Arquitetura Colonial Baiana - Roberto C. Smith

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O arquivo histórico Colonial Português de Lisboa possui riquíssimas coleções de desenhos de edifícios do período colonial incluindo a arquitetura da antiga capital do Brasil.

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  • C O L E O N O R D E S T I N A

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    RDESTINA

    ROBERTC.SMITH

    ARQUITETU

    RACOLO

    NIALBA

    IANA-ALG

    UNSASPEC

    TOSDESUAHIST

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    Paraba - EDUEP

    ROBERT C. SMITH

    O Arquivo Histrico Colonial Portugus, de Lisboa, possui riqussimas coleesde desenhos de edifcios do perodo colonial, incluindo a arquitetura daantiga capital do Brasil. Os documentos anexos, com seus largos relatriossobre obras pblicas e de caridade, merecem a ateno de todos osestudiosos da histria da arquitetura colonial, revelando no somente asorigens de muitos monumentos, mas oferecendo preciosas elucidaes arespeito das modificaes que esses edifcios sofreram, principalmente nosculo XVIII.A reedio do livro Arquitetura colonial baiana: alguns aspectos de suahistria, da autoria de Robert C. Smith, na Coleo Nordestina, vale comoreconhecimento e um tributo ao seu autor, pelos leitores e estudiosos atuais,do trabalho, se no indito, esgotado. Smith umdos pioneiros das pesquisassobre os objetos culturais das nossas artes, tal como Mrio de Andrade,Godofredo Filho, D. Clemente Maria da Silva Nigra, Germain Baziu, dentreoutros grandes nomes que contriburam para solidificao dos estudos deuma importante vertente denossacultura.

    ARQUITETURA COLONIALBAIANAALGUNS ASPECTOS DE SUA HISTRIA

  • ARQUITETURA COLONIALBAIANA

    ALGUNS ASPECTOS DE SUA HISTRIA

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    REITORNAOMAR DE ALMEIDA FILHO

    VICE-REITORFRANCISCO JOS GOMES MESQUITA

    EDITORA DA UNIVERSIDADEFEDERAL DA BAHIA

    DIRETORAFLVIA GOULART MOTA GARCIA ROSA

    CONSELHO EDITORIALNGELO SZANIECKI PERRET SERPA

    CAIUBY ALVES DA COSTACHARBEL NIN EL-HANI

    DANTE EUSTACHIO LUCCHESI RAMACCIOTTIJOS TEIXEIRA CAVALCANTE FILHO

    ALBERTO BRUM NOVAES

    SUPLENTESEVELINA DE CARVALHO S HOISEL

    CLEISE FURTADO MENDESMARIA VIDAL DE NEGREIROS CAMARGO

    EDUFBARua Baro de Jeremoabo, s/n

    Campus de Ondina40170-115 Salvador-BA

    Tel: (71) 3283-6160/[email protected]

    www.edufba.ufba.br

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  • ROBERT C. SMITH

    ARQUITETURA COLONIALBAIANA

    ALGUNS ASPECTOS DE SUA HISTRIA

    SalvadorEDUFBA

    2010

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  • 2010 EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIADEPSITO LEGAL NA BIBLIOTECA NACIONAL

    PROJETO GRFICOGERALDO JESUNO

    EDITORAO E CAPA (ARTE FINAL)RODRIGO C. YAMASHITA

    ILUSTRAO DA CAPAMORGADO DE SANTA BRBARA

    COORDENAO EDITORIAL

    FLAVIA GARCIA ROSA

    Editora filiada :

    Smith, Robert C.Arquitetura colonial baiana : alguns aspectos de sua histria / Robert C. Smith. - Salvador :

    EDUFBA, 2010.70 p. : il.

    ISBN 978-85-232-0701-4

    1. Arquitetura colonial - Bahia - Histria. I Ttulo.

    CDD - 724.1098142

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  • SUMRIO

    PREFCIO7

    INTRODUO11

    ALFNDEGA DA BAHIA13

    IGREJA DA PALMA23

    FBRICA DE PLVORA31

    CONVENTO DA LAPA39

    VILA DE ABRANTES57

    NOTAS63

    PARECER DO RELATOR DO I CONGRESSODE HISTRIA DA BAHIA

    69

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  • NDICES DAS ILUSTRAES

    1..................................................................................ALFNDEGA DA BAHIA

    2............................................................PLANTA DA ALFNDEGA DA BAHIA

    3..................................................................MORGADO DE SANTA BRBARA

    4.......................................................PLANTA DA IGREJA DE N.S. DA PALMA

    5......................................................................CASA DA PLVORA DA BAHIA

    6.....................................................PLANTA DO CONVENTO DE N. S. DA LAPA

    7.......................................................................CONVENTO DE N. S. DA LAPA

    8.......................................................................MAPA DA VILA DE ABRANTES

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  • 7PREFCIO

    RECONHECENA

    A REEDIO deste texto de Robert C. Smith, Arquitetura Colo-nial Bahiana: alguns aspectos da sua histria; (Salvador, Secretariada Educao e Cultura, 1951, Publicao do Museu do Estado n 14),pela EDUFBA na Coleo Nordestina, vale como reconhecimento, pe-los leitores e estudiosos atuais, de um trabalho se no indito, esgotado,e como um tributo ao seu autor, um dos pioneiros das pesquisas sobreos objetos culturais das nossas artes, tais como um Mrio de Andrade,Godofredo Filho, D. Clemente Maria da Silva Nigra, Germain Bazin, den-tre outros.

    Como vemos, Jos Valadares (1917-1959), ainda diretor doMuseu do Estado da Bahia, antes do seu trgico falecimento, vai publi-car este texto de Robert C. Smith, com quem travou conhecimento jnos Estados Unidos da Amrica.

    Aqui temos para leitura os primeiros apontamentos de Ro-bert C. Smith sobre edificaes coloniais da Bahia, com a remisso paraos documentos que foram utilizados em suas investigaes prelimina-res, o que nos desvenda a sua metodologia.

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  • 8Mais adiante Robert C. Smith, por solicitao do GovernoMunicipal da cidade do Salvador, ir ampliar o seu texto, agora escreven-do um pequeno ensaio intitulado Arquitetura Colonial publicando-opela Livraria Progresso Editora, em 1955, com apresentao de JosValadares, na qual destaca o mestre baiano, que poucos estrangeirosde nosso tempo tero se dedicado com tanta abnegao, simpatia, com-petncia e produtividade a assuntos de nosso pas.1

    Robert C. Smith (1912-1975), norte-americano, historiador,pesquisador e docente da School of Fine Arts da Universidade da Pensil-vnia, formado na Universidade de Harvard (dissertao em 1936),tornou-se um doutor e um conhecedor das artes portuguesas e brasi-leiras. preciso salientar que Robert C. Smith publicou textos no ssobre as nossas artes, mas tambm da arte lusitana, documentando oseu patrimnio e, principalmente, pesquisando em fontes primriasdesconhecidas, como um dos desbravadores dos arquivos de c e de l.

    O professor Jos Carlos Gonalves Peixoto, quando garoto,conheceu-o em Braga, Portugal, e nos conta via internet: um dia quan-do brincava junto ao Mosteiro de Tibes, abordou-me no sentido de oacompanhar para carregar sua pesada mquina fotogrfica (com umgrande fole e um pesado trip). Durante vrios dias, nas frias acompa-nhei aquela figura simples, alta e magra.

    Visitante do Brasil e da Bahia e de Portugal, nos velhos tem-pos, quando a cultura era necessria e no um jogo de aparncias, oRobert C. Smith (detentor da Ordem do Cruzeiro do Sul) contou com oapoio do governo federal (IPHAN), da Prefeitura Municipal de Salvador,da Universidade Federal da Bahia e da Fundao Calouste Galbenkian,para financiar suas estadias e investigaes, fato este que nos permite,hoje, escrever este texto e EDUFBA relanar um livro seu, bastanteraro, como voltamos a dizer.

    1 Houve tambm uma edio deste texto de Robert C. Smith, publicada no Histria das Artes na Cidade doSalvador por sua Prefeitura Municipal, em 1967, junto com os de outros autores. Recomendamos ao leitoro livro Arte Brasileira (1943-1953), de autoria de Jos Valadares, publicado pelo Centro de Estudos Baianosda UFBA, uma bibliografia comentada de vrios autores, onde h um verbete sobre Robert C. Smith.

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  • 9E foi em Portugal, onde a cultura levada a srio, de verdade,que a Fundao Calouste Galbenkian honrou Robert C. Smith promo-vendo uma grande mostra sobre sua obra e publicando A investigaona histria da arte: catlogo da exposio em 2001,

    Hoje, coube a mim fazer esta apresentao, com imensaalegria, e penso em Jos Valadares, que conheci, um dos mestres dasartes modernas na Bahia, docente de Esttica e Histria da Arte naUFBA, autor de vrios livros e diretor do Museu de Arte da Bahia porvrios anos.

    Salvador, 14 de julho de 2010

    Fernando da Rocha PeresProfessor Emrito da Universidade Federal da Bahia - UFBA

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  • 11

    INTRODUO

    O ARQUIVO Histrico Colonial Portugus, de Lisboa, assim comoo Archivo de Indias de Sevilha, possui riqussimas colees de dese-nhos de edifcios americanos do perodo colonial. Acompanhados emmuitos casos dos seus respectivos ofcios, representam, na maior parte,os esforos das comunidades brasileiras, eclesisticas como civis, paraalcanarem a aprovao rgia de fundaes novas, e angariarem osfrutos da real generosidade para seu uso. Compem-se de vrias cate-gorias - obras militares, como fortalezas e quartis: casas da alfndegae casas da cmara: capelas, igrejas e hospcios. Em alguns casos, alisbem raros, conservam-se riscos de casas de residncia. Foram executa-dos, mormente em consequncia de embargos de construo, quan-do seus donos, ameaados, desejando ter recurso suprema autorida-de, dirigiram-se ao prprio Conselho Ultramarino de Portugal. Os docu-mentos anexos, com seus largos relatrios sobre obras pblicas e decaridade, merecem a ateno de todos os estudiosos da histria daarquitetura colonial. Revelam no somente as origens de muitos mo-numentos, existentes ou perdidos, que se destacam no desenvolvimento

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  • 12

    dessa arte no Brasil, mas oferecem preciosas elucidaes a respeito dasmodificaes que esses edifcios sofreram, principalmente no sculoXVIII. Assim se conhece a verdadeira autoria da cadeia de Ouro Preto, omais ambicioso palcio de todas as capitanias do sul. Descobrem-sevaliosos subsdios para a histria da construo das guas da Carioca doRio de Janeiro, arcaria grandiosa que se deriva diretamente dos aque-dutos de vora, Coimbra e Lisboa. Encontram-se tambm no ArquivoHistrico Colonial grandes acervos de dados sobre a atividade dos enge-nheiros militares portugueses, cujo papel complicado e do mais altovalor da formao da escola colonial, ainda no se pode devidamenteavaliar, por ser to pouco estudado. Ao lado destes oficiais de infantariatrabalhava, como auxlio indispensvel, pequeno exrcito de mestrespedreiros e carpinteiros, cujas personalidades em vrios casos se distin-guem atravs dos documentos do Arquivo. A leitura, enfim, de certosofcios estabelece elementos importantes para a anlise dos preos edas prticas de construo, revelando em grande parte o vocabulrioarquitetnico da poca colonial.

    Neste mltiplo aspecto, os desenhos e documentos do Ar-quivo Histrico Colonial, com aqueles dos arquivos pblicos brasileiros,constituem indiscutivelmente a maior fonte para o estudo da arquite-tura colonial, fora dos livros, muitas vezes incompletos e insatisfatrios,das irmandades e confrarias religiosas. Na ocasio do quarto centenrioda fundao da cidade do Salvador, primeira capital do Brasil, convmchamar ateno, embora de forma modesta e incompleta, para o ma-terial especificamente baiano que, entre as suas variadssimas riquezas,a coleo abrange.

