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1 Área temática : Marketing Título do trabalho : Tipologias dos Torcedores Esportivos AUTORES ÉLCIO EDUARDO DE PAULA SANTANA Universidade Federal de Uberlândia (UFU/FAGEN) [email protected] ANDRÉ FRANCISCO ALCÂNTARA FAGUNDES Universidade Federal de Uberlândia [email protected] ZAKI AKEL SOBRINHO Universidade Federal do Paraná [email protected] FRANCISCO ROCHA DOS SANTOS Universidade Federal do Paraná [email protected] RESUMO Este artigo objetivou identificar as tipologias de torcedores esportivos existentes, as dimensões teóricas utilizadas na elaboração das mesmas, assim como aqueles construtos ainda não empregados para classificar fãs de esportes, mas que são passíveis de serem assim manuseados. Utilizou-se como método uma extensa revisão teórica que culminou com a utilização de trinta trabalhos acadêmicos oriundos de journals tanto da área da administração esportiva, quanto do mainstream da própria administração, da comunicação, da psicologia e do turismo. Dez tipologias foram identificadas, sendo que tais classificações utilizaram vinte e oito dimensões teóricas distintas. Outros cinco construtos levantados – lazer sério, nostalgia, qualidade do serviço, sentimentos dependentes de atribuições e valores – ainda não foram sistematizados em tais classificações, mas, pela análise realizada, acredita-se que tenham potencial para serem utilizados. São emitidas algumas sugestões sobre possibilidades de estudos futuros, valendo-se tanto das dimensões já utilizadas, quanto se incorporando outras dimensões oriundas dos construtos ainda não aproveitados, permitindo-se a proposta de novas tipologias de torcedores. Por fim, indica-se que esse trabalho foi um esforço inicial que possibilita o empreendimento de diversos trabalhos empíricos e conceituais sobre o tema. Palavras-chave : marketing esportivo; torcedor; e tipologias. ABSTRACT This article aimed to identify the typology of sports fans, the theoretical dimensions used in the preparation of same, and those constructs not yet used to classify fans of sports, but that are likely to be well handled. As method was used an extensive theoretical review that led to the use of thirty academic journals from both the field of sports administration, as the mainstream of business administration, communication, psychology and tourism. Ten typology were identified, such classifications used twenty-eight different theoretical dimensions. Other five constructs raised – serious leisure, nostalgia, quality of service, dependent feelings of allocation and values – yet have not been systematized in such rankings,

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Área temática: Marketing Título do trabalho: Tipologias dos Torcedores Esportivos AUTORES ÉLCIO EDUARDO DE PAULA SANTANA Universidade Federal de Uberlândia (UFU/FAGEN) [email protected] ANDRÉ FRANCISCO ALCÂNTARA FAGUNDES Universidade Federal de Uberlândia [email protected] ZAKI AKEL SOBRINHO Universidade Federal do Paraná [email protected] FRANCISCO ROCHA DOS SANTOS Universidade Federal do Paraná [email protected] RESUMO Este artigo objetivou identificar as tipologias de torcedores esportivos existentes, as dimensões teóricas utilizadas na elaboração das mesmas, assim como aqueles construtos ainda não empregados para classificar fãs de esportes, mas que são passíveis de serem assim manuseados. Utilizou-se como método uma extensa revisão teórica que culminou com a utilização de trinta trabalhos acadêmicos oriundos de journals tanto da área da administração esportiva, quanto do mainstream da própria administração, da comunicação, da psicologia e do turismo. Dez tipologias foram identificadas, sendo que tais classificações utilizaram vinte e oito dimensões teóricas distintas. Outros cinco construtos levantados – lazer sério, nostalgia, qualidade do serviço, sentimentos dependentes de atribuições e valores – ainda não foram sistematizados em tais classificações, mas, pela análise realizada, acredita-se que tenham potencial para serem utilizados. São emitidas algumas sugestões sobre possibilidades de estudos futuros, valendo-se tanto das dimensões já utilizadas, quanto se incorporando outras dimensões oriundas dos construtos ainda não aproveitados, permitindo-se a proposta de novas tipologias de torcedores. Por fim, indica-se que esse trabalho foi um esforço inicial que possibilita o empreendimento de diversos trabalhos empíricos e conceituais sobre o tema.

Palavras-chave: marketing esportivo; torcedor; e tipologias. ABSTRACT This article aimed to identify the typology of sports fans, the theoretical dimensions used in the preparation of same, and those constructs not yet used to classify fans of sports, but that are likely to be well handled. As method was used an extensive theoretical review that led to the use of thirty academic journals from both the field of sports administration, as the mainstream of business administration, communication, psychology and tourism. Ten typology were identified, such classifications used twenty-eight different theoretical dimensions. Other five constructs raised – serious leisure, nostalgia, quality of service, dependent feelings of allocation and values – yet have not been systematized in such rankings,

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but believes that have potential to be used. Are issued some suggestions on possibilities for future studies, drawing on both the dimension already used, as incorporating constructs from the other dimensions have not yet used, allowing the proposal to new typology of fans. Finally, indicates that this work was an initial effort that enables the undertaking of various conceptual and empirical work on the subject. Key-words: sports marketing, fan, and typology.

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1. INTRODUÇÃO Os diferentes tipos de torcedores esportivos são sintetizados nesse artigo, ao se expor

as classificações já elaboradas sobre os mesmos, assim como as bases para a elaboração dessas tipologias. Acredita-se que o entendimento desse grupo de consumo é de fundamental importância para a compreensão dos acontecimentos administrativos pertinentes à indústria do esporte, especialmente para área de marketing, que tem no mesmo um objeto de interesse sobremaneira relevante, pois suas ações se dirigem a atender os seus anseios, visando potencializar as relações de troca para que assim a organização esportiva envolvida possa obter receita para o melhor desenvolvimento de suas atividades. Tomando como referência o futebol profissional, de forma geral os clubes são sustentados pelos seguintes negócios, que em sua maioria, direta ou indiretamente, são afetadas pelo modo como o torcedor se comporta: receitas de bilheteria; concessões e merchandising; transferência de profissionais entre os clubes; direito de imagem dos atletas; licenciamento de marca para diferentes rodutos; e direitos de transmissão pela TV (MELO NETO, 2003; MORGAN; SUMMERS, 2008; POZZI, 1998).

