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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA (CT) CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA (CCET) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS TESE DE DOUTORADO Síntese Solvotérmica de BaTiO 3 : Efeito da Pressão na Morfologia e Tamanho de Partícula Armando Monte Mendes Orientador: Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli MAIO / 2019 Natal RN

Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

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Page 1: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA (CT)

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA (CCET)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E

ENGENHARIA DE MATERIAIS

TESE DE DOUTORADO

Síntese Solvotérmica de BaTiO3: Efeito da Pressão na Morfologia e Tamanho de Partícula

Armando Monte Mendes

Orientador: Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli

MAIO / 2019 Natal – RN

Page 2: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

ARMANDO MONTE MENDES

Síntese Solvotérmica de BaTiO3: Efeito da Pressão na

Morfologia e Tamanho de Partícula

Tese apresentada ao Centro de Ciências

Exatas e da Terra da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, em cumprimento

às exigências para obtenção do grau de

doutor em Ciência e Engenharia de

Materiais.

Orientador : Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli

MAIO / 2019

NATAL/RN

Page 3: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

Mendes, Armando Monte. Síntese Solvotérmica de BaTiO3: Efeito da Pressão naMorfologia e Tamanho de Partícula / Armando Monte Mendes. -2019. 96f.: il.

Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte,Centro de Ciências Exatas e da Terra, Pós-graduação em Ciência eEngenharia de Materiais, Natal, 2019. Orientador: Dr. Antonio Eduardo Martinelli.

1. Síntese solvotérmica - Tese. 2. Autoclave - Tese. 3. AltaPressão - Tese. 4. Perovskita - Tese. 5. BaTiO3 - Tese. I.Martinelli, Antonio Eduardo. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 620.1

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429

Page 4: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

Tese apresentada ao Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e

Engenharia de Materiais do Centro de Ciências Exatas e da Terra da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte em cumprimento às exigências para obtenção do

Título de Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais

Aprovada em 02 de maio de 2019

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________

Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli – UFRN (Orientador)

____________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Dulce Maria de Araújo Melo – UFRN (Interno)

____________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Sibele Berenice Castellã Pergher – UFRN (Interno)

____________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Tadeu D’Azevedo Orlando – UFES (Externo)

____________________________________________________

Prof. Dr. Daniel Araújo de Macedo – UFPB (Externo)

Page 5: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

Dedico esta Tese a todos que de maneira direta

ou indireta contribuíram com sua construção. .

Page 6: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, demonstro minha mais sincera gratidão ao Universo e seu

Criador por retribuírem tudo aquilo de melhor que lhes entreguei durante minha vida.

Agradeço à minha família, meus pais, Kátia e Armando e minhas irmãs,

Amanda, Carol e Didi, especialmente pelos momentos de compreensão e apoio nessa

jornada acadêmica.

Àquela que dividiu comigo diversos momentos pessoais e acadêmicos e me

trouxe a paz e o equilíbrio que eu precisava apenas com seu sorriso e sua presença, eu

só tenho a agradecer. Obrigado, Carol, meu amor!

Aos meus grandes e “melhores” amigos desde a infância até os dias atuais,

muito obrigado!

Obrigado também àqueles que “botaram a mão na massa” e me ajudaram nesses

últimos anos com seus conhecimentos técnicos: Frazão, Igor Zumba, Carla Laize,

Hudson Diniz, Fabrício Feitosa, Adriano Cavalcante, Will Batista e especialmente

Roberto Filho, que além de um excelente profissional técnico/engenheiro, se tornou

meu grande amigo! Obrigado também às minhas colegas de laboratório e amigas Carol

Suzy, Allene Moura, Aléxia Araújo e Elisa Barros por toda a ajuda que me deram.

Muito obrigado àqueles que compuseram minhas bancas examinadoras de

qualificação e defesa, Prof. Paskocimas, Prof.ª Dulce, Prof. Marcos, Prof. Daniel, e

Prof.ª Sibele.

Sou imensamente grato àquele que foi meu mentor nos mais diversos sentidos,

me acolhendo em seu grupo, me ajudando a manter o equilíbrio, acreditando e

investindo em minhas ideias e confiando a mim responsabilidades que me fizeram

crescer de uma maneira única. Obrigado, Professor Martinelli, do fundo de minha alma.

Agradeço aos órgãos de fomento, Capes e CNPq pelo auxílio prestado durante a

execução deste doutorado.

Page 7: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

MENDES, A. M., SÍNTESE SOLVOTÉRMICA DE BaTiO3: EFEITO DA PRESSÃO

NA MORFOLOGIA E TAMANHO DE PARTÍCULA, 2019. (Doutorado em Ciência e

Engenharia de Materiais). Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de

Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil. Orientador:

Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli.

RESUMO

Na busca constante pelo desenvolvimento de materiais livres de aglomeração e com

morfologia controlada, faz-se necessário o entendimento da influência dos parâmetros

do processo nas características do material obtido, possibilitando a proposta de novos

procedimentos experimentais. Dessa forma, este trabalho propôs uma nova metodologia

para síntese solvotérmica de partículas de titanato de bário (BaTiO3), seguido da

investigação do efeito dos parâmetros de temperatura, tempo e especialmente da pressão

nas características morfológicas do material. A princípio, uma autoclave em aço

inoxidável 316L foi construída com uma configuração que permite não apenas o

controle da temperatura e tempo do processo, mas também da pressão por injeção de

gases ultrapuros. As soluções precursoras foram formadas por tetra-isopropóxido de

titânio (C12H28O4Ti) e nitrato de bário (Ba(NO3)2) como fontes de cátions metálicos,

uma mistura de água deionizada e álcool etílico como solvente e hidróxido de potássio

(KOH) como agente mineralizador e regulador de pH. As sínteses foram realizadas a

temperaturas entre 80 °C e 180 °C, com durações de 15 minutos e 24 horas e pressões

tanto inerentes quanto impostas de 20 bar a 80 bar (controle via injeção de argônio

comprimido). Os materiais obtidos apresentaram a estabilização de fase tetragonal e de

uma quantidade mais expressiva de fase metaestável pseudocúbica, livre de

contaminações como BaCO3. As diversas combinações de parâmetros do processo

permitiram a observação da evolução morfológica das partículas e dos mecanismos de

nucleação e crescimento de cristais, além dos fenômenos de agregação orientada e

“Ostwald ripening”. Em condições de pressão inerente, foram obtidas partículas com

morfologia desde esferas rugosas amorfas, passando por aglomerados de nanocubos

(mesocristais) e partículas com crescimento irregulares. As síntese sob alta pressão

produziram morfologias dendríticas e do tipo flor mesmo sem utilização de agente

surfactante. Todas as amostras sintetizadas se mostraram livres de aglomeração.

Palavras-chave: Síntese solvotérmica, autoclave, alta pressão, perovskita, BaTiO3.

Page 8: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

MENDES, A. M., SOLVOTHERMAL SYNTHESIS OF BaTiO3: EFFECT OF

PRESSURE ON THE MORPHOLOGY AND PARTICLE SIZE, 2019. (Doutorado em

Ciência e Engenharia de Materiais). Programa de Pós-Graduação em Ciência e

Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN,

Brasil. Orientador: Prof. Dr. Antonio Eduardo Martinelli.

ABSTRACT

In the constant effort for the development of materials free from agglomeration and with

controlled morphology, it is necessary to understand the influence of the process

parameters on the characteristics of the obtained material for later proposal of new

experimental procedures. This work present a new methodology for the solvothermal

synthesis of barium titanate (BaTiO3), followed by the investigation of the effect of

parameters such as temperature, time and especially pressure on the morphological

characteristics of the material. At first, a 316L stainless steel autoclave was built with a

configuration that allows not only the temperature and time control, but also the control

of pressure by ultra-pure gas injection. The precursor solutions were formed by titanium

tetra-isopropoxide (C12H28O4Ti) and barium nitrate (Ba(NO3)2) as sources of metallic

cations, a mixture of deionized water and ethanol was used as solvent and a potassium

hydroxide (KOH) was used as mineralizer and pH adjustment agent. The syntheses

were then performed at temperatures ranging from 80 °C to 180 °C, times between 15

minutes and 24 hours, and both inherent and induced pressures of 20 bar to 80 bar. The

synthesized materials presented the tetragonal phase stabilization and a more expressive

amount of a metastable pseudo-cubic, free from contaminations such as BaCO3. The

different combinations of process parameters allowed the observation of a

morphological evolution and also the nucleation and crystal growth mechanisms, as

well as the orientated aggregation and Ostwald ripening phenomena. Under conditions

of inherent pressure, particles showed from amorphous rough spheres, trough

agglomerates of nanocubes (mesocrystals) and particles with irregular growth. The high

pressure synthesis produced dendritic and flower-like morphologies even without any

surfactant agent. All samples were free from agglomerations.

Keywords: Solvothermal synthesis, autoclave, high pressure, perovskite, BaTiO3.

Page 9: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Digestor de Papin ......................................................................................................... 18

Figura 2 - Diferentes configurações de autoclave ........................................................................ 21

Figura 3 - Mecanismos de formação dos cristais pelo método solvotérmico ....................................... 22

Figura 4 - Constante dielétrica da água em função da temperatura e pressão. (Adschiri

et al., 2001) .................................................................................................................................. 24

Figura 5 - Viscosidade da água em função da densidade e da temperatura. (Byrappa e

Yoshimura, 2013) ......................................................................................................................... 25

Figura 6 - Relação pressão x temperatura para diferentes solventes ........................................... 26

Figura 7 - Variação da pressão autógena em função do grau de preenchimento do reator.

(Laudise et al., 1994) .................................................................................................................... 27

Figura 8 - Arranjo cristalino do BaTiO3. – Adaptado de Mendes (2015) .................................... 30

Figura 9 - Polimorfos do BaTiO3: a) tetragonal; b) ortorrômbico e c) romboédrico. –

Adaptado de Mendes (2015)......................................................................................................... 30

Figura 10 - Picos de difração referentes às fases cúbica e tetragonal do BaTiO3 (Kwon e

Yoon, 2007) .................................................................................................................................. 31

Figura 11 - Polarização elétrica dos polimorfos do BaTiO3 ......................................................... 32

Figura 12 - Arranjo da célula unitária do BaTiO3 com a entrada de grupos hidroxila.

(Hongo et al., 2018) ...................................................................................................................... 36

Figura 13 - Modelo de distribuição de estruturas cúbica e tetragonal em nanopartículas

de BaTiO3. (Hoshina et al., 2008) ............................................................................................... 36

Figura 14 - Efeito da ocorrência simultânea das fases tetragonal e cúbica sobre o

difratograma do BaTiO3 .............................................................................................................. 37

Figura 15 - Projeto do reator de síntese solvotérmica .................................................................. 41

Figura 16 - Sistema para síntese solvotérmica a alta pressão ...................................................... 43

Figura 17 - Metodologia de preparação das soluções precursoras .............................................. 44

Figura 18- Fluxograma do processo de lavagem dos pós sintetizados. ........................................ 50

Page 10: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

Figura 19 - Curvas P x T dos procedimentos solvotérmicos para obtenção de partículas

de BaTiO3 ..................................................................................................................................... 51

Figura 20 - Difratogramas das amostras sintetizadas a 120°C e pressão inerente: a) em

cascata; b) sobrepostas.................................................................................................................. 53

Figura 22 - Difratogramas das amostras sintetizadas a 140°C e pressão inerente: a) em

cascata; b) sobrepostas.................................................................................................................. 53

Figura 22 - Difratogramas das amostras sintetizadas a 160°C e pressão inerente: a) em

cascata; b) sobrepostas.................................................................................................................. 54

Figura 24 - Difratogramas das amostras sintetizadas a 180°C e pressão inerente: a) em

cascata; b) sobrepostas. ................................................................................................................ 54

Figura 24 - Difratograma representativo na região de observação das fases tetragonal e

cúbica (~45°). ............................................................................................................................... 55

Figura 25 - Difratogramas das amostras BTLC sintetizadas em baixas condições de

temperatura e tempo com pressão inerente................................................................................... 56

Figura 26 - Difratogramas das amostras BTHP sintetizadas sob elevada pressão

comparadas à sintetizada sob pressão inerente ............................................................................. 57

Figura 27- Influência do tempo de processamento no tamanho de cristalito das amostras

de BaTiO3 sintetizadas solvoterrmicamente com pressão inerente .............................................. 59

Figura 28 - Influência da pressão sob o tamanho de cristalito das amostras sintetizadas a

180 °C por 18 h sob alta pressão .................................................................................................. 59

Figura 29 - Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 80 °C por 24 h

(BTLC1) ....................................................................................................................................... 60

Figura 30 - Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 120 °C por 15 min

(BTLC3) ....................................................................................................................................... 60

Figura 31 – Formação de mesocristais de BaTiO3 a partir de fase amorfa ................................. 61

Figura 32 - Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 120°C por: 6h

(a - b); 12h (c - d); 18h (e - f) e 24h (g – h) ................................................................................. 62

Figura 33 - Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 140°C por: 6h

(a - b); 12h (c - d); 18h (e - f) e 24h (g – h) .................................................................................. 64

Page 11: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

Figura 34 - Ilustração do processo de formação de cristais por agregação orientada .................. 65

Figura 35 - Ilustração do processo de crescimento de cristais por “Ostwald ripening” ............... 66

Figura 36 – Variações dos tamanhos de cristalito em função dos mecanismos de

crescimento das partículas de morfologia irregular ...................................................................... 67

Figura 37 - Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 160°C por: 6h

(a - b); 12h (c - d); 18h (e - f) e 24h (g – h) .................................................................................. 69

Figura 38 - Micrografias das amostras sintetizada s solvotermicamente a 180°C por: 6h

(a - b); 12h (c - d); 18h (e - f) e 24h (g – h) ................................................................................. 71

Figura 39 - Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180°C por 18h sob

alta pressão de 20bar (BTHP1) .................................................................................................... 73

Figura 40 - Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180°C por 18h sob

alta pressão de 50bar (BTHP2) ..................................................................................................... 74

Figura 41 - Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180°C por 18h sob

alta pressão de 80bar (BTHP3) ..................................................................................................... 75