    Seis peas de grande importncia para a histria da arquite-tura colonial baiana so examinadas. Cada uma vem acompanhada dosprincipais documentos que lhe dizem respeito, citados integralmente,e de um breve comentrio histrico e artstico baseado nos mesmosdocumentos, e escrito com relao aos monumentos contemporne-os existentes na Bahia.

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  • 13

    CAPTULO I: ALFNDEGA DA BAHIA

    MODELO DA OBRA QUE SE H DE FAZER NAALFNDEGA DA BAHIA

    [PLANTA .280m x .330m; ELEVACO .260m x .320m; COLORIDAS]

    A ARQUITETURA da antiga capital do Brasil acha-se dignamenterepresentada no Arquivo Colonial Portugus. Abundam os riscos devrias fortificaes e obras militares com relatrios dos engenheiros dapraa da Bahia. Certos desenhos foram descritos no catlogo geral dosmapas e plantas da coleo, publicado em 1908 por Eduardo de Castroe Almeida. Outros, contudo, includo entre os papis avulsos, pare-cem ter escapado ateno do ilustre arquivista.

    Indiscutivelmente os mais antigos e importantes de todo ogrupo, so os dois desenhos mostrando uma construo, que lembranas suas linhas gerais uma Casa da Cmara baiana, do tipo de que aindase conservam exemplos na zona do Recncavo. (Figuras 1 e 2) O as-sunto dos desenhos perfeitamente claro, pois a planta do andar tr-reo leva a inscrio Modelo da Obra que se h de fazer na Alfndega daBahya, uma das salas sendo designada caza dall fdega. A ortografiaantiga dessa denominao, assim como a do contguo allamaze dasarmas indica a probabilidade quase certa dos desenhos serem obra dosculo XVII.

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  • 14

    Torna ainda mais evidente a atribuio a esta poca, um docu-mento arquivado no mesmo mao de papis. uma carta na qual oProvedor da Real Fazenda, Pero de Gouveia de Melo, explica a Sua Majesta-de D. Felipe III a recusa dos oficiais da Cmara da Bahia de concorreremnas despesas da construo das Obras das Casas da Alfndega, contos ealmazem. O documento, que foi escrito em Salvador a 6 de agosto de1618, menciona uma carta da Cmara a El-Rei dando explicao da recu-sa por motivo das obras da S, eu por ser obra sumptuosa no excusatodo o que a dita imposio Rende. Segundo a carta do Provedor acatedral estava meia derrubada e na outra a metade se no entretantocelebrando os officios deuinos. Ao mesmo tempo, porm, a carta nofecha absolutamente a porta possibilidade de uma futura ajuda, porquetermina com as palavras assim em q. durar a dita obra no h que tratarda dita imposio. Atravs de uma comunicao dirigida a D. Pedro IIem 19 de abril de 1680 sabemos que entre outras despesas o povo daBahia ainda estava contribuindo para a construo da catedral.4

    No possvel averiguar a origem do interessantssimo dese-nho com sua respectiva planta. Os prprios riscos no fornecem expli-cao alguma do problema. Ser o modelo um risco mandado dametrpole para a Bahia, ou ser um desenho feito na capital da AmricaPortuguesa por algum engenheiro? Ser talvez obras do prprio Nico-lau de Frias,5 autor das fortificaes do Maranho em 1614, que deli-neou um esquema para a fachada de um seminrio durante o governode D. Luiz de Souza, segundo Conde do Prado, entre 1618 e 1620?A publicao deste desenho e do texto do manuscrito de que ele fazparte, prometida pelo Itamarati tornar possvel a comparao do mo-delo da obra da alfndega com o desenho do seminrio da Bahia. Ofato de quase todos os desenhos documentados de edifcios coloniaisbrasileiros encontrados no Arquivo Histrico Colonial Portugus seremfeitos na Amrica indica a probabilidade da elevao e planta da Alfn-dega pertencerem tambm esta categoria.

    Representa o modelo um edifcio de dois andares comaproximadamente as seguintes dimenses: 48.36m. de comprimento;

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  • Figu

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  • Figu

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    .

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  • 17

    17.68m de largura e 15.125m de altura. Tem paredes exteriores de1.075m; numa face lateral e em trs quartos da fachada principal,corre uma longa galeria de 8 arcos, tendo cada um 5.375m de largurapor 5.795m de altura, com a exceo do arco angular de frente, quemede somente 3.87m de largura. A nica porta do edifcio d acesso Sala da Alfndega, 13.975m por 9.575m, onde o lugar da balana pare-ce ser indicado por uma seco quadrada entre as duas janelas do lado.A denominao Almaze das Armas aplicada diviso contgua, dedimenses menores (10.75m por 9.675m) sugere que a Casa do Tremia ser instalada dentro do mesmo prdio, apesar da carta do Provedor-mor no falar nesta particularidade. No se pode identificar o destinoda ltima sala do rs-do-cho, a maior das trs (15.05m por 9.675),talvez um outro armazm. A fachada posterior da casa da Alfndega ficacompletamente sem janelas. Num aposento ao lado da arcaria da fren-te, figura dupla escadaria de 12 degraus, iluminada por duas janelasquadradas, com grades de ferro. Na parte superior ia funcionar a Casados Contos, cujas 7 janelas de nobre propores constituem elementosgrandes demais para a modesta altura do edifcio. Esses vos interes-santemente delineados no desenho da fachada do construo umcarter eminentemente seiscentista. Suas molduras retangulares comgrandes e simples cornijas, suas sacadas de balaustres de ferro, repre-sentam a janela tpica portuguesa do sculo XVII transportada ao Brasil.Sobrevive na Bahia durante todo o sculo, como nos vos superiores danave da igreja do convento de N. S. do Carmo de Salvador, onde soquase idnticas s do risco da obra da Alfndega. Figuram tambm nasimpressionantes fachadas do antigo palcio dos arcebispos da Bahia,monumento do Arcebispo D. Sebastio Monteiro de Vide (1701-22),que data do comeo do sculo.

    As construes civis da cidade do Salvador, erigidas nas dca-das seguintes a 1618 desapareceram, como o palcio dos governado-res, ou tm sido completamente modificadas, como sucedeu com oedifcio que foi do Senado da Cmara, onde atualmente funciona aPrefeitura Municipal. Existe, porm, fora da capital, um raro exemplo

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  • Figura 3 - Salvador Museu do Estado. Morgado de Santa Brbara.

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  • 19

    do estilo, na velha Casa da Cmara da cidade de Cachoeira, completadacerca de 1715.6 Revelam a sua planta e fachada a mais direta semelhan-a com as da projetada Alfndega da Bahia. Observa-se a mesma arcada,cujos arcos se descarregam sobre os mesmos fortes pilares da fachada.Somente h 4 vos em vez de 5. Essa diferena de proporo nota-setambm no nmero reduzido de janelas, 6 em vez de 7, e na ausnciadas cornijas na Casa da Cmara de Cachoeira, onde faltam as belassacadas do risco. Foram evidentemente substitudas pelos atuais bal-ces no sculo XIX, ou mais modernamente, as varandas originais ten-do sido provavelmente de pau, como existem ainda algumas nessacidade. A escadaria da Casa da Cmara ocupa o mesmo lugar extremi-dade da fachada, sem, porm, ter, pelo menos agora, os mesmos vosque do luz do risco. A Casa da Cmara de Maragogipe7 cujas linhas lhereservam um lugar na mesma categoria de construes, mostra-semenos parecida, tendo a sua arcada posta no centro da fachada, e a suaescadaria no meio do edifcio. O motivo da arcaria foi largamente em-pregada nas fachadas da Cidade Baixa de Salvador, como testemunhamos vrios panoramas da capital executadas no sculo XVIII. Um porme-nor destes prdios, provavelmente representando casas seiscentistas,v-se na aquarela do Morgado de Sta. Brbara, no Museu do Estado daBahia.8 (Figura 3) Foi tambm um caracterstico da primitiva ribeira deLisboa. Dessas arcadas contnuas ainda se conservam vestgios no Por-to Velho de Ponta Delgada e nas casas de Miragaia no Porto.

    A Alfndega da Bahia, que comeou a funcionar logo depoisda fundao da cidade,9 achou-se na Cidade Alta durante todo o sculoXVII.10 Ainda que seja impossvel identificar exatamente o seu stio pri-mitivo, indica-se a zona da antiga Praa dos Governadores. Era poucoconveniente pelo seu tamanho e situao, pelo mao citio em que seacha a que hoje h a discommmodo que tem os donos das fazendas emlhe ficarem pela praa, exposta inclemncia do tempo, por ser topequena esta casa que s servia no princpio desta conquista em quehiao poucos navios... com estas palavras, autorizou D. Pedro II em1694 a construo de uma nova Casa da Alfndega na Ribeira da Bahia,

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  • 20

    no lugar perto da Igreja do Corpo Santo, onde figura nas vistas de Caldase de Vilhena. Em 1699 estava ainda em construo. Reformada pelogovernador Conde das Glveas em 1746, passou a sofrer uma transfor-mao total sob o Imprio.11

    No ano de 1696 pediu o soberano que o Governador D. Joode Lencastro lhe remetesse a planta da obra da nova Alfndega que sefazia. Infelizmente at agora no se encontrou este risco no ArquivoHistrico Colonial Portugus, pelo que a forma do edifcio ordenadoem 1694 no conhecida. Ser, talvez, que o modelo da Alfndegarepresenta este prdio, e no um projeto bem anterior, de 1618?O desenho no tem data e a nica ligao com essa poca a carta doProvedor-mr. A extraordinria semelhana do desenho com o edifciode aproximadamente 1715, em Cachoeira, favorece esta interpretao.Na ausncia de documentao mais slida, porm, a questo da datado desenho e sua respectiva planta no pode ser resolvida.

    O Modelo da obra, que se h de fazer na Alfndega da Bahia,rarssima relquia da administrao baiana do sculo XVII, torna-se ain-da mais preciosa pelas ligaes que possui com um monumento exis-tente no Recncavo, e pelas caractersticas gerais da arquitetura seis-centista luso-brasileira, que abundantemente revela.

    DOCUMENTO

    A El Rey nosso sn. or no Cons.o de sua faz.a Lx.a a 2 uias. DoPued.or mor da faz.da do dito Estado do Brasil

    Com os officiaes da camara desta cidade tratej o neg.co dasObras das Casas da Alfandega contos e Almazem e lhe ppus a necessida-de que dellas h (e elles a unem) e o quanto V.M.de lhe agradecia o uiremem se fazerem Custa da imposio porpondo lhe para isso muitasrezes, e no quissero uir nisso dandome por Resposta que j acercadisso tinho escrito a V.M.de em reposta do que sobre o mesmo neg.co lhe

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  • 21

    escrevero e se descarrego com as obras da See que S.Maj. faz domesmo rendim.to que por ser obra sumptuosa no excusa todo o quea dita imposio Rende, nem se pode nella sobrestar por que est meiaderubada, e na outra a metade se no entretanto selebrando os offciosdeuinos, e assim em q. durar a dita obra no h que tratar da ditaimposio. Ds. g.de a catholica pessoa de V.M.de Escrita na Bahia 6 deAgosto 618. Pero de Gouva de Mello.

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  • Figura 4 - Lisboa. Arquivo Histrico Colonial Portugus. Planta da Igreja de N. S. da Palma.

