqueles no art. 227. Desse modo,

    tem-se um exemplo de prioridade das prioridades.

    Alm disso, atribuiu um carter de especialidade a esses direitos, tanto

    sob o aspecto quantitativo, quanto no aspecto qualitativo.

    Sob o aspecto quantitativo, porque crianas e adolescentes gozam de

    uma maior gama de direitos fundamentais que os adultos. Em suma: gozam de

    toda a proteo estendida aos adultos, e de um plus, como, por exemplo, o

    direito convivncia familiar.

    Sob o aspecto qualitativo, porque o ECA trata de forma mais especificada

    alguns dos direitos, encampando explicitamente o princpio da ABSOLUTA

    PRIORIDADE.

    I-O direito vida e sade: tais direitos so assegurados a todos,

    crianas, adolescentes e adultos. Porm, o ECA especifica algumas providncias

    que entende pertinentes com a finalidade de assegurar maior eficcia a tais

    direitos.

    Nesse sentido, tem-se uma extenso da proteo desse direito desde a

    concepo, quando genitora garantido, atravs do SUS, o atendimento pr

    e perinatal. criana e ao adolescente tambm so garantidos atendimentos

    integrais pelo SUS.

    Aos hospitais e demais estabelecimentos de ateno sade das

    gestantes tambm so obrigados a: manter registro das atividades

    desenvolvidas, pelo prazo de 18 anos; identificar o recm-nascido mediante o

    registro de sua impresso plantar e digital (p e dedo da mo), e impresso

  • 18

    digital da me, proceder exames, fornecer declarao de nascido-vivo e manter

    alojamento conjunto.

    II-Direito liberdade, ao respeito e dignidade: reconhece-se a

    condio de criana e adolescente como pessoas em processo de

    desenvolvimento, logo, sujeitos de direitos, devendo ser resguardada a sua

    integridade fsica, psquica e moral.

    III-Direito convivncia familiar e comunitria: o direito

    convivncia familiar e comunitria constitui direito essencial de crianas e

    adolescentes, um dos direitos da personalidade infanto-juvenil. Algo

    semelhante foi reconhecido aos idosos, inclusive com a clusula de absoluta

    prioridade (art. 3, caput, e pargrafo nico, inciso V, da Lei n 10.741/2003).

    De fato, a famlia o lugar normal e natural de se educar a criana e o

    adolescente. Essa relao ntima existente somente poder ser rompida em

    hipteses excepcionais.

    Mas, sob o ponto de vista jurdico, o que a famlia? Poderia o legislador

    tipific-las?

    verdade que a Constituio Federal de 1988 (art. 226) representou um

    verdadeiro divisor de guas, pois aduziu que a famlia no decorre

    exclusivamente do casamento. Nesse passo, reconheceu o Texto Fundamental

    no s a famlia casamentria (advinda do casamento), mas tambm a famlia

    proveniente de unio estvel entre pessoas de sexos diferentes e tambm a

    famlia monoparental, na qual no se leva em conta a orientao sexual

    adotada.

    No obstante, a Constituio Federal no excluiu a existncia de outros

    tipos familiares. Pudera, porque no compete ao Constituinte dizer o que

    famlia, mas sim, a complexa dinmica social, que tem na aproximao

    decorrente de afetividade mtua e desejo comum de convivncia o tronco

    principal da composio familiar. Pelo contrrio, apenas exemplificou alguns

    tipos de entidades familiares, no excluindo outras possveis, pois o caput do

    art. 226 encerra clusula de proteo geral, e no de excluso. Por esse

  • 19

    motivo, cada vez mais o Judicirio vem reconhecendo efeito jurdico s unies

    homoafetivas.

    E, de acordo com o Estatuto, toda criana e adolescente tem o direito de

    ser criado e educado, ordinariamente, no seio de sua famlia natural e,

    excepcionalmente, em famlia substituta, esta considerada como estruturao

    psquica, em que as funes de filho e pais no tm de ser necessariamente

    fruto de uma relao biolgica1.

    A famlia natural aquela formada pelos pais ou qualquer deles e seus

    descendentes (art. 25 do ECA), cujo relacionamento contnuo tutelado pelo

    Estado, e rompimento somente poder ocorrer em hipteses excepcionais.

    Importante notar que a famlia formada pelos avs e netos, por exemplo, no

    constituiro famlia natural, mas sim, famlia substituta.

    O Estatuto faz meno s formas de reconhecimento de paternidade,

    direito esse personalssimo, indisponvel e imprescritvel, e que pode ser

    exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer distino. Segundo o

    Cdigo Civil (art. 1.609), o reconhecimento dos filhos havidos fora do

    casamento irrevogvel e ser feito:

    -no prprio registro de nascimento: oportunidade em que tanto o pai,

    quanto a me, declaram o nascimento e assumem espontaneamente a

    paternidade e maternidade respectivamente;

    -por escritura pblica ou escrito particular: uma vez lavrado o registro de

    nascimento, constando nele somente os dados maternos, para que haja a

    respectiva indicao da paternidade, quando espontnea, mister a lavratura de

    escritura pblica ou de escrito particular, na qual o pai reconhece a condio de

    filho do registrado, requerendo a sua competente averbao margem do

    assento de nascimento (artigo 102, item 4, da Lei dos Registros Pblicos). De

    praxe, o expediente autuado pelo Oficial do Registro Civil das Pessoas

    Naturais, sobre ele manifestar-se- o Ministrio Pblico e, posteriormente, o juiz

    determinar a requerida averbao. Recorde-se que antes da Lei n. 8.560/92,

  • 20

    o reconhecimento de paternidade exigia a lavratura de escritura pblica, no

    sendo possvel a sua realizao por escrito particular;

    -por testamento: poder o testador, em qualquer tipo de testamento

    admitido, reconhecer a paternidade de pessoa;

    -por manifestao expressa e direta ao juiz, ainda que o reconhecimento

    no haja sido o objeto nico e principal do ato que o contm. Assim, por

    exemplo, em ao para apurao de ato infracional praticado por adolescente,

    este poder manifestar-se perante o Juiz acerca do reconhecimento da

    paternidade, devendo o magistrado encaminhar tal expediente para a

    autoridade judiciria competente, que determinar a averbao no registro de

    nascimento.

    Se acaso no houver o reconhecimento espontneo, poder ele decorrer

    de sentena judicial, que produzir os mesmos efeitos jurdicos.

    O poder familiar ser exercido em igualdade de condies entre o pai e a

    me, competindo-lhes o sustento, a guarda e a educao dos filhos. Eventual

    carncia de recursos materiais no constituir motivo suficiente para a perda ou

    suspenso do poder familiar, quando ento a famlia deve ser includa em

    programas oficiais de auxlio.

    A perda ou a suspenso do poder familiar decorrero de sentena

    judicial.

    A famlia EXTENSA aquele que vai alm da unidade pais e filhos, para

    encampar tambm outros parentes, com quem a criana mantenha vnculo de

    afinidade ou de afetividade.

    No sendo possvel a manuteno da criana ou do adolescente nessa

    entidade familiar, a famlia natural dar lugar substituta. Portanto, famlia

    substituta aquela que, de forma excepcional e necessria, assumiu o lugar da

    original.

    possibilitada atravs dos institutos jurdicos da guarda, tutela ou

    adoo, cada qual com suas caractersticas prprias e inconfundveis, que no

    podem ser mescladas para formao de institutos diferenciados. deferida, via

    de regra, a famlias nacionais, salvo no caso de adoo, em que permitida a

  • 21

    famlias estrangeiras excepcionalmente (princpio da excepcionalidade da

    adoo internacional a adoo nacional prioritria).

    Para a apreciao do pedido, o juiz levar em conta o grau de

    parentesco e a relao de afinidade ou de afetividade, como meio de minorar

    as conseqncias da medida.

    A guarda: a guarda pode ser estudada sob exclusivamente o enfoque

    do Cdigo Civil, nos casos de reconhecimento dos filhos havidos fora do

    casamento e quando da separao dos pais. Ou seja: a criana ou adolescente

    permanecer, pelo menos, com um dos genitores, ou em razo da vontade por

    eles manifestada, seja em razo de deciso judicial.

    Sob o enfoque do ECA, porm, a criana ou adolescente ser entregue a

    outra famlia para atendimento de uma situao excepcional: a impossibilidade

    de sua permanncia junto famlia natural.