Deve-se salientar que, no Brasil, os ganhos provenientes de relações comerciais diretas com os torcedores – arrecadação com vendas de ingressos e de produtos relativos à organização esportiva – estão dentre os meios menos importantes na composição deste perfil de receita. Em números absolutos, a soma da receita de todos os clubes de futebol do Brasil obtida por licenciamento de marca, por exemplo, não passa dos R$ 10 milhões anuais (MEIO & MENSAGEM, 2005). Entretanto, esta situação é diferente em grandes clubes estrangeiros que possuem gestão mais profissionalizada e têm como principal fonte de receita o relacionamento direto com os torcedores. Como exemplificação, pode-se utilizar o caso do Manchester United, clube da Premier League (Inglaterra). Ainda no ano de 2000, o segundo clube de futebol mais rico do mundo teve 32% das receitas originadas de ganhos com vendas de ingressos e 20% - 23,6 milhões de libras - com vendas de produtos licenciados por todo o mundo (FINANCIAL HIGHLIGHTS, 2001). Consideradas as devidas diferenças socioeconômicas entre Brasil e Inglaterra, estes dados demonstram que, tanto na composição do perfil de receitas como em números absolutos, os clubes brasileiros têm muito a evoluir nas relações comerciais com seus torcedores.

Visto isso, devem ser expostos os três objetivos específicos deste artigo: (1) a identificação das tipologias de torcedores existentes; (2) a enumeração das dimensões teóricas que embasam o desenvolvimento de tais tipologias; e (3) o apontamento dos construtos que não são utilizados nas classificações encontradas, mas que são passíveis de serem aplicados em futuras tipologias. A consecução de tais objetivos visa ampliar as possibilidades de classificação dos torcedores, aqui também identificados como fãs, pavimentando caminhos que busquem obter uma visão mais holística do indivíduo caracterizado como torcedor que, em última instância, é o consumidor e, por isso, o mantenedor do setor esportivo.

Para atingir tais objetivos empreendeu-se uma extensa pesquisa do referencial teórico existente sobre o comportamento do consumidor esportivo, o que possibilitou encontrar oitenta e um trabalhos acadêmicos, sendo que trinta foram aqui utilizados por versarem mais especificamente sobre o tema em questão. Ressalta-se que tais artigos pertencem a journals de áreas diversas como a administração, a comunicação, a psicologia e o turismo, tanto aplicados especificamente ao setor esportivo quanto ausentes de tal especificidade.

Inicialmente são apresentadas as tipologias de torcedores encontradas e os respectivos construtos que embasam as suas confecções. Na sequência, são expostos estudos que trabalharam outras dimensões teóricas – já estudadas pela academia na área da administração esportiva, mas que a priori nunca foram aplicadas na elaboração de tipologias de torcedores – que podem ajudar a compreender melhor o comportamento do torcedor e, por consequência,

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proporcionar a existência de outras abordagens de classificação. Por último, realizam-se algumas considerações finais, destacando os principais achados do estudo e suas limitações.

2. TIPOLOGIAS DE TORCEDORES ENCONTRADAS

Esta seção apresenta as tipologias de torcedores encontradas na revisão teórica empreendida e os respectivos construtos que embasam as suas classificações. Inicialmente é exposto o Quadro 1, que sintetiza tais descobertas – ressalta-se que a ordem de apresentação das tipologias não está relacionada à importância das descobertas.

Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006)

- Dimensão teórica que embasa a tipologia: auto-definição - Classificação: fã de esporte ávido, fã de esporte fraco/moderado

Aiken e Sukhdial (2004); Sukhdial, Aiken e Kahle (2002) - Dimensão: orientação “escola antiga” - Antecedentes: atitudes perante as vitórias, materialismo, atleta como um exemplo (role model) - Consequentes: identificação (auto-imagem) (não-testada empiricamente) - Classificação: escola antiga, nova escola

Tapp e Clowes (2002) - Dimensões: geodemografia, psicografia, lealdade, nível de gastos com o clube - Subdimensão: comportamento de consumo no dia de jogo - Classificação: casuais despreocupados, casuais comprometidos, caçadores de glórias, fanáticos pelo clube, fanáticos por futebol, torcedores com repertório, torcedores viajantes - Subclassificação (pelo comportamento de consumo no dia de jogo): futebol e cerveja, pai malabarista, apreciador solitário, amigos de temporada, galera da geral, pais e filhos

Funk e James (2001) - Dimensões: estágios psicológicos – consciência (estágio 1), atração (2), afeiçoamento (3), lealdade (4) - Classificação (realizada de acordo com o estágio psicológico em que o indivíduo se encontra): consciência, atração, afeiçoamento, fidelidade – classificação conceitual, não testada empiricamente

Bristow e Sebastian (2001) - Dimensões: ajuste de percepção de performance da marca, identificação social e emocional com a marca, hábitos, história desenvolvida com a marca - Classificação: obstinados, menos leais (em ambos os casos, a torcer por uma equipe perdedora)

Funk e Pastore (2000) - Dimensões: lealdade comportamental e atitudinal - Antecedentes: importância, experiência direta - Classificação: altamente leais, moderadamente leais, pouco leais

Hunt, Bristol e Barshaw (1999) - Dimensões: motivação, identificação, BIRG, CORF, afeiçoamento (attachment) - Classificação: temporário, local, devotado, fanático, disfuncional – classificação conceitual, não testada empiricamente

Shank e Beasley (1998) - Dimensões: envolvimento afetivo e cognitivo - Classificação: altamente envolvido, pouco envolvido - Subclassificação: altamente envolvido afetivamente, altamente envolvido cognitivamente, pouco envolvido afetivamente, pouco envolvido cognitivamente.

Stewart e Smith (1997 apud Quick, 2000) - Dimensões: lealdade, performance da equipe (vencer ou perder), identificação - Classificação: aficionado, teatreiro, partidários passionais, seguidores de campeões, partidários reclusos

Holt (1995) - Dimensões: estrutura e propósito de consumo - Classificação: consumo como experiência, consumo como integração, consumo como classificação, consumo como jogo Quadro 1: Tipologias de torcedores encontradas na revisão da literatura Fonte: Aiken e Sukhdial (2004); Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006); Bristow e Sebastian (2001); Funk e James (2001); Funk e Pastore (2000); Holt (1995); Hunt, Bristol e Barshaw (1999); Shank e Beasley (1998); Stewart e Smith (1997 apud Quick, 2000); Sukhdial, Aiken e Kahle (2002); e Tapp e Clowes (2002).

