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1ª edição 1994; 2ª edição 1995; 3ª edição 1996; 4ª edição 1998; 5ª edição 2000 Editor responsável: Ernesto Denis Brunassi Revisão: Maria Antônia Gomes Tiragem desta edição: 2000 exemplares EDITORA JURÍDICA IEPC Rua 6, n p 21, Sala 11, Centro Goiânia - GO CEP: 74.023-030 Telefax: (0**62) 225-8860 / 229-4342 ARI FERREIRA DE QUEIROZ Juiz de Direito e Juiz Eleitoral no Estado de Goiás Presidente da turma julgadora de recursos dos juizados especiais cíveis e criminais Professor da Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás Professor da Universidade Católica de Goiás e da Fac. Anhangüera de Ciências Humanas DIREITO ELEITORAL 5ª edição Revista, ampliada e atualizada até janeiro de 2000 EDITORA JURÍDICA IEPC Copyright (c) 1998 by Editora Jurídica IEPC Rua 6 nº 21 - Sala 11 - Centro Goiânia - Goiás Cep.: 74.023-030 Tel.: (0**62) 225 8860 ISBN 85-86117-02-1 ISBN 85-86117-07-2 Impresso no Brasil / Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional conforme decreto n° 1825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados - é proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio. A lei n° 5.988/73 regula os direitos autorais e o Código Penal Brasileiro estabelece no artigo 1 B4 penalidades para quem infringir a lei. Capa: D<V Comunicação Visual - Eber Nunes Ferreira Editoração Eletrônica: A<V Comunicação Visual - Jander Nunes Goiânia - Go (0**62) 229 2892 e-mail: [email protected] Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Queiroz, Ari Ferreira de Direito Eleitoral/ Ari Ferreira de Queiroz. - 5ª edição rev. ampl. e atual. até janeiro de 2000. - Goiânia : Editora Jurídica IEPC, 2000. - (coleção jurídica) Bibliografia ISBN 85-86117-07-2 98-1004 CDU-342.8(81)

Ari Ferreira de Queiroz - Teoria Geral de Direito Eleitoral, 2000

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1ª edição 1994; 2ª edição 1995; 3ª edição 1996; 4ª edição 1998; 5ª edição 2000 Editor responsável: Ernesto Denis Brunassi Revisão: Maria Antônia Gomes Tiragem desta edição: 2000 exemplares EDITORA JURÍDICA IEPC Rua 6, n p 21, Sala 11, Centro Goiânia - GO CEP: 74.023-030 Telefax: (0**62) 225-8860 / 229-4342 ARI FERREIRA DE QUEIROZ Juiz de Direito e Juiz Eleitoral no Estado de Goiás Presidente da turma julgadora de recursos dos juizados especiais cíveis e criminais Professor da Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás Professor da Universidade Católica de Goiás e da Fac. Anhangüera de Ciências Humanas DIREITO ELEITORAL 5ª edição Revista, ampliada e atualizada até janeiro de 2000 EDITORA JURÍDICA IEPC Copyright (c) 1998 by Editora Jurídica IEPC Rua 6 nº 21 - Sala 11 - Centro Goiânia - Goiás Cep.: 74.023-030 Tel.: (0**62) 225 8860 ISBN 85-86117-02-1 ISBN 85-86117-07-2 Impresso no Brasil / Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional conforme decreto n° 1825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados - é proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio. A lei n° 5.988/73 regula os direitos autorais e o Código Penal Brasileiro estabelece no artigo 1 B4 penalidades para quem infringir a lei. Capa: D<V Comunicação Visual - Eber Nunes Ferreira Editoração Eletrônica: A<V Comunicação Visual - Jander Nunes Goiânia - Go (0**62) 229 2892 e-mail: [email protected] Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Queiroz, Ari Ferreira de Direito Eleitoral/ Ari Ferreira de Queiroz. - 5ª edição rev. ampl. e atual. até janeiro de 2000. - Goiânia : Editora Jurídica IEPC, 2000. - (coleção jurídica) Bibliografia ISBN 85-86117-07-2 98-1004 CDU-342.8(81)

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Índices para catálogo sistemático 1. Brasil: Direito Eleitoral 342.8(81) Mais uma vez me privei do convívio familiar para me dedicar a este livro. Para tanto, foi essencial a compreensão da Eliane, minha esposa, e de meus filhos, Ricardo, Henrique e Fernando. Com eles no pensamento e embalado pela vontade de não guardar apenas para mim o pouco que aprendi, dediquei boa parte do pouco tempo que tenho, escrevendo até altas horas da madrugada e finais de semana, mas, enfim, concluí o que esperava, e que a eles dedico. Dedico também aos meus alunos dos cursos de graduação e preparação para concursos. O meu abraço forte a todos e desejo de muito sucesso. Ari APRESENTAÇÃO Normalmente, a tarefa gratificante de apresentar um livro cabe a um outro escritor ou a alguém renomado na área afim por outras razões. Este caso, porém, ë diferente vez que não sou professora, nem ainda renomada. No entanto, como Diretora da Editora IEPC, que edita esta obra, coube a mim esta missão, que pretendo desempenhar com afinco por uma razão especial. Conheço o autor de longa data e com ele convivi momentos alegres, tristes, fáceis e difíceis. Com ele constituí uma família e com ele tenho três filhos. Vi desde o início a sua empreita, a luta incansável, as derrotas e as vitórias, como a que representa este livro. Realmente, considero uma vitória, especialmente se levar em conta a complexidade do tema, agravado pela dinâmica do Direito Eleitoral e pela falta de bibliografia específica. Somo a tudo isto o fato de que não se trata de um livro como os demais, extensos, sem objetividade e incompletos nos pontos essenciais ao público, que, como coloca o autor, é formado basicamente por candidatos dos concursos públicos da magistratura. O professor Ari Ferreira de Queiroz vem dizendo nas suas notas desde a primeira edição que não pretendeu esgotar o assunto, mas apenas facilitar o caminho de seus alunos, assim por ele considerados todos os candidatos aos concursos públicos da área jurídica. Permito-me, porém, discordar do autor. Li o livro; comparei com vários outros; comparei com várias provas de últimos concursos e não vi que seja incompleto. Pode até ser sintético, objetivo, direto, mas aborda toda a temática, não desprezando nem mesmo uma comparação entre as leis cíclicas que regeram eleições pretéritas, desde 1992, até o presente. É certo que temas específicos, como comentários aos dispositivos sobre propaganda eleitoral ou sobre a lei das inelegibilidades, devem ser melhor vistos em obras específicas, porque o objetivo deste livro, como disse o autor e repito, é simplesmente facilitar o caminho dos pretensos futuros juízes ou promotores de justiça. Neste ponto a que a obra se destina, posso dizer que, segundo minha visão, é completa e responde aos anseios desta considerável parcela da comunidade estudantil.

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Penso, ainda, que não seria muito imaginar que esta obra servirá também para profissionais que atuam na área, para consultas rápidas sobre temas específicos, como os direitos políticos, o direito partidário ou os recursos em matéria eleitoral. Tais temas, como tantos outros, foram bem analisados, enfrentados e resolvidos com "maestria", de forma que, como disse o ilustre Desembargador Jamil Pereira de Macedo ao apresentar a obra "Direito Constitucional", do mesmo autor, não se pode lhe atribuir a pecha de omisso ou a prática de "ficar em cima do muro". Pode-se, é claro, dele discordar em alguns pontos, mas não se pode dizer que não foi claro e direto, como sempre tem sido em seus vários livros. Como diretora desta editora, posso dizer do orgulho que temos de trazer a público mais esta obra, que certamente enriquecerá as letras jurídicas de Goiás. Goiânia, 15 de fevereiro de 1998. ELIANE PIZA DE OUEIROZ Diretora da Editora IEPC NOTA À 2ª EDIÇÃO Escrever um livro é sempre uma tarefa delicada e complexa, além de representar uma enorme carga de responsabilidade, vez que em poucas folhas um conteúdo significativo de informações são passadas, a pessoas nem sempre afeitas ao tema, mas que a ele se submetem por necessidades impostas pela incessante busca de melhores posições na vida profissional. Tenho consciência da dificuldade que os candidatos que se inscrevem aos concursos públicos, especialmente da magistratura, enfrentam com a matéria de Direito Eleitoral, pois, como se sabe, trata-se de disciplina que não integra a grade curricular dos cursos de graduação. Sem embargo, nos concursos a que me referi, é das mais exigidas, pelo menos na fase inicial, no chamado "testão", onde costumam se exigir em torno de 15 questões, de um total de 100. Portanto, com o simples propósito de facilitar o caminho dos concursandos, é que resolvi transformar minhas anotações de aulas como professor em curso preparatório neste modesto "Resumo de Direito Eleitoral", que ora se encontra em segunda edição, o que para mim representa uma gratificação, pelo reconhecimento da primeira. Ainda nesta edição, não tive nenhuma pretensão de esgotar o assunto, senão apenas continuar colaborando com o sucesso de cada um. Espero que este meu propósito seja alcançado, e como tal considerarei se, no próximo concurso, você, meu leitor, conseguir, com base nele, resolver pelo menos a metade das questões de Direito Eleitoral. Um abraço, com meus desejos de seu sucesso. Ari Ferreira de Queiroz, janeiro de 1994. NOTA À 3ª EDIÇÃO Há muito tenho sentido a dificuldade dos estudantes que se preparam aos concursos públicos da área jurídica no tocante ao direito eleitoral, especialmente por ser uma disciplina não ministrada nas faculdades de direito e porque a legislação sofre alterações a cada eleição. De outro lado, de um modo geral os concursos de nível superior da área jurídica têm contemplado a matéria. Aqui mesmo, no Estado de Goiás, no concurso para ingresso na carreira da magistratura entre 12 a 15 questões sobre a matéria são aplicadas na primeira fase. Com uma incidência um pouco menor, mas não desprezível, também exige o tema o concurso do Ministério Público, tanto em nível estadual como o federal, para Procurador da República. Exatamente por isto é que resolvi laborar em forma de apostila todo 0 conteúdo da disciplina, mormente aqueles pontos que mais freqüentemente

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vêm sendo objeto de questões de concursos. Como o propósito não é ensinar direito eleitoral, mas tão somente auxiliar os estudantes do tema, em especial meus alunos de curso preparatório para concursos no IEPC - Instituto de Ensino e Pesquisa Científica, fi-lo de forma bastante simples, em conteúdo e linguagem. Espero ter alcançado meu objetivo, e que este trabalho revisado de uma versão anterior, lhes possa ser útil. Atualização em junho de 1995. NOTA À 4ª EDIÇÃO Não é todo livro que consegue sair da primeira edição. Mais difícil ainda é encontrar aqueles que, passando a fase de experiência, conseguem alcançar uma terceira edição. Dificuldade ainda maior, por evidente, é sair da terceira para a quarta edição, como a que ora apresento. De fato, desde o primeiro livro que lancei sobre este tema, em 1993, ainda sob a forma de "resumo", mais assemelhado à uma apostila, até o presente, muita coisa mudou em termos de legislação eleitoral, haja vista que dali até aqui se passaram uma eleição plebiscitária, uma eleição geral, uma municipal e estamos entrando em outro geral. A legislação eleitoral continua sendo cíclica, no sentido que não há uma lei fixa, sendo editada uma para eleição, cada qual procurando atender a vontade do governante de plantão. Para as próximas eleições, que se realizarão no final de 1998, como sempre, há lei nova, mas esta me parece que tem a pretensão de ser mais duradoura, posto que em sua ementa não se refere a esta eleição, mas às eleições. Refiro-me à lei 9504/97, a qual é objeto de estudo neste livro. Como nas primeiras edições, continuo não tendo a pretensão de esgotar o assunto, e nem considero este como sendo um livro de "Curso de Direito Eleitoral", mas tão somente um apontamento de tudo quanto me pareceu importante durante os tempos em que estudo a matéria, especialmente como professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás e no IEPC - Instituto de Ensino e Pesquisa Científica, ambos no curso preparatório para ingresso na carreira da magistratura. Aproveitei também a minha experiência de ter elaborado uma proposta de programa acadêmico desta disciplina para o Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Católica de Goiás, onde sou professor concursado em Direito Constitucional. Lembro que trata-se de matéria que passará a constar do currículo desta nossa conceituada instituição de ensino superior. Nesta nova edição dei uns passos mais largos, se comparados com as edições anteriores. Aqui procurei comparar, tanto que possível, a legislação eleitoral básica, assim consideradas a Constituição Federal, o Código Eleitoral, a lei das inelegibilidades e a lei orgânica dos partidos políticos, com as leis editas em cada eleição desde 1992, com a lei 8214, até a presente, lei 9504, bem como com as principais resoluções do TSE. Além disso como é curial e decorrente de um processo evolutivo natural, lastreado no estudo contínuo, revi alguns conceitos ou pontos de vista sem, contudo, sair da linha e metas iniciais, que são a simplicidade e objetividade de linguagens, e a busca de facilitação para os candidatos dos concursos públicos. Se este não é o livro ideal sobre Direito Eleitoral que gostaria de escrever, é o que, segundo a minha ótica, mais se aproxima das necessidades de meu público-alvo. Como se trata de uma quarta edição, sinto-me no direito de simplesmente continuar esperando que o livro cumpra o seu papel. Um abraço.

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Ari Ferreira de Queiroz, fevereiro de 1998. NOTA À 5ª EDIÇÃO O novo milênio iniciando deu-me mais um impulso. Não chegou ainda a dois anos desde quando lancei a 4á edição deste livro, quando já estava em vigor a lei 9504/97 regulamentando as eleições de 1998. De lá para cá pouca coisa mudou, porque esta lei parece que terá duração mais longa do que as anteriores e será aplicada também nas eleições deste ano e, quem sabe, nas próximas. Esgotada aquela edição e as tiragens posteriores, resolvi fazer uma nova. Inicialmente meditei sobre a conveniência de simplesmente fazer pequenas correções aqui e ali, mas acabei por me convencer de que o ideal e justo para com aqueles que ao livro acorrerem seria fazer, de fato, um novo livro, e foi o que fiz. Se comparada esta edição com a anterior, algumas alterações são de fácil percepção, como os capítulos que tratam da propaganda eleitoral, do direito partidário, do registro de candidaturas, que passaram por ampla reforma, compreendo tanto novos pontos de vista como melhor abordagem legislativa e jurisprudencial. Os demais capítulos também foram ajustados ao perfil do livro visando melhor adequação às necessidades do público a que se destina, formado basicamente por candidatos de concursos públicos. O ajustamento compreendeu, ainda, a unificação de certos capítulos e o desdobramento de alguns itens dentro deles, tudo levando em consideração as disposições das leis 9096/95 e 9504/97, além do Código Eleitoral e da lei complementar 64/90, que trata das inelegibilidades. Adotei algumas notas de rodapé contendo explicações, referências bibliográficas, jurisprudência e dispositivos legais. Mesmo assim, continuo dizendo que se este não é o livro ideal sobre Direito Eleitoral que gostaria de escrever, é o que, segundo a minha ótica, mais se aproxima das necessidades de meu público-alvo. Espero que atinja o seu ideal Um abraço. Ari Ferreira de Queiroz, março de 2000. SUMÁRIO I - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL 1 - Noções ........ 27 2 - Objeto....... 27 3 - Fontes ...... 28 3.1 - Fontes principais .......28 3.2 - Fontes próprias ........28 3.3 - Fontes subsidiárias .......29 II - A JUSTIÇA ELEITORAL 1 - Noções ........31 2 - Tribunal Superior Eleitoral (TSE).......31 2.1 - Notícia Histórica ........31 2.2- Composição e critério de escolha .......32 2.3 - Presidência e Corregedoria .......32 3 - Tribunal Regional Eleitoral (TRE).......33 3.1 - Composição e critério de escolha .....33 3.2 - Presidência e Corregedoria ......33 4 - juiz eleitoral........34 5 - Junta eleitoral .....34 5.1 - Composição .....34 5.2 - Garantias dos seus membros .......35 5.3 - Divisão da junta em turmas .....35

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6 - Mandato dos membros da justiça eleitoral .......36 7 - Competência da Justiça Eleitoral .......37 7.1 - Competência geral .....37 7.2 - Competência normativa ......37 7.3 - Início e fim da competência .......38 III - O SUFRÁGIO, O VOTO E O ESCRUTÍNIO 1 - Noções .......39 2 - Extensão do sufrágio ....40 2.1 - Restrito ......40 2.2 - Universal......40 3 - Sistema do voto.....40 3.1 - Direto.... 40 3.2 - Indireto......41 4 - Valor do voto .....41 4.1 - Qualificado ou plural......41 4.2 - Múltiplo ou cumulativo.........42 4.3 - Igual....... 42 5 - Forma do escrutínio ......43 5.1 - Público..... 43 5.2 - Secreto ...... 43 6 - Distribuição do eleitorado......43 6.1 - Circunscricional .....43 6.2 - Distrital.......44 6.3 - Distrital misto..........44 7 - O sistema eleitoral representativo.......44 7.1 - Os princípios majoritário e proporcional........ 44 7.2 - Os quocientes eleitoral e partidário......45 7.3 - Aplicação das fórmulas ao exemplo ......46 7.4 - Observações sobre o sistema proporcional .......48 IV - DOS DIREITOS POLÍTICOS 1 - Noções ..... 49 2 - Direito político positivo.....49 2.1 - Direito político ativo ......49 2.1 .1 - Noções 49 2.1 .2 - Capacidade ativa obrigatória ou facultativa .....50 2.2 - Direito político passivo....51 2.2.1 - Noções ... 51 2.2.2 - Condições mínimas para a elegibilidade .......51 3 - Direito político negativo.........53 3.1 - Noções ........53 3.2 - Inalistabilidade ...... 54 3.3 - Inelegibilidade por inalistabilidade ......54 3.3.1 - Noções ........54 3.3.2 - Inelegibilidade absoluta ......54 3.3.3 - Inelegibilidade relativa..........55 3.3.4 - O problema do concubinato ou companheirato .....58 3.3.5 - O problema da base territorial e o desmembramento de Município ou Estado.......58 3.3.6 - Os cargos que o elegível pode ocupar......59 3.3.7 - Inelegibilidade na LC 64/90 ......60 3.4 - Direito político negativo por suspensão ou perda .....65 3.4.1 - Noções .......65 3.4.2 - Distinção entre as causas de suspensão e perda de direitos políticos ......65 3.4.3 - Causas de perda de direitos políticos .......66 3.4.4 - Causas de suspensão de direitos políticos.......67

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3.5 - A situação política do militar......68 3.6 - A situação política dos magistrados .....69 3.7 - A situação política dos membros do Ministério Público .....69 V - DO DIREITO PARTIDÁRIO 1 - Noções.......71 2 - Partido político .......72 2.1 - Noções........72 2.2 - Natureza jurídica .....72 3 - Criação e extinção de partidos......73 3.1 - Noções ......73 3.2 - Criação originária....73 3.3 - Criação derivada ....73 3.3.1 - Noções.......73 3.3.2 - Fusão......73 3.3.3 - Incorporação....74 3.3.4 - Efeitos da fusão ou incorporação ......74 4 - Registro de partido político .......75 4.1 - Noções ........75 4.2 - Registro civil .......75 4.2.1 - Requisitos para o registro provisório ......75 4.2.2 - Registro definitivo......76 4.3 - Registro político ......76 4.3.1 - Noções .......76 4.3.2 - Requisitos.......77 4.3.3 - Procedimento ....77 4.3.4 - Comunicação à justiça eleitoral... 77 4.3.5 - Direitos do partido registrado ...... 77 4.4 - Cancelamento e extinção de partido......78 5 - Estrutura dos partidos ......79 5.1 - Noções....79 5.2 - Organização do partido ....80 5.2.1 - Níveis de atuação ..... 80 5.2.2 - Órgãos partidários ... 80 5.2.3 - Comissão Executiva.... 82 6 - Da filiação partidária......83 6.1 - Noções.....83 6.2 - Quem pode se filiar ...... 83 6.3 - Procedimento ....83 6.3.1 - Requerimento .....83 6.3.2 - Impugnação à filiação ......84 6.3.3 - Recursos ........84 6.4 - Controle judicial da filiação.....84 6.5 - Desfiliação partidária.......85 6.6 - Cancelamento da filiação...... 86 7 - Da fidelidade e disciplina partidárias.........86 7.1 - Noções .....86 7.2 - Quanto ao partido.......86 7.2.1 - Noções ....86 7.2.2 - Da intervenção .....86 7.2.3 - Da dissolução e destituição......87 7.3 - Quanto ao filiado ......88 7.3.1 - Noções .....88 7.3.2 - Penalidades aplicáveis ........88 7.3.3 - Procedimento ....88 8 - Prestação de contas........89 VI - DO ALISTAMENTO ELEITORAL

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1 - Noções ....91 2 - Prazo para o alistamento.......91 3 - Procedimento ....... 91 4 - Impugnação.........92 5 - Efeitos do alistamento eleitoral .........92 6 - Descumprimento do dever eleitoral.......92 7 - O domicílio eleitoral ........ 92 7.1 - Noções......92 7.2 - Transferência ......... 93 7.3 - Alteração sem transferência........93 7.4 - Impugnação recursal .....93 8 - Cancelamento e exclusão de eleitores ........94 8.1 - Noções.........94 8.2 - Causas ........94 8.3 - Procedimento.......94 8.4 - Revisão eleitoral ........95 VII - ESCOLHA E REGISTRO DE CANDIDATOS 1 - Noções. ........ 97 2 - Coligações partidárias .......97 2.1 - Noções.......97 2.2 - Outras regras sobre as coligações......97 3 - Competência para o registro....98 4 - Legitimidade para requerer o registro .....98 5 - Prazo para registrar......98 6 - Nome do candidato .....99 6.1 - Eleições majoritárias .......99 6.2 - Eleições proporcionais ......99 7 - Quantidade de candidatos ......99 7.1 - Eleições proporcionais ......99 7.2 - Eleições majoritárias ......100 8 - Impugnação ao pedido de registro .....101 8.1 - Legitimidade.....101 8.2 - Competência .....101 8.3 - Prazos......101 8.4 - Procedimento ......102 8.5 - Eficácia do julgamento .....102 8.6 - Cancelamento do registro por decisão partidária ....102 9 - Substituição de candidatos......102 10 - Investigação judicial ......103 10.1 - Noções....103 10.2 - Finalidades ......103 10.3 - Legitimidade .... 103 10.4 - Competência ..... 104 10.5 - Procedimento ...... 104 VIII - PROPAGANDA ELEITORAL 1 - Noções... ..105

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2 - Princípios informativos .... 106 2.1 - Princípio da legalidade .....106 2.2 - Princípio da liberdade.......106 2.3 - Princípio da responsabilidade .......107 2.4 - Princípio da igualdade ......107 3 - Momento da propaganda .....108 4 - Propaganda paga na imprensa escrita .....108 5 - Propaganda no rádio e na televisão......... 108 5.1 Noções .. ..108 5.2 - Horário gratuito eleitoral ......109 5.2.1 - Noções ....109 5.2.2 - Eleição presidencial.........109 5.2.3 - Eleição para deputado federal....109 5.2.4 - Eleição para deputado estadual .....109 5.2.5 - Eleição para governador .....110 5.2.6 - Eleição para senador.......110 5.2.7 - Eleição para prefeito......110 5.2.8 - Eleição para vereador ......110 5.2.9 - Tempo adicional.......110 5.2.10 - Distribuição do tempo........111 5.3 - Debates .....111 5.4 - Condutas vedadas............112 5.4.1 - A partir de 1° de julho......112 5.4.2 - A partir de 1 ° de agosto......112 5.5 - Direito de resposta .......112 6 - Propaganda com o uso de pesquisas .....113 6.1 - Noções ......113 6.2 - Providências preliminares .....113 6.3 - Crime e infração administrativa ......114 7- Propaganda de partidos coligados......114 8 - Crimes de propaganda eleitoral .........114 IX - DOS ATOS PREPARATÓRIOS À VOTAÇÃO 1 - Organização do corpo eleitoral.......115 1.1 - Zona eleitoral.......115 1.2 - Seção eleitoral......115 2 - A mesa receptora de votos ......116 2.1 - Formação ........116 2.2 - Quem não pode integrá-la.....116 2.3 - Fiscalização da nomeação da mesa receptora......117 2.4 - O presidente da mesa.........117 2.5 - Vantagens do eleitor que servir à mesa receptora ou junta apuradora ...117 3 - Providências para a votação .......118 3.1 - Antes do dia da eleição .......118 3.1 .1 - Entrega do material ......118 3.1 .2 - Instruções aos mesários ......118 3.2 - No dia da eleição........119 3.2.1 - Reunir a mesa receptora.......119 3.2.2 - Ausência de mesários.....119 4 - A votação ........120 4.1 - Fiscalização......120 4.2 - A polícia..........120 4.3 - Onde votar........120 4.3.1 - Noções ......120 4.3.2 - Voto normal na seção onde servir .....120 4.3.3 - Voto em separado na seção onde servir......121 5 - Prioridade na ordem de votação ......122

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6 - Como e em quem o eleitor vota .....122 6.1 - Eleição majoritária ........122 6.2 - Eleição proporcional ........122 7 - O voto em separado......122 7.1 - Noções ....... 123 7.2 - Voto em separado por impugnação ......123 7.3 - Voto em separado por omissão da folha de votação......123 7.4 - Voto em separado por medida de cautela .......123 7.5 - Procedimento do voto em separado ........123 7.6 - Importância do voto em separado....124 8 - Encerramento da votação ......124 X - DA APURAÇÃO 1 - Noções.........125 2 - Órgão apurador......125 3 - Apuração em votação manual......125 3.1 - Abertura da urna e providências imediatas.........125 3.1.1 - Horário........125 3.2 - Pluralidade de zonas eleitorais ......... 126 3.3 - Fiscalização da apuração........126 3.4 - A contagem dos votos..........126 3.4.1 - Início .....126 3.4.2 - Os votos em separado .......126 3.4.3 - Nulidade das cédulas ou dos votos.....127 3.4.4 - Destinação dos votos nas eleições proporcionais ......127 3.4.5 - Encerramento da contagem....... 128 4 - As impugnações ......128 5 - Decisão da junta.....128 6 - Recursos contra atos da junta .......129 7 - Recontagem de votos .....130 8 - Proclamação do resultado........ 130 XI - DIPLOMAÇÃO DOS ELEITOS 1 - Noções......131 2 - Natureza jurídica ....131 3 - Competência ..........131 4 - Prazo e local de diplomar.....131 5 - Efeitos do diploma...132 6 - Fiscalização e impugnação .........132 XII - DOS RECURSOS ELEITORAIS E EQUIVALENTES RECURSAIS 1 - Noções........133 2 - Conceito de recurso .......134 3 - Considerações gerais sobre os recursos eleitorais .....134 3.1 - Efeitos ......134 3.1.1 - Recurso cível .....134 3.1 .2 - Recurso criminal ....134 3.2 - Prazo .....135 3.2.1 - A regra.....135 3.2.2 - Exceções à regra ......135 3.2.3 - A preclusão e a matéria constitucional.......136 3.2.4 - A preclusão recursal e as nulidades ......136 3.3 - Prevenção........137 3.4 - Prejulgado......137 3.4.1 - Noções......137 3.4.2 - Relações com a coisa julgada.........137 3.4.3 - Relações com a uniformização de jurisprudência .......137 3.4.4 - A inconstitucionalidade do preceito.......138 3.5 - legitimidade e capacidade postulatória para recorrer ....138

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3.6 - Pressupostos recursais.........138 4 - Recursos eleitorais na Constituição .....139 4.1 - Contra decisão do TSE ......139 4.2 - Contra decisão do TRE ......139 4.2.1 - Noções ......139 4.2.2 - Recurso especial para o TSE.....140 4.2.3 - Recurso ordinário para o TSE ...... 140 5 - Outros recursos no processo eleitoral.........140 5.i - Contra decisão do juiz ou da junta eleitoral.......140 5.2 - Contra decisões dos presidentes de tribunais ...141 5.3 - Agravo de instrumento ........141 5.4 - Embargos de declaração .....141 5.5 - Recurso parcial .......141 5.6 - Embargos infringentes.....141 6 - Equivalentes recursais .......142 6.1 - Impugnação........142 6.2 - Reclamação......142 6.3 - Representação...142 6.4 - Habeas corpus ......143 6.5 - Mandado de segurança.......144 6.6 - Ação rescisória......144 6.7 - Habeas data e mandado de injunção......144 6.8 - Ação de impugnação de mandato eletivo .....145 XIII - DAS GARANTIAS ELEITORAIS 1 - Noções......147 2 - Liberdade do eleitor.....147 2.1 - Garantia genérica ....147 2.2 - Garantia especial.....148 2.3 - Comunicação da prisão........148 3 - Força pública.......148 4 - Prioridade postal....148 5 - Reconhecimento de firmas.........148 6 - Registro civil gratuito......149 7 - Ausência do serviço.........149 8 - Impedimento do juiz eleitoral....... 149 9 - Vedação de nomeações e concursos públicos..... 149 10 - Transporte de eleitores ..........150 11 - Alimentação a eleitores....... 151 12 - O problema da isenção tributária.......151 I XIV - DO CRIME E DO PROCESSO PENAL ELEITORAL 1 - Noções........153 2 - Aplicação subsidiária do Código Penal.......153 3 - Classificação dos crimes......154 4 - Fixação de pena......154 4.1 - Pena privativa de liberdade......154 4.2 - Pena de multa....155 5 - Crime de imprensa.......156 6 - Processo penal eleitoral....156 6.1 - Síntese........ 156 6.2 - Competência ........ 157 XIV - SÚMULAS DO TERIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 1 a 14.....159 TESTES...... 161 GABARITO........185 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..... 187

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TEXTO INTEGRAL DA LEI 9504/97...... 189 TEXTO INTEGRAL DA LEI 9096/95......235 TEXTO INTEGRAL DA LEI COMPLEMENTAR 64/90 .... 257 ARI FERREIRA DE OUEIROZ 27 I - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL 1 - Noções 2 - Objeto 3 - Fontes 3.1- Noções 3.2 - Fontes principais 3.3 - Fontes próprias 3.4 - Fontes subsidiárias 1 - Noções O direito eleitoral é um ramo do direito público, mais especificamente uma especialização do direito constitucional, cujo conjunto sistematizado de normas coercíveis destina-se a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos, precipuamente de votar ou de ser votado (art. 1°, Código Eleitoral). Fávila Ribeiro' diz que "o direito eleitoral, precisamente, dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental". 2 - Objeto Com a finalidade de assegurar o exercício dos direitos políticos, o campo de ação ou objeto do direito eleitoral fica bastante amplo, compreendendo até mesmo regras partidárias, bem como o alistamento eleitoral, a transferência de eleitores, o registro de candidaturas, a campanha eleitoral, a propaganda partidária e eleitoral entre outros institutos. Com algum esforço é possível assim resumir o objeto do direito eleitoral: a) regular o corpo eleitoral: pelo direito eleitoral se disciplinam as medidas tendentes a distribuir racionalmente os eleitores, considerando endereços, localizações e outras referências, formando as zonas eleitorais ou distritos eleitorais, que são divididos em seções eleitorais; b) dispor sobre o sistema eleitoral: promover a organização do sistema eleitoral de forma a estabelecer regras para o sufrágio universal ou restrito, conforme o adotado no Estado, segundo a sua Constituição; c) fixar a forma de escrutínio: ditar as normas que se devem cumprir quanto à forma de voto e escrutínio, dizendo se é secreto ou público, e de cédula individual ou única por candidato; d) representação eleitoral: prescrever normas sobre a forma de eleição, considerando o sistema majoritário ou o proporcional; e) capacidade política: disciplinas as regras da capacidade política ativa e passiva, dizendo quem pode votar e quem pode ser votado; f) processo eleitoral: disciplinar as regras do processo eleitoral, fixando datas para as eleições, dispondo sobre a forma de apuração, recursos, impugnações e outras medidas necessárias para se garantir a soberania popular. 28 3 - Fontes 3.1 - Noções DIREITO ELEITORAL Em sentido amplo, fonte significa nascedouro; fonte seria o ponto de onde nasce alguma coisa. O direito eleitoral nasce de "tal uma coisa". Esta "coisa", primeira, que dá nascimento ao direito eleitoral pode ser classificada sob três aspectos, ou de três modos: 3.2 - Fontes principais

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a) Constituição Federal: esta é a expressão da vontade soberana da nação. Ela traça as normas gerais (art. 14, CF), deixando matérias a serem regulamentadas por lei complementar (art. 14, § 9°, CF). A Constituição fixa as regras gerais e básicas do direito eleitoral inclusive quanto aos partidos políticos e capacidade política, por isso que é fonte principal; b) leis complementares: complementares são leis destinadas a completar a própria Constituição e vêm previstas no texto constitucional. A principal lei complementar em vigor, como fonte do direito eleitoral, à 64/90, que regulamenta o art. 14, § 9°, CF, e dispõe sobre causas de inelegibilidades, prazos de cessação e determina outras providências, como a investigação judicial. O próprio Código Eleitoral, na parte em que dispõe sobre a justiça eleitoral, é lei complementar por força do que consta no art. 121 , CF. 3.3 - Fontes próprias a) Código Eleitoral: o Código Eleitoral (lei 4737/65) estabelece a maioria das regras do direito eleitoral, nos limites permitidos pela Constituição e que não sejam objeto de lei complementar, como por exemplo, o procedimento para o alistamento eleitoral, o cancelamento da inscrição eleitoral, a votação, apuração das eleições, crimes eleitorais e processo penal eleitoral. Aliás segundo o art. 121 , caput, CF, cabe à lei complementar dispor sobre a organização e competência dos tribunais e juízes eleitorais, pelo que, nesta parte, o velho Código Eleitoral é de ser visto como lei complementar, posto que foi recepcionado pela Constituição; b) Lei Orgãnica dos Partidos Políticos: a lei 9096/95, que substituiu a antiga lei 5682/71 e é a atual Lei Orgânica dos Partidos Políticos, é o regulamento de funcionamento dos partidos políticos dentro dos limites estabelecidos pelo art. 17, CF, dispondo sobre a criação, fusão e extinção, além de fixar as regras de filiação e desfiliação partidária, presta ão de contas pelos partidos, propaganda partidária e outras; c) leis eleitorais transitórias ou temporárias: denomino de leis eleitorais transitórias ou temporárias as que são elaboradas a cada eleição, derrogando regras da legislação vigente, pelo menos para aquela eleição. São leis casuísticas que chegam causar espanto ao intérprete, posto que, como todos, são elaboradas justamente por quem tem o maior interesse, que são os políticos, muitas vezes legislando em causa própria. São ARI FERREIRA DE OUEIROZ 29 exemplos as leis 8214/91 (eleições de 1992), 8713/93 (eleições de 1994) e a lei 9100/95 (eleições de 1996). A lei 9504/97, editada para regulamentar as eleições de 1998, valerá também para as eleições futuras, não se aplicando doravante as regras do Código Eleitoral, salvo supletivamente. 3.4 - Fontes subsidiárias a) leis em geral: além das fontes principais e próprias, o direito eleitoral tem um elenco de fontes subsidiárias que se somam àquelas. São fontes subsidiárias porque só podem ser utilizadas à falta das principais ou próprias, para complementá-las e, em geral, são as demais leis que de qualquer forma sirvam de base para o direito eleitoral. Como exemplo, citam-se o Código Penal, donde se tomam por empréstimo os princípios de culpabilidade, imputabilidade e, punibilidade, por exemplo, e o Código Civil, de onde retiram-se os conceitos de capacidade, maioridade e responsabilidade, entre outros. Também podem ser apontados como fontes subsidiárias os Códigos de Processo Penal e de Processo Civil, de onde são buscados os princípios e formas do processo e do procedimento eleitorais; b) Resoluções do TSE e TRE: também não podem ser desprezadas como fontes subsidiárias do direito eleitoral as resoluções ou provimentos do TSE e do TRE, aliás, fontes das mais importantes, haja vista o poder normativo

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que tem a justiça eleitoral para regulamentar eleições e outras questões relativas ao pleito. De fato, o TSE dispõe de poder normativo exercitado de duas formas: a uma, ao expedir instruções que julgar convenientes à execução do pleito eleitoral (art. 23, IX, CE) e, a duas, ao responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem formuladas, em tese, por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político (art. 23, XII, CE). Tanto para a primeira como para a segunda forma de instrução o TSE edita resoluções, que valem, no âmbito da justiça eleitoral, como verdadeiras leis, muitas vezes chegadas ao conhecimento dos juízes eleitorais por meio de fax ou outro, instantes antes de sua aplicação. 30 DIREITO ELEITORAL . ARI FERREIRA DE OUEIROZ II - A JUSTIÇA ELEITORAL 31 1 - Noções 2 - Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 2.1 - Noticia histórica 2.2 - Composição e critério de escolha 2.3 - Presidência e Corregedoria 3 - Tribunal Regional Eleitoral (TRE) 3.1 - Composição e critério de escolha 3.2 - Presidência e Corregedoria 4 - juiz eleitoral 5 - Junta eleitoral 5.1 - Composição 5.2 - Garantias dos seus membros 5.3 - Divisão da junta em turmas 6 - Mandato dos membros da justiça eleitoral 7 - Competência da Justiça Eleitoral 7.1 - Competência geral 7.2 - Competência normativa 7.3 - Início e fim da competência 1 - Noções Incluída como parte do Poder Judiciário (art. 92, CF), a justiça eleitoral não tem uma estrutura própria, funcionando com juízes de outros órgãos, do primeiro aos graus superiores. A justiça eleitoral foi criada pela primeira vez com o Código Eleitoral de 1932, mas somente ganhou sede constitucional com a carta de 1934 (art. 63), mantendo-se daí por diante praticamente sem alteração quanto à sua estrutura. A Justiça Eleitoral é o instrumento de garantia da seriedade do processo eleitoral, seja no comando das eleições, evitando abusos e fraudes, seja na preservação de direitos e garantias por meio da fixação e fiel observância de diretrizes claras e firmes, fundamentadas em lei. Atualmente, os órgãos da justiça eleitoral estão previstos no art. 118, CF, em cujo capítulo também se definem as respectivas estruturas organizacionais, incluindo a composição numérica dos tribunais. São órgãos da justiça eleitoral o TSE, os TREs, os juízes e as juntas eleitorais. 2 - Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 2.1 - Notícia histórica Na primeira Constituição republicana, de 24.02.1891, não constava a justiça eleitoral na estrutura do Poder Judiciário. Lei de 24.02.32 criou o TSE, que foi instalado em 20 de maio do mesmo ano com o nome de Tribunal Superior da Justiça Eleitoral, sendo primeiro presidente o ministro Hermenegildo Rodrigues de Barros. Sobrevindo a Constituição de 1934, o TSE foi mantido com o mesmo nome (art. 82), mas carta magna de 1937 extinguiu a justiça eleitoral e atribuiu à União, privativamente, o poder de legislar sobre matéria eleitoral da União, dos Estados e dos Municípios, até que o DL 7586, de 2• S de maio de 1945, a recriou e deu ao tribunas superior o nome até hoje mantido. O TSE recriado foi instalado em 1 ° de junho do mesmo ano no Palácio Monroe, no Rio de Janeiro, sob a presidência do ministro José Linhares. Em abril de 1960, a sede do TSE foi transferida para Brasília, em virtude de mudança da Capital Federal. Órgão máximo da justiça eleitoral, o TSE tem suas principais competências fixadas pela

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Constituição Federal e pelo Código Eleitoral. O TSE exerce papel fundamental na construção e no exercício da democracia brasileira em açâo DIREITO ELEITORAL 32 conjunta com os Tribunais Regionais Eleitorais, que são os responsáveis diretos pela administração mais próxima do processo eleitoral. 2.2 - Composição e critério de escolha Dispõe o art. 119, CF, que "O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á no mínimo, de sete membros". Por conseguinte, a Constituição Federal não limita o número máximo de membros do TSE, apenas impondo um mínimo, que é de 7 (sete). Acrescenta o art. 121 , CF, que "Lei Complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais". Por sua vez, o art. 8° da LOMAN, que é a Lei Complementar, fixa exatamente em 7 (sete) o número de membros e lhes atribui a qualificação de juízes (não de Ministros), embora alguns sejam, realmente, Ministros do STF ou do STJ. No exercício, porém, da função eleitoral, devem ser tratados pelo título de "juízes". Paradoxalmente, o art. 34, LOMAN, expressamente denomina-os de "Ministros". Estes juízes (Ministros) serão escolhidos da seguinte forma: a) voto secreto em eleição: três Ministros do Supremo Tribunal Federal, escolhidos em votação secreta pelo plenário (art. 7, II, RISTF), estando presente o quorum mínimo de 8 ministros (art. 143, RISTF); b) voto secreto em eleição: dois Ministros do Superior Tribunal de Justiça (art. 10, III, RISTJ), estando presente o quorum de 2/3 de seus membros (art. 171, RISTJ); c) por nomeação do presidente da República: dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Embora não conste expressamente, os seis advogados a que se refere o texto não são escolhidos de uma única vez. Na verdade, são três por vaga, totalizando os seis, vez que são duas a serem preenchidas. Seguindo a regra geral da participação de advogados ou membros do Ministério Público nos tribunais federais, compete ao Conselho Federal da categoria (art. 54, XIII, EAOAB) elaborar, por votação, uma lista sêxtupla para cada vaga e submetê-la ao STF, para que, por decisão do plenário, sejam escolhidos os três nomes, formando, então, uma lista tríplice, que será encaminhada ao presidente da República, a quem compete escolher dentre estes aquele que vai integrar o TSE. 2.3 - Presidência e Corregedoria Dispõe o art. 119, parágrafo único, CF, que "O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu presidente e o vice-presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o corregedor eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça". Por conseguinte, depois de formado o tribunal, compete ao próprio, eleger seus órgãos administrativos, incluindo a escolha do presidente e do corregedor eleitoral. A redação deste parágrafo alterou a do art. 17, CE, vez que neste era designado de corregedor-geral eleitoral e ARI FERREIRA DE QUEIROZ 33 apenas "corregedor eleitoral", o do Estado deve ser chamado de "corregedor regional eleitoral" para se evitar confusão. 3 - Tribunal Regional Eleitoral (TRE) 3.1 - Composição e critério de escolha Para cada Estado da federação, assim como para o Distrito Federal, há um Tribunal Regional Eleitoral com idêntica composição, sendo sete (7) os seus membros. De fato, dispõe o art. 120, CF, que "Haverá um Tribunal

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Regional Eleitoral na capital de cada Estado e no Distrito Federal" que compor-se-ão de membros eleitos e nomeados, da seguinte forma: a) voto secreto em eleição: dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça do respectivo Estado ou Distrito Federal, escolhidos pelo pleno do próprio Tribunal, em escrutínio secreto (art. 9°, XVII, RITJGO); b) voto secreto em eleição: dois juízes dentre os juízes de direito do respectivo Estado ou Distrito Federal, escolhidos pelo pleno do Tribunal de Justiça, em escrutínio secreto (art. 9°, XVII, RITJGO); c) voto secreto em eleição: um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na capital do Estado ou no Distrito Federal. Como até o presente são apenas cinco as capitais sedes de TRFs (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), há 22 em que não há como se escolher juiz deste tribunal para compor o TRE. Nestes casos será escolhido, pelo TRF da região, um juiz federal de primeiro grau. Discutiu-se durante algum tempo se este juiz federal, depois de nomeado e empossado, teria direito à permanência na função mesmo sendo instalado o TRF, mas a resposta foi contrária. De fato, nomeado o juiz federal para a função eleitoral, à falta de TRF na capital, sendo criado e instalado este, a vaga deve ser imediatamente ocupada por um de seus integrantes, juiz de segundo grau, equivalente ao desembargador na justiça estadual; d) por nomeação do presidente da República: da mesma forma como são escolhidos cada um dos dois advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral para comporem o TSE, por lista sêxtupla formada pelo Conselho Federal, de que será elaborada uma lista tríplice pelo STF, são escolhidos cada um dos dois que comporão o TRE, porém, cabendo ao Tribunal de Justiça formar a lista tríplice (art. 9°, XVII, RITJGO). Embora sejam cortes estaduais, a nomeação também compete ao presidente da República. 3.2 - Presidência e Corregedoria Segundo o art. 120, § 2°, CF, que "O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu presidente e o vice-presidente dentre os desembargadores". Assim, na prática, pelo menos no Estado de Goiás, dentre os dois desembargadores o mais antigo é o presidente e o outro, o vice-presidente e corregedor regional 34 DIREITO ELEITORAL biênio, mas no primeiro ano o mais antigo será vice-presidente e só no segundo ano é que assume a presidência. 4 - Juiz eleitoral Não há um cargo de juiz eleitoral, mas apenas uma função, que é exercida pelo próprio juiz de direito da comarca. Havendo mais de uma vara na comarca, ou mais juízes de direito do que o número de zonas eleitorais, o TRE designará qual deles será, ou serão, o juiz eleitoral. Segundo o art. 32 do Código Eleitoral, o juiz, para exercer a função eleitoral, deve gozar das prerrogativas previstas no art. 95 da Constituição Federal, que são a inamovibilidade, a irredutibilidade de vencimentos e a vitaliciedade, sendo que esta última só é adquirida com a aprovação no estágio probatório. Assim, sob a rubrica do Código Eleitoral o juiz substituto não pode ser juiz eleitoral porque não é vitalício nem tem a garantia da inamovibilidade enquanto não for titular de comarca. Ocorre que o cargo de juiz substituto foi criado pela vigente Constituição Federal apenas como o nome do cargo inicial da carreira da magistratura, não havendo qualquer restrição à sua competência. Ora, a boa regra de hermenêutica jurídica ensina que ao legislador ou intérprete é vedado chegar onde o constituinte não chegou e nem quis chegar. Por conseguinte, é de se ter como revogado o art. 32, CE, nesta parte. Tanto assim é que em nosso Estado todos os juizes recém- empossados, substitutos, portanto, presidem eleições e recebem a gratificação pela função de juiz eleitoral. Exemplo claro desta competência

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do juiz substituto ocorreu com os que tomaram posse em janeiro de 1993 e presidiram a eleição plebiscitária de abril do mesmo ano. 5 - Junta eleitoral 5.1 - Composição A junta eleitoral é um órgão colegiado da justiça eleitoral com duração efêmera, com competência exclusiva e limitada para a apuração das eleições. Podem ser compostas tantas juntas eleitorais quantos forem os juízes de direito na comarca, mesmo que não tenham a atribuição de juiz eleitoral (art. 37, CE). A junta é composta por 1 juiz de direito, que a presidirá como juiz eleitoral, e mais 2 ou 4 cidadãos de notória idoneidade, indicados pelo juiz eleitoral ao TRE e nomeados pelo seu presidente, depois de aprovados pelo pleno respectivo. Compete, pois, ao TRE (art. 30, V, CE) aprovar os nomes que forem indicados pelo juiz eleitoral para comporem a junta eleitoral, mas ao presidente do tribunal compete a nomeação, o que deve ser no mínimo até 60 (sessenta) dias antes de cada eleição (art. 36, § 1°, CE). ARI FERREIRA DE OUEIROZ 35 5.2 - Garantias dos seus membros Entrando em exercício, os membros da junta eleitoral são inamovíveis e, no exercício de suas funções, gozam das prerrogativas comuns aos magistrados (art. 121 , § 1 °, CF). Há que se entender, porém, o que significam tais prerrogativas, posto que não se concebe a idéia de que sejam vitalícios e tenham vencimentos irredutíveis. A vitaliciedade é absolutamente incompatível com a instituição da junta eleitoral em face de sua duração efêmera; a irredutibilidade de vencimentos também, haja vista que o trabalho perante a junta é gratuito. Assim, pode-se dizer que depois de entrarem em exercício, não sendo suficiente a simples nomeação, os membros das juntas têm, quanto à sua esfera de competência, as mesmas prerrogativas e poderes dos magistrados podendo apreciar livremente as provas no processo eleitoral e formar a sua convicção, independentemente da posição tomada pelo juiz eleitoral que a preside. Por outro lado, deve ser- lhes reconhecida também a garantia da inamovibilidade em seus empregos, cargos ou funções, sejam públicos ou privados, não podendo ser transferidos ou removidos sem que consintam. 5.3 - Divisão da junta em turmas O presidente da junta eleitoral, que é o juiz de direito, tem competência para desdobrá-la em turmas apuradoras a fim de agilizar o processo de apuração das eleições. Este desdobramento é feito com a nomeação de eleitores de notória idoneidade, na qualidade de escrutinadores ou auxiliares, a quem compete, entre outras atribuições, a tarefa árdua de contagem dos votos e elaboração dos mapas respectivos (art. 38, CE). Aliás, havendo mais de 10 urnas a serem apuradas, é obrigatória a divisão da junta em turmas. Não é aconselhável, porém, em qualquer hipótese, que o juiz eleitoral se envolva, fisicamente, com o processo de contagem porque, envolvido pelo trabalho, poderá não perceber fraudes que ocorram em outros pontos do processo. A nomeação dos escrutinadores e auxiliares é de competência do juiz eleitoral, mas deve, em princípio, até 30 dias antes das eleições, comunicar ao presidente do TRE (art. 39, CE), além de divulgar por edital para que os interessados possam impugnar. No entanto, o mais comum é que durante a apuração, o juiz eleitoral convoque eleitores presentes para comporem as turmas apuradoras, sem qualquer comunicação ao TRE. Na prática, então, o juiz eleitoral pode tomar as

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seguintes atitudes, quanto aos procedimento de apuração das eleições: a) membros da junta participam da contagem: o juiz poderá organizar apenas uma mesa apuradora, dela participando os quatro membros, sob o comando de um deles. Estes membros dividirão as atribuições, cabendo a um a tarefa de "contar" os votos e "ditar" aos outros, que anotam ao mesmo tempo. A anotação por mais de um visa evitar fraudes ou mesmo erros acidentais. b) junta é dividida em 4 turmas: o juiz eleitoral poderá, ainda, desdobrar a 36 DIREITO ELEITORAL a presidirá. As turmas serão, então, compostas de 1 membro da junta eleitoral e 3 eleitores de notória idoneidade, recrutados pelo juiz eleitoral. O processo de contagem perante este órgão fracionado é o mesmo daquele perante a junta integral. Dispõe o art. 160, CE, que a junta pode ser dividida em até 5 turmas, cada uma presidida por um dos seus membros; c) membros da junta não participam da contagem: desde as eleições de 1994 tenho adotado como forma de agir durante a apuração eleitoral a não inclusão dos membros da junta eleitoral na tarefa física de contagem dos votos, mantendo-os à distância, numa constante fiscalização e apoio às turmas desdobradas. O resultado foi o mais satisfatório possível, haja vista que, como os membros da junta não se envolvem com a cansativa e desgastante tarefa de contagem de votos, não ficando sob a pressão direta dos fiscais dos partidos e mesmo de candidatos, podem, ao sinal do primeiro atrito, fraude ou incidente, acorrerem ao local e resolverem de plano. 6 - Mandato dos membros da justiça eleitoral Segundo o art. 121, § 2°, CF, "os juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria". Não há disposição constitucional quanto ao tempo de exercício da função do juiz eleitoral, nem tampouco dos membros das juntas. a) nos tribunais: por conseguinte, nos tribunais (TSE e TRE) os respectivos membros deverão servir pelo menos por dois (2) anos consecutivos podendo até serem reconduzidos por igual período uma única vez. Os biênios são contados ininterruptamente, sem descontar afastamentos de qualquer natureza, salvo os casos de parentesco causadores de impedimento para o exercício da função eleitoral (art. 14, §§ 1 ° e 3°, CE); b) nos juízos de primeiro grau: como visto, não há disposição constitucional sobre o mandato do juiz eleitoral, pelo que não se aplicam, necessariamente, as regras previstas para os membros dos tribunais podendo ser nomeado por tempo indeterminado. Há Estados, como Minas Gerais, em que o juiz eleitoral é nomeado por tempo indeterminado; em Goiás, porém, adota-se o critério de remanejamanto nas comarcas em que o número de juízes de direito é maior que o de zonas eleitorais, sendo nomeado para cada biênio um dos juízes. Justifica-se a política do TRE goiano em face da gratificação mensal que o juiz eleitoral recebe, o que provoca um desnível vencimental entre os juízes de direito. O remanejamento é uma forma de compensar, de tempo a tempo, esta diferença que de certa forma desestimula até mesmo a carreira. Deve ficar claro, porém, que a Constituição Federal não obriga o remanejamento de juízes eleitorais, mas apenas de membros dos tribunais eleitorais; ARI FERREIRA DE QUEIROZ 37

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c) nas juntas eleitorais: a junta eleitoral, em face de sua competência específica para funcionar apenas na apuração das eleições, tem uma duração efêmera, vale dizer, seus membros não são nomeados para um período determinado em datas, mas apenas em atribuição. Deve ser composta no mínimo 60 dias antes das eleições e dissolver-se com a proclamação do resultado e diplomação dos eleitos. Se houver mais de uma junta no mesmo município, apenas a que for presidida pelo juiz mais antigo se manterá até a diplomação, dissolvendo-se as demais depois de remeterem àquela os respectivos boletins e demais documentos (art. 40, par. único, CE). 7 - Competência da Justiça Eleitoral 7.1 - Competência geral A Constituição Federal, quanto a determinados recursos (art. 121 , §§ 3° e 4°), e o Código Eleitoral, quanto às demais questões, definem a competência da justiça eleitoral, dispondo o art. 121 , CF, que "Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das Juntas Eleitorais". Por conseguinte, como 0 Código Eleitoral estabelece a organização e a competência desta justiça especializada, segue-se que ele é a lei complementar referida no texto constitucional, embora quando de sua elaboração tenha sido feito como lei ordinária, que era o veículo legislativo adequado na época. Esta competência geral e comum da justiça eleitoral abrange tanto questões processuais (arts. 22, 29, 35 e 40, CE), como administrativas (arts. 23 30 e 35, CE). A competência em matéria processual é exercida pelos tribunais originariamente ou em grau de recurso; a dos juízes e juntas, em primeiro grau de jurisdição, cabendo recurso para o TRE. 7.2 - Competência normativa Ressalta-se na justiça eleitoral a competência normativa do TSE, demonstrada pelas resoluções emitidas a fim de regulamentar o pleito eleitoral, quando a lei não o faz. a) expedir instruções: dispõe o art. 23, IX, CE, que compete ao TSE "expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código"' b) responder a consultas: compete ainda ao TSE "responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político" (art. 23, XII). Anota, a meu ver com razão, o saudoso Min. Nunes Leal que a competência normativa do TSE não é superior à do presidente da República, a quem compete, primordialmente expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis (art. 84, IV, CF). De fato, embora não se possa dizer com absoluto rigor que haja uma hierarquia entre as leis, afronta a 38 DIREITO ELEITORAL Constituição Federal. Assim, a lei não pode contrariar a Constituição e os decretos, regulamentos, resoluções e demais atos normativos não podem contrariar as leis. Deste modo, a competência normativa do TSE é subsidiária haja vista que só poderá expedir resoluções para a fiel execução do Código Eleitoral e demais leis eleitorais se o presidente da República não houver regulamentado a matéria por meio de decretos com fundamento no art. 84, IV, CF. Exercitando competência normativa, o TSE baixou resolução dispondo que o segundo turno das eleições seria realizado no prazo de 20 dias após o resultado do primeiro, não no último domingo de outubro, como consta do art. 77, CF, com a redação dada pela EC 16/97 (emenda da reeleição), mas logo após revogou-a porque afrontava o texto constitucional. 7.3 - Início e fim da competência

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A competência da justiça eleitoral alcança a tudo e a todos que se relacionem com o pleito, incluindo o alistamento eleitoral, o voto, as impugnações, os cancelamentos e outros, mas cessa com a diplomação dos eleitos e o julgamento dos recursos interpostos. A única ação estranha ao processo eleitoral que pode ser julgada pelos tribunais eleitorais é o mandado de segurança contra atos do próprio tribunal, de seus membros ou presidente ou dos juízes enquanto agente da justiça eleitoral. Isto decorre do disposto no art. 21, VI, LOMAN, segundo o qual compete aos tribunais privativamente julgar, originariamente, os mandados de segurança contra seus atos, os dos respectivos presidentes e os de suas câmaras, turmas ou seções". Por conseguinte em matéria de mandado de segurança contra ato do próprio tribunal ou de seu presidente, por exemplo, em processo disciplinar contra servidor, ao próprio tribunal eleitoral compete o processo e julgamento. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 39 III - O SUFRÁGIO, O VOTO E O ESCRUTÍNIO 1 - Noções 2 - Extensão do sufrágio 2.1 - Restrito 2.2 - Universal 3 - Sistema do voto 3.1 - Direto 3.2 - Indireto 4 - Valor do voto 4.1 - Qualificado ou plural 4.2 - Múltiplo ou cumulativo 4.3 - Igual 5 - Forma do escrutínio 5.1 - Público 5.2 - Secreto 6 - Distribuição do eleitorado 6.1 - Circunscricional 6.2 - Distrital 6.3- Distrital misto 7 - O sistema eleitoral representativo 7.1 - Os princípios majoritário e proporcional 7.2 - Os quocientes eleitoral e partidário 7.3 - Aplicação das fórmulas ao exemplo 7.4 - Observações sobre o sistema proporcional 1 - Noções Dispondo sobre os direitos políticos dos brasileiros, a Constituição emprega os termos sufrágio, voto e escrutínio, aparentemente expressões de mesmo significado, mas que, como se verá, são diferentes, pois o sufrágio é o meio de expressão da vontade de um povo para escolha de seus dirigentes através do voto, ou, também, para aprovar atos, vale dizer, sufrágio é o direito, enquanto o voto é exercício deste direito. O escrutínio, por sua vez, é a concretização do voto, depositando-o na urna. Formulando um conceito, dispõe o art. 82, CE, que "O sufrágio é universal e direto; o voto, obrigatório e secreto". Pouco atrás foi dito que a vontade do povo pode ser expressada mediante escolha de seus dirigentes ou pela aprovação de atos. No primeiro caso, o povo vota direta ou indiretamente no candidato que quer ter como representante; no segundo, através de plebiscito ou referendo aprova atos realizados por seus representantes. O plebiscito se dá quando o povo é consultado previamente sobre a viabilidade da prática de um ato, como por exemplo, a criação de municípios ou estados, a revisão da Constituição e outros. O referendo pressupõe um ato anterior, levado à opinião pública para validação, como fora previsto, porém nunca realizado, na Constituição de 1937, para dar-lhe aparência de legitimidade. É o que dispõe a lei 9709/98: Art. 2° Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. § 1 ° O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. § 2° O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou

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administratitro, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição. 40 DIREITO ELEITORAL 2 - Extensão do sufrágio 2.1 - Restrito Diz-se restrito o sufrágio que limita quem pode participar, discriminando o eleitor em razão de sexo, cor, fortuna, grau de instrução ou qualquer outra forma elitista. Pode-se dizer que nas primeiras leis eleitorais brasileiras o sufrágio era restrito, posto que a mulher não tinha direito de voto, barreira que começou a ser quebrada com o código eleitoral de 1932, e depois com a Constituição de 1934, que admitia o voto feminino desde que a eleitora ocupasse função pública. Com a Constituição de 1946 foi adotado o voto obrigatório para homens e mulheres indistintamente (art. 133). 2.2 - Universal Ao contrário do restrito, diz-se universal o sufrágio que pressupõe a participação da maioria das pessoas sem discriminação que não encontre amparo no princípio da proporcionalidade, pois, como adverte Assis Brasil, a universalidade se refere ao direito, não ao seu exercício. Assim, é lícito à legislação eleitoral, como à própria Lei Maior, estabelecer requisitos para o exercício de direitos políticos sem que se possa lhe atribuir a pecha de violadora do direito ao sufrágio universal. Tais requisitos, inibidores, certamente, não obstam que interessado os superem e exerça o direito. Portanto, o fato de os absolutamente incapazes e os conscritos (os que estiverem prestando o serviço militar obrigatório) não poderem votar, não representa violação ao sufrágio universal, posto que, adquirindo a capacidade, ou encerrando o período de serviço militar obrigatório, o indivíduo passa a ter o direito amplo de votar e ser votado. Ao contrário, a mulher, que não podia votar segundo as regras da legislação antiga, nunca poderia mesmo, posto que nunca deixaria de ser mulher. O sufrágio universal se iniciou no Brasil com a Constituição de 1946, vez que até então a mulher só podia votar se exercesse função pública, o que era raro para a época. 3 - Sistema do voto 3.1 - Direto O eleitor vota diretamente no candidato ao cargo a ser preenchido. No Brasil, atualmente, os representantes de todos os níveis dos Poderes Legislativo e Executivo são eleitos pelo voto direto (art. 1°, par. único, CF). Critica-se o voto direto em face do desconhecimento, por parte do eleitor, quanto ao candidato em que vota; de outro lado aplaude-se, porém, o sistema por evitar a escolha de representantes por meio de outros representantes. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 41 3.2 - Indireto Neste sistema, há duas fases, sendo que na primeira se forma um colégio eleitoral por meio de delegados, que na Segunda elege os candidatos. O sistema varia de Estado a Estado. Nos E.U.A, por exemplo, numa primeira fase os eleitores, pelo voto direto em cada Estado, escolhem tantos delegados (Grandes Eleitores) quantos sejam os seus senadores e representantes para formarem um colégio eleitoral que, na segunda fase, votarão, nos respectivos Estados, no candidato a presidente da República de sua preferência. O candidato que na soma geral alcançar a maioria absoluta dos votos (mais da metade) será considerado eleito presidente. Se nenhum alcançar, os deputados escolherão em escrutínio o presidente

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dentre os três mais votados. No Brasil, o sistema adotado até a eleição do presidente Tancredo Neves era indireto, porém, diferente do norte americano. Aqui não era escolhido previamente um colégio eleitoral, fazendo as vezes de "Grandes Eleitores" os membros do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas dos Estados. Estes "eleitores" se reuniam no dia 15 de janeiro e elegiam, pelo voto, o presidente da República. A partir da vigente Constituição a eleição presidencial passou a ser direta, tendo sido eleito primeiramente Fernando Collor de Mello e depois Fernando Henrique Cardoso, que acabaria reeleito em 1998. Ainda no Brasil tivemos a experiência de ter membros do Senado "eleitos" indiretamente, donde decorreu a expressão "senador biônico", dentre eles o ex-presidente Itamar Franco, "senador biônico" por Minas Gerais. Por fim, ainda no Brasil, o sistema indireto não foi completamente banido e é previsto para o caso de vacância dos cargos de vice-presidente e presidente da República na última metade do mandato, caso em que, assumindo a presidência interinamente o presidente da Câmara, Senado ou STF, pela ordem, convocará uma eleição do sucessor, que será feita pelo Congresso Nacional, apenas para completar o mandato (art. 81 , § 1 °, parte final). 4 - Valor do voto 4.1 - Qualificado ou plural Diz-se qualificado ou plural o voto em que, a despeito de se permitir a universalidade de participação no sufrágio, o exercício do direito do voto leva em conta pressupostos elitistas, pesando-se cada um de acordo com a "importância" d;; eleitor. Segundo este sistema, o eleitor vota em mais de um candidato por vez em cada eleição, ou mesmo o seu voto tem valor maior que o dos demais. Assim era o sistema vigente na França antes da revolução, em que os membros dos primeiro e segundo estados (clero e nobreza) votavam por estirpe, não por cabeça, compensando, assim, a inferioridade numérica em que se encontravam diante do terceiro estado (o povo). Este sistema ainda hoje é adotado em algumas eleições de categorias, como nas universidades, para escolha de reitores. Considerando-se que na universidade o público eleitor é formado por três 40 IREITO ELEITORAL número, atribui-se ao voto dos demais um valor maior, para compensar a diferença. Penso mesmo que seria justificável a adoção deste sistema nas eleições gerais, pois, que, como se tem visto, o voto com valor igual para todos afasta de qualquer poder decisório a classe média e concentra-a na classe baixa ou miserável, que vive iludida por promessas de benefícios oficiais (cesta de alimentos, pão e lei gratuitamente, passagem de ônibus, lotes de terra para moradia, kit de construção, isenção de tarifas de água e luz e outros beneplácitos). 4.2 - Múltiplo ou cumulativo O sistema de voto múltiplo ou cumulativo é uma variante do plural, diferenciando-se na medida em que neste o valor de cada voto é maior para o eleitor privilegiado, enquanto no múltiplo o eleitor privilegiado pode comparecer mais de uma vez, na mesma eleição, em seções eleitorais diferentes para votar validamente em todas elas. Inexistente nas eleições tradicionais, o voto cumulativo é aceito atualmente nas eleições internas dos diretórios dos partidos políticos, se assim for previsto no estatuto, em que alguns convencionais têm direito de votar pelos cargos que ocupa em nome do partido. Tomando por exemplo o estatuto do PMDB, se vê o seguinte: "Art. 25. Nas convenções, as deliberações referentes à constituição dos órgãos partidários e à escolha de candidatos serão tomadas por voto direto e secreto, proibido o voto por procuração e admitido o voto cumulativo.