    De qualquer forma, guarda o instituto pelo qual se transfere ao

    guardio, a ttulo precrio, os atributos do art. 1634, I, II, VI e VII, do Cdigo

    Civil. Obriga assistncia material, moral e educacional criana ou

    adolescente. necessrio o procedimento contraditrio quando houver

    discordncia dos genitores (art. 166 ECA). Tem como caracterstica a

    provisoriedade, de modo que pode ser revogada a qualquer tempo, mediante

    ato judicial fundamentado (art. 35). Tal regra possvel porque a deciso sobre

    a guarda no faz coisa julgada material ou substancial, mas to somente

    formal.

    Pode ser concedida incidentalmente (nos casos de ao de tutela e

    adoo art. 33, 1), como tambm pode ser o pedido principal da ao (

    2). Neste ltimo caso, identificam-se duas hipteses, previstas no 2 do art.

    33: a chamada guarda satisfativa, que atende a situaes peculiares (exemplo

    maus tratos dos pais); e a chamada guarda especial, destinada a suprir a

    ausncia momentnea dos pais.

    - PEDIDO INCIDENTALMENTE.

    GUARDA

  • 22

    SATISFATIVA

    - PEDIDO PRINCIPAL

    ESPECIAL.

    possvel imaginar alguma situao de guarda compartilhada na famlia

    substituta? Sim, no caso de os adotantes, j iniciado o estgio de convivncia,

    venham a se separar judicialmente. Nesse caso, possvel vislumbrar, j na

    concesso da adoo, a guarda compartilhada. Alis, essa previso j existe na

    Lei de Adoo que est sendo discutida no Congresso Nacional.

    Tutela constitui o conjunto de direitos e obrigaes conferidas a um

    terceiro (tutor), para que proteja a pessoa de uma criana ou adolescente que

    no se acha sob o poder familiar. Poder o tutor administrar os bens do

    tutelado, bem como represent-lo ou assisti-lo nos atos da vida civil.

    A tutela pressupe a extino do poder familiar, o que pode ocorrer em

    virtude da morte dos pais ou a decretao de sua perda (art. 1638 do CC) ou

    suspenso (art. 1637 do CC), em razo de sentena judicial proferida em

    procedimento prprio.

    A adoo implicar no desligamento dos vnculos familiares existentes.

    Quer seja a adoo de crianas e de adolescentes, quer seja a de adultos, o

    regramento legal aplicado o Estatuto da Criana e do Adolescente,

    dependendo ambas de SENTENA judicial, muito embora o STJ admita a

    adoo por escritura pblica nas restritas hipteses em que, poca da

    lavratura do ato, era vigente o CC de 1916. S nesta situao.

    Por adoo unilateral geralmente requerida pelo marido ou

    companheiro da genitora da criana entende-se aquela em que o adotando

    mantm os vnculos com o pai ou me biolgicos. Ope-se adoo bilateral,

    em que h o total rompimento dos vnculos biolgicos, quer em relao ao pai,

    quer em relao me biolgicos.

    A adoo unilateral poder ocorrer em trs hipteses, quais sejam: a)

    quando no registro de nascimento constar to somente o nome do pai ou da

    me; b) quando no registro de nascimento constar tambm o nome do outro

  • 23

    pai ou me; e, c) adoo pelo cnjuge ou companheiro, quando o pai/me for

    falecido.

    No primeiro caso registro de nascimento conste somente o nome do

    pai ou da me faz-se necessria to somente a concordncia do pai ou me

    indicado no registro.

    J no segundo, alm dessa concordncia, necessria tambm a

    comprovao de que houve descumprimento das obrigaes decorrentes do

    poder familiar.

    No terceiro caso, por sua vez, como houve a morte do genitor e,

    conseqentemente, a extino do poder familiar, h necessidade apenas do

    consentimento do genitor sobrevivente.

    Podem adotar os maiores de dezoito anos segundo o novo Cdigo

    havendo a necessidade de que entre o adotante e adotado haja diferena

    mnima de dezesseis anos. Ningum poder ser adotado por duas pessoas,

    salvo se marido e mulher ou se viverem em unio estvel.

    Os divorciados e os separados podero adotar conjuntamente, desde

    que, concordes com relao guarda e regime de visitas, tenham iniciado o

    estgio de convivncia na constncia da sociedade conjugal.

    A adoo depende do consentimento dos pais ou do representante legal

    do adotando, dispensado, porm, em relao criana ou adolescente cujos

    pais sejam desconhecidos ou tenham sido destitudos do poder familiar.

    Com efeito, o art. 152 do ECA autoriza a aplicao subsidiria das

    normas processuais, sendo possvel a cumulao de pedidos compatveis, de

    competncia do mesmo juzo e com o mesmo tipo de procedimento (ver artigo

    292, 1, I a III, do CPC).

    Os efeitos da deciso comeam a partir do trnsito em julgado da

    deciso, salvo se o adotante vier a falecer no curso do processo, quando

    ocorrer a adoo nuncupativa ou post mortem, sendo que os efeitos da

    sentena retroagiro data do bito do adotante.

    Em todos os casos, a opinio do adolescente deve ser levada em conta.

  • 24

    No podero adotar os ascendentes e os irmos do adotando.

    undo.

    Em resumo - REQUISITOS PARA A ADOO:

    a) IDADE MNIMA DO ADOTANTE;

    b) DIFERENA DE IDADE ENTRE ADOTANTE E ADOTADO;

    c) ESTABILIDADE FAMILIAR;

    d) ADOTANTES NO REVELAREM INCOMPATIBILIDADE COM A

    MEDIDA;

    e) PEDIDO SE FUNDE EM MOTIVOS LEGTIMOS;

    f) QUE A ADOO REPRESENTE REAL VANTAGEM PARA O ADOTADO;

    g) NO SER O ADOTANTE IRMO OU ASCENDENTE DO ADOTADO;

    h) CONSENTIMENTO DOS PAIS E DO ADOTADO (MAIOR DE DOZE

    ANOS), SENDO AQUELE DISPENSADO NO CASO DE PAIS

    DESCONHECIDOS OU DESTITUDOS DO PODER FAMILIAR.

    i) CADASTRO JUNTO VARA DA INFNCIA E JUVENTUDE .

    j) ESTGIO DE CONVIVNCIA.

    A adoo por estrangeiros ou adoo internacional, ou ainda

    intercultural medida excepcional, devendo ser dada preferncia em favor

    dos nacionais (excepcionalidade da excepcionalidade).

    Tratando-se de estrangeiro residente no pas, como detentor dos

    mesmos direitos e garantias que os nacionais, salvo as excees

    constitucionais, a adoo no ser considerada internacional, mas seguir as

    regras comuns da adoo nacional.

    IV-direito educao, cultura, ao esporte e ao lazer: a criana e

    o adolescente tem direito educao, visando ao pleno desenvolvimento de

    sua pessoa, preparo para o exerccio da cidadania e qualificao para o

    trabalho. Vide, de forma indispensvel, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional (vide alterao sobre o tema, relativo obrigatoriedade dos

  • 25

    pais matricularem seus filhos na escola a partir dos 04 anos Lei

    12.696/2013).

    V-direito profissionalizao e proteo ao trabalho: art. 7, XXXIII,

    CF/88 proibido o trabalho noturno (entre vinte e duas horas de um dia e

    cinco horas do dia seguinte). Podem trabalhar os maiores de 16 anos, salvo na

    condio de aprendiz, com idade de catorze anos.

    5 Normas de Preveno

    A criana e o adolescente pessoas em desenvolvimento fazem jus a

    uma tutela especial do Estado, da sociedade e da famlia, de modo que

    qualquer possibilidade de violao ou de ameaa a seus direitos fundamentais

    deve ser prontamente afastada por meio de polticas gerais (corrigindo os

    malefcios advindos de fatores sociais negativos), ou de polticas dirigidas a

    uma parcela com necessidades semelhantes, ou, ainda, de polticas especficas

    a prevenir o ilcito infracional. Da, a doutrina classificar essa preveno em

    geral, detectada ou especfica.

    O ECA faz referncia a disposies de ordem geral e preveno

    especial. Esta, por sua vez, faz referncia: a) s condies para freqncia em

    espetculos pblicos; b) as crianas de dez anos somente podero permanecer

    nos locais de exibio quando acompanhadas de seus pais; c)proibio de

    venda criana ou ao adolescente de armas, munies e explosivos, bebidas

    alcolicas e produtos que possam causar dependncia, fogos de estampido e

    artifcio, salvo se ineficazes de ocasionar dano fsico; revistas e publicaes

    indevidas; e, bilhetes lotricos e equivalentes; proibio de hospedagem em

    hotel etc, sem autorizao.

