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Prezado Associado! É com muita alegria que o Conselho Formativo da Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo - ANALAM apresenta a você o primeiro módulo do Kit de Formação que agrega os subsídios nº 01 a 05. A presente publicação é resultado da decisão tomada pela IX Assembléia Nacional que aconteceu em São Paulo - SP no mês de julho de 2007. A nova edição dos Subsídios de Formação, agregando dois volumes, busca valorizar e facilitar o processo formativo da ANALAM através de seus membros, de forma permanente. Lembramos que o artigo nº 3 do Estatuto da Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo diz: “São fins da ANALAM: I - promover a formação de seus associados na linha do carisma e da pedagogia de São Leonardo Murialdo...” Murialdo tinha como característica a valorização dos leigos. Ele sabia envolver leigos de diversas proveniências e profissões na atividade educativa e pastoral. Somos chamados a viver num clima de partilha e numa experiência de fraternidade formando uma “bem unida família”. São Leonardo insistia neste tema: “Unidos no pensamento, no desejo de fazer o bem aos jovens, unidos no afeto, na caridade, na amizade e na ação. Dar aos nossos ambientes o caráter de uma família”. (Scritti IV, p. 326). E também dizia: “Nós desejamos formar uma só família pelos sentimentos, por afeto, pelas ocupações” (Scritti X, p. 43). Não tenhamos medo em dedicar tempo para a formação, a espiritualidade, a partilha. O presente material quer ser um instrumento que facilite esse processo. Deus nos abençoe e Murialdo nos inspire! Conselho Formativo da ANALAM Dezembro de 2008 Apresentação

Apresentação - Sampalam-Leigos Amigos de Murialdo de São … · Ele é, antes de tudo, esse cristão batizado, que assume a causa de Jesus e se compromete com sua mensagem. É

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Prezado Associado! É com muita alegria que oConselho Formativo da Associação Nacional dos LeigosAmigos de Murialdo - ANALAM apresenta a você oprimeiro módulo do Kit de Formação que agrega ossubsídios nº 01 a 05.

A presente publicação é resultado da decisão tomadapela IX Assembléia Nacional que aconteceu em São Paulo - SP no mês dejulho de 2007. A nova edição dos Subsídios de Formação, agregando doisvolumes, busca valorizar e facilitar o processo formativo da ANALAM atravésde seus membros, de forma permanente.

Lembramos que o artigo nº 3 do Estatuto da Associação Nacional dosLeigos Amigos de Murialdo diz: “São fins da ANALAM: I - promover aformação de seus associados na linha do carisma e da pedagogia de SãoLeonardo Murialdo...”

Murialdo tinha como característica a valorização dos leigos. Ele sabiaenvolver leigos de diversas proveniências e profissões na atividade educativae pastoral. Somos chamados a viver num clima de partilha e numa experiênciade fraternidade formando uma “bem unida família”. São Leonardo insistianeste tema: “Unidos no pensamento, no desejo de fazer o bem aos jovens,

unidos no afeto, na caridade, na amizade e na ação. Dar aos nossos

ambientes o caráter de uma família”. (Scritti IV, p. 326). E também dizia:“Nós desejamos formar uma só família pelos sentimentos, por afeto, pelas

ocupações” (Scritti X, p. 43).

Não tenhamos medo em dedicar tempo para a formação, aespiritualidade, a partilha. O presente material quer ser um instrumentoque facilite esse processo. Deus nos abençoe e Murialdo nos inspire!

Conselho Formativo da ANALAMDezembro de 2008

Apresentação

Sumário

Subsídio de Formação nº 1

Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo ........................5

Subsídio de Formação nº 2

Educação do Coração ................................................................31

Subsídio de Formação nº 3

Leigos Amigos de Murialdo em ação - chamados a agir no mundo... 41

Subsídio de Formação nº 4

O Estatuto e os Mais Nossos ............................................... 73

Subsídio de Formação nº 5

Manual da Promessa........................................................................... 101

Brasil, 2000

Subsídio de Formação nº 1

Associação Nacional dos Leigos Amigosde Murialdo - ANALAM

IDENTIDADE E MÍSTICAdo Leigo Amigo de Murialdo

SUMÁRIO

Apresentação .........................................................................................9

CAPÍTULO I – OS CRISTÃOS LEIGOS1.1 Quem é o Cristão Leigo?..........................................................111.2 Estar no Mundo sem ser do Mundo....................................................121.3 O Cristão Leigo e Santo Domingo....................................................121.4 O Protagonismo do Cristão Leigo....................................................131.5 Leigo Amigo de Murialdo...........................................................14

CAPÍTULO II – VOCAÇÃO DO CRISTÃO LEIGO2.1 Vocação, o que é?..........................................................................152.2 A que é Chamado um Cristão Leigo? ....................................................15 2.2.1 Ser Pessoa Humana....................................................15 2.2.2 Ser Pessoa Cristã....................................................162.3 O Cristão Leigo Evangelizador....................................................172.4 Chamado a Agir no Mundo....................................................................18

