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XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018
ARQUITETURA METROPOLITANA, CIDADE GENÉRICA E REGIME ¥€$: A CONDIÇÃO URBANA CONTEMPORÂNEA POR REM KOOLHAAS IDEÁRIOS, URBANISMOS E PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO [Sandra Catharinne Pantaleão | Universidade Estadual de Goiás e Pontifícia Universidade Católica de Goiás]
RESUMO
Por meio da análise das publicações de Rem Koolhaas, pode-se indicar momentos de modernização das cidades desde final do século XIX aos dias atuais, cuja reflexão aponta as correlações entre a macroestrutura econômica e os agenciamentos territoriais que as reforçam e reverberam no espaço urbano, dada a dissolução de formas urbanas tradicionais ou pela configuração de arranjos espaciais articulados globalmente. A partir de três momentos específicos da história urbana, define-se a perspectiva de Rem Koolhaas sobre a condição urbana contemporânea, superando termos como metrópole, megalópole ou metápolis. O pensamento de Rem Koolhaas sobre a cidade contemporânea permite esboçar uma perspectiva das correlações entre a intensificação da globalização, a revolução técnico-informacional e ampliação do capitalismo sobre a forma urbana, em que diversas escalas, da edilícia a global. Dessa análise tem-se três importantes períodos presentes em suas publicações: Arquitetura Metropolitana, representada por Nova Iorque do início do século passado; a Cidade Genérica pelas práticas de apagamento das camadas históricas das cidades, tanto na Europa via práticas patrimoniais quanto em PRD – por meio do controle do solo por ações públicas e privadas e, mais recentemente, a reafirmação do Regime ¥€$©, pela urbanização do Golfo Pérsico, em que arquiteturas espetaculares proliferam. Desses períodos, tem-se termos específicos que os descrevem. O presente artigo aponta as contribuições de Rem Koolhaas ao debate da condição urbana contemporânea, tendo em vista trazer a cidade para o centro do debate, com questões por vezes polêmicas e pragmáticas acerca da atuação do arquiteto e urbanista. palavras-chave: Regime ¥€$, Rem Koolhaas, visões contemporâneas da cidade.
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METROPOLITAN ARCHITECTURE, GENERIC CITY AND REGIME ¥€$: THE CONTEMPORARY URBAN CONDITION BY REM KOOLHAAS
ABSTRACT
By analyses Koolhaas books it is possible identify modernizations of the cities in three moments, since
the end of the nineteenth century to current days. The reflections of Koolhaas points out correlations
between the economic macrostructure and the territorial assemblages that reinforce and reverberate
in urban form. There are dissolution of traditional urban forms and configuration of spatially articulated
spatial arrangements. In the urban history, there are three moments to defining contemporary urban
condition by Rem Koolhaas, surpassing terms like metropolis, megalopolis or metápolis. Rem
Koolhaas's thinking on the contemporary city allows us to sketch a perspective on the correlations
between the intensification of globalization, the technical-informational revolution, and the expansion
of capitalism on the urban form, in which several scales, from the building to the global one. This
analysis there are three important periods present in its publications: Metropolitan Architecture,
represented by New York of the beginning of the last century; the Generic City for the practices of
erasing the historical layers of the cities, both in Europe via patrimonial practices and in PRD - through
the control of the soil by public and private actions and, more recently, the reaffirmation of the Regime
¥ € $ ©, by urbanization of the Persian Gulf, in which spectacular architectures proliferate. From these
periods, there are specific terms that describe them. This article points out the contributions of Rem
Koolhaas to the debate on the contemporary urban condition, with a view to bringing the city to the
center of the debate, with sometimes controversial and pragmatic questions about the work of the
architect and urbanist.
KEY-WORDS: Regime ¥€$, Rem Koolhaas, visões contemporâneas da cidade.
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INTRODUÇÃO
Rem Koolhaas (1944)1, arquiteto holandês, é considerado um agitador social e cultural, pensador e
figura de destaque nos debates da arquitetura e do urbanismo contemporâneos. Desde sua formação
tem se destacado como uma das vozes mais influentes entre arquitetos e urbanistas, pela quantidade
de publicações e projetos desenvolvidos por seu escritório Office Metropolitan Architecture (OMA),
fundado em 1975, além do think thank Architecture Media Organization (AMO), responsável pelas
pesquisas e publicações em parceria com instituições ou editoras especializadas.
Em suas publicações, Rem Koolhaas indica outras possibilidades de análise e leitura das cidades
pelo viés das modernizações e reestruturações que as cidades sofreram, além de compreender a
estrutura formal, analisar as questões sócio-tecnológicas e econômicas que incidem sobre a
morfologia urbana. Significa que lança outras possibilidades de interpretação das cidades, sem
contudo, engajar-se em uma postura ideológica precisa. Aproxima-se de uma visão jornalística ao
relatar o impacto de determinados fatos sobre a forma urbana.
Pode-se dizer, contudo, que escrever sobre as cidades e suas transformações era prática recorrente
desde meados da década de 1960 por arquitetos e urbanista, em que visavam apreender as
transformações cingidas num cenário pós guerra e imersas num descrédito às pretensões iluministas
da cidade ideal endossada na voz de Le Corbusier ou da defesa à cidade história a la Aldo Rossi em
função da destruição criativa. Diferente dessas posturas, Koolhaas elabora uma perspectiva particular
ao se referir às modernizações que caracterizam-se por uma aceleração das transformações cada
vez mais intensas, deixando sobre si um mundo sem forma e cambiante, o que Bauman (2001)
denominou modernidade líquida.