    Reconhecendo a situao da criana e do adolescente como pessoas em

    situao peculiar de desenvolvimento, entendeu o legislador traar certas

    diretrizes para a locomoo dessas pessoas em territrio nacional ou

    estrangeiro, quando estiverem desacompanhadas de seus pais ou responsvel.

  • 26

    Para tanto, exigiu, em certas ocasies, tambm que a viagem estar

    condicionada autorizao pelo Juzo da Vara da Infncia e da Juventude, ao

    qual caber analisar se, de fato, a locomoo atende ao superior interesse

    dessas pessoas.

    Tratando-se de viagem em territrio nacional, a autorizao ser exigida

    quando, A CRIANA, que for viajar para local que no seja comarca contnua

    sua residncia, se do mesmo Estado, ou includa na mesma regio

    metropolitana, no estiver acompanhada de qualquer um de seus pais ou

    responsvel, ou expressamente autorizada por estes, ou mesmo de ascendente

    ou colateral at o terceiro grau.

    A contrario sensu, a autorizao judicial NO ser exigida, em viagens

    nacionais: a) para adolescentes; b) para crianas quando a locomoo se der

    em comarca contgua sua residncia, se do mesmo Estado, ou includa na

    mesma regio metropolitana, sendo desnecessria a autorizao dos pais; c)

    para crianas acompanhadas de ascendente (p.e.: av) ou colateral maior (por

    exemplo: tio), at o terceiro grau, sendo o parentesco comprovado

    documentalmente; e, d) para crianas acompanhadas de pessoas maiores,

    desde que expressamente autorizadas pelo pai, me ou responsvel.

    Portanto, que fique claro: O ADOLESCENTE NO NECESSITA DE

    AUTORIZAO DE VIAGEM PARA LOCOMOO DESACOMPANHADA DOS PAIS

    EM TERRITRIO NACIONAL! Somente as crianas, em certas hipteses, que

    necessitam de tal autorizao.

    Porm, tratando-se de viagem ao exterior, o ECA no fez distino em

    relao criana e ao adolescente, abordando essas pessoas de forma

    semelhante. No obstante, o artigo 84 do ECA, que trata do assunto,

    interpretado de duas maneiras diferentes: uma primeira interpretao sustenta

    que o adolescente desacompanhado dos pais ou responsvel, mesmo que por

    eles autorizado, depende da autorizao judicial para viajar. Uma segunda

    interpretao sustenta que, estando o adolescente autorizado pelos pais ou

    responsvel, desnecessria ser a autorizao judicial.

    Houve uniformizao da interpretao. Vide Resoluo 131, CNJ.

  • 27

    6 A poltica de atendimento.

    A poltica de atendimento voltada s crianas e aos adolescentes, que

    tem seu fundamento constitucional nos artigos 204 e 227 do Texto

    Fundamental, parte de dois princpios bsicos: o da participao e o da

    exigibilidade, por meio dos quais o cidado tem o poder de exigir o seu efetivo

    cumprimento.

    A sua execuo ser feita atravs de um conjunto articulado de aes,

    quer seja governamentais (englobando as esferas federal, estadual e

    municipal), quer seja no governamentais.

    O ECA traou as linhas de ao dessa poltica, as quais esto englobadas

    em trs grandes grupos: a) polticas voltadas garantia dos direitos

    fundamentais de qualquer pessoa, independentemente de sua condio tutelar

    (p.exemplo: sade), ditas polticas sociais bsicas; b) polticas assistenciais

    voltadas a um grupo em razo de sua vulnerabilidade reconhecida (p.exemplo:

    alimentao), ditas polticas assistenciais ou compensatrias; e, c) polticas

    voltadas a crianas e adolescentes em risco pessoal, aos quais devem ser

    dirigidas aes especializadas de encaminhamento e atendimento, ditas

    polticas de proteo especial.

    Como diretriz central dessa poltica, foi adotado o princpio da

    municipalizao do atendimento, segundo o qual o Municpio assume poderes

    que, antes, eram de outras instncias da Federao.

    Tambm foi adotada como diretriz a criao de conselhos municipais,

    estaduais (e nacional (CONANDA) dos direitos da criana e do adolescente,

    rgos deliberativos e controladores de aes. Esses conselhos representam a

    forma de participao da populao na poltica de atendimento.

    Os Conselhos de Direitos encampam trs princpios bsicos: a)

    princpio da deliberao pelo qual se delibera acerca da aplicao do art. 227

    da Constituio Federal; b) princpio do controle da ao entre governo e

    sociedade; e, c) princpio da paridade, uma vez que sero representados nos

    conselhos, por meio de conselheiros, tanto a esfera governamental, quanto a

  • 28

    sociedade de um modo em geral. Os conselheiros exercero funo de

    interesse pblico e no remunerada.

    Os Conselhos devem existir em cada uma das esferas administrativas

    (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios). No mbito federal, existe o

    Conselho Nacional dos Direitos da Criana CONANDA, cujos atos so

    concentrados, principalmente, nas Resolues.

    So vrias as resolues importantssimas para a defesa dos direitos

    da criana e do adolescente. Dentre elas, destaca-se a de n 113,

    posteriormente alterada pela de n 116, cujo objetivo foi institucionalizar e

    fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criana e do

    Adolescente (vide Resoluo no anexo).

    O Sistema de Garantia dos Direitos da Criana e do Adolescente

    baseado em trs eixos, denominados eixos do Sistema de Garantia: defesa,

    promoo e controle da efetivao dos direitos humanos de crianas e

    adolescentes.

    Ora, a proteo dos direitos humanos de crianas e adolescentes

    baseada numa vertente, denominada Proteo Integral, que exige uma ao

    articulada das esferas governamental e no governamental. Essa ao

    integrada, no mbito interno, carecia de uma sistematizao.

    O eixo de defesa dos direitos humanos da criana e do adolescente

    caracteriza-se pela garantia do acesso justia, para assegurar a exigibilidade

    desses direitos, o que fica a cargo, dentre outros, das Defensorias Pblicas

    (vide artigo 7).

    O eixo de promoo dos direitos humanos da criana e do

    adolescente operacionaliza-se atravs da articulao das polticas pblicas

    direcionadas, que se desenvolve de maneira transversal e intersetorial.

    Essas polticas pblicas operacionalizam-se atravs de trs tipos de

    programas: I-servios e programas das polticas pblicas, especialmente das

    polticas sociais, afetos aos fins da poltica de atendimento dos direitos

    humanos de crianas e adolescentes; II- servios e programas de execuo de

    medidas de proteo de direitos humanos, estruturados sob a forma de um

  • 29

    Sistema Nacional de Proteo de Direitos Humanos de Crianas e Adolescentes;

    III servios e programas de execuo de medidas socioeducativas e

    assemelhadas (estruturados sob a forma de um Sistema Nacional de

    Atendimento Socioeducativo SINASE).

    O controle das polticas pblicas ser feito atravs das instncias

    pblicas colegiadas prprias Conselhos de Direitos, Conselhos Setoriais e

    rgos de controle interno e externo (exemplo: Tribunal de Contas).

    Esses so apenas alguns aspectos envolvendo o Sistema de Garantia.

    A leitura da Resoluo n. 113, alterada pela 117 (infra), indispensvel!

    Ento, mos obra!!!!!

    Cada um desses conselhos estar vinculado a um fundo especfico,

    denominado Fundo da Infncia e da Adolescente FIA, que constituir, dentre

    outras, fonte de manuteno da assistncia social (artigos 195 c.c. 204, ambos

    da CF/88).

    diretriz de atendimento, ainda, a integrao operacional dos rgos

    do Judicirio, Ministrio Pblico, Defensoria Pblica e Assistncia Social,

    preferencialmente no mesmo local, para efeito de atendimento a adolescente a

    quem se atribua a prtica de ato infracional (exemplo do que ocorre em So

    Paulo, capital, onde no Frum das Varas da Infncia e Juventude localizam-se

    todos os setores de atendimento aos adolescentes).

    7 Entidades de atendimento

    So entidades responsveis pelo planejamento e execuo de

    programas de proteo e socioeducativos, indicados no art. 90 do Estatuto da

    Criana e do Adolescente.