CAPÍTULO III – VIDA E ESPIRITUALIDADE DE MURIALDO3.1 Família e Infância ................................................................................183.2 A Descoberta do Amor de Deus e a Missão de Amar................................193.3 O Envolvimento dos Leigos....................................................20

CAPÍTULO IV – IDENTIDADE DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO4.1 O que é Identidade?........................................................................214.2 O que é ser Leigo?................................................................224.3 O que é ser Amigo de Murialdo?....................................................234.4 Quem é e o que faz o Leigo Amigo de Murialdo......................................234.5 Uma Ação Cristã Transformadora....................................................244.6 A Identidade do Leigo Amigo de Murialdo.............................................25

CAPÍTULO V – MÍSTICA DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO5.1 O que é Mística.................................................................265.2 A Fonte da Mística do Leigo Amigo de Murialdo......................................275.3 Jesus está nas Crianças............................................................285.4 Os Sacramentos Alimentam a Mística....................................................295.5 A Mística do Leigo Amigo de Murialdo..................................................29

Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

APRESENTAÇÃO

O presente texto, “Identidade e Mística do Leigo Amigode Murialdo”, surge a partir do II Congresso Nacional daAssociação dos Leigos Amigos de Murialdo – ANALAM, quecriou o Conselho Formativo.

O Conselho Formativo da ANALAM apresenta estesubsídio formativo. Ele pode ser o primeiro de uma série. Tem comoobjetivos:

a) ajudar na compreensão do significado da pertença a talAssociação;

b) evidenciar a identidade e a mística do leigo membro dessaAssociação;

c) oferecer material preparatório aos Congressos Regionaisa acontecerem durante o ano.

O Conselho Formativo apresenta um texto buscando, antes,identificar o leigo cristão. Em seguida, no segundo capítulo, a vocaçãodeste mesmo leigo. Depois, como ponto iluminador, a vida e aespiritualidade de Murialdo. Já, na quarta parte, identidade do Leigo Amigode Murialdo, quer deixar bem claro o que identifica e faz com que um leigoseja “amigo de Murialdo”. Na última parte, ao tratar da mística, procura-se chamar atenção para a dimensão do transcendente como causaprimeira que move a ação.

Ao prestar esse serviço, queremos oferecer algo útil para ocrescimento da causa: compromisso com os pequenos.

Conselho Formativo da ANALAMCaxias do Sul, junho de 2000.

No ano do Centenário da Morte de Murialdo

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

CAPÍTULO I

OS CRISTÃOS LEIGOS

1.1 QUEM É O CRISTÃOLEIGO?

Para entender quem é o LeigoAmigo de Murialdo, convém refletir antessobre o cristão leigo e sua vocação naigreja e na sociedade.

Por leigos entende-se todos oscristãos batizados que não são membrosda ordem sagrada ou da vida religiosaconsagrada.

São fiéis:

• enxertados no corpo de Cristo pelo batismo;

• constituídos em povo e Deus;

• tornados participantes da missão de Jesus, a qual se expressanestas três dimensões:

1 Sacerdotal – oferecem suas vidas e orações a Deus e santificamo mundo com a graça do batismo e sua presença cristã;

2 Profética – por força do batismo e do crisma anunciam oEvangelho de Jesus, denunciam o erro, o pecado, os sinais de morte etestemunham com sua vida os valores do Evangelho;

3 Real – organizam e regem a família e a sociedade, ordenando-assegundo os planos de Deus.

O leigo só existe num contexto de igreja e é todo o cristão marcadopor uma graça especial: o batismo. Essa consagração torna-o:

• templo vivo do Espírito Santo;

• filho bem-amado de Deus-Pai;

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Subsídio nº 1

• membro da igreja;

• herdeiro da vida eterna;

• comprometido com Je-sus Cristo e sua mensagem.

Em vista desta dignidadeque o batismo confere, o cristãoleigo é co-responsável, juntocom os ministros ordenados ejunto com os religiosos ereligiosas, pela missão da Igreja. E o maior de todos os serviços que aIgreja presta à humanidade é o da evangelização com seu anúncioprincipal: “Deus nos ama! Cristo veio para trazer salvação e vida eterna!Ele revelou a bondade, o amor, a misericórdia de Deus Pai!”

1.2 ESTAR NO MUNDO SEM SER DO MUNDO

Os cristãos leigos vivem no mundo empenhados em toda e qualquerocupação e atividade terrenas e nas condições ordinárias da vida familiare social com as quais é tecida a existência. Mas sua presença no mundose distingue pela vivência dos valores cristãos.

Os fiéis leigos vivem a vida normal do mundo: estudam, trabalham,estabelecem relações familiares, sociais, profissionais e culturais. O mundose torna ambiente e meio de sua vocação cristã. Estão no mundo, comofermento no meio da massa.

O cristão leigo auxilia a Igreja participando de suas atividades, querseja da evangelização, quer em segmentos mais especializados: napolítica, na educação, na defesa dos direitos humanos, no trabalho, noexercício da caridade que anima e sustenta a solidariedade.

