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“caso BOPE – Kit Sucesso”
identificação de armas por fotografia
trabalho apresentado no
I Seminário Nacional de Perícia em Crimes de Informática
por
Dr. Edilson Francioni Coelho
Dra. Rosicléa Coutinho Lobato
peritos criminais
Serviço de Perícias de Armas de FogoInstituto de Criminalística Carlos ÉboliCoordenadoria de Polícia Técnico-CientíficaChefia de Polícia CivilSecretaria de Segurança PúblicaGoverno do Estado do Rio de Janeiro
Imprensa do Rio de Janeiro
Notícias selecionadas para inclusão em sua Resenha pela ASCOM – Assessoria de Comunicação Social da Chefia de Polícia Civil.
Todos os textos foram reproduzidos como publicados, sem alterações.
maio de 2002
apreensão
15 de maio – Jornal do Brasil
Tráfico ataca o EstadoOntem ao meio-dia, no Largo da Carioca, no Centro, reduto tradicional de músicos, malabaristas e ambulantes, a polícia montou um um show de outra natureza. Exibiu sobre um lençol 11 armas, munição e trouxinhas de maconha apreendidas, de manhã, no Catumbi. A exposição foi criticada porque teria atrapalhado as investigações sobre o arsenal. (Página 17)
foto de Luiz Morier
15 de maio – Jornal do Brasil
Bope se exibe na praçaArmas apreendidas no Catumbi são expostas no Largo da Carioca
Quem passou ontem de manhã pelo Largo da Carioca pôde ver uma exposição diferente. Apreendidos nos morros da Mineira de de São Carlos, 11 armas (...) ficaram à mostra, antes de serem levados para a 6ª. DP (Cidade Nova). A apresnsão foi resultado da ocupação aos morros do Catumbi (...)
A iniciativa foi criticada pelo deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil, Hélio Luz (PT). (...) “Quero saber como vão provar de quem são as armas. Acabaram com a prova”, reclamou Luz.
por Fernando Magalhães e Marco Antônio Martins
15 de maio – O Povo
Catumbí sitiado pela violênciaPolícia Militar ocupou morros no Catumbi e achou um arsenal
por Giselle Sant`Annafoto de Duardo Santoro
julho de 2002
denúnciaescândalo do Kit Sucesso
19 de julho – O GloboCorregedoria investiga operação do BopeUma apreensão de armas realizada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), grupo de elite da Polícia Militar, em 14 de maio deste ano no Morro da Mineira pode ter sido uma farsa.
Uma das armas apresentadas, uma submetralhadora URU, já teria sido fotografada dentro do próprio Bope, há quatro anos, pelo especialista Ronaldo Olive, que trabalhava como instrutor do grupo de elite na ocasião.
por Antônio Werneck e Flávio Pessoa
19 de julho – ExtraPM é acusada de montar farsa com armasEm depoimento na corregedoria, Olive disse ter feito as fotos durante um curso dado por ele no Bope, em 1998. As fotos foram incluídas no site do colecionador na Internet.(...) O reconhecimento foi possível por um detalhe incomum: a arma não possui número de série.(...) o corregedor enviou a submetralhadora ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (...) o laudo de confrontação fica pronto nesta segunda-feira.
Subsecretário exige rigor na investigação
20 de julho – O DiaCoronel Braz vai depor
Comandante da PM saberia de possível farsa em apreensão do Bope
Para o corregedor, se o resultado da perícia, que fica pronto segunda-feira, comprovar que a arma encontrada é a mesma da fotografia, há dois caminhos (...) “A arma apreendida foi desviada do batalhão e encontrada com marginais na Mineira ou o armamento foi integrado ao chamado kit sucesso, que, na gíria policial, quer dizer que a corporação incluiu armas em uma operação para mostrar eficiência”, afirmou. Foto de Paulo Araújo
22 de julho – Extra
Na “charge”, a desmoralização da Polícia, personificada pelo BOPE-PMERJ.
conseqüência
períciacomparação entre fotografias e arma
Material apresentado a exame:
4 fotografias de baixa qualidade(arquivos JPG de alta compressão impressos a jato de tinta em papel convencional)
Material apresentado a exame:
1 arma de fogo – submetralhadora URU
Missão:comparar fotografias e arma
• tipo (marca / modelo)
• irregularidades em inscrições
• marcas de uso (desgaste) – arranhões, aderências e descascamentos
• placas de empunhadura sem características de originalidade
Semelhanças:
Necessidade:comprovar tecnicamente as várias semelhanças observadas entre arma e fotografias.
Meio:converter materiais examinados em “documentos” de um mesmo tipo, que admitam comparação.
Método escolhido:produção de fotografias da arma, semelhantes às enviadas a exame, para comparação.
