Upload
felipe-coimbra
View
221
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
O objeto aqui proposto não vislumbra o lote vago como local de mera implantação, e sim, tem como intenção ser um mecanismo 10 de reorganização que consolide os fluxos préviamente estabelecidos. O lote vazio que flutua silenciosamente, sob a movimentação de São José do Rio Preto, arca com o peso de um terrain-vague, um vazio urbano. Carrega em sua memória uma infinidade de nobres propostas de ocupação, nenhuma com efetiva execução. Em meio a um complexo contexto urbano que soma, um zoneamento restritivo, eixo urbano verde, presença de linha férrea e uma abrupta interrupção por meio de um viaduto, o lote parece resignado a assim permanecer. A proposta aqui apresentada prioriza dar continuidade aos fluxos pré-existentes, realçar a rotina que foi espontaneamente criada com o passar do tempo. O projeto reorganiza o espaço, a fim de uma eficiente ocupação que preze pela permeabilidade. Interliga a área residual a sua original conformação somada ao lote vizinho e reaproxima seu conteúdo progr
Citation preview
02
ARQUITETURA & OCUPAÇÃOU M E N S A I O S O B R E O V A Z I O
A U T O R _ F E L I P E C O L T U R A T O C O I M B R A | O R I E N T A D O R _ A B Í L I O G U E R R A
Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackernzie sob orientação do professor Abílio Guerra para a obtenção do título de arquiteto e urbanista.
SÃO PAULO | DEZEMBRO 2013
03
04
Agradeço,
Aos meus pais, Carla e Tadeu, pelo imensurável carinho,
atenção, força e dedicação, tanto na minha formação pessoal
quanto profissional,
Ao meu irmão Caio, grande companheiro, por todo apoio, paci-
ência e companhia nesses últimos anos,
A todos os meus familiares, pelo interesse e suporte,
A Primazzola, pela experiência de ter mais que meros primos,
Ao professor Abílio Guerra, pela presente orientação, disposi-
ção e confiança,
Ao professor Antônio Cláudio Pinto da Fonsce, pela instrução
da atividade projetual,
Ao Barão, Déborah, Dylan, Edu, José, os Joões, as Luizas, os
Márcios, Marina, Matheus e Patu pela amizade e confidência,
Ao vô Bado e ao vô Cultura, por toda a inspiração e amor.
05
06
Toda despedida é dor. Tão doce todavia, que te diria boa noite até que amanhecesse o dia.William Shakespeare
07
08
I n t r o d u ç ã o 11
R E G I S T R O S 13IR e g i s t r o s e h i s t ó r i c o 14
E N S A I O S O B R E O VA Z I O 35IIC i d a d e l a d e n t r o d a c i d a d e 44O p r é d i o p ú b l i c o 46O i m p r e v i s t o 50P a ç o a p a ç o 52
M e m ó r i a e v o c a ç ã o 32
P R O J E T O & C O N C E I T O 57IIIP r o j e t o & c o n c e i t o 93C o n v í v i o c o m o e n t o r n o 95E i x o a r t i c u l a d o r 96
B i b l i o g r a f i a 105
E s t r u t u r a 98A c e s s o s 98M ó d u l o E x e c u t i v o
102T e a t r o
A c e r v o M u n i c i p a l 101C â m a r a d o s v e r e a d o r e s 101
100
09
O objeto aqui proposto não vislumbra o lote vago como local de mera implantação, e sim, tem como intenção ser um mecanismo de reorganização que consolide os fluxos préviamente estabelecidos.10
O lote vazio que flutua silenciosamente, sob a
movimentação de São José do Rio Preto, arca
com o peso de um terrain-vague, um vazio urba-
no. Carrega em sua memória uma infinidade de
nobres propostas de ocupação, nenhuma com
efetiva execução. Em meio a um complexo con-
texto urbano que soma, um zoneamento restriti-
vo, eixo urbano verde, presença de linha férrea e
uma abrupta interrupção por meio de um viadu-
to, o lote parece resignado a assim permanecer.
A proposta aqui apresentada prioriza dar continuida-
de aos fluxos pré-existentes, realçar a rotina que foi
espontaneamente criada com o passar do tempo.
O projeto reorganiza o espaço, a fim de uma eficiente
ocupação que preze pela permeabilidade. Interliga a
área residual a sua original conformação somada
ao lote vizinho e reaproxima seu conteúdo progra-
mático ao que sempre se propôs aquele espaço.
A oportunidade de trabalhar uma área residual permi-
te a conquista do espaço vazio por meio de uma gran-
de liberdade ao projetar seus espaços, esta arquite-
tura evidencia a vivência espacial como sua essência.
11
12
13I . R E G I S T R O S
Em meados do século XIX a enor-
me área ocidental ao norte
da Província de São Paulo era praticamente de-
sabitada, à época apenas com pousos esparsos
interligados por trilhas e caminhos precários. Di-
versas incursões de colonos para o interior des-
te território, motivadas por diferentes interes-
ses, deram início a conquista da Boca do Sertão.
Os colonos vindos de Minas Gerais, tinham por ob-
jetivo avançar o território provincial adentro, para a
conquista e controle de maior quantidade de terras,
visando estabelecer novos pousos e povoados, es-
paços para a agricultura, além de, se afastar de mo-
vimentos conflituosos, políticos e revolucionários.