A RK interessa descrever a condição urbana contemporânea em que são retratadas as mudanças
cingidas sobre as cidades, em diferentes partes do globo, fincando, de certo modo, marcos temporais
de reordenamento da dinâmica urbana em escala global. Sua visão acerca da cidade
contemporânea, conforme aponta Vàzquez (2016), apoia-se na apreensão da lógica socioeconômica
do capitalismo tardio para formular respostas técnicas capazes de orientar o desenho urbano e as
práticas urbanísticas. Em outras palavras, esmera-se em optar pelas demandas de mercado ao invés
da elaboração de manifestos teóricos, como fizeram seus pares outrora.
Seus textos buscam descrever e representar a cidade contemporânea por meio da observação do
real, verificando novos termos para a compreensão dos fenômenos urbanos. Com isso, seus livros
mais conhecidos traçam a contingência histórica e as ideologias presentes na produção da cidade,
possibilitando identificar espaços de atuação do arquiteto e urbanista que, em particular, são
descritos por Rem Koolhaas por novos termos associados às reestruturações econômicas.
No bojo dessas mudanças, Koolhaas tem buscado identificar as relações entre arquitetura e cidade
em que ressalta a inversão de escalas, isto é, a preponderância da arquitetura sobre a cidade, uma
1 Koolhaas formou-se em arquitetura pela Architectural Association of London (AA), em 1972; é sócio majoritário do OMA, coordena a AMO e atua como professor de prática de arquitetura e desenho urbano em Harvard Graduate School of Design (HGSD), onde desenvolve pesquisas sobre as urbanizações na porção leste do planeta, denominadas contemporary urban condition (condição urbana contemporânea).
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vez que esteja relacionada aos impulsos econômicos, as dinâmicas dos fluxos informacionais e a
intensificação da urbanização em territórios considerados “colonizados” ou periféricos.
A partir disso, tem-se a definição de três enunciações: arquitetura metropolitana, presente em Nova
York delirante e S, M, L, XL; urbanização acelerada e globalizada resultante da pesquisa Harvard
Project on the City (HPC) e Regime ¥€$ para caracterizar um novo território a ser explorado pela
arquitetura do espetáculo, presentes em Content e em Al Manakh Dubai guide. Nessas publicações
pode-se afirmar a postura de Rem Koolhaas de um “discurso pragmático crítico”, visto que apreende
dados a ser sistematizados e que permitem-lhe mapear áreas de atuação prática além de demonstrar
o avanço das políticas neoliberais em áreas menos urbanizadas, desprovidas de densidade histórica
ou de regras rígidas de construção ou até mesmo inexistentes.
GLOBALIZAÇÃO, REVOLUÇÃO TÉCNICO INFORMACIONAL E ARQUITETURA DO
ESPETÁCULO: O FRAGMENTÁRIO, OS FLUXOS E O COMÉSTICO
As mudanças verificadas ao longo de duzentos anos e intensificadas nas últimas cinco décadas
culminam em novos termos e conceitos para descrever a urbanização em escala planetária,
influenciada pela globalização e pela revolução técnico-informacional. A expansão das áreas
ocupadas no globo permite perceber a formação de nós e áreas estratégicas da reestruturação
econômica dos últimos trinta anos, umas vez que até 2050, 70% da população mundial estará
localizada em áreas urbanizadas, sendo que grande parte dessa população viverá em megacidades.
(KOOLHAAS et. al., 2001)
Desde meados dos anos 1960, diversas posturas passaram a questionar as posições de teorias
prescritivas e normativas, respaldadas pela visão positivista e apoiadas pelos ideais iluministas,
propagadas pelos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMs). Conforme descreve
Vàzquez (2004 e 2016), a cidade foi se consolidando por diversas camadas, tornando complexa sua
descrição, tendo em vista que envolve uma séries de fenômenos, em que se destacam: a
intensificação da globalização e urbanização acelerada do Oriente; os fluxos informacionais e a
propagação de arquiteturas vinculadas ao capital financeiro em escala global.
Sassen (2001, p.104) assinala que há uma articulação entre diversos pontos do planeta, que abalam
as relações locais em função dos fluxos globais, resultando em mudanças cada vez mais intensas
desde a década de 1980. Estas, por sua vez, são resultado do número crescente de países que
optaram pela privatização, desregulamentação e abertura de suas economias ao mercado global,
emergindo as cidades globais, cujo modelo refere-se a uma dispersão geográfica das atividades
econômicas e, ao mesmo tempo, à integração das atividades das empresas, conformando
centralidades conectadas globalmente e com funções especializadas. Tornam-se territórios
desconexos de suas hinterlândias e passam a operar como partes de outras cidades distantes
territorialmente, mas próximas em virtude dos fluxos de informações, conformando sistemas urbanos
transnacionais.
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Alinha-se a essa postura também a visão de Harvey (1992). A flexibilização da produção industrial,
decorrente da substituição da indústria pelos serviços e da globalização do setor financeiro, suscitou
a reestruturação espacial urbana. A unificação da produção e consumo em áreas metropolitanas
fizeram com que as cidades se tornassem mais densas e urbanizadas e menos industrializadas.