Figura 42 - Mecanismos de crescimento dendrítico em compostos inorgânicos ......................... 76

Figura 42 - Formação de estruturas dendríticas tridimensionais .................................................. 77

Figura 42 – Proposta para formação de cristais com morfologia do tipo flor .............................. 77

Page 12: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Avaliação das características de diferentes métodos de síntese - adaptado de

Yoshimura e Byrappa (2007). ...................................................................................................... 16

Tabela 2 - Linha do tempo do processo solvotérmico - adaptado de Yoshimura e

Byrappa (2007) ............................................................................................................................. 19

Tabela 3 - Especificações dos precursores utilizados na síntese de BaTiO3 ................................ 44

Tabela 4 - Amostras BTLC sintetizadas em baixas condições para determinação da

menor combinação de temperatura e tempo na formação do BaTiO3 .......................................... 46

Tabela 5 - Combinações de parâmetros para amostras BT sintetizadas entre 120°C e

180°C por 6h a 24h em condição de pressão inerente .................................................................. 47

Tabela 6 - Combinações de parâmetros de temperatura, tempo e pressão imposta para

síntese de BaTiO3 sob alta pressão (BTHP) ................................................................................. 47

Tabela 7 - Tamanho de cristalito das amostras de BaTiO3 sintetizadas pelo método

solvotérmico ................................................................................................................................. 58

Tabela 8 – Áreas específicas de amostras de BaTiO3 com morfologias bem definidas ............... 78

Page 13: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12

2. ASPECTOS TEÓRICOS ....................................................................................................... 15

2.1 Síntese Solvotérmica ......................................................................................................... 17

2.1.1 Aspectos históricos ................................................................................................... 17

2.1.2 Equipamentos ........................................................................................................... 20

2.1.3 Princípio de funcionamento ..................................................................................... 22

2.1.4 Parâmetros do processo ............................................................................................ 23

2.1.4.1Reagentes/ Precursores ..................................................................................... 23

2.1.4.2 Solventes .......................................................................................................... 24

2.1.4.3 Pressão e temperatura ...................................................................................... 26

2.1.4.4 Mineralizadores ............................................................................................... 28

2.1.4.4 Surfactantes ..................................................................................................... 29

2.2 Titanato de bário (BaTiO3) ............................................................................................... 29

2.2.1Características estruturais .......................................................................................... 30

2.2.2 Propriedades do material .......................................................................................... 32

2.2.3 Síntese do BaTiO3 ................................................................................................... 34

2.2.3.1 Métodos de reação no estado sólido ................................................................ 34

2.2.3.2 Métodos Pechini e Sol-Gel .............................................................................. 34

2.2.3.3 Método solvotérmico ....................................................................................... 34

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 41

3.1 Projeto do reator de síntese solvotérmica ......................................................................... 41

3.2 Síntese dos compostos BaTiO3 ......................................................................................... 43

3.2.1 Preparo da solução precursora ................................................................................. 43

3.2.2 Tratamento solvotérmico.......................................................................................... 46

3.2.3 Lavagem dos materiais sintetizados ......................................................................... 47

3.3 Caracterização dos pós sintetizados .................................................................................. 49

Page 14: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

3.3.1 Difração de raios X (DRX) ...................................................................................... 49

3.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .......................................................... 49

3.3.2 Análise de Área Específica (BET) ........................................................................... 49

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................ 51

4.1 Sínteses solvotérmicas ...................................................................................................... 51

4.2 Difração de raios X (DRX) ............................................................................................... 53

4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................................... 60

4.4 Análise de Área Específica ............................................................................................... 78

5. CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 81

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................................... 82

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 84

APÊNDICE A ............................................................................................................................. 92

Page 15: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Page 16: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

12

1. INTRODUÇÃO

A síntese solvotérmica é um método de obtenção de materiais por via úmida baseado

nos fenômenos de formação de rochas e minérios na natureza a partir da ação de um solvente

a elevada pressão e temperatura, sobre substâncias precursoras. Essa rota de síntese se destaca

pela facilidade de manipulação dos parâmetros de processamento, possibilitando um controle

rigoroso da formação dos materiais em termos de composição, estrutura cristalina e

morfologia.

O método solvotérmico se destaca entre as rotas úmidas de síntese, pela produção de

pós com composição e morfologia uniformes, livres de aglomerações e especialmente por não

requerer um posterior tratamento térmico de calcinação. Outra característica formidável desse

processo é a possibilidade de adaptação do equipamento para desenvolvimento de variações

do processo como, por exemplo, utilização de micro-ondas para aquecimento da solução,

acoplamento de módulos sonoquímicos e eletroquímicos, resultando em um processo com

características mistas e a injeção de gases, possibilitando a variação da pressão no sistema.

Essa rota de síntese vem sendo explorada de maneira crescente nos últimos anos para a

produção de materiais cerâmicos nanoestruturados, especialmente na obtenção de compostos

do tipo perovskita para aplicações em componentes eletrônicos.

As perovskitas são materiais cerâmicos óxidos com fórmula química ABO3 e foram

sintetizadas pela primeira vez nos anos 1950 na composição do titanato de bário (BaTiO3).

Alguns anos depois, o desenvolvimento do titanato zirconato de chumbo com melhores

propriedades elétricas acabou suprimindo as pesquisas sobre o BaTiO3. Contudo, em 2002,

em decorrência da implantação de diretrizes na Europa limitando a produção de materiais à

base de chumbo, os estudos envolvendo BaTiO3 foram retomados e seguem em

desenvolvimento até os dias atuais.

O titanato de bário é um material ferroelétrico, ou seja, sofre polarização espontânea

quando na presença de um campo elétrico externo. Além disso, possui boas características

piezoelétricas, produzindo uma tensão elétrica quando sujeito à uma deformação mecânica ou

produzindo uma deformação quando submetido a uma tensão elétrica. Essas características

fazem do BaTiO3 um excelente candidato para aplicações em atuadores, sensores e

especialmente capacitores cerâmicos de múltiplas camadas (“Multi Layer Ceramic

Capacitors” – MLCC).

Page 17: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

13

Esta tese propôs a avaliação do efeito da pressão na síntese solvotérmica de partículas

de titanato de bário. Não há na literatura qualquer estudo semelhante e a execução dessa

proposta se baseia no fundamento de que há um efeito da pressão na síntese química de

materiais em geral, sobre aspectos de solubilidade e cinética química, afetando diretamente

características estruturais, morfológicas e composicionais.

Em vista disso, os objetivos específicos deste trabalho foram:

- Projetar e construir um reator de síntese solvotérmica adaptado para injeção de gases

capaz de operar devidamente nas condições de temperatura, pressão e corrosão desejadas.

- Desenvolver um procedimento de preparo da solução precursora e lavagens dos pós

de modo a garantir a formação de uma única fase (BaTiO3) e facilitar a reprodução dos

experimentos.

- Estudar sínteses a diferentes temperaturas e tempos e caracterizá-las para ajudar a

compreender o comportamento do material obtido e selecionar as melhores condições para os

testes sob alta pressão.

- Estudar sínteses com injeção de argônio ultrapuro comprimido a diferentes pressões

e caracterizá-las para compreensão da influência da injeção do gás pressurizado nas

características das partículas de BaTiO3 obtidas.

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14

CAPÍTULO 2

ASPECTOS TEÓRICOS

Page 19: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

15

2. ASPECTOS TEÓRICOS

O avanço na tecnologia tanto de processamento quanto de caracterização vem abrindo

novas possibilidades na obtenção de novos materiais, bem como no desenvolvimento de

características otimizadas de materiais já existentes.

Nos últimos anos, é possível notar a crescente demanda na produção de materiais

cerâmicos, pois além de possuírem excelente comportamento mecânico, podem apresentar

desde propriedades refratárias, até propriedades elétricas de alta eficiência, especialmente

quando na forma de nanopartículas.

Materiais nanoestruturados possuem características únicas em decorrência

especialmente de sua elevada razão entre área superficial e volume, permitindo aplicações que

vão de tecnologias ópticas até eletrônicas e armazenamento de energia, por exemplo.

Conhecidas como cerâmicas avançadas, esses materiais não ocorrem naturalmente, sendo

obtidos apenas por meio de síntese em laboratório. (Myers, 2019)

Diversas são as rotas para produção de materiais cerâmicos, seja por vias físicas, seja

por vias químicas. Esses métodos, de uma forma geral, permitem o controle das

características cristalinas e morfológicas do material processado. São metodologias

classificadas como do tipo “bottom-up”, onde há decomposição de compostos precursores,

seguido de uma reorganização a nível atômico/molecular e posterior consolidação do material

desejado. (Ring, 1996)

O método de reação no estado sólido, por exemplo, consiste usualmente na mistura de

precursores óxidos para formação dos compostos desejados. Esse processo envolve

tratamentos térmicos de alta temperatura (> 1000 °C) e é comumente utilizado pela indústria

na fabricação de materiais cerâmicos, pois requer baixa complexidade de maquinários e pode

produzir materiais em larga escala. Contudo, esse método de síntese apresenta diversas

desvantagens desde baixo controle composicional, dimensional e morfológico dos pós, até

baixa pureza dos produtos. (Ashiri, 2016)

Rotas de síntese úmidas são realizadas em meios fluidos e são intensamente utilizadas

na produção desde nano até micropartículas com boa distribuição e uniformidade de tamanho

e morfologia controlada. Esses procedimentos são realizados em temperaturas relativamente

baixas e não necessitam de equipamentos complexos ou caros. Esses métodos facilitam a

manipulação de parâmetros de processamento como concentração dos reagentes, pH,

Page 20: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

16

temperatura e tempo de reação, possibilitando controlar a formação dos materiais em termos

de composição, estrutura cristalina e morfologia. (Trusova et al., 2012)

Diversos métodos de síntese por via úmida como co-precipitação, sol-gel, precursores

poliméricos e solvotérmico são comumente utilizados na produção de materiais cerâmicos

nanoestruturados. (Nikam et al., 2018)

Dentre os métodos citados anteriormente, o solvotérmico tem grande destaque não

apenas pela possibilidade de obtenção de partículas com boa uniformidade composicional e

morfológica, mas principalmente por não precisar de um tratamento térmico de alta

temperatura posterior ao processo de síntese (Yoshimura e Byrappa, 2007), diferente dos

demais métodos tradicionais, como apresenta a Tabela 1.

Tabela 1. Avaliação das características de diferentes métodos de síntese por via úmida - adaptado de

Yoshimura e Byrappa (2007).

Parâmetro Reação no

Estado Sólido

Co-

precipitação Sol-Gel

Precursores

Poliméricos Solvotérmica

Custo Baixo/Moderado Moderado Alto Alto Moderado

Controle da

Composição Pobre Bom Excelente Excelente Bom/Excelente

Controle da

Morfologia Pobre Moderado Moderado Moderado Bom

Reatividade

Do Pó Pobre Boa Boa Boa Boa

Pureza <99,5% >99,5% >99,9% >99,9% >99,5%

Etapa de

Calcinação Sim (múltiplas) Sim Sim Sim Não

Etapa de

Moagem Sim (múltiplas) Sim Sim Sim Não

Page 21: Armando Monte Mendes - repositorio.ufrn.br

17

2.1 Síntese Solvotérmica

Diversas são as definições para o método de síntese solvotérmico. Contudo, com o

decorrer dos anos de pesquisa, ao se entender melhor os fenômenos do processo e se

desenvolver novas metodologias experimentais, a seguinte definição retrata bem o método:

“A síntese solvotérmica é qualquer reação química homogênea ou heterogênea na

presença de um solvente à temperatura acima da ambiente e pressão maior que 1atm em um

sistema fechado.” (Byrappa e Yoshimura, 2013)

A palavra “solvotérmico” se refere a qualquer processo, independente do solvente

utilizado. Contudo, como os primeiros processos utilizavam água como solvente, o método

passou a ser comumente chamado de “hidrotérmico”. Dessa forma, alguns autores tratam o

método como hidrotérmico, apesar de utilizarem solventes alternativos.

2.1.1 Aspectos históricos

Os processos solvotérmicos foram utilizados pela primeira vez nas áreas de

geociências na síntese de minerais, ciência de materiais no crescimento de materiais

funcionais e hidrometalurgia no desenvolvimento de novas técnicas de lixiviação de minérios.

(Demazeau, 2010)

A palavra “hidrotérmico” é um termo geológico e foi utilizado pela primeira vez pelo

geólogo britânico Sir Roderick Murchison (1792 – 1871) para descrever os efeitos da água a

alta temperatura e alta pressão sobre a crosta terrestre, na formação de rochas e minerais.

(Rudolph, 2015)

A primeira síntese hidrotérmica registrada foi realizada por Karl Emil von Schafhautl,

naturalista alemão que, em 1845 passou a produzir cristais de quartzo em um equipamento

chamado “Digestor de Papin” (Figura 1), uma espécie de panela de pressão inventada e

apresentada em 1679 por Denis Papin (físico e inventor francês). Papin foi membro da

sociedade real de ciências da Inglaterra e certo dia resolveu preparar para seus colegas um

jantar com uma panela desenvolvida por ele. O utensílio era totalmente fechado e possuía uma

válvula de segurança para que o vapor excedente fosse liberado e o vaso não explodisse.

(Tiwari; et al., 2018)

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18

Figura 1. Digestor de Papin

Os geólogos passaram então a tentar reproduzir as condições ambientais de formação

geológica em laboratório e em meados dos anos 1940, os cientistas de materiais passaram a

explorar essa técnica na obtenção de materiais sintéticos e tratamento de substâncias.

(Byrappa e Yoshimura, 2013)

As primeiras aplicações comerciais do método solvotérmico, começaram no século

XIX com beneficiamento de minérios (Goranson, 1931). Em 1946 foram realizadas as

primeiras sínteses para obtenção de cristais como quartzo, material com boas propriedades

piezoelétricas (Nacken, 1946). Em 1948 vieram as primeiras zeólitas (Barrer, 1948).