1.3 O CRISTÃO LEIGO E SANTO DOMINGO

Sobretudo nos últimos trinta anos os leigos vêm merecendo atençõesespeciais da Igreja no sentido de organizar a sua participação na missão

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

evangelizadora da Igreja. Da convivência familiar entre leigos e ministrosesperam-se muitos bens para a igreja. Os talentos dos leigos unidos aosesforços dos pastores contribuem para que estes decidam questõessociais e espirituais com maior clareza e competência. Assim a Igrejainteira, robustecida por seus membros, cumpre sua missão em favor davida e da salvação do mundo com mais eficácia.

O assunto dos leigos mereceu destaque na IV Conferência doEpiscopado Latino-Americano (CELAM). E o documento de conclusãodesta conferência, que leva o nome da cidade que sediou o evento “SantoDomingo”, diz: “O povo de Deus está constituído, na sua maioria, por fiéisleigos, agentes e destinatários da Boa Nova de salvação”. Eles sãochamados por Cristo como igreja a exercer no mundo, vinha de Deus,uma tarefa evangelizadora indispensável. A eles se dirigem hoje aspalavras do Senhor: “Ide por todo mundo e proclamai o Evangelho a todacriatura”.

1.4 O PROTAGONISMO DO CRISTÃO LEIGO

O mesmo documento de Santo Domingo acentua: “A importância dapresença dos leigos na tarefa da Nova Evangelização que conduz àpromoção humana e chega a informar todo o âmbito da cultura com aforça do Ressuscitado, nos permite afirmar que uma linha prioritária denossa pastoral, fruto desta IV Conferência, há de ser uma Igreja na qualos fiéis leigos sejam protagonistas”.

E aqui também éimportante entendermos bem oque significa o termo“protagonista” para seentender o alcance e osignificado da missão que aIgreja espera de um leigocristão. Protagonista é um termoligado à arte dramática. É apessoa que desempenha umpapel importante na peça ouocupa o primeiro lugar num

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Subsídio nº 1

acontecimento. É aquela pessoa que é agente ativo.

Desta forma, ao se dizer que o leigo é protagonista na Igreja, significareconhecer a importância de sua função. Sem o exercício de sua missãonão acontece Igreja. Permanecerá uma lacuna nos serviços da igreja.Ou ela não seria “comunidade”.

Reportando esse significado para o campo da Igreja, pode-se afirmarque o cristão leigo é protagonista, o agente principal da Evangelização.Esta missão começa na família, no trabalho, na sociedade. Por estarinserido no mundo, o cristão leigo ocupa espaços não ocupados pelosministros ordenados ou religiosos e pode assumir frentes de evangelizaçãoque sacodem, inclusive, a igreja-instituição, ajudando a reordená-la, atomar posturas frente aos desafios que se apresentam. O leigoprotagonista é agente e destinatário da boa notícia de salvação.

1.5 LEIGO AMIGO DE MURIALDO

Com esta visão fica mais fácil caracterizar quem é um Leigo Amigode Murialdo. Ele é, antes de tudo, esse cristão batizado, que assume acausa de Jesus e se compromete com sua mensagem.

É aquele que exerce seu protagonismo sobretudo na defesa e napromoção da vida das crianças, adolescentes e jovens empobrecidos erejeitados pela sociedade... Que se preocupa ativamente com o resgateda cidadania destes, favorecendo-lhes condições dignas de vida; que sepreocupa com sua educação, com suaformação integral, inclusive profissional.É o cristão leigo que assume essa causaem nome e a exemplo de Jesus Cristo quedisse: “Não afasteis as crianças, deixai quevenham a mim”.

O Leigo Amigo de Murialdo é ocristão que assume essa causa motivadopelo exemplo de Murialdo que não queriaver perdido nenhum daqueles seusjovens; que queria vida aqui com pão

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

suficiente, abrigo, amor, educação e salvação eterna para esses jovens;que gastou as riquezas que tinha e seu tempo, energias, talentos e vidapara que eles tivessem mais vida.

O Leigo Amigo de Murialdo é o cristão atento aos sinais dos tempos,aberto e sensível aos clamores dos que vêm dos marginalizados, atentoe sensível às preocupações da Igreja e disposto a acolher em si o amorde Deus, infinito e misericordioso, e ser amor para os outros.

CAPÍTULO IIVOCAÇÃO DO CRISTÃO LEIGO

2.1 VOCAÇÃO, OQUE É?

É fundamental quese comece por definir apalavra “vocação”. Elavem do latim “vocare”,que quer dizer “chamar”.Vocação é um chamadode Deus e uma respostada parte da pessoa que é chamada.

2.2 A QUE É CHAMADO UM CRISTÃO LEIGO?

2.2.1 SER PESSOA HUMANA

O cristão leigo é chamado, antes de tudo, a ser pessoa humana,que cresce, que evolui e, por isso, é chamada a fazer acontecer nela obem da saúde física e mental, o bem da honestidade profissional, o bemda cultura, do amor fraterno, da sabedoria humana, da dignidade, o bemda liberdade, da emancipação...

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Subsídio nº 1

É chamado a ser pessoa que faz desabrochar o conjunto dasaptidões, das potencialidades, dos carismas e dos talentos na dimensãofísica, psico-social espiritual e religiosa.

