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Prof. José Olimpio dos Santos E-mail: [email protected] Cel.: (65) 8112 0482/9981 0482/8465 6201/9240 0219 Instituto Matogrossense de Pós Graduação e Serviços Educacionais Ltda. www.impactosmt.com.br Tel.: (65) 3029 2573 Cel. Inst.: (65) 9204 1015 / 8415 9957 / 9678 5233 / 8141 4643 Coordenação de Pós-graduação Gestão Em Políticas de Assistências Sociais - SUAS Disciplina: Pensamento Antropológico da Família José Olimpio dos Santos, Escritor, Palestrante e Conferencista Nacional e Internacional, Doutorando em Psicologia, Mestre em Educação, Pedagogo, Sexólogo, Administrador Hospitalar, Especialista em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior Gestor em Serviços de Saúde e Gestão Escolar. Contato: Cel.: (65) 9981 0482/8112 0482/8465 6201/9240 0219/E- mail.: [email protected]/[email protected]

Apostila Pensamento Antropológico da Familia Sinop 2012

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Instituto Matogrossense de Pós Graduação e Serviços Educacionais Ltda.

www.impactosmt.com.br

Tel.: (65) 3029 2573 Cel. Inst.: (65) 9204 1015 / 8415 9957 / 9678 5233 / 8141 4643

Coordenação de Pós-graduação Gestão Em

Políticas de Assistências Sociais - SUAS

Disciplina: Pensamento Antropológico da Família JJoosséé OOlliimmppiioo ddooss SSaannttooss,, EEssccrriittoorr,, PPaalleessttrraannttee ee CCoonnffeerreenncciissttaa NNaacciioonnaall ee IInntteerrnnaacciioonnaall,,

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O QUE É FAMÍLIA?

“A família é um modelo universal para o viver. Ela é unidade de crescimento; de experiência; de sucesso e fracasso; ela é também a unidade da saúde e da doença”

(Nathan W. Ackerman)

Para que possamos dar os primeiros passos na abordagem do

nosso objeto de estudo - a família, faz-se necessário que possamos identificá-

lo de forma mais clara . Infelizmente, por mais que tentemos, não conseguimos

chegar a uma única definição, mas a múltiplas conceitos e visões a seu

respeito. Entre eles, podemos citar: “pessoas aparentadas, que vivem em geral

na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos”; “pessoas de mesmo

sangue”, ou, ainda, “ascendência, linhagem ou estirpe” (Buarque de Holanda,

1986). Desta forma, podemos antever a dificuldade de conceituação

encontrada. De maneira geral, podemos falar de uma diversidade de

composições que incluem: laços sangüíneos, relações não-formais de

parentesco, conjugalidade, família nuclear, família extensa, entre outras.

Podemos dizer, contudo, que a família é um sistema social crucial à

continuação da espécie humana. Ela assume muitos aspectos; sendo produto

do sistema social, além de refletir a cultura deste sistema. Além disso, ela

reflete ainda as condições de vida num determinado espaço e tempo.

A Antropologia e a Sociologia foram as primeiras ciências a se

interessarem efetivamente pelo estudo da família através de inúmeros estudos

e pesquisas que assumiram os povos primitivos, tribos indígenas e outros

agrupamentos como foco de análise.

A estrutura da família nuclear, isto é, o núcleo formado pelo casal e

seus filhos, residindo juntos, tal como vemos nos dias de hoje é relativamente

recente, datando aproximadamente do século XVII. As relações familiares, até

esta época eram bem diferentes. O casamento era um contrato não firmado

pelas partes interessadas; a criança não era valorizada na sociedade, não

obtendo a atenção necessária a sua idade e desenvolvimento. A educação das

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crianças era garantida pela aprendizagem junto aos adultos. Assim, o normal

era que, após o desmame que era tardio em torno dos 6 ou 7 anos as crianças

eram mandadas para outras famílias para aprenderem um ofício, ou aprender a

servir.

Até o fim da Idade Média, não havia intimidade entre os membros de

uma família, que viviam em grandes casas com parentes, criados, clientes,

etc., que freqüentavam e habitavam o mesmo espaço, em condições

promíscuas; não havendo privacidade. Nesta época a família cumpria apenas

uma função: assegurar a transmissão da vida, do nome; de bens, de glória,

honra e de garantir a linhagem, fosse esta nobre ou não.

O século XVII, marca o começo de profundas transformações na

sociedade. Podemos vislumbrar o nascimento da família moderna, que

corresponde ao surgimento das escolas, da preocupação com a educação das

crianças. Começa-se a valorizar a criança, e consequentemente há o

desenvolvimento uma relação afetiva e íntima entre pais e filhos. A família

passa a assumir uma função moral e espiritual, preparando a criança para a

vida. A nova moral burguesa marca a passagem para reorganização da casa e

dos costumes, refletindo-se na estrutura e funções da família ocidental

moderna.

Atualmente podemos entender o conceito de família de forma mais

abrangente, se referindo não apenas ao modelo patriarcal judaico-cristão (pai,

mãe, filhos e colaterais), mas também a diferentes formas de composições

familiares como é o caso das famílias constituídas independentes do

matrimônio civil; das que são formadas pela dissolução das famílias originais e

outras mais.

Essa variedade acaba promovendo a necessidade por parte dos

profissionais que trabalham na área de família de uma atualização constante e

a realização de novos estudos e pesquisas.

A FUNÇÃO DA FAMÍLIA

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Podemos enumerar algumas das funções primordiais da família

moderna:

provedora as necessidades básicas de alimentação e habitação,

ou seja, funções de sobrevivência e proteção dos perigos

externos;

matriz do desenvolvimento de vínculos afetivos e sociais;

modeladora dos papéis sexuais.

Ou seja, vemos como funções primordiais da família o

asseguramento da sobrevivência física e de socialização, possibilitando o

desenvolvimento da identidade e da individualidade de seus membros.

A família protege a criança do mundo exterior e a prepara para ele.

Cada família desenvolve sua forma particular de existência; através

do que podemos chamar de “padrões de interação”, nos quais vemos

diferentes estruturas de poder, de formas de comunicação, de resolução de

problemas, maneiras diferenciadas de responder às demandas afetivas de

seus membros, de gerenciar conflitos, perdas e mudanças. Estes padrões são

constituídos por laços, limites/fronteiras e papéis; em constante interação.

Porém, esta interação porém é resultado de negociações explícitas e implícitas

entre seus membros, em torno das questões que vão surgindo ao longo do seu

desenvolvimento e do contexto em que estes se inserem, sendo que, estes

padrões interacionais são influenciados pela bagagem histórica trazida através

das gerações na família. Assim, a identidade de cada membro, é influenciada

pelos diferentes elementos que fazem parte de cada família, de sua cultura,

assim como de suas próprias vivências no mundo.

O CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA

O Ciclo de Vida Familiar é um processo bastante complexo

envolvendo três ou quatro gerações que se movimentam juntas ao longo do

tempo. Embora a versão mais moderna de família seja a da família nuclear,

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formada por um casal e seus filhos, morando juntos e separados de suas

famílias de origem, as famílias são subsistemas que se comportam dentro de

um sistema familiar mais amplo. Em outras palavras, nossas reações aos

relacionamentos não se limitam às interações dentro do núcleo familiar, mas se

estendem aos relacionamentos passados, presentes e antecipados da família

mais extensa. As mudanças ocorrem simultaneamente no ciclo de vida de duas

ou mais gerações e os eventos que geram perturbações em um determinado

subsistema acabam por afetar consideravelmente os demais.