Durante a segunda guerra mundial, o Brasil, que até então era considerado a

maior reserva de monocristais de quartzo de alta pureza, impôs embargo sobre a exportação

desses materiais, sendo permitida a exportação apenas para os Estados Unidos (Moura, 2012).

O quartzo era de grande importância tecnológica, pois eram utilizados na ascendente

tecnologia de telecomunicações. Pesquisadores de países afetados pelo embargo resolveram

então dominar os princípios da taxa de crescimento dos cristais e produzir seus próprios

materiais.

Nos anos 70, os japoneses passaram a explorar o processo hidrotérmico além da

hidrometalurgia e do crescimento de monocristais e deram início ao estudo do processamento

de pós. (Somiya, 1989)

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A partir de 1980, certo domínio do método solvotérmico viabilizou a criação de novas

metodologias como formação de filmes finos, precipitação homogênea usando quelatos e

decomposição de substâncias químicas perigosas e/ou refratárias. (Byrappa e Yoshimura,

2013)

A Tabela 2 apresenta um resumo da linha do tempo do processo solvotérmico,

apontando metodologias inovadoras à época e alguns exemplos do que essas metodologias

eram capazes de produzir.

Tabela 2. Linha do tempo do processo solvotérmico - adaptado de Yoshimura e Byrappa (2007)

Área Período Exemplo/Material Aplicado

Hidrometalurgia 1900 Minérios à base de sulfatos e

óxidos.

Síntese e Crescimento de Cristais 1940 Quartzo, óxidos, sulfatos,

fluoretos, etc.

Cristais finos com composição, tamanho e

forma controlados 1970

PZT, ZrO2, PSZ, BaTiO3,

hidroxiapatita.

Whiskers 1980 Hidroxiapatita, Mg-sultatos, K-

titanatos.

Filmes Cristalinos 1980 BaTiO3, LiNbO3, ferritas,

carbono, LiNiO2.

Ataque hidrotérmico 1980 Óxidos e não-óxidos.

Usinagem hidrotérmica 1980 Óxidos e não-óxidos.

Combinação com métodos eletro, foto,

mecano e eletroquímicos 1970-1980

Síntese, alteração, revestimento e

modificação.

Orgânicos/Biomateriais 1980

Hidrólise, combustão vi úmida,

extração, polimerização,

decomposição.

Processos solvotérmicos 1990 Síntese, extração e reação.

Processamento contínuo 1990 Síntese, extração e decomposição.

“Patterning” 2000 Síntese e fixação.

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20

O processamento solvotérmico é atualmente aplicado a diversas áreas da ciência

como: química de materiais, especialmente na síntese de fases metaestáveis (Zhang et al.,

2003); química molecular, no desenvolvimento de novos polímeros (Köse Yaman et al.,

2019); química híbrida, na preparação de materiais de composição mista (inorgânico/orgânico

e inorgânico/biológico) (Moyseowicz e Gryglewicz, 2019); biotecnologia e ciência de

materiais, na produção de materiais nanoestruturados, crescimento de cristais de materiais

funcionais, deposição de filmes finos, produção de cerâmicas à baixa temperatura (Sōmiya,

2003).

2.1.2 Equipamentos

Os equipamentos utilizados na síntese solvotérmica são projetados para suportar as

condições agressivas do processo como moderadas temperatura e pressão e pH básico ou

ácido, ou seja, condições que podem causar avarias no equipamento.

O projeto de reatores (também chamados de autoclaves) para síntese solvotérmica

deve levar em consideração algumas características necessárias como: 1) facilidade de

montagem/desmontagem; 2) dimensões apropriadas para troca de calor eficiente, resistência à

pressão interna e possibilidade de ser penetrado por campos magnéticos externos e permitir

agitação durante o processo; 3) vedação eficiente para suportar as condições mais severas; 4)

resistência a ácidos, bases e agentes oxidantes.

Os materiais mais comuns na construção das autoclaves são a série 300 dos aços

inoxidáveis, níquel e suas ligas e titânio e suas ligas. O principal pré-requisito na

especificação do material é a resistência à ruptura por fluência. Dentre os metais da série 300

dos aços inoxidáveis, o 316 é o que apresenta maior resistência, superando até mesmo a liga

de titânio Ti-6Al-4V. (Byrappa e Yoshimura, 2013)

Diferentes tipos de vedação para autoclaves podem ser encontrados na literatura. A

Figura 2a ilustra a configuração do tipo Morey (Rooymans e Langenhoff, 1968), que consiste

em um recipiente cuja tampa possui um degrau de duas roscas, que ao ser fechado, pressiona

um disco de vedação contra um ressalto no interior do vaso. A Figura 2b mostra uma

autoclave tipo Tuttle (Byrappa, 2010), suja vedação é feita por um cone ao se fechar a tampa

do recipiente.

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Figura 2. Diferentes configurações de autoclave: a) Tipo Morey b) tipo Tuttle. – Adaptado de Byrappa

e Adschiri (2007).

O alto potencial corrosivo das soluções precursoras em condições de elevada

temperatura e pressão, requer a utilização de materiais protetores contra o contato direto com

o metal da autoclave, chamados de “liners”. Normalmente os liners são fabricados em

materiais com boa resistência à corrosão como o politetrafluoretileno (PTFE), borossilicato,

quartzo, cobre níquel, titânio e prata, por exemplo.

Esses componentes são, na maioria das vezes, recipientes removíveis, o que facilita a

manipulação do material após o processo de síntese e permite a reposição por outro

componente em caso de avarias ou mesmo substituição por outro material mais adequado para

uma dada reação.

Nos últimos anos, diversas adaptações vêm sendo feitas nas autoclaves, possibilitando

o desenvolvimento de novas rotas para a síntese solvotérmica. Reatores construídos em PTFE,

permitem a implementação de um sistema por aquecimento utilizando um forno micro-ondas

caseiro (Senthilkumar et al., 2018), enquanto que transdutores piezoelétricos podem ser

utilizados para gerar efeito sonoquímico (Kadota et al., 2009) e sistemas usualmente

utilizados em síntese eletroquímica também podem ser adaptados para o processo (Majumder

et al., 2015).

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2.1.3 Principio de funcionamento

Dentre as diversas possibilidades de processos solvotérmicos, está a formação de pós

com excelentes características como grão refinado, alta pureza, morfologia controlada, boa

distribuição de tamanho de partícula e consistindo em diversos monocristais. (Wendelbo et

al., 2006)

De uma maneira geral, esse método parte de uma solução contendo precursores à base

dos elementos que formam o material desejado, como nitratos, cloretos, sulfetos, alcóxidos,

dentre outros, em um meio fluido como água, álcool e hidrocarbonetos, com condições de pH

controlado. Essa solução é então transferida para um reator de síntese, que é devidamente

lacrado e aquecido. Com o aumento da temperatura, há também um aumento da pressão que é

inerente às propriedades termo-físicas da solução, ou pode-se dizer, do solvente utilizado.

Dois principais mecanismos de desenvolvimento de cristais (Figura 3) podem ser

destacados: 1) nucleação e 2) crescimento. No primeiro fenômeno, ocorre transferência de

massa convectiva das espécies que compõem a solução precursora para uma região de tal

forma que essas espécies se unem na proporção estequiométrica do produto desejado, dando

início à nucleação de pequenos cristais. Já o segundo fenômeno consiste na transferência de

massa convectiva das espécies dissolvidas para a superfície de cristais já existentes,

promovendo seu crescimento. (Rudolph, 2015)

Figura 3. Mecanismos de formação dos cristais pelo método solvotérmico.

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23

A formação de pós cerâmicos pode ocorrer de duas formas: 1) dissolução de um dado

material de mesma composição do produto desejado, seguido de sua recristalização para

nucleação e crescimento; 2) dissolução da mistura dos componentes precursores seguida de

cristalização para nucleação e crescimento. (Byrappa e Yoshimura, 2013)

Um exemplo do primeiro mecanismo é o trabalho desenvolvido por López Zavala et

al. (2017) no qual partículas de morfologia esférica de dióxido de titânio (TiO2) são

convertidas em nanotubos de TiO2 em condições solvotérmicas na presença de água e

hidróxido de sódio (NaOH). Já no trabalho realizado por Dalod et al. (2017), a síntese de TiO2

é realizada a partir de isopropóxido de titânio (C12H28O4Ti) em condições solvotérmicas,

exemplificando o secundo mecanismo de cristalização.

2.1.4 Parâmetros do processo

2.1.4.1 Reagentes/precursores

Os reagentes precursores da síntese solvotérmica desempenham um papel importante

na síntese de materiais cerâmicos, pois são os portadores dos elementos que irão compor o

material sintetizado. A escolha dos reagentes mais adequados e suas concentrações dependem

de fatores como solubilidade e interação dos compostos intermediários formados durante o

processo.

O estudo da solubilidade é de grande importância, uma vez que os reagentes

precursores devem solubilizar nas condições solvotérmicas, contudo, o óxido metálico a ser

formado na recristalização desses precursores não pode apresentar alta solubilidade nessas

condições, pois isso impediria o fenômeno de nucleação. (Adschiri et al., 2001)

A solubilidade é uma função do pH da solução e das condições de pressão e

temperatura. Esses parâmetros são definidos pelas características do solvente e

mineralizadores utilizados.

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24

2.1.4.2 Solventes

De acordo com Friedman (1982), o potencial químico dos íons dispersos em um

solvente é inversamente proporcional à constante dielétrica desse meio. Essa relação afeta

diretamente a solubilidade dos precursores ou mesmo dos compostos intermediários durante

uma síntese química.

Para a água, o aumento da temperatura resulta na diminuição da sua constante

dielétrica. Abaixo da temperatura supercrítica da água (~374 °C) a constante dielétrica não

apresenta uma dependência significativa da pressão, contudo, acima dessa temperatura, a

constante dielétrica cai bruscamente para baixas pressões (~230 bar) e diminui suavemente

para pressões mais altas (~1 kbar), como pode ser visto na Figura 4. (Adschiri et al., 2001)

Figura 4. Constante dielétrica da água em função da temperatura e pressão – Adaptado de Adschiri et

al. (2001)

Alguns procedimentos de síntese solvotérmica envolvem a participação de reagentes

com boa solubilidade em diferentes solventes. Contudo, é possível adotar a mistura desses

solventes durante a síntese, de modo que a dissolução de ambos os reagentes é contemplada.

Um exemplo disso é a mistura entre água e álcool etílico. A constante dielétrica do álcool

etílico absoluto a 25 °C é de aproximadamente 24,30. Já a constante dielétrica da água para a

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25

mesma temperatura é de 78,30. Se considerarmos uma mistura desses dois solventes a 10%

em peso de álcool e 25 °C, a constante dielétrica passa a ser de 72,92. (Akerlof, 1932;

Malmberg, 1956)

Outro fator a ser considerado é o efeito das condições solvotérmicas sobre a

viscosidade do solvente. A água, por exemplo, sofre diminuição da sua viscosidade com

aumento da temperatura, como mostra a Figura 5. Levando em consideração que os processos

de difusão são inversamente proporcionais à viscosidade do fluido, com o aumento da

temperatura, há um aumento dos processos difusivos.

Figura 5. Viscosidade da água em função da densidade e da temperatura – Adaptado de Byrappa e

Yoshimura (2013)

O fluido utilizado na síntese solvotérmica, dependendo de sua natureza, pode atuar não

apenas como solvente para promover a dissolução/precipitação, mas também pode atuar como

meio de condução para a energia térmica e pressão, como um catalizador para a reação, e

como reagente, participando diretamente na reação química. (Medina-Ramos et al., 2014)

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2.1.4.3 Pressão e Temperatura

Como citado anteriormente, o solvente possui a função de conduzir a energia térmica e

a pressão do processo. A maneira como cada fluido se comporta é uma função de suas

propriedades físico-químicas. Portanto, cada solvente terá sua própria relação entre

temperatura (T) e pressão (P). A Figura 6 mostra o comportamento P x T de diferentes

solventes usualmente utilizados em sínteses solvotérmicas.

Figura 6. Relação pressão x temperatura para diferentes solventes.

De acordo com Byrappa e Yoshimura (2013), a pressão não tem qualquer efeito

significativo diretamente na taxa de crescimento de cristais, mas exerce influência sobre

outros parâmetros como transferência de massa e solubilidade.

De uma maneira geral, os possíveis efeitos da pressão na síntese solvotérmica de

materiais são:1) aumento da estabilidade térmica dos reagentes; 2) melhora na reatividade

química e da cinética das reações envolvidas; 3) estabilização de estruturas mais densas.

(Demazeau, 2010)

A pressão nesses processos pode ser autógena ou imposta. A pressão autógena está

associada à natureza físico-química da solução ou pode-se dizer do solvente utilizado. Laudise

et al. (1994) mostram que é possível variar a pressão autógena do processo apenas variando a

porcentagem de preenchimento do volume do reator, como mostra a Figura 7 para a água.

Para uma mesma temperatura, reatores com maior preenchimento de solução apresentam

maiores pressões, enquanto que aqueles com menores preenchimentos apresentam menores

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27

pressões. A pressão imposta é o resultado da compressão de um gás no interior da autoclave e

que é somada à pressão inerente do processo para uma dada temperatura.

Figura 7. Variação da pressão autógena em função do grau de preenchimento do reator com água –

Adaptado de Laudise et al. (1994)

No trabalho desenvolvido por Nosrati et al. (2019) foi demonstrada a influência da

pressão inerente para a água, variando pela porcentagem de preenchimento do reator na

síntese de hidroxiapatita, indicando que maiores pressões produzem materiais com menor

tamanho de cristalito.

Choi et al. (2018) estudaram o feito da pressão nas características de partículas de

MoS2 e também constataram mudanças de tamanho de cristalito do material em função da

variação da pressão imposta no processo (5 – 40 bar).

No estudo desenvolvido por Demoisson et al. (2014), foi comprovada a influência da

pressão imposta de 1-300 bar na síntese de cristais de ZnO. O estudo mostrou que a variação

de pressão favorece a formação de morfologias como poliedros e do tipo “flor”, com

partículas nano e micrométricas, dependendo das condições de síntese.

