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Informao Arquivstica, Rio de Janeiro, RJ, v. 1, n. 1, p. 123-148, jul./dez. 2012
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Arquivologia e Ps-modernismo: novas formulaes
para velhos conceitos
Terry Cook
University of Manitoba, Canada.
Resumo: Processo em vez de produto, se tornando em vez de ser, mais dinmico do que
esttico, contexto em vez de texto, refletindo tempo e lugar em vez de absolutos
universais - estas tm se tornado as palavras de ordem ps-modernas para analisar e
entender cincia, sociedade, organizao e negcios, entre outras. Estas deveriam
tambm se tornar as palavras de ordem para a Arquivologia no novo sculo, bem como
o fundamento para um novo paradigma conceitual relativo profisso. O Ps-
modernismo no a nica razo para reformular os principais preceitos da
Arquivologia. Mudanas significativas no objetivo dos Arquivos como instituies e a
natureza dos documentos arquivsticos so outros fatores que, combinados com
percepes Ps-modernas, formam a base da nova percepo dos Arquivos como
documentos arquivsticos, instituies e profisso na sociedade. Este ensaio explora a
natureza do Ps-modernismo e da Arquivologia e sugere ligaes entre ambos. Delineia
duas mudanas amplas no pensamento arquivstico que sustentam o deslocamento do
paradigma arquivstico, antes de sugerir novas formulaes para os conceitos mais
tradicionais da Arquivologia.
Palavras-chave: Arquivologia, governana, ps-modernismo, memria social.
Archival Science and Postmodernism: new formulations for old concepts
Abstract: Process rather than product, becoming rather than being, dynamic rather than
static, context rather than text, reflecting time and place rather than universal absolutes
these have become the postmodern watchwords for analyzing and understanding science, society, organizations, and business activity, among others. They should
likewise become the watchwords for archival science in the new century, and thus the
foundation for a new conceptual paradigm for the profession. Postmodernism is not the
only reason for reformulating the main precepts of archival science. Significant changes
in the purpose of archives as institutions and the nature of records are other factors
which, combined with postmodern insights, form the basis of the new perception of
archives as documents, institutions, and professions in society. This essay explores the
nature of postmodernism and archival science, and suggest links between the two. It
outlines two broad changes in archival thinking that underpin the archival paradigm
shift, before suggesting new formulations for most traditional archival concepts.
Keywords: archival science, governance, postmodernism, social memory.
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papel da Arquivologia num
mundo Ps-moderno desafia
arquivistas em toda parte a
repensar a sua disciplina e prtica1. Uma
profisso enraizada no Positivismo do
sculo XIX, muito mais do que em
estudos anteriores ligados Diplomtica,
resultou em estratgias e metodologias
que j no so viveis num mundo ps-
moderno e computadorizado2. At Ar-
1 Sinto-me honrado por ter sido convidado
pelos editores desta revista [Archival Science,
onde o texto foi publicado originalmente.
Nota do Revisor] a apresentar nesta edio
inaugural a minha viso sobre o estado da
Arquivologia, o curto espao de tempo torna
este artigo uma reflexo pessoal em vez de
uma pesquisa indita sustentada. Eu utilizei
esta pesquisa como tinha feito anteriormente
e publiquei em outro lugar, como indico em
notas subsequentes, fontes das quais em geral
podem ser encontradas citaes muito mais
completas. O presente trabalho um ensaio
sobre a Arquivologia e o Ps-modernismo;
no h nenhuma pretenso de ter pesquisado
exaustivamente tudo o que tem sido escrito
sobre o assunto, mesmo em lngua inglesa.
Eu gostaria de agradecer a Tim Cook, dos
Arquivos Nacionais do Canad, pelos seus
comentrios teis neste ensaio, assim como
aos comentrios de dois revisores annimos
da Archival Science; todos os erros e
interpretaes continuam sendo meus.
2 Para Positivismo e Arquivos, ver Verne
Harris, Claiming Less, Delivering More: A
Critique of Positivist Formulations on
Archives in South Africa, Archivaria 44
(outono de 1997):132-141; assim como, pelo
menos implicitamente, todas as fontes
escritas por arquivistas sobre a revoluo
ps-moderna e o seu impacto na profisso,
muitos dos quais so apresentados na nota 13.
necessrio prestar ateno crtica
abrangente sobre as formulaes positivistas
da Teoria Arquivstica e da Arquivologia por
quivologia como termo e corpo terico,
coloca problemas conceituais, bem
separados do impacto do ps-
modernismo, que precisam ser es-
clarecidos nas novas realidades em que
vivemos e trabalhamos. Essas alteraes
significam uma mudana paradigmtica,
como os editores me convidaram a tratar,
ou a profisso est apenas adaptando os
seus princpios, como foi feito na-
teriormente, s novas mdias e tcnicas
de criao de documentos? Neste ensaio,
eu confirmo minha resposta dada em
outro lugar de que uma mudana no
mbito paradigmtico da Arquivovologia
est de fato ocorrendo, e vai crescer em
intensidade no novo sculo para desafiar
a maneira como os arquivistas pensam e
fazem seu trabalho3.
Preben Mortensen, The Place of Theory in
Archival Practice, Archivaria 47 (Primavera
de 1999): 1-26.
3 Ver Terry Cook, What is Past is Prologue:
A History of Archival Ideas Since 1898, and
the Future Paradigm Shift Archivaria 43
(primavera de 1997): 17-63 (uma verso
menor e menos completa foi tambm
publicada como Interaction of Archival
Theory and Practice Since the Publication of
the Dutch Manual, Archivum (1997) 191-
214); o ensaio foi reimpresso em P. J.
Horsman, F. C. J. Ketelaar e T. H. P. M.
Thomassen (editores), Naar een nieuw
paradigma in de archivistiek. Jaarboek 1999
Stichting Archiefpublicaties ('s Gravenhage
1999), 29-67. Ambos originados de um
discurso na plenria do Dcimo Terceiro
Congresso Internacional de Arquivos,
sediado em Beijing, China, em 1996. Eu j
tinha usado o termo
paradigmaanteriormente , em um artigo
precursor h quase duas dcadas, para sugerir
O
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No corao do novo paradigma
est a mudana que faz com que os
documentos arquivsticos deixem de ser
vistos como objetos fsicos estticos e
passem a ser entendidos como conceitos
virtuais dinmicos; uma mudana na
viso dos documentos arquivsticos
como produto passivo da atividade
humana ou administrativa para serem
considerados como agentes ativos na
formao da memria humana e
organizacional; ou seja, uma mudana
igualmente distante de ver o contexto de
criao dos documentos descansando
dentro organizaes hierrquicas es-
tveis, para situ-los dentro de redes de
fluxo horizontal na funcionalidade do
fluxo de trabalho. Para os arquivistas, a
mudana de paradigma requer deixar de
identificar a si mesmos como guardies
passivos de um legado herdado, para
celebrar o seu papel na formao ativa
da memria coletiva (ou social). Dito de
outra maneira, o discurso arquivstico
terico a mudana do produto para o
processo, da estrutura para a funo, dos
que pesquisa renovada e estudos contnuos
para arquivistas sobre histria e o contexto
dos Arquivos, em oposio ao foco
profissional centrado na poca em questes
metodolgicas e tecnolgicas, permitiriam
que arquivistas e, mais importante, usurios
de arquivo descobrissem conhecimento e o
entendimento humanista no mar de
informao dos acervos arquivsticos; ver
Terry Cook, From Information to
Knowledge: An Intelectual Paradigm for
Archives Archivaria 19 (Inverno de 1984-
1985): 28-49.
arquivos para o arquivamento, do
documento para o seu contexto; do
resduo natural ou subproduto passivo
da atividade administrativa para a
conscientemente construda e ativamente
mediada arquivizao da memria
social4.
Em um mundo em mudana, os
princpios fundamentais arquivsticos
somente sero preservados descartando
muitas das suas atuais interpretaes,
implementaes estratgicas e aplicaes
prticas. Pode a princpio parecer
contraditrio afirmar uma mudana
paradigmtica, ao mesmo tempo em que
tambm se sugere que os arquivistas
deveriam permanecer focados nas suas
pesquisas eruditas e formulaes tericas
dos princpios fundamentais tradicionais
- aqueles centrados na origem, Respect
des Fonds, contexto, evoluo,
interrelaes, [e] ordem dos
4 Para arquivizao e sua exposio por
Jacques Derrida em Mal de Arquivo, ver Eric
Ketelaar, Archivalisation and Archiving,
Archives and manuscripts 27 (maio de 1999):
54-61; e (sem o termo) Tom Nesmith, Still
Fuzzy, But More Accurate: Some Thoughts
on the 'Ghosts of Archival Theory,
Archivaria 47 (primavera de 1999): 136-150;
assim como muitas das fontes descritas na
nota 13 sobre o Arquivo Ps-moderno. A
mais completa anlise publicada sobre
Derrida por um arquivista est em Brien
Brothman, Declining Derrida: Integrity,
Tensegrity, and the Preservation of Archives
from deconstruction, Archivaria 48 (outono
de 1999): 64-88.
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documentos5. A referncia aos princpios
fundamentais arquivsticos no soa como
uma radical mudana de paradigma!
Porm, os resultados de pesquisas
realizadas por arquivistas preocupados
com estes fundamentos tradicionais, so
agora to diferentes das suposies que
dominaram a profisso durante a maior
parte dos dois sculos passados, que eu
acredito que uma mudana de paradigma
est realmente ocorrendo.