Para Harvey (1992), o modelo flexível de desenvolvimento envolveu não somente a reorganização da
política mundial, no sentido do “capital sem fronteira”, mas também a compressão do espaço-tempo
por meio das tecnologias. O autor explora o sentido de tempo e de espaço, demonstrando a alteração
da ideia de tempo progressivo e retilíneo para dar lugar à noção de tempo cíclico. O sentido de
espaço muda em função da integração econômica, uma vez que uma crise, por exemplo, pode atingir
todo um continente a um só tempo, o que demonstra a “compressão do tempo-espaço”.
Vázquez (2004) relata o aparecimento de sistemas integrados de produção e consumo, força de
trabalho e capital, sustentado pelas redes de informação. Essa nova configuração urbana, em escala
planetária, é apontada por Augé (1994), como continuum espacial. Ao descrever a
supermodernidade, Augé (1994) identifica o espaço de fluxos como primordiais para compreender a
condição contemporânea entre espaços não contínuos entre si e, muitas vezes, destituídos de
memória e identidade, que o autor denomina não lugares.
Em sua mais recente publicação, Vàzquez (2016) descreve a cidade contemporânea como uma
“criatura incerta”, uma vez que agrega variáveis econômicas, sociais, culturais e políticas complexas,
cuja forma embaralha-se em espectros temporais e espaciais de difícil apreensão. Tarefa que se
torna cada vez mais difícil em função da acelerada e intensa urbanização dos último quartel de
século. Sua postura reafirma o meio técnico-informacional (SANTOS, 1996) como componente de
aceleração da história e para o exacerbado valor dado ao presente, reforçando as questões
apontadas por Harvey (1992) quanto à compressão do espaço-tempo.
Sobre esse assunto, acrescentam-se as reflexões de Castells (1999) acerca das dinâmicas
socioeconômicas que se desenvolvem a partir da revolução tecnológica. No entanto, a velocidade e o
acesso à tecnologia são, para o autor, seletivos social e funcionalmente. Neste contexto, configura-se
uma desigualdade social, uma vez que “[...] as áreas desconectadas são cultural e espacialmente
descontínuas: estão nas cidades do interior dos EUA ou nos subúrbios da França, assim como nas
favelas africanas e nas áreas rurais carentes chinesas e indianas [...]”(CASTELLS, 1999, p. 52).
Para Soja (2000), as mudanças das últimas décadas afirmam as alterações do modo de produção
capitalista e colocam em voga seis discursos acerca das apreensões da nova ordem de estruturação
econômica e de desenvolvimento da globalização, nos quais a cidade é parte fundamental. Os seis
discursos orientam-se por temas específicos, sendo os dois primeiros correspondentes às ideias
sobre a formação de uma nova e flexível economia pós-fordista. De modo geral, em The postfordist
industrial metropolis e cosmomopolis: the globalization of cityspace, enfatiza as relações
socioeconômicas de produção do espaço urbano. No primeiro caso, evidencia a flexibilidade
econômica traduzida em novos arranjos espaciais e, no segundo, os impactos da intensa
globalização, que também carrega consigo uma economia cultural mundial, questões abordadas por
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Castells (1999) e Sassen (1991, 1994, 1996) quanto à sociedade de informação e à constituição de
regiões especializadas.
Exopolis: the restructuring of urban form indica as formas espaciais mutantes das aglomerações
contemporâneas, considerando tanto aquilo que estava anteriormente fora da cidade – as áreas
periféricas – quanto à ideia de uma forma urbana distinta fruto de reestruturação e recentralização
das cidades. Mais tarde, Soja (2011) denominou-a de urbanização regional multiescalar e
policêntrica.
Os dois últimos discursos trazem à tona as alterações imputadas pela revolução técnico-
informacional. O espaço real e o imaginado se fundem em processos de simulações virtuais e
indicam as questões abordadas por Braudillard (1983) acerca do simulacro. Observa-se, a partir de
Soja (2000), que, além de temas como infraestrutura, escala e crescimento demográfico, os estudos
urbanos têm se dedicado a outras questões como, por exemplo, a consciência da cidade em partes,
ou seja, a inserção de diversas dinâmicas em um único território bem como as lutas e resistências de
grupos sociais específicos. Destacam-se ainda as grandes intervenções urbanas geridas por
parcerias público-privadas, que evocam novas relações econômicas e culturais: estratégias de
reinserção de centros históricos e também de áreas obsoletas, como antigas áreas fabris e portuárias
num circuito turístico de alcance global.
Em complementação a Soja (2000), Muñoz (2008) descreve as paisagens banais presentes nas
cidades globais, que buscam atrair para seu território turistas e maior circulação monetária,
assumindo-se como mercadorias em prol de uma arquitetura lisa e polida. Significa, a busca
incessante por formas inusitadas, inéditas e altamente rentáveis, ainda que estas se sobreponham as
densas camadas histórias, em se tratando de cidades europeias ou a ressignificação da tradição
cultural em cidades localizadas em países em desenvolvido. Nesse panorama, a arquitetura torna-se
uma solução cosmética – em escala global atrais os holofotes dos grandes investidores; em escala
local, camufla as mazelas e problemas urbanos da cidade, intensificando os fragmentos articulados
globalmente.
