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ARREPENDIMENTO POSTERIOR O ART. 16 DO CP E OS ASPECTOS PENAIS DA REPARAÇÃO DO DANO ALBERTO MARQUES Juiz de direito. Professor da Escola da Magistratura do Paraná. SUMÁRIO: I. Propósito e idéia geral deste trabalho. II. Dosimetria penal: teoria das circunstâncias. III. Arrependimento posterior: breve conceito, natureza jurídica e lista dos requisitos. III. Histórico do instituto no direito brasileiro. IV. Breve exame da legislação comparada. V. Distinção entre arrependimento eficaz (art. 15) e arrependimento posterior (art. 16). VI. Análise pormenorizada dos requisitos explícitos do art. 16, segundo as concepções dominantes. VI, 1. Crimes cometidos sem violência ou grave ameaça. VI, 2. Reparação ou restituição da coisa. VI, 3. Arrependimento anterior ao recebimento da denúncia. VI, 4. Voluntariedade do arrependimento. VII. Uma proposta de exegese científica dos aspectos polêmicos do art. 16. VII, 1. Reparação parcial do dano: efeitos. VII, 2. Reparação do dano moral: é necessária? VII, 3. Reparação do dano em delitos que ofendem bens jurídicos supra-individuais. VII, 4. Arrependimento em delitos cujo dano é economicamente inapreciável. VII, 5. Por um critério consistente para determinar a voluntariedade do arrependimento. VII, 6. Reparação do dano em delitos culposos contra a vida e a integridade física. VIII. Efeitos do arrependimento posterior. VIII, 1. Critérios para dosagem da redução da pena. VIII, 2. Casos onde o arrependimento leva à absolvição? VIII, 3. Arrependimento intempestivo. VIII, 4. Comunicabilidade aos co-autores e partícipes. I. Propósito e idéia geral deste trabalho. II. Dosimetria penal: teoria das circunstâncias.

Arrependimento Posterior

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ARREPENDIMENTO POSTERIORO ART. 16 DO CP E OS ASPECTOS PENAIS

DA REPARAÇÃO DO DANO

ALBERTO MARQUES

Juiz de direito.Professor da Escola da

Magistratura do Paraná.

SUMÁRIO: I. Propósito e idéia geral deste trabalho. II. Dosimetria penal: teoria das circunstâncias. III. Arrependimento posterior: breve conceito, natureza jurídica e lista dos requisitos. III. Histórico do instituto no direito brasileiro. IV. Breve exame da legislação comparada. V. Distinção entre arrependimento eficaz (art. 15) e arrependimento posterior (art. 16). VI. Análise pormenorizada dos requisitos explícitos do art. 16, segundo as concepções dominantes. VI, 1. Crimes cometidos sem violência ou grave ameaça. VI, 2. Reparação ou restituição da coisa. VI, 3. Arrependimento anterior ao recebimento da denúncia. VI, 4. Voluntariedade do arrependimento. VII. Uma proposta de exegese científica dos aspectos polêmicos do art. 16. VII, 1. Reparação parcial do dano: efeitos. VII, 2. Reparação do dano moral: é necessária? VII, 3. Reparação do dano em delitos que ofendem bens jurídicos supra-individuais. VII, 4. Arrependimento em delitos cujo dano é economicamente inapreciável. VII, 5. Por um critério consistente para determinar a voluntariedade do arrependimento. VII, 6. Reparação do dano em delitos culposos contra a vida e a integridade física. VIII. Efeitos do arrependimento posterior. VIII, 1. Critérios para dosagem da redução da pena. VIII, 2. Casos onde o arrependimento leva à absolvição? VIII, 3. Arrependimento intempestivo. VIII, 4. Comunicabilidade aos co-autores e partícipes.

I. Propósito e idéia geral deste trabalho.

II. Dosimetria penal: teoria das circunstâncias.

III. Arrependimento posterior: breve conceito, natureza jurídica e lista dos requisitos.

Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

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(Redação dada ao artigo pela Lei nº 7.209, de 11.07.1984)

IV. Histórico do instituto no direito brasileiro.

V. Breve exame da legislação comparada.

VI. Distinção entre arrependimento eficaz (art. 15) e arrependimento posterior (art. 16).

O arrependimento eficaz, disposto no art. 15, é apenas aquele que ocorre antes de consumado o delito, e que impede a sua consumação.

Já o arrependimento posterior, tratado no art. 16, é aquele que se manifesta depois de consumado o delito (é posterior em relação à consumação), através da reparação do dano.

VII. Análise pormenorizada dos requisitos explícitos do art. 16, segundo as concepções dominantes.

1. Crimes cometidos sem violência ou grave ameaça.

[i] Só cabe em delitos perpetrados sem violência real ou grave ameaça contra pessoa.

O dispositivo não exclui de sua abrangência, pois, os delitos praticados com violência presumida.

São crimes praticados com violência ou grave ameaça aqueles em que tais meios executórios são elementares do tipo: homicídio, lesão corporal, roubo, estupro, atentado violento ao pudor, constrangimento ilegal, etc.

Crimes culposos não são crimes praticados com violência – violência é só a agressão dolosa, e não a causação culposa de lesão ou morte. Portanto, cabem na regra do art. 16 1.

A lei não limita o benefício apenas aos delitos patrimoniais: aplica-o a qualquer delito cometido sem violência ou ameaça, ainda que não patrimonial.

1 Assim: RT 702/347, JUTACRIM 87/401, 89/440. Contra: JUTACRIM 89/268. Todos os julgados apud DELMANTO, Código Penal Comentado, p.27.

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2. Reparação ou restituição da coisa.

[ii] Exige-se reparação do dano ou restituição da coisa.

O dano resultante do delito pode ser patrimonial ou extra-patrimonial (dano moral). A lei não limita a aplicação do benefício aos delitos de que resulta apenas dano patrimonial. Assim, num crime de que não resulte dano patrimonial, a reparação do dano moral, pela compensação pecuniária do sofrimento da vítima, justifica a aplicação do benefício.

Por extensão, a reparação não é integral se não há compensação do dano moral 2.

Entende a doutrina que somente a reparação ou restituição integrais justificam a aplicação do benefício 3.

3. Arrependimento anterior ao recebimento da denúncia.

[iv] Reparação/restituição antes do recebimento da denúncia.

A reparação ou restituição posterior ao recebimento da denúncia não justifica aplicação do art. 16, embora pesem como atenuantes (art. 65, III, b).

4. Voluntariedade do arrependimento.

[iii] Reparação/restituição por ato voluntário do agente.

A reparação ou restituição têm de ser voluntárias, ainda que não sejam espontâneas.

Se o agente é acionado civilmente pela vítima, e, em audiência, celebra acordo e indeniza o dano, temos reparação voluntária, embora não espontânea. Houve um caso em que o ladrão esqueceu seus documentos no lugar do furto, e, percebendo isso, no dia seguinte retornou e devolveu as coisas furtadas à vítima: reconheceu-se o arrependimento posterior voluntário 4.

Não é voluntária a restituição da coisa quando deriva de apreensão policial, nos casos em que a polícia encontra a coisa na posse do agente – haja ou não flagrante – ou a apreende casualmente em posse de terceiro. Aliás, nessa hipótese, a restituição não ocorre por ato do agente, mas por ato da polícia.

Cabe, contudo, discutir a situação em que o agente – de um furto, para ficar com o exemplo mais comum – que ocultou a coisa, depois de descoberto, voluntariamente informa à polícia onde a escondeu. Há, aí, ato voluntário de restituição? Parece-nos que sim: se não fosse a vontade do agente em colaborar, e informar o esconderijo da coisa, esta não seria restituída à vítima. A hipótese

2 Isso não é pacífico. Nesse sentido FRAGOSO, Lições ... cit., p.258. Contra DELMANTO, Código Penal Comentado, p.26-7.

3 DAMÁSIO, Direito Penal, cit., v.1, p.299; FRAGOSO, Lições ... cit., p.259; DELMANTO, Código Penal Comentado, p.26.

4 RJDTACR 9/67, apud DELMANTO, Código Penal Comentado, p.28.

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difere daquela em que é a polícia que encontra a coisa, na posse do agente ou não, mas sem ajuda deste. Essa ajuda, embora não seja espontânea, parece-nos voluntária. Relembre-se que não se exige a reparação por motivo nobre ou altruísta: basta que seja livre.

Embora a lei fale em ato do agente, a jurisprudência tem aplicado o benefício quando a reparação/restituição é feita por cônjuge, parente ou pessoa ligada ao agente, presumindo-se que foi feita em nome deste 5.

VIII. Uma proposta de exegese científica dos aspectos polêmicos do art. 16.

1. Reparação parcial do dano: efeitos.

Entende a doutrina que somente a reparação ou restituição integrais justificam a aplicação do benefício 6.

Não nos parece acertada essa posição. A redução de pena do art. 16 varia de um a dois terços. Se a única reparação que servisse para aplicação do benefício fosse a integral, porque o legislador preveria uma variação na redução da pena? Parece-nos critério lógico que o montante da redução de pena deve variar conforme o montante da reparação: reparação integral, redução máxima, reparação parcial, redução menor ou mínima.

Depois, o art. 16 não diz reparado integralmente o dano, mas só reparado o dano, de forma que a interpretação gramatical não exclui a solução aqui proposta.

Por fim, se o dispositivo visa beneficiar mais a vítima que o agente 7, a solução aqui proposta é a melhor, do ponto de vista teleológico. A solução dominante incentiva o agente a não indenizar a vítima, quando não puder fazê-lo integralmente. A solução que propomos incentiva a reparação parcial, quando o agente não dispõe de meios para reparar integralmente, porque, ainda assim, obterá alguma redução da pena.

Depois, o dispositivo do art. 16 é criticado – com razão – porque beneficia o infrator que tem posses, em detrimento do criminoso pobre 8. A interpretação que propomos minimiza essa injustiça, na medida em que torna o benefício acessível ao criminoso de menor poder aquisitivo, que não pode reparar por inteiro o dano, mas pode repará-lo em parte.

Enfim, a tese dominante força seus defensores a encontrarem argumentos para excluir dessa reparação integral a reparação do dano extra-patrimonial 9, o que

5 RJTJSP 100/490, RJDTACR 12/49, apud DELMANTO, Código Penal Comentado, p.27. Contra: DAMÁSIO, Direito Penal, cit., v.1, p.300.

6 DAMÁSIO, Direito Penal, cit., v.1, p.299; FRAGOSO, Lições ... cit., p.259; DELMANTO, Código Penal Comentado, p.26.

7 FRAGOSO, Lições ... cit., p.257.8 FRAGOSO, Lições ... cit., p.258.9 Como faz DELMANTO, Código Penal Comentado, p.27.

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contraria a lógica. Ou bem a reparação é integral (dano patrimonial mais dano moral), ou bem não é.

É pacífico, contudo, que ainda que a reparação não seja integral cabe aplicar o benefício do art. 16 se a vítima declara estar satisfeita e indenizada 10.