Thomas Kuhn articulou a ideia de
uma mudana de paradigma em A
Estrutura das Revolues Cientficas, de
1962. Ele argumentou que uma mudana
radical ocorre no quadro interpretativo
para qualquer teoria cientfica, que
chamou de mudana paradigmtica,
quando as respostas para as questes das
pesquisas no mais explicavam
suficientemente os fenmenos sendo
observados (no caso da Arquivologia, a
informao registrada e seus criadores)
ou quando as metodologias prticas
baseadas na teoria de tal observao no
funcionam mais (como certamente no
funcionam para muitas atividades
arquivsticas, e no apenas lida com
documentos eletrnicos). O foco nas
perguntas e pesquisas, portanto,
permanece tradicional numa mudana
de paradigma, mas no as respostas. E
assim acontece com os arquivos.
5 Cook, From Information to Knowledge:
An Intellectual Paradigm for Archives, 49.
Este ensaio vai explorar a
natureza do Ps-modernismo e da
Arquivologia e sugerir ligaes entre
ambos. Ir descrever brevemente duas
amplas mudanas no pensamento
arquivstico que sustentam o
deslocamento paradigmtico, antes de
sugerir novas formulaes para os
tradicionais conceitos em Arquivologia.
Todas as trs dimenses deste ensaio so
perspectivas diferentes da mesma
mudana paradigmtica na Arqui-
vologia.
Ps-modernismo e cincia arquivstica
A mentalidade ps-modernista
afeta os arquivos de duas maneiras. Ns
vivemos numa era ps-modernista de
discusso terica, gostemos ou no.
Comeando numa anlise arquitetnica e
evoluindo da crtica filosfica e literria
francesa ps-Sartre, o ps-modernismo
tem crescido e influenciado quase todas
as disciplinas, desde a histria at a
literatura, a psicanlise, a antropologia;
da anlise cartogrfica ao filme,
fotografia, estudos da arte, e sem falar na
influncia do Feminismo e da Teoria
Marxista, que por sua vez tem mudado
muitas disciplinas. O educador-
arquivista Terry Eastwood observou que
necessrio entender o meio poltico,
econmico, social e cultural de qualquer
sociedade para entender seus arquivos,
acrescentando que as ideias existentes
sobre arquivo, num dado momento, no
so, seno, uma reflexo das mais
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amplas correntes da histria
intelectual6. Seguindo esta lgica, a
tendncia intelectual dominante desta era
o ps-modernismo, e isso neces-
sariamente afeta os arquivos. Os
arquivistas devem comear a especular
como e por que, e mudar adequadamente
suas formulaes da Arquivologia.
O segundo, e mais direto,
impacto do ps-modernismo se baseia na
especulao sobre a natureza de textos
histricos e de outros textos. O maior
pensador ps-moderno vivo, Jacques
Derrida, publicou O Mal de Arquivo em
1995/96 para tratar explicitamente do
arquivo e seu significado na sociedade, e
uma onda de estudos seguiram-se na
6 Terence M. Eastwood, Reflections on the
Development of Archives in Canada and
Australia, in Sue McKemmish e Frank
Upward, ed., Archival Documents: Providing
Accountability Through Recordkeeping
(Melbourne, 1993), 27. Ver tambm Barbara
Craig, Outward Visions, Inward Glance:
Archives History and Professional Identity,
Archival Issues: Journal of the Middle West
Archives Conference 17 (1992): 121. A mais
completa argumentao sobre pesquisa,
escrita, e leitura e conhecimento para os
arquivistas est em Richard J. Cox, On the
Value of Archival History in the United
States (originalmente 1988), in Richard J.
Cox, American Archival Analysis: The
Recent Development of the Archival
Profession in the United States (Metuchen,
N. J., 1990), 182-200. Ver tambm os
argumentos (e exemplos) em toda parte de
Cook, What is Past is Prologue: A History
of Archival Ideas Since 1898, and the Future
Paradigm Shift.
esteira de Derrida7. O ps-modernismo
est, assim, preocupado com a criao e
natureza dos documentos e suas
designaes, sobrevivncia e pre-
servao como arquivos. Muitos crticos
ps-modernistas tambm abordaram
explicitamente os Arquivos como
instituies e seu rol na formao da
memria oficial ou sancionada do
Estado. importante distinguir aqui o
impacto do ps-modernismo e da
informtica nos documentos e,
finalmente, na Arquivologia. Derrida
certamente diria que as perguntas mais
radicais que esto sendo feitas hoje sobre
os Arquivos, estimuladas pelos
documentos eletrnicos e meio-
ambientes virtuais, so igualmente
aplicveis a toda tradio ocidental de
escrita e produo documental: a
instabilidade do texto e das relaes
autor-texto, ou a sombra fantasmagrica
do rasto de atividades passadas, so
talvez mais aparentes com mdia
eletrnica, mas tm sido de fato uma
realidade persistente desde que a
linguagem e a escrita comearam a ser
usadas.
7 Jacques Derrida, Mal de Arquivo: Uma
Impresso Freudiana (Chicago e Londres,
1996, publicado originalmente na Frana em
1995, sobre palestras em 1994). Duas edies
da revista History of the Human Sciences, 11
(Novembro de 1998) e 12 (Fevereiro de
1999), foram dedicadas a ensaios feitos por
quase vinte acadmicos em The Archive.
Nenhum era arquivista e muito poucos
artigos de arquivistas foram citados.
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O problema com o ps-mo-
dernismo , claro, a definio. Ele afeta
tantos aspectos da sociedade hoje, que
pode significar qualquer coisa de-
pendendo da perspectiva e disciplina da
qual fale um especialista. O campo do
ps-modernismo est cheio de paradoxos
e ironias, desde Michel Foucault
ancorando textos em realidades de poder
scio-polticos e histricas, para
entender sistemas de conhecimento
organizado e suas hegemonias dis-
cursivas, at Jacques Derrida
desconstruindo ou desmontando aqueles
mesmos sistemas, incluindo a prpria
linguagem sobre a qual se apoiam. A
Teoria da Informao abrigada sob o
ps-modernismo, fica ainda mais
complicada, pois abrange filosofia,
lingustica, semitica, estruturalismo,
hermenutica e iconologia, alm do
marxismo e o feminismo. Mesmo
correndo o risco de fazer uma grosseira
simplificao, eis aqui algumas
formulaes gerais ps-modernistas,
enfatizando, claro, para esta revista, suas
implicaes para os arquivos, e seu
impacto na Arquivologia.
O ps-moderno desconfia e se
rebela contra o moderno. A noo de
verdade universal ou conhecimento
objetivo baseada nos princpios do
racionalismo cientfico do Iluminismo,
ou no emprego do mtodo cientfico ou
da anlise textual clssica, descartada
como quimera. Atravs de uma anlise
lgica impiedosa, os ps-modernistas
revelam a ilgica de textos alegadamente
racionais. O contexto por trs do texto,
as relaes de poder que modelam o
patrimnio documental, e at a estrutura
do documento, o sistema de informao
residente e as convenes narrativas, so
mais importantes que a coisa objetiva em
si ou o seu contedo. Fatos em textos
no podem ser separados da sua atual ou
passada interpretao, nem o autor do
assunto ou o pblico, tampouco o autor
da sua obra, ou obra do contexto. Nada
neutro. Nada imparcial. Nada
objetivo. Tudo moldado, apresentado,
representado, reapresentado, simbo-
lizado, significado, assinado, construdo
pelo orador, fotgrafo, escritor, com um
propsito definido. Nenhum texto um
mero e inocente subproduto da ao,
como Jenkinson afirmava; ao invs,
trata-se de um produto conscientemente
construdo, embora essa conscincia
possa estar to transformada em padres
semiconscientes ou at inconscientes de
comportamento social, processo de
organizao e apresentao de in-
formao, que a conexo com a
realidade externa e as relaes de poder
ficam muito escondidas. Os textos
(incluindo imagens) so todos uma
forma de narrao muito mais
preocupada com a construo de
consistncia e harmonia para o autor,
melhorando posio e ego, em
conformidade com as normas de
organizao e os padres de discurso
retrico, do que com evidncias de atos e
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fatos, ou enquadramentos jurdicos ou
legais. E no existe apenas uma narrativa
numa srie ou coleo de documentos,
mas muitas narrativas e histrias,
servindo a muitos propsitos para muitos
pblicos, atravs do tempo e do espao.
O tom ps-modernista de uma
dvida irnica, de desconfiana, de
sempre olhar sob a superfcie, de
perturbar a sabedoria convencional. Os
ps-modernistas tentam desnaturalizar o
que a sociedade assume como natural, o
que tem sido aceito durante geraes, ou
mesmo sculos, como normal, natural,
racional, comprovado simplesmente o
jeito que as coisas so. O ps-
modernismo toma tais fenmenos
naturais- como quer o patriarcado, o
capitalismo, os cnones ocidentais da
boa literatura, ou os Arquivos- e declara
que eles so antinaturais, ou
culturais, ou construdos, ou feitos
pelo homem (usando homem
deliberadamente), e precisam de
pesquisa e anlise profundas8.
