Aprendizagem Baseada Em Problemas No Ens Superior

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Livro Aprendizagem Baseada Em Problemas No Ens Superior

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  • SUMRIO

    Apresentao

    1 A ABP na teoria e na prtica: a experincia de Aalborg

    na inovao do projeto no ensino universitrio 17

    Stig Enemark e Finn Kjaersdam

    2 Perspectiva geral da introduo e implementao de

    um novo modelo educacional focado na aprendizagem

    baseada em projetos e problemas 43

    Egon Moesby

    3 A ABP no contexto da Universidade de Maastricht 79

    Annechien Deelman e Babet Hoeberigs

    4 Comunidade, conhecimento e resoluo de problemas:

    o projeto acadmico da USP Leste 101

    Ulisses F. Arajo e Valria Amorim Arantes

    5 ABP e medicina desenvolvimento de alicerces tericos

    slidos e de uma postura profissional de base cientfica 123

    L. O. Dahle, P. Forsberg, H. Hrd af Segerstad, Y. Wyon e M. Hammar

  • 6 Inovao curricular na Escola Universitria de Enfermagem

    de Vall dHebron, Barcelona: projeto e implementao da

    ABP 141

    Maria Dolors Bernabeu Tamayo

    7 Aprender com autonomia no ensino superior 157

    Joan Ru

    8 Aprendizagem baseada em problemas e metodologia

    da problematizao: identificando e analisando

    continuidades e descontinuidades nos processos

    de ensino-aprendizagem 177

    Isonir da Rosa Decker e Peter A. J. Bouhuijs

    9 A aprendizagem baseada em problemas o resplendor

    to brilhante de outros tempos 205

    Luis A. Branda

  • Promover a formao profissional e acadmica por meio daaprendizagem baseada em problemas (ABP) uma das abordagens inova-doras surgidas nos ltimos anos, que vem ocupando espao cada vezmaior em algumas das principais universidades de todo o mundo. Portrs desse movimento est a busca de novos modelos de produo eorganizao do conhecimento, condizentes com as demandas e ne-cessidades das sociedades contemporneas e daquilo que vem sendochamado por muitos de sociedade do conhecimento.

    O sistema universitrio no passa inclume pelas transformaessociopoltico-econmicas vivenciadas nas dcadas recentes e precisase reinventar para continuar ocupando o papel de destaque que associedades lhe destinaram nos ltimos trezentos anos. Paradoxal-mente, essa reinveno depende tanto da capacidade de continui-dade para conservar suas caractersticas de excelncia e de produtorade conhecimentos como da capacidade de transformao para adap-tar-se a novas exigncias das sociedades, da cultura, da cincia.

    Paralelamente a isso, patente a presso que as transformaesda cincia e da tecnologia vm provocando e incitando no universoacadmico. As tradicionais segmentaes em reas nas disciplinasque, por sua vez, delimitam hoje os tradicionais departamentos uni-versitrios, diante das novas redes e interfaces, no mais atendem snecessidades de remapeamento do conhecimento. Os estudos uni-versitrios exigem snteses complexas, com aportes de muitas fontes

    2 APRESENTAO

    U L I S S E S F. A R A J O

    G E N O V E VA SA S T R E

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  • e culturas acadmicas para a anlise e o desenvolvimento plenos dosnovos cursos e das pesquisas cientficas.

    Todo esse movimento, no entanto, exige uma maior responsabi-lidade das universidades, que no podem restringir sua misso for-mao estritamente profissional e cientfica de seus estudantes. Associedades contemporneas, com suas complexas constituies, dife-renas e desigualdades, na luta pela democratizao do acesso aoconhecimento, exigem que os privilegiados titulados em cursos supe-riores assumam suas responsabilidades sociopolticas como cidadosaptos a formar opinies e transformar o mundo com base em dadose informaes bem fundamentadas e posturas ticas e responsveis.

    Dois outros fatores, interligados e com amplo e profundo signi-ficado, podem ser agregados a essa discusso sobre a reinvenodas universidades: a globalizao e o desenvolvimento tecnolgico.Com a atual facilidade de comunicao provida pela cultura digital,pelas ferramentas tecnolgicas, os estudantes dispem de oportuni-dades de colaborao para construir, representar e sintetizar a infor-mao em um processo de construo coletiva que difere em muitosaspectos da aquisio de conhecimentos pela cultura impressa, o queamplia a capacidade de metacognio, muitas vezes desconsideradapelos docentes. Ao mesmo tempo, como consequncia no s da tec-nologia, mas tambm de processos geopolticos, deparamos hojecom tendncias de construo de currculos semelhantes e equiva-lentes, permitindo que os profissionais possam atuar em diferentescontextos com uma base comum. Documentos de organismos inter-nacionais e consrcios de diferentes pases, representados na Europa,por exemplo, pela Carta de Bolonha, consolidam essa tendncia eprovocam mudanas em sistemas h muito instalados.