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  • 23

    CAPTULO II: IGREJA DA PALMA

    PLANTA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DAPALMA DA CIDADE DA BAHIA

    [COLORIDA: .26m x .332m]

    AOS 14 DE SETEMBRO DE 1711, em cumprimento a uma ordemdo governador D. Loureno de Alamada,12 foram o Capito-mr da vilado Porto Seguro, Gonalo de Antas Pereira, com o Ouvidor e os oficiaisdo Senado da Cmara povoao da Sta. Cruz, distante 4 lguas dePorto Seguro, fazer vistoria na igreja paroquial, sobre cuja runa osmoradores tinham-se queixado no reinado de D.Pedro II. Verificaramque o templo cara totalmente havia dois ou trs anos ser a Igreja feitae fabricada de terra sem resistncia ao tempo.13 Encontraram as san-tas imagens instaladas provisoriamente em uma casa particular, ondese celebravam os santos ofcios. Informando-se a respeito das esmolasque os habitantes de Sta. Cruz podiam juntar para a reedificao do seutemplo, obtiveram a informao que se obrigariam a dar cem moyosde cal, e as madeyras, juntam.te de q. carecer a obra q. S. Mag.de forseruido mandar fazer. No se podia dizer o preo da obra necessria,porque no havia pedreiro na vila do Porto Seguro para calcular adespesa. Averiguaram, porm, que os moradores de Sta. Cruz queriamuma capela semelhante e correspondente Igreja da Palma da Cid.e

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  • 24

    da B.a pella pequenhs da dita Pouoaam no necessitar de mayor Igre-ja. No mesmo dia, ainda em Sta. Cruz, assinaram um termo, reco-mendando que na Bahia o Governador, sendo servido, mandasse fazera avaliao da igreja de N. S. da Palma.

    Consequentemente, o Tenente General Engenheiro MiguelPereira da Costa,14 auxiliado pelo Capito Engenheiro Gaspar de Abreu,15

    recm-chega praa da Bahia, tiraram, sob ordem do Governador, aplanta da igreja de N. S. da Palma. Na execuo desta tarefa, desempenha-vam as funes de arquiteto civil, de que tantos casos se registraram nessapoca no Brasil. Fizeram precisamente o que Joo de Macedo Corte Reale Diogo da Silveira Veloso iam fazer no Aljube de Olinda em 1729,16 e omesmo que Nicolau de Abreu e Carvalho e Manuel Cardoso de Saldanhafaro mais tarde na Bahia em torno da nova fundao do convento de N.S. da Lapa.17 Traando plantas, delineando prospectos e dirigindo obrascivis, foram os engenheiros militares os principais arquitetos profissionaisda Amrica Portuguesa nesse perodo do sculo XVIII.

    Chamou Miguel Pereira da Costa aos mestres pedreiros e car-pinteiros da cidade do Salvador, ordenando-lhes que avaliassem a cons-truo do velho templo baiano. Eles depois passaram duas certides,datadas de 18 e 24 de maio de 1712. Conservadas no arquivo portugu-s, revelam a identidade dos ofcios mecnicos, que as firmaram, assimcomo alguns dos preos a nessa poca correntes. Os mestres carpin-teiros, juzes do ofcio neste ano, Antonio da Silva Reis e Baltazar CoelhoBarros, que tambm entendiam de ferragens, estabeleceram um pre-o total de 416$000 ris. Mais minuciosa foi a certido dos mestrespedreiros Joo Antonio dos Reis e Manuel Antunes Lima, ambos juzesdo ofcio de Pedreiro, e Manuel Gomes da Silva, escrivo do mesmoofcio. Falam em braas de alvenaria a 7$000 ris. O fato de que o preose manteve com pouca diferena por mais de uma dcada indica adeclarao do mesmo pedreiro Manuel Antunes Lima, mestre das obrasda fonte de Gravat na Bahia, em 1724, que calculou cada braa dealvenaria a sette mil e quinhentos.19 Valia em 1712, segundo a certidodos mestres pedreiros, a braa de reboque guarnecido 1$500 ris. Cada

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    braa de ladrilho e telhada valiam nesse ano 3$500 e 2$500 ris. Avali-aram a cantaria de N. S. da Palma em 600$000 ris, e oraram hualpendre q. se h de fazer na porta principal em trinta mil rs. A refern-cia a este prtico rstico, destinado provavelmente igreja de Sta. Cruz,tambm elemento to caracterstico das igrejas e conventos do Brasil ePortugal no sculo XVII, reveste-se do maior interesse.20

    Poucos dias depois, o Governador Pedro de Vasconcelos21

    comunicou a D. Joo V os resultados da vistoria e das certides, envian-do a Sua Majestade, ao mesmo tempo, a planta que mandara fazer.Calculou a importncia da igreja nova de Sta. Cruz do Porto Seguro em9.500 cruzados, prometendo que, com o abatimento da cal e madeiraque os moradores j se encarregaram de prover, se El-Rei desse 6.000cruzados, ficaria em trs anos a dita Igreja acabada na sua ltimaperfeio. o Procurador da Fazenda Real, numa rara exibio de gene-rosidade oficial, aconselhou que, dada a extrema pobreza do povo deSta. Cruz, sua obrigao fosse deferida. E assim pareceu ao ConselhoUltramarino na sua sesso de 16 de novembro de 1712.

    No se sabe precisamente quando a igreja foi edificada. provvel que as obras tenham comeado logo aps a declarao doConselho, e seguiram com as demoras comuns no perodo colonial.Muitos anos depois, em abri de 1773, o Ouvidor de Porto Seguro, JosXavier Machado Monteiro, fundador das povoaes de Vila Viosa, Alco-baa, Belmonte e Prado, mencionou num seu ofcio a reedificao dofrontispcio deste templo de Sta. Cruz.22

    A planta que o Governador Pedro de Vasconcelos mandou Corte encontra-se no grupo de documentos aqui citados. Intitula-sePlanta da Igreja de Nossa Senhor da Palma da Cidade da Bahia e leva afirma dos dois engenheiros, a de Miguel Pereira da Costa escrita comtinta e a de Gaspar de Abreu a lpis. (Figura 4)

    Traz o desenho muitos pormenores relativos construo eservios do edifcio. De pequenas dimenses, aproximadamente20.426m por 8.6m, formando sua planta a letra T, representa o dese-nho o antigo templo fundado em 163023 segundo uma lpide da pr-

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    pria igreja, e no o atual, sendo esta uma ampliao da segunda metadedo sculo XVIII. Faltam na planta a torre lateral, que parece ser parte daobra antiga, assim como os corredores laterais que a igreja existenteostenta. Possui, alis, uma nica porta na fachada, como na maioriadas igrejas do sculo XVII, duas travessas da nave e outras duas que vodas sacristias para o exterior. Tambm o tratamento que receberam osespaos aos dois lados dos degraus do altar-mor condiz perfeitamentecom a prtica daquela poca. Almofadas de pedra colocadas diagonal-mente formam os losangos to empregados nesse perodo. O enfeite,to cuidadosamente traado na planta da Palma, provavelmente ia serincorporado ao adorno da nova igrejinha de Sta Cruz. Na Sacristiaprincipal da planta (I) trs escavaes da parede so denominadas daseguinte maneira: (N) Lavatrio; (L) lugar p.o caixo, isto o arcazou cmoda. A presena da cruzinha no diagrama indica a probabilida-de de um altar ter sido armado entre os dois corpos do caixo, disposi-o que ainda se conserva em muitas sacristias colnias. Finalmente aletra M (vo p. clice) levanta a hiptese de um armrio embutido.Nas janelas da fachada veem-se grades de ferro ou de madeira indicadasna planta. Assim o risco da antiga igreja de N. S. da Palma evoca combastantes pormenores o tipo de construo religiosa que predominouna Bahia no sculo XVII e no comeo do sculo XVIII, e de que seconservam importantes restos nas capelas de N. S. de Monserrate, N. S.dos Perdes, Sto. Antonio da Mouraria e S. Miguel.24

    DOCUMENTOS

    Snr.

    Requerendo a V. Mag.de os moradores da Pouoao da SantaCruz termo da Villa de Porto Seguro hau ajuda de custo para a reedifica-o de sua Igreja Matriz, por se achar de todo arruinada, ordenou V.

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    Mag.e por carta de 5 de Nouembro de 710 ao Gouernador e Capitogeral do Estado do Brasil Dom Loureno de Almada que informassecom seu parecer do estado em que se achaua esta Igreja e o com quepodero concorrer os fregueses para esta obra pera conforme a isso setomar a rezoluo que for conueniente sobre o dito requerimento. Aoque responde o gouernador Pedro de Vasconcellos em carta de 10 deJunho deste prezente anno que pello termo da vestoria que por or-dem daquelle gouerno fizero o Capitam mor da Capitania de PortoSeguro o ouuidor e officiaes da camara della que com esta se remeteas reaes mos de V. Mag.de constaua que da Igreja que aly hauia sexistia o lugar donde estiuera, por se fabricada de barro, e o queprometio aquelles moradores para a que nouamente se ha de erigire que pella planta, que mandara fazer, certido do Enginheyro, e dosJuizes do officio de Pedreyro e Carpinteyro, importaria a dita Igrejanoue mil e quinhentos cruzados, mas fazendosse abatimento da cale madeira, que prometem aquelles moradores, os quaes lhe constaque sam muito pobres, e lhe parece, que sendo V. Mag.de seruidomandar dar seis mil cruzados, em tres annos ficara a dita Igreja aca-bada na sua ultima perfeicam.

    De que dando se uista ao Procurador da fazenda respondeo quecom os dizemos que V. Mag.de cobra lhe faa obrigao, principalmentesendo to pobres os fregueses, e concorrendo elles com o que podem,e asim lhe parecia se lhes deuia defferir como apontaua o Gouernador.

    Ao conselho parece o mesmo que ao Prouedor da fazenda.Lx.a 16 de Nouembro de 1712.

    Aos quartoze dias do ms de Setembro do anno de mil e sette-centos e onze, em uirtude e comprimento da Ordem do Gouernador eCapp.am Geral do Estado do Brasil, D. Loureno de Almada, nacida deoutra que tiuera de S. Mag.de que Deus g.de, foro o Capp.am Mayor destaVilla de Porto Seguro Gonallo de Antas Pr.a, o Ouuidor o Capp.am Franciscode Lyra, e o Senado da Camara della, a Pouoao de S. Cruz, termo e

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    districto da dita Villa, e ahy incorporadam.te se informaro do estado emq. se achaua a Igreja feita e fabricada de terra sem resistencia ao tempo,donde nace acharse som.te o lugar donde fora leuantada, e nestes termosfoi conueniente, e precizo tormarse hua caza particular p.a nella se reco-lherem as sagradas Imagens de Xr.o nosso Saluador, as de Sua May Santisss.a,e mais sanctos, por no hauer nas vezinhaanas da dita Pouao cutraIgreja, e ficar a Villa de Porto Segr.o distante quatro legoas, e ainda hoje esto R.o Parocho celebrando na sobredita caza o ineffauel Sancto Sacrefficioda Missa, e administrando os sacramentos todos, por nam faltar com opasto espitual as Almas dos seus freguezes; e informandosse alem disto,da esmola com q. poderia entrar, o concorrer os Moradores, todos pro-mettero, e de facto se obrigaro a dar cem moyos de cal, e as madeyras,juntam.te de q. carecer a obra q. S. Mag.de for seruido mandar fazer, e q.a maiz se no entendio na obrigao e promessa pella sua notoria emanifesta probreza. E som.te se no pode determinar q. poderia custar aobra da Igreja por no hauer na dita Villa Official de pedreiro; mas todosconcordaro que bastaria, sendo semelhante e correspondente a Igrejada Palma da Cid.e da B.a pella pequenhs da dita Pouoaam no necessitarde mayor Igreja, cuja aualiao poder mandar fazer (sendo seruido) osobredito Gouernador e Capp.am geral pos Pessoas Praticas no officio, p.a

    com individuao e clareza se poder informar a S. Mag.de q. Deus g.de e feitotudo finalm.te, segundo a pratica da ordem aprezentada, logo o sobreditoCapp.am Mayor, Ouvidor e Cameristas, sendo testemunhas occulares detudo o refferido neste termo, o mandaro fazer e assignaro em SantaCruz aos 14 de setembro de 711.