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Parágrafo único: Entende-se por voto cumulativo o dado pelo mesmo convencional credenciado por mais de um título". Por sua vez, o estatuto do PSDB assim dispõe: "Art. 30. Nas convenções as deliberações referentes à eleição dos órgãos partidários, à escolha de candidatos e coligações serão tomadas por voto direto e secreto. § 1°. É proibido o voto por procuração e o voto cumulativo; o titular de mais de um cargo partidário deverá exercer seu voto por apenas um deles. § 2°. No caso da opção do parágrafo anterior, o titular de mais de um cargo partidário será substituído, naquele em que não exercer o seu voto, pelo suplente ou por quem lhe caiba, nos termos deste estatuto". 4.3 - Igual Diz-se igual o valor quando o voto de cada eleitor tem o mesmo peso, independente de sua posição, fortuna, religião, clã social ou outra forma de discriminação. Parece ser um sistema democrático, mas, segundo me parece, acaba por aniquilar qualquer influência no processo eleitoral da denominada "classe média". E que, como se tem visto com freqüência, os ricos sempre influenciam e dominam o processo eleitoral até mesmo porque detêm o controle e o poder dos meios de comunicação, ao passo que os pobres se influenciam pelas promessas eleitoreiras mirabolantes feitas por candidatos, que vão desde cestas básicas à gratuidade de transporte ARI FERREIRA DE OUEIROZ 43 coletivo, passando pelo salário-desemprego à bolsa-escola, entre outras benesses. Se muitos dos beneficiados fazem por merecer, outro tanto se acomoda e fica na espera de que na próxima eleição as benesses serão maiores e melhores. Assim, quem mais prometer e com mais convicção certamente ganhará a eleição. Portanto, como em qualquer país do mundo os pobres são em maioria, não se pode dizer propriamente que o voto tenha valor igual. 5 - Forma do escrutínio 5.1 - Público Pelo voto público, o eleitor vota abertamente, porque não há cabine de votação e nem óbice em que se divulgue o seu voto. Não é apenas o voto, pois, que é secreto, mas também, o escrutínio, que é o ato de depositar a cédula de voto na urna ou de registrá-lo na urna eletrônica, se for o caso. 5.2 - Secreto Pelo sistema de voto secreto o eleitor é dono de sua vontade, não podendo sofrer pressões anteriores ou posteriores ao pleito. É princípio de ordem pública e não pode ser dispensado pelo eleitor (art. 103, CE), que deverá votar na cabine e depositar o voto na urna, sem que ninguém veja em quem votou. O voto secreto é garantido pela adoção de algumas providências, como a cédula oficial sem nome do eleitor, a cabine indevassável, a urna lacrada, a conferência da autenticidade da cédula pela mesa receptora de votos, a nulidade do voto quando o eleitor se identificar na cédula, entre outras. 6 - Distribuição do eleitorado Cuida-se, segundo esta temática, de distribuir os eleitores em bases territoriais, podendo ser um distrito, uma circunscrição ou um sistema misto. 6.1 - Circunscricional Pelo sistema circunscricional o país é dividido em circunscrições não reprimindo em demasia a liberdade do eleitor quanto a quem votar. Nas eleições presidenciais no Brasil, a circunscrição é todo o território nacional; nas eleições estaduais e federais, a circunscrição é o território de cada Estado e Distrito Federal; nas eleições municipais, corresponde à extensão do respectivo Município (art. 86, CE). Assim, por exemplo, na eleição

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presidencial o eleitor vota em qualquer candidato do País, enquanto na eleição para a Câmara ou Senado Federal, vota num candidato de seu Estado. 44 DIREITO ELEITORAL 6.2 - Distrital Pelo sistema distrital, a base territorial do eleitorado é reduzida a uma parte de sua circunscrição. Por exemplo, numa eleição estadual ou federal, divide-se o Estado em tantos distritos quantos sejam os municípios de uma região (região do entorno, região do vale do Paranaíba, região do sudoeste etc) e o eleitor vota apenas num candidato do respectivo distrito. Se fosse eleição presidencial distrital, os eleitores de cada Estado somente poderiam votar em candidato do respectivo Estado; se fosse municipal, o Município é que seria dividido em distritos. 6.3- Distrital misto Como nenhum sistema parece ideal e ambos apresentam problemas, tanto que de tempos em tempos um sucede ao outro, prevê-se, também, um sistema misto, em que parte dos candidatos são eleitos pela circunscrição e parte pelo distrito. Este sistema misto também pode prever, por exemplo, que os candidatos aos cargos majoritários do Executivo e do Senado sejam eleitos pela circunscrição, e os proporcionais, que são os deputados e vereadores, pelo distrito. 7 - O sistema eleitoral representativo 7.1 - Os princípios majoritário e proporcional Dispõe o art. 83, CE, que "na eleição direta para o Senado Federal, para prefeito e vice-prefeito, adotar-se-á o princípio majoritário". Acrescenta o art. 84 que "a eleição para a Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais obedecerá ao princípio da representação proporcional na forma desta lei". Também se referem aos princípios majoritário e proporcional os arts. 45 e 46, CF. Em que consistem tais princípios é o que me proponho a esclarecer. a) sistema majoritário: o sistema majoritário considera eleito o candidato que obtiver a maior soma de votos dentre os competidores, na respectiva circunscrição. No Brasil, atualmente, são previstos os sistemas de maioria simples e absoluta. A maioria simples é exigida para eleição de senadores e de prefeitos de municípios com até duzentos mil eleitores; a absoluta, nas eleições de governadores, prefeitos de municípios com mais de duzentos mil eleitores e presidente da República. Pela maioria simples, o candidato que obtiver desde logo a maior soma de votos é considerado eleito, ainda que seja por apenas um voto a mais que o seu adversário. Pelo sistema de maioria absoluta, se nenhum dos candidatos alcançar mais da metade dos votos válidos, desprezando-se os votos em brancos e nulos, será necessário um segundo turno do qual participarão apenas os dois mais votados, e ao final será eleito o que mais votos obtiver neste turno; ARI FERREIRA DE QUEIROZ 45 b) sistema proporcional: pelo sistema proporcional o eleito é conhecido a partir de cálculos matemáticos em que se estabelece um quociente eleitoral e um quociente partidário, de forma que nem sempre o candidato mais votado será o vencedor, porque dependerá de alcançar um número mínimo de votos, que varia em cada partido. 7.2 - Os quocientes eleitoral e partidário O quociente eleitoral delimita o número mínimo de votos que um partido ou coligação deve alcançar para eleger um candidato; o quociente partidário

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representa o número de candidatos que cada partido que alcançar o quociente eleitoral elegerá (arts. 106 a 108, CE). Embora não seja difícil, um exemplo facilita ainda mais o cálculo do quociente eleitoral. Suponha uma eleição municipal cujo colégio eleitoral seja de 45.934 eleitores, em que 8 partidos concorram à Câmara de Vereadores para eleger 13 vereadores cada um com o número máximo de candidatos permitido pela legislação, que é 50% a mais que as vagas, por partido, ou o dobro, para a coligação (art. 10 e § 1 °, lei 9504/97). Ao final, para se saber qual o candidato eleito terão sido aplicadas as seguintes fórmulas: a) cálculo dos votos válidos VV = VC + VL, onde: VV = votos válidos; VC = votos dados em candidatos; VL = votos da legenda. Desde as eleições de 1998 os votos em branco deixaram de ser computados, equiparando-se, para todos os efeitos, aos votos nulos, que nunca foram contados (art. 5°, lei 9504/97). b) cálculo do quociente eleitoral OE = VV = VP, onde: QE = quociente eleitoral; VV = votos válidos; VP = vagas a serem preenchidas. c) cálculo do quociente partidário OP = VCL = QE, onde: QP = quociente partidário; VCL = votos dados em candidatos ou respectiva legenda; QE = quociente eleitoral. 46 DIREITO ELEITORAL d) cálculo das vagas restantes VR = VCL = (OP + 1 ), onde: VR = vaga restante; VCL = votos dados a candidatos ou respectiva legenda; (QP + 1 ) = quociente partidário, mais uma das vagas restantes. 7.3 - Aplicação das fórmulas ao exemplo a) primeira operação: a primeira operação matemática consiste em se encontrar a quantidade de votos válidos, que são os votos dados em candidatos ou apenas nas legendas, desprezando-se os votos em brancos e os nulos. Supondo uma eleição municipal cujo colégio eleitoral seja de 45.934 eleitores, em que 8 partidos concorram à Câmara de Vereadores para eleger 13 vereadores, cada um com o número máximo de candidatos permitido pela legislação, que é 50% a mais que as vagas, por partido, ou o dobro, para a coligação (art. 10 e § 1 °, lei 9504/97). Encerrada a eleição, verificou-se uma abstenção de 11,8 %, ou seja, apenas 40.514 eleitores votaram, deixando de fazê-lo 5.420 eleitores. Contados os votos, foram distribuídos da seguinte forma: o PMDB obteve 9.223; votos, o PSD, 6.090; o PT, 4.948; a Coligação "Vence Brasil", do PTB e PFL, 12.166; o PPS, 1.323; o PST, 2.230; o PSC, 3.160. Foram dados ainda 828 votos em branco e 173 votos nulos. Desprezando-se os votos brancos e nulos, tem-se o total de 39.513 votos válidos. Para se saber quais os candidatos eleitos, primeiramente deve-se calcular o quociente eleitoral. Para tanto é irrelevante considerar o número de eleitores da circunscrição aptos a votar, levando-se em conta tão somente o número de votos válidos b) segunda operação: a segunda operação consiste em se encontrar o quociente eleitoral, que representa o número mínimo de votos que o partido

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ou coligação deve alcançar para ter direito de eleger um candidato. Para se obter o quociente eleitoral, toma-se o total de votos válidos e divide-se pelo total de cadeiras (vagas) a serem preenchidas. Assim, dividindo-se 39.513, que são os votos válidos, por 13 (treze), que são as cadeiras a serem preenchidas, tem-se como resultado 3.039, desprezado a fração se menor que meio ou arredondando-se para 1 (um), se maior (art. 106, CE). Os partidos que não alcançaram o quociente eleitoral, no caso o PPS e o PST, não elegerão nenhum candidato e não entrarão nos cálculos seguintes. Sobram, pois, apenas o PMDB, o PSD, o PT, a Coligação "Vence Brasil" e o PSC; c) terceira operação: calculado o quociente eleitoral, segue-se o cálculo do quociente partidário, dividindo-se o número de votos que o partido (candidato + legenda) obteve pelo quociente eleitoral, desprezando-se a fraçâo em qualquer caso, seja menor ou maior que meio (art. 107, CE). Cada partido elegerá tantos candidatos quantos forem os múltiplos de quociente eleitoral, desprezando-se a sobra que não alcançá-lo. No exemplo teremos: ARI FERREIRA DE OUEIROZ 47 PMDB: 9.223 = 3.039 = 3 cadeiras, sobrando 106 votos; PSD: 6.090 = 3.039 = 2 cadeira, sobrando 12 votos; PT: 4.948 = 3.039 = 1 cadeira, sobrando 1 .909 votos; Coligação "Vence Brasil: l2.166 = 3.039 = 4 cadeira, sobrando 10 votos; PSC: 3.160 = 3.039 = 1 cadeira, sobrando 121 votos. Os demais partidos, com a votação que obtiveram, não alcançaram o quociente eleitoral e não têm direito a nenhuma cadeira na Câmara. Assim, pela aplicação destes quocientes foram eleitos 11 vereadores, sendo 3 do PMDB, 2 do PSD, 1 do PT, 4 da coligação "Vence Brasil" e 1 do PSC. Dentro destes partidos ou coligação, eleitos serão os candidatos mais votados de cada um, mas, como são 13 as vagas, ainda restam 2 a serem preenchidas; d) quarta operação: para se resolver o problema das vagas não preenchidas com a aplicação dos quocientes, no caso das duas (2) restantes, o CE adota o sistema da maior média (art. 109), exercitando um raciocínio hipotético, "imaginando" qual seria a média de votos por candidato em cada partido se lhe acrescentasse uma vaga a mais do que a obtida pela fórmula normal. Não importa quantas sejam as vagas restantes. O exercício hipotético deve ser feito tantas vezes quantas sejam as vagas restantes, uma de cada vez. Assim, se restou apenas 1 (uma) vaga acrescenta-se ela a cada partido que obteve o quociente partidário e fixa-a afinal em definitivo àquele que obtiver a maior média; se são 2 (duas) as vagas, primeiro procede-se como se fosse apenas 1 (uma); após, novamente o cálculo e assim por diante. O cálculo é feito dividindo-se o total de votos do partido pelo quociente partidário + 1. O resultado é a média; comparadas, a maior atrai para o respectivo partido uma das vagas restantes. Voltando ao exemplo temos (para definir uma das vagas restantes): PMDB: 9.223 = 4 (3 + 1 ) = 2.305; PSD: 6.090 = 3 (2 + 1 ) = 2.030; PT: 4.948 = 2 (1 = 1 ) = 2.474; Coligação "Vence Brasil: 12.166 = 5 (4 = 1 ) = 2.433; PSC: 3.160 = 2 (1 = 1 ) = 1 .585. A maior média ficou com o PT, com 2.474 votos, a quem será acrescentada uma cadeira, elevando para duas (2), sendo 1 (uma) a que obteve e 1 (uma) pela maior média por candidato. O PMDB, o PSD, a coligação e o PSC continuam ainda com as mesmas 2 vagas, mas agora já

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foram encontrados 12 candidatos eleitos, restando apenas uma vaga a ser preenchida. Para supri-la, repete-se a quarta operação; DIREITO ELEITORAL 48 e) quinta operação: repetindo-se a quarta operação, temos: PMDB: 9.223 = 4 (3 + 1 ) = 2.305; PSD: 6.090 = 3 (2 + 1 ) = 2.030; PT: 4.948 = 3 (2 = 1 ) = 1 .649; Coligação "Vence Brasil: 12.166 = 5 (4 = 1 ) = 2.433; PSC: 3.160 = 2 (1 = 1 ) = 1 .585. Portanto, agora, a última cadeira a ser preenchida ficará com a coligação "Vence Brasil", que obteve a maior média por candidato, 2.433 votos. A Câmara será, então, composta de: PMDB: 3 vereadores; PSD: 2 vereadores; PT: 2 vereadores; Coligação "Vence Brasil: 5 vereadores; PSC: 1 vereador. 7.4 - Observações sobre o sistema proporcional a) importância dos quocientes: os quocientes eleitoral e partidário só serão considerados para fins de apuração eleitoral, vale dizer, nada obsta que posteriormente o eleito mude de Partido, ainda que não tenha sido empossado, ou mesmo diplomado, porque a validade é do resultado eleitoral. Neste caso, a composição do Parlamento ficará alterada, mas isso só seria relevante se a legislação partidária estabelecesse fidelidade, o que não é o nosso caso (por enquanto); b) coligação e partidos: para fins de quociente partidário, a coligação é considerada no seu todo, como se fosse um partido, de modo que dentro dela serão eleitos os candidatos mais votados de qualquer dos partidos que a integre, mesmo que todos sejam de um único partido; c) partidos pequenos e grandes: as chances de se eleger são maiores nos partidos ou coligações pequenos, porque o respectivo quociente partidário também o será, de modo que, por exemplo, na última eleição municipal em Hidrolândia, houve candidato eleito com 106 votos e não eleito com 137. Tudo por conta do partido em que disputaram; d) empate de candidatos: em caso de empate entre os candidatos, será eleito o mais idoso (art. 110, CE); e) nenhum partido alcança o quociente: se nenhum partido ou coligação alcançar o quociente eleitoral, despreza-se este sistema e consideram-se eleitos, indiscriminadamente, simplesmente os candidatos mais votados de qualquer deles (art. 111 , CE); f) o problema dos suplentes: os candidatos mais votados, porém não eleitos porque excederam o quociente partidário, serão considerados suplentes. Também será suplente o candidato preterido por causa de empate na votação e desempate pela idade (art. 112, CE) ARI FERREIRA DE QUEIROZ 49 IV - DOS DIREITOS POLÍTICOS 1 - Noções 2 - Direito político positivo 2.1 - Direito político ativo 2.1 .1 - Noções 2.1.2 - Capacidade ativa obrigatória ou facultativa 2.2 - Direito político passivo 2.2.1 - Noções 2.2.2 - Condições mínimas para a elegibilidade 3 - Direito político negativo 3.1 - Noções 3.2 - Inalistabilidade 3.3 - inelegibilidade por Inalistabilidade 3.3.1 - Noções 3.3.2 -

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Inelegibilidade absoluta 3.3.3 - Inelegibilidade relativa 3.3.4 - O problema do concubinato ou companheirato 3.3.5 - O problema da base territorial e o desmembramento de Município ou Estado 3.3.6 - Os cargos que o elegível pode ocupar 3.3.7 - Inelegibilidade na LC 64/90 3.4 - Direito político negativo por suspensão ou perda 3.4.1 - Noções 3.4.2 - Distinção entre as causas de suspensão e perda de direitos políticos 3.4.3 - Causas de perda de direitos políticos 3.4.4 - Causas de suspensão de direitos políticos 3.5 - A situação política do militar 3.6 - A situação política dos magistrados 3.7 - A situação política dos membros do Ministério Público 1 - Noções O direito político se divide em positivo e negativo, cada um destes se dividindo em outras espécies. Em síntese, porém, pode-se adiantar que o direito político positivo congrega as regras permissivas da participação no processo eleitoral, seja como eleitor, seja como candidato, enquanto 0 direito político negativo representa justamente o conjunto de normas que vedam, impedem ou extinguem o exercício de tais direitos. Com o direito político positivo, o indivíduo tem a faculdade e o poder de participar do processo democrático do Estado em que vive no polo ativo ou passivo, votando ou sendo votado. Impondo limitações, a legislação eleitoral, incluindo a Constituição Federal, estabelece uma negativa ao exercício deste direito. 2 - Direito político positivo 2.1 - Direito político ativo 2.1.1 - Noções Por direito político ativo se entende o de votar, seja para escolha de um representante, seja para aprovar atos dos representantes eleitos por meio de plebiscito ou referendo. O exercício do direito político ativo pressupõe a capacidade ativa. No sistema constitucional brasileiro vigente, a capacidade política ativa é uma prerrogativa da maioria da população, iniciando-se com a idade de 16 anos, sem limitação para o mais. A partir desta idade mínima é direito do brasileiro fazer o alistamento eleitoral inscrevendo-se como eleitor perante a justiça eleitoral (art. 42, CE), onde será qualificado. Com o alistamento adquire o status de cidadão, vale dizer, será cidadão brasileiro 0 portador de título de eleitor brasileiro ou de documentos que provem o alistamento e o cumprimento das obrigações eleitorais. 50 DIREITO ELEITORAL 2.1.2 - Capacidade ativa obrigatória ou facultativa A capacidade política ativa pode ser um dever-direito, ou só um direito. A obrigatoriedade e a faculdade alcançam o alistamento eleitoral e o voto. É um dever-direito, porque o alistamento e o voto são obrigatórios para os maiores entre 18 e70 anos de idade, que sejam alfabetizados. Ao contrário, é facultativo, significando apenas um direito que pode ser exercido ou não, nos seguintes casos: a) analfabetos maiores de 16 anos de idade; b) maiores de 70 anos, mesmo alfabetizados; c) maiores de 16 e menores de 18 anos, mesmo alfabetizados. Como é um dever imposto pela Constituição, o descumprimento gera conseqüências desagradáveis para quem deixa de se alistar ou de votar, como indica o Código Eleitoral: "Art. 7° - O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o juiz eleitoral até trinta dias (5) após a realização da eleição incorrerá na multa de três a dez por cento sobre o salário mínimo da região, imposta pelo juiz eleitoral e cobrada na forma prevista no art. 367.

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§ 1° - Sem a prova de que votou na última eleição, pagou a respectiva multa ou de que se justificou devidamente, não poderá o eleitor: I - inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir- se ou empossar-se neles; II - receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público, autárquico ou paraestatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subseqüente ao da eleição; III - participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Territórios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias; IV - obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econômicas federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração este participe, e com essas entidades celebrar contratos; V - obter passaporte ou carteira de identidade; (5) Atualmente é de sessenta dias, por força da Resolução nº 15.219, de 15-04-89. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 51 VI - renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo; VII - praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. § 2° - Os brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 18 anos, salvo os excetuados nos artigos 5° e 6°, n° I, sem prova de estarem alistados não poderão praticar os atos relacionados no parágrafo anterior". 2.2 - Direito político passivo 2.2.1 - Noções Entende-se por direito político passivo o conjunto de normas jurídicas que regulam a participação do indivíduo na vida política do país, como candidato a cargo eletivo, ou mesmo depois de eleito. Estas normas estão inseridas na Constituição ou em leis, como o Código Eleitoral e a Lei Orgânica dos Partidos Políticos, entre outras. Delas se extraem as condições para a elegibilidade, incluindo idade, filiação partidária, domicílio eleitoral, registro de candidaturas, apuração de eleições, desincompatibilização e outras. 2.2.2 - Condições mínimas para a elegibilidade 2.2.2.1 - Noções Dispõe o § 3°, art. 14, CF, que para a elegibilidade, além de outros requisitos que a lei poderá estabelecer, é necessário que o interessado seja brasileiro, esteja no pleno exercício dos direitos políticos, filiado a partido político, alistado eleitoralmente e com domicílio eleitoral na circunscrição e não tenha extrapolado o limite de idade. São, pois, os seguintes requisitos mínimos para a elegibilidade, além de outros exigidos pelas leis eleitorais: 2.2.2.2 - Nacionalidade brasileira Para qualquer cargo, o candidato deve ser brasileiro. Não sendo candidato a presidente ou vice-presidente da República, quando deve ser brasileiro nato (art. 12, § 3°, CF), admite-se a candidatura de brasileiros naturalizados. Admite-se, também, como exceção a candidatura de português que resida permanentemente no Brasil, em face do estatuto da igualdade, pois, segundo o art. 12, § 1 °, CF, "aos portugueses com residência permanente no país, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição".

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52 DIREITO ELEITORAL 2.2.2.3 - Pleno exercício dos direitos políticos A toda evidência, a plenitude de direitos políticos é condição sine qua non para a elegibilidade, por isso não se admite a candidatura de quem esteja, temporária, ou definitivamente, privado de tais prerrogativas em face de suspensão ou perda, respectivamente (art. 15, CF). 2.2.2.4 - Alistamento eleitoral Só pode ser eleito quem pode eleger, pelo que a inscrição como eleitor por meio do alistamento atribui capacidade política ativa ao indivíduo e o investe na qualidade de cidadão, o que é condição prévia para a aquisição da capacidade passiva. Por isso, quem não pode alistar como eleitor não pode eleger-se para qualquer cargo eletivo. 2.2.2.5 - Domicílio eleitoral na circunscrição A questão do domicílio eleitoral tem variado de eleição para eleição. Omissa a Constituição a respeito do tempo necessário, cabe à lei especificar o prazo. Para as eleições de 1994, a lei 8713/93 dispôs que o candidato deveria ter domicílio na circunscrição pelo menos desde 31/12/93 (art. 9°, II). Da mesma forma foi claro o item 1 do Processo n° 13.979, de 18/11/93, bem como o art. 4° do Processo n° 14.002, da mesma data, ambos do TSE. Desde as eleições de 1998, a lei 9504/97 fixou o prazo mínimo de domicílio eleitoral em um ano antes do pleito (art. 9°), que se verifica no primeiro domingo de outubro (EC 16/97 e art. 1°, lei 9.504/97). 2.2.2.6 - Filiação partidária Outro ponto que tem variado de eleição para eleição é quanto ao tempo mínimo de filiação partidária, vez que a tradição brasileira vigente após o Código de 1932 não admite candidaturas avulsas. Aquele velho diploma a permitia a requerimento de eleitores (art. 84, lei 48/35). Sobre a matéria, o art. 88 do Código Eleitoral vigente dispõe que o prazo será fixado nos respectivos estatutos partidários (art. 88, par. único). A dimensão do problema pode ser medida pela comparação das seguintes leis: a) eleições de 1994 (lei 8.713/93): o candidato deveria estar filiado ao partido até 100 dias após a publicação da citada lei, que foi em 30/09/93 (art. 9º, I); b) eleições de 1996 (lei 9.100/95): o candidato deveria estar filiado ao partido até 15/12/95 (art. 10); c) lei orgânica dos partidos políticos (9.096/95): o candidato deve estar filiado ao partido a pelo menos 1 ano antes da data das eleições (art. 18); d) eleições de 1998 e próximas (lei 9504/97): atualmente. vale a regra prevista na lei 9.504/97 e na lei orgânica dos partidos. Dispõe o art. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 53 9° da primeira que `para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo'; acrescentando o parágrafo único que "havendo fusão ou incorporação de partidos após o prazo estipulado no caput, será considerada, para efeito de filiação partidária, a data de filiação do candidato ao partido de origem". No mesmo sentido é a lei orgânica: "Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais". 2.2.2.7 - Idade mínima Para candidatar-se a mandato eletivo há exigência de idade mínima, mas não há de máxima. As idades variam conforme os cargos, devendo ser completada até a data da posse, embora possa não tê-la na data de registro da candidatura (art. 11 , § 2°, lei 9.504/97): a) 35 anos para presidente e vice-presidente da República

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b) 35 anos para senador; c) 30 anos para governador e vice-governador de Estado e do Distrito Federal; d) 21 anos para deputado federal, deputado estadual ou distrital, prefeito, vice-prefeito e juiz de paz; e) 18 anos para vereador. Penso que o art. 11 , § 2°, da lei 9504/97, determinando que a idade mínima se conte à data da posse é inconstitucional, haja vista que o preceito constitucional a estabelece como requisito à elegibilidade. Se é condição para a elegibilidade, não é para a posse. Ora, interpretar-se ao contrário é admitir a candidatura, e mesmo a eleição e diplomação, de um "menino" com 17 anos ao cargo de vereador, por exemplo, desde que à data prevista para a posse venha alcançar os 18 anos. Uma coisa é condição de elegibilidade, outra é para a posse. Basta interpretar o § 3° do art. 14, CF: "São condições de elegibilidade, na forma da lei". Mesmo que se argumente que o texto constitucional remete à lei, não pode esta alterar aquele. Ora, os demais requisitos constantes do mesmo parágrafo (domicílio, filiação e outros) foram respeitados na íntegra pelo legislador, devendo ser provados pelo menos à data do pleito. Porquê a idade mínima também não foi? 3 - Direito político negativo 3.1 - Noções Entende-se por direito político positivo o conjunto de normas necessárias para o indivíduo ser eleitor ou elegível, enquanto que o direito político 54 DIREITO ELEITORAL negativo é justamente o inverso, impedindo, excluindo ou suspendendo os direitos de participação no processo eleitoral, seja como eleitor, seja como candidato. Por conseguinte, incluem-se entre os direitos políticos negativos as regras que impedem o alistamento eleitoral e o voto, bem como as que retiram, temporária ou definitivamente, do indivíduo, o direito de votar e ser votado para certos e determinados cargos ou para todo e qualquer cargo. Tais causas são basicamente, a inalistabilidade e inelegibilidade e a perda e a suspensão de direitos. 3.2 - Inalistabilidade A inalistabilidade é a primeira forma de direito político negativo e representa uma exceção à capacidade política ativa na medida em que retira do indivíduo o direito de se alistar eleitoralmente e, por conseqüência, o direito de votar. Atualmente, segundo as regras adotadas pela Constituição, o número de pessoas privadas do direito de se alistar é reduzido aos estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos (art. 14, § 2º). Sem embargo deste dispositivo, também não podem se alistar: a) os menores de 16 anos e os absolutamente incapazes por qualquer causa; b) os que não saibam se expressar na língua nacional (art. 5°, II, CE); c) os que estejam privados, temporária ou definitivamente dos direitos políticos (art. 5°, III, CE). 3.3 - Inelegibilidade por inalistabilidade 3.3.1 - Noções A inelegibilidade é um impedimento à capacidade política passiva porque priva o indivíduo do direito de ser votado. Não se confunde com a inalistabilidade que é limitação ao direito político ativo, nem com a incompatibilidade, que é limitação ao exercício de mandato em face de causas diversas, como por exemplo outro mandato. Assim, é incompatível com o mandato de prefeito o de vereador, ou o de deputado estadual com o de deputado federal entre outros. A inelegibilidade também se manifesta sob autêntica forma de irrelegibilidade, que é um impedimento àquele que,

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sendo titular de mandato, pretenda nele continuar por meio de nova eleição. Na CF ambas as situações são denominadas de inelegibilidades e assim tratá-las-ei dividindo em inelegibilidade absoluta e inelegibilidade relativa. 3.3.2 - Inelegibilidade absoluta Quando apontei os requisitos da elegibilidade, entre eles fiz constar o I alistamento eleitoral, que é obrigatório para os maiores entre 18 e 70 anos, alfabetizados. Como o alistamento eleitoral é requisito da capacidade ARI FERREIRA DE QUEIROZ 55 passiva, resulta que é inelegível quem é inalistável (art. 14, §§ 4° e 2°). Inalistáveis são, conforme visto, os estrangeiros e os conscritos, além de outros previstos no art. 5°, CE. Também são inelegíveis os analfabetos, embora possam ser eleitores (art. 14, § 4°, CF). Estas são, portanto, as duas exceções gerais à elegibilidade: não podem disputar eleições aqueles que são proibidos de se alistar, porque são inalistáveis, e também os analfabetos. Diz-se inelegibilidade absoluta porque impede a participação do indivíduo em eleição de qualquer natureza, para todo e qualquer cargo, a todo e qualquer tempo, enquanto permanecer a mesma condição. Não significa que seja perpétua, porque o analfabeto poderá ser alfabetizado e ter direito à elegibilidade, assim como os demais inalistáveis, que poderão vencer a barreira e adquirir a condição de elegível. 3.3.3 - Inelegibilidade relativa 3.3.3.1 - Noções Enquanto a inelegibilidade absoluta impede o indivíduo de candidatar-se a cargo eletivo, a relativa representa um impedimento parcial apenas para determinados cargos ou em determinada época. O art. l4, §§ 5°, 6° e 7°, CF, aponta 3 casos de inelegibilidades, que decorrem de incompatibilidade entre funções ou em face de parentesco. 3.3.3.2 - Incompatibilidade por motivos funcionais a) para o mesmo cargo: na redação original constava do art. 14, § 5°, que "são inelegíveis para os mesmos cargos, no período subseqüente, o presidente da República, os governadores de Estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito". A emenda constitucional 16/97 (6) passou a permitir a reeleição, logicamente para os mesmos cargos, para apenas um mandato subsequente. Na redação original e na atual o dispositivo se refere aos titulares de cargos executivos e se omite quanto ao vice. Ao contrário do que sustentei anteriormente, desde a edição anterior deste livro já havia alterado o entendimento quanto a este ponto por entender doravante que o vice também está sujeito ao mesmo impedimento, até porque não se vota em vice. Aliás, antes mesmo da emenda da reeleição o TSE já havia editado súmula n° 8: "O vice-prefeito é inelegível para o mesmo cargo". Assim, o titular do cargo executivo e seu vice não podiam se reeleger para os mesmos cargos no período subsequente ao de seus mandatos, mas não havia impedimento a que o vice disputasse o mandato de titular (7). A mesma (6) Conhecida por "emenda da reeleição" deu a seguinte redação ao art. 14, § 5°: O presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos pura um único período subseqüente ". (7) Neste sentido dispõe o art. l°, § 2°, LC 64/90: "O vice-presidente, o vice- O vice-governador e o vice-prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular". 56 DIREITO ELEITORAL

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proibição atingia quem os houvesse sucedido, por qualquer tempo e em qualquer época, e também quem os houvesse substituído, por qualquer tempo, desde que no período de 6 (seis) meses que antecedesse ao pleito. Atualmente, se permite a um e outro a reeleição apenas uma única vez, inclusive para quem os substituírem ou sucederem no curso do mandato. Há sucessão quando há vacância do cargo, por exemplo, por morte do titular, renúncia ou cassação; para a substituição basta um impedimento temporário, por exemplo, por férias viagem ao exterior, licença para tratamento de saúde ou outra causa. Assim, a incompatibilidade por motivo funcional para o mesmo cargo, que só se aplicava ao Poder Executivo, está bastante amenizada e, pode-se dizer, é uma tendência mundial nos países democráticos. Quanto aos membros do Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, nunca houve impedimento de disputar um novo mandato sem qualquer afastamento do cargo, ou mesmo disputar mandato executivo, também sem se afastar do cargo; b) para outro cargo: ainda como mera incompatibilidade, e não propriamente como inelegibilidade, porque se limita a quem exerça mandato eletivo e dele não queira se afastar, cuida o art. 14, § 6°, CF que dispondo que `para concorrerem a outros cargos, o presidente, da ,República, os governadores de Estado e do Distrito Federal e os prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito (8): A incompatibilidade se restringe aos titulares de cargo executivo colocando-os mais uma vez na mira das inelegibilidades, vez que têm acesso fácil a recursos financeiros e podem manipular os eleitores mesmo em disputa de outros cargos. Este impedimento não se aplica ao vice-presidente, vice- governador e vice-prefeito, que poderão disputar eleição para outros cargos sem prejuízo do mandato respectivo, bastando que não tenham substituído ou sucedido o titular nos últimos 6 meses antes do pleitos. Portanto, para que o chefe do executivo federal, estadual ou municipal possa disputar outro cargo eletivo é necessário que se desincompatibilize de seu mandato no mínimo 6 meses antes do pleito (art. 1°, II, LC 64/90). A desincompatibilização produz os mesmos efeitos da renúncia na medida em que ambas deixam vago o cargo, mas com ela não se confunde, pelo menos quanto aos motivos. Na verdade, a renúncia decorre em geral de pressão popular por má gestão ou por qualquer outras causa que torne insuportável ao titular continuar exercendo o mandato, ao passo que a desincompatibilização tem fundamento justamente inverso, pois, o titular quer continuar a servir ao povo e por isso afasta-se de seu cargo para quebrar a incompatibilidade com o cargo pretendido. (8) Art. 1 °, § 2°, LC 64/90: O vice-presidente, o vice-governador e o vice-prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 57 3.3.3.3 - Inelegibilidade decorrente de parentesco (9) "São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do presidente da República, de governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição" (art. 14, § 7°, CF). Esta regra está sumulada pelo TSE sob o n° 6: "É inelegível para o cargo de prefeito o cônjuge e os parentes indicados no • 7° do art. 14 da Constituição, do titular do mandato, ainda que este haja renunciado ao cargo há mais de seis meses do pleito". Embora o dispositivo se refira ao território de jurisdição do titular, a

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expressão não é tecnicamente correta porque jurisdição é monopólio do Poder Judiciário. Melhor seria se dissesse "território de circunscrição". Sem embargo, o mandamento constitucional é claro e impede os parentes até o 2° grau e também o cônjuge do titular do cargo executivo e de quem os houver substituído no período de 6 (seis) meses que anteceder ao pleito de disputar eleição para qualquer cargo. Por conseguinte, os parentes até o 2° grau do prefeito municipal não podem disputar eleição municipal no âmbito do respectivo Município; os do governador, ficam impedidos de disputar eleição municipal, estadual ou federal no âmbito do Estado; os do presidente da República, qualquer eleição no País. A única exceção à proibição ocorre quando o parente ou cônjuge já for titular de mandato eletivo e se candidatar à reeleição. A proibição atinge os parentes consangüíneos, afins e adotivos, até o segundo grau, na linha reta ou colateral. Consangüinidade deriva do parentesco hereditário; afinidade é o parentesco que se estabelece pelos laços do casamento, ligando um cônjuge aos parentes do outro. Pela lei civil codificada o grau de parentesco é estabelecido a partir do tronco comum. Assim, para se encontrar o grau de parentesco deve-se responder à pergunta "porquê sou parente de determinada pessoa"? Por exemplo, sou parente de meus irmãos porque somos filhos das mesmas pessoas, vimos do mesmo tronco; somos parentes de nossos avós porque eles são pais de nossos pais, mesmo tronco em relação a estes. São os seguintes graus de parentesco: a) consangüíneos em linha reta: primeiro grau, pai, mãe em relação aos filhos; segundo grau, avós e netos; terceiro grau, bisavós e bisnetos; b) consangüíneos em linha colateral ou transversal: segundo grau, os irmãos; terceiro grau, os tios e sobrinhos; quarto grau, os primos; (9) Faltou coerência ao constituinte quando aprovou a emenda constitucional 16/97 permitindo a reeleição dos titulares e seus vices, mas não alterou a proibição quanto aos parentes. Ora, se o titular pode disputar um novo mandato, porquê impedir seus parentes. Aliás, o problema já foi sentido pelo Congresso Nacional e tramita em suas Casas nova proposta de emenda constitucional modificando a redação deste dispositivo para adequá-lo ao texto da reeleição. 58 DIREITO ELEITORAL c) afinidade em linha reta: primeiro grau, sogro, sogra, genro e nora; d) afinidade em linha colateral: segundo grau, cunhados. Logo, a proibição só atinge os pais, filhos, avós, netos, irmãos, sogros, genros e cunhados do titular do cargo, além de seu cônjuge. São, pois, elegíveis os primos, sobrinhos e tios e outros. Quanto ao adotivo, o parentesco só o vincula ao adotante, não se relacionando com seus parentes. 3.3.4 - O problema do concubinato ou companheirato Questão interessante surgiu nas eleições municipais de 1992 no Estado de Goiás envolvendo irmão de companheira do prefeito. O "cunhado de fato" do prefeito disputou a eleição e venceu. Houve impugnação ao mandato sob o argumento de que a regra constitucional sobre inelegibilidade de parentes por afinidade até o segundo grau fora desrespeitada, vez que o concubinato se equipararia à entidade familiar colocando os companheiros na posição de marido e mulher, de modo que o irmão desta seria cunhado do prefeito. Em primeiro grau de jurisdição a impugnação foi julgada procedente, mas em grau de recurso o TRE goiano, em decisão por voto de maioria (3X2) entendeu que o impedimento constitucional não se estende a situação de fato, restringindo-se ao casamento civil. No caso concreto, o irmão da concubina do prefeito continua validamente ocupando o cargo. As duas ementas do TRE-GO são as seguintes: Ementa: Concubina. Prefeito. Inelegibilidade. A concubina do prefeito é

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inelegível para o mesmo cargo, quando não houver, no prazo legal, a desincompatibilização do titular (Rel. Geraldo Salvador de Moura). Ementa: Recurso eleitoral. Parentesco. Elegibilidade. A inelegibilidade decorrente de parentesco não alcança o irmão de concubina de atual prefeito. Precedentes (Recurso n° 11.843-Cls 4°- GO, Acórdão n ° 57- Classe 2°- PE). Recurso conhecido e improvido (Rel. Antônio Nery da Silva). A matéria já esteve sumulada pelo TSE (súmula n° 7) nos seguintes termos: "É inelegível para o cargo de prefeito a irmã da concubina do atual titular do mandato". Esta súmula foi revogada pelo próprio TSE depois que o STF decidiu o RE n° 157.868-8/PB, em sessão de 02/02/92, relator o Ministro Marco Aurélio, entendendo que a regra não se estende ao parentesco de fato, como é o do concubinato. 3.3.5 - O problema da base territorial e o desmembramento de Município ou Estado Também interessante é a hipótese de desmembramento de Município ou de Estado para criar outro e saber se o prefeito do município-mãe é inelegível para o município-filho. A questão é se o prefeito do município que deu origem ao desmembramento pode se candidatar a prefeito, ou a qualquer cargo, no Município desmembrado nas eleições seguintes. A ARI FERREIRA DE QUEIROZ 59 justificativa para a dúvida é que o prefeito, em tese, não é ocupante de nenhum cargo na nova unidade, de modo que não estaria agasalhado pelo impedimento constitucional. Em que pese o argumento, é entendimento dominante de que não pode candidatar-se, porque, de fato, a criação da nova unidade contou com a sua participação, e, de qualquer forma, até a pouco era "território de sua jurisdição". Permitir que se candidate é o mesmo que estimulá-lo a desmembrar a área para perpetuar-se no poder. A questão consta da súmula 12 do TSE: "São inelegíveis, no Município desmembrado e ainda não instalado, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do prefeito do município-mãe, ou de quem o tenha substituído, dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo". 3.3.6 - Os cargos que o elegível pode ocupar A regra é que todos os cargos políticos elegíveis, que são preenchidos através da participação popular pelo voto, são acessíveis a todos os brasileiros. Algumas exceções são vistas no texto constitucional, como as contidas no art. 12, § 3°, CF, que exclui aos naturalizados o direito de postular o cargo de presidente e vice-presidente da República e presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, mantendo-os privativamente aos brasileiros natos. Portanto, o brasileiro naturalizado pode ser deputado federal ou senador, mas nunca pode ocupar a presidência da respectiva Casa. Há certa lógica na ordem estabelecida, se partirmos do presidente da República, na medida em que os demais que lhe seguem, desde o vice-presidente até os presidentes da Câmara e do Senado Federal, são seus substitutos automáticos em casos de impedimento ou vacância. Questão não enfrentada pela doutrina em geral é quanto aos cargos de vice-presidente da Câmara e do Senado, se também são, ou não, privativos de brasileiros natos, posto que são os substitutos automáticos dos titulares. Pela lógica, parece que sim. Todavia, há uma outra regra lógica, de que na interpretação de normas jurídicas as disposições que conferem prerrogativas, imunidades e isenções, assim como as que impõem penalidades ou restrições, devem ser interpretadas restritivamente. Além disso, não parece razoável concluir que haja uma simptes omissão por esquecimento quanto aos mencionados vices, o que autorizaria a colmatação da lacuna pela analogia. O caso está mais para um silêncio proibitivo do que para uma simples omissão, ou seja, podendo ter previsto

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que os cargos de vice-presidente da Câmara e do Senado, assim o de vice- presidente da República, seriam privativos de brasileiros natos, o constituinte optou por restringir apenas este, deixando aqueles em aberto. A lacuna que se vê, pois, é do tipo "descoberta", e não "oculta". Sobre estas espécies de lacunas, citando Loeweinstei, escrevi (10): (10) "Das lacunas do direito", monografia apresentada no Curso de Doutorado em Ciências Jurídicas, na Universidade do Museo Social Argentino, em Buenos Aires, em 1999, p. 10. 60 DIREITO ELEITORAL "Diz-se descoberta a lacuna quando o poder público competente (o autor se refere ao poder constituinte porque trata das lacunas constitucionais) esteve consciente da necessidade da norma, mas preferiu não regulamentar a matéria por razões que residem em seu discricionarismo. É o caso da ação direta de inconstitucionalidade sobre leis municipais, vez que o constituinte poderia, se quisesse, tê-la prevista como a previu para as leis estaduais e federais. Todavia, por razões que não importam quais sejam preteriu deixar em branco. Estas lacunas são conhecidas como "rebeldes à analogia", ou, segundo alguns autores, um obstáculo técnico insuperável; a lacuna oculta decorre de duas situações: a uma, quando se elaborou a norma (no caso, a Constituição) não se podia prever a necessidade de regular normativamente uma determinada situação; a duas, a situação podia ser regulamentada mas por simples falha humana não o foi". Enfim, não sendo expressamente proibido e não se podendo falar em lacuna descoberta, não há como se aplicar a analogia do cargo de vice- presidente da República aos cargos de vice-presidente da Câmara e do Senado, sendo aquele privativo de brasileiro nato, e estes, de qualquer brasileiro. É certo que estes vices-presidentes só poderão exercer funções próprias de vice, nunca podendo substituir, nem suceder, o titular, que deve ser brasileiro nato. 3.3.7 - Inelegibilidade na LC 64/90 3.3.7.1 - Noções O art. 14, CF, dispondo sobre as causas de inelegibilidades, não é exaustivo. O seu § 9° permite a uma lei complementar estabelecer outros casos de inelegibilidades para proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta, levando em conta a vida pregressa do candidato. Regulamentando o dispositivo, LC 64, de 18/09/90, que revogou a 05/70, disciplina os vários casos de inelegibilidades, praticamente todos em razão de incompatibilidades com outros cargos, funções ou empregos. São os seguintes os demais casos de inelegibilidades previstos nesta lei, que já foi modificada pela LC 81/94: 3.3.7.2 - Inelegibilidade para qualquer cargo São inelegíveis para qualquer cargo (art. 1°, I): a) os inalistáveis e os analfabetos; b) os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. S5,CF, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período ARI FERREIRA DE QUEIROZ 61 remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subseqüentes ao término da legislatura (11); c) o governador e o vice-governador de Estado e do Distrito Federal, o prefeito e o vice-prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual da Lei Orgânica do Distrito Federal ou

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da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 3 (três) anos subseqüentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela justiça eleitoral, transitada em julgado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 3 (três) anos seguintes; e) os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena; f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 4 (quatro) anos; g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se a questão houver sido ou estiver sendo submetida à apreciação do Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a partir da data da decisão; h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político apurado em processo, com sentença transitada em julgado, para as eleições que se realizarem nos 3 (três) anos seguintes ao término do seu mandato ou do período de sua permanência no cargo; i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de processo de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou função de direção, administração ou representação, enquanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade. 3.3.7.3 - Para presidente e vice-presidente da República São inelegíveis para presidente ou vice-presidente da República até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos e funções (art. 1 °, II, "a"): (11)Dispositivo com redação dada pela LC 81/94. 62 DIREITO ELEITORAL a) os ministros de Estado: b) os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar, da Presidência da República; c) chefe do órgão de assessoramento de informações da Presidência da República; d) chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; e) advogado-geral da União e o consultor-geral da República; f) os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; g) os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; h) os magistrados; i) os presidentes, diretores e superintendentes de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas e as mantidas pelo poder público; j) os governadores de Estado, do Distrito Federal e de Territórios; k) os interventores federais; I) os secretários de Estado; m) os prefeitos municipais; n) os membros do Tribunal de Contas da União, dos Estados e do Distrito

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Federal; o) o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal; p) os secretários-gerais, os secretários-executivos, os secretários nacionais, os secretários federais dos ministérios e as pessoas que ocupem cargos equivalentes. 3.3.7.4 - Para presidente e vice-presidente da República São também inelegíveis para presidente e vice-presidente da República quem: a) nos 6 meses anteriores à eleição, tenha exercido nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de nomeação pelo presidente da República, mas sujeito à aprovação prévia do Senado Federal (art. 1°, II, "b"); b) até 6 meses antes da eleição, tiver competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades (art. 1°; II, "d"); c) até 6 meses antes da eleição, tenha exercido cargo ou função de direção, administração ou representação nas empresas de que tratam os arts. 3º e ARI FERREIRA DE QUEIROZ 63 5° da lei 4.137/62 (12), quando, pelo âmbito e natureza de suas atividades "); possam tais empresas influir na economia nacional (art. 1°, II, "e" ; d) detendo o controle de empresas ou grupo de empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas previstas no parágrafo único do art. 5° da lei 4.137/62, não apresentar à justiça eleitoral, até 6 meses antes do pleito, a prova de que fez cessar o abuso apurado, do poder econômico, ou de que transferiu, por força regular, o controle de referidas empresas ou grupo de empresas (art. 1°, II, "f"); e) tenha, dentro dos 4 meses anteriores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração ou representação em entidades representativas de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas pelo poder público ou com recursos arrecadados e repassados pela previdência social (art. 1°, II, "g"); f) até 6 meses depois de afastado das funções, tenha exercido cargo de presidente, diretor ou superintendente de sociedades com objetivos exclusivos de operações financeiras e faça publicamente apelo à poupança e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de vantagens asseguradas pelo poder público, salvo se decorrentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes (art. 1°, II, "h"); g) dentro de 6 meses anteriores ao pleito, tenha exercido cargo ou função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de serviços ou de fornecimento de bens com órgão do poder público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes (art. 1°, II, "i"); h) sendo, membro do Ministério Público, não se tenha afastado de suas funções até 6 meses antes do pleito (art. 1°, II, "j"); i) sendo, servidor público, estatutário ou não, de órgão ou entidade da administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo poder público, não se afastarem até 3 meses antes do pleito, garantido 0 direito à percepção dos seus vencimentos integrais (art. 1°, II, "I"). 3.3.7.5 - Para governador e vice-governador São inelegíveis para governador e vice-governador de Estado e do Distrito Federal: a) quem seja inelegível para presidente e vice-presidente da República em razão de impedimento previsto item 3.3.7.3, retro;

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b) quem seja inelegível para presidente e vice-presidente da República em razão de impedimento previsto item 3.3.7.4, retro, desde que a repartição (12) Esta lei foi expressamente revogada pela lei 8.884/94. 64 DIREITO ELEITORAL pública associação ou empresa opere no território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mesmos prazos; c) até 6 meses depois de afastados definitivamente de seus cargos ou funções, os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do governador, os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e Zona Aérea, os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assistência aos Municípios e os secretários da administração municipal ou membros de órgãos congêneres. 3.3.7.6 - Para prefeito e vice-prefeito São inelegíveis para prefeito e vice-prefeito municipal: a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os cargos de presidente e vice-presidente da República, governador e vice- governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 meses para a desincompatibilização; b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública em exercício na comarca, nos 4 meses anteriores ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais; c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito. 3.3.7.7 - para o Senado Federal São inelegíveis para o Senado Federal: a) quem seja inelegível para presidente e vice-presidente da República em razão de impedimento previsto item 3.3.7.3, retro; b) quem seja inelegível para presidente e vice-presidente da República em razão de impedimento previsto item 3.3.7.4, retro, desde que a repartição pública, associação ou empresa opere no território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mesmos prazos; c) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para os cargos de governador e vice-governador, nas mesmas condições e nos mesmos prazos. 3.3.7.8 - Para a Câmara Federal e Assembléia Legislativa São inelegíveis para a Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa ou Câmara distrital no que lhes for aplicável por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, nas mesmas condições e prazos. 3.3.7.9 - Para a Câmara Municipal a) são inelegíveis para a Câmara de Vereadores, no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal e para a ARI FERREIRA DE QUEIROZ 65 Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 meses para a desincompatibilização; b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de prefeito e vice- prefeito, observado o prazo de 6 meses para a desincompatibilização. 3.4 - Direito político negativo por suspensão ou perda 3.4.1 - Noções O art. 15, CF, veda a cassação de direitos políticos, mas admite a perda ou suspensão. Diferem-se a cassação, perda e suspensão de direitos políticos, na medida em que a primeira e a última têm o caráter punitivo, enquanto a segunda não o tem. De qualquer forma, porém, embora sejam penas, a cassação pressupõe a definitividade, e a suspensão, a temporariedade. Fiel ao princípio geral, de que não há pena de caráter perpétuo (art. 5°, XLVII, b, CF), o constituinte não admite a cassação de

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direitos políticos, mas apenas a suspensão e a perda sem, porém, estabelecer dentre as várias hipóteses qual delas representa uma e qual a outra. Quais são, então, estas causas, é o que pretendo esclarecer. 3.4.2 - Distinção entre causas de suspensão e perda de direitos políticos Sabendo-se que a suspensão importa em uma limitação temporária ao exercício de direitos políticos, é lícito concluir que das hipóteses previstas no art. 15, CF, os incisos III e V são causas de suspensão, enquanto os incisos I, II e IV são causas de perda. Formo minha convicção a partir de um raciocínio lógico: a) toda vez que o indivíduo sofrer uma limitação ao exercício de direitos políticos por uma causa que, se fosse anterior à aquisição de tais diréitos impediria a própria aquisição, não se pode falar em suspensão, mas, sim, em perda; b) quando, porém, a causa é posterior, trata-se de suspensão, não de perda; c) a perda de direitos políticos não tem o caráter punitivo, por isso não pressupõe a violação de regras de convivência, bastando que se perca o pressuposto necessário para a aquisição; d) a suspensão tem o caráter punitivo e deve ter por pressuposto a violação de alguma regra de convivência; e) fundada na violação de alguma regra de convivência, a suspensão de direitos políticos tem o caráter punitivo, por isso deve visar a correção e reintegração social do indivíduo, pelo que deve ser temporária. 66 DIREITO ELEITORAL 3.4.3 - Causas de perda de direitos políticos 3.4.3.1 - Incapacidade civil absoluta Para José Afonso da Silva a incapacidade civil absoluta (art. 15, II) é causa de suspensão dos direitos políticos, conforme já constava do texto da CF/46, porque é temporária. No mesmo sentido trilha Pinto Ferreira. Celso R. Bastos (13), sem firmar uma posição clara, diz que "a perda dos direitos políticos nem sempre é definitiva, pois que em determinadas situações pode ocorrer a recuperação da capacidade civil, caso em que, por via de conseqüência, dá-se a reintegração na posse dos direitos de cidadania': Para o mestre, então, a incapacidade civil absoluta é causa de perda de direitos políticos, mas pode ser, também, causa de suspensão, conforme o indivíduo fique incapaz indefinida ou temporariamente. Manoel Gonçalves Ferreira filho diz que a incapacidade civil provoca a suspensão de direitos políticos. Penso que a razão está mais com Celso Bastos do que com os demais, embora o texto da CF/46 realmente consignasse como sendo suspensão de direitos políticos. Ora, segundo afirmei, quando desaparece o pressuposto necessário para a aquisição tem-se a perda, que, além disso, não tem o caráter punitivo. Por conseguinte, não se pode dizer que o indivíduo declarado interdito, por isso incapaz, tenha violado alguma regra de convivência e por isso deva ser punido com a suspensão de direitos políticos. O que se lhe aplica é a perda de tais direitos, posto que se ao tempo que completou a idade necessária já fosse incapaz não o teria adquirido. 3.4.3.2 - Cancelamento da naturalização por sentença Da mesma forma que a capacidade civil, a nacionalidade brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos. Assim, quando for cancelada a naturalização (art. 15, I), na forma e hipótese previstas no art. 12, § 4°, I, CF, por sentença judicial em virtude de atividade nociva ao interesse nacional, também deve ser declarada a perda de seus direitos políticos no Brasil vez que, com o cancelamento, volta-se à condição de estrangeiro. Por identidade de razões, também perderá os direitos políticos o

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brasileiro nato que se naturalizar em outro país voluntariamente, pois perderá a nacionalidade brasileira. 3.4.3.3 - Recusa de cumprir obrigação geral ou prestação alternativa O dispositivo em comento (art. 15, IV) se refere aos motivos apontados como imperativos de consciência - convicção filosófica, religiosa ou política - que servem como justificativa para se eximir do cumprimento de obrigações impostas por lei a todas as pessoas, como o alistamento eleitoral, o serviço militar, o serviço eleitoral e outros. Invocando um destes imperativos, o (13) Comentários à CF, 2º vol. P. 594. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 67 indivíduo fica dispensado da obrigação, mas deve cumprir uma prestação alternativa fixada em lei. Não cumprindo a principal, nem a alternativa, perderá os direitos políticos pelo tempo em que perdurar a recusa. De tais imperativos cuida o art. 5°, VIII, CF, que exige uma lei para estabelecer a forma de prestação alternativa, e não existe lei genérica dispondo sobre o assunto. O que existem são leis específicas, como a do serviço militar e o alistamento eleitoral e o voto. Quem deixar de votar no dia designado deverá se justificar perante o juiz eleitoral até 60 dias após, ou sujeitar-se ao pagamento da multa que lhe for imposta. O pagamento da multa ou a justificação são formas de prestação alternativa fixadas em lei. Não cumprindo qualquer delas, perderá os direitos políticos enquanto não regularizar a situação. 3.4.4 - Causas de suspensão de direitos políticos 3.4.4.1 - Noções Sem embargo da divergência apontada quanto à incapacidade civil absoluta, que sustento ser causa de perda, não de suspensão, a doutrina reconhece que a condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos, e a prática de atos de improbidade administrativa são causas de suspensão. 3.4.4.2 - Condenação criminal A condenação criminal, logicamente transitada em julgado, porque antes disto há a presunção de inocência, gera como conseqüência a suspensão dos direitos políticos enquanto durarem seus efeitos. Dispõe a súmula n° 10 do TSE que "A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos". Não exigindo o texto constitucional lei regulamentadora, como o fazia a CF/67, tem-se que o dispositivo é de eficácia plena, valendo para toda e qualquer condenação criminal, seja qual for o tipo da pena, mesmo a de multa. Não suspende, porém, direitos políticos, a suspensão condicional do processo por antecipação (art. 89, lei 9099/95), nem a transação penal com pena aplicada imediatamente (art. 76, mesma lei), porque em ambas as situações não há condenação. Convém destacar um tratamento diferenciado, mas justo, quando se trata de detentor de mandato eletivo no legislativo. É que o deputado ou senador que for condenado criminalmente terá o mandato cassado, independente da cessação dos efeitos da condenação (art. 55, VI e § 2°, CF), embora possa manter seus direitos políticos, por exemplo, por ter cumprido a pena de multa imposta. O art. 55, VI, não traz a locução "enquanto durarem seus efeitos", contida no art. 15, III. Por isso que, a suspensão de direitos políticos só subsiste enquanto durarem os efeitos da condenação. Cumprida a pena, resgatam-se os direitos políticos. O mandato parlamentar, todavia, será cassado mesmo que tenha cumprido a pena. 68 DIREITO ELEITORAL

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3.4.4.3 - Improbidade administrativa Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (art. 37, § 4°, CF). Constituem atos de improbidade administrativa os previstos nos arts. 9° a 11° da lei 8.429/92. A prática de qualquer deles sujeita o infrator à suspensão dos direitos políticos, depois de transitada em julgado a sentença condenatória (art. 20, lei 8.429/92), pelo prazo que varia de 3 a 10 anos, conforme a hipótese (art. 12, mesma lei). 3.5 - A situação política do militar No Brasil há os militares federais, das Forças Armadas, e os estaduais, da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militares. Ao jovem do sexo masculino que completa 17 anos de idade nasce o dever de alistar-se nas primeiras, passando depois por um exame de seleção. Selecionado, prestará obrigatoriamente o serviço militar na Marinha, Exército ou Aeronáutica. Durante o tempo de serviço militar obrigatório sua condição é de conscrito. Conscrito, não pode votar porque é facilmente influenciável, ou "dobrável" por seus superiores, de modo que poderia viciar o processo eleitoral. É absolutamente inalistável e, de conseqüência, não pode participar do processo eleitoral nem no polo ativo nem no passivo. Terminado o serviço militar obrigatório, ainda que continue nas fileiras militares, ou que passe a integrar os quadros da Polícia Militar, desaparece o impedimento para votar, sendo obrigatório o seu alistamento eleitoral. No entanto, para atuar no polo passivo disputando eleições como candidato a qualquer cargo eletivo, deverá atender aos seguintes requisitos: a) afastar-se da atividade, indo para a reserva, se contar com menos de 10 (dez) anos de serviço; b) se tiver mais de 10 (dez) anos de serviço será agregado pela autoridade superior e só irá para a reserva se for eleito, no ato da diplomação; caso contrário, voltará à atividade. O parágrafo único do art. 4° do processo n° 14.002, de 18/11/93, do TSE, que regulamentou a lei 8.713/93 sobre as eleições gerais de 1994, abriu uma exceção à regra de filiação partidária como condição de elegibilidade ao militar, dispondo que basta o pedido de registro junto ao órgão partidário competente, após prévia escolha pela convenção. Esta mesma regra foi mantida pela res. 19509, cujo art. 5°, § 3°, depois de fixar o prazo de filiação partidária, estabelece que "ao militar candidato basta o pedido de registro da candidatura, após prévia escolha em convenção partidária". Idêntica disposição se vê no art. 4°, § 2°, da resolução 20100 98. Assim, o militar alistável pode obter previamente o registro da candidatura, depois de aprovado na convenção do partido, e só então filiar-se-á, não se lhe exigindo a filiação pelo prazo mínimo de um ano antes da eleição. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 69 3.6 - A situação política dos magistrados Os magistrados de qualquer órgão do Poder Judiciário e, por isonomia constitucional, os membros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos Municípios, não podem se filiar a partido político. A proibição aos primeiros consta do parágrafo único do art. 95, CF, que diz ser vedado aos juizes exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério, receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo e dedicar-se à atividade político-partidária; aos segundos, a vedação consta do art. 73, § 3°, CF, dispondo que "os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça e somente poderão aposentar-se com as vantagens do cargo quando o tiverem exercido efetivamente por mais de

