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PROLIFERAÇÃO DE SEITAS RELIGIOSAS: PERSPECTIVAS DO JORNAL DE ANGOLA Arilene Nascimento da Silva Suzart 1 RESUMO: “Quem vai à casa de Deus, não vai de mãos vazias”. Argumentos desse gênero impregnam os discursos dos líderes de movimentos religiosos no território angolano. Esta proliferação de seitas religiosas é um movimento que vem a marcar a Angola, principalmente porque levanta uma série de discussões nos mais variados setores da sociedade a respeito das consequências que tem trazido ao seio das comunidades angolanas. Esta pesquisa pretende analisar a Proliferação das seitas religiosas em Angola a partir das perspectivas noticiadas pelo Jornal de Angola, na internet, com vistas a compreender e levantar uma reflexão de como essa proliferação tem influenciado a cultura religiosa da sociedade angolana. Palavras-chave: proliferação de seitas religiosas; imprensa; cultura religiosa. Introdução O Brasil, apesar de ser um país predominantemente católico, nas últimas décadas, apresenta uma mudança significativa nesse aspecto, sobretudo a partir da proliferação de denominações evangélicas. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio de 2002, nos revelam que 73,8% da população brasileira se declaram católica, enquanto que o censo de 91 apontava para 83,3%, registrando uma diminuição de 9,5%. Isso corresponde, hoje, a 125 milhões de fiéis. No 1 Arilene Nascimento da Silva Suzart, graduanda do Curso de História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

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Vera Silva

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  • PROLIFERAO DE SEITAS RELIGIOSAS: PERSPECTIVAS DO JORNAL

    DE ANGOLA

    Arilene Nascimento da Silva Suzart1

    RESUMO:

    Quem vai casa de Deus, no vai de mos vazias. Argumentos desse gnero

    impregnam os discursos dos lderes de movimentos religiosos no territrio angolano.

    Esta proliferao de seitas religiosas um movimento que vem a marcar a Angola,

    principalmente porque levanta uma srie de discusses nos mais variados setores da

    sociedade a respeito das consequncias que tem trazido ao seio das comunidades

    angolanas. Esta pesquisa pretende analisar a Proliferao das seitas religiosas em

    Angola a partir das perspectivas noticiadas pelo Jornal de Angola, na internet, com

    vistas a compreender e levantar uma reflexo de como essa proliferao tem

    influenciado a cultura religiosa da sociedade angolana.

    Palavras-chave: proliferao de seitas religiosas; imprensa; cultura religiosa.

    Introduo

    O Brasil, apesar de ser um pas predominantemente catlico, nas ltimas dcadas,

    apresenta uma mudana significativa nesse aspecto, sobretudo a partir da proliferao

    de denominaes evanglicas. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE) em maio de 2002, nos revelam que 73,8% da populao

    brasileira se declaram catlica, enquanto que o censo de 91 apontava para 83,3%,

    registrando uma diminuio de 9,5%. Isso corresponde, hoje, a 125 milhes de fiis. No

    1 Arilene Nascimento da Silva Suzart, graduanda do Curso de Histria da Universidade Federal do Recncavo da Bahia.

  • que se refere religio protestante, os dados demonstram que 15,5% declaram-se

    evanglicos. Na dcada anterior eram 9,1%, portanto temos um aumento de 70,7%, o

    que em nmeros absolutos, corresponde a 26 milhes de brasileiros. Trata-se de um

    processo de crescimento que se verifica tambm em outras partes do mundo,

    notadamente no continente africano para onde muitos desses grupos tm voltado sua

    ateno, enviando pregadores de todos os nveis.

    Partindo desta perspectiva, pretendo analisar como esse movimento se processa no

    continente africano, mais especificamente na regio de Angola. Para realizar essa

    pesquisa, que parte inicial de um estudo em andamento com vistas ao meu trabalho de

    concluso de curso (TCC), analisarei as notcias do Jornal de Angola, disponvel em

    verso online. Neste estudo darei nfase na Proliferao de Seitas Religiosas,

    objetivando uma reflexo de como esse movimento tem influenciado esse pas.

