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APRESENTANDO A HOMEOPATIA INTRODUÇÃO Podemos dizer, de forma sucinta, que a Homeopatia é o tratamento do doente por meio de um medicamento capaz de produzir em sua experimentação no homem são um conjunto de sintomas com características “semelhantes” ao conjunto de sintomas característicos do doente. Muito importante, entretanto, é o fato da homeopatia tratar dos doentes e não de suas doenças, embora resultando também na cura de suas doenças. A abrangência, significado, alcance e importância desta questão poderá ser percebida ao longo do desenvolvimento desta apresentação. Vamos primeiro ver as origens do tratamento pela “similitude” na medicina desde a Grécia antiga: A SIMILITUDE NA MEDICINA NA GRÉCIA ANTIGA HIPÓCRATES O tratamento pelo semelhante - “Similia Similibus Curantur” - já havia sido citado por Hipócrates, médico que viveu na Grécia antiga, na época de 460 a 377 anos antes de Cristo. Dizia ele que haviam duas formas básicas de tratamento: Cura pelo contrário – “Contraria Contrariis Curantur”; Cura pelo semelhante - “Similia Similibus Curantur”.

Apresentando a Homeopatia - mariocabral.files.wordpress.com · Continuou seus estudos em Viena, na Áustria e logo a seguir, em Erlangen, onde se formou e apresentou sua tese em 1779:

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APRESENTANDO A HOMEOPATIA

INTRODUÇÃO

Podemos dizer, de forma sucinta, que a Homeopatia é o tratamento do doente por meio de

um medicamento capaz de produzir em sua experimentação no homem são um conjunto

de sintomas com características “semelhantes” ao conjunto de sintomas característicos do

doente.

Muito importante, entretanto, é o fato da homeopatia tratar dos doentes e não de suas

doenças, embora resultando também na cura de suas doenças. A abrangência, significado,

alcance e importância desta questão poderá ser percebida ao longo do desenvolvimento

desta apresentação.

Vamos primeiro ver as origens do tratamento pela “similitude” na medicina desde a Grécia

antiga:

A SIMILITUDE NA MEDICINA NA GRÉCIA ANTIGA

HIPÓCRATES

O tratamento pelo semelhante - “Similia Similibus

Curantur” - já havia sido citado por Hipócrates,

médico que viveu na Grécia antiga, na época de 460

a 377 anos antes de Cristo.

Dizia ele que haviam duas formas básicas de

tratamento:

• Cura pelo contrário – “Contraria Contrariis

Curantur”;

• Cura pelo semelhante - “Similia Similibus

Curantur”.

Porém, esta segunda forma de tratamento, pelos semelhantes, que veio a ser a base da

Homeopatia, somente foi muito bem estudada mais de 20 séculos depois.

Christian Friedrich Samuel Hahnemann

1755 a 1843

Foi o médico alemão, Christian Friedrich Samuel

Hahnemann, quem a decodificou, isto é, nos

deixou um importante tratado sobre os princípios

e as regras para o bom exercício desta arte de

curar e nomeou esta forma de tratamento como

“Homeopatia”, que vem do grego, em que

“homoios” significa semelhante e “pathos”

doença.

Hipócrates, quem primeiro citou a “Cura pelo Semelhante - Similia Similibus Curantur”

nasceu na ilha de Cos na Grécia e descendente de um dos ramos da família de Podalírio,

filho de Asclépio.

Asclépio, príncipe de Tricca, na Tessália, região

da Grécia, que viveu no século 13 antes de

Cristo, ficou conhecido por seu grande saber

médico (Esculápio, como ficou conhecido pelos

romanos, tornou-se um termo empregado para

designar os médicos).

Foi condiderado o Deus da medicina pelos

gregos.

Asclépio

HIGÉIA

Asclépio foi pai de Higéia, Panacéia,

Telésforo, Podalírio e Macaão.

Higéia dedicava-se à saúde pública, cuidava

dos doentes de uma forma preventiva, com

banhos, e de seu nome veio o termo

higiene. Já Panacéia dedicava-se à farmácia,

a encontrar recursos para curar todas as

doenças.

Recebeu a denominação de Asclepion o lugar onde os cidadãos gregos iam buscar

conhecimentos sobre a saúde e se curar, pela hidroterapia através de banhos medicinais,

pela dietoterapia através de alimentação especial para cada paciente, pela helioterapia

através de banhos de luz solar, pela geoterapia através de emplastros e uso de diferentes

tipos de argila, pela cromoterapia através do uso das cores e pelas artes cênicas.