8 Parece no haver motivo para citar aqui
uma prateleira completa de livros ps-
modernistas. No entanto, alm da
metodologia histrica e anlise prprias de
Foucault, e o volume seminal de Derrida, a
minha compreenso do ps-modernismo deve
muita a uma precoce exposio ao trabalho
da acadmica canadense Linda Hutcheon,
The Politics of Postmodernism (Londres e
Nova Iorque, 1989), e Potica do Ps-
modernismo: Histria, Teoria e Fico
(Nova Iorque e Londres, 1988), e claro aos
artigos daqueles poucos arquivistas
(felizmente crescendo em nmero) que
Algumas dessas generalizaes
sobre ps-modernismo so apoiadas por
uma crescente literatura sobre a histria
dos Arquivos - infelizmente no escrita,
em geral, por arquivistas. Jacques
LeGoff observa que o documento no
objetivo, nem matria prima inocente,
mas expressa o poder passado [ou
presente] da sociedade sobre a memria
e sobre o futuro: o documento o que
fica. O que a verdade de cada
documento a verdade dos arquivos
coletivamente. No por acaso que os
primeiros arquivos foram aqueles
vinculados ao poder na antiga
Mesopotmia, no Egito, na China e na
Amrica pr-colombiana seja nos
centros de poder da religio, dos templos
e sacerdotes; dos negcios, comrcio e
contabilidade, ou dos reis, imperadores e
faras. A cidade capital nesta e, em
posteriores civilizaes, se torna, nas
palavras de LeGoff, o centro de
polticas de memria onde o rei
implanta, em todo o territrio que ele
reina, um programa de lembranas onde
ele o centro. Primeiro a criao e
depois o controle da memria levam ao
controle da histria, da mitologia e, em
ltima anlise, do poder9. Estudiosas
exploraram em vez de ignorar o ps-
modernismo, com descritos na nota 13.
9 Jacques Le Goff, Histria e Memria,
traduzido [para o ingls] por Steven Rendall e
Elizabeth Claman (Nova Iorque, 1992) p.
Xvi-xvii, 59-60, e passim.
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feministas, como Gerda Lerner em seus
trabalhos pioneiros, demonstraram
convincentemente que o poder por trs
dos primeiros documentos, arquivos e
memrias foi impiedosa e inten-
cionalmente patriarcal: as mulheres
foram deslegitimadas pelo processo de
arquivamento no mundo antigo, um
processo que continuou at este sculo10
.
Agora esto surgindo muitos exemplos
de arquivos coletados e mais tarde
Curiosamente, um dos mais importantes
questionadores da arquivstica ortodoxa e
principal defensor dos arquivos virtuais e de
perspectivas interinstitucionais deu, como
ttulo a sua primeira exposio importante,
algo que lembra muito os temas de Le Goff:
ver Helen Willa Samuels, Whio Controls the
Past, American Archivist 49 (Primavera de
1986): 109-124.
10 As acadmicas feministas tm plena
conscincia dos caminhos que o sistema de
linguagem, a escrita, o registro de
informaes, e a preservao dessas
informaes so baseados na sociedade e no
poder, tanto agora quanto em milnios
passados. Por exemplo, ver Gerda Lerner,
The Creation of Patriarchy (Nova Iorque e
Oxford, 1986) p. 6-7, 57, 151, 200 e passim;
e Riane Eisler, O Clice e a Espada (So
Francisco, 1987) p. 71-73, 91-93. O mais
recente estudo de Lerner, The Creation of
Feminist Consciousness: From the Middle
Ages to Eighteen-seventy (Nova Iorque e
Oxford, 1993), detalha cuidadosamente a
excluso sistemtica das mulheres da histria
e dos arquivos, e as tentativas das mulheres,
comeando no final do sculo dezenove, de
corrigir isto criando arquivos de mulheres:
ver especialmente o captulo 11, The Search
for Womens History. Ver tambm Bonnie
G. Smith, Gnero e Histria: Homens,
Mulheres e a Prtica Histrica (Cambridge
MA e Londres, 1988).
extrados, reconstrudos, at destrudos
, no para manter a melhor evidncia ju-
rdica de transaes legais ou
comerciais, mas para servir a propsitos
histricos e sacro/simblicos, porm
somente para aquelas figuras e eventos
julgados merecedores de celebrao, ou
de lembrana, dentro do contexto do seu
tempo11
. Mas quem merecedor? E
quem determina o merecimento? De
acordo com quais valores? E o que
acontece quando os valores e o seu
determinador mudam ao longo do
tempo? E quem considerado no
merecedor e esquecido, e porqu?
Exemplos histricos, em resumo,
sugerem que no h nada neutro,
objetivo ou natural neste processo de
lembrana e esquecimento.
Em ltima instncia os ps-
modernistas tm uma profunda
ambivalncia sobre o documento.
Enquanto duvidam da verdade histrica,
enquanto percebem os arquivos como
meros rastos de universos de registros e
atividades, hoje perdidos ou destrudos;
11 Ver, por exemplo, Patrick J. Geary,
Fantasmas da Lembrana: Memria e
Esquecimento no Fim do Primeiro Milnio
(Princeton, 1994), p. 86-87, 177, e
particularmente o captulo 8; Memria
Arquivista e a Destruio do Passado e
passim. Para outros exemplos e numerosas
citaes, ver Cook, What is Past is
Prologue, 18, 50. Ns temos o doloroso caso
em nosso prprio tempo, da deliberada
destruio de documentos em Kosovo e
Bsnia para apagar memrias e marginalizar
pessoas.
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enquanto veem os documentos como
truques de espelhos que distorcem fatos
e realidades passadas em favor do
objetivo narrativo do autor/pblico,
recorrem muitas vezes historia e
anlises histricas. Michel Foucault
realizou estudos histricos importantes
sobre doena mental, criminologia e
sexualidade humana, por exemplo. Um
ps-modernista argumenta, exibindo esta
mesma ambivalncia paradoxal,
que todos os documentos ou artefatos usados
pelos historiadores so evidncias no neutras
para a reconstruo de fenmenos, que supe-
se, tm alguma existncia independente fora
deles. Todos os documentos possuem
informaes e a prpria maneira de t-las ,
por ela mesma, um fato histrico que limita a
concepo documentria do conhecimento
histrico. Este o tipo de percepo que
conduziu a uma semitica da histria, pois os
documentos tornam-se sinais de eventos que
os historiadores transmutam em fatos. Os
documentos so tambm sinais dentro de
contextos j semioticamente construdos, que
dependem de instituies (se forem registros
oficiais) ou indivduos (se forem narrativas de
testemunhas oculares).a lio aqui que o
passado j existiu, mas o nosso conhecimento
dele transmitido semioticamente.12
O documento um sinal, um
significante, uma construo mediada e
em constante mudana, no um
receptculo vazio no qual atos e fatos
so derramados. O modelo positivista
baseado na integridade de uma
ressurreio cientfica de fatos do
passado e do documento como um
imparcial e inocente subproduto da ao
est completamente desacreditado. E
alguns arquivistas esto agora
12 Hutcheon, Poetics of Posmodernism, 122.
comeando a explorar as implicaes
dessas ideias ps-modernas na sua
profisso13
. O ps-modernismo no
13 A primeira meno sobre o ps-
modernismo (pelo menos em ingls) feita por
um arquivista no ttulo de um artigo foi de
Terry Cook, em Electronic Records, Paper
Minds: The Revolution in Information
Management and Archives in the Post-
Custodial and Post-Modernist Era, Archives
and Manuscripts 22 (Novembro de 1994):
300-329, do qual dependem muitos dos
poucos pargrafos anteriores. Os temas
continuaram no seu What is Past is
Prologue, j citado. Dois arquivistas
pioneiros do ps-modernismo, antes de Cook,
tambm eram canadenses, Brien Brothman e
Richard Brown. Dentre outros trabalhos, ver
Brien Brothman, Orders of Value: Probing
the Theoretical Terms of Archival Practice,
Arquivaria 32 (Vero de 1991): 78-100; The
Limits of Limits: Derridean Deconstruction
and the Archival Institution, Archivaria 36
(Outono de 1993):205-220; e sua anlise de
Mal de Arquivo de Jacques Derrida, in
Archivaria 43 (Primavera de 1997): 189-192,
cujas ideias so muito mais desenvolvidas no
seu Declining Derrida: Integrity, Tensegrity
and the Preservation of Archives from
deconstruction, Archivaria 48 (j citada); e
Richard Brown, The Value of 'Narrativity' in
the Appraisal of Historical Documents:
Foundation for a Theory of Archival
Hermeneutics, Archivaria 32 (Vero de
1991): 152-156; Records Acquisition
Strategy and Its Theoretical Foundation: The
Case for a Concept of Archival
Hermeneutics, Archivaria 33 (Inverno de
1991-1992):34-56; e Death of a Renaissance
Record-Keeper: The Murder of Tomasso da
Tortona in Ferrara, 1385, Archivaria 44
(outono de 1997): 1-43. Alm dos artigos
incisivos de Preben Mortensen, The Place of
Theory in Archival Practice, e Tom
Nesmith, Still Fuzzy, But More Accurate:
Some Thoughts on the Ghosts of Archival
Theory, ambos citados acima da Archivaria
47 (primavera de 1999) outros arquivistas
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necessariamente antittico
Arquivologia, e um novo tipo de
Arquivologia ou paradigma ser
necessrio para provocar um feliz
casamento entre ambos. Voltemos
primeiro Arquivologia.