Pode-se afirmar que uma família comum vive sob um fluxo constante

de ansiedade que pode ser observado tanto verticalmente como

horizontalmente. O fluxo vertical diz respeito aos padrões de relacionamento

transmitidos através de gerações, incluindo-se aí as atitudes, expectativas,

valores e regras que são levados de uma geração à seguinte, mantendo vivos

os “temas” familiares, que devem orientar as vidas dos membros daquela

família. O fluxo horizontal, por sua vez, refere-se à ansiedade provocada pelo

estresses que afetam a família ao longo do tempo e que incluem eventos

imprevisíveis que podem romper o equilíbrio e atingir o processo do ciclo vital,

como por exemplo, as situações de adoecimento crônico, o nascimento de uma

criança deficiente, dentre outros.

Qualquer família irá parecer bastante disfuncional caso haja um

excesso de estresse no eixo horizontal. Por outro lado, uma leve pressão no

eixo vertical pode ocasionar uma brusca ruptura em um sistema que já seja

sobrecarregado de estresse. Portanto, o grau de ansiedade encontrado no

ponto onde cruzam esses dois eixos determina como a família lidará com as

mudanças ao longo da vida. Quanto maior for a ansiedade gerada na família

em qualquer fase de transição, mais difícil e/ou disfuncional será o processo de

transição.

A família também terá de lidar com os fatores estressantes atuais

provocados pelo meio ambiente socioeconômico e influenciados pelo

acontecimentos históricos da época e lugar em que vivem. Embora a família

possa ser considerada um sistema em constante movimento, ela difere de

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outros sistemas pois só tem a possibilidade de incorporar novos elementos

através do nascimento, do casamento ou da adoção; a exclusão só se dá pela

morte. Não se escolhemos os relacionamentos familiares, salvo o casamento, e

não temos como alterar as relações na rede complexa de laços familiares.

Quando agimos como se as relações familiares fosse uma questão opcional,

perdemos nosso próprio sentimento de identidade e a possibilidade de

experimentar o contato afetivo e social que o convívio familiar proporciona.

Existem alguns processos a serem negociados ao longo dos

diferentes estágios do ciclo de vida familiar: a expansão, a contração e o

realinhamento do sistema de relações da família para permitir a entrada, a

saída e o desenvolvimento de seus membros de maneira funcional. O

desenvolvimento clássico do ciclo de vida de uma família, por exemplo, se

inicia no estágio do jovem adulto, quando um homem e uma mulher se casam,

formando uma nova família. Nesse momento há a necessidade de realizar a

separação e a diferenciação da família de origem, fazendo a passagem de

maneira harmônica, sem criar conflitos ou rompimentos. O sucesso ou fracasso

dessa fase influenciará como, quando e com quem o jovem adulto se casará e

cumprirá os outros estágios do ciclo vital.

O próximo estágio do ciclo vital, do recém-formado casal, exige que

uma série de questões pessoais definidas pela família de origem sejam

renegociadas. Além disso, é preciso que o casal definam as novas relações

com suas famílias de origem, como a frequência das visitas aos pais, a

distância física e emocional a ser mantida, dentre outras questões.

A chegada do primeiro filho inaugura um novo ciclo da vida familiar,

impondo novos comportamentos ao casal de pais e desafiando-os a manter a

intimidade e, ao mesmo tempo, abrir espaço para acolher um novo membro. A

chegada dos filhos à adolescência precipita a necessidade de redefinição das

relações familiares. As famílias com adolescentes precisam estabelecer novas

fronteiras, mas que sejam flexíveis o suficiente para permitir oscilações entre

os comportamentos de independência e os momentos em que o adolescente

sente necessidade de buscar a proteção e orientação dos pais.

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A saída dos filhos de casa, uma etapa do ciclo vital também

conhecida como “Síndrome do Ninho Vazio”, é o momento em que os filhos

mais velhos começam a partir e, ao mesmo tempo, inicia-se a etapa da entrada

dos cônjuges e netos. Muitas vezes, esse estágio coincide com situações de

adoecimento e morte na família e exige do casal uma renegociação do

casamento, que já não pode funcionar com base nas funções parentais.

Freqüentemente, essa fase envolve sentimentos de vazio e depressão.

A família mais velha deve enfrentar mudanças importantes e, muitas

vezes, dolorosas, como morte do cônjuge e a perda da autonomia. Em todos

os estágios, no entanto, a família enfrenta novos desafios e cada etapa do

percurso é construída sobre a precedente. A cada mudança se deparam com a

instabilidade, a tensão e o desequilíbrio. Dependendo da habilidade com que a

família mobiliza padrões alternativos de reação, nos momentos em que se

sentem pressionadas a fazer mudanças internas e externas, oriundas de seus

próprios membros ou do meio social, esse sistema será mais ou menos forte

para enfrentar as etapas seguintes do ciclo vital.

A FAMÍLIA COMO UM SISTEMA

A partir da Teoria dos Sistemas podemos conceber a família como

sistema aberto, que troca materiais, energia e informação com o meio ambiente

à sua volta. A família se constitui de um conjunto de regras de comportamento

e por funções dinâmicas que estão em constante interação e intercâmbio com

o meio externo. Embora possa ser percebida como um sistema em sí, a família

é um sub-sistema de um sistema maior: a sociedade. Como unidade, ela

também é constituída de sub-sistemas: seus membros, suas díades (pai-filho,

mãe-filha), o sexo, as gerações e interesses e funções. Cada um desses sub-

sistemas tem suas fronteiras, ou seja, as regras que definem quem e como

pode-se participar; essa é função que cada sub-sistemas tem para manter-se

diferenciado.

Além dessa função, existem outras, mais específicas, que impõem

exigências a seus membros. Portanto. É importante que as fronteiras sejam

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bem definidas para que seus membros possam exercer essas funções. Uma

boa avaliação do funcionamento familiar pode se basear na observação da

delimitação das fronteiras entre os sub-sistemas familiares. As famílias com

pouca individualidade e privacidade geralmente são aquelas cujos sub-

sistemas são pouco diferenciados e se encontram fusionados.

A estrutura familiar é moldada pelas relações dentro do sistema,

estando este permanentemente aberto a novas formulações, adaptações e

respondendo às necessidades de mudança de cada membro. Uma família

saudável é sempre dinâmica e está em constante processo de evolução e

transformação. Como qualquer outra organização social, tem regras, política e

padrões de comportamento próprios. Seu bom funcionamento depende de

uma clara separação entre as gerações e da possibilidade que é dada a cada

membro de experimentar se sentir parte de um todo seguro e acolhedor.

O mais importante, para o terapeuta de família, é o que ocorre entre

os membros, suas relações e interações. O desenvolvimento de cada membro

é percebido através dos processos interativos dos quais participa. As

mudanças nas funções de um indivíduo acarretam alterações nas funções

complementares dos outros membros da família. Uma família saudável é

aquela que, através do tempo e dos ciclos de vida familiar, permite que o

processo de crescimento e a reorganização do sistema familiar ocorram

continuamente.

