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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA - PPGE PEN5023 Introdução ao petróleo e gás natural - 2015 Mario Luiz Ferrari Pin n°USP: 3369974 Aquecimento Global A Controvérsia de suas Causas RESUMO Com cada vez mais importância nas últimas décadas, as discussões sobre mudanças climáticas têm permeado a sociedade em geral. O IPCC projeta cenários futuros baseados em dados científicos, históricos e políticos. As projeções são de que se uma intervenção internacional consistente para a redução na emissão de gases estufa na atmosfera não seja feita, o planeta apresentará uma grande elevação na temperatura média, o que poderia desencadear mudanças climáticas severas, trazendo grandes prejuízos sociais e econômicos. Confrontando os relatórios do IPCC, alguns cientistas acusam as projeções de alarmistas e tendenciosos, e apresentam estudos que demonstram que a influência humana no aquecimento global não é significativa e que os modelos computacionais do IPCC desprezam diversos fenômenos conhecidos. Com o respaldo de governos, da grande mídia e da opinião pública em geral, os cientistas que confiam nos relatórios do IPCC acusam os “céticos” de serem da direita conservadora, que teriam ligações e até mesmo seriam financiados por grandes corporações ligadas a indústria do petróleo. Por outro lado, cientistas da linha que confronta o IPCC, acusam os “alarmistas” de quererem fazer política em cima de relatórios que atraem muito a opinião pública em geral. O fato é que os cientistas dos dois grupos se baseiam no mesmo conjunto de publicações, a diferença está na forma com que cada um dos grupos os interpreta e a relevância dada para certos conjuntos de dados. Ao que parece, não existe um grupo realmente independente, que não possua interesses políticos ou econômicos, com relevância internacional para apresentar um relatório sobre mudanças climáticas realmente imparciais e confiáveis.

Aquecimento global - A controvérsia de suas causas

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Com cada vez mais importância nas últimas décadas, as discussões sobre mudanças climáticas têm permeado a sociedade em geral.O IPCC projeta cenários futuros baseados em dados científicos, históricos e políticos. As projeções são de que se uma intervenção internacional consistente para a redução na emissão de gases estufa na atmosfera não seja feita, o planeta apresentará uma grande elevação na temperatura média, o que poderia desencadear mudanças climáticas severas, trazendo grandes prejuízos sociais e econômicos.Confrontando os relatórios do IPCC, alguns cientistas acusam as projeções de alarmistas e tendenciosos, e apresentam estudos que demonstram que a influência humana no aquecimento global não é significativa e que os modelos computacionais do IPCC desprezam diversos fenômenos conhecidos.Com o respaldo de governos, da grande mídia e da opinião pública em geral, os cientistas que confiam nos relatórios do IPCC acusam os “céticos” de serem da direita conservadora, que teriam ligações e até mesmo seriam financiados por grandes corporações ligadas a indústria do petróleo.Por outro lado, cientistas da linha que confronta o IPCC, acusam os “alarmistas” de quererem fazer política em cima de relatórios que atraem muito a opinião pública em geral.O fato é que os cientistas dos dois grupos se baseiam no mesmo conjunto de publicações, a diferença está na forma com que cada um dos grupos os interpreta e a relevância dada para certos conjuntos de dados. Ao que parece, não existe um grupo realmente independente, que não possua interesses políticos ou econômicos, com relevância internacional para apresentar um relatório sobre mudanças climáticas realmente imparciais e confiáveis.

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA - PPGE

PEN5023 – Introdução ao petróleo e gás natural - 2015

Mario Luiz Ferrari Pin – n°USP: 3369974

Aquecimento Global – A Controvérsia de suas Causas

RESUMO

Com cada vez mais importância nas últimas décadas, as discussões sobre

mudanças climáticas têm permeado a sociedade em geral.