De modo generalizado a histografia de São José do
Rio Preto, parece estabelecer alguns consensos
e algumas controvérsias entre os vários historia-
dores que se aventuraram em escrever a história
da cidade. Sabe-se, em senso comum, que a aber-
tura de trilhas no sertão do Avanhandava, região
localizada entre Araraquara e Jaboticabal, entre
os rios tietê, Grande e Paraná, nas áreas limítro-
R E G I S T R O S E H I S T Ó R I C O
INSTALAÇÃO DO CRUZEIRO NA NOVA CATEDRAL , INAUGURADA APÓS O PAPA PAULO XI SACRAMENTAR A ARQUIDIOCESE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO .
IHGGSJRP, 1978.
14
fes a Minas Gerais e, na época, Mato Grosso, propor-
cionou o surgimento de pequenas povoações datadas
entre 1840 e 1850. Com o tempo, instalou-se entre
dois pequenos córregos (Canela e Borá) um pouso
que passou a ser chamado de São José do Rio Preto.
Devido a distância da capital da Província, o difícil e
arriscado acesso por trilhas em estado de abandono
e a inconstante perenidade das águas, os pousos do
sertão do Avanhandava não eram potencialmente
vislumbrados para colonização, como relatou o vis-
conde de Taunay, em seu retorno da Guerra do Pa-
raguai, quando pernoitou em São José do Rio Preto:
“Meia dúzia de palhoças abandonadas, uma igreji-
nha em construção, e cremos que muitos anos fique
neste estado, quando não se arruíne totalmente.”
As perspectivas do Avanhandava começaram a
mudar apenas em 1912 com a chegada dos tri-
lhos e a instalação da Estação Ferroviária Arara-
quarense (EFA). Fazendo parte deste projeto, São
José do Rio Preto dotou-se do status de ponta
de linha, a última parada antes do regresso, fato
que impulsionou significativamente a economia,
colocando o então melancólico pouso em um rol
de municípios com potencial de desenvolvimento.
Com as paralelas de metal que rasgavam a
ESCADARIA QUE LIGA O CENTRO A ESTAÇÃO FERROVIARIA.IHGGSRJRP, 1933.
MAPA DA MALHA FERROVIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
FEPASA, 1987.
15
“boca do sertão”, a cidade orientou-se em função
da estação. A vida social e o comércio pas sa-
ram a acontecer a partir da gare. Não por aca-
so, os principais planos urbanos para o desen-
volvimento do município convergiam para a EFA.
A impulsão econômica trouxe novos habitan-
tes para São José do Rio Preto. Em franco cres-
cimento populacional, a cidade necessitava se
adequar aos padrões de infraestrutura básica.
Cenobelino, o primeiro prefeito eleito no voto di-
reto, audaciosamente lançou um plano básico de
saneamento para a cidade, no qual o serviço de
água e esgoto não continuaria refém da inconstân-
cia dos córregos, assim em Outubro de 1955 os
rio-pretenses viram a inauguração da Estação de
Tratamento de Água, batizado como Palácio das
Águas e o Represamento das água do Rio Preto.
Se no passado o manancial era vítima do frequen-
te assoreamento por terras das lavouras carre-
ados leito abaixo, as décadas de urbanização e
avanço imobiliário no município se encarregaram
de minar aos poucos a frágil fauna e flora ciliar.
A necessidade de represamento sugeriu um pro-
jeto ambicioso formado por três espelhos d’água,
dois em exploração há mais de cinco décadas e
um terceiro desde 1989, apresentando uma ca-
pacidade de estocagem de 4,65 bilhões de litros.
16
O Plano Urbanístico do Parque da Represa por
sua vez procura tangenciar e convergir o grande
represamento com o contexto urbano em que se
insere. O represamento se deu ao norte do eixo dos
trilhos. A conturbação dos lagos da Represa com
a cicatriz do trilho e Estação criou uma situação
inusitada na cidade. O projeto da Represa se tor-
nou um caso de sucesso no ponto de vista social.
Contemplado no Zoneamento Municipal como Zona
Especial, definida como eixo verde de preservação
de vida aquática e silvestre, permitindo apenas a
construção de equipamentos públicos. O Plano Ur-
bano do Parque da Represa é um projeto de suces-
so, um eixo urbano como espaço de contemplação
na região central da cidade, onde se toma fluxo para
todas as orientações do município. Desde os gran-
des condomínios fechados com campos de golfe da
zona Sul, chegando até o fervilho da zona industrial
norte. É um espaço dignamente democrático, uma
infraestrutura utilizado por todas as classes sociais.
Os esparsos equipamentos público que pontuam
e orientam o eixo do parque tem caráter público.
A altura do desemboque do rio está implan-
tado o Viveiro Municipal e a Ciclovia, inter-
rompidos pela rodovia Transbrasiliana (BR-
153), que secciona aereamente o Parque.
Num segundo fragmento está construí-
FOTO DA GLEBA A ESQUEDA, CANTO INFERIOR. ÁREA RESIDUAL DA PRAÇA CÍVICA, ONDE SE PROPOS DIVERSOS EQUIPAMENTOS PARA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO, 2013.
17
do uma extensa unidade do SESI, um com-
plexo de atividades esportivas coroado com
um ginásio poliesportivo e o Teatro SESI.