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Apresenta-se nos itens seguintes detalhes adicionais de cada uma das classificações exposta no Quadro 1.

a) Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006) Esses autores desenvolveram uma tipologia em que contrastam “fãs de esporte ávidos” e

“fãs de esporte fracos/moderados”. Tal classificação partiu de uma auto-definição dos entrevistados que apontavam, em uma escala de Likert de cinco pontos, ser mais ou menos ávidos; vale destacar que em um extremo da escala (ponto 1) apontava “Não sou um fã de esportes” e no outro (ponto 5) “Fã de esporte ávido” – aqueles que marcaram os pontos quatro e cinco foram considerados ávidos e os que marcaram os pontos três, dois e um foram considerados fracos/moderados em sua avidez. Ressalta-se que 1101 indivíduos responderam tal pergunta via internet, amostra obtida a partir de uma companhia internacional que realiza amostragem e do banco de dados da NFL (National Football League). Salienta-se que essa pesquisa estava englobada em um estudo maior sobre a importância do entretenimento no esporte.

b) Aiken e Sukhdial (2004); e Sukhdial, Aiken e Kahle (2002) Aiken e Sukhdial (2004, p. 73) apresentam a orientação “escola antiga” (old school) –

doravante EA – como aquela que “implica em um conjunto de valores tradicionais reconhecidos e frequentemente compartilhados por atletas e fãs”. Os autores ressaltam que “o princípio de ser ou não da escola antiga rapidamente segmenta fãs em duas classes” – aqueles que seguem e aqueles que não seguem essa orientação; vale ainda ressaltar que, apesar do fato de que “pesquisas anteriores têm demonstrado que, enquanto esportes competitivos têm menos impacto em nosso caráter do que muitos têm clamado, os esportes ainda desempenham um papel fundamental na expressão e ilustração de nossos valores” (SIMON, 2003 apud AIKEN; SUKHDIAL, 2004, p. 73). Reforçando tal argumentação, Fischer e Wakefield (2003 apud AIKEN; SUKHDIAL, 2004, p. 73), destacam que “(...) pesquisas anteriores descobriram que se associar com indivíduos e times campeões, do passado ou do presente, é enfatizar os aspectos distintamente positivos de ser membro de um grupo – uma maneira única de gerenciar a auto-imagem”.

Sukhdial, Aiken e Kahle (2002) então demonstram as variáveis que formam tal construto: (1) as atitudes com relação às vitórias, (2) o materialismo e (3) o atleta como um exemplo. Com relação à primeira, Aiken e Sukhdial (2004, p. 80) expõem que “os valores centrais da EA não colocam a vitória sobreposta ao jogo limpo ou ao bom espírito esportivo”. No concernente ao segundo, é exposto que “os atletas da EA jogam pelo amor ao jogo. Similarmente, os fãs da EA valorizam a paixão, dedicação, e lealdade que os atletas exibem”. Já no tocante à terceira variável, é colocado que “(...) parece que ser EA implica em acreditar e se ajustar a certos padrões de comportamento (...) as fundações desse componente remetem à uma sólida ética de trabalho, a ser polido, respeitoso, um exemplo apropriado para as crianças e para a sociedade (...)”.

Ressalta-se que Sukhdial, Aiken e Kahle (2002) construíram uma escala de orientação do conceito EA envolvendo as três variáveis supra-citadas, tendo sido a mesma validada em uma amostra de 282 espectadores de um evento promocional da entidade organizadora da competição de futebol americano universitário, em uma grande universidade do noroeste dos Estados Unidos, que possui um time participante da divisão 1 de tal campeonato.

Por fim, Aiken e Sukhdial (2004, p. 80) ressaltam que, “dada essa forte divisão baseada em valores entre grupos de fãs, a dimensão EA-NE [nova escola] aparece como uma base estratégica para segmentação efetiva de fãs”, e por consequência, pode-se caracterizar também como uma tipologia de torcedores. Sukhdial, Aiken e Kahle (2002, p. 79) reforçam tal proposição afirmando que “(...) as atitudes escola-antiga são diretamente relacionadas a numerosos aspectos do consumo esportivo”, constatação que reconhece a importância de se conhecer o grau de orientação EA tanto do torcedor, quanto do atleta e da equipe, para que se

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possa fazer associações positivas entre eles, fato que pode potencializar o nível de consumo dos torcedores com relação às ofertas das equipes e das marcas associadas aos atletas. Para finalizar, Sukhdial, Aiken e Kahle (2002) ainda ressaltam que o grau de orientação EA pode variar entre os diferentes gêneros, questão que necessita ser considerada em qualquer classificação de torcedores.

c) Tapp e Clowes (2002) Os autores geraram uma tipologia de torcedores a partir da proposição de cinco

diferentes possibilidades para a segmentação dos fãs de futebol. Os autores buscaram estabelecer relações a partir do cruzamento das variáveis motivadoras dos torcedores, seus níveis de lealdade e do comportamento de consumo. A pesquisa empregada foi realizada em duas etapas: uma qualitativa – com entrevistas em profundidade – e uma segunda quantitativa. As duas etapas contaram com a colaboração do clube de futebol inglês Manchester City, pertencente à Premier League, que permitiu a atuação dos pesquisadores dentro das dependências do estádio e cederam ingressos cortesia para serem utilizados como motivadores aos respondentes participarem da pesquisa.

Os autores segmentaram os torcedores a partir de cinco dimensões: (1) geodemográfica, (2) psicográfica, (3) lealdade, (4) nível de gastos com o clube e (5) comportamento de consumo no dia de jogo. Entre as conclusões mais interessantes nos cruzamentos dos resultados da pesquisa está a confirmação do crescimento da presença de mulheres nos estádios com a redução da violência; a percepção de um segmento de torcedores nômades, os torcedores viajantes, que adotam um clube em cada cidade que moram; o desejo dos mais fanáticos e ligados ao clube por vitórias ao invés do entretenimento; e, a diferença de lealdade comportamental e atitudinal que distingue os torcedores que comparecem aos jogos, mas não se dizem fortemente leais ao time, os casuais despreocupados e, aqueles que têm perfil contrário, os casuais comprometidos.

d) Funk e James (2001) Por meio da construção do Modelo de Continuum Psicológico (Psychological

Continuum Model – PCM), os autores classificaram o torcedor de acordo com a sua posição em cada um dos estágios psicológicos considerados: consciência, atração, afeiçoamento, e fidelidade (allegiance) – este último, o construto que o embasa é a lealdade. O PCM busca demonstrar as diferentes formas que um espectador e um fã de esporte vivenciam o esporte em si, além dos demais elementos relacionados ao mesmo. Ressalta-se que essa relação é hierárquica, sendo a consciência o primeiro estágio e a fidelidade o último.

Desta forma, para uma melhor compreensão do mesmo, acredita-se ser necessário a descrição de cada uma das fases, de acordo com as características apresentadas por Funk e James (2001). A primeira fase, de consciência, inicia-se na infância, quando a pessoa é apresentada a alguns esportes, e se prolonga ao longo de sua vida, pois ela conhece novos esportes, novos times e outros novos elementos relacionados ao esporte. Nesse estágio as características psicológicas são influenciadas por fatores extrínsecos, principalmente pela mídia e pelos agentes de socialização.

Por sua vez, o ato de definir o seu esporte ou time favorito significa que a pessoa entrou no segundo nível, a atração. Gostar de um esporte ou de um time pode ser resultado de influências situacionais como o desempenho do time, a exposição a atividades promocionais, a existência de jogadores específicos, dentre outros fatores. Mas, também pode ser influenciado por motivos hedônicos, como a busca por entretenimento e a oportunidade para conhecer novas pessoas. Ou seja, esse estágio é influenciado tanto por fatores intrínsecos quanto extrínsecos.