    Diante desse panorama complexo e multifacetado, evidenteque mudanas so essenciais para manter e consolidar a atuao dauniversidade na sociedade contempornea, e muitos estudos, pesqui-sas e propostas presentes na literatura internacional vm abrindo in-meras possibilidades de inovao e reinveno.

    ULISSES F. ARAJO

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  • Neste livro, optamos por trazer aos leitores a experincia daaprendizagem baseada em problemas. Em suas diferentes variaes,as perspectivas da ABP deslocam o aluno para o ncleo do processoeducativo, dando a ele autonomia e responsabilidade pela prpriaaprendizagem, por meio da identificao e anlise de problemas; dacapacidade de elaborar questes e procurar informaes para ampli--las e respond-las; e, da, para recomear o ciclo levantando novasquestes e novos processos de aprendizagem e problematizao darealidade. Por trs de tais processos educativos est a mudana defoco no ensino superior, que deixa de se centrar no ensino e passa apriorizar os processos de aprendizagem.

    Outra faceta essencial da ABP est em assumir problematiza-es concretas e situaes reais como pontos de partida para os pro-cessos de aprendizagem, o que, alm de ser estimulante, contribuipara o desenvolvimento da responsabilidade social e fornece umaformao slida para o exerccio profissional.

    Assim, entendemos que a adoo da aprendizagem baseada emproblemas pelas instituies educativas configura-se como uma fer-ramenta poderosa para formar profissionais e cientistas nas condiesexigidas por sociedades que buscam estruturar-se em torno de conhe-cimentos slidos e profundos da realidade, visando a inovao, atransformao da realidade e a construo da justia social.

    A organizao do livro

    Os nove captulos que compem este livro esto divididos emdois grupos temticos. O primeiro deles apresenta as experincias dediversas universidades com tradio no trabalho com a ABP em suaorganizao curricular e acadmica, trazendo a prtica e as reflexesde profissionais que atuam nessas instituies. O segundo grupo te-mtico tem trs captulos que buscam assentar as bases da autonomiado estudante nos processos de aprendizagem, promove um debateentre a aprendizagem baseada em problemas e as metodologias de

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    APRESENTAO

  • problematizao, focando sua introduo no Brasil. Por fim, traz umaviso histrica da implantao da aprendizagem baseada em proble-mas no mundo universitrio, na dcada de 1960.

    O primeiro grupo temtico deste livro apresenta experinciasinternacionais de instituies de ensino e de pesquisa que adotaram aaprendizagem baseada em problemas como referncia em sua organi-zao curricular nos mais distintos campos de conhecimento. Comopreocupao adotada por todos os autores convidados para esse gru-po temtico est a tentativa de apontar detalhes prticos sobre comocada uma dessas instituies compreende e trabalha a ABP no curr-culo e no cotidiano das aulas. Pensamos, com isso, que as diversasexperincias podem permitir ao leitor construir uma boa base deconhecimento e compreender melhor o que significa o modelo daABP no ensino superior, em suas diferentes concepes.

    Os captulos 1 e 2 tratam da mesma experincia, mas com dife-rentes abordagens: a Universidade de Aalborg, na Dinamarca. O cap-tulo 1, A ABP na teoria e na prtica: a experincia de Aalborg na ino-vao do projeto no ensino universitrio, escrito pelo atual reitordessa universidade, Finn Kjaersdan, em parceria com Stig Enemark,traz uma importante introduo sobre as contribuies que a apren-dizagem baseada em problemas fornece para a formao dos novosprofissionais e para a sociedade contempornea, alm de apresentaras bases tericas que justificam a adoo desse modelo pela Universi-dade de Aalborg. Na sequncia, os autores buscam demonstrar a pr-tica da ABP em sua instituio, principalmente na rea das engenha-rias, focando aquele que o grande diferencial da abordagem doprojeto acadmico dessa universidade: a perspectiva de articular aABP com o trabalho com projetos. Eles discutem o desenho curricu-lar adotado com base no trabalho com projetos, bem como o papelda flexibilidade e adaptao do currculo e dos estudantes na organi-zao do conhecimento, e mostram como o processo de trabalho pormeio de projetos permite aprender pela ao. Por fim, discutem opapel do professor e das avaliaes nessa perspectiva, de forma a asse-

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  • gurar a qualidade na formao dos futuros profissionais e na produ-o do conhecimento inovador.