    Ex.mo Sr.

    Por portaria de 14 de Maro do Prez.te anno me ordenouV.Ex.a q. com o Capito Engenhr.o Gaspar de Abreu fizesse a planta dehu Igreja em tudo semelhante de Nossa Senhora da Palma dessacidade: e o q. poderia fazer de custo em toda a obra de pedreiro, e feitio

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    de madeiram to, athe se por a d Igreja em sua ultima perfeio p.a V. Ex.a

    informar a S. Mag.de q. Ds. G.de, sobre o requerim.to dos moradores daPouoao de Santa Cruz da Capitania do Porto Seguro.

    Em observa.a da d.a portaria levei em minha comp.a a Igreja deNossa Senhora da Palma o d.o Cap.am Engenhr.o p.a effeito de tirar a planta e osjuzes dos offcios de pedreiro, e carpinteiro, aquelles p.a verem, e aualiaremtoda a obra pertencente a pedra, a cal e esses p.a aualiarem o feitio domandeiram.to da dita Igreja; e pello oram.to q. fiz, seg.do os pressos q. de suascertides consta, importar a d.a Igreja nove mil e quinhentos cruzadosacabada de toda a obra de alluanaria, ladrilho, reboque, cantaria, e telhado,pondo o pedreiro todos os materiaes, entrando o feitio do madeiram.to, osd.os presos so os por q. se fazem nessa Cid.e semelh.tes obras no sitio em queest a Igreja de Nossa Senhora da Palma, a hunlado do alto da Cid.e q hemuita distancia da praya, e por essa cauza sem mayor presso as d.as obras,a respeito da conduo dos materiaes, q. transportaro por mar h a prayae como no sei se na nova Igraje haver to larga conduo, no se podeformar discuro rigurozam.te verdadr.o sobre a importncia de sua despeza,porm no ser grd.e o excesso ou diminuio, porq. se houver diferena p.a

    menos em hum dos materiaes, havelah p.a mais em outro, e assim poderimportar a d.a Igreja aquella qantia posta em sua ultima perfeio: he o q.posso informar a V. Ex.a q. mandar o q. for servido. B.a e Mayo 26 de 712.Miguel Pr. da Costa; Gaspar de Abreu.

    V.E.Dizemos nos abaixo assignados Antonio da Silua Reis Baltezar

    Coelho Barros que nos fomos a Igreja de Nossa Senhora da Palma emprezena do tenente general emg.ro Miguel Pr.a da Costa p.a tomarmos arol toda a obra que toque ao oficio de carpintr.o e ferreiro que achamosvalle coatro sentos e dezaseiz mil reiz e declaramos que faz este custosendo no sitio em que est a dita Igreja de Nossa Senhora da Palma e porassim ser uerdade passamos esta sertido por nos assignada. B.a 18 demaio de 1712. Antonio da Silua Reis; Baltazar Coelho Barros.

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    V.E.Dizemos nos abaixo assignados Juizes e Escrivo do officio

    de pedreiro q. nos fomos a Igreja e N. S. da Palma desta Cid.e em qualpello Tenente engenheiro Miguel Per.a da Costa nos foi dito dissemos opresso da obra de pedreiro e no mesmo lugar donde est a d.a igrejaanualuamos a Brassa de aluenaria a sete milrs., e a Brassa de reboquegoarnedico a mil e quinhentos rs. e a Brassa de ladrilho a ter mil equinhentos rs. sendo embocado em cal, e a Brassa de Beira e sobreiraa dous mil e seis centos e corenta rs., e orssamos hu alpendre q. se ha defazer na porta principal em trinta mil rs.; e por nos ser pedida a prezen-te a passamos por nos reportamos aos ditos pressos. Bahia em 24 deMayo de 1712 annos. Joo Antunes do sic Reis; Manoel Antunes Lima;Manoel Gomes da Silva.

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    CAPTULO III: FBRICA DE PLVORA

    PLANTA PROFIL E CORTE DA CAZA QUE SERVIADA FBRICA DE REFINAR A PLVORA

    (COLORIDA: .295m x .41m)

    EM SEU interessantssimo livro, Fortificaes da Bahia,25

    o doutor Joo da Silva Campos dedica um captulo Casa da Plvora daBahia. Cita vrias aluses de velhos escritores ao lugar onde a plvora sefabricava, sem localizar definitivamente a casa que a resguardava. difcilcompreender porque o ilustre historiador assim trata o problema, pois noprospecto da cidade da Bahia, que fizeram os engenheiros Manuel Cardosode Saldanha26 e Jos Antonio Caldas27 o lugar da Casa da Plvora destaca-senitidamente. Ficava ao lado do forte de So Pedro, na zona do atual Palcioda Aclamao. A legenda da vista, que data de 1759, informa que a caza,onde se fabricava a plvora, porque, como sabemos agora, desde 1730no se utilizava mais para esses fins a imponente construo.

    Em torno antiga Casa da Plvora existe importante docu-mentao no Arquivo Histrico Colonial Portugus. Inclui no menosde trs desenhos feitos por diversos engenheiros militares entre 1751 e1756 com algumas cartas e ordens rgias pertinentes.

    Sabe-se que a Casa foi concluda em 1705 por D. Rodrigo daCosta, 30 Governador do Brasil.28 Na sua carta a Sua Majestade D. Pedro

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  • Figura 5 - Lisboa. Arquivo Histrico Portugus. Casa da Plvora da Bahia.

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    II, datada de 10 de setembro de 1705, informando sobre o governo deD. Rodrigo, o Senado da Cmara da Bahia fala na Casa da Plvora comoobra j terminada, depois de trs anos de trabalho.29 Em 22 de abril de1702, D. Pedro II comunicara a D. Rodrigo da Costa, chegado h poucotempo da metrpole, sua rgia resoluo de mandar fazer a casa, cujaplanta remeteu. Alm disso, notificou o Governador da vinda nestaocazio de Manoel da Costa Mestre perito na arte de a [polvora] fabri-car, com o qual se ajustou o darselhe tres tostoens nessa praa, porquenesta corte se h de assistir com dous tostoens por dia pelo meu conce-lho ultramarino p.a sustento de sua mulher, e familia.

    A 22 de maro de 1750, D. Jos I, considerando a possibilida-de de empregar num projeto de novos quartis a Casa da Plvora, forade uso h muitos anos, dirigiu-se ao Provedor-mor da Fazenda Real daBahia, Manuel M. da Cunha de Soto Maior, que por ser conveniente aomeu servio, me pareceo ordenarvoz informeiz: que uso se da ao edi-fcio da Casa da Plvora dessa Cidade, remettendo-me planta do mesmoedifcio. Das informaes juntas para a resposta do Provedor-mr em22 de julho, destacam-se alguns elementos da histria da construo.Respondeu este oficial que, depois de receber-se a carta rgia de 22 deabril de 1702, ps-se em praa a obra de pedreiro e carpinteiro Antonioda Silva Reis, cujo nome j foi registrado aqui, em relao aos autos daavaliao da igreja de N. S. da Palma em 1712. Subiu a despesa da obrada Casa da Plvora quantia de 24.000 cruzados e 13$998 ris.

    Nesta altura convm citar uma carta notvel do engenheiroMiguel Pereira da Costa, datada na Bahia a 18 de junho de 1710 e con-servada na Biblioteca da Ajuda em Lisboa.30 Fala na incapacidade docapito da artilharia Francisco Pinheiro, q. foi carpintr.o exprofeso,o qual cuidando ser o mesmo cortar hum madeiro em esquadria, oubuscar o vivo a hua pessa, q. fortificar hua praa, pasou a sua curiosid.e,ajudado d q. leo em Luis Serro,31 a intitulalo engenhr.o E logo depoisp.a a fabrica nova da polvora q. aqui se fez, viero desse Reino 3 plantasp.a se fazerem as oficinas devid.es por cauza dos incendios q. costumahaver, o no obstante serem feitas por hu raro engenho, e mandados

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    pello conc.o; o Pinhr.o c contraponteou e se fez tudo junto por huasua; nella poz hua porta das duas q. o Mathematico tras nas suas fig.as

    em q. se esmerou gastd.o nella 1000 rs. q.do esta caza de polvora podiater menos portas, e mais agua, pois lhe esqueceu fazer cisterna, sendovo capaz p.a tudo. Na luz desta curiosa comunicao preciso supora interveno do soi-disant engenheiro Francisco Pinheiro na execu-o do projeto vindo da metrpole. Modificou a portada do original,substituindo-lhe uma das duas inventadas por Luiz Pimentel Serro noseu tratado famoso sobre a engenharia militar. Na verdade a entrada dacasa da Plvora delineada nos desenhos de Lisboa revela grande seme-lhana com a segunda do livro de Luiz Serro.

    Informou o Provedor-mor, tambm, que Manuel da CostaMestre de fabricar Plvora, foi substitudo em 1715 por Afonso Luizda Silva, 32 que em 1730 entregou a dicta casa, e toda a sua fabrica aoAlmoxarife Francisco de Torrez Bayam, e daquelle dia quinze de No-vembro, ath o prezente no tem servido a dicta casa, mais, que pra seguardar a fabrica della e alguns materiaiz da mesma officina.

    Na sua resposta de 6 de agosto de 1751 disse Manuel daCunha de Soto Maior, alm do contedo do relatrio acima referido,que mandou junta a planta da dita caza feita pello Sargento morEngenheiro. Esta parece ser o risco na coleo do Arquivo firmadopor Manuel Cardozo de Saldanha e datado de 24 de junho de 1751.33

    Depois de um ano de deliberao sobre o projeto de quartis novos,chegou o Conselho Ultramarino a uma deciso contrria. Promulgou-se a Proviso Rgia de 16 de novembro de 1752 confirmando estadeterminao, e sendo ouvido neste negcio o Procurador da minhaFazenda Me parece dizer-vos que se no aprova a factura dos Quartisna Caza da Plvora.

    Tendo a experincia mostrado que no convinha continuarna Bahia a fbrica de plvora, seguiram-se outras propostas de remode-lao, cuja natureza no foi possvel determinar com inteira segurana.No ano de 1755, o capito engenheiro Bernardo Jos Jordo firmouuma segunda planta da Casa da Plvora com uma vista da sua fachada

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    e corte do interior, planta que tambm se acha no Arquivo e que figurana lista de plantas, mapas e desenhos publicada por Eduardo de Castroe Almeida.34 Um ano depois, mandou-se da Bahia para o Conselho Ul-tramarino a terceira das plantas.35

    Os trs desenhos so muito parecidos, sendo o primeiro deManuel Cardozo de Saldanha o mais completo. Falta nas outas plants agrandiosa inscrio em cima do ornamento do prtico, m.to Alto, ePoderozo Rey e S.r nosso D. Pedro 2 de Portugal mandou fazer estaobra de afficinas da polvora Custa da fazenda real p.lo g.or e Cap.m Gr.al

    deste Estado D. Rodrigo da Costa. Anno de 1705.A planta de 1755, obra de Bernanrdo Jos Jordo, identifica-se

    como tendo sido executada ordem do conselheyro, e Entend.e g. doouro Wenceslau Pr.a da Siva. (Figura 5) Mostra uma rea quadrada deaproximadamente 12m. rodeada por grandes cortinas ligando os quatrobasties dos ngulos.O prtico, parecido com a entrada do forte de Sto.Antonio da Barra, construdo em 1696 por D. Joo de Lencastro (1694-1702) 36 com as suas grossas colunas rusticadas, obeliscos e tarja militar,37

    denncia, como j se notou, a influncia de uma gravura de prtico defortaleza publicada por Luiz Pimentel Serro. O ptio interior tinha aoredor dele uma arcada de 9 vos. Havia telhados de quatro guas nasprincipais divises, no sendo revelada a funo dessas salas, pois nenhu-ma explicao acompanha a Planta, profil, e corte.