Foi construído um Asclepion na ilha de Cós, que fica na região do Dodecaneso, um grupo de

doze ilhas da Grécia, no sudeste do mar Egeu.

Asclépion de Cós

Asclepion de Cós

Teatro de Cós - palco de artes cênicas na Grécia Antiga

Também na Grécia, na ilha de Epidaurus, foi construído, um anfiteatro, o Epidaurus,

construído no século IV antes de Cristo, com capacidade para 14.000 pessoas.

Teatro de EPIDAURUS

Alguns dos descendentes de Asclépio fundaram, tempos antes, na ilha de Cós (Kos), a

“Escola de Cós”, da qual fez parte Hipócrates.

Hipócrates, o principal representante desta escola médica de Cós, é considerado o pai da

Medicina por ter exercido a medicina sem conotações religiosas ou mágicas, tendo

fundamentado a sua prática médica em uma minuciosa observação da evolução dos

sintomas dos doentes no percurso de seu adoecimento ou de sua melhoria. Construiu

assim um vasto e notável conhecimento empírico.

Hipócrates centrava o tratamento no doente e não na doença, procurando valorizar as

influências climáticas, dietéticas e ambientais no processo de adoecimento e de cura de

cada doente, percebendo o seu adoecer como uma unidade individualizada, uma síntese, e

não como um processo independente, localizado em uma parte ou órgão. Considerava que

os sinais podiam ser observados pelo médico, mas que os sintomas eram sentidos e

expressos pelo paciente. Dava valor também aos sintomas mentais, às expressões, aos

costumes, aos sonhos, ao sono, à transpiração, urina, fezes, pele, enfim, a todos os

aspectos possíveis de serem percebidos pelo médico e aos expressos pelo doente.

O conhecimento que originou compõe o “Corpus Hippocraticum”, são mais de 50 tratados

em cerca de 70 livros. Entre os mais conhecidos estão: “Os Aforismos”, “O Juramento”, “As

Dietas”, “As Epidemias” e “Os Prognósticos”.

Foi também um animista. Dizia que o corpo é animado por um sopro, pneuma, que o

vivifica, organiza e harmoniza a vida, conforme o grupo dos filósofos daquela época

também chamados de "naturalistas" ou filósofos da “physis”, como Anaximandro de

Mileto(611 – 547 A.C) e Anaxímenes de Mileto (588 – 524 A.C.).

Os "naturalistas" ou filósofos da “physis” procuravam entender o que seria o fundamental,

a origem, contrapondo ao secundário ou derivado, procurando sempre perceber o elo, a lei

ou o princípio que rege e une todos os fenômenos.

Para Hipócrates, este sopro vivificador e organizador da vida, tem a capacidade de manter a

saúde, através da “Vis Medicatrix naturae”, força natural de cura que atua em todos os

seres vivos para a manutenção da saúde, trazendo em si a possibilidade da cura, e

considera que o trabalho do médico deve ser o de procurar auxiliá-la no caminho da cura.

O pensamento de Hipócrates foi uma das principais fontes de estudos de Hahnemann, e

responsável pelo seu embasamento vitalista, e a sua afirmação de que uma das

possibilidades terapêuticas era através do “Similia Similibus Curantur” - ou seja, a cura pelo

semelhante - foi fundamental para Hahnemann perceber e dedicar-se a desenvolver com

grande rigor e minúcias as regras que regem a arte de curar pelo semelhante e nomeá-la

Homeopatia. Assim, podemos dizer que a medicina Homeopática tem uma de suas origens

em Hipócrates, na “Escola de Cós”.

Outras grandes influências nas concepções de Hahnemann foram de: Philippus Teophrastus

Von Hohenheim – conhecido como Paracelso (1493 – 1541); Francis Bacon (1561 – 1626);

Jan von Helmont (1577 – 1644); Thomaz Sydenham (1624-1689); Isaac Newton (1642 –

1727); Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716); Albrecht von Haller (1708 - 1777) e Paul

Josepf Barthez (1734 – 1806).

Outros descendentes de Asclépio, também do ramo de Podalírio, fundaram, também na

Grécia, uma escola, em Cnido, uma península próxima a ilha de Cos, que hoje faz parte da

Turquia.

Cláudio Galeno

Um dos grandes representantes desta “Escola

de Cnido” foi o médico grego, Cláudio Galeno,

que viveu por volta dos anos 129 a 199 depois

de Cristo. Esta escola tinha um pensamento

podemos dizer oposto à escola de Cos, de

Hipócrates.