Desse modo, a contemporaneidade produz uma cidade em maior velocidade, mas menos densa do
ponto de vista histórico e sociológico, exaltando a arquitetura como forca motriz dessa trama de
cidades que competem entre si por meio de imagens midiáticas de alta atratividade. Os edifícios são
importantes elementos de regeneração urbana e propiciam também uma alavancagem econômica
das cidades, tendo em vista, o investimento de capital privado associado às ações públicas. A partir
desse momento, as cidades são modificadas e reinventadas, passando a agregar valores diferentes
de épocas precedentes. Tornam-se comuns intervenções urbanas que visam fomentar a cultura, a
circulação de capital nos grandes centros; nesse contexto, a arquitetura passa a ser um
condicionante à reinvenção das cidades: por meio de formas inusitadas e exclusivas, a cidade se
modifica e tem renda, tornando-se parte do circuito cultural a nível internacional, culminando na
condição urbana contemporânea.
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Soja (2011), ao revisitar os discursos propostos em Postmetropolis (2000), aponta que a condição
urbana contemporânea se intensificou pela concentração das atividades e pessoas nas cidades. Em
suas palavras: “[...] as cidades, em particular as geografias urbanas, produzem uma força gerativa
que seria a causa primordial do desenvolvimento econômico, da inovação tecnológica e da
criatividade cultural” (SOJA, 2011, p. 138). Essa mudança de percepção revela também o
fortalecimento do conceito “cidade-região”, tendo em vista a força gerativa da globalização e da nova
economia, em que múltiplas escalas se articulam, com objetivo de constituir regiões e não apenas
cidades, denominada por ele de “urbanização regional”. Mais do que pensar na pós-metrópole, Soja
(2011) evidencia nós estratégicos por onde perpassam os fluxos (mercadorias, tecnológicos e de
pessoas). Pode-se dizer que seu conceito pretende compreender a estrutura organizativa do
continuum espacial e identificar a ressignificação ou a dissolução do termo metrópole para além da
reestruturação urbana dos últimos 30-40 anos.
Tem-se, a partir dessa dinâmica urbana em escala planetária, um deslocamento das práticas
discursivas que visam, sobretudo, compreender a condição urbana contemporânea como continuum
espacial: cidades que se expandem horizontal e verticalmente; áreas urbanizadas obsoletas e em
processos de intervenção; centros históricos preservados, tombados e sujeitos às intervenções
patrimoniais; atividades especializadas; arquiteturas que se sobrepõem à própria cidade. São temas e
abordagens que visam associar o capitalismo tardio e a configuração da urbanização em escala
planetária, destacando-se principalmente os fenômenos das megacidades e das recentes áreas
urbanizadas, principalmente nos países em desenvolvimento, localizados na Ásia, América Latina e
África. O rearranjo da urbanização do século XXI repercute nas vozes dos autores mediante o
aparecimento de novos conceitos em diversos campos dos estudos urbanos.
As mudanças ocorridas nos anos 1990 no leste asiático e, mais recentemente, as cidades erguidas
nos países árabes levam a questionamentos como, por exemplo, a definição de cidade ou a
transfiguração de seu significado ou mesmo a sua dissolução. No campo da arquitetura e urbanismo,
Koolhaas apresenta uma série de termos que possibilitam descrever, interpretar e atuar nas cidades
do século XXI. Termos presentes nas suas publicações que formam conjuntos de verbetes para
descrever e caracterizar a arquitetura metropolitana, a urbanização intensa e acelerada e o Regime
¥€$, demarcando períodos chaves das reestruturações econômicas, mediante a destruição criativa
do capitalismo via produção arquitetônica espetacularizada, assinada por arquitetos de fama
internacional.
Para Muñoz (2004) essa transformação no espaço urbano é uma “urbanalização”; a paisagem da
cidade é tematizada como se fosse um parque temático, é a reprodução de uma arquitetura em todo
o mundo, sem relação específica com a cidade ou com o entorno, apenas uma colagem, visando,
sobretudo, gerar renda e maior atratividade dos espaços urbanos que passaram por algum tipo de
intervenção. Dessa forma, para ele, a paisagem urbana passa a não pertencer nem à cidade e
tampouco ao urbano, e sim ao governo do espetáculo. Essas cidades passam a ser meramente um
lugar de representação do poder, seja ele de cunho político ou de cunho econômico.
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Complementando, para Arantes (2010), quanto à proposição arquitetônica em si, há maior “liberdade”
formal e programática, se comparado a edifícios comerciais ou residenciais. Ademais, é possível que,
com esses projetos, os arquitetos possam ganhar mais notoriedade à medida que passam a ser
reconhecidos pelos projeto-ícone, por conferir status à cidade e à região e aumentar o fluxo de capital
e investimento na área onde foi implantado (ARANTES, 2010). Dessa forma, a maioria dos arquitetos
contemporâneos almejam estar entre os “arquiteto-estrela”, ter o seu edifício, a sua obra de arte
inserida em alguma cidade.