2.2.2 SER PESSOA CRISTÃ

O cristão leigo é chamado a ser pessoa cristã. Cristão deriva deCristo. É nele e por ele que o cristão recebe a energia da vida da graça,da vida de Deus, a energia da vida eterna, do amor, do bem-querer eternode Deus. É chamado a comunicar Cristo, a fazer acontecer a vida eterna,a vida do Espírito.

Ser pessoa cristã é ser vocacionada a:

Ser uma pessoa de fé, expressa na adesão à Palavra de Deus,celebrada nos sacramentos e vivida na caridade. Essa fé chama o cristãoà conversão e à adesão pessoal a Jesus Cristo, senhor e salvador, e fazcom que ele viva a vida nova segundo o Espírito.

Ser pessoa de esperança, que é a certeza de que Deus está emnós e nos concede o que é necessário para sermos Cristo, para sermosvida eterna. O cristão que tem esperança tem estas duas atitudes:confiança e abandono em Deus.

Ser pessoa de amor-cristão. Unida a Deus, e por causa do amor deDeus dentro de si, a pessoa passa a amar tudo e todos em Deus, comconsciência de si e do outro. Toma consciência de Deus. Acolhe e aceitaa si, aos outros e a Deus. Compromete-se com o outro e com Deus. Apessoa de amor-cristão cria espaço para que Deus possa se revelar eagir através dela. Coopera com Deus para fazer acontecer o amor, obem-querer, a misericórdia, a mansidão, a paz, a vida... Amar com amor-cristão é ser imagem e semelhança de Deus. O amor-cristão capacita apessoa a amar os menos amados, os rejeitados e humildes da terra.

Ser pessoa evangelizadora. Deus chama, convoca e provoca aacolher em si o dom da graça, o anúncio da salvação e da vida que éJesus Cristo. Deus chama a pessoa a acolher e fazer dentro de si aexperiência do amor pessoal, infinito, terno e misericordioso que ele tempara cada pessoa. Deus chama a ser pessoa de oração, de comunhãocom ele.

Ser pessoa evangelizadora. Os fiéis leigos são chamados a anunciar,

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

sobretudo com o testemunho, o Evangelho de Jesus.

São chamados a fazer o mais simples e comovente anúncio que aIgreja deve à comunidade: “A pessoa é amada por Deus!” E para essamissão contam com a graça dos sacramentos e com os dons do EspíritoSanto.

2.3 O CRISTÃOLEIGOEVANGELIZADOR

Como evangelizador,o cristão leigo:

• é vocacionado a sersanto;

• dá testemunha desua fé, de sua esperança,de seu amor cristão;

• sente-se livre pra invocar e louvar o nome do Senhor;• sente-se chamado em primeira pessoa: “Ai de mim se eu não

evangelizar”;• vive e realiza sua vocação estando no mundo, do jeito do fermento

no meio da massa que é a força que a faz crescer;• vive o Evangelho servindo a pessoa e a sociedade;• tem parte viva e ativa na igreja e coopera na dinâmica e na

organização das comunidades;• tem na família o berço de amor, da fé, da vida... o primeiro espaço

para humanização e socialização do ser humano;• descobre e ajuda a descobrir a dignidade inviolável de cada ser

humano, respeitando, promovendo, os direitos da pessoa;• venera o inviolável direito à vida. E isso é confiado, sobretudo,

aos pais, aos educadores, aos agentes de saúde, aos que detêm o podereconômico e político;

• participa da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa,administrativa, cultural... sempre na ótica do bem comum;

• põe a vida humana no centro da vida econômica e social.

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Subsídio nº 1

2.4 CHAMADO A AGIR NO MUNDO

O cristão leigo não é chamado a deixar o lugar que ocupa no mundo,como sublinha São Paulo: “Fique cada um de vós diante de Deus nacondição em que estava antes de ser chamado” (cor 7,24). O mesmoaspecto é reforçado pelo Vaticano II: “Os fiéis são chamados por Deuspara, ali onde estão, exercendo seu próprio ofício, inspirados pelo espíritoevangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro...”

Desta forma, o estar e o agir no mundo são para os fiéis leigos umarealidade não só antropológica e sociológica, mas também teológica eeclesial, pois é na sua situação intramundana que Deus manifesta o seuplano e comunica a especial vocação de procurar o Reino de Deustratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus”.

CAPÍTULO IIIVIDA E ESPIRITUALIDADE DE MURIALDO

3.1 FAMÍLIA EINFÂNCIA

Leonardo Murialdonasceu em Turim, Itália, em26 de outubro de 1828.Penúltimo da família de 9,teve 7 irmãos e um irmão.Ele crescia a olhos vistos eseu caráter era afetuoso,dócil, respeitoso. Os pais oadoravam, principalmentea mãe: “Nadino, te adoro tanto... tenho medo de pecar querendo-te assim”,disse ela certa vez. Murialdo lembraria esse momento de intimidade comouma das mais doces recordações da mãe.