TEORIA DA COMUNICAÇÃO

A Teoria da Comunicação elaborada a partir de pesquisas

desenvolvidas por Gregory Bateson, Jay Haley, Don Jackson e Weakland, na

década de 50, em Palo Alto, Califórnia; tornou-se um dos pilares da Teoria

Familiar Sistêmica. Ponciano nos fala da importância do conceito de

comunicação para o campo da terapia familiar apontando alguns aspectos

“Por ser restrito ao grupo humano; por permitir o estudo da linguagem; por incluir o ruído, caminhando para a complexidade; por não excluir a noção de sentido.”

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(Ponciano, 1999, p. 93)

Assim, a comunicação humana pode ser analisada segundo a

sintaxe, a semântica e a pragmática. A sintaxe refere-se à maneira como as

palavras são organizadas para compor as frases e sentenças; é o modo pelo

qual a informação é transmitida. Assim, a sintaxe está ligada às propriedades

estilísticas da linguagem. O significado é o reino da semântica, refere-se à

clareza da linguagem, à existência de sistemas de comunicação privados

(subsistemas) ou compartilhados (pelo sistema como um todo); assim como

também refere-se à concordância versus confusão da comunicação (Nichols e

e Schwartz, 1998).

Finalmente há o pragmatismo, ou o efeito comportamental da

comunicação, que é o aspecto mais relevante da teoria da comunicação

aplicada à Terapia de Família, é a base para compreendermos o

comportamento em qualquer sistema familiar. Para avaliar os efeitos da

comunicação, é necessário considerar o comportamento não verbal e o

contexto da comunicação, bem como as palavras empregadas.

Jackson (1968) descreve duas modalidades básicas de

comunicação: complementares e simétricas; baseando-se em uma pesquisa

sobre ciclos de interação auto-reforçadores desenvolvida anteriormente por

Bateson numa comunidade em Nova Guiné. Os ciclos complementares são

baseados em diferenças que se ajustam (dominação/submissão;

ajuda/dependência). Os ciclos simétricos são caracterizados pela minimização

das diferenças, ou seja, na busca de igualdade entre os pares(o

comportamento de uma pessoa espelha o comportamento da outra). Os dois

tipos de comunicação foram reconhecidos por Jackson, como fazendo parte

tanto de relações saudáveis, como também podendo assumir formas rígidas,

produzindo ou não distúrbios ou patologias.

O grupo de Bateson, privilegiando a observação do comportamento

e da comunicação, procurou determinar uma série de axiomas sobre as

implicações interpessoais da comunicação. Estes axiomas são um aspecto da

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metacomunicação, que significa a comunicação sobre a comunicação

(Watzlawick et al,1973).

O 1º axioma é que as pessoas estão sempre se comunicando.

Como todo comportamento é comunicativo e uma pessoa não tem como deixar

de se comportar, conclui-se que: as pessoas não podem não se comunicar.

Neste sentido, entendemos comunicação como qualquer tipo de interação

interpessoal , sem a necessidade de haver uma compreensão mútua,

consciente e com êxito.

O 2º axioma é que todas as mensagens têm um relato e uma

função de comando. O relato ou conteúdo de uma mensagem transmite

informação, enquanto o comando é uma afirmação sobre a definição do

relacionamento entre as pessoas que falam. Nas famílias, as mensagens de

comando são padronizadas como regras. A padronização regular das

interações estabiliza os relacionamentos. As regras ou regularidades da

interação familiar operam para preservar a homeostase familiar, um equilíbrio

comportamental aceitável dentro da família. O conceito de Jackson de

homeostase familiar descreve o aspecto conservado dos sistemas familiares e

é similar ao conceito de retroalimentação negativa encontrado na Teoria Geral

dos Sistemas (Nichols e Schwartz, 1998).

A Teoria da Comunicação não aceita a causalidade linear, nem

busca motivos subjacentes para o comportamento, em vez disso assume a

causalidade circular e analisa comportamentos específicos que ocorrem no

momento presente.

Os teóricos da comunicação observaram comportamentos que se

constituíam em padrões de comunicação ligados uns aos outros em cadeias de

estímulo e resposta. Este modelo de causalidade seqüencial permitia aos

terapeutas tratarem as cadeias comportamentais como movimentos retro-

alimentadores. Quando a reação ao comportamento problemático de um

membro da família exacerbava o problema, essa cadeia era vista como um

movimento retro–alimentador positivo. A vantagem clínica desta formulação é

que ela se concentrava em interações que perpetuavam problemas que

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poderiam ser mudados. Assim, o objetivo da terapia familiar baseada em

princípios da Teoria da Comunicação era realizar “uma ação intencional para

alterar padrões de interação com funcionamento deficiente.” (Watzlawick et al,

apud Nichols & Schwartz, 1998: 163).

Estas idéias à respeito da comunicação foram sendo cada vez mais

elaboradas pelo grupo de Bateson e acabaram sendo estendidas para a área

clínica. Desenvolveram uma pesquisa sobre a comunicação em famílias

constituídas com um membro esquizofrênico, especialmente jovens adultos e

seus pais. Esta pesquisa é considerada um dos marcos iniciais não só da

Terapia de Família, como da ênfase na relação, até então quase ignorada na

área, vinculada às noções de comunicação e linguagem, em contraposição à

importância dada à subjetividade e ao indivíduo isolado. Dos resultados desta

pesquisa, surge o conceito de “duplo-vínculo”, que foi a forma mais precisa de

exemplificar a nova formulação teórica que surgia para a compreender a

esquizofrenia, privilegiando a noção de interação pela comunicação. O conceito

de “duplo-vínculo”, implica na existência de uma duplicidade nos níveis de

comunicação inerente à toda mensagem. Há, portanto o nível verbal (literal) e o

metacomunicacional (metafórico) no relato. Quando há congruência entre eles,

teremos a compreensão mútua das partes envolvidas. Porém, a comunicação

torna-se patológica quando estes níveis forem incongruentes, paradoxais ou

contraditórios, levando o receptor a um estado de confusão e paralisia. Isto

acontece quando este é incapaz de discriminar a mensagem ou quando há

uma negação de um nível sobre o outro na mensagem transmitida. O duplo

vínculo pode resultar um sério distúrbio que se dá num contexto

particularmente significativo entre os membros envolvidos. Para o grupo de

Palo Alto, o esquizofrênico é fruto deste padrão de comunicação, no qual

existe um contexto relacional ameaçador e confuso, que acaba por torná-lo

incapaz de se expressar de forma saudável, por medo de atacar diretamente o

outro.

Cibernética

"A visão cibernética do mundo tem sido apontada como um salto do mundo da matéria

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para o mundo dos padrões de relações: faz os padrões passarem a ser figura, deixando os objetos como fundo."

(Vasconcellos, 1995, p. :28)

A Cibernética, nasce como disciplina científica, no final dos anos 40,

fundada pelo alemão Norbert Wiener. A Cibernética trouxe na base de seus

questionamentos, o estudo dos princípios de organização que permeiam e

constituem simultaneamente os diversos fenômenos. Desde as máquinas

artificiais aos organismos vivos e fenômenos psicológicos e sociais. Havia uma

preocupação em estabelecer uma correspondência entre estes sistemas.

Considerava-se que estes obedeciam princípios organizacionais ligados à

informação. A ênfase na analogia dos sistemas (homem/natureza) forneceu

sustentação para uma concepção ecológica dos processos de comunicação,

dando forma a epistemologia desta nova disciplina. A informação é o princípio

organizador dos sistemas em questão1.