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cinco anos". Pode-se dizer que a magistratura e, por isonomia, os membros das cortes de contas, constituem as únicas carreiras privadas da plenitude de direitos políticos, posto que todas as demais admitem a filiação partidária e a disputa de eleições, bastando observar apenas as regras que regem as desincompatibilizações previstas na Constituição e leis, como a lei complementar 64/90. O representante do Ministério Público, por exemplo, embora tenha as mesmas prerrogativas da magistratura, pode filiar-se a partido político e mesmo disputar eleições, segundo se vê do art. 128, § 5°, II, CF, que veda-lhe o direito de exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas na lei. Por isso, recentemente, respondendo a consulta de interessado, o TSE dispôs que aos magistrados, por não poderem filiar- se a partido político enquanto estiverem na ativa, se aplicam as mesmas regras dos militares, estando, pois, dispensados de ter de provar o prazo mínimo de filiação à data de registro da candidatura, bastando que 6 meses antes do pleito deixem o cargo, seja por aposentadoria ou exoneração. O que não é admitido ao magistrado é licenciar-se do cargo enquanto exerce mandato parlamentar. Idêntica disposição se vê no art. 4°, § 3°, da resolução 20100/98. 3.7 - A situação política dos membros do Ministério Público Ao contrário dos magistrados e membros dos tribunais de contas, os representantes do Ministério Público não têm impedimento absoluto ao exercício de atividade político-partidária, havendo até mesmo casos de pessoas que se tornaram famosas na carreira política, como o ex- governador de São Paulo, Fleury Filho, que pertencia aos quadros do Ministério Público paulista, e o ex-deputado Ibsen Pinheiro, promotor de justiça no Rio Grande de Sul, que chegou à presidente da Câmara e acabou cassado por suposto envolvimento com a "máfia do orçamento", em 1994. Todavia, o STF, por maioria de votos, julgou parcialmente procedente duas ADIns ajuizadas pelo procurador-geral da República para, sem redução do texto, dar interpretação conforme à CF ao art. 237, V, da LC 75/93, que dispõe ser vedado ao membro do Ministério Público da União exercer atividade político-partidária , ressalvada a filiação e o direito de afastar-se DIREITO ELEITORAL 70 para exercer cargo eletivo ou a ele concorrer, no sentido de que a filiação partidária pode efetivar-se na hipótese de afastamento de suas funções institucionais mediante licença. Quanto ao art. 80 da mesma LC 75/93, que dispõe que a filiação a partido político impede o exercício de funções eleitorais por membro do Ministério Público, até dois anos do seu cancelamento, a Corte fixou entendimento admitindo a filiação partidária, se o membro do Ministério Público estiver afastado das suas funções, devendo, portanto, cancelar sua filiação partidária antes de assumir suas funções, não podendo desempenhar funções eleitorais pertinentes ao Ministério Público Eleitoral senão dois anos após o referido cancelamento. Por fim, quanto ao inciso V, do art. 44, da lei 8.625/93, que veda ou proíbe ao membro da instituição exercer atividade político-partidária, ressalvada a filiação e as exceções previstas em lei, o STF entendeu que podem se filiar ao partido desde que se afastem de suas funções institucionais mediante licença. O STF considerou que as exceções à proibição do exercício de atividade político-partidária pelo Ministério Público devem ser interpretadas de modo a preservar a isenção e a independência das funções institucionais do Parquet, asseguradas pela Constituição Federal. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 71 V - DO DIREITO PARTIDÁRIO 1 - Noções 2 - Partido político 2.1 - Noções 2.2 - Natureza jurídica 3 - Criação e extinção de partidos 3.1 - Noções 3.2

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- Criação originária 3.3 - Criação derivada 3.3.1 -Noções 3.3.2 - Fusão 3.3.3 - Incorporação 3.3.4 - Efeitos da fusão ou incorporação 4 - Registro de partido político 4.1 - Noções 4.2 - Registro civil 4.2.1 - Requisitos para o registro provisório 4.2.2 - Registro definitivo 4.3 - Registro político 4.3.1 - Noções 4.3.2 - Requisitos 4.3.3 - Procedimento 4.3.4 - Comunicação à justiça eleitoral 4.3.5 - Direitos do partido registrado 4.4 - Cancelamento e extinção de partido 5 - Estrutura dos partidos 5.1 - Noções 5.2 - Organização do partido 5.2.1 - Níveis de atuação . 5.2.2 - Órgãos partidários 5.2.3 - Comissão Executiva 6 - Da filiação partidária 6.1 - Noções 6.2 - Quem pode se filiar 6.3 - Procedimento 6.3.1 - Requerimento 6.3.2 - Impugnação à filiação 6.3.3 - Recursos 6.4 - Controle judicial da filiação 6.5 Desfiliação partidária 6.6 - Cancelamento da filiação 7 - Da fidelidade e disciplina partidárias 7.1 - Noções 7.2 - Quanto ao partido 7.2.1 - Noções 7.2.2 Da intervenção 7.2.3 - Da dissolução e destituição 7.3 - Quanto ao filiado 7.3.1 - Noções 7.3.2 - Penalidades aplicáveis 7.3.3 - Procedimento 8 - Prestação de contas 1 - Noções Atribuí a este tema o nome de "Direito Partidário", o que pode chocar os mais formalistas, posto que estaria sendo criado mais um ramo do direito. Assim faço porque, como se tem visto, a questão partidária se tornou complexa no Brasil, com uma variedade exagerada de partidos políticos, alguns realmente defendendo uma ideologia, outros servindo apenas como pretexto para a "fama" na TV, ou mesmo para servir de plataforma eleitoral vez que no sistema brasileiro não são admissíveis candidaturas avulsas. Assim, quando alguém pretende disputar uma eleição e lhe falta espaço dentro do partido a que pertence, por ter, por exemplo, preferido outro candidato, o interessado pode "criar" o seu próprio partido, dadas as facilidades previstas em lei. Exemplo claro de partido criado apenas para abrigar um interessado em disputar uma eleição, que não encontrou espaço dentro de sua legenda, ou de outra, foi o do ex-presidente Collor de Mello, que fundou o PRN e por ele foi eleito. Pela mesma sorte que teve o ex- presidente, pode-se dizer que o partido hoje caminha para a inatividade. Há também os casos de políticos fortes e experientes que, vendo o seu futuro, mudam de legenda sob o argumento de que o novo partido segue uma ideologia igual à sua, quando na verdade passou parte de sua vida defendendo idéia justamente contrária. É o caso do senador José Sarney, que era o presidente do extinto PDS, mudou para o PMDB, adversário direto, e por este acabou se tornando presidente da República. Neste capítulo, portanto, pretendo cuidar das principais regras acerca dos partidos políticos, que contam com lei orgânica atualizada (lei 9096/95), que revogou a anterior, 5682/71. 72 DIREITO ELEITORAL 73 2 - Partido político 2.1 - Noções Partido político é, na lição de Georges Burdeau, qualquer agrupamento de indivíduos que, professando as mesmas idéias políticas, esforçam-se para fazê-las prevalecer, a um tempo a ele reunindo o maior número

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possível de pessoas e buscando conquistar o poder, ou, pelo menos, influenciar suas decisões. D. Plácido e Silva diz que "Partido político é o vocábulo indicado para designar a organização que tem por finalidade agregar ou arregimentar elementos para a defesa de programas e princípios políticos, notadamente para sufragar os nomes de seus membros aos cargos eletivos. Em síntese, é a organização de parte do povo segundo os mesmos ideais e objetivos, no interesse e para assegurar o regime democrático. 2.2 - Natureza jurídica Dispunha o art. 2° da antiga lei orgânica dos partidos políticos (5682/71 ) que os partidos eram pessoas jurídicas de direito público. A pessoa jurídica pode ser de direito público ou privado. Se pública, adquire personalidade com a simples entrada em vigor da lei que a criar, pois é regra de que só pode ser criada por lei, como é o caso de autarquia (art. 5°, decreto-lei 200/67); se privada adquire personalidade pelo registro no órgão competente (art. 18, CC). Ocorre que partido político não é criado por lei, vez que é um mero agrupamento de pessoas privadas com idéias em comum. Constitui-se por um estatuto que deve ser registrado segundo a lei civil no cartório de registro das pessoas jurídicas para só então ter existência legal. A par disso, o art. 17, § 2°, CF, dispõe que "os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior eleitoral". De igual teor é o art. 7°, lei 9096/95, e mais claro é o art. 1° desta mesma lei: "O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal': Trata-se de regra de meridiana clareza e impõe uma duplicidade de registros do partido: uma, para ter existência legal, no cartório de registro das pessoas jurídicas; outra, depois daquela, para fins políticos, no TSE. Obviamente, esta última, para fins políticos é absolutamente dispensável, só sendo necessária para a regularidade eleitoral. Por tudo, conclui-se que o partido político é pessoa jurídica de direito privado, mesmo porque não defende interesse público, nem presta serviço de natureza pública, embora que agasalhe sob seus estatutos um grande número de pessoas. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 73 3 - Criação e extinção de partidos 3.1 - Noções É livre a criaçÃo, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana e desde que tenha caráter nacional, não receba recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros e nem se subordine a estes, preste contas à justiça eleitoral e tenha o seu funcionamento parlamentar de acordo com a lei, no caso a lei 9096/95 (art. 17, CF). Cuida-se, portanto, de formas de criação e extinção de partidos. A criação pode ser originária ou derivada e desta pode decorrer automaticamente a extinção. 3.2 - Criação originária Diz-se criação originária quando o partido nasce de posições ideológicas de um grupo de pessoas sem ter como pano de fundo outro partido, vale dizer, não deriva de fusão nem de incorporação de partidos políticos. 3.3 - Criação derivada 3.3.1 - Noções Diz-se criação de modo derivado quando o partido nasce a partir de outro partido, podendo conservar o nome do antecessor ou adotar novo nome. As hipóteses de criação de modo derivado são a fusão e a incorporação. Em qualquer caso, porém, só ficará um partido. Seja do modo

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originário ou derivado, a criação do partido político é livre, devendo apenas, após adquirir personalidade jurídica, registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (art. 17, 2°, CF). 3.3.2 - Fusão Ocorre fusão quando um partido se une a outro formando um só corpo. Com a fusão os dois ou mais partidos fundidos se extinguem e formam um terceiro. A fusão deve ser autorizada pelos órgãos nacionais dos partidos envolvidos, e é necessário que se observem as seguintes regras: a) cabe aos órgãos de direção de ambos os partidos elaborar projetos comuns de estatuto e programa (art. 29, § 1°, I); b) os projetos serão votados pelos órgãos nacionais de deliberação de ambos os partidos, em reunião conjunta, por maioria absoluta (art. 29, § 1°, II); c) os mesmos órgãos nacionais, pelo mesmo quorum, devem eleger o órgão de direção nacional do novo partido, ao qual compete promover o DIREITO ELEITORAL 74 registro do estatuto e do programa no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Capital Federal, fazendo acompanhar o requerimento das atas das decisões (art. 29, § 1 °, II e § 4°). Por órgão de direção do partido se deve entender a Convenção Nacional, considerado em todos os estatutos como órgão supremo do partido. Por exemplo, o art. 58, IX, do estatuto do PSDB dispõe que à Convenção Nacional compete "decidir sobre a dissolução ou extinção do partido, sua fusão ou incorporação, e neste caso, sobre o destino do patrimônio": No mesmo sentido é o art. 64, VIII, do estatuto do PMDB. 3.3.3 - Incorporação Ocorre incorporação quando um partido de maior porte absorve outro, caso em que cabe ao partido incorporando decidir por maioria absoluta de votos dos membros de seu órgão nacional sobre a adoção do estatuto do partido incorporador (art. 29, § 2°), ou pela elaboração de novo estatuto. a) adotados o estatuto e o programa do partido incorporador, realizar-se-á, em reunião conjunta dos órgãos nacionais de deliberação de ambos os partidos, a eleição do novo órgão de direção nacional (art. 29, § 3°). O ato que resultar da incorporação deve ser levado a registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Capital Federal, onde será cancelado o registro do partido incorporado (art. 29, § 5°); b) não sendo adotado o estatuto do partido incorporador, os partidos, por maioria absoluta dos membros de seus órgãos nacionais de deliberação, elaborarão outro, que será registrado e averbado no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Capital Federal. 3.3.4 - Efeitos da fusão ou incorporação Havendo fusão ou incorporação, os votos obtidos pelos partidos, na última eleição para a Câmara dos Deputados devem ser somados para os seguintes efeitos (art. 29, § 6°): a) funcionamento parlamentar: funcionamento parlamentar, vez que só poderá exercer este direito em todas as Casas Legislativas para as quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio de, no mínimo, 5% dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos, 1/3 dos Estados, com um mínimo de 2 % do total de cada um deles (art. 13); b) fundo partidário: distribuição dos recursos do fundo partidário, que é constituído de multas e penalidades pecuniárias, recursos financeiros destinados por lei, em caráter permanente ou eventual, doaçõ• s de pessoa física ou jurídica efetuadas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do fundo partidário e dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, em cada ano, ao número de eleitores inscritos em

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ARI FERREIRA DE OUEIROZ 75 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto de 1995 (art. 38); c) acesso gratuito ao rádio e televisão: acesso gratuito ao rádio e televisão, entre as 19:30 e 22:00 horas para, com exclusividade, divulgar a propaganda partidária gratuita gravada ou ao vivo, podendo difundir o programa partidário, transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido e divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários (art. 45). 4 - Registro de partido político 4.1 - Noções O partido político é pessoa jurídica de direito privado, por isso somente adquire personalidade jurídica com o registro de seus atos constitutivos na forma da lei civil, que é o registro perante o órgão competente. Como 0 partido deve ter caráter nacional, o órgão competente é o cartório de pessoas jurídicas da capital federal. Com este registro, o partido passa a ter personalidade jurídica e existência legal, mas a atuação político-partidária depende ainda do registro junto ao TSE. Assim, o registro do partido deve ser efetivado em duas etapas: a civil e a política. 4.2 - Registro civil 4.2.1 - Requisitos para o registro provisório O requerimento de registro civil de partido político deve ser subscrito por pelo menos 101 (cento e um) de seus fundadores com domicílio eleitoral em pelo menos 1/3 dos Estados brasileiros. O requerimento deve ser acompanhado de (art. 8°): a) cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido; b) exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto; c) relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência; d) indicação do nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido na Capital Federal (art. 8°, § 1°). Com este registro, o partido adquire personalidade jurídica provisória e pode exercer todos os atos que lhe são inerentes, após o registro junto ao TSE, que também será provisório. O registro provisório vale prazo de 1 ano. 76 DIREITO ELEITORAL 4.2.2 - Registro definitivo Adquirindo personalidade jurídica, o partido deve buscar o apoiamento de eleitores que correspondam a pelo menos 0,5% dos votos válidos dados na última eleição para a Câmara dos Deputados, desprezados os votos em branco e os nulos. Estes votos devem ser contados em pelo menos 1/3 dos Estados e em cada um deles deve representar pelo menos 0,1% do respectivo eleitorado que haja efetivamente votado (art. 8°, c/c art. 7°, § 1º). Simultaneamente à busca de apoio de eleitores, o partido deve realizar os atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto (art. 7°, § 1 °, parte final). A prova do apoiamento mínimo de eleitores é feita por meio de suas assinaturas, com menção ao número do respectivo título eleitoral, em listas organizadas para cada Zona, sendo a veracidade das respectivas assinaturas e o número dos títulos atestados pelo escrivão eleitoral (art. 9°, § 1°). 4.3 - Registro político 4.3.1 - Noções O registro político de partido é a condição necessária para sua atuação política, podendo indicar candidatos a cargos eletivos e participar dos

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demais atos próprios de partidos políticos. É uma segunda etapa no processo de registro, e é feito perante o TSE. Este registro é feito em duas etapas, sendo a primeira um registro provisório e depois, o definitivo. A matéria era regulamentada pelo art. 12 da antiga LOPP, que já havia sido modificada pela lei 6767/79, esta estabelecendo o prazo de 12 meses de validade do primeiro registro. Acrescentava que o partido que não cumprisse os requisitos legais no prazo teria o registro cassado. A lei 8054/90 prorrogou o prazo de validade do registro provisório por 12 meses quando, em ano de eleição, o vencimento ocorresse nos 90 dias que antecedessem ao pleito e desde que o partido tivesse representação parlamentar federal ou estadual. Mais, particularmente, para as eleições de 1994 o art. 5° da lei 8713/93 estabeleceu que para participar da eleição o partido deveria ter registro provisório ou definitivo no TSE até o dia 03/10/93, ou seja, 1 ano antes do pleito. Se, porém, tivesse o registro apenas provisório neste período, era necessário, também, que tivesse pelo menos um deputado federal. Atualmente, segundo o disposto no art. 8°, § 3°, lei 9096/95, é possível concluir que estejam em vigor as regras referentes às etapas havendo primeiramente um registro provisório e só depois de obter o apoio do eleitorado já referido é que pode pleitear o registro definitivo. Neste sentido, dispõe o art. 5°, lei 9504/97, que o partido deve ter registro junto ao TSE pelo menos desde um ano antes do pleito, e, além disso, deve ter, até a data da convenção, o seu órgão de direção constituído na circunscrição. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 77 4.3.2 - Requisitos O registro perante o TSE é feito mediante requerimento assinado pelo dirigente nacional do partido acompanhado de (art. 9°): a) exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do estatuto partidário, inscritos no registro civil; b) certidão do registro civil da pessoa jurídica expedida pelo cartório competente; c) certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o partido obtido 0 apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o § 1° do art. 7° da lei 9096/99. 4.3.3 - Procedimento Protocolado o requerimento de registro no Tribunal Superior Eleitoral, no prazo de 48 horas será distribuído a um relator que, ouvindo o procurador- geral em 10 dias, determinará, em igual prazo, diligências para sanar eventuais falhas (art. 9°, § 3°). Decorrido o prazo, ou sanadas as diligências, no prazo de 30 dias o Tribunal Superior Eleitoral registrará o estatuto do partido (art. 9°, § 4°). 4.3.4 - Comunicação à justiça eleitoral Após o registro, o partido comunicará à justiça eleitoral a constituição de seus órgãos de direção e os nomes dos respectivos integrantes, para anotação (art. 10): a) ao Tribunal Superior Eleitoral, dos integrantes dos órgãos de âmbito nacional; b) nos Tribunais Regionais Eleitorais, dos integrantes dos órgãos de âmbito estadual, municipal ou zonal. As alterações posteriores que forem promovidas nos estatutos ou programas dos partidos também deverão ser comunicadas à justiça eleitoral (art. 10, par. único)(15), mesmo que tenham sido efetivadas na vigência da antiga lei orgânica, desde que sobre ela a justiça eleitoral não tenha prolatado decisão final (art. 3°, lei 9359/96). 4.3.5 - Direitos do partido registrado a) credenciar delegados: o partido com registro provisório ou definitivo no Tribunal Superior Eleitoral pode credenciar delegados que o represente

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perante o juiz eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Superior Eleitoral (art. 11). Os delegados credenciados pelo órgão de direção (15) Parágrafo acrescentado pela Lei 9.259/96. DIREITO ELEITORAL 78 nacional representam o partido perante quaisquer tribunais ou juízes eleitorais; os credenciados pelos órgãos estaduais, somente perante o Tribunal Regional Eleitoral e os juízes eleitorais do respectivo Estado, do Distrito Federal ou Território Federal; os credenciados pelo órgão municipal, apenas perante o juiz eleitoral da respectiva jurisdição (art. 11 , par. único); b) fundo partidário: também é prerrogativa do partido registrado junto ao TSE participar do processo eleitoral e receber recursos do fundo partidário (art. 7°, § 2°). O Fundo Especial de Assistência Financeira (fundo partidário) é constituído por multas, doações, destinações legais e dotações orçamentárias (art. 38); c) acesso gratuito ao rádio e à TV: cabe ainda ao partido com registro no TSE acesso gratuito ao rádio e à televisão para divulgar sua propaganda partidária, entre 19:30 e 22:00 horas (art. 45). É vedada a propaganda partidária paga (art. 45, § 3°). Além desta propaganda partidária, o partido com representação na Câmara dos Deputados, na forma do art. 13, tem direito a um programa em cadeia nacional e um em cadeia estadual em cada semestre, com duração de 20 minutos cada um (art. 49, I), ou, se preferir, a utilização do tempo total de 40 minutos por semestre para inserções de 30 segundos ou 1 minuto (art. 49, II). Se não preencher os requisitos do art. 13, o partido só terá direito a um programa em cadeia nacional por semestre, com duração de dois (2) minutos (art. 48). Este direito, de acesso ao rádio e à TV, não será permitido no segundo semestre de ano de eleição, nem gratuita, nem onerosamente, porque tampouco se admitirá propaganda gratuita de qualquer natureza no mesmo período (art. 36, § 2°, lei 9504/97); d) nome e símbolos: por fim, o partido registrado no TSE tem direito exclusivo ao uso do seu nome, sigla e símbolos (art. 7°, § 3°). 4.4 - Cancelamento e extinção de partido Com igual liberdade que se cria um partido pode-se extingui-lo, desde que se respeitem os mesmos requisitos formais da criação. A extinção pode ser ato de pura deliberação do partido, ou resultar da fusão ou incorporação a outro. A extinção, seja pela fusão ou incorporação, deverá ser comunicada ao TSE para que cancele o registro político do partido e determine ao ofício civil que faça o mesmo (art. 27). Cabe, ainda, ao TSE determinar o cancelamento do registro e do estatuto do partido contra o qual, após decisão transitada em julgado, ficar provado que (art. 28): a) recebeu ou recebe recursos financeiros de procedência estrangeira; b) se subordina a entidade ou governo estrangeiro; c) não presta contas à justiça eleitoral; d) mantém organização paramilitar. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 79 O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do procurador-geral Eleitoral (art. 28, § 2°). 5 - Estrutura dos partidos 5.1 - Noções Ao contrário da legislação revogada (art. 34, lei 5682/71 ), a vigente lei orgânica dá maior autonomia ao partido político para definir a sua estrutura interna, organização e funcionamento (art. 3°, lei 9096/95). Nos respectivos estatutos, porém, devem constar normas de fidelidade e disciplina

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partidárias (art. 17, § 1°, CF) e, especialmente (art. 15, lei 9096/95), normas sobre: a) nome, denominação abreviada e o estabelecimento da sede na Capital Federal; b) filiação e desligamento de seus membros; c) direitos e deveres dos filiados; d) modo como se organiza e administra, com a definição de sua estrutura geral e identificação, composição e competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, estadual e nacional, duração dos mandatos e processo de eleição dos seus membros; e) fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação das penalidades, assegurado amplo direito de defesa; f) condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas; g) finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, normas que os habilitem a apurar as quantias que os seus candidatos possam despender com a própria eleição, que fixem os limites das contribuições dos filiados e definam as diversas fontes de receita do partido, além daquelas previstas nesta Lei; h) critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível municipal, estadual e nacional que compõem o partido; i) procedimento de reforma do programa e do estatuto. Por outro lado, como a lei 6767/79, que traça algumas regras sobre a estrutura partidária e não foi, pelo menos expressamente, revogada pela atual lei orgânica, penso que, embora haja liberdade partidária para definir a respectiva estrutura, as disposições daquela lei podem ser utilizadas como um referencial. Seguindo, pois, a orientação legislativa revogada e a lei 6767/79, em regra os partidos terão órgãos de deliberação, órgão de direção e ação, órgão de ação parlamentar e órgão de cooperação. Aliás, estrutura neste sentido é a que consta dos estatutos do PMDB e PSDB. Por não 80 DIREITO ELEITORAL haver uniformidade quanto a isto, tomarei como referencial o estatuto deste último partido, por vezes fazendo alguma incursão pelo estatuto do PMDB ou outro partido. 5.2 - Organização do partido 5.2.1 - Níveis de atuação A organização do partido compreende os níveis nacional, estadual, municipal e zonal (art. 14, PMDB). Órgãos zonais existem apenas nas capitais e municípios com mais de 1 milhão de habitantes, sendo um órgão para cada zona ou distrito eleitoral, sem prejuízo do órgão municipal (art. 14, § 1°, PMDB). Se o Município não tiver 1 milhão de habitantes, mas tiver mais de uma zona eleitoral, o Diretório Municipal poderá criar tantos órgãos zonais quantas sejam as zonas eleitorais (art. 14, § 2º, PMDB). 5.2.2 - Órgãos partidários 5.2.2.1 - Órgão de deliberação Órgãos de deliberação dos partidos são as Convenções Nacional, Estaduais e Municipais e Zonais. A Convenção Nacional á o órgão máximo do partido, e a seção municipal ou zonal é a sua unidade orgânica fundamental (art. 18, PSDB). Dentre as atribuições da Convenção Nacional podem ser apontadas (art. 58, PSDB): a) eleger os membros do Diretório Nacional e os do Conselho de ÉtiGa e Disciplina; b) escolher os candidatos a presidente e vice-presidente da República e analisar a sua plataforma de governo; c) deliberar sobre as propostas de reforma do programa e estatuto do partido;

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d) decidir sobre a dissolução ou extinção do partido e sua fusão ou incorporação. Compõem a Convenção Nacional os membros do Diretório Nacional, os delegados dos Estados e Distrito Federal e os representantes do partido no Congresso Nacional (art. 59, PSDB). 5.2.2.2 - Órgão de direção e ação partidária São órgãos de direção e ação dos partidos os Diretórios Zonais, Municipais, Regionais e Nacional, bem como as respectivas comissões executivas (art. 17, II, PSDB). Na estrutura dos partidos, o Diretório Nacional é o segundo órgão em termos de importância. Compete ao Diretório, entre outras (art. 61. PSDB): ARI FERREIRA DE QUEIROZ 81 a) eleger a Comissão Executiva e o Conselho Fiscal Nacional; b) regulamentar o estatuto do partido por meio de resoluções; c) julgar em grau de recursos as decisões da Comissão Executiva Nacional ou dos Diretórios Estaduais; d) aprovar o hino, as cores, os símbolos, a bandeira e o escudo do partido; e) intervir nos Diretórios Estaduais e decidir sobre sua dissolução ou destituição de suas Comissões Executivas. O Diretório Nacional, eleito pela Convenção Nacional para mandato de 2 anos, é composto de 177 membros efetivos e 59 suplentes, incluídos na qualidade de membros natos os líderes do partido na Câmara e no Senado e os presidentes dos Diretórios Estaduais (art. 62, PSDB). No PMDB há disposição semelhante, sendo membros natos, além dos apontados pelo PSDB, os ex-presidentes da Comissão Executiva Nacional (art. 67, "a"). Além destes, são eleitos mais 119 titulares e 40 suplentes (art. 67, "b"). 5.2.2.3 - Órgão de ação parlamentar Órgãos de ação parlamentar são as respectivas Bancadas nas Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, Câmara Federal e Senado Federal (art. 17, III, PSDB) compostas, respectivamente, de vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores, dentre os quais deve ser escolhido um líder (art. 12, lei 9096/95). Somente tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas para as quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dos Deputados, obtenha o apoio de, no mínimo, 5% dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos, 1/3 dos Estados, com um mínimo de 2% do total de cada um deles (art. 13, lei 9096/99). 5.2.2.4 - Órgão de atuação partidária na sociedade Órgão de atuação partidária na sociedade são os Núcleos de Base e os Secretariados Municipais e Zonais, Estaduais e nacional (art. 17, IV, PSDB). 5.2.2.5 - Órgão de disciplina e fidelidade partidárias Órgãos de disciplina e fidelidade partidárias são os Conselhos de Ética e Disciplina, Municipais e Zonais, Estaduais e Nacional (art. 17, V, PSDB). 5.2.2.6 - Órgão de fiscalização financeira Órgãos de fiscalização financeira são os Conselhos Fiscais, Municipais e Zonais, Estaduais e Nacional (art. 17, VI, PSDB). 82 DIREITO ELEITORAL 5.2.2.7 - Órgão de cooperação Órgãos de cooperação dos partidos são as divisões internas de cada partido, a seu critério. O estatuto do PSDB (art. 17, VII) inclui como órgãos de cooperação o Conselho Político Nacional e os Conselhos Estaduais, o Instituto Teotônio Vilela de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais e Formação Política, as Coordenadorias Regionais e outros que venham a ser criados. O PMDB, por sua vez, inclui a Fundação Pedroso Horta (art. 15), enquanto o PTB determina que se organizem nos três níveis de atuação do

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partido órgãos representativos de segmentos da sociedade, grupos minoritários, áreas específicas de atividade profissional e grupos técnicos (art. 84). É possível pois, haver no partido órgão de cooperação denominado de Conselho Consultivo, Departamento Trabalhista, Departamento Feminino, Departamento Estudantil, entre outros. 5.2.3 - Comissão Executiva Na estrutura dos partidos se inclui ainda, como órgão de relevada importância, a Comissão Executiva, embora não conste ela, como tal, do estatuto do PSDB, sem embargo de estar disciplinada no art. 64. Todavia, todos os partidos incluem a Comissão Executiva como um de seus órgãos, posto que ao seu presidente compete dirigir o Diretório Nacional (art. 68, PMDB). Neste partido, compõem a Comissão Executiva 15 membros, a seguir designados: a) um presidente; b) um primeiro, um segundo e um terceiro vice-presidentes; c) um secretário-geral; d) um primeiro e um segundo secretários; e) um tesoureiro; f) um tesoureiro adjunto; g) quatro vogais; h) os líderes das bancadas na Câmara e no Senado. No PSDB também são 15 os membros da Comissão Executiva Nacional (art. 64). À Comissão Executiva Nacional compete, entre outros (art. 76, PMDB): a) dirigir as atividades do partido no âmbito nacional; b) manter escrituração de sua receita e despesas; c) administrar o patrimônio do partido; d) promover o registro do Estatuto, do Programa e Código de Ética Partidária junto ao órgão competente; ARI FERREIRA DE OUEIROZ 83 e) remeter às Comissões Executivas Estaduais cópias de deliberações da Convenção Nacional e Diretório Nacional; f) receber doações. Além disso, ao presidente da Comissão Executiva Nacional compete representar o partido judicial ou extrajudicialmente, convocar reuniões, inclusive do Diretório e coordenar as atividades do partido em âmbito nacional (art. 66, PSDB). 6 - Da filiação partidária 6.1 - Noções A filiação partidária é condição essencial para a elegibilidade. Sem estar vinculado a um partido político pelo menos 1 (um) ano antes das eleições o cidadão não pode disputar cargo eletivo (art. 18, lei 9096/95). Este prazo de filiação é o mínimo, posto que o partido pode estabelecer prazo maior (art. 20), desde que não seja em ano de eleições (art. 20, par. único). 6.2 - Quem pode se filiar Qualquer eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos pode filiar-se a um partido (art. 16, lei 9096/95), observando as regras estatutárias (art. 17). Como a lei em vigor exige a plenitude de direitos políticos como condição para a filiação, não se admite, pois, seja filiado 0 analfabeto e o menor entre 16 e 18 anos, vez só têm direito político ativo, não podendo ser votado para nenhum cargo eletivo. Todavia, o estatuto do PSDB tem regra específica que, sem ser clara, parece admitir filiação de qualquer pessoa com "idade eleitoral". Dispõe o art. 5°, § 4°, que "admitir-se- á filiação especial de jovens, com idade inferior à do alistamento eleitoral, que se comprometam com os princípios doutrinários e programáticos do partido, os quais poderão participar de atividades partidárias definidas pelos

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órgãos locais, salvo as que exijam a condição de eleitor". No mesmo sentido dispõe o art. 5°, § 4°, do estatuto do PTB. Ora, se há regra admitindo a filiação de menores de 16 anos, com algumas reservas, é porque se admite, sem reservas, a dos maiores de 16 anos e mesmo de analfabetos. 6.3 - Procedimento 6.3.1 - Requerimento A vigente lei orgânica aboliu o sistema de fichas (16) em 3 vias previstas na lei 5682/71 , bastando, atualmente, o requerimento ao órgão partidário competente, que, no entanto, a seu critério, ainda poderá adotar as velhas fichas uma das quais servirá de comprovante ao eleitor (art. 6°, § 2°, PSDB). (16) As fichas existentes nos cartórios eleitorais foram devolvidas aos partidos para, com base nelas, elaborarem uma relação de filiados para ser arquivada perante a Justiça Eleitoral (art. 58). 84 DIREITO ELEITORAL O requerimento deve ser dirigido à Comissão Executiva Municipal, ou Zonal, se houver. Não existindo uma ou outra, o requerimento poderá ser dirigido à Comissão Executiva Estadual ou à Comissão Provisória designada para organizar o partido (art. 5°, PMDB). No PSDB, ao invés da Comissão Executiva, o requerimento deve ser dirigido ao Diretório (art. 5°). 6.3.2 - Impugnação à filiação A vigente lei não prevê regras para impugnação de pedido de filiação. Porém, como na legislação anterior, os estatutos prevêem um procedimento próprio para a filiação no qual se admite que o pedido pode ser impugnado por qualquer outro filiado no prazo de 5 (cinco) dias, contados do edital respectivo (art. 5°, § 2°, PMDB). O impugnado dispõe de prazo idêntico para contestar a impugnação. A decisão desta lide caberá à Comissão Executiva Municipal, ou Diretório Municipal ou Zonal, se for o caso, que terá 10 (dez) dias para decidir. Se a Comissão não se manifestar neste prazo, dar-se-á o deferimento tácito (art. 5°, § 5°, PMDB). 6.3.3 - Recursos Da decisão da Comissão Municipal sobre a filiação partidária cabe recurso partidário interno, no prazo de 3 (três) dias, ao órgão partidário interno hierarquicamente superior, no caso a Comissão Estadual, na forma como estabelecer o estatuto do partido (art. 5°, § 6°, PMDB). No PSDB, o prazo para o recurso é de 5 dias (art. 7°, § 4°). Desta decisão, se denegatório o pedido de filiação, caberá recurso especial à Comissão Nacional caso tenha sido tomada por menos de 2/3 dos votos (art. 7°, § 5°, PSDB). Idêntica disposição consta do PMDB (art. 5°, § 7, I). 6.4 - Controle judicial da filiação Embora a filiação partidária não dependa de controle prévio pelo juiz eleitoral, determina o art. 19, lei 9096/95, com redação dada pelo art. 103, lei 9504/97 (17), que na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ano o partido envie à justiça eleitoral, para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação para fins de candidaturas, uma relação com os nomes de todos os filiados, constando a data de filiação, o número dos respectivos títulos eleitorais e as seções onde votam (art. 19). Interpretando este dispositivo, o TSE respondeu a consulta n° 0361 e firmou que no ano de 1998 o prazo para os partidos apresentarem a relação de filiados foi de 08 a 14 de abril e 08 a 14 de outubro, vez que a primeira semana começou no meio. É por meio desta relação, que substituiu as fichas, que o juiz eleitoral aferirá o cumprimento dos prazos de filiação (art. 18). Não sendo encaminhada a relação no prazo, presume-se que não houve filiações nem desfiliações no período (art. 19, § 1°).

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(17)Na redação original o prazo era a primeira semana dos meses de maio e dezembro. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 85 Se o partido, porém, muito embora haja filiações, não remeter a relação, qualquer prejudicado poderá fazê-lo diretamente, despontando, assim, uma legitimidade subsidiária (art. 19, § 2°). 6.5 - Desfiliação partidária A desfiliação partidária não se confunde com o cancelamento de filiação, posto que é voluntária, enquanto esta é automática ou compulsória. Como a filiação, a desfiliação também é ato pessoal e depende, praticamente, da vontade do eleitor filiado. Para desligar-se do partido ao qual se acha filiado basta que o eleitor comunique por escrito ao Diretório Municipal e, em seguida, fazendo prova desta comunicação, comunique também ao juiz eleitoral da respectiva zona eleitoral (art. 21). Decorridos dois dias da entrega da comunicação ao juiz eleitoral ter-se-á por extinto o vínculo, independente de qualquer manifestação destes órgãos (art. 21 , par. único). Problemas interessantes surgiram neste ano: a) o partido não existe no município: filiados ao PRN, alegando que no Município de Trindade, onde residem, não existia nenhum órgão partidário, comunicaram ao juiz eleitoral a desfiliação e se filiaram a outro partido, provando a inexistência do mencionado órgão. Nenhum dos estatutos consultados tem regra expressa quanto a esta situação, mas a solução dada pela justiça eleitoral foi a de considerar desfeito o vínculo partidário para todos os efeitos, vez que o eleito não poderia ficar prejudicado pela falha do próprio partido que se esvaiu junto com o destino do seu criador, o ex- presidente Fernando Collor de Mello. Talvez se pudesse aplicar uma analogia inversa, tomando por exemplo o estatuto do PSDB para, no caso de filiação, inexistir órgão municipal. Dispõe o art. 5°, § 1°, parte final, que "... nos municípios onde não exista Diretório constituído, a filiação será feita pela Comissão Executiva ou Provisória Estadual". Mais claro ainda é o estatuto do PMDB (art. 5°, § 1°): "Não existindo Comissão Executiva Municipal ou Zonal, a inscrição far-se-á junto à Comissão Executiva Estadual ou perante a Comissão Provisória designada para organizar o partido". Portanto, o caminho correto para a desfiliação, não havendo órgão partidário municipal, é a comunicação ao órgão estadual, ou mesmo nacional, em última hipótese. A falta de comunicação ao partido mantém o vínculo partidário para todos os efeitos de direito; b) prazo para comunicação ao juiz eleitoral: quem se filia a outro partido deve fazer comunicação ao partido e ao juiz de sua respectiva Zona Eleitoral, para cancelar sua filiação; se não o fizer no dia imediato ao da nova filiação, fica configurada dupla filiação, sendo ambas consideradas nulas para todos os efeitos (art. 22, par. único). Da combinação deste artigo com o art. 21 , resulta que o eleitor filiado a um partido político pode se filiar a outro, mas, até o dia imediato ao desta nova filiação deve comunicar ao juiz eleitoral respectivo para que determine o cancelamento da filiação anterior. Não o fazendo neste prazo, configura-se a duplicidade de filiações e ambas serão canceladas. Dispõe, a respeito, a súmula 14 do TSE: "A duplicidade de que cuida o parágrafo único do artigo 22 da Lei n° 9O96/95 somente fica 86 DIREITO ELEITORAL caracterizada caso a nova filiação houver ocorrido após a remessa das listas previstas no parágrafo único do artigo 58 da referida lei" (Súmula 14 do TSE). 6.6 - Cancelamento da filiação São causas que provocam o cancelamento automático da filiação partidária a morte do filiado, perda de direitos políticos e expulsão do partido, além de outras previstas no estatuto, como o desligamento compulsório e a abstinência ou absenteísmo partidário (art. 7°, PMDB e art. 11, § 1°, PSDB),

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o que se dá quando o filiado deixar de comparecer a duas Convenções consecutivas injustificadamente (art. 7°, § 1°, PMDB). Nestes casos, o eleitor desfiliado deve ser comunicado no prazo de 48 horas da decisão (art. 22, IV, lei 9096/95). Da decisão do partido que cancela a filiação cabem os mesmos recursos de quando se indefere o pedido de filiação. 7 - Da fidelidade e disciplina partidárias 7.1 - Noções Dispõe o art. 23 da lei orgânica que "a responsabilidade por violação dos deveres partidários deve ser apurada e punida pelo competente órgão, na conformidade do que disponha o estatuto de cada partido". Regulamentando este artigo, o estatuto do PSDB prevê regras específicas de fidelidade e disciplina partidárias, com sanções para os filiados e seus próprios órgãos inferiores. O PTB, por sua vez, separa em capítulos próprios as sanções aos filiados e intervenção e dissolução partidária. Assim, as medidas necessárias para garantir a disciplina do partido ou a fidelidade partidária devem ser desdobradas quanto ao partido em si e quanto aos filiados. 7.2 - Quanto ao partido 7.2.1 - Noções Para assegurar a fidelidade e disciplina partidárias são previstas como sanções a intervenção ou a dissolução em órgão inferior ou a destituição de suas Comissões. 7.2.2 - Da intervenção A intervenção é medida extrema e só pode ser decretada quando não houver outra solução, numa das hipóteses expressamente previstas no estatuto do partido (18), como o art. 86 do PTB. São causas que autorizam a intervenção (art. 136, PSDB): (18) Segue-se, na intervenção de órgão partidário, a mesma orientação da intervenção da União nos Estados, ou destes nos Municípios, o que só pode ocorrer numa das hipóteses previstas no art. 34 da Constituição Federal. A fórmula utilizada pelo estatuto do PTB, como da Constituição, é negativa, o que aponta para a absoluta exceção. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 87 a) manter a integridade partidária; b) reorganizar as finanças e regularizar as transferências de recursos para outros órgãos partidários; c) assegurar a disciplina e fidelidade partidárias; d) impedir acordo ou coligação com outros partidos em desacordo com as decisões superiores; e) preservar as normas estatutárias, a ética partidária e a linha política fixada pelos órgãos competentes; f) garantir o exercício da democracia interna, dos direitos dos filiados e das minorias. Concedido o prazo de 8 dias para o órgão visado se defender, a intervenção poderá ser decretada pelo voto de 3/5 dos membros do órgão competente, que designará comissão de até 7 membros para geri-lo (art. 136, §§ 2° e 3°). Não há prazo específico de duração da intervenção, que perdurará pelo tempo que for necessário, permanecendo suspensas as atividades do órgão partidário (art. 136, § 5°). 7.2.3 - Da dissolução e destituição A dissolução e a destituição são penas administrativas que se aplicam ao Diretório ou Comissão Executiva, respectivamente, que violar o programa ou estatuto do partido ou desrespeitar deliberação superior ou que venha sofrer intervenção (art. 137, PSDB). Competente para aplicar a penalidade é o Diretório superior. O Diretório ou Comissão Executiva visado será citado para, em 5 dias, apresentar defesa escrita. Embora tratados no mesmo

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dispositivo, a pena de dissolução é aplicável ao Diretório, enquanto que a de destituição, à Comissão Executiva (art. 137, § 3°, PSDB). Da decisão condenatória caberá recurso para o órgão superior, no prazo de 5 dias (art. 91, PTB). a) pena de dissolução: aplicada a pena de dissolução ao Diretório, será designada Comissão Provisória para reger o órgão enquanto não se realizar a Convenção. A Comissão Provisória, no entanto, terá poderes restritos para preparar a mencionada Convenção (art. 138, PSDB), salvo se faltar menos de 1 ano para terminar o mandato, caso em que a Comissão poderá completá-lo (art. 138, § 1 °); b) pena de destituição: aplicada pena de destituição à Comissão Executiva, o Diretório respectivo será convocado pelo seu membro mais idoso para, dentro de 30 dias, eleger nova Comissão para completar o mandato (art. 138, § 2°). 88 DIREITO ELEITORAL 7.3 - Quanto ao filiado 7.3.1 - Noções Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção partidários, na forma do estatuto (art. 24, lei 9096/95). 7.3.2 - Penalidades aplicáveis Além das medidas disciplinares básicas de caráter partidário, o estatuto do partido poderá estabelecer, ao parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos partidários, normas sobre as seguintes penalidades (art. 25, lei 9096/95): a) desligamento temporário da bancada; b) suspensão do direito de voto nas reuniões internas; c) perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que exerça em decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa. Além destas penas previstas na lei orgânica, os estatutos dos partidos geralmente prevêem as seguintes (art. 110, PTB): a) advertência; b) suspensão; c) expulsão com cancelamento de filiação; d) destituição de cargo partidário.; e) desligamento temporário da bancada f) negativa de legenda para disputar cargo eletivo (art. 133, IV, PSDB). A pena de destituição de cargo partidário é prevista também na lei orgânica para o caso de mudança de partido: "Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em virtude da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito"' (art. 26). 7.3.3 - Procedimento Filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição por conduta que não esteja tipificada no estatuto do partido político. É uma espécie de "princípio da legalidade estatutária" (art. 23, § 1°, lei 9096/95), e sempre será assegurado ao acusado o direito à ampla defesa (art. 23, § 2°). As denúncias serão sempre apuradas, desde que contenham a identificação do ARI FERREIRA DE QUEIROZ 89 denunciante e sejam formuladas por escrito (art. 118, PTB). O processo disciplinar será conduzido pelo Conselho de Ética e Disciplina (art. 121 ), ou pela Comissão Executiva, se for contra membro do Conselho. Primeiramente, serão inquiridas as testemunhas e somente após será interrogado o acusado (art. 128). A defesa será apresentada após esta fase,

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se ficar tipificada infração disciplinar e forem especificados os fatos imputados (art. 129). Após o julgamento, caberá recurso no prazo de 10 dias ao Diretório respectivo nos efeitos devolutivo e suspensivo (art. 136). 8 - Prestação de contas Como visto, o partido registrado junto ao TSE tem direito de receber doações e dotações orçamentárias, por isso é obrigado a prestar contas, incluindo receitas e despesas (art. 30). A prestação de contas consiste no envio anual, até 30 de abril, à justiça eleitoral, de um balancete (art. 32) contendo a discriminação dos valores recebidos oriundos do fundo partidário, origem das doações e contribuições, despesas de caráter eleitoral e mais detalhes de receitas e despesas (art. 33). Em ano eleitoral os balancetes devem ser remetidos nos 4 meses anteriores e nos (dois) 2 posteriores ao pleito (art. 32, § 3°). Cada partido tem o direito de examinar perante e justiça eleitoral as prestações de contas dos demais no prazo de 15 dias depois de publicadas (art. 36). A falta de prestação de contas, ou a desaprovação, sujeita os responsáveis às penas da lei e suspende o recebimento de cotas do fundo partidário (art. 37). ARI FERREIRA DE OUEIROZ 91 VI - DO ALISTAMENTO ELEITORAL 1 - Noções 2 - Prazo para o alistamento 3 - Procedimento 4 - Impugnação 5 - Efeitos do alistamento eleitoral 6 - Descumprimento do dever eleitoral 7 - O domicílio eleitoral 7.1 - Noções 7.2 - Transferência 7.3 - Alteração sem transferência 7.4 - Impugnação recursal 8 - Cancelamento e exclusão de eleitores 8.1 - Noções 8.2 - Causas 8.3 - Procedimento 8.4 - Revisão eleitoral 1 - Noções O alistamento é o processo por meio do qual o indivíduo tem o seu nome incluído no corpo eleitoral, sendo, pois, daí por diante, cidadão, titular do direito de cidadania. Pelo alistamento se reconhece no indivíduo a condição de eleitor. No sistema constitucional vigente o alistamento eleitoral é obrigatório, exceto para os menores de 16 anos, os incapazes por qualquer causa, os que não saibam se expressar na língua nacional e os que estejam privados temporária ou definitivamente de direitos políticos, a quem se nega o direito de alistar-se. Além destes, excepcionalmente, embora possam, não são obrigados ao alistamento os inválidos, os maiores de 70 anos e os que se encontrem fora do país (art. 6°, I, CE). 2 - Prazo para o alistamento Sendo brasileiro nato, o marco inicial para o alistamento obrigatório é a idade de 18 anos, devendo cumprir a obrigação até completar 19 anos; sendo brasileiro naturalizado, deverá fazê-lo até 1 (um) ano após adquirir a nacionalidade brasileira (art. 8°, CE). Em qualquer condição, o excesso de prazo sujeita o cidadão ao pagamento de multa arbitrada pelo juiz eleitoral. Nenhum requerimento será recebido para inscrição, no entanto, dentro de 100 dias anteriores ao pleito (art. 67), salvo em se tratando de menor que completa 16 anos depois desta data, como já decidiu o TSE. Para as eleições de 1998 e seguintes consta do art. 91 da lei 9504/97 que não se admitirá alistamento dentro dos 150 dias que antecederem ao pleito. Decorrido este prazo, somente após o encerramento dos trabalhos da junta eleitoral é que poderá ser reaberta a oportunidade para o alistamento (art. 70, CE). 3 - Procedimento O alistamento eleitoral começa com requerimento do interessado preenchendo o formulário modelo fornecido pela justiça eleitoral, em cartório. O requerimento deve ser instruído com fotografias e documentos

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idôneos que provem quitação com o serviço militar, estado civil, endereço, e nacionalidade brasileira (art. 44, CE). O requerimento faz a qualificação do pretendente e a final servir-lhe-á de inscrição (art. 42, CE). Deferido o pedido e assinado o seu título pelo juiz, ser-lhe-á entregue (art. 45, § 4°). A figura do preparador eleitoral, que também tinha competência DIREITO ELEITORAL 92 para entregar o título ao eleitor, não existe mais, vez que todo o capítulo (arts. 62 a 65) foi revogado pela lei 8868/94. 4 - Impugnação Do ato do juiz que negar o pedido de alistamento, assim como do que a deferir, cabe recurso ao TRE, no prazo de 3 dias, que é a regra geral de prazo em todos os recursos eleitorais quando não haja disposição em contrário. Do ato que deferir, tem legitimidade para recorrer qualquer delegado de partido político, mas do que indeferir só pode recorrer o próprio alistando interessado (art. 45, § 7°). Para tanto, os partidos políticos, por intermédio do presidente do diretório, podem credenciar perante o juiz eleitoral até 3 delegados, a fim de acompanhar o processo de alistamento (art. 66, § 1 °, CE). 5 - Efeitos do alistamento eleitoral a) cria a condição de eleitor; b) define o número necessário de deputados ou vereadores nas eleições proporcionais; c) fixa o número de eleitores em cada região; d) estabelece o marco inicial do domicílio eleitoral para fins de elegibilidade; e) vincula o eleitor, enquanto não ocorrer alterações, a um domicílio eleitoral. 6 - Descumprimento do dever eleitoral O indivíduo obrigado a alistar-se eleitoralmente que deixa de fazê-lo não estará em dia com seus direitos políticos, do que decorrerá uma série de sanções, previstas no art. 7°, CE, como, não poder participar de concurso ou concorrência pública, obter passaporte ou carteira de identidade, receber vencimentos em órgão público etc. 7 - O domicílio eleitoral 7.1 - Noções O conceito de domicílio eleitoral tem suscitado enormes controvérsias na doutrina e Jurisprudência, vez que o art. 42, par. único, CE, não seguiu a mesma regra do art. 31 , CC. Para este, domicílio é igual animo definitivo de estabelecer o centro das ocupações, enquanto naquele é a residência ou moradia do alistando. No TRE goiano, como no TSE, se tem decidido por um conceito mais amplo de domicílio eleitoral do que o civil, valendo como tal a existência de patrimônio do eleitor onde se pretende o alistamento, como se vê das seguintes ementas: ARI FERREIRA DE OUEIROZ 93 Ementa: Domicilio eleitoral. Provado vínculo patrimonial e diuturnas atividades econômicas e sociais, tem-se caracterizado o domicílio eleitoral, justificando-se a opção para a inscrição eleitoral. Recurso improvido. Ementa: Recurso eleitoral. Domicílio eleitoral. Vínculo patrimonial. I - Provando o eleitor possuir bens imóveis no município, admite-se sua inscri• ão como eleitor, em face ao vínculo patrimonial existente. 2 - Recurso conhecido e provido. 7.2 - Transferência O eleitor que se mudar de domicílio deve requerer a transferência ao juiz do novo, observando os requisitos previstos em lei (art. 55, CE) como regra geral, salvo disposições especiais, como a que se viu nas eleições de 1996, em que não se admitiu transferência no mesmo ano entre Municípios limítrofes de unidades diferentes da federação (art. 73, § 1º da lei 9.100/95). A regra atual é a seguinte:

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a) requerer até 150 dias antes da eleição (art. 91, lei 9504/97). Este prazo tem variado a cada eleição, e até 1994 era de 100 dias; b) ter 1 ano de inscrição originária, ou na inscrição anterior, se já se transferiu uma vez; c) residir a 3 meses no novo domicílio Os requisitos das letras b e c não se aplicam se o requerente for servidor público que tenha sido transferido ou removido a serviço (art. 55, § 2°, CE). 7.3 - Alteração sem transferência Quando o eleitor mudar de endereço dentro do mesmo município, ou zona, de modo que fique distante da seção eleitoral onde deveria votar, poderá requerer ao juiz eleitoral que altere tal lugar, anotando-se na folha de votação e no título eleitoral, sem, contudo, implicar em transferência. A transferência opera-se entre juízes de zonas eleitorais e municípios diversos. A simples mudança entre a mesma zona, ou, embora sendo zona diversa, no mesmo município, não implica em transferência, mas apenas na alteração anotada na folha respectiva (art. 46, § 3°, II, CE). 7.4 - Impugnação recursal Do ato do juiz que nega pedido de transferência, o eleitor poderá recorrer ao TRE no prazo de 3 dias; sendo, porém, deferida a transferência, a legitimidade para recorrer é de qualquer delegado de partido (art. 57, § 2º, CE), no mesmo prazo e ao mesmo TRE. 94 DIREITO ELEITORAL 8 - Cancelamento e exclusão de eleitores 8.1 - Noções A condição de eleitor é permanente até que, por decisão judicial, seja cancelada a sua inscrição e excluído do cadastro eleitoral. As causas de cancelamento com exclusão estão previstas no art. 71 , CE, complementado pela Constituição Federal, nos casos de perda de direitos políticos. 8.2 - Causas a) infração ao art. 5°, CE: o art. 5°, CE, exceto quanto ao analfabeto, dispõe sobre quem não pode se alistar, que são os privados de direitos políticos e os que não souberem se expressar na língua nacional. Verificando-se que fora alistado alguém nesta condição, o juiz, de ofício ou a requerimento de delegado de partido ou de qualquer eleitor, determinará o cancelamento da inscrição e a exclusão do eleitor (art. 71 , § 1°); b) infração ao art. 42, CE: o art. 42 dispõe sobre o domicílio eleitoral como condição necessária para o alistamento. Verificando a fraude, o eleitor deve ser excluído; c) suspensão ou perda de direitos políticos: o exercício de direitos políticos é pressuposto para o alistamento, pelo que o indivíduo que dele for privado deve ser excluído do cadastro. Por isso, o juiz que impuser pena de privação de direitos políticos deverá comunicar ao juiz eleitoral ou ao TRE, se for o caso, para as providências cabíveis (art. 71 , § 2°); d) pluralidade de inscrições: ninguém pode ser eleitor em mais de um lugar, devendo escolher um domicílio, quando tiver mais de um. Verificando a duplicidade, cancela-se a inscrição mais antiga (art. 75); e) morte do eleitor: a morte do eleitor é causa natural de cancelamento de sua inscrição. Para tanto, o oficial de registro civil deve enviar ao juiz eleitoral até o dia 15 de cada mês a relação dos óbitos ocorridos no mês anterior para as providências cabíveis (art. 71, § 3°); f) deixar de votar em 3 eleições: o eleitor que não votar em três eleições seguidas, nem pagar a multa correspondente, nem se justificar perante o juiz eleitoral (art. 7°, § 3°, CE), terá a inscrição cancelada (art. 71 , V). 8.3 - Procedimento O processo de cancelamento e exclusão de eleitor pode ser iniciado de

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ofício, ou a requerimento de delegado de partido ou de qualquer eleitor (arts. 71, § 1° e 74). Sendo de ofício, o juiz deverá baixar portaria determinando 0 processamento e as providências a serem tomadas pelo escrivão eleitoral e, neste caso ou no caso de requerimento, mandará autuar com os documentos e publicar editais pelo prazo de 10 dias, abrindo-se o prazo de 5 a 10 dias para provas. A seguir, em 5 dias o juiz decidirá (art. 77). O ato do ARI FERREIRA DE OUEIROZ 95 juiz que decide o processo é uma sentença contra a qual cabe recurso de apelação (art. 78) no prazo de 3 dias a ser interposta por delegado de partido ou pelo excluendo (art. 80). Quando a causa de cancelamento for a morte notória, não é necessário que se publiquem editais, nem a abertura de prazo para produção de provas, vez que fatos notórios não se sujeitam a provas (art. 79). 8.4 - Revisão eleitoral Havendo fundada suspeita de fraude no alistamento eleitoral, com o surgimento de eleitores "fantasmas", o TRE poderá determinar ao juiz eleitoral que faça uma correição, visando identificar as causas e extensão do problema. A forma de realizar a correição fica a critério do juiz, salvo se expressamente o TRE determinar o modus operandi. Provada a fraude, o TRE determinará que seja feita a revisão do eleitorado, na verdade um recadastramento, de acordo com instruções do TSE (art. 71 , § 4°). Os eleitores que não se recadastrarem terão os títulos cancelados de ofício pelo juiz eleitoral, por sentença (art. 72). Se, eventualmente, cessar a causa que autorizou o cancelamento, é lícito ao eleitor requerer nova inscrição, mas não tem o direito de requerer que se lhe devolva a inscrição antiga, vez que se trata de título extinto por sentença (art. 81, CE). O TSE pode, de ofício, determinar que se faça revisão eleitoral sempre que (art. 92, lei 9504/97): a) verificar que o total de transferências de eleitores no ano em curso for 10% maior que o do ano anterior; b) o eleitorado corresponder a mais que 65% da população projetada pelo IBGE; c) o eleitorado for mais que o dobro da população entre 10 a 15 anos, somada à de idade superior a 70 anos no território do município. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 97 VII - ESCOLHA E REGISTRO DE CANDIDATOS 1 - Noções 2 - Coligações partidárias 2.1 - Noções 2.2 - Outras regras sobre as coligações 3 - Competência para o registro 4 - Legitimidade para requerer o registro S - Prazo para registrar 6 - Nome do candidato 6.1 - Eleições majoritárias 6.2 - Eleições proporcionais 7 - Quantidade de candidatos 7.1 - Eleições proporcionais 7.2 - Eleições majoritárias 8 - Impugnação ao pedido de registro 8.1 - Legitimidade 8.2 - Competência 8.3 - Prazos 8.4 - Procedimento 8.5 - Eficácia do julgamento 8.6 - Cancelamento do registro por decisão partidária 9 - Substituição de candidatos 10 - Investigação judicial 10.1 - Noções 10.2 - Finalidades 10.3 - Legitimidade 10.4 - Competência 10.5 - Procedimento 1 - Noções Em todas as eleições há mais candidatos do que vagas, por isso é necessário um processo partidário seletivo prévio para se escolher quem vai disputar, levando o seu nome a registro. O registro torna público o candidato e sujeita-o aos ônus e direitos do encargo. É um procedimento jurisdicional dentro do processo eleitoral, vez que é feito perante o órgão competente do

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Poder Judiciário. 2 - Coligações partidárias 2.1 - Noções É facultado aos partidos se coligarem em busca de conveniências para vencer eleições e conquistar o poder. A legislação eleitoral definirá as regras da coligação, inclusive dispondo sobre a possibilidade de se fazê-lo para as eleições proporcionais e majoritárias, ou a apenas uma delas. Para as eleições de 1998 e seguintes, desde que seja na mesma circunscrição, (l9) os partidos poderão se coligar tanto para a eleição majoritária como para as proporcionais. Aliás, é permitida mais de uma coligação para eleição proporcional entre os partidos que integram a coligação majoritária (art. 6°, lei 9504/97). Efetivada a coligação, esta é que passa a ter existência perante a justiça eleitoral e no trato de interesses interpartidários, por isso deverá ter nome próprio, com ou sem a junção dos nomes dos partidos que a integram (art. 6°, § 1 °, lei 9504/97). 2.2 - Outras regras sobre as coligações A coligação tem vida própria perante os interesses partidários e a justiça eleitoral. Cabe-lhe, por meio de um representante, requerer o registro dos candidatos, embora seu direito não exclua idêntico direito dos presidentes dos partidos coligados, seus delegados ou da maioria dos membros dos (19) O Estado, para eleição da Assembléia Legislativa, governadoria, Câmara Federal e Senado, e o País, para a eleição presidencial. DIREITO ELEITORAL 98 respectivos órgãos executivos de direção. A coligação deve escolher um representante a quem se deferem as atribuições de presidente de partido (art. 6°, § 3°, II e III, lei 9504/97). É lícito aos partidos que compõem a coligação indicar delegados para representá-la perante a justiça eleitoral, desde que não seja mais que 3 perante o juiz eleitoral, 4 no TRE e 5 no TSE (art. 6°, § 3°, IV, lei 9504/97). 3 - Competência para o registro A competência para registrar o candidato varia conforme se trate de eleição municipal, estadual e federal ou presidencial. Para a primeira, competente é o juiz eleitoral; para as segundas, o TRE; para a última, o TSE (art. 89, CE). Assim, sendo candidato a presidente e vice-presidente da República, o registro é feito no TSE; sendo candidato a vereador, prefeito e vice-prefeito e a juiz de paz, o registro é feito perante o juiz eleitoral da zona eleitoral a que corresponder o município; sendo candidato aos demais cargos, o registro é feito no TRE. 4 - Legitimidade para requerer o registro Cabe ao partido ou coligação, em convenção, escolher e indicar os nomes de seus candidatos aos cargos a serem preenchidos, bem como, por meio do seu presidente ou delegado, providenciar o registro perante a justiça eleitoral. Independe de ser escolhido em convenção o candidato que for detentor de mandato de deputado estadual, federal ou distrital e os vereadores, bem como quem os tenham substituído, têm direito garantido de disputar a reeleição pelo mesmo partido (art. 8°, § 1 °, lei 9504/97). Não gozam desta prerrogativa os candidatos a cargos majoritários do Poder Executivo ou do Senado Federal. 5 - Prazo para registrar O prazo para requerer o registro é fixado em lei (art. 87, CE), mas nenhum registro será admitido fora do período de 6 meses antes do pleito. Para as eleições de 1994, dispôs o art. 11 da lei 8713/93 que o registro deveria ser lavrado até as 19:00 horas do dia 10/06/94, 120 dias antes do pleito de 03/10/94; para as eleições de 1996, o prazo se venceu em 5 de