Já no estágio de afeiçoamento, os autores afirmam que a pessoa desenvolve uma relação emocional com o time ou com o esporte, que é mais forte do que a simples atração. Essa relação passa a ser importante e interage com outras atitudes do indivíduo. O esporte ou

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o time passa a fazer parte da vida da pessoa – o espectador se transforma em torcedor de um time e/ou fã de um esporte. É justamente o aumento da importância do time ou esporte na vida da pessoa que distingue a fase de afeiçoamento da fase de atração. Pode-se então depreender que as características que mais influenciam nesse estágio são as intrínsecas, como a importância e o significado pessoal.

Com relação ao estágio de fidelidade, é afirmado pelos autores que a pessoa aqui situada busca uma consistência intrínseca de suas características psicológicas, externalizada pela persistência e resistência a mudanças, pois o time ou o esporte passa a fazer parte de sua essência, influenciando seus comportamentos e relacionamentos.

e) Bristow e Sebastian (2001) Os autores verificaram a razão dos torcedores esportivos serem leais à “marca”

(entidade esportiva), mesmo que ela seja uma perdedora no seu esporte de atuação, ao contrário do comportamento que os consumidores geralmente têm perante outros tipos de produto considerados inferiores a seus pares, que não sejam os esportivos, como bebidas, jeans, pizza à domicílio, dentre outros. Os autores realizaram a pesquisa junto a 371 torcedores do Chicago Cubs – equipe de beisebol americana, que desde 1908 não ganha um título da World Series, nome da final do campeonato da MLB (Major League Baseball), da qual a equipe em questão é integrante. Ressalta-se que os pesquisadores entrevistaram torcedores que se consideram “obstinados” (die-hard – muito leais à marca Cubs – 134) e outros que se consideram menos leais (237), e que tal classificação adveio de dois questionamentos, demonstrados na sequência (BRISTOW; SEBASTIAN, 2006, p. 262, tradução nossa): (1) “Como você caracterizaria sua lealdade ao Chicago Cubs?” As opções de resposta eram “de forma alguma leal”, “menos leal que a maioria dos fãs dos Cubs”, “mais leal que a maioria” e “obstinado”; e (2) “Você se considera ser um fã leal do Chicago Cubs?” Nesse caso, as opções de resposta se limitavam a “não” e “sim”. Salienta-se que as duas perguntas foram dispostas separadamente no questionário, espaçadas por vários outros itens, e se considerou como fã obstinado, aquele que marcava a opção “obstinado” na primeira questão e “sim” na segunda.

O referencial teórico por eles utilizado foi uma adaptação dos modelos de Dick e Basu (1994 apud BRISTOW; SEBASTIAN, 2006) e de Sheth, Mittal e Newman (1999 apud BRISTOW; SEBASTIAN, 2006), que consideram a lealdade à marca um conceito tripartite, envolvendo o ajuste de percepção de performance da marca, a identificação social e emocional com a marca e os hábitos e a história desenvolvida com a marca. Esse modelo apregoa que esses três pressupostos convergem na formação de uma atitude positiva com relação à marca, que resulta em um comportamento de compra repetida do mesmo produto/serviço, gerando assim a lealdade do consumidor à marca.

Os resultados do trabalho de Bristow e Sebastian (2006) apontaram que os torcedores “obstinados” demonstraram atitudes e comportamentos diferentes daqueles considerados “menos leais”, especificamente no tocante à lealdade à marca, ao conhecimento sobre beisebol, à exposição aos jogos dos Cubs enquanto criança, à frequência de comparecimento aos jogos dos Cubs, e à propensão à compra da parafernália dos Cubs.

f) Funk e Pastore (2000) Os autores classificam os fãs de esporte em três categorias, de acordo com o seu grau

de lealdade a uma equipe esportiva: altamente leais, moderadamente leais e pouco leais. Eles trabalham o conceito de lealdade dos torcedores por meio do desenvolvimento e teste empírico de uma escala composta de componentes comportamentais e atitudinais, que aponta o nível de fidelidade (allegiance) de tais torcedores. Os testes foram realizados em uma amostra que compreendia duas turmas de curso introdutório de marketing, de uma grande universidade do meio-oeste americano. As atitudes e comportamentos foram verificados com relação a uma equipe específica, o time de beisebol Cleveland Indians, da MLB (Major

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League Baseball). Ressalta-se que os aspectos comportamentais empregados na escala foram: comparecimento aos jogos, compras, conversações e o fato de se ver os jogos (não necessariamente no local do evento). Outros cinco itens definiam o aspecto atitudinal, representado pela dimensão comprometimento.

Além disso, Funk e Pastore (2000) identificaram que as propriedades atitudinais “importância” e “experiência direta” são os maiores vaticinadores da lealdade em relação a uma equipe esportiva. A importância “(...) representa a percepção de uma pessoa sobre um significado e valor psicológico que ele ou ela vinculam a uma equipe esportiva” (p. 127). Já a experiência direta “(...) se refere ao grau de experiência ou participação anterior, ou à quantidade de contato direto, que alguém teve com as atividades relacionadas a uma equipe” (p. 127). Ressalta-se que essa conclusão foi obtida após a eliminação de outras seis propriedades concorrentes: intensidade, extremidade, certeza, conhecimento, latitude de rejeição e consistência afetivo cognitiva.

g) Hunt, Bristol e Barshaw (1999) Os autores adotam uma abordagem conceitual para criar uma tipologia de fãs de

esporte. Eles distinguem os fãs por serem motivados (na busca de uma afirmação de sua própria identidade e de uma identidade social) ou temporariamente (fã temporário ou local) ou de forma duradoura (fã devotado, fanático ou disfuncional), assim como pelos seus níveis de apego (somente com relação aos três últimos) – o maior apego atua como um reforço da identidade conquistada. Primeiramente é definido o “fã temporário” – indivíduos motivados temporariamente, que buscam se definir e mostrar aos outros a sua auto-identidade, identificada por meio de objetos de consumo; a busca dessa identidade é motivada pelos conceitos BIRG – basking in reflected glory (gozar da glória refletida) e CORF – cutting-off reflecting glory (cortar a falha refletida), que correspondem, respectivamente, à (a) internalização do sucesso alheio e à (b) dissociação do fracasso alheio (CIALDINI et alii apud HUNT, BRISTOL E BARSHAW, 1999). O segundo tipo apresentado é o “fã local”, que assim como o primeiro é motivado temporariamente, mas, além disso, sofre restrições geográficas, devido à sua identificação com determinada área (ou local de nascimento ou de moradia).