O IPCC projeta cenários futuros baseados em dados científicos, históricos e

políticos. As projeções são de que se uma intervenção internacional consistente

para a redução na emissão de gases estufa na atmosfera não seja feita, o planeta

apresentará uma grande elevação na temperatura média, o que poderia

desencadear mudanças climáticas severas, trazendo grandes prejuízos sociais e

econômicos.

Confrontando os relatórios do IPCC, alguns cientistas acusam as projeções

de alarmistas e tendenciosos, e apresentam estudos que demonstram que a

influência humana no aquecimento global não é significativa e que os modelos

computacionais do IPCC desprezam diversos fenômenos conhecidos.

Com o respaldo de governos, da grande mídia e da opinião pública em geral,

os cientistas que confiam nos relatórios do IPCC acusam os “céticos” de serem da

direita conservadora, que teriam ligações e até mesmo seriam financiados por

grandes corporações ligadas a indústria do petróleo.

Por outro lado, cientistas da linha que confronta o IPCC, acusam os

“alarmistas” de quererem fazer política em cima de relatórios que atraem muito a

opinião pública em geral.

O fato é que os cientistas dos dois grupos se baseiam no mesmo conjunto de

publicações, a diferença está na forma com que cada um dos grupos os interpreta e

a relevância dada para certos conjuntos de dados. Ao que parece, não existe um

grupo realmente independente, que não possua interesses políticos ou econômicos,

com relevância internacional para apresentar um relatório sobre mudanças

climáticas realmente imparciais e confiáveis.

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INTRODUÇÃO

O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado em

1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pelo Programa da

Organização das Nações Unidas para Meio Ambiente (UNEP). Seu principal objetivo

é reunir dados e pesquisas internacionais sobre mudanças climáticas e divulga-las

em relatórios onde são apresentados modelos e cenários futuros e, as sugestões de

métodos e atitudes que devem ser tomadas para minimizar o problema.

O IPCC é tido como a maior referência mundial sobre aquecimento global e é

utilizado pelas diversas organizações nacionais e internacionais para o

estabelecimento de políticas relacionadas às mudanças climáticas. É composto de

três grupos de trabalho: O primeiro trabalha as bases das mudanças climáticas nas

ciências físicas, o segundo em impactos, adaptações e vulnerabilidades e o terceiro

na mitigação de mudanças climáticas.

Cientistas convidados para integrar os grupos de trabalho do IPCC exercem

essa função de forma voluntária sem qualquer tipo de remuneração (Stocker and

Plattner 2014).

Relatórios apresentados pelo IPCC mostram que se não existirem políticas

substanciais e avanços tecnológicos importantes, o mundo está caminhando para

uma elevação de temperatura perigosa (Schiermeier 2014). Esses relatórios indicam

que essa elevação na temperatura seria influenciada diretamente pela emissão de

gases de efeito estufa, como o CO2, devido a queima de combustíveis fosseis.

A maior parte da comunidade científica, política e a opinião pública tendem a

confiar nos dados e modelos apresentados pelo IPCC.

Por outro lado existe um grupo de cientistas que não acreditam que o

aquecimento global esteja acontecendo devido à ação humana, são chamados de

“céticos”. Esses cientistas, na sua maioria meteorologistas, geógrafos e geólogos

(Lahsen 2013), apresentam em suas argumentações, dados e teorias que

demonstram que a Terra já passou por outros períodos de elevação de temperatura,

argumentando que são fenômenos cíclicos e das mais variadas naturezas, como

variação na atividade solar, atividade vulcânica e muitos outros.

Em 2003, um grupo desses cientistas formou o Painel Não Governamental

para Mudanças Climáticas (NIPCC) associado ao The Heartland Institute esse grupo

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surge com o objetivo de gerar um relatório, nos moldes dos relatórios do IPCC, que

aponte uma segunda opinião sobre mudanças climáticas (Jankó et al 2014).