Koolhaas, ao apreender esse contexto de atuação do arquiteto, associa a produção da arquitetura às
questões econômicas e menos enraizadas aos preceitos do urbanismo. De modo geral, sua postura
aborda outras modos de pensar arquitetura, em que as relações edifício e cidade são analisadas
tendo em vista: a escala, a difusão de uma cultura de massa, a importância da tecnologia e economia
no mundo atual, e a função imagética da arquitetura, tendo mais interesse em se preservar um ícone,
uma imagem do que o projeto em si, “[...] não há dependência entre a forma arquitetônica e o uso”
(MONEO, 2008, p. 294).
Como arquiteto atuante, Koolhaas compreende, estuda e analisa a arquitetura como ferramenta de
mudança da cidade e sua relação com a sociedade. Novas arquiteturas são possíveis de alterar toda
a cidade e o entorno em que está inserido, podendo revitalizar áreas degradadas, atrair
investimentos, turistas e capital para uma determinada região e cidade. São arquiteturas que visam
criar imagens para as cidades, em que é possível empregar o termo lobotomia: uma arquitetura de
superfície mais livre; conteúdo e a epiderme não comunicam-se diretamente. Koolhaas busca dar o
máximo de liberdade de ação e movimento, característica primária da cultura contemporânea, e diz:
“Um máximo de programa e um mínimo de arquitetura” (MONEO, 2008, p. 288), ou seja, a
dissociação entre forma e função, característica proeminente do Movimento Moderno. A forma, por
outro lado, na cultura contemporânea, reduz-se ao invólucro para que seja destacada nos folhetos
publicitários, galgando o status de atração turística em escala planetária, muitas vezes, dissociadas
das questões locais.
CARACTERIZAÇÃO DA CONDIÇÃO URBANA CONTEMPORÂNEA: DA ARQUITETURA
METROPOLITANA AO REGIME ¥€$
RK aborda, em suas publicações, as transformações das cidades por três enunciações principais:
arquitetura metropolitana, condição urbana e Regime ¥€$. A primeira vinculada às transformações
das cidades, resultando em soluções arquitetônicas distintas das tradicionais; na segunda e terceira,
a compreensão de novas configurações urbanas articuladas em nível global dos últimos trinta anos,
respaldadas pelo capital financeiro especulativo conformando um continuum espacial.
No final dos anos 1970, Rem Koolhaas lançou um novo olhar sobre as premissas da cidade moderna
ao descrever e interpretar as transformações da ilha de Manhattan na virada do século XIX para o
XX, visando demonstrar que a transformação morfológica no Novo Mundo era, de fato, a
manifestação da modernidade. Nas décadas de 1980 e 1990, em meio à consolidação de seu
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escritório com um maior número de projetos, Rem Koolhaas trata das modernizações ocorridas na
Europa, tendo em vistas as intervenções urbanas na Europa e a emergência de profundas
transformações nas cidades a leste: no Golfo do Rio Pérola, concentrando a pujança econômica
chinesa e sua reinserção na dinâmica global e, mais recentemente, a produção de cidades
midiatizadas no Golfo Pérsico. Pontos articulados entre si em que figuram arquiteturas impactantes
formalmente e assinadas por arquitetos estrela.
Das publicações de Rem Koolhaas e seu coletivo, é possível abordar as enunciações sobre cidade e
metrópole, que concernem à condição urbana, desde os anos 1970. Trata-se de um período que
intercala desaceleração e aceleração econômicas com consequências no espaço urbano em
abordagens plurais, tendo em vista a intensificação da urbanização em escala planetária. As
popostas de RK OMA*AMO demonstram as mudanças na relação entre arquitetura e cidade
constatada na cidade do século XXI a partir de seus movimentos para leste.
Em Nova York delirante e S, M, L, XL tratam da enunciação arquitetura metropolitana, possibilitando
compreender a primeira modernização percebida por RK: a transformação morfológica e as
mudanças de escala da cidade, em que a arquitetura se sobrepõe a escala urbana pelos arranha-
céus. Em seguida, tem-se o conjunto de publicações resultantes da pesquisa HPC sobre a condição
urbana contemporânea: primeiramente com aspectos gerais sobre a dinâmica populacional e novas
áreas urbanizadas desde fins dos anos 1990. Da pesquisa, pode-se constatar o trabalho coletivo e
coordenado por Koolhaas em busca de um vocabulário próprio para caracterizá-las. Content (2004) e
Volume Magazine Al Manakh (2007) tratam dos rearranjos espaciais em escala planetária que
possibilitam caracterizar a condição urbana do século XXI. Esses últimos são publicações vinculadas
mais a periódicos e menos a livros, sendo que em Content destaca-se o discurso não verbal e, em
Volume Magazine Al Manakh, um novo território a ser explorado por OMA*AMO, denominado Gulf
Survey.
Nova York delirante é resultado de uma pesquisa de cinco anos (1972-1977), entre a pesquisa de
campo (coletânea de cartões-postais e dados sobre a história de Manhattan) e a elaboração do texto.
Trata-se de um manifesto “retroativo” que interpreta Nova York do final do século XIX e início do XX.
O título é a própria interpretação de RK da cidade moderna, marcando sua distância aos modelos de
cidade do futuro e utopias futurísticas ou da cidade histórica, temas correntes à época da publicação
deste livro. Ao estudar Nova York, o autor aponta as alterações morfológicas e invenções que
possibilitaram a existência de uma grande densidade responsável pelo dinamismo da cidade,
designado “culture of congestion”. Para Koolhaas, a mudança de escala altera as relações entre
arquitetura e cidade, prevalecendo a primeira sobre a segunda na conformação do espaço urbano, o
que designa pelo neologismo Manhattanism.