    O segundo captulo, escrito por Egon Moesby, tambm da Uni-versidade de Aalborg, apresenta a experincia de quem consultorem universidades de vrias partes do mundo na implantao demodelos de ABP. Intitulado Perspectiva geral da introduo e imple-mentao de um novo modelo educacional focado na aprendizagembaseada em projetos e problemas , o captulo de Egon Moesby umexcelente relato para professores e gestores de universidades interes-sados na inovao de seus projetos acadmicos, de forma a adequ-los sociedade contempornea. Egon Moesby apresenta com detalhequatro fases para a implementao de inovaes. A primeira, deno-minada investigao, composta de uma srie de atividades prvias implantao das mudanas. A segunda fase a adoo do novo mode-lo, quando se deve formular vises, definir critrios de xito e decomunicao dos resultados. A fase de implementao a terceiraetapa, quando devem ocorrer processos de desenvolvimento do pes-soal envolvido e avaliao do programa que est sendo implementa-do. Por fim, a etapa de institucionalizao, ou poltica, quando os alu-nos, os professores e a organizao como um todo esto adaptados smudanas iniciadas. Alm dessas ideias, Egon Moesby apresenta asdiferentes formas com que os projetos de trabalho se relacionam comas disciplinas e outros componentes do currculo, mostrando comotais relaes ocorrem nas fases citadas anteriormente. Enfim, essecaptulo traz ao leitor interessado em participar de projetos demudanas no ensino superior, na implantao de metodologias deABP, informaes importantes que devem ajudar a compreender oscomplexos processos institucionais e acadmicos.

    Annechien Deelman e Babet Hoeberigs escreveram o terceirocaptulo, relatando a histria e as experincias da Universidade deMaastricht, na Holanda. Essa instituio, depois de McMaster, tal-vez a maior referncia internacional na prtica e implementao daABP. Em seu captulo, depois de historiar o incio de Maastricht e

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    APRESENTAO

  • os princpios que embasaram o modelo de aprendizagem baseadaem problemas nessa universidade (aprendizagem contextualizada,aprendizagem cooperativa e construtivismo), as autoras apresen-tam experincias de duas faculdades daquela instituio: a Faculdadede Medicina e a Faculdade de Economia e Administrao de Em-presas. Trazendo a experincia de duas faculdades com caracters-ticas to distintas, o captulo mostra a riqueza da ABP e suas in-meras possibilidades de leitura acadmica, mesmo em uma mesmainstituio. Assim, a ABP vai mostrando sua plasticidade, e a leitu-ra deve ajudar o leitor desses campos de conhecimento a percebercomo pode ser trabalhada em contextos acadmicos diferentes.

    O captulo 4 relata a experincia de trs anos da Escola de Artes,Cincias e Humanidades da Universidade de So Paulo (USP Leste),Brasil. Escrito por Ulisses F. Arajo e Valria Amorim Arantes, coor-denadores do ciclo bsico dessa instituio, o captulo chama-seComunidade, conhecimento e resoluo de problemas: o projetoacadmico da USP Leste. Os autores contam a histria dessa que amais nova unidade da Universidade de So Paulo, relatando os prin-cpios de seu ciclo bsico, que comum aos 1.020 alunos que aliingressam anualmente. O ciclo bsico da USP Leste sustentado portrs eixos de formao dos alunos: formao introdutria no campode conhecimento de cada curso; formao geral; e formao cientfi-ca por meio da resoluo de problemas. Esse ltimo eixo baseia-seem perspectivas de ABP e, por isso, a maior parte do captulo descre-ve a abordagem original que a instituio faz desse enfoque de pro-blematizao e a maneira com que os alunos de dez cursos distintos,de todas as reas do conhecimento, lidam com a ABP no cotidianoescolar. Por fim, os autores ressaltam como sua perspectiva buscaintegrar universidade e comunidade e vincular a resoluo de proble-mas a temticas de cidadania.

    O quinto captulo traz a perspectiva da Faculdade de Medicinada Universidade de Linkping, da Sucia, e como ali a aprendizagembaseada em problemas aplicada visando a uma slida formao te-

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  • rica e cientfica dos alunos. Os autores, depois de contarem como seapropriam dos princpios da ABP, tecem comparaes dessa metodo-logia com outros processos acadmico-cientficos de formao de pro-fissionais de medicina e trazem dados de pesquisas demonstrandocomo a perspectiva adotada em Linkping leva os alunos a buscaruma formao mais profunda dos conhecimentos abordados. O eixode seu currculo a articulao entre teoria e prtica, entre conheci-mentos bsicos e conhecimentos aplicados, por meio de problemati-zaes que solicitam de alunos e professores a integrao de diferentestipos de conhecimento para compreender um fenmeno real. Umaparte importante da formao realizada com o desenvolvimento depesquisas, chamadas projetos de estudo profundos, quando os alu-nos devem dedicar sua energia e seu tempo a pesquisas clnicas, queso concludas com a escrita de um artigo a ser encaminhado pararevistas cientficas. Enfim, os autores apresentam dados que demons-tram o xito do modelo de Linkping na formao mdica.