Wiener preocupava-se em conceber máquinas que pudessem ter um

propósito em seu funcionamento e operar de forma a manter e cumprir seus

objetivos. A ligação entre objetivo e os meios utilizados para alcançá-lo,

implicava existência de um mecanismo circular de controle dos elementos

constituintes do sistema que o levasse a corrigir seu funcionamento, de forma a

atingir seu objetivo (estabilidade), otimizando seu rendimento. Assim, nasce o

conceito de retroalimentação, processo pelo qual um sistema recebe a

informação necessária para se auto-corrigir no percurso em direção ao objetivo

programado. O mecanismo de retroalimentação pode conter

1 “A teoria da informação de Shannon baseia-se em um sistema de comunicação, no qual uma mensagem

é transmitida de um emissor a um receptor, com um repertório em comum (código), através de um

canal. A mensagem é composta por signos ou sinais que podem ser decompostos em unidades de

informação (bits). Essa teoria influenciou a teoria da comunicação” (PONCIANO, 1999).

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tanto informações a respeito das influências do meio externo ao sistema,

quanto informações sobre o relacionamento entre os seus componentes,

agindo como um sistema auto-regulador. A retroalimentação pode ser positiva

ou negativa, ou seja, diz respeito ao efeito que ela produz dentro do sistema na

sua busca de estabilidade (homeostase). A retroalimentação negativa reduz o

desvio (mudança) no sistema enquanto que a retroalimentação positiva o

amplifica. Os fenômenos passam a ser vistos não mais como entidades

estanques, mas como organizações complexas regidas por princípios de

regulação e controle (Rapizo, 1996).

A partir da rede conceitual derivada da Cibernética, Rapizo (1996)

apresenta um princípio fundamental que foi trazido para o campo da Terapia

Familiar. O princípio de homeostase dos sistemas. É o mecanismo de

retroalimentação que irá garantir esta estabilidade no sistema, traduzindo-se

num modelo primitivo de circularidade dos sistemas.

Gregory Bateson, um teórico da comunicação, foi um dos principais

articuladores entre os modelos cibernéticos e sociais. Em uma pesquisa sobre

comunicação e esquizofrenia, iniciada em 1952, apoia-se em princípios

cibernéticos para compreender as relações humanas. Interessou-se

principalmente nos processos de retroalimentação destes sistemas. Seus

estudos provocaram uma importante mudança conceitual na compreensão dos

sistemas familiares - da causalidade linear para a causalidade circular.

É no contato entre as Ciências Humanas e a Cibernética que surge

a Terapia Familiar Sistêmica. Em seus primórdios buscava entender a família

como um sistema, no qual seus membros interagem circularmente

(causalidade circular), na procura de um padrão de funcionamento estável

(homeostático), e que obedecem regras relacionais. Este sistema, quando

ameaçado em seu funcionamento (crise), tende a corrigir o “desvio” através de

comportamentos compensatórios (retroalimentação negativa) para a

manutenção da homeostase familiar (auto-regulação).

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AS INTERAÇÕES FAMILIARES E SOCIAIS NAS

RELAÇÕES ESCOLARES

Os procedimentos pedagógicos, em educação especial, nem sempre

são do conhecimento das famílias. Algumas mães comentam que o professor

de seus filhos não lhes diz o que é feito para o seu desenvolvimento, em sala

de aula. As poucas que se dizem informadas a respeito do que seus filhos

fazem na classe, não sabem esclarecer bem as vantagens sobre aquelas

atividades propostas pelo professor durante o período que seus filhos

permanecem na escola.

Ferreira (1993) ao comentar sobre as propostas de seleção e

organização do conteúdo curricular nas escolas especiais, refere-se à

tendência de identificar a especificidade da educação para este aluno em três

itens que relaciona, a seguir:

habilidades do dia-a-dia, extra-acadêmicas, que o deficiente não desenvolve por si ou sem a escola;

superação de problemas de personalidade e de interação social como, por exemplo: baixa tolerância à frustração, falta de atenção, autoconceito reduzido, baixo nível de socialização;

habilidades básicas, tipicamente psicomotoras, pré- requisitos para o domínio da escrita, leitura e cálculo - a chamada "prontidão".

(Ferreira, 1993: 55)

O autor, entretanto, critica a evidente generalização dos conteúdos

selecionados em relação às necessidades educativas especiais dos deficientes

“severos e dos leves”. Em relação às atividades de vida diária, apresentadas

no primeiro e terceiro itens, questiona a eficácia dos programas de prontidão,

lembrando que é comum que as escolas criem os programas considerando

apenas a idade mental, dando a crianças com doze anos atividades

normalmente desenvolvidas pelas de seis, reduzindo suas possibilidades de

desenvolvimento, acabando por criar desinteresse nos alunos por desgostarem

das atividades impróprias para sua faixa etária ou, então, cuidam para que

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ocupem o tempo na escola em atividades puramente recreativas, levando-as a

desenvolver atitudes de desinteresse e acomodação, sem procurar incentivá-

las a avançar na construção de novos conhecimentos.

Outro equívoco nos programas escolares destinados a essas

pessoas é o de subestimar as suas potencialidades para o aprendizado da

leitura e escrita, dedicando pouco investimento pedagógico para, efetivamente,

apoiá-los na construção destes conhecimentos.

Muitas vezes o enriquecimento destes planejamentos poderia ser

obtido se os pais ou parentes próximos fossem consultados sobre as atividades

cotidianas destes alunos. Há muitos relatos de pais sobre desempenhos de

seus filhos dentro e fora da escola mostrando como a escola, em certos

momentos, é limitante deste desempenho por não considerar o potencial

destes alunos.

Laudivar (1990), ao comentar este fato, diz que, para muitos pais,

seu filho sabe muito mais do que realmente faz e demonstra saber na escola,

reconhecendo que este fato é comprovado por todos os profissionais que estão

em contato com a educação especial. Segundo este mesmo autor,

"Antes de mais nada, é necessário perceber que isto é compreensível. E, por outra, parte, antes de se julgar como supervalorização subjetiva, será necessário a comprovação minuciosa. Pois estou seguro de que uma mãe e um pai sabem de seu filho muito mais que nós".

(Laudivar, 1990, P. 31)

Neste aspecto, Paín (1981) recomenda que para evitar a

dissociação entre os conhecimentos adquiridos em classe e aqueles

incorporados pela criança em sua vida cotidiana é necessária uma

coordenação estreita entre ambos, e a inclusão mútua de aspectos que

permitam uma continuidade significativa.

As mães mais atentas aos procedimentos metodológicos da escola

em relação à educação de seus filhos, sendo ou não conhecedoras do assunto,

são capazes de detectar esta falha de elaboração do currículo. Entretanto,

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percebe-se, em seu contato com a escola, o receio de abrir essa discussão

com o professor, temendo que ele não aceite a crítica por considerá-la

infundada, já que os pais, geralmente, não possuem cursos na área

pedagógica.

Em seu trabalho sobre integração, Goffredo (1991) também faz

comentários sobre o afastamento do processo pedagógico que a escola impõe

aos pais como o seguinte:

"Acrescenta-se, ainda, a todo esse panorama um outro ponto obstaculizante a essa integração, o distanciamento que as escolas, dentro da amostragem analisada, impunham às famílias desses alunos, não sendo estimuladas ou sequer solicitadas a uma participação na dinâmica escolar".