De uma forma geral, a literatura carece de informações detalhadas da influência da

pressão imposta nas características de materiais cerâmicos sintetizados por rotas

solvotérmicas.

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No processo de síntese solvotérmica, de maneira geral, a temperatura pode influenciar

a cinética da reação química, a solubilidade dos precursores, a estabilidade dos reagentes

(decomposição dos reagentes), a composição química do solvente (parcial decomposição do

solvente) e o estado de oxidação dos metais de transição. (Demazeau, 2010). A temperatura

pode, portanto, afetar a morfologia do material formado, bem como sua composição química

e estrutural.

O trabalho desenvolvido por Hana et al. (2014) mostra o efeito da temperatura na

síntese solvotérmica de SrBi2Nb2O2 (SBN), indicando que o aumento da temperatura do

processo é responsável pelo aumento do tamanho e morfologia das partículas, além de haver

uma melhora na cristalinidade do material obtido. Contudo, é possível notar que na condição

de menor temperatura o material ainda apresenta características amorfas e para as maiores

temperaturas, houve formação de fase secundária, não discutida pelo autor.

De acordo com Demazeau (2010), o aumento da temperatura na síntese solvotérmica

pode causar alterações nas características do solvente. Segundo o autor, na síntese de Ta3N5,

uma elevada temperatura pode causar decomposição do benzeno que até então é tido como

apenas solvente, mas passa a participar da reação como reagente.

2.1.4.4 Mineralizadores

Muitas substâncias acabam por não solubilizar apenas quando adicionadas a um dado

solvente em determinadas condições de temperatura e pressão. Os mineralizadores são

substâncias capazes de proporcionar essa solubilização. Alguns exemplos de mineralizadores

são KOH, NaOH, KBr, KCl e LiOH.

Na escolha dos mineralizadores mais apropriados para síntese solvotérmica, os

seguintes fatores devem ser levados em consideração: 1) congruência da dissolução dos

compostos precursores; 2) a solubilidade muda consideravelmente com a mudança da

temperatura ou pressão; 3) conhecimento e quantificação a solubilidade absoluta do composto

a ser cristalizado; 4) a formação de complexos móveis solúveis na solução; 5) um potencial

redox do meio indicando a existência de íons com a valência necessária. (Byrappa e

Yoshimura, 2013)

Um exemplo do efeito da presença de mineralizadores é a síntese desenvolvida por

Wang et al. (2007), na qual, na ausência de mineralizador, as partículas de BiFeO3

apresentaram tamanho de partícula submicrométrica, enquanto que, na presença de KNO3 e

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29

KOH, as partículas obtidas eram nanométricas, sem haver alteração composicional e todos os

procedimentos realizados na mesma temperatura e tempo.

2.1.4.5 Surfactantes

Os surfactantes, também conhecidos como modificadores de superfície, são

substâncias que auxiliam no controle de nucleação, homogeneidade de uma fase, tamanho,

morfologia e dispersão durante a formação de cristais. São usualmente ácidos graxos,

usualmente anfifílicos, ou seja, possuem uma parte hidrofílica e outra parte hidrofóbica

(Byrappa e Yoshimura, 2013).

Surfactantes atuam na superfície dos cristais durante a síntese solvotérmica,

promovendo um crescimento com direção controlada e proporcionando a obtenção de uma

morfologia complexa e desejada, que não seria normalmente obtida em condição se síntese

padrão (livre de aditivos).

2.2 Titanato de Bário (BaTiO3)

O titanato de bário (BaTiO3), sintetizado pela primeira vez nos anos 1950, foi o

primeiro material cerâmico sintético a apresentar o fenômeno da ferroeletricidade, sendo

classificado à época como forte candidato à aplicações como transdutor piezoelétrico.

Contudo, alguns anos depois, os titanatos zirconatos de chumbo (PZT) foram criados e

demonstraram melhores propriedades em relação ao BaTiO3 (melhor comportamento

piezoelétrico e temperatura de Curie mais elevada). (Jaffe, 1950).

Em 2002, foram implantadas diretrizes na Europa que regulamentaram a produção e

utilização de materiais com elementos tóxicos em sua composição, proporcionando o início de

uma corrida no desenvolvimento de materiais livres de chumbo (Zheng et al., 2018). Dessa

forma, as pesquisas sobre o BaTiO3 retomaram força, de modo que, nos últimos 17 anos, não

apenas a estrutura básica do BaTiO3 vem sendo detalhadamente caracterizada como também

houve um grande avanço no desenvolvimento de novas rotas de processamento, novas

composições químicas e estruturais e até mesmo novas aplicações. (Hong et al., 2016)

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2.2.1 Características Estruturais

O titanato de bário apresenta estrutura do tipo perovskita (ABO3), a qual o sítio A

representa um cátion de um metal alcalino ou alcalino terroso, e o sítio B representa um cátion

de um metal de transição.

Para o BaTiO3, essa estrutura consiste em cátions de Ba2+

localizados nos vértices da

célula unitária, enquanto que cátions de O2-

ocupam os centros das faces da célula, formando

um octaedro de oxigênios com um cátion de Ti4+

em seu centro, como mostra a Figura 8

abaixo.

Figura 8. Arranjo cristalino do BaTiO3. – Adaptado de Mendes (2015)

O BaTiO3 apresenta diferentes polimorfos, dependendo da temperatura em que se

encontra (Figura 9). Abaixo de -90°C o material possui estrutura romboédrica. Entre -90°C e

0°C o titanato de bário apresenta estrutura ortorrômbica e entre 0°C e 120°C o material possui

estrutura tetragonal. Por fim, acima de 120°C, o material apresenta estrutura cúbica.

(Carlsson, 1966)

Figura 9. Polimorfos do BaTiO3: a) tetragonal; b) ortorrômbico e c) romboédrico. – Adaptado de

Mendes (2015)

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Na fase tetragonal, uma elongação em uma das direções no parâmetro de rede, aponta

para uma célula com dimensão c ≠ a, tal que c > a. Essa distorção da célula unitária se reflete

no difratograma de tal forma que dois picos são observados entre 44° e 46° para 2θ com

radiação de CuKα de 0,15406 nm, enquanto que para uma simetria cúbica, é observado

apenas um pico nesse mesmo intervalo (Kwon e Yoon, 2007), como é mostrado na Figura 10

abaixo.

Figura 10. Picos de difração (CuKα = 0,15406 nm) referentes às fases cúbica e tetragonal do

BaTiO3 – Adaptado de Kwon e Yoon (2007).

É possível notar que o pico de menor intensidade, referente ao plano (002) da fase

tetragonal, apresenta menor intensidade quando comparado ao pico referente ao plano (200).

O pico da fase cúbica, por sua vez, está associado ao plano cristalino (200) e sua posição em

2θ está dentro da mesma região ocupada pelos picos da fase tetragonal. (Jung et al., 2010)

De acordo com Asare et al. (2011) o afastamento entre os picos (002) e (200) da fase

tetragonal, estão ligados à chamada tetragonalidade do material, que está associada à razão

c/a, ou seja, quanto maior a elongação da célula tetragonal, maior a tetragonalidade do

BaTiO3. Ainda segundo Asare et al. (2011), a tetragonalidade pode ser obtida a partir dos

dados do difratograma de raios X dos picos localizados entre 45° e 46°, aplicando-se a função

de Lorentz à lei de Bragg, como mostra a Equação 1 abaixo:

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𝑐

𝑎=

𝑑(002)

𝑑(200)=

𝑠𝑒𝑛𝜃(200)

𝑠𝑒𝑛𝜃(002)∴

𝑑:𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑝𝑙𝑎𝑛𝑎𝑟

𝜃:𝑚𝑒𝑡𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑟𝑎çã𝑜 Eq. 1

É importante perceber que a tetragonalidade não está associada ao teor de fase, mas

sim à intensidade de elongação da célula em “c”.

2.2.2 Propriedades do Material

A temperatura de transição tetragonal-cúbica (120 °C) é conhecida como temperatura de

Curie (Tc) e é de grande importância no entendimento das propriedades do BaTiO3. De acordo

com Heywang (2008), abaixo da temperatura de transição de fase o material se encontra na

fase tetragonal e é classificado como ferroelétrico, pois essa estrutura está sujeita a

polarização elétrica espontânea. A polarização ocorre devida um pequeno deslocamento do

cátion Ti4+

dentro da célula em relação à sua posição original (Figura 11), ocasionando uma

assimetria na distribuição de cargas e proporcionando a formação do dipolo elétrico. Segundo

Maxim et al. (2008), a fase tetragonal (ferroelétrica), apresenta uma razão c/a de

aproximadamente 1,01.

Figura 11. Polarização elétrica dos polimorfos do BaTiO3.

Ainda segundo Heywang (2008), após o processamento de qualquer perovskita, as

células unitárias não apresentam polarização até que seja aplicado um campo elétrico externo

a uma temperatura abaixo da Tc. Portanto, o BaTiO3 na fase tetragonal é classificado como

um ferroelétrico do tipo “por deslocamento” (“displacive type”).

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33

A constante dielétrica do BaTiO3 diminui com o aumento da temperatura à

temperaturas abaixo de 120 °C, a partir da qual, as células unitárias pedem sua assimetria,

tonando-se cúbicas, não cumprindo mais os requisitos para ocorrência de polarização. O

material se torna então paraelétrico (Dianisakhoirum et al., 2016).

Ambas as estruturas, tetragonal e cúbica estabilizadas à temperatura ambiente,

possuem grande aplicabilidade, especialmente na área de micro-eletrônica devido suas

propriedades dielétricas e ferroelétricas. De acordo com Zhu et al. (2005), a fase cúbica

representa uma forte aplicabilidade em capacitores, assim como a fase tetragonal possui

grande aplicabilidade em ferroelétricos como atuadores piezoelétricos e sensores.

De uma forma geral, trabalhos recentes apontam para aplicações do BaTiO3 em

capacitores, sensores e transdutores atuadores como, por exemplo, capacitores cerâmicos de

múltiplas camadas (Multi Layer Ceramic Capacitors – MLCC), sensores infravermelho e

termistores de coeficiente positivo de temperatura, devido suas propriedades ferroelétricas,

boas propriedades piezoelétricas e elevada constante dielétrica (Rajavaram et al., 2017; Kim,

2018).

Segundo Zhu et al. (2005), tais propriedades dependem da homogeneidade,

composição, área superficial e tamanho de partícula dos pós de partida. Zhu et al. (2005)

aponta que uma das rotas mais tradicionais de síntese do BaTiO3 consiste em realizar a

mistura de carbonato de bário com dióxido de titânio (BaCO3 + TiO2) e submetê-la a uma

tratamento térmico com temperatura acima de 1000 °C. Todavia, esse processo, produz

partículas de tamanho não uniforme e morfologias irregulares.

De acordo com Tani et al. (2001) há uma demanda contínua de capacitores com alta

capacitância e mais compactos, e com isso, requerem a produção de pós cerâmicos finos de

modo a aumentar a reatividade durante a sinterização, reduzindo a temperatura de

processamento e possibilitando a conformação de camadas de 2-3 micrômetros.

Assim sendo, existem diversas rotas químicas úmidas propostas para produção de

nanopartículas de BaTiO3.

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34

2.2.3 Síntese do BaTiO3

2.2.4 Método de Reação no Estado Sólido

O método de reação no estado sólido para obtenção de partículas de BaTiO3 consiste,

de maneira geral, na mistura equimolar de carbonato de bário (BaCO3) com dióxido de titânio

(TiO2), seguido de um tratamento térmico acima de 1000 °C. Os pós precursores podem

passar por um processo inicial de ativação mecânica em moinho de alta energia. Contudo,

essa metodologia, apesar de ser intensamente adotada pela indústria pela sua facilidade de

execução e capacidade de produção em larga escala, traz diversas desvantagens que podem

comprometer a aplicação do material como a formação de partículas grandes, alta incidência

de contaminação pela formação de fases secundárias (BaCO3, TiO2 e Ba2TiO4, etc), além de

pós altamente aglomerados e elevado gasto energético devido às elevadas temperaturas de

processamento. (Pavlović et al., 2008)

2.2.4.1 Métodos Pechini e Sol-Gel

No estudo realizado por Brito e Gouvêa (2010), a rota de síntese por precursores

poliméricos (Pechini) foi utilizada para produzir BaTiO3 nanocristalino. Durante o processo,

dois tratamentos térmicos foram necessários: um primeiropara formação do material precursor

onde o gel precursor sofre decomposição de parcela orgânica, formando um material amorfo

ou semicristalino. O material é então desaglomerado e passa por um tratamento térmico de

calcinação. Ao fim do processamento, mesmo nas condições máximas de temperaturas de

tratamento térmico, ainda é possível detectar traços de BaCO3.

Um segundo exemplo a ser citado, é a síntese de nanopartículas via Sol-Gel realizada

por Ashiri et al. (2011), que ao final do processamento, também constatou presença de

carbonato de bário e indicou que a eliminação dessa fase só é possível em temperaturas de

calcinação superiores a 700 °C.

Portanto, assim como afirma Zhu et al. (2005), os pós obtidos pelas técnicas Pechini e

Sol-Gel apresentam características que podem comprometer a aplicação do material, uma vez

que os métodos geram materiais amorfos ou compostos de precursores que precisam ser

submetidos a tratamentos térmicos de calcinação, aumentando a probabilidade de formação de

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35

impurezas e contaminações, além de representar uma maior dificuldade operacional,

consumindo maiores quantidades de energia e tempo.

2.2.4.2 Método Solvotérmico

O método solvotérmico é também uma rota de síntese úmida bastante utilizada na

obtenção de pós de BaTiO3 nanoestruturados. De uma maneira geral, quando comparada às

demais rotas de síntese de materiais óxidos, a rota solvotérmica se destaca em aspectos como:

1) baixa temperatura de processamento, 2) não envolve formação de compostos

intermediários amorfos, 3) baixa incidência de contaminação e formação de BaCO3, 4) não

necessita de posterior tratamento térmico como calcinação, 5) uniformidade e fácil controle da

distribuição do tamanho e morfologia das partículas.