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

O pai morreu quando ele tinha 5 anos. A mãe, com toda aresponsabilidade familiar, preocupava-se, sobretudo, com a formaçãoreligiosa dos filhos.

Aos 8 anos Nadino foi estudar como interno num Colégio de Savona.No caminho para esta localidade sensibilizara-se com uma mendiga euma criança, oferecendo-lhe seu lanche. E esta vai ser uma característicade sua vida inteira.

No colégio sempre obteve o primeiro lugar na piedade e nocomportamento. E mereceu também primeira colocação nos estudos.Tornou-se alvo de inveja para alguns colegas. Estes faziam de tudo paraprejudicá-lo, mas encontraram sempre um Leonardo paciente, pronto paraperdoar. Porém, foi cedendo e tornando-se displicente nos estudos e naespiritualidade. Numa reação forte preferiu interromper sua formaçãocultural e viver numa situação duvidosa.

Com 16 anos era um moço elegante, nobre, inteligente e rico. Olhavapara o futuro com segurança e serenidade, mas uma incerteza oatormentava: qual seria sua vocação? Sabia que o essencial não era teruma carreira brilhante, mas percorrer o caminho que Deus lhe traçava.

Um dia, Leonardo assistiu a um sermão sobre o inferno e o assuntoo impressionou tanto que ele sentiu o dever de salvar a própria alma e aalma dos pecadores. Resolveu ser padre. Correu para casa e comunicouessa notícia à mãe. Os parentes tentaram desviá-lo do sacerdócio,preferiram um Leonardo engenheiro, médico, banqueiro como o pai,professor, advogado ou militar. Foi tudo em vão. Leonardo estava decidido.

3.2 A DESCOBERTA DO AMORDE DEUS E A MISSÃO DE AMAR

Já sacerdote diocesano, éconvidado a trabalhar no Colégio dosArtigianelli (pequenos artesãos), onde foidiretor até o fim de sua vida. Abandonouos privilégios de sua classe para serviraos mais pobres. Amava as criançasporque seu coração expandia amor.

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Subsídio nº 1

É interessante perceber que a experiência do inferno não levouMurialdo a ter medo ou pavor de deus, mas o conduziu a uma experiênciae reflexão da descoberta do Deus-Amor. Mais do que se prender ao infernoe seus temores, o desafio de sua vida esteve em apresentar o “céu”àqueles que viviam no inferno da Revolução Industrial que se implantavana Europa. Mais de uma vez, em seu Testamento Espiritual, Murialdo fazalusão ao amor que percebia receber, especialmente na infância, porparte de sua mãe.

Com toda certeza, a sensibilidade do coração de Murialdo para ouviro grito de dor das crianças e dos operários tem raízes profundas nocoração de sua mãe, bem como, na descoberta do amor infinito quepercebia Deus ter por ele. Daí que costumava privilegiar a educação docoração.

Constantemente citava a educação do coração ligada à necessidadede ter educador com coração educado. Lembrava que não basta amaras crianças, mas que é preciso ser digno do amor delas. Dizia tambémaos seus educadores: “Nós temos o cuidado daquilo que é mais preciosona sociedade, isto é, as crianças. E o que é mais precioso nas criançasnão é tanto a inteligência, o comportamento, a disciplina ou a tarefa feita,mas sim, o coração. O coração é o centro da pessoa”. Desta forma, educaré um gesto profundo de amor, uma ação que brota do coração.

3.3 O ENVOLVIMENTO DOS LEIGOS

Toda obra educativa de Murialdo passou pela necessidade de somarforças junto aos leigos. O clero sozinho era muito pouco para uma ação

eficaz na grandiosidade dos problemasespirituais e materiais em que estavaenvolvida a infância, a adolescência e avida de um modo geral. Os leigos nãopodiam ficar por fora, como merosobservadores.

Especialmente para ajudar noColégio Artigianelli, Murialdo atuou juntoà Associação de Caridade. Esses leigoscolaboradores ouviram-no falar da

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

importância dos aspectos: fé, unidade, comunhão e planilha. Destacavaimportância também para a formação. Neste campo são exemplos de seupensamento:

“Para os católicos dos tempos modernos, interessar-se pela vidapública e agir na ação social é um dever absoluto como cidadão, comocrente, como cristão.”

“À oração, ao sacrifício, ao protesto, deve-se unir a propaganda daverdade, da caridade ativa, em favor dos humildes, dos pobres e dosoperários. Precisamos sacudir os católicos e dar-lhes um pouco decoragem para a ação.”

“O leigo de qualquer classe social, hoje pode ser um apóstolo nãomenos que o padre e, em alguns ambientes, até mais que ele.”

“As mulheres cristãs possuíam a firme persuasão de que possuíaem si uma grande força latente que precisava ser aproveitada ao máximo.A mulher pode sair das quatro paredes de sua casa, pois a espera umagrande missão na Igreja e na sociedade.”

A meta de Murialdo é formar uma bem unida família capaz de apontaros desafios que sufocam a vida.