Galeno trabalhou como médico dos gladiadores quando adquiriu experiência no

tratamento das feridas. Foi médico de senadores e do imperador romano Marco Aurélio a

quem curou de uma ferida na perna. Escreveu vasta obra, organizada em aproximadamente

500 volumes. A concepção médica de sua obra influenciou a medicina ocidental até a

atualidade.

A “Escola de Cnido”, de Galeno, considerava que a doença era devida a uma perturbação

local, de um órgão, de causa material, e que o tratamento devia ser dirigido à doença, à

parte, ou seja, uma visão centrada na doença, conceito que coincide com os paradigmas da

medicina alopática e enantiopática.

Christian Friedrich Samuel Hahnemann

1755 - 1843

Mas a história mesmo da Homeopatia se

inicia com Christian Friedrich Samuel

Hahnemann, o grande mestre que a

decodificou.

Hahnemann nasceu em Meissem, pequena

cidade da Saxônia, atualmente parte da

Alemanha, na virada do dia 10 para o dia 11

de abril de 1755, durante a guerra dos sete

anos de “Frederico, O Grande”.

Meissen – cidade onde nasceu hahnemann

A FORMAÇÃO DE HAHNEMANN

Hahnemann aprendeu a ler com seu pai que era pintor em uma fábrica de porcelanas. Foi

sempre muito dedicado aos estudos, e na adolescência já era fluente em alemão, francês,

italiano, inglês, latim, árabe e ídiche. Mais tarde também em grego, hebreu, espanhol sírio,

e caldeu.

Casa Natal de Hahnemann em Meissen

Os seus estudos de medicina que iniciou aos 20 anos em Leipzig (Saxônia – Alemanha),

foram custeados com seus trabalhos de tradução e aulas particulares de grego e francês.

Continuou seus estudos em Viena, na Áustria e logo a seguir, em Erlangen, onde se formou

e apresentou sua tese em 1779: “Etiologia e terapêutica das afecções espasmódicas”,

recebendo o grau de doutor em medicina.

Universidade de Erlangen

Em sua prática médica, Hahnemann já percebendo os efeitos por vezes danosos

provocados pela aplicação da medicina desta época recorria, conhecedor dos ensinamentos

de Hipócrates, principalmente, à indicação de dietas e exercícios físicos para o tratamento

de seus pacientes.

Porém, apesar de ter atingido uma relativa prosperidade desde o tempo que residiu em

Dresden, Hahnemann decide abandonar a medicina. O que mais o influenciou nesta decisão

foi sua incapacidade de, com os recursos da medicina de sua época, tratar das graves

doenças que acometeram seus filhos e amigos.

Hahnemann não mais suportava a ausência de uma base científica, de uma lei diretriz para

a terapêutica.

Assim, desiludido com a medicina desta época, dedicou-se no período de 1785 a 1790 aos

estudos, tradução e produção de inúmeros trabalhos.

Destes seus trabalhos, pré-homeopáticos, destacam-se:

Na Medicina:

• Publicou um trabalho sobre a assepsia com o uso de um sublimado mercurial, isto

por ter observado os barbeiros drenando abcessos e as parteiras atendendo as

parturientes.

• Na Saúde pública desenvolveu um método para a purificação da água que naquela

época já estava suja e contaminada, através do uso do nitrato de prata e a seguir o

sal, provocando floculação e desidratação.

Na Mineração:

• Publicou trabalho sobre a intoxicação dos mineradores nas minas de prata, cobalto e

cobre.

Na Indústria:

• Trabalho sobre a intoxicação das pessoas que usavam roupas vermelhas coloridas

com cobalto e das que cozinhavam com panelas de chumbo.

• Trabalho sobre a intoxicação pelo carvão mineral nas cidades que o usavam na

calefação ao invés do carvão vegetal. Observou e destacou a cura dos problemas

respiratórios destas pessoas pelo uso de pó do carvão mineral em pomada com

vaselina, no peito.

• Aperfeiçoou vários testes de bromatologia e criou métodos para a tintura dos tecidos

e testes para pesquisa de adulteração dos vinhos.

Na Farmácia:

• Trabalho sobre a intoxicação pelo arsênico, através do levantamento de inúmeros

casos de intoxicação por este, que na época era amplamente vendido nas farmácias

como febrífugo. Realizou um trabalho de intoxicação experimental com o arsênico

em 350 cachorros – as farmácias foram então proibidas da venda deste após ter

mostrado este seu trabalho no parlamento.