OBJETIVOS

Este artigo tem como objetivo entender os diferentes pontos de vista relativos

às mudanças climáticas no que tange às suas causas e consequências, confrontar

os dados de relatórios do IPCC, que mostram que o aumento de temperatura no

planeta seria causado principalmente por fatores antropogênicos, como a queima de

combustíveis fosseis, com relatórios de grupos que negam que o aquecimento global

é oriundo de atividades humanas, como o NIPCC que defende que esse aumento de

temperatura teria uma influência muito maior de eventos naturais, não tendo

relevância ações do homem para esse problema.

RESULTADOS

Uso da literatura nos relatórios

Quando as referências usadas tanto pelos relatórios do IPCC quanto pelos

relatórios do NIPCC são analisadas, é possível perceber que os argumentos

científicos foram construídos de material semelhante, uma vez que praticamente os

mesmos periódicos foram utilizados pelos dois grupos, inclusive os mais citados

foram praticamente os mesmos em ambos os relatórios. Obviamente algumas

diferenças são perceptíveis nos detalhes, como os periódicos relacionados à

paleoclimatologia tendo uma relevância maior nos relatórios do NIPCC (Jankó et al

2014).

Porém é na interpretação de cada artigo que aparecem as diferenças e é raro

encontrar uma referência usada pelos dois relatórios que sejam interpretadas da

mesma maneira. As referências são geralmente citadas e contextualizadas de

formas diferentes em cada um dos relatórios (Jankó et al 2014).

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Críticas aos relatórios do IPCC

Um dos principais argumentos usados pelos cientistas que se opõem a tese

de que o aquecimento global provem de causas antropogênicas, é o de que o nosso

conhecimento sobre mudanças climáticas naturais é limitado e, portanto, modelos

computacionais usados para prever o comportamento do clima muitos anos a frente,

usando um Modelo de Circulação Geral (GCMs), que são usados pelo IPCC e não

são validados, não podem apresentar resultados confiáveis. Por isso, esse tipo de

abordagem seria carregada de interesses de grupos específicos e apelo popular e

acaba desviando a atenção para o real problema do aquecimento global causado

por forças naturais já bem compreendidas (Carter 2008).

Eles apontam que os resultados do IPCC se baseiam nas temperaturas

medidas nos últimos 150 anos e chegando ao máximo de 1000 anos quando usados

métodos indiretos, como a análise de anéis de troncos de árvores, deixando dados

paleoclimáticos como a análise de testemunhos de gelo retirados de geleiras na

Groenlândia ou no gelo antártico, que podem estimar a temperatura média da terra

há cerca de 400 mil anos atrás. (Carter 2008, Loehle and McCulloch 2008, Mudelsee

2001).

Outra controvérsia citada é o papel do dióxido de carbono gerado pelo

homem no aquecimento global. É apontado que o dióxido de carbono compreende

apenas 4% dos gases estufa presentes na atmosfera. E apesar de não negarem as

medidas de concentração desse gás na atmosfera, que cresceu cerca de 30% no

século XX, e que as emissões antropogênicas seriam a maior causa para isso,

apontam que não há consenso com relação à magnitude que esse aumento de

emissões podem afetar na temperatura média do planeta. Os argumentos são de

que existe uma relação logarítmica com relação ao aumento da concentração desse

gás e o aumento de temperatura, o que indica que um incremento na concentração

do gás exerce um valor pequeno no aumento de temperatura. Os modelos utilizados

pelo IPCC usa uma realimentação positiva para o vapor d´água, prevendo um

aumento de 6,4°C caso a concentração de CO2 dobre de valor, porém estudos

independentes mostram um aumento de 0,2-1,0°C se a concentração de CO2 dobrar

(Isdo 2001).

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Críticas aos “céticos”

A comunidade científica que defende a posição de que o relatório do IPCC

deve ser levado em consideração e que o planeta está realmente passando por

mudanças climáticas relativas a ações exercidas pelo homem criticam os grupos de

agente que são céticos a essa ideia. Rebatem dizendo que se trata de um grupo

bem reduzido de cientistas e que estão geralmente ligados a grupos e organizações

conservadoras como a Hartland Institute, que organiza o NIPCC e no passado já fez

lobby para a indústria tabagista.