(Godofredo, 1991, p. 51)

Sabemos que as crianças e adolescentes que possuem

necessidades educativas especiais, geralmente, respondem mais

favoravelmente aos programas de ensino ou de estimulação se os pais e

professores forem parceiros ao invés de trabalharem isoladamente.

Outro fato que merece atenção é o de que em virtude das

necessidades de apoio em fisioterapia, psicologia e fonoaudiologia, e pelo fato

desses recursos não estarem disponíveis em um só local, torna-se, muitas

vezes, cansativo e dispendioso para as mães, familiares e para o próprio

indivíduo, deslocarem-se, em um mesmo dia, para vários lugares em bairros

distantes buscando esses atendimentos. Muitas vezes, ao chegarem na escola,

já se encontram cansados e sem condições de participarem das atividades

escolares.

Essas atividades, que tomam a maior parte do tempo, interferem

intensamente na rotina da vida em família, comprometendo a criação dos

outros filhos que são impulsionados a resolverem sozinhos seus problemas

diários para os quais nem sempre estão aptos, podendo vir, também, a

apresentarem um baixo desempenho escolar, problemas psicológicos ou

abalos na saúde global. Na maioria das vezes os pais, para acompanhar o

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trabalho feito com o filho portador de deficiência ou altas habilidades, acabam

por sobrecarregarem os irmãos mais velhos, fazendo-os substituí-los em

funções dentro da família, principalmente, naquelas relacionadas aos irmãos

mais novos, privando-os, muitas vezes, dos momentos de lazer e

aprimoramento dos estudos, o que de alguma forma faz com que se sintam

enciumados e aborrecidos com o irmão portador de deficiência. Conforme

comenta Buscaglia (1993)

"Quase sempre os irmãos de um deficiente se referirão ao tratamento injusto que lhes é dado em oposição ao que é dispensado ao irmão ou irmã deficiente. 'Ele pode fazer qualquer coisa e sair impune. O que quer que aconteça, nós somos culpados, pois devíamos saber como agir certo'. Não é de se espantar que a rivalidade entre irmãos seja grande nesses lares. É muito difícil amar e aceitar alguém que, de uma forma indireta, é sempre responsável por seu sofrimento e infelicidade”.

(Buscaglia, 1993, p. 136)

Parece-nos que a expectativa de futuro, em certos momentos, torna-

se sombria para algumas dessas mães, especialmente para aquelas cujos

filhos apresentam laudos com prognósticos pessimistas, que as levam a

enxergar poucas saídas empreendendo um grande esforço na busca de

soluções, como no caso da mãe de um rapaz portador de distrofia muscular,

citado na tese de mestrado de Agarez, 1993, mostrando que diante de uma

questão tão séria, mesmo assim, ela não se dava por vencida e continuava a

procurar os recursos médicos possivelmente existentes em São Paulo na

esperança de poder ajudar o filho a vencer suas dificuldades.

Para Fromm (1969):

"A esperança é um acompanhamento psíquico da vida e do crescimento... Quando a esperança desaparece, a vida termina, na realidade ou potencialmente. A esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, da dinâmica do espírito do homem. Ela está intimamente ligada a outro elemento da estrutura da vida: a fé".

(Fromm, 1969, p. 30)

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Da mesma forma que essa mãe demonstra tanta fé, na possibilidade

real de encontrar uma solução em São Paulo, também exprime o sentimento

de um outro tipo de fé, a de um milagre trazido pelas mãos de Deus.

Sabemos da preocupação que as mães têm com o futuro dos filhos.

O que poderia significar ter um futuro seguro, principalmente para o filho

portador de deficiência, torna-se uma conquista a ser perseguida pelos seus

pais e familiares já que ele não a poderia alcançar com o próprio esforço

devido às condições limitantes que a deficiência lhes impõe e pela total

desinformação a respeito das possíveis alternativas de acompanhamento.

No comentário de Buscaglia (1993), apresentado abaixo,

percebemos que o projeto de vida destas famílias poderia ser menos doído se

pudessem contar com o apoio dos profissionais com os quais dividem o

desenvolvimento dos filhos portadores de deficiência.

"em uma época de conhecimento, percepção e mudanças, o desespero paterno pode ser lentamente sustituído pela esperança racional, se o terapeuta se dispuser a dedicar algum tempo para lhes explicar o milagre ocorrido nos últimos vinte anos em termos de identificação, tratamento, serviços, programas e progresso médico".

(Buscaglia, 1993, p. 61)

Nas palavras de Augras (1981): No planejamento do próprio futuro e

no dos filhos, a mãe tece uma rede de possibilidades que possam garantir o

bem-estar e a segurança da família, mesmo sabendo que não é dona do tempo

nem tem absoluto controle dos acontecimentos futuros. Entretanto, diante da

possibilidade de morrer antes deste filho, o seu projeto parece frágil e

inconsistente.

(...) "O futuro e os possíveis dos homens esbarram no obstáculo que vem revelar uma cisão ainda mais funda talvez, seguramente mais dolorosa. Na lonjura desponta a morte. O ser do projeto é apenas, irremediavelmente, o ser para a morte. A morte que denuncia a possibilidade dos possíveis”.

(Augras, 1981, p. 22)

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As mães, geralmente, revelam-se mais preocupadas do que os pais

e outros parentes próximos, com a possibilidade, ante a morte, de deixar de

existir, deixar de estar no mundo para cuidar de seu filho. A sua morte

significaria desamparo para ele. O pensar na própria morte, aparentemente,

não as afligem a não ser pelo medo de deixarem os filhos desprotegidos.

(Agarez, 1993)

A maioria das pessoas pensa na morte como um acontecimento

distante que parece jamais vai atingi-las e, sim, aos outros. De certa forma,

pensar que se é imortal alivia a angústia de viver. As mães, em geral,

independentes de terem filhos com necessidades especiais, tendem a ignorar a

angústia da mortalidade como um mecanismo defensivo já que terão de pensar

racionalmente na própria morte como uma realidade a ser considerada para

poderem programar o futuro de seus filhos ou, então, reprimir esse sentimento,

exatamente, porque é desesperador pensar que não mais poderão proteger um

filho portador de deficiência. Negando, então, a morte.

Na visão dialógica, que o filósofo chinês Yutang (1945) traz sobre a

morte, podemos perceber a possibilidade de construir projetos mais seguros se

a encararmos de frente. Vejamos uma pequena parte de sua análise onde

grifamos o parágrafo que fundamenta nossos comentários.

"A crença na mortalidade, a sensação de que nos vamos extinguir como a chama de um círio é algo gloriosamente belo. Faz-nos sóbrios; faz-nos um tanto tristes; e a muitos nos torna poéticos. Mas, sobretudo, nos torna possível preparar nosso ânimo e regular nossa vida sensatamente, verazmente, e sempre com o senso das nossas limitações. Dá também a paz, porque a verdadeira paz de espírito provém da aceitação do pior. Psicologicamente, creio, significa uma liberação de energias (...) Privada da mortalidade, a proposição de viver torna-se uma simples proposição. É esta: que os seres humanos têm um limitado prazo para viver nesta terra, raramente mais de setenta anos, o que portanto temos de arranjar nossas vidas de maneira que vivamos o mais felizmente possível”.

(Yutang, 1945, p. 152)

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Em nossa sociedade, cuidar do filho, protegê-lo, preparar seu futuro

é função basicamente da mãe. Assim, da mesma forma que diplomar um filho é

motivo de orgulho para ela significando que cumpriu bem o seu papel, não

obter tamanha conquista pode representar um fracasso e provocar-lhe

sentimento de frustração.