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julho do mesmo ano (art. 12, lei 9100/95), facultando-se, na hipótese de o partido não requerer o registro, ao próprio candidato, em 48 horas após o prazo, requerer o registro. Para as eleições de 1998 e seguintes, os candidatos serão escolhidos pelas convenções partidárias entre os dias 10 e 30 de junho (art. 8°), e registrados até as 19:00 horas do dia 5 de julho do ano da eleição. O nome escolhido como candidato deverá ser levado a registro perante o órgão competente da justiça eleitoral até o dia 05 de julho (art. 11, lei 9504/97), instruindo o requerimento com documentos que provem a filiação partidária, a ata de escolha, declaração de bens, certidões criminais e fotografia, entre outros (art. 11, § 1°, I a VIII, lei 9504/97). Se ARI FERREIRA DE OUEIROZ 99 nenhum legitimado do partido requerer o registro, o próprio candidato, até 48 horas após o prazo, poderá fazê-lo (art. 11 , § 4°, lei 9504/97). 6 - Nome do candidato 6.1 - Eleições majoritárias Segundo o art. 95, CE, o candidato pode ser registrado sem o prenome, ou com o nome abreviado, desde que não haja dúvidas sobre a identificação. Esta regra é válida também para as eleições proporcionais, vez que o CE não a limita a uma ou outra eleição. Para as eleições de 1994,o candidato a cargo majoritário (presidente, governador e senador) podia ser registrado com o nome que indicasse, desde que não atentasse contra o pudor ou fosse irreverente e não deixasse dúvidas quanto à sua identidade. Regra idêntica foi adotada para as eleições de 1996 (art. 17, lei 9100/95). Para as eleições de 1998 e seguintes, o candidato deverá ser identificado pelo nome que indicar no registro (art. 83, § 1 °, lei 9504/97). 6.2 - Eleições proporcionais Nas eleições proporcionais de 1994, o candidato podia ser registrado com o seu nome e mais duas variações, que podiam ser cognome, apelido, abreviatura ou sobrenome e respeitassem as demais regras do cargo majoritário. Regra idêntica foi mantida em 1996 (art. 13, lei 9100/95). Doravante, o candidato poderá ser registrado com até 3 variações de nome, além de seu nome oficial. Se houver homonímia comprovada, prevalecerá quem prove ser mais conhecido com o nome indicado, ou que esteja exercendo mandato eletivo, ou o tenha exercido nos últimos 4 anos, ou pelo menos se candidatado com esse nome naquele período. Poderá, ainda, ser preferido o candidato que seja mais conhecido na vida pública pelo nome indicado. Afora estes casos, se não houver acordo entre os candidatos, a justiça eleitoral fará o registro com o nome e sobrenome constantes do pedido, observando-se a ordem de preferência ali definida (art. 12, § 1°, e incisos, lei 9504/97). 7 - Quantidade de candidatos 7.1 - Eleições proporcionais Fixando uma regra geral, que pode ser modificada em cada eleição, o art. 92, CE, dispõe que nas eleições proporcionais o número de candidatos a deputados estaduais e federais pode corresponder a até 50% a mais que o de lugares a preencher. Assim, se a Assembléia Legislativa é composta por 40 deputados, cada partido pode ter até 60 candidatos. Nas eleições para vereadores podem ter 3 vezes o número de vagas. A lei que regulamentou as eleições de 1994 estabeleceu que cada partido podia registrar tantos candidatos quantas fossem as vagas a serem preenchidas aos cargos de deputado federal, deputado estadual e deputado distrital (art. 7°, Processo 100 DIREITO ELEITORAL 14.002, de 18/11/93). Se houvesse coligação partidária, independente do número de partidos que a integrasse o limite seria de uma vez e meia o número de vagas, mas cada partido ficaria limitado à quantidade que teria se não houvesse a coligação. Nas eleições municipais de 1992, a lei 8214

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estabeleceu o limite de 2 vezes o número de vagas de vereadores o partido, ou 3 vezes por coligação. Para as eleições municipais de 1996 c da partido ou coligação podia indicar até tantos candidatos mais 20% quantas fossem as vagas a serem preenchidas (art. 11, lei 9100/95). Esta mesma lei inovou ao reservar 20%, no mínimo, das vagas para as candidaturas de mulheres (art. 1°, § 2°). A lei 9504/97, regulamentando as eleições de 1998, manteve a técnica de reserva em razão do sexo (art. 10, § 3º). Doravante portanto, valem as seguintes regras: a) cada partido pode indicar tantos candidatos, mais 50%, quantas sejam as vagas a que tem direito na Câmara Federal, por cada Estado (art. 10, caput); b) havendo coligação, qualquer que seja o número de partidos, a quantidade de candidatos pode ser dobrada em relação ao de vagas a serem preenchidas (art. 10, § 1º), c) nos Estados com até 20 vagas a preencher na Câmara Federal, tanto para esta, como para as Assembléias Legislativas, os partidos não coligados podem indicar até o dobro de candidatos quantas sejam as vagas (art. 10, § 2º , primeira parte); d) na hipótese anterior, havendo, porém, coligação, ao dobro pode ser acrescido mais 50% (art. 10, § 2°, segunda parte); e) qualquer que seja a quantidade de candidatos numa das hipóteses anteriores, deve ser reservado no mínimo 30% e, no máximo, 70% para candidatos de cada sexo (art. 10, § 3°). Para as eleições de 1998 0 percentual de reserva de vagas por sexo foi de 25%, no mínimo, e 75%, no máximo (art. 80, lei 9504/97); f) as frações inferiores a meio, resultante dos cálculos das regras acima, serão desprezadas, mas as superiores serão igualadas a um, que é o número imediatamente superior (art. 10, § 4°); g) se as convenções partidárias não indicarem, para registro, o número máximo de candidatos a que tem direito o partido ou coligação, os órgãos de direção dos respectivos partidos poderão completar até 60 dias antes das eleições (art. 10, § 5°). 7.2 - Eleições majoritárias Nem o Código Eleitoral, nem as leis que fixam regras para as eleições ao Senado, fixam quantitativo de candidatos por cada partido. Por conseguinte, cada partido ou coligação pode indicar tantos candidatos quantas sejam as vagas a serem preenchidas, que varia a cada eleição entre um e dois terços, alternadamente (art. 46, CF). Assim, nas eleições de ARI FERREIRA DE OUEIROZ 101 1990, cada partido pode ter um candidato; nas de 1994 como eram duas as vagas, 2 fora o número de candidatos art. 7º , lei 8713/93); para as eleições de 1998, novamente se reduziu a um candidato porque a renovação foi de apenas um terço do Senado (art. 6°, res. 20100). Por expressa disposição constitucional, cada candidato a senador é registrado com dois suplentes. 8 - Impugnação ao pedido de registro 8.1 - Legitimidade Protocolizado o requerimento de registro, o juiz eleitoral fará publicar edital pela forma convencional para conhecimento dos interessados (art. 97, CE, e 3°, LC 64/90). Qualquer candidato, partido político ou coligação por meio de advogado, ou do Ministério Público, poderá impugnar o pedido. A impugnação dos demais legitimados não impede ação idêntica por parte do Ministério Público (art. 3°, § 1°, LC 64/90), mas o promotor de justiça que tenha de alguma forma exercido atividade político-partidária nos últimos 4 anos fica impedido de impugnar (art. 3°, § 2°, LC 64/90). A legitimidade para impugnar pedido de registro de candidaturas não é estendida aos eleitores, que somente podem dar notícia ao juiz em 5 dias, contados da ciência do fato (art. 22, § 2°, res. 20.100, TSE), estando revogado o art. 97, § 3°, CE. 8.2 - Competência

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Competente para processar e julgar a impugnação de registro é o juiz eleitoral, nas eleições municipais, o TRE, nas estaduais e federais, e o TSE, na eleição presidencial. Contra a sentença cabe recurso de apelação ao TRE, em 3 dias; contra decisão do TRE, cabe recurso ordinário ao TSE (art. 121 , 3°, CF). Contra a decisão do TSE, somente tem lugar o recurso extraordinário nos casos previstos na Constituição. 8.3 - Prazos O prazo para impugnação é de 5 dias, contados da publicação do edital com o pedido de registro. O prazo previsto no art. 97, § 2°, CE, foi modificado pelo art. 3° da LC 64/90, que também revogou o § 3° do mesmo artigo. De igual forma, o prazo para resposta do candidato, partido ou coligação, que era de 2 dias (art. 97, § 4°, CE), foi elevado para 7 dias (art. 4°, LC 64/90 e art. 23, res. 19509, TSE). Todos os prazos são contínuos e peremptórios, correm na secretaria ou em cartório, pelo que os autos não podem ser retirados, e a partir do dia do encerramento do prazo para registro podem se vencer ou iniciar em sábados, domingos e feriados (art. 16, LC 64/90). O prazo para recurso corre em secretaria, automaticamente, após o vencimento do prazo que tem o juiz para proferir a sentença, salvo se este não for cumprido, caso em que começará após a intimação (art. 9°, LC 64/90). Após o julgamento do recurso no TRE e da publicação do acórdão tem início o prazo de 3 dias para recurso ao TSE (art. 11, § 1°, LC 64/90). 102 DIREITO ELEITORAL 8.4 - Procedimento O procedimento da impugnação do registro é especial, previsto na lei complementar 64/90. Subsidiariamente aplicam-se as regras do procedimento ordinário do CPC. Pelo procedimento especial, podem ser arroladas até 6 testemunhas por cada parte (art. 3°, § 3°, LC 64/90) e depois de finda a instrução o juiz decidirá por sentença no prazo de 3 dias (art. 8°, LC 64/90), cabendo recurso ao TRE em 3 dias (art. 8°, LC 64/90). 8.5 - Eficácia do julgamento Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido (art. 15, LC 64/90). O efeito, porém, é pessoal não alcançando o candidato a vice registrado com o titular impugnado (art. 18, LC 64/90). Penso que por identidade de razões também não pode atingir o candidato a suplente de senador, sendo omissa a lei a respeito. 8.6 - Cancelamento do registro por decisão partidária Será cancelado o registro do candidato que, até a data da eleição, for expulso do partido mediante processo disciplinar em que se lhe assegure ampla defesa e se observem as normas estatutárias. O cancelamento, todavia, será decretado pela justiça eleitoral a requerimento do partido (art. 14, par. único, LC 64/90), não podendo o juiz avaliar a conveniência ou oportunidade, mas apenas a legalidade. 9 - Substituição de candidatos a) casos de substituição: o partido ou a coligação tem o direito de substituir o candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo para registro, ou ainda aquele que tiver indeferido ou cancelado o pedido de registro (art. 13, lei 9504/97 e art. 17, LC 64/90); b) prazo para substituição: nas eleições majoritárias, a substituição pode ser feita antes das eleições, como aconteceu em Curitiba, em que Jaime Lerner ingressou na disputa há poucos dias da eleição e acabou vencendo. Nas eleições proporcionais, o requerimento de substituição deve ser feito até 60 dias antes do pleito (art. 13, § 3°, lei 9504/97); c) procedimento para substituição: o critério de substituição é o previsto

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no estatuto partidário, mas o requerimento do novo registro deve ser protocolizado até 10 dias após o fato que deu origem à substituição (art. 13, § 1º, lei 9504/97). Regra especial se aplica à substituição de candidatos a cargos majoritários, quando o candidato excluído for de partido coligado, caso em que o substituto deverá ser escolhido por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos que formam a ARI FERREIRA DE OUEIROZ 103 coligação, podendo o escolhido ser de qualquer deles, a não ser que se oponha o partido ao qual pertencia o substituído (art. 13, § 2°, lei 9504/97). 10 - Investigação judicial 10.1 - Noções O art. 22, LC 64/90, prevê uma investigação judicial para fins de se apurar o uso indevido, abuso do poder econômico ou de poder de autoridade, ou ainda a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social em benefício de candidato ou partido político. Trata-se de um procedimento investigatório desenvolvido pelo Poder Judiciário que poderá culminar com a cassação do registro ou declaração de inelegibilidade do candidato. É uma providência mais ampla do que a anterior, prevista no art. 237, §§ 2° e 3°, CE, pela qual se permitia apenas produzir provas para serem usadas em ação contra diplomação, pelo que não era medida autônoma. Atualmente, como se vê, diretamente da investigação já podem ser aplicadas as penalidades. 10.2 - Finalidades A investigação judicial pode ser feita para se produzir provas para uso futuro em processo com a finalidade de se declarar a inelegibilidade do candidato pelo prazo de 3 anos, ou para cassar o registro da sua candidatura. Assim, da investigação julgada procedente poderão resultar conseqüências diferentes, conforme seja antes (art. 22, XIV) ou após a eleição (art. 22, XV, LC 64/90): a) se antes da eleição, resultará na declaração de inelegibilidade do candidato e de todos quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando a cada um pena de inelegibilidade para eleições que se realizem nos 3 anos subsequentes à eleição em que se verificou; b) se antes da eleição, resultará na cassação do registro do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico e pelo desvio ou abuso de poder de autoridade; c) se após a eleição, valerá apenas como prova para instruir a ação de impugnação de mandato eletivo prevista no art. 14, § 10 e 11 , CF); d) em qualquer tempo, remessa dos autos ao Ministério Público para instauração do processo disciplinar, se for o caso, bem como do processo- crime. 10.3 - Legitimidade A investigação judicial pode ser requerida por qualquer partido político, coligação ou candidato, independente de advogado, porque não se trata de ação, ou pelo Ministério Público (art. 22, LC 64/90). O eleitor não tem 104 DIREITO ELEITORAL 10.4 - Competência Competente para processar a investigação judicial é a autoridade judiciária competente para o registro do candidato. Assim, em sede de eleição municipal competente é o juiz eleitoral (art. 24, LC 64/90); sendo eleição estadual ou federal, competente é o TRE; sendo eleição presidencial, competente é o TSE (art. 22). A competência ao juiz eleitoral de primeiro grau foi instituída pela LC 64/90, posto que pelo art. 237, §§ 2º e 3°, CE, sempre competia ao TRE. 10.5 - Procedimento O procedimento investigatório, embora não seja uma ação, é o

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sumaríssimo, com o juiz ou relator fazendo as vezes de relator em processo judicial (art. 22, I, LC 64/90). Recebida a representação, cabe a esta autoridade determinar a autuação e notificar o representado para que ofereça a defesa que tiver no prazo de 5 dias, com documentos e rol de até 6 testemunhas (art. 22, V). É possível a concessão de liminar, presentes os requisitos normais desta medida; também pode ser indeferida liminarmente a petição inicial (art. 22, I, a, b e c). Indeferida a petição, o interessado poderá renová-la. As testemunhas eventualmente arroladas por ambas as partes serão inquiridas no prazo de 5 dias, devendo, para tanto, comparecer independente de intimação (art. 22, V). Finda a inquirição, segue-se prazo de 3 dias para diligências, vindo a seguir o prazo comum de 2 dias para alegações finais (art. 22, X). Após, segue-se o julgamento, que poderá ser procedente ou improcedente. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 105 VIII - PROPAGANDA ELEITORAL 1 - Noções 2 - Princípios informativos 2.1 - Princípio da legalidade 2.2 - Princípio da liberdade 2.3 - Princípio da responsabilidade 2.4 - Princípio da igualdade 3 - Momento da propaganda 4 - Propaganda paga na imprensa escrita 5 - Propaganda no rádio e na televisão 5.1 - Noções 5.2 - Horário gratuito eleitoral 5.2.1 - Noções 5.2.2 - Eleição presidencial 5.2.3 - Eleição para deputado federal 5.2.4 - Eleição para deputado estadual 5.2.5 - Eleição para governador 5.2.6 - Eleição para senador 5.2.7 Eleição para prefeito 5.2.8 - Eleição para vereador 5.2.9 - Tempo adicional 5.2.10 - Distribuição do tempo 5.3 - Debates 5.4 - Condutas vedadas 5.4.1 - A partir de 1° de julho 5.4.2 - A partir de 1° de agosto 5.5 - Direito de resposta 6 - Propaganda com o uso de pesquisas 6.1 - Noções 6.2 - Providências preliminares 6.3 - Crime e infração administrativa 7 - Propaganda de partidos coligados 8 - Crimes de propaganda eleitoral 1 - Noções A propaganda eleitoral não se confunde com a propaganda partidária. Enquanto aquela é destinada a divulgar os candidatos e suas idéias em busca de votos em determinada eleição, esta é destinada a divulgar idéias de partidos independente de eleição, é dizer, enquanto a propaganda eleitoral se restringe aos períodos eleitorais, conforme estabeleça a legislação eleitoral (art. 36, lei 9504/97), a partidária é feita durante o ano em horários previamente fixados pela lei orgânica dos partidos políticos (art. 45, lei 9096/95), tanto que é vedada no segundo semestre de ano de eleição (art. 36, § 1°, lei 9504/97). O processo eleitoral compreende, basicamente, 4 fases distintas: a) o alistamento, envolvendo as pessoas que querem se tornar eleitores e votar; b) o registro de candidaturas, envolvendo as pessoas que querem ser votadas e eleitas; c) a propaganda eleitoral, envolvendo candidatos e partidos; d) as medidas preparatórias à votação, a votação propriamente dita e a apuração do resultado. Abandonando a ordem adotada pelo CE, que trata, na Parte Quarta, das eleições, incluindo o sistema eleitoral, as medidas preparatórias à votação, a votação e a apuração, deixando a propaganda para o final (arts. 240 a 256), penso que melhor seria cuidar desde já deste tema porque, na prática, antecede àqueles por ser evidente que se faz a propaganda eleitoral antes

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da votação. As regras sobre a propaganda eleitoral estão previstas no arts. 240 a 256 do Código Eleitoral, mas para cada eleição há leis e regras específicas, estando em vigor atualmente a lei 9504/97. Assim, somente em caráter supletivo poderá ser utilizado o Código Eleitoral. 106 DIREITO ELEITORAL 2 - Princípios informativos 2.1 - Princípio da legalidade Somente é admissível propaganda eleitoral na forma, local e prazos definidos por lei federal. Assim, a lei eleitoral fixa a forma de propaganda, vedando por exemplo a propaganda paga no rádio e na TV, ou a distribuição aleatória de outdoor, bem como veda a propaganda antes do dia 05 de julho do ano de eleição. Assim, no caso de painéis ou outdoors, a propaganda deve obedecer a sorteio prévio dos respectivos locais, feito pela justiça eleitoral até o dia 10 de julho do ano de eleição, sobre até 50% do espaço disponível no Município (art. 42, lei 9504/97). 2.2 - Princípio da liberdade Em regra, nos bens públicos ou de uso comum do povo é terminantemente proibida qualquer espécie de propaganda. Disse "em regra" porque a tradição foi quebrada com a lei 9504/97, que afrouxou quanto às proibições. Atualmente, vários comportamentos que eram vedados passaram a ser permitidos. Assim, nos limites estabelecidos em lei, é livre a propaganda eleitoral, no sentido de que independe de prévia autorização da justiça eleitoral ou de qualquer outro órgão, seja em recinto aberto ou fechado (art. 39 lei 9504/97), bastando que o candidato, partido ou coligação promotora do ato comunique à autoridade policial em, no mínimo, 24 horas antes da realização, a fim de que esta lhe garanta, segundo a prioridade do aviso, o direito contra quem tencione usar o local no mesmo dia e horário (art. 39, § 1º). Em obediência ao princípio da liberdade: a) faixas e outros: é lícita a fixação de faixas, placas estandartes e assemelhados nos postes de iluminação, viadutos, pontes e passarelas, desde que não lhes causem danos, nem atrapalhe o uso comum (art. 37); b) bens particulares: em bens particulares, a veiculação de propaganda eleitoral por meio da fixação de faixas, placas, cartazes, pinturas ou inscrições independe de licença municipal ou de autorização da justiça eleitoral (art. 37, § 2°); c) folhetos e volantes: também independe de licença municipal e de autorização da justiça eleitoral a distribuição de folhetos, volantes e outros impressos editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato (art. 38); d) Poder Legislativo: nas dependências do Poder Legislativo, a veiculação de propaganda eleitoral ficará a critério da Mesa Diretora (art. 37, § 3°); e) inscrição do nome: os partidos ou coligações podem escrever seus nomes nas fachadas de suas sedes; f) propaganda sonora: o funcionamento de alto-falantes ou amplificadores de som somente é permitido entre as 8:00 e 22:00 horas, mas são vedados a instalação e o uso a menos de 200 metros das sedes dos Poderes ARI FERREIRA DE QUEIROZ 107 Executivo, Legislativo e Judiciário e dos quartéis e outros estabelecimentos militares, bem como dos hospitais e casas de saúde e escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros, quando em funcionamento (art. 39, § 3°); g) comícios: é permitida a realização de comícios no horário compreendido entre as 8:00 e 24:00 horas, inclusive com o uso de alto-falantes e amplificadores de som (art. 39, § 4°); h) internet: a propaganda eleitoral por meio de internet fica sujeita às mesmas proibições impostas ao rádio e à TV, nos termos do art. 45 da lei 9504/97 (art. 45, § 3°).

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Como exceção ao princípio da liberdade, pode-se dizer que continua proibida qualquer forma de propaganda em bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, bem como nos de uso comum, nos quais é vedada a pichação e inscrição a tinta (art. 37). Além disso, nos 3 meses que antecedem ao pleito não é permitida, durante inaugurações de obras, a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos (art. 75, lei 9504/97), bem como não é permitido aos candidatos a cargo executivo participar de tais inaugurações no mesmo período (art. 77). 2.3 - Princípio da responsabilidade Toda propaganda eleitoral é de responsabilidade dos partidos ou coligações, que respondem solidariamente pelos excessos praticados pelos candidatos (art. 241 , CE). Neste sentido, dispõe o art. 38, lei 9504/97, que os folhetos, volantes e outros são editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato. 2.4 - Princípio da igualdade Guardadas as devidas proporções, que são diferenças naturais, todos os candidatos, partidos e coligações têm os mesmos direitos e responsabilidades quanto à propaganda eleitoral. Por isso que, quanto ao uso de outdoor, é necessário um sorteio prévio garantindo-se igualdade de condições entre os postulantes da seguinte forma (art. 42, § 2°): a) 30% entre os partidos e coligações que tenham candidato a presidente da República; b) 30% entre os partidos e coligações que tenham candidato a governador e a senador; c) 40% entre os partidos e coligações que tenham candidatos a deputado federal, Estadual ou Distrital; d) nas eleições municipais, metade entre os partidos e coligações que tenham candidato a prefeito e metade entre os que tenham candidato a vereador. 108 DIREITO ELEITORAL Além disso, os locais deverão ser divididos em grupos eqüitativos de pontos com maior e menor impacto visual, tantos quantos forem os partidos e coligações concorrentes (art. 42, § 3°). 3 - Momento da propaganda Dispunha o art. 240, CE, que somente após a escolha do candidato pela convenção do partido ou coligação seria admitida propaganda, que poderia se estender até 48 horas antes do pleito e voltar 24 horas após. É um tanto estranha a regra, na medida em que se refere a propaganda após a eleição. Na verdade, o art. 240 do Código Eleitoral se refere tanto às propaganda partidária, como eleitoral. Assim, como doravante é proibida propaganda partidária no segundo semestre de ano de eleição, e como há novas regras previstas na lei 9504/97, tem-se que está revogado o art. 240, CE. Por conseguinte, para as eleições de 1998 e seguintes, o art. 36 da lei 9504/97 fixou a data de 5 de julho do ano de eleição como primeiro dia permitido para se iniciar a propaganda eleitoral, data que coincide com a data final para registro de candidaturas (art. 11 ). Como exceção geral à regra, admite- se que o postulante à indicação pela convenção, na quinzena que antecede a escolha, faça propaganda intrapartidária com esta finalidade (art. 36, § 1 °, lei 9504797), desde que não seja por rádio, TV ou outdoor. O casuísmo das leis eleitorais é interminável, posto que nas eleições anteriores o prazo era de uma semana e não havia vedação ao uso do rádio, TV ou outdoor. 4 - Propaganda paga na imprensa escrita Na imprensa escrita não há propaganda gratuita, mas se permite a propaganda paga, até no dia das eleições, em jornais, revistas e tablóides no espaço máximo de 1/8 de página de jornal padrão, ou 1/4 de página, de

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revista ou tablóide, por partido, coligação ou candidato (art. 43, lei 9504/97). 5 - Propaganda no rádio e na televisão 5.1 Noções Grande veículo de comunicação, a TV é capaz de mudar os rumos de atividades empresariais, artistas, homens do povo e, logicamente, políticos. Por isso, é indispensável um controle rigoroso da propaganda eleitoral e mesmo partidária no rádio e na TV. Um segundo de propaganda na TV, conforme o horário seja definido como "nobre" pelas emissoras, pode custar milhares de reais, mas em contrapartida atinge milhões de pessoas que definem seus modos de vida pelo que vêem na "telinha". Não havendo controle severo, os empresários do mundo das comunicações, ou outros, detentores do poder econômico, dominariam todo o processo eleitoral e conquistariam todas as vagas eletivas em disputa. Daí porque a primeira regra de observância obrigatória quanto a esta propaganda é a que a restringe ao horário gratuito definido na legislação eleitoral, não podendo a pretexto algum ser veiculada propaganda paga no rádio ou na TV (art. 44). ARI FERREIRA DE QUEIROZ 109 5.2 - Horário gratuito eleitoral 5.2.1 - Noções O horário eleitoral gratuito, destinado à propaganda eleitoral no rádio e na TV, sempre foi no período de 60 dias que antecedem à antevéspera do pleito. Seduzido pela idéia da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Congresso Nacional, ao elaborar a lei 9504/97, reduziu-o a 45 dias (art. 47), além, do que diminuiu também a duração diária, o que representou um verdadeiro golpe nos demais candidatos. Explico: o presidente da República, pelo fato de ser presidente, não precisa de propaganda porque está constantemente na mídia, ao passo que os demais não têm a mesma oportunidade. Assim, ao reduzir o horário gratuito de 60 para 45 dias, e 30 para 25 minutos em cada inserção os demais candidatos tiveram diminuído o espaço de aparecimento na mídia, o que não afeta o candidato-presidente, que continua aparecendo como presidente-candidato. Atualmente, o horário gratuito, dividido em dois blocos diários, varia conforme o tipo de eleição (art. 47, § 1°). 5.2.2 - Eleição presidencial Na eleição de presidente da República são destinadas as terças e quintas-feiras e os sábados, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:00 à 7:25, e das 12:00 às 12:25 horas; b) TV: das 13:00 à 13:25, e das 20:30 às 20:55 horas. 5.2.3 - Eleição para deputado federal Na eleição de deputado federal também são destinadas as terças e quintas-feiras e os sábados, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, mas nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:25 à 7:50, e das 12:25 às 12:50 horas; b) TV: das 13:25 à 13:50, e das 20:55 às 21 :20 horas. 5.2.4 - Eleição para deputado estadual Na eleição para deputado estaduais são destinadas ainda as terças e quintas-feiras e os sábados, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:20 à 7:40, e das 12:20 às 12:40 horas; b) TV: das 13:20 à 13:40, e das 20:50 às 21 :10 horas. 110 DIREITO ELEITORAL 5.2.5 - Eleição para governador Na eleição de governador são destinadas as segundas, quartas e sextas-feiras, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, nos seguintes horários:

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a) Rádio: das 7:00 à 7:20, e das 12:00 às 12:20 horas; b) TV: das 13:00 à 13:20, e das 20:30 às 20:50 horas. 5.2.6 - Eleição para senador Na eleição de senador também são destinadas as segundas, quartas e sextas-feiras, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:40 à 7:50, e das 12:40 às 12:50 horas; b) TV: das 13:40 à 13:50, e das 21:10 às 21:20 horas. 5.2.7 - Eleição para prefeito Na eleição de prefeito municipal são destinadas as segundas, quartas e sextas-feiras, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:00 à 7:30, e das 12:00 às 12:30 horas; b) TV: das 13:00 à 13:30, e das 20:30 às 21:00 horas. 5.2.8 - Eleição para vereador Na eleição para vereador são destinadas as terças e quintas-feiras e os sábados, para veiculação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV nos seguintes horários: a) Rádio: das 7:00 à 7:30, e das 12:00 às 12:30 horas; b) TV: das 13:00 à 13:30, e das 20:30 às 21:00 horas. 5.2.9 - Tempo adicional Além do tempo indicado nos itens acima, as emissoras de rádio e TV, inclusive os canais por assinatura, reservarão, ainda, 30 minutos diários para a propaganda eleitoral gratuita, a serem usados em inserções de até 60 segundos, a critério do partido ou coligação, e distribuídas ao longo da programação veiculada entre as 8:00 e 24:00 horas (art. 51). Nestas inserções é vedada a utilização de gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais, e a veiculação de mensagens que possam degradar ou ridicularizar candidato, partido ou coligação (art. 51, IV). ARI FERREIRA DE QUEIROZ 111 5.2.10 - Distribuição do tempo 5.2.10.1 - Regras gerais O tempo destinado à propaganda gratuita no rádio e na TV deve ser distribuído apenas entre os partidos e coligações que tenham candidato e representação na Câmara dos Deputados, sendo 1/3, igualitariamente, e 2/3, proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de representantes de todos os partidos que a integram (art. 47, § 2°). O número de representantes de partido que tenha resultado de fusão ou a que se tenha incorporado outro corresponderá à soma dos representantes que os partidos de origem possuíam na data mencionada no parágrafo anterior (art. 47, § 4°). Se o candidato a presidente ou a governador deixar de concorrer, em qualquer etapa do pleito, e não havendo a substituição prevista no art. 13 desta Lei, far-se-á nova distribuição do tempo entre os candidatos remanescentes (art. 47, § 5°). Se o tempo destinado ao partido ou coligação após a distribuição for menor que 30 segundos, poderá ser acumulado ao do dia seguinte (art. 47, § 6°). 5.2.10.2- Regras para quando não houver emissora Se no Município não houver emissora de rádio ou TV para divulgar a propaganda eleitoral nas eleições municipais, os órgãos regionais de direção da maioria dos partidos participantes do pleito poderão requerer à justiça eleitoral que reserve 10% do tempo para divulgação em rede da propaganda dos candidatos desses Municípios, pelas emissoras geradoras que os atingem (art. 48). Neste caso, a justiça eleitoral deverá dividir o tempo entre os candidatos dos Municípios vizinhos, de forma que o número máximo de

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Municípios a serem atendidos seja igual ao de emissoras geradoras disponíveis (art. 48, § 1°). 5.2.10.3 - Segundo turno O horário eleitoral gratuito para o segundo turno começa 48 horas após divulgado o resultado do primeiro, prosseguindo até a antevéspera do pleito, dividido em dois períodos diários iguais entre os candidatos de 20 minutos, para cada eleição, às 7:00 e às 12:00 horas, no rádio, e às 13:00 e às 20:30 horas, na televisão (art. 49). 5.3 - Debates Além da propaganda eleitoral gratuita, é lícita a transmissão pelo rádio ou televisão de debates entre os candidatos sobre as eleições majoritária ou proporcional, sendo assegurada a participação de partidos com representação na Câmara dos Deputados, e facultada a dos demais. Nas eleições majoritárias, a apresentação dos debates poderá ser feita em conjunto, estando presentes todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo, 112 DIREITO ELEITORAL ou em grupos, estando presentes, no mínimo, três candidatos, enquanto que nas eleições proporcionais os debates deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos e coligações a um mesmo cargo eletivo, podendo desdobrar-se em mais de um dia (art. 46). 5.4 - Condutas vedadas 5.4.1 - A partir de 1° de julho A partir de 1° de julho do ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário (art. 45): a) transmitir ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popular de natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados; b) usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito; c) veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes; d) dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação; e) veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou debates políticos; f) divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com o nome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro. 5.4.2 - A partir de 1° de agosto A partir de 1° de agosto do ano da eleição, é vedado ainda às emissoras transmitir programa apresentado ou comentado por candidato escolhido em convenção. 5.5 - Direito de resposta A partir da escolha pela convenção, independente do registro da candidatura, o candidato, partido, coligação ou qualquer pessoa que se sentir ofendido em sua honra por propaganda pela imprensa pode requerer o direito de resposta (art. 58). O direito de resposta deve ser requerido à justiça eleitoral no prazo de 24 horas, quando se tratar ofensa no horário gratuito, ou 48 horas, se na programação normal das emissoras de rádio ou ARI FERREIRA DE QUEIROZ 113 TV, ou, ainda, em 72 horas, no caso de imprensa escrita, sempre contadas

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ofensa (art. 58, § 1°). Qualquer que seja o tipo e meio da ofensa, o ofensor será notificado para se defender em 24 horas (art. 58 § 2°), e em 72 horas, no máximo, a justiça eleitoral deverá decidir. Desta decisão, caberá recurso para a instância superior, no prazo de 24 horas, contadas da publicação em cartório ou sessão (art. 58, § 5°). 6. Propaganda com o uso de pesquisas 6.1 - Noções As pesquisas de opinião pública feitas por entidades especializadas são, ao mesmo tempo, um indicador seguro da intenção do eleitorado em relação a candidatos ou partidos, e uma forma de direcionar os votos para o candidato que estiver aparecendo como favorável, porque há eleitor que diz que "não gosta de perder o voto", daí porque abandona sua ideologia, se é que tinha alguma, e vota no candidato com maior chance teórica de ganhar a eleição. Por isso, é muito comum os partidos ou candidatos lançarem mão das pesquisas como forma de propaganda, divulgando o resultado nos espaços a que têm direito nos jornais ou mesmo no rádio ou TV. Uma pesquisa mal feita, ou da má-fé, pode ser desastrosa para o candidato que nela figura com menor chance de vencer, ou um "empurrão" sensacional ao candidato que, na realidade, tem menor chance, mas que aparece como sendo o favorito. Na eleição para governador de 1998, no Estado de Goiás, se viu o quanto as pesquisas eleitorais podem influenciar o eleitorado. Bastam estas razões para que a legislação eleitoral fixe regras claras sobre as pesquisas, especialmente para divulgação do resultado. 6.2 - Providências preliminares Nos 6 meses que antecedem às eleições (art. 1°, res. 20.101 ), a entidade ou empresa interessada na realização de pesquisa e divulgação do resultado deve registrar perante o órgão da justiça eleitoral competente para o registro das candidaturas, pelo menos 5 dias antes da divulgação as seguintes informações (art. 33): a) quem contratou a pesquisa; b) valor e origem dos recursos despendidos no trabalho; c) metodologia e período de realização da pesquisa; d) plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho, intervalo de confiança e margem de erro; e) sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo; f) questionário completo aplicado ou a ser aplicado; 114 DIREITO ELEITORAL g) o nome de quem pagou pela realização do trabalho. 6.3 - Crime e infração administrativa A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações constitui infração administrativa e sujeita os responsáveis a multa no valor de 50.000 a 100.000 UFIR (art. 33, § 3°), enquanto que a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime punível com detenção de 6 meses a 1 ano e multa no valor de 50.000 mil a 100.000 UFIR (art. 33, § 4°), por eles respondendo também os representantes legais da empresa ou entidade de pesquisa e do órgão veiculador (art. 35). 7- Propaganda de partidos coligados Em caso de coligação, há, na propaganda eleitoral, tratamento diferenciado conforme seja majoritária ou proporcional: na primeira, a coligação usará obrigatoriamente, sob o seu nome, as legendas de todos os partidos que a integram; na proporcional, cada partido usará apenas a sua legenda sob o nome da coligação (art. 6°, § 2°, lei 9504/97). 8 - Crimes de propaganda eleitoral

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São crimes de propaganda eleitoral o uso de alto-falantes ou amplificadores de som, ou promover comícios ou carreatas, no dia da eleição, bem como a distribuição de volantes, folhetos, ou qualquer forma de aliciamento de eleitores (art. 39, § 5°, lei 9504/97). Também é crime o ato de inserir na propaganda eleitoral símbolos, frases ou imagens associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou empresa de economia mista (art. 40). Por fim, também pode ser considerado crime de propaganda eleitoral a divulgação de pesquisa fraudulenta (art. 33 § 4°). ARI FERREIRA DE QUEIROZ 115 IX - DOS ATOS PREPARATÓRIOS À VOTAÇÃO 1 - Organização do corpo eleitoral 1 .1 - Zona eleitoral 1 .2 - Seção eleitoral 2 - A mesa receptora de votos 2.1 - Formação 2.2 - Quem não pode integrá-la 2.3 - Fiscalização da nomeação da mesa receptora 2.4 - O presidente da mesa 2.5 - Vantagens do eleitor que servir à mesa receptora ou junta apuradora 3 - Providências para a votação 3.1 - Antes do dia da eleição 3.1.1 - Entrega do material 3.1.2 Instruções aos mesários 3.2 - No dia da eleição 3.2.1 - Reunir a mesa receptora 3.2.2 - Ausência de mesários 4 - A votação 4.1 - Fiscalização 4.2 - A polícia 4.3 - Onde votar 4.3.1 - Noções 4.3.2 - Voto normal na seção onde servir 4.3.3 - Voto em separado na seção onde servir 5 - Prioridade na ordem de votação 6 - Como e em quem o eleitor vota 6.1 - Eleição majoritária 6.2 - Eleição proporcional 7. - O voto em separado 7.1 - Noções 7.2 - Voto em separado por impugnação 7.3 - Voto em separado por omissão da folha de votação 7.4 - Voto em separado por medida de cautela 7.5 - Procedimento do voto em separado 7.6 - Importância do voto em separado - Encerramento da votação 1 - Organização do corpo eleitoral 1.1 - Zona eleitoral Zona eleitoral é a parte de um território constituído em colégio eleitoral para que nela votem, ou exerçam o dever político, os seus habitantes. Toda sede de comarca corresponderá a pelo menos uma zona eleitoral. Normalmente, as zonas correspondem a bairros ou vilas, nas cidades. Na área rural também se faz uma divisão pelos bairros ou distritos, sempre com vistas a deixar o local de votação mais próximo do eleitor. A zona pode compreender mais de um município, bem como um município pode ser dividido em uma ou mais zonas eleitorais. Por exemplo, o Município de Goiânia é dividido em 10 zonas eleitorais, enquanto que a 49166 zona eleitoral, com sede no Município de Trindade, compreende também o Município de Campestre de Goiás. Para cada zona eleitoral há um juiz eleitoral. Cada partido político poderá ter um diretório, que é seu órgão de direção e ação, por zona eleitoral, ao invés de se limitar a um por Município. O estatuto do partido pode estabelecer os requisitos necessários para ter órgão zonal, como o fez o PMDB, que tem órgãos zonais apenas nas capitais e nos municípios com mais de 1 milhão de habitantes, sendo um órgão para cada zona ou distrito eleitoral, sem prejuízo do órgão municipal (art. 14, § 1°, PMDB). No PSDB se estabelece o mínimo de 500.000 eleitores para se criar órgão zonal (art. 17, § 1°). Não há limite máximo ou mínimo de eleitores, nem de seções, por zona eleitoral, mas não poderá haver mais de um diretório do mesmo partido na mesma zona eleitoral.

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1.2 - Seção eleitoral As zonas eleitorais são divididas em seções, denominadas de "seção eleitoral". Com a seção se visa facilitar para o eleitor o seu direito de 116 DIREITO ELEITORAL cidadão, mantendo os locais de votação o mais próximo de seu endereço para que todo o processo eleitoral se desenvolva sem grandes sacrifícios. Cada seção eleitoral deve abrigar o mínimo de 50 eleitores, seja interior ou capital, e o máximo de 500 nas capitais, e 400 no interior (20). Estes números podem ser excedidos por autorização do TRE, havendo motivo justificável (art. 117, § 1º, CE). O número de cabina eleitoral por cada seção tem variado entre uma ou duas, conforme for disposto em resolução do TSE. A resolução em, vigor, 20.105, fixa em apenas uma cabina indevassável (art. 30, caput), quando for urna eletrônica, ou duas, quando manual (art. 43), para onde o eleitor deve ser encaminhado para votar. Nas eleições de 1996 o TSE fixou em 200 o número de eleitores por cada cabina do interior (21). Da cabina, o eleitor deve se dirigir à urna manual (que é única) que fica próxima à mesa do presidente e ali depositar a cédula de seu voto, mostrando a rubrica do presidente, para conferência. 2 - A mesa receptora de votos 2.1 - Formação A cada seção eleitoral corresponde uma mesa receptora de votos (art. 119, CE), que é formada por um presidente, dois mesários, dois secretários e um suplente, nomeados pelo juiz eleitoral até 60 dias antes das eleições (art. 120, CE). A escolha deve recair sobre eleitor idôneo maior de 18 anos. Cabe à mesa receptora de votos, sob a presidência de um dos seus membros, tomar os votos dos eleitores, lavrar as atas respectivas e cumprir as demais obrigações legais. 2.2 - Quem não pode integrá-la A escolha dos membros da mesa é feita em audiência pública, no mínimo 60 dias antes das eleições (art. 120, caput). Em princípio, qualquer eleitor idôneo pode ser escolhido, mas não podem servir na mesma mesa os parentes entre si, de qualquer grau nem servidores da mesma repartição ou fonte empregadora (art. 64, lei 9504/97). Excluem-se da escolha, pois não podem ser membros das mesas (art. 120, § 1°, I a IV): a) os candidatos; b) os parentes de candidatos até o segundo grau, por afinidade, consangüinidade ou adoção, assim como o seu cônjuge; c) os membros de diretórios de partidos que exerçam função executiva; (20) O art. 117, CE, teve a redação alterada pela lei 6996/82 e atualmente assim dispõe o art. 30, par. único da resolução 20.105 do TSE. (21) Res. 19514 ARI FERREIRA DE QUEIROZ 117 d) as autoridades e agentes policiais e demais ocupantes de cargos, empregos ou funções de confiança no Poder Executivo; e) qualquer pessoa que pertença ao serviço eleitoral; f) os eleitores menores de 18 anos (art. 63, § 2°, lei 9504/97). 2.3 - Fiscalização da nomeação da mesa receptora Da nomeação dos membros da mesa receptora, o juiz eleitoral mandará publicar edital com os nomes dos convocados, que terão o prazo de 5 dias para alegarem impedimentos, salvo se supervenientes (art. 120, § 4°). Por seus delegados, qualquer partido ou coligação poderá reclamar no prazo de 48 horas ao próprio juiz sobre as nomeações (22). A reclamação é pressuposto para recurso ao TRE fundado em nulidade da seção respectiva (art. 121 , § 3°). Da decisão do juiz cabe recurso ao TRE no prazo de 3 dias (art. 121 , CE e 63, § 1, lei 9504/97). Conta-se o prazo da data da publicação do registro

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da candidatura, quando se fundar em incompatibilidades em razão de parentesco até o segundo grau com candidatos, bem assim o seu cônjuge, ou, se for outra causa superveniente (art. 120, § 1°, II, III e IV), ou desta causa (art. 121 , § 2°). 2.4 - O presidente da mesa O presidente deve estar presente na abertura e no encerramento da votação. Estando ausente até as 7:30 horas do dia da votação, cumpre ao primeiro mesário assumir a presidência. O presidente, titular ou não, que durante os trabalhos é a autoridade superior logo após o juiz eleitoral (art. 140), poderá convocar eleitor presente para completar o quadro do faltante (art. 123). A falta, lavrada em ata, sujeitará o faltoso a multa aplicada pelo juiz eleitoral e cobrada por meio de execução fiscal (art. 367), salvo se tiver motivo justificável. Ao presidente compete, ainda, entre outras (art. 127, CE): a) receber os votos; b) resolver e decidir as dúvidas ali surgidas, comunicando ao juiz eleitoral; c) manter a ordem com auxílio da força policial, se necessário (art. 139); d) remeter à junta eleitoral todos os papéis utilizados; e) autenticar com a sua rubrica e numerar as cédulas; f) assinar as folhas de votações. 2.5 - Vantagens do eleitor que servir à mesa receptora ou junta apuradora Dispõe o art. 15, lei 8868/94, que "os servidores públicos federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta, quando, (22) O art. 63, lei 9504/97, dispõe que o prazo para recurso é de 48 horas, não de dias, como consta do art. 121 do Código Eleitoral. Na prática, porém, pouco se altera. 118 DIREITO ELEITORAL convocados para compor as mesas receptoras de votos ou juntas apuradoras nos pleitos eleitorais, terão, mediante declaração do respectivo juiz eleitoral, direito a ausentar-se do serviço em suas repartições, pelo dobro dos dias de convocação pela justiça eleitoral". O dispositivo é muito benéfico e não é fácil justificá-lo. De fato, se o servidor foi convocado para trabalhar para a justiça eleitoral, por si já terá como justificar a ausência de sua repartição. Até aí nada há de mais, posto que de qualquer forma estará trabalhando, seja para a justiça eleitoral, seja em suas regulares atividades. A lei, porém, assegura ao servidor o direito de ausentar-se de sua atividade pelo dobro do prazo em que esteve a serviço da justiça eleitoral. Ora, porquê o dobro do prazo? Que diferença faz trabalhar para a justiça eleitoral ou em suas atividades habituais? Portanto, somente se justifica "ganhar" um dia quando tiver de trabalhar no feriado das eleições, mas não um dia por cada dia de apuração eleitoral que não é feriado. Nestes dias de apuração, se não estivesse a serviço da justiça eleitoral, estaria em sua repartição. Por isso, não vejo por que dar ao servidor direito de ausentar-se de sua repartição pelo dobro de prazo. Por seu turno, dispõe o art. 98 da lei 9504/97: "Os eleitores nomeados para compor as Mesas Receptoras ou Juntas Eleitorais e os requisitados para auxiliar seus trabalhos serão dispensados do serviço, mediante declaração expedida pela Justiça Eleitoral, sem prejuízo do salário, vencimento ou qualquer outra vantagem, pelo dobro dos dias de convocação". Portanto, doravante a vantagem de ausentar-se do serviço pelo dobro do tempo em que o eleitor esteve à disposição da justiça eleitoral se estende a todos os trabalhadores, não apenas aos servidores públicos, medida que pelo menos é mais justa, estando, pois, revogada tacitamente a lei 8868/94. 3 - Providências para a votação 3.1 - Antes do dia da eleição

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3.1.1 - Entrega do material 72 (setenta e duas) horas antes das eleições, o juiz eleitoral deve entregar aos presidentes das mesas receptoras, ou para alguém em seu lugar, todo o material necessário para os trabalhos, que é fornecido pelo TRE, como urnas, canetas, cédulas, listagens e outros. Na prática, esta entrega é feita na mesma audiência coletiva em cuja oportunidade o juiz dá instruções aos presidentes e demais participantes sobre o procedimento, bem como alerta sobre as providências que deverão tomar em casos de problemas durante o dia de votação (art. 133). Também faz parte desta audiência a vedação e lacração das urnas, na presença de delegados, fiscais, candidatos e representantes de partidos e outros presentes (art. 133, § 3°). 3.1.2 - Instruções aos mesários O juiz eleitoral deve realizar reuniões com os mesários, especialmente com os presidentes, a fim de instruí-los sobre o processo da eleição e sanar ARI FERREIRA DE QUEIROZ 119 dúvidas que possam existir (art. 122, CE). Deve também orientar o presidente da mesa receptora sobre quais são os seus poderes, inclusive de efetuar prisões para manter a ordem, se necessário for. 3.2 - No dia da eleição 3.2.1 - Reunir a mesa receptora Às 7:00 (sete) horas do dia da eleição o presidente da mesa receptora, os mesários e os secretários verificarão se o lugar designado e o material estão em ordem. Também devem verificar se os fiscais de partidos estão presentes e em número correto (art. 142, CE). Supridas deficiências, incluindo nomeação de algum eleitor para suprir faltas de mesários, às 8:00 horas o presidente declarará iniciado os trabalhos de votação. Por conseguinte, a votação terá início às 8:00 horas, mas os trabalhos da mesa receptora se iniciam às 7:00 horas. Ninguém pode ser admitido a votar antes das 8:00 horas (art. 144). 3.2.2 - Ausência de mesários A falta de mesários no dia e hora designados para início dos trabalhos eleitorais pode comprometer todo o sistema. É certo que as pessoas, em geral, não gostam da convocação, especialmente quando as eleições ocorriam durante a semana e o dia seria feriado (23). É preciso, todavia, entender que as eleições não interessam apenas à justiça eleitoral, mas sim a toda a sociedade. Por isso, ao mesário faltoso sem justificativa apresentada ao juiz eleitoral até 30 dias após a eleição deve ser arbitrada multa, no valor máximo de um salário mínimo a ser cobrada através de executivo fiscal (art. 124, CE, caput). O próprio mesário pode requerer que lhe seja arbitrada a multa, ou, se for servidor público ou autárquico, poderá sofrer a pena de suspensão por até quinze dias (art. 124, § 2°). Além da multa, em caso de ausência de mesário deverão ser tomadas as seguintes providências: a) falta individual: o presidente da mesa, ou quem o substitua, poderá convocar eleitor presente, que não tenha impedimento legal, para completar a mesa, vedada a recusa do nomeado (art. 123, § 3°); b) falta de todos os mesários de uma mesa: se todos os mesários faltarem, impedindo a reunião da mesa, ou se por outro motivo a mesa não se reunir, os eleitores pertencentes à respectiva seção poderão votar na mais próxima sob a jurisdição do mesmo juiz, recolhendo-se os seus votos à urna da seção em que deveriam votar, a qual será transportada para aquela em que tiverem de votar (art. 125, caput); (23) Atualmente, desde a "emenda da reeleição", as eleições são no primeiro domingo de outubro, ou no último, no caso de segundo turno.

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120 DIREITO ELEITORAL c) falta de todos os mesários da zona: se deixarem de se reunir todas as mesas de um Município, o presidente do T.R.E. designará outro dia para que a eleição seja realizada, instaurando-se inquérito para a apuração das causas da irregularidade e punição dos responsáveis (art. 126). 4 - A votação 4.1 - Fiscalização Cada partido ou coligação poderá nomear até 2 delegados para cada zona eleitoral e 2 fiscais para cada mesa receptora de votos, funcionando, porém, apenas um de cada vez (art. 131). Não poderá ser nomeado fiscal ou delegado quem já tiver sido nomeado pelo juiz eleitoral para o serviço eleitoral, nem eleitor menor de 18 anos (art. 65, caput, lei 9504/97). Os próprios partidos expedirão as credenciais aos fiscais e delegados, sendo desnecessário o visto do juiz eleitoral (art. 65, § 2°, lei 9504/97), mas os nomes das pessoas autorizadas à expedição deverão ser registrados na justiça eleitoral (art. 65, § 3°). Tanto os candidatos, como os delegados e fiscais poderão fiscalizar a votação, podendo formular protestos e fazer impugnações, inclusive sobre a identidade de eleitor (art. 132, CE). 4.2 - A polícia Ao presidente da mesa e ao juiz eleitoral compete a polícia dos trabalhos eleitorais (art. 139, CE). No recinto da mesa receptora só poderão permanecer os seus membros, os candidatos, um fiscal e um delgado por partido e o eleitor que estiver votando (art. 140). A polícia propriamente dita deverá permanecer a pelo menos 100 metros da seção eleitoral, só podendo se aproximar com ordem do juiz ou presidente da mesa (art. 141). 4.3 - Onde votar 4.3.1 - Noções Em geral, o eleitor deve votar na seção eleitoral em que se acha inscrito e que consta de seu título, indicado por número a zona e seção (art. 148), mesmo que não tenha o título, mas desde que conste seu nome da folha de votação. 4.3.2 - Voto normal na seção onde servir Admite-se, contudo, que votem normalmente perante a mesa em que servirem, sem tomar o voto em separado, o presidente, os mesários, os secretários e os suplentes, os candidatos, os fiscais e os delgados de partidos. Neste sentido dispunha o art. 12 e parágrafos da lei 6996/82 (24), que modificou parte do art. 145, CE: (24) A lei 6996/82 foi expressamente revogada pelo art. 63 da lei 9096/95. Todavia, art. 47 da res. 20.125/98 do TSE continua fazendo referência expressa a esta lei. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 121 Art. 12. Nas seções das Zonas Eleitorais em que o alistamento se fizer pelo processamento eletrônico de dados, as folhas individuais de votação serão substituídas por listas de eleitores, emitidas por computador, das quais constarão, além do nome do eleitor, os dados de qualificação indicados pelo Tribunal Superior Eleitoral. § 1°. Somente poderão votar fora da respectiva seção os mesários, os candidatos c os fiscais ou delegados de partidos políticos, desde que eleitores do Município e de posse do título eleitoral. § 2°. Ainda que não esteja de posse do seu título, o eleitor será admitido a votar desde que seja inscrito na seção, conste da lista dos eleitores e exiba documento que comprove sua identidade. § 3° - Os votos dos eleitores mencionados nos parágrafos anteriores não serão tomados em separado. 4.3.3 - Voto em separado na seção onde servir

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Poderão votar fora da seção em que sejam eleitores, mas os votos serão tomados em separado, com as cautelas previstas no art. 147, § 2º, CE, os seguintes eleitores (art. 145, par. único): a) o juiz eleitoral e o promotor de justiça eleitoral (art. 50, res. 20.105), que votarão em qualquer seção eleitoral de sua zona, salvo em eleição municipal, quando poderão votar em qualquer seção do município (art. 145, par. único, I, CE); b) o presidente da República votará em qualquer seção eleitoral do país, Estado ou Município, conforme seja eleição presidencial, ou estadual ou federal e municipal (art. 145, par. único, II, CE); c) o candidato a presidente da República votará em qualquer seção eleitoral do país ou Estado, conforme seja eleição presidencial ou estadual e federal (art. 145, par. único, III, CE); d) o governador, o vice-governador e os membros do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas votarão em qualquer seção eleitoral do Estado onde sejam eleitores, nas eleições de âmbito federal e estadual, ou em qualquer seção do município em que sejam eleitores, na eleição municipal (art. 145, par. único, IV, CE); e) os candidatos a governador e a vice-governador e ao Congresso Nacional e Assembléias Legislativas votarão em qualquer seção eleitoral do Estado onde sejam eleitores, nas eleições de âmbito federal e estadual (art. 145, par. único, V, CE); f) o prefeito, o vice-prefeito e os vereadores votarão em qualquer seção eleitoral do município em que representarem, se forem eleitores do Estado (art. 145, par. único, VI, CE); 9) os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador votarão em qualquer seção eleitoral do município em que sejam eleitores (art. 145, par. único, VII, CE); 122 DIREITO ELEITORAL h) os militares, removidos ou transferidos dentro do período de 6 meses antes do pleito, votarão, nas eleições presidenciais, na localidade em que estiverem servindo (art. 145, par. único, VIII, CE); i) os militares em serviço (art. 145, IX, acrescentado pelo art. 102, lei 9504/97). 5 - Prioridade na ordem de votação Aberta a votação, votarão primeiro os candidatos e eleitores presentes. Em seguida têm prioridade para votar o juiz eleitoral da respectiva zona, os juízes do TSE e TRE, os auxiliares da justiça eleitoral, os promotores eleitorais, os policiais militares em serviço, os fiscais e delegados de partidos, os funcionários dos correios, os eleitores com mais de 65 anos de idade, os enfermos, deficientes físicos e as mulheres grávidas e lactantes (art. 143, § 2°). Os membros da mesa votarão durante o correr da votação (art. 143, CE). 6 - Como e em quem o eleitor vota 6.1 - Eleição majoritária Na eleição para postos majoritários (senador, governador, presidente e prefeito), o eleitor comparecerá à cabine eleitoral e votará apondo um sinal indicativo no quadrilátero da cédula onde consta o nome de seu candidato (art. 146, I, "a"). Na urna eletrônica consta até mesmo a fotografia do candidato, de modo que não há grande dificuldade para a votação. 6.2 - Eleição proporcional Nos postos proporcionais (deputado federal, deputado estadual e vereador), em que são muitos os candidatos, a cédula não traz os nomes deles, devendo o eleitor escrever na cédula o nome ou o número do candidato, ou ambos, de sua preferência (art. 146, I, "b"). Podem ocorrer confusões nesta votação, como escrever o nome de um e número de outro,

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por exemplo. Não há nulidade do voto só por isso, desde que seja possível identificar a intenção inequívoca do eleitor. Às vezes não é possível identificar a intenção quanto ao candidato, porque o eleitor escreve os nomes de dois ou mais, mas sendo ambos do mesmo partido é possível contar o voto pelo menos para e legenda, o que terá real significado para fins de quociente eleitoral. 7 - O voto em separado 7.1 - Noções O voto em separado é uma providência excepcional para certos casos expressamente previstos em lei (art. 147. CEI. Diz-se voto em separado ARI FERREIRA DE QUEIROZ 123 porque a cédula com o voto do eleitor é colocada dentro de dm envelope padrão e assim inserida na urna. Não se toma voto em separado das pessoas admitidas por lei a votar em outra seção, como, os mesários, os candidatos e os fiscais ou delegados de partidos políticos, desde que eleitores do Município e de posse do título eleitoral (art. 12, § 2°, lei 6g96/82). O voto em separado, então, é reservado para os casos de impugnação à identidade do eleitor, omissão de seu nome na folha de votação ou por cautela do presidente da mesa receptora em casos de dúvida fundada (lei 6996/82 e art. 147, CE). 7.2 - Voto em separado por impugnação O presidente da mesa deve tomar especial cuidado quanto à identidade do eleitor. Qualquer delegado, fiscal, candidato ou eleitor, ou mesmo os membros da mesa, de ofício, podem impugnar a identidade do eleitor. Se o presidente tiver dúvida, deve exigir do eleitor a apresentação de documentos pessoais a fim de dissipá-la. Não tendo documentos, deve interrogá-lo até aferir a veracidade (art. 147, § 1°). Sanadas as dúvidas, o eleitor será admitido a votar normalmente; permanecendo, porém, a dúvida, seu voto deve ser tomado em separado. 7.3 - Voto em separado por omissão da folha de votação Ocorre esta falha quando o eleitor se apresenta com o título eleitoral atualizado perante a seção correta mas seu nome não consta da folha de votação, em geral por culpa do serviço judiciário eleitoral. Pode também ocorrer de o eleitor ter sofrido perda ou suspensão de direitos políticos ou ser homônimo de outro. De qualquer forma o eleitor se apresenta com o título e seu nome não consta da folha. 7.4 - Voto em separado por medida de cautela Embora não tenha havido impugnação, e nem haja omissão na folha de votação, o presidente da mesa poderá ficar em dúvida sobre o eleitor, por exemplo porque seus documentos deixam transparecer falsificações. 7.5 - Procedimento do voto em separado Qualquer que seja a razão do voto em separado, o presidente da mesa deverá proceder da seguinte forma (art. 147, § 2°): a) escrever num envelope padrão fornecido pelo TSE, denominado de sobrecarta branca", o motivo do voto em separado, como a impugnação por fulano", "omissão", "cautela decorrente de..." etc; b) entregar ao eleitor a sobrecarta para que o próprio, depois d e ter votado, na presença dos fiscais e da mesa, coloque nela a cédula e seu título; 124 DIREITO ELEITORAL c) quando decorrente de impugnação, também deve ser colocado na sobrecarta a folha de impugnação e outros documentos; d) mandar que o próprio eleitor feche a sobrecarta e coloque-a na urna; e) anotar o incidente na folha modelo 2, tomando a assinatura do eleitor e em seguida na ata da eleição. 7.6 - Importância do voto em separado Importa o voto em separado para a junta eleitoral decidir, na fase de

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apuração, se o eleitor podia ou não votar onde e como votou (art. 165, § 4°). Admitido o voto, será contado normalmente depois de ser misturada a cédula às demais; invalidado, será desconsiderado, não sendo computado para nenhum efeito. 8 - Encerramento da votação Às 17:00 (dezessete) horas do mesmo dia encerra-se a votação, salvo se houver eleitores na fila, caso em que, antes do fechamento das urnas, o presidente da mesa receptora ordenará que sejam recolhidos os seus documentos de eleitor e lhes entregará uma senha para comprovação de que haviam chegado ainda em tempo de votar. Com esta senha o eleitor será admitido ao recinto de votação, que só se encerrará quando todos tiverem concluído. Votando o último eleitor presente, decorrido o horário das 17:00 horas, o presidente deverá lacrar a urna, identificar os eleitores faltosos e encerrar com a sua assinatura o boletim de urna e demais documentos, remetendo em seguida a urna ao local da apuração, tudo na presença dos fiscais e delegados de partidos (art. 155). ARI FERREIRA DE OUEIROZ 125 X - DA APURAÇÃO 1 - Noções 2 - Órgão apurador 3 - Apuração em votação manual 3,1 - Abertura da urna e providências imediatas 3.1.1 - Horário 3.2 - Pluralidade de zonas eleitorais 3.3 - Fiscalização da apuração 3.4 - A contagem dos votos 3.4.1 - Início 3.4.2 - Os votos em separado 3.4.3 - Nulidade das cédulas ou dos votos 3.4.4 - Destinação dos votos nas eleições proporcionais 3.4.5 - Encerramento da contagem 4 - As impugnações 5 - Decisões da junta 6 - Recursos contra atos da junta 7 - Recontagem de votos 8 - Proclamação do resultado 1 - Noções Terminada a votação, ato contínuo, começará a apuração, que consiste na contagem dos votos pelo órgão competente. Este órgão é sempre a Junta Eleitoral, seja eleição municipal, estadual ou federal ou presidencial. A Junta Eleitoral contará os votos da respectiva zona, que será o resultado final, se a eleição for municipal; se a eleição for de governador, senador, deputado federal e deputado estadual, a Junta remeterá os dados respectivos (resultados parciais) ao TRE, onde serão totalizados; também serão remetidos ao TRE os resultados parciais apurados pelas Juntas na eleição para presidente e vice-presidente da República, casos em que no TRE será feita uma nova parcial, com a somatória das parciais de todas as Zonas pelas respectivas Juntas do Estado. No caso da eleição presidencial, a parcial de cada TRE será enviada ao TSE, onde será feita a apuração final para conhecer o vencedor. 2 - Órgão apurador A apuração, quando a eleição não tiver sido realizada por processamento eletrônico de dados, pode ser feita pela mesa receptora ou, geralmente, pela junta eleitoral, que pode ser dividida em tantas turmas quantas o juiz eleitoral entender necessárias e viáveis para a boa marcha dos trabalhos. Quando a apuração, por instrução do TSE, tiver de ser feita pela mesa, os mesários serão a um só tempo também escrutinadores (art. 189, CE). Atualmente, apenas os votos de eleitor residente no exterior e que vote fora do país, na eleição presidencial, serão apurados pela mesa receptora (art. 15, res. 20.104). O problema da apuração é maior quando não for votação em urna eletrônica, porque, se assim for, ao fim do dia já se terá o resultado (arts. 7° e 11, res. 20103).