    O jornal de Angola um jornal dirio e tem como Diretor: Jos Ribeiro, Diretor-

    adjunto: Filomeno Mananas, Editor Executivo: Manuel Feio, Grande Reprter: Santos

    Vilola e Cndido Bessa e Chefe de Reportagem: Pereira Diniz. As matrias esto

    organizadas em categorias como: Editorial, Poltica, Eleies, Opinio, Reconstruo

    nacional, Sociedade, Regies, Economia, Internacional, Desporto, Cultura, Pginas

    Temticas, Dossi, Gente e Caderno Fim de Semana. Utiliza os servios de vrias

    agncias de notcias, tais como a ANGOP, AFP, Reuters, EFE e Prensa Latina.

    O levantamento inicial nas edies do Jornal de Angola oferece mais de 100

    notcias, matrias e artigos sobre proliferao de seitas religiosas e ainda as apresentam

    dividas nas categorias: Poltica, Provncias, Sociedade, Cultura, Mundo, Opinio e

    Reportagem.

    Nota-se, portanto, que a Proliferao de Seitas Religiosas um assunto relevante

    para a sociedade angolana. A quantidade de notcias localizadas um indicador de que a

    presena dessas seitas desperta ateno entre os angolanos e por isso julgamos salutar

    uma anlise desse movimento religioso, em que tentaremos compreender como este

    influenciou a cultura religiosa do pas.

    A partir daqui vou levantar questes sugeridas pela leitura das matrias para caracterizar

    a minha problemtica.

  • Seita ou Igreja?

    As notcias do conta de que a proliferao de seitas ou movimentos religiosos

    reconhecidos como igreja foi favorecida pela paz que Angola conquistou em 2002,

    constituindo assim, um fenmeno social que est a marcar o pas de forma mais

    evidente. Sendo assim considerada, como um fenmeno social, levanta uma srie de

    problemas medida que as notcias comumente sinalizam para a questo da

    diferenciao dos termos, pois igreja a rigor, nada tem a ver com seita, tratando-se

    de realidades diferentes. Vejamos como o jornal define.

    Igreja: Instituio social, agente de socializao, transmite contedo de cultura de uma

    gerao para outra e hierarquia de funcionrios srios e bem constitudos.

    Seitas: Agrupamento de pessoas que professam a mesma doutrina religiosa, pequena

    organizao formal surgida de rupturas, lderes quase sempre leigos ou pregadores sem

    formao especfica, mas que declaram ter recebido um chamamento especial para

    divulgar o Evangelho e tem como objetivo inicial descobrir o caminho da verdade e

    segui-lo.

    As Seitas e o Cristianismo

    Atualmente as seitas so incontveis e multiplica-se por quase toda parte do

    territrio angolano, definindo-se quer por uma base do cristianismo quer por elementos

    de religies e culturas tradicionais. O governo angolano autorizou a criao de um

    dossi sobre a proliferao dessas seitas religiosas, elaborado por peritos e instituies,

    a fim de apurar argumentos que possam justificar o encerramento de alguns segmentos

    religiosos que operam no pas com a alegao de que suas doutrinas teolgicas levantam

    muitas dvidas sobre a seriedade com a qual desenvolvem suas atividades.

    Entre os pontos cruciais que embasam esse projeto de encerramento de algumas

    congregaes e a rejeio de muitos pedidos de legalizao de outras, aliceram-se no

    culto da feitiaria, que est a ganhar um espao considervel, mesmo sabendo das

    consequncias que essa prtica provoca, uma vez que afeta muitas pessoas que esto a