A idéia gira em torno do fato de que Josefinos e Murialdinas formem,com os leigos, comunidades ampliadas de serviço, especialmente a favordas meninas e meninos empobrecidos, “para que não se percam”, umafamília e que eles sejam para os pequenos “amigos, irmãos e pais”.

CAPÍTULO 4IDENTIDADE DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

4.1 O QUE É IDENTIDADE

Quando observamos a carteira de identidade de alguém,percebemos que nela existem alguns dados que revelam as característicasdessa pessoa. Entende-se por identidade, então, o conjunto e caracterespróprios de uma pessoa, grupo...

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Subsídio nº 1

Identidade é aquilo que dá a qualidade dealguém como nome, profissão, sexo, impressãodigital, filiação...; aquilo que é consideradoexclusivo dessa pessoa. Esse conjunto decaracterísticas próprias é levado em consideraçãono momento em que ela precisa ser reconhecida.

Ao falarmos em identidade do Leigo Amigode Murialdo, fala-se do conjunto de característicasque o identificam com alguém que, imbuído de umamística, doa parte de seu tempo, de sua vida, desua preocupações, em favor das crianças e

adolescentes empobrecidos das Obras Josefinas e Murialdinas e que otornam inconfundível em meio a outras pessoas ou grupos que tambémtrabalhem com crianças e adolescentes empobrecidos.

Assim, a identidade do Leigo Amigo de Murialdo vem a ser a suamarca própria de ser e agir. Aquilo que o faz diferente nesta ação.

4.2 O QUE É SER LEIGO?

Aqui o termo leigo é usado na sua relação com o termo Igreja. Emgrego, se diz laos=povo e Igreja deriva de ecclesia=assembléia do povocristão.

Desta forma, Igreja não é o “ambiente dos padres” e, sim, acomunidade. O batismo vocaciona a pessoa à união com Deus. Ele nosleva à comunhão com a Santíssima Trindade. Tal vocação nasce na igrejae amadurece na mesma. O batismo nos leva a fazer parte do único povode Deus: igual dignidade, graça e vocação.

Desta forma pode-se dizer que leigo é alguém que, sendo membroda igreja, não pertencendo ao clero (os consagrados pelo sacramentoda Ordem ou mesmo a vida consagrada – religiosa) assume um papel deimportância sem par na mesma. Ele é parte integrante e indispensáveldela. Assim, ele é um cristão que participa da condição comum de pessoahumana. Mas, ao mesmo tempo, está separado dos demais membros dahumanidade pela sua consagração batismal. Se isto lhe dá dignidade,também lhe confere ministérios e serviços no reino de Deus.

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

O leigo, desta forma, é alguém comprometido com o Projeto de JesusCristo: uma sociedade justa e fraterna.

4.3 O QUE É SER AMIGO DE MURIALDO

Ser amigo de Murialdo é ser alguém sensível aos pequenos maisempobrecidos e marginalizados. É estar atento aos sinais dos tempos. Éidentificar-se com a missão assumida por São Leonardo Murialdo. É seramigo de crianças, adolescentes e jovens empobrecidos. Por quê? PorqueMurialdo fez da sua vida um ministério de dedicação àqueles que, em seutempo, estavam à margem da sociedade.

É alguém que educa o seu coração para ser digno do amor demeninos e meninas. Nessa postura, sabe ir além dos sentimentalismosou atitudes piegas. Ao contrário, aceita o enfrentamento, o desafio, oconflito e a luta pelo direito dos pequenos.

Movido pela fé ou por razões pessoais? Ser Amigo de Murialdo exigemuito mais do que buscar interesses vazios ou compensações. Está forade qualquer análise esse pensamento. Outro risco sério, é aquele deesperar elogios, reconhecimentos humanos, promoções pessoais ouentrar no grupo por causa de determinado amigo, padre ou freira.

Qual é, então, a força que move esse espírito de doação? Aquientra necessariamente a força da fé, a experiência de Deus (do divinodesconhecido), a mística de Murialdo, está no compromisso cristão quenasce do batismo. Depois porque, atentos aos sinais dos tempos, ouvindoo grito profético dos pequenos, é preciso dar resposta urgente a essedesafio.

4.4 QUEM É E O QUEFAZ O LEIGO AMIGODE MURIALDO

Por sua vez, os LeigosAmigos de Murialdo seidentificam através do quesão e do que fazem.Podemos ressaltar:

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Subsídio nº 1

• cultivo de uma mística (espiritualidade) bem definida;

• contínua atualização, com formação para estar atento aos sinaisdos tempos;

• vivência dos sacramentos;

• compromisso com a vida das crianças e adolescentes empobrecidosna rua, na instituição, na escola, na oficina, no bairro, na Câmara,na prefeitura;

• defesa dos direitos das crianças e adolescentes em todos os níveis;• auxílio material às crianças através de programas;• participação em retiros e concursos de formação;• prestação de serviços gratuitos em obras josefinas ou murialdinas;• em suas ações, a criança é o centro de tudo;• percepção de que a criança é portadora da revelação;• visão do mundo a partir da criança;• constante comunhão com a ação da igreja.