2. Reparação do dano moral: é necessária?

3. Reparação do dano em delitos que ofendem bens jurídicos supra-individuais.

4. Arrependimento em delitos cujo dano é economicamente inapreciável.

5. Por um critério consistente para determinar a voluntariedade do arrependimento.

6. Reparação do dano em delitos culposos contra a vida e a integridade física.

IX. Efeitos do arrependimento posterior.

A conseqüência do arrependimento posterior, preenchidos esses requisitos, é a redução da pena, de um a dois terços. Essa redução pode levar a pena a grau inferior ao mínimo abstrato do tipo. A redução é obrigatória, se presentes os requisitos.

1. Critérios para dosagem da redução da pena.

2. Casos onde o arrependimento leva à absolvição?

Há, contudo, situações especiais.

(a) Em relação ao crime do art. 171, § 2º, VI (fraude no pagamento mediante cheque), prevalece o entendimento de que o pagamento do cheque sem fundos, antes do recebimento da denúncia, exclui a justa causa para a ação penal 11.

(b) Nos crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada à representação do ofendido, da competência do Juizado Especial (pena máxima não superior a um ano), o acordo entre agente e vítima quanto à reparação dos danos acarreta renúncia ao direito de queixa ou representação (art. 74, p.ún., da L.9099).

10 Nesse sentido DAMÁSIO, Direito Penal, cit., v.1, p.299.11 Nesse sentido DELMANTO, Código Penal Comentado, p.369, com ampla citação de jurisprudência,

inclusive do STF e do STJ.

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Essa hipótese abrange também os crimes de lesões corporais simples e lesões corporais culposas (art. 88 da L.9099), e lesões corporais culposas de trânsito (art. 303 c.c. art. 291, p.ún., ambos da L.9503). Este último não é da competência do Juizado Especial.

3. Arrependimento intempestivo.

4. Comunicabilidade aos co-autores e partícipes.

Os requisitos do arrependimento posterior são os do art. 16:

Ver, no TCC da Miriam, aquele artigo do LF Gomes sobre lei tributária;

DATADEZ

ESTELIONATO - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO A CO-RÉUS - Apesar de a lei se referir a ato voluntário do agente, a reparação do dano, prevista no art. 16 do Código Penal, é circunstância objetiva, devendo comunicar-se aos demais réus. Recurso conhecido e provido. (STJ - REsp 264283 - SP - 5ª T - Rel. Min. Felix Fischer - DJU 19.03.2001)

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ESTELIONATO. PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. Em sede de estelionato, salvo a hipótese de pagamento por meio de cheque sem provisão de fundos (§ 2º, VI) , o ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade, impondo-se, apenas fazer incidir a causa obrigatória de diminuição de pena do art. 16, do Código Penal. Segundo as disposições do art. 89 da Lei 9.099/95, a suspensão do processo nas hipóteses em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a um ano deverá ser proposta se o condenado não estiver sendo processado ou não for reincidente, e se a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos e circunstâncias do crime indicarem ser necessário e suficiente o sursis processual. Em sede de concurso de agentes, o art. 30 do estatuto punitivo é expresso ao prever a incomunicabilidade das condições pessoais, o que impede a aplicação da extensão dos efeitos benéficos da proposta de suspensão aos co-réus. Recurso ordinário denegado. (STJ - HC 7.578 - PE - 6ª T. - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 28.06.1999 - p. 152)

RECURSO ESPECIAL. FALSUM. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. DESCLASSIFICAÇÃO. ESTELIONATO (SÚMULA 17 DO STJ) . I - Se o Acórdão recorrido reconhece, em verdade, a ocorrência de falsum e de estelionato, com aquele se exaurindo neste último, é de ser aplicada a Súmula 17 do STJ (emendatio libelli) . II - Verificada a desclassificação, incide, no caso, a minorante do art. 16 do CP. III - Com a nova resposta penal, operou-se a prescrição retroativa dado o decurso de tempo entre o fato e o recebimento da exordial acusatória. Recurso conhecido e parcialmente provido, extinguindo-se a punibilidade. (STJ - REsp 203860 - MG - 5ª T. - Rel. Min. Felix Fischer - DJU 21.06.1999 - p. 198)

ESTELIONATO. CONCURSO DE PESSOAS. REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA POR UM DOS AGENTES. ARREPENDIMENTO POSTERIOR CONFIGURADO. ART. 16 DO CP. A reparação do dano não se restringe à esfera pessoal de quem a realiza, desde que a faça voluntariamente, sendo, portanto, nestas condições, circunstância objetiva, estendendo-se, assim, aos co-autores e partícipes. Precedente (HC 4.147-SP) . (STJ - 5ª T - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - Rec. Esp. 122.760-SP - J. em 07/12/99 - DJU 21/02/2000, p.148)

ESTELIONATO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. DIMINUIÇÃO DA PENA. A alegação de atipicidade da conduta por inexistência de dolo que só pode ser avaliada após a instrução criminal, sendo a via estreita do habeas corpus inidônea para esse mister, por ser infensa à ampla dilação probatória. O ressarcimento do prejuízo antes do recebimento da denúncia não exclui o crime de estelionato cometido na sua modalidade fundamental (art. 171, caput, CP) , apenas influindo na fixação da pena, nos termos do art. 16 do CP. A orientação contida na Súmula 554 do STF é restrita ao crime de estelionato na modalidade de emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, § 2º, inc. VI, do estatuto repressivo. Recurso desprovido. (STJ - RO-HC 8.211 - BA - 5ª T. - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - DJU 14.06.1999 - p. 214)

ARREPENDIMENTO POSTERIOR. REQUISITOS. CP, ART. 16. No arrependimento posterior (CP, art. 16) , uma vez preenchidos os requisitos de crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou queixa, incide a causa obrigatória de diminuição da pena que não fica adstrita ao mínimo legal previsto. Se o ressarcimento é feito após aquele ato processual a hipótese se revela como simples atenuante (CP, art. 65, III, b) batizada pelo mínimo legal previsto no tipo. (STJ - REsp. 154.587 - J. em 13/10/98 - D.J. 09/11/98 - Rel. Min. Fernando Gonçalves)

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FURTO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DEVOLUÇÃO DO OBJETO APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. 1 - A necessidade da intimação pessoal do acusado da sentença condenatória, para começar a fluir o prazo recursal, é questão pacífica na doutrina e jurisprudência. 2 - Consuma-se o furto no instante em que a coisa subtraída é retirada da esfera de disponibilidade da vítima. 3 - A embriaguez voluntária não isenta de responsabilidade penal o agente de crime de furto. 4 - A figura prevista pelo art. 16 do Código Penal pressupõe devolução voluntária do objeto do furto até o recebimento da denúncia. 5 - Pena privativa de liberdade exacerbada, impondo-se redução, em face da existência de circunstâncias judiciais favoráveis aos apelantes, bem como a pena de multa. 6 - A reparação do dano de forma espontânea enseja reconhecimento em favor dos réus da circunstância atenuante prevista no art. 65, inc. III, alínea b, do Código Penal. Regime aberto para o cumprimento inicial da sanção. Recurso provido. (TJGO - ACr 18.823-1/213 - 1ª C.Crim. (4ª T.) - Rel. Des. Elcy Santos de Melo - J. 18.03.1999)

ARREPENDIMENTO POSTERIOR. RESSARCIMENTO. PENA. REDUÇÃO. Se o acusado é primário, tem bons antecedentes, trabalha, agiu por amor filial, se as conseqüências do crime não foram graves, se ressarciu a vítima, não pode a pena ser fixada acima do mínimo legal. Maior deve ser o limite redutivo quando o ressarcimento se der mais próximo do fato criminoso. Quanto mais rápido for feito o ressarcimento, maior deve ser a redução prevista no art. 16 do CP. (TRF 1ª Região - Ap. Crim. 25.983-8 - J. em 05/02/96 - D.J. 26/02/96 - Rel. Juiz Tourinho Neto)

MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16 do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PECULATO. CP, ART. 312. RESSARCIMENTO DOS VALORES. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. 1. Não transcorreu o prazo prescricional, porque interrompeu-se com o despacho de recebimento da denúncia. 2. A autoria e materialidade do delito ficaram comprovadas. O réu procedeu o ressarcimento dos valores apropriados, incidindo no caso o art. 16 do Código Penal para reduzir-se a pena aplicada. 3. Preenchendo o condenado os requisitos legais, cabe o sursis especial previsto no art. 78, § 2º do Código Penal. (TRF 4ª R. - ACr 97.04.70473-9 - PR - 1ª T. - Rel. Juiz Vladimir Freitas - DJU 14.07.1999 - p. 260)

APROPRIAÇÃO INDÉBITA. COISAS FUNGÍVEIS. RESSARCIMENTO DO DANO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR CARACTERIZADO. CP, ART. 16. 1. Esta via, em razão de sua sumarização vertical, não comporta dilação probatória, devendo sua instrução ser composta por elementos pré-constituídos. Alegações de falta de justa causa, que podem até envolver exame de fatos, devem ser comprovadas prontamente, para que não se corra o risco de invadir área própria da ação penal, que é a do contraditório. 2. Coisas fungíveis dadas em depósito irregular (art. 1.280 do Código Civil) não podem ser objeto material de apropriação indébita; contudo, aquelas entregues para serem transmitidas a terceiro podem figurar nessa função. 3. Na dicção do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o ressarcimento do dano decorrente da apropriação indébita, mesmo efetuado antes do recebimento da denúncia, não tem o poder de descaracterizar o delito já consumado na inversão

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da posse. 4. Essa hipótese pode implicar o reconhecimento do arrependimento posterior (art. 16 do CP) , causa especial de diminuição da pena, a incidir na dosimetria. 5. A conduta imputada aos pacientes configura crime, em tese, estando presente, por conseqüência, a justa causa necessária ao prosseguimento da ação penal hostilizada. Ordem denegada. (TRF 4ª R. - HC 1999.04.01.061861-9 - RS - 2ª T. - Rel. Juiz Élcio Pinheiro de Castro - DJU 29.09.1999 - p. 554)

MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16 do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. A alegação de atipicidade da conduta por inexistência de dolo que só pode ser avaliada após a instrução criminal, sendo a via estreita do habeas corpus inidônea para esse mister, por ser infensa à ampla dilação probatória. O ressarcimento do prejuízo antes do recebimento da denúncia não exclui o crime de estelionato cometido na sua modalidade fundamental (art. 171, caput, CP), apenas influindo na fixação da pena, nos termos do art. 16 do CP. A orientação contida na Súmula 554 do STF é restrita ao crime de estelionato na modalidade de emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, § 2º, inc. VI, do estatuto repressivo. Recurso desprovido. (STJ - RO-HC 8.211 - BA - 5ª T. - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - DJU 14.06.1999 - p. 214)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16 Em sede de estelionato, salvo a hipótese de pagamento por meio de cheque sem provisão de fundos (§ 2º, VI), o ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade, impondo-se, apenas fazer incidir a causa obrigatória de diminuição de pena do art. 16, do Código Penal. Segundo as disposições do art. 89 da Lei 9.099/95, a suspensão do processo nas hipóteses em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a um ano deverá ser proposta se o condenado não estiver sendo processado ou não for reincidente, e se a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos e circunstâncias do crime indicarem ser necessário e suficiente o sursis processual. Em sede de concurso de agentes, o art. 30 do estatuto punitivo é expresso ao prever a incomunicabilidade das condições pessoais, o que impede a aplicação da extensão dos efeitos benéficos da proposta de suspensão aos co-réus. Recurso ordinário denegado. (STJ - HC 7.578 - PE - 6ª T. - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 28.06.1999 - p. 152)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16, do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. RESSARCIMENTO DOS VALORES. SURSIS. CABIMENTO. CP, ART. 78, § 2º 1. Não transcorreu o prazo prescricional, porque interrompeu-se com o despacho de recebimento da