No terceiro fragmento do Parque está locado o
complexo cultural Swift, empreendimento público
que converte uma antiga instalação industrial em
escola de artes cênicas e visuais, dotada de espa-
ço de exposição, teatro e auditório. Ainda neste
terceiro fragmento o Parque se encerra com o
Centro Cívico Municipal, apenas conhecido como
Praça Cívica. Ali estão presentes o Acervo Muni-
cipal e alguns monumentos as bandeiras.O plano
urbano contemplava a Praça Cívica uma extensão
muito maior e a presença de mais equipamentos
de ordem dos Três Poderes. Porém com a ebuli-
ção imobiliária das áreas limítrofes ao parque e
a, já citada, presença dos trilhos em seu limite,
as avenidas do centro da cidade forçaram uma
transposição aérea por viaduto (sob os trilhos)
que apenas encontrariam altura para tocar o chão
ao tangenciar a área destinada a Praça Cívica.
Com o Centro Cívico fragmentado, apenas a
primeira porção da área teve o projeto exe-
cutado, a segunda porção perdeu sentido.
ANTIGO TERMINAL DE ÔNIBUS AS MÁRGENS DA REPRESA. IHGGSJRP, 1976.
18
O que fora concebido como extensão do marco cívi-
co da cidade encontra-se esquecido, carregando o
peso da ausência destes corpos. Tratam-se de exa-
tos 34.744,60 metros quadrados, um enorme es-
paço que flutua silenciosamente no centro da cidade.
REGISTRO DA MAQUETE DA PROPOSTA PARA A PRAÇA CÍVICA, COM O ENTÃO PAÇO MUNICI-PAL (EDIFICAÇÃO À ESQUERDA), INTERROMPIDO POR OBRA VIÁRIA.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, 1975.
COMPLEXO INDUSTRIAL SWIFT, HOJE REVITALI-ZADO E TRANSFORMADO EM CENTRO CULTU-RAL. IHGGSJRP, 1984.
19
IMPLANTAÇÃO DO EIXO VERDE DO PARQUE DA REPRESA. A GLEBA ESTÁ LOCADA AO CENTRO DA IMAGEM. ESCALA 1:5000. GOOGLE.
20
21
FOTO AÉREA COM O PARQUE URBANO DA REPRESA MUNICIPAL DESTACADO. ACIRP, 2013.
22
PARQUE URBANO DA REPRESA MUNICIPAL DESTACADO + COMPLEXO CULTURAL SWIFT. ACIRP, 2013.
23
EIXO VERDE DO PARQUE DA REPRESA EM SEU CONTEXTO URBANO. ACIRP, 2013.
24
O ZONEAMENTO DO PARQUE PERMITE APENAS A EDIFICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE CUNHO PÚBLICO. ACIRP, 2013.
25
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO COM O PARQUE DA REPRESA DESTACADO AO FUNDO. ACIRP, 2013.
26
PARQUE DA REPRESA + SESI + COMPLEXO ESPOTIVO ANTÔNIO NATALONE. ACIRP, 2013.
27
COLETÂNEA DE FOTOS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. EVANDRO ROCHA, 2013.
28
29
COMPLEXO CULTURAL SWIFT, HOJE REVITALIZADO, 2013.
30
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, VISTA DO PARQUE URBANO DA REPRESA MUNICIPAL, 2013.
31
A cidade, contexto urbano, é a metasín-
tese de um planejamento ou de uma
ocupação, dada como tenha sido seu ocorrido.
Diante de toda a complexidade da urbe, saltam
aos olhos em analises pontuais as vocações pe-
culiares de cada região, de cada lote. Essas pos-
sibilidades são produto muitas vezes de um zone-
amento, muitas vezes em função do entorno. Seja
como for, é a própria identidade de uma área.
A vocação é um fato. Diante de um lote vago,
hoje resquício, com uma extensão larga e enclau-
surado por três barreiras físicas (um complexo
viário que o interrompe, a linha férrea e o lago
da represa), sujeito a um zoneamento especial,
tirar partido da complexidade em que se inse-
re é buscar a essência da identidade do local.
O vazio, que já é tão genérico, não
pode ser refém da falta de identidade
“A cidade genérica é a cidade liberada do cativeiro cen-
tral, da camisa de força da identidade [...] ela é nada
senão uma reflexão da presente necessidade e da pre-
sente habilidade. É a cidade sem história. É grande o
M E M Ó R I A E V O C A Ç Ã O
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA. REM KOOLHAAS. S, M, L, XL., 1995.
KOOLHAAS, 2005: 327
32
suficiente para todos. É fácil. Não precisa de manuten-
ção. Se fica muito pequena, simplesmente se expande.
Se fica muito velha, simplesmente se auto destrói e
se renova. É igualmente excitante e não excitante em
qualquer parte. “É superficial” - como um estúdio de
Hollywood, podendo produzir uma nova identidade a cada
manhã. [...] A Cidade Genérica está no caminho da hori-
zontalidade para a verticalidade. O arranha-céu parece
ser a tipologia final, definitiva. Engoliu todo o resto. Pode
existir em qualquer lugar, em um campo de arroz ou no
centro da cidade – já não faz nenhuma diferença. As tor-
res, agora, não estão mais juntas, estão tão espaçadas
que não interagem. Densidade no isolamento é o ideal.”
Koolhaas conceituou também o resgate da me-
mória e da identidade. A identidade é a essência
que centraliza a vocação do local. A sensação do-
minante um ambiente genérico é uma silenciosa
calma. Quanto mais calma está, mais se aproxima
do estado puro. A serenidade do genérico é per-
mitida pela evacuação do domínio público, como
um treinamento de emergência contra incêndios.
A arquitetura não é uma ciência exata. Seus resul-
tados não baseiam-se exclusivamente em produtos
de equações. Em arquitetura se exige repertório e
vivência, mais que isso, sensibilidade e um refino do
olhar para compreender o que parece misterioso.