Sínteses solvotérmicas do titanato de bário podem ser realizadas a temperaturas da

ordem de dezenas a algumas centenas de graus Celsius e tempos que partem de alguns

minutos até dias. Essas temperaturas estão bastante abaixo da temperatura de calcinação das

rotas tradicionais (700-1000 °C), o que representa uma economia energética considerável.

Outro fator importante a ser considerado é o pH da solução precursora. Segundo

Maxim et al. (2008), é necessário que o pH da solução seja superior a 12 pois abaixo disso, há

um aumento na solubilidade do BaTiO3. A síntese pode até ser executada em pH inferior,

mas requer maior temperatura.

Frequentemente, a síntese solvotérmica do BaTiO3 envolve a utilização de precursores

como óxidos, cloretos, hidróxidos, nitratos e alcóxidos metálicos. Uma solução contendo

esses precursores quando em contato um solvente como a água, por exemplo, propicia a

formação de compostos intermediários. Esses compostos sofrem hidrólise em condições

solvotérmicas, liberando os cátions metálicos e propiciando a nucleação e crescimento dos

cristais de BaTiO3 durante o processo.

De maneira simplificada, a reação é descrita da seguinte forma:

𝐵𝑎2+ + 𝑇𝑖4+ + 6𝑂𝐻− → 𝐵𝑎𝑇𝑖𝑂3 + 3𝐻2𝑂 Eq. 2

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36

Um fato importante sobre a formação dos cristais de BaTiO3 pela rota solvotérmica é a

estabilização de fase aparentemente cúbica em condições ambiente, mesmo abaixo da

temperatura de Curie (120 °C). De acordo Hongo et al. (2018), a estabilização dessa fase

cúbica se dá pelo fato da entrada de íons hidroxila (OH-) (provenientes dos precursores da

síntese) nos sítios do oxigênio nas camadas mais superficiais das partículas e consequente

compensação de cargas por meio de formação de vacâncias catiônicas nos sítios referentes à

Ba2+

(Figura 12). A assimetria tetragonal não é atingida e a razão c/a torna-se muito próxima

da unidade, característica da simetria cúbica e, portanto, esse arranjo é conhecido como

“pseudocúbico”.

Figura 12. Arranjo da célula unitária do BaTiO3 com a entrada de grupos hidroxila – Adaptado de

Hongo et al. (2018)

Hoshina et al. (2008) propôs um modelo para as partículas de BaTiO3 que consiste em

um núcleo tetragonal, passando por uma região intermediária de transição, até atingir uma

camada mais externa com estrutura cúbica como mostra a Figura 13.

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37

Figura 13. Modelo de distribuição de estruturas cúbica e tetragonal em nanopartículas de BaTiO3 –

Adaptado de Hoshina et al. (2008)

A razão entre área superficial e volume diminui com o aumento do tamanho da

partícula. Em outras palavras, à medida que as partículas crescem, o volume do núcleo

tetragonal se torna proporcionalmente maior em relação ao volume da “casca” pseudocúbica,

aumentando assim o teor de fase tetragonal.

Segundo Shi et al. (1997), a utilização de excesso de bário durante a síntese do

material ajuda a promover uma diminuição da concentração de vacâncias de Ba2+

.

A ocorrência das fases pseudocúbica e tetragonal, ao mesmo tempo, tem como

consequência a sobreposição dos picos no difratograma de raios X, especialmente quando o

teor de fase pseudocúbica é superior ao da tetragonal (Figura 14), dificultando a quantificação

das fases, bem como o cálculo da tetragonalidade do material.

Figura 14. Efeito da ocorrência simultânea das fases tetragonal e cúbica sobre o difratograma do

BaTiO3.

O método de síntese solvotérmico permite a manipulação de características do

material por meio da variação de parâmetros de processamento como: 1) tipos e

concentrações dos precursores, 2) surfactantes, 3) temperatura e tempo 4) pressão.

A literatura apresenta diversos trabalhos relatando a influência dos reagentes

precursores sobre as características do BaTiO3 sintetizado via rota solvotérmica. A seguir,

estão alguns exemplos que retratam essa abordagem.

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38

Zhu et al. (2005), realizou estudos da síntese hidrotérmica do BaTiO3 partindo de duas

combinações diferentes de precursores, bem como diferentes condições de temperatura. Na

primeira rota foram utilizados precursores hidróxido de bário e hidróxido de titânio em uma

proporção Ba:Ti de 1:1, que foram tratados via síntese hidrotérmica a 100 °C por 5 h. Na

segunda rota, foram utilizados hidróxido de bário e dióxido de titânio na fase anatase, além

de KOH como agente mineralizador alcalino. A solução foi tratada hidrotermicamente a 220

°C por 72 h. Ambas as rotas obtiveram materiais nanoestruturados, contudo, a primeira rota

apresentou uma distribuição de tamanho de partículas monomodal esféricas, enquanto que a

segunda rota apresentou uma distribuição bimodal de partículas facetadas.

Ávila et al. (2011) demonstraram a influência de diferentes precursores à base de

titânio nas propriedades elétricas do BaTiO3 sintetizado via síntese solvotérmica. As amostras

foram preparadas a partir de duas composições de solução precursora: 1) Dióxido de titânio

com hidróxido de bário e 2) isopropóxido de titânio também com hidróxido de bário. Ambas

tratadas a 180°C por 24 h numa proporção Ba/Ti de 1.01. A amostra sintetizada a partir do

TiO2 apresentou maior polarização quando submetida a um campo elétrico externo.

Há na literatura, alguns trabalhos abordando a influência da temperatura e do tempo de

síntese solvotérmica nas propriedades do BaTiO3. Contudo, de uma forma geral, esses

trabalhos abordam esse tema de maneira superficial, seja na ausência de detalhes importantes

que deveriam ser abordados, seja na tentativa de justificar essas influências a partir de

combinações de parâmetros aparentemente aleatórias.

Habib et al. (2008), avaliou a influência da temperatura, do tempo e do tamanho das

partículas de TiO2 precursoras para síntese solvotérmica de BaTiO3. O aumento da

temperatura proporcionou uma variação na morfologia das partículas, promovendo a

formação de partículas com forma irregular e considerável porosidade para baixas

temperaturas (60 °C) até partículas facetadas e densas para temperaturas mais altas (150 °C).

O aumento do tempo pode ajudar na eliminação da fase BaCO3, além de promover um

aumento no tamanho de cristalito. Contudo, os intervalos de tempo e temperatura

apresentados nesse trabalho ajudam no melhor entendimento da influência dos parâmetros na

formação da fase, porém, não há um devido detalhamento da influência desses parâmetros

sobre tamanho ou morfologia das partículas.

Hayashi e Ebina (2018), tratam da influência da temperatura nas características do

BaTiO3. Contudo, utiliza temperaturas relativamente altas (200-400 °C) além de não haver

uma análise do efeito da temperatura sobre a morfologia das partículas.

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39

(Habib et al., 2011) propõem a influência da temperatura e do tempo na síntese do

BaTiO3. Todavia as combinações desses parâmetros são aleatórias, o que inviabiliza justificar

suas influências sobre as características do material obtido.

Não há na literatura, conteúdo relevante sobre a influência da pressão na síntese

solvotérmica do BaTiO3.

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CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Projeto do Reator de Síntese Solvotérmica

A construção de um reator de síntese solvotérmica foi proposta para o

desenvolvimento de pesquisas para obtenção de materiais cerâmicos, possibilitando a síntese

de partículas tanto em condições usuais de operação, variando temperatura e tempo de

processo, como também, através de uma adaptação da configuração do equipamento,

possibilitando a manipulação da variável pressão, que normalmente é considerada apenas

como inerente ao sistema analisado.

O material utilizado na confecção do reator de síntese foi o AISI 316L, conhecido

como aço cirúrgico. O aço 316L é inoxidável e apresenta uma das maiores resistências à

corrosão dentre os aços da série 300, pois possuem alto teor de molibdênio (~2,5%) e teor de

carbono relativamente baixo, sendo um excelente candidato para operar em meios corrosivos.

A vedação adotada foi do tipo cônica com aperto por meio de flange de seis parafusos, como

mostra a Figura 15.

Figura 15. Projeto do reator de síntese solvotérmica.

Copos de PTFE com capacidade de 125 mL foram confeccionados e empregados

como liners para evitar o contato direto da solução precursora com o metal da autoclave.

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42

Elementos anexados ao flange do reator compõem os sistemas de medição de

temperatura (termopar tipo K) e pressão (transdutor de pressão PMáx = 100 bar) e válvula de

vedação/controle de fluxo do tipo agulha para alta pressão. Todos os periféricos anexados ao

autoclave foram confeccionados em materiais resistentes à alta temperatura e condições de

corrosão como aço inox 316, PTFE e cerâmicos.

Para o sistema de aquecimento, foi utilizada uma resistência elétrica do tipo coleira

confeccionada em aço inox. Já para a parte de controle, aquisição e processamento de sinais e

indicação grandezas, foram utilizados um controlador PID de temperatura e tempo com

controle via relé de estado sólido e um indicador de pressão com indicação de duas casas

decimais na unidade “bar”. O sistema de controle foi conectado a um desktop com wi-fi

para controle e monitoramento remoto via software e por meio de uma web-cam.

Para as sínteses com controle de pressão, foi instalado um cilindro de argônio

ultrapuro (99,999%) e uma linha de gás, com válvula para purga, até o local de operação do

reator, com o qual é ligado através de um engate rápido para alta pressão. Um local fechado

foi reservado para operação do equipamento para evitar qualquer tipo de dano ao operador ou

outros membros do laboratório.

A montagem do equipamento consiste em itens destacáveis, de modo a permitir a

retirada de todos os tubos e fiações após o processo, facilitando a manipulação para

montagem e desmontagem do reator. Todos os itens que compõem o sistema de síntese

podem ser vistos na Figura 16.

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43

Figura 16. Sistema para síntese solvotérmica a alta pressão.

3.2 Síntese dos compostos BaTiO3

3.2.1 Preparo da Solução Precursora

Os reagentes precursores fontes de cátions metálicos adotados para a síntese

solvotérmica do BaTiO3 foram o tetra-isopropóxido de titânio (TTIP) e o nitrato de bário.

Uma mistura de água deionizada e álcool etílico absoluto foi utilizada como solvente da

reação. Ácido acético glacial foi utilizado para proporcionar um efeito tampão na solução de

TTIP. Hidróxido de potássio foi adotado como agente mineralizador, além de proporcionar o

início da reação química.

A Tabela 3 apresenta as especificações dos precursores envolvidos na reação.

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Tabela 3. Especificações dos precursores utilizados na síntese de BaTiO3.

Reagente Fórmula

Molecular Procedência Pureza (%)

Tetra-isopropóxido

de titânio C12H28O4Ti Sigma-Aldrich 97%

Nitrato de Bário Ba(NO3)2 Vetec >99%

Hidróxido de

Potássio KOH Sigma-Aldrich 90%

O procedimento de preparação das soluções precursoras foi criado a partir de três

trabalhos distintos, cada um destes, contribuindo com proporções entre reagentes. Tais

proporções e seus respectivos autores estão disponíveis no Apêndice A desta tese,

representadas pelas Equações A2-4.

Os cálculos para as quantidades dos precursores também encontra-se no Apêndice A

expressas pelas Equações A2-6 e o procedimento resumido é ilustrado na Figura 17.

Figura 17. Metodologia de preparação das soluções precursoras.

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45

A solução precursora foi preparada a partir de três soluções iniciais:

- Solução #1: água deionizada, etanol e nitrato de bário;

- Solução #2: etanol, TTIP e ácido acético;

- Solução #3: solução aquosa de KOH a 1M.

O volume total de etanol foi dividido com ¾ de seu volume utilizado na solução #1 e

¼ na solução #2.

O volume total de água deionizada também foi fracionado. Testes apontaram que

15mL de solução a 1M de KOH eram suficientes para atingir pH=14. Portanto, o volume de

água utilizado na solução #3 foi considerado como o volume de solução aquosa de KOH (15

mL), enquanto que os 75,2 mL de água restantes compuseram a solução #1.

A solução #1 partiu da agitação magnética de 75,2 mL de água deionizada à

temperatura ambiente. Foram então adicionados 0,9808 g de nitrato de bário e após total

dissolução, foram adicionados 6,6 mL de etanol.

A solução #2 partiu de 2,2mL de etanol, seguido da adição de 0,1mL de ácido acético

e 1,0mL de TTIP.

A solução #2 foi então lentamente gotejada na solução #1 sob intensa agitação,

promovendo a formação de óxidos hidrosos de coloração branca. A formação desses

precipitados é descrita por Vijatović Petrović et al. (2008) indicando que o contato da solução

#1 com a água promove a hidrólise parcial do tetra-isopropóxido de titânio, seguido de uma

condensação e formação dos precipitados amorfos.

Posteriormente, foram adicionados 15mL de solução de KOH. O pH foi medido em 14

e a solução permaneceu sob agitação por 2h.

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46

3.2.2 Tratamento Solvotérmico

Após o preparo, as soluções percursoras foram introduzidas individualmente em um

copo de PTFE, que por sua vez foi inserido no reator para tratamento solvotérmico.

Para o caso das amostras sintetizadas com pressão imposta pela injeção de argônio

ultrapuro comprimido, o reator foi conectado à linha de gás e pressurizado antes do processo

de aquecimento. As pressões tratadas nesta tese se referem à pressão relativa (PAbsoluta –

PAtmosférica) tanto para as condições de baixa pressão (inerente), quanto para alta pressão

(impostas pelo gás Ar).

Um mapeamento foi realizado em condições usualmente tratadas na literatura, com

temperaturas de 120 °C - 180 °C e tempos de 6 h – 24 h. Uma segunda investigação foi

realizada para determinar a menor condição de formação do material, de 80 °C – 120 °C e 15

min – 3 h. A combinação de 180 °C e 18 h de processamento foi adotada para reprodução sob

alta pressão por injeção de gás. As Tabelas 4, 5 e 6 apresentam as combinações dos

parâmetros de processo (temperatura, tempo e pressão) das amostras denominadas “BTLC”

para sínteses em baixas condições, “BT” condições intermediárias à pressões inerentes e

“BTHP” para altas pressões.