Com as mães de portadores de deficiência, o processo de

preparação do futuro desses filhos é semelhante, com alguns agravantes

quando ele é dependente fisicamente ou incapaz de obter progressos

intelectuais que facilitem sua integração social e a independência econômica.

“Sendo a morte um acontecimento imprevisto, pode ser visto por elas como uma permanente ameaça aos seus projetos para o futuro do filho, mesmo que sejam de curto prazo. A consciência dessa possibilidade cria-lhes sentimento de medo e insegurança”.

(Agarez, 1993)

Percebemos, também, que em virtude da enorme dificuldade de ter

alguém que as substitua ocupando-se desse filho e por não existirem escolas

de horário integral compatíveis com suas condições econômicas, acabam por

ter uma maior preocupação, também em relação ao futuro dos outros filhos

pelo fato de que, na sua ausência, os filhos mais velhos sejam obrigados a

assumir a responsabilidade pelas necessidades especiais do irmão e em

virtude disto venham a ter dificuldades na vida profissional e afetiva, uma vez

que assumindo tais responsabilidades passam a arcar com uma nova rotina de

compromissos que, certamente, interferirão em seus projetos pessoais.

Analisando a morte de uma forma diferente da representada pela

morte física, biológica, e procurando avaliá-la em experiências de separação de

identidade entre mãe e filho, Mannoni (1988) comenta que, em certos casos, a

obtenção da independência de um filho deficiente pode vir a significar a morte

para a mãe. Isso se deveria, segundo a autora, ao fato de que algumas delas

se utilizarem da problemática do filho deficiente para manifestarem, de forma

mascarada, os seus próprios problemas.

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Esta reação seria natural, segundo a autora, por parte de algumas

mães que, ao dedicarem suas vidas a esse filho, abdicaram de seus direitos e

prazeres, normais a qualquer mulher, para melhor atendê-lo. No momento em

que ele se torna independente, vêem-se destituídas de um papel que julgavam

representar com eficiência e consideravam de maior importância. Conforme

avalia Maranhão (1984), no texto a seguir.

"O papel de mãe está entranhado na identidade da mulher, sendo vivido como parte de seu destino. Nesse papel o lar é transformado em seu reino onde a mulher, potencialmente, tem imenso poder, através da criação dos filhos”.

(Maranhão, 1984, p. 56)

Um outro aspecto do sofrimento, expresso na ansiedade ou no medo

pela própria morte, está contrariamente apresentado, em certas circunstâncias,

como um desejo de dar fim a uma situação doída e sem possibilidades de ser

solucionada, como o desejo reprimido de "Deus levar o filho para ele parar de

sofrer”.

Este desejo pela morte do filho como solução está claro na fala de

Xavier em “O Outro Lado do Arco-íris” (1984), quando comenta:

"Passei a noite inteira ao lado da cama de Ricardo, acordada, rezando. Nem sei bem o que eu pedia, acho mesmo que até pedia que Deus tivesse pena de Ricardo, que levasse o Ricardo, que não o deixasse sofrer mais. Naquelas horas difíceis, a noite sempre me pareceu muito amedrontadora por ser longa, arrastando-se quando temos problemas difíceis, os pensamentos mais variados me vinham à cabeça. Eu tentava me confortar e até lembro que conversei de certa forma com Deus. Eu tentava dizer a Ele, nosso Pai, que se a vinda de Ricardo tão doentinho era uma prova, como dizem os espíritas, era algo como uma mensagem, queria significar algo que eu não conseguia compreender, que mesmo que Ricardo morresse - eu prometia solenemente que, eu não deixaria de me interessar por crianças excepcionais, continuaria a trabalhar por elas e por seus pais, mas, por favor, não deixasse Ricardo continuar sofrendo”.

(Xavier, 1984, p. 93)

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Acredito que seja mais fácil para essa e qualquer outra mãe,

simplesmente não pensar na morte do que tê-la como uma possibilidade de

terminar com o sofrimento do filho afetado neurologicamente com gravidade,

pois a perda de um filho, em qualquer circunstância, costuma ser muito

dolorosa para as mães.

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A CO-DEPENDÊNCIA DA MÃE E FAMILIARES AOS

PROBLEMAS VIVIDOS PELO PORTADOR DE

DEFICIÊNCIA

Percebemos que essas mães, além de contarem com as próprias

limitações da vida diária, da lida com o filho portador de deficiência, são ainda

impelidas pela sociedade a negarem qualquer possibilidade de realização

pessoal, recebendo desestímulo da família e dos conhecidos, como se sua

única função social fosse a de olhar por esse filho. Uma espécie de

condenação, a qual ela estaria submetida por toda vida.

Knobel (1992), referindo-se a essa forma de anulação, diz que todo

indivíduo tem o direito de melhorar suas condições, de realizar-se em diversos

planos, considerando que a maternidade seja mesmo a máxima realização da

mulher, não há necessidade de renunciar a outros sucessos, vendo como um

sinal de capacidade humana que a mulher trabalhe, lute por condições

melhores e crie seu filho com amor: afirmando que quanto mais satisfeita,

melhor sua relação com seus filhos e muito melhor ainda seu trabalho.

Há, entretanto, aquelas mães que já formadas e em plena atuação

no mercado de trabalho acabam abandonam suas profissões para se

dedicarem integralmente aos filhos com necessidades especiais, em função da

pressão social, que numa leitura equivocada da situação, exige dessa mulher

que tenha dedicação total ao filho.

Esta exigência da sociedade, se não for atendida, acaba por gerar

sentimentos de culpa sempre que existir algum problema com a criança e

quando a escola pedir a sua presença em horários em que está trabalhando,

como comenta Maldonado (1977) a seguir.

"... se a mãe, por motivo de estudo ou

trabalho, está ausente de casa, geralmente, 'veste a carapuça' da culpa na medida em que ainda é sua tarefa de zelar pelo bem-estar físico e psíquico do filho”.

(Maldonado, 1977, p. 34)

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Sabemos que o grau de estudo, geralmente, está relacionado com a

possibilidade de interação do indivíduo com o seu grupo social. Quando

adquirimos mais informações sobre o ambiente em que vivemos, aumentamos

as condições de modificá-lo em nosso benefício. Infelizmente, o estudo, assim

como o trabalho, também não é permitido a estas mães.

Este princípio tem norteado uma conduta política cruel que ao levar

estas mães e outros familiares a se desinteressarem pelo estudo para

dedicarem-se exclusivamente aos seus filhos, automaticamente diminui sua

força de luta por melhores condições de vida, impedindo-as de se tornarem

independentes, de participarem mais ativamente dos programas escolares

oferecidos a seus filhos e de buscarem os direitos que a lei lhes reserva.

Cunha (1983), chama a atenção para esta condição de

independência feminina salientando que, através dela, é que criamos

possibilidades de cidadania plena.

"Ser independente é não só, no sentido físico, prover por si próprio suas necessidades, mas também se bastar politicamente e poder exercer, por si mesmo (e sem se submeter cegamente à razão de outros), os direitos garantidos por lei”.