O que Arquivologia? Em
certo nvel, o termo e seu significado so
invisveis ou ilusrios. Em outro, so
formulados, algumas vezes, de forma
bastante incompatvel com o pensamento
canadenses que mostram influncias ps-
modernistas pelo menos em suas publicaes
em ingls incluem Bernadine Dodge, Places
Apart: Archives in Dissolving Space and
Time Archivaria 44 (Outono de 1997): 118-
131; Theresa Rowatt, The Records and the
Repository as a Cultural Form of
Expression, Archivaria 36 (outono de 1993):
40 -74; e Lilly Koltun, The Promise and
Threat of Digital Options in an Archival
Age Archivaria 47 (primavera de 1999): 114
135. Os arquivistas ps-modernos no
canadenses incluem Eric Ketelaar,
Archivalisation and Archiving, e Verne
Harris Claiming Less, Delivering More: A
Critique of Positivists Formulations on
Archives in South Africa, ambos j citados
assim como o trabalho complementar de
Verne Harris: Redefining Archives in South
Africa: Public Archives and Society in
Transition, 1990 -1996, Archivaria 42
(outono de 1996): 6 27 e implicitamente
pelo menos alguns dos artigos dos
americanos Margaret Hedstrom, Richard Cox
e James OToole e dos australianos Frank
Upward, Sue McKenmish e Brbara Reed.
Os simpsios e publicaes programados
para o ano que vem para pesquisar arquivos e
a construo da memria social ajudaro
muito a aumentar o nmero e nacionalidades
dos arquivistas envolvidos na considerao
das implicaes do ps-modernismo em sua
profisso.
ps-moderno. Ambas as questes
interessam aos arquivistas. Eric Ketelaar
refere-se Torre de Babel dos
arquivistas atravs dos pases, idiomas
e tradies arquivsticas nacionalizadas
e de culturas arquivsticas enraizadas,
que causam divises. Nota, ainda, que
qualquer discurso pressupe en-
tendimento e compreenso. Parte desse
entendimento requer trazer essas
diferenas luz, em vez de neg-las ou
buscar impor uma universalidade que
no existe, exceto, talvez, na mente de
alguns tericos tradicionalistas14
. Em
nenhuma rea isso mais necessrio do
que na Arquivologia. tambm outra
boa razo para a existncia deste
peridico!
Para arquivistas australianos e
norte-americanos, o termo Arqui-
vologia to estranho que no tem
lugar no seu extenso glossrio de
publicaes. Recentemente, sob o efeito
de ideias importadas da Europa, tem sido
mencionado, eventualmente, nos seus
discursos profissionais 15
. Para muitos
14 Eric Ketelaar, The Difference Best
Postponed? Cultures and Comparative
Archival Science, Archivaria 44 (outono de
1997): 142-148, reimpresso in Horsman,
Ketelaar e Thomassen (editores), Naar een
nieuw paradigma in de archivistiek. Jaarboek
1999 Stichting Archiefpublicaties, 21-27.
15 Ver Lewis Bellardo e Lynn Lady
Bellardo, A Glossary for Archivists,
Manuscript Curators and Records Managers,
Society of American Archivists (Chicago,
1992); Glenda Acland, Glossary, in Judith
Ellis, ed., Keeping Archives, segunda edio
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arquivistas europeus, em contrapartida,
a Arquivologia est profundamente
arraigada em sua postura profissional.
Como exemplo, trs dos mais
importantes arquivistas de trs pases
europeus, que tem usado Arquivologia
no ttulo de recentes artigos escritos para
explorar aspectos de seu significado, no
definem o termo, ou o explicam,
simplesmente assumem que os seus
leitores sabem o que eles querem dizer16
.
(Port Melbourne, 1993), 459-481. Enquanto
esses so glossrios dirigidos a agentes da
prtica, eles refletem participaes de
tericos e o estado da literatura profissional
nesse tempo. Arquivologia ganhou
recentemente maior aceitao como termo na
Amrica do Norte com base numa maior
disponibilidade e apreciao da literatura
arquivstica europeia da ltima dcada, e pela
influncia de Luciana Duranti, uma
educadora arquivista canadense da Europa, e
alguns de seus alunos. Mesmo assim, para
muitos, o termo ainda provoca discordncias.
16 claro que os artigos, como um todo,
explicam implicitamente aspectos da
Arquivologia. Por isso que foram
escritos, mas eles no explicitam
propriamente o termo ou quais aspectos ele
engloba. Ver Paola Carrucci (Itlia),
Arquivologia hoje. Princpios, Mtodos e
Resultados in Odo Bucci, ed., Arquivologia
no Limiar do Ano 2000 (Macerata, 1992): 55-
68; Bruno Delmas (France), Qual o estado
da Arquivologia na Frana hoje, O Conceito
de documento: relatrio da segunda
Conferncia de Estocolmo em Arquivologia e
o conceito de documento. 30-31 de Maio de
1996 (Riksarkivet, Sucia, 1998): 27-35; e
Eric Ketelaar (Holanda), The Difference
Best Postponed? Cultures and Comparative
Archival Science j citado. Eu adianto estes
exemplos apenas como sugesto de trs
escritores bem conhecidos, cujos trabalhos
estavam na minha estante; no tempo
Para este inexperiente olhar norte-
americano, neste tipo de texto o termo
parece, s vezes, abranger todo o
conhecimento profissional que constitui
a disciplina intelectual dos arquivos,
incluindo teoria arquivstica, histria
arquivstica, estratgia arquivstica,
metodologia arquivstica e mesmo a
diplomtica ou aspectos da gesto
documental. Porm, a Arquivologia
parece mais frequentemente equiparada
por estes escritores ao que os norte-
americanos pensam como Teoria
Arquivstica e, mais especificamente,
com conceitos relativos disposio e
descrio de arquivos para proteger sua
provenincia ou integridade contextual.
Para Oddo Bucci, um terico
arquivista europeu que define
Arquivologia muito claramente, co-
nhecimento arquivstico e Arqui-
vologia no so a mesma coisa.
Conhecimento arquivstico a forma
articulada da prtica diria por vrios
disponvel para preparar este artigo, eu no
fiz nenhuma pesquisa sistemtica sobre os
variados usos de Arquivologia por
escritores europeus. O francs Bruno Delmas
pode ser mencionado como o pai da diferena
entre Arquivologia prtica, descritiva e
funcional (e talvez a alem Angelika Menne-
Haritz seja a madrasta). A mais recente
panormica da Arquivologia europeia, que
tanto analisa o conceito quanto rastreia seu
desenvolvimento atravs do tempo, est em
Theo Thomassen, The Development of
Archival Science and its European
Dimension, The Archivist and the Archival
Science (Landsarkivets i Lund Skriftserie 7)
(Lund 1999): 75-83
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momentos, lugares, usos, mdias e
valores de arquivos, enquanto que
Arquivologia a construo sistemtica
e conceitual do conhecimento
arquivstico em integridade disciplinar.
Bucci continua:
...ao realizar essa tarefa de elaborao terica,
a Arquivologia trabalha para canalizar,
estruturar, organizar sistematicamente e
estabelecer ordem no conhecimento
arquivstico. Este ltimo abre o caminho para a
Arquivologia, mas ainda no a tem nele. Os
termos no esto, no entanto, destinados a
permanecer separados sem nunca se encontrar.
Existe entre ambas uma relao dialtica.
necessrio que o conhecimento arquivstico se
transforme por si mesmo em Arquivologia,
assim como necessrio que a Arquivologia
elabore conhecimento arquivstico dentro de si.
Esta dialtica significa que a
Arquivologia no nem universal nem
imutvel. Sua vertente tradicional deu
disciplina a sua inclinao emprica, a
construiu como cincia descritiva e a
adaptou ao imperativo da historiografia
positivista, que visava acumulao de
fatos, mais do que elaborao de
conceitos. Essa historiografia positi-
vista e o empirismo baseado em fatos
foram desacreditados pelo ps-
modernismo. Ao reconhecer este fato,
Bucci assevera que as novas mudanas
sociais minam hbitos e normas de
conduta, envolvendo uma quebra com
princpios que h muito tempo regem o
processo pelo quais os documentos
arquivsticos so criados, transmitidos,
conservados e explorados. Ele conclui
dizendo que as inovaes radicais nas
prticas arquivsticas esto se tornando
cada vez mais incompatveis com a
continuao de uma doutrina que
procura permanecer encerrada nos
baluartes de seus princpios tradicionais
e que necessrio que a Arquivologia
saia do seu isolamento, se abra para a
sociedade e procure numa Teoria da
Sociedade as garantias de unidade
(disciplinar) que a Teoria do Estado no
mais capaz de prover.... Uma Teoria da
Sociedade pode alternativamente provar
ser capaz de oferecer categorias
unificadas em que toda a gama de
problemas arquivsticos possa ser
apresentada17. Vrios escritores arqui-
vistas apoiam Bucci, vendo o contexto
social, organizacional e funcional da
criao de documentos e sua manuteno
como essencial para a disciplina de
compreenso dos Arquivos para, na
terminologia de Bucci, informar
conhecimento arquivstico e dirigir
melhor a prtica arquivstica. O foco est
externamente no que eu chamei de ato
criativo ou inteno de autoria ou
contexto funcional por trs dos
17 Oddo Bucci, A Evoluo da Cincia
Arquivstica e o seu Ensino na Universidade
de Macerata, in Bucci, ed., Cincia
Arquivstica no Limiar do Ano 2000, 18, 34-
35; e Prefcio, 11.
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documentos mais do que internamente
nos prprios documentos18
.
Luciana Duranti discorda. Ela
uma arquivista terica, com um p no
mundo europeu e outro no norte-
americano, que precisa na sua
definio de Arquivologia, apesar de que
a sua definio seja a anttese da de
Bucci em termos de natureza e
significncia da Arquivologia19
.