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3 - Apuração em votação manual 3.1 - Abertura da urna e providências imediatas 3.1.1 - Horário A apuração deverá começar logo a seguir ao encerramento das eleições, às 18:00 horas, ou ao recebimento da primeira urna, devendo se 126 DIREITO ELEITORAL encerrar em 5 dias (art. 14, lei 6996/82, que modificou o art. 159, CE), não podendo se interromper os trabalhos nos sábados, domingos e feriados, funcionando das 8:00 às 18:00 horas (art. 159, § 1°, CE). 3.2 - Pluralidade de zonas eleitorais Nos municípios divididos em mais de uma zona eleitoral, cada uma delas fará a apuração dos votos respectivos, em locais distintos (art. 13, res. 20103). 3.3 - Fiscalização da apuração Para acompanhar a apuração, cada partido ou coligação tem o direito de credenciar perante a justiça eleitoral até 3 fiscais por junta, ou 3 por turma, se a junta assim for dividida (art. 161 ). Os fiscais atuarão ao lado da junta ou turma apuradora para evitar tentativas de fraude na contagem, que é feita ainda voto a voto num sistema bastante arcaico. Para evitar tumulto e até mesmo influências no processo de contagem, os 3 fiscais deverão se revezar no trabalho não podendo atuar mais de 1 de cada vez (art. 161, § 2°). Se o Boletim de Urna for confeccionado em outro local que não o de contagem, pode ser nomeado mais um fiscal para acompanhar. 3.4 - A contagem dos votos 3.4.1 - Início Para iniciar a contagem, o presidente da turma, na verdade um encarregado, entregará um mapa com os nomes dos candidatos aos seus membros, abrirá a urna e separará e abrirá as cédulas, já que foram depositadas dobradas. Abertas todas as cédulas, manualmente, começará a contagem, primeiro da quantidade de cédulas (art. 166). O encarregado (art. 174) dirá o nome do candidato, ou seu número, ou só da legenda se não houve voto ao candidato, em voz alta e todos os membros anotarão nos respectivos mapas. Anotarão também no mesmo mapa os votos nulos e os brancos. Se não entender a letra do eleitor, de modo que não possa identificar em quem está votando, reunirá a junta, cujos membros estão em cada turma. A junta decidirá por maioria, podendo ser vencido o juiz eleitoral. Se a junta também não entender a intenção do eleitor, anulará o voto. Anulado, se for o caso, o fiscal que a tudo acompanha poderá impugnar de imediato, sob pena de preclusão. 3.4.2 - Os votos em separado Havendo voto em separado, cabe à junta decidir se o eleitor podia, de fato, votar. Para tanto, deverá, antes de iniciar a contagem, apreciar as sobrecartas brancas, anulando os votos referentes aos eleitores que não podiam votar. Admitido o voto tomado em separado, a junta, sem verificar o conteúdo, deverá misturar a cédula às demais ARI FERREIRA DE OUEIROZ 127 3.4.3 - Nulidade das cédulas ou dos votos São nulas as cédulas que não corresponderem ao modelo oficial, não estiverem autenticadas pelo presidente ou contiverem expressões, frases ou sinais que permitam identificar o eleitor (art. 175, I, II e III). Embora não se anulem as cédulas, anulam-se os votos quando: a) tratando-se de eleição majoritária, forem assinalados os nomes de dois ou mais candidatos para o mesmo cargo, ou quando a assinalação, embora única, tiver sido feita em local que torne duvidosa a intenção do eleitor (art. 175, §1°); b) tratando-se de eleição proporcional, quando não se puder identificar com certeza quem

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seja o candidato pelo nome ou número indicado, nem se puder identificar a legenda (art. 175, § 2°); c) qualquer que seja a eleição, se o candidato for inelegível ou não registrado (art. 175, § 3°). 3.4.4 - Destinação dos votos nas eleições proporcionais Ponto crucial na apuração é identificar a intenção exata do eleitor para se evitar anulação indevida de voto ou a atribuição a quem não seja o destinatário. Os arts. 16 e 177 do Código Eleitoral cuidam do assunto. Se o eleitor escrever o nome de um candidato e o número de outro, o voto será computado àquele cujo nome se escreveu, assim como, para efeito de quociente eleitoral, será computado o voto para o partido cujo candidato teve o nome lançado por escrito, isto é, o voto será computado para o mesmo partido do candidato. Ainda, no mesmo sentido, mesmo que o eleitor tenha escrito o nome de um candidato, o número de outro e um partido que não coincide com nenhum dos dois, tais equívocos não invalidam o voto, vez que o lançamento por extenso do nome do candidato expressa a sua vontade inequívoca, aproveitando-se o voto para o candidato que teve o nome escrito, bem como ao seu partido. O art. 85, lei 9504/97, ressalva que em havendo dúvida sobre a quem se atribuir o voto em caso de homõnimos, prevalecerá o número, em lugar do nome. Enfim, pode-se dizer que nas eleições proporcionais os votos serão contados da seguinte forma: a) voto para a legenda e para o candidato: se for escrito o nome de um candidato e o número de outro, o voto será computado àquele cujo nome se escreveu, assim como, para efeito de quociente eleitoral, será computado para o partido deste (art. 177, II); b) voto apenas para a legenda: conta-se o voto apenas para a legenda quando somente ela for indicada, ou se o eleitor votar em mais de um candidato do mesmo partido, ou se não for possível distinguir em quem o eleitor votou pelo nome ou número, sendo ambos do mesmo partido (art. 176). Se, também, o eleitor anotar o número do partido no local da cédula destinado ao cargo respectivo, o voto será contado apenas para a legenda (art. 86, lei 9.504/97). DIREITO ELEITORAL 128 c) voto apenas para o candidato: se o eleitor votar em um candidato mas também escrever o nome da legenda, e esta não for a daquele, contar-se o voto apenas para o candidato (art. 177, III); d) votos em locais incorretos da cédula e inversões: a inversão de nomes, erros de grafia ou outros não serão suficientes para invalidar o voto desde que se possa aferir a vontade do eleitor (art. 177, I). O fato de se escrever o nome ou número de candidato em espaço da cédula não destinado para tal fim não invalida o voto que se conta para tanto para o candidato como para a legenda (art. 177, IV e V). 3.4.5 - Encerramento da contagem Terminada a contagem da urna e resolvidas as impugnações, serão confrontados os resultados anotados nos mapas de cada membro da turma. O total anotado (votos aproveitados, brancos e nulos) deve coincidir com o total de cédulas. Se houver diferença, repete-se a contagem até se sanar a dúvida. Se houver diferença de resultados entre os mapas, terá que ser sanada. Ao final prevalecerá a contagem que coincidir com o total de cédulas. 4 - As impugnações Durante a apuração são admissíveis impugnações e recursos pelos fiscais e delegados dos partidos, candidatos e pelo Ministério Público no momento que surgir o ato impugnado. As impugnações são feitas à Junta Eleitoral, que decidirá de imediato por maioria de seus membros (art. 169,

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CE). O momento para impugnar é preclusivo, devendo ser feito no momento em que surgir a controvérsia, sob pena de não se admitir recurso contra a apuração (art. 171 ). Enfim, sem impugnação a apuração não poderá mais ser questionada. A impugnação fundada em violação da urna, assim como as fundadas em rasuras, emendas e entrelinhas na folha de votação e na ata de eleição, somente pode ser formulada até a abertura (arts. 165, § 2° e 168). Se a junta não receber a impugnação, o interessado poderá renová-la perante o TRE em 48 horas após a decisão, juntando declaração de duas testemunhas (art. 69, lei 9504/97). Em qualquer caso, a impugnação é pressuposto essencial para a interposição de outros recursos que acaso couber, salvo nos casos previstos nos arts. 32 e 50 da res. 20103, que tratam, respectivamente, da negativa do juiz eleitoral de entregar aos partidos ou coligações cópia do Boletim de Urna, e da recontagem de votos por erro na confecção do boletim ou atribuição de votos a candidato inexistente, não-fechamento da contabilidade da urna ou totais nulos, brancos ou válidos destoantes da média geral (art. 88, lei 9504/97). 5 - Decisão da junta A junta sempre decidirá por maioria de votos, podendo, evidentemente, ser vencido o juiz presidente (art. 169 § 1°) ARI FERREIRA DE QUEIROZ 129 a) anulação da votação: verificando falhas na constituição da mesa receptora, inautenticidade das folhas de votação, descumprimento do dia e hora da eleição ou quebra de regras sobre o sigilo do voto, a junta anulará a votação da urna respectiva, fará a apuração em separado e remeterá de ofício o caso ao TRE, por recurso de ofício (art. 165, § 3°); b) apuração ou anulação: verificando que a seção eleitoral foi constituída em propriedade particular de candidato, membro de diretório de partido, delegado ou autoridade policial, bem como de seus cônjuges ou parentes até o segundo grau, ou em imóvel rural particular, bem como se foi recusada sem fundamento legal a fiscalização partidária, a existência de votos em separado, o voto de eleitor excluído sem que o seja em separado, ou eleitor de outra seção, e ainda a demora na entrega da urna logo após o encerramento da votação, a junta deverá decidir pela validade ou invalidade. Entendendo pela validade, fará a apuração definitiva; caso contrário, anulará a votação da urna respectiva, fará a apuração em separado e remeterá de ofício o caso ao TRE, por recurso de ofício (art. 165, § 4°); c) não apuração: a junta não apurará os votos da urna que não estiver acompanhada dos documentos legais e lavrará termo específico para encaminhamento ao TRE (art. 165, § 5°); d) incoincidência de cédulas: verificando a junta que o número de cédulas existentes na urna não coincide com as da folha de votação, deverá decidir se resulta de erro ou fraude. Sendo erro, fará a apuração, depois de corrigir; sendo, porém, fraude, anulará a votação, fará a apuração em separado e recorrerá de ofício ao TRE (art. 166, § 2°); e) violação da urna: verificando a junta indícios de violação da urna, compete ao presidente nomear um perito para examiná-la junto com o Ministério Público. Concluindo o perito pela violação, e aceitando o laudo a junta, ao presidente compete comunicar ao TRE para as providências; se o perito e o Ministério Público concluírem pela inexistência de violação, far-se- é a apuração normalmente; se, entretanto, o Ministério Público divergir do perito, entendendo pela violação, a junta deverá decidir se faz apuração ou se comunica ao TRE (art. 165, § 1 °). Da decisão não unânime da junta cabe recurso pelo Ministério Público imediatamente. 6 - Recursos contra atos da junta Das decisões da junta eleitoral, tomadas por unanimidade ou por maioria, cabe recurso ao TRE. O recurso deve ser interposto de imediato,

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oralmente ou por escrito, e no prazo de 48 horas após a interposição 0 recorrente deverá apresentar a fundamentação, como pressuposto de admissibilidade, indicando ainda a qual eleição se refere, quando for mais de uma (art. 169, §§ 2° e 3°). 130 DIREITO ELEITORAL 7 - Recontagem de votos A recontagem de votos só pode ser feita a requerimento do interessado legítimo, nunca de ofício. Consideram-se legítimos interessados os candidatos, partidos políticos e coligações. Não depende de prévia impugnação, e é obrigatória a recontagem, nos casos quando o boletim apresentar resultado não-coincidente com o número de votantes ou discrepante dos dados obtidos no momento da apuração ou ficar evidenciada a atribuição de votos a candidatos inexistentes, o não- fechamento da contabilidade da urna ou a apresentação de totais de votos nulos, brancos ou válidos destoantes da média geral das demais Seções do mesmo Município, Zona Eleitoral (art. 88, lei 9504/97). 8 - Proclamação do resultado Nas eleições proporcionais serão eleitos os candidatos mais votados de cada partido ou coligação, observados os quocientes partidário e eleitoral. Nas eleições para o senado e para prefeitos de municípios com até 200.000 eleitores serão eleitos os candidatos mais votados, de acordo com o número de vagas; nas eleições para prefeitos de municípios com mais de 200.000 eleitores, governadores e presidente da República, eleito será o candidato que obtiver sozinho mais votos que os concorrentes somados. Se nenhum deles alcançar esta maioria absoluta, far-se-á um segundo turno, concorrendo os dois mais votados e a final será eleito o que alcançar a maior soma de votos. Compete ao presidente da junta eleitoral proclamar o resultado nas eleições municipais; ao TRE, compete a divulgação das eleições federais e estaduais; ao TSE compete o da eleição presidencial. XI - DIPLOMAÇÃO DOS ELEITOS 1 - Noções 2 - Natureza jurídica 3 - Competéncia 4 - Prazo e local de diplomar 5 - Efeitos do diploma 6 - Fiscalização e impugnação 1 - Noçôes A diplomação é o ato pelo qual a justiça eleitoral atesta quem são, efetivamente, os eleitos e os suplentes. Com a diplomação os eleitos se habilitam a exercer o mandato que postularam (art. 216, CE), mesmo que haja recurso pendente de julgamento, pelo qual se impugna exatamente a diplomação. O diploma é a documentação da diplomação. Do diploma deverá constar o nome do candidato e sua legenda, o cargo para o qual foi eleito e, se suplente, qual a classificação. A critério da autoridade competente para a diplomação poderão constar outros dados, como a data da eleição, o lugar, a votação obtida, o nome da autoridade judiciária, do representante do Ministério Público e um espaço para assinaturas, incluindo do eleito. 2 - Natureza jurídica A diplomação é ato jurisdicional, de competência da junta eleitoral, nas eleições municipais, ou do TRE, nas estaduais e federais, ou do TSE, na eleição presidencial (arts. 30, VII, 40, IV e 215, CE). Deve ser, preferencialmente, ato público coletivo, sendo convidados todos os envolvidos, incluindo os partidos políticos e o Ministério Público. Por ser ato judicial, pode ser atacado por meio de recursos (art. 262). Ainda por ser ato judicial, a presidência dos trabalhos sempre compete à autoridade judiciária competente, nunca à de maior gradação, que por acaso participe da solenidade. Por ser uma simples solenidade, não é obrigatória a participação

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dos eleitos, nem a ausência de um ou outro, ou todos, invalida o ato de diplomação. De outro lado, não tem direito à palavra, salvo por liberalidade da autoridade judiciária, qualquer pessoa, seja eleito, representante do Ministério Público, representantes de partidos ou outros. 3 - Competência A diplomação é ato de competência dos órgãos colegiados da justiça eleitoral, no caso as juntas, TRE e TSE. Quando o município for dividido em mais de uma junta eleitoral, a diplomação compete à que for presidida pelo juiz eleitoral mais antigo, e, penso, se forem de mesmo tempo, pelo juiz mais idoso. As outras juntas deverão remeter à competente os documentos da eleição (art. 40, par. único, CE). 4 - Prazo e local de diplomar Como ato judicial, a diplomação deve ser realizada na sede do juízo, em 132 DIREITO ELEITORAL geral na sala de audiências. Não há, na lei, prazo especificado para a diplomação, cabendo à autoridade judiciária competente a designação. Deve, contudo, ser feita antes da data da posse, a tempo de se permitirem impugnações ou outras providências. Assim, pode-se dizer que a diplomação ocorre após a proclamação do resultado e antes da posse. Por meio de Resolução o TSE costuma, porém, fixar um prazo final. A Res. 19382 fixou, para as eleições de 1996, como data final o dia 19.12.96. 5 - Efeitos do diploma O diploma é documento público que traz em si a presunção jure et de jure de que o portador foi eleito para o cargo nele mencionado. Da diplomação decorrem vários efeitos, incluindo impedimentos e prerrogativas, como as seguintes, para deputados federais, senadores e deputados estaduais (art. 54, CF), que não poderão desde a diplomação firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes, nem aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nestas entidades. Igualmente, desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, nem processados criminalmente sem prévia licença de sua Casa (art. 53, § 1 °, CF). A diplomação de militar implica na imediata comunicação à autoridade competente para os fins do disposto no art. 98, III, CE. 6 - Fiscalização e impugnação A diplomação poderá ser fiscalizada e impugnada pelos partidos políticos, coligações, candidatos eleitos ou não e o Ministério Público. Evidentemente, a legitimidade deve ser acrescida do interesse. Assim, somente o partido ou candidato prejudicado pela diplomação, ou pela negativa de diplomação, é que pode impugnar ou recorrer. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 133 XII - DOS RECURSOS ELEITORAIS E EQUIVALENTES RECURSAIS 1 - Noções 2 - Conceito de recurso 3 - Considerações gerais sobre os recursos 3.1 - Efeitos 3.1.1 - Recurso cível 3.1.2 - Recurso criminal 3.2 - Prazo 3.2.1 - A regra 3.2.2 - Exceções à regra 3.2.3 - A preclusão e a matéria constitucional 3.2.4 - A preclusão recursal e as nulidades 3.3 - Prevenção 3.4 - Prejulgado 3.4.1 - Noções 3.4.2 - Relações com a coisa julgada 3.4.3 - Relações com o incidente de uniformização de jurisprudência 3.4.4 - A inconstitucionalidade do preceito 3.5 - legitimidade e capacidade postulatória para recorrer 3.6 - Pressupostos

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recursais 4 - Recursos eleitorais na Constituição 4.1 - Contra decisão do TSE 4.2 - Contra decisão do TRE 4.2.1 - Noções 4.2.2 Recurso especial para o TSE 4.2.3 - Recurso ordinário para o TSE 5 - Outros recursos no processo eleitoral 5.1 - Contra decisão do juiz ou da junta eleitoral, para o TRE 5.2 - Contra decisões dos presidentes de tribunais 5.3 - Agravo de instrumento 5.4 - Embargos de declaração 5.5 - Recurso parcial 5.6 - Embargos infringentes 6 - Equivalentes recursais 6.1 - Impugnação 6.2 - Reclamação 6.3 - Representação 6.4 - Habeas corpus 6.5 - Mandado de segurança 6.6 - Ação rescisória 6.7 - Habeas data e mandado de injunção 6.8 - Ação de impugnação de mandato eletivo 1 - Noções É da natureza humana não se conformar com uma primeira decisão que lhe seja desfavorável. É o sentimento de cada pessoa, que não aceita a derrota, principalmente se esta advém do julgamento por um órgão singular. Por outro lado, o juiz, como qualquer pessoa, está sujeito a equívocos, a falhas, e porque não dizer, a deslizes que o levam a decidir contra o direito apenas para beneficiar uma das partes ou prejudicar outra. Assim, em face da falibilidade do juiz, como ser humano e órgão estatal, bem como porque a parte não aceita a decisão que lhe seja desfavorável, é que a doutrina recomenda e a lei acolhe o sistema com dois graus de jurisdição em que as decisões judiciais, em regra, são passíveis de revisão por um órgão superior colegiado, que é um tribunal. Assim, o recurso, no sentido de fazer retomar o curso, é o meio de que se vale a parte ou interessado para provocar a manifestação de um órgão judiciário superior e colegiado para reexaminar uma causa decidida por um órgão inferior, detectando o erro ou injustiça e fazendo-o seguir o rumo (curso) certo. No processo eleitoral, assim como no processo comum, as decisões judiciais podem ser impugnadas no todo ou em parte por recursos ou outros meios, como a ação rescisória, o habeas corpus, o mandado de segurança e a reclamação. Há, porém, na processo eleitoral, uma outra forma de se rediscutir a matéria decidida judicialmente, que são as impugnações, como tais denominadas e que representam uma característica ou peculiaridade do sistema eleitoral. Por conseguinte, o recurso não se confunde com a impugnação, embora seja uma forma de impugnar a decisão judicial. O recurso, pois, é espécie do gênero impugnação em sentido amplo, mas a impugnação em sentido restrito também é espécie do gênero. Neste capítulo tratarei dos recursos e das impugnações, nesta ordem. A seguir, apontarei alguns casos de cabimento dos demais meios impugnativos. 134 DIREITO ELEITORAL 2 - Conceito de recurso Da noção exposta, e segundo o mestre Amaral Santos, o recurso pode ser conceituado como sendo "o poder de provocar o reexame de uma decisão, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando obter a sua reforma ou modificação". Neste conceito há a referência à mesma autoridade, mas isto é uma exceção para casos expressos em lei, como nos embargos de declaração, embargos infringentes, agravo regimental, agravo retido. A regra é o recurso para a instância superior. 3 - Considerações gerais sobre os recursos eleitorais 3.1 - Efeitos 3.1.1 - Recurso cível Como regra, os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo (art. 257), ressalvada a apelação criminal (art. 362), no sentido de que a interposição

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não impede a eficácia imediata do ato recorrido. Por conseguinte, cassado o registro de uma candidatura não há como o pretenso candidato disputar a eleição sob o argumento de ter recorrido da decisão; mesmo havendo recurso contra a nomeação de membro da mesa receptora, não há por que não entrar em exercício sob o pretexto de que tenha havido recurso. O efeito, pois, dos recursos eleitorais, em regra, é apenas devolutivo, no sentido de que reabre ao órgão judiciário a oportunidade de decidir novamente a mesma questão, seja no mesmo grau ou em grau superior. Quando o recurso for interposto para apreciação do mesmo órgão, diz-se que seu efeito é apenas regressivo (25). E o caso dos recursos inominados (art. 267, §§ 6° e 7°) que somente serão remetidos ao TRE se for mantida a decisão recorrida. 3.1.2 - Recurso criminal Em matéria criminal eleitoral, além dos recursos constitucionais cabem os recursos de apelação e em sentido estrito. Sendo admissível o recurso em sentido estrito, não previsto no CE, aplicam-se as disposições do CPP, por isso pode, em certos casos, ter efeito suspensivo (arts. 583 e 584, CPP). A apelação de sentença absolutória não tem efeito suspensivo, por isso, estando preso o réu, deve ser posto em liberdade; ao contrário, sendo de sentença condenatória a apelação tem efeito suspensivo impedindo, entre outros efeitos, que se lance o nome do réu no rol dos culpados ou se expeça mandado de prisão. (25) Ver meu livro "Direito Processual Civil - Processo de Conhecimento" desta mesma Editora, onde discorri sobre o tema. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 135 3.2 - Prazo 3.2.1 - A regra Salvo disposição em contrário na lei ou na Constituição, o prazo para interposição de recurso eleitoral é de 3 dias (art. 258), além do que, não se tratando de matéria constitucional, o prazo é preclusivo e a não interposição impedirá o recurso subsequente que o caso comportaria (art. 259). Por conseguinte, mesmo que o recurso a ser interposto seja um dos previstos no CPC, bem como o procedimento seja o deste Diploma, o prazo é de 3 dias, salvo se houver disposição legal em contrário. Assim, a ação de impugnação de mandato eletivo obedece ao rito ordinário do CPC, com prazo de 15 dias para contestação, sobrevindo audiência de conciliação e outros institutos. O prazo, porém, para apelação, é de 3 dias, não de 15 dias, como seria naquele Código. E preciso, ainda, não se perder de vista que muitos prazos poderão se iniciar ou se vencer em sábados, domingos ou feriados, desde que nestes dias, segundo calendário elaborado pelo TSE, os cartórios eleitorais devam permanecer abertos, como se dá com o prazo para registro de candidaturas, que se encerrará às 19:00 horas de 05 de julho de 1998, um Sábado. Além disso, dispõe o art. 16 da LC 64/90 (lei das inelegibilidades) que os prazos são peremptórios e contínuos, correm em cartório e não se suspendem em sábados, domingos e feriados. 3.2.2 - Exceções à regra Há, porém, exceções, ao prazo de interposição, como nos seguintes casos: a) o art. 58, § 5°, lei 9504/97, estabelece o prazo de 24 horas para recorrer contra decisão de juiz eleitoral ou TRE em casos de reclamações ou representações contra candidatos; b) o art. 96, § 8°, lei 9504/97, estabelece o prazo de 24 horas para recorrer contra a decisão judicial sobre direito de resposta na propaganda eleitoral; c) o inciso IV, § 1 °, art. 165, CE, determina a interposição imediata de

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recurso contra a decisão da junta que rejeita a alegação ministerial de violação de urna; d) o art. 169, § 2°, CE, determina o recurso imediato contra a decisão de junta apuradora sobre impugnação de voto, devendo o arrazoamento ser apresentado sm 48 noras; e) a apelação criminal, que tem o prazo de 10 dias (art. 362, CE). 136 DIREITO ELEITORAL 3.2.3 - A preclusão e a matéria constitucional Dispõe o art. 259, CE, que "são preclusivos os prazos para interposição de recurso, salvo quando se discutir matéria constitucional". Quanto à preclusão em si nada há de particular, porque é a mesma regra aplicável ao processo civil. A preclusão, no caso temporal, embora possa se verificar também a lógica ou a consumativa, é a perda do direito de praticar um ato processual por ter decorrido a fase própria. É, pois, resultado da perda de prazo. Com a preclusão se verifica a inquestionabilidade da decisão, podendo até mesmo se verificar a coisa julgada, se for contra sentença a perda de prazo. Devendo, porém, versar sobre matéria constitucional o recurso, não há preclusão no processo eleitoral. Deixando de recorrer, por exemplo, sobre a matéria na apelação, poderá, posteriormente, ser alegada no recurso especial ou ordinário, ou mesmo no extraordinário. Isto não quer dizer que o recurso em matéria constitucional possa ser interposto fora do prazo, mas apenas que o que nele se deveria conter poderá ser alegado em outro momento processual adequado. Neste sentido dispõe o art. 259, par. único que "o recurso em que se discutir matéria constitucional não poderá ser interposto fora do prazo. Perdido o prazo numa fase própria, só em outra que se apresentar poderá ser interposto". Exemplo claro de aplicação desta - regra é a súmula 11 do TSE: "No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional". 3.2.4 - A preclusão recursal e as nulidades Corolário da preclusão no processo eleitoral, é a teoria das nulidades que deve ser apreciada em conjunto. Salvo, como já dito, em matéria constitucional, não interposto o recurso no prazo, precluso está o direito de ver novamente decidida a questão. Neste sentido reforça o art. 223 de que "a nulidade de qualquer ato, não decretada de ofício pela junta, só poderá ser argüida quando de sua prática, não mais podendo ser alegada, salvo se a argüição se basear em motivo superveniente ou de ordem constitucional ". Acrescenta o § 1 °, que "se a nulidade ocorrer em fase na qual não possa ser alegada no ato, poderá ser argüida na primeira oportunidade que para tanto se apresente . Se, porém, for motivo superveniente acrescenta o § 2°, "deverá ser alegada imedíatamente, assim que se tornar conhecida, podendo as razões do recurso ser aditadas no prazo de 2 dias". Por fim arremata o § 3°, dispondo que "a nulidade de qualquer ato, baseada em motivo de ordem constitucional, não poderá ser conhecida em recurso interposto fora de prazo. Perdido o prazo numa fase própria, só em outra que se apresentar poderá ser argüida". Enfim, pode-se dizer, segundo julgado do TSE, de 1982, que em matéria de nulidades devem ser observadas as seguintes regras: a) se a nulidade ocorrer em fase na qual não possa ser alegada no ato, poderá ser argüida na primeira oportunidade que para tanto se apresente; ARI FERREIRA DE OUEIROZ 137 b) se se basear em motivo superveniente, deverá ser alegada imediatamente, assim que se tornar conhecida, podendo as razões do recurso ser aditadas no prazo de dois dias; c) a nulidade de qualquer ato, baseado em motivo de ordem constitucional, não poderá ser conhecida em recurso intempestivo, mas, sim, em outro recurso próprio que venha ser interposto.

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3.3 - Prevenção Nos tribunais, o primeiro recurso distribuído tornará prevento o relator para os demais casos do mesmo pleito, no Município ou Estado (art. 260). 3.4 - Prejulgado 3.4.1 - Noções Num mesmo pleito, as decisões anteriores em matéria de direito, não de fato, constituem prejulgados para os demais casos, salvo se 2/3 (dois terços) dos membros do tribunal votarem contra (art. 263). O prejulgado pode ser comparado com alguns institutos do processo civil, embora tenha maiores diferenças do que semelhança. 3.4.2 - Relações com a coisa julgada Pode-se dizer que o prejulgado tem uma certa semelhança com a coisa julgada porque vincula o tribunal a decidir no mesmo sentido todos os recursos que lhe forem remetidos. Difere, porém, na medida em que a coisa julgada torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário de qualquer natureza, perante o mesmo juízo ou juízo diverso, no mesmo pleito ou em pleito diverso, seja matéria de fato ou de direito. O prejulgado, ao contrário, só se estende a questões de direito, não se sujeita a limites subjetivos, posto que não se limita às partes a quem for dada a decisão, não alcança questões de fato e, por fim, não pode ser invocado em pleitos diferentes. Além disso, deixará de ser considerado se contra a tese decidida anteriormente votarem 2/3 dos membros do tribunal (art. 263, CE); 3.4.3 - Relações com a uniformização de jurisprudência O prejuigado também se assemelha com o incidente de uniformização de jurisprudência (arts. 476 a 479, CPC), pois, ambos visam uniformizar decisões no tribunal. De Plácido e Silva ensina que "por via do prejulgado, o tribunal, por iniciativa de qualquer de seus juízes, procura preventivamente evitar a disparidade ou contradição de julgado, impondo a verdadeira interpretação a ser adotada nas questões submetidas ao veredito de suas câmaras ou turmas". De fato o incidente de uniformização de jurisprudência tem lugar quando, ao apreciar o recurso, qualquer dos juízes do tribunal 138 DIREITO ELEITORAL verificar que a seu respeito ocorre divergência ou quando no julgamento recorrido tenha havido interpretação diversa da que lhe tenha dado outra câmara ou turma (art. 476, CPC). O incidente deve ser suscitado ao pleno do tribunal; o prejulgado, porém, pode ser suscitado tanto pelo relator do recurso, como pelo Procurador Eleitoral ou pelo recorrido. 3.4.4 - A inconstitucionalidade do preceito Em recente decisão, relator o Min. Sepúlveda Pertence, o TSE declarou a inconstitucionalidade do art. 263, CE, entendendo que o prejulgado dá à decisão anterior força de lei, violando o princípio constitucional da separação dos poderes, e também porque se exige o quorum de 2/3 dos membros do tribunal para derrubar a tese, enquanto que o art. 97, CF, exige apenas o quorum de maioria absoluta para que o tribunal declare a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Não subsiste, portanto, no direito pátrio, o instituto de prejulgado, posto que as decisões judiciais não têm (por enquanto) efeito vinculante. 3.5 - legitimidade e capacidade postulatória para recorrer Não há, praticamente, particularidades sobre a legitimidade recursal no processo eleitoral, se comparado com o processo civil. Naquele, como neste, os recursos podem ser interposto pelo vencido ou pelo terceiro prejudicado, bem como pelo Ministério Público. Legitimado, portanto, para recorrer, é uma das partes, ou terceiro, ou o Ministério Público, este como parte ou fiscal da lei, desde que qualquer deles se considere vencido, sob pena de faltar o outro pressuposto, que é o interesse recursal de ver

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modificada a decisão. Assim, há recursos interpostos por cidadãos (como no caso de filiação partidária ou exclusão de eleitor do cadastro geral), por candidatos ou partidos políticos, por seus presidentes ou delegados. Em qualquer caso, porém, salvo se do Ministério Público, o recurso deve ser subscrito por advogado, não mais prevalecendo a antiga orientação do TSE, de que, em sede de inelegibilidade, o cidadão leigo poderia recorrer mesmo sem habilitação legal. Desde 1988, reforçado pelo novo estatuto da OAB, a postulação perante qualquer órgão do Poder Judiciário é prerrogativa de advogado regularmente inscrito em seus quadros, não se conhecendo de recursos sem tal pressuposto, por defeito de representação. Os delegados de partidos, portanto, embora tenham legitimidade para representá-los, somente poderão praticar pessoalmente atos administrativos ou extrajudiciais. Para agir em juízo deverão constituir advogados, salvo se tiverem habilitação legal e quiserem agir como advogado e como delegado ao mesmo tempo, não havendo impedimento. 3.6 - Pressupostos recursais Em princípio, os mesmos pressupostos recursais do processo civil são exigidos no processo eleitoral, como a tempestividade, a singularidade, a adequação e a recorribilidade. Não se exige, porém, o preparo, por ser ato ARI FERREIRA DE OUEIROZ 139 de cidadania. De outro lado, há certos recursos que se subordinam a um pressuposto especial, que são as impugnações. Assim, não se admitirá recurso contra a votação, nem contra a apuração, se num e noutro caso não tiver havido, no ato em que se verificou o incidente objeto do recurso, a competente impugnação (arts. 149 e 171 , CE). Também é pressuposto recursal a reclamação perante o juiz eleitoral no caso de nomeação da mesa receptora (art. 121 ). 4 - Recursos eleitorais na Constituição 4.1 - Contra decisão do TSE Há um divórcio entre dispositivos da própria Constituição quanto ao cabimento de recursos. É que o art. 102, II, "a", dispõe sobre o recurso ordinário junto ao STF contra decisão dos Tribunais Superiores, entre os quais logicamente está o TSE, que denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção. O art. 121, § 3°, por sua vez, diz ser cabível recurso quando o TSE denegar habeas corpus ou mandado de segurança, se omitindo quanto à denegação de habeas data e mandado de injunção. A conclusão me parece lógica: houve um cochilo do constituinte, que apenas reproduziu o art. 281 do Código eleitoral sem se dar conta de que a vigente CF criou as duas novas ações constitucionais, que não eram previstas no diploma eleitoral. Portanto, se a decisão do TSE negar habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção, cabe recurso ordinário ao STF. Em síntese, cabem os seguintes recursos em matéria eleitoral ao STF: a) extraordinário: contra decisão do TSE que contrariar a Constituição Federal; b) ordinário: contra decisão de TSE denegatória de habeas corpus, mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção. 4.2 - Contra decisão do TRE 4.2.1 - Noções A justiça eleitoral é especial, como se sabe, e esta especialidade alcança até mesmo a sua estrutura. Em sede de justiça comum, as decisões do Tribunal de Justiça que contrariarem a lei federal desafiam recurso especial para o STJ, enquanto as que contrariarem a CF desafiam recurso extraordinário ao STF, podendo, se for o caso, ser interpostos os dois recursos simultaneamente (art. 498, CPC). No processo eleitoral isto não é

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possível, vez que o TSE é o órgão de última instância, por isso não cabem recursos contra decisões do TRE diretamente ao STF em nenhuma hipótese. O caminho a seguir será sempre o recurso ao TSE, mesmo quando a impugnação se fundar em ofensa à CF (art. 121 , § 4°, I, CF). Este dispositivo relaciona os casos de cabimento de recurso contra decisão do TRE que contrariar a Constituição Federal ou a lei. Um e outro casos 140 DIREITO ELEITORAL desafiam recurso especial ou ordinário para o TSE, não o recurso extraordinário. 4.2.2 - Recurso especial para o TSE Das decisões do TRE cabe recurso especial para o TSE quando: a) proferidas contra disposição expressa da Constituição ou da lei. De notar que no processo civil ou penal, o caso seria claramente de recurso extraordinário ao STF; b) se verificar que houve divergência na interpretação de lei entre dois ou mais TREs. 4.2.3 - Recurso ordinário para o TSE Das decisões do TRE cabe recurso ordinário para o TSE quando: a) versar sobre inelegibilidade nas eleições federais ou estaduais para deputados, senador, governador e vice-governador; b) versar sobre expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais para deputados , senador, governador e vice-governador; c) anular diplomas nas eleições federais ou estaduais para deputados, senador, governador e vice-governador; d) decretar a perda de mandato eletivo de deputado estadual ou federal senador, governador e vice-governador; e) denegar habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção. 5 - Outros recursos no processo eleitoral 5.1 - Contra decisão do juiz ou da junta eleitoral Contra decisão do juiz ou da junta eleitoral cabem, para o TRE, os ' seguintes recursos: a) apelação criminal: contra sentença absolutória ou condenatória, no prazo de 10 dias, esta com efeito suspensivo, aquela somente devolutivo (art. 362); b) recurso em sentido estrito: cabível nas mesmas hipóteses que seriam no processo penal comum (art. 364), seguindo-se o procedimento traçado naquele código salvo o prazo para interposição, que é de 3 dias; c) recurso inominado: é cabível contra atos, resoluções ou decisões, exceto em matéria criminal, como nos casos dos arts. 39, 45, § 7º, 57, § 2º, 80, 120, § 4º, 121, § 1º, 135, § 8º, 169 e 262. O recurso inominado é uma espécie de agravo nos próprios autos e admite a retratação pelo órgão ARI FERREIRA DE OUEIROZ 141 recorrido, somente sendo remetido ao TRE em caso de ser mantida a decisão recorrida (art. 267, §§ 6° e 7°). 5.2 - Contra decisões dos presidentes de tribunais Também cabe recurso inominado contra atos, despachos ou resoluções do presidente do tribunal, para o respectivo tribunal, no prazo de 3 dias (art. 264). Este recurso é uma espécie de "agravo regimental" ou "nos próprios autos". 5.3 - Agravo de instrumento Embora não previsto em lei expressamente, admite-se agravo de instrumento no processo eleitoral nos mesmos casos que seria admitido no processo civil, adotando-se o procedimento traçado naquele Código, salvo 0 prazo, que é de 3 dias. Aliás, contra decisões interlocutórias no processo eleitoral com rito de processo civil, como a ação de impugnação de mandato

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eletivo ou mesmo a cassação de registro de candidaturas, não há dúvida alguma sobre o cabimento do agravo de instrumento. Também cabe agravo de instrumento: a) contra decisão do presidente do TRE que nega seguimento a recurso ordinário ou especial ao TSE (art. 279); b) contra decisão do presidente do TSE que nega seguimento a recursos ao STF (art. 282); 5.4 - Embargos de declaração É cabível o recurso de embargos de declaração quando na sentença, decisão ou acórdão contiver dúvida, lacuna, obscuridade ou omissões por não ter sido apreciado ponto sobre o qual deveria se manifestar (art. 275). Os embargos suspendem o prazo para interposição de outros recursos, salvo se manifestamente protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar (art. 275, § 4°). O procedimento dos embargos declaratórios no processo eleitoral difere em parte do processo civil, vez que se o relator for vencido, outro será designado para lavrar o acórdão (art. 275, § 3°). 5.5 - Recurso parcial O recurso parcial é previsto no art. 261, CE, contra junta eleitoral que decidir sobre urnas, cédulas e votos. Não será admissível recurso parcial quando a matéria versar sobre registro de candidatos. O procedimento do recurso parcial é o mesmo dos recursos inominados. 5.6 - Embargos infringentes Nunca se admitiu o recurso de embargos infringentes no processo eleitoral, até que a antiga lei orgânica dos partidos políticos passou a prever 142 DIREITO ELEITORAL embargos para o próprio tribunal quando, na decisão sobre infidelidade partidária para perda de mandato, houvesse pelo menos dois votos divergentes. A emenda constitucional 25/85, revogou o preceito que previa a perda de mandato por infidelidade partidária; a atual Constituição Federal remete à lei orgânica a questão que, por sua vez, remete aos estatutos dos partidos. A própria lei orgânica somente atribui a pena de perda da função que o parlamentar ocupe em razão de representação partidária, mas não há perda de mandato por infidelidade. Por conseguinte, não se admite no processo eleitoral o recurso de embargos infringentes. 6 - Equivalentes recursais 6.1 - Impugnação As impugnações, extremamente variadas no processo eleitoral, não se confundem com os recursos, tanto que após elas é que muitas vezes cabem estes. A impugnação é, pois, por vezes, pressuposto recursal. Não sendo impugnada uma decisão poderá ocorrer a preclusão, desde que haja previsão em lei da impugnação. Em princípio, as impugnações são admitidas perante as mesas receptoras de votos, junta apuradora, juiz eleitoral durante a fase de registro de candidaturas e alistamento eleitoral, entre outras. Assim, cabe impugnação, para a junta apuradora, quanto aos incidentes verificados durante a apuração, que deverá ser resolvida de plano por maioria de votos (art. 165, § 2°, CE); cabe também impugnação perante a mesa receptora de votos, sobre a identidade do eleitor admitido ou não a votar (art. 147, § 1 °, CE); também cabe impugnação sobre a contagem de votos (art. 169, caput, CE). Somente após resolver as impugnações é que a junta passará a apurar os votos (art. 173, CE). 6.2 - Reclamação Dispõe o art. 121 , CE que "da nomeação da mesa receptora, qualquer partido poderá reclamar ao juiz eleitoral, no prazo de 2 dias, a contar da audiência, devendo a decisão ser proferida em igual prazo". Da decisão do juiz eleitoral cabe recurso inominado ao TRE no prazo de 3 dias. A reclamação é, pois, pressuposto para o recurso, não podendo recorrer o

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partido que não tenha reclamado (art. 121, § 3°, CE). Também cabe reclamação contra a fixação do quadro de percursos para transporte de eleitores, no prazo de 3 dias, de cuja decisão cabe recurso inominado no mesmo prazo sem efeito suspensivo (art. 4°, lei 6091/74). 6.3 - Representação Cabe ainda no processo eleitoral a representação, o que também não é particularidade, posto que se trata de direito constitucional conexo ao direito de petição. O instituto da representação tem por finalidade dar a quem se sentir prejudicado a oportunidade de levar ao conhecimento da autoridade competente o conhecimento da questão para que tome as providências ARI FERREIRA DE OUEIROZ 143 cabíveis. Tito Costa diz que a representação tem, no processo eleitoral, mais ou menos as funções da correição parcial na justiça comum (26). Cabe representação quando não couber recurso. Atualmente, pelo que me consta, nenhum dispositivo do Código Eleitoral prevê o direito de representação, posto que os arts. 62 a 65 que a ele se referiam ao tratar dos "preparadores", foi revogado. De fato, no art. 64 constava que "qualquer eleitor ou delegado de partido poderá representar ao TRE, diretamente ou por intermédio do juiz eleitoral da zona, contra atos do preparador". A representação podia ser verbal ou escrita, devendo ser reduzida a escrito no primeiro caso. A lei 9504/97 ainda se refere à representação: "Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta lei, as reclamações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se: a) aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais; b) aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais; c) ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial. § 1° As reclamações e representações devem relatar fatos, indicando provas, indícios e circunstâncias". 6.4 - Habeas corpus Cabe habeas corpus perante todos os órgãos da justiça eleitoral, exceto para a junta, posto que sua competência é específica para apuração das eleições. Pressuposto do habeas corpus é a coação efetiva ou a simples ameaça concreta contra a liberdade de locomoção em razão de questões eleitorais. a) perante o juiz eleitoral: em princípio, competente para processar e julgar o habeas corpus é o juiz eleitoral (art. 35, III, CE). Aplicam-se ao habeas corpus em matéria eleitoral as disposições dos arts. 647 a 667 do CPP, inclusive quanto aos recursos cabíveis. Assim, contra a decisão do juiz eleitoral que concede ou denega habeas corpus cabe recurso em sentido estrito ao TRE, no prazo de 3 dias; b) perante o TRE: quando o coator for juiz eleitoral, competente para decidir o habeas corpus é o TRE, cujo processo é de sua competência originária, caso em que sendo denegatória a decisão cabe recurso ordinário ao TSE; sendo concessiva, o máximo que pode caber é recurso especial ao TSE com fundamento no art. 276, I, CE. c) perante o TSE: quando o coator for autoridade com foro no TSE, competente para julgar o habeas corpus será este tribunal, cujo processo é de sua competência originária, caso em que só caberá recurso ordinário ao STF se denegatória a decisão, pois, segundo o art. 102, II, CF, cabe ao STF julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos 144 DIREITO ELEITORAL Tribunais Superiores. Sendo concessiva a decisão, o máximo que pode caber é recurso extraordinário ao STF com fundamento no art. 281, CE. 6.5 - Mandado de segurança

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Como o HC, o mandado de segurança é admitido perante o juiz eleitoral, o TRE e o TSE, desde que verse sobre questões político-partidárias ou eleitorais. Cabe MS sempre que houver ameaça de lesão, ou lesão efetiva, a direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, por ato de autoridade ou de agente de pessoa privada investida de atribuições do poder público, como o presidente de partido político. Cabe mandado de segurança ao TRE contra ato de autoridade que tenha, no mesmo tribunal, foro privilegiado por crimes de responsabilidades; no TSE tem lugar o MS tanto em sede de competência originária como recursal. Em sede de recurso cabe contra decisão do TRE que, julgando originariamente o mandado de segurança, denegue a ordem (art. 121, § 4°, V, CF); em sede originária, cabe mandado de segurança ao TSE contra atos de autoridades que respondam perante o mesmo tribunal por crimes de responsabilidades ou comuns, por isso que não tem aplicação o disposto no art. 22, I, que incluía entre a competência o ato do presidente da República, já tendo, inclusive, o Excelso Pretório declarado a inconstitucionalidade da previsão (MS 20.409-5, de 1984). Da decisão denegatória de MS pelo TRE cabe recurso ordinário para o TSE. Contra decisão denegatória pelo TSE, em processo de competência originária, cabe recurso ordinário para o STF. 6.6 - Ação rescisória Nunca admitida no direito eleitoral brasileiro, por falta de previsão legal, a ação rescisória agora tem respaldo legal, introduzida que foi pela lei complementar 86/96, acrescentando um inciso ao art. 22, CE. O STF, todavia, concedeu liminar em ADIn, com efeito retroativo, para suspender a parte do dispositivo que dava à rescisória efeito suspensivo, quando oposta contra ato que declarava inelegível o candidato, permitindo que disputasse a eleição enquanto se discutisse judicialmente a questão. Entendeu o STF que o efeito suspensivo não se coaduna com a rescisória e nem mesmo no processo civil ou penal (revisão criminal) tal efeito se encontra. Por conseguinte, admite-se a ação rescisória em matéria eleitoral, sem efeito suspensivo, e ainda limitada à impugnação de mandato eletivo, como sugeria o prof. Tito Costa (27) e decidiu o TSE, acolhendo voto do min. Marco Aurélio no MS 2326, em 17.08.95. 6.7 - Habeas data e mandado de injunção Observados os pressupostos constitucionais, cabe habeas data e mandado de injunção perante os órgãos da justiça eleitoral. Assim, cabe mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne 27 Recursos em matéria eleitoral, 5ª ed. P. 202. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 145 inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5°, LXXI), e cabe habeas data tanto para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, que sejam constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, como para retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (art. 5°, LXXII). A primeira hipótese de cabimento de habeas data se subordina ainda ao pressuposto jurisprudencial consistente na prova de recusa, por parte do banco de dados, de dar conhecimento às informações requeridas (28). 6.8 - Ação de impugnação de mandato eletivo Segundo o art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição Federal, o mandato eletivo poderá ser impugnado perante a justiça eleitoral por abuso de poder econômico, corrupção ou fraude. A ação de impugnação do mandato, que não se confunde com o recurso contra diplomação, deve ser proposta no prazo de 15 dias, contados da diplomação, correndo em segredo de justiça. O autor da ação somente responderá pela sucumbência em caso de lide

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temerária ou de má-fé. Sem que haja regulamentação legal, prevalece o entendimento de que o rito da ação é o ordinário do processo civil, inclusive quanto aos prazos para contestação e outros, exceto para recorrer, havendo quem afirme, como Tito Costa (29), que também é o mesmo do processo civil, e outros, como o TRE de Goiás, que decidiu que o prazo para recurso é geral do processo eleitoral, de três dias, posição que parece-me mais correta (30). O processo é de competência do juiz eleitoral, quando impugnado mandato municipal, ou do TRE, se o mandato for estadual. Quanto aos mandatos federais e presidenciais, são de competência do TSE. 28 Súmula 2, STJ, "Não cabe o habeas data (CF 5°, LXXII "a") se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa". 29 Op. cit. p. 189. 30 No mesmo sentido tem decidido o TSE: Ac. Nº 11.893, de 21-07-94, rel. min. Carlos Velloso, e ac. Nº 12.578, de 06-06-95, rel. min. Diniz de Andrada. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 147 XIII - DAS GARANTIAS ELEITORAIS 1 - Noções 2 - Liberdade do eleitor 2.1 - Garantia genérica 2.2 - Garantia especial 2.3 - Comunicação da prisão 3 - Força pública 4 - Prioridade postal 5 - Reconhecimento de firmas 6 - Registro civil gratuito 7 - Ausência do serviço 8 - Impedimento do juiz eleitoral 9 - Vedação de nomeações e concursos públicos 10 - Transporte de eleitores 11 - Alimentação a eleitores 12 - O problema da isenção tributária 1 - Noções Durante o processo eleitoral, quanto mais se aproxima das eleições é normal que os ânimos dos envolvidos, especialmente candidatos e seus cabos eleitorais, se acirrem e tudo façam para influir na vontade do eleitor, seja comprando ou trocando seu voto, fraudando a votação, corrompendo mesários e escrutinadores e mesmo utilizando outros meios ruinosos para a democracia. Por isso, é imperioso que a legislação eleitoral estabeleça regras para a garantia das eleições, tanto quanto ao processo em si, quanto para a vontade e exercício do direito do eleitor. Neste ponto tratarei destas garantias, pois, sendo o voto uma forma de exercício da soberania nacional (art. 14, CF), deve ser exercitado com liberdade. Para tanto são previstas em lei várias medidas, como as apontadas a seguir. 2 - Liberdade do eleitor 2.1 - Garantia genérica Ninguém poderá impedir ou embaraçar o exercício do voto (art. 234, CE), sob pena de incidir em crime contra o serviço eleitoral sujeito a pena de detenção por 6 meses e multa de 60 a 100 dias (art. 297, CE). Por conseguinte, o eleitor deve ter plena liberdade, inclusive física, para votar, não podendo ser impedido por razões de trabalho ou outra de qualquer natureza. As principais garantias são, porém, contra a prisão, valendo a regra de que nos 5 (cinco) dias que antecederem ao pleito, até 48 (quarenta e oito) horas após, o eleitor não poderá ser preso. A esta regra se abrem as seguintes exceções, quando a prisão será lícita (art. 236): a) prisão em flagrante; b) prisão em virtude de condenação transitada em julgado; c) prisão por desrespeito ao salvo conduto. O salvo-conduto é uma garantia de liberdade dada pelo juiz eleitoral, ou mesmo pelo presidente da mesa receptora, em favor de eleitor que sofrer violência moral ou física na liberdade de votar ou por ter votado (art. 235, CE), por isso tem a validade limitada ao período compreendido entre as 72

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horas antes até 48 horas após o pleito (art. 235, par. único), e inclui a ordem de prisão por desobediência por até 5 dias contra o causador da violência 148 DIREITO ELEITORAL que se mostrar recalcitrante em obedecê-lo. Como não há regra especial, o salvo-conduto pode ser concedido de ofício ou a requerimento de qualquer eleitor, partido político ou candidato, como uma espécie de habeas corpus, posto que não há fórmula rígida. 2.2 - Garantia especial Os membros das mesas receptoras e os fiscais de partidos, no exercício de suas funções eleitorais, e os candidatos, nos 15 dias anteriores ao pleito, não poderão ser presos, salvo em caso de flagrante (art. 236, § 1°). 2.3 - Comunicação da prisão Nos casos em que a prisão for admitida e cumprida, deverá ser imediatamente comunicada ao juiz eleitoral que, se verificar ilegalidade, a relaxará e representará ao Ministério Público (art. 356, § 1°) para que promova a responsabilidade do coator (art. 236, § 2°). A violação destas regras constitui crime contra o serviço eleitoral (art. 298) e sujeitará o agente a pena de reclusão por até 4 anos. 3 - Força pública Os agentes policiais ou militares empregados na segurança das eleições deverão permanecer a pelo menos 100 metros dos locais de votação, não podendo se aproximar ou nele penetrar sem ordem do presidente da mesa ou do juiz eleitoral (art. 141 , CE). O presidente que determinar a aproximação da força pública deverá fazer constar da ata, justificando as razões. 4 - Prioridade postal Os partidos políticos gozam de prioridade no serviço postal nos 60 dias antes do pleito, para a remessa de material destinado à propaganda eleitoral e registro de seus candidatos (art. 239). A norma consagra apenas a prioridade, mas não a gratuidade, e não pode ser invocada pelos candidatos, mas apenas pelos partidos ou coligações. O funcionário dos correios que negar a prioridade incidirá no crime contra o serviço eleitoral previsto no art. 338, sujeito à pena de multa de 30 a 60 dias. 5 - Reconhecimento de firmas Os tabeliães não poderão deixar de reconhecer gratuitamente firmas nos documentos apresentados com 2 dias de antecedência para instruir recursos eleitorais (arts. 372 e 373). ARI FERREIRA DE OUEIROZ 149 6 - Registro civil gratuito O registro civil de nascimento, para fins de fornecimento de certidão ao alistamento eleitoral, será gratuitamente feito pelos cartórios respectivos(31). 7 - Ausência do serviço Aos empregados e funcionários é assegurado o direito de se ausentar do serviço, sem prejuízo do salário, por até 2 dias para fazer o alistamento eleitoral ou requerer a transferência (art. 48, CE). Os trabalhadores públicos ou privados, incluindo os servidores de qualquer ente da administração direta ou indireta, convocados para compor mesa receptora ou junta apuradora terão direito de se ausentar do serviço pelo dobro do tempo, contados ininterruptamente (art. 98, lei 9504/97). 8 - Impedimento do juiz eleitoral O juiz que seja parte em ação judicial envolvendo candidato não poderá participar de qualquer das fases do processo eleitoral em que o candidato seja interessado (art. 95, lei 9504/97). A pendência de processo judicial instaurado antes do registro da candidatura, seja de qual parte for a iniciativa, torna o juiz impedido de funcionar no pleito. Da mesma forma

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ficará impedido o juiz quando for o autor da ação. Se a ação for proposta por candidato depois do registro, o afastamento do juiz se dará por suspeição, que poderá ser, ou não, declarada (art. 47, res. 19514, TSE). 9 - Vedação de nomeações e concursos públicos Nos 3 (três) meses que antecederem as eleições até a posse dos eleitos, não poderão ser providos cargos públicos, sob pena de nulidade absoluta. A nulidade atinge os atos que de qualquer forma importem em nomeação, contratação, designação, readaptação ou qualquer outra forma de provimento na administração direta ou indireta. De fato, dispõe o art. 73, § 2°, V, lei 9504/97: "É vedado "nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados: a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de confiança; b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República; (31) Lei 9.265/96 que regulamentou o art. 5º, LXXXVI, CF. 150 DIREITO ELEITORAL c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início daquele prazo; d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo; e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de agentes penitenciários". Portanto, a vedação não se aplica aos cargos em comissão, aos da magistratura, aos do Ministério Público e, com aprovação das Casas Legislativas, aos dos Tribunais de Contas. Por identidade de razões, no mesmo período e para os mesmos órgãos ou entidades, é vedada a realização de concursos públicos. 10 - Transporte de eleitores Compete exclusivamente à justiça eleitoral regular e fiscalizar o transporte gratuito de eleitores da zona rural em dias de eleição a fim de evitar que candidatos manipulem a intenção. Para tanto, os veículos públicos, exceto os militares e os indispensáveis para o serviço público, poderão ser requisitados pelo juiz eleitoral (art. 1°, lei 6091/74). Se tais veículos forem insuficientes poderão ser requisitados veículos particulares (art. 2°), cujas despesas serão pagas pelo fundo partidário até 30 dias após o pleito. A fim de otimizar o resultado, 15 dias antes do pleito o juiz eleitoral deverá elaborar um mapa do roteiro, denominado "quadro de percurso" por onde os veículos trafegarão e fixar os horários de embargue e desembarque (art. 4°). Os veículos empregados no transporte de eleitor deverão ser identificados com a frase "A serviço da justiça eleitoral" (art. 3°, § 1°, lei 6091/74). A lei 6091/74 define os seguintes crimes eleitorais: a) ao responsável pela repartição pública, órgãos ou unidade de serviço, que não informar por escrito à justiça eleitoral até 50 dias antes das eleições os veículos que poderão ser utilizados no transporte de eleitores, ou der informação falsa, (art. 3°), cuja pena prevista é de detenção de 15 dias a 6 meses e multa de 60 a 100 dias-multa (art. 11, I); b) aos particulares que não atenderem à requisição judicial de cederem seus veículos para uso da justiça eleitoral (art. 2°), cuja pena prevista é de multa de 200 a 300 dias-multa, sem prejuízo da apreensão do veículo para o fim visado (art. 11 , II); c) a quem fizer transporte irregular de eleitores (arts. 5° e 10), cuja pena prevista é reclusão de 4 a 6 anos e multa de 200 a 300 dias-multa (art. 11,

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III, e art. 302, CE); d) a quem impedir o cumprimento do quadro de percursos (art. 4º), cuja pena prevista é de reclusão de 2 a 4 anos (art. 11, IV); ARI FERREIRA DE OUEIROZ 151 e) a quem utilizar veículo público, nos 90 dias que antecedem ao pleito, em campanha eleitoral, cuja pena prevista é o cancelamento do registro da candidatura ou do diploma, se já eleito (art. 11, V). Neste caso, o responsável pela guarda do veículo ficará sujeito à pena de detenção de 15 dias a 6 meses e multa de 60 a 100 dias-multa (art. 11 , IV, par. único). 11 - Alimentação a eleitores A mesma lei 6091 /74 regulamenta o fornecimento de refeições aos eleitores no dia das eleições. Segundo a lei (art. 8°) somente a justiça eleitoral, com recursos do fundo partidário, fornecerá refeições aos eleitores da zona rural absolutamente carentes de recursos, no dia das eleições. Aos candidatos ou órgãos partidários é vedado fornecer refeições a eleitores (art. 10), incidindo o infrator em crime eleitoral sujeito a pena de 4 a 6 anos de reclusão e multa de 200 a 300 dias-multa (art. 11 , III, e art. 302, CE). 12 - O problema da isenção tributária A revogada lei orgânica dos partidos políticos dispunha (art. 109) que os partidos gozavam de isenção de impostos e gratuidade na publicação de atas e editais. O projeto da nova lei contemplava os mesmos beneplácitos (arts. 50 e 52), mas foram vetados pelo presidente da República. A matéria está regulamentada pelo art. 150, VI, c, e § 4°, CF, vedando que a União, Estados ou Municípios instituam impostos sobre "o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei e acrescenta o 4 que "As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas". ARI FERREIRA DE OUEIROZ 153 XIV - DO CRIME E DO PROCESSO PENAL ELEITORAL 1 - Noções 2 - Aplicação subsidiária do Código Penal 3 - Classificação dos crimes 4 - Fixação de pena 4.1 - Pena privativa de liberdade 4.2 - Pena de multa S - Crime de imprensa 6 - Processo penal eleitoral 6.1 - Síntese 6.2 - Competência 1 - Noções Crime é o fato típico e antijurídico, segundo a boa doutrina penalista. 0 Código Eleitoral disciplina-os nos arts. 289 a 354. As leis especiais também dispõem sobre crimes eleitorais, especialmente quanto à propaganda eleitoral, abuso de poder econômico, fraudes, transporte de eleitores e fornecimento de alimentação, entre outros. Não há, na legislação vigente, crime eleitoral culposo, embora alguns já pudessem, ou devessem, sê-lo como adverte Joel José Cândido,(32) que dentre eles cita os arts. 291, 297, 311 , 313, 314, 315, 316, 318, 319, 320 e 321 , ambos do Código eleitoral. O mesmo autor entende que certos comportamentos deveriam deixar de ser crimes, como os arts. 135, § 5°, 174, § 3°, 302, 305, 308 e 328 (33), do mesmo Código, e ainda o art. 25 da LC 64I90. Por fim, sugere que outros tipos devem simplesmente serem extintos (arts. 338 e 341 ) e outros, ainda, terem a pena reduzida (arts. 316, 352 e 354) ou aumentadas (arts. 296, 344, 346, entre outros). De fato, a maioria dos crimes previstos no Código Eleitoral estão distanciados da modernidade penal, em que não é com penas severas

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que se previne a criminalidade e protege a sociedade. Aliás, há muito que vem se demonstrando justamente ao contrário, qual seja, a pena em nada influencia na prevenção e repressão ao crime. O que, talvez, funcionasse melhor seria não dar a "quase certeza" ao infrator de que ficará impune (34). 2 - Aplicação subsidiária do Código Penal O Código Eleitoral é pobre em termos de regras gerais quanto ao seu direito penal. Não há, por exemplo, regras sobre o regime de cumprimento de pena, ou sobre o concurso de pessoas ou de crimes, ou sobre a aplicação da lei no tempo e no espaço. A bem da verdade, o CE contém apenas 3 regras gerais, que são relativamente às penas (arts. 284 a 286), ao conceito de funcionário da justiça eleitoral e funcionário público (arts. 283) e sobre os crimes praticados por meio da imprensa (art. 288). Salvo, pois, quanto a estas, as demais regras do CP se aplicam aos crimes eleitorais. Assim, a pena de multa deve ser calculada com base no art. 49 do 32 Direito eleitoral brasileiro, Ed. Edipro, p. 248. 33 Este crime foi revogado pela lei 9504/97. 34 Atualmente, estão revogados expressamente os seguintes dispositivos penais do CE: arts. 294, 322, 328, 329 e 333, sendo o primeiro pela lei 8868/94 e os demais pelo art. 107 da lei 9.504/97. 154 DIREITO ELEITORAL Código penal, e a privativa de liberdade, com base no arts. 59 e 68, por exemplo. 3 - Classificação dos crimes Segundo Fávila Ribeiro (35), no elenco dos crimes eleitorais se agrupam delitos de natureza propriamente eleitoral, bem como aqueles transplantados de outras esferas penais, por isso chamados de crimes conjunturais, acidentais ou impróprios. Realmente, uma análise superficial no elenco de crimes tipificados no Código Eleitoral deixa claro que não houve nenhuma preocupação científica em sua elaboração. Há completa falta de sintonia entre os tipos previstos, que deveriam ser agrupados dentro de Títulos e Capítulos próprios, cada qual protegendo certos e determinados bens jurídicos, que dariam, assim, a natureza dos crimes. À falta de outra classificação e sem preocupação de inovar, adoto, com a maioria dos autores, a classificação formulada por Nelson Hungria: a) crime de propaganda abusiva (arts. 324 a 326, 331 e 332 e 334 a 337); b) crime de corrupção eleitoral (art. 299); c) crime de fraude eleitoral (arts. 289 a 291, 302, 307, 309, 312, 315, 317, 319, 321 , 337, 339, 348 a 354); d) crime de coação eleitoral (arts. 300 e 301 ); e) crime de aproveitamento econômico da ocasião eleitoral (arts. 303 e 304); f) crime de irregularidades no, ou contra, o serviço público eleitoral (arts. 292 e 293, 295 a 298, 305 e 306, 308, 310 e 31 1 , 31 3 e 31 4, 31 6, 318, 338, 340 a 347). 4 - Fixação de pena 4.1 - Pena privativa de liberdade O Código Eleitoral estabelece uma regra subsidiária de fixação de pena para as hipóteses em que seriam iguais. Sempre que o tipo penal for omisso no quantum, a pena mínima aplicável será de 15 dias para os delitos punidos com detenção e 1 ano para os punidos com reclusão. Diferentemente do Código Penal, que deixa para o cálculo da pena, a ser feito pelo juiz, o quantum aplicável pelas circunstâncias agravantes ou atenuantes, o diploma eleitoral estabelece que em caso de omissão no tipo será fixada em cada caso concreto entre 1/5 (um quinto) e 1/3 (um terço) da pena cominada. Na verdade houve um gritante equívoco do legislador eleitoral ao confundir causas de aumento ou diminuição de pena com circunstâncias atenuantes ou agravantes. As primeiras são prefixadas em cada tipo, ou em caráter geral, como o par. único do art. 300, CE. Por conseguinte, além das causas de aumento ou diminuição previstas em cada