PROCESSO DE FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE. REM KOOLHAAS. S, M, L, XL., 1995.
KOOLHAAS, 2005: 327
33
34
35I I . E N S A I O S O B R E O V A Z I O
Define-se arquitetura
como a propensa
construção de volumes que conformam espaços
positivos ou negativos. Todavia, a ocupação do va-
zio avança além da mera ausência ou presença de
matéria. Ocupar espaço vago requer estratégia.
O vazio urbano é tema cada vez mais recorrente das
apaixonadas discussões no debate da cidade pós
-industrial e pós-moderna. O ‘terrain-vague’, expres-
são de transversalidade linguística, define o vazio
urbano em um conceito de ressonância imagética:
O vago é um ambiente expectante, ora mais
ora menos esquecido, mais ou menos linea-
rizado no coração da cidade tradicional, ou
indefinidos na difusa periferia. São manchas
de “não-cidade”, ausentes, em desuso ou ig-
norados, alheios. Resquícios ou sobreviven-
tes do sistema estruturante do território.
Solà-Moralles, conceituou o terrain-vague em seu
ensaio homônimo, publicado em 1995, a partir da
discussão sobre a ideia de fotografia, que é men-
cionada pelo autor como vital para a nossa com-
E N S A I O S O B R E O VA Z I O
ENCLAVE URBANO DITADO POR UMA UNIDADE INDUSTRIAL DESA-TIVADA, INS SITU, Nº 3 E 4, 2002.
36
preensão, em particular através da fotomontagem
e sua justaposição inventiva de formas, auxilian-
do nossa capacidade de explicar a esfera urbana.
“Os espaços vazios, abandonados, nos que já sucederam
uma série de acontecimentos parecem subjugar o olho
dos fotógrafos urbanos. São os lugares urbanos, que
queremos denominar com a expressão francesa ter-
rain vague, os que parecem se converter em fascinan-
tes pontos de atenção, nos indícios mais solventes para
poder se referir à cidade, para indicar com as imagens
o que as cidades são, a experiência que temos dela.”
O expectante relacionado com a ausência de uso
e todo o sentido de liberdade é essencial para a
compreensão de toda a potência evocativa que
tem os terrain-vague nas cidades, na percepção
da própria. Como também conceituado pelo au-
tor: Vazio, portanto, como ausência, mas também
como promessa, como encontro, como espaço
do possível, expectativa. Todo esse fascínio pelo
vago e seu potencial criativo ilimitado que vejo
Sola Morales descrever me foi motivador. O espa-
ço essencial é a questão principal. Mas trabalhar
o vago está ligado a essência não só do espaço,
mas também da própria arquitetura. A essên-
cia de ocupação, o artifício de moldar o espaço.
A DESSINCRONIA ENTRE A CONGESTÃO URBANA E O VAZIO AINDA RURAL. DESCONHECIDO, IN SITU, Nº 3 E 4, 2002.
SOLÀ-MORALLES, 2002 37
A atuação da arquitetura no vazio deve ser cuidado-
samente prospectada, para não o converter num
agressivo ambiente abstrato ou em instrumento
da razão dos poderes. A continuidade é sem dúvi-
das um fato a ser considerado atentamente. Não
a continuidade da cidade eficaz, genérica, legiti-
mada e planejada, mas, ao contrário, através da
análise atenta dos fluxos intrínsecos, dos ritmos
que o tempo e a perda dos limites têm estabele-
cido. Somente a arquitetura dualista, da diferença
da descontinuidade, instalada na continuidade do
tempo pode fazer frente à agressão angustiosa
do igualitário e homogeneizador, do que está flu-
tuando silenciosamente e adormecido em meio a
movimentação. Solà-Morales adota com estudo de
caso a Alexanderplatz, Berlim em três diferentes
momentos. Três imagens nos mostram três mo-
mentos de um mesmo lugar. A primeira imagem
[1], a última no tempo, é a construída nos anos do
pós-stalinismo através do poder onímodo do Esta-
do. A forma do lugar não é mais que a repetição de
um ordenamento universal, radicalmente genérico,
pelo que a geometria dos edifícios, o pavimento do
espaço público, a praça, se consolidam como um
princípio construído. Aqui, teoricamente, os direi-
tos do cidadão moderno, do trabalho infatigável,
PAULO CATRICA, IN SITU, Nº 3 E 4, 2002.
VISTA EXPLODIDA DO PARC DE LA VILLETTE. BERNARD TSCHUMI, 1983.
38
encontram o cenário de sua felicidade perdurável.
Trata-se do espaço do terror, da primazia do políti-
co abstrato convertido em domínio absoluto. A se-
gunda imagem [2] é a da Alexanderplatz em 1945,
depois do bombardeio contínuo da aviação aliada.
O urbano convertido em ruína, a cidade desfigura-
da, o espaço deslocado, o vazio, a imprecisão e a
diferencia. Através da violência bélica, um espaço
urbano se converte em terrain vague, a contradi-
ção da guerra faz aflorar à superfície o estranho,
o inqualificável, o inabitável. A terceira imagem [3],
que é a primeira no tempo, mas a última nessa se-
quência deliberadamente estabelecida de forma
anticronológica, é a do projeto de Mies van der
Rohe para a Alexanderplatz no concurso de 1928.
1. ALEXANDERPLATZ, BERLIM. GOOGLE, 2002.
2. “Alexanderplatz tras el bombardeo de Berlín”. Autor desconhecido,1945.