Arquivologia, para Duranti, o corpo
do conhecimento sobre a natureza e as
caractersticas dos arquivos e do trabalho
arquivstico sistematicamente orga-
nizado em teoria, metodologia e prtica
Em contraste com a Diplomtica que se
preocupa com o conhecimento
sistemtico sobre a natureza e as
18 Cook, What is Past is Prologue, 48.
Outros grandes escritores da escola social
ou de arquivizao de pensamentos
arquivsticos, evidentemente em adio a Eric
Ketelaar, e eu, incluem, com maior destaque,
Hans Booms, Helen Samuels, Hugh Taylor,
David Bearman, Margaret Hedstrom, Rick
Brown, Brien Brothman, Tom Nesmith,
Frank Upward, e Verne Harris. No social em
oposio base estadista para a teoria
arquivista, ver Cook, What is Past is
Prologue, 30-36 e abaixo neste ensaio.
19 Ver Luciana Duranti, Diplomtica:
Novos usos para uma Velha Cincia [Parte
Um], Archivaria 28 (Vero de 1989): 8-11
para as ideias citadas; e sua Arquivologia,
in A. Kent, Enciclopdia da Cincia da
Biblioteca e da Informao 59 (1996), 1, 5,
12. Para uma mais completa caracterizao e
crtica da viso cientfica de Duranti, ver
Mortensen, O Lugar da Teoria, 2-3, e
passim; a sua anlise baseada numa ampla
leitura na histria e na filosofia da cincia.
caractersticas de documentos in-
dividuais, a Arquivologia se aplica as
sries e fundos, embora ela tambm a
equipare com a histria da
Administrao e sua documentao e a
historia do Direito. A conexo com a
Diplomtica ntida. A Arquivologia
constitui a necessria mediao entre a
teoria diplomtica e sua aplicao a
casos concretos e reais... Duranti no
desconsidera o meio ambiente social que
rodeia a criao de documentos, mas
para ela, esse contexto encontra-se
estreitamente definido pela doutrina
legal e por costumes jurdicos no
contexto do produtor. Muito mais
problemtica que essa estreiteza jurdica,
no entanto, a viso positivista de
Duranti da cincia, seja Arquivologia
ou Diplomtica. Ela acredita que seus
princpios e conceitos so univer-
salmente vlidos e trazem objeti-
vidade s pesquisas arquivsticas em
contextos documentais, cujas carac-
tersticas ela equipara a ter maior
qualidade cientfica. Os preceitos da
Arquivologia encontram sua validade
em lgica e consistncia internas, mais
do que no seu contexto histrico, legal
ou cultural. A Arquivologia um
sistema autorreferente, totalmente
autnomo das influncias de concepes
polticas, jurdicas ou culturais. Isto
Arquivo como positivismo lgico.
Tais noes de universalidade,
autonomia lgica, interiorizao e anti-
historicidade so o completo oposto do
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ps-modernismo. Entre as vises de
Bucci e Duranti da Arquivologia,
encontra-se um abismo maior que o que
separa a viso geral da Arquivologia dos
europeus de um lado e dos norte-
americanos e australianos do outro. o
abismo entre pr-modernismo e ps-
modernismo. Contudo, muitos arqui-
vistas se agarram noo pr-modernista
de Jenkinson, talvez sem a preciso
consciente da articulao de Duranti,
mas ainda acreditando (ou esperando?)
que os arquivistas deveriam permanecer
como uma espcie de mediador ideal
neutro, desinteressado e imparcial entre
criadores e usurios dos documentos20
.
20
Eu reconheo que existe um debate em muitas
disciplinas sobre o que Modernismo, assim muito importante afirmar a minha posio, que o
que eu quero dizer por pr-modernismo (e ps-
modernismo) faa sentido para o leitor. Para
alguns, o modernismo se ope Idade Mdia e
tem o seu nascimento no Renascimento; para
outros, o modernismo est situado no
racionalismo do Iluminismo e sua rejeio s
paixes religiosas do sculo anterior. Eu pego a
viso mais estreita de que Modernismo a
mentalidade e os valores dominantes em muitas
disciplinas e artes na primeira metade ou dois
teros do sculo vinte, em oposio Era
Vitoriana. Nesta distino, e para uma histria
intelectual estimulada do Ocidente no sculo
passado, ver Norman Cantor, The American
Century: Varieties of Culture in Modern Times
(Nova Iorque, 1997). Esta aproximao
complementar distino til de Theo
Thomassen (in The Development of Archival Science and its European Dimension, j citado) da Arquivologia pr-paradigma (Era Vitoriana),
Arquivologia clssica desde o Manual dos
Holandeses de 1898 at os ltimos anos
(modernismo), e agora o prospecto de um novo
paradigma para a Arquivologia (ps-
modernismo). Eu acredito que as trs fases so
um pouco diferentes: a Arquivologia pr-
moderna envolve os valores vitorianos (como
Cantor os define) evidentes na Diplomtica, o
Manual dos Holandeses, at Jenkinson; a
Tais vises tradicionais da
cincia podem ser consideradas
erradas em dois pontos. Primeiro,
confundem cincia com cienti-
ficismo. O crtico social Neil Postman
escreve sobre pseudocincias como a
Psicologia, Sociologia ou Administrao
poderamos adicionar Biblio-
teconomia, Cincia da Informao e
Arquivologia? que tentam legitimar o
seu trabalho aplicando os mtodos de
pesquisa e anlise lgica da observao
de objetos naturais (ou fenmenos) das
cincias fsicas para os assuntos (ou
fenmenos) sociais, humanos ou
similares no naturais - como os
sistemas de informao? para as quais
eles so inapropriados21
. Isto feito
frequentemente, talvez inconscien-
temente, na esperana de ganhar para
estas novas profisses o status, respeito,
poder e cach, antes concedido a
qumicos, bilogos ou fsicos, par-
modernista representada por Schellenberg e o
impacto do pensamento organizacional/gerencial
em arquivos; e o pensamento arquivstico ps-
moderno , como diz Thomassen, o novo
paradigma, a natureza e o impacto de que
constitui o objeto do presente ensaio. Posto de
outra forma, os pr-modernistas tinham f no
documento como refletindo atos e fatos
empricos, e na Histria da escola de Von Ranke,
como capaz de interpretar tais documentos para
chegar realidade objetiva do passado histrico;
o Modernismo questionou a objetividade da
Histria, percebendo que haviam diversas
interpretaes histricas possveis de um mesmo
conjunto de documentos descrevendo o mesmo
assunto ou evento; o ps-modernismo questiona
a objetividade e naturalidade desses documentos.
21 Neil Postman, Tecnoplio (Nova Iorque,
1993), 144-163 e passim.
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ticularmente no campo acadmico.
Enquanto dois tomos de hidrognio e
um de oxignio sob as mesmas
condies fsicas, em qualquer lugar da
terra em qualquer momento, iro
produzir uma molcula de gua, dois
criadores de documentos, na mesma
funo, e a necessidade de registrar
evidncias de alguma tarefa ou transao
idntica em pases diferentes em sculos
diferentes, nunca produziro o mesmo
documento de arquivo. A Arquivologia
moldada sobre as leis universais das
cincias fsicas colocaria o humano,
histrico e idiossincrtico fora do
processo social (manuteno de
documentos) com o qual est
inexoravelmente conectada.
E o segundo erro que as
cincias fsicas tradicionais, desde
Popper e Kuhn, sem falar na mais
recente onda ps-modernista, h muito
abandonaram as reivindicaes de
objetividade, neutralidade, impar-
cialidade, autonomia e universalidade,
que alguns arquivistas acadmicos e
muitos praticantes da arquivstica
ainda mantm. Para qualquer cincia, as
escolhas de projetos, mtodos e agentes
da prtica, bem como seus critrios
educacionais, seus padres de aceitao
e as razes para excluso e fracasso,
refletem necessidades e interesses e, de
forma mais profunda, lutas de poder
social, de gnero, lingustico, ideolgico,
poltico e emocional.
Nossa percepo de arranjo,
organizao e classificao da infor-
mao, que central para a
Arquivologia, revela Michael Foucault,
reflete a tradicional noo ocidental de
racionalismo cientfico e positivismo
lgico. Tais sistemas de organizao da
informao confrontam os arquivistas,
no somente nos seus escritrios durante
as atividades de avaliao, criao de
documentos ou uso contemporneo, mas
so impostos pelos prprios arquivistas
nas suas prticas descritivas internas. A
lgica aparentemente racional da
categorizao da informao em tais
sistemas, explica Foucault, pode seduzir
os observadores (incluindo os
arquivistas) a assumir que o que est
sendo transmitido informao ou fatos
neutros ou a verdade. Ainda que a
estruturao de tais sistemas possa
ocultar ou desvalorizar a mente por trs
da matria, a inteligncia por trs do
fato, a funo por trs da estrutura, o rico
contexto, que ironicamente, os
arquivistas tm-se dedicado a proteger
por trs do contedo superficial da
informao. O ps-modernismo analisa a
linguagem, metforas, e os padres de
discurso das palavras, ou o documento,
ou a totalidade do sistema de
informao, no contexto do seu tempo e
lugar, para revelar a mentalidade
subjacente, as motivaes, e estruturas
de poder de quem produziu os
documentos usando estes padres. Os
Arquivos para Foucault esto ancorados
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numa teoria social contextual mais do
que no positivismo cientfico22
.
Com a constante necessidade de
reavaliar, desconstruir e aceitar a
evoluo da teoria e prtica arquivstica,
os arquivistas do novo sculo deveriam
aceitar mais do que negar a sua prpria
historicidade, ou seja, a sua prpria
participao no processo histrico.