    Tais programas devem se harmonizar com as diretrizes da poltica de

    atendimento traadas pelos Conselhos de Direitos, bem como ser inscritos no

    Conselho Municipal de Direitos da Criana e do Adolescente, o qual, por sua

    vez, comunicar o Conselho Tutelar e a autoridade judiciria.

  • 30

    As entidades no-governamentais somente podero funcionar depois

    de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente.

    8 Das medidas de proteo

    Sempre que os direitos da criana e do adolescente forem violados

    ou ameaados, levando-se em conta as necessidades pedaggicas existentes,

    estar aberta a possibilidade de aplicao das chamadas medidas de proteo

    ou medidas de cunho assistencial elencadas no artigo 101 do ECA, bem como

    outras previstas no Estatuto, como, por exemplo, o aconselhamento aos pais ou

    responsvel, pela autoridade competente.

    E a autoridade competente de que se fala o Conselho Tutelar e

    tambm o Juiz (sendo as medidas previstas nos incisos I a VI de competncia

    comum do Conselho e do Juiz).

    Nesse passo, a ao ou omisso da sociedade e do Estado enseja a

    atuao ou dos Conselhos Tutelares, ou do Juiz, no sentido de ser aplicada

    qualquer uma das medidas protetivas.

    No mesmo sentido, pode haver a interveno estatal no mbito das

    relaes familiares, quando da falta, omisso ou abuso dos pais ou responsvel.

    9 Das Medidas Pertinentes aos Pais ou responsveis.

    Como foi visto, diante da ofensa aos direitos da criana e do

    adolescente, podero ser aplicadas as chamadas medidas de proteo, bem

    como tambm medidas pertinentes aos pais ou responsvel. Dentre estas,

    pode-se identificar medidas de cunho assistencial famlia, bem como

    obrigaes pertinentes aos pais ou responsvel e sanes civis que estes

    podem estar sujeitos.

    So competentes para a aplicao das medidas previstas no artigo

    129:

  • 31

    a) Conselho Tutelar medidas assistenciais e obrigacionais dos incisos I

    a VI e a sano do inciso VII;

    b) Juiz as sanes previstas nos incisos VIII a X, e ter tambm o

    poder de reviso das decises emanadas do Conselho.

    Verificada a hiptese de maus-tratos, opresso ou abuso sexual

    impostos pelos pais ou responsvel, a autoridade judiciria poder determinar o

    afastamento cautelar do agressor da moradia comum. Trata-se de medida de

    natureza processual e cautelar, que o Juiz poder determinar em ao cautelar

    ou na pendncia de ao principal, liminar ou incidentalmente.

    10 Da Vara da Infncia e da Juventude.

    O ECA substituiu o Juizado de Menores pela Justia da Infncia e da

    Juventude, cuja competncia em razo da matria est delimitada no art. 148 e

    territorial no artigo 147.

    Em razo da matria, a competncia da justia da infncia e da

    juventude pode ser exclusiva, quando compete to somente a ela o

    julgamento de determinadas aes, como pode ser concorrente, quando, para

    que esse Juiz seja competente, necessrio se faz que a criana ou o

    adolescente se encontre em situao de risco, consubstanciada em uma das

    hipteses do art. 98 do ECA.

    A competncia exclusiva est indicada nos incisos do caput do art.

    148; a competncia concorrente est prevista no pargrafo nico do mesmo

    artigo.

    Nestas duas situaes tanto exclusiva quanto concorrente a

    competncia ser contenciosa, em contraposio competncia administrativa

    prevista no art. 149 do ECA.

    No que se refere competncia territorial, o Eca faz referncia

    competncia do domiclio dos pais ou responsvel, ou, na sua falta, do lugar

    onde se encontre a criana. Tratando-se de ato infracional, ser competente o

  • 32

    lugar da ao ou omisso, observadas as regras de conexo, continncia e

    preveno. PRINCPIO DO JUZO IMEDIATO!! Adotado no art. 147

    sobrepe-se a regras de direito processual, como a perpetuatio

    jurisdicionis. VIDE ARTIGO DO PROFESSOR A RESPEITO, COM LINK

    NO INCIO DA APOSTILA.

    Como sabido, a conexo e a continncia no so causas

    determinantes da fixao da competncia, mas motivos que determinam a sua

    alterao, atraindo para a atribuio de um juiz ou juzo o ato infracional que

    seria da atribuio de outro. So aplicveis os artigos 76/82 do CPP.

    O 2 determina que o Juiz poder delegar a execuo da medida

    scio-educativa, como, por exemplo, quando a medida de internao

    cumprida em comarca diversa da do juiz sentenciante.

    O artigo 149 faz referncia competncia administrativa, quando o

    Juiz da Infncia e Juventude, atento s peculiaridades locais, disciplina

    determinadas matrias. Por fora do disposto no artigo 199, o recurso cabvel

    dessas decises ser o de apelao, embora seja discutvel o seu cabimento,

    conforme vrias decises.

    A leitura atenta do art. 149 indispensvel. Apenas para reforo:

    para certame de beleza, participao em peas etc., faz-se necessria a prvia

    autorizao judicial, mesmo que a criana ou adolescente esteja acompanhado

    de seu pai ou responsvel.

    possvel que a Lei estadual faa previso de que a Vara da Infncia

    e da Juventude decida a respeito de crimes praticados contra a criana. Vide

    jurisprudncia do STF e do STJ a respeito.

    11 Prtica de ato infracional, medidas socioeducativas e ao

    socioeducativa.

    A Constituio Federal em razo da idade do agente oferece

    tratamento diferenciado quando da prtica de uma conduta prevista como

    crime ou contraveno penal.

  • 33

    Se um imputvel vier a praticar uma conduta considerada tpica e

    antijurdica, surge para o Estado o chamado jus puniendi, ou direito de punir,

    por meio do qual, aps o devido processo legal, ser aplicado ao chamado ru

    uma pena, previamente prevista pela lei penal (no h crime sem lei anterior

    que o defina, nem pena sem prvia cominao legal).

    De outro lado, sendo a mesma conduta praticada por um inimputvel

    em razo da idade (assim considerado quando do fato), considerando a sua

    especial condio de pessoa em desenvolvimento, a Constituio sujeita esse

    indivduo a uma legislao tutelar especial, assegurando-lhe o direito de ser

    submetido a um tribunal especial e presidido por um juiz especial. A resposta

    estatal, neste caso, no ser punitiva, mas sim pedaggica, no sentido de

    proporcionar a ressocializao do indivduo (no h ato infracional sem lei

    anterior que defina a conduta como crime ou contraveno penal, nem medida

    scio-educativa que no prevista no ECA).

    E, mesmo em relao a esses inimputveis em razo da idade, assim

    considerados constitucionalmente, o tratamento estatal diferenciado. Se a

    conduta for praticada por uma criana, esta estar sujeita to somente s

    medidas protetivas (art. 105), a serem aplicadas pelo Conselho Tutelar; se for

    praticada por um adolescente, este estar sujeito, se o caso, alm das medidas

    protetivas, tambm s medidas scio-educativas.

    Desse modo, v-se que a conduta ilcita ser apurada to somente

    em relao aos adolescentes, uma vez que contra estes as providncias

    jurisdicionais importaro no estabelecimento de deveres, os quais devero ser

    compulsoriamente cumpridos, sob a fiscalizao de entes especficos e do Juiz

    da Infncia e da Juventude.

    O ECA traz uma srie de expresses de aplicao especfica infncia

    e juventude. Dentre eles, preferiu adotar a nomenclatura ato infracional em vez

    de crime ou contraveno penal.

    Assim, considera-se ato infracional aquela conduta prevista como

    crime ou contraveno penal (art. 103), de modo que a estrutura destes deve

    ser respeitada: a) conduta humana, dolosa ou culposa; b) resultado, quando for

  • 34

    o caso; c) nexo de causalidade; d) tipicidade aqui, a tipicidade delegada,

    observando-se o princpio da legalidade.

    Havendo indcios da prtica de ato infracional por parte de

    adolescente, surge para o Estado o direito de ver apurada a conduta e, se o

    caso, de ser o adolescente inserido em uma das medidas scio-educativas

    previstas na lei, o que o far atravs de uma ao prpria, qual seja, a ao

    scio-educativa.