O SURGIMENTO DA HOMEOPATIA

Hahnemann já não clinicava, mas continuava estudando a medicina, à procura de algo que

ele não sabia, mas pressentia existir: “uma lei racional de cura”. Ele já compreendia que a

primeira condição para usar com vantagem os medicamentos era conhecer seus efeitos

sobre o organismo humano.

Suas palavras por volta de 1783:

“É a eleição do medicamento e a maneira de usá-lo que caracteriza o verdadeiro médico,

que não está ligado a nenhum sistema, que recusa o que não é investigado por ele mesmo e

não toma a palavra de outrem, tendo a coragem de pensar por si mesmo e tratar de acordo

com isto”.

Assim, em 1790, traduzindo a Matéria Médica editada em 1888 do escocês William Cullen

(1710 – 1790) discorda do que este diz: que a ação terapêutica da China sobre as febres

intermitentes é devida à sua ação fortificante sobre o estômago.

Dr. William Cullen (1712 - 1790)

Matéria Médica do Dr. W. Cullen

Resolve experimentar a China, e após escreve a seguinte nota:

A EXPERIMENTAÇÃO DA CHINA

Tomei como experiência, durante vários dias, duas vezes ao dia, quatro dracmas de boa

quina. No início, meus pés e as extremidades dos meus dedos logo ficaram frios; fui ficando

lânguido e sonolento, depois meu coração começou a palpitar e meu pulso ficou fraco e

acelerado; experimentei uma ansiedade insuportável, tremores, prostração de todos os

meus membros; em seguida, latejamento na cabeça, vermelhidão das faces, sede, e,

resumindo, apareceram todos esses sintomas, que são ordinariamente característicos da

febre intermitente, um após o outro, sem, no entanto, o frio peculiar e o calafrio. Esse

acesso durava duas ou três horas de cada vez e só reaparecia se eu repetisse a dose; caso

contrário, não; interrompi a dosagem e fiquei com boa saúde.

E concluiu:

A china exerce ação terapêutica sobre as febres intermitentes porque é capaz de produzir

estes mesmos sintomas, os sintomas das febres intermitentes, em sua experimentação no

homem são.

Durante muitos séculos se afirmou sobre a possibilidade da “cura pelos semelhantes”.

Foi porém Hahnemann quem determinou a regra para a sua aplicabilidade com o seguinte

procedimento:

“Tomei como experiência.”

A GENIALIDADE DE HAHNEMANN: a clínica dos semelhantes “similia similibus curantur” é

aplicável por intermédio de uma “experiência”:

“A EXPERIMENTAÇÃO NO HOMEM SÃO”.

Neste momento deixou a citação “os semelhantes se curam pelos semelhantes – similia

similibus curantur” de ser uma possibilidade para ser um procedimento a ser decodificado,

por intermédio da experimentação no homem são para a aplicação segundo estes critérios

de similitude.

Com este procedimento, percebeu Hahnemann regras precisas para o processo de

conhecimento das possibilidades terapêuticas das substâncias - a experimentação de cada

uma destas em experimentos no homem são, e assim passou a pesquisar e determinar o

conjunto de regras para o bom exercício do que nomeou como Homeopatia: a arte de

medicar pela similitude entre os sintomas obtidos através da experimentação no homem

são com os sintomas do doente .

A EPISTEME HOMEOPÁTICA

A episteme homeopática tem como pilares centrais:

• Lei dos Semelhantes

• Experimentação no “Homem São”

Como alguns dos pilares auxiliares que norteiam os procedimentos desta arte de curar

temos:

• Medicamento único

• Doses mínimas

• Individualização – Sintomas Característicos

• Conjunto representativo de sintomas característicos

• Doenças crônicas

• Vitalismo - doente x doença - sujeito x organismo

• Dinâmica miasmática

• Supressão e metástase mórbida

• Medicina do sujeito

A LEI DOS SEMELHANTES

A lei dos semelhantes é o Pilar Básico da Homeopatia – a similitude – o semelhante cura o

semelhante – lei já citada por Hipócrates, antes de Cristo: aquilo que é capaz de provocar

um sintoma é capaz de curá-lo. Porém ninguém até Hahnemann havia pesquisado sobre

esta forma de tratamento e muito menos pensado em como seria a forma de como saber o

que pode provocar o sintoma e menos ainda uma decodificação de todas as regras para o

exercício desta arte de curar como o fez Hahnemann.