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denúncia. 2. A autoria e materialidade do delito ficaram comprovadas. O réu procedeu o ressarcimento dos valores apropriados, incidindo no caso o art. 16 do Código Penal para reduzir-se a pena aplicada. 3. Preenchendo o condenado os requisitos legais, cabe o sursis especial previsto no art. 78, § 2º do Código Penal. (TRF 4ª R. - ACr 97.04.70473-9 - PR - 1ª T. - Rel. Juiz Vladimir Freitas - DJU 14.07.1999 - p. 260)

PENA. DIMINUIÇÃO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. RESSARCIAMENTO DO DANO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. 1. Esta via, em razão de sua sumarização vertical, não comporta dilação probatória, devendo sua instrução ser composta por elementos pré-constituídos. Alegações de falta de justa causa, que podem até envolver exame de fatos, devem ser comprovadas prontamente, para que não se corra o risco de invadir área própria da ação penal, que é a do contraditório. 2. Coisas fungíveis dadas em depósito irregular (art. 1.280 do Código Civil) não podem ser objeto material de apropriação indébita; contudo, aquelas entregues para serem transmitidas a terceiro podem figurar nessa função. 3. Na dicção do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o ressarcimento do dano decorrente da apropriação indébita, mesmo efetuado antes do recebimento da denúncia, não tem o poder de descaracterizar o delito já consumado na inversão da posse. 4. Essa hipótese pode implicar o reconhecimento do arrependimento posterior (art. 16 do CP), causa especial de diminuição da pena, a incidir na dosimetria. 5. A conduta imputada aos pacientes configura crime, em tese, estando presente, por conseqüência, a justa causa necessária ao prosseguimento da ação penal hostilizada. Ordem denegada. (TRF 4ª R. - HC 1999.04.01.061861-9 - RS - 2ª T. - Rel. Juiz Élcio Pinheiro de Castro - DJU 29.09.1999 - p. 554)

Art. 69. O contrato de promessa de cessão de direitos relativos a imóveis não loteados, sem cláusula de arrependimento e com emissão de posse, uma vez inscrita no Registro Geral de Imóveis, atribui ao promitente cessionário direito real oponível a terceiro e confere direito a obtenção compulsória da escritura definitiva de cessão, aplicando-se, neste caso, no que couber, o disposto no artigo 16 do Decreto-lei n. 58, de 10 de dezembro de 1937, e no artigo 346 do Código do Processo Civil.

Art. 22. Os contratos, sem cláusula de arrependimento, de compromisso de compra e venda e cessão de direito de imóveis não loteados, cujo preço tenha sido pago no ato de sua constituição ou deva sê-lo em uma ou mais prestações, desde que inscritos a qualquer tempo, atribuem aos compromissários direito real oponível a terceiros, e lhes conferem o direito de adjudicação compulsória nos termos dos arts. 16 desta lei, 640 e 641 do Código de Processo Civil. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 27.12.73)

Se incidem duas causas de diminuição, a segunda diminuição deve recair sobre o quantum já reduzido pela primeira e não sobre a pena-base, evitando-se a pena zero . Esse princípio não foi observado pelo Juiz que sentenciou o processo nº 269/85 da 18ª Vara Criminal de São Paulo (Capital). Condenou o réu a dez dias-multa. Reduziu de um terço em face do erro de proibição vencível (CP, art. 21, caput , parte final). Depois, aplicou a redução de dois terços pela arrependimento posterior (CP, art. 16). Fez recair as duas diminuições sobre a pena-base, i.e ., reduziu três terços dos três terços, resultando a pena zero . Por força de recurso da defesa, a 4ª Câmara do TACRIMSP (v.u., em 02.05.1988) criticou a sentença. Não havia, porém, recurso da acusação, pelo que o erro tornou-se imutável.''

9079 - PERMUTA - Rescisão. Direito de arrependimento. Inadmissibilidade. Ausência de previsão contratual. Irrelevância de tratar-se de instrumento

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particular. Aplicação das disposições referentes à compra e venda. Art. 1.088 do CC, revogado pelo art. 22 do DL. 58, de 1937, Súm. 168 do STF e art. 1.164 do mesmo Código. (TJSP - AC 209.848-2 - 16ª C - Rel. Des. Nélson Schiesari - J. 31.08.93) - (01 149/87).

9871 - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - CPM, art. 303, § 2º. Decisão no âmbito do CPM, em face do princípio da especialidade. CP, art. 16. Sua aplicação a fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso (CP, art. 12). O arrependimento posterior (CP, art. 16) não está previsto na legislação penal militar. Os benefícios previstos no CPM (arts. 72, III, b, e 240, § 2º) não caracterizam o arrependimento posterior a que se refere o art. 16 do CP. O arrependimento posterior (CP, art. 16) é causa de diminuição da pena e não mera atenuante. HC deferido, para que, anulado o acórdão, no ponto, nova decisão se profira, tendo em conta o art. 16 do CP. (STF - HC 71.782-9 - RJ - 2ª T - Rel. Min. Neri da Silveira - DJU 30.06.95).

1. APELAÇÃO CRIMINAL - NECESSIDADE DE PRÉVIO RECOLHIMENTO À PRISÃO -

2. ARREPENDIMENTO POSTERIOR - REDUÇÃO DA PENA (ART. 16 DO CP) - EXTENSÃO A CO-AUTORES E PARTÍCIPES

3. A causa especial de diminuição da pena a que alude o artigo 16 do CP prevê o arrependimento posterior, que se exterioriza com a reparação do dano, e decorre de ato voluntário do agente e só a ele aproveita, até porque está condicionado à verificação de requisito de ordem subjetiva.

10202 - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - (CP, art. 16). Ressarcimento feito por irmão da recorrente (ré). Exigência legal de "voluntariedade", e não de "espontaneidade". Causa objetiva de redução obrigatória da pena. Recurso especial conhecido e provido. Penas reduzidas de dois terços. (STJ - REsp. 61.098.2 - SP - 6ª T - Rel. Min. Adhemar Maciel - DJU 30.10.95)

10566 - PECULATO - Pena. Dosimetria. Arrependimento posterior. Redução. Art. 16 do CP. Se o acusado é primário, tem bons antecedentes, trabalha, agiu por amor filial, se as conseqüências do crime não foram graves, se ressarciu a vítima, não pode a pena ser fixada acima do mínimo legal. Maior deve ser o limite redutivo quando o ressarcimento se der mais próximo do fato criminoso. Quanto mais rápido for feito o ressarcimento, maior deve ser a redução prevista no art. 16 do CP. (TRF 1ª R - ACr. 95.01.25983-8 - DF - 3ª T - Rel. Juiz Tourinho Filho - DJU 26.02.96).

O arrependimento que se dá posteriormente à execução do crime é aquele previsto no art. 16 do diploma repressivo que, conquanto atenue a retribuição estatal, não tem o condão de excludente. Noutras palavras, se o arrependimento se situar na esfera de execução do delito pode ocorrer excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. No entanto, se ocorrer posteriormente à execução, só se admite a figura do arrependimento posterior.

Vistos. Da sentença que o condenou à pena de 6 dias-multa, por infração do art. 155, caput, c/c os arts. 16 e 60, § 2º, todos do CP, o acusado supranominado apela por absolvição, argumentando que sua ação estaria escudada pelo arrependimento eficaz.

O arrependimento que se dá posteriormente à execução do crime é aquele previsto no art. 16 do diploma repressivo que, conquanto atenue a retribuição estatal, não tem o condão de excludente. Noutras palavras, se o arrependimento se situar na esfera de execução do delito pode ocorrer excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. No entanto, se ocorrer posteriormente à execução, só se admite a figura do arrependimento posterior.

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11283 - PECULATO IMPRÓPRIO - Princípio da insignificância. Redução da pena face ao arrependimento posterior comprovado pelo agente. Cabimento. Extinção da punibilidade pela Prescrição Retroativa da pretensão punitiva do Estado. O princípio da insignificância ou da bagatela não pode ser invocado em favor do réu em crime de peculato, mesmo diante do ressarcimento total e satisfatório do dano ao Erário, porquanto a lesão do bem jurídico patrimonial deve ser conjugada à lesão ao dever de fidelidade que o servidor público tem para com a Administração, subsistindo, no caso, o dano moral. Presentes todos os requisitos elencados no art. 16 do CP e sendo o réu primário e de bons antecedentes, é de ser aplicada a diminuição da pena em seu grau máximo. A pena de 8 meses de reclusão prescreve em 2 anos, nos termos do art. 109, VI, c.c. art. 110, §§ 1º e 2º, do CP. Extinção da punibilidade que se declara de ofício (art. 61 do CPP). (TRF 3ª R - ACr. 95.03.023.012-8-SP - 2ª T - Rel. Juiz Célio Benevides - DJU 26.07.95).

12742 - ESTELIONATO - Art. 171, caput do CP. Ressarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia. Extinção da punibilidade. Inocorrência. O ressarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia não extingue a punibilidade do crime de estelionato previsto no art. 171, caput do CP. A orientação contida na Súm. 554 do STF é restrita ao estelionato na modalidade de emissão de cheques sem suficiente provisão de fundo, prevista no CP, art. 171, § 2º, VI. O concurso material de crimes não impede o reconhecimento do estelionato privilegiado (CP, art. 171, § 2º), devendo o valor do prejuízo, para efeito da concessão do benefício, ser aferido separadamente em cada uma das infrações, que são autônomas e praticadas contra vítimas diferentes. Argumente-se, ainda, que o privilégio foi instituído em benefício do réu, não podendo ser interpretado em seu desfavor. Logo, não existindo norma legal que vede a consideração do prejuízo em separado, assim deve ser feito. A redução prevista no art. 16 do CP (arrependimento posterior) deve incidir também sobre a pena de multa, ainda que esta seja a única aplicada. Recurso provido para condenar o recorrido, extinguindo-se, em seguida, a punibilidade, em face da ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. (STJ - REsp. 109.426 - RS - 5ª T - Rel. Min. Edson Vidigal - DJU 10.11.97).

5. Não se observa, por outro aspecto, o alegado arrependimento posterior, muito menos nos moldes estabelecidos no art. 16 do CP.

13892 - PECULATO - Arrependimento posterior (CP, art. 16). Reparação integral. Pena. Dosimetria. Fundamentação suficiente. Regime prisional. CP, art. 33, § 2º, c. Para o reconhecimento da circunstância minorante prevista no art. 16, do CP, em se tratando de crime de peculato, é necessário que o agente efetue a restituição integral da quantia desviada, sendo irrelevante o recolhimento apenas do valor nominal, inexpressivo economicamente em período de inflação. Não merece censura a decisão que, ao fixar a pena-base acima do mínimo legal, indica objetivamente as razões e fundamentos pertinentes, na linha de compreensão do art. 59, do CP. A determinação do regime inicial de cumprimento da pena integra o processo de sua individualização, devendo, todavia, situar-se em consonância com os rigorosos parâmetros do art. 33, do CP, que prevê o cumprimento de pena igual ou inferior a 04 anos em regime aberto para os condenados não reincidentes. (STJ - REsp. 136.115 - SP - 6ª T - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 29.06.98).