Os demais tipos já possuem motivações de caráter duradouro e se distinguem, entre si, pelo nível de afeiçoamento que cada um dispensa ao seu objeto de consumo favorito; além disso, não sofrem restrições espaço-temporais. Desta forma, o terceiro tipo é o “fã devotado”, que inicialmente era ou um fã temporário ou um fã local, que, com o aumento da motivação, transformou-se nesse último tipo de torcedor, mantendo-se constantemente leal ao seu objeto de consumo (manutenção do maior nível de afeiçoamento), dado que é do seu interesse manter o seu conceito próprio perante a si mesmo e a outros, fato explicado por Ball e Tasaki (1992 apud HUNT, BRISTOL E BARSHAW, 1999, p. 445) por meio do significado emocional, conceituado como “as associações do objeto com pessoas e eventos significativos na vida da pessoa”.

Hunt, Bristol e Barshaw (1999) postulam que à medida que a identificação com o objeto de consumo esportivo se aproxima ainda mais do centro do self do indivíduo, ele se torna ainda mais afeiçoado ao mesmo – o que nos remete à classificação do “fã fanático”. Todavia, o fanático, apesar de que o fato dele ser um fã se constituir em um elemento importante de sua auto-identificação, outros aspectos de sua vida, como a sua família, o seu trabalho e a sua religião também compõem a sua identificação. Situação diferente daquela observada no quinto tipo apresentado de fã, o “disfuncional”, que apesar de possuir um nível de afeiçoamento semelhante ao do fanático, distingue-se pelo fato de o seu método primário de auto-identificação é ser um fã, em detrimento de qualquer outra forma, o que o leva a expressar um comportamento anti-social, disruptivo, afastado dos padrões.

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h) Shank e Beasley (1998) Os autores estudaram o nível de envolvimento dos torcedores com o esporte e

concluíram que as pessoas que frequentemente lêem sobre esportes, assistem a programas esportivos, comparecem e participam (como jogador ou organizador) a eventos esportivos, apresentam alto nível de envolvimento com esporte, comparadas às demais pessoas que não têm o mesmo hábito. Tais conclusões foram possíveis devido ao desenvolvimento de uma escala denominada “Inventário de Envolvimento Esportivo” (Sports Involvement Inventory), instrumento de medição composto de duas dimensões (afetiva e cognitiva), testado empiricamente em 136 indivíduos em Cincinnati, nos Estados Unidos.

Desta forma, pode-se afirmar que duas classificações de torcedores advém dessa escala: torcedor altamente envolvido e pouco envolvido. Todavia, uma subclassificação pode também ser depreendida, se forem consideradas as duas dimensões que compõem a escala, gerando quatro sub-tipos de torcedores: altamente envolvido – afetiva e cognitivamente – e pouco envolvido – também afetiva e cognitivamente.

i) Stewart e Smith (1997 apud QUICK, 2000) A partir da geração de uma tipologia expandida do conceito inicial que subdividia os

torcedores com base no comparecimento aos jogos e associados dos clubes, Stewart e Smith (1997 apud Quick, 2000) estabelecem um importante ponto de partida para a compreensão heterogênea do comportamento de consumo do torcedor (QUICK, 2000), realizando uma classificação que considera a lealdade, a performance da equipe e a identificação.

Os tipos de espectadores, as motivações para a audiência esportiva e os seus comportamentos nortearam a nomenclatura dada às cinco categorias de torcedores da tipologia, como se observa a seguir. O aficionado é um fã do esporte e não do time; o teatrista é aquele fã que gosta de ir ao espetáculo, mas não tem grande lealdade ao time; o partidário apaixonado quer que o time ganhe a todo custo; o seguidor de campeão consome quando o time está bem na competição; e, por fim, o partidário recluso é muito identificado com o time, mas não necessariamente vai ao estádio, podendo acompanhar a equipe via meios remotos de transmissão (QUICK, 2000, p. 151).

Quick (2000) vê a importancia destes resultados para a gerência das organizações do esporte diante dos fatores que influenciam os fãs a continuarem a torcer pelos seus times/atletas, observando até qual ponto as organizações devem se adaptar para absorver os diferentes tipos de torcedores e se alguns segmentos são mais importantes do que outros para serem investigados.

j) Holt (1995) O autor desenvolveu uma pesquisa, com duração de dois anos, junto a fãs de beisebol

em Chicago, Estados Unidos, buscando detalhar as atividades de consumo desse grupo. O estudo possibilitou que se analisasse e se aprimorasse três grupos de consumidores já previamente delineados: aqueles que ou consomem como experiência, ou consomem como integração ou consomem como classificação. A pesquisa também serviu como base para o autor acrescentar uma quarta dimensão – o consumo como jogo. O estudo considera essas quatro dimensões para explicar a tipologia de consumo proposta. “A utilidade dessa tipologia é demonstrada quando ela é aplicada para desenvolver uma concepção alternativa de materialismo como estilo de consumo” (HOLT, 1995, p. 01).

Na dimensão “consumo como experiência” examina-se as reações emocionais do consumidor no ato de consumir. Essa dimensão considera esse ato como um fenômeno psicológico, o que permite analisar o estado emocional do consumidor durante a compra. A dimensão consumo como experiência apresenta três práticas de consumo: a contabilidade, a avaliação e a apreciação.

Já a dimensão “consumo como integração” analisa como o consumidor adquire e manipula os seus pertences. Dessa forma, essa dimensão considera que se pode consumir com

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o objetivo de integração, pela atitude de demonstrar ser proprietário de algum objeto. Assim, as três práticas de consumo dessa dimensão são a assimilação, a produção e a personalização.

Por outro lado, a dimensão “consumo como classificação” enxerga o ato de consumir como um processo do consumidor classificar a si mesmo e aos outros. O consumo, de acordo com essa dimensão, possibilita o agrupamento de consumidores com hábitos semelhantes. Suas duas práticas de consumo são a classificação por objetos e por ações.

Por fim, para a dimensão “consumo como jogo”, o ato de consumir também representa uma fonte de interação entre os consumidores, no caso dessa pesquisa, fãs de esporte. Para isso, os eventos esportivos contam com normas subtendidas de interação entre os torcedores. Suas práticas de consumo são a comunicação e a socialização.

2.1 Diferentes operacionalizações das dimensões utilizadas nas tipologias

Os autores desta pesquisa, pelo fato de terem realizado uma profunda análise das dimensões que afetam o comportamento do torcedor, encontraram inúmeros outros estudos que operacionalizam de diferentes maneiras algumas das dimensões já aplicadas na classificação de fãs de esporte. Acreditou-se ser importante a citação, dentre esses estudos, daqueles que são mais relevantes, pois os mesmos podem contribuir com uma depuração na medição do comportamento das variáveis que embasam algumas tipologias de torcedores, como podem também gerar novas classificações, tendo como base de segmentação as mesmas dimensões teóricas. Pelo fato dessa questão não ser parte integrante do escopo deste artigo, apresenta-se somente um quadro resumo (Quadro 2) que sintetiza as principais idéias dos citados trabalhos, restringindo-se às duas dimensões mais recorrentes citadas nesses textos: lealdade, identificação e performance de consumo – esse último construto relaciona-se com a dimensão “comportamento no dia de jogo”, apresentado por Tapp e Clowes (2002). A forma de apresentação dos artigos segue o mesmo padrão estabelecido no primeiro quadro, acrescentando-se somente a divisão primária por dimensão teórica.