A EXPERIMENTAÇÃO NO HOMEM SÃO

A experimentação no homem são é o segundo pilar da Homeopatia e condição sem a qual

não é possível aplicar com presteza a Homeopatia. Este pilar veio da genialidade de

Hahnemann: “tomei como experiência” - e assim estava consubstanciado o procedimento

para a aplicação da lei dos semelhantes.

Na Homeopatia, a este procedimento de “experimentação no homem são” denominamos

de ”experimentação patogenética homeopática”. Ao conjunto dos sintomas patogenéticos

de um medicamento, obtidos através de sua experimentação no homem são,

denominamos de “matéria médica homeopática” deste medicamento.

A similaridade, para a indicação do medicamento a ser prescrito, deve ser entre os

sintomas do “doente” e os sintomas obtidos através da “Experimentação no Homem São”.

Vejamos trechos de 2 dos 41 parágrafos onde Hahnemann em sua obra “Organon da Arte

de Curar” nos diz sobre a experimentação no homem são:

§108 - Não há, portanto, nenhum outro meio pelo qual seja possível determinar com

precisão os efeitos peculiares dos medicamentos na saúde do homem são, não há

maneira mais segura e mais natural de atingir este objetivo do que administrar

experimentalmente os diversos medicamentos, em doses moderadas, a pessoas sadias, a

fim de determinar as mudanças, sintomas e sinais da influência que cada um produz no

estado de saúde física e mental; isto é, quais são os elementos morbíficos que eles podem

e tendem a produzir, visto que, todo o poder curativo dos medicamentos depende deste

poder que possuem de poder alterar o estado de saúde do homem, sendo revelado

mediante a observação desse estado.

§ 120 - Portanto, os medicamentos dos quais dependem a vida e a morte do homem, sua

saúde e doença, devem ser precisamente distinguidos uns dos outros, e, por isso, testados

por meio de experiências puras e cuidadosas no homem são, para que seus poderes e

efeitos reais sejam bem determinados, a fim de se obter um conhecimento exato deles, e

podermos evitar qualquer erro em seu emprego terapêutico...

Porém, um parágrafo (§63) de Vital importância para a compreensão da Homeopatia e de

seus dois pilares centrais é aquele em que Hahnemann (Organon da Arte de Curar) nos diz

sobre o EFEITO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO DOS MEDICAMENTOS SOBRE O HOMEM SÃO:

§63 - Toda força que atua sobre a vida, todo medicamento afeta, em maior ou menor

escala, a força vital, causando certa alteração no estado de saúde do Homem por um

período de tempo maior ou menor. A isso se chama ação primária. Embora produto da

força vital e do poder medicamentoso, faz parte, principalmente, deste último. A essa

ação, nossa força vital se esforça para opor sua própria energia. Tal ação oposta faz parte

de nossa força de conservação, constituindo uma atividade automática da mesma,

chamada ação secundária ou reação.

1. Efeito Primário – ação do medicamento sobre o homem são.

2. Efeito Secundário – reação do homem são ao efeito primário (efeito rebote - em

sentido oposto).

Assim, NO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO teremos:

Efeito durante a medicação:

Sintoma do Doente -------------------------->

Ação do Medicamento Homeopático Reação do Doente à Medicação

------------------------------------------------> <------------------------------------------------ Mesmo sentido do sintoma do doente Sentido oposto ao sintoma do doente

Consequência após suspensão da medicação:

Sintoma do Doente Reação do Doente à Medicação

---------------------------> <------------------------------------------------- Sentido oposto ao sintoma do doente

Como conseqüência após a suspensão do medicamento homeopático teremos um Estímulo

à cura por intermédio da reação do doente à medicação homeopática, medicamento este

diluído e dinamizado, através de diluições seguidas de sucussões, provocando reação esta,

no sentido inverso ao de seu sintoma.

Já NO TRATAMENTO ENANTIOPÁTICO (pelo CONTRÁRIO), teremos:

Efeito durante a medicação: Sintoma do Doente -------------------------->

Ação do Medicamento Contrário Reação do Doente à Medicação <-------------------------------------------------- ---------------------------------------------------> Sentido oposto ao sintoma do doente Mesmo sentido do sintoma do doente Consequência após suspensão da medicação: Sintoma do Doente Reação do Doente à Medicação --------------------------> --------------------------------------------------> Mesmo sentido do sintoma do doente Como consequência após a suspensão do medicamento homeopático, teremos propensão

a tornar-se ainda mais doente por intermédio da reação do doente à medicação contrária,

reação esta no mesmo sentido da produção do sintoma, sobrepondo-se ao sintoma.