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(35) Direito eleitoral, Forense, 3ª ed., p. 476. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 155 tipo, nada obsta que sejam aplicadas as circunstâncias atenuantes ou agravantes, vez que o art. 287, CE, manda aplicar as regras gerais do Código Penal. Todavia, o aumento ou diminuição não pode retirar a pena dos limites estabelecidos na lei, nem para o mais, nem para o menos. Esta é uma particularidade do Código Eleitoral, haja vista que no diploma penal comum é pacífico que a pena pode ser fixada abaixo do mínimo, ou acima do máximo, desde que a pena-base seja fixada no mínimo ou no máximo e ocorra qualquer causa de diminuição ou aumento, respectivamente. O que não pode é circunstância atenuante ou agravante exceder aos limites da pena cominada em lei. 4.2 - Pena de multa A pena de multa também tem regra especial no Código Eleitoral. No Código Penal, o tipo não prevê a quantidade de dias-multa. Há a regra geral que a estabelece entre 10 e 360 dias-multa. No diploma eleitoral o quantum é fixado por delito. Sendo omissa a lei, há a regra subsidiária do art. 286 fixando entre o mínimo de 1 (um) e o máximo de 300 (trezentos) dias-multa, calculados segundo as regras do art. 59, CP. Há entendimento no sentido de que a pena de multa fixada em quantidade de dias-multa por cada tipo foi revogada pelo Código Penal. Compartilho deste pensamento e já apliquei as regras do CP no crime do art. 347, parte final, do Código Eleitoral, fixando a pena em 68 dias-multa. No caso, acobertei-me do art. 287 do diploma eleitoral, aplicando as normas gerais do CP. A parte final da sentença proferida nos autos 696/92 da Comarca de Hidrolândia foi assim escrita: "Sendo assim, e após tudo analisar, rejeito as teses de defesa, julgo procedente o pedido contido na denúncia c condeno o réu André Nascente Freire como incurso nas sanções do art. 347 do Código Eleitoral e passo a dosar-lhe a pena, atendendo aos ditames do art. 59 do CP: A culpabilidade é mínima, porque a reprovabilidade de sua conduta não é extreme, vez tratar-se de crime pouco conhecido; ótimos antecedentes, assim como conduta social e personalidade impecáveis, apenas um pouco imaturo pela idade, sendo esta a principal causa do fato; os motivos do crime são relevantes, posto que fundado em ciúmes da noiva, o que, de certo modo, o beneficia; o crime não deixou maiores conseqüências, vez que as eleições se desenvolveram normalmente, após o incidente; a vítima foi a Justiça Pública que, de modo algum, contribuiu para o resultado. Assim, como todas as circunstâncias lhes são favoráveis, fixo a pena base no mínimo legal, de 3 meses de detenção, de modo que não há considerações a respeito de circunstâncias atenuantes ou agravantes. Considerando, entretanto, o erro escusável, evitável, sobre a ilicitude do fato, conforme Sá analisei, diminuo-a de um quarto, fixando em 68 dias de detenção, a ser cumprido no regime aberto na cadeia pública desta cidade. Considerando que para o tipo em questão a lei prevê cumulativamente a pena de multa, e que a quantidade ali fixada foi revogada pelo art. 49 do CP, fixo esta em 50 dias-multa, e, levando em conta a situação econômica do réu, atribuo a cada um o valor equivalente a 12% (doze) porcento do salário mínimo vigente ao tempo do fato, a ser paga na forma do art. 50 do CP, corrigido pelo IPC até o dia do efetivo pagamento. 156 DIREITO ELEITORAL Considerando, por fim, o permissivo do art. 44 do diploma penal, c/c art. 60, § 2° do mesmo Código, e que o réu preenche os requisitos lá constantes, substituo a pena de detenção pela de multa também em 68 dias-multa no mesmo valor cada um, perfazendo multa total de 118 dias-multa, a ser paga da forma já fixada". 5 - Crime de imprensa

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Se o crime for praticado pela imprensa, aplicam-se exclusivamente as regras do Código Eleitoral, salvo as remissões feitas a outras leis (art. 288, CE). 6 - Processo penal eleitoral 6.1 - Síntese Disciplinam o processo criminal eleitoral os arts. 355 a 364, dispondo que se inicia com a denúncia oferecida pelo Ministério Público no prazo de 10 (dez) dias, contados da infração penal. O inquérito policial é de atribuição da polícia federal porque se trata de crime contra a ordem política (art. 144, § 1°, I, CF), mas não pode ser instaurado de ofício, porque depende de requisição do juiz eleitoral (art. 356, CE). O entendimento jurisprudencial é no sentido de que mesmo em caso de flagrante a autoridade policial deverá comunicar o fato em 24 horas ao juiz eleitoral para prosseguimento dos trabalhos. Isto porque se considera grave ofensa ao ordenamento jurídico a tentativa de apuração da infração à revelia da justiça eleitoral. Este entendimento contraria a natureza da ação penal, que é "pública". Ora, se fosse mesmo pública não dependeria de requisição do juiz eleitoral. O denunciado é citado para no prazo de 10 (dez) dias apresentar sua contestação escrita, juntar documentos e arrolar testemunhas. Não há audiência de interrogatório, como seria o normal no processo por crimes comuns. Entretanto, em face do princípio da ampla defesa erigido à categoria de dogma constitucional (art. 5°, LV), não há prejuízo a que se tome o depoimento pessoal do réu na audiência e bem assim que lhe nomeie defensor, se não o tiver, ou não contestar, porque até prova em contrário prevalece a presunção de inocência (art. 5, LVII, CF). No mesmo caso concreto da Comarca de Hidrolândia, no relatório da sentença proferida nos autos do processo 696/92 por crime eleitoral assim fiz constar: "Citado, no prazo apresentou o réu contestação escrita, dizendo, em apertada síntese, que de fato retirou-a dali, mas que o fez porque os membros da mesa estavam agindo em tom de brincadeiras, e que haveriam outras pessoas mais qualificadas para o trabalho do que ela. Acrescentou, porém, que não pretendia obstaculizar os trabalhos eleitorais, mas sim ""proteger aquela que proximamente será sua esposa..." . Ainda em defesa, invocou o art. 23 da lei 8214/91 para dizer que sua noiva não preenche os requisitos nela constantes para ser convocada como mesária, e que ela não fora anteriormente convocada para trabalhar, o que só aconteceu quando chegou para votar. Realizada audiência, iniciou-se esta com o depoimento pessoal do réu, por entender este juízo que o Código Eleitoral é omisso a respeito, mas que assim ampliava as possibilidades de defesa do réu, inclusive facultando às partes ARI FERREIRA DE QUEIROZ 157 formulação de perguntas, nos moldes do processo civil, com que todos concordaram. Em seu depoimento, disse o réu que ninguém proferiu palavra de baixo calão, nem ofensas ao depoente ou à noiva... e que ...ante um segundo convite do depoente, cedeu, e, lacrimejante, deixou a seção. Na seqüência foram inquiridas as 4 testemunhas arroladas pela acusação e 1 pela defesa, e concedido prazo para que as partes apresentassem alegações escritas, oportunidade em que o Ministério Público ratificou a peça inaugural e a defesa alegou falta de dolo na conduta e de conseqüência pediu a absolvição, vindo-me conclusos os autos". Portanto, na audiência o réu será interrogado da mesma forma que se procede no processo civil, isto é, facultando inclusive às partes a formulação de perguntas por intermédio do juiz. Recebida a contestação, ou vencido o prazo sem ela, o juiz designará audiência para oitiva das testemunhas de acusação e defesa. Após, atendidas as diligências requeridas ou determinadas de ofício, será aberto 0 prazo de 5 dias para cada parte apresentar alegações finais. Findo o prazo

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das alegações finais, o juiz terá 10 dias para proferir a sentença. 6.2 - Competência De acordo com os arts. 35 e 364, CE, a competência para processar e julgar os crimes eleitorais é do juiz eleitoral, assim como também é dele a competência para processar e julgar os crimes comuns, conexos com os eleitorais, aplicando-se subsidiariamente as regras do CPP, vale dizer, a justiça eleitoral tem foro de atração sobre demais crimes, conexos com aqueles, sendo todos julgado pelo juiz eleitoral. Esta regra de competência comporta as seguintes exceções: a) os crimes eleitorais praticados por autoridades que gozam de foro especial no tribunal de justiça serão processados e julgados pelo TRE, em face do princípio da simetria. Assim, o prefeito que praticar crime eleitoral será julgado pelo TRE, não pelo TJ. Todavia, se o agente goza de foro privilegiado na própria Constituição, como o presidente da República, o processo será julgado mesmo pelo STF; b) os crimes eleitorais e os comuns conexos com aqueles cometidos por autoridades que tenham foro privilegiado no STF ou no TSE, serão julgados neste ou naquele, conforme o caso; c) o crime eleitoral praticado por juiz do TRE será processado e julgado pelo TSE; d) o crime eleitoral praticado por menor de 18 anos de idade será processado e julgado pelo Juizado da Infância e da Juventude, cuja competência prevalece por ser em razão da pessoa. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 159 XV - SÚMULAS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 1. Proposta a ação para desconstituir a decisão que rejeitou as contas, anteriormente à impugnação, fica suspensa a inelegibilidade (Lei Complementar n° 64/90, art. 1 °, I, g). 2. Assinada e recebida a ficha de filiação partidária até o termo final do prazo fixado em lei, considera-se satisfeita a correspondente condição de elegibilidade, ainda que não tenha fluído, até a mesma data, o tríduo legal de impugnação. 3. No processo de registro de candidatos, não tendo o Juiz aberto prazo para o suprimento de defeito da instrução do pedido, pode o documento, cuja falta houver motivado o indeferimento, ser juntado com o recurso ordinário. 4. Não havendo preferência entre candidatos que pretendam o registro da mesma variação nominal, defere-se o do que primeiro o tenha requerido. 5. Serventuário de Cartório, celetista, não se inclui na exigência do art. 1 °, II, 1 , da LC n° 64/90. 6. É inelegível para o cargo de prefeito o cônjuge e os parentes indicados no § 7° do art. 14 da Constituição, do titular do mandato, ainda que este haja renunciado ao cargo há mais de seis meses do pleito. 7. É inelegível para o cargo de prefeito a irmã da concubina do atual titular do mandato (Revogada por decisão do Supremo Tribunal Federal no RE n° 157.868-8/PB, julgado em sessão de 02/02/92, Relator o Ministro Marco Aurélio). 8. O vice-prefeito é inelegível para o mesmo cargo. 9. A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos. 10. No processo de registro de candidatos, quando a sentença for entregue em Cartório antes de três dias contados da conclusão ao Juiz, o prazo para o recurso ordinário, salvo intimação pessoal anterior, só se conta do termo final daquele tríduo.

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11. No processo de registro de candidatos, o partido que não 0 impugnou não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional. 160 DIREITO ELEITORAL 12. São inelegíveis, no Município desmembrado e ainda não instalado, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do prefeito do Município-mãe, ou de quem o tenha substituído, dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo. 13. Não é auto-aplicável o § 9°, art. 14, da Constituição, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão n° 4/94. 14. A duplicidade de que cuida o parágrafo único do artigo 22 da Lei n° 9.096/95 somente fica caracterizada caso a nova filiação houver ocorrido após a remessa das listas previstas no parágrafo único do artigo 58 da referida lei. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 161 TERCEIRA PARTE TESTES 01 - Além dos direitos individuais, o estrangeiro detém, no Brasil, os de: a) votar e ser votado para qualquer cargo parlamentar; b) ser votado apenas para os cargos estaduais; c) apenas votar; d) n.d.a. 02 - O brasileiro naturalizado não pode ser: a) magistrado; b) integrante das forças armadas; c) deputado federal; d) n.d.a. 03 - O sufrágio universal direto e o voto secreto foram consagrado no Brasil com: a) a constituição de 1946; b) a proclamação da república; c) o código eleitoral de 1932; d) o voto direto foi consagrado em 1932, e o sufrágio universal, em 1891 . 04 - A representaçâo de partido político junto ao TRE é feita pelo: a) presidente do diretório regional; b) presidente da comissão executiva nacional; c) delegado do partido; d) secretário da comissão executiva regional. 05 - Os membros das juntas eleitorais são nomeados pelo: a) presidente do Tribunal de Justiça; b) juiz eleitoral mais antigo, se houver mais de um na comarca; c) pleno do Tribunal Regional Eleitoral; d) presidente do TRE. 06 - O voto em branco, na representação proporcional, segundo as regras previstas na legislação eleitoral para 1998: a) conta-se como voto válido para determinar o quociente partidário; b) não será contado como voto válido para determinar o quociente eleitoral; c) não tem significado algum, salvo a favor de legendas; d) conta-se apenas para apurar o número de votantes e a partir dele definir a quantidade de vagas a serem preenchidas. 162 DIREITO ELEITORAL 07 - O juiz eleitoral pode votar:

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a) em qualquer seção eleitoral do país; b) em qualquer seção eleitoral do Estado; c) em qualquer seção eleitoral de sua zona; d) somente na seção eleitoral em que é eleitor. 08 - Nas eleições para governador de Estado, as impugnações de votos serão decididas: a) pelo juiz eleitoral; b) pela turma apuradora; c) pela Junta apuradora; d) pelo TRE. 09 - Se o eleitor escrever o nome de um candidato e o número de outro, de partido diverso: a) conta-se o voto para o candidato cujo nome foi escrito; b) conta-se o voto para o candidato cujo número foi escrito; c) conta-se o voto apenas para a legenda do candidato cujo nome foi escrito; d) o voto é nulo. 10 - A denúncia por fato previsto como crime eleitoral é oferecida pelo: a) procurador regional eleitoral; b) procurador geral da república; c) promotor de justiça em exercício na zona eleitoral; d) procurador geral de justiça do estado. 11 - O filho de pai ou mãe brasileiro (a), nascido no estrangeiro, que víer a residir no Brasil, poderá optar pela nacionalidade brasileira ao completar: a) 16 anos; b) 18 anos; c) 21 anos; d) 14 anos. 12 - Se o eleitor escrever o nome ou o número de um candidato e legenda de partido diferente, contar-se-á o voto: a) para o partido cuja legenda foi escrita; b) para o candidato cujo nome ou número foi escrito; c) para a legenda de candidato cujo nome ou número foi escrito; d) como nulo. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 163 13 - Quando o eleitor escrever o nome de um candidato, o número de outro de legenda diferente e, ainda, uma legenda que não seja de qualquer dos candidatos: a) conta-se o voto para o candidato cujo nome foi escrito, bem como para a legenda a que pertence; b) o voto será contado para o candidato cujo número foi escrito, bem como à legenda que foi escrita; c) o voto será contado apenas para a legenda escrita; d) o voto será considerado nulo. 14 - Um silvícola integrado, maior, não eleitor, impediu o voto de seu irmão nas eleições para presidente da República. É competente para conhecer do fato previsto como crime eleitoral: a) a justiça federal; b) a justiça estadual; c) a justiça eleitoral; d) o conselho superior da FUNAI. 15 - Nas eleições à Câmara de Vereadores de dado município, o PMDB obteve 3596 votos; o PTB obteve 4518 votos; a coligação "Corre Brasil" obteve 1682 votos; foram dados 200 votos em branco. Sendo 7 (sete) o número de cadeiras naquela casa, qual partido obteve o maior número? a) PMDB;

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b) PTB; c) Coligação "Corre Brasil"; d) n.d.a. 16 - O eleitor maior de 16 e menor de 18 anos de idade, que comete fato previsto como crime eleitoral, será julgado pelo: a) juiz eleitoral da zona onde é eleitor; b) juiz eleitoral da zona onde praticou o fato; c) conselho da magistratura eleitoral; d) juiz da infância e da juventude. 17 - Em comício político-partidário o prefeito municipal matou o candidato de seu próprio partido. A competência para o processo e julgamento é do: a) tribunal do júri; b) juiz eleitoral da zona onde se deu o fato; c) tribunal de justiça; d) tribunal regional eleitoral. 164 DIREITO ELEITORAL 18 - Embora o TSE tenha declarado inconstitucional, doutrinariamente entende-se por prejulgado eleitoral a decisão: a) atual do tribunal sobre questão de fato em um mesmo pleito; b) anterior do tribunal sobre questão de direito em um mesmo pleito; c) do TSE sobre questão de direito ou de fato em um mesmo pleito; d) unânime do TRE sobre questões de direito em pelo menos dois pleitos eleitorais. 19 - O recurso cabível contra decisão do TRE, denegatória de mandado de segurança originário, com violação de dispositivo da constituição é: a) especial para o TSE; b) ordinário para o TSE; c) extraordinário para o STF; d) de ofício para o TSE. 20 - O prazo, com efeito ___________ condenatória, para recorrer de sentença por crime eleitoral, é de ___________ dias. a)suspensivo; 3 dias; b) devolutivo; 5 dias; c) suspensivo; 10 dias; d) devolutivo; 15 dias. 21 - Goiânia possui 8 (oito) zonas eleitorais, mais de 1.000.000 de habitantes e cerca de 400.000 eleitores. Quantos diretórios municipais os partidos podem constituir aqui? a) 1 diretório, pois o limite é um para cada município; b) 1 diretório para cada bairro ou vila com mais de 200.000 habitantes; c) 1 diretório, pois o limite é de um para cada 500.000 habitantes; d) 1 diretório para cada zona eleitoral. 22 - Quem aprecia o pedido de filiação partidária é: a) o diretório do partido político; b) o presidente do diretório do partido político; c) a comissão executiva do partido político; d) o juiz eleitoral da zona de filiação. 23 - O salvo-conduto expedido pelo presidente da mesa receptora de votos a favor de eleitor terá validade: a) nos 5 dias que antecederem ao pleito; b) 72 horas antes, até o ato do voto; c) 72 horas antes, 48 horas após o pleito; d) 3 dias antes, até 24 horas depois do pleito. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 165 24 - A propaganda eleitoral só pode iniciar: a) após a escolha do candidato pela convenção;

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b) após o registro da candidatura; c) 60 dias antes do pleito; d) 100 dias antes do pleito. 25 - O diretório municipal do partido político será registrado: a) na secretaria do diretório regional do respectivo; b) no cartório eleitoral da zona do município; c) no TRE; d) no TSE. 26 - São fontes principais do direito eleitoral: a) constituição federal e estadual; b) constituição federal e lei complementar; c) código eleitoral e resolução do TSE; d) código eleitoral e lei orgânica dos partidos políticos. 27 - São fontes próprias do direito eleitoral: a) o código eleitoral e a lei das inelegibilidades; b) a lei orgânica dos partidos políticos e o código eleitoral; c) código eleitoral e a constituição federal; d) o código eleitoral e as resoluções do TSE. 28 - São exemplos de fontes subsidiárias do direito eleitoral: a) resoluções do TSE e do STF; b) resoluções do TSE e estatuto da magistratura eleitoral; c) portarias do TRE e resoluções do TSE; d) resoluções do TSE, Código Penal e Código Civil. 29 - O sufrágio é o meio previsto na Constituição para que o povo possa: a) escolher seus dirigentes; b) aprovar atos de seus dirigentes; c) estão corretas alternativas A e B; d) n.d.a. 30 - A soberania nacional será exercida pelo sufrágio: universal e direto; a) restrito, universal e direto; b) irrestrito, direto, igual e universal; c) proporcional, majoritário, direto e secreto; d) universal, direto, secreto e igual. 166 DIREITO ELEITORAL 31 - Quanto à extensâo, o sufrágio se classifica em: a) restrito e direto; b) universal e periódico; c) restrito e universal; d) indireto e secreto. 32 - Quanto ao valor, o sufrágio se classifica em: a) igual e plural; b) direto e indireto; c) circunscricional e distrital; d) secreto e público. 33 - Quanto ao modo, o sufrágio se classifica em: a) igual e plural; b) direto e indireto; c) direto e proporcional; d) proporcional e majoritário. 34 - Quanto à forma, o sufrágio se classifica em: a) universal e restrito; b) secreto e fechado; c) secreto e público; d) não há classificação quanto à forma. 35 - Quanto à distribuição, o sufrágio se classifica em:

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a) majoritário e distrital; b) proporcional e igualitário; c) circunscricional e público; d) distrital e circunscricional. 36 - Quanto à representação, o sufrágio se classifica em: a) majoritário e proporcional; b) proporcional e da maior média; c) majoritário, apenas; d) proporcional, apenas. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 167 37 - Para a eleição do Senado Federal a legislação brasileira adota o sistema: a) majoritário simples, secreto, universal e igual; b) majoritário absoluto, secreto, universal e igual; c) proporcional simples, secreto, universal e plural; d) proporcional, secreto, universal e plural. 38 - Na eleição para a Câmara Federal é adotado o seguinte sistema: a) majoritário simples, secreto, universal e igual; b) majoritário absoluto, secreto, universal e igual; c) proporcional simples, secreto, universal e plural; d) proporcional, secreto, universal e igual. 39 - Na eleição para presidente da República, governadores e prefeitos de municípios com mais de 200.000 eleitores, o sistema adotado é: a) majoritário; b) maioria simples; c) majoritário, porém de maioria absoluta; d) n.d.a. 40 - Na eleição para deputados estaduais e vereadores, o sistema de voto é: a) secreto e proporcional; b) secreto e majoritário; c) só proporcional; d) só majoritário. 41 - Dentre os critérios conhecidos para se determinar a nacionalidade, o Brasil adota: a) jus gentiuns, sem exceções; b) jus solis, com exceções; c) jus sanguinis, com exceções; d) jus solis, sem exceções. 42 - Pelo critério do jus solis, será nacional: a) o filho de nacional, onde quer que ocorra o nascimento; b) o que nascer no exterior, mas apenas eventualmente; c) o que nascer no território; d) o que escolher a nacionalidade. 168 DIREITO ELEITORAL 43 - Perante a lei brasileira o filho de um alemão que nascer no Brasil será considerado: a) brasileiro nato; b) brasileiro naturalizado; c) alemão, porque seu país adota o sistema jus sanguinis; d) depende da opção que ele ou os pais fizerem no Brasil. 44 - O filho de brasileiro (a) nascido no estrangeiro, estando pelo menos um dos seus pais a serviço do governo brasileiro, é considerado: a) brasileiro naturalizado; b) brasileiro nato; c) depende do sistema adotado pelo país onde nascer; d) só será brasileiro nato se for registrado em repartição competente do

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governo brasileiro. 45 - Para que o filho de brasileiro (a) nascido no exterior, não estando qualquer dos pais a serviço oficial, seja considerado brasileiro nato é necessário: a) que seja registrado em repartição brasileira competente; b) que venha residir no Brasil e opte pela nacionalidade brasileira após completar 21 anos de idade; c) que venha residir no Brasil e opte pela nacionalidade brasileira após completar 18 anos de idade, e o faça dentro do prazo de 4 anos; d) estão corretas A e B. 46 - O estrangeiro que reside permanentemente e sem interrupção no Brasil por mais de 15 anos é: a) brasileiro nato; b) brasileiro naturalizado; c) estrangeiro; d) brasileiro, se sua origem é portuguesa. 47 - Para a naturalização de pessoa originária de país que fale a língua portuguesa como idioma oficial é necessário, além do requerimento: a) domicílio ininterrupto por 1 ano no Brasil e idoneidade moral; b) residência permanente por 1 ano no Brasil e idoneidade moral; c) residência ininterrupta por 1 ano no Brasil e idoneidade moral; d) residência ininterrupta por 1 ano no Brasil e não ter sofrido condenação penal. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 169 48 - Não se tratando de estrangeiro originário de país que fale a língua portuguesa como idioma oficial, requer-se, para se conceder a naturalização: a) domicílio por 30 anos no Brasil e idoneidade moral; b) residência por 15 anos ininterruptos no Brasil e sem condenação penal; c) domicílio por 30 anos ininterruptos no Brasil e sem condenação penal; d) 15 anos de residência e idoneidade moral, se tiver bens imóveis no Brasil. 49 - Supondo que as leis portuguesas sejam recíprocas aos brasileiros, os lusitanos, no Brasil, que aqui tenham residência permanente, podem: a) votar e ser votados como os brasileiros natos; b) votar e ser votados como os brasileiros naturalizados; c) votar apenas, porque são estrangeiros; d) votar com autorização do juiz eleitoral. 50 - O brasileiro naturalizado tem os mesmos direitos que o nato, mas, dentre os cargos públicos abaixo, não pode ser: a) senador ou deputado federal; b) sargento das forças armadas; c) ministro do STF; d) presidente do Banco Central. 51 - A perda da nacionalidade brasileira será: a) compulsória, a critério do Poder Judiciário; b) voluntária, em qualquer caso; c) voluntária, por aquisição de outra nacionalidade, e compulsória, por decisão judicial; d) declarada de ofício pelo ministro da justiça em casos de perda da capacidade civil. 52 - São símbolos da República Federativa do Brasil: a) a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais; b) a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais e estaduais, porque somos uma Federação; c) a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais, estaduais e municipais, porque a CF considera o Município como parte da federação; d) apenas o Hino e a Bandeira Nacionais. 53 - Por direito político positivo se entende:

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a) o conjunto de normas que regulam o direito de ser votado; a) o conjunto de normas que regulam o poder de votar em candidatos ou em plebiscito; 17O DIREITO ELEITORAL c) o conjunto de normas que regulam o direito de exercer cargos públicos acessíveis aos brasileiros; d) o conjunto de normas abstratas que regulam o direito de atuar no polo ativo ou passivo do processo eleitoral. 54 - O direito político ativo consiste em poder participar do processo democrático, votando: a) em candidato e em plebiscito, mas não em referendo, porque não foi regulamentado; b) em plebiscito e referendo, porque o voto em candidato é indireto; c) em eleições periódicas, mas não em plebiscito, que é forma de democracia direta; d) em eleições gerais, regionais ou locais e plebiscito ou referendo. 55 - A capacidade política ativa inicia-se com: a) a idade de 16 anos; b) o título de eleitor; c) o alistamento eleitoral; d) 18 anos para homem e 16 para mulher. 56 - São requisitos da capacidade política ativa obrigatória, além da nacionalidade brasileira: a) a idade de 21 anos; b) a alfabetização e a idade de 18 a 70 anos; c) a idade entre 18 e 70 anos; d) a idade entre 18 e 65 anos para mulher e 18 a 70 para homem. 57 - A capacidade política ativa é facultativa para: a) menores de 16 e maiores de 70 anos de idade, alfabetizados ou não; b) menores entre 16 a 18 anos, e maiores de 70 anos, alfabetizados ou não; c) menores de 16 e maiores de 70 anos, alfabetizados; d) menores de 18 anos e analfabetos. 58 - Em termos de direitos políticos a obrigatoriedade ou facultatividade alcançam: a) o alistamento eleitoral ou o voto; b) o voto e, por conseqüência, o alistamento eleitoral; c) o alistamento eleitoral e o voto; d) o título de eleitor e o alistamento eleitoral. ARI FERREIRA DE QUEIROZ 171 59 - O status de cidadão é prerrogativa de: a) eleitor brasileiro; b) maior de idade, brasileiro; c) brasileiro nato; d) estrangeiro ou brasileiro, desde que eleitor. 60 - Não podem se alistar como eleitor: a) os estrangeiros e os militares até o posto de sargento; b) os estrangeiros, os naturalizados e os militares que estão prestando 0 serviço militar obrigatório; c) os estrangeiros e os conscritos, durante o serviço militar obrigatório; d) somente os estrangeiros, já que há a obrigatoriedade do voto e do alistamento aos brasileiros. 61 - Assinale a alternativa incorreta: a) quem não estiver em dia com as obrigações eleitorais não pode participar de concursos públicos; b) todos os brasileiros maiores de 18 anos são obrigados a votar; c) o estrangeiro não pode votar, nem que tenha residência ininterrupta no Brasil por mais de 30 anos;

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d) o soldado das forças armadas tem capacidade política ativa e passiva. 62 - O eleitor que muda de endereço deve providenciar junto à justiça eleitoral a transferência de domicílio, segundo as regras previstas no Código eleitoral: a) antes das eleições; b) até 3 meses antes das eleições; c) até 100 dias antes das eleições; d) até 6 meses antes das eleições. 63 - Será concedida a transferência de domicílio eleitoral ao eleitor que provar: a) que tem 1 ano de inscrição anterior e que está residindo no novo endereço há 3 meses; b) que tem 3 meses de inscrição anterior e que está residindo no novo endereço há 1 ano; c) que tem novo endereço residencial; d) que está residindo no novo endereço há 1 ano. 172 DIREITO ELEITORAL 64 - José da Silva, funcionário público, pretendendo mudar de domicílio eleitoral depois que mudara de endereço há 6 meses, protocolou pedido na Justiça Eleitoral 90 dias antes das eleições. Analise: a) será concedida a transferência porque o funcionário público está dispensado dos requisitos exigidos dos não funcionários? b) o funcionário público pode requerer a transferência a menos de 100 dias das eleições? c) o juiz eleitoral analisará os requisitos, mesmo sabendo que o funcionário público pode ser transferido a qualquer momento e por isso está desobrigado de comprová-los? d) não se concede mudança de domicílio eleitoral ao funcionário público. 65 - Por direito político passivo se entende: a) o direito de presidir partido político; b) o direito de comandar eleições, como juiz eleitoral; c) o direito de ser votado; d) o direito de votar em qualquer eleição. 66 - Como um dos requisitos à capacidade eleitoral passiva exige-se o domicílio eleitoral na circunscrição. O tempo deste domicílio é: a) de 10 anos, para cargo de presidente da República; b) de 5 anos, para cargo de governador; c) de 1 ano, para qualquer cargo; d) fixado em lei para cada eleição. 67 - A filiação partidária é conditio sine qua non para eleger-se: a) presidente da República, governador e prefeito, mas não os respectivos vices; b) vereador e prefeito municipal, exceto o respectivo vice; c) senador, deputado federal e deputado estadual; d) a qualquer cargo, exceto vereador, cujo candidato pode concorrer sem partido. 68 - A idade mínima para disputar uma eleição é de: a) 50 anos, para presidente da República; b) 30 anos, para senador e governador; c) 18 anos, para deputado federal e juiz de paz; d) 21 anos, para prefeito ou vice-prefeito ARI FERREIRA DE OUEIROZ 173 69 - J. Marcelo disputou a eleição para presidente da República, regularmente filiado ao seu partido, e obteve a vitória no primeiro turno. Antes da posse, porém, o registro de seu partido, que já era definitivo, foi cassado pelo TSE. O eleito:

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a) toma posse, vez que estava eleito e o registro era definitivo; b) não toma posse, vez que é requisito à elegibilidade a filiação partidária; c) toma posse desde que se filie, antes, a outro partido; d) n.d.a. 70 - Aquele que não pode se alistar não pode se eleger. O analfabeto pode eleger-se, já que pode se alistar. Sobre estas duas afirmativas, informar verdadeiro (V) ou falso (F): a) V e F; b) V e V; c) F e F; d) F e V. 71 - Não são inelegíveis para um terceiro mandato subsequente: a) os chefes do Poder Executivo, de todas as esferas, inclusive o vice; b) os membros do Congresso Nacional, salvo se houverem se desincompatibilizado seis meses antes do pleito; c) os membros das Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais; d) os prefeitos de municípios com até 200.000 habitantes, salvo o caso de desincompatibilização um ano antes do pleito. 72 - Suponha que o presidente do Brasil renuncie ao seu mandato 1 ano antes da nova eleição. O vice assume o cargo como sucessor. Faltando 5 meses para a eleição, o presidente em exercício faz uma viagem ao Paraguai, país fronteiriço, num domingo, voltando no mesmo dia. Pelas regras constitucionais vigentes, o presidente da Câmara assume o Governo como substituto do presidente, mas não assina nenhum ato durante o mandato. Analise: a) o presidente da Câmara poderá disputar a próxima eleição de presidente da República porque só substituiu e não sucedeu ao presidente; b) o presidente da Câmara é inelegível para qualquer cargo executivo no próximo pleito; c) o presidente da Câmara só poderá concorrer à reeleição de seu próprio cargo; d) o presidente da Câmara só é inelegível no próximo pleito ao cargo de presidente ou vice-presidente da República. 174 DIREITO ELEITORAL 73 - Em sede de processo eleitoral: a) cabe recurso extraordinário contra decisão do TRE que violar dispositivo da constituição federal; b) o recurso em matéria não criminal está sujeito a preparo; c) a questão constitucional não fica preclusa, embora não ventilada no momento próprio, podendo ser renovada em outra oportunidade; d) não há possibilidade de se adotar o procedimento sumário do CPC em nenhum caso. 74 - São inelegíveis, por motivos de parentesco com o chefe do Executivo, no próximo pleito o: a) tio, avô e sobrinho; b) tio, sogro e irmão; c) primo, sobrinho e irmão; d) cunhado, cônjuge, pai e mãe. 75 - O irmão da concubina do prefeito municipal: a) é inelegível para vereador no mesmo município;

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b) não tem impedimento para disputar eleição municipal, vez que não é considerado parente do prefeito; c) só poderá disputar eleição no município se for em busca de reeleição; d) não poderá participar de nenhuma eleição no Estado, salvo em busca de reeleição. 76 - O militar que pretenda disputar mandato eletivo deverá: a) afastar-se da atividade, se tiver menos de 10 anos de serviço; b) ir para a reserva, não sendo oficial; c) pedir licença à sua unidade pelo tempo do mandato; d) pedir licença à sua unidade pelo tempo do mandato, desde que tenha mais de 10 anos de serviço e seja oficial. 77 - A lei que cuida das demais hipóteses de inelegibilidades, conforme o § 9° do art. 14, CF é: a) a lei n° 05/70, que foi recepcionada pela constituição e continua em vigor; b) uma que ainda não foi editada; c) a lei n° 64/90, de 18/05/90; d) uma lei ordinária. 78 - As causas de inelegibilidades e as de suspensão ou perda dos direitos políticos constituem: a) direito do Estado; b) princípios constitucionais; c) direitos políticos negativos; d) limitações à capacidade política. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 175 79 - Em 01/06/97 foi promulgada e publicada uma lei alterando as regras do processo eleitoral sem fixar data para entrada em vigor. Pelas regras constitucionais vigentes: a) esta lei entrará em vigor 90 dias após a publicação; b) um ano após a publicação a lei terá eficácia, embora entre em vigor imediatamente; c) a questão de vigência de lei é regulamentada pela LICC, que estabelece o prazo de 45 dias, após a promulgação, em qualquer caso, salvo disposição na própria lei em contrário; d) seis meses após a lei terá plena eficácia. 80 - Predomina no Processo Civil Brasileiro o sistema publicístico dos atos processuais, admitindo, por exceção, o segredo de justiça. A ação de impugnação de mandato eletivo tramitará: a) abertamente, dada a relevância da matéria e o interesse público em jogo; b) em segredo de justiça, por disposição legal; c) em segredo de justiça, por disposição constitucional; d) não há regras especiais, vez que se trata de uma ação como qualquer outra. 81 - O prazo para impugnação de mandato eletivo perante a Justiça Eleitoral é de: a) 15 dias, contados da diplomação;

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b) 15 dias, contados da eleição; c) 10 dias, contados do conhecimento da causa que autoriza a impugnação; d) 10 dias, contados da diplomação. 82 - A criação de partidos políticos, de modo originário ou derivado: a) está condicionada ao cumprimento de princípios constitucionais; b) é livre, bastando a vontade dos idealizadores; c) depende apenas das regras previstas na LOPP; d) estão corretas as alternativas A e 8. 83 - A criação de partido político, entre outros requisitos, deve observar: a) o caráter nacional; b) o número mínimo de 1% dos eleitores do país como seus filiados; a) o caráter, pelo menos, estadual; a) atuação no âmbito municipal quando o município concentre pelo menos 3% do eleitorado nacional. 176 DIREITO ELEITORAL 84 - Os partidos políticos registrarão seus Estatutos: a) após adquirir personalidade jurídica, no TRE do Estado onde nascer; b) no TSE, se nascer simultaneamente em mais de 1 Estado; c) no TSE, após adquirir personalidade jurídica; d) partido político não tem personalidade jurídica, mas registrará seu Estatuto no TSE. 85 - Desde a antiga lei orgânica dos partidos políticos tem-se que o registro provisório é válido pelo prazo de 12 meses, findo o qual será cassado se não tiver se organizado definitivamente. Por força da lei 8054/90, este prazo: a) diminuiu para 6 meses; b) mantém-se, e, todavia, pode ser prorrogado quando o vencimento se der em ano eleitoral, nos 90 dias antes das eleições, e o partido tiver deputados ou senadores; c) foi prorrogado para 18 meses, todas as vezes que o vencimento coincidir com ano eleitoral; d) só se prorrogará se o partido comprovar que dentro de 12 meses terá se organizado definitivamente e que já tem, inclusive, representantes na Câmara e no Senado. 86 - São órgãos de deliberação dos partidos políticos: a) as convenções nacional, regionais e municipal; b) os diretórios de todos os níveis; c) a comissão de ética e o conselho disciplinar; d) o conselho fiscal e o conselho consultivo. 87 - São órgãos de direção e ação dos partidos políticos: a) os diretórios e as convenções; b) somente as convenções; c) somente os diretórios; d) somente a comissão executiva. 88 - O prazo mínimo para registro de candidatos a cargos eletivos é de ______

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e será efetuado perante _______ : a) 1 ano; comissão executiva; b) 1 ano; junta eleitoral, nas eleições municipais; c) 6 meses; justiça eleitoral local, para qualquer eleição, desde que o candidato seja local; d) 6 meses; TSE, TRE ou juiz eleitoral, conforme o cargo a ser preenchido. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 177 89 - Cada zona eleitoral nas capitais terá no máximo _______ seções eleitorais e, no interior, terá ______ : a) 10 e 5; b) 20 e 10; c) 8 e 4; d) não há limites. 90 - Nas capitais, cada seção eleitoral terá ________ eleitores no mínimo e _______ no máximo; no interior estes números serão _____ e ______, respectivamente: a) 100 e 500; 50 e 250; b) 100 e 400; 50 e 300; c) 50 e 400; 80 e 300; d) 50 e 400; 50 e 500. 91 - A filiação partidária é feita perante: a) a Comissão Executiva do Partido; b) o Diretório do Partido; c) o presidente do Partido; d) o Conselho de Ética do Partido. 92 - A filiação partidária pode ser impugnada por _____ no prazo de ______ dias. Se a impugnação for contestada caberá à (ao) ______ decidir em _____ dias: a) qualquer candidato; 3 dias; comissão executiva; 5 dias; b) qualquer filiado; 3 dias; comissão executiva; 5 dias; c) presidente do diretório; 5 dias; conselho de filiados; 3 dias; d) presidente do diretório; 3 dias; comissão de ética; 5 dias; 93 - Dar-se-á o cancelamento automático da filiação partidária por: a) morte, expulsão, perda de direito político e filiação a outro partido; b) morte ou expulsão; c) morte ou filiação a outro partido; d) apenas por morte do filiado. 94 - O juiz eleitoral poderá cancelar a filiação partidária: a) de ofício, quando verificar dupla filiação; b) apenas a requerimento, quando for cancelada a inscrição; c) por ordem do TRE, em caso de coincidência de nomes; d) a requerimento, em qualquer hipótese, vez que, sendo ato judicial, não pode ser tomado de ofício. 178 DIREITO ELEITORAL

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95 - Se, de ofício, for cancelada a filiação partidária por decisão judicial, o juiz deverá: a) comunicar à comissão executiva; b) comunicar ao presidente do Diretório; c) recorrer de ofício ao TRE; d) comunicar ao TRE, porque, em regra, o juiz não age de ofício. 96 - A votação iniciar-se-á às _____ horas e encerrar-se-á às ______ horas, só podendo se prolongar para atender aos eleitores presentes e que portem uma senha entregue pelo presidente da mesa receptora, recolhendo os respectivos títulos. a) 7:00 e 18:00; correta a parte final; b) 8:00 e 17:00; correta a parte final; c) 8:00 e 18:00; correta a parte final; d) 8:00 e 17:00; errada a parte final, já que se prolongará enquanto houver eleitores para votar. 97 - No ato de votação poderá ser impugnada a identidade do eleitor. É parte legítima para oferecer a impugnação: a) fiscal de partido; b) delegado de partido; c) candidato; d) todas estão corretas. 98 - As impugnações oferecidas serão resolvidas _______ por maioria de votos _______. O oferecimento da impugnação é pressuposto _______ para que se possa recorrer no prazo de 48 horas: a) pelo TRE - dos membros da câmara eleitoral - da apelação; b) de plano - da Junta Eleitoral - absoluto; c) pela Junta - dos membros da mesa - relativo; d) de plano - da Junta Eleitoral - relativo. 99 - Sandoval Sardinha praticou homicídio doloso contra um eleitor 60 dias antes da eleição. O delegado de polícia concluiu o inquérito 50 dias após o evento e representou quanto à prisão preventiva, vez que não houve flagrante. O Ministério Público também pediu a preventiva, junto com a denúncia, faltando 4 dias para as eleições. O Juiz a decretou. A polícia encontrou o criminoso no mesmo dia. Analisar: a) a competência para decretar a preventiva é do juiz eleitoral e a polícia poderá prender o criminoso; b) a competência, como se trata de crime doloso contra a vida, é do tribunal do júri, mas a polícia não poderá prender porque faltam menos de 5 dias para as eleições; c) a competência é do juiz criminal singular, mas a polícia não poderá prender porque faltam menos de 5 dias para as eleições; d) a competência é do juiz criminal singular, mas a polícia poderá prender porque faltam mais de 3 dias para as eleições. ARI FERREIRA DE OUEIROZ 179 100 - Das decisões do TRE que forem proferidas contra expressa disposição da CF, ou de lei, e das que divergirem de outro tribunal eleitoral,

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caberá recurso: a) especial para o TSE; b) ordinário para o TSE; c) extraordinário para o STF; d) extraordinário, quanto à ofensa à CF, e especial nos demais casos. 101 - A decisão do TRE que anula diploma ou decreta a perda de mandato eletivo federal ou estadual, desafia recurso: a) especial, no prazo de 15 dias; b) ordinário, no prazo de 3 dias; c) de apelação, no prazo de 15 dias; d) extraordinário para o STF em 3 dias. 102 - Versando sobre inelegibilidades ou expedição de diplomas nas eleições estaduais ou federais, ou denegando habeas corpus ou mandado de segurança, a decisão do TRE desafia: a) recurso especial, ao TSE, no prazo de 3 dias; b) recurso ordinário, ao TSE, no prazo de 3 dias; c) recurso ordinário, ao TSE, no prazo de 15 dias; d) apenas o recurso extraordinário, se ferir a Constituição. 103 - Nos pleitos municipais, a diplomação dos eleitos far-se-á _______ e se houver mais de um (a) _______ será feita pelo (a) que for presidida pelo _______. Se denegada a diplomação cabe recurso __________ no prazo de _____ ao TRE: a) pelo juiz eleitoral; mais idoso; por ele, ordinário; 3 dias; . b) pela junta eleitoral; junta eleitoral; juiz mais idoso; especial; 3 dias; c) pela junta eleitoral; junta eleitoral; juiz mais antigo; de apelação; 3 dias; d) pelo juiz eleitoral; juiz eleitoral; juiz mais antigo; de apelação; 3 dias. 104 - As decisões do TSE são irrecorríveis. São recorríveis as decisões do TSE que contrariarem a CF e as que denegarem habeas corpus ou mandado de segurança. a) V e F; b) F e V; c) F e F; d) V e V. 180 DIREITO ELEITORAL 105 - Sendo admitido recurso das decisões do TSE que contrariarem a CF e das que denegarem habeas corpus ou mandado de segurança, estes seriam: a) extraordinário, mas no processo eleitoral não cabe esta espécie de recurso; b) extraordinário no primeiro caso e ordinário no segundo; c) somente o recurso extraordinário; d) simplesmente o recurso ordinário. 106 - Além dos recursos de apelação, ordinário, especial e extraordinário, não são cabíveis no processo eleitoral:

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a) a apelação quando a sentença for absolutória; b) o agravo de instrumento; c) os embargos de declaração, embora não sejam considerados recursos; d) ação rescisória, salvo em versando sobre impugnação de mandato eletivo. 107 - A ação penal nos crimes eleitorais é: a) pública incondicionada; b) pública condicionada; c) privada; d) depende do crime praticado. 108 - A denúncia por crime eleitoral deve ser oferecida no prazo de ____ dias. O réu, após a citação, terá o prazo de _____ dias para contestar. a) 10 e 15; b) 10 e 10; c) 15 e 10; d) 10 e 15. 109 - Salvo disposição em contrário em cada tipo penal eleitoral, a pena mínima de detenção e de reclusão serão, respectivamente: a) 30 dias e 6 meses; b) 10 dias e 1 ano; c) 2 meses e 8 meses; d) 15 dias e 1 ano. 110 - Um crime comum e um crime doloso contra a vida praticados em conexão com crime eleitoral, serão processados e julgados: ARI FERREIRA DE OUEIROZ 181 a) pela justiça eleitoral; b) pelo tribunal do júri; c) o crime comum e o crime eleitoral serão julgados pela justiça eleitoral, mas doloso contra a vida será por julgado pelo tribunal do júri, desmembrando-se o processo; d) o eleitoral será julgado pelo juiz eleitoral e os demais, conforme determinar a lei de organização judiciária do Estado. 111 - O juiz de direito que pratica fato definido como crime eleitoral será julgado: a) pelo Tribunal Regional Eleitoral; b) pelo Tribunal de Justiça do Estado; c) pela Junta eleitoral de sua Zona; d) pelo Tribunal Superior Eleitoral. 112 - São órgãos da Justiça Eleitoral: a) o TSE, TRE e juízes eleitorais; b) o TSE e TRE; c) os juízes eleitorais e juntas eleitorais;

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d) o TSE, TRE, juízes eleitorais e juntas eleitorais. 113 - O número de membros do TSE e do TRE é, respectivamente: a) 7 e 5, com o máximo de 7 para o primeiro e mínimo para o segundo; b) 7 e 7, com número mínimo de 7 para o primeiro e fixo para o segundo; c) 11 e 7, com número fixo de 7 para o primeiro e mínimo para o segundo; d) 9 e 5, com número fixo de 5 para o primeiro e mínimo para o segundo; 114 - O presidente, vice-presidente e o Corregedor Eleitoral do TSE serão escolhidos sempre, respectivamente, entre: a) os Ministros do TSE; b) os Ministros do STJ e do STF; c) os Ministros do STF e do STJ; d) não há regra fixa porque dependerá de eleição no TSE. 115 - O presidente e vice-presidente do TRE serão escolhidos sempre, respectivamente, entre: a) desembargadores que, ao lado dos demais membros, formam a corte; b) desembargadores e juízes eleitorais; c) juízes eleitorais; d) seus próprios juízes, incluindo os representantes dos advogados e o da justiça federal. 182 DIREITO ELEITORAL 116 - O mandato mínimo do juiz eleitoral é de _____ ano(s) e o máximo é de ______ mandatos consecutivos. O serviço eleitoral do juiz é _______: a) 1; 2; obrigatório; b) 2; 3; facultativo; c) 3; 2; obrigatório; d) 2; 2; obrigatório. 117 - A naturalização ______ permite ao estrangeiro a aquisição da nacionalidade depois de ______ anos de _____ no Brasil: a) extraordinária; 30 anos; residência; b) ordinária; 30 anos; domicílio; c) extraordinária; 15 anos; residência; d) ordinária; 15 anos; residência. 118 - Segundo jurisprudência consolidada do TSE, o militar candidato a qualquer cargo eletivo: a) está dispensado da filiação partidária; b) pode filiar-se ao partido de sua preferência até o dia das eleições; c) independente de filiação partidária poderá registrar sua candidatura após escolha pela convenção; d) deve ir para a inatividade 6 meses antes do pleito e ato contínuo filiar-se a partido político. 119 - Para as eleições de 1994 à Câmara Federal:

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a) o número de candidatos por coligação é limitado à quantidade de vagas a preencher; b) cada candidato pode ser registrado com três nomes, além do nome oficial completo; c) o prazo para o presidente do diretório requerer o registro das candidaturas de seu partido encerrará em 10 de junho, mas se não o fizer, o próprio candidato poderá fazê-lo até o dia 12; d) quem pretender impugnar o pedido de registro de candidatura deverá agir em 5 dias, contados da publicação do edital, correndo, da intimação da impugnação, igual prazo para o impugnado se defender e produzir provas. 120 - Dentre as inovações introduzidas nas eleições de 1994 está o processamento eletrônico de dados da apuração. O Boletim de Urna: a) será preenchido pela junta apuradora, exclusivamente, para remessa à central de processamento; b) será preenchido pela turma apuradora e remetido ao juiz eleitoral para agrupamento e remessa à central de processamento; c) foi substituído pela planilha eletrônica que será preenchida pela própria turma apuradora; d) preenchido pela turma apuradora, será assinado pelos membros da Junta e pelo representante do Comitê Interpartidário de Fiscalização e remetido à central de processamento; DIREITO ELEITORAL ARI FERREIRA DE OUEIROZ GABARITO 01-D 31-C 61-B 91-B 02-D 32-A 62-C 92-B 03-A 33-B 63-A 93-A 04-A 34-C 64-B 94-A 05-D 35-D 65-C 95-A 06-B 36-A 66-D 96-B 07-C 37-A 67-C 97-D 08-C 38-D 68-D 98-B 09-A 39-C 69-A 99-C 10-C 40-A 70-A 100-A 11-C 41-B 71-C 101-B 12-B 42-C 72-D 102-B 13-A 43-A 73-C 103-C 14-C 44-B 74-D 104-D 15-D 45-B 75-B 105-B 16-D 46-C 76-A 106-D 17-D 47-C 77-C 107-A 18-B 48-B 78-C 108-B 19-B 49-B 79-B 109-D 20-C 50-C 80-C 110-C 21-D 51-C 81-A 111-A 22-C 52-A 82-A 112-D 23-C 53-D 83-A 113-B 24-A 54-D 84-C 114-C 25-C 55-C 85-B 115-A 26-B 56-B 86-A 116-D 27-B 57-B 87-C 117-D 28-D 58-C 88-D 118-C 29-C 59-A 89-D 119-C 30-D 60-C 90-D 120-D

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186 DIREITO ELEITORAL ARI FERREIRA DE OUEIROZ 187 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, A. R. Código Eleitoral, Bestbook, Araras, 1998. BARRETO, Lauro. Investigação judicial eleitoral e ação de impugnação de mandato eletivo, Edipro, Bauru, 1994. Prefeitos & vereadores: comentários à lei 9100/95, Edipro, Bauru, 1996. BISPO, Charles Emerson. Ação de impugnação de mandato eletivo, De Direito. Leme, 1998. CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro, Edipro. 5á. Ed. Bauru, 1995. CITADINI , A. Roque. Código Eleitoral anotado e comentado , Max Limonad, 3á ed, São Paulo, 1988. COSTA, Tito. Recursos em matéria eleitoral, Revista dos Tribunais, 5á ed. São Paulo, 1996. DALMEIDA, Noely e ZIJOVSKI, Dalva. Jurisprudência eleitoral, Ed. Artes e Textos. FERREIRA, Pinto. Código Eleitoral comentado, Saraiva, 3• ed. São Paulo, 1991. As eleições municipais e o município Constituição de 1988, Saraiva, São Paulo, 1992. da MENDES, Antonio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades, Malheiros, São Paulo, 1994. MIRANDA, Hélio. Comentários à nova lei 9504/97 e à lei de ilenelgibilidade, Ed. Tocantins, Palmas, 1998. NOGUEIRA, Cunha. Manual prático de direito eleitoral , Forense, São Paulo, 1992. QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Constitucional, Jurídica IEPC, 10á ed. Goiânia, 2000. , Ari Ferreira de, Direito Processual Civil - Processo de Conhecimento, Jurídica IEPC, 5á ed. Goiânia, 2000. RIBEIRO, Fávila. Direito Eleitoral, Forense, 3á ed. Rio de • !aneirm lAItLR ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.Jr04/97 SUMÁRIO: Disposições Gerais. Das Coligações. Das Convenções para a Escolha de Candidatos. Do Registro de Candidatos. Da Arrecadação e da Aplicação de Recursos nas Campanhas Eleitorais. Da Prestação de Contas. Das Pesquisas e Tes- tes Pré-Eleitorais. Da Propaganda Eleitoral em Geral. Da Propaganda Eleitoral Mediante Outdoors. Da Propaganda Eleitoral na Imprensa. Da Propaganda Eleito- ral no Rádio e na Televisão. Do Direito de Resposta. Do Sistema Eletrônico de Votação e de Totalização dos Votos. Das Mesas Receptoras. Da Fiscalização das Eleições. Das Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais. Disposições Transitórias. Disposições Finais. LEI 9.504, DE 30 DE SETEMBRO DE 1997' Estabelece normas para as cleições. O Vice-Presidente da República no exercício do cargo de Presidente da Re- pública: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

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DISPOSIÇÕES GERAIS Art 1 .° As eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefei- to e Vice-Prefeito, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador dar-se-ão, em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano respectivo. Parágrafo único. Serão realizadas simultaneamente as eleições: Texto legal modificado pela Lei 9.840, de 28.09.1999. 422 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA I - para Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Senador, Deputa- do Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital; I I - para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador. 1. A Lei 9.504/97 sobreviveu à compulsão legislativa do Congresso Nacional em matéria eleitoral. Não foi apenas editada para a eleição de 1998, cumprindo aqui- lo a que se propunha: ser a lei das eleições. Em que pese as poucas e insignificantes modificações introduzidas pela Lei 9.840, de 28.09.1999, o certo é que seu texto conserva-se intacto, surpreendendo aos que, como eu, vaticinavam sua vida curta. 2. Há inúmeras virtudes na manutenção do texto primitivo. Em primeiro lu- ' gar, já é ele conhecido, aplicado que foi - e com sucesso! - na eleição de 1998. Depois, as inovações que ele introduziu, como o procedimento do art. 96 para processar as representações, mostraram-se eficazes, mesmo com alguma disputa teórica sobre a constitucionalidade ou não de algum preceito (como a redação ine- quivocamente inconstitucional do art. 11). Já a Lei 9.840/99 não disse a que veio. Trouxe algumas modificações aca- i nhadas, redigidas por quem desconhece aspectos relevantes do Direito Processual Eleitoral. Pareceu dar maior elasticidade ao recurso contra a diplomação, sem em- bargo de nada acrescer a ele; trouxe norma aparentemente moralizadora (art. 41- A), em que pese apenas reproduzir ilícitos já previstos no Código Eleitoral, apura- dos no infeliz procedimento da ação de investigação judicial eleitoral. Enfim: se nada de interessante acresceu, ao menos não introduziu regra nefasta. É um desses diplomas legais inodoros, inúteis e pouco críveis. 3. A eleição para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores será realizada no pri- meiro domingo do mês de outubro do ano 2000. Será uma eleição complexa, por- que pela vez primeira haverá reeleição para Prefeito, com todos os problemas daí decorrentes, sobretudo naquelas zonas eleitorais mais pobres, suscetíveis aos abu- sos de caudilhos políticos. A Justiça Eleitoral deverá atuar com muito rigor, preser- vando os inúmeros avanços existentes em nossa democracia ainda adolescente. Art. 2.° Será considerado eleito o candidato a Presidente ou a Gover- nador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. § 1.° Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro, con- correndo os dois candidatos mais votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos votos válidos. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504I97 423 § 2.° Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desis- tência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. § 3.° Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer em segundo lugar mais de um candidato com a mesma votação, quali- ficar-se-á o mais idoso. § 4.° A eleição do Presidente importará a do candidato a Vice-Presi- dente com ele registrado, o mesmo se aplicando à eleição de Go-

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vernador. I. O Direito Eleitoral brasileiro considera eleito o candidato a Presidente ou Governador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em bran- co e os nulos. Não adotou a técnica da recente reforma constitucional argentina, que apenas exige quarenta e cinco por cento de votos para o candidato ser declara- do eleito. Assim, apenas logrará a vitória o candidato que venha de obter a aprova- ção da maioria do eleitorado que expressa e validamente manifestou sua vontade nas urnas. A manifestação de vontade defeituosa ou a ausência de qualquer mani- festação são afastadas para cômputo do resultado eleitoral. Voto em branco é o voto ofertado sem indicação de preferência por qualquer dos candidatos concorrentes. O eleitor silencia de modo eloqüente sua abdicação do direito de escolher entre os nacionais elegíveis, demonstrando sua indiferença pela sorte do pleito. Embora haja a obrigação de votar, como função pública inafastável, faculta-se ao eleitor o direito de escolher entre os candidatos concor- rentes, ou mesmo de entre eles não escolher ninguém. Voto nulo é a manifestação imperfeita da vontade do eleitor, que não expres- sa claramente qual o candidato por ele escolhido. Como apenas os votos válidos são aptos para cômputo do quociente eleitoral, logo se estendeu tal possibilidade também aos votos brancos, que passaram a ter valor, senão para os candidatos individualmente considerados, ao menos para os partidos políticos maiores, que se viram beneficiados com a estatuição do art. 106 do Código Eleitoral, uma vez que eles influíam na especificação das vagas cabíveis a cada uma das agremiações. O art. 5.° da Lei 9.504/97 pôs fim a tal possibilidade, ao apenas admitir como válidos os votos dados aos candidatos regularmente inscritos e às legendas partidárias. 2. Se nenhum dos candidatos a Presidente ou Governador obtiver a maioria absoluta dos votos válidos na primeira votação, haverá segundo turno, a ser reali- zado no último domingo de outubro, no qual concorrerão os dois candidatos mais votados. Desse modo, ficou menor o trato de tempo lineal entre o primeiro e o segundo turno, diminuindo-se o período de propaganda eleitoral e de campanha. Aqui, com essa modificação, o candidato que granjear mais votos na primeira vo- tação terá substancial vantagem, porquanto o tempo de reação do candidato con- 424 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA corrente foi efetivamente podado em mais de 30 dias. Seja como for, prevalece o mesmo critério: será eleito o candidato que conseguir auferir a maioria absoluta dos votos válidos, excluídos do cômputo os votos em branco. 3. Se ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato conduzi- do ao segundo turno, antes de sua realização, será convocado o de maior votação dentre os remanescentes. A morte é fato jurídico que extingue a personalidade jurídica, com a supres- são de todos os direitos e obrigações. Como fato natural avassalador, retira da dis- puta o candidato, pela própria denegação da vida. Já a desistência é ato jurídico stricto serisu, pelo qual o candidato declara formalmente sua saída do prélio eleitoral. Há de ser dirigido à Justiça Eleitoral para que produza os seus legais efeitos, com a desconstituição do registro de candidatu- ra. Basta um ofício, inequivocamente afirmando o desejo de desvestir-se do seu direito de ser votado, em limitação voluntária de sua esfera jurídica: há renúncia da elegibilidade que se tinha, dispondo de um direito subjetivo público nascido do ato registral da candidatura. Desse modo, a desistência só ocorre com a recepção do pedido pela Justiça Eleitoral, que faz nenhum (= plano da existência) o ato jurídico do registro da candidatura. O impedimento legal, que tolhe a elegibilidade, é a declaração ou decretação de inelegibilidade. Se o candidato passa para o segundo turno, vindo a ser cominado de inelegibilidade - e não havendo mais recursos processuais eleitorais -, perde a elegibilidade que possuía, não mais podendo lançar-se candidato, praticando atos de captação de votos.

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Qualquer desses fatos, em ocorrendo, implica a substituição de um dos can- didatos que alcançou o segundo turno da disputa eleitoral pelo próximo mais vota- do, o qual disputará a eleição com o outro remanescente. Nada obstante, se houver empate na votação dos candidatos, irá para o segundo o turno aquele mais idoso. Tal regra é válida tanto para a hipótese de substituição como também para a do natural ingresso no segundo turno, entre os mais votados, quando da indicação de quem foi o segundo colocado. 3. O registro de candidatos a Presidente e Vice-Presidente ou Governador e Vice-Governador será sempre feito em chapa única e indivisível, ainda que resulte ï • a indicação de aliança de partidos políticos (art. 91 do CE). Como há unicidade e indivisibilidade da chapa para registro, há também para efeito dos destinos eleito- rais: a eleição do Presidente ou Governador importará a do candidato a vice com ele registrado. ;. Mas não exacerbemos tal princípio. A indivisibilidade da chapa não implica

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aspectos de ordem pessoal, de maneira que a sanção sofrida por um dos compo- nentes alcance o outro. Dessarte, a inelegibilidade cominada a um componente da chapa não contagia necessariamente o outro, se não configurada para ele a mesma ' hipótese de incidência. Se o candidato a Governador é condenado penalmente, por ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 425 sentença passada em julgado, é inelegível, mercê da suspensão dos direitos políti- cos (art. 15, inc. III, da CF/88). Mas tal causa de inelegibilidade cominada potenciada não alcança o candidato a Vice-Governador, que não será atingido por essa sanção. Entrementes, dada a indivisibilidade da chapa, se não for providenciada a colmatação da vaga aberta, com a indicação de um candidato substituto, a chapa se esfacela, perdendo seu registro e a possibilidade de concorrer às eleições. Art. 3.° Será considerado eleito Prefeito o candidato que obtiver a maioria dos votos, não computados os em branco e os nulos. § 1 .° A eleição do Prefeito importará a do candidato a Vice-Prefeito com ele registrado. § 2.° Nos Municípios com mais de duzentos mil eleitores, aplicar-se- ão as regras estabelecidas nos §§ 1 .° a 3.° do artigo anterior. I. Aos candidatos a Prefeito e Vice-Prefeito se aplicam as mesmas regras do art. 2.°, valendo para eles os comentários já averbados. 2. Apenas nos Municípios com mais de duzentos mil eleitores haverá a possi- bilidade de ocorrer segundo turno nas eleições municipais. Art 4.° Poderá participar das eleições o partido que, até um ano an- tes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Elei- toral, conforme o disposto em lei, e tenha, até a data da convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo com o res- pectivo estatuto. l. O art. 4.° é norma sobre partidos políticos, heterotopicamente incluída na Lei. Como a Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP - Lei 9.096/95) é ordinária, a lei eleitoral temporária pode modificar o seu conteúdo para conformá-la a cada eleição específica. O registro dos estatutos dos partidos políticos no TSE vem pre- visto no art. 8.° da LOPP, sendo realizado por decisão da Corte, após a análise de atendimento dos pressupostos exigidos. Mas o registro tão-só não basta. Se faz mister que a agremiação haja constituído, na circunscrição eleitoral, diretórios regio- nais, respeitando as regras estatutárias. 2. Se o partido político estiver de posse de registro provisório, e vier ele a ser desconstituído, perde o direito à participação no pleito, levando seus filiados à 426 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA inelegibilidade inata, eis que inadmitidas candidaturas avulsas, sem patrocínio de partido legalmente constituído. Art. 5.° Nas eleições proporcionais, contam-se como válidos ape- nas os votos dados a candidatos regularmente inscritos e às legen- das partidárias. 1. O Código Eleitoral, em seu art. 106, par.ún., aproveita o voto em branco para cômputo do quociente eleitoral, subsumindo-o aos votos válidos. É o quoci- ente eleitoral uma das variáveis aritméticas utilizadas para determinação da repre- sentação proporcional, ou seja, para a determinação de quantas cadeiras cada par- tido ocupará no Legislativo. Dessarte, o art. 5.° subverte a sistemática até então existente, afastando do conceito de voto válido os votos em branco. Como os votos em branco ingressavam no cálculo do quociente eleitoral, os votos nulos passaram a ter grande importância jurídica, de tal modo que a urnas eletrô- nicas de votos traziam a opção "voto nulo" para ser escolhida pelo eleitor. Ou seja, a nulidade do voto deixou de ter apenas um significado político de repulsa, ou mesmo de ignorância, e passou a ter uma densidade jurídica superior, a merecer a criação de uma rocambolesca possibilidade válida de invalidade. Coisas do Direito Eleitoral pátrio! 2. O fato digno de nota é que, nesse particular, prevaleceu o Idbby dos parti-

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dos de oposição no Congresso, auxiliados por governistas interessados em suas eleições regionais, com a supressão do valor proporcional do voto em branco. Nes- sa eleição de 2000, o voto em branco não terá outra coloração que não a sua pró- pria: a ausência de vontade manifestada, sem significação jurídica. 3. Os votos ou são dados à legenda apenas, ou ao candidato que dela faz parte. O eleitor pode não desejar escolher nenhum dos candidatos lançados por algum partido da sua predileção, apenas optando por manifestar seu apreço à le- genda. Dessarte, no lugar próprio para votar no candidato proporcional, poderá escrever a sigla do partido, contribuindo para o cálculo do seu quociente eleitoral. DAS COLIGAÇÕES Art. 6 ° É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma circunscri- ção, celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, ou para ambas, podendo, neste último caso, formar-se mais de uma coligação para a eleição proporcional dentre os partidos que integram a coligação para o pleito majoritário.