14256 - PECULATO - Ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia. Arrependimento posterior. Pena. Redução obrigatória. No arrependimento posterior (art. 16 do CP), uma vez preenchidos os requisitos de crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou queixa, incide a causa obrigatória de diminuição da pena que não fica adstrita ao mínimo legal previsto. Se o ressarcimento é feito

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após aquele ato processual a hipótese se revela como simples atenuante (art. 65, III, b, do CP) balizada pelo mínimo legal previsto no tipo. REsp. conhecido. Extinção da punibilidade - prescrição. (STJ - REsp. 154.587 - MG - 6ª T - Rel. Min. Fernando Gonçalves - DJU 09.11.98).

14704 - PRESCRIÇÃO - Pretensão punitiva: arts. 109, V, e 117, I e IV, do CP. Prefeito Municipal. Crime de desvio de bens ou rendas públicas (art. 1º, I, do DL. 201, de 27.02.1967). Arrependimento posterior (art. 16 do CP). Redução da pena. A Escola em questão foi construída na gestão do paciente, antes do recebimento da denúncia, embora depois de constatada sua falta pelo TCE. Sendo assim, a condenação à pena de 03 anos de reclusão, imposta no acórdão proferido na Ação Penal, haveria de ser reduzida, no mínimo, de um terço, nos termos do art. 16 do CP. E com essa redução da pena, por 02 anos, é de se reconhecer, em favor do paciente, ex officio, como demonstrou o segundo parecer do MP, a extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, em face do tempo decorrido entre a data do recebimento da denúncia e a da condenação. Tudo diante do que dispõem os arts. 117, I e IV, e 109, V, do CP. (STF - HC 75.908 - RO - 1ª T – Rel. Min. Sydney Sanches - DJU 03.04.98).

E-JTJPR

53052547 – APELAÇÃO CRIME – PECULATO, USO DE DOCUMENTO FALSO E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – SENTENÇA CONDENATÓRIA – Apelos de dois dos réus buscando em sede de preliminar a nulidade do processo ao argumento de nulidade do decisório por falta de observação na mensuração da pena da causa especial de diminuição contida no artigo 16, do Código Penal e cerceio de defesa em razão do indeferimento da realização de perícia técnica e falta de corpo de delito – Preliminar de um dos réus almejando o reconhecimento e declaração da prescrição, na forma retroativa, com relação ao crime de uso de documento falso – No mérito todos os apelantes perseguem a absolvição – Preliminares afastadas, exceto a relativa ao reconhecimento da prescrição retroativa em relação a um dos apelantes, referentemente ao crime de uso de documento falso – Declaração de extinção da punibilidade de um dos apelantes com prejuízo ao exame de mérito do recurso interposto – Farto conjunto probatório que conduz ao reconhecimento da culpabilidade de dois dos apelantes – Decreto condenatório calcado em prova irrefutável – Manutenção – Admissibilidade da causa especial de diminuição da pena face o arrependimento posterior – Reparação do dano – Voluntariedade – Redução do apenamento – Reconhecimento e declaração da extinção da punibilidade por operada a prescrição da pretensão punitiva na forma retroativa – Recursos conhecidos e parcialmente providos. (TJPR – ApCr . 0068176-9 – (13336) – Curitiba – 1ª C.Crim. – Rel. Juiz Conv. Milani de Moura – DJPR 18.06.2001)

53035677 – CRIME FUNCIONAL – ART. 312, DO CÓDIGO PENAL – I – Resposta prévia – Advogado nomeado – Se, verificada a circunstância prevista no parágrafo único do art. 514, do Código de Processo Penal, nomeou-se defensor dativo para o oferecimento da resposta preliminar, apresentada mediante trabalho zeloso e tecnicamente bem elaborado, inexiste nulidade por falta de notificação pessoal do funcionário para a prática do ato – II – Peculato – Caracterização – Tipifica o crime

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de peculato a conduta do funcionário auxiliar da justiça que retém, em proveito próprio, por vários meses, importâncias recebidas para pagamento de custas processuais e multa penal – III – Pena-base – Fixação comedida e fundamentada – O fato de ser o réu primário e de bons antecedentes não conduz, por si só, à imposição de pena-base no mínimo legal, visto não serem apenas estes fatores que determinam a composição da resposta penal – IV – Arrependimento posterior – quantum de redução da pena – Sendo relativamente pronto o arrependimento a que alude o art. 16, do Código Penal, justifica-se a redução da pena em quantum intermediário – V – Perda da função pública – Inadmissibilidade – Pena privativa de liberdade inferior a quatro anos não justifica a perda da função pública se o crime foi cometido antes do advento da Lei nº 9.268/96, que alterou a redação do art. 92, do Código Penal – Recursos do réu e do ministério público desprovidos. (TJPR – ApCr . 0081923-6 – (11868) – Loanda – 2ª C.Crim. – Rel. Des. Telmo Cherem – DJPR 07.02.2000)

53032504 – APELAÇÃO CRIME – PECULATO-FURTO – DECISÃO CONDENATÓRIA – APELO PERSEGUIDO A ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE AUSÊNCIA DE PROVAS QUE POSSAM INCRIMINAR O ACUSADO – PLEITO ALTERNATIVO OBJETIVANDO O RECONHECIMENTO DA MINORANTE ESPECIAL DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR – PROVA EFICIENTE E CAPAZ DE LASTREAR O LANÇADO DECRETO CONDENATÓRIO – RECONHECIMENTO E APLICABILIDADE DA REGRA DISPOSTA NO ARTIGO 16, DO CÓDIGO PENAL SUBSIDIARIAMENTE NA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO – 1.- Restando demonstrado que o réu subtraiu, para si, os toca-fitas, valendo-se da oportunidade que lhe proporcionou a qualidade de policial em serviço, configura-se o crime de peculato-furto, modalidade cunhada no parágrafo 2º, do artigo 303, do Código Penal Militar. 2.- Tendo o réu devolvido, voluntariamente, o bem subtraído, em sua totalidade, antes do oferecimento da denúncia e, não tendo sido a subtração cometida com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, é de ser lhe estendido a mercê do arrependimento posterior. (TJPR – ApCr . 0077027-0 – (11684) – Curitiba – 1ª C.Crim. – Rel. Juiz Conv. Milani de Moura – DJPR 27.09.1999)

53026894 – APELAÇÃO CRIME – FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO OU RECONHECIMENTO DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA OU ARREPENDIMENTO EFICAZ OU POSTERIOR – INVIABILIDADE – PARTO SUPOSTO – ALEGAÇÃO DE MOTIVO NOBRE – INOCORRÊNCIA – APELO IMPROVIDO – 1. É de ser mantida a condenação ante à existência de prova robusta da prática dos crimes de favorecimento da prostituição e parto suposto. 2. Incogitável o reconhecimento da desistência voluntária depois de consumado o crime. 3. O arrependimento posterior (CP, art. 16), por outro lado, só tem cabida quando o agente repara o dano causado, o que não ocorre com o favorecimento da prostituição, cujo prejuízo é irreparável. 4. Não sendo nobre o motivo de registro de filho alheio como próprio, incide o caput do art. 242 do Código Penal, e não a figura privilegiada do respectivo parágrafo único. (TJPR – ApCr . 0067473-9 – (10939) – Londrina – 2ª C.Crim. – Rel. Des. Nunes do Nascimento – DJPR 09.11.1998)

53071452 – PENA – NULIDADE – INOCORRÊNCIA – FIXAÇÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA – Observados os critérios individualizadores que norteiam o juiz na fixação da pena-base, não há que se falar em nulidade por falta de fundamentação em sua dosagem, máxime quando estabelecida no mínimo legal. SENTENÇA – ARREPENDIMENTO POSTERIOR – CAUSA OBRIGATÓRIA DE REDUÇÃO DA PENA CONSIDERADA COMO CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL – EQUÍVOCO QUE NÃO ACARRETA NULIDADE – POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO EM GRAU DE RECURSO – Não há nulidade na sentença pelo fato de seu prolator considerar o arrependimento posterior, causa obrigatória de redução da pena, como

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circunstância judicial, pois tal equívoco pode ser corrigido em grau de recurso. PECULATO – OFENSA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E AO PARTICULAR – RESSARCIMENTO DO DANO – IRRELEVÂNCIA – CONDENAÇÃO MANTIDA – Consoante já proclamou o Pretório Excelso, o ressarcimento do dano não extingue a punibilidade no peculato doloso. O que importa nesse crime não é só a lesão patrimonial, mas, igualmente, a desmoralização a que fica exposta a Administração Pública. ARREPENDIMENTO POSTERIOR – CAUSA OBRIGATÓRIA DE REDUÇÃO DA PENA – REPARAÇÃO VOLUNTÁRIA DO DANO PELO AGENTE ANTES DE INICIADA A AÇÃO PENAL – INTELIGÊNCIA DO ART. 16 DO CÓDIGO PENAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO – Caracterizado o arrependimento posterior, faz jus o agente à diminuição da pena, nos moldes do art. 16 do Código Penal. (TJPR – ApCr . 0062049-3 – (10496) – Jaguariaiva – 1ª C.Crim. – Rel. Des. Tadeu Costa – DJPR 06.04.1998)

53026894

Nº do Acórdão: 10939

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0067473-9

Comarca: Londrina

Órgão Julgador: 2ª Câmara Criminal

Relator: Nunes do Nascimento

Data do julgamento: 8/10/1998

Data da publicação: 9/11/1998

Decisão: Por unanimidade de votos, foi negado provimento ao apelo.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores da Segunda Câmara Criminal do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade, em negar provimento à apelação. EMENTA: APELAÇÃO CRIME – FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO OU RECONHECIMENTO DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA OU ARREPENDIMENTO EFICAZ OU POSTERIOR – INVIABILIDADE – PARTO SUPOSTO – ALEGAÇÃO DE MOTIVO NOBRE – INOCORRÊNCIA – APELO IMPROVIDO – 1. É de ser mantida a condenação ante à existência de prova robusta da prática dos crimes de favorecimento da prostituição e parto suposto. 2. Incogitável o reconhecimento da desistência voluntária depois de consumado o crime. 3. O arrependimento posterior (CP, art. 16), por outro lado, só tem cabida quando o agente repara o dano causado, o que não ocorre com o favorecimento da prostituição, cujo prejuízo é irreparável. 4. Não sendo nobre o motivo de registro de filho alheio como próprio, incide o caput do art. 242 do Código Penal, e não a figura privilegiada do respectivo parágrafo único.