MEDICAMENTO ÚNICO Devemos usar medicamento único por que, assim como é feita a experimentação, com um único medicamento (substância simples ou composta) em diversos experimentadores para obtermos toda a gama de sintomas com as suas características provocadas por este, assim também deve ser a medicação para o paciente, com um só medicamento por vez. Somente desta forma poderemos avaliar o efeito da medicação e sabermos a que esta modificação ou não se deve e do seu sentido, isto é, a direção em que o quadro evolui, se para melhor ou pior. Com mais de um medicamento perdemos a avaliação de a que se deve a possível evolução.

DOSES MÍNIMAS

Doses mínimas de medicamento diluído e succionado - dinamizado - Hahnemann a

princípio começou a fazer experimentações em doses ponderais, ainda que diminutas, com

substâncias dos três grandes reinos da natureza, mineral, vegetal e animal. Com estas

experimentações e sua aplicação por similaridade com os sintomas dos doentes, percebeu

que antes da cura eram fortes as agravações dos sintomas do doente. Foi assim cada vez

mais diluindo a concentração da substância aplicada e succionando - dinamizando, com o

intuito de diminuir estas agravações, o que foi acontecendo. Podemos ver suas afirmações

neste sentido no parágrafo abaixo (Organon da Arte de Curar):

§ 253 - Entre os sinais que, em todas as moléstias, especialmente nas de natureza aguda,

nos informa de um ligeiro início de melhora ou agravação, o qual não é perceptível a

todos, o estado de espírito e todo o comportamento do paciente são os mais certos e

instrutivos. No caso de melhora, por menor que seja, observa-se maior conforto, calma e

despreocupação, melhor humor – uma espécie de retorno ao normal. No caso de

agravação, por menor que seja, observamos o contrário: tensão, desconforto de espírito,

da mente, observáveis na atitude geral, nos menores gestos e ações, que podem

facilmente ser percebidos mediante observação cuidadosa, mas que não podem ser

descritos com palavras (*).

(*) O s sinais de melhora do humor ou da mente, contudo, só podem ser esperados algum

tempo depois de haver o medicamento sido tomado, quando a dose houver sido o

suficientemente pequena (isto é, tão pequena quanto possível); uma dose

desnecessariamente grande, mesmo do remédio homeopático mais conveniente, age de

modo excessivamente violento, e produz, primeiro, uma perturbação física e mental

muito grande e duradoura para permitir-nos verificar, logo após, as melhoras do estado

destas últimas; sem falar das outras desvantagens sobrevindas pelo emprego de doses

muito fortes.

INDIVIDUALIZAÇÃO – SINTOMAS CARACTERÍSTICOS

Hahnemann como estava usando doses bastante diluídas para o tratamento, iniciou as

experimentações com doses também cada vez mais diluídas. Com este procedimento

percebeu que os sintomas assim obtidos, não tinham mais a ver com semelhança com

sintomas de doenças, e sim eram sintomas que definiam uma característica própria,

individual, provocada pela substância, e que estes sintomas com estas características eram

também encontrados no modo individual, característico de ser dos doentes.

CONJUNTO REPRESENTATATIVO DE SINTOMAS CARACTERÍSTICOS

É ao conjunto dos sintomas característicos, entendendo-se este conjunto como os

sintomas mais chamativos (estranhos), singulares, incomuns, peculiares e bem

modalizados aos que se deve dar maior importância na busca da similaridade entre os

sintomas do doente e os dos medicamentos em sua experimentação. Porém maior

importância não quer dizer exclusão dos demais sintomas, embora sejam de muito pouca

importância os sintomas indefinidos que são comuns em quase todos os doentes e nas

experimentações.

Na Homeopatia temos os sintomas indefinidos ou comuns e os sintomas característicos.

Como exemplo de sintomas comuns ou indefinidos podemos citar as cefaléias em geral.

Porém uma cefaléia que melhora pelo movimento e é localizada sempre somente na região

frontal do lado esquerdo e que vem acompanhada de náuseas e que melhora lavando o

rosto com água fria, estas particularidades, já a individualizam, agregando-lhe modalizações

indicativas de sintoma característico.

Quando a este conjunto de sintomas característicos agregamos os conceitos de hierarquia

de sintomas e de dinâmica miasmática, identificando os sintomas mais marcantes de

sofrimento que permeiam a história do doente podemos aprimorar a escolha do conjunto

representativo de sintomas característicos dele que nos orientará na busca do

medicamento cujo conjunto de sintomas obtidos em experimentação (matéria médica

homeopática), denotaram também estas mesmas características e esta dinâmica de

sofrimento.