    Como, porm, sua disposio parece idntica do risco dosargento-mr Saldanha, justifica-se o uso da legenda dele em relao planta de Jordo. Segundo este sistema, trs dos baluartes (A) teriamsido cazas nos tres angulos, e no meio de cada uma dellas est hummoinho com as suas pedras, e as madeiras do d.o mecanismo estoinnutis. Dentro da quarta casa angular estava hua calddeira emfornalha. As pequenas divises aos dois lados da sala (C) e as que cor-respondem na cortina paralela funcionavam como 4 cazas discober-tas p.a Luz das imediatas. Na sala (B) estava a cavalaria. Dentro da sala(C) veem-se indicadas em ngulos diagonais as duas mquinas depilloens de madeira. No ptio, segundo Manuel Cardoso de Saldanha,

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    estava huma diviso de pano de tijollo singello, e no mesmo alinham.to

    debacho dos arcos de hua e outra parte est hua estacada pregada nocho com porta ou cancella. Todavia, no se a indicou na planta docapito engenheiro Jordo.

    A forma quadrada da Casa da Plvora, com seus quatrobaluartes angulares, representa um dos tipos mais caractersticos defortalezas dessa poca. De forma quase idntica era seu vizinho,o forte de S. Pedro, principiado, sgundo Vilhena,38 sob o governo doMarquez de Angeja, D. Pedro Antnio de Noronha (1714-18), segun-do Vice-rei do Brasil, e terminado no do quarto Vice-rei, D. VascoFernandes Csar de Meneses, Conde de Sabugosa, como proclama alpide do porto, em 1723.

    Tambm a forma do porto deste forte, como o representa odesenho de Vilhena, se mostra possivelmente influenciado pela Casa daPlvora de 1705.

    Relata Joo da Silva Campos a ltima etapa da histria da Casada Plvora da Bahia. Em 1838 a Santa Casa da Misericrdia arrematouo velho edifcio para aproveitar sua pedra na obra do Hospital de Sta.Isabel, o que aconteceu somente depois de 1849. Assim desapareceuum monumento baiano do princpio do sculo XVIII, cujo destinodepois de 1756 no foi ainda suficientemente esclarecido.39

    DOCUMENTOS

    Senhor,

    Pella Proviso da Copia junta de vinte e dous de Abril de milsetecentos e dous mandou V. Mag.e edificar nesta praa huma caza parafabrica da polvora pella planta que foi servido remeter, com o mais perten-cente a dita lavoura em cujo comprimento se edificou a dita casa, queimportou de pedreiros, e carapina, vinte quatro mil cruzados, cento e trinta

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    a e oito mil, nove centos, e noventa e oito reis e assistio o Mestre que veyo dadita fabrica athe dezaseis de Agosto de mil sete centos e quinze e entrou arefinar a polvora intil Affonso Luis pella ordem da copa junta de doze deJulho de mil sete centos, e catorze, e assistio athe quinze de Novembro de milsetecentos e trinta, e de anto entregue tudo, que havia recebido pertencen-te a dita fabrica athe o prezente no tem servido a dita caza, mais que para seguardarem as taes pertenas, e alguns materiais, como informa o Escrivoda fazenda e mando junta a planta da dita caza feita pello Sargento morEngenheiro e comtudo informe a Proviso de vinte do ms de Maro doprezente anno de mil sete centos e cincoenta e hum como V. Mag.e meordena. B.a 6 de Agosto de 1751. Manoel da Cunha de Sotto Mayor.

    CopiaGovernado, e Cap.m g. do Estado do Brazil. Eu El Rey voz envio

    muito saudar por ser conveniente que nessa Cidade da Bahia haja fabricade polvora pra nella se reduzir polvora o salitre que ha nesse Estado e seespera haver cada vs maiz abundancia. Fui servido resolver, que seedifique nella caza para a d.a fabrica, e p.a esse effeito, Me pareceo dizervozque se voz remete a planta incluza p.a. por ella se obrar o que for necess-rio, como tambm tudo o mais conducente p.a se lavrar a d.ta polvora e p.a

    assistir ao trabalho della, vay tambem nesta ocazio, Manoel da CostaMestre perito na arte de a fabricar com o qual se ajustou o darselhe trestostoens nessa praa porque nesta corte se ha de assistir com dous tosto-ens por dia pelo meu concelhos ultramarino p.a sustento de sua mulher,e famlia, de que voz avizo para que assim o tenhaes entendido e faaesexecutar o que por esta ordeno. Escrita em Lx.a a vinte, e dous de Abril demil sette centos e dous. Rey Para o Governador g. do Est.o do Brazil.

    Copia

    Dom Joam por graa de Deoz Ray de Portugal, etc. Fao sabera voz Prov.or mor da Faz.a do Est. do Brazil, que por ter rezoluto queAfono Luis da S.a tome por assento o refino da Polvora que se acha

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    neste Est.o para se refinar, e p.a esse effeito necessitar da fabrica que seacha nestapraa, vozordeno lhe mandeis entregar a fabrica da Polvoracom todas as suas pertenas e miudezas por inventario, e por elle serobrigado o mesmo Afonso Luiz a restituir tudo sem deminuio algu.El Rey nosso Snr o mandou por Miguel Carloz Conde de Sam Vicente,Gr. da Armada do mar oceano doz seoz concelhoz do Estado e Guerrae Presidente do ultramarino Miguel de Macedo Rib.ro a fez em Lx.a adous de Junho de mil sette centoz, e quartoze.

    Snor Des.or Chanc.er e Prov. or mr.

    Por carta de Sua Majestade de vinte e douz de Abril de mil,settecentos, e dous, que ajuncto Copia: foi o dicto Senhor servido, que seedificasse nesta Cidade, hua casa para a fabrica da Polvora, remettendo-sea planta para ella, e pondo-se em Praa a obra de Pedreiro, e Carpinteiro:arrematou o Mestre Pedreiro Manoel Vieira Paez, que importou pelasverbas, que se acho margem do Termo da sua arrematao sette con-tos, e cem mil reiz, e a de carpinteiro arrematou o Mestre Antonio da SilvaReys, que importou pelas verbas, que tambem se acho margem doTermo da sua arrematao, dous contos, seis centos trinta e oito milnovecentos, novent, e oito reis, que importo s referidaz duaz quantiazvinte, e quatro mil cruzadoz, cento, trinta e oito mil, novecentos, noventae oito reis, e assistio Manoel da Costa Mestre de fabricar Polvora, athdezesseis de Agosto de mil, settecentos, e quinze, que por Ordem de SuaMajestade, de que tambm ajuncto Copia, entrou Affono Luis a refinartoda a Polvora, que se achou inutil, e fabrica-la de novo, o qual esteve athquinze de Novembro de mil, settecentos e trinta, que entregou a dictacasa, e toda a sua fabrica ao Almoxarife Francisco de Torrez Bayam, edaquelle dia quinze de Novembro, ath o prezente, no tem servido adicta casa, mais, que para se guardar a fabrica della e alguns materiaiz damesma officina. Bahia, e Julho 22 de 1751. Ant. Per.a da Sylva.

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  • 39

    CAPTULO IV: CONVENTO DA LAPA

    PLANTA DO CONV.TO DE N. S. DA LAPA,E SE.S ACCESSO. OS

    [COLORIDA: .707m x .508m]

    O PRIMEIRO convento de freiras na Bahia foi fundado sob ainvocao de Sta. Clara do Desterro no ano de 1665.40 Em 13 deoutubro de 1733, quando este convento j no bastava para o nme-ro crescente de mulheres que o procurava e assim se embarcavom.tas em quase todaz as frotas p.a o Reino, hindo alguas contra suavontade por fazerem a de seus Paez, conseguiram Joo de MirandaRibeiro e Manuel Antunes Lima uma Proviso Rgia para fundar umsegundo convento sob a regra de S. Francisco de Assis. Depois damorte de Lima, Joo de Miranda Ribeiro continuou sozinho a ambi-ciosa empresa, que em 1741 ficava quase terminada. Originara-se aobra no legado que o fundador herdara de Joo Pinto Brando, deumas terras perto do hospcio de N. S. a Piedade dos Padres Capuchi-nhos Italianos,41 onde erigiu uma capela ou ermida em honra de N. S.da Lapa. Logo que se concluiu essa obra piedosa, trataram os doiscompanheiros da fundao de um convento anexo capela e, neces-sitando de novos terrenos, obtiveram 110 braas contguas por or-dem do Vice-rei Conde de Sabugosa42 em virtude da licena rgia para

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    Lapa

    .

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  • 41

    a fundao. Ocupava o convento principalmente os terrenos do tes-tamentado, com a exceo de 39 braas do lote concedido pelo Vice-rei. Uma vez terminado o convento, resolveu Manuel de MirandaRibeiro na parte restante da doao fazer mayor Igreja, por ser m.to

    pequena Ermida a dita Capela, a que se encostou o Convento... e hojeno ser capaz do concurso, que ocorre a assistir aos Offcios Divinos...e carecer ainda o Convento de algumas Cazas para accomodao dosserventes delle, e outras Officinas. Pediu ento confirmao rgiadessas 71 braas ainda no utilizadas mas, como nesses terrenosexistiam certas trincheiras, 43 que faziam parte das antigas fortifica-es da cidade, resolveu D. Jos I reservar sua merc enquanto norecebesse declaraes favorveis da parte do Brigadeiro Jos da SilvaPais,44 um dos principais engenheiros militares portugueses na Am-rica. Preocupado com a fortificao da Ilha de Sta. Catarina, voltou omilitar a Lisboa sem poder cumprir as reais ordens a respeito dosterrenos do convento, ordens, que alis negou ter recebido antes de1743, quando j se encontrava em Portugal.

    Depois, a obra de Joo de Miranda Ribeiro ficou embargadamuitos anos. Finalmente, em 1751, por Provises de 5 de outubro,mandou El-Rei dois engenheiros da praa da Bahia, o Tenente Gene-ral Nicolau de Abreu e Carvalho,45 e o Sargento-mr Manuel Cardosode Saldanha, j nosso conhecido, visitar e examinar os ditos terrenospara averiguar se as trincheiras eram necessrias defesa da cidade,fazendo, ao mesmo tempo, uma planta do stio e das construesque o ocupavam.

    Respondeu Manuel Cardoso de Saldanha em 10 de maio de1752 que as trincheiras no serviam para defender a Bahia e que outroengenheiro, o Brigadeiro Joo Mass,46 [que visitou a cidade em 1712]j as achara inteis, e que segundo este parecer o Conde de Sabugosatinha feito a sua doao. Corroborou as suas declaraes Nicolau deAbreu e Carvalho em uma carta de 30 de janeiro de 1754. No entanto,por uma Real Resoluo de 28 de setembro de 1753, entraram asprimeiras religiosas no novo convento de N. S da Lapa. Dois anos depois

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  • Figura 7 - Salvador. Convento de N. S. da Lapa.