3. Projeto para a Alexanderplatz, (Mies van der Rohe, 1926)
39
40
ILUSTRAÇÕES DA COLETÂNEA “METRÓPOLIS” DE PAUL CITRÖES, 1923.
41
42
ILUSTRAÇÕES DA COLETÂNEA “METRÓPOLIS” DE PAUL CITRÖES, 1923.
43
O Parc de la Villette, implantado no dé-
cimo nono arrondissement de Paris
é resultado de uma estreita relação de Bernard
Tschumi e Jacques Derrida, filósofo francês, te-
órico da Desconstrução que teve forte influência
no desenho do parque. A noção de paisagem, tan-
to para Tschumi como para Derrida se opõe a de
Olmstead, difundida durante o século XIX, que “no
parque, a cidade não deveria existir.” Em vez disso,
propõe-se um ambiente social e cultural, com usos
diversos destinados a população. Se verticalizado,
La Villette seria uma das maiores construções já
projetadas, tamanha sua diversidade de espaços.
A ocupação da área do antigo abatedouro, propões
eixos e malhas pontuados pelas folies, estes pon-
tos de referência foram projetados para criarem
um vácuo desconstrutivista que possa abolir toda
e qualquer relação do passado do terreno com sua
forma atual para que os seus usuários vivenciem,
sem precedentes, uma experiência com o parque.
As follies são atrativos que levam as pessoas a
fazerem uso de toda a área e, a partir desse arti-
C I D A D E L A D E N T R O D A C I D A D E
VISTA EXPLODIDA DO PARC DE LA VILLETTE. BERNARD TSCHUMI, 1983.
44
fício, possam entender o parque como um local
de descobertas pessoais, atividade e interação
dentro dos princípios da organização de Tschu-
mi. O fundamental a destacar é a oportunidade
que Tschumi teve de reorganizar um trecho da
cidade, propor um novo eixo modelador do en-
torno. Reestruturar o contexto, viabilizar novos
usos, potencializar pré-existências, atividades e
por fim recriar uma dinâmica, ou melhor, pro-
por uma nova microdinâmica local no parque.
PROPOSTA PARA O PARC DE LA VILLETTE EM PARIS. BERNAR TSCHUMI, 1983.
INFOGRÁFICO DO PARC DE LA VILLETTE. BERNARD TSCHUMI, 1983.
ESTUDOS PARA AS FOLLIES,. BERNARD TSCHUMI, 1983.
45
O prédio do Ministério da Educação e
Saúde do Rio de Janeiro, de 1943, pro-
jeto de Lúcio Costa, Jorge Moreira Machado, Erna-
ni Vasconcellos, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão
e Oscar Niemeyer, inspirados nos traços do croqui
de Le Corbusier, representa o marco divisor de edi-
fício público no Brasil. A primeira obra modernista,
no mundo, em escala monumental, solto no meio do
quarteirão por pilotis altos abria novos caminhos,
os jardins contemplados por Burle Marx, suas fa-
chadas, uma de vidro e outra de brises contrastava
com as construções do entrono todas alinhadas ao
passeio. Dentro dessa perspectiva, Getúlio Vargas
em 1945 estabelece como plano de governo, prio-
rizar a transformação da estrutura arquitetônica
administrativa. Com a exploração do simbolismo
em alta, em 1945 inaugurava-se parte dos prédios
simbólicos e monumentais de Oscar Niemeyer e
Lúcio Costa, os quais criaram a imagem de uma
cidade moderna reconhecida mundialmente, Brasí-
lia,assim como o futebol, o carnaval e a bossa nova.
O P R É D I O P Ú B L I C O
PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA, RIO DE JANEIRO, 2012
46
Esses novos espaços reformulam o cenário vis-
to até então, o rompimento de certos paradig-
mas arquitetônicos do próprio modernismo. Esta
produção revela-nos novos espaços democráti-
cos, integrando o homem, espaço e sociedade.
“As principais características da arquitetura brasileira
no século XX, todas elas decorrentes das condições his-
tóricas vigentes no país na época, são então as seguintes:
predominância da arquitetura urbana, ausência quase
total de preocupações sociais, importância fundamental
dos edifícios públicos, prioridade as realizações de pres-
tígio, preocupação com o aparato formal, voltada para o
futuro, mas sem desprezar os valores do passado, con-
flitos e tentativas de conciliação entre, de um lado, o ape-
lo revolucionário e o apego à tradição, e, de outro, a se-
dução por tudo que é estrangeiro e o orgulho nacional”
Yves Bruand mostra que a arquitetura contempo-
rânea do Brasil coincide com as demais alterações
do país e relata a fundamental importância dos edi-
fícios públicos e o dom dos aspectos formais, a for-
ma norteou o crescimento das cidades. O concurso
público no Brasil apesar de ainda representar um
nível inferior comparado ao europeu, também con-
tribuiu para o cenário arquitetônico atual. Segundo
Bruand, algumas equipes de jovens arquitetos bra-
BRUAND, 2005: 327
CROQUI DEO PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA, MEC-RIO. LUCIO COSTA 19XX
47
sileiros se especializaram em vencer os principais
concursos, segundo o estilo “ortogonal simplista”.