    Portanto, a ao socioeducativa (ou ao socioeducativa pblica) a

    ao pela qual tutela-se o direito de se ver apurada a ocorrncia e a autoria de

    um ato infracional e aplica-se, se o caso, a medida scio-educativa pertinente.

    A tutela pretendida exclusivamente scio-educativa e no punitiva.

    Autor, Ru e Juiz dessa ao so, respectivamente, o Ministrio

    Pblico, o adolescente e o Juiz da Infncia e da Juventude.

    A ao socioeducativa sempre ser pblica e nunca privada, de modo

    que inconcebvel que o particular a promova. Por isso, alguns a chamam de

    ao scio-educativa pblica. Trata-se de legitimidade exclusiva do Ministrio

    Pblico, a quem competir providncias, quer administrativas ou pr-

    processuais, como processuais.

    Do outro lado da relao processual, tem-se o adolescente, pessoa

    em peculiar condio de desenvolvimento, com idade entre doze e dezoito anos

    incompletos, que detm garantias processuais genricas e especficas,

    lembrando-se que face s crianas no se promover a ao scio-educativa.

    Entre as partes e acima delas encontra-se o Juiz da Infncia e

    Juventude, competente para a apurao do ato infracional e a aplicao da

    medida scio-educativa, independentemente da natureza daquele e da

    competncia para o julgamento do crime ou contraveno competente, quer

    seja do Jri, quer seja da Justia Federal, do Juizado Especial Criminal Estadual

    ou Federal etc. Tratando-se de um ato infracional, em razo da

    inimputabilidade constitucional, surge para o adolescente o direito de ser

    demandado perante o Juiz da Infncia e da Juventude.

    Cabe ao julgador observar os direitos individuais consagrados no ECA

    e das garantias processuais, quer genricas, quer especficas.

  • 35

    Por garantia dita genrica tem-se a necessidade do devido processo

    legal, segundo o qual a ao observar o ECA e a lei processual pertinente

    (processo penal ou civil).

    O art. 111 enumera seis garantias processuais especficas.

    A primeira delas a garantia do pleno e formal conhecimento da

    atribuio do ato infracional para que possa, em juzo, exercer a sua plena

    defesa e o contraditrio. Para tanto, a lei indica a citao ou meio equivalente,

    como, por exemplo e costumeiramente, a notificao. As Regras de Beijing e a

    Conveno sobre os Direitos da Criana j previam esse direito.

    Tem tambm direito igualdade na relao processual, podendo

    contraditar as provas apresentadas.

    A defesa tcnica por advogado tambm garantida, e direcionada,

    ora ao ato infracional em si, ora medida scio-educativa proposta. A presena

    do Advogado em todos os atos processuais obrigatria, sob pena de nulidade

    absoluta, como reiteradamente vm decidindo os Tribunais, especialmente o

    E.Tribunal de Justia de So Paulo.

    A assistncia judiciria gratuita e integral tambm uma garantia

    processual, somando-se iseno de custas de quaisquer aes que tramitam

    na Vara da Infncia e Juventude.

    Tem o adolescente o direito de ser ouvido pessoalmente pela

    autoridade competente. Tal autoridade no apenas o Juiz, mas tambm o

    Promotor de Justia, o Defensor e a autoridade policial pertinente. Ao Juiz ele

    apresenta a sua verso sobre os fatos; ao Promotor, oferece elementos

    necessrios e que, eventualmente, podem implicar at no arquivamento dos

    autos; ao defensor, por bvio, para propiciar meios para a defesa; e, por fim,

    autoridade policial quando de sua apreenso.

    Aqui se faz conveniente a aluso Smula 265 do STJ.

    Por fim, tem o adolescente o direito de solicitar a presena de seus

    pais ou responsvel em qualquer fase do processo.

    Na ao scio-educativa, aps verificada, por meio de sentena, a

    prtica de ato infracional, o Juiz poder aplicar ao adolescente as seguintes

  • 36

    medidas scio-educativas: advertncia, obrigao de reparar o dano, prestao

    de servios comunidade, liberdade assistida, insero em semiliberdade ou

    internao, alm de qualquer medida protetiva. Tem-se, de um lado, as

    medidas em meio-aberto, e, de outro, as medidas restritivas de liberdade

    (semiliberdade e internao).

    Para tanto, v-se que necessrio o reconhecimento, na ao

    especfica, da comprovao da autoria e da materialidade do ato infracional.

    Excetua-se a medida de advertncia, que, segundo a lei, pode ser aplicada com

    apenas indcios de autoria.

    O ECA no enumera taxativamente as situaes em que devero ser

    aplicadas cada uma das medida scio-educativas (salvo no caso de internao).

    Diferentemente, indica que para a eleio de cada uma delas o juiz levar em

    conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, as circunstncias e a

    gravidade da infrao. Alm disso, indica as principais diretrizes das medidas,

    considerando, principalmente, o seu alcance pedaggico.

    Assim, a advertncia consistir em uma admoestao, que constar

    para efeitos de registro.

    A obrigao de reparar o dano refere-se s infraes com reflexos

    patrimoniais, em que o Juiz, havendo possibilidade fsica e financeira,

    determina o ressarcimento do dano pelo adolescente vtima.

    A prestao de servios comunidade consiste na realizao de

    tarefas junto comunidade, no podendo exceder a sua durao o perodo de

    seis meses, com jornada no superior a oito horas semanais.

    A liberdade assistida, por sua vez, durar no mnimo seis meses,

    podendo ser prorrogada, e pressupe a continuidade do adolescente junto

    sua famlia. Ser designado um orientador, pessoa capacitada para o auxiliar e

    acompanhar o adolescente.

    A semiliberdade importa em limitao da liberdade do adolescente,

    podendo ser aplicada, ora desde o incio, ora como forma de transio da

    internao para a total liberdade. No comporta prazo determinado. Tem por

    fundamento a possibilidade de realizao de atividades externas,

  • 37

    INDEPENDENTEMENTE DE AUTORIZAO JUDICIAL (portanto, tais atividades

    no podem ser vedadas pelo juiz).

    Quanto internao, a lei faz expressa referncia s

    hipteses em que permitida a sua aplicao, conforme se v do art.

    122 do ECA.

    Identificam-se trs tipos de internao: a internao provisria (art.

    108); internao com prazo indeterminado (art. 122, I e II); e a chamada

    internao-sano com prazo determinado (art. 122, III).

    A internao provisria pode ser decretada pelo juiz de conhecimento

    no transcorrer da ao scio-educativa pblica, equivalendo-se priso cautelar

    no processo criminal. Para que isso seja possvel, dever ser proferida deciso

    fundamentada, baseada em indcios suficientes de autoria e materialidade,

    demonstrada a necessidade imperiosa de tal medida. Tem prazo limitado a 45

    dias, nos quais o adolescente dever permanecer em entidade de atendimento

    adequada, vedada a permanncia em estabelecimento prisional.

    No entanto, se no existir na comarca entidade com essas

    caractersticas e impossvel a transferncia para cidade dotada de tal

    aparelhamento, o adolescente poder permanecer em repartio policial por at

    cinco dias, perodo em que dever ser providenciada a sua transferncia. A

    inobservncia dessas disposies caracteriza conduta criminosa.

    Antes da anlise da internao possvel nas hipteses contidas nos

    incisos do art. 122, do ECA, conveniente lembrar que as medidas restritivas de

    liberdade so condicionadas constitucionalmente aos princpios da

    excepcionalidade, brevidade e condio especial de pessoa em

    desenvolvimento.

    Segundo o princpio da brevidade, a internao deve durar o menor

    tempo possvel, segundo as necessidades pedaggicas do adolescente.

    O princpio da excepcionalidade impe que a medida de internao

    seja aplicada exclusivamente quando outra no for adequada a suprir as

    necessidades pedaggicas existentes, alm de a situao enquadrar-se

    numa das hipteses taxativamente previstas pela lei.

  • 38

    A primeira hiptese do art. 122 faz referncia ao ato infracional

    praticado mediante violncia ou grave ameaa pessoa, que deve fazer parte

    integrante do tipo penal. Por exemplo: roubo, homicdio, estupro, leso corporal

    dolosa.

    Muitos delitos no se enquadram nesse perfil, tais como o furto, a

    receptao, o estelionato e mesmo o trfico ilcito de entorpecentes, conforme

    reiteradamente decidido pelo Colendo Superior Tribunal de Justia. SMULA

    492, STJ!