    Por fim, chegamos ao sexto captulo deste livro e ltimo dessegrupo temtico, no qual a autora Maria Dolors Bernabeu Tamayo, daEscola de Enfermagem Vall dHebron, de Barcelona, descreve os pro-cessos de mudana curricular implementados pela instituio nosltimos anos, que culminaram em um currculo totalmente baseadona aprendizagem baseada em problemas. Trabalhando com proble-matizaes feitas por meio de cenrios baseados em situaes reais,a implantao das mudanas curriculares iniciou-se em 2001 com adeciso de inovar o currculo de formao de enfermeiras. O captulose desenvolve respondendo a quatro problemas centrais: 1) as ori-gens: Como iniciamos a inovao?; 2) natureza das mudanas:Como se caracterizou o processo?; 3) nveis de mudanas na inova-o: O que representa cada um?; 4) a gradao das mudanas estra-tgicas: Em que fase de desenvolvimento nos encontramos? Dessaforma, a autora traz uma descrio detalhada dos desafios que essainstituio enfrentou ao mudar um currculo tradicional para outroque trabalha exclusivamente com a aprendizagem baseada em pro-

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    APRESENTAO

  • blemas. As angustias docentes, as decises polticas e a crena norumo acertado das mudanas so tratadas nesse captulo.

    O captulo Aprender com autonomia no ensino superior foiescrito por Joan Ru, professor da Universidade Autnoma de Barce-lona, e abre o segundo grupo temtico deste livro. O autor discute opapel da autonomia na aprendizagem, seu papel na transio entre asociedade industrial e a sociedade do conhecimento, e faz a distinoentre trs grandes enfoques de abordagem do conceito de autonomia:tcnico, cognitivo e poltico. Apesar das diferenas, aponta que todosos enfoques coincidem no princpio de que a autonomia deve buscaro desenvolvimento da prpria capacidade de pensar e de agir deforma no fragmentada. Alm de abordar a autonomia como umacompetncia pessoal, o autor traz ao leitor informaes sobre comoela favorece a aprendizagem profunda de conhecimentos, em contra-posio a aprendizagens superficiais. Tais ideias fornecem, tambm,uma boa base conceitual para a introduo do trabalho com a apren-dizagem baseada em problemas nos currculos universitrios, porestarem centrados nos processos de autonomia na aprendizagem.

    Uma segunda discusso conceitual trazida no captulo seguin-te, escrito pelos professores Peter Bouhuijs e Isonir Decker: a distin-o entre a aprendizagem baseada em problemas (ABP) e a metodo-logia de problematizao. No captulo, os autores estabelecem umdilogo entre suas experincias na Holanda, na frica do Sul e noBrasil, buscando mostrar ao leitor as semelhanas e as diferenasentre essas duas concepes de enfoques de problematizao no ensi-no superior e apontando suas bases tericas e histricas. O trabalhoem pequenos grupos e a anlise inicial de uma situao que conduzao estudo de um problema so exemplos de semelhanas entre asduas metodologias. Abordando as diferenas, mostram como na me-todologia da problematizao o aluno s inicia o processo de cons-truo de hipteses para soluo do problema aps a aquisio dosnovos conhecimentos ou informaes, no sendo estimulado no in-cio do processo a buscar solues prprias. J na ABP, ao contrrio, as

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  • tomadas de deciso do aluno na fase inicial do processo so parteessencial do desenvolvimento do trabalho. Enfim, um captulo ricopara se compreender diferentes formas de se trabalhar os enfoques deproblematizao no cotidiano das universidades.

    Fecha o livro o captulo A aprendizagem baseada em problemas o resplendor to brilhante de outros tempos, escrito pelo professorLuis A. Branda, que comps o grupo inicial que implantou as pro-postas de problem-based learning [aprendizagem baseada em proble-mas] naquela que considerada a precursora na perspectiva modernade ABP: a McMaster University (Canad). Em seu captulo, empre-gando uma linguagem s vezes potica outras vezes crtica, o autorapresenta um pouco dessa histria recente, os princpios, desafios,dilemas e atores principais. Ao mesmo tempo, aproveita para mostraraos leitores reflexes e aprendizagens sobre mais de quarenta anos deexperincia, apontando caminhos que podem ser seguidos por quemse inicia no trabalho e implantao da ABP nos dias atuais.