DOENÇAS CRÔNICAS

Hahnemann observou no início de seu trabalho que, após um período variável, alguns dos

doentes tornavam a adoecer. Concluiu então que haveria algo mais profundo que deveria

ser curado, que seria esta tendência, predisposição ao adoecimento.

Trabalhando com a clínica da similitude, isto é, utilizando medicamento único, diluído, cujo

conjunto de SINTOMAS CARACTERÍSTICOS, obtido através de experimentações no HOMEM

SÃO com a substância diluída, apresentasse semelhança com o conjunto dos SINTOMAS

CARACTERÍSTICOS INDIVIDUALIZADOS e representativos de cada DOENTE, ao longo de

vários anos, legou-nos profundos conhecimentos sobre o crônico adoecer no ser humano.

VITALISMO

O Vitalismo afirma a existência de uma força vital, não redutível ao domínio físico-químico,

que anima os seres vivos, distinguindo-os dos corpos inanimados e cuja ausência nos seres

vivos determina o fenômeno da morte.

Na Grécia antiga, na escola de Cos, também Hipócrates, considerado o pai da medicina,

considerava a idéia de um princípio, força, sopro, unificador, vivificador e organizador da

vida (animismo), impulso este que atuava mantendo a vida e a saúde através da “Vis

Naturae Medicatrix”, e que o médico devia agir auxiliando esta força no caminho da cura.

Para Hahnemann, criador da Homeopatia, e também vitalista, esta força vital é a

responsável pela dinâmica da vida, controlando os fenômenos fisiológicos, integrando

todas as partes do ser e conferindo-lhe as sensações e funções inerentes à vida e à

consciência. No estado de saúde mantém a harmonia. Já o seu desequilíbrio propicia

sensações desagradáveis, perturbação das funções, sentimentos e atitudes equivocadas,

propiciando o aparecimento das doenças.

DOENTE X DOENÇA - SUJEITO X ORGANISMO

A Saúde, conforme definição da OMS, é definida como:

“Bem-estar físico, psíquico e social”.

Podemos inferir desta definição que é o sujeito quem diz de seu estado de saúde, de seu

bem ou mal estar físico, psíquico e social, e como tal é através de sua escuta atenta que se

deriva o procedimento médico .

A saúde pode também, segundo outra visão, ser focada no organismo, procedimento que

exclui o sujeito do contexto de dizer de seu processo de adoecimento, sendo neste caso,

entendida como:

“silêncio dos órgãos”.

Assim, teríamos as seguintes dicotomias:

Doente x Doença

Sujeito x Organismo

DINÂMICA MIASMÁTICA

Sendo a saúde definida a partir de quem sente, teremos o sujeito, dizendo de seu

sofrimento, do seu desequilíbrio, do seu adoecer, como ser humano, imerso em sua cultura

e com a sua linguagem, dizendo da trama de sua vida, de seus amores e ódios, de seus

laços parentais, de seus apegos e suas carências, de seus sentimentos de rejeição, de seus

medos e suas inseguranças, de suas dependências e de seus traumas, feridas e marcas, do

seu stress, enfim, de sua vida...

E assim, conforme esta sua trama, que já vai encontrando um meio propício devido às

tendências culturais, patológicas, familiares, hereditárias e genéticas, vai construindo e

definindo as suas sensibilidades, as suas susceptibilidades e a sua predisposição ao adoecer,

possibilitando assim, o desenvolvimento do crônico adoecer e a instalação e

desenvolvimento dos processos agudos, e tudo isto com as suas características próprias de

sensibilidade, susceptibilidade e predisposição.

Enfim, o adoecer – é no percurso, na correnteza destes fatores, que cada um vai

construindo, de acordo com suas atitudes, a sua biopatografia – inscrevendo no corpo o

insuportável para o consciente ou expressando a sua incapacidade (de dar conta) de ir

construindo a sua evolução.

Na experimentação homeopática, teremos também o sujeito dizendo de sua experiência

com o medicamento, dizendo de como se sente subjetivamente com ele, das características

que este determina na sua forma de sentir e dizer de sua história e de seus sintomas.

O tratamento homeopático com o medicamento escolhido pela similaridade entre os

sintomas da matéria médica homeopática e os sintomas do doente possibilita o

restabelecimento do equilíbrio fisiológico, a ativação do sistema imunológico e uma nova

postura do sujeito frente ao seu sofrimento, possibilitando-lhe assim o caminho da cura de

seu crônico adoecer.