A evolução externa, o funcionalismo, segurança,
tecnologia e outros muitos fatores ocasionaram
a oposição extrema entre público e privado, resul-
tou em desintegração das relações humanas. Este
ensaio procura uma reversão deste processo ao
expandir a barreira do público até que se difunda
no cotidiano citadino. O experimento aqui propos-
to não se trata de mais um outro objeto autôno-
mo na cidade, porém um complexo integrado na
malha infra estrutural urbana, aberto, diluindo
barreiras físicas. O projeto não se coloca como
solução funcional para o imediatismo das neces-
sidades, mas sim como um ambiente compatível
a inconstante vida na urbe. Encoraja-se a experi-
mentação de novos eventos devido a presença
de diversos conteúdos programáticos integrados.
CROQUI DO PARQUE DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO. OSCAR NIEMEYER, 1954.
JK E REIDY, MAQUETE DO MAM-RIO, 1948.
48
OSCAR NIEMEYER E O MODELO DO PALÁCIO DO PLANALTO, 1958.
49
“Refere-se a um imprevisto que nasce dos próprios
conflitos resultantes dos convívios de diferenças,
ao inesperado que muitas vezes surge daquilo que,
por se desconhecer, não se pode sequer imaginar.
Essa circunstância é possível apenas se permitida a
proximidade e pela acessibilidade aos lugares, con-
dição necessária aos espaços públicos que num
acesso permeável recebem o local e o forasteiro.”
Bernard Tschumi dis-
tinguiu o “pro-
grama” do “evento” de forma a encarar o programá-
tico como conjunto de ocorrências esperadas a ser
atendido com uma lista de utilidades necessárias e
o eventual como fruto de imprevistos e resultados
inesperados. O grande valor do evento é sua capaci-
dade reveladora de potencialidades e usos ocultos.
A cidade mutante e rica de experiências. Dessa for-
ma o projeto pretende dar continuidade ao vazio. A
integralidade de um conteúdo programático enfra-
quece a ideia de intercâmbio e conflito criado pela
presença de um leque maior de usos e atividades.
O I M P R E V I S T O
BOGEA, 2009: 187
A VERSATILIDADE DE USO DO VÃO DO MASP, QUE ABRIGA DIVERSOS EVENTOS EXTRA-PROGRAMÁTICOS. UOL, 2011.
50
A implantação pretende dar ao nível do pedestre
uma oferta maior de possibilidades. sileiros se es-
pecializaram em vencer os principais concursos,
segundo o estilo “ortogonal simplista”. Este experi-
mento procura atender o zoneamento, ao mesmo
tempo que tenta recuperar a memória do terri-
tório. É a oportunidade de fazer uma releitura do
prédio público brasileiro contemporâneo. A adoção
do paço municipal como objeto de projeto é es-
tratégica afim de reintegrar o contexto das duas
porções divididas da área, o vazio e o centro cívi-
co em seu limite imediato. Dessa maneira torna-se
possível uma nova reflexão do significado de um
edifício deste caráter, reconsiderar seu uso e sua
ocupação, rever sua relação com seu público. Deve
um paço ser isolado e protegido do próprio povo?
O dentro e o fora, é uma relação simbiótica? Ao en-
tregar este ambiente ao público os espaços se tor-
nam suporte para a experimentação dos conflitos,
os caminhos se tornam mais interessantes que o
destino. Deste modo o projeto se consolida como
uma ferramenta articuladora da infraestrutura atu-
ando sobre o tecido urbano, preocupando-se mais
em projetar condições do que condicionar o projeto.
O ESPAÇO PÚBLICO COMUM DO MUSEO DE LA MEMÓRIA (SANTIAGO, CHILE) É UTILIZA-DO FREQUENTEMENTE COMO PALCO DE DIVERSOS EVENTOS. FLICKR, 2012.
51
Projetado na pri-
m e i -
raira metade dos anos 1960, pelos membros do
Departamento de Arquitetura do município, entre
eles, Jorge Bomfim, Mauro Zuccon, Roberto Tross
e Toru Kanazawa, o edifício do Paço Municipal de
São Bernardo do Campo foi implantado na Pra-
ça Samuel Sabatini, região central da cidade. No
grande volume horizontal, correspondente ao em-
basamento do edifício, localizam-se as áreas de
atendimento ao público, biblioteca, teatro e a câ-
mara dos vereadores. A grande laje de cobertura
deste pavimento pode ser acessada do pavimento
térreo por rampa, assumindo a função de praça
elevada. É daí também que emergem a torre ad-
ministrativa. O projeto do arquiteto Rino Levi para
o Paço Municipal de Santo André (1965) foi uma
investigação das possibilidade de integração do
tecido urbano. No terreno de cerca de 110.000
m² são organizados três patamares vencendo
o desnível de 10 m, acomodando o conjunto de
edifícios de maneira a proporcionar acessos in-
PA Ç O A PA Ç O
52
dependentes a cada um em cotas variadas e ao
mesmo tempo garantir o compartilhamento de
uma praça central de caráter cívico. Cada edifício
é então resolvido funcionalmente conforme suas
necessidades programáticas, mas dentro de uma
linguagem conjunta, assumindo sutis variações no
porte, posicionamento e resolução plástica indivi-
dual, “caracterizando os edifícios de acordo com o
destino de cada um”, como afirma o memorial da
obra quando publicado o resultado do concurso.
Em 2012, Mário Figueroa propôs para o concurso
do Paço Municipal de Várzea Paulista um projeto
com uma forte relação do público e do privado em
avanço a mera concepção de um conjunto de edifí-
cios emblemático. Tratou-se o complexo como um
parque de convergência. É um prédio destinado a
atrair pessoas e propiciar espaços de encontro.