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  • 43

    o Conselho Ultramarino, em 27 de fevereiro de 1755, autorizou aosuplicante o uso das 71 braas de terra.

    Os documentos sobre esta ao, no Arquivo Histrico Colo-nial Portugus, contm vrias referncias descritivas da obra do con-vento. J em 19 de junho de 1741, o Provedor e mais oficiais da alfn-dega, apoiando a splica do fundador, louvaram o vistozo e grandiozoConvento, falando no elevado stio da sua fundao. Concorreramoutras altas personagens em louvor da obra. A aprovao do chaceler emais desembargadores da Relao da Bahia, passada em 3 de junho,emprega as mesmas frmulas. O Juiz de Fora, Vereadores e Procuradordo Senado da Cmara em 5 de julho de 1741 referiram-se ao conventoque Joo de Miranda Ribeiro tem fundado e feito com admirvelarquitectura... visinho de huma singular capela de Santo Antonio daMouraria.47 No dia seguinte o Padre Joo Pereira da Companhia deJesus, Reitor do Colgio do Salvador,48 achou que o convento da Lapaserve de grande ornam.to p.a a d.a cidade. Em 12 do mesmo ms,o doutor Frei Feliciano de Melo, Prior do convento de N. S. do Carmo,elogiou o admirvel, e espaozo Conv.to e, no dia 13, o Dom Abade domosteiro de S. Sebastio dos monges beneditinos homenageou huconvento magnfico.

    A planta, que Nicolau de Abreu e Carvalho49 firmou e que foidelineada por seu filho mais velho, o infeliz Joo de Abreu e Carvalho,mostra a posio do convento de N. S. da Lapa e sua capela em cima dasantigas trincheiras (Figura 6) (FF). Circunda-os por trs um vasto ter-reno aberto, em cujo centro se nota a Fonte do Coqueiro (I). Para a ruada Lapa (G) e suas primeiras casas de moradores (H) ostenta o edifciouma grandiosa fachada de no menos de 128 metros, frontaria que,salva a salincia da capela primitiva, que logo desapareceu, conserva-seainda quase intacta. Constitui um dos mais impressionantes conjun-tos de arquitetura religiosa de todo o Brasil. Assim a planta revela umvalor especial porque mostra que a construo toda da mesma po-ca.50 L figuram, em primeiro lugar, as cazas do Capello e alguasServas ( C). que se veem no primeiro plano da fotografia moderna.

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  • 44

    (Figura7) Depois o muro alto que encerra o ptio externo (B), do qualse passa para o interior do convento em baixo do elevado e magnficomirante de trs pavimentos, cada um com suas janelas ainda tapadasde grades de ferro.l Em seguida aparece o convento com o claustrointerior das freiras (A), donde se comunica com a igreja da Conceio eLapa (E), cuja sacristia termina o grandioso conjunto. De forma maisimpressionante do que o convento de Sta. Clara, o da Lapa demonstratalvez melhor de que qualquer outro do Brasil, a disposio tpica dasmaiores fundaes deste gnero de Portugal, como o Real Convento deSta. Clara-o-Novo de Coimbra.

    Quem eram os dois fundadores da capela e convento de N. S.da Lapa? Conhecem-se seus nomes sem se saber nada das suas vidas.O nome de Manuel Antunes Lima lembra o indivduo que tomou partena avaliao da obra de pedraria da igreja de N. S. da Palma em 1712.Por um daqueles achados inesperados, que tornam fascinante pesqui-sar em velhos arquivos, apareceu o nome de Joo de Miranda Ribeiroem um documento de 15 de setembro de 1753. Acompanha duasplantas de Terrenos da Cidade da Bahia e dos Quartis q. nelles seprojectaram construir, para Alojamento das Tropas pagas. Foram de-senhadas por Jos Antonio Caldas e medem .45m. x .27m. Estas plan-tas, representando uns quartis a serem edificados perto de N. S. daPiedade so firmados por Nicolau de Abreu e Carvalho e Manuel Cardo-so de Saldanha e so talvez os mesmos mencionados na documenta-o da Casa da Plvora. Foram orados os quartis em 80.000 cruzadospelos medidores e avaliadores do Cons.o o Mestre Pedreiro Felipe deOliveira Mendez51 e o M.e Carpinteiro Joo de Miranda Ribr.o Existesempre a possibilidade de ter havido dois homens do mesmo nomenessa poca, na Bahia. Mas a circunstncia do carpinteiro Joo deMiranda Ribeiro ter avaliado os quartis projetados justamente no per-odo da atividade do fundador da Lapa em prol da aquisio das 71braas de terra e ter exercido uma profisso semelhante do segundofundador, Manuel Antunes Lima, torna muito atrativa, a possibilidadede ambos terem sido oficiais mecnicos da Bahia.

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  • 45

    DOCUMENTOS

    NOS PROV.OR E MAIS OFFICIAES DA ALF.A DA CID.E DA BA.A

    DE TODOS OS SANCTOS

    Certificamos q. Joo de Miranda Ribr.o mor. Nesta Cid.e da Bahiatem fabricado, e feito com summa perfeyo e muy consideravel despezahum vistozo e grandiozo Convento p.a Religiozas na Capella q. tinha edifica-do a Nossa Sr. da Lapa (celebrandose nella todos os dias o Sancto Sacrifcioda missa e no anno expondo com grande festividade, e aparato tres vezes oSm.o Sacramento da Eucaristia pouco distante do Convento dos ReligiososCapuxinhos de Nossa Sra. da Piedade, e se acha quaze acabado com admira-vel planta, e singularez commodoz para o recolhimento das Religiozaz,e segura observancia das obrigaez do seo estado de cuja obra nenhumprejuizo pode resultar a fortificao desta Cidade sem embargo de se haverfundado em parte de hua antiga trinxeyra por no ser j esta defensiva damesma Cidade, no s por se achar j desbaratada, e por varias partes abertaem caminhoz publicoz e povoada de Cazas contiguaz ao referido Convento,e a dos d.oz Religiozoz Capuxinhos da Piedade, mas tambem por se averemerigido variaz Fortalezas nos lugares mais arriscadoz da mesma Cidade, poronde se podia recear a invadisse o inimigo, o que nunca poderia prudente-mente fazer por aquelle stio da Lapa, pello ter maiz efficazmente premuni-do a natureza com hum extenso Dique cujas margez no permittem aalojao de m.ta gente, nem commodo embarque, ou desembarquez porserem de hu e outra parte em vasta distancia imtupidaz de juncos,e atoleyroz, em que s canaz, e jangadaz podem entrar com dificuldade, asquaes embarcaes por serem razaz, e pequenas apenaz podem conduzirquatro, ou seiz pessoaz, e pello contgr.o he notrio, e muy attendvel a utili-dade que rezulta a esta Cidade a sua Comarca da subsistencia, e conservaodo dito Conv.to da Sra. da Lapa, no s pello decorar e fermozear grande-mente, e dar vallor as Propriedadez, e terraz contiguaz, mas tambem pelloaugmento q. lhe acresce, na exteno e povoasso de novoz habitadorez e

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    Cazas naquelle Stio, qu. Por ficar distante era pouco frequentado, e aindapara os navegantez serve de demonstrao de terra, por avistar muytazlegoaz ao mar o elevado e magnfico mirante do dito Convento sobre aeminencia do sitio da sua fundao que he dos maiz proporcionadoz quep.a hisso h nesta Cidade, onde he geralmente aplaudido e louvado do dJoo de Miranda Ribr.o pello acerto da sua eleyo e constante zello e fervouque comessou, proseguio e tem quazi concludo a referida obra sem embr.o

    de lhe faltar o Compamhr.o q. com elle a tinha empreendido que foy M.el

    Antunez Lima e pella acomodao que no dito Convento podem ter asfilhaz dos moradorez da mesma Cidade, e sua Comarca, por ser muy popu-loza carecia de maiz Conv.tos e por ho haver maiz q. o de S. Clara do Desterrose embarcavo m.tas em quazi todaz as frotas p.a o Reyno, hindo alguazcontra sua vontade por fazerem a de seus Paez. E por ser tudo verdade e nosser esta pedida a mandamoz passar e assignamoz afirmado o relata.do de-bayxo do juramento dos Sanctos Evangelhos. B.a e de Junho 19 de 1941annoz. Domingo da Costa Almada et. al.

    Senhor,

    Por avizo do Secretrio de Estado Diogo de Mendona CorteReal de vinte, e sette de Maro de mil settecentos, sincoenta, e hum aoMarques de Penalva, Presidente deste Cons.o foi V. Mag.de servido que ven-dose nelle a petio, que baixava incluza, de Joam de Miranda Ribeiro, selhe consultasse o que parecesse, em a qual diz o Supp.te, que movido dobem espiritual das Almas pela grande necessidade que tinho os Morado-res do Bairro do Toror [Toror] da Cidade da Bahia de Igreja para ouvi-rem Missa, fez edificar sua custa huma pequena capella, ou Ermdadedicada a Nossa Senhora da Lapa, e mostrando Deos com repetidosprodgios a acceitao que fizera desta fundao, pertendeo o Supp. te paramayor cloria do mesmo Senhor erigir no mesmo sitio hum convento deReligiosas recoletas, de sorte que a dita Capella lhe ficasse servindo de

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    Igreja e recorrendo a V. Mag.de juntam.te com Manoel Antunes Lima, mo-rador na mesma Cidade para lhe dar Licena para a dita fundao foi V.Mag.de servidor por sua Real Provisam, precedendo as informaes neces-srias do Arcebispo Vice Rey daquele Estado, e do Procurador da FazendaReal delle, conceder-lhe licena para naquelle sitio se fazer a dita fundaona area que para ella fosse preciza, e em virtude da dita Provizam come-ou o Supp.te a dita obra, sem embargo resilir do ajustado concurso paraElla o dito Manoel Antunes Lima, aproveitando-se das terras, q. lhe deixouo Capelam Joam Pinto Brando no Testam.to com que faleceo, e porqueestas no bastavo para a fundao do dito Convento, e naquelle stio seachavo huns brutos fundamentos sem pedra, nem tijolo, a que se d onome de Trincheiras, todos desbaratados, e abertos em caminhos publi-cos, de sorte que j no podia ter o efeito para que antigamente se come-aro a fabricar por haverse extendido por elles a Cidade, enchendose deCazas, povoandose de moradores, e dividendose em ruas the a Fortalezade S. Pedro, que he a que cobre em as suas Muralhas e diques a Cidade,alm de outras Fortalezas com que se acha presumida lhe deo o V. ReyConde de Sabugosa em virtude de licena, que j tinho de V. Mag.de paraa d.a fundao, cento e dez braas do dictos chos, ou Trincheiras, despoisde se proceder a nova vestoria pelo Provedor-mr da Fazenda Real com oDez.or Procurador da Coroa, e o Engen.ro daquella Praa, e se averiguar nadita vestoria no pdoer a dita Trincheira de defensas Cidade, pela situa-o e estado em que se achava; e porq. da referida data de ocupao coma fbrica do dito Convento s trinta, e nove braas para a parte do Sul emfrente da Capella por se edificar a mayor parte do Convento nas terrasdeixadas pelo dito Joam Pinto Brando fora da sobredita Trincheira re-querero os Supp.tes a V. Mag.de a confirmao das settenta, e hum braas,que restavo para mayor desafogo do Convento, e poder accrescentarsepelo tempo futuro se necessrio fosse; mas no foi V. Mag.de servido defe-rirlhe, antes se mandou suspender em toda a obra, que j se achavaacabada, at vir a informao que sobre este particular se mandou pedirao Brigadeiro Joze da Silva Paes, quando finda a fortificao da Ilha de Sta.Catharina passasse Cidade da Bahia, e ficando assim embargado mais de