Deveriam reintegrar o subjetivo (a
mente, o processo, a funo) ao objetivo
(a matria, o produto registrado, o
sistema da informao) na sua
22 Em Foucault suas palavras-chave para os
arquivistas so: As Palavras e as Coisas: uma
arqueologia das Ciencias Humanas (Nova
Iorque, 1970, originariamente na Frana em
1966) e A Arqueologia do Saber (Nova
Iorque, 1972, originariamente na Frana em
1969). Uma boa introduo para este
pensamento Gary Gutting, Michel
Foucaults Archaeology of Scientific Reason
(Cambridge, 1989); ver particularmente
pginas 231-244 para a anlise de Foucault
sobre documentos. Para um exemplo pioneiro
da aplicao destas percepes ps-
modernistas no registro de documentos, ver J.
B. Harley, Desconstructing the Map ,
Cartographica 26 (Vero de 1989): 1-20.
Harley explora o poderoso contexto social
por trs do mapa, assim como v no mapa
elementos metafricos e retricos onde antes
os acadmicos viram somente medidas e
topografia. Ele demonstrou que a cartografia
menos cientfica do que o previsto, e
reflete tanto as preferncias funcionais dos
seus patrocinadores quanto a face da terra.
Para anlise e concluso similares de outro
meio arquivstico, ver Joan Schwartz, We
make our tools and our tools make us:
Lessons from Photographs for the Practice,
Politics and Poetics of the Diplomatics, j
citada.
construo terica. E como aqueles
cientistas contemporneos na vanguarda
da nova fsica, deveriam abandonar a
aproximao atomstica (focada nos
documentos) da velha cincia por uma
nova cincia baseada na primazia do
processo onde a dependncia contextual
do todo seja mais importante que a
autonomia das partes, e onde a cincia
esteja situada no seu contexto histrico e
ideolgico23
.
23 Evelyn Fox Keller, Reflections on Gender
and Science (New Haven e Londres, 1985) p.
11-12, 5-9, 130 e passim. Ver tambm
Carolyn Merchant,The Death of Nature:
Women, Ecology, and the Scientific
Revolution (Nova Iorque, 1980, 1990) p. xvii,
xviii. Ela demonstra que as novas teorias da
termodinmica e do caos tambm servem de
base para concluses similares sobre
pensamento contextual, independente e
baseado em processos. Para um exame
arquivstico destes assuntos em relao
natureza ideolgica da cincia, que tambm
explora as implicaes no trabalho
arquivstico, ver Candace Loewen, From
Human Neglect to Planetary Survival: New
Approaches to the Appraisal of Enviromental
Records, Archivaria 33 (Inverno de 1991-
1992):97-98, 100 e passim. As ideias dela
esto refletidas em parte em Hugh A. Taylor,
Recycling thePast: The Archivist in the Age
of Ecology, Archivaria 35 (primavera de
1993):203-213. As ricas notas nos trabalhos
de Loewen e Taylor podem guiar aos leitores
interessados a muitas outras fontes de apoio.
Dentre muitas anlises histricas mostrando
que cincia tanto um produto da ideologia
quanto uma observao desinteressada, ver
David F. Noble, A World Without Women:
The Christian Clerical Culture of Western
Science (Nova Iorque, 1992) ou Margaret
Wertheim, Pythagoras Trousers: God,
Physics, and the Gender Wars (Londres,
1997).
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Apesar da anlise supra, o ps-
modernismo e a Arquivologia no
precisam ser opostos. A preocupao do
ps-modernismo com os contextos
semioticamente construdos24 de
criao de documentos reflete o interesse
arquivstico de longa data para pela
contextualidade, pelo mapeamento do
inter-relacionamento entre o produtor e o
documento, para a determinao do
contexto ao ler atravs e por trs do
texto. Desta forma, os arquivistas podem
ter sido, sem saber, os primeiros ps-
modernistas dcadas antes que o termo
fosse sequer inventado! Alm deste nvel
inicial de conforto, no entanto, o ps-
modernismo deveria preocupar os
arquivistas pelas muitas formulaes
tradicionais sobre Arquivologia. O ps-
modernismo, por implicao, questiona
certas reivindicaes centrais da
profisso: os arquivistas so neutros,
guardies imparciais da verdade, nas
palavras de Jenkinson25
; os Arquivos
como documentos arquivsticos so
desinteressantes ou inocentes
subprodutos de aes administrativas; a
procedncia est enraizada no escritrio
ou lugar de origem mais do que no
processo e no discurso de criao; que a
ordem e a linguagem impostas nos
documentos atravs do arranjo e
descrio do arquivo so recriaes sem
24 Ver nota 12 acima.
25 Ver discusses e citaes em Cook, What
is Past is Prologue, 23-26
julgamento de valor de alguma realidade
anterior; nossa orientao fixada, fsica,
focada na estrutura no precisa mudar
quando confrontada com um mundo ps-
moderno desestabilizado, virtual,
descentralizado. A menos que a
Arquivologia possa se adaptar s
realidades ps-modernas, a menos que
ela possa ser centrada numa teoria social
e numa contextualidade histrica, a sua
relevncia para a profisso ser cada vez
mais remota.
Eu sugiro que a Arquivologia
olhe as ideias de Arquivo, estratgias e
metodologias ao longo dos ltimos
sculos, e de agora em diante, nos
sculos vindouros, como conceitos que
esto evoluindo constantemente, at
mudando, se adaptando continuamente,
por causa de mudanas radicais na
natureza dos documentos, estruturas de
organizao de documentos, culturas
organizacionais e de trabalho, funes
sociais e institucionais, preferncias de
manuteno de documentos individuais e
pessoais, sistemas institucionais de sua
manuteno, seus usos contemporneos,
e as tendncias culturais, legais,
tecnolgicas, sociais e filosficas mais
amplas da sociedade.
Os arquivistas devem ser capazes
de pesquisar, reconhecer e articular todas
essas mudanas radicais na sociedade
para ento tratar conceitualmente do seu
impacto na teoria, metodologia e prtica
arquivstica. Esta articulao forma o
nosso discurso coletivo como profisso,
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a meta-narrativa que anima a nossa
prtica diria e, portanto,
adequadamente o foco da Arquivologia
no novo sculo.
Mudanas no pensamento
Arquivstico
O ps-modernismo no a nica
razo para a reformulao dos principais
preceitos da Arquivologia. Mudanas
significativas no propsito dos arquivos
como instituies e na natureza dos
documentos so outros fatores que,
combinados com ideias ps-modernistas,
formam a base da nova percepo dos
Arquivos como documentos, instituies
e profisso na sociedade26
.
Houve uma mudana acentuada
na prpria razo pela qual a instituio
arquivstica existe ou no mnimo
arquivos pblicos e com financiamento
pblico, as empresas privadas ou os
arquivos de corporaes
reconhecidamente no compartilham
integralmente estas mudanas. Houve
uma mudana coletiva, durante o sculo
passado, de uma justificao jurdico-
administrativa para os Arquivos
fundamentada em conceitos de Estado,
para uma justificativa sociocultural
fundamentada em polticas pblicas mais
26 As seguintes discusses refletem minha
anlise da histria das ideias arquivsticas
desde o Manual dos Holandeses, com
apresentado em ibid. Eu no vou repetir aqui
as extensas notas de referncia dadas l que
apoiam as concluses deste resumo.
amplas e de utilidade pblica. Esta
ampla mudana reflete em parte o
domnio durante o sculo at muito
recentemente dos historiadores como a
fora motriz da profisso e no
treinamento de arquivistas, e em parte na
mudana de expectativa dos cidados
sobre que deveriam ser os arquivos e
como o passado deveria ser concebido,
protegido e valorizado. Os arquivos
foram tradicionalmente concebidos pelo
Estado, para servi-lo, como parte da sua
estrutura hierrquica e organizao
cultural. No deve surpreender que a
Arquivologia tivesse encontrado sua
legitimidade inicial em teorias e modelos
estatais e no estudo das caractersticas e
propriedades de velhos documentos
estatais. Os conceitos tericos resultantes
foram desde ento adotados por
praticamente todos os outros tipos de
instituies arquivsticas em todo o
mundo, incluindo at arquivos de
colees particulares.
No comeo do sculo XXI, as
normas pblicas para arquivos na
democracia tm mudado funda-
mentalmente desde o modelo estatal
inicial: os arquivos so agora, na
memorvel frase de Eric Ketelaar, do
povo, para o povo, at pelo povo27
.
Enquanto a manuteno da res-
27 Eric Ketelaar, Archives of the People, By
the people, For the People, South Africa
Archives Journal 34 (1992): 5-16, reimpresso
em Eric Ketellar, The Archival Image.
Collected Essays (Hilversum, 1997): 15-26.
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ponsabilidade do governo e da
continuidade administrativa e a proteo
dos direitos pessoais continuem sendo
devidamente reconhecidos como
objetivos importantes dos Arquivos, a
principal justificativa do arquivamento
para a maioria dos usurios e para o
contribuinte pblico em geral, como
vemos tambm na maior parte da
legislao nacional e estatal sobre
arquivos, repousa no fato do Arquivo ser
capaz de oferecer aos cidados um senso
de identidade, localidade, histria,
cultura, e memria pessoal e coletiva.
Simplificando, no mais aceitvel
limitar a definio da memria da
sociedade apenas ao resduo documental
deixado (ou escolhido) por poderosos
produtores de documentos. A res-
ponsabilidade pblica e histrica
demanda mais dos Arquivos e dos
arquivistas.
Os arquivistas que trabalham
principalmente em Arquivos nacionais
ou institucionais precisam comear a
pensar em termos de processo de
governana, no apenas na
administrao dos governos28
.