Koollhaas estuda o impacto da cultura de massa na cidade de Nova Iorque, ressaltando a aceitação
dos americanos à vida urbana atrelada à congestão e à densidade, conceitos abominados pelos
arquitetos pós-modernistas europeus. Livre das pressões preservacionistas europeias, analisa a
paisagem nova-iorquina e se encanta com o potencial do arranha-céu (como Le Corbusier) como
protagonista da cultura de congestão, destacando-se na morfologia da cidade moderna. No entanto,
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para Koolhaas a imagem da cidade torna-se uma referência midiática, isto é, um edifício desgarrado
de significados preestabelecidos e suscetíveis às dinâmicas da vida contemporânea.
RK elucida o mundo artificial, resultante das condições da vida social em Manhattan. Conclui que o
urbanismo metropolitano se organiza a partir da culture of congestion. Para que ele se materialize, é
necessária uma arquitetura especializada, sujeita a mudanças, característica fundamental da cultura
metropolitana, em contraponto às permanências ensejadas da cidade. Em síntese, a publicação
busca identificar a arquitetura metropolitana respaldada pelas modernizações – conquista do
território, sua modificação e a mutação que leva à formação de fragmentos urbanos, os arranha-céus.
Do ponto de vista morfológico, identifica a malha ortogonal como o início da modernização do Novo
Mundo, quando os holandeses propuseram o parcelamento da ilha pelo traçado ortogonal. A partir
daí, a ocupação ocorre sem quaisquer critérios normativos ou legislativos, resultando numa cidade
“desordenada” e sem controle. A modernidade dos séculos XVIII e XIX introduziu uma forma urbana
na América com dinâmicas próprias sem que o território ou as características do lugar definissem sua
configuração. Além disso, essa dinâmica define-se por ciclos de construção e destruição, que
provocam alterações na metrópole norte-americana. A perda da continuidade entre cada uma das
escalas urbanas ocorre pela implantação dos arranha-céus para negócios, em que o plano urbano –
a grelha e a delimitação das funções por zonas – é sobreposto pela cidade vertical. O autor denomina
essa transformação de “arquitetura metropolitana”.
Koolhaas desloca sua visão para as contribuições da modernização americana para a arquitetura e
urbanismo, demonstrando que nem sempre as regras prescritivas são capazes de abarcar a condição
metropolitana recorrente em diferentes partes do globo. Pode-se dizer as características das cidades
estadunidenses, influenciou arquitetos modernos franceses e alemães na proposição de soluções
para a Europa, via verticalização e adensamento. A Europa havia se tornado um continente pequeno
para a quantidade de habitantes e com pouco espaço para novas construções, devido às suas
riquíssimas e abundantes construções históricas intocáveis.
No entanto, na década de 1970, frente à reestruturação econômica, a Europa buscava se
reposicionar no arranjo global, em que alternativas econômicas foram vinculadas à valorização de
seu patrimônio histórico e cultural. A Europa necessitava de uma nova mola propulsora para
alavancar sua economia. Considerou-se o turismo como estratégia de voltar a atenção do mundo
para o continente, utilizando de sua história e edificações mais memoráveis como bens suscetíveis à
atração de investimentos e público. O desafio era como reconstruí-la, considerando a relação entre o
antigo e o novo, entre a preservação do patrimônio e as intervenções necessárias? Koolhaas
capturou esses dilemas e organizou seus projetos a partir das escalas que envolvem arquitetura e
cidade, culminando em seus textos mais conhecidos: Bigness, Generic City e Junkspace.
S, M, L, XL enfatiza a arquitetura que pretende ser diferente daquela postulada no período posterior à
Segunda Guerra Mundial. Os textos e projetos selecionados abarcam os dilemas da metrópole em
transformação, com destaque às intervenções pontuais em áreas históricas, a dilatação da periferia e
a dissolução de um binário característico da cidade moderna: centro versus periferia. RK seleciona
parte de sua produção teórica (artigos) e projetos do OMA (em sua maioria não executados) para
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avaliar o panorama de mudanças dos anos 1970-1990, apontando questões sobre arquitetura,
cidade, história e lugar.
A tônica desta publicação é contrapor-se à postura historicista pós-moderna, principalmente por
defender as transformações e não as permanências da cidade. Retrata, por meio das diversas
escalas, o impacto da arquitetura sobre o urbano e, cada vez mais, a necessidade de estratégias de
projetação voltadas para a densidade de pessoas e intensificação do mundo globalizado. Os
elementos que caracterizam a organização do conteúdo, definidos por escalas, reforçam a arquitetura
metropolitana apresentada em Nova York delirante. Elucida o vínculo da arquitetura às dinâmicas
socioculturais e econômicas, tornando-a suscetível às transformações, mediante as contingências
históricas.
As aproximações entre Nova York delirante e S, M, L, XL estão na demonstração de paradoxos. Se a
primeira publicação aclamava a modernização de Manhattan como referência para a cidade moderna,
S, M, L, XL apresenta projetos que tratam da inserção da arquitetura no contexto sócio-histórico
europeu e o embate entre tradição e inovação, apontando alternativas ao discurso historicista vigente.