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    dous annos a obra, achandose j na ultima perfeio o dito Conventocom larga despeza do Supp.te, e admirao daquelles moradores pelabrevidade com que o fizera no limitado espao de sinco annos com humto elevado, e vistozo mirante, que serve de baliza aos navegantes para demuito longe reconheceram a terra, e demandarem a barra da dita Cida-de, seguindose do dito embargo no frustarse o pio intento, com que foifeita a dita fundao, mas a infallvel runa, que naquella Regio padecemem breve tampo os edifcios que se no habito, recorreo o Supp.te nova-mente a V. Mag.de expondo-lhe os mencionados inconvenientes e pedin-dolhe hovesse por bem se recolhessem no Convento as Religiozas desti-nadas para a sua fundao, visto se achar acabado, ficando o dito requerim.to

    da confirmao das settenta, e hum braas daquelles chos, que se notinho ainda ocupado, pendente at a informao do dito Joz da SilvaPaes, e V. Mag.de por sua innata piedade foi servido por sua Real Rezoluode vinte, e oito de Settembro de mil, settecentos, sincoenta e trs emconsulta deste Cons.o determinar pudessem mudarse para o sobreditoConvento as novas Religiozas, o que com efeito se executou com univer-sal aplauzo, e consolao espiritual de todo aquelle povo: E porque seachava restitudo a esta Corte o sobredito Brigadeiro Joze da Silva Paes econsequentemente sem efeito a Ordem, porq. V. Mag.de foi servido com-metterilhe o exame dos ditos chos ou Trincheiras, de cuja informaodependia o requer.to da confirmao que o Supp.te pertendeo das ditassetenta e huma braas que ficaro pro occupar, e so precizas para sefazer mayor igreja, por ser huma m.to pequena Ermida a dita Capella, aque se encoustou o Convento, como destinada naquelle tempo so paraos moradores daquelle bairro poderem com mayor commodidade ouvi-rem missa nos dias de preceito, e hoje no ser capaz do concurso, queoccorre a assistir aos Officios Divinos, e mais exerccios espiritues, quenella se administaro, e carecer ainda o Convento de algumas Cazas paraaccommodao dos serventes delle, e outras Officinas recorre o Sup.te

    incomparvel piedade de V. Mag.de para que se digne a vista do referidoconfirmarlhe as ditas settenta, e huma braas de chos para o dito effeito,que o Supp.te dezeja executar antes que lhe falta a vida por ser o nico que

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    concorre para esta despeza, que por sua morte ficara caducando pordepender da agencia com que se aplica a conseguir os meyos para ella,pelo que pede a V. Mag.de que em considerao do referido, que tudo secertifica pelos documentos, que se acho na Secretaria deste Cons.o affec-tos aos mencionados requerimentos, e no ter effeito a dita informaopedida ao Brigadeiro Jos da Silva Paes, q. se achava j recolhido nestaCorte, lhe faa merc confirmarlhe as ditas settenta, e huma braas dechos para extenso da dita Igreja, e mais Officinas precizas do Conventodas Religiozas, attendendo a ser certo no poder ter serventia para defezada cidade a dita chamada Trincheira pela extenso, em que hoje se achaaquella povoao, cazo que se queira novamente fortificar se h de deline-ar sem duvida a fortificar a fortificao della por outra planta, vista asituao referida. Para satisfazer a esta Real Ordem de V. Mag.de se manda-ro juntas a referida petio, os papeis de qie ella faz meno, e dandosevista ao Procurador da Fazenda respondeo, lhe parecia que se devia por naReal prezena de V. Mag.de este requerim.to, e as resolues das Consultas,que nelle se referem, para que V. Mag.de se servisse mandar algum Engen.ro,que fizesse o mesmo para que se destinava Jos da Silva Paes, e que estefizesse o exame na necessidade, e utilid.e deste citio e que no havendo aque se considerava, assim a informasse ao V. Rey para se mandar cumprira doao, que delle se achava feita.

    Sobre esta resposta se ordenou ao Sarg.to mor de Batalha Josda Silva Paes informasse com seu parecer sobre este requerim.to, decla-rando tambem se recebera a ordem para ir delinear as fortificaes daCidade da Bahia, na forma que V. Mag.de ordenou por resoluo de vintee nove de Outubro de mil, sette centos, e quarenta posta em Consultadeste Cons.o, que tambm se lhe remeteo para este efeito; ao que satis-fez, dizendo, que no recebeo esta ordem de que faz meno a referidaConsulta, e s na frotta de mil, sette centos quarenta, e dous o mandoueste Cons.o informar por Proviza de vinte e nove de Dezembro de mil,sette Centos quarenta, e hum sobre o requerim.to que fez a V. Mg.de odito Joam de Miranda Ribeiro para que se lhe houvesse de confirmar adata que o V. Rey Conde de Sabugoza lhe tinha feito do terreno que

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    occupavo as antigas Trincheiras que cobrio a Cidade da Bahia paracontinuar a obra do Convento que ha tinha principiado, e se achavaquase findo; ao que respondera que com no tinha visto a situao doterreno pertendido em que se tinha edificado aquella obra (que indevi-damente se tinha permittido a Licena de se erigir sem que V. Mag.de

    estivessem desprezadas aquellas defensas taes, ou quaes, e se tivessemescolhido outras que parecessem mais proprias) no podia informarsem que ocularmente visse, e examinasse e que podia ser mais conve-niente para a defensa daquella Capital, escolhendo o terreno mais pro-prio, ou reformando o mesmo quando se julgasse era capas: Em cujostermos lhe parecia se devia mandar informar o Tenente General Nico-lao de Abreo de Cavalho para que em companhia do Sargento morManoel Cardoso de Saldanha, ambos Engenheiros vissem, e examinas-sem o terreno pertendido, e o em que se acha feito o Convento sobre asantigas Trincheiras, e informassem se devio, ou no reformarse, ou sepor outra parte deve correr a fortificao que julgassem preciza paradefensa daquella Cidade, e tudo o mais que se lhe offerecesse a respeitode que se acha feito, mandando de tudo huma planta exacta, e configu-rao do terreno para que a vista de tudo se pudesse julgar, o quepoder ser mais conveniente.

    E ordenandose aos ditos officiaes Engenheiros por Provizesde Sinco de Outrubro de mil, sete centos, sincoenta, e hum informas-sem com as declaraes apontadas nesta informao do Sargento morde Batalha Jose da Silva Paes Satisfes o Sargento mor Engen.ro ManoelCardoso de Saldanha em carta do prim.ro de Mayo de mil, sette centos,sincoenta, e dous disendo que visto, e examinado o terreno pertendidoneste requerm.to por elle em companha do tenente general Nicolao deAbreo, e Carvalho, e o em que est feito o Convento de Nossa Senhora daLapa sobre huma Cortina que fazio as antigas Trincheiras: Que a cida-de da B.a pela parte da terra teve huma fortificao de terras a q. vulgar-mente chamo Trincheiras desde a parte do Nordeste ath o Sueste; earruinandose estas naturalmente pela continuao dos annos comcaminhos, e Serventias que artificialmente fizero por ellas se augmen-

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  • 51

    taro as Cazas pela Sucesso dos annos, e tambm se fez hum hospciode Franciscanos Italianos Barbadinhos, e varias ruas de cazas em algu-mas partes por fora das Trincheiras, e a vista do estado, e utilidade dellasfoi de parecer, indo aquella Cidade o Brigadeiro Joam Mass que as ditasTrincheiras estavo inteis, por que para o seu reparo era necessariograndissimo cabedal com a demora de m.tos annos; sendo para istopreciza a demolio de muitas cazas feitas, e tambem do mesmo Hos-picio; e recorreo aquellas partes que offerecem entradas (seno o terrnomontuozo) por onde podia ser acommettida aquella Cidade, que esta-vo fortificadas da parte do Nordeste com dous fortes de Santo Antonioalem do Carmo, e de S. Jose, que vulgarmente chamo do Barbalho,e pela do Suoeste com o forte de S. Pedro que sendo todos de terra sohoje de pedra e cal: Que aceite este parecer concedeo o V. Rey Conde deSabugoza em o anno de mil, settecentos, vinte, e hum o fazer Joam deMiranda Ribeiro huma Capella a Nossa S.ra. da Lapa, e despois comProvizam de V. Mag.de em vinte e oito de Maro de mil, sette centos trinta,e sinco precedendo vistoria do Provedor mr, Procurador Rgio, Engen.ro,e Mestres Pedreiros permittio o V. Rey Conde das Galveas fizesse humConvento para Religiozas recoletas, de que esto de posse, e se servemda sobredita capelinha, m.to pequena, e pouco capas de celebrarem osOffcios Divinos com assistencia do povo: Que na planta se v o Conven-to com a capella que tem servido de Igreja, a Igreja nova, e o maisterreno pertendido sobre hum pedao de Trincheira antiga.

    Informou tambem o Tenente General Nicolao de Abreo,e Carvalho em Carta de trinta de Janeiro de mil sette centos, sincoenta,e quatro, disendo q. em companhia do Sargento mayor Manoel Cardo-so de Saldanha vio, e examinou o terreno pertendido, e o em q. se achafeito o Convento de Nossa Senhora da Lapa sobre huma poro dasantigas Trincheiras: Que aq.la Cidade da Bahia foi antigamente fortifica-da com fortificao de terra da parte do Nordeste the sua opposta,a que vulgarmente chamavo Trincheiras, as quaes pelo decurso dosannos se foro arruinando no so naturalmente mas tambem artificialpelos caminhos, e serventias, que fasio por ellas: Que foi crescendo

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    a gente, e ao mesmo tempo os edificios, e como as Trincheiras j estavo m.to

    arruinadas dero os Governadores Geraes Licena a alguns moradores parafaserem Cazas nellas: continuaro os annos, e tambem, os edificios fasen-dose hum Hospicio de Franciscanos Capuchinhos Francezes (que ha an-nos so Italianos) chegando a ter varias ruas de cazas por fora dellas emalgumas partes: Chegou o Brigadr.o Joam Mass aquela Cidade a observar asua fortificao, e foi de parecer que as chamadas Trincheiras estavo inu-teis; porque para se repararem era necessario immenso cabedal, alem dehum seculo de annos sendo tambem necessario demolir muitas Cazas,que ja estavo feitas juntamente com o dito Hospcio de Capuchinhos Itali-anos Barbadinhos: Este o estado, e uzo das Trincheiras: Assim recorreo asentradas por onde no so foi invadida aquella Cidade no seculo passado,mas tambem o podia ser para o tempo futuro, as quaes se achavo japremunidas por terem seus rotes da parte do Nordeste, e sua opposta: estacom o forte de S. Pedro, que sendo de terra se acha hoje de pedra, e cal comsuas pertenas: da do Nordeste com o forte de S.to Antonio, e do Barbalhotambm de pedra, e cal, tendo sido ambos tambm de terra: Fundadoneste parecer concederia o V. Rey Conde de Sabugoza ao Suplicante Joam deMiranda Ribeiro fazer a Ermida de Nossa Senhora da Lapa, e passados annoso Convento que se acha feito, em que existem as Religiozas recoletas de S.Francisco: Que a planta mostra terreno, Conv.to, e Igreja.

    Remetero a planta que se lhes recommendou a qual sobreinclusa a Real prexena de V. Mag.de.