Além de fotografar a arma visando apenas à comparação com as fotografias enviadas, foram também registrados aspectos variados da arma, de possível interesse futuro.
Embora as fotografias usadas para a denúncia tenham sido produzidas em equipamento eletrônico, foram enviadas a exame impressas a jato de tinta em papel comum – não em formato digital.
Assim, foi necessário usar digitalizador de imagens para que elas pudessem ser comparadas no computador e os detalhes observados na comparação impressos no laudo, para demonstração a autoridades policiais e judiciárias.
Exame da fotografia 1
semelhança entre as armas
Havendo identidade quanto a:
• marca e modelo,
• capacidade do carregador,
• serviços de manutenção / adaptações,
• características de acessórios etc.
deveriam existir as mesmas proporções entre suas várias partes.
semelhança de retângulos
Como limites dos retângulos, em função da baixa qualidade da fotografia, foram escolhidos pontos com maior facilidade de identificação:
• limites externos da arma;
• guarda-mato e receptáculo do carregador;
• empunhadura (placas não originais).
Calculou-se a relação de aspecto de cada retângulo (largura / altura), para comparação.
Fotografia 1 – versão para comparação
vista geral da arma
Fotografia 1 – versão para comparação
detalhe:placas de empunhadura
Conclusões – fotografia 1
A semelhança entre os retângulos verdes (limites externos da arma) indica semelhança de marca e modelo – confirmada pela semelhança entre os retângulos vermelhos.
A semelhança entre os retângulos azuis pode indicar que a fotografia examinada representa a arma examinada (mesmo exemplar), pois ambas apresentam característica especial: placas de empunhadura não originais.
A irregularidade observada na extremidade ântero-inferior da luva de refrigeração do cano (fotografia examinada)pode corresponder a uma etiqueta existente naquela região da arma examinada, indicando que a fotografia examinada representa a arma examinada (mesmo exemplar).
Exame da fotografia 2
semelhança entre superfícies
Havendo identidade quanto a:
• inscrições (inclusive irregularidades) e
• marcas de desgaste(arranhões, descascamento etc.)
deveriam haver as mesmas marcas e elas deveriam manter as mesmas proporções entre seus vários detalhes.
dificuldades aos exames
• falta de recursos cine-fotográficos (que permitiriam fotografar a superfície na mesma posição e em condições de iluminação semelhantes);
• incrustação das inscrições da arma por substância branca, recurso comumente usado para aumentar sua legibilidade, que interferiu no trabalho pericial.
procedimento
• uso de semelhança de retângulos para identificar 2 das marcas especiais existentes nas inscrições;
• identificação (apenas visual) de 17 outras marcas especiais – como arranhões e descascamento de tinta.
Fotografia 2 – versão para comparação
As inscrições apresentam irregularidades, arranhões e descascamentos.
Conclusões – fotografia 2
A semelhança entre os 2 retângulos utilizados para delimitar caracteres e marcas especiais próximas, bem como a presença de muitas outras marcas especiais (das quais apenas 17 foram apontadas) constitui um forte indício de que a fotografia examinada representa a arma examinada (mesmo exemplar).
Exame da fotografia 3
procedimento
• uso de semelhança de diâmetros para identificar as relações entre os diâmetros dos componentes da extremidade anterior da arma (luva de refrigeração, cano e porca de união entre ambos);
Como as fotografias foram produzidas a curta distância (“macro”), foram empregados apenas os diâmetros das peças, visando a minimizar problemas de paralaxe.
Fotografia 3 – versão para comparação
extremidade anterior: luva de refrigeração, cano e porca de fixação.
Conclusões – fotografia 3
A semelhança entre as relações encontradas entre os vários diâmetros, na fotografia e na arma enviadas a exame, indica semelhança de tipo (marca, modelo e série de fabricação).
A compatibilidade de detalhes da fotografia examinada com etiqueta e resíduos de cor branca existentes na arma examinada pode indicar que a fotografia examinada representa a arma examinada (mesmo exemplar).
Exame da fotografia 4
procedimento
• uso de semelhança de 2 retângulos para identificar marcas especiais existentes e sua relação com outros pontos da arma;
• identificação (apenas visual) de 14 outras marcas especiais.
O trabalho de exame da fotografia 4 apresenta grande semelhança com o realizado para a fotografia 2.
Fotografia 4 – versão para comparação
A chave para seleção de modo de tiro tem arranhões e inscrições não originais.
Conclusões – fotografia 4
A semelhança entre os 2 retângulos utilizados para delimitar marcas especiais, bem como a presença de muitas outras marcas especiais (das quais apenas 14 foram apontadas) constitui um forte indício de que a fotografia examinada representa a arma examinada (mesmo exemplar).