Consideram que os céticos se pautam em poucas fontes de incerteza, que

geralmente são indicadas em artigos sobre mudanças climáticas, e tentam criar um

clima de falta de credibilidade em torno dos relatórios do IPCC, interpretando de

forma tendenciosa, artigos que tratam de ciências atmosféricas e históricos de

temperatura e concentração de CO2 na atmosfera (Tollefson 2011).

Uma pesquisa feita por Bray e von Storch (2010) mostra que 85% dos

cientistas que responderam concordam que as mudanças climáticas estão sim

sendo conduzidas principalmente por atividade humana.

Paleoclimatologistas dizem que as interpretações de artigos da área pelos

cientistas ligados ao NIPCC não passam de mitos, meias verdades e distorções

(Tollefson 2011).

CONCLUSÕES

A partir do que foi exposto, podemos concluir que nenhum dos grupos é

realmente independente em suas análises. Não é possível descartar que o IPCC,

por ser um órgão pertencente à Organização das Nações Unidas, sofra influência de

países com presença mais dominante na organização como afirmam os céticos,

criando um clima de alarmismo que poderia beneficiar certos grupos econômicos.

Por outro lado, os relatórios do NIPCC, do Heartland Institute, também devem ser

analisados com cautela, uma vez que sua fonte de financiamento é oriunda de

setores conservadores da sociedade, com grandes indícios de ligações com a

indústria do petróleo.

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Os dois lados apresentam argumentações convincentes baseadas em dados

científicos para expor o seu ponto de vista, o que deixa claro a grande incerteza

sobre a reconstrução e entendimento de dados climáticos passados, colocando em

dúvida os modelos que possam explicar o futuro com um bom grau de certeza e com

isso serem utilizados para que ações possam ser tomadas para evitar uma elevação

da temperatura global, que traria como consequência mudanças climáticas severas

ao planeta.

O fato de que 85% dos cientistas concordam que um aquecimento global de

origem antropogênica esteja acontecendo tem a sua relevância, mas devemos

lembrar que o posicionamento pessoal de cientistas e institucional de diversas

universidades juntamente com o apelo popular pode levar a um aumento nesse

número.

Por fim é importante para a ciência que os dois grupos existam, apresentando

ideias que confrontem o lado oposto e abra uma discussão mais técnica, sempre

tomando cuidado para que influências externas, tanto políticas quanto econômicas

não contaminem os resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAY, D.; VON STORCH, H. – CliSci2008: A survey of the perspectives of climate scientists concerning climate science and climate change, 2010 (GKSS Working Paper 2010/9). CARTER, Robert M. – Knock Knock: Where is the Evidence for Dangerous Human-Caused Global Warming? – Economic Analysis & Policy, 2008, vol.38 n°2, p.177-202 JANKÓ, Ferenc; MÓRICZ, Norbert; VANCSÓ, Judit P. – Reviewing the climate reviewers: Exploring controversy through report references and citations – Geoforum, 2014, vol.56, p.17-34 LAHSEN, Myanna – Anatomy of Dissent: A Cultural Analysis of Climate Skepticism – American Behavioral Scientist, 2013, vol.57(6), p.732-753 LOEHLE, C.; McCulloch, J. H. – Correction to: A 2000-year global temperature reconstruction based on non-tree ring proxies – Energy and Environment, 2008, vol.19 p.93-100 MUDELSEE, M. – The phase relations among atmospheric CO2 content, temperature and global ice volume over the past 420 ka – Quaternary Science Reviews, 2001, vol.20 p.583-589

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SCHIERMEIER, Quirin – IPCC Report under fire – Nature, 2014, Vol.508(7496), p.298(1) STOCKER, Thomas F. ; PLATTNER, Gian – Rethink IPCC reports – Nature, 2014, Vol.513(7517), p.163(3) TOLLEFSON, J. – The Sceptic Meets His Match – 2011, Nature, vol.475, p.440-441