Tabela 4. Amostras BTLC sintetizadas em baixas condições para determinação da menor combinação

de temperatura e tempo na formação do BaTiO3.

Amostra Temperatura (°C) Tempo (h) Pressão Relativa (bar)

BTLC1 80 24 0,5 (inerente)

BTLC2 110 0,25 (15 min) 1,5 (inerente)

BTLC3 120 0,25 (15 min) 2,0 (inerente)

BTLC4 120 1 2,0 (inerente)

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Tabela 5. Combinações de parâmetros para amostras BT sintetizadas entre 120°C e 180°C por 6h a

24h em condição de pressão inerente.

Amostra Temperatura (°C) Tempo (h) Pressão Relativa (bar)

BT01 120 6

2,0 (inerente) BT02 120 12

BT02 120 18

BT04 120 24

BT05 140 6

3,9 (inerente) BT06 140 12

BT07 140 18

BT08 140 24

BT09 160 6

6,3 (inerente) BT10 160 12

BT11 160 18

BT12 160 24

BT13 180 6

10,5 (inerente) BT14 180 12

BT15 180 18

BT16 180 24

Tabela 6. Combinações de parâmetros de temperatura, tempo e pressão imposta para síntese de

BaTiO3 sob alta pressão (BTHP).

Amostra Temperatura (°C) Tempo (h) Pressão Relativa (bar)

BTHP1 180 18 20 (imposta)

BTHP2 180 18 50 (imposta)

BTHP3 180 18 80 (imposta)

3.2.3 Lavagem dos Materiais Sintetizados

Os materiais resultantes do tratamento solvotérmico foram lavados para eliminação de

impurezas e regulação de pH. As misturas de 100 mL contendo precipitado sólido mais

líquido foram homogeneizadas e separadas em tubos falcon e centrifugadas a 5500 rpm por

10 minutos, resultando na separação quase total de fases. Nesse ponto, a fase líquida foi

descartada e o pó precipitado passou então por cinco etapas de lavagem com ácido acético,

água deionizada e acetona, passando por agitações em banho ultrassônico e centrifugações a

5500 rpm por 10 minutos, conforme fluxograma da Figura 18. Por fim, os pós foram então

misturados com acetona, dispersos por ultrassom e a suspensão colocada em placa de Petri

para secagem em estufa a 60 °C por 12 h.

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48

Figura 18. Fluxograma do processo de lavagem dos pós sintetizados.

Após o processo de lavagem e secagem, os pós foram desaglomerados em almofariz e

separados para caracterizações.

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3.3 Caracterização dos pós sintetizados

3.3.1 Difração de raios X (DRX)

A estrutura cristalina dos pós sintetizados foi caracterizada por difratometria de raios

X pelo método do pó em difratômetro Bruker, modelo D8 Advance Eco. O intervalo adotado

para 2θ foi de 20° a 80° com incremento de 0.02 ° e tempo de passo de 1 s para identificação

das fases formadas e coleta dos parâmetros para o cálculo dos tamanhos de cristalito. Os

testes foram realizados à temperatura ambiente com radiação kα de cobre (λCu = 1,5418Å).

Os cálculos de tamanho de cristalito foram realizados a partir da equação de Scherrer

(Equação 3) para os picos de difração de maior intensidade (2θ ≈ 31,5°).

𝜏 =𝐾×λ

𝛽×𝑐𝑜𝑠𝜃 ∴

𝜏=𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑟𝑖𝑠𝑡𝑎𝑙𝑖𝑡𝑜 (𝑛𝑚) 𝐾=𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎

λ=comprimento de onda da radiação (nm)𝛽=𝑙𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 à 𝑚𝑒𝑖𝑎 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑟𝑎𝑑)

𝜃=â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑟𝑎çã𝑜 (𝑟𝑎𝑑)

Eq. 3

3.3.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A morfologia e o tamanho das partículas de BaTiO3 foram avaliadas pelo método de

microscopia eletrônica de varredura com emissão de campo (MEV-FEG) Zeiss, modelo

Auriga 40. As amostras foram dispersas em acetona absoluta sob agitação ultrassônica e em

seguida, as suspensões foram depositadas em fitas de carbono seguido da evaporação do

solvente, não havendo necessidade de metalização das partículas.

3.3.3 Análise de Área Específica (BET) por adsorção de nitrogênio

As áreas específicas das amostras foram calculadas pelo método de Brunauer-Emmet-

Teller (BET) a partir dos dados de adsorção física de N2 BEL Japan, modelo BELSORP-

miniII.

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50

CAPÍTULO 4

RESULTADOS

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51

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Sínteses Solvotérmicas

O equipamento construído para execução das sínteses solvotérmicas apresentou

excelente controle de temperatura, boa resistência à corrosão para a solução precursora e

excelente vedação, estando livre de qualquer vazamento.

Os dados de temperatura e pressão foram coletados durante o processo de síntese das

partículas de BaTiO3, e as curvas resultantes estão ilustradas na Figura 19.

Figura 19. Curvas P x T dos procedimentos solvotérmicos para obtenção de partículas de BaTiO3.

As soluções submetidas a tratamento solvotérmico com pressão inerente

experimentaram um discreto aumento da pressão com o aumento da temperatura ambiente até

os 100°C. Esse ponto de inflexão experimentado por todas as curvas está associado à

mudança de fase líquidovapor da parcela da água presente na solução. Uma vez que cerca

de 90% da solução é composta por água, esse comportamento é tido como esperado. As

sínteses realizadas a 80 °C, 110 °C, 120 °C, 140 °C, 160 °C e 180 °C sob pressão inerente

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52

estão contidas na curva de cor preta, com respectivas pressões de 0,5 bar, 1,0 bar, 2,0 bar, 3,9

bar, 6,3 bar e 10,5 bar.

As curvas referentes às condições de alta pressão imposta pela injeção de Ar se

referem às sínteses realizadas a 180°C por 18h. Essa combinação de parâmetros foi escolhida

como ideal para os testes com pressão imposta por apresentar partículas com morfologia bem

definida e relativamente grandes, o que facilitaria a observação de detalhes da estrutura das

partículas por microscopia eletrônica de varredura, mantendo uma boa resolução.

A injeção do gás foi realizada à temperatura ambiente. É importante notar que a

pressão inicial é menor que a diferença entre a pressão final desejada e a pressão inerente para

aquela temperatura. Por exemplo: a síntese realizada a 180°C tem 10,3 bar de pressão

inerente. Contudo, para atingir a pressão de 80 bar, não se utiliza a diferença 80 - 10,3 = 69,7

bar como pressão inicial. É preciso apenas de 47 bar. Isso se deve ao fato da pressão imposta

pelo gás modificar o comportamento termodinâmico do sistema. O mesmo ocorre nos

processos de síntese a 50 bar e 20 bar partiram de pressões iniciais de apenas 25 bar e 8 bar de

argônio pressurizado.

Outro aspecto importante é o aumento da taxa de crescimento da pressão em função da

temperatura no intervalo entre a temperatura ambiente até aproximadamente 100°C em

função da pressão inicial. A amostra com pressão inicial de 8 bar (BTHP1) apresenta uma

taxa muito semelhante à síntese com pressão relativa inicial igual a zero. O processo com

pressão inicial de 24,5 bar (BTHP2) apresenta uma taxa de aumento da pressão superior à

BTHP1, enquanto que a amostra com pressão inicial de 47 bar (BTHP3) apresenta a maior

taxa de aumento da pressão em função da temperatura dentre todos os processos.

Após os tratamentos solvotérmicos com injeção de argônio, as soluções apresentaram

intensa gaseificação.

Em termos de quantidade de pó formado, o rendimento médio das sínteses realizadas

foi de aproximadamente 70 % com cerca de 0,55 g de pó formado para uma solução

precursora de 100 mL.

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53

4.2 Difração de raios X (DRX)

Os difratogramas dos materiais sintetizados estão expostos nas Figuras 20-23.

Figura 20. Difratogramas das amostras sintetizadas a 120°C e pressão inerente: a) visão geral; b)

ampliação no intervalo do pico principal (110).

Figura 21. Difratogramas das amostras sintetizadas a 140°C e pressão inerente: a) visão geral; b)

ampliação no intervalo do pico principal (110).

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54

Figura 22. Difratogramas das amostras sintetizadas a 160°C e pressão inerente: a) visão geral; b)

ampliação no intervalo do pico principal (110).

Figura 23. Difratogramas das amostras sintetizadas a 180°C e pressão inerente: a) visão geral; b)

ampliação no intervalo do pico principal (110).

De um modo geral, todas as amostras sintetizadas entre 120°C e 180°C, por 6h a 24h

apresentaram apenas a fase BaTiO3, indexada pela carta ICSD 086286 para a fase tetragonal e

livre de fases secundárias como carbonato de bário (BaCO3).

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55

A Figura 24 mostra uma ampliação de um pico de difração para 2θ ≈ 45°

representativo para as amostras sintetizadas. É possível associar esse pico ao plano de

difração (200) da fase cúbica do BaTiO3. Contudo, essa é na verdade a fase metaestável

pseudocúbica, característica dos compostos BaTiO3 sintetizados via síntese solvotérmica

devido a entrada de grupos OH- na rede cristalina nos sítios do oxigênio, causando vacâncias

de Ba2+

e distorção da rede tal que uma simetria cúbica é atingida.

Para a fase pseudocúbica, a razão c/a tendendo à unidade resulta na aproximação dos

picos de difração (200) e (002) referentes à fase tetragonal, de modo que ambos os picos

formam o que aparenta ser um único pico de difração. A presença de uma parcela tetragonal é

justificada pelo modelo de gradiente estrutural apresentado por Hoshina et al. (2008), de tal

forma que o núcleo das partículas apresenta simetria tetragonal, enquanto que há uma camada

superficial pseudocúbica, ambas as regiões separadas por uma região de transição estrutural.

A superposição dos picos de difração (002) e (200) para a fase tetragonal e (200) da fase

pseudocúbica tornam inviável uma caracterização refinada de seus teores e uma determinação

precisa dos parâmetros de rede.

As ampliações sobre 2θ ≈ 31,5° (Figuras 19 – 22b) indicam uma tendência típica de

picos sobrepostos que, segundo West (2014), correspondem aos planos de difração (101) – de

maior intensidade, à esquerda – e (110) – de menor intensidade, à direita – relacionados à fase

tetragonal do BaTiO3, reforçando a existência de uma parcela dessa fase nas partículas

sintetizadas. A concentração de fase pseudocúbica em relação à tetragonal pode estar

associada ao tamanho e morfologia das partículas, uma vez que quanto menores estas, maior

sua razão entre área superficial e volume, e consequentemente, maior a fração de superfície

pseudocúbica.

Figura 24. Difratograma representativo na região de observação das fases tetragonal e cúbica (~45°).

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56

A Figura 25 mostra os difratogramas das sínteses de investigação de menores

condições de temperatura e tempo.

Figura 25. Difratogramas das amostras BTLC sintetizadas em baixas condições de temperatura e

tempo com pressão inerente.

A diminuição do tempo de processamento para a temperatura de 120°C apresentou

formação de fase mesmo em apenas 15 minutos. Contudo, com a diminuição da temperatura

para 110°C para esse mesmo tempo, o difratograma apresenta perfil intensamente amorfo,

com formação de um pico pouco expressivo na mesma posição de 2θ do pico de maior

intensidade do BaTiO3. Pode-se dizer que para 110°C, há energia disponível suficiente para

nucleação de partículas de titanato, mas o tempo de 15 minutos é relativamente curto para que

a reação ocorra. Por fim, a síntese realizada a 80°C por 24h apresentou um perfil

completamente amorfo, indicando a impossibilidade de obtenção da fase BaTiO3 em

condições inferiores a estas.

A Figura 26 ilustra os difratogramas das amostras sintetizadas a alta pressão e também

a amostra sintetizada nas mesmas condições de temperatura e tempo (180°C por 18h) como

referência.

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57

Figura 26. Difratogramas das amostras BTHP sintetizadas sob elevada pressão comparadas à

sintetizada sob pressão inerente.

Todas as amostras sintetizadas sob alta pressão apresentaram a estabilização de fase

única (BaTiO3 – pseudocúbica), livre de contaminações e assim como as amostras sintetizadas

entre 120 °C – 180 °C sob pressão inerente, possuem os picos (101) e (110) referentes à fase

tetragonal, picos esses ainda mais bem definidos (menos sobrepostos) que as demais

amostras. Portanto, as amostras sintetizadas sob alta pressão também acompanham o modelo

de distribuição de estruturas proposto por Hoshina et al. (2008).

Os valores de tamanho de cristalito das amostras sintetizadas são apresentados na

Tabela 7.

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58

Tabela 7. Tamanho de Cristalito das amostras de BaTiO3 sintetizadas pelo método solvotérmico.

Amostra Temperatura (°C) Tempo (h) Pressão

Relativa (bar)

Tamanho de

Cristalito (nm)

BT01 120 6

2,0 (inerente)

52,42

BT02 120 12 49,16

BT02 120 18 49,16

BT04 120 24 49,16

BT05 140 6

3,9 (inerente)

46,28

BT06 140 12 43,71

BT07 140 18 43,73

BT08 140 24 41,73

BT09 160 6

6,3 (inerente)

46,30

BT10 160 12 41,45

BT11 160 18 41,45

BT12 160 24 41,43

BT13 180 6

10,5 (inerente)

43,73

BT14 180 12 41,43

BT15 180 18 41,45

BT16 180 24 43,75

BTHP1 180 18 20 (imposta) 46,30

BTHP2 180 18 50 (imposta) 46,36

BTHP3 180 18 80 (imposta) 49,22

Os dados da tabela mostram uma pequena variação relativa no tamanho de cristalito

das amostras sintetizadas de 120 – 180 °C e 6 – 24 h sob pressão inerente. Além disso, como

pode ser melhor observado na Figura 27, para cada grupo de temperaturas, as amostras

sintetizadas por 6 h apresentam o maior tamanho de cristalito, seguido de uma queda dessa

dimensão quando sintetizadas por 12 h. Outro fato observado é que todas as amostras

mantiveram o tamanho de cristalito constante mesmo com acréscimo de tempo de 12 para 18

horas de síntese. As amostras sintetizadas a 120 °C e 160 °C por 24 h seguiram mantendo o

tamanho de cristalito constante, enquanto que as amostras sintetizadas a 140 °C e 180 °C pelo

mesmo tempo apresentaram, respectivamente, diminuição e aumento no tamanho de cristalito.