RK apresenta a arquitetura como um jogo de potência e impotência, tendo em vista a atuação
profissional e a relação dos arquitetos com clientes, sejam individuais ou institucionais (público ou
privado). Ao tornar públicos seus processos de projetação, em sua maioria, projetos não realizados,
comprova os limites entre os desejos dos clientes e as intenções projetuais, dadas a complexidade da
profissão e a gama de atores envolvidos em sua realização.
Entre a apresentação dos projetos, têm-se fragmentos de textos que abordam as diferentes soluções
de projeto, para diferentes escalas, em diferentes partes do mundo. Assim como em Nova York
delirante, elege um ponto do globo para análise e nele apreender as condições que provocam as
mudanças espaciais. Na Europa, notadamente Holanda, França e Alemanha são os países
destacados para aprimorar seu léxico tanto pela linguagem escrita quanto visual. No final da
publicação indica outros pontos do globo que o atraem à medida que novas dinâmicas são verificadas
a partir dos anos 1990. Trata-se do leste europeu, da Ásia e África.
Os argumentos de Koolhaas buscam caracterizar as condições urbanas do século XXI, em que os
símbolos arquitetônicos, antes depositários da memória coletiva e da história da cidade, tornam-se
instrumentos do capital especulativo, estando localizados nas áreas centrais tradicionais ou em áreas
periféricas, em diversas partes do globo.
Ao identificar a identidade como um dos primeiros elementos suprimidos em “The Generic City”,
Koolhaas nega a sedimentação histórica e a forma urbana como elementos únicos definidores das
cidades contemporâneas, além de questionar a capacidade dos centros históricos em transmitir
significados. A cidade torna-se mais suscetível às transformações do que às permanências na virada
do século XX para o XXI. O potencial das periferias, para Koolhaas, ainda não foi reconhecido, pois
muitas vezes elas são mantidas como tal para reforçar a importância do centro. No entanto, cada vez
mais, há a dissolução da distinção centro/periferia.
O planejamento urbano, como concebido no século XX, não mais responde às dinâmicas da generic
city, que crescem e criam novos pontos de especulação imobiliária, favorecendo a fragmentação e
exigindo mais infraestrutura urbana. O exemplo dessas questões está em Singapura que, para
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conectar-se aos fluxos do capital em nível global, associa economia capitalista ao regime político
socialista.
A velocidade de crescimento leva a soluções arquitetônicas simplificadas – uma caixa neutra
simplificada pronta para ser reproduzida em larga escala. Uma das justificativas é o tempo mínimo
para o projeto e inúmeros escritórios que reproduzem as mesmas soluções – elimina-se o tempo de
maturação do projeto ou projetos mais conceituais; basta apenas atender aos interesses do capital
especulativo e alavancar a economia asiática.
A discussão iniciada em “The Generic City” é ampliada nas publicações seguintes. O discurso de
Koolhaas é respaldado por uma importante e destacada instituição de ensino, a Universidade de
Harvard, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas vinculadas às novas condições urbanas,
notadamente na Ásia.
O movimento Go East (Para Leste) é consolidado e permite a RK, como orientador, coordenar e
ampliar seu léxico, em que a preocupação de Koolhaas está em conduzir a elaboração de um novo
vocabulário sobre as condições urbanas até o estabelecimento do Regime ¥€$. A introdução de
neologismos e a ressemantização de alguns termos e conceitos são aí mais características,
reforçando o lugar de RK, a constituição da OMA School e da marca RK OMA*AMO.
As obras Mutations (2001a), Project on the city 1: the Great Leap Forward (2001b) e Project on the
city: Guide to Shopping (2001c) resultam das pesquisas de Harvard Project on the City (HPC) e
tratam, respectivamente: da constatação das mudanças das estruturas urbanas por meio dos efeitos
da globalização, reforçando o conceito de generic city; da descrição da urbanização recente das
cidades asiáticas, denominadas City of Exacerbated Difference (COED©); do aparecimento do
neologismo junkspace, referente aos espaços de consumo nos mercados emergentes, vinculados ao
continuum espacial de fluxos e redes globais.
Os resultados da pesquisa em PRD são apresentados a partir do crescimento populacional e das
transformações urbanas desde meados dos anos 1980. A região é vista como uma megalópole2 que
se desenvolve em escalas e velocidades não experimentadas ao longo de 250 anos de urbanização
nos moldes ocidentais, e é tida como uma nova condição urbana em virtude da exagerada diferença
entre suas partes: COED© e a inusitada combinação de socialismo com economia de mercado. São
archipelagos de modernizações que estabelecem relações com outras partes do globo, reforçando o
continuum (descontínuo) espacial como lógica da restruturação capitalista, ainda não abordados.
De modo geral, Mutations agrupa pesquisas sobre a cidade do século XXI. Em parceria com a Editora
Taschen, Koolhaas coordenou dois livros em que apresenta os termos para descrever a urbanização
acelerada e globalizada.