Acórdão:

{ }

APELANTE:MARIA DORACI SILVA

APELADO:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

RELATOR:DES. NUNES DO NASCIMENTO

APELAÇÃO CRIME FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO OU RECONHECIMENTO DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA OU

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ARREPENDIMENTO EFICAZ OU POSTERIOR INVIABILIDADE PARTO SUPOSTO ALEGAÇÃO DE MOTIVO NOBRE INOCORRÊNCIA APELO IMPROVIDO 1. É de ser mantida a condenação ante à existência de prova robusta da prática dos crimes de favorecimento da prostituição e parto suposto. 2. Incogitável o reconhecimento da desistência voluntária depois de consumado o crime. 3. O arrependimento posterior (CP, art. 16), por outro lado, só tem cabida quando o agente repara o dano causado, o que não ocorre com o favorecimento da prostituição, cujo prejuízo é irreparável. 4. Não sendo nobre o motivo de registro de filho alheio como próprio, incide o caput do art. 242 do Código Penal, e não a figura privilegiada do respectivo parágrafo único.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime n° 67.473-9, de Londrina, em que é apelante Maria Doraci Silva e apelado o Ministério Público do Estado do Paraná:

ACORDAM os Desembargadores da Segunda Câmara Criminal do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade, em negar provimento à apelação.

Maria Doraci Silva, alcunhada Vera, Valmir da Silva Diana e Benedito Gilberto da Silva, alcunhado Benê, foram denunciados pelo Ministério Público como incursos nas seguintes sanções: a) Maria Doraci Silva por violação dos artigos 228, parágrafos 1° e 3° (favorecimento da prostituição) e 242 (parto suposto), combinados com os artigos 29 e 69, todos do Código Penal; b) Valmir da Silva Diana por violação do artigo 228, parágrafos 1° e 3° (favorecimento da prostituição), combinado com o artigo 29, ambos do Código Penal, e; c) Benedito Gilberto Silva por violação do artigo 242 (parto suposto), combinado com o artigo 29, ambos do Código Penal, em razão da prática dos fatos delituosos assim narrados na exordial acusatória e retificação de fls. 156, verbis:

1-A denunciada Maria Doraci da Silva e o denunciado Valmir Silva Diana, conluiados entre si, cada um aderindo à conduta delituosa do outro, agiam nesta cidade com a finalidade de agenciar mulheres, preferencialmente adolescentes para trabalhar na Boate Século 20, na cidade de Cuiabá-MT, onde deviam fazer os denominados programas, que consistiam em manter relações sexuais com freqüentadores daqueles estabelecimentos. Com esse propósito, depois de conhecer e ganhar a confiança da adolescente VMC (14 anos, fls.10), o denunciado Valmir, em meados de outubro/94, passou a fazer sua cabeça, persuadindo-a a que aceitasse a proposta de trabalhar na referida boate. Convencida, a mencionada adolescente foi apresentada à denunciada Maria Doraci que, acenando-lhe com a possibilidade de ganhar R$ 150.00 por noite, encarregou-se de comprar a passagem de ônibus para Cuiabá, para onde viajou VMC, no dia 20 de outubro de 1994, em companhia de outras 3 adolescentes, ainda não bem identificadas. No dia 24 de outubro de 1994, a adolescente V.M.C., também em companhia das 3 adolescentes, foi obrigada a atender um cliente daquela boate, mantendo com ele conjunção carnal, fato que ocorreu no Motel Asa Branca, em Rondonópolis-MT, para onde se dirigiu de carro conduzido por um motorista da boate Século 20, sob determinação da denunciada Maria Doraci, recebendo R$ 25,00 pelo programa. Assim agindo os denunciados induziram a adolescente V.M.C. à prática da prostituição, visando obtenção de lucro.

2-No dia 29 de junho de 1990, os denunciados Maria Doraci da Silva e Benedito Gilberto da Silva, conluiados entre si, cada um aderindo à conduta delituosa do outro, registraram como sua filha EGLEN ALINE SANTIAGO SILVA, assento lavrado no Cartório de Registro Civil do 2° Ofício nesta cidade (fls.61), quando, na verdade, tal criança do sexo feminino é filha de Alexandre Balera Baena e Patrícia Aparecida

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Santiago Baena.

Após o recebimento da denúncia (fls.81) os réus foram citados (fls.87-v), e interrogados (fls.91/97). Defesas prévias apresentadas (fls.98 e 121). Na instrução criminal foram inquiridas 04 (quatro) testemunhas arroladas pela acusação (fls.124/127v e 143/144). Na fase do artigo 499 do Código de Processo Penal, o agente do parquet aditou a denúncia de fls. 02/04, com relação ao fato n° 02, ratificando os demais termos (fls.156). As defesas, devidamente intimadas do aditamento e para os fins do artigo 499, nada requereram (fls.159). Colhidas alegações finais oferecidas pela acusação (fls.160-6) e pelas defesas (fls. 168/173 e 176-7), sobreveio a sentença que julgou procedente parcialmente a denúncia (fls.181/193), ao fim de absolver o réu Benedito Gilberto Silva, com fulcro no artigo 386, inciso IV, do Código de Processo Penal, e condenar a ré Maria Doraci Silva, nas penas do artigo 228, parágrafo 1° e 3° e artigo 242, combinados com os artigos 29 e 69, todos do Código Penal, a 05 (cinco) anos de reclusão e 60 (sessenta) dias-multa, a ser cumprida em regime semi-aberto, e também condenar Valmir da Silva Pires, como incurso nas sanções do artigo 228, parágrafo 1° e 3°, combinado com o artigo 69, ambos do Código Penal, a 03 (três) anos de reclusão e 60 (sessenta) dias-multa, a ser cumprida em regime aberto.

A acusada Maria Doraci Silva interpôs a presente apelação (fls.199/206), pugnando pela reforma do decisum, ao fito de ser absolvida das imputações, haja vista a fragilidade das provas apresentadas. Alternativamente, pleiteia a aplicação dos artigos 15 e 16 (desistência voluntária e arrependimento posterior) do Código Penal, com relação ao crime de favorecimento da prostituição (art. 228,CP) e do parágrafo 1°do artigo 242 (parto suposto cometido por motivo nobre) do Código Penal.

O réu Valmir da Silva Diana também apelou da sentença condenatória, mas o recurso foi declarado deserto (fls.231), com fulcro no que dispõe o artigo 806, parágrafo 2°, do Código de Processo Penal.

Contra-arrazoando, o Ministério Público de primeiro grau optou pela manutenção, in totum, da sentença (fls.216/226).

Neste grau, a douta Procuradoria Geral de Justiça pronunciou-se pelo conhecimento e improvimento do recurso de apelação.

Posto isto:

A insurgência não vinga.

No respeitante ao crime de favorecimento da prostituição, previsto no artigo 228 do Código Penal, denota-se que a modalidade delitiva restou perfeitamente demonstrada no curso da instrução criminal.

Com efeito, colhe-se dos autos que o co-réu Valmir da Silva Diana conseguia garotas para a ré, ora apelante, Maria Doraci Silva, levá-las para o Estado do Mato Grosso, onde tais meninas participariam de shows e programas em boates. É o que se extrai das declarações do próprio Valmir, quer na fase indiciária (fls.21), quer no seu interrogatório judicial (fls.95).

E foi isto que ocorreu com a menor Vivian, que foi induzida pela apelante e pelo co-réu Valmir da Silva Diana a trabalhar em Cuiabá (MT), para atender telefone e servir cafezinho numa sauna, com promessa de elevados ganhos, para onde efetivamente se dirigiu em companhia de mais três moças de Londrina, igualmente agenciadas pela apelante, que até lhes pagou as passagens de ônibus.

Todavia, chegando àquela cidade, cedo constatou que a realidade era bem diversa da prometida, eis que, na realidade, deveria sujeitar-se a realização de

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programas sexuais.

De lá a menor foi trazida de volta para Londrina em decorrência da pronta ação de sua mãe, Inês Maria Correia, informada por Maria Beatriz Breve (fls.127), de que sua filha poderia ter sido levada para Cuiabá ao fim de prostituir-se, levou o fato ao conhecimento da Promotoria da Infância e Juventude, conseguindo, destarte, resgatar a filha, fato que veio a acarretar a prisão também de Valmir e de Maria Doraci Silva.

Como é ressabido, nos crimes contra os costumes, se a palavra da vítima encontra supedâneo na prova coligida que, embora circunstancial, é indicativa da autoria, é de admitir-se a condenação (Ap.27849-TA Crim SP-Rel.Matos Faria).

Demais disto, as declarações do co-réu Valmir da Silva Diana, prestadas de forma desinteressada e integrando sua confissão, por suposto tem forte valor probante.

Ainda, integram o arsenal probatório as declarações prestadas por Alexandre Bolera Boena, ex-genro da apelante, quando afirmou que Maria Doraci sempre esteve ligada à prostituição, sendo, inclusive, a responsável pela admissão de sua própria filha, esposa do informante, na prática do sexo mediante paga (fls.143).

Do exposto, ao contrário do que sustenta a apelante, verifica-se que a prova coligida é robusta, consoante de sobejo se pode verificar, prestando-se a embasar decreto condenatório.

Quanto ao pleito de incidir na espécie os institutos previstos nos artigos 15 (desistência voluntária e arrependimento eficaz) e 16 (arrependimento posterior) do Código Penal, reputam-se incabíveis na espécie tais figuras privilegiadas, pois no caso da desistência voluntária e arrependimento eficaz, é necessário que o iter criminis não se tenha completado, tornando-se incogitável no caso de crime consumado, tal como sucede na hipótese vertente. No que ao arrependimento posterior, bem é de ver este somente é aplicável quando o agente repara o dano causado, ou seja, somente é empregado nos delitos em que ocorra um prejuízo patrimonial à vítima, o que não é o caso dos autos, onde o prejuízo causado à ofendida é irreparável, na aguda análise da douta Procuradoria Geral de Justiça (fls. 270).

In casu, impossível a aplicação destes institutos, reitere-se, pois o delito já se encontrava consumado, com a vítima posta à disposição dos fregueses na boate para onde foi levada, em situação que nunca será esquecida nem reparada.

No mesmo norte, com relação ao crime previsto no artigo 242 do Código Penal (parto suposto), a sentença deve ser integralmente mantida, pois a materialidade delitiva e autoria quedaram evidenciadas de forma cabal, como bem intuiu a douta Procuradoria Geral de Justiça em seu parecer, cujos fundamentos são adotados, in verbis: (fls.271/272).

A respeito a própria acusada é confessa, uma vez que em juízo afirmou que a interrogada registrou como sendo sua filha a neta Eglen, dizendo que assim fez porque queria usufruir dos benefícios do INPS (fls. 92 verso).

A confissão encontra respaldo no depoimento informativo de Alexandre Balera Baena (fls.143), pai da menor Eglen, e no registro de nascimento em tela, juntada às fls. 66, onde se constata que foi a apelante a responsável pelas declarações falsas consignadas.

Por fim, intolerável o reconhecimento do motivo de reconhecida nobreza no ato ilícito de registrar filho alheio como próprio, com a conseqüente concessão do perdão judicial, previsto no parágrafo único do artigo em estudo, uma vez que,

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conforme ponderou a douta Promotora de Justiça subscritora das contra razões, este crime não foi praticado por motivo de reconhecida nobreza, uma vez que há, nos autos, fortes indícios de que Maria Doraci Silva utilizaria futuramente sua neta no exercício da prostituição como, aliás, já fizera sua própria filha Patrícia (cf. declaração de Alexandre Balera Baena, fls. 20 e 143/144 e de Manoel Barbosa Fernandes, fls. 19).