O SUJEITO – O SOFRIMENTO - O DESEQUILÍBRIO – O ADOECER

A DOENÇA

O SER HUMANO – A CULTURA – A LINGUAGEM

A TRAMA – O AMOR – O ÓDIO

OS LAÇOS PARENTAIS - OS APEGOS – AS CARÊNCIAS – AS REJEIÇÕES

OS MEDOS - AS INSEGURANÇAS – AS DEPENDÊNCIAS

OS TRAUMAS - AS MARCAS – AS FERIDAS

O STRESS

As tendências culturais e patológicas, familiares, hereditárias, genéticas

De acordo com nossa história anterior e atual

Que denotam nossa sensibilidade, nossa susceptibilidade e nossa predisposição

O ADOECER - A VIDA – A BIOPATOGRAFIA – A DIREÇÃO DO ADOECER

A ESCUTA NO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO

No tratamento homeopático o que o médico procura, através de atenta escuta da narrativa

do paciente de sua história de vida e da história de suas doenças, do relato de seus

sofrimentos afetivos e volitivos, de suas inseguranças e seus medos, de cada um de seus

sintomas com todas as suas características de singularidade, peculiaridade e modalização, é

perceber o seu particular jeito de sofrimento.

SUPRESSÃO E METÁSTASE MÓRBIDA

Em um tratamento o importante é tratar o doente. Tratar focando a doença, muitas vezes

leva somente à eliminação da doença e de seus sintomas, e o doente segue pior, em sua

condição psicológica, em sua infrutífera tentativa de dar conta de sua peculiar forma de

sofrer diante das circunstâncias da vida, sem conseguir mudar a sua atitude centrada na sua

peculiar vulnerabilidade, o que dependendo de sua vitalidade, das circunstâncias e do nível

de supressão ocorrida, pode redundar, ao final de algum tempo no retorno do mesmo

processo, ou quiçá em algo mais grave, ao que denominamos metástase mórbida.

Um dos grandes problemas da medicina é o da supressão. Tudo o que o médico deve

procurar fazer é auxiliar o processo de cura da “Vis naturae medicatrix” que se encontra

insuficiente em seu intento curativo, e não agir em sentido oposto.

HOMEOPATIA – RAPIDEZ E EFICIÊNCIA

A Homeopatia é eficiente e rápida para a cura de doenças agudas e eficiente para as

crônicas, e, para estas, o tempo para melhoria guarda correspondência com o seu tempo

de evolução.

MEDICINA DO SUJEITO

O objetivo do tratamento homeopático é transformar o sujeito de susceptível e predisposto

a diversas doenças devido à sua predisposição dinâmica, construída ou agravada em seu

percurso de vida e à sua incapacidade de acesso à sua traumática historicidade, em um ser

menos susceptível e agente de sua própria história.

Isto é o que a homeopatia pode propiciar, através do encontro do sujeito consigo mesmo,

possibilitando-lhe uma mobilização interna de seus traumas, facultando-lhe desvelar o quê

de sua história se tornou para ele da ordem do insuportável.

Permite assim, ao sujeito tratado com êxito, conviver com aquilo que antes era

insuportável, e que, quando algo àquilo o remetia, lhe predispunha ao adoecimento, sendo

a causa mantenedora de sua susceptibilidade.

Isto é o que vem a ser uma verdadeira cura para a Homeopatia, e que quebra o cíclico

adoecer (medicina preventiva).

Com esta apresentação bastante sucinta sobre a Homeopatia, espero ter atingido o

objetivo de despertar no leitor médico o interesse de estudar mais a Homeopatia,

inscrevendo-se no Curso de Formação em Medicina Homeopática da AMHMG, que por

certo lhe abrirá uma nova possibilidade, por via de outro paradigma, para o tratamento de

seus pacientes. As inscrições encontram-se abertas para uma nova turma 2010 – 2012.

Mais informações no site da AMHMG.

Para o leitor não médico, espero ter despertado o seu interesse em se tratar pela

Homeopatia, que por certo lhe trará a possibilidade de uma saúde melhor.

Coloco-me à disposição para mais informações sobre o curso ou sobre a Homeopatia.

Mário Antônio Cabral Ribeiro

Médico Homeopata

Telefone: (31) 3227 6272

E-mail: [email protected]

AMHMG:

Telefone: (31) 3446 0087

E-mail: [email protected]

Site: www.amhmg.org