    A obra Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior e asideias e experincias relatadas em seus nove captulos devem forneceruma excelente base conceitual e prtica para todos os interessadosnessa perspectiva acadmica que vem inovando o ensino superior nasltimas dcadas. Os nove trabalhos apresentados so resultantes deum movimento internacional que comea a se consolidar no ensinosuperior em todo o mundo, e estamos certos de que o leitor se bene-ficiar dos princpios aqui discutidos como ponto de partida para pro-mover mudanas em suas prticas educativas e nas instituies emque atua.

    Fica o convite para uma instigante leitura e para reflexes crticassobre a aprendizagem baseada em problemas e os processos de apren-dizagem no ensino superior.

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    APRESENTAO

  • Introduo

    Aprendizagem baseada em problemas uma expresso queabrange diferentes enfoques do ensino e da aprendizagem. Ela podese referir a conceitos didticos baseados somente na resoluo de pro-blemas ou a conceitos que combinem os cursos tradicionais comresoluo de problemas por meio do trabalho com projetos. Ambostm em comum o foco no processo de aprendizagem do estudante.

    O sistema de ensino da Universidade de Aalborg caracteriza-sepor adotar um modelo acadmico baseado simultaneamente em pro-jetos e problemas. Desenvolvido para garantir uma relao dialticaentre a teoria acadmica e a prtica profissional, esse sistema foi colo-cado em prtica pela universidade em 1974, ano de sua fundao. Ho-je, a Universidade de Aalborg uma instituio consolidada, de portemdio, com cerca de treze mil alunos divididos em trs faculdades:Engenharia e Cincias, Cincias Sociais e Humanidades. Assim, a Uni-versidade de Aalborg acumula mais de trinta anos de experincia emtrabalho com projetos baseados em problemas em todos os seus cur-sos. A globalizao e a sociedade do conhecimento exigem novas so-lues para o ensino universitrio. Requerem um dilogo maduro en-tre o ensino, a empresa e a sociedade; entre o ensino e a pesquisa; eentre esta e a empresa. Tal realidade denominada hlice tripla. Aexperincia da Aalborg mostra como uma universidade pode desen-

    1 A ABP NA TEORIA E NA PRTICA:A EXPERINCIA DE AALBORG NA INOVAO DO PROJETO NO ENSINO UNIVERSITRIO

    ST I G E N E M A R K E F I N N K J A E R S D A MUniversidade de Aalborg, Dinamarca

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  • volver-se com base nessa hlice tripla. Pelo conceito de ABP, os alu-nos trabalham com problemas reais que vo surgindo no mbitoempresarial, nas instituies, nas ONGs ou na sociedade civil, e ten-tam solucion-los com projetos em grupo e modernas tecnologias,sob a superviso de um professor da rea de pesquisa.

    A ABP favorece a integrao entre a universidade e a empresa. Os estu-dantes trazem para a universidade os problemas no resolvidos dediversas profisses, e aprendem a resolver problemas reais de suaprofisso. Paralelamente, seu supervisor mantm contato com a em-presa e seus problemas.

    A ABP favorece a integrao entre o ensino e a pesquisa. Os professo-res, ao supervisionar grupos com projetos de problemas no resolvi-dos, aplicam os resultados de ponta dos estudos mais relevantes.

    A ABP favorece, tambm, a integrao entre a pesquisa e a empresa. Osgrandes problemas empresariais e sociais so analisados na universi-dade, onde se buscaro novas solues, para apresent-las ao mundocorporativo.

    A ABP favorece solues interdisciplinares. Ao trabalhar com proble-mas complexos, ainda sem soluo, do mundo real, os estudantes tmde aprender a relacionar conhecimentos de diferentes reas, j que osproblemas da vida real no apresentam a diviso acadmica em mat-rias e disciplinas. Para isso, os alunos recebem ferramentas para lidarcom diferentes paradigmas cientficos, conhecimentos tcitos e solu-es ticas e aceitveis e usam conhecimentos de diversas disciplinas.

    A ABP requer os conceitos mais atuais. Os professores j no pre-cisam decidir o que os alunos devem aprender. Os problemas reaisos orientam na busca de novos conhecimentos que levem resolu-o do problema, seja pela internet, pela biblioteca ou em reuniescom especialistas, sob a superviso de um pesquisador experiente.Os problemas do mundo real levam professores e alunos a desco-brir novos conhecimentos.

    STIG ENEMARK | FINN KJAERSDAM

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