Além do mais, ela mesma argumenta que assim procedeu para poder usufruir dos benefícios do INPS, portanto, resta afastada a hipótese de ter agido por motivo de altruísmo, superioridade moral, generosidade, solidariedade e humanidade. (fls.271/273)

Eis por que a Câmara negou provimento ao apelo, como está no dispositivo do acórdão.

Curitiba, 08 de outubro de 1998

DES. NUNES DO NASCIMENTO

Presidente e Relator

DES. MARTINS RICCI

Revisor

Esteve presente e acompanhou o voto do Excelentíssimo Senhor Desembargador Relator, o Excelentíssimo Senhor Desembargador TROTTA TELLES.

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53027302

Nº do Acórdão: 11008

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0069965-0

Comarca: Paranavaí

Órgão Julgador: 2ª Câmara Criminal

Relator: Carlos Hoffmann

Data do julgamento: 26/11/1998

Data da publicação: 14/12/1998

Decisão: Por unanimidade de votos, não foi conhecido do apelo por incompetência e remetido o feito para o egrégio Tribunal de Alçada.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, à unanimidade de votos, em não conhecer da apelação, com encaminhamento do protocolado ao Tribunal de Alçada. EMENTA: COMPETÊNCIA RECURSAL – CRIME DE ABANDONO MATERIAL – PENA DE DETENÇÃO – APLICAÇÃO DO ART. 103, III, LETRA X, DA CE – RECURSO NÃO CONHECIDO E REMETIDO AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE ALÇADA.

Acórdão: APELAÇÃO CRIME Nº 69.965-0, DE PARANAVAÍ- 2ª VARA CRIMINAL.

APELANTE:FERNANDO RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR.

APELADO:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

RELATOR:DES.CARLOS HOFFMANN

COMPETÊNCIA RECURSAL – CRIME DE ABANDONO MATERIAL – PENA DE

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DETENÇÃO – APLICAÇÃO DO ART. 103, III, LETRA X, DA CE – RECURSO NÃO CONHECIDO E REMETIDO AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE ALÇADA.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 69.965-0, de PARANAVAÍ – 2ª VARA CRIMINAL, em que é apelante FERNANDO RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR e MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

1.Imputou-se a Fernando Rodrigues dos Santos Júnior a prática do crime previsto no art. 244 do Código Penal, c/c o art. 61, inc. II, alínea a (motivo torpe) e art. 70 (concurso formal). Isso porque teria o réu deixado de prestar assistência necessária a sua esposa e filha mesmo após a superveniência de ação de alimentos que resultou na fixação da quantia a ser paga. Mesmo podendo efetuar o pagamento, teria o réu deixado de pagar. Configurado estaria, assim, o abandono material sem justa causa, na forma exposta pela denúncia.

2.Requereu o réu o não recebimento da denúncia, após ser ela oferecida, por falta de dolo na conduta e por não ter agido sem justa causa. Não obstante, foi a denúncia recebida. Realizou-se, então o interrogatório do acusado.

3.Defesa prévia foi apresentada, sendo, em seguida, admitido assistente de acusação, designando-se, desde logo, data para o início da oitiva das testemunhas.

4.Colhidos, então, os depoimentos de várias testemunhas, apresentando, após, o Ministério Público suas alegações. Ressalte-se que cartas precatórias foram expedidas para a oitiva de outras testemunhas, prosseguindo-se, não obstante, o feito normalmente.

5.Nas alegações finais, o Ministério Público, após analisar o caso, reconheceu a conduta criminosa do réu e, dessa forma, requereu a condenação do acusado na forma exposta na denúncia. A defesa pediu a reconsideração do despacho que teria aberto prazo para a apresentação de alegações finais. A assistente de acusação, por sua vez, também apresentou suas alegações finais, pleiteando, assim como o Ministério Público, a condenação do réu.

6.Desistiu de participar no processo, em virtude de transação extrajudicial, a assistente de acusação. Destacou ainda o fato de ter o réu feito o pagamento das quantias atrasadas.

7.Nas alegações finais da defesa foi requerida a absolvição do réu por não ter se configurado o crime imputado, ressaltando-se que jamais teria havido, por parte do acusado, recusa em pagar alimentos à esposa e filha, visto que apenas procurava adequar os valores, sendo que acordos amigáveis também teriam sido tentados.

8.Foi a sentença prolatada. Com base em detalhada fundamentação, o réu foi condenado à pena de dois anos, oito meses e vinte dias de detenção e ainda ao pagamento de cento e dezesseis dias-multa.

9.Essa é a decisão atacada pela presente apelação, formulada pelo condenado com o intuito de ver a sentença reformada para que seja decretada sua absolvição. Sob a denominação de preliminares alegou-se, primeiramente, a nulidade da sentença em razão da não ocorrência da elaboração de pedido de suspensão condicional do processo. Como segunda preliminar, invoca-se nulidade da sentença em decorrência de, por ter sido o réu condenado pela prática de duas condutas ilícitas, ausência de motivação e individualização da pena aplicada. Pela terceira preliminar suscita-se inobservância obrigatória do art. 16 do Código Penal, que trata do chamado arrependimento posterior. Pretende-se, por ela, ser a pena reduzida de dois terços se não aceitas as preliminares anteriores. Em seguida, após extensa explicação, o recorrente conclui o pedido requerendo a sua

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absolvição e o acolhimento das preliminares suscitadas.

10.Contra-arrazoado o recurso, foram os autos enviados ao Egrégio Tribunal de Alçada. Em razão da competência para o julgamento do recurso, determinou-se a remessa dos autos para este Tribunal. Foram, então, enviados à douta Procuradoria Geral da Justiça. Manifestou-se ela pelo provimento parcial do recurso para que a pena imposta seja reduzida em virtude de incorreta valoração das circunstâncias judiciais, da inexistência da qualificadora do motivo torpe e também em razão da não aplicação do art. 70 ao presente caso, existindo, dessa maneira, apenas um crime.

É o relatório.

VOTO.

11.Fernando Rodrigues dos Santos Júnior foi condenado à pena de dois (2) anos, oito (8) meses e vinte (20) dias de detenção e 116 (cento e dezesseis) dias-multa, por crime de abandono material, tipificado no artigo 244 do Código Penal.

Compete ao eg. Tribunal de Alçada julgar, em grau de recurso, as infrações a que não seja cominada pena de reclusão, isolada, cumulativa ou alternativamente, exceto as falimentares, por força do disposto no artigo 103, III, letra x, da Constituição Estadual.

Assim, da apelação não se pode conhecer, com remessa dos autos àquela Corte de Justiça.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, à unanimidade de votos, em não conhecer da apelação, com encaminhamento do protocolado ao Tribunal de Alçada.

Esteve presente e acompanhou o voto do Relator, eminente Desembargador MARTINS RICCI.

Curitiba, 26 de novembro de 1998

NUNES DO NASCIMENTO – Presidente

CARLOS HOFFMANN – Relator

53030208

Nº do Acórdão: 11406

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0067536-1

Comarca: Curitiba

Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal

Relator: Milani de Moura

Data do julgamento: 22/4/1999

Data da publicação: 24/5/1999

Decisão: Por unanimidade de votos, foi conhecido do recurso, e dado provimento parcial para absolver o réu do 2º fato descrito na denúncia, com a redução da pena.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso interposto e dar-lhe parcial provimento, para o

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efeito de absolver o réu da prática do segundo fato descrito na denúncia inaugural (artigo 171, "caput", do Código Penal), com a alteração do apenamento, no patamar explicitado no voto. EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL – DECISÃO CONDENATÓRIA – ESTELIONATO E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – APELO PARCIAL COMBATENDO A CONDENAÇÃO PELOS CRIMES DE ESTELIONATO, EM CONCURSO MATERIAL E BUSCANDO A ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE QUE OS DELITOS NÃO ESTÃO CARACTERIZADOS – CHEQUE EMITIDO COMO PROMESSA DE PAGAMENTO E PRÉ-DATADO – DEVOLUÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS – DELITO NÃO CARACTERIZADO – ABSOLVIÇÃO – CHEQUES ROUBADOS E UTILIZADOS PARA PAGAMENTO DE MERCADORIAS ADQUIRIDAS – NEGATIVA DE AUTORIA SEM A MENOR CONSISTÊNCIA PROBATÓRIA – DELITO DE ESTELIONATO FUNDAMENTAL DEMONSTRADO – PAGAMENTO DAS CÁRTULAS – INDEMONSTRAÇÃO DE QUE O PAGAMENTO OCORREU ANTES DA DENÚNCIA – ARREPENDIMENTO POSTERIOR AFASTADO – RECONHECIMENTO DE ATENUANTE GENÉRICA – DELITO CONFIGURADO – CONDENAÇÃO MANTIDA – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Tratando-se de cheque pós-datado, não se configura o crime do artigo 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal, porque a vítima conhecia, antecipadamente, a inexistência de fundos, no dia em que o recebeu, desnaturando a cártula, como verdadeiro cheque, isto é, como ordem de pagamento à vista. Nem há espaço nesta hipótese para se cogitar da modalidade de estelionato fundamental, pois os elementos integrantes deste tipo não se encontram presentes na conduta do agente. 2. O eventual pagamento dos valores à vítima, no estelionato básico, apenas abrandará a pena, não afastando a criminalidade do ato.Acórdão: APELAÇÃO CRIME N° 67.536-1, DE CURITIBA

APELANTE: VILMAR AMARO

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

RELATOR: DR. MILANI DE MOURA – JUIZ CONVOCADO

APELAÇÃO CRIMINAL – DECISÃO CONDENATÓRIA – ESTELIONATO E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – APELO PARCIAL COMBATENDO A CONDENAÇÃO PELOS CRIMES DE ESTELIONATO, EM CONCURSO MATERIAL E BUSCANDO A ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE QUE OS DELITOS NÃO ESTÃO CARACTERIZADOS – CHEQUE EMITIDO COMO PROMESSA DE PAGAMENTO E PRÉ-DATADO – DEVOLUÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS – DELITO NÃO CARACTERIZADO – ABSOLVIÇÃO – CHEQUES ROUBADOS E UTILIZADOS PARA PAGAMENTO DE MERCADORIAS ADQUIRIDAS – NEGATIVA DE AUTORIA SEM A MENOR CONSISTÊNCIA PROBATÓRIA – DELITO DE ESTELIONATO FUNDAMENTAL DEMONSTRADO – PAGAMENTO DAS CÁRTULAS – INDEMONSTRAÇÃO DE QUE O PAGAMENTO OCORREU ANTES DA DENÚNCIA – ARREPENDIMENTO POSTERIOR AFASTADO – RECONHECIMENTO DE ATENUANTE GENÉRICA – DELITO CONFIGURADO – CONDENAÇÃO MANTIDA – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Tratando-se de cheque pós-datado, não se configura o crime do artigo 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal, porque a vítima conhecia, antecipadamente, a inexistência de fundos, no dia em que o recebeu, desnaturando a cártula, como verdadeiro cheque, isto é, como ordem de pagamento à vista.

Nem há espaço nesta hipótese para se cogitar da modalidade de estelionato fundamental, pois os elementos integrantes deste tipo não se encontram presentes na conduta do agente.