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59

Figura 27. Influência do tempo de processamento no tamanho de cristalito das amostras de BaTiO3

sintetizadas pela rota solvotérmica com pressão inerente.

Já as amostras sintetizadas sob alta pressão apresentaram os maiores tamanhos de

cristalito, seguindo uma tendência de aumento com o aumento da pressão como mostras a

Figura 28.

Figura 28. Influência da pressão sob o tamanho de cristalito de amostras sintetizadas a 180 °C por 18 h

sob alta pressão.

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60

4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A Figura 29 mostra a morfologia do composto proveniente do processo a 80 °C por

24h (BTLC1). Todas as partículas do material apresentaram morfologia esférica com

superfície rugosa. Cruzando essas informações com os dados de DRX, é possível afirmar que

essas partículas correspondem à um composto amorfo. Pode-se dizer também que a

temperatura e o tempo não favoreceram a solubilização desses compostos para formação do

BaTiO3.

Figura 29. Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 80 °C por 24 h (BTLC1).

A Figura 30 se refere ao material sintetizado a 120 °C/15 minutos (BTLC3).

Figura 30. Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 120 °C por 15 min (BTLC3).

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61

É possível notar a existência de aglomerados de partículas altamente rugosas e

aparentemente organizadas obedecendo a uma dada direção preferencial. Essa morfologia

parece representar o início da formação dos chamados mesocristais.

De acordo com Souza et al. (2014), os mesocristais se formam partindo da nucleação

de partículas do material sintetizado, seguida do processo de “self-assembly” no qual essas

entidades se unem espontaneamente em uma direção preferencial. O trabalho desenvolvido

por Zhan et al. (2012) ilustra a formação de mesocristais de BaTiO3 a partir de precipitados

amorfos, como mostra a Figura 31.

Figura 31. Formação de mesocristais de BaTiO3 a partir de fase amorfa. – Adaptado de Zhan et al.

(2012).

Apesar da indicação da fase cristalina do DRX, a amostra BTLC3 apresenta também

uma quantidade considerável de partículas esféricas com mesmas características dos

compostos amorfos da amostra BTLC1. Essa parcela de material não pôde ser detectada no

difratograma, pois a intensidade dos picos de difração da fase BaTiO3 foram suficientemente

altos para a inibição do perfil amorfo.

As micrografias das amostras sintetizadas a 120 °C estão representadas na Figura 32.

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62

Figura 32. Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 120 °C por: 6 h (a - b); 12 h (c

- d); 18 h (e - f) e 24 h (g – h).

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63

A amostra BT01 (Figura 32a-b) foi sintetizada a 120 °C por 6 h. Com o aumento do

tempo de síntese ainda é possível notar a existência de partículas amorfas, contudo, é

perceptível a evolução da estrutura dos mesocristais com aglomerações de cubos de

aproximadamente 85 nm de aresta.

Com o aumento do tempo para 12 h (Figura 32c-d) há uma redução do teor da parcela

amorfa e o aumento do teor de mesocristais, indicando que, de fato, há solubilização do

precipitado amorfo, seguida da precipitação da fase cristalina e apontando que o processo de

solubilização/precipitação é função do tempo de processamento.

A diminuição do teor da parcela amorfa e maior desenvolvimento dos mesocristais

segue para um tempo de 18 h a 120 °C (Figura 32e-f). Além disso, é possível notar a

formação de algumas partículas de morfologia ligeiramente esférica, mas com textura de

superfície diferente dos precipitados amorfos.

Por fim, a síntese realizada a 120 °C por 24 h (Figura 32g-h) apresentou o menor teor

de partículas amorfas e maior desenvolvimento de mesocristais. Mais uma vez confirmando o

favorecimento do mecanismo de dissolução/precipitação com o aumento do tempo.

As micrografias das amostras sintetizadas a 140 °C estão representadas na Figura 33.

.

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64

Figura 33. Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 140 °C por: 6 h (a - b); 12 h (c

- d); 18 h (e - f) e 24 h (g – h).

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65

As Figuras 33a-b mostram as partículas obtidas a 140 °C por 6 h (BT05). O material

apresenta duas estruturas predominantes: a primeira referente a mesocristais e a segunda com

morfologia irregular e textura de superfície lisa, semelhante à morfologia obtida por Ávila et

al. (2013) na síntese hidrotérmica de partículas de BaTiO3. O teor dessas duas morfologias é

semelhante. Algumas partículas amorfas também foram detectadas, contudo, apresentaram

teor extremamente baixo quando comparadas às demais morfologias.

Nas Figuras 33c-d, as partículas sintetizadas nessa mesma temperatura, porém, por 12

h (BT06) já não apresentam mais traços amorfos. Além disso, parece haver um aumento no

teor das partículas de morfologia irregular e uma diminuição do teor dos mesocristais. Houve

também um sutil aumento do tamanho médio das partículas em relação à amostra BT05.

O efeito do aumento do tempo de processamento para 18 h (BT07) pode ser visto nas

Figuras 33e-f. Ainda é possível notar uma evolução na diminuição do teor de mesocristais em

relação à amostra BT06, acompanhado do crescimento dos cristais de morfologia irregular,

crescimento esse muito sutil, porém, perceptível. Outro aspecto a ser notado está destacado na

Figura 33e e indica regiões com aspecto de estricção destacados pelas linhas tracejadas

vermelhas. Essa característica aponta para a ocorrência do fenômeno conhecido como

agregação orientada (oriented aggregation). Segundo Zhang et al. (2010), esse fenômeno

ocorre quando partículas relativamente pequenas, que consequentemente possuem elevada

energiade superfície, tendem a agregar-se de maneira cristalograficamente orientada, seguido

de uma auto-recristalização e formação de uma partícula de maior dimensão e menor energia

de superfície, resultando em um sistema menos energético e mais estável, conforme ilustrado

na Figura 34.

Figura 34. Ilustração do processo de formação de cristais por agregação orientada. – Baseada nas

ilustrações de (Zhang et al., 2010).

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66

Esse fenômeno foi observado por Yang et al. (2014) na síntese hidrotérmica de

partículas de BaTiO3 e justifica o crescimento irregular e alongado das partículas devido uma

série de agregações sucessivas.

O material sintetizado por 24 h (BT08) (Figuras 33g-h) apresenta o menor teor de

mesocristais e maior teor e tamanho de partícula de morfologia irregular dentre as amostras.

Além disso, há um discreto crescimento das partículas irregulares não apenas em seu

comprimento pelo processo de agregação orientada, mas também em termos de espessura dos

agregados. Dessa forma, presume-se a ocorrência do fenômeno conhecido como “Ostwald

Ripening” ou “coarsening”, havendo dissolução dos mesocristais, seguido do transporte de

massa dos íons para a superfície das partículas irregulares.

Segundo Yang et al. (2014), que também observou esse comportamento nas partículas

de BaTiO3 sintetizadas hidrotermicamente, o fenômeno de “Ostwald Ripening” ocorre, pois

partículas relativamente grandes possuem menor energia de superfície, enquanto que

partículas relativamente menores possuem maior energia devido à elevada razão área

superficial/volume. Da mesma forma que ocorre para a agregação orientada, a tendência do

sistema em atingir uma condição menos energética permite que partículas menores sejam

solubilizadas e os íons liberados tendem a ancorar na superfície das partículas maiores,

reduzindo assim a energia de superfície global das partículas sintetizadas. O processo está

ilustrado na Figura 35.

Figura 35. Ilustração do processo de crescimento de cristais por “Ostwald Ripening”. – Adaptado de

Shimpi et al. (2017).

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67

No caso das amostras sintetizadas a 140 °C, os mesocristais são formados por

pequenos cristais cúbicos de dimensões unitárias inferiores aos cristais de morfologia

irregular, justificando sua solubilização em função da sua elevada energia de superfície.

É possível supor uma correlação entre os mecanismos de crescimento citados

anteriormente e os resultados para os tamanhos de cristalito indicados na Figura 27

especialmente para as amostras de crescimento irregular. Contudo, duas considerações iniciais

devem ser adotadas: 1) cada partícula envolvida no processo de agregação orientada é

considerada um monocristal; 2) o método de difração de raios – X reconhece que mesmo após

a agregação, cada entidade que compõe uma partícula é considerada um cristalito. A primeira

afirmativa é justificada pelo princípio da obtenção de pós pelo método de síntese solvotérmico

no qual cada partícula é considerada um monocristal (Pan et al., 2015). Já a segunda

afirmativa é justificada por uma pequena descontinuidade na região de empescoçamento após

a agregação, apesar do contato cristalograficamente orientado e que pode ser considerada

como um contorno de grão (He et al., 2004). Tal correlação pode ser observada na Figura 36.

Figura 36. Variações dos tamanhos de cristalitos em função dos mecanismos de crescimento das

partículas de morfologia irregular.

Todas as amostras sintetizadas em pressão inerente apresentaram uma diminuição do

tamanho de cristalito entre 6 e 12 horas de síntese. Essa redução pode estar associada à

diminuição dos grãos que compõem os agregados uma vez que há transporte de massa para a

formação do empescoçamento no mecanismo de crescimento predominante de agregação

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orientada, (tracejado verde). Já as amostras sintetizadas a 180 °C apresentaram um aumento

do tamanho de cristalito no intervalo de tratamento de 18 para 24 h. Esse aumento pode estar

associado ao aumento das dimensões dos agregados e consequentemente dos grãos que os

compõem pela predominância do mecanismo de crescimento por Ostwald ripening (tracejado

vermelho). Por fim, o intervalo de 12 a 18 h de síntese (tracejado azul) apresentaram variação

praticamente nula, o que pode estar associado a um equilíbrio dos dois mecanismos de

crescimento dos cristais.

As micrografias das amostras sintetizadas a 160 °C estão representadas na Figura 37.

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Figura 37. Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 160 °C por: 6 h (a - b); 12 h (c

- d); 18 h (e - f) e 24 h (g – h).

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70

As Figuras 37a-b representam as micrografias da amostra BT09, sintetizada a 160 °C

por 6 h. É possível notar que o aumento da temperatura de 140 °C para 160°C favorece a

redução do teor de mesocristais e aumento no teor de partículas de morfologia irregular,

contudo, essas partículas parecem não ter seu tamanho afetado pelo aumento da temperatura,

portanto, o fenômeno de “Ostwald Ripening” pode ser descartado e o a predominância do

mecanismo de nucleação de partículas irregulares parece justificar melhor tal comportamento.

Pelas Figuras 37c-h, é possível notar certa constância na proporção de teor de

mesocristais e partículas irregulares, com predominância dessas últimas. Além disso, nota-se

que o aumento no tempo de processamento para 12 h, 18 h e 24 h, resulta em um aumento

expressivo e gradativo no tamanho das partículas, chegando a apresentar o dobro do tamanho

inicial após 24 h. A taxa de crescimento é maior que àquela para 140 °C, e isso ocorre, pois a

temperatura de 160 °C favorece o processo de crescimento dos cristais irregulares.

O aumento das partículas foi ocasionado pelos fenômenos de agregação orientada

(maior contribuição no comprimento), observada na Figura 30 h e de Ostwald ripening (maior

contribuição na largura) pela dissolução das próprias partículas irregulares e sua

recristalização na superfície de partículas maiores.

As micrografias das amostras sintetizadas a 180°C estão representadas na Figura 38.

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Figura 38. Micrografias das amostras sintetizadas solvotermicamente a 180 °C por: 6 h (a - b); 12 h (c

- d); 18 h (e - f) e 24 h (g – h).

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É possível notar a predominância de partículas de crescimento irregular, apesar de a

amostra conter mesocristais em quantidade sutilmente inferior às amostras processadas a 160

°C. Portanto, é possível afirmar que o aumento da temperatura de 160 °C para 180 °C

desencadeia um sutil efeito do mecanismo de “Ostwald Ripening”.

Há um aspecto importante relacionado ao crescimento das partículas. A amostra

sintetizada por 6h apresenta tamanho das partículas irregulares superior ao das partículas

sintetizadas a 160 °C pelo mesmo tempo. Além disso, avançando o tempo de síntese para 12

h, 18 h e 24 h, é observado um aumento muito expressivo do tamanho das partículas, com a

maior taxa de crescimento observada dentre todas as amostras sintetizas. Após 24 h de

síntese, as partículas apresentam cerca de três vezes o tamanho das menores partículas

irregulares observadas (140 °C por 6 h). Portanto, os mecanismos de crescimento dos cristais

por agregação orientada (Figura 38h) e Ostwald ripening são favorecido em relação ao

mecanismo de nucleação.

A morfologia característica de crescimento irregular apresentada pelas amostras BT01

e BT02 se assemelha à morfologia do tipo “coral” obtida por Zhao et al. (2014), porém, em

uma condição pouco desenvolvida.

As micrografias das amostras sintetizadas a 180 °C por 18 h sob pressão imposta de 20

bar (BTHP1) estão representadas na Figura 39.

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Figura 39. Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180 °C por 18 h sob alta pressão

de 20 bar (BTHP1).

A morfologia predominante em BTHP1 é irregular com tamanho ligeiramente maior

que o da amostra sintetizada em mesmas condições nas em pressão inerente (BT15). A

amostra BTHP1 apresentou também mesocristais (Figura 39d) em teor semelhante ao da

amostra BT15, além de algumas partículas com morfologia dendrítica (Figuras 39a-c). Por

fim, algumas partículas com morfologia do tipo “flor” foram observadas como mostra a

Figura 39d. Essa morfologia é semelhante à obtida por Wang et al. (2006) na síntese

hidrotérmica de sulfeto de chumbo, de maneira que pequenas variações de concentração do

precursor de chumbo no processo podem alterar a morfologia entre dendrítica e tipo flor. Não

há na literatura tal morfologia associada à composição do BaTiO3.