    A segunda hiptese faz referncia reiterao no cometimento de

    infraes graves. Para a sua incidncia, portanto, necessrio analisar-se dois

    elementos: reiterao e infrao grave, o que ser feito sob aspecto da

    doutrina e jurisprudncia, consignando-se, desde j, a divergncia existente

    sobre o assunto.

    Segundo um entendimento ortodoxo, a reiterao diz respeito

    prtica de um segundo ato infracional, enquanto atos graves seriam aqueles

    para que a lei penal prev a pena de recluso.

    Segundo essa linha doutrinria e jurisprudencial, o ECA introduziu

    novas expresses no ordenamento, em substituio quelas existentes no

    direito penal e processual penal. Assim, denomina ato infracional ao invs de

    crime; denomina representao ao invs de denncia; e, tambm, denomina

    reiterao ao invs de reincidncia. Desse modo, reiterao e reincidncia

    seriam quase a mesma coisa, com a nica diferena que aquela no estaria a

    exigir o trnsito em julgado da deciso anterior.

    J a corrente adotada pelo STJ, a reiterao exige a prtica de, no

    mnimo, dois atos infracionais, sendo que a gravidade do ato deve ser analisada

    no caso em concreto.

    De se ressaltar que as hipteses previstas nos incisos I e II do ECA

    fazem referncia internao com prazo indeterminado, com prazo mximo de

    trs anos.

    O inciso III do ECA faz referncia internao com prazo

    determinado em razo da reiterao no descumprimento de medida

    anteriormente imposta.

  • 39

    Ao proferir a sentena que aplica a medida scio-educativa, encerra-

    se a fase de conhecimento e inicia-se a fase executiva, pelo qual haver a

    fiscalizao do cumprimento da medida imposta.

    Assim, identifica-se um processo de conhecimento para aplicao da

    medida, e um processo de execuo, para fiscalizao de seu cumprimento.

    Se, durante a fiscalizao, for constatado o seu descumprimento de

    forma injustificada e reiterada, pode o Juiz impor internao com prazo

    determinado a noventa dias (internao-sano).

    Portanto, em caso de descumprimento reiterado e injustificado de

    medida scio-educativa, a lei prev a possibilidade da imposio da internao

    com prazo limitado a noventa dias, devendo, para tanto, oferecer ampla

    oportunidade para que o adolescente se justifique (SMULA 265 DO STJ).

    So caractersticas da medida de internao, ainda:

    PERMITIDA A REALIZAO DE ATIVIDADES EXTERNAS, A

    CRITRIO DA EQUIPE TCNICA DA ENTIDADE, SALVO EXPRESSA

    DETERMINAO JUDICIAL EM CONTRRIO. Muito embora o

    adolescente permanea contido no interior de uma entidade de

    atendimento, o ECA autoriza que ele participe de atividades

    externas, tais como apresentaes musicais, campeonatos esportivos

    etc. Ocorre que, em tais oportunidades, a sua sada ser

    supervisionada diretamente pelos tcnicos da entidade, os quais

    devero tomar todas as providncias no sentido de que o

    adolescente no empreenda em fuga. Tal direito, no entanto, pode

    ser restrito pelo juiz.

    NESSE PONTO, A SEMILIBERDADE E A INTERNAO

    TAMBM SE DIFERENCIAM.

    ENQUANTO NA PRIMEIRA AS ATIVIDADES EXTERNAS SO

    DA NATUREZA DA MEDIDA, NO PODENDO SER RESTRITAS

    PELO JUIZ, NA SEGUNDA, MUITO EMBORA SEJAM

  • 40

    GARANTIDAS, PODEM SER OBJETO DE RESTRIO

    JUDICIAL.

    A MEDIDA, VIA DE REGRA, NO COMPORTA PRAZO

    DETERMINADO, SALVO NA HIPTESE DO INCISO III, DEVENDO SER

    REAVALIADA, NO MXIMO, A CADA SEIS MESES. Nas hipteses dos

    incisos I e II, a medida ser aplicada com prazo indeterminado,

    limitado, porm, a trs anos. Nesses casos, a entidade de

    atendimento dever proceder a estudo social e pessoal do caso,

    encaminhando relatrios autoridade judiciria. Com base nesses

    relatrios, dever a autoridade decidir se mantm ou no internao.

    A periodicidade de tal anlise ser de, no mximo, seis meses.

    TERMINADO O PRAZO MXIMO DE TRS ANOS, O

    ADOLESCENTE DEVER SER LIBERADO, INSERIDO EM

    SEMILIBERDADE OU EM LIBERDADE ASSISTIDA. SE, DURANTE ESSE

    PRAZO, O EX-ADOLESCENTE COMPLETAR VINTE E UM ANOS,

    HAVER LIBERAO COMPULSRIA.

    A DESINTERNAO, EM QUALQUER CASO, SER PRECEDIDA DE

    AUTORIZAO JUDICIAL, OUVIDO SEMPRE O MINISTRIO

    PBLICO.

    A ao apropriada para a apurao do ato infracional e a aplicao da

    medida scio-educativa cabvel a chamada ao scio-educativa (ou tambm

    ao scio-educativa pblica), promovida exclusivamente pelo Ministrio

    Pblico. Est disciplinada nos artigos 171 a 190, com aplicao subsidiria das

    regras do processo penal por fora do disposto no art. 152.

    Identifica-se presente uma fase pr-processual, que vai desde a

    apreenso pela prtica de ato infracional at o oferecimento de representao,

    se o caso.

  • 41

    Apreendido em flagrante pela prtica de ato infracional, o

    adolescente ser apresentado imediatamente autoridade policial, observando-

    se, em tudo, o seguinte:

    A) FORMALIDADES: dever a autoridade observar as formalidades

    exigidas pelo artigo 173 do ECA: dar conhecimento ao

    adolescente dos responsveis pela apreenso; inform-lo sobre

    seus direitos; lavrar o respectivo auto de apreenso, ouvidos

    testemunhas e adolescente, salvo no caso de ato infracional

    praticado sem violncia ou grave ameaa a pessoa, quando

    poder lavrar simples boletim de ocorrncia; apreender o produto

    e os instrumentos da infrao; e, por fim, requisitar os exames ou

    percias necessrios comprovao da materialidade e autoria da

    infrao.

    B) LIBERAO DO ADOLESCENTE: comparecendo os pais ou

    responsveis, dever o adolescente ser imediatamente liberado,

    sob o compromisso de apresentao ao representante do

    Ministrio Pblico no mesmo dia, ou no primeiro dia til imediato.

    Caber autoridade policial encaminhar ao representante do

    Ministrio Pblico cpia do boletim de ocorrncia ou do auto de

    apreenso.

    C) APRESENTAO AO MINISTRIO PBLICO: no entanto, mesmo

    comparecendo os pais ou responsveis, em razo da gravidade do

    ato infracional e de sua repercusso social, poder a autoridade

    policial deixar de liberar o adolescente e encaminh-lo, desde

    logo, ao Ministrio Pblico.

    Se, no entanto, tal apresentao no puder ser feita de forma

    imediata, a autoridade policial encaminhar o adolescente a

    entidade de atendimento competente, que, por sua vez, far a

    apresentao em 24 horas.

  • 42

    No entanto, inexistindo entidade de atendimento na localidade, o

    adolescente aguardar na repartio policial, devendo a

    apresentao ser feita no prazo de vinte e quatro horas.

    D) apresentado o adolescente autoridade policial, dever esta

    lavrar o respectivo boletim de ocorrncia, dando-lhe sendo direito

    do apreendido o conhecimento dos responsveis pela apreenso,

    bem como de ser informado sobre seus direitos.

    Apresentado o adolescente ao Promotor de Justia, este, vista dos

    documentos previamente autuados pela Serventia Judicial, e com informaes

    sobre os antecedentes, ouvir informalmente o adolescente (oitiva informal), e,

    sendo possvel, de seus responsveis, vtima e testemunhas, e tomar uma das

    trs providncias:

    a) promover o arquivamento dos autos;

    b) propor a concesso de remisso;

    c) oferecer representao.

    A promoo do arquivamento ser fundamentada na inexistncia do

    ato infracional; inexistncia da prova da participao do adolescente; presena

    de excludente da antijuridicidade ou de culpabilidade; inexistncia de prova

    suficiente para a condenao. Estar condicionada aceitao do Juiz, que

    poder recus-la, quando ento o magistrado promover os autos ao

    Procurador Geral de Justia para que, se o caso, designe outro Promotor de

    Justia ou encampe o requerimento de arquivamento.