Seguindo a linha cronológica, é notável a mudan-
ça de referência por parte do partido de projeto.
Antes o simbolismo e a imponência deveriam ser o
carro-chefe do projeto, hoje a interação do público
vem à tona. É a relação do horizontal e do vertical.
A verticalidade, segregante, perde espaço para a
horizontalidade contextualizada a malha urbana.PROPOSTA PARA PAÇO MUNICIPAL DE VÁRZEA PAULISTA.
MÁRIO FIGUEROA, 2012.
53
54
55
56
57I I I . P R O J E T O & C O N C E I T O
IMPLANTAÇÃO, ESC.: 1:2500.
58
59
60
61P A V I M E N T O S
62 T É R R E O
63
64 1 º P A V I M E N T O
65
66 2 º P A V I M E N T O
67
68 3 º P A V I M E N T O
69
70 S U B S O L O
71
72
73C O R T E S
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83E L E V A Ç Õ E S
84
85
86
87
88
89
90
91
O partido deste projeto é objetivado pela
ideia de proporcionar a cidade de São
José do Rio Preto, sobretudo no território de im-
plantação do Paço Municipal, um ambiente com
generosidade espacial revertido a urbe, que apesar
de ter o acesso controlado poderá ser usufruído
com facilidade, quase como se não tivesse portas.
O experimento aqui concebido não visa o lote vago
ocupado de forma mecânica afim de atender as ne-
cessidades imediatas, mas sim como arquitetura
agregadora, que potencializa a coletividade urbana.
C O N C E I T O E P R O J E T O
92
O partido deste projeto é objetivado pela ideia
de proporcionar a cidade de São José do Rio
Preto, sobretudo no território de implantação do Paço
Municipal, um ambiente com generosidade espacial re-
vertido a urbe, que apesar de ter o acesso controlado po-
derá ser usufruído com facilidade, quase como se não
tivesse portas. O experimento aqui concebido não visa
o lote vago ocupado de forma mecânica afim de aten-
der as necessidades imediatas, mas sim como arquite-
tura agregadora, que potencializa a coletividade urbana.
P R O J E T O & C O N C E I T O
93
A extensão do conteúdo programático do paço gera a oportunidade de
uma ocupação mais difusa. Se verticalizado, o prédio alcançaria facilmen-
te altos gabaritos, porém afim de prezar pela regeneração do ambiente
e fortalecer a malha urbana em que se insere o projeto se deu de forma
horizontal, em contraste a presença imponente dos paços do passado.
O que se apresenta portanto não é um equipamento isolado e au-
togerido, mas um complexo edificado capaz de urdir urbanidade.
Dado o percurso como experiência chave para a vivência da ambientação
proposta, os volumes estão organizados de forma a permitir uma fácil
compreensão do conjunto. O usuário tem liberdade para descobrir fluxos à
maneira que se dá o pedestre na cidade em si, ao percorrer praças e ruas.
Assim a extensão do programa se dilui em uma trama viva de acontecimentos.
A R Q U I P É L A G O D E V O L U M E S
94
A indefinição da existência fundiária e dos diferentes usos estabele-
cidos no entorno, geram a oportunidade do paço municipal ser uma
ferramenta de organização e hierarquização da trama urbana afim
de estabelecer uma relação mais franca com o Parque da Represa.
A continuidade conceituada por Solà-Morales diante da ocupação do
terrain-vague aqui se apresenta de forma a valorar o percurso pré
-existente dos usuários do parque, caracterizar o ritmo pela implanta-
ção pontuada dos blocos e reafirmar a integralidade do centro cívico.
A opção de retirar a alça de acesso do viaduto e estender a praça até o Cen-
tro Cívico gera um novo fluxo do pedestre e dilui a tensão da área segregada.
C O N V Í V I O C O M O E N T O R N O
95
E I X O A R T I C U L A D O RO programa de necessidades por inteiro está re-
lacionado ao eixo articulador, um extenso edifício
que de maneira informal concentrará funcionários,
usuários e o público em geral de forma a permitir
o fácil acesso a todos os ambientes projetados.
Devido sua amplidão o eixo é pontuado com os
serviços de atendimento ao público que prima por
distinguir esse uso de seu convencional ambiente
burocrático, com filas, salas de esperas sem janela
e portas giratórias. É o grande elemento estrutu-
rador do conjunto, onde acontece principalmente
a circulação vertical e horizontal. Uma rede distri-
buidora que organiza o complexo e define a ocu-
pação do terreno. É assim configurado por duas
passarelas paralelas multiplicadas em diversos ní-
veis interligando todos os blocos projetados. Per-
mite o acesso ao ambiente executivo, dá acesso a
circulação vertical de todos os níveis, e se esten-
de a todo o conjunto de forma a torna-lo um só.
O eixo será todo envolvido por uma pele de grelha
metálica, ora vedada ora aberta, modularmente
disposta, afim de contrastar com a severa estru-
tura de concreto armado. Essas lâminas de fecha-
mento permitem a permeabilidade de luz natural,
ao mesmo tempo que protege o ambiente da cas-
tigadora radiação solar do sertão paulista. A estru-
tura tem vedado apenas duas fachadas, as outras
duas estão abertas e estrategicamente orientadas 96
à noroeste para a capitação do vendo dominante
da região, afim de amenizar o uso da refrigeração
mecânica e proporcionar uma climatização natural.