3. DIMENSÕES TEÓRICAS NÃO EXPLORADAS NA CLASSIFICAÇÃO DE

TORCEDORES Nesta seção são exploradas as dimensões teóricas encontradas na literatura, que ainda

não foram utilizadas para a construção de tipologias de torcedores, mas que se acredita que possam assim ser manuseadas. O Quadro 3 resume os trabalhos analisados, ressaltando que a forma de apresentação dos artigos segue o mesmo padrão estabelecido no segundo quadro.

3.1 Lazer sério

Buscando compreender melhor o mundo social do fã de esportes, Gibson, Willming e Holdnak (2002) entrevistaram 20 torcedores da equipe de futebol americano universitário Florida Gators, objetivando examinar os seus significados, rituais e hábitos, apoiado no conceito de “lazer sério”, que consiste “na perseguição sistemática de uma atividade que ou é amadora, ou envolve um hobby, ou é voluntária, e que é suficientemente substancial e interessante para um participante encontrar nessa uma carreira, na aquisição e expressão de suas habilidades pessoais e conhecimento”. (STEBBINS, 1992 apud GIBSON, WILLMING E HOLDNAK, 2002, p. 399). O autor ainda destaca que as pessoas que comungam com tal conceito ainda podem ser divididas em três categorias: amadores, ‘hobbystas’, e voluntários de carreira, fato que abre espaço para uma classificação de fãs de esporte por duas vias, concomitantemente: adotar ou não adotar o lazer como algo sério; e, o encaixe em uma das três categorias anteriormente citadas.

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PERFORMANCE DE CONSUMO Madrigal (2006)

Escala Fandim – Multidimensional: (2 fatores de segunda ordem – autotelismo (autotelism) e apreciação – que encerram, cada um, três fatores de primeira ordem) - Autotelismo: variáveis: fantasia, flow, avaliação - Apreciação - variáveis: personalidades, atratividade física e estética

ATITUDE Funk e James (2004)

Antecedentes: necessidade do indivíduo, preferência esportiva, envolvimento com o esporte/equipe, atitude Consequentes: lealdade à equipe esportiva e ao esporte

LEALDADE Bauer, Sauer e Exler (2005)

Antecedentes: imagem da marca (composta pelos atributos relacionados ou não aos produtos que geram benefícios percebidos pelos fãs e pela percepção dos benefícios advindos desses atributos)

Clark (2001) Fatores que contribuem para a geração da lealdade: confiança, experiência fornecida pelo produto, valor, sucesso da equipe, flexibilidade

IDENTIFICAÇÃO COM O GRUPO/EQUIPE/MARCA Donovan, Janda e Suh (2005)

Antecedentes: pares significativos, proximidade com a entidade (-) Consequentes: comprometimento afetivo, aquisição de símbolos associados à marca, aumento da auto-estima

Donovan, Carlson e Zimmerman (2005) Antecedentes: traços básicos da personalidade - extroversão, agradabilidade, necessidade por excitação, materialismo, instabilidade(-), necessidades do corpo(-), necessidade por afiliação

Chun, Gentry e McGinnis (2004; 2005) Busca da identidade cultural: fonte de motivação Ritualização: meio para se adquirir uma identidade cultural Estratégias para a ritualização: formalismo, performance simbólica, tradicionalismo e socialização

Gwinner e Swanson (2003) Antecedentes: prestígio percebido, domínio em que o grupo opera, número de associações dos fãs com os times Consequentes: comprometimento perante o patrocínio: reconhecimento do patrocínio, atitude perante o patrocinador, condescendência com o patrocinador (sponsor-patronage), satisfação com o patrocinador

Laverie e Arnet (2000) Antecedentes: afeiçoamento, envolvimento situacional, envolvimento duradouro Consequentes: comparecimento a eventos esportivos (afetado conjuntamente pela satisfação)

Fisher (1998) Antecedentes: similaridade individual percebida, atratividade aos membros do grupo (somente significativa quando mediada pela anterior) Consequentes: comportamento de consumo dos fãs – comparecimento aos jogos, audiência via televisão e rádio

Fisher e Wakefield (1998) Antecedentes - fãs de equipes perdedoras: domínio em que o grupo opera, performance percebida da equipe (ns), atratividade aos membros do grupo Antecedentes - fãs de equipes vencedoras: domínio em que o grupo opera, performance percebida da equipe, atratividade aos membros do grupo (ns) Consequentes: comportamento de consumo dos fãs – comportamento durante o jogo, compra de produtos licenciados, comparecimento aos eventos

Wann e Dolan (1994) Grau de identificação x Atribuições internas: resultado da partida interfere mais fortemente nas atribuições internas e externas dos torcedores mais identificados Quadro 2: Síntese da pesquisa sobre as dimensões teóricas já aplicadas à classificação do torcedor* Fonte: Bauer, Sauer e Exler (2005); Chun, Gentry e McGinnis (2004; 2005); Clark (2001); Donovan, Carlson e Zimmerman (2005); Donovan, Janda e Suh (2005); Fisher (1998); Fisher e Wakefield (1998); Funk e James (2004); Gwinner e Swanson (2003); Laverie e Arnet (2000); Madrigal (2006); e Wann e Dolan (1994). * No caso da apresentação de antecedentes e consequentes, é pressuposto que todas as variáveis se relacionam positivamente com as dimensões apresentadas nesse quadro, exceto aquelas apontadas pelo sinal (-) – que denota uma relação negativa – e pelas letras (ns) – que apontam a variável como não significativa.

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LAZER SÉRIO Gibson, Willming e Holdnak (2002)

Variáveis: perseverança, carreiras de longo-prazo, esforço pessoal significativo, benefícios duradouros ao self, ethos singular, identificação Classificação dos adotantes de tal postura: amadores, hobbystas (hobbyists), voluntários de carreira

NOSTALGIA Kulkzycki e Hyatt (2005)

Consequentes: interação social de cunho nostálgico, intermediada por um artefato nostálgico (não testada empiricamente)

QUALIDADE DO SERVIÇO Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006)

Qualidade percebida de serviço varia conforme o nível de avidez do fã: obteve-se diferenças estatisticamente significativas em 16 dos 19 itens analisados

Kelley e Turley (2001) Atributos importantes dos serviços relacionados aos eventos esportivos (em ordem decrescente de importância): qualidade do jogo ou evento; limpeza do estádio ou arena esportiva; segurança na área de estacionamento; localização do assento dentro do estádio ou arena esportiva; limpeza e higiene dos banheiros; cordialidade dos funcionários; resultado final do jogo; cordialidade dos seguranças; eficiência no atendimento dos funcionários; qualidade dos alimentos vendidos no estádio ou arena esportiva; eficiência no atendimento dos seguranças; preços do evento; meios de comunicação no evento; preço dos souvenires; seguranças; localização do evento.