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ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 427 § 1 .° A coligação terá denominação própria, que poderá ser ajunção de todas as siglas dos partidos que a integram, sendo a ela atribuídas as prerrogativas e obrigações de partido político no que se refere ao pro- cesso eleitoral, e devendo funcionar como um só partido no relaciona- mento com a Justiça Eleitoral e no trato dos interesses interpartidários. § 2.° Na propaganda para eleição majoritária, a coligação usará, obrigatoriamente, sob sua denominação, as legendas de todos os partidos que a integram; na propaganda para eleição proporcional, cada partido usará apenas sua legenda sob o nome da coligação. § 3.° Na formação de coligações, devem ser observadas, ainda, as seguintes normas: I - na chapa da coligação, podem inscrever-se candidatos filiados a qualquer partido político dela integrante; II - o pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos presidentes dos partidos coligados, por seus delegados, pela maio- ria dos membros dos respectivos órgãos executivos de direção ou por representante da coligação, na forma do inciso III; III - os partidos integrantes da coligação devem designar um repre- sentante, que terá atribuições equivalentes às de presidente de par- tido político, no trato dos interesses e na representação da coliga- ção, no que se refere ao processo eleitoral; IV - a coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada na forma do inciso III ou por delegados indicados pelos partidos que a compõem, podendo nomear até: a) três delegados perante o Juízo Eleitoral; b) quatro delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral; c) cinco delegados perante o Tribunal Superior Eleitoral. 1. A norma é das mais liberais sobre a possibilidade de formação de coliga- ções. Ao contrário do art. 6.° da Lei 9.100/95, a atual Lei 9.504/97 admite outras possíveis combinações para a formação e coligação, embora com algumas limita- ções pertinentes. O partido político pode se coligar com outros da mesma circunscrição eleito- ral para a eleição majoritária, ou apenas para a eleição proporcional, ou mesmo para ambas. Se se coligar para ambas as eleições, poderá escolher com quais dos partidos coligados para a eleição majoritária irá se coligar na proporcional, sem necessidade de ser com todos. 428 TEKCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA Se os partidos A, B, C, D e E se coligarem para concorrer à eleição majoritá- ria, poderão também efetuar, todos eles, a coligação para a proporcional. Nada obstante, por exemplo, poderão se coligar à proporcional apenas os partidos A, C e E, saindo os partidos B e D avulsos, sem coligação na proporcional; ou poderão se coligar E, A, e B, de um Iado, e C e D, doutra banda, formando duas coligações proporcíonaís distintas. Sem embargo, nenhurn deles poderâ se coligar proporcio- nalrnente com terceiro partido não constante na coligação majoritária. Assim, B não poderia se coligar com F para a proporcional, pois tal partido é estranho àquela coligação formada para concorrer aos mandatos majoritários. Na dicção da lei, pode "formar-se mais de uma coligação para a eleição proporcional dentre os par- tidos que integrem a coligação para o pleito majoritário". 2. A coligação, após ser celebrada, funcionará como se fosse apenas um partido político, numa integração de forças para a obtenção do mesmo objetivo: a vítóría nas urnas e a hegemonía no poder. Assim é que a leí a trata, outorgando-lhe as mesmas prerrogativas e obrigações de partido político no que se refere ao pro- cesso eleitoral, consoante especificará melhor o • 3.° deste dispositivo. Ao assim definir a coligação, a lei lhe determina que deva funcionar como se um só partido

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fosse no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos seus interesses ínterpartidários, como ocorre na hípótese de substítuição de candídato falecido, ou impedido, na forma do art. 13, § 2.°; ou na da reserva de vagas para candidatos do mesmo sexo (art. 80) etc. Desse modo, os requerimentos, as ações processuais, as iniciativas e procedimentos pertinentes, de interesse de um determinado partido coligado, deverão ser patrocinados pela coligação, que o representará perante a Justiça Eleitoral, sob uma mesma direção política e administrativa. A coligação, por isso mesmo, como ente despersonalizado com faculdades jurídicas (como o espó- lio, u g.), deverá atuar sob um nome próprio, que poderá ser uma idéia-força, ou mesmo o conjunto das siglas dos partidos que a compõem. 3. Como as coligações atuam na qualidade de partido político, a lei prescreveu o uso obrigatório da denominação adotada por elas na propaganda • :leitoral, bem como as legendas dos partidos que delas fazem parte. Assim, à guisa de exemplo, se uma coligação à eleição majoritária denominar-se "Unidos pela Cidadania", tal nome deverá constar em todas as propagandas eleitorais, acompanhado das legendas dos

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partidos coligados. Já na eleição proporcional, há três hipóteses: (a) coligação apenas proporcional; (b) coligação mista, para a majoritária e proporcional; e (c) coliáação ; para a majoritária e limitada a alguns partidos para a proporcional. Nas hipóteses (a) e (b) a situação é idêntica: haverá apenas o nome de uma coligação, que aparecerá acompanhada da sigla do partido político do qual o can- didato faça parte. Mas na hipótese (c) ocorrerá que um mesmo partido estará parti- cipando de duas colígações com nomes díversos, uma para a eleição majoritária e a outra para a proporcional. Nesse caso, o candidato a um mandato proporcional aparecerá nas propagandas sob o nome da coligação proporcional da qual o seu partido faça parte, com a inscrição de sua legenda. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 429 4. O § 3.° do art. 6." dispõe sobre normas para a formação da coligação partidária. Sendo ela majoritária, na chapa poderão ser inscritos candidatos filiados a qualquer partido dela integrante, de conformidade com os acordos políticos ho- mologados em suas respectivas convenções. Sendo proporcional, o número de can- didatos deverá ser estipulado de acordo com acertos previamente estabelecidos entre os partidos, vez que há o limite para a fixação do número de candidatos até o dobro dos lugares a preencher (art. 10, § 1.°). O pedido de registro de candidatura, quando não for promovido pelo próprio pré-candidato indicado em convenção (naquela hipótese do art. I1, § 4.°), deverá ser subscrito pelos presidentes dos partidos coligados, ou por seus delegados indi- cados perante a Justiça Eleitoral, ou pela maioria dos membros dos respectivos órgãos executivos de direção, ou finalmente pelo representante da coligação, de- signado para atuar com as atribuições de presidente de partido político (inc. III deste • 3.°). Se assim não ocorrer, haverá ilegitimidade ativa do peticionário, com a conseqüente denegação do registro de candidatura. O Superior Tribunal Eleitoral tem assim procedido, por exemplo, quando o partido político requer o registro de seus candidatos através do seu vice-presidente, sem no entanto demonstrar o impe- dimento ou ausência do presidente. Remetemos o leitor para o Capítulo 6 do livro, quando versamos sobre a AIRC. Perante a Justiça Eleitoral a coligação pode ser representada por uma pessoa indicada para fazer as vezes de seu presidente, escolhido pelos partidos que a integram, ou então por delegados indicados pelos próprios partidos, podendo ser nomeados três delegados perante o Juízo Eleitoral, quatro perante o TRE e cinco perante o TSE. E se o partido estiver coligado apenas para as eleições proporcionais? Indica- rá o seus próprios delegados, na mesma quantidade prevista em lei, para a circuns- crição em que estiver nessa situação. Por exemplo, se os partidos A e B apenas se coligaram à proporcional, no Estado de Alagoas, poderão indicar seus delegados perante o TRE, cada qual individualmente. Assim também perante o Juiz Eleitoral, nas respectivas zonas dessa circunscrição. 5. Mais uma vez gizamos que o art. 6.°, caput, não autoriza que um partido estranho ã coligação majoritária se coligue apenas à proporcional com todos - ou somente alguns - os partidos que a compõem. DAS CONVENÇÕES PARA A ESCOLHA DE CANDIDATOS Art. 7.° As normas para a escolha e substituição dos candidatos e para a formação de coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas as disposições desta Lei. § 1 .° Em caso de omissão do estatuto, caberá ao órgão de direção nacional do partido estabelecer as normas a que se refere este arti- go, publicando-as no Diário Oficial da União até cento e oitenta dias antes das eleições. 43O TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA § 2.° Se a convenção partidária de nível inferior se opuser, na delibe- ração sobre coligações, às diretrizes legitimamente estabelecidas

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pela convenção nacional, os órgãos superiores do partido poderão, nos termos do respectivo estatuto, anular a deliberação e os atos dela decorrentes. § 3.° Se, da anulação de que trata o parágrafo anterior, surgír necessi- dade de registro de novos candidatos, observar-se-ão, para os respec- tivos requerimentos, os prazos constantes dos §§ 1 .° e 3.° do art. 13. 1. Os partidos políticos desfrutam de grande liberdade na estruturação de sua feição interna, inclusive Ihes sendo outorgado o poder de dispor sobre a forma e os meios de escolha dos seus candidatos ao mandatos eletivos, através de seus respec- tivos estatutos. i ..... Os estatutos são as normas internas dos partidos políticos, as quais dispõem sobre sua estrutura e atribuições dos órgãos de administração (normas de organiza- ção), bem assim sobre procedimentos, direitos e deveres dos filiados (normas de conduta). Quando o nacional se filia a um determinado partido, se submete às condições gerais do estatuto partidário, que passam a ser cogentes para ele, sob

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pena de infidelidade partidária e expulsão da legenda. Temos admocstado, entrementes, certos exageros legislativos, que delegam desmedidos poderes ponentes de normas aos partidos políticos, como, por exem- plo a possibilidade de eles fixarem limites temporais maiores para os novos filiados h. poderem pleitear sua indicação em convenção. Tais normas são inconstitucionais, pois concedem aos estatutos partidários o poder de dispor sobre condições de ele- gibilidade, implicando prejuízo ao filiado neófito. ; 2. Omisso o estatuto sobre o processo de escolha ou substituição de seus candidatos, caberá ao órgão de direção nacional do partido estabelecer as normas respectivas, publicando-as no Diário Oficia! da União até 180 dias antes das elei- ções. E se houver desídia do órgão de direção nacional? A norma é omissa, haven- do lacuna legislativa. Em casos tais, de rara ocorrência, poderá o diretório regional dispor internamente de regras, válidas apenas para os seus filiados, não podendo 0 órgão de direção nacional invocar os poderes do § 2.° deste artigo. 3. Os partidos políticos poderão, em suas convenções nacionais, dispor sobre diretrizes a serem seguidas por suas representações estaduais e municipais, de ma- neira a uniformemente procederem em suas alianças políticas, seguindo o princípio da hierarquia partidária. Assim, as convenções municipais dos partidos políticos não poderão se opor às diretrizes estabelecidas pela convenção estadual ou nacional, apenas dispondo sobre seu arco de alianças, para fins de coligação, da maneira predispOsta anterior- mente pela instância nacional do partido. Dessa maneira, se a convenção nacional do ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 431 partido fixar, como diretriz para as suas esferas estaduais, a realização de coligação com os mesmos aliados para as eleições presidenciais, fazendo uma frente asseme- lhada, não poderá o órgão inferior do partido se furtar a seguir tal orientação, sob pena de anulação, pelo órgão superior, dessa deliberação, e dos atos dela decorrentes. Se o partido A formula um acordo, para as eleições presidenciais, com os partidos B, C e D, no qual ele se obriga a apoiar os candidatos desses partidos coligados, quando tiverem eles fortes candidatos na eleição majoritária estadual, não poderá o órgão estadual descumprir a diretriz, se coligando com outros parti- dos alheios, ou mesmo lançando candidato avulso. Pois tal postura do órgão esta- dual poderá trazer prejuízos ao órgão nacional, numa subversão perniciosa e descumpridora do estatuto. 4. Tal anulação será realizada na forma que dispuser o estatuto do partido, ou mesmo na forma que for estabelecida pela convenção nacional, consoante o admite o § 1.° deste artigo. Em havendo anulação, poderá surgir a necessidade de registro de novos candidatos, a se reger pelo mesmo procedimento da substituição de can- didatos, aplicando-se os mesmos prazos lá estabelecidos (art. 13, • § 1.° e 3.°). Art. 8.° A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações deverão ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral.

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§ 1 .° Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura que estiver em curso, é assegu- rado o registro de candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados. § 2.° Para a realização das convenções de escolha de candidatos, os partidos políticos poderão usar gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por danos causados com a realização do evento. I. O período para a realização de convenções partidárias, com a finalidade de deliberar sobre coligações e proceder à escolha dos candidatos, será de 10 a 30 de junho de 1998. Todas decisões e deliberações importantes deverão ser adscritas em uma ata, lavrada em livro aberto e rubricado para esse fim pela Justiça Eleitoral. É a cópia autenticada dessa ata que deverá acompanhar o pedido de registro de candidatura, de maneira a comprovar as deliberações do partido sobre a escolha dos candidatos. 2. As convenções poderão ser realizadas em prédios públicos requisitados com antecedência pela direção do partido político. A cessão de prédios públicos 432 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA será feita gratuitamente, não podendo ser estorvada sem motivação séria, que justi- fique o impedimento. Os prédios públicos (ginâsios, plenários, pátios de grupos escolares etc.) não podem ser negados aos partidos políticos sem razão séria e pertinente, sob pena de abuso do poder político da autoridade responsável, inclusi- ve com a possibilidade de ser processada eleitoralmente (art. 1.°, inc. 1, alíneas d e 1• , da LC 64/90, no que couber). Veja o que escrevemos sobre isso no Capítulo 4 deste livro. Cedido o prédio público, o partido se responsabilizará pelos danos acaso causados com a realização do evento, inclusive pela limpeza e conservação

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do local, restabelecendo-o ao status guo ante. 3. O § l.° desse artigo conservou as candidaturas natas, previstas no art. 8.°, § 1.°, da Lei 8.713/93, que regulamentou as eleições de 1994. Aliás, conservou inclusive a sua má técnica, dispondo além do que pretendeu. Os candidatos natos são aqueles filiados que exercem ou já exercuram man- datos políticos no Legislativo, ainda que na qualidade de suplentes, aos quais se garante, independentemente de indicação em convenção, o direito de sairem candi- datos pelo seu partido atual. Assim, possuem direito à ndicação pelo partido polí- tico, e não ao registro de candidato, como pareceu dizer a norma glosada. Direito ao registro de candidato possui o nacional que preenche as condições de regístrabilidade (as chamadas condições de elegibilidade), sem as quais não poderá obter o direito de ser votado. Assim, feito o pedido de registro dos candida- tos natos, todos os pressupostos serão examinados (as condições prôprias e impró- prias de elegibilidade); inexistente um deles, necessário ao registro, será o pedido indeferido, não podendo o candidato nato obter o direito de ser votado. O que o § 1.° do art. 8.° preserva é o seu direito de indicação pelo partido político ao qual é filiado, e apenas isso. Se for inelegível, por decisão judicial irrecorrível, não será registrado, sendo impedido de participar da campanha eleito- ral como candidato. Outrossim, se não prcencher as condições outras de elegibíli- dade, também verá o seu pedido de registro indeferido. Dessarte, deve a parte final desse parágrafo ser lida assim: "(...) é assegurado o pedido de regisrro de candicln- tecra para o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados", sob pena de inconsti- tucionalidade do preceito. ; 4. Mas a norma traz outros problemas hermenêuticos. Se um Vereador, exer- ; cendo ou já tendo exercido mandato de edil, desejar se candidatar a Deputado s Estadual, poderá invocar o direito à indicação obrigatória pelo partido? Pensamos que não. A candidatura que admite o direito de indicação pelo partido • : a candida- , ' tura para o nles• no cargo, não para outro. Portanto, só quem foi ou ê Deputado Estadual pode invocar o direito de indicação pelo partido a sair candidato ao mes- mo cargo por ele já exercido. Tal norma já constava de outras leis, nunca tendo sido declarada inconstitu- cional, se entendendo que o fator de discrímen (= o ser ou já ter sido ocupante do cargo) é justo, não atentando contra o princïpio da isonomia. A meu ver, nada ANOTAÇÒES À LEI ELEITORAL 9.504/97 433 obstante, tal preceito afronta a Constituição Federal, quando desiguala os brasilei- ros para concorrerem a um cargo eletivo, através de fator desequiparador não pre- sente na Carta e sabidamente posto em proveito dos próprios legisladores. Seja como for, legem habemus! Art. 9.° Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir do- micílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo me- nos, um ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo par- tido no mesmo prazo. Parágrafo único. Havendo fusão ou incorporação de partidos após o prazo estipulado no caput, será considerada, para efeito de filiação partidária, a data de filiação do candidato ao partido de origem. 1. Um ano antes da data da eleição é o prazo fatal para que os eleitores interes- sados fixem domicílio eleitoral na circunscrição onde irão concorrer, bem como para que os partidos políticos defiram as suas filiações. Não tendo havido pedido de trans- ferência tempestivo, tampouco deferimento da filiação na data aprazada, tais condi- ções de elegibilidade restam descumpridas, devendo ser rejeitado o pedido de regis- tro. Se tal não ocorrer, ou porque não se interpôs a AIRC, ou mesmo porque não se o denegou de ofício pela Justiça Eleitoral, caberá recurso contra diplomação, por se tratar de matéria constitucional, na forma que expomos no Capítulo 1 deste livro, em

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que pese a existência de majoritária jurisprudência em sentido diverso. Assim, sendo matéria constitucional, por preencher o conteúdo semântico do conceito de domicílio eleitoral, não precluirá, podendo ser suscitado em RecDiplo. 2. Em havendo fusão ou incorporação de partidos após essa data, o prazo estipulado de um ano, para efeito de filiação partidária, será contado da data da filiação do pré-candidato ao partido de origem. DO REGISTRO DE CANDIDATOS Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembléias Legislativas e Câ- maras Municipais, até cento e cinqüenta por cento do número de lugares a preencher. § 1 .° No caso de coligação para as eleições proporcionais, independen- temente do número de partidos que a integrem, poderão ser registrados candidatos até o dobro do número de lugares a preencher. § 2.° Nas unidades da Federação em que o número de lugares a

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preencher para a Câmara dos Deputados não exceder de vinte, cada 434 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA partido poderá registrar candidatos a Deputado Federal e a Deputa- do Estadual ou Distrital até o dobro das respectivas vagas; havendo coligação, estes números poderão ser acrescidos de até mais cin- qüenta por cento. § 3.° Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento para candidaturas de cada sexo. § 4.° Em todos os cálculos, será sempre desprezada a fração, se inferior a meio, e igualada a um, se igual ou superior. § 5.° No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indi- carem o número máximo de candidatos previsto no caput e nos §§ 1.° e 2.° deste artigo, os órgãos de direção dos partidos respectivos poderão preencher as vagas remanescentes até sessenta dias antes do pleito. 1. O caput do art. 10 limita o número de candidatos indicados pelos partidos políticos para o respectivo registro. Houve por bem a Lei 9.504/97 permitir a indica- ção de candidatos até 150% do número de lugares a preencher. Para a obtenção do número exato de candidatos indicados por partido, deverá sempre ser desprezada a fração, se inferior a meio, e igualada a um, se igual ou superior, na forma do • 4.°. Não disse o preceito, como poderia por cupidez alguém querer entrever, que o número de candidatos por partido seria calculado com mais 150% do número de cadei- ras, mas sim que seria até 150%, o que impede se queira alargar os limites impostos pela lei. Assim, se forem 40 as cadeiras em dis uta 60 oderão ser os candidatos por parti- P , P do, e não 100 candidatos, como poderia desejar a interpretação malsã. f 2. Já para as coligações, a regra é mais pródiga, admitindo possam ser indica- dos como candidatos até o dobro do número de lugares a preencher, independente- mente do número de partidos que a integrem. Aqui, mais uma vez, tomou-se a coliga- ção como se fosse um partido, embora admitindo, quanto a ela apenas, a possibilida- de de ser apresentado o dobro de candidatos em relação ao número de cadeiras em disputa. Pouco importa que a coligação proporcional seja formada por dois ou mais partidos: o número de candidatos não sofrerá modificação. Como se permite a coli- , gação apenas para a eleição proporcional, é possível que os candidatos laranjas sumam do cenário eleitoral, evitando as costumeiras baixarias na campanha, às cus- tas de candidaturas sem nenhuma viabilidade e seriedade política. 3. Nas unidades da Federação em que as vagas em disputa não excedam a 20 '' lugares, cada partido poderá registrar candidatos a Deputado Federal e a Deputado Estadual ou Distrital até o dobro das respectivas vagas. Em caso de coligação, o núme- ro de candidatos poderá ser o dobro de vagas acrescido de até 50%. Assim, se forem 20 as vagas disputadas, poderão ser 60 os candidatos indicados pela coligação. Note-se que o acréscimo de 50% é sobre o número de vagas, computando-se a dobra. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 43S 4. Do número de candidatos indicados, cada partido ou coligação deverá reservar, para candidatos de cada sexo, o mínimo de 2S% e o máximo de 7S%. Assim, para a eleição de 1998, prevalece a regra do art. 80 da Lei 9.504/97, e não a regra do § 3.° do art. 10, que poderá nunca incidir, se houver nova lei temporária para as eleições do ano 2000. Tal preceito se livrou da redação infeliz da legislação revogada, uma vez que desta feita não fez menção expressa a nenhum dos sexos, de modo a apagar a pecha de ser discriminatório. Ao revés de preservar um número de vagas para de- terminado sexo, mais da vez tolhendo pudesse preencher número maior, a norma agora opta por dispor genericamente sobre o teto e o piso de vagas pertencentes a quaisquer dos sexos, de maneira a não impor amarras às mulheres. E se tais vagas

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não forem preenchidas? Tem entendido o Superior Tribunal Eleitoral não ser cabí- vel o preenchimento por pessoas de outro sexo. "(...) Candidaturas femininas (Lei 9.100, de 29.09.1995, art. I I, § 3.°). Se não se preencherem os vinte por cento das vagas destinadas às candidaturas femininas, a chapa poderá ser registrada, ainda que incompleto aquele percentual de mulheres. O que não se admite, conforme entendimento firmado por esta Corte, é que a diferença seja preenchida por candidatos homens (Cons. 54, Min. Marco Aurélio)" (Res. 19.564, de 23.05.1996, rel. Min. Walter Medeiros. Ernentário do TSE-Elei- ções 1996, p. 242). Esse entendimento é inteiramente aplicável ao texto atual, de maneira que as vagas não preenchidas por candidatos do sexo minoritário quantitativamente resta- rão irremediavelmente comprornetidas, não podendo ser aproveitadas por candida- tos de outro sexo. S. O 5 S." desse artigo inova a experiência adquirida na eleição municipal passada. Agora, se todas as possíveis vagas não forem preenchidas, os partidos ou

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coligações poderão preenchê-las até 60 dias antes do pleito. A questão a ser resolvi- da, não definida pela lei, é a forma por meio da qual serão indicados os novos candi- datos, já que não mais se poderá realizar convenção para esse fim. Por analogia, deverão ser aplicadas as mesmas regras do estatuto para as substituições de candida- tos, na forma do • l.° do art. 13 dessa lei glosada. Note-se, inclusive, serem idênticos os prazos de substituição e de indicação de novos candidatos para a eleição proporcio- nal, ao teor do • 3.° do mesmo art. 13: 60 dias antes do pleito. 6. Incluem-se no cômputo estabelecido nesse artigo os candidatos natos, que também ficam adstritos aos limites numéricos aqui estabelecidos. Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o re- gistro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições. § 1.° O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: 436 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA ., I - cópia da ata a que se refere o art. 8 °' I I - autorização do candidato, por escrito; I I I - prova de filiação partidária; IV - declaração de bens, assinada pelo candidato; V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório eleito- ral, de que o candidato é eleitor na circunscrição ou requereu sua ., inscrição ou transferência de domicílio no prazo previsto no art. 9 °' VI - certidão de quitação eleitoral; VII - certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual; VIII - fotografia do candidato, nas dimensões estabelecidas em ins- trução da Justiça Eleitoral, para efeito do disposto no § 1 .° do art. 59. § 2.° A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condi- ção de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse. § 3.° Caso entenda necessário, o Juiz abrirá prazo de setenta e duas horas para diligências. § 4.° Na hipótese de o partido ou coligação não requerer o registro de seus candidatos, estes poderão fazê-lo perante a Justiça Eleito- ral nas quarenta e oito horas seguintes ao encerramento do prazo previsto no caput deste artigo. § 5.° Até a data a que se refere este artigo, os Tribunais e Conselhos de Contas deverão tornar disponíveis à Justiça Eleitoral relação dos que tiveram suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão competente, ressalvados os casos em que a questão esti- ver sendo submetida à apreciação do Poder Judiciário, ou que haja sentença judicial favorável ao interessado. I. Sobre o pedido de registro de candidato, vide o Capítulo 6 deste livro. Deverá ser ele proposto até às 19 horas do dia 5 de julho. 2. O § 2.° do art. 11 é um despautério, fruto da mais evidente atecnia e desco- nhecimento jurídico. Prescreve que a idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse dos eleitos. Em primeira plana, transparece o absurdo, pois as datas da posse dos eleitos para o cargo majoritário não coincide com a dos eleitos para os cargos pro- porcionais, havendo aí uma diferença de data-base sem razão justificável. Nada obstante, o mais grave é a confusão que faz entre idade mínima para o exercício do mandato e idade mínima para a aquisição do direito de ser votado. Ora, a Constituição Federal, ao fixar as idades mínimas do art. 14, § 3.°, inc. V, o faz

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ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 437 com vistas à obtenção da elegibilidade (= direito de ser votado, de concorrer a cargos eletivos). Portanto, a idade mínima exigível há de estar perfeita quando do pedido de registro de candidatura, e não quando de uma possível posse, se obtiver a vitória nas urnas.Z O § 2.° do art. 11 da Lei 9.504 é inconstitucional por dar amplitude maior à norma constitucional, permitindo que os nacionais com idade inferior àquela exigida possam concorrer ao cargo público, numa violação explícita e vitanda do preceito constitucional. Por via oblíqua, diminuiu-se a idade mínima exigível para se con- correr aos cargos eletivos, pois quem tiver 34 anos de idade poderá se candidatar ao cargo de Presidente da República, concorrendo normalmente no pleito eleitoral, fazendo atos de campanha, utilizando-se de recursos públicos (fundo partidário), fazendo propaganda eleitoral, sem que possua a idade mínima exigida para tantó pela Carta. O direito de ser votado (elegibilidade) nasce do ato de registro de candidatu-

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ra, quando deverão estar presentes todas as condições necessárias de elegibilidade. Já o direito de exercer o mandato nasce do ato da diplomação, pelo qual se certifica a vitória obtida nas urnas, através da votação conferida pelos eleitores. A posse é ato de ingresso no exercício do mandato conferido pela diplomação. Quem fala em elegibilidade, e em suas condições, fala no direito de concorrer ao mandato eletivo, granjeando votos. O mandato é posterius, que pode ou não advir da elegibilidade, dependendo da votação obtida. Quando a Lei Eleitoral desloca a data de perfeição da idade mínima exigível, prevista no art. 14, • 3.°, inc. V da CF/88, para o dia da posse, fere a Constituição, confunde conceitos, torna incerto o que era elementar. Esperamos que o Tribunal Superior Eleitoral, pelo controle difuso, e o Supremo Tribunal Federal, pelo contro- le concentrado, mondem a validade desse preceito, eis que flagrantemente ilícita. De toda sorte, remetemos o leitor ao Capítulo 2 deste livro. 3. Feito o pedido de registro de candidatura, deverá analisar a Justiça Eleitoral se estão presentes os documentos exigidos no • 1.° do art. 11. Em não estando perfei- tos os dados apresentados, ou ausente algum documento essencial, deve o Juiz Elei- toral assinar prazo de 72 horas para diligências, durante as quais o partido ou coliga- ção, ou mesmo o candidato, devem colmatar as lacunas existentes. Se não forem sanados os vícios tempestivamente, o Juiz Eleitoral com assento no Tribunal Regio- É no momento do registro de candidatura que deve ser apreciada a existência das condições de elegibilidade ou a aplicação de alguma inelegibilidade cominada anterior. O TSE tem, muito amiúde, adotado esse entendimento: "Registro de candidatura. Inelegibilidade. Art. 15, inc. III, da CF. Término do cumprimento da pena posterior ao pedido de registro e anterior às eleições. É inelegível o candidato que, à época do pedido de sua candidatura, encontrava- se com seus direitos políticos suspensos, não importando que a causa da inelegibilidade tenha cessado antes da realização das eleições. Recurso provido" (Ac. 13.448, de 27.02.1997, RespEl, rel. Min. Ilmar Galvão, maioria de votos. Ementário das decisões do TSE 1997, p. 80). 438 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA nal, ou o Ministro relator, com assento no Superior Tribunal, proporá a denegação do pedido, mercê de ausências de pressupostos mínimos de procedibilidade do pedido. 4. Os candidatos indicados em convenção do partido, ou aqueles natos, são legi- timados a propor o pedido de registro de candidatura, acaso a coligação ou partido não o faça, até o prazo estabelecido no caput do artigo: até às 19 horas do dia 07.07.2000. 5. Para dar efetividade à sanção de nelegibilidade corninada potenciada pre- vista no art. 1.°, inc. I, letra g, da LC 64/90, o § 5.° do artigo sob comento determina aos Tribunais e Conselhos de Contas que encaminhem à Justiça Eleitoral a relação dos que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão compe- tente. Nada obstante, aqueles casos submetidos ao Poder Judiciário, ou que já te- nham sentença favorável aos interessados, ficam excluídos da lista, uma vez que a eles não se aplica a cominação de inelegibilidade, conforme detidamente analisa- mos no Capítulo 4 deste livro. Art. 12. O candidato às eleições proporcionais indicará, no pedido de registro, além de seu nome completo, as variações nominais com que deseja ser registrado, até o máximo de três opções, que pode- rão ser o prenome, sobrenome, cognome, nome abreviado, apelido ou nome pelo qual é mais conhecido, desde que não se estabeleça dúvida quanto à sua identidade, não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente, mencionando em que ordem de preferência deseja registrar-se.

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§ 1 .° Verificada a ocorrência de homonímia, a Justiça Eleitoral pro- cederá atendendo ao seguinte: I - havendo dúvida, poderá exigir do candidato prova de que é co- nhecido por dada opção de nome, indicada no pedido de registro; II - ao candidato que, na data máxima prevista para o registro, esteja exercendo mandato eletivo ou o tenha exercido nos últimos quatro anos, ou que nesse mesmo prazo se tenha candidatado com um dos nomes que indicou, será deferido o seu uso no registro, ficando outros candi- datos impedidos de fazer propaganda com esse mesmo nome; III - ao candidato que, pela sua vida política, social ou profissional, seja identificado por um dado nome que tenha indicado, será deferi- do o registro com esse nome, observado o disposto na parte final do inciso anterior; IV-tratando-se de candidatos cuja homonímia não se resolva pelas regras dos dois incisos anteriores, a Justiça Eleitoral deverá notificá- los para que, em dois dias, cheguem a acordo sobre os respectivos nomes a serem usados; ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 439 V - não havendo acordo no caso do inciso anterior, a Justiça Eleito- ral registrará cada candidato com o nome e sobrenome constantes

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do pedido de registro, observada a ordem de preferência ali definida. § 2.° A Justiça Eleitoral poderá exigir do candidato prova de que é conhecido por determinada opção de nome por ele indicado, quan- do seu uso puder confundir o eleitor. § 3.° A Justiça Eleitoral indeferirá todo pedido de variação de nome coincidente com nome de candidato a eleição majoritária, salvo para candidato que esteja exercendo mandato eletivo ou o tenha exercido nos últimos quatro anos, ou que, nesse mesmo prazo, tenha con- corrido em eleição com o nome coincidente. § 4.° Ao decidir sobre os pedidos de registro, a Justiça Eleitoral pu- blicará as variações de nome deferidas aos candidatos. § 5.° A Justiça Eleitoral organizará e publicará, até trinta dias antes da eleição, as seguintes relações, para uso na votação e apuração: I - a primeira, ordenada por partidos, com a lista dos respectivos candidatos em ordem numérica, com as trés variações de nome correspondentes a cada um, na ordem escolhida pelo candidato; I I - a segunda, com o índice onomástico e organizada em ordem alfa- bética, nela constando o nome completo de cada candidato e cada variação de nome, também em ordem alfabética, seguidos da res- pectiva legenda e número. 1. O pedido de registro de candidatura deverá ser formulado com a indicação do nome completo do pré-candidato, além de no máximo três possíveis variações nominais, através das quais pretenda ser identificado por seus eleitores. Essas varia- ções nominais poderão ser o nome próprio (prenome), ou o nome de família (so- brenome), ou mesmo o cognome (apelido, alcunha), ou a abreviatura de seu nome. Tais nomes indicados pelo pré-candidato não devem estabelecer dúvida so- bre sua identidade, nem atentar contra o pudor ou serem ridículos e irreverentes. Aqui, todavia, é curial que o Juiz Eleitoral seja cuidadoso ao fazer sua análise no caso concreto, para não prejudicar qualquer dos candidatos. Como o preenchimen- to semântico do que seja irreverente, ou ridículo, ou mesmo que atente contra o pudor, se fará com vistas ao caso concreto, através de máximas de experiência e valorações, mister se faz tenha a Justiça Eleitoral muito cuidado para não exacerbar os rigores na delimitação desses nomes indicados. Se alguém indica um apelido como variação nominal, está abstraindo de qualquer carga pejorativa que aquele nome possui, pois com ele pretende concorrer a um cargó público. Apenas quando haja, para os valores objetivados da comunidade, um mau gosto no nome indicado é que deverá ser ele efetivamente rejeitado. Mau gosto não no sentido estético, mas 44O TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA principalmente no sentido ético e moral. Esteticamente, poderá ser negativo al- guém ser conhecido como João Tartaruga, ou Maria do Balaio, sem embargo de eleitoralmente ser irrelevante. O mesmo não se poderá dizer de uma variação nomi- nal pela qual o candidato seja votado como Zé do Pó, ou Paulo Mão Leve. Tal variação induz um comportamento desviado do concorrente, que não poderá ser adotado, pela sua irreverência e má índole. Seja como for, o que o art. 12, caput, pretende é admitir a adoção, pelo can- didato, de nomes pelos quais seja ele conhecido na comunidade, sem embargo de interditar alcunhas de gosto duvidoso, as quais atentem contra a seriedade da elei- ção. Sem embargo, deve-se facultar a adoção de nomes com duvidosa seriedade, desde que sejam eles já engastados na personalidade do candidato e não sejam aleivosos, vulgares ou despudorados. Noutros termos, desde que não causem um sentimento negativo na comunidade votante. É matéria, como se vê, afeta à discricio- nariedade judicial, naquele sentido adotado por Herbert L. A. Hart. O candidato, quando da indicação dos três possíveis nomes utilizados como variação nominal, deverá também indicar a ordem de preferência com a qual dese- ja registrar-se, para constar na lista a ser publicada pela Justiça Eleitoral, na qual

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constarão os nomes de todos os candidatos (§ 4.° do art. 12). Tal ordem de prefe- rência é relevante para os fins do art. I04, desta lei. 2. Com a possibilidade de indicação de apelidos, ou nomes abreviados, po- derá ocorrer a existência de homonímia, vale dizer, de um mesmo apelido ser indi- cado por distintos candidatos. Em havendo identidade de nomes indicados, e dado não poderem dois ou mais candidatos concorrer sob uma mesma designação, necessário aplicar uma fórmula de indicação de qual deles poderá se valer do nome arrolado. A primeira regra é o da necessidade de o candidato ter de provar ser conhecido por dada opção de nome, indicada no pedido de registro. Ora, não poderia o candidato pretender ser eleito com o uso de um nome de pessoa famosa, que não tenha qualquer relação consigo. Assim, poderia alguém pretender obter o registro da alcunha "Regina Duarte", sem que o nome da famosa atriz tenha ligação com a sua vida, ou com o nome pelo qual seja conhecido. Se o candidato busca se valer do nome de alguém famoso, no intuito de ludibriar o

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eleitor, ou mesmo de um outro político de prestígio, não poderá atingír o seu inten- to, porquanto deseja conquistar votos por virtudes das quais não dispõe. 3. Acaso os candidatos envolvidos na homonímia demonstrem ser conheci- dos também pelo nome em testilha, deverá remanescer com o noroe disputado aquele que esteja exercendo,mandato eletivo ou o tenha exercido nos últimos qua- tro anos, ou que nesse mesmo prazo se tenha candidatado com um dos nomes que indicou. Aqui a lei adotou o critério da anterioridade, segundo o qual deve usar a homonímia o candidato que esteja exercendo mandato eletivo, ou o tenha exercido nos últimos quatro anos, ou mesmo, nesse período, embora sem mandato, tenha disputado uma eleição fazendo o seu uso. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 441 Surge aqui uma questão. Se o candidato que exerce mandato desejar o seu registro com a homonímia, embora não a tenha usado na campanha eleitoral ante- rior, poderá ser beneficiado por essa norma? Exemplifiquemos: um candidato à reeleição para o cargo de Deputado Estadual, ao se registrar, indica como um dos nomes a alcunha de Zeca Tião, com o qual é também conhecido, mas que não utilizou quando do seu registro para a eleição anterior. Ocorre que um outro candi- dato a Deputado, que não tem mandato, deseja se registrar com o mesmo apelido, pelo qual também é conhecido, gerando a homonímia. Ao candidato à reeleição caberá o privilégio da norma glosada? O inc. II do § 1.° do art. 12 da Lei 9.504/97 não exigiu que o detentor do mandato já tivesse feito uso do nome problemático, utilizando apenas como critério discriminatório o tão-só exercício de mandato eletivo até a data do registro, ou duran- te algum átimo nos quatro anos anteriores à eleição. Seria defeso ao intérprete indicar uma distinção onde a lei não pôs, sendo de se entender beneficiado o candidato à reeleição, ou quem já tenha nesse período de quatro anos exercido mandato. Feita a indicação de quem tem o direito ao uso do nome ou alcunha, os demais candidatos não poderão dele fazer uso, a não ser em seu desproveito, eis que benefi- ciado resultará sempre quem a Justiça Eleitoral indicou como portador do nome. 4. Não configurada a hipótese do inc. II, deverá ser observado qual dos can- didatos é identificado, pela sua vida política, social ou profissional, com o nome em homonímia. Nesse caso, além de ser conhecido pelo nome indicado (inc. I), deverá o candidato demonstrar ser conhecido em âmbito social mais largo por esse nome, quer por suas atividades sociais, quer políticas ou profissionais. Se a atriz Glória Menezes desejasse concorrer a um mandato eletivo, deveria ter preferência sobre outra Glória Menezes candidata, porque esse nome, nacionalmente, faz logo lem- brar a atriz famosa, pelo qual é de todos conhecida. Isso, obviamente, se o nome da outra candidata não fosse próprio, mas apenas uma alcunha. 5. Em caso de concorrência das hipóteses dos incs. II e III, qual deles teria a preferência? Ora, aqui a lei não pôs ordem de prevalência, criando a possibilidade de conflito entre ambos os critérios. Assim, poderia existir uma candidata Glória Menezes com mandato eletivo, e a candidata Glória Menezes, atriz famosa. Qual delas poderia usar o nome, com base nos critérios estabelecidos? Não havendo disposição sobre essa possibilidade, incidem os metacritérios dos ines. IV e V: a tentativa de conciliação, para que apenas uma use o nome; ou a proibição de que ambas se valham do nome em contlito. 6. Não havendo como se aplicar o critério da azzterioridade (inc. II), tampouco o critério do reconhecimento social (inc. III), resta à Justiça Eleitoral a tentativa de proporcionar a celebração de um acordo entre os candidatos envolvidos, os quais serão notificados para transacionar em dois dias, definindo quem se valerá do ho- mônimo. Em não havendo acordo, e à falta de qualquer outro possível critério de 442 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA solução do litígio, resta à Justiça Eleitoral deferir os pedidos de registro, deles cons- tando os homônimos, na ordem de preferência indicada no pedido de registro. 7. O § 2.° do art. 12 faculta ao Juiz Eleitoral, em seu livre convencimento

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motivado, a possibilidade de exigir do candidato provas de que é conhecido por determinada denominação, quando o seu uso puder confundir o eleitor, naquelas hipóteses do art. 12, caput, ou inc. III. 8. Pode ocorrer que o candidato a cargo proporcional utilize o mesmo nome do candidato majoritário de seu ou de outro partido (ou coligação). Se houver coin- cidência desse jaez, deverá o candidato a cargo proporcional adotar outra variação nominal, salvo se o candidato estiver exercendo mandato eletivo ou o tenha exerci- do nos últimos quatro anos, ou que, nesse prazo, tenha concorrido em eleição com o nome coincidente. Aqui não se concederá, aos candidatos que tenham esse nome coincidente conhecido política, social ou profissionalmente, a mesma oportunidade de uso da homonímia, como também seria desejável, na forma do art. 12, inc. III. Coisas do legislador eleitoral, que trata espécies idênticas de maneira desigualitária. 9. Os §§ 4.° e 5.° do art. 12 tratam da publicação da nominata dos candidatos registrados, com a respectiva variação nominal aprovada. No primeiro caso, trata-se

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da sentença que acolher o pedido de registro de candidatura - com ou sem interposição de AIRC; o segundo, doutra banda, versa sobre as duas listas a serem publicadas em até 30 dias antes da eleição, para uso na votação e apuração, sendo (a) ordenada por partidos, com a nominata dos respectivos candidatos em ordem numérica, com as três variações de nome correspondentes a cada um, na ordem escolhida pelo candi- dato; e (b) com o índice onomástico e organizada em ordem alfabética, nela constan- do o nome completo de cada candidato e cada variação de nome, também em ordem alfabética, seguidos da respectiva legenda e número. Art. 13. É facultado ao partido ou coligação substituir candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro ou, ainda, tiver seu registro indeferido ou cancelado. § 1 .° A escolha do substituto far-se-á na forma estabelecida no estatu- to do partido a que pertencer o substituído, e o registro deverá ser requerido até dez dias contados do fato ou da decisãojudicial que deu origem à substituição. § 2.° Nas eleições majoritárias, se o candidato for de coligação, a substituição deverá fazer-se por decisão da maioria absoluta dos ór- gãos executivos de direção dos partidos coligados, podendo o substi- tuto ser filiado a qualquer partido dela integrante, desde que o partido ao qual pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 443 § 3.° Nas eleições proporcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até sessenta dias antes do pleito. 1. O candidato indicado em convenção é substituível nas seguintes hipóte- ses: se for considerado inelegível, se renunciar, se falecer após o termo final do prazo do registro, ou se tiver o seu registro indeferido ou cancelado. Tais situações implicam a possibilidade de o partido político ou coligação indicar um novo candi- dato, a forma estabelecida pela Lei Eleitoral. Antes de analisarmos qual seja a for- ma estipulada, curial se faz deitarmos falação sobre os fatos descritos como ensejadores da substituição. 2. Já curamos, na Primeira Parte deste livro, em demonstrar que a elegibilida- de, como direito de ser votado, nasce do fato jurídico do registro de candidatura. Assim, quem não é registrado, ou porque não quis ou porque foi impedido, é inelegível. Os que não preencheram as condições de elegibilidade são inelegíveis natos, mercê de não terem obtido o direito de serem votados. Os que não puderam se registrar, por terem sido sancionados como inelegíveis, ou, após registrados, os que vieram a ter o seu registro cassado, são inelegíveis cominados, em virtude de terem praticado algum ato de natureza eleitoral - ou não - desabonador. Assim, a inelegibilidade é ausência, obstáculo ou perda da elegibilidade. É ausência, quando o nacional não preenche as condições de elegibilidade; é obstá- culo e perda, quando ele é sancionado, vindo a ser impedido de obter o registro de candidatura (em caso de ter os seus direitos políticos suspensos, por condenação criminal transitada em julgado, v. g.), ou chegando a ter o seu registro cassado (por abuso de poder econômico, e. g.), respectivamente. A inelegibilidade, que justifica a substituição do candidato, é tanto a irzata como também aquela cominada potenciada. Logo, se o registro for indeferido por ausência de uma das condições de elegibilidade (inelegibilidade inata), ou for cancelado por causa de alguma inelegibilidade cominada, poderá o candidato, que assim se houver, ser substituído, tendo o seu substituto também que atender às exigências legais. É de bom alvitre mais uma vez gizar, em cores bem vivas, que a elegibilidade é um direito subjetivo público condicionado no tempo e no espaço, vinculado a determinado prélio eleitoral. Nasce ela do registro de candidatura, é exercida durante a campanha eleitoral e termina com a proclamação dos resultados. Para concorrer a outra eleição, necessário que o nacional novamente obtenha o direito de ser votado, através de outro registro de candidatura. Dessarte, quando se diz que o inelegível

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deve ser substituído, deve-se ter em mente que ou ele não obteve o registro de candi- datura ou, se o obteve, foi ele cancelado. Terceira possibilidade não se dá. 3. A renúncia do candidato é renúncia (a) ao direito do pedido de registro de candidatura pelo partido ou coligação, abdicando da indicação em convenção par- tidária; ou (b) ao direito de ser votado, obtido por meio do ato jurídico de registro. 444 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA A indicação em convenção, ou o fato de pleitear a eleição para o mesmo cargo que exerce ou que já exerceu (candidatura nata), dá ao nacional o direito a que o partido ou coligação faça o pedido do registro de sua candidatura. Se, após as convenções e antes da obtenção do registro, o pré-candidato vier a renunciar, abdi- ca apenas do seu direito a ser indicado pelo partido para concorrer ao mandato eletivo. Outrossim, se a renúncia ocorrer após a obtenção do registro, há renúncia mais grave: abdica-se da própria elegibilidade, vale dizer, do direito de ser votado naquela específica eleição. E como se dá a renúncia?

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Se ainda não houve pedido de registro, e foi ele indicado em convenção, basta que o filiado comunique ao seu partido político a abdicação do seu direito de pleitear o registro de candidatura. Se isso não for feito, poderá depois se afirmar preterido, vibrando contra a agremiação o seu direito de preferência. Sendo ele um candidato nato, há renúncia se ele não participa da convenção partidária, ou, após ser indicado, se comunica sua vontade de não mais concorrer. Não havendo tal ' procedimento, tem de ser ele indicado pelo partido, ou, não o sendo, tem o partido de suportar que o candidato nato se afirme preterido. Se já houve o pedido de registro, a renúncia deverá ser comunicada à Justiça , Eleitoral, para que faça as vezes de um pedido de desistência da ação. O Juiz Elei- toral apenas homologará o pleito. ; Se já houve o registro de candidatura, o candidato renuncia ao seu direito de ser votado através de uma comunicação ao Juiz Eleitoral, pela qual pede seja can- celado o seu registro de candidatura. 4. A morte é fato da natureza, jurisdicizado em seu estado bruto. Não importa a causa mortis, senão tão-só o evento desvestido de qualquer outra significação. Apenas se toma como relevante a morte ocorrida após o pedido de registro; se houve morte anterior, não há substituição: há pedido original, de candidato indica- do na forma estabelecida pelo estatuto da agremiação. 5. A escolha do substituto será feita pelo procedimento estipulado previamente , no estatuto do partido, que deverá ser o mais simplificado possível. Normalmente ficará afeto ao órgão executivo tal encargo, cuja finalidade é a de indicar outra can- didatura viável eleitoralmente. Ademais, o partido político apenas terá o prazo de dez dias para requerer o registro do substituto, contados da decisão judicial ou fato que lhe deu origem. Vale dizer, conta-se o prazo a partir do dia da morte do candidato, ou da decisão judicial que homologar a sua renúncia, indeferir o seu pedido de registro ou cancelá-lo. O dies a quo é o do trânsito em julgado da resolução judicial, contado i i o prazo com exclusão do dia inicial e inclusão do dies ad quern. ¡ 6. O • 2.° do art. 13 dispóe sobre a substituição de candidatos à eleição majoritária, quando houver coligação. É de bom alvitre lembrar que as candidatu- ras majoritárias são sempre plurissubjetivas, vale dizer, hão de existir apenas em chapa una e indivisível. O preceito em comento, por primeiro, institui o direito de ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 445 preferência de indicação do substituto, pertencente ao partido político que já havia indicado o substituído. Logo, se os partidos A, B e C se coligam na eleição majori- tária, sendo a chapa encabeçada pelo filiado do partido C, sua substituição será, por direito, resultante da indicação feita por esse mesmo partido. O mesmo ocorre se o vice era do partido A: a essa outra agremiação cabe a escolha de quem substi- tuirá o candidato a vice. Há quem sustente haja a necessidade de homologação, pelos outros partidos coligados, do nome indicado pelo partido político que detém o direito de preferência. Sem razão, todavia. Em primeira plana, nenhum partido coligado irá impor aos de- mais um nome que não seja consensual, sob pena de juntos sofrerem as conseqüên- cias da desagregação política. Doutra banda, a lei sob comento não exigiu a homolo- gação pelos demais partidos da escolha feita pelo partido detentor do direito de prefe- rência, de maneira a ser excessiva uma tal interpretação, feita de lege ferenda. Nada obstante, poderá o partido político abdicar do seu direito de preferência, quando então a escolha do substituto será feita por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos coligados. Assim, cada partido político fará uma eleição interna, na qual a maioria de seus membros deverá aprovar o nome do substituto, que poderá ser de qualquer partido político participante da coligação.

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Feita a indicação pelos membros da direção executiva do partido, deverá ser ela aprovada pela maioria dos partidos coligados, também pelas respectivas maio- rias absolutas de seus membros dos órgãos de direção executiva, naquilo que a lei chama de "trato dos interesses interpartidários" (art. 6.°, § 1.°). 7. Nas eleições proporcionais, o pedido de substituição deverá ser apresentada até 60 dias antes do pleito. Tal norma lacônica deixa sem resposta se há algum direito de preferência de indicação para o partido do candidato substituído. Aqui, incide a regra geral includente do argumento analógico: cabe ao partido coligado indicar o substituto de seu filiado, mantendo o equilíbrio político da textura da coligação. Art. 14. Estão sujeitos ao cancelamento do registro os candidatos que, até a data da eleição, forem expulsos do partido, em processo no qual seja assegurada ampla defesa e sejam observadas as nor- mas estatutárias. Parágrafo único. O cancelamento do registro do candidato será decretado pela Justiça Eleitoral, após solicitação do partido.

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1. O domínio dos conceitos jurídicos facilita sobremaneira a interpretação das normas jurídicas. Dissemos, no decorrer da Primeira Parte deste livro, que a elegibili- dade é o direito de ser votado, ou seja, o direito de participar da disputa eleitoral, 446 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA granjeando votos para si mesmo, com o escopo de obter um mandato eletivo. Logo, a elegibilidade é, substancialmente, o direito de praticar atos de campanha eleitoral, com o fito de concorrer a um cargo eletivo, através do qual se desempenhará função pública na qualidade de agente político. Como tal, esse direito subjetivo público (o ius honorurn) nasce do ato de registro de candidatura, durando enquanto durar a campanha eleitoral, e se extingue no final do dia da eleição, por consumação. Qualquer perda de uma das condições de elegibilidade, ocorrida durante o prélio eleitoral, gera inelegibilidade cominada, mercê do défice superveniente do suporte fáctico do registro de candidatura. Tal défice não induz a nulidade do regis- tro, eis que a nulidade nunca é fruto de causa posterior ao ato jurídico; ao revés, induzirá o cancelamento do ato registral, com a resolução dos seus efeitos, ou seja, com o corte da elegibilidade. 2. O caput do art. 14 prescreve a inelegibilidade do candidato que for expul- so do partido político, se a expulsão ocorrer até a data da eleição. Poderá algum intérprete, como acotiadamente ocorre, verberar contra essa norma, advogando que ela criou, por meio de lei ordinária, espécie de inelegibilidade. Assim, não faltarão os críticos contumazes dessa norma, cuja constitucionalidade não pode ser seriamente vergastada. Deveras, se o candidato obteve a elegibilidade pelo registro, podendo concorrer nas eleições, e supervenientemente vier a perder uma das condições de elegibilidade, obviamente sofrerá o corte de seu direito ao registro. Não existe candidatura avulsa, sendo certo que a expulsão do partido político implica a cesura da elegibilidade. Expliquemos melhor o fenômeno. Ao se homologar o pedido de registro da candidatura, o Juiz Eleitoral analisa as condições de registrabilidade - próprias e impróprias -, as quais devem estar presentes para a consecução do registro pleitea- do. Do ato registral advém o direito de concorrer a mandato político, através de atos de campanha. Se houver, por algum ato jurídico, a perda de qualquer das condi- ções de elegibilidade, os pressupostos presentes anteriormente deixam de existir, sendo sancionado o candidato com a cesura de seu direito, mondado cerce. Se o candidato, no decorrer da campanha, perde a nacionalidade, será decre- tado inelegível; assim também se há suspensão de seus direitos polítícos, mercê de sentença penal transitada em julgado. O mesmo se diga da filiação partidária, per- dida pela expulsão do candidato de sua agremiação, após processo administrativo, com observância do estatuto, no qual lhe tenha sido assegurada a ampla defesa. Comina-se-lhe a inelegibilidade simples, para essa eleição, até filiar-se a outro par- tido político. 3. O cancelamento do registro de candidatura será decretado pela Justiça Eleitoral, mediante pedido do partido político ao qual pertencia o candidato expul- so. Aqui avultam as dificuldades hermenêuticas. Em primeiro lugar, é necessário indagar se apenas o partido político específico possui legitimidade para pedir o cancelamento do registro, na forma do parágrafo único desse art. 14. A resposta é ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 447 afirmativa. Deveras, se outros partidos ou candidatos desejarem a decretação da inelegibilidade desse candidato desfiliado, em virtude da perda da filiação partidá- ria, não será o pedido de cancelamento aqui tratado o meio hábil, mas sim o recur- so contra diplomação. Assim, apenas o próprio partido político, em cujo quadro constava o candi- dato expulso, tem legitimidade para pedir, no decorrer do prélio, o cancelamento do registro de candidatura, notadamente com a decretação da inelegibilidade cominada simples. 4. O candidato expulso poderá ajuizar ação ordinária, ou mandado de segu-

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rança, na Justiça Comum, contra a decisão administrativa do partido político. Ob- tendo a tutela antecipada, ou a liminar, com a suspensão dos efeitos da decisão administrativa do partido, poderá então solicitar à Justiça Eleitoral, quando da apre- sentação de sua defesa ao pedido de cancelamento, que suspenda o procedimento até a decisão final da Justiça Comum, vez que enquanto perdurarem os efeitos da liminar a decisão do partido político é ineficaz. Supondo que o candidato não ingresse com alguma ação judicial na Justiça Comum, enquanto não houver decisão definitiva da Justiça Eleitoral sobre o pedi- do de cancelamento, o candidato poderá concorrer e, obtendo a vitória, exercer normalmente o seu mandato, com espeque no art. 15 da LC 64/90. Apenas sobre- vindo a decisão irrecornvel da Justiça Eleitoral, com o cancelamento do registro de candidatura, é que se lhe decretará a inelegibilidade cominada simples, cancelan- do-se o seu registro e resolvendo-se os efeitos da diplomação, perdendo o candida- to o mandato eletivo obtido nas urnas. 5. Qual o prazo que o partido tem para ingressar com o pedido de cancela-

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mento do registro de candidato? Ora, a norma é lacunosa quanto ao prazo e ao procedimento do pedido de cancelamento, motivo pelo qual deve ser aplicado 0 procedimento do art. 96 dessa Lei 9.504/97, para onde remetemos o leitor. Já quan- to ao prazo de sua propositura, à falta de qualquer outro, será o comum de três dias, contados da data da decisão administrativa do partido político, pela qual o candida- to se houve expulso. Mas o caput desse artigo não faz menção à data da eleição? Não seria esse o prazo fatal para a interposição do pedido de cancelamento pelo partido? Não, de modo algum. A correta interpretação é outra, pois a data da eleição tem referência, no texto legal, não ao pedido de cancelamento do registro, mas sim à expulsão do candidato dos quadros do partido. Logo, devemos entender que o pedido de can- celamento do registro apenas pode ser proposto pelo partido, contra o candidato, se a sua expulsão ocorrer até a data da eleição. 6. Fixemos agora os pontos relevantes desse dispositivo: (a) apenas o partido político tem legitimidade para pedir o cancelamento do registro do candidato ex- pulso dos seus quadros; (b) a expulsão do candidato do partido, para servir como causa de pedir, terá de ser decidida até o dia da eleição, inclusive; (c) o pedido de 448 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA cancelamento de registro de candidatura terá de ser oposto em três dias contados da decisão administrativa da agremiação, que é o prazo comum do Direito Eleitoral; (d) o rito desse pedido deverá ser o mesmo do art. 96 dessa lei, com abertura de prazo de 48 horas para o candidato se defender. Art. 15. A identificação numérica dos candidatos se dará mediante a observação dos seguintes critérios: I - os candidatos aos cargos majoritários concorrerão com o núme- ro identificador do partido ao qual estiverem filiados; II - os candidatos à Câmara dos Deputados concorrerão com o nú- mero do partido ao qual estiverem filiados, acrescido de dois alga- rismos à direita; I I I - os candidatos às Assembléias Legislativas e à Câmara Dístrital concorrerão com o número do partido ao qual estiverem filiados acrescido de trés algarismos à direita; I IV - o Tribunal Superior Eleitoral baixará resolução sobre a numera- ; ão dos candidatos concorrentes às eleições municipais. ; ; § 1 .° Aos partidos fica assegurado o direito de manter os números ' atribuídos à sua legenda na eleição anterior, e aos candidatos, nesta hipótese, o direito de manter os números que Ihes foram atribuídos na eleição anterior para o mesmo cargo. § 2.° Aos candidatos a que se refere o § 1 .° do art. 8.°, é permitido requerer novo número ao órgão de direção de seu partido, indepen- dentemente do sorteio a que se refere o § 2.° do art. 100 da Lei 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. § 3.° Os candidatos de coligações, nas eleições majoritárias, serão registrados com o número de legenda do respectivo partido e, nas eleições proporcionais, com o número de legenda do respectivo partido acrescido do número que Ihes couber, observado o disposto no parágrafo anterior. 1. O caput e os incisos do art. 15 tratam da identificação numérica dos candi- datos. O candidatos aos cargos majoritários concorrerão com o número identificador do partido ao qual estiverem filiados; os candidatos à Câmara dos Deputados con- correrão com o número do partido ao qual estiverem filiados, acrescido de dois algarismos à direita; e os candidatos às Assembléias Legislativas e à Cãmara Distrital concorrerão com o número do partido ao qual estiverem filiados acrescido de três

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algarismos à direita. Supondo que o partido tenha por número identificador o alga- rismo 98, o candidato à Presidência da República concorrerá com o número 98; os ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 449 candidatos à Câmara dos Deputados, com o número 98.00 (tomando 00 por qual- quer outro número); e os candidatos às Assembléias Legislativas e à Câmara Distrital, com o número 98.000 (tomando 000 por qualquer outro número). Assim, por exem- plo, um suposto candidato José Biunívoco poderia concorrer a Deputado Federal com o número 98.21, ou a Deputado Estadual com o número 98.324. 2. Os números dos partidos políticos, máxime os dos mais antigos, já os identificam junto à população, em razão das constantes propagandas políticas a cada biênio. O número 45 já está identificado com o PSDB; 0 40, com o PSB; 0 13, com o PT; 0 15, com o PFL; 0 1 l, com o PPB etc. Não por outro motivo a Lei concedeu aos partidos políticos o direito de permanecer com os seus números cos- tumeiros, atribuídos à sua legenda, com o qual concorrerá o seu candidato a cargo majoritário.