    Poder a autoridade ministerial, ainda, propor a concesso de

    remisso.

    Identificam-se duas formas de remisso: a ministerial e a judicial.

    A primeira concedida como forma de excluso do processo e importa num

    perdo puro e simples quando no aplicada cumulativamente nenhuma medida

    scio-educativa. A segunda concedida pelo Juiz, aps ouvido o Ministrio

  • 43

    Pblico, e importa, ora na suspenso do processo, ora na sua extino. Pode

    ser concedida cumulativamente com aplicao de alguma das medidas scio-

    educativas.

    A remisso no conta para efeitos de antecedentes e jamais poder

    ser concedida cumulativamente com medidas privativas de liberdade. No

    importa como reconhecimento da prtica do ato infracional.

    Sustenta-se a inconstitucionalidade da cumulao de qualquer

    medida scio-educativa com a remisso concedida como forma de excluso do

    processo, uma vez que aquela importa necessariamente na obedincia ao

    devido processo legal e comprovao de culpa.

    Poder o Ministrio Pblico, ainda, inaugurar a ao scio-educativa,

    oferecendo a respectiva representao, a qual no depende de prova pr-

    constituda da autoria e da materialidade. Nessa oportunidade, o parquet

    poder requerer a internao provisria do adolescente, que ser decretada

    pelo Juiz em deciso fundamentada, uma vez demonstrada a necessidade

    imperiosa da medida, e no ultrapassar o prazo de quarenta e cinco dias.

    Essa pea inicial ser oferecida por escrito, que conter o breve

    resumo dos fatos e a classificao do ato infracional. Nada impede, no entanto,

    que seja apresentada oralmente, em sesso diria instalada pela autoridade

    judiciria.

    O Juiz, ento, receber a representao e designar dia e hora para

    audincia de apresentao, oportunidade em que o adolescente ser ouvido e

    poder apresentar a sua verso sobre os fatos. Para tanto, ser devidamente

    notificado.

    Se, para a notificao, o adolescente no for encontrado, a

    autoridade judiciria mandar expedir mandado de busca e apreenso,

    determinando o sobrestamento do feito, at a efetiva apresentao.

    No entanto, se o adolescente for encontrado e no comparecer

    audincia, injustificadamente, ser designada nova data, expedindo-se

    mandado de conduo coercitiva.

  • 44

    Na audincia de apresentao, poder o Juiz conceder remisso

    judicial ou, se o caso, aplicar ao adolescente as medidas scio-educativas em

    meio-aberto. Se o adolescente negar a prtica do ato infracional, ou mesmo se

    confessando, for o caso de aplicao das medidas de semiliberdade ou de

    internao, designar o juiz audincia em continuao, quando ento sero

    inquiridas as testemunhas arroladas pela acusao e pela defesa. Encerrada a

    instruo, na mesma audincia, as partes se manifestaro em debates orais e o

    juiz proferir sentena.

    A sentena analisar a autoria e a materialidade da infrao e, se de

    procedncia, aplicar a medida scio-educativa pertinente.

    Se aplicada medida scio-educativa em meio aberto, o ECA autoriza a

    s intimao do Defensor. Tratando-se de medida restritiva de liberdade,

    dever, alm deste, ser intimado o adolescente (que se manifestar se deseja

    ou no recorrer) ou, na sua falta, os seus pais ou responsvel

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    12 DOS RECURSOS.

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  • 52

    O Estatuto da Criana e do Adolescente adotou o sistema recursal

    previsto no Cdigo de Processo Civil, com algumas alteraes. Nesse passo, so

    cabveis todos os recursos previstos pela lei processual civil, os quais

    independero do recolhimento de preparo. Merece ser registrado quanto aos

    recursos:

    *tero preferncia de julgamento e dispensaro revisor princpio da

    prioridade absoluta;

    *Quanto aos efeitos, vide:

    * possvel o juzo de retratao quando interposta apelao;

    *prevalece a vontade do adolescente em recorrer;

    *os prazos para interpor e responder os recursos de 10 dias, exceo feita

    aos embargos de declarao que devero ser interpostos em cinco dias. Esses

    prazos sero contados em dobro para o Ministrio Pblico e a Defensoria

    Pblica (art. 5, 5, da Lei 1060/50 ratificado pela LC 80/94);

    *o termo inicial para a contagem do prazo de apelao para a defesa, tratando-

    se de medidas de internao e semiliberdade, contado a partir da ltima

    intimao, quer seja do defensor, quer seja do adolescente;

    *as razes de apelao devero ser apresentadas juntamente com a petio de

    interposio.

    13 DO CONSELHO TUTELAR

    Sobre a nova sistemtica dos Conselhos Tutelares, vide lei 12.692/2012.

    J escrevi a respeito:

    No dia 26 de julho de 2012 foi publicada a lei 12.696/12, que altera o

    Estatuto da Criana e do Adolescente estabelecendo novas regras

    para os conselhos tutelares.

    As novidades so:

  • 53

    1. Mandato do Conselheiro Tutelar: foi ampliado para 4 (quatro) anos,

    no mais 3 (trs) anos.

    A alterao importante, pois possibilita a articulao das polticas de

    atendimento de longo prazo, que costuma ser prejudicada por

    constantes eleies e alteraes na composio dos conselhos.

    Ademais, continua sendo possvel a reconduo, mediante novo

    processo eletivo.

    2. Direitos Trabalhistas do Conselheiro Tutelar.

    Passa a ser exigvel que a Lei Municipal, que dispe sobre o

    funcionamento dos conselhos tutelares, garanta remunerao,

    cobertura previdenciria, gozo de frias anuais remuneradas,

    acrescidas de 1/3 (um tero) do valor da remunerao mensal,

    licena-maternidade, licena-paternidade e gratificao natalina.

    Antes da nova lei, os Municpios tinham a liberdade de garantir esses

    direitos aos conselheiros. Agora, existe a obrigao.

    3. Funcionamento dos Conselhos Tutelares.

    Dever constar da lei oramentria municipal e da do Distrito Federal

    previso dos recursos necessrios ao funcionamento do Conselho

    Tutelar e remunerao e formao continuada dos conselheiros

    tutelares.

    A obrigao de se destinar verba formao continuada dos

    conselheiros certamente trar benefcios para as crianas e

    adolescentes, pois o exerccio da funo de conselheiro por cidados

    mais bem preparados tende a incrementar a garantia de direitos para

    os infantes.

    Entretanto, ao contrrio do que muitos agentes da rede de

    atendimento defendiam, o Estatuto continua no exigindo formao

    profissional do conselheiro, nem mesmo a demonstrao de

    conhecimento especfico quanto defesa dos direitos das crianas e

    adolescentes.

  • 54

    Mas, a exemplo do que j acontece em grande parte do territrio

    nacional, as leis municipais podem estabelecer exigncias adicionais.

    4. Prerrogativas dos Conselheiros: o exerccio efetivo da funo de

    conselheiro continua constituindo servio pblico relevante e

    estabelecendo presuno de idoneidade moral, mas no mais garante

    priso especial at julgamento definitivo.

    A eliminao da priso especial para os conselheiros tutelares est

    plenamente alinhada s ltimas alteraes legislativas do processo

    penal, que paulatinamente vem eliminando benefcios para o

    cumprimento de priso cautelar.

    5. Eleies dos Conselhos Tutelares: continua sendo de

    responsabilidade dos Conselhos Municipais dos Direitos das Crianas.

    A novidade que o processo de escolha dos membros do Conselho

    Tutelar ocorrer em data unificada em todo o territrio nacional a

    cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do ms de outubro do ano

    subsequente ao da eleio presidencial. Ademais, no processo de

    escolha dos membros do Conselho Tutelar, vedado ao candidato

    doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem

    pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. H

    ainda regra segundo a qual a posse dos conselheiros tutelares

    ocorrer no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de

    escolha.

    A unificao das eleies vem em boa hora, pois permite melhor

    articulao das polticas de atendimento infncia em todos os nveis

    da federao. O regramento sobre a campanha eleitoral com vedao

    doao, oferecimento, promessa ou entrega ao eleitor de bem ou

    vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno

    valor, tende a moralizar os processos eleitorais, que comumente

    acabam sendo conduzidos mediante trocas de favores, presentes, e

    promessas de benefcios e atendimento individualizado.