28 Ver Ian E. Wilson, Reflections on
Archival Strategies, American Archivist 58
(Outono de 1995): 414-429. Para os
arquivistas que apenas (e humildemente)
fazem o que eles pensam que seus
patrocinadores governamentais querem em
relao a seus prprios documentos
institucionais, ou os arquivistas que pensam
que iro agradar a estes patrocinadores e
assim mostrar que os arquivistas so bons
jogadores corporativos dignos da
Governana inclui ser conhecedor das
interaes dos cidados com o Estado, o
impacto do Estado na sociedade, e as
funes ou atividades da prpria
sociedade tanto quanto das estruturas
internas do governo e seus burocratas. A
avaliao do arquivista e em todas as
aes subsequentes deveria focar nos
registros de governana, no somente do
governo, quando trata com documentos
institucionais. Esta perspectiva tambm
complementa melhor o trabalho de
arquivistas que lidam com Arquivos
Pessoais ou Privados. Devo acrescentar
aqui que este relacionamento interativo
cidado-estado deveria estar refletido em
outras jurisdies pela interao dos
membros com sua igreja ou sindicato,
estudantes com a universidade, clientes
com uma empresa, e assim por diante
esta perspectiva mais ampla de
governana no somente para
arquivistas que atuam no governo, mas
para todos os arquivistas.
O desafio para a Arquivologia no
novo sculo preservar evidncias
registradas de governana, no somente
de governos cumprindo sua funo de
governar. Esta tarefa agora inclui
tambm levar os Arquivos para as
continuidade do financiamento, isto , como
diz Shirley Spragge, uma renncia muito fcil
misso e s responsabilidades do arquivista.
Ver a sua The Abdication Crisis: Are
Archivists Giving Up Their Cultural
Responsability?, Archivaria 40 (Outono de
1995): 173-181.
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pessoas, ou encoraj-las a vir us-los. Os
Arquivos no so um parque privado
onde uma equipe profissional pode
saciar seu interesse na histria ou na sua
interao pessoal com historiadores e
outros estudiosos ou, igualmente, na sua
inclinao de participar de polticas
pblicas e na infraestrutura da
informao de suas jurisdies; so um
patrimnio pblico sagrado que
preservam a memria da sociedade que
devem ser amplamente compartilhados.
Os arquivistas servem sociedade, no
ao Estado, mesmo que trabalhem para
um rgo da burocracia estatal.
A segunda grande mudana
arquivstica refere-se aos documentos
arquivsticos, e especificamente forma
como Arquivos e arquivistas tm tratado
de preserv-los autnticos, confiveis,
como evidncia de ideias e transaes.
No seu ncleo, a Arquivologia procurou
compreend-los esclarecendo seu
contexto ou origem ou sua ordem dentro
de uma srie ou sistema, mais do que seu
contedo. Os arquivistas primeiro
realizaram essa proteo do contexto
preservando os documentos
sobreviventes, no mais necessrios
administrao, no interior do edifcio de
arquivo, numa custdia ininterrupta, e no
esquema original (ou restaurado) da
ordem da sua classificao inicial. Tais
documentos eram frequentemente
Fundos Fechados de organizaes
extintas, ou antigos e isolados
documentos importantes. A avaliao
era desconhecida ou desencorajada.
Defender o contexto fsico original era
considerado uma parte crtica desta
proteo. De fato, at a metade do
sculo, os arquivistas recriavam
frequentemente a ordem fsica original
do sistema departamental de registros
documentais nas pilhas de arquivos
[permanentes nota do supervisor],
arquivando novos documentos no lugar
correto entre seus predecessores j sob
custdia dos Arquivos [como
instituies de guarda permanente ou na
fase de Arquivos Permanentes Nota do
Revisor].
O foco agora mudou, passando
da preservao da prova para sua criao
e avaliao. Os arquivistas tentam
preservar documentos em contextos
confiveis assegurando que eles sejam
criados inicialmente de acordo com
padres aceitveis de prova e, indo alm,
para assegurar que todos os atos e ideias
importantes estejam documentados
adequadamente por essa prova confivel,
em vez de esperar, passivamente, que
um resduo natural aparea. (Caso
alguma reorganizao ou integrao
posterior vier a ser necessria, feito
agora virtualmente, por classificao
pelo computador em vez de reorganizar
fisicamente os arquivos na pilha). Num
mundo no qual as sries so grandes e
abertas, num mundo de organizaes
muito complexas, que mudam com
rapidez e criam registros volumosos e
descentralizados em papel, e num mundo
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de registros eletrnicos com seus
documentos virtuais e transitrios, as
bases de dados relacionais de propsitos
mltiplos, com redes de comunicao
interinstitucionais, nenhum documento
arquivstico confivel ir sobreviver para
estar disponvel para que os arquivistas o
preservem na maneira tradicional a
menos que o arquivista intervenha de
vrias formas em sua vida ativa. Tal
interveno ir afetar comportamentos
organizacionais, culturas de trabalho,
polticas de manuteno dos registros
documentais e estratgias de desenho do
sistema, e ativamente escolher (por
exemplo, avaliar) quais funes,
processos e tarefas so importantes e
assim, quais documentos relacionados
merecem ser preservados
indefinidamente como Arquivos da
sociedade tudo isto feito, de
preferncia, antes que os documentos
sejam criados. E uma vez que tais
documentos estejam disponveis para
serem preservados em Arquivos, se isso
for desejvel, a confortvel noo do
valor permanente dos documentos
nicos de arquivo ao longo do tempo
tambm requer modificao,
simplesmente porque o documento
eletrnico vir a ser ilegvel ou
incompreensvel a menos que seja
recopiado e sua estrutura e
funcionalidade reconfiguradas num novo
software em poucos anos pelos
Arquivos. Isto substitui a tradicional
preservao de arquivo que foca em
padres adequados para o reparo,
restaurao, armazenamento e uso do
meio fsico que era o documento. Com
os documentos eletrnicos, o meio fsico
para sua preservao torna-se quase que
totalmente irrelevante num prazo de
dcadas ou sculos, dado que os prprios
documentos migraro adiante antes que
o meio fsico se deteriore, e assim
sucessivamente. O que ser importante
a reconfigurao no novo software ao
longo do tempo, mantendo assim a
funcionalidade ou o contexto de prova
do documento original, e para este
problema a Arquivologia deve prestar
cada vez mais ateno.
Como resultado deste
desenvolvimento, a Arquivologia deve
agora encontrar inspirao nas anlises
funcionais dos processos de criao dos
documentos e da teoria social
contempornea, em vez da organizao e
descrio dos produtos registrados
encontrados nos arquivos. Como Eric
Ketelaar concluiu a Arquivologia
Funcional substitui a Arquivologia
Descritiva... Somente atravs de uma
interpretao funcional do contexto que
circunda a criao de documentos, pode-
se entender a integridade dos fundos de
arquivo e das funes dos documentos
de arquivo no seu contexto orgnico
original29. Como notara Oddo Bucci, o
29 Eric Ketelaar, Archival Theory and the
Dutch Manual, Archivaria 41 (Primavera de
1996), 36, reimpresso em Eric Ketelaar, The
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qual apoiou o conceito de Ketelaar, a
Arquivologia Descritiva foi positivista,
fsica e moderna; a Arquivologia
Funcional ser histrica, virtual e ps-
moderna.
Novas formulaes para
Arquivologia
Para o novo sculo, baseada
nestas mudanas nos documentos e no
insight ps-moderno, a Arquivologia
deveria mudar o paradigma de pesquisa
da anlise das propriedades e
caractersticas de documentos
individuais ou de Sries documentais,
para uma anlise das funes, processos
e transaes que geram documentos ou
as Sries a serem criadas. Com foco no
processo de criao em vez de em
produtos, as formulaes tericas
nucleares sobre arquivos ir mudar. Aqui
esto oito sugestes que resumem os
argumentos acima:
1. Provenincia: O Princpio da
Provenincia muda sua forma de
conectar os documentos diretamente
com um nico lugar de origem, numa
estrutura organizacional hierrquica
tradicional, para se tornar um conceito
virtual e mais elstico, refletindo aquelas
funes e processos do produtor que
causaram sua criao, dentro e atravs de
organizaes em evoluo constante,
Archival Image Collected Essays (Hilversum,
1997): 62-63.
interagindo com usurios em constante
mudana, refletindo culturas
organizacionais e gerenciais diferentes, e
adotando frequentemente convenes
idiossincrticas de interao humana e
de trabalho, apropriadas organizaes
planas, horizontais e (frequentemente) de
curto prazo. A provenincia, em resumo,
est vinculada funo e atividade em
vez da estrutura e o lugar. Torna-se
virtual em vez de fsica.
2 Ordem original: A Ordem
Original muda sua forma de manuteno
da localizao fsica inicial dos
documentos num sistema de registro ou
classificao, para a interveno
conceitual do software, onde partes dos
documentos esto armazenadas alea-
toriamente, sem nenhum significado
fsico e depois so intelectual ou
funcionalmente recombinadas, de
maneiras diferentes, para propsitos
diferentes, em tempo e lugares
diferentes, em diversos tipos de ordem,
para usurios diferentes. As ordens
refletem usos mltiplos em processos de
trabalho mais do que em disposies
fsicas de objetos registrados. Uma
simples pea de dados pode ser
ordenada de mltiplas formas para
refletir usos diferentes para usurios
diferentes.
3 Documentos Arquivsticos
[Record]: As trs partes que compem
qualquer Documento Arquivstico a
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estrutura, o contedo e o contexto que
tradicionalmente eram assentadas num
meio fsico nico pergaminho, papel
ou filme esto agora divididas em
armazenagens de dados separados e
talvez em programas de software
diferentes. Um documento, assim, deixa
de ser um objeto fsico para virar um
objeto conceitual de informao,
controlado por metadados, que
virtualmente combina contedo, con-
texto e estrutura para fornecer evidncias
de atividade ou funo de algum criador.