  • serem vtimas da explorao e dos caprichos dos vrios cidados que se autoproclamam

    profetas, videntes, adivinhos, devidamente inspirados por Deus. a partir dessa

    perspectiva que o cristianismo entra em choque com os elementos que no fazem parte

    de um verdadeiro credo religioso. Quanto ao feitio, trata-se de um dos problemas

    levantados no mbito da Antropologia social e religiosa dos povos africanos e que

    provoca polmica. Admitem-se distines entre termos e figuras como mago, adivinho,

    curandeiro, mas tudo pode ser enquadrado no mesmo contexto: o da feitiaria. Segundo

    o jornal, sobre este aspecto h certa unanimidade entre estudiosos que aceitam que o

    feiticeiro faz parte de uma realidade que se situa do lado do mal, da noite, da destruio,

    do antissocial, pois pertence ao mundo tenebroso. Quando algum acusado, reconhece

    sempre as suas responsabilidades, mesmo sem conscincia do que fez ou faz. Nestas

    circunstncias, severamente punido com vrias sentenas: pode ser queimado,

    agredido at a morte, degolado, etc.

    Noticia-se que quando algum acusado de feiticeiro pelos profetas, gera-se

    pnico, as crianas so rejeitadas e as famlias se dividem, portanto, este que revela

    falsamente essa vertente, desestabiliza o acusado e as pessoas que lhe so queridas, no

    deixando assim de ser um criminoso. Da a necessidade de zelar pela ordem social,

    condenando teolgica, pastoral e juridicamente as seitas promotoras dessa prtica.

    Comisso Interministerial para Estudos e Tratamentos do Fenmeno Religioso

    No mbito nacional, as notcias apontam para a criao da Comisso

    Interministerial para Estudos e Tratamento do Fenmeno Religioso, por despacho n

    32/09 de 05 de Outubro de 2009, de Sua Excelncia o Sr Presidente da Repblica da

    Angola Jos Eduardo dos Santos, com o objetivo de estancar a proliferao anrquica

    das igrejas por todo o pas.

    A comisso, coordenada pela Ministra da Cultura Rosa Cruz, deve apresentar

    mensalmente um relatrio pormenorizado sobre a evoluo do processo. Integram ainda

    a comisso, os ministros da Administrao do Territrio, da Justia, do Comrcio, da

  • Assistncia e Reinsero Social, da Famlia e Promoo da Mulher e o assessor social

    do Presidente da Repblica.

    Entre suas muitas atribuies, a comisso deve elaborar um estudo sobre as origens

    e as causas do fenmeno religioso em Angola e adotar um conjunto de medidas que

    visem estancar a expanso das seitas religiosas no territrio nacional dando especial

    ateno s acusaes de feitiaria feita s crianas, bem como promover encontro com

    lderes das igrejas reconhecidas e escutar as suas opinies quanto aos conflitos das

    lideranas religiosas e elaborar estudos sobre a eventual alterao do quadro jurdico

    vigente sobre o exerccio da liberdade de conscincia, de religio e de culto.

    Desde a criao da comisso, algumas consideraes foram feitas por parte de

    lderes dos mais variados segmentos religiosos. O secretrio-geral do Conselho das

    Igrejas Crists em Angola (CICA), Luis Nguimbi declarou a propsito da criao da

    comisso Interministerial, que o governo deve acelerar o processo de controle das

    igrejas, por reconhecer o papel relevante destas na sociedade, realando principalmente

    a contribuio que deram para a Independncia de Angola.

    O bispo da Igreja Catlica na Diocese de Viana, D. Joaquim Ferreira Lopes, salienta

    que o fenmeno religioso atual deve ser profundamente analisado, sobretudo no que diz

    respeito aos motivos que provocam o seu aparecimento, a sua expanso e a sua atuao

    e sublinhou que a preocupao do Presidente da Repblica, assim como a Constituio

    da comisso Interministerial, s peca pela demora.

    O bispo da Igreja de Nosso Senhor no Mundo, Tocosta, saudou a iniciativa do

    Presidente, porm ressaltou que o mesmo tem responsabilidades no s em questes

    polticas, mas tambm do crescimento moral dos cidados.

    A f em Cabinda: Negcio lucrativo

    A prosperidade do negcio promove a proliferao de seitas religiosas ilegais por

    toda Cabinda. A maior parte delas esto instaladas em quintais e os moradores das

  • redondezas queixam-se que so massacrados com o barulho ensurdecedor dos alto-

    falantes que amplificam as oraes e os cnticos de louvor a Deus.