SENTIMENTOS DEPENDENTES DE ATRIBUIÇÕES Madrigal (2003)

Antecedentes: relevância dos objetivos, expectativa de sentimentos (significativa somente para os sentimentos positivos) Consequentes: percepção positiva da performance da equipe, valor percebido positivo do entretenimento, percepção negativa da performance da equipe (-), valor percebido negativo do entretenimento (ns)

VALORES Kahle, Duncan, Dalakas e Aiken (2001)

LOV (Lista de Valores): auto-respeito, auto-preenchimento, segurança e senso de pertencimento, o relacionamento caloroso com outros, o sentimento de realização, a alegria e divertimento na vida, o fato de ser bem-respeitado Consequentes: atitudes, motivações (não testada empiricamente) Quadro 3: Síntese da pesquisa sobre as dimensões teóricas não exploradas nas tipologias de torcedor esportivo* Fonte: Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006); Gibson, Willming e Holdnak (2002); Kahle, Duncan, Dalakas e Aiken (2001); Kelley e Turley (2001); Kulkzycki e Hyatt (2005); e Madrigal (2003); * No caso da apresentação de antecedentes e consequentes, é pressuposto que todas as variáveis se relacionam positivamente com as dimensões apresentadas nesse quadro, exceto aquelas apontadas pelo sinal (-) – que denota uma relação negativa – e pelas letras (ns) – que apontam a variável como não significativa.

Stebbins (1979; 1982; 1992; 2001 apud GIBSON, WILLMING E HOLDNAK, 2002)

enumera seis variáveis que compõem a dimensão “lazer sério”: perseverança, carreiras de longo-prazo, esforço pessoal significativo, benefícios duradouros ao self, ethos singular, e identificação. O estudo empreendido por Gibson, Willming e Holdnak (2002) verificou que as seis características supra-citadas foram encontradas naqueles fãs dos Gators que consideram o lazer relacionado à equipe como algo sério. Por fim, os autores ressaltam que o fato de ser um torcedor de futebol americano dos Gators “(...) pode não apenas ancorar a identidade individual, mas também podem prover um fórum para identidade coletiva com oportunidades periódicas para reafirmar esse sentido de conectividade em um estádio lotado com 85.000 outros fãs” (GIBSON, WILLMING E HOLDNAK, 2002, p. 421).

3.2 Nostalgia

Kulkzycki e Hyatt (2005) apontaram a dimensão “nostalgia” como relevante no estudo do comportamento do torcedor. A nostalgia é definida como

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uma preferência (preferência geral, atitude positiva, ou afeto favorável) em relação a objetos (pessoas, lugares, ou coisas) que eram muito comuns (popular, à moda, ou amplamente circulado) quando se era mais jovem (no início da fase adulta, na adolescência, na infância, ou mesmo antes do nascimento) (HOLBROOK; SCHINDLER, 1991 apud KULKZYCKI; HYATT, 2005, p. 275)

Kulkzycki e Hyatt (2005) verificaram esse comportamento em torcedores de uma

organização esportiva extinta, os Whalers, de Hartford (Connecticut - EUA), uma equipe de hóquei no gelo da NHL (National Hocky League). Apesar da pesquisa ser contextualizada, visto que a ação de realocação de equipes é uma prática pouco comum em outros países (a exceção do Canadá), acredita-se que essa dimensão seja importante se o objetivo é identificar distintos grupos de torcedores, pois os diferentes graus de nostalgia presente em cada indivíduo podem provocar comportamentos diversos, como, por exemplo, o fato de se referir às conquistas esportivas passadas como forma de justificar a preferência incondicional por uma determinada equipe. Ressalta-se ainda o grande movimento de oferta de produtos “retrô” disponibilizados atualmente no mercado, oriundas de grandes organizações esportivas mundiais (como a National Basketball Association – NBA, a NFL, e algumas equipes de futebol do Brasil, como o Clube de Regatas Flamengo – que recentemente lançou uma edição limitada de sua camisa da equipe campeã mundial e sul-americana em 1981 – e o Sport Club Internacional, dentre outros), que certamente visam saciar o sentimento de nostalgia, que pode apresentar níveis mais altos de intensidade em determinados torcedores, o que os levam a desempenhar comportamentos diferentes daqueles que possuem níveis mais baixos.

3.3 Qualidade do serviço

Kelley e Turley (2001) pesquisaram as percepções dos fãs de esporte analisando a importância dos atributos dos serviços relacionados aos eventos esportivos, e identificaram que aqueles considerados mais relevantes para a formação da percepção do consumidor são os seguintes (em ordem decrescente de importância): qualidade do jogo ou evento; limpeza do estádio ou arena esportiva; segurança na área de estacionamento; localização do assento dentro do estádio ou arena esportiva; limpeza e higiene dos banheiros; cordialidade dos funcionários; resultado da competição; cordialidade dos seguranças; eficiência no atendimento dos funcionários; qualidade dos alimentos vendidos no estádio ou arena esportiva; eficiência no atendimento dos seguranças; preços do evento; meios de comunicação no evento; preço dos souvenires; seguranças; e localização do evento.

Buscando também compreender os fatores que determinam a qualidade do serviço ofertado nos eventos esportivos, sob a ótica do torcedor, Apostolopoulou, Clark e Gladden (2006) verificaram a importância do entretenimento durante a realização de um evento esportivo, apontando, inclusive, o diferente impacto que o mesmo impõe na motivação de distintos fãs. Os autores utilizaram como objeto de estudo o Super Bowl, em que se verificou que, o “show do intervalo”, a variável mais saliente da dimensão entretenimento, classificou-se em sexto lugar na ordem de importância dos elementos envolvendo o evento. Os dois itens mais relevantes foram a competitividade do jogo e os times que participam da contenda. Contudo, ressalta-se que quando os autores separaram a amostra de 1101 respondentes de acordo com o nível de avidez do fã, obteve-se diferenças estatisticamente significativas em 16 dos 19 itens analisados, indicando que os “fãs de esporte ávidos” se interessavam mais pelos elementos centrais do esporte, enquanto os “fãs de esporte baixos/moderados” apresentavam opiniões mais positivas quanto aos aspectos auxiliares do jogo, como o entretenimento.

Ressalta-se que esse estudo não considerou o entretenimento como um vaticinador da classificação de um fã em muito ou pouco ávido. Tal raciocínio pode ser estendido aos demais fatores anteriormente citados e como mencionou Kelley e Turley (2001), os fatores expostos

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não são percebidos da mesma forma pelos diferentes grupos demográficos de torcedores – fato que abre possibilidade para a utilização dessa dimensão na classificação de torcedores.