O fenômeno de crescimento de partículas por agregação orientada pode ser observado

nas partículas, contudo, parece não ter favorecido o crescimento alongado das partículas, mas

sim estabelecido agregações mais compactas (Figura 39c) quando comparadas à amostra

BT15. Além disso, as partículas apresentam também uma espessura relativamente maior, o

que indica a ocorrência do fenômeno de Ostwald ripening.

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As micrografias das amostras sintetizadas a 180 °C por 18 h sob pressão imposta de 50

bar (BTHP2) estão representadas na Figura 40.

Figura 33. Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180°C por 18h sob alta pressão de

50bar (BTHP2).

As morfologias observadas em BTHP2 são muito semelhantes às da amostra BTHP1.

Foi observada a predominância de partículas irregulares muito semelhantes às da amostra

BTHP1, indicando a ocorrência tanto de agregações orientadas quanto do fenômeno de

Ostwald ripening com mesmas características, entretanto, sem efeito aparente do aumento da

pressão de 20 bar para 50 bar sobre o tamanho das partículas. Pequenas quantidades de

mesocristais foram observadas, além de partículas com morfologia do tipo “flor” (Figura

40d). Estruturas dendríticas (Figuras 40a e 40c) também foram constatadas na amostra em

quantidade um pouco superior àquelas observadas na amostra sintetizada a 20 bar o que pode

indicar que o aumento da pressão pode favorecer a ocorrência de dendritas.

As micrografias das amostras sintetizadas a 180 °C por 18 h sob pressão imposta de 80

bar (BTHP3) estão representadas na Figura 41.

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Figura 41. Micrografias da amostra sintetizada solvotermicamente a 180°C por 18h sob alta pressão de

80bar (BTHP3).

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A morfologia predominante em BTHP3 é dendrítica com ramos secundários com

aspecto de crescimento anisotrópico e achatado formando um ângulo de 65 ° em relação ao

ramo principal e com desenvolvendo principalmente em 2D com ocorrência de algumas

dendritas 3D. Foram observadas dendritas com ramos principais de comprimento médio de

3,5 μm e uma razão de comprimentos de ramo principal/ramos secundários de

aproximadamente 4,7. A morfologia dendrítica de ramos secundários achatados obtida se

assemelha àquelas desenvolvidas por Salavati-Niasari e Ghanbari (2012) durante a síntese

solvotérmica de PbS com a utilização de tioureia como aditivo direcionador de estrutura,

contudo, a literatura não apresenta essa morfologia associada ao composto BaTiO3.

Apesar das partículas apresentarem comprimentos acima de 3 μm, não houve qualquer

alteração no sentido de aumento da incidência da fase tetragonal. Isso ocorre pois, apesar do

elevado comprimento, a espessura dos ramos principal e secundário é da ordem de 200 nm,

mantendo baixa a razão núcleo tetragonal / casca cúbica das partículas. Além disso, o

aumento da incidência dessas partículas de elevada dimensão com o aumento da pressão pode

justificar o aumento do tamanho de cristalito também com o aumento da pressão observado na

Figura 28.

A amostra BTHP3 não apresentou mesocristais, mas assim como as amostras

sintetizadas a 20 bar e 50 bar, apresentou partículas do tipo “flor”.

O crescimento dendrítico característico não apenas de BTHP3, mas também de

BTHP2 e BTHP3 é descrito por Yang et al. (2013), o qual aponta um crescimento de uma

dendrita isolada a partir do desenvolvimento de uma partícula alongada, como é possível

observar na Figura 42. Um segundo mecanismo proposto é o de crescimento partir de uma

partícula de morfologia esférica, com desenvolvimento de inúmeros ramos principais seguido

do desenvolvimento dos seus respectivos ramos secundários, também pode ser observado na

Figura 42.

Figura 42. Mecanismos de crescimento dendrítico em compostos inorgânicos – Adaptada de Yang et

al. (2013).

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77

Outra possibilidade para o desenvolvimento de dendritas tridimensionais é o processo

de “self-assembly” de dendritas isoladas como descrito por Tong et al. (2012), conforme

Figura 43.

Figura 43. Formação de estruturas dendríticas tridimensionais. – Adaptado de Tong et al. (2012).

É importante ressaltar que as partículas dendríticas foram obtidas sem a adição de

quaisquer aditivos como surfactantes, enquanto que a literatura aponta para formação de

dendritas usualmente a partir da ação desses aditivos, como nos trabalhos desenvolvidos por

Hu et al. (2009) e Na et al. (2008), por exemplo.

Partículas cerâmicas com morfologia dendrítica são usualmente obtidas com auxílio de

surfactantes. A existência de partículas com morfologia do tipo “flor” é justificada pela sua

origem derivada de partículas dendríticas (Xu et al., 2011). Assumindo o processo de

crescimento das dendritas pelo fenômeno de Ostwald ripening, é possível propor a hipótese da

formação dessas partículas a partir do transporte de massa dos íons provenientes dos menores

cristais dissolvidos até a superfície achatada dos ramos secundários das dendritas

tridimensionais, como ilustrado na Figura 44.

Figura 44. Proposta para a formação de cristais com morfologia do tipo flor.

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78

Segundo Byrappa e Yoshimura (2013), uma diminuição da taxa de difusão no

processo de síntese aumenta a probabilidade de formação de estruturas dendríticas.

De acordo com Wang et al. (2017), quando a taxa de crescimento dos cristais supera a

taxa de transporte de massa dos íons que compõem os cristais, há uma tendência de

crescimento dendrítico.

Portanto, levando em consideração essas duas afirmativas e avaliando as

características observadas no processo de preparação das amostras, é possível supor que a

injeção de argônio em alta pressão no reator promove a solubilização das moléculas de

argônio na solução, dificultando o transporte de massa dos íons para os cristais, contudo

aumentando o potencial cinético da reação pelo aumento da pressão e consequentemente

aumentando a taxa de crescimento dos cristais, formando assim, estruturas dendríticas.

4.4 Análise de Área Superficial Específica (BET)

Os resultados de área superficial específica das amostras com morfologia bem definida

estão indicados na Tabela 8.

Tabela X. Áreas superficiais específicas de amostras de BaTiO3 com morfologias bem definidas.

Amostra Temperatura

(°C) Tempo (h)

Pressão Relativa

(bar)

Morfologia

Predominante

Área

Superficial

Específica

(m²/g)

BT04 120 24 2,0 (inerente) Mesocristais 13,523

BT08 140 24 3,9 (inerente) Irregular 3,4679

BT12 160 24 6,3 (inerente) Irregular 5,1420

BT15 180 18 10,5 (inerente) Irregular 4,0749

BTHP3 180 18 80 (imposta) Dendrítica 3,6750

A amostra BT04 apresenta a maior área superficial (13,523 m²/g) dentre as amostras

analisadas. Esse resultado é esperado uma vez que os mesocristais correspondem a diversos

nanocubos aglomerados e dentre todas as morfologias observadas, essas é a que apresenta

menor dimensão de partículas. Já as amostras sintetizadas entre 140 e 180 °C não apresentam

significativa variação de área superficial. Além disso, há um aumento da área superficial

quando se eleva a temperatura de 140 °C para 160 °C. Esse fenômeno pode estar associado à

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diminuição das aglomerações em 160 °C uma vez que os mecanismos de crescimento de

agregação orientada e Ostwald ripening produzem partículas maiores e de menor energia de

superfície, reduzindo a probabilidade de interações e formação de aglomerações e permitindo

uma adsorção de nitrogênio mais eficiente. Por fim, a amostra sintetizada sob alta pressão

(BTHP3) apresenta área superficial também no intervalo médio das demais, contudo, há uma

diminuição da área quando comparada à amostra sintetizada nas mesmas condições, mas com

pressão inerente (BT15). Essa diminuição é justificada tanto pelas agregações orientadas mais

compactas experimentadas pelas amostras sintetizadas com injeção de argônio, mas também

pelo fato das estruturas dendríticas obtidas também apresentarem um nível de compactação

relativamente alto.

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80

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES

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81

5. CONCLUSÕES

Sínteses solvotérmicas de titanato de bário (BaTiO3) foram realizadas sob diferentes

condições de pressão, temperatura e tempo.

Um reator de síntese confeccionado em aço inoxidável 316L foi projetado e construído

para realização dos procedimentos experimentais e apresentou bom desempenho no controle

dos parâmetros do processo.

A etapa de injeção do gás sob alta pressão no reator, seguida de aquecimento até a

temperatura de síntese, indicou que a pressão injetada inicialmente no processo altera o

comportamento termodinâmico da solução de modo que a pressão inicial precisa ser apenas

aproximadamente 50% da pressão final desejada.

Os resultados da difração de raios X mostraram que todos os procedimentos de síntese

resultaram em um único componente (BaTiO3) com fase pseudocúbica predominante. Não

houve formação de fases secundárias como BaCO3. A amostra sintetizada a 120°C por 15

minutos apresentou a formação do BaTiO3 e foi tida como a menor condição de síntese para

obtenção desse material para a metodologia proposta.

As imagens de microscopia eletrônica de varredura indicaram a formação de pós

desaglomerados e a evolução morfológica das partículas do titanato de bário para

temperaturas entre 120°C e 180°C, tempos de 15 minutos a 24h e pressões relativas desde

inerentes até 80 bar impostas por injeção de gás.

Os precipitados amorfos formados na preparação da solução precursora apresentam

morfologia esférica de superfície rugosa, que ao serem tratadas solvotermicamente, evoluem

para mesocristais de BaTiO3 seguida da sua conversão em partículas com morfologia irregular

e por fim foram formadas partículas dendríticas e do tipo flor para condições de alta pressão.

Essa evolução morfológica foi regida por mecanismos de solubilização/precipitação e

dissolução/recristalização, especialmente pelos fenômenos de agregação orientada e Ostwald

ripening, ocasionados pelas condições de temperatura, tempo e pressão, através da mudança

nas propriedades de solubilização, transporte de massa e cinética química do processo. A

morfologia dendrítica obtida nas sínteses de alta pressão foi justificada pela diminuição do

transporte de massa devido à solubilização do argônio na solução precursora e pelo aumento

da cinética de crescimento de cristais devido aumento da pressão.

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82

A metodologia proposta se mostrou eficaz no controle morfológico de pós de BaTiO3,

livres de aglomerações e impurezas e permitindo até mesmo a obtenção de estruturas

complexas dendríticas sem a utilização de qualquer aditivo.

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

1) Estudo das características cristalinas e propriedades elétricas do BaTiO3 previamente

sintetizados;

2) Análise do efeito de alta pressão em condições alternativas de temperatura e tempo de

processamento para o BaTiO3;

3) Avaliação do efeito da síntese sob alta pressão nas propriedades de outros titanatos;

4) Verificação da eficiência do método de alta pressão na síntese de cerâmicas não-óxidas;

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A

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92

APÊNDICE A

A.1) Cálculos dos Teores de Reagentes da Solução Precursora

O trabalho de Wang e Ying (1999) indica uma proporção efetiva de 92 entre volume

de água e de TTIP (Equação A1) . Contudo, não é quantificada uma relação entre o volume de

álcool etílico absoluto e TTIP, inviabilizando a reprodução do procedimento experimental.

Portanto, para preencher essa lacuna, foi utilizada a proporção etanol:TTIP de 9:1 indicada

por Nadzirah et al. (2015). O autor indica ainda que para essa proporção, a adição de ácido

acético glacial ajuda na estabilização do TTIP, definindo uma proporção volumétrica

etanol:TTIP:Ácido de 9:1:0,1 (equação A2).

𝑉𝐻2𝑂

𝑉𝑇𝑇𝐼𝑃= 92 Eq. A1

𝑉𝑇𝑇𝐼𝑃 =𝑉𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙

9= 10 × 𝑉Á𝑐𝑖𝑑𝑜 𝐴𝑐é𝑡𝑖𝑐𝑜 Eq. A2

A junção das Equações A1 e A2, resulta na Equação A3.

𝑉𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 = 9 × 𝑉𝑇𝑇𝐼𝑃 =9

92× 𝑉𝐻2𝑂 Eq. A3

Assim sendo, presumindo um preenchimento de 100 mL do reator pela solução

precursora, assume-se o volume de precursores da Equação A4, que pode se desenvolver na

equação A5 a partir das equações A1-A3.

𝑉𝐻2𝑂 + 𝑉𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 + 𝑉𝑇𝑇𝐼𝑃 = 100 𝑚𝐿 Eq. A4

𝑉𝐻2𝑂 + 9

92𝑉𝐻2𝑂 +

1

92𝑉𝐻2𝑂 = 100 Eq. A5

Dessa forma, os valores dos volumes calculados para água, TTIP e etanol são:

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93

𝑉𝐻2𝑂 = 90,2 𝑚𝐿

𝑉𝑇𝑇𝐼𝑃 ≅ 1,0 𝑚𝐿

𝑉𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 = 8,8 𝑚𝐿

Pela proporção volumétrica TTIP:ácido acético da equação A2, foi calculado volume

de ácido acétido de:

𝑉Á𝑐𝑖𝑑𝑜 𝐴𝑐é𝑡𝑖𝑐𝑜 = 0,1 𝑚𝐿

Para o precursor de bário, foi adotada a proporção em mols da equação A6 indicada

por Ávila et al. (2011) e que resulta um excesso de bário em relação à estequiometria do

BaTiO3 (1:1). Assim sendo, para tal proporção a quantidade de nitrato de bário a ser

utilizada no processo é de 0,9808 g.

[𝐵𝑎] = 1,1 × [𝑇𝑖] Eq. A6

A preparação de 1 litro da solução a 1M de KOH partiu de 62,3444 g de KOH

com preenchimento do volume do balão volumétrico com água deionizada até completar o

volume de um litro.