    6. Vigncia das Alteraes: as alteraes entraram em vigor na data da

    publicao da lei, ou seja, no dia 26 de julho de 2012.

  • 55

    14 DOS PROCEDIMENTOS

    O ECA previu procedimentos especficos para a perda e suspenso do

    poder familiar, destituio de tutela, colocao em famlia substituta, apurao

    de ato infracional, apurao de irregularidade em entidade de atendimento,

    apurao de infrao administrativa s normas de proteo criana e ao

    adolescente, recursos e proteo judicial dos interesses difusos e coletivos.

    Embora tenha como fontes subsidirias principais o Cdigo de Processo

    Civil e o Cdigo de Processo Penal (art. 152), o Estatuto no exclui outras

    normas gerais contidas em legislaes especiais, entre elas a Lei da Ao Civil

    Pblica e o Cdigo de Defesa do Consumidor.

    a) Da perda e da suspenso do poder familiar:

    A perda e a suspenso do poder familiar seguem o procedimento

    contraditrio, estando a sua decretao prevista na legislao civil, bem como

    na hiptese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigaes a que

    alude o artigo 22.

    A ao de legitimidade do Ministrio Pblico ou do interessado,

    figurando como tal parentes da criana ou adolescente, ou quem exera a sua

    guarda.

    Preocupado com a efetividade do processo, havendo motivo grave,

    poder o juiz decretar a suspenso do poder familiar liminarmente.

    Iniciada a ao, o requerido ser citado para, no prazo de dez dias,

    apresentar contestao, devendo ser esgotados todos os meios de citao

    pessoal. Em sendo o caso de pessoa que no tenha condies de constituir

    advogado, poder informar tal fato diretamente em cartrio, sendo-lhe

    nomeado advogado dativo.

  • 56

    Poder o juiz, entendendo pertinente, determinar a realizao de estudo

    social ou percia por equipe interprofissional, com apresentao do laudo

    preferencialmente na audincia de instruo, debates e julgamento, se

    designada. Importando o pedido em modificao de guarda, a criana e o

    adolescente devero ser ouvidos, desde que possvel e razovel. Proferida

    sentena, se for decretada a perda ou a suspenso do poder familiar, tal ato

    ser averbado junto ao assento de registro de nascimento.

    b) Destituio da tutela:

    Ser adotado o procedimento para remoo de tutor previsto na lei

    processual civil.

    c) Colocao em famlia substituta:

    Como sabido, a criana e o adolescente podero ser colocados em

    famlia substituta mediante guarda, tutela ou adoo. O procedimento poder

    ser de jurisdio voluntria ou de jurisdio contenciosa.

    Adotar-se- a jurisdio voluntria se ocorrer uma das seguintes

    hipteses:

    - concordncia dos pais ou do representante legal em juzo;

    - prvia destituio (e no somente suspenso) do poder familiar;

    - os pais serem desconhecidos e a criana/adolescente no ter

    representante legal;

    - os pais serem falecidos e a criana carecer de representao legal.

    Nestes casos, O Eca faculta aos interessados formularem requerimento

    diretamente em cartrio, independentemente de patrocnio de advogado, como

    meio de oferecer maior agilidade ao procedimento. Trata-se de questo

    tormentosa, uma vez que a presena do advogado considerada indispensvel

    para a maioria dos autores.

  • 57

    A adoo e a guarda dependem, em princpio, do expresso

    consentimento dos pais ou responsvel, salvo nos casos em que no for

    possvel. No tendo aderido, necessariamente dever ser ajuizada ao de

    destituio do poder familiar, que constitui pressuposto lgico da adoo.

    d) Apurao de irregularidades em entidade de atendimento:

    O ECA tambm traz o procedimento para apurao de irregularidade em

    entidades de atendimento, aquelas cujos programas foram previstos no art. 90.

    Tal procedimento ter incio, ora por portaria do juiz, ora por

    representao do Ministrio Pblico ou do Conselho Tutelar. O dirigente ser

    citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar

    documentos e indicar provas.

    Se acaso a unidade de atendimento tiver mais de uma unidade, ser

    citado, alm do dirigente da unidade, tambm o responsvel direto pela

    respectiva unidade ou programa em que foram constatadas as irregularidades.

    Terminada a instruo, em sendo necessria, o juiz poder fixar prazo

    para a remoo das irregularidades e, uma vez satisfeitas, extinguir o

    processo.

    Poder o Juiz aplicar uma das seguintes penalidades:

    - Entidades governamentais: afastamento provisrio de seus

    dirigentes; afastamento definitivo; fechamento da unidade ou

    interdio do programa.

    - Entidades no governamentais: suspenso total ou parcial do repasse

    de verbas pblicas; interdio de unidade ou suspenso do

    programa; e, cassao do registro.

    e) Apurao de infrao administrativa s normas de proteo criana e ao

    adolescente:

    O ECA tipifica as chamadas infraes administrativas, condutas

    ofensivas aos direitos da criana e do adolescente dignas de sano a ser

  • 58

    aplicada pelo Poder Judicirio. Seguem tambm o princpio da legalidade (no

    h infrao administrativa sem lei anterior que a defina, nem sano sem prvia

    cominao legal).

    O procedimento para imposio de penalidade administrativa ter incio

    por representao do Ministrio Pblico, ou do Conselho Tutelar, ou ainda auto

    de infrao elaborado por servidor efetivo ou voluntrio credenciado, neste

    caso, assinado por duas testemunhas.

    O requerido ter prazo de dez dias para apresentar sua defesa, contado

    da data da intimao, que ser feita: a) pelo prprio autuante, quando este for

    lavrado na presena do requerido; b) por oficial de justia ou funcionrio

    habilitado, que entregar cpia do auto ou da representao ao requerido; c)

    por via postal; d) por edital, se incerto ou no sabido o paradeiro.

    Havendo necessidade, sero produzidas provas em audincia de

    instruo, aps o que ser proferida sentena pelo juiz.

    As infraes administrativas e as respectivas sanes esto elencadas

    nos artigos 245 a 258.

    15 A AO CIVIL PBLICA EM MATRIA RELACIONADA INFNCIA E

    JUVENTUDE

    INTRODUO.

    Ao estudarmos o Direito da Criana e do Adolescente, deparamo-nos

    com a existncia de uma proteo jurdica especial oferecida

    constitucionalmente, consubstanciada principalmente na caracterstica da

    ABSOLUTA PRIORIDADE de seus direitos, com reflexos em toda poltica de

    atendimento a essas pessoas, reconhecidamente em condies de

    desenvolvimento.

    No mesmo sentido, o Estatuto da Criana e do Adolescente, a chamada

    verso brasileira da Conveno Internacional sobre os Direitos da Criana da

  • 59

    ONU, elencou exemplificativamente esses direitos, sob a rubrica de direitos

    vida e sade, direito liberdade, ao respeito e dignidade, direito

    convivncia familiar e comunitria; direito educao, cultura, ao esporte e

    ao lazer, alm do direito profissionalizao e proteo ao trabalho.

    No basta somente indicar quais so esses direitos fundamentais, sem

    tambm propiciar um sistema pelo qual permitido buscar a sua efetiva

    satisfao, principalmente pela via judicial.

    E a busca dessa efetiva satisfao, pela via judicial, pode ora ser feita

    individualmente, ora coletivamente; ora segundo uma legitimao ordinria, ora

    segundo uma legitimao extraordinria.

    Segundo a legitimao ordinria, poder o lesado bater s portas do

    Judicirio e buscar a efetivao de seu direito individual. Nesse sentido, por

    exemplo, poder um adolescente, devidamente representado ou assistido,

    ingressar com a ao judicial cabvel e buscar a tutela do Judicirio no sentido

    de que lhe seja garantido o medicamento de que necessita.

    Para tanto, poder ingressar com um mandado de segurana,

    comprovando de plano a sua necessidade ao medicamento.

    Segundo a legitimao extraordinria, ou seja, aquela segundo a qual a

    parte, em seu nome, busca a satisfao de direito de outrem, o Estatuto da

    Criana e do Adolescente indicou um modelo diferenciado.

    Ordinariamente, a legitimao extraordinria confere ao plo ativo a

    possibilidade de ajuizamento de aes para a defesa de interesses coletivos em

    sentido amplo. Por isso, pode o Ministrio Pblico,