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Outrossim, a lei garante ao candidato, que permaneceu filiado ao seu partido político, o direito de manter os números que lhe foram atribuídos na eleição anterior para o mesmo cargo. Se o candidato a Deputado Federal era; na eleição anterior, candidato a Deputado Estadual, não há o direito de manutenção do número, até mesmo pela sua diferente composição, com menos ou mais algarismos. 3. Os candidatos natos não se submetem ao critério do sorteio, estipulado pelo art. 100 do Código Eleitoral, podendo requerer novo número ao órgão de direção de scu partido político. Assim, será comum o candidato nato pleitear inclu- sive a mudança de seu antigo número, visando a indicar outro de mais fácil lem- brança para seus eleitores. Não raro pedirá números repetidos (v. g., 98.666), os quais são mais fáceis para o eleitor analfabeto votar. 4. Para as coligações, os candidatos a cargos majoritários concorrem com o número da legenda do partido ao qual estão filiados. Nas eleições proporcionais, concorrem com o número da legenda de seu partido, acrescido dos números sorte- ados ou indicados, na forma dos parágrafos comentados. Art. 16. Até quarenta e cinco dias antes da data das eleições, os Tri- bunais Regionais Eleitorais enviarão ao Tribunal Superior Eleitoral, para fins de centralização e divulgação de dados, a relação dos candidatos às eleições majoritárias e proporcionais, da qual constará obrigatoria- mente a referência ao sexo e ao cargo a que concorrem. O dispositivo é claro, sendo despiciendo analisá-lo. Não há sanção para o descumprimento desse prazo, tendo ele caráter administrativo. Apenas se houver desídia absurda, poderá ocorrer crime de desobediência, se houver determinação concreta de envio da lista e, ainda assim, o responsável desatendê-la. 4SO TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA DA ARRECADAÇÃO E DA APLICAÇÃO DE RECURSOS NAS CAMPANHAS ELEITORAIS Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos, ou de seus candidatos, e financiadas na forma desta Lei. 1. Sendo os partidos políticos pessoas jurídicas de direito privado (art. 17, § 2.°, da CF/88 e art. l.° da Lei 9.096/9S), suas despesas não se regem pela Lei Federal 4.320/64, que dispõe sobre a contabilidade pública. A regra era a de que não ficavam os partidos sujeitos ao princípio da legalidade da despesa, segundo o qual se faz necessário 0 cumprimento do devido processo administrativo, com o prévío empenho da despesa, a sua liqüidação e o pagamento. Todavia, em que pese a não-aplicação da Lei 4.320/64, a Lei Eleitoral sob comento trouxe uma importante mudança, ainda não devidamente exalçada pelos teóricos do Direito Eleitoral, tampouco encarecida pelos Tribunais Elei- torais: as despesas realizadas pelos partidos políticos se submetem à Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei 8.666/93), em razão do disposto no art. 104 desta Lei 9.504/97, que acresceu o § 3.° no art. 44 da LOPP Como pessoas jurídicas de direito privado, os partidos políticos deveriam realizar os seus gastos livremente, da maneira que lhes aprouvesse, nada obstante com a obrigação de prestar contas à Justiça Eleitoral dos fundos recebidos e da suas origens, bem assim tendo que manter a escrituração de sua vida contábil, vez que manipulam dinheiro público (o fundo partidário). Mas isso apenas não bastou ao legislador. Quis ele a exigência de prévia licitação para os gastos de recursos prove- nientes do fundo partidário, através da formalização de um processo administrativo próprio. Não temos dúvidas das dificuldades da aplicação desse preceito, ainda mais que o regime misto de financiamento de campanhas admite a participação do capital privado, cujo gasto não se sujeita à mesma exigência de prévia licitação. Sobre o tema, vide os comentários ao art. 104 desta lei. 2. Dada a importância dos partidos na vida política nacional, uma vez que a democracia representativa se realiza através deles, é que a Constituição Federal e mais profundamente a Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP, art. 31) vedaram ãs

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agremiações o recebimento, direto ou indireto, de contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, pro- cedente de entidade ou governo estrangeiros; autoridade ou órgãos públicos; autar- quias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de eco- nomia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concor- ram órgãos ou entidades governamentais; e entidade de classe ou sindical. 3. Não por outra razão, visando a fiscalizar a observância dessas normas, os partidos restam obrigados a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço contábil i ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 4S I do exercício findo, até o dia 30 de abril do ano seguinte. Já nos anos eleitorais, como o de 2000, os partidos devem enviar balancetes mensais à Justiça Eleitoral, durante os quatro meses anteriores e os dois meses posteriores ao pleito (§ 3.° do art. 32 da LOPP). 4. As despesas eleitorais, entendidas como aquelas realizadas no período de

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campanha, serão de responsabilidade dos partidos, ou de seus candidatos, e finan- ciadas na forma da lei sob comento. A responsabilidade é objetiva, como o de- monstra o art. 21 da presente lei, de maneira que os partidos políticos poderão sofrer as sanções do art. 36 da LOPP, ficando os seus dirigentes responsáveis pelo comitê financeiro, bem assim o candidato quanto aos recursos por ele manuseados, sob a possibilidade de sanções (desde a decretação de inelegibilidade, por abuso de poder econômico, até a inflição de pena civil de multa). Art. 18. Juntamente com o pedido de registro de seus candidatos, os partidos e coligações comunicarão à Justiça Eleitoral os valores máximos de gastos que farão por candidatura em cada eleição em que concorrerem. § 1.° Tratando-se de coligação, cada partido que a integra fixará o valor máximo de gastos de que trata este artigo. § 2.° Gastar recursos além dos valores declarados nos termos des- te artigo sujeita o responsável ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso. 1. Ao pedir o registro de seus candidatos, os partidos e coligações comunicarão à Justiça Eleitoral os valores máximos de gastos que farão por candidatura em cada eleição em que concorrerem. Tais valores máximos são arbitrados, ou estimados pe- los partidos, sem que exista um critério predisposto pela lei, senão o de que deva ser tal valor alto, já que será ele o limite de gastos imposto. A artificialidade da norma ressalta, pois o teto, ou patamar mais elevado, a ser fixado para os gastos não neces- sita ser estabelecido através de critério objetivo, mas sim por mera estimativa, que não corresponderá às condições reais do partido, mas apenas à conveniência de não impor limites angustos, os quais poderão estorvar sua campanha eleitoral. Em Alagoas, na eleição municipal de 1996, houve um candidato a Prefeito de Maceió que, motivado pela lei, superestimou os gastos, em valores tão irreais quanto irresponsáveis. Houve repercussão na mídia nacional, sem se aperceberem os meios de comunicação social que tais valores eram motivados pela norma jurídi- ca, sem qualquer assoalho no plano fáctico, mas apenas para liberalizar os gastos efetivamente feitos, os quais terminaram sem as peias do teto legal imaginado. 4S2 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA 2. Assim, com a experiência obtida na eleição de debute desse dispositivo, a nenhum partido ocorrerá fixar valores apoucados, os quais apenas servirão de escolho para a sua campanha e futura prestação de contas, tampouco valores elevados, os quais soarão como pródigos e delirantes gastos de campanha, obviamente induzindo um posterior resgate dos valores dispendidos, através de práticas ímprobas. 3. Tais valores máximos de gastos são estipulados por candidatura em cada eleição, sendo elaborados por cada partido individualmente, quando se tratar de coligação. O gasto de recursos, além dos estimados como teto, ensejarão o paga- mento de multa pelo responsável (o candidato ou o partido), a ser fixada no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso, conforme o caso concreto. Art. 19. Até dez dias úteis após a escolha de seus candidatos em convenção, o partido constituirá comitês financeiros, com a finalida- de de arrecadar recursos e aplicá-los nas campanhas eleitorais. § 1.° Os comitês devem ser constituídos para cada uma das elei- ções para as quais o partido apresente candidato próprio, podendo haver reunião, num único comitê, das atribuições relativas ás elei- ções de uma dada circunscrição. § 2.° Na eleição presidencial é obrigatória a criação de comitê naci- onal e facultativa a de comitês nos Estados e no Distrito Federal. § 3.° Os comitês financeiros serão registrados, até cinco dias após sua constituição, nos órgãos da Justiça Eleitoral aos quais compete fazer o registro dos candidatos. 1. As campanhas eleitorais são financiadas por verbas públicas e pelas pro-

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venientes da iniciativa privada. Desde a CPI do chamado "Caso PC", quando vie- ram a público as práticas subterrâneas dos financiamentos das campanhas eleito- rais, sabidamente movimentadas por recursos advindos de empreiteiras e de em- presários de outros segmentos de nossa economia, deixou-se de lado a falaciosa • • , :ts'.neá• .• .rl,P üLP .f',:• :L:',•m.Pnt,^ r• Lh• .L• s • Lo.° rnarr• .rl.n.• P s.a• idar• .S • r• nas • xi.• ton- te nos textos legais, mas sem qualquer respeito às práticas políticas. A prática de cooptação de verbas e apoio financeiro, chamada por Paulo César Farias de hipó- crita, era usada por todos os partidos políticos, indiscriminadamente, levando in- clusive ao enriquecimento sem causa de alguns, através das denominadas "sobras de campanha". Com a CPI do Orçamento, soube-se que os que não enricaram através de sucessivos êxitos nos sorteios das loterias federais, mercê da graça de santos protetores, o fizeram por meio desse expediente, o qual, se não era permiti- do, não possuía qualquer tipo de vedação ou sanção legal. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 453 2. Admitida a diversidade de fontes financiadoras de campanhas eleitorais,

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necessário que os partidos constituam comitês financeiros, com a finalidade de arrecadar recursos e aplicá-los nas campanhas eleitorais. Os comitês partidários devem ser constituídos até dez dias úteis após a escolha dos candidatos em conven- ção, para cada uma das eleições para as quais o partido apresente candidato pró- prio, nada obstante seja-lhe facultado reunir, em um único comitê, a administração financeira das eleições de uma dada circunscrição. Nas eleições presidenciais, a circunscrição é única, nacional, motivo pelo qual há a obrigatoriedade de criação de comitê nacional, sendo facultativa a cria- ção de subcomitês nacionais nos Estados e no Distrito Federal. Nas eleições gerais ou estaduais (Governador, Vice, Senador, Deputados Fe- deral e Estadual ou Distrital), a circunscrição é o Estado, ou Território ou Distrito Federal; nas eleições municipais, a circunscrição é o território municipal, que pode ter mais de uma zona. Assim, para as eleições gerais, os partidos deverão constituir comitês quando possuírem candidatos em disputa. Se não se coligaram, ou se se coligaram e lançaram candidatos a Governador (ou a Prefeito, na eleição munici- pal), os partidos devem criar comitês para essas eleições majoritárias, além de co- mitê para as eleições proporcionais. Sem embargo, poderão reunir, num único comi- tê, a administração das eleições majoritária e proporcional. Eleição presidencial--• comitê financeiro nacional (possibilidade de subcomitês) j comitê da eleição majoritária Eleição estadual e municipal• f comitê da eleição proporcional; ou comitê único (majoritário e proporcional) 3. Após sua constituição, devem os comitês financeiros ser registrados, até cinco dias, nos órgãos da Justiça Eleitoral aos quais compete fazer o registro dos candidatos. Dessarte, o comitê nacional, no Tribunal Superior Eleitoral; os comitês estaduais, nos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais; os comitês municipais, nos respectivos Juízos Eleitorais. Art. 20. O candidato a cargo eletivo fará, diretamente ou por intermé- dio de pessoa por ele designada, a administração financeira de sua campanha, usando recursos repassados pelo comitê, inclusive os relativos à cota do Fundo Partidário, recursos próprios ou doações de pessoas físicas ou jurídicas, na forma estabelecida nesta Lei. 4S4 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMENTADA 1. Os candidatos administram suas campanhas, inclusive quanto ao aspecto financeiro. Assim, podem designar pessoas com gabarito técnico para administrar os recursos angariados, de maneira a ficarem mais livres para os atos de campanha e de conquista de votos. Os tesoureiros ou coordenadores de campanha devem ser pessoas de estrita confiança, uma vez que a responsabilidade por qualquer irregu- laridade é objetiva e unipessoal, repousando no próprio candidato. 2. Os recursos financeiros aportados na campanha do candidato podem ser advindos do comitê partidário, relativos à cota do fundo partidário, bem como os provenientes de doações de pessoas físicas ou jurídicas, ou mesmo recursos próprios do candidato, que investe seu patrimônio na campanha. Art. 21. O candidato é o único responsável pela veracidade das in- formações financeiras e contábeis de sua campanha, devendo as- sinar a respectiva prestação de contas sozinho ou, se for o caso, em conjunto com a pessoa que tenha designado para essa tarefa. l. A responsabilidade eleitoral pela prestação de contas dos gastos de campa- nha é unipessoal do candidato, que responde objetivamente. Aqui não se desce à culpa ou ao dolo, como sói acontecer na esfera penal, mas apenas ao dado objetivo da veracidade das informações contábeis e financeiras. Havendo irregularidade grave, demonstrando uso indevido de verbas, poderá restar configurado abuso de poder cconômico, implicando multa para o partido e decretação de inelegibilidade cominada para o candidato infrator. Não é qualquer irregularidade que traz implicações negativas para o candi-

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dato. Erros materiais e formais, os quais não induzam ganhos ou gastos ilegais, não ensejam qualquer vergasta. Apenas aqueles que efetivamente indiquem a obtenção ilícita de ganhos, com as conseqüências do art. 25 desta lei, devem ser exalçados pela fiscalização. 2. No Direito Penal brasileiro, a teoria finalista da ação foi adotada pela refor- ma penal de 1984, não se admitindo responsabilidade objetiva para qualificar uma conduta como penalmente relevante. Se houve informação falsa à Justiça Eleitoral, respondem os que concorreram para a sua consecução, não podendo terceiro ser apenado por ato alheio. É bem verdade que a Lei Eleitoral exige que das informa- ções conste obrigatoriamente a assinatura do candidato, que poderá ser acompa- nhada da assinatura do tesoureiro da campanha. Se tal obrigatoriedade tem valia para efeitos de cominação de inelegibilidade, mercê do art. 1.°, inc. I, alínea d e h, da LC 64/90, o mesmo não se diga da repercussão penal do dispositivo, vez que não se pode presumir o dolo ou culpa, ao menos para a ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 4SS

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teoria finalista da ação. Se o dolo e a culpa fazem parte dv tipo, a mancheias não se poderá admitir qualquer ilícito como produto de uma presunção legal, como a presun- ção de violência do art. 224 do CP que pode encher o crime de estupro se a relação sexual ocorrer com menor de 14 anos de idade. Os Tribunais, nesse tema, ainda têm muito por andar, embora o STF já tenha dado sinais no sentido aqui indicado. 3. Em que consiste a respvnsabilidade financeira e contábil do candidato, para efeito de sanções eleitorais? A Lei Eleitoral exige que as informações sobre as despesas e receitas de campanha sejam assinadas pelo candidato, ligando-o aos atos do técnico por ele designado para esse fim. Depois, a lei fixa dois importantes deveres para o candi- dato: (a) a obrigação de ter uma conta bancária aberta em seu nome, através da qual movimentará seus fundos de campanha, e (b) a obrigação de apenas receber verbas de fontes admitidas e de apenas fazer gastos para fins tidos como legítimos. Rece- ber dinheiro, ou ajuda apreciável pecuniariamente, de entidade ou governo estran- geiro, por exemplo, configura obtenção ilícita de ajuda financeira; outrossim, gas- tar a verba auferida em corrupção, fraude ou abuso de poder econômico importa em cominação de inelegibilidade, com conseqüências para a capacidade eleitoral passiva do nacional. Art. 22. É obrigatório para o partido e para os candidatos abrir conta bancária específica para registrar todo o movimento financeiro da campanha. § 1.° Os bancos são obrigados a acatar o pedido de abertura de conta de qualquer partido ou candidato escolhido em convenção, destinada à movimentação financeíra da campanha, sendo-Ihes ve- dado condicioná-la a depósito mínimo. § 2.° O disposto neste artigo não se aplica aos casos de candidatura para Prefeito e Vereador em Municípios onde não haja agência ban- cária, bem como aos casos de candidatura para Vereador em Muni- cípios com menos de vinte mil eleitores. 1. A abertura de conta bancária, para a obtenção e movimentação dos fundos de campanha, é obrigatória para os partidos e para os candidatos. Todavia, entende- mos que tal obrigatoriedade, para os candidatos a cargo majoritário, deve ser toma- da de modo relativo, pvis a sua prestação de contas deverá ser feita por meio do comitê financeiro do partido (art. 28, § 1.°). Dessarte, se o candidato à eleição majo- ritária deixar toda sua movimentação financeira a cargo de sua agremiação política, que terá a incumbência de receber os fundos, despiciendo será abrir conta bancária em seu nome. O candidato majoritário, nesse diapasão, não teria qualquer envolvi- 4S6 TERCEIRA PARTE - LEI ELEITORAL COMEIVTADA mento com a captação de recursos, tampouco com a sua movimentação, ficando 0 partido com esse encargo. Em tal hipótese, entrementes, não ficará ele isento de também assinar a prestação de contas feita à Justiça Eleitoral, em homenagem ao art. 21 da lei. É necessário que nos prendamos à ratio legis, de maneira a não inflarmos o real sentido da norma sob comento. Quando a lei prescreve a obrigatoriedade de abertura de conta corrente, em instituição bancária, também para os candidatos, o faz ante à evidência de que não poucos desejam pessoalmente cuidar de seus recur- sos e despesas. Sem embargo, poderá ocorrer, e não será rara tal possibilidade, que o candidato deseje ficar alheio ao manejo dos recursos financeiros, à sua captação, e aos gastos, deixando que sua assessoria técnica cuide desse aspecto da campa- nha, através do comitê partidário criado para esse fim. Qual a razão de duplicarem as contas bancárias, se o comitê partidário, cuja obrigação de prestar contas foi de antemão fixada, poderá administrar os fundos de campanha, sem embargo de remanescer íntegra a responsabilidade objetiva do candidato? É preciso salientar, por oportuno, que os candidatos às eleições proporclo- nais restam obrigados a abrir contas bancárias, tanto porque podem, eles próprios,

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prestar contas diretamente à Justiça Eleitoral como também pela solene e óbvia razão de que os comitês financeiros dos partidos estarão mais ocupados com a campanha majoritária. 2. Os bancos, como instituições financeiras reguladas pelo Poder Público, restam obrigados a abrir contas correntes em nome de qualquer partido ou candida- to escolhido em convenção, destinadas à movimentação financeira da campanha. Desnecessário, para tanto, qualquer depósito prévio de qualquer quantia por parte de candidatos e partidos. Ponto importante, nunca realçado pela doutrina, diz respeito à admissibilidade i de movimentação de recursos de campanha outorgada aos pré-candidatos, ou seja, àqueles que foram indicados em convenção mais ainda não foram registrados pela i Justiça Eleitoral. ;' Não sendo candidatos, pois não obtiveram ainda o registro de sua candidatu-

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ra, aos pré-candidatos foi permitida a abertura de conta bancária em seu nome e o recebimento de doações para gastos de campanha. Supondo que não obtenham o registro, não lhes nasce a elegibilidade, ficando impossibilitados de praticar atos de campanha. Ora, não sendo candidatos, no sentido rigoroso do termo, devem pres- tar contas dos recursos e gastos efetuados? Outrossim, o que lhes restar de recursos deve ser entregue aos partidos, como sobras de campanha? Todos os que, sendo indicados em convenção partidária, receberem fundos para campanha, têm o dever de (a) prestar contas e (b) estornar as sobras em favor do seu partido político, sob as penas da lei (art. 31). Caberá à Justiça Eleitoral, máxime ao Ministério Público, a fiscalização do exato cumprimento da nor• na sob análise, que apanha também os pré-candidatos que não obtiveram o registro da candidatura. ANOTAÇÕES À LEI ELEITORAL 9.504/97 457 3. O § 2.° tem valia apenas para as eleições municipais, motivo pelo qual deixo de analisá-lo. Art. 23. A partir do registro dos comitês financeiros, pessoas físicas poderão fazer doações em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido o disposto nesta Lei. § 1.° As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas: I - no caso de pessoa física, a dez por cento dos rendimentos bru- tos auferidos no ano anterior à eleição; II - no caso em que o candidato utilize recursos próprios, ao valor máximo de gastos estabelecido pelo seu partido, na forma desta lei. § 2.° Toda doação a candidato específico ou a partido deverá fazer- se mediante recibo, em formulário impresso, segundo modelo cons- tante do Anexo. § 3.° A doação de quantia acima dos limites fixados neste artigo sujeita o infrator ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso. § 4.° Doações feitas diretamente nas contas de partidos e candidatos deverão ser efetuadas por meio de cheques cruzados e nominais. 1. Os comitês financeiros devem ser constituídos em até dez dias úteis após a convenção do partido que escolher os candidatos, sendo providenciado o seu regis- tro em até cinco dias após a sua constituição. Entre a data da convenção e a data do registro dos comitês, os candidatos e partidos já poderão dispor de suas contas bancárias, eis que podem elas ser abertas logo após a escolha dos candidatos. O art. 23, caput, todavia, fixa como dies a quo do recebimento de doações em dinheiro, ou nele estimáveis, para as campanhas eleitorais, apenas o dia em que for registrado o comitê financeiro. O preciosismo da norma, e sua incongruência, resulta do detalhamento inócuo feito pelo legislador, criando uma distinção tosca e sem relevo. A regra real, a ser seguida, é outra: feitas as indicações em convenção, e abertas as contas bancárias para esse fim, os candidatos e partidos políticos já podem receber doações para a campanha eleitoral já iniciada, as quais deverão ser aplicadas nos limites legais. 2. Não se sabe se por má-fé ou por desídia, ou mesmo por cinismo, o certo é que o § 1.° deste dispositivo fixou limites para as doações e contribuições de pessoa física e do próprio candidato, deixando livres de peias as pessoas jurídicas. Na Lei 9.100/95, o § 1.° do art. 36, em seu inc. III, limitava as doações de pessoas jurídicas a 1 % da receita operacional bruta do ano anterior à eleição, impedindo assim com- LEI Nº 9.096, DE 19 DE SETEMBRO DE 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Disposições Preliminares Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Art. 2º É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana. Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento. Art. 4º Os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres. Art. 5º A ação do partido tem caráter nacional e é exercida de acordo com seu estatuto e programa, sem subordinação a entidades ou governos estrangeiros. Art. 6º É vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros. Art. 7º O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral. § 1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove o apoiamento de eleitores correspondente a, pelo menos, meio por cento dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de um décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um deles. § 2º Só o partido que tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral pode participar do processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão, nos termos fixados nesta Lei. § 3º Somente o registro do estatuto do partido no Tribunal Superior Eleitoral assegura a exclusividade da sua denominação, sigla e símbolos, vedada a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a erro ou confusão. TÍTULO II Da Organização e Funcionamento dos Partidos Políticos CAPÍTULO I Da Criação e do Registro dos Partidos Políticos Art. 8º O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será acompanhado de: I - cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;

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II - exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto; III - relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência. § 1º O requerimento indicará o nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido na Capital Federal. § 2º Satisfeitas as exigências deste artigo, o Oficial do Registro Civil efetua o registro no livro correspondente, expedindo certidão de inteiro teor. § 3º Adquirida a personalidade jurídica na forma deste artigo, o partido promove a obtenção do apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o § 1º do art. 7º e realiza os atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto. Art. 9º Feita a constituição e designação, referidas no § 3º do artigo anterior, os dirigentes nacionais promoverão o registro do estatuto do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral, através de requerimento acompanhado de: I - exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do estatuto partidários, inscritos no Registro Civil; II - certidão do registro civil da pessoa jurídica, a que se refere o § 2º do artigo anterior; III - certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o partido obtido o apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o § 1º do art. 7º. § 1º A prova do apoiamento mínimo de eleitores é feita por meio de suas assinaturas, com menção ao número do respectivo título eleitoral, em listas organizadas para cada Zona, sendo a veracidade das respectivas assinaturas e o número dos títulos atestados pelo Escrivão Eleitoral. § 2º O Escrivão Eleitoral dá imediato recibo de cada lista que lhe for apresentada e, no prazo de quinze dias, lavra o seu atestado, devolvendo-a ao interessado. § 3º Protocolado o pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral, o processo respectivo, no prazo de quarenta e oito horas, é distribuído a um Relator, que, ouvida a Procuradoria-Geral, em dez dias, determina, em igual prazo, diligências para sanar eventuais falhas do processo. § 4º Se não houver diligências a determinar, ou após o seu atendimento, o Tribunal Superior Eleitoral registra o estatuto do partido, no prazo de trinta dias. Art. 10. As alterações programáticas ou estatutárias, após registradas no Ofício Civil competente, devem ser encaminhadas, para o mesmo fim, ao Tribunal Superior Eleitoral. Parágrafo único. O partido comunica à Justiça Eleitoral a constituição de seus órgãos de direção e os nomes dos respectivos integrantes, bem como as alterações que forem promovidas, para anotação: I - no Tribunal Superior Eleitoral, dos integrantes dos órgãos de âmbito nacional;

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II - nos Tribunais Regionais Eleitorais, dos integrantes dos órgãos de âmbito estadual, municipal ou zonal. Obs.: Parágrafo único acrescentado pela Lei 9.259/96. Dispõe o art. 3º da mesma lei: "O disposto no parágrafo único do art. 10 da Lei nº. 9.096, de 19 de setembro de 1995, na redação dada por esta Lei, aplica-se a todas as alterações efetivadas a qualquer tempo, ainda que submetidas à Justiça Eleitoral na vigência da Lei nº. 5.682, de 21 de julho de 1971, sem que tenha sido prolatada decisão final". Art. 11. O partido com registro no Tribunal Superior Eleitoral pode credenciar, respectivamente: I - delegados perante o Juiz Eleitoral; II - delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral; III - delegados perante o Tribunal Superior Eleitoral. Parágrafo único. Os delegados credenciados pelo órgão de direção nacional representam o partido perante quaisquer Tribunais ou Juízes Eleitorais; os credenciados pelos órgãos estaduais, somente perante o Tribunal Regional Eleitoral e os Juízes Eleitorais do respectivo Estado, do Distrito Federal ou Território Federal; e os credenciados pelo órgão municipal, perante o Juiz Eleitoral da respectiva jurisdição. CAPÍTULO II Do Funcionamento Parlamentar Art. 12. O partido político funciona, nas Casas Legislativas, por intermédio de uma bancada, que deve constituir suas lideranças de acordo com o estatuto do partido, as disposições regimentais das respectivas Casas e as normas desta Lei. Art. 13. Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas para as quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total de cada um deles. CAPÍTULO III Do Programa e do Estatuto Art. 14. Observadas as disposições constitucionais e as desta Lei, o partido é livre para fixar, em seu programa, seus objetivos políticos e para estabelecer, em seu estatuto, a sua estrutura interna, organização e funcionamento. Art. 15. O Estatuto do partido deve conter, entre outras, normas sobre: I - nome, denominação abreviada e o estabelecimento da sede na Capital Federal; II - filiação e desligamento de seus membros; III - direitos e deveres dos filiados; IV - modo como se organiza e administra, com a definição de sua estrutura geral e identificação, composição e competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, estadual e nacional, duração dos mandatos e processo de eleição dos seus membros;

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V - fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação das penalidades, assegurado amplo direito de defesa; VI - condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas; VII - finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, normas que os habilitem a apurar as quantias que os seus candidatos possam despender com a própria eleição, que fixem os limites das contribuições dos filiados e definam as diversas fontes de receita do partido, além daquelas previstas nesta Lei; VIII - critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível municipal, estadual e nacional que compõem o partido; IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto. CAPÍTULO IV Da Filiação Partidária Art. 16. Só pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos. Art. 17. Considera-se deferida, para todos os efeitos, a filiação partidária, com o atendimento das regras estatutárias do partido. Parágrafo único. Deferida a filiação do eleitor, será entregue comprovante ao interessado, no modelo adotado pelo partido. Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais. Art. 19. Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ano, o partido, por seus órgãos de direção municipais, regionais ou nacional, deverá remeter, aos Juízes Eleitorais, para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará o número dos títulos eleitorais e das seções em que são inscritos. § 1º Se a relação não é remetida nos prazos mencionados neste artigo, permanece inalterada a filiação de todos os eleitores, constante da relação remetida anteriormente. § 2º Os prejudicados por desídia ou má-fé poderão requerer, diretamente à Justiça Eleitoral, a observância do que prescreve o caput deste artigo. Obs.: Art. com redação dada pelo art. 103, da lei 9.504/97. A redação anterior era a seguinte: Art. 19. Na primeira semana dos meses de maio e dezembro de cada ano, o partido envia, aos Juízes Eleitorais, para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará o número dos títulos eleitorais e das seções em que são inscritos. Art. 20. É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária superiores aos previstos nesta Lei, com vistas a candidatura

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a cargos eletivos. Parágrafo único. Os prazos de filiação partidária, fixados no estatuto do partido, com vistas a candidatura a cargos eletivos, não podem ser alterados no ano da eleição. Art. 21. Para desligar-se do partido, o filiado faz comunicação escrita ao órgão de direção municipal e ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito. Parágrafo único. Decorridos dois dias da data da entrega da comunicação, o vínculo torna-se extinto, para todos os efeitos. Art. 22. O cancelamento imediato da filiação partidária verifica-se nos casos de: I - morte; II - perda dos direitos políticos; III - expulsão; IV - outras formas previstas no estatuto, com comunicação obrigatória ao atingido no prazo de quarenta e oito horas da decisão. Parágrafo único. Quem se filia a outro partido deve fazer comunicação ao partido e ao juiz de sua respectiva Zona Eleitoral, para cancelar sua filiação; se não o fizer no dia imediato ao da nova filiação, fica configurada dupla filiação, sendo ambas consideradas nulas para todos os efeitos. CAPÍTULO V Da Fidelidade e da Disciplina Partidárias Art. 23. A responsabilidade por violação dos deveres partidários deve ser apurada e punida pelo competente órgão, na conformidade do que disponha o estatuto de cada partido. § 1º Filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição por conduta que não esteja tipificada no estatuto do partido político. § 2º Ao acusado é assegurado amplo direito de defesa. Art. 24. Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção partidários, na forma do estatuto. Art. 25. O estatuto do partido poderá estabelecer, além das medidas disciplinares básicas de caráter partidário, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão do direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que exerça em decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa, ao parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos partidários. Art. 26. Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em virtude da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito.

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CAPÍTULO VI Da Fusão, Incorporação e Extinção dos Partidos Políticos Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral, o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro. Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado: I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira; II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros; III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral; IV - que mantém organização paramilitar. § 1º A decisão judicial a que se refere este artigo deve ser precedida de processo regular, que assegure ampla defesa. § 2º O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral. § 3º O partido político, em nível nacional, não sofrerá a suspensão das cotas do Fundo Partidário, nem qualquer outra punição como conseqüência de atos praticados por órgãos regionais ou municipais. Obs.: Parágrafo acrescentado pela lei 9.693/98. Art. 29. Por decisão de seus órgãos nacionais de deliberação, dois ou mais partidos poderão fundir-se num só ou incorporar-se um ao outro. § 1º No primeiro caso, observar-se-ão as seguintes normas: I - os órgãos de direção dos partidos elaborarão projetos comuns de estatuto e programa; II - os órgãos nacionais de deliberação dos partidos em processo de fusão votarão em reunião conjunta, por maioria absoluta, os projetos, e elegerão o órgão de direção nacional que promoverá o registro do novo partido. § 2º No caso de incorporação, observada a lei civil, caberá ao partido incorporando deliberar por maioria absoluta de votos, em seu órgão nacional de deliberação, sobre a adoção do estatuto e do programa de outra agremiação. § 3º Adotados o estatuto e o programa do partido incorporador, realizar-se-á, em reunião conjunta dos órgãos nacionais de deliberação, a eleição do novo órgão de direção nacional. § 4º Na hipótese de fusão, a existência legal do novo partido tem início com o registro, no Ofício Civil competente da Capital Federal, do estatuto e do programa, cujo requerimento deve ser acompanhado das atas das decisões dos

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órgãos competentes. § 5º No caso de incorporação, o instrumento respectivo deve ser levado ao Ofício Civil competente, que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado a outro. § 6º Havendo fusão ou incorporação de partidos, os votos obtidos por eles, na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, devem ser somados para efeito do funcionamento parlamentar, nos termos do art. 13, da distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão. § 7º O novo estatuto ou instrumento de incorporação deve ser levado a registro e averbado, respectivamente, no Ofício Civil e no Tribunal Superior Eleitoral. TÍTULO III Das Finanças e Contabilidade dos Partidos CAPÍTULO I Da Prestação de Contas Art. 30. O partido político, através de seus órgãos nacionais, regionais e municipais, deve manter escrituração contábil, de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e a destinação de suas despesas. Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de: I - entidade ou governo estrangeiros; II - autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações referidas no art. 38; III - autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais; IV - entidade de classe ou sindical. Art. 32. O partido está obrigado a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço contábil do exercício findo, até o dia 30 de abril do ano seguinte. § 1º O balanço contábil do órgão nacional será enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, o dos órgãos estaduais aos Tribunais Regionais Eleitorais e o dos órgãos municipais aos Juízes Eleitorais. § 2º A Justiça Eleitoral determina, imediatamente, a publicação dos balanços na imprensa oficial, e, onde ela não exista, procede à afixação dos mesmos no Cartório Eleitoral. § 3º No ano em que ocorrem eleições, o partido deve enviar balancetes mensais à Justiça Eleitoral, durante os quatro meses anteriores e os dois meses posteriores ao pleito. Art. 33. Os balanços devem conter, entre outros, os seguintes itens: I - discriminação dos valores e destinação dos recursos oriundos do fundo partidário;

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II - origem e valor das contribuições e doações; III - despesas de caráter eleitoral, com a especificação e comprovação dos gastos com programas no rádio e televisão, comitês, propaganda, publicações, comícios, e demais atividades de campanha; IV - discriminação detalhada das receitas e despesas. Art. 34. A Justiça Eleitoral exerce a fiscalização sobre a escrituração contábil e a prestação de contas do partido e das despesas de campanha eleitoral, devendo atestar se elas refletem adequadamente a real movimentação financeira, os dispêndios e recursos aplicados nas campanhas eleitorais, exigindo a observação das seguintes normas: I - obrigatoriedade de constituição de comitês e designação de dirigentes partidários específicos, para movimentar recursos financeiros nas campanhas eleitorais; II - caracterização da responsabilidade dos dirigentes do partido e comitês, inclusive do tesoureiro, que responderão, civil e criminalmente, por quaisquer irregularidades; III - escrituração contábil, com documentação que comprove a entrada e saída de dinheiro ou de bens recebidos e aplicados; IV - obrigatoriedade de ser conservada pelo partido a documentação comprobatória de suas prestações de contas, por prazo não inferior a cinco anos; V - obrigatoriedade de prestação de contas, pelo partido político, seus comitês e candidatos, no encerramento da campanha eleitoral, com o recolhimento imediato à tesouraria do partido dos saldos financeiros eventualmente apurados. Parágrafo único. Para efetuar os exames necessários ao atendimento do disposto no caput , a Justiça Eleitoral pode requisitar técnicos do Tribunal de Contas da União ou dos Estados, pelo tempo que for necessário. Art. 35. O Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais, à vista de denúncia fundamentada de filiado ou delegado de partido, de representação do Procurador-Geral ou Regional ou de iniciativa do Corregedor, determinarão o exame da escrituração do partido e a apuração de qualquer ato que viole as prescrições legais ou estatutárias a que, em matéria financeira, aquele ou seus filiados estejam sujeitos, podendo, inclusive, determinar a quebra de sigilo bancário das contas dos partidos para o esclarecimento ou apuração de fatos vinculados à denúncia. Parágrafo único. O partido pode examinar, na Justiça Eleitoral, as prestações de contas mensais ou anuais dos demais partidos, quinze dias após a publicação dos balanços financeiros, aberto o prazo de cinco dias para impugná-las, podendo, ainda, relatar fatos, indicar provas e pedir abertura de investigação para apurar qualquer ato que viole as prescrições legais ou estatutárias a que, em matéria financeira, os partidos e seus filiados estejam sujeitos. Art. 36. Constatada a violação de normas legais ou estatutárias, ficará o partido sujeito às seguintes sanções:

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I - no caso de recursos de origem não mencionada ou esclarecida, fica suspenso o recebimento das quotas do fundo partidário até que o esclarecimento seja aceito pela Justiça Eleitoral; II - no caso de recebimento de recursos mencionados no art. 31, fica suspensa a participação no fundo partidário por um ano; III - no caso de recebimento de doações cujo valor ultrapasse os limites previstos no art. 39, § 4º, fica suspensa por dois anos a participação no fundo partidário e será aplicada ao partido multa correspondente ao valor que exceder aos limites fixados. Art. 37. A falta de prestação de contas ou sua desaprovação total ou parcial implica a suspensão de novas cotas de Fundo Partidário e sujeita os responsáveis às penas da lei. § 1º. A Justiça Eleitoral pode determinar diligências necessárias à complementação de informações ou ao saneamento de irregularidades encontradas nas contas dos órgãos de direção partidária ou de candidatos. § 2º. A sanção a que se refere o caput será aplicada exclusivamente à esfera partidária responsável pela irregularidade. Obs.: Artigo com redação dada pela lei 9.693/98. A redação original era a seguinte: "Art. 37. A falta de prestação de contas ou sua desaprovação total ou parcial, implica a suspensão de novas quotas do fundo partidário e sujeita os responsáveis às penas da lei, cabíveis na espécie, aplicado também o disposto no art. 28". A mesma lei acrescentou o § 2º e renumerou o parágrafo único para § 1º. CAPÍTULO II Do Fundo Partidário Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário) é constituído por: I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas; II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei, em caráter permanente ou eventual; III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário; IV - dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, cada ano, ao número de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto de 1995. § 1º (VETADO) § 2º (VETADO) Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações de pessoas físicas e jurídicas para constituição de seus fundos. § 1º As doações de que trata este artigo podem ser feitas diretamente aos órgãos de direção nacional, estadual e municipal, que remeterão, à Justiça Eleitoral e

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aos órgãos hierarquicamente superiores do partido, o demonstrativo de seu recebimento e respectiva destinação, juntamente com o balanço contábil. § 2º Outras doações, quaisquer que sejam, devem ser lançadas na contabilidade do partido, definidos seus valores em moeda corrente. § 3º As doações em recursos financeiros devem ser, obrigatoriamente, efetuadas por cheque cruzado em nome do partido político ou por depósito bancário diretamente na conta do partido político. § 4º Revogado pelo art. 107 da lei 9.504/97. Obs.: O parágrafo 4º. como seus incisos, foi revogado pelo art. 107 da lei 9.504/97. A redação era a seguinte: "§ 4º O valor das doações feitas a partido político, por pessoa jurídica, limita-se à importância máxima calculada sobre o total das dotações previstas no inciso IV do artigo anterior, corrigida até o mês em que se efetuar a doação, obedecidos os seguintes percentuais: I - para órgãos de direção nacional: até dois décimos por cento; II - para órgãos de direção regional e municipal: até dois centésimos por cento". Art. 40. A previsão orçamentária de recursos para o Fundo Partidário deve ser consignada, no Anexo do Poder Judiciário, ao Tribunal Superior Eleitoral. § 1º O Tesouro Nacional depositará, mensalmente, os duodécimos no Banco do Brasil, em conta especial à disposição do Tribunal Superior Eleitoral. § 2º Na mesma conta especial serão depositadas as quantias arrecadadas pela aplicação de multas e outras penalidades pecuniárias, previstas na Legislação Eleitoral. Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depósito a que se refere o § 1º do artigo anterior, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionais dos partidos, obedecendo aos seguintes critérios: I - um por cento do total do Fundo Partidário será destacado para entrega, em partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral; II - noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário serão distribuídos aos partidos que tenham preenchido as condições do art. 13, na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. Art. 42. Em caso de cancelamento ou caducidade do órgão de direção nacional do partido, reverterá ao Fundo Partidário a quota que a este caberia. Art. 43. Os depósitos e movimentações dos recursos oriundos do Fundo Partidário serão feitos em estabelecimentos bancários controlados pelo Poder Público Federal, pelo Poder Público Estadual ou, inexistindo estes, no banco escolhido pelo órgão diretivo do partido. Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: I - na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pagamento de pessoal, a qualquer título, este último até o limite máximo de vinte por cento do total recebido;

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II - na propaganda doutrinária e política; III - no alistamento e campanhas eleitorais; IV - na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido. § 1º Na prestação de contas dos órgãos de direção partidária de qualquer nível devem ser discriminadas as despesas realizadas com recursos do Fundo Partidário, de modo a permitir o controle da Justiça Eleitoral sobre o cumprimento do disposto nos incisos I e IV deste artigo. § 2º A Justiça Eleitoral pode, a qualquer tempo, investigar sobre a aplicação de recursos oriundos do Fundo Partidário. § 3º Os recursos de que trata este artigo não estão sujeitos ao regime da lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Obs.: § 3º acrescentado pelo art. 104, da lei 9.504/97. TÍTULO IV Do Acesso Gratuito ao Rádio e à Televisão Art. 45. A propaganda partidária gratuita, gravada ou ao vivo, efetuada mediante transmissão por rádio e televisão será realizada entre as dezenove horas e trinta minutos e as vinte e duas horas para, com exclusividade: I - difundir os programas partidários; II - transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido; III - divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários. § 1º Fica vedada, nos programas de que trata este Título: I - a participação de pessoa filiada a partido que não o responsável pelo programa; II - a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos; III - a utilização de imagens ou cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação. § 2º O Tribunal Superior Eleitoral, julgando procedente representação de partido, cassará o direito de transmissão a que faria jus, no semestre seguinte, do partido que contrariar o disposto neste artigo. § 3º A propaganda partidária, no rádio e na televisão, fica restrita aos horários gratuitos disciplinados nesta Lei, com proibição de propaganda paga.

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Art. 46. As emissoras de rádio e de televisão ficam obrigadas a realizar, para os partidos políticos, na forma desta Lei, transmissões gratuitas em âmbito nacional e estadual, por iniciativa e sob a responsabilidade dos respectivos órgãos de direção. § 1º As transmissões serão em bloco, em cadeia nacional ou estadual, e em inserções de trinta segundos e um minuto, no intervalo da programação normal das emissoras. § 2º A formação das cadeias, tanto nacional quanto estaduais, será autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que fará a necessária requisição dos horários às emissoras de rádio e de televisão, mediante requerimento dos órgãos nacionais dos partidos, com antecedência mínima de quinze dias. § 3º No requerimento a que se refere o parágrafo anterior, o órgão partidário solicitará conjuntamente a fixação das datas de formação das cadeias, nacional e estaduais. § 4º O Tribunal Superior Eleitoral, independentemente do âmbito nacional ou estadual da transmissão, havendo coincidência de data, dará prioridade ao partido que apresentou o requerimento em primeiro lugar. § 5º As fitas magnéticas com as gravações dos programas em bloco ou em inserções serão entregues às emissoras com a antecedência mínima de doze horas da transmissão. § 6º As inserções a serem feitas na programação das emissoras serão determinadas: I - pelo Tribunal Superior Eleitoral, quando solicitadas por órgão de direção nacional de partido; II - pelo Tribunal Regional Eleitoral, quando solicitadas por órgão de direção estadual de partido. § 7º Em cada rede somente serão autorizadas até dez inserções de trinta segundos ou cinco de um minuto por dia. Art. 47. Para agilizar os procedimentos, condições especiais podem ser pactuadas diretamente entre as emissoras de rádio e de televisão e os órgãos de direção do partido, obedecidos os limites estabelecidos nesta Lei, dando-se conhecimento ao Tribunal Eleitoral da respectiva jurisdição. Art. 48. O partido registrado no Tribunal Superior Eleitoral que não atenda ao disposto no art. 13 tem assegurada a realização de um programa em cadeia nacional, em cada semestre, com a duração de dois minutos. Art. 49. O partido que atenda ao disposto no art. 13 tem assegurado: I - a realização de um programa, em cadeia nacional e de um programa, em cadeia estadual em cada semestre, com a duração de vinte minutos cada; II - a utilização do tempo total de quarenta minutos, por semestre, para inserções de trinta segundos ou um minuto, nas redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais.

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Obs.: Dispõe o art. 4º da lei 9.559/96: "O disposto no art. 49 da lei nº. 9.096, de 19 de setembro de 1995, tem eficácia imediata, aplicando-se aos partidos políticos que não atenderem aos seus requisitos as disposições dos arts. 56, incisos III e IV, e 57, inciso III, da mesma lei". TÍTULO V Disposições Gerais Art. 50. (VETADO) Art. 51. É assegurado ao partido político com estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral o direito à utilização gratuita de escolas públicas ou Casas Legislativas para a realização de suas reuniões ou convenções, responsabilizando-se pelos danos porventura causados com a realização do evento. Art. 52. (VETADO) Parágrafo único. As emissoras de rádio e televisão terão direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta Lei. Art. 53. A fundação ou instituto de direito privado, criado por partido político, destinado ao estudo e pesquisa, à doutrinação e à educação política, rege-se pelas normas da lei civil e tem autonomia para contratar com instituições públicas e privadas, prestar serviços e manter estabelecimentos de acordo com suas finalidades, podendo, ainda, manter intercâmbio com instituições não nacionais. Art. 54. Para fins de aplicação das normas estabelecidas nesta Lei, consideram-se como equivalentes a Estados e Municípios o Distrito Federal e os Territórios e respectivas divisões político-administrativas. TÍTULO VI Disposições Finais e Transitórias Art. 55. O partido político que, nos termos da legislação anterior, tenha registro definitivo, fica dispensado da condição estabelecida no § 1º do art. 7º, e deve providenciar a adaptação de seu estatuto às disposições desta Lei, no prazo de seis meses da data de sua publicação. § 1º A alteração estatutária com a finalidade prevista neste artigo pode ser realizada pelo partido político em reunião do órgão nacional máximo, especialmente convocado na forma dos estatutos, com antecedência mínima de trinta dias e ampla divulgação, entre seus órgãos e filiados, do projeto do estatuto. § 2º Aplicam-se as disposições deste artigo ao partido que, na data da publicação desta Lei: I - tenha completado seu processo de organização nos termos da legislação anterior e requerido o registro definitivo; II - tenha seu pedido de registro sub judice , desde que sobrevenha decisão favorável do órgão judiciário competente; III - tenha requerido registro de seus estatutos junto ao Tribunal Superior Eleitoral, após o devido registro como entidade civil.

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Art. 56. No período entre a data da publicação desta Lei e o início da próxima legislatura, será observado o seguinte: I - fica assegurado o direito ao funcionamento parlamentar na Câmara dos Deputados ao partido que tenha elegido e mantenha filiados, no mínimo, três representantes de diferentes Estados; II - a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados disporá sobre o funcionamento da representação partidária conferida, nesse período, ao partido que possua representação eleita ou filiada em número inferior ao disposto no inciso anterior; III - ao partido que preencher as condições do inciso I é assegurada a realização anual de um programa, em cadeia nacional, com a duração de dez minutos; IV - ao partido com representante na Câmara dos Deputados desde o início da Sessão Legislativa de 1995, fica assegurada a realização de um programa em cadeia nacional em cada semestre, com a duração de cinco minutos, não cumulativos com o tempo previsto no inciso III; V - vinte e nove por cento do Fundo Partidário será destacado para distribuição a todos os partidos com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, na proporção da representação parlamentar filiada no início da Sessão Legislativa de 1995. Art. 57. No período entre o início da próxima Legislatura e a proclamação dos resultados da segunda eleição geral subseqüente para a Câmara dos Deputados, será observado o seguinte: I - direito a funcionamento parlamentar ao partido com registro definitivo de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral até a data da publicação desta Lei que, a partir de sua fundação tenha concorrido ou venha a concorrer às eleições gerais para a Câmara dos Deputados, elegendo representante em duas eleições consecutivas: a) na Câmara dos Deputados, toda vez que eleger representante em, no mínimo, cinco Estados e obtiver um por cento dos votos apurados no País, não computados os brancos e os nulos; b) nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores, toda vez que, atendida a exigência do inciso anterior, eleger representante para a respectiva Casa e obtiver um total de um por cento dos votos apurados na Circunscrição, não computados os brancos e os nulos; II - vinte e nove por cento do Fundo Partidário será destacado para distribuição, aos Partidos que cumpram o disposto no art. 13 ou no inciso anterior, na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados; III - é assegurada, aos Partidos a que se refere o inciso I, observadas, no que couber, as disposições do Título IV: a) a realização de um programa, em cadeia nacional, com duração de dez minutos por semestre;

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b) a utilização do tempo total de vinte minutos por semestre em inserções de trinta segundos ou um minuto, nas redes nacionais e de igual tempo nas emissoras dos Estados onde hajam atendido ao disposto no inciso I, b. Art. 58. A requerimento de partido, o Juiz Eleitoral devolverá as fichas de filiação partidária existentes no cartório da respectiva Zona, devendo ser organizada a primeira relação de filiados, nos termos do art. 19, obedecidas as normas estatutárias. Parágrafo único. Para efeito de candidatura a cargo eletivo será considerada como primeira filiação a constante das listas de que trata este artigo. Art. 59. O art. 16 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 (Código Civil), passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 16. ....................................................................... III - os partidos políticos. ................................................................................ § 3º Os partidos políticos reger-se-ão pelo disposto, no que lhes for aplicável, nos arts. 17 a 22 deste Código e em lei específica." Art. 60. Os artigos a seguir enumerados da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passam a vigorar a seguinte redação: "Art. 114. ................................................................................ III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. ................................................................................ Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos consistirá na declaração, feita em livro, pelo oficial, do número de ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo, com as seguintes indicações: ................................................................................ Parágrafo único. Para o registro dos partidos políticos, serão obedecidos, além dos requisitos deste artigo, os estabelecidos em lei específica." Art. 61. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá instruções para a fiel execução desta Lei. Art. 62. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 63. Ficam revogadas a Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971, e respectivas alterações; a Lei nº 6.341, de 5 de julho de 1976; a Lei nº 6.817, de 5 de setembro de 1980; a Lei nº 6.957, de 23 de novembro de 1981; o art. 16 da Lei nº 6.996, de 7 de junho de 1982; a Lei nº 7.307, de 9 de abril de 1985, e a Lei nº 7.514, de 9 de julho de 1986. Brasília, 19 de setembro de 1995; 174º da Independência e 107º da República.

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MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA MACIEL Nelson A. Jobim LEI COMPLEMENTAR Nº 64, DE 18 DE MAIO DE 1990 Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: a) os inalistáveis e os analfabetos; b) os membros do Congresso Nacional, das assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto no art. 55, I e II, da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subseqüentes ao término da legislatura; Obs.: Esta alínea foi modificada pela LC 81/94, que aumentou o prazo de 3 para 8 anos. A redação anterior era a seguinte: "os membros do Congresso Nacional, das assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto no art. 55, I e II, da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 3 (três) anos subseqüentes ao término da legislatura". c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 3 (três) anos subseqüentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, transitada em julgado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem 3 (três) anos seguintes; e) os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena; f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 4 (quatro) anos;

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g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se a questão houver sido ou estiver sendo submetida à apreciação do Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a partir da data da decisão; h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político apurado em processo, com sentença transitada em julgado, para as eleições que se realizarem nos 3 (três) anos seguintes ao término do seu mandato ou do período de sua permanência no cargo; i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de processo de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou função de direção, administração ou representação, enquanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade; II - para Presidente e Vice-Presidente da República: a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos e funções: 1. os Ministros de Estado: 2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar, da Presidência da República; 3. o chefe do órgão de assessoramento de informações da Presidência da República; 4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; 5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da República; 6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; 7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; 8. os Magistrados; 9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas e as mantidas pelo poder público; 10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de Territórios; 11. os Interventores Federais; 12, os Secretários de Estado; 13. os Prefeitos Municipais; 14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Estados e do Distrito Federal;

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15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; 16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios e as pessoas que ocupem cargos equivalentes; b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores à eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de nomeação pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia do Senado Federal; c) (Vetado); d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades; e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham exercido cargo ou função de direção, administração ou representação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âmbito e natureza de suas atividades, possam tais empresas influir na economia nacional; f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na alínea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis) meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o abuso apurado, do poder econômico, ou de que transferiram, por força regular, o controle de referidas empresas ou grupo de empresas; g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração ou representação em entidades representativas de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados pela Previdência Social; h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das funções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Superintendente de sociedades com objetivos exclusivos de operações financeiras e façam publicamente apelo à poupança e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de vantagens asseguradas pelo poder público, salvo se decorrentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes; i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, hajam exercido cargo ou função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes; j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham afastado das suas funções até 6 (seis)) meses anteriores ao pleito; I) os que, servidores públicos, estatutários ou não,»dos órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder

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Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos integrais; III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública, associação ou empresas que operem no território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mesmos prazos; b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos ou funções: 1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador do Estado ou do Distrito Federal; 2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e Zona Aérea; 3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assistência aos Municípios; 4. os secretários da administração municipal ou membros de órgãos congêneres; IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para a desincompatibilização; b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais; c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito; V - para o Senado Federal: a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública, associação ou empresa que opere no território do Estado, observados os mesmos prazos; b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; VI - para a Câmara dos Deputados, Assembléia Legislativa e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; VII - para a Câmara Municipal:

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a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização; b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização . § 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses antes do pleito. § 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular. § 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes, consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Art. 2º Compete à Justiça Eleitoral conhecer e decidir as argüições de inelegibilidade. Parágrafo único. A argüição de inelegibilidade será feita perante: I - o Tribunal Superior Eleitoral, quando se tratar de candidato a Presidente ou Vice-Presidente da República; II - os Tribunais Regionais Eleitorais, quando se tratar de candidato a Senador, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital; III - os Juízes Eleitorais, quando se tratar de candidato a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador. Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada. § 1° A impugnação, por parte do candidato, partido político ou coligação, não impede a ação do Ministério Público no mesmo sentido. § 2° Não poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público que, nos 4 (quatro) anos anteriores, tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de partido ou exercido atividade político-partidária. § 3° O impugnante especificará, desde logo, os meios de prova com que pretende demonstrar a veracidade do alegado, arrolando testemunhas, se for o caso, no máximo de 6 (seis). Art. 4° A partir da data em que terminar o prazo para impugnação, passará a correr, após devida notificação, o prazo de 7 (sete) dias para que o candidato, partido político ou coligação possa contestá-la, juntar documentos, indicar rol

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de testemunhas e requerer a produção de outras provas, inclusive documentais, que se encontrarem em poder de terceiros, de repartições públicas ou em procedimentos judiciais, ou administrativos, salvo os processos em tramitação em segredo de justiça. Art. 5° Decorrido o prazo para contestação, se não se tratar apenas de matéria de direito e a prova protestada for relevante, serão designados os 4 (quatro) dias seguintes para inquirição das testemunhas do impugnante e do impugnado, as quais comparecerão por iniciativa das partes que as tiverem arrolado, com notificação judicial. § 1° As testemunhas do impugnante e do impugnado serão ouvidas em uma só assentada. § 2° Nos 5 (cinco) dias subseqüentes, o Juiz, ou o Relator, procederá a todas as diligências que determinar, de ofício ou a requerimento das partes. § 3° No prazo do parágrafo anterior, o Juiz, ou o Relator, poderá ouvir terceiros, referidos pelas partes, ou testemunhas, como conhecedores dos fatos e circunstâncias que possam influir na decisão da causa. § 4° Quando qualquer documento necessário à formação da prova se achar em poder de terceiro, o Juiz, ou o Relator, poderá ainda, no mesmo prazo, ordenar o respectivo depósito. § 5° Se o terceiro, sem justa causa, não exibir o documento, ou não comparecer a juízo, poderá o Juiz contra ele expedir mandado de prisão e instaurar processo por crime de desobediência. Art. 6° Encerrado o prazo da dilação probatória, nos termos do artigo anterior, as partes, inclusive o Ministério Público, poderão apresentar alegações no prazo comum de 5 (cinco) dias. Art. 7° Encerrado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Juiz, ou ao Relator, no dia imediato, para sentença ou julgamento pelo Tribunal. Parágrafo único. O Juiz, ou Tribunal, formará sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mencionando, na decisão, os que motivaram seu convencimento. Art. 8° Nos pedidos de registro de candidatos a eleições municipais, o Juiz Eleitoral apresentará a sentença em cartório 3 (três) dias após a conclusão dos autos, passando a correr deste momento o prazo de 3 (três) dias para a interposição de recurso para o Tribunal Regional Eleitoral. § 1° A partir da data em que for protocolizada a petição de recurso, passará a correr o prazo de 3 (três) dias para a apresentação de contra-razões. § 2° Apresentadas as contra-razões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Regional Eleitoral, inclusive por portador, se houver necessidade, decorrente da exigüidadeguidade de prazo, correndo as despesas do transporte por conta do recorrente, se tiver condições de pagá-las.

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Art. 9° Se o Juiz Eleitoral não apresentar a sentença no prazo do artigo anterior, o prazo para recurso só começará a correr após a publicação da mesma por edital, em cartório. Parágrafo único. Ocorrendo a hipótese prevista neste artigo, o Corregedor Regional, de ofício, apurará o motivo do retardamento e proporá ao Tribunal Regional Eleitoral, se for o caso, a aplicação da penalidade cabível. Art. 10. Recebidos os autos na Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral, estes serão autuados e apresentados no mesmo dia ao Presidente, que, também na mesma data, os distribuirá a um Relator e mandará abrir vistas ao Procurador Regional pelo prazo de 2 (dois) dias. Parágrafo único. Findo o prazo, com ou sem parecer, os autos serão enviados ao Relator, que os apresentará em mesa para julgamento em 3 (três) dias, independentemente de publicação em pauta. Art. 11. Na sessão do julgamento, que poderá se realizar em até 2 (duas) reuniões seguidas, feito o relatório, facultada a palavra às partes e ouvido o Procurador Regional, proferirá o Relator o seu voto e serão tomados os dos demais Juízes. § 1° Proclamado o resultado, o Tribunal se reunirá para lavratura do acórdão, no qual serão indicados o direito, os fatos e as circunstâncias com base nos fundamentos do Relator ou do voto vencedor. § 2° Terminada a sessão, far-se-á a leitura e a publicação do acórdão, passando a correr dessa data o prazo de 3 (três) dias, para a interposição de recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, em petição fundamentada. Art. 12. Havendo recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, a partir da data em que for protocolizada a petição passará a correr o prazo de 3 (três) dias para a apresentação de contra-razões, notificado por telegrama o recorrido. Parágrafo único. Apresentadas as contra-razões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Superior Eleitoral. Art. 13. Tratando-se de registro a ser julgado originariamente por Tribunal Regional Eleitoral, observado o disposto no art. 6° desta lei complementar, o pedido de registro, com ou sem impugnação, será julgado em 3 (três) dias, independentemente de publicação em pauta. Parágrafo único. Proceder-se-á ao julgamento na forma estabelecida no art. 11 desta lei complementar e, havendo recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, observar-se-á o disposto no artigo anterior. Art. 14. No Tribunal Superior Eleitoral, os recursos sobre registro de candidatos serão processados e julgados na forma prevista nos arts. 10 e 11 desta lei complementar. Art. 15. Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido. Art. 16. Os prazos a que se referem o art. 3º e seguintes desta lei complementar são peremptórios e contínuos e correm em secretaria ou Cartório e, a partir da

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data do encerramento do prazo para registro de candidatos, não se suspendem aos sábados, domingos e feriados. Art. 17. É facultado ao partido político ou coligação que requerer o registro de candidato considerando inelegível dar-lhe substituto, mesmo que a decisão passada em julgado tenha sido proferida após o termo final do prazo de registro, caso em que a respectiva Comissão Executiva do Partido fará a escolha do candidato. Art. 18. A declaração de inelegibilidade do candidato à Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal e Prefeito Municipal não atingirá o candidato a Vice-Presidente, Vice-Governador ou Vice-Prefeito, assim como a destes não atingirá aqueles. Art. 19. As transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais. Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressões mencionadas no caput deste artigo terão o objetivo de proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 20. O candidato, partido político ou coligação são parte legítima para denunciar os culpados e promover-lhes a responsabilidade; a nenhum servidor público, inclusive de autarquias, de entidade paraestatal e de sociedade de economia mista será lícito negar ou retardar ato de ofício tendente a esse fim, sob pena de crime funcional. Art. 21. As transgressões a que se refere o art. 19 desta lei complementar serão apuradas mediante procedimento sumaríssimo de investigação judicial, realizada pelo Corregedor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais, nos termos das Leis nºs 1.579, de 18 de março de 1952, 4.410, de 24 de setembro de 1964, com as modificações desta lei complementar. Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: I - o Corregedor, que terá as mesmas atribuições do Relator em processos judiciais, ao despachar a inicial, adotará as seguintes providências: a) ordenará que se notifique o representado do conteúdo da petição, entregando-se-lhe a segunda via apresentada pelo representante com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 5 (cinco) dias, ofereça ampla defesa, juntada de documentos e rol de testemunhas, se cabível; b) determinará que se suspenda o ato que deu motivo à representação, quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficiência da medida, caso seja julgada procedente;

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c) indeferirá desde logo a inicial, quando não for caso de representação ou lhe faltar algum requisito desta lei complementar; II - no caso do Corregedor indeferir a reclamação ou representação, ou retardar-lhe a solução, poderá o interessado renová-la perante o Tribunal, que resolverá dentro de 24 (vinte e quatro) horas; III - o interessado, quando for atendido ou ocorrer demora, poderá levar o fato ao conhecimento do Tribunal Superior Eleitoral, a fim de que sejam tomadas as providências necessárias; IV - feita a notificação, a Secretaria do Tribunal juntará aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao representado, bem como a prova da entrega ou da sua recusa em aceitá-la ou dar recibo; V - findo o prazo da notificação, com ou sem defesa, abrir-se-á prazo de 5 (cinco) dias para inquirição, em uma só assentada, de testemunhas arroladas pelo representante e pelo representado, até o máximo de 6 (seis) para cada um, as quais comparecerão independentemente de intimação; VI - nos 3 (três) dias subseqüentes, o Corregedor procederá a todas as diligências que determinar, ex officio ou a requerimento das partes; VII - no prazo da alínea anterior, o Corregedor poderá ouvir terceiros, referidos pelas partes, ou testemunhas, como conhecedores dos fatos e circunstâncias que possam influir na decisão do feito; VIII - quando qualquer documento necessário à formação da prova se achar em poder de terceiro, inclusive estabelecimento de crédito, oficial ou privado, o Corregedor poderá, ainda, no mesmo prazo, ordenar o respectivo depósito ou requisitar cópias; IX - se o terceiro, sem justa causa, não exibir o documento, ou não comparecer a juízo, o Juiz poderá expedir contra ele mandado de prisão e instaurar processo s por crime de desobediência; X - encerrado o prazo da dilação probatória, as partes, inclusive o Ministério Público, poderão apresentar alegações no prazo comum de 2 (dois) dias; XI - terminado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Corregedor, no dia imediato, para apresentação de relatório conclusivo sobre o que houver sido apurado; XII - o relatório do Corregedor, que será assentado em 3 (três) dias, e os autos da representação serão encaminhados ao Tribunal competente, no dia imediato, com pedido de inclusão incontinenti do feito em pauta, para julgamento na primeira sessão subseqüente; XIII - no Tribunal, o Procurador-Geral ou Regional Eleitoral terá vista dos autos por 48 (quarenta e oito) horas, para se pronunciar sobre as imputações e conclusões do Relatório; XIV - julgada procedente a representação, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 3

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(três) anos subseqüentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico e pelo desvio ou abuso do poder de autoridade, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e processo-crime, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar; XV - se a representação for julgada procedente após a eleição do candidato serão remetidas cópias de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral, para os fins previstos no art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição Federal, e art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral. Parágrafo único. O recurso contra a diplomação, interposto pelo representante, não impede a atuação do Ministério Público no mesmo sentido. Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral. Art. 24. Nas eleições municipais, o Juiz Eleitoral será competente para conhecer e processar a representação prevista nesta lei complementar, exercendo todas as funções atribuídas ao Corregedor-Geral ou Regional, constantes dos incisos I a XV do art. 22 desta lei complementar, cabendo ao representante do Ministério Público Eleitoral em função da Zona Eleitoral as atribuições deferidas ao Procurador-Geral e Regional Eleitoral, observadas as normas do procedimento previstas nesta lei complementar. Art. 25. Constitui crime eleitoral a argüição de inelegibilidade, ou a impugnação de registro de candidato feito por interferência do poder econômico, desvio ou abuso do poder de autoridade, deduzida de forma temerária ou de manifesta má-fé: Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa de 20 (vinte) a 50 (cinqüenta) vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e, no caso de sua extinção, de título público que o substitua. Art. 26. Os prazos de desincompatibilização previstos nesta lei complementar que já estiverem ultrapassados na data de sua vigência considerar-se-ão atendidos desde que a desincompatibilização ocorra até 2 (dois) dias após a publicação desta lei complementar. Art. 27. Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação. Art. 28. Revogam-se a Lei Complementar nº 5, de 29 de abril de 1970 e as demais disposições em contrário. Brasília, 18 de maio de 1990; 169° da Independência e 102° da República. FERNANDO COLLOR