Project on the city 1: great leap forward (2001) apresenta os resultados da pesquisa sobre a condição
urbana em PRD a partir do termo City of Exacerbated Difference – COED©. O título do livro refere-se
à política de Mao Tsé-Tung entre 1959 e 1960. A analogia entre o título do livro e a política de Mao
Tsé-Tung é coerente, pois o processo de modernização da China baseou-se na formação de Zonas
Especiais Econômicas (Special Economic Zones – SEZ) em PRD, aproximando as cinco cidades da
dinâmica de Hong Kong. Houve uma política de descentralização da produção industrial, com
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atividades especializadas. Apesar de ter permitido o avanço econômico da região, observam-se
grandes problemas sociais, o que reforça as diferenças e os fragmentos de urbanização nas cidades
pesquisadas.
A pesquisa seguinte de HPC, intitulada Project on the City 2: Guide to Shopping3 (KOOLHAAS et al.,
2001c), possui como enunciado principal o consumo e sua relação com a arquitetura e o urbanismo
contemporâneos. Está organizada por temas com cronologias dos espaços de compras, destacando
tecnologias, estratégias de vendas, dentre outros aspectos. Parte da pesquisa foi publicada em
Mutations, destacando a lógica de consumo como condição urbana da cidade do século XXI. A
investigação se propôs a levantar dados e a área ocupada pelo varejo no mundo. Alerta sobre a crise,
com a diminuição desses espaços entre 1980 e 1990, atestando que o consumo é um dos principais
elementos da vida moderna, que dinamiza ou retrai as cidades, visando identificar a organização dos
edifícios.
A síntese da publicação está no neologismo junkspace, texto no qual Koolhaas elenca a arquitetura
instituída a partir do consumo para descrever a “cidade do futuro” relatada por Jameson (2013).
Desdobra-se de suas percepções acerca da consolidação do consumo, sendo o shopping o espaço
público para o flâneur do século XXI. A profusão de imagens e a presença de elementos de
circulação, tais como o elevador e a escada rolante, organizam a estrutura interna dos espaços de
consumo e facilitam neles o fluxo, destituindo da arquitetura seus elementos canônicos: solidez e
plasticidade.
A publicação seguinte, Content (2004) retrata o contexto global, sob o viés econômico, entre 1989-
2003 em que são destacados personalidades, fatos e edifícios que constituem o Regime ¥€$. O
ponto de partida é a queda do Muro de Berlim, que representa o fim de uma barreira para a
constituição de outras, via vigilância camuflada pela tecnologia (Figura 1). O comércio eletrônico
também é abordado, demonstrando as articulações entre tecnologias de informação, fluxo de capitais
e mercadorias que reorientam o consumo em escala planetária, bem como ressaltando a logística
necessária para seu pleno funcionamento.
Figura 1 - Cartografia do Regime ¥€$ com agrupamento de informações
Fonte: KOOLHAAS; MCGETRICK 2004.
Por fim, O Al Manakh: Dubai Guide dedica-se a explorar a urbanização no derradeiro espaço livre no
planeta: o deserto – uma tabula rasa, nas palavras de Koolhaas, Bouman e Khoubrou (2007), onde é
possível implantar novas configurações urbanas. Na Região do Golfo Pérsico são destacados cinco
países e suas cidades, que expressam o máximo da artificialidade num processo de modernização
cada vez mais acelerado e veloz, concentrando instituições internacionais de ensino e culturais.
Dessas sete publicações, pode-se perceber as modernizações percebidas por Koolhaas
demonstrando as transformações da cidade ao longo dos últimos quarenta anos a partir da
perspectiva de destruição criativa já captada em Nova York.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa concentrou-se em discutir os termos empregados sobre a condição urbana
contemporânea nas publicações de Rem Koolhaas visto que a cidade, nestes últimos quarenta anos,
associa-se a uma trama urbana sob um panorama de intensificação da globalização, da revolução
técnico-informacional e do neoliberalismo. Fatores estes que provocam uma intensa produção
arquitetônica a partir dos anos 1990 com profundas mudanças na forma urbana.
De modo geral, os três períodos de modernização permitem, sob a visão crítica de RK e seu coletivo,
apreender as mudanças ocorridas nas cidades desde a Revolução Industrial até a economia de
mercado globalizada. Um intervalo de colonização e ampliação das áreas urbanizadas que passaram
da Europa aos Estados Unidos e deste para o Velho Mundo, e, mais recentemente, a dispersão dos
agentes colonizadores quando a barreira entre Oriente e Ocidente foi dissolvida e transformada em
marco histórico de uma nova era, a qual RK intitula Regime ¥€$.
RK descrever as transformações urbanas, reconhecendo que as cidades, desde meados do século
XIX, envolvem diversos fenômenos complexos e, por vezes, conflitantes. Se o urbanismo moderno
buscou definir ações de controle ao crescimento e preconizou a ordem pela separação das funções,
RK defende uma cidade vertical “livre”, em que a própria culture of congestion possibilitaria o caos e a
desordem, uma vez que os arranha-céus não teriam programas ou usos pré-definidos. Do mesmo
modo, refuta as concepções de resgate ao passado a fim de proporcionar a longa duração histórica
das cidades. Mediante o quadro de intensificação da urbanização atrelada às dinâmicas do capital
especulativo, novas áreas do globo se destacam, levando-o a descrever, caracterizar e interpretar a
condição urbana contemporânea, inicialmente pelos termos Bigness e Generic City e, depois,
COED© e Junkspace. Destes deviram os demais que conformam um léxico próprio a RK OMA*AMO.
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