4.5 UMA AÇÃO CRISTÃ TRANSFORMADORA

Nossa ação tem uma cara própria. Ela não visa sustentar e reproduziro sistema social marginalizante. Deve ser denunciadora das raízes domal social e moral que geram este modelo (que exclui os pequenos, osfrágeis, fracos, pobres...).

É também preciso mudar, mesmo que forçando, as relações sociaispara matar as estruturas de pecado. Temos consciência de que em algunsmomentos é necessário “dar o peixe”, porém sem esquecer a ordemestrutural. Não se trata de fazer reparos, reformas: mas saber que éexatamente ali que se encontram resultados da lógica do sistemasociopolítico econômico que se instalou na sociedade. Não podemos seringênuos. O assistencialismo aqui é paliativo. A nossa ação tem que sertambém denunciadora. Estando com as crianças, somos denúnciaencarnada. É impossível ser “morno”.

Mas, por que tudo isso? Porque o Leigo Amigo de Murialdo parte deprincípios cristãos. Tem suas motivações profundas no Evangelho. E este,por sua vez, é muito exigente. Apresenta um novo projeto de sociedade,comprometendo os cristãos com uma prática transformadora.

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

4.6 A IDENTIDADE DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

O Leigo Amigo de Murialdo tem, então, um rosto próprio.

Os dados que hoje identificam o Leigo Amigo de Murialdo e que lhedão rosto próprio, vêm sendo construídos, aos poucos, na história. Históriaque teve seus inícios com São Leonardo Murialdo que confiava e tinhagrande colaboração dos leigos em seu tempo. Atendendo aos sinais dostempos, essa história continuacontando com essa forçaindispensável para a realizaçãode ações em favor dospequenos. Agora, mais do quenunca, sentimos que o queidentifica um leigo ou um grupode Leigos Amigos de Murialdo,mais do que fruto de discursos,é o resultado de uma práticalibertadora.

A identidade do Leigo Amigo de Murialdo é, pois, das tentativas derespostas aos apelos que surgem da vida dos pequenos. Ela se identificacom a realização de um sonho da Igreja que, como servidora do mundo,vai se encontrar recompensada neste campo quando ela mesma acolhera criança e introduzir o conjunto da sociedade ao reconhecimento concretoda criança como aquilo que de mais precioso ela possui. E o que é maisprecioso nas crianças é o coração, como afirmava Murialdo.

A identidade do Leigo Amigo de Murialdo é escrita na atenção aossinais dos tempos que exigem mudanças urgentes num corpo socialenfermo por causa das crianças sem pão, sem paz, sem vez... apenas e,às vezes, somente com a sua. Tal identidade aponta para um leigo corajosoque precisava denunciar às estruturas de pecado e enfrentar essasociedade. Também se faz necessário anunciar a novidade a partir dospequenos, os que socialmente menos contam. Acreditar neles e em suascapacidades. Não por pena, mas reconhecendo sua dignidade comopequenos profetas que denunciam em seus corpos o descaso social.

O Leigo Amigo de Murialdo tem seu rosto diferente que se debruça,se encanta com a vida. Ele tem um jeito diferente de olhar a rua, as

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praças, a cidade, o mundo... Olha o mundo a partir da criança e doadolescente. É presença forte de anúncio em qualquer lugar: na rua, noelevador, no trabalho, na escola... porque sabe que a criança é única eirrepetível e, por isso, busca colocá-la no centro da vida, da igreja e dasociedade. A criança vale todo um universo. Identifica-se com o conflitoporque conflitivo é o dia da criança.

O Leigo Amigo de Murialdo deixa resplandecer uma espiritualidadee mística bem próprias, pois sua identidade é pintada pelo Evangelho epelo caminho da igreja.

CAPÍTULO VMÍSTICA DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

5.1 O QUE É MÍSTICA

O termo mística associa-se àespiritualidade. É fruto de umaexperiência de fé, ou é umaexperiência religiosa. A mística deuma Associação ou de uma pessoaé que envolve o seu modo de ser,de pensar, de agir... e que lhe dámotivações profundas para o viver.É o motivo maior que impulsionaas ações e a vida.

Assim, a mística é o motivoque responde à pergunta: “Por quefaço aquilo que faço?” E quantomais forte for essa dimensão emsua relação com a fé, tanto mais

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Identidade e Mística do Leigo Amigo de Murialdo

difícil será o abandono da causa que se abraçou.

A mística vem a ser como o tesouro que dá o brilho e o valor tãoespecial à ação. A ação é o que se vê. Para encontrar a mística é necessárioolhar o que se vê, o que não aparece, mas que é aquilo que dá sentido,o impulso e o sabor à ação.

5.2 A FONTE DA MÍSTICA DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

E o Leigo Amigo de Murialdo, onde encontra fundamentação parasua mística? Em que se baseia a espiritualidade para seu fazer e paraseu ser?