Alm disso, como seu uso e o contexto
muda ao longo do tempo (includo uso
de arquivo), os metadados mudam e o
documento e seu contexto so con-
tinuamente renovados. Eles j no so
fixos, mas dinmicos. O documento
arquivstico no mais um objeto
passivo, um registro de uma evidncia,
mas um agente ativo desempenhando um
permanente papel nas vidas dos
indivduos, organizaes e da sociedade.
4 Fundos Arquivsticos: Os Fundos
Arquivsticos, analogamente, mudam de
um reflexo de alguma ordem fsica
esttica baseada em regras decorrentes
da transferncia, arranjo ou acumulao
de grupamentos de documentos, para
uma realidade virtual de relacionamento
que reflete um produtor mltiplo
dinmico e uma autoria mltipla focada
na funo e na atividade, que capture
com maior preciso a contextualidade
dos documentos arquivsticos no mundo
moderno30
.
5 Arranjo e descrio: estaro
menos concentradas em entidades e
grupos de documentos fsicos, que no
significam nada para a mdia eletrnica
de qualquer maneira, e em vez disso
desenvolvero (e compartilharo com os
pesquisadores) entendimentos con-
textuais enriquecidos pelos mltiplos
inter-relacionamentos e usos do meio
social de sua criao, bem como a
incorporao de um sistema de
documentao arquivstica relacional e
30
Para repensar a natureza dos Fundos
Arquivsticos e assim a descrio arquivstica
como envolvendo relaes virtuais de muitos
para muitos em vez da tradicional disposio
fsica e hierrquica das entidades de um para
muitos, ver Terry Cook, The Concepts of the Archival Fonds in the Post-Custodial Era:
Theory, Problems and Solutions, Archivaria 35 (Inverno de 1992-1993): 24-37. O pioneiro de tal
pensamento trs dcadas atrs foi o australiano
Peter Scott, como delineado no meu What is Past is Prologue, 38-39 (que tem referncias para todas as obras fundamentais de Scott); para
a ltima atualizao no pensamento descritivo
australiano (com muitas referncias adicionais),
ver Sue McKemmish, Glenda Acland, Nigel
Ward e Barbara Reed, Describing Records in Context in the Continuum: The Australian
Refordkeeping Metadata System, Archivaria 48 (Outono de 1999): 3-43. Para uma descrio
baseada nos metadados funcionais do criador em
vez da disposio fsica, ver David Bearman,
Documenting Documentation, Archivaria 34 (Vero de 1992): 33-49; e Margaret Hedstrom,
Descriptive Practices for Electronics Records: Deciding What is Essential and Imagining What
is Possible, Archivaria 36 (Outono de 1993): 53-62. Para um trabalho alternativo baseado no
pensamento dos Fundos, agora operacional nos
Arquivos de Ontrio em Toronto, ver Bob
Krawczyk, Cross Reference Heaven: The Abandonment of the Fonds as the Primary Level
of Arrangement for Ontario Government
Records, Archivaria 48 (Outono de 1999): 131-153.
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metadados funcionais do produtor s
ferramentas descritivas do arquivo
[permanente. Nota do Supervisor].
6 Avaliao: continuar a mudar
deixando de ser uma avaliao
documental com base no seu valor
potencial de pesquisa, para virar uma
anlise de macro avaliao das funes,
programas e atividades sociais do
produtor, e a interao cidad com elas
e, a seguir, a seleo mais sucinta para
preservao e acesso continuo que reflita
essas funes, e a busca de (ou criao?)
fontes do setor privado ou orais e visuais
para complementar registros ins-
titucionais oficiais, usando a mesma
lgica funcional. A Avaliao estabelece
valores atravs da teoria social
baseados na narrativa contextual da cria-
o e no no contedo. Ela prestar o
mesmo cuidado s vozes marginalizadas
e at silenciadas que aos textos
poderosos e oficiais, e procurar por
provas de governana mais do que de
governo31
.
31 Para uma introduo macroavaliao
da avaliao das funes e das atividades em
vez dos documentos , ver Terry Cook, Mind
Over Matter: Towards a New Theory of
Archival Appraisal in Barbara Craig, ed.,
The Canadian Archival Imagination: Essays
in Honor of Hugh Taylor (Ottawa, 1992), 38-
70, e o seu The Archival Appraisal of
Records Containing Personal Information: A
RAMP Study With Guidelines (Paris, 1991); e
Richard Brown, Macro-Appraisal Theory
and the Context of the Public Record
Creators, Archivaria 40 (Outono de 1995),
p. 121-172. Abordagens similares foram
7 Preservao: ir, como dissemos
antes, no mais focar na reparao,
conservao e salvaguarda do meio
fsico em que estava o documento, mas
em vez disso se concentrar em migrar
ou emular continuamente os conceitos e
inter-relaes que agora definem os
documentos virtuais e fundos virtuais
para novos programas de software. (
claro, a conservao e o reparo
tradicionais continuaro para o legado
documental de sculos passados).
8 Arquivos [Archives]: propria-
mente ditos como instituies iro passar
gradualmente de lugares de
armazenamento de documentos velhos,
que pesquisadores precisam visitar para
consultar, para se tornar virtuais
Arquivos sem paredes, existentes na
internet para facilitar o acesso ao pblico
milhares de sistemas interligados de
manuteno de documentos, tanto
aqueles sob o controle dos Arquivos
quanto aqueles deixados sob a custdia
dos seus criadores ou outros arquivos32
.
adotadas pelos arquivos nacionais da Holanda
com seu projeto PIVOT, alm de frica do
Sul e Austrlia, entre outras jurisdies.
32 O trabalho de David Bearman tem
defendido com destaque esta abordagem.
Para uma viso panormica, ver a sua
coletnea de ensaios publicada como
Electronic Evidence: Strategies for
Managing Records in Contemporary
Organizations (Pittsburgh, 1994); assim
como Margaret Hedstrom e David Bearman,
Reinventing Archives for Electronics
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Todas estas mudanas afastam o
foco terico (e prtico) da Arquivologia
do documento de arquivo e o empurram
na direo do ato criativo da inteno de
autoria ou processo ou funcionalidade
por trs do registro. Neste mundo novo,
portanto, o mago do trabalho intelectual
da Arquivologia deveria estar mais
centrado no esclarecimento do contexto
funcional e estrutural dos documentos, e
sua evoluo ao longo do tempo, na
construo de sistemas de conhecimento
capazes de capturar, recuperar, exibir e
compartilhar esta informao de origem
conceitual como base de toda tomada de
decises em arquivos, a partir do projeto
do sistema de avaliao na frente at a
programao pblica e atividades de
disseminao depois.
Isto faz do arquivista um
mediador ativo na formao da memria
coletiva atravs dos Arquivos.
Records: Alternative Service Delivery
Options, in Margaret Hedstrom, ed.,
Electronic Records Management Program
Strategies (Pittsburgh, 1993), 82-98. A
primeira afirmao sobre o gerenciamento
distribudo ou a no abordagem da custdia
para a preservao de arquivos, foi de David
Bearman, An Indefensible Bastion: Archives
as Repositories in the Electronic Age in
David Bearman, ed., Archival Management
of Electronic Records (Pittsburgh, 1991), 14-
24, que gerou muitos arquivos tanto atacando
quanto apoiando este conceito. No obstante,
reconhecendo as novas realidades, os
arquivos nacionais do Reino Unido, Canad e
Austrlia adotaram polticas para o
gerenciamento distribudo por outros corpos
de algumas categorias de documentos
eletrnicos.
Inevitavelmente, os arquivistas injetaro
os seus prprios valores em todas as
pesquisas e atividades, e assim
precisaro verificar muito cons-
cientemente suas escolhas nos processo
de criao de arquivos e formao de
memria. Eles tambm precisaro deixar
provas registradas muito claras
explicando as suas escolhas para a
posteridade. Fazendo isto, numa
perspectiva histrica e sensitiva ps-
moderna, os arquivistas podero
equilibrar melhor quais funes,
atividades, organizaes, e pessoas da
sociedade, atravs de documentos,
podem ser includas e quais podem ser
excludas da memria coletiva do
mundo.
Processo em vez de produto, se
tornando em vez de ser, dinmico em
vez de esttico, contexto em vez de
texto, refletindo tempo e lugar em vez de
absolutos universais: so estas agora as
palavras de ordem ps-modernas para
analisar e entender cincia, sociedade,
organizaes e atividades empresariais,
entre outros. Elas deveriam tambm se
tornar as palavras de ordem para a
Arquivologia no novo sculo, e assim, o
fundamento de um novo paradigma
conceitual da profisso.
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[Nota do Revisor] Esta uma traduo livre promovida pela Associao dos
Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro - AAERJ, por intermdio do peridico
Informao Arquivstica. Todos os direitos so reservados Archival Science Journal e
Springer, que gentilmente cederam os direitos de traduo e publicao no Brasil.
Cientes do desafio que traduzir um texto de sentido e significado complexos
optou-se pela traduo livre, no entanto, tonou-se o cuidado de no tentar mudar o
sentido e contexto dos termos aplicados pelo autor, considerando a tradio arquivstica
na qual se insere. Deixa-se para o leitor atento e interessado as eventuais interpretaes,
observao das diferenas de emprego e de sentido entre a Arquivologia brasileira e a
Norte Americana.
Cabe ressaltar a dificuldade de t