(Cunha, 1983, p. 32)

Este autor considerando que a educação deve ser, antes de mais

nada, libertadora, entende que, para tal, deva ter como objetivo: Ensinar a

todos os cidadãos os conhecimentos necessários ao exercício dos direitos

comuns ao gozo da independência, que os colocarão em estado de se

conduzirem a si mesmos, sem recorrerem a nenhuma razão estranha; de

gozarem seus direitos naturais; de exercerem uma profissão remunerada, em

poucas palavras, de não dependerem senão de si mesmos nos atos ordinários

da vida econômica, intelectual, moral e social.

Para os familiares de pessoas portadoras de necessidades

educativas especiais, principalmente para as mães, conquistar a independência

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é uma necessidade básica para que possam cumprir o papel de tutores

garantindo o cumprimento dos direitos destas pessoas.

Para não correrem o risco de serem culpabilizadas por

abandonarem os filhos, "trocando-os" pelo trabalho ou escola, o trabalho

doméstico passa, segundo Maranhão (1984), a ser a única opção de sustento

para estas mulheres, justificando que:

"O trabalho doméstico é, então, vivido pela mulher como fazendo parte de um destino do qual não se pode fugir. Não é, portanto, desejado e nem buscado, constituindo-se em uma herança do feminino. A desvalorização social do trabalho doméstico está interiorizada nas próprias mulheres que se consideram menores quando se dedicam a essas tarefas. Sentem-se alienadas, insatisfeitas, não participantes e são assim consideradas pelo social”.

(Maranhão, 1984, p. 72)

Exigir que as mulheres, responsáveis por pessoas portadoras de

deficiências, saiam do emprego ou deixem de estudar para ocuparem-se

somente deles é criar uma co-dependência transformando-as em incapazes. P.

Cardoso (1981) aponta um outro tipo de violência que se constitui contra esta

mulher quando dela se exigir tudo: que engravide, sofra o parto, amamente e

eduque a criança; que trabalhe fora e dentro de casa, que seja uma excelente

profissional, boa esposa e boa mãe e que sua sexualidade esteja a serviço do

homem.

Embora essas mulheres apresentem momentos de fraqueza ou de

desânimo, é comum, talvez pelo fato de não contarem com muito apoio, que

não permaneçam neste estado por muito tempo, reagindo como se estivessem

em um campo de batalha, não podendo dela fugir. Como relata uma das mães

em entrevista concedida na tese de mestrado defendida por Agarez em 1993.

- Nós que somos mães dessas crianças precisamos lutar, por que elas confiam na gente, dependem de nós e as únicas pessoas que as amam, realmente, somos nós. Então elas só tem a nós. Como nós vamos decepcioná-las? Não dá, não dá!

(Agarez, 1993)

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É impressionante a capacidade de ir adiante que essas mulheres

possuem, apesar de não contarem muito com a ajuda de outros membros da

família. Exibem uma extraordinária capacidade de assumir suas

responsabilidades perante o filho, ultrapassando todas as dificuldades que

surgem no dia-a-dia de suas vidas, como as econômicas, o desafeto, a

desinformação, entre outras, com um forte espírito de luta.

Essa força de luta está aguçada pela natural necessidade de ter de

dar respostas imediatas às questões que surgem em decorrência de

acontecimentos imprevisíveis, como é o nascimento desse filho portador de

deficiência, a condução de seu tratamento médico e a freqüência escolar. Se

não há a menor possibilidade dessas mães passarem seus problemas adiante,

o jeito é tentar resolvê-los.

Com essa atitude, acabam por desenvolver, possivelmente, mais

que outras mulheres, a capacidade de promover transformações.

Embora pensemos ser de extrema importância abraçar esta tarefa,

não podemos perder a noção real do fato social. Cumpre ter em mente que

essas restrições, impostas à mulher, não são simples regras autoritárias

determinadas pela sociedade patriarcal , as mulheres são, ainda hoje,

educadas para aceitá-las e considerá-las apropriadas às suas vidas e com

isso acabam por ter uma atitude de recolhimento de desejos e necessidades

pessoais, inerentes ao ser humano. Este processo, atualmente, tende a ser

mudado conforme aponta Colasanti (1981)

"Somos mutantes, mulheres em

transição. Como nós, não houve outras antes. E as que vierem depois serão diferentes. Tivemos a coragem de começar um processo de mudança. E porque ainda está em curso, estamos tendo que ter a coragem de pagar por ele. Que não seja porém individualmente, em tantos sofrimentos calados. E sim em grupo, aos brados, como classe que reclama seus direitos, e cobra das outras classes aquilo que lhe faz falta”.

(Colasanti, 1981, p. 14)

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Percebemos que, atualmente, a atitude de certos maridos na relação

com as suas companheiras modifica-se em relação àquela existente em outros

momentos históricos, vividos por nossos antepassados, quando a mãe era

alguém que estaria destinada a realizar o sonho de paternidade e os desejos

fisiológicos do homem. Já observamos a divisão de tarefas domésticas entre

alguns casais e a presença de pais nas reuniões escolares como atitudes

indicadoras de um movimento de transformação das relações familiares.

Por outro lado, podemos pensar até que ponto a mulher não se

sentia premiada, nessa condição de tutelada, por ter alguém que a protegesse,

que mantendo sua dependência não exigisse que crescesse e assim não

necessitando correr riscos, assumir responsabilidades econômicas, decidir seu

destino.

Maranhão (1984) comenta este fato dizendo que no papel

acomodado essa mulher continua tendo um pai, na figura de marido

explicando:

"Nesse contexto, a maternidade, o papel de mãe de tempo integral não se constituiria em gratificação em si mesmo, mas num substitutivo, numa desculpa para manter-se dependente e protegida. Esse processo de independência envolve lutas, sofrimentos, um contato profundo com seu mundo interno, com suas defesas, com seus medos, suas limitações, ambigüidades, desejos”.

(Maranhão, 1984, p. 114)

A esse respeito, Buscaglia (1993) acrescenta o fato de que,

geralmente, a situação de um relacionamento conjugal está diretamente ligada

à capacidade de adaptação da família à existência de um membro que porte

um tipo de deficiência. Esse autor explica que o marido assume, com

freqüência, o papel do não-amado, do negligenciado. Ele tem, agora, boas

razões para se fechar em si mesmo, no trabalho, ou em atividades extra-

conjugais. “Afinal, sua mulher não liga mais para ele”. (Buscaglia, 1994: 132)

Infelizmente, esta é uma conduta comum nas famílias de portadores

de deficiência com a qual o homem se desculpa e se compensa de ser pai de

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um filho não sonhado e a mulher, por estar subjugada a ele, precisa resignar-

se a essa forma de domínio e acaba assumindo sozinha o fracasso.

Especialmente aquelas mães que já estão sofridas pelo abandono

da própria família, do marido e pela incompreensão de vizinhos e outras

pessoas têm mais dificuldade de assumir de forma plena os problemas

derivados da condição especial de vida de seus filhos portadores de deficiência

ou superdotados. Para estas mães, criar esses filhos não seria tão difícil se

contassem com o respeito da sociedade e com o cumprimento às leis que

asseguram os seus direitos.

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BIBLIOGRAFIA – COMPLEMENTAR

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AUTO-AVALIAÇÃO

Responda às questões abaixo, marcando apenas uma das alternativas.