    A lucratividade do negcio deve-se ao fato dos seus promotores encontrarem

    receptividade no seio da populao cabidense, sobretudo entre as pessoas desesperadas

    que, face s dificuldades sociais, recorrem s seitas na tentativa de atenuarem os efeitos

    de seus infortnios. E pagam a pronto. At h cinco anos, o negcio das seitas era

    controlado pelos imigrantes ilegais oriundos do RDC. Hoje, e por se tratar de um

    negcio de enriquecimento fcil, muitos cidados nacionais fundam seus templos.

    Os chefes das seitas atribuem a si prprios o ttulo de Pap Pasteur e so figuras

    muito consideradas no seio dos fiis das igrejas, apesar de serem tambm o principal

    instrumento de extorso de dinheiro aos seguidores. Os pastores destas seitas ilegais

    sacam aos fiis gordas esmolas e dzimos, recorrendo muitas vezes a profecias bblicas

    sob a argumentao de que quem no tem dinheiro, paga com bens mais ou menos

    valiosos, em troca prometem que Jesus ir operar maravilhas na vida dos doadores.

    Os Paps, na maioria esmagadora das vezes, apenas falam a lngua Lingala na

    celebrao da liturgia, e nos cnticos de louvor a Deus. O Secretrio Provincial do

    Conselho de Igrejas de Angola (CICA) em Cabinda, reverendo Joo Alberto, ressaltou

    que os Paps Pastores esto camuflados como servidores de Jesus, mas a nica coisa

    que praticam o mercantilismo religioso.

    Na vertente teolgica, o representante da CICA em Cabinda, adverte as pessoas a

    no brincarem com a religio, pois ela no uma atividade comercial, mas de ligao

    do homem com Deus a quem se deve o culto de adorao pela criao do homem e,

    acima de tudo, por se considerar que a providncia divina o que guia o homem.

    Consideraes finais

    As perspectivas apresentadas pelas notcias do jornal de Angola sobre a questo da

    Proliferao de seitas religiosas, em suma, do conta de que este movimento religioso

    est na senda das novas comunidades ou grupos que vo desfilando por todo territrio

  • angolano a partir da prpria capital, por consider-la como cidade onde se entrecruzam

    cidados de vrias etnias, lnguas e at nacionalidades. Destacam-se na base dessa

    proliferao fatores econmicos, materiais e espirituais. Muitos dos lderes desse

    movimento enfatizam esses aspectos quando suas aes passam a ser meios de

    explorao ou de angariao de fundos.

    No que toca parte espiritual, pode-se dizer que a revelao dos feiticeiros

    especialmente as crianas, uma preocupao que sempre est em pauta, pois, em

    muitas comunidades a prtica da feitiaria que ocupa um lugar central, segundo a

    prtica africana, mas que hoje deve merecer outras consideraes para evitar que

    desgraas recaiam sobre a vida de inocentes.

    O que podemos constatar com base na leitura preliminar, que esta nos forneceu quatro

    questes que revelam como essa temtica da proliferao de seitas religiosas em Angola

    problemtica tanto no campo religioso quanto no poltico. A partir da, pretendo

    desenvolver o trabalho tratando das categorias, no sentido de cruzar informaes

    encontradas com bibliografias a respeito, a fim de concluir a pesquisa.

    Referncias Bibliogrficas

    CARRANZA, Brenda. Radiografia dos dados religiosos. In: Revista Mundo e Misso.

    JORNAL DE ANGOLA. Feitiaria incompatvel com Cristianismo, 22.07.2010.

    JORNAL DE ANGOLA. Comisso Interministerial estuda fenmeno religioso,

    19.09.2009.

    JORNAL DE ANGOLA. Igrejas apoiam deciso do Presidente da Repblica,

    22.09.2009.

    JORNAL DE ANGOLA. Negcio com seitas prospera em Cabinda, 05.12.2008.

    JORNAL DE ANGOLA. As consequncias da proliferao de seitas, 11.10.2010.