Ela nasce, com certeza, daconvicção de Murialdo: “Deus nosama”. Como ele mesmo diz, esse amoré “infinito, pessoal, terno, atual emisericordioso”. E diz também: “Qualo coração que não retribuiu com amoràquele que o ama?” A percepção clarada acolhida amorosa que Deus fazimpulsiona a pessoa a amar. O amorcristão é um exercício que, nascendodessa certeza do amor de Deus, nosleva a amar. Mas amar de um modoespecial àqueles mais rejeitados, osmenos amados.

E Deus nos ama hoje, agora, como seres únicos. “Nós lhe somosqueridos como a pupila dos seus olhos”.

Mas, como, onde, Deus me ama? É isso. Deus nos ama e é precisocriar sensibilidade a estas suas manifestações de amor:

• ama-me me fazendo existir e ser o que sou;

• dando-me pessoas boas, amigas, companheiras, uma família, umaIgreja, acontecimentos de que participo, um carisma;

• fazendo-se presente em mim pela eucaristia, pelo batismo, pelareconciliação;

• estando todo dia muito próximo de mim: “Eu estarei contigo todos

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os dias” (Ex 3,12);

• trabalhando e sofrendo por mim... A roupa que uso, a comida queme alimenta... são frutos do trabalho de salvação, aqueles de Jesus;

• dando-me capacidade de amar: “Dar-vos-ei um coração novo...um coração de carne” (Ez 31,26).

Enfim, Deus me ama em coisas tão simples que, às vezes, o nossodia-a-dia e a correria das preocupações mecânicas nos tiram apossibilidade de percepção.

5.3 JESUS ESTÁ NAS CRIANÇAS

Os Leigos Amigos de Murialdo existem, enquanto organização, emfunção das crianças e adolescentes empobrecidos. A missão desse leigoé estar na defesa e na garantia dos direitos desses pequenos. Nemsempre é fácil. Porque o leigo atua num mundo onde se valoriza aqueleque “tem” (ter), aquele que “pode” (poder) e aquele que é “feliz” (prazer).Aí o leigo, qual apóstolo, é chamado a defender a criança, a expressãodaquele que não tem, que não pode e que é infeliz.

“E aquele que receber uma criança como esta por causa de meunome, recebe a mim.” (Mt 18,5)

Jesus dá a abrangência da mística quando diz “por causa de mim”.O motivo que nos levaa acolher ospequenos é de fé: porcausa de Jesus.Acolher uma criançatraz, dentro dessadimensão mística,mais uma grandesurpresa: é a acolhidade Jesus. Jesus estána criança. Ela é aexpressão de Jesusrejeitado pelas

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autoridades, pelo sistema, pelo poder, pelos valores de uma sociedadefundamentados no poder e no prestígio.

Não se trata de acolher a criança porque ela é meiga, dócil, carinhosa,educada e sem maldade. Essa acolhida é a acolhida a Jesus porque ela,a criança, é o símbolo maior dos rejeitados, dos excluídos, dosmarginalizados, do povo. E com eles se identifica Jesus.

5.4 OS SACRAMENTOS ALIMENTAM A MÍSTICA

A mística, esse combustível escondido da ação, tem seus canais defortalecimento. O cristão encontra nos sacramentos essa fonte capaz detirar “coisas novas de baús velhos”. Os sacramentos são sinais sagrados.Trazem a visibilidade, a infinitude do amor de Deus. É a garantia da atuaçãode Deus em nossa vida.

A espiritualidade, ou essa mística própria de um Leigo Amigo deMurialdo, pode esvaziar-se sem a prática dos sacramentos. Nesseesvaziamento esvazia-se, com certeza, a pessoa, e esvaziam-se suasações. Ser Leigo Amigo de Murialdo perde seu significado. Aí entramoutros interesses bem diferentes daquele do serviço à vida dos pequenos.Entra o orgulho, a vaidade, o egoísmo, a busca do poder, do aparecerem evidência. As motivações fortes terão caráter meramente humano. Ecom muita facilidade acontece a decepção e o fracasso de um projetopessoal de vida.

Especialmente a eucaristia é essa força alimentadora da mística.Ela transporta para a comunhão com Jesus e impulsiona a comunhãocom o outro. Como a reconciliação traz presente a certeza do amor-perdãode Deus e redimensiona a vida num compromisso de fraternidade, ossacramentos privilegiam espaços de rara riqueza para a dimensão mística.

5.5 A MÍSTICA DO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

Podemos concluir, então, que alguém, ao dizer-se Amigo de Murialdo,deve antes estar imbuído de sérios compromissos de fé. Deve estarconvencido do amor de Deus. Mas, entenderá essa experiência não comouma aventura passageira da própria vida, não como algo puramente

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festivo. Mas comoaquilo que dá o sentidomaior da própriaexistência. Por outrolado, a mística envolveo amor operativo; aque-le amor que leva arealizar ações, mani-festações práticas deamor junto daquelesque não poderão “retri-buir ou devolver” o bemque recebem. Assimaparece a gratuidade

da ação. O bem é bom e fazê-lo faz bem.

E é evidente, é por causa de Jesus. É Ele que convoca. Não são osreligiosos, os amigos, e, antes, Jesus. As pessoas são a clareza econsciência de que fazer pelos meninos é estar fazendo para Jesus. Issovale a pena!

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