3.4 Sentimentos dependentes de atribuições

Madrigal (2003) estudou os sentimentos dependentes de atribuições no contexto de eventos esportivos. Por meio de uma análise de uma amostra de conveniência de 228 estudantes universitários de graduação, o autor identificou os antecedentes e os consequentes do construto em análise, utilizando como objeto de estudo seis jogos da equipe universitária masculina de basquete, presenciados pelos pesquisados via televisor. Ressalta-se que era pressuposto que o time da universidade era o time preferido dos pesquisados.

Observou-se que a relevância dos objetivos e a expectativa de sentimentos são vaticinadores de sentimentos positivos; todavia, no que se refere aos sentimentos negativos, somente a relevância dos objetivos foi considerada como um antecedente significativo. Importa ainda mencionar que a percepção positiva da performance da equipe, assim como o valor percebido positivo do entretenimento, foram considerados consequentes dos sentimentos positivos; contudo, no concernente aos sentimentos negativos, foram identificados os mesmos consequentes (na sua acepção negativa), excetuando o valor do entretenimento, com o qual não apresentou uma relação significativa. Por fim, identificou-se uma relação positiva entre a percepção da performance da equipe e o otimismo sobre a qualidade de futuras performances.

Acredita-se que a observação de tal dimensão seja importante por poder apresentar diferentes sentimentos para indivíduos distintos, decorrentes dos objetivos e expectativas diversos que os mesmos podem apresentar; tal situação implica em comportamentos diferentes, o que propicia a classificação de tais indivíduos (torcedores) em classes diversas, propiciando assim oportunidades para novas tipologias.

3.5 Valores

Kahle, Duncan, Dalakas e Aiken (2001) desenvolveram um trabalho em que buscavam compreender as motivações e atitudes dos fãs, por meio do entendimento de quais eram e em qual ordem apareciam os seus valores, utilizando para tal pesquisa a Lista de Valores (List of Values – LOV). Para o empreendimento de tal estudo, utilizou-se duas amostras de uma grande universidade do noroeste americano, sendo uma de fãs de basquete feminino e outra de basquete masculino – em ambos os casos, os entrevistados eram espectadores de jogos das equipes universitárias referentes às respectivas amostras. Identificou-se que os valores auto-respeito, auto-preenchimento, segurança e senso de pertencimento apresentavam diferenças significativas entre as duas amostras. Por sua vez, o relacionamento caloroso com outros, o sentimento de realização, a alegria e divertimento na vida e o fato de ser bem-respeitado não apresentaram diferenças significativas.

A principal contribuição desse estudo é demonstrar que os valores destacados pelo LOV podem ser uma dimensão importante para a classificação de torcedores, já que a pesquisa realizada trouxe claras evidências de que os torcedores que comparecem aos eventos esportivos analisados não são homogêneos. Ressalta-se ainda a relação que existe na apropriação de alguns desses valores por um indivíduo e uma decorrente atitude (por exemplo, auto-respeito relaciona-se à identidade social; alegria e divertimento relacionam-se à nostalgia; auto-preenchimento relaciona-se à lealdade de marca etc.) ou motivação.

4. CONCLUSÃO

Analisando o presente trabalho sob perspectiva, acredita-se ter atingido os três objetivos inicialmente propostos para o mesmo. No concernente à identificação das tipologias de torcedores existentes, foram apontadas dez tipologias, que apresentaram as seguintes

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dimensões teóricas como alicerce de suas formulações: auto-definição; ajuste de percepção de performance da marca; identificação social e emocional com a marca; hábitos; história desenvolvida com a marca; orientação “escola antiga”; atitudes perante as vitórias; materialismo; atleta como um exemplo; estágios psicológicos (consciência, atração, afeiçoamento, lealdade); lealdade comportamental e atitudinal; importância; experiência direta; estrutura e propósito de consumo; motivação; identificação; BIRG; CORF; afeiçoamento; envolvimento afetivo e cognitivo; geodemografia; psicografia; nível de gastos; e performance da equipe (vencer ou perder). A enumeração dessas vinte e oito dimensões teóricas aponta a consecução do segundo objetivo. Fechando a lista de objetivos, realizou-se o apontamento de outras cinco dimensões teóricas que não são utilizadas nas classificações de torcedores encontradas na pesquisa realizada, mas que são passíveis de serem aplicadas em futuras tipologias. Tais construtos são os seguintes: lazer sério; nostalgia; qualidade do serviço; sentimentos dependentes de atribuições; e valores.

A consecução dos objetivos propostos permite aos autores observarem que inúmeros construtos já foram utilizados para a construção de diversas tipologias de torcedores, propiciando a identificação de diferentes comportamentos específicos dos fãs de esporte. Todavia, acredita-se que ainda existam lacunas a serem cobertoa, como evidenciou a apresentação e discussão dos cinco construtos ainda não observados em tipologias de torcedores. Além disso, novas combinações de dimensões teóricas (já utilizados ou não em tipologias) podem também captar comportamentos de torcedores ainda não sistematizados.

Ademais, apesar de não figurar na proposta inicial do trabalho, a pesquisa identificou modos alternativos de se operacionalizar alguns construtos já aplicados para a confecção de tipologias, notadamente a lealdade, a identificação e a performance de consumo. Com relação a essa última, importa mencionar que a escala FANDIM (MADRIGAL, 2006) apresenta a possibilidade de se mensurar um comportamento por meio de um estilo metodológico diferente daquele já medido e classificado por Tapp e Clowes (2002), fato que possibilita o empreendimento de um estudo multimétodo (BREWER; HUNTER, 2006), o que remete às oportunidades de pesquisas futuras, elucidadas no próximo tópico.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No concernente às sugestões de pesquisas futuras, reforça-se a indicação de implementação de pesquisas multimétodos, especialmente com o manuseio daqueles construtos já utilizados para a elaboração de tipologias, para que as classificações possam aumentar significativamente as suas validades, visto que a combinação de estilos metodológicos diversos minimiza os vieses inerentes a um método específico.

Sugere-se também buscar os construtos que expliquem alguns comportamentos claramente observáveis no contexto natural, que ainda não foram explorados pela academia, como o fato de um indivíduo torcer para múltiplos times concomitantemente – diferentemente do “viajante profissional” de Tapp e Clowes (2000), que não possuía ligações duradouras com nenhuma equipe. Tal comportamento torna-se ainda mais evidente com o advento da globalização do esporte, pois maximiza essa possibilidade para fronteiras antes não consideradas, como, por exemplo, o fato de um indivíduo brasileiro torcer prioritariamente para um clube de futebol europeu, em decorrência da melhor qualidade do espetáculo, da presença de grandes estrelas brasileiras, da maior organização dos eventos etc.

Acredita-se ser também importante a realização de testes empíricos naqueles modelos que somente sistematizaram conceitualmente as suas dimensões teóricas, para checar a necessidade de substituição ou não de construtos para efetuar as explicações almejadas.

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