1. O ESTIGMA DE "INCAPAZ" CARREGADO PELO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, GERALMENTE:

( A ) NÃO INTERFERE NA SUA VIDA FAMILIAR

( B ) INTERFERE NA VIDA FAMILIAR DE MODO POSITIVO

( C ) INTERFERE NA VIDA FAMILIAR DE FORMA NEGATIVA

( D ) NÃO HÁ NENHUMA RELAÇÃO ENTRE O ESTIGMA E A SUA VIDA FAMILIAR

( E ) INTERFERE APENAS NA RELAÇÃO MATERNA,

2. AS RELAÇÕES ENTRE OS IRMÃOS, A MÃE E O PAI DO INDIVÍDUO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, TENDEM A

SER:

( A ) SEMPRE DIFÍCEIS EM RESPOSTA ÀS PRESSÕES SOCIAIS

( B ) TRANQÜILAS E INDIFERENTES ÀS PRESSÕES SOCIAIS

( C ) MODIFICADAS CONTINUAMENTE EM RELAÇÃO À MAIOR OU MENOR PRESSÃO IMPOSTA PELA SOCIEDADE

( D ) INDEPENDENTES DAS PRESSÕES SOCIAIS

( E ) ESTÁVEIS MESMO QUANDO SUBMETIDAS ÀS PRESSÕES SOCIAIS

3. EM RELAÇÃO AO PROJETO DE TRABALHO ESCOLAR DESENVOLVIDO COM OS ALUNOS PORTADORES DE

NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS, PODEMOS AFIRMAR QUE:

( A ) A FAMÍLIA É SEMPRE INFORMADA

( B ) A FAMÍLIA NÃO SE INTERESSA EM SABER, JÁ QUE CONFIA TOTALMENTE NA ESCOLA

( C ) A FAMÍLIA É SEMPRE CONSULTADA E COLABORA DANDO INFORMAÇÕES SOBRE A ROTINA DIÁRIA DO

ALUNO FORA DA ESCOLA

( D ) A ESCOLA ENTENDE QUE É NECESSÁRIO SOLICITAR O APOIO DOS PAIS E FAMILIARES, EMBORA AINDA

NÃO SEJA UMA PRÁTICA ROTINEIRA

( E ) OS PAIS NÃO DEVEM SE ENVOLVER, JÁ QUE NÃO POSSUEM CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

4. O FATO DE UMA MÃE TER UM FILHO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA É MOTIVO SUFICIENTE PARA QUE ELA

MODIFIQUE SUA ROTINA DE VIDA OPTANDO POR:

( A ) LARGAR O EMPREGO E VIVER EXCLUSIVAMENTE PARA CUIDAR DESTE FILHO

( B ) SE AUTO-PUNIR POR SE SENTIR CULPADA

( C ) DESFAZER O CASAMENTO, JÁ QUE O PAI NÃO ACEITA O FILHO

( D ) REORGANIZAR SUA VIDA DE MODO A ACOMODAR OS HORÁRIOS DE TRABALHO, ESTUDO E ATENDIMENTO

A SEU FILHO

( E ) VESTIR A CARAPUÇA DE IRRESPONSÁVEL PELO FATO DE NÃO LARGAR O EMPREGO PARA FICAR COM

ESTE FILHO

5. AS CRIANÇAS PORTADORAS DE ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA RESPONDEM MAIS FAVORAVELMENTE AOS

PROGRAMAS ESCOLARES SE:

( A ) OS PROFESSORES FOREM DEDICADO

( B ) FOR ESTABELECIDA UMA PARCERIA ENTRE A FAMÍLIA E A ESCOLA

( C ) OS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA SEU DESEMPENHO FOREM SELECIONADOS APENAS PELA ESCOLA

( D ) SEU CONTEÚDO CURRICULAR FOR ESTABELECIDO POR SUA FAMÍLIA

( E ) TIVER MAIS ATIVIDADES DE RECREAÇÃO

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6. AS MÃES DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS TEMEM O FUTURO PORQUE:

( A ) SENTEM-SE INSEGURAS COM A POSSIBILIDADE DE AO MORREREM, SEUS FILHOS FICAREM

DESAMPARADOS

( B ) PODEM PERDER SEUS MARIDOS EM FUNÇÃO DE NÃO LHES DAR ATENÇÃO

( C ) NÃO PODENDO TRABALHAR PODEM PASSAR POR SITUAÇÕES FINANCEIRAS DIFÍCEIS

( D ) ACREDITAM QUE NINGUÉM GOSTA DELAS E DE SEUS FILHOS

( E ) A DOENÇA DO FILHO PODE SE AGRAVAR

7. NOSSA SOCIEDADE CONSIDERA COMO FUNÇÃO MATERNAL:

( A ) CUIDAR DO FILHO, PRESERVANDO SUA INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL

( B ) PROTEGER O FILHO DOS RISCOS QUE A VIDA OFERECE

( C ) PREPARAR O FUTURO DO FILHO, ESCOLHENDO OS CAMINHOS QUE CONSIDERE MAIS ADEQUADOS À SUA

FORMAÇÃO, RESPEITANDO SEUS LIMITES E APOSTANDO NAS SUAS POTENCIALIDADES

( D ) DAR EDUCAÇÃO PARA QUE O FILHO POSSA COMPETIR E SER VENCEDOR NO MERCADO DE TRABALHO

( E ) AS OPÇÕES "A", "B" E "C" ESTÃO CORRETAS

8. PARA QUE AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA TENHAM UMA EDUCAÇÃO EFICAZ, NÃO É

NECESSÁRIO:

( A ) QUE OS PAIS E PROFESSORES FOSSEM PARCEIROS NESTE TRABALHO

( B ) QUE OS PLANOS CURRICULARES APOSTASSEM NAS SUAS POTENCIALIDADES

( C ) QUE A ESCOLA NÃO FOSSE APENAS UM LUGAR DE RECREAÇÃO

( D ) QUE AS ESCOLAS FOSSEM DE HORÁRIO INTEGRAL

( E ) QUE O CURRÍCULO PROPOSTO FOSSE ADEQUADO ÀS SUAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

9. OS TRATAMENTOS CLÍNICOS INTERFEREM POSITIVAMENTE NO DESEMPENHO ESCOLAR DO PORTADOR

DE DEFICIÊNCIA QUANDO:

( A ) SÃO FEITOS EM HORÁRIOS QUE SACRIFICAM O DESLOCAMENTO E A FREQÜÊNCIA DESTES ALUNOS NA

ESCOLA

( B ) QUANDO SERVEM DE PONTO DE APOIO PEDAGÓGICO, MELHORANDO AS CONDIÇÕES DE APRENDIZAGEM

DO ALUNO

( C ) QUANDO É INTENSO E O ALUNO CHEGA AGITADO À ESCOLA

( D ) QUANDO AS DROGAS MEDICAMENTOSAS MODIFICAM O SEU ESTADO DE ALERTA

( E ) ESTE É, AINDA, CRIANÇA

10. O GRAU DE ESTUDOS DOS FAMILIARES DE UMA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA PODE AUXILIÁ-

LOS QUANDO:

( A ) PERMITE QUE ENTENDA E LUTE PELOS SEUS DIREITOS

( B ) FACILITA O ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO COGNITIVA DESTAS PESSOAS

( C ) FACILITA A SUA INTERAÇÃO COM SEU GRUPO SOCIAL

( D ) PASSA A TER MAIS CONDIÇÕES DE MODIFICAR O AMBIENTE EM QUE VIVE

( E ) TODAS AS RESPOSTAS ESTÃO CORRETAS