Sugestão incluída no laudo:
• Grandes apreensões deveriam receber acompanhamento do Poder Público, evitando a ocorrência de fatos negativos que certamente receberiam ampla divulgação pela Imprensa – denegrindo as instituições policiais, conjuntamente.
Comentários incluídos no laudo:
1. Dadas a importância e a repercussão dos fatos apurados, o perito relator dedicou cerca de 40 horas extras de trabalho espontâneo e não remunerado sob iluminação inadequada e insuficiente do Serviço de Perícias de Armas de Fogo, reduzindo o tempo de conclusão do laudo.
Comentários incluídos no laudo:
2. Para a realização dos exames e a impressão do laudo foram necessários recursos materiais do perito relator: câmera fotográfica digital, digitalizador de imagens, impressora a jato de tinta e cartucho de impressão – recursos indisponíveis no Serviço de Perícias de Armas de Fogo.
Empunhadura original e outro modelo de conjunto cano – porca – luva de refrigeração, fotografados em outra submetralhadora URU da Mekanika Indústria e Comércio Ltda..
Conclusão final
Os exames comprovam que arma enviada e arma fotografada apresentam:
• mesma marca e modelo;
• placas de empunhadura idênticas, apesar de não serem originais;
• marcas de desgaste idênticas (arranhões e descascamento);
• incrustações e aderências semelhantes (substância branca e etiqueta).
Conclusão final
Assim, apesar da baixa qualidade das fotografias enviadas a exame, pode-se concluir que a arma examinada é a mesma que foi retratada nas fotografias enviadas a exame e a possibilidade de que outra arma apresente as mesmas características é, para todos os efeitos práticos, nula.
resultados obtidos
• repercussão mínima na Imprensa, apesar do grande destaque inicialmente conferido ao assunto;
• nenhum elogio oficial (por escrito), apesar do grande interesse pelo caso por parte de várias autoridades públicas e do reconhecimento (apenas verbal) da qualidade do trabalho realizado;
resultados obtidos
• o denunciante não foi capaz de comprovar a data em que suas fotos foram produzidas – ou seja, suas alegações carecem de comprovação;
• em agosto de 2002, o comandante do BOPE, cel. Venâncio Moura, foi exonerado após uma operação policial na qual foi ferido por tiros o músico Paulo Negueba, da banda O Rappa;
resultados obtidos
• o caso do “Kit Sucesso” foi lembrado pela Imprensa por ocasião da exoneração do comandante do BOPE;
• apesar de a denúncia carecer de prova material, foi lançada dúvida sobre a lisura dos procedimentos policiais – que, para a sociedade do Rio de Janeiro, paira sobre toda a classe;
resultados obtidos
• apesar da sugestão de que o Poder Público passasse a acompanhar grandes apreensões, nenhuma medida foi tomada para atingir esse objetivo;
• o Serviço de Perícias de Armas de Fogo ainda não dispõe de recursos como câmera fotográfica, digitalizador de imagens e tinta para impressão e sua iluminação ainda é precária.
Agradecimentos
Lutando permanentemente contra a falta de recursos materiais oficiais, não poderíamos deixar de agradecer a 3 colegas, cuja colaboração pessoal desinteressada foi importante para viabilizar a apresentação deste trabalho no I Seminário Nacional de Perícia em Crimes de Informática:
Os peritos criminais
Dr. Danilo Caio Marcucci Marques
e
Dr. Fabio Ferreira Neves,
que, mesmo sem qualquer reconhecimento oficial, sempre se empenham na manutenção e no aprimoramento dos recursos de informática de nosso Serviço de Perícias de Armas de Fogo e que, oferecendo tempo e recursos materiais particulares, viabilizaram a organização e gravação em CD deste trabalho.
O delegado de polícia
Dr. Cley Biagio Catão,
Coordenador de Polícia Técnico-Científica, que em nosso requerimento de passagens aéreas para comparecer a este evento nos concedeu o primeiro elogio escrito ao trabalho realizado, em seu despacho datado de 25 de outubro de 2002, fornecendo a seguinte informação:
“mister se faz recomendar a participação do ilustre perito criminal, Dr. Edilson Francioni Coelho, que juntamente com a Dra. Rosicléa Coutinho Lobato apresentarão o trabalho Caso Bope, amplamente divulgado pela mídia, que em muito elevou o nome da Polícia Civil / RJ, face o seu grau de excelência na comunidade científica policial.”
servir de sede à Polícia, com instalações próprias para a Polícia Técnica.
Palácio da Polícia, Rio de Janeiro, primeiro prédio do Brasil projetado para
Este trabalho foi integralmente produzido com recursos próprios.
A gravação deste CD foi realizada em 30 de outubro de 2002.