2. O eventual pagamento dos valores à vítima, no estelionato básico, apenas abrandará a pena, não afastando a criminalidade do ato.

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime n° 67.536-1, de Curitiba, em que é apelante Vilmar Amaro (réu preso) e apelado o Ministério Público do Estado do Paraná.

Vilmar Amaro, qualificado nos autos, juntamente com José Carlos dos Santos, José Casal, Eunice Maria Costa dos Santos e Júlio José de Oliveira, foram denunciados e processados perante o MM. Juiz de Direito da 9ª Vara Criminal da Comarca de Curitiba, por violação, o primeiro, ao artigo 171, § 2°, inciso VI (1° fato); artigo 157, § 2°, incisos I e II (3° fato); artigo 171, caput (4° fato); artigo 180, caput (5° fato); e artigo 171 caput, e artigo 297 em liame com o artigo 69 e artigo 288 (6° fato); o segundo, ao artigo 157, § 2°, incisos I e II (3° fato); artigo 171, caput; artigo 297 combinado com o artigo 69; e por último, artigo 288 (6° fato); o terceiro, ao artigo 171, § 2°, inciso VI e artigo 171, caput, combinado com o artigo 297 e artigo 69, e ainda, artigo 288 (6° fato); a quarta, ao artigo 171, caput, em liame com os artigos 297 e 69, e artigo 288 (6° fato); e o quinto, ao artigo 171, caput e artigo 297, combinado com o artigo 69 e, artigo 288 (6° fato), todos do Código Penal, face o cometimento dos fatos minudentemente descritos na denúncia proemial (fls. 03/09)

A ação penal foi desmembrada em relação ao réu José Casal, por se encontrar em lugar ignorado conforme se denota do ordenatório encartado às fls. 223, deste caderno criminal.

Encerrada a instrução criminal, a denúncia foi julgada parcialmente procedente, absolvendo os réus Júlio José de Oliveira e Eunice Maria Costa dos Santos das acusações lhes irrogadas, com supedâneo no artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal; e, simultaneamente, condenando os réus José Carlos dos Anjos e Vilmar Amaro, o primeiro, nas sanções do artigo 171, caput, (por duas vezes – 6° fato), na forma continuada (artigo 71, caput)caput, por duas vezes (2° e 4° fatos), em concurso material (artigo 69) e no mesmo artigo 171, caput, por outras duas vezes ( 6° fato), em continuidade delitiva, e ainda, nas sanções do artigo 297, em concurso material (artigo 69), todos do Código Penal; absolvendo-os, com espeque no artigo 386, inciso VI, com relação às demais acusações descritas na peça acusatória vestibular.

De conseqüência, ao réu José Carlos dos Anjos foi imposta a pena definitiva de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e 23,3 dias-multa, no valor unitário mínimo, estabelecendo-se o regime inicial aberto para a expiação da reprimenda corporal, mediante condições.

E, ao réu Vilmar Amaro, a pena definitiva de 05 (cinco) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, além da pecuniária de 40,3 dias-multa, no valor unitário mínimo legal, fixando-se o regime inicial fechado para o cumprimento da pena reclusiva (fls. 402/413).

A r. decisão combatida, por outra face, transitou em julgado com relação aos réus absolvidos Júlio José de Oliveira e Eunice Maria Costa dos Santos (fls. 471 verso), bem como, em relação ao réu condenado José Carlos dos Anjos (fls. 416/417), o qual, inclusive, já se encontra cumprindo a reprimenda lhe imposta (fls. 419).

Todavia, o réu Vilmar Amaro, inconformado com a r. decisão condenatória, em termos tempestivos, manejou recurso de apelação, objetivando a reforma do decisum e protestando por apresentar as razões recursais, na instância superior (fls. 421 e 427).

Recebido o recurso (fls. 363), subiram os autos a esta Corte.

Nesta instância, foi regularmente processado o recurso, com a anotação das

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razões por parte do apelante – Vilmar Amaro, buscando, em resenha, unicamente a absolvição com relação aos crimes de estelionato (artigo 171 do Código Penal), na forma continuada (artigo 71 do Código Penal), ao argumento que os cheques foram emitidos pelo apelante com a expressa condição de pré-datados, razão pela qual, se constituem, apenas, promessa de pagamento, não configurando, portanto, o imputado crime de estelionato.

Ademais, combate, o rigor do apenamento e do regime impostos (fls. 437/442).

Contraminutado (fls. 450/456), sobreveio a manifestação da douta Procuradoria Geral de Justiça, opinando no sentido de ser conhecido e improvido o manejado recurso (fls. 463/465).

Convertido o julgamento em diligência (fls. 468/469) e restando esta cumprida, retornaram os autos a esta Corte, para o julgamento.

É, em essência, o relatório.

Conquanto a apelação, na hipótese vertente, possa devolver ao conhecimento desta Corte, toda a matéria decidida em primeira instância, em razão da petição de interposição do recurso não estabelecer qualquer restrição (fls. 427), cuidou o apelante, entretanto, de delimitar o inconformismo com as razões, atacando, unicamente, a condenação com relação aos crimes de estelionato, em concurso material, assim reconhecidos e descritos no segundo e quarto fatos da denúncia vestibular.

Portanto, no que se refere aos delitos outros – estelionato, na forma continuada (artigo 171, caput, em liame com o artigo 71, caput, ambos do Código Penal), e falsificação de documento público, em concurso material (artigo 297, em liame com o artigo 69, todos do Código Penal), descritos no sexto fato da denúncia inaugural, não houve pleito de reexame da r. decisão condenatória hostilizada.

Por força da conexão existente entre ações da competência desta Corte e do Tribunal de Alçada, é de se fixar a competência deste egrégio Tribunal de Justiça, à luz da regra ditada no artigo 104, da Constituição Estadual, por prorrogação.

E justamente dentro dos limites estabelecidos no inconformismo do apelante, abordando os autos, denota-se que a pretendida absolvição é cogitável, em parte.

Com efeito. No concernente ao segundo fato descrito na denúncia, observa-se que o réu, ora apelado, em 14 de julho de 1997, com o firme propósito de obter vantagem ilícita para si, com prejuízo alheio, adquiriu para si, aproximadamente R$ 810,00 (oitocentos e dez reais) em cartões de tele-sena, efetuando o pagamento mediante o cheque nº 0110139, conta corrente 2997563, agência 410, do Banco Real e que foi devolvido por insuficiência de fundos em poder do banco sacado.

A cártula, emitida pelo próprio acusado, ora apelante, refere-se à conta corrente 2997563, da agência 0415, da qual, era titular (fls. 86 – 1º volume).

E, como dela se observa, ostenta a expressão Bom 22-07, embora, emitida em 14.07.97 (fls. 86 – 1º volume).

A devolução do nominado cheque pela agência sacada, como se verifica, deu-se pelo motivo de nº 11, isto é, ...uma vez sem fundo , quando apresentado em 05 de agosto de 1997 (fls. 87 – 1º volume).

Inexiste, portanto, prova de que a conta corrente do nominado acusado estivesse encerrada, como enfatizado na r. decisão reprochada, para o efeito de caracterizar a figura delitiva cunhada no artigo 171, caput, do Código Penal, na qual restou condenado.

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Aliás, neste aspecto, nem o réu confessa tal circunstância (fls. 219 – 1º volume) e muito menos a própria vítima confirma esta ocorrência. Esta, como se vê, apenas assevera em juízo que recebeu o cheque do réu e que apresentado ao banco sacado, foi devolvido por falta de fundos e não em razão de conta corrente encerrada (fls. 279 – 2º volume).

Ora, é consabido que se tratando de cheque pós-datado, não se configura o crime do artigo 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal, porque a vítima conhecia, antecipadamente, a inexistência de fundos, no dia em que o recebeu, desnaturando a cártula, com verdadeiro cheque, isto é, como ordem de pagamento à vista.

O cheque emitido nestas circunstância, efetivamente, desnaturou-se, transformando-se em instrumento de garantia de dívida ou promessa de pagamento, não se configurando o crime definido no artigo 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal.

Nem há espaço nesta hipótese para se cogitar da modalidade de estelionato fundamental ou básico, pois os elementos integrantes deste tipo não se encontram presentes na conduta do agente.

Neste particular, portanto, o apelo procede, visto que a prova trazida aos autos demonstra, sem sombra de dúvida, que o fato segundo descrito na denúncia não constitui infração penal, impondo-se a absolvição com assento no disposto pelo artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

De outro giro, no respeitante ao quarto fato delituoso descrito na denúncia prefacial, a irresignação não merece ser recepcionada.

De fato. Neste caso, o crime que se apura, nos termos da denúncia, é o de estelionato básico ou fundamental, e não o da emissão do cheque pelo próprio correntista sem a necessária provisão de fundos.

Aqui, como bem descreve a peça acusatória inicial – quarto fato – o réu compareceu ao estabelecimento comercial da vítima Marcos Aurélio Chagas, vindo a adquirir para si, um motor para veículo Passat 1.6., pagando pelo mesmo a quantia de R$ 500,00 (quinhentos reais), mediante dois cheques no valor R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) cada e que foram apresentados como se fossem do próprio titular da conta.

Um cheque de nº 010608, da conta corrente 4703321, agência 722 do Banco Real e o outro, de nº 591373, da conta corrente nº 167094-8, agência 3041-4, do Banco do Brasil, ambos do correntista Carlos Alberto Tedeschi e que apresentados aos respectivos bancos sacados, foram devolvidos por se tratarem de cheques furtados (alínea 28).

Poder-se-ia argumentar na hipótese vertente que a perícia levada a efeito nos autos, conclui que os mencionados cheques não foram emitidos pelo réu (fls. 271/272).

Mas, esta circunstância, por si só, não impede o reconhecimento do estelionato na figura fundamental, por ser irrelevante.

Nesse sentido, aliás, o excelso Supremo Tribunal Federal já decidiu que:

Estelionato – Prova Pericial – Falsificação de Assinatura em Cheque – Utilização de Cártula Roubada e Falsificada.

Se a imputação consubstancia estelionato pela utilização de cheques roubado e falsificado por terceiro, é irrelevante a circunstância de a prova pericial haver se mostrado conclusiva quanto ao fato de a assinatura aposta não ser do acusado.

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O induzimento em erro prescinde da definição da autoria quanto à assinatura, sendo suficiente demonstração do que contido na denúncia, ou seja, de que o denunciado, embora sabedor da origem irregular do cheque, deu-o em pagamento de compra efetuada, afirmando ter recebido da titular da conta (STF – HC nº 69.079-3 – Rel. Min. Marco Aurélio – DJU de 10.04.92, pág. 4.799).

Da mesma forma, poder-se-ia argumentar, ainda, que o réu negou a autoria do delito na fase judicial, quando interrogado em juízo (fls. 219 – 1º volume).

Esta circunstância, entretanto, como enfatizada na r. decisão hostilizada, restou escoteira, sem qualquer respaldo probatório outro.

E, a prova coligida nos autos é no sentido oposto, demonstrando que o acusado foi ao comércio da vítima e fez a compra da mercadoria, pagando com dois cheques roubados.