É o elemento que confere caráter ao projeto e
demonstra a forma de ocupação do território, po-
rem evanesce por sua existência serena.tura tem
vedado apenas duas fachadas, as outras duas es-
tão abertas e estrategicamente orientadas à no-
roeste para a capitação do vendo dominante da
região, afim de amenizar o uso da refrigeração
mecânica e proporcionar uma climatização natural.
É o elemento que confere caráter ao projeto
e demonstra a forma de ocupação do territó-
rio, porem evanesce por sua existência serena. 97
O uso misto de estruturas também é um partido
projetual. As óbvias referências de arquitetura bru-
talista paulista conduziu o projeto por uma opção ao
concreto armado, porém em contraste todo o fecha-
mento, que é um forte elemento caracterizador do
projeto, segue uma linguagem mais contemporânea
e uso de estruturas mais leves e suaves ao olhar.
A modulação foi um artifício considerado. O
uso de lajes alveolares, distribuição das pla-
cas do fechamento e organização dos pilares
são condicionados a esta proposta modular.
E S T R U T U R A
O acesso ao conjunto é dado por diversos ponto de
circulação, tendo o eixo vertical principal locado no
volume articulador, através de escadas rolantes, ele-
vadores e escadas fixas. Este eixo segue do subsolo,
onde está implantada a praça de estacionamento e
alcança até o terceiro e último pavimento do com-
plexo. À sombra dos módulos do Executivo existem
mais dois eixos verticais que dão acesso ao conjunto.
O ingresso via veículos é localizado no limite do
lote por meio de uma extensão da rua. Afim
de facilitar o controle, toda a operação de car-
ga e descarga para abastecimento dom com-
plexo será realizado por meio deste acesso.
A C E S S O S98
99
O programa do paço foi destrinchado em três caráteres diferentes, relacionando atividades em comum. O conte-
údo dedicado a administração pública controlada, as secretarias municipais e o setor de atendimento e serviços
ao público. Desta forma o módulo executivo foi parcelado em dois edifícios e diversos ambientes ao longo do Eixo
Articulador. O módulo administrativo e o das secretárias são dois edifício de tipologias gêmeas dispostos nas extre-
midades do conjunto de forma a criar um balanço volumétrico. São duas estruturas de salas e circulação arrema-
tadas com varandas extensas de forma a diluir a formalidade. Os serviços de atendimento ao público acontecem
onde realmente o público está, no Eixo Articulador. Essa locação é estratégia no momento em que organiza o fluxo e
hierarquiza as atividades, ao mesmo tempo que permite uma diversidade de percursos e convívios com outros usos.
M Ó D U L O E X E C U T I V O
100
No espaço posterior ao Eixo Articulador, disposto
sobre a praça de estacionamento, será implanta-
do o Acervo Municipal. Trata-se de uma ferramen-
ta educacional que será ambiente de exposições
e pesquisas. Uma biblioteca completa com am-
plos espaços de leitura entre estantes centrais.
Trata-se de um bloco extrovertido, com permeabi-
lidade de luz natural controlada. É um volume que
continuamente convida o público do parque ao paço.
A C E R V O M U N I C I PA L
A apresentação do ambiente é com um térreo generoso e acolhe-
dor. Organizado em três pavimentos elevados, todos em contato
com o Plenário em pé-direito triplo. Os gabinetes dos vereadores
tem vista privilegiada para o Lago Três da Represa Municipal
O volume da Câmara também é implantado sobre o es-
tacionamento, balanceando o conjunto proposto.
C Â M A R A D E V E R E A D O R E S
101
Peça chave da fachada Sudoeste, o teatro foi implantado entre os dois edifícios do Módulo
Executivo, em um ponto de grande visibilidade. Pelas suas dimensões, é utilizado como con-
traponto à verticalidade dos Módulos e a amplidão do Eixo Articulador, desta maneira equili-
brando o propósito do conjunto. Está totalizado com 650 assentos e um foyer com 20% da
sua área, além disso a própria praça proposta serve de elemento de suporte ao espetáculo.
Esta atividade é de extrema nobreza, uma vez que a cidade é sede do Festi-
val Internacional de Teatro de Rio Preto, o FIT, aclamado com rigor pela crí-
tica especializada e componente do circuito sul-americano de teatro.
T E AT R O
102
103
104
B I B L I O G R A F I A
BOGÉA, Marta. Cidade errante: Arquitetura em movimento. São Paulo: Senac, 2009.BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2005.BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura: da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo: Roma-no Guerra, 2010.CHOAY, Françoise. O Urbanismo: Utopias e Realidades. São Paulo: Perspectiva, 2005.
GHEL, Jan. Cidade Para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.JORNAL ARQUITECTOS v. JA225, 2006. FRANCO, Fernando de Mello; BOGÉA, Marta. Desvios. (Periódico)KOOLHAAS, Rem. Content. Koln: Taschen GmbH, 2004.KOOLHAAS, Rem.; MAU, Bruce. S, M, L, XL: Office for Metropolitan Architecture. New York: The Monacelli Press, 1998.LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1973.ROGERS, Richard.; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 2008.RUDOFSKY, Bernard. Architecture Without Architects: A Short Introduction to Non-Pedigreed Architecture. New Mexico: Uni-versity of New Mexico Press, 1987.SENNETT, Richard. Carne e Pedra. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 2008.SOLÀ-MORALLES, Ignasi. Territórios. São Paulo: Gustavo Gili, 2002.TSCHUMI, Bernard. Event-Cities 2. Cambridge and London: The MIT Press, 2000.WOODS, Lebbeus. OneFiveFour. New York: Princeton Architectural Press, 1989. 105