    E sendo novamente ouvido o Procur.or da fazenda, disse, quecomo a vista destas informaes se conhece que estas Trincheiras soinuteis, que ja no servem para a fortificao desta Praa, nem a que-rerse aperfeioar esta deve ser por este sitio havendo nelle varios edifici-os que se no devem deixar de fora, entende no h embarao para sediferir ao Supp.te servindose V. Mag.de confirmarlhe a data do Conde deSabugoza, que he do que s se trata nestes papeis; e quando se queiracontinuar a idea da fortificao da Bahia, que V. Mag.de determinou noanno de mil, sette centos, e quarenta na Consulta incluza ser necessa-rio q. V. Mag.e se sirva mandar quella Cidade hum Engenheiro de co-

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    nhecida capacidade, pratica, e intelligencia da fortificao; porque estaobra he muito grande, he de consideravel despeza, e no se deve fiar dehum homem que no seja m.to intelligente, e m.to conhecido.

    Sobre as ditas informaes se mandou que o Sargento mor deBatalha Joz da Silva Paes tornando a ver este requerimento informassecom o seo parecer; ao que satisfes dizendo, que vendo as Informaes doTenente General, e Sargento mor Engenr.o da Cidade da Bahia sobre orequerm.to que faz Joam de Miranda Ribeiro para haver de V. Mag.de lheconfirmar as settenta, e huma braas de cho, que lhe resto das cento edez que o Conde de Sabugoza V. Rey qye foi daquella Cidade lhe concedeopara a fundao do Conv.to de Nossa Senhora da Lapa de Religiozas Fran-ciscanas para no dito cho se fazer a Igreja de que necessito, pois jahabito o dito Convento com huma Capella m.to restricta, onde bem seno podem fazer os Officios Divinos, nem assistir a elles o muito povo,que concorre, pela sua pequenhez; e os ditos Informantes relato que oBrigadr.o Joam Mass, quando foi quella Cidade, julgou inuteis as Trin-cheiras que a cobrio, sobre as quaes se edificou e tal Convento, tanto porestarem j occupadas com muitos edificios de moradores, e hum Hospi-cio de Barbadinhos, como por julgar devia correr por outra parte a fortifi-cao convindo em q. se conservassem os dous Fortes de S. Pedro, e doBarbalho, que ero as duas entradas por onde aquella Cidade nos tempospassados foi invadida; vista do que lhe parece pode V. Mag.de conceder aLicena pedida, fasendose, e assignandose termo de que a todo o tempoque se julgar pode ser precizo o terreno, que se lhe concede para por ellecontinuar alguma obra conveniente defensa daquella Cidade se demo-lir o que tiver edificado sua custa sem que lhe fique aco de poder pediralguma recompensa: Sendo tambm muito precizo se passem apertadasordems aos Governadores daquella, e mais capitanias no concedo, nempermitto que as Camaras dem chos junto das Cidades, ou Villas, quedevem ser fortificadas sem permisso de V. Mag.de, e de hum maduroexame se pode, ou no prejudicar as fortificaes, que se devem fazerpara evitar as disputas, que despois ocorrem em prejuizo da Fasenda Real,e das partes.

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    E tornando a ser ouvido o Procurador da Fasenda respon-deo, que offerece o que ja disse, e so lhe parece mais se accrescente otermo, que aponta o General de Batalha Informante, e se passem asordens aos Generaes na forma desta informao.

    E dandose de tudo vista ao Procurador da Cora [Coroa] disseque lhe parece o mesmo que ao Dez.or Procur.or da Fasenda, vistas asinformaes.

    Ao Cons.o de tudo que o V. Rey no podia da estas braas deterra, que deo, por estar naquelle tempo destinada para a fortificao,que agora deve ser feita por outra parte na forma que dizem os Enge-nheiros nas suas Informaes, vistas as quaes entende o Cons.o que V.Mag.de pode ser servido permitir que o Supp.te acabe a obra da sua Igreja,e as mais Officinas do Convento, considerando o estado em que este seacha, mas que sempre sera conveniente que elle faa o termo, queaponta o Brigadeiro Jos da Silva Paes na sua informao. Lisboa vinte,e sette de Fevereiro de mil sette centos sincoenta, e sinco.

    Raphael Pires PardinhoThom Joaquim da Costa Corte R.al

    Fran.co Lopes de CarvalhoFernd.o Joz Marq.s BacalhaoDiogo Rangel de Almeyda Castelobr.co

    Antonio Lopes da Costa

    Foro rottos os Cons.ros Antonio Fr.e de Andrade Henriques,e Alexandre Metelo de Soiza e Menezes.

    Despacho real, margem: Como parece. Lisboa, 21 deMaro de 1755 (Rubrica do rei D. Jos I).

    Tem no verso: 27 de Fevereiro de 1755: Do Cons.o Ultramar.o.Satisfazse ao que S. Mag.de ordena sobre o requerimento de

    Joam de Miranda Robeiro, em que pede lhe mande confirmar as braasde cho que restaro desocupadas das que lhe concedeo o V. Rey Condede Sabugoza para a fundao do Convento de Nossa Senhora da Lapa,no sitio das Antigas Trincheiras da Cidade da Bahia, para poder continu-

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    ar as obras de que necessita o dito Conv,to e a sua Igr., e vay a planta, e asCons.tas de q. se faz meno.

    R, R, a f.35; Exped. A. Tavares.

    Documento anexo: A Joam de Miranda Ribeiro se ha de pas-sar Prov.am de confirm.am das braas de terra q. lhe deo o V. Rey do Estado doBrazil para nellas extender a Igreja, e Conv.to de N. Sr. da Lapa, da Cidade daBahia; e para pagar o novo dir.to q. dever se lhe deo este bilhete.

    Lisboa, 19 de Abril de 1755. Joaq.m Miguel Lopes de Laure.

    N.o 23. A f. 281 do 1.o 4 dos registos dos Novos dr.tos ficocarreg.dos ao thez.ro delles coatrosentos reis. Lx.a 21 de M.o de 1755.Antonio Jose de Moura.

    A f. 239 do 1.o 5.o do reg.to g.al dos novos dir.tos fica reg.do esteconehcim.to Lx.a 21 de Mayo de 1755. Souza.

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  • Figura 8 - Lisboa. Arquivo Histrico Colonial Portugus. Mapa da Vila de Abrantes.

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    CAPTULO V: VILA DE ABRANTES

    A VILLA DE ABRANTES, DA COMARCA DO NORTE

    [COLORIDA: .483m x .342m]

    ENTRE as numerosas plantas e vistas de povoaes coloniaisdo Arquivo Histrico Colonial,52 existe uma representao de uma anti-ga aldeia de ndios baiana. a Aldeia do Esprito Santo, hoje municpiode Abrantes, uma das quatro primeiras povoaes estabelecidas pelospadres da Companhia de Jesus no Brasil para catequizar os nativos edilatar a santa F. Principiada em 1558, nove anos aps a fundao daprpria Bahia, serviu a aldeia de asilo ao bispo D. Marcos Teixeira, osJesuitas e clero secular da cidade do Salvador, durante a tomada daBahia pelos holandeses em 1624. Ficou por algum tempo um campoarmado, centro de heroica e triunfante resistncia. Foi reconstitudaem 1641, e remodelada em 1689. Separada a administrao eclesisti-ca da civil em 1758, alcanou a antiga aldeia Jesutica a dignidade de vila,tomando o nome de Abrantes.53

    A planta faz parte de uma srie de cinco vistas topogrficas delocalidades baianas, inclusive a vila de Santarm e a aldeia de S. Fidelis,ambas pertencentes comarca dos Ilheus, a aldeia de N. S. dos Prazeresde Jequiri e a de Massarandpio.54 Foram executadas sob a direo de

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    Domingos Alves Branco Moniz Barreto, ex-capito do regimento deInfantaria de Extremoz e escriturrio da contadoria geral da Junta daReal Fazenda da capitania da Bahia,55 futuro Sargento-mr e coman-dante do presdio do Morro de S. Paulo na Bahia.56 Filho de DomingosAlves Branco e de sua mulher Mariana da Glria Moniz Barreto,57 foi-lheconcedido o hbito da Ordem de S. Bento de Aviz em 25 de maio de1793.58 No ano seguinte, pediu Senhora D. Maria I a propriedadevitalcia do ofcio de Intendente da Marinha e Armazens Reais da Bahiaem considerao de vrios servios por ele prestados Coroa de Portu-gal. Entre eles figura no seu requerimento a ida em visita da inspeo,a sua prpria custa, a certas vilas e aldeias baianas, cujos habitantesndios se achavo descontentes e hum grande nmero dispersos dassuas habitaes, esquecidos muitos delles dos dogmas da religo, viven-do como brutos lei da natureza, differindo bem pouco dos brbarosgentios, o que para o futuro viria a ser de funestas consequncias parao Estado....59 Visitou as povoaes, como afirma a fim de socegar,como socegou, os mesmos ndios, embaraar a sua continuada fuga ereduzi-los a procurar as suas antigas habitaes e virem provoar as villase aldas que tinham abandonado e a viverem em paz e obedincia einstruir-se de novo nos actos de religio christ.60

    Para sua misso, preparou Domingos Alves Branco MonizBarreto custa de sua fazenda, muitas offertas a todos os Indios eIndias, assim pequenos como adultos, a saber missanga, contas, vero-nicas, estampas, livros espirituaes, agulhas, linhas, dedaes, tesouras, brin-cos, pentes, navalhas, fitas, etc. e fazendas para vesturio e ferramentaspara o trabalho da lavoura...61

    Durante a jornada foram feitas as plantas, provavelmentenos anos imediatamente antes de 1792, data em que se juntaram al-guns atestados de autoridades religiosas e civis dos lugares visitados porDomingos Alves Branco Moniz Barreto e seus companheiros.62

    Na descrio que da vila de Abrantes preparou, fez as seguin-tes observaes: Fica esta Villa distante da cidade da Bahia 8 legoas. Hehuma das mais bem situadas, em que me achei, amena, e muito apra-

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    zvel, athe pellos excelentes e agradveis passeios que tem por fora dapovoao. O nmero do seus habitantes era muito diminuto e nochegava a 100 ndios, no s pela diverso que tem feito para as aldas eMisses de Natuba, serto muito distante e ainda para fora da Capitania,mas principalmente para as visinhanas da Alda de Massaro-dupio,o que tambm deu motivo ao Governador e Capito General para meincumbir a diligncia de os fazer tornar as suas povoaes, alm daprincipal que foi de Fazer levantar as cazas incendiadas na Misso deMassarodpio, como se mostra no seu devido e competente logar. OsIndios que achei nesta Villa he gente muito dada ao trabalho da lavoira,sendo a sua principal fora a plantao da mandioca, de que fazem amelhor farinha para seu sustento, e o muito que lhes sobra a reputaona cidade. Alm disso, planto algodo, que produz muito de finafelpa, porm no corresponde o lucro ao trabalho, porque no tempoprprio da colheita lhe cae quasi sempre hum certo orvalho, que apo-drece muitos cazulos. Os indios que no tem lavoira se emprego emhuma grande olaria, ali estabelecida de telha e tijolo, que eu achei emalguma deteriorao e promovi do modo possivel o seu adiantamentofazendo de novo salariar 2 homens, que mandei convidar das olarias davilla de Jaguaripe para os ensinar tambm a fabricar louas para o usoordinrio das cozinhas. Observei tambm a docilidade e boa inclinaodos pequenos Indios e a sua aptido para o estudo das primeiras lettrase ainda para muitas sciencias, o que no podero conseguir, pela faltade directores capazes, que a maior parte delles tem sido, como o actualque ali reside, no s ignorante, mas de pessimos costumes. Destapovoao os Indios que estavo fugidos pude fazer recolher as suasantigas habitaes, ainda com insano trabalho, 22 cazaes e 9 Indiossolteiros, a saber: 8 cazaes e 6 Indios solteiros que estavo em cazasde diversos parentes na Alda de Massaro-dupio e 14 cazaes e 3ndios solteiros qu