Assim, a negativa da autoria não tem a menor consistência, visto que o réu foi reconhecido pela vítima e, ademais, chega a expender em sua defesa, o fato de haver pago os valores correspondentes aos mencionados cheques à vítima, antes da denúncia, pelo que, cogita da absolvição, sustentando que os cheques foram dados como promessa de pagamento, não constituindo a prática delitiva do artigo 171, do Código Penal.

Nem mesmo o sustentado pagamento dos mencionados cheques pelo acusado, cujo fato é admitido pela própria vítima em juízo (fls. 237 – 2º volume), tem o condão de descaracterizar a infração penal, por se tratar a hipótese presente de estelionato básico ou fundamental (artigo 171, caput, do Código Penal) e não de fraude no pagamento mediante cheque (artigo 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal).

O eventual pagamento dos valores à vítima, no estelionato básico, apenas abrandará a pena, não afastando a criminalidade do ato.

A reparação do prejuízo antes do recebimento da denúncia, por ato voluntário do agente, configurará arrependimento posterior (artigo 16, do Código Penal), autuando como causa especial de diminuição da pena; e, na eventualidade da reparação dar-se no curso da ação penal, após o recebimento da denúncia, atuará simplesmente como atenuante genérica (artigo 65, inciso III, letra b do Código Penal).

Aqui, há dúvida acerca de quando ocorreu o ressarcimento do dano, se antes ou depois da denúncia.

A Defesa do acusado, sem qualquer prova, sustenta que ocorreu antes do oferecimento da denúncia; enquanto que a vítima não sabe precisar com segurança a data do ressarcimento do dano, embora, afirme que mais tarde uma pessoa pagou o valor dos cheques para a sua mãe e que por isso, telefonou para a delegacia mas foi informado que não havia mais possibilidade de alterar a situação (fls. 237 – 1º volume).

Portanto, não ficou bem claro quem realmente ressarciu o prejuízo do ofendido, bem como, a data certa do ressarcimento.

A prova do ressarcimento do dano compete ao réu e não o fazendo, não há como admitir a diminuição especial da pena pela ocorrência do arrependimento posterior (artigo 16, do Código Penal), configurando-se, na hipótese presente, apenas, a atenuante genérica do artigo 65, inciso III, letra b, do Código Penal.

Porém, observando que o apenamento imposto ao réu com relação aos crimes de estelionato fundamental (artigo 171, caput, do Código Penal), em concurso material (artigo 69, do Código Penal), relativamente aos segundo e quarto fatos

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reportados na denúncia, foi fixado no mínimo para cada delito, isto é, em 01 (um) ano de reclusão para cada um, totalizando, assim, 02 (dois) anos de reclusão, além da pecuniária (fls. 402/413 – 2º volume), em razão da absolvição pelo fato segundo, com o provimento parcial deste recurso, deve restar apenas 01 (um) ano, além da pecuniária, não havendo lugar, aqui, para atuação da reconhecida atenuante genérica do artigo 65, inciso III, letra b, do Código Penal, com alusão ao quarto fato descrito na denúncia (artigo 171, caput, do Código Penal), devendo o apenamento permanecer na forma contida na r. decisão combatida, isto é, 01 (um) ano de reclusão, além da pecuniária, totalizando a pena, com a somatória das demais impostas a de 04 (quatro) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e 30,3 dias-multa, no valor unitário mínimo legal.

O regime fechado deve permanecer, por adequado.

Nessa conformidade:

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso interposto e dar-lhe parcial provimento, para o efeito de absolver o réu da prática do segundo fato descrito na denúncia inaugural (artigo 171, caput, do Código Penal), com a alteração do apenamento, no patamar explicitado no voto.

Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores Tadeu Costa, que o presidiu; Juiz Convocado Milani de Moura, Relator e Clotário Portugal Neto.

Curitiba, 22 de abril de 1999.

DES. TADEU COSTA

PRESIDENTE

JUIZ CONV. MILANI DE MOURA

RELATOR

53030211

Nº do Acórdão: 11409

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0076010-1

Comarca: Goioerê

Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal

Relator: Moacir Guimarães

Data do julgamento: 6/5/1999

Data da publicação: 24/5/1999

Decisão: Por unanimidade de votos, foi dado provimento parcial a ambos os recursos, para decretar a nulidade parcial da sentença tão somente, no que tange à aplicação da pena privativa de liberdade, por falta de adequada fundamentação, a fim de que, nesse asp

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade de votos, em dar provimento parcial a ambos os recursos, para decretar a nulidade parcial da sentença, tão somente, no que tange a aplicação da pena privativa de liberdade, por falta de adequada fundamentação, a fim de que, nesse aspecto, outra seja

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proferida, com a observância dos ditames legais. EMENTA: APELAÇÃO CRIME – HOMICÍDIO – JÚRI – CONDENAÇÃO – HOMICÍDIO PRIVILEGIADO – IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA, SEM APONTAR OS FUNDAMENTOS LEGAIS – RAZÕES TEMPESTIVAS – CONHECIMENTO – NÃO CONFORMISMO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – PROCEDÊNCIA PARCIAL – NULIDADE PARCIAL DA SENTENÇA. 1. A omissão dos fundamentos legais quando da interposição do apelo, pode ser suprida pela apresentação tempestiva das razões que apontem o alcance e os objetivos da pretensão recursal. 2. Decisão correta do Júri, ao repelir a tese da legítima defesa da honra e reconhecer o homicídio privilegiado em favor do réu. 3. A exacerbação na dosimetria da pena base sem a adequada justificação e a aplicação da minorante do § 1º, do artigo 121, do Código Penal, sem fundamentação ensejam a nulidade parcial da sentença, a fim de que, neste ponto, outra seja proferida, com observância dos ditames legais. 4. Apelos parcialmente providos.

Acórdão: APELAÇÃO CRIME N° 76.010-1, DE GOIOERÊ

APELANTES: EVANI VIEIRA DE SOUZA E O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

APELADOS: OS MESMOS

RELATOR: DES. MOACIR GUIMARÃES

APELAÇÃO CRIME – HOMICÍDIO – JÚRI – CONDENAÇÃO – HOMICÍDIO PRIVILEGIADO – IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA, SEM APONTAR OS FUNDAMENTOS LEGAIS – RAZÕES TEMPESTIVAS – CONHECIMENTO – NÃO CONFORMISMO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – PROCEDÊNCIA PARCIAL – NULIDADE PARCIAL DA SENTENÇA.

1. A omissão dos fundamentos legais quando da interposição do apelo, pode ser suprida pela apresentação tempestiva das razões que apontem o alcance e os objetivos da pretensão recursal.

2. Decisão correta do Júri, ao repelir a tese da legítima defesa da honra e reconhecer o homicídio privilegiado em favor do réu.

3. A exacerbação na dosimetria da pena base sem a adequada justificação e a aplicação da minorante do § 1º, do artigo 121, do Código Penal, sem fundamentação ensejam a nulidade parcial da sentença, a fim de que, neste ponto, outra seja proferida, com observância dos ditames legais.

4. Apelos parcialmente providos.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 76.010-1, de Goioerê, em que são apelantes Evani Vieira de Souza e o Ministério Público do Estado do Paraná e apelados os mesmos.

1. Evani Vieira de Souza foi denunciado, em 16 de fevereiro de 1989, perante o Juizo de Direito da Comarca de Goioerê, como incurso nas sanções do artigo 121, caput do Código Penal, porque:

No dia 22 de maio de 1988, cerca das 2:00 horas, o denunciado, ao chegar em sua residência, localizada à Rua Principal, s/nº, Distrito de Rancho Alegre, neste município e Comarca, por motivos não esclarecidos, livre e conscientemente, imbuído de animus necandi, utilizando-se de um revólver, calibre 38, não apreendido, efetuou vários disparos contra a vítima Jair Alves Magalhães, atingindo-a por diversas vezes, mais precisamente, quatro projéteis, razão de ter-lhe produzido os ferimentos descritos no laudo de fls. 13/verso, que foram a causa eficiente para a sua morte (fls. 3).

A denúncia foi recebida em 23 de fevereiro de 1989, seguindo-se os demais

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atos processuais.

Finda a instrução criminal, o Doutor Juiz a quo julgou procedente a denúncia, pronunciando o acusado como incurso nas sanções do artigo 121, caput, do Código Penal (fls. 96/100).

Submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, foi o réu condenado pelo homicídio consumado. Considerada a atenuante prevista no artigo 65, inciso III, d, do Código Penal, a pena base inicialmente fixada em sete anos de reclusão foi reduzida para seis anos e seis meses, a qual, todavia, foi diminuída de um terço, em razão da redução autorizada pelo § 1º, do artigo 121, quedando em definitivo, em quatro anos e quatro meses de reclusão, a ser cumprida, inicialmente, em regime semi-aberto.

Não resignado, interpôs o réu, por seu defensor, tempestivo recurso de apelação (fls. 160), objetivando com as razões de fls. 163/174, a redução da pena ao mínimo legal e fixação do regime aberto para o seu cumprimento; alternativamente sustenta que agiu ao amparo da excludente de ilicitude da legítima defesa da honra, razão pela qual deveria ter sido absolvido.

Não conformado, igualmente apela o Ministério Público, com fundamento no artigo 593, III, letras b e d, do Código de Processo Penal (fls. 161).

Através das razões deduzidas às fls. 185/192 alega o agente do parquet que o Conselho de Sentença decidiu contrariamente a prova dos autos, ao acatar a tese do homicídio privilegiado, uma vez que ficou evidenciado nos autos, não ter havido qualquer provocação da vítima para justificar a atitude do réu; alternativamente, sustenta que houve erro na aplicação da pena, eis que a diminuição do § 1º, do artigo 121, do Código Penal em um terço, foi estabelecida sem qualquer justificativa.

Contra-razoando o recurso da defesa, pugna o Ministério Público pelo não conhecimento do apelo e, no mérito, pelo seu improvimento (fls. 176/184).

Em contra-razões de fls. 194/199, manifesta-se a defesa pela improcedência do apelo ministerial.

Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça opina às fls. 208/213 pelo conhecimento e improvimento da apelação interposta pelo réu e, considerando que a decisão do Conselho de Sentença, acolhendo a tese da legítima defesa da honra, contrariou manifestamente a prova dos autos, pelo provimento do apelo do Ministério Público, para submeter-se o réu a novo Júri.

2. O apelo interposto pelo réu comporta conhecimento.

Ocorre que, conquanto o apelante não tenha indicado na petição de recurso, os fundamentos legais da irresignação, verifica-se que nas razões, apresentadas no prazo legal, encontram-se delineados o alcance e os objetivos da pretensão recursal, pelo que não se arma óbice ao conhecimento do apelo.

Esta Câmara Criminal, acompanhando o posicionamento de nossas Cortes Superiores, tem decidido que a omissão dos fundamentos legais do recurso, na petição ou termo de interposição, não impede o seu conhecimento, desde que identificáveis os permissivos nas razões que o instruem, se apresentadas tempestivamente. (Ap. C. 43.921-8, j. 13.6.96 – AC 8.810 – Ap. C. 36.404-1, j. 15.12.94 – AC 7.340 – RT 687/363).

Conhecido o recurso, nas razões, insiste a defesa em sustentar que a conduta do acusado está amparada na excludente de ilicitude da legítima defesa da honra, razão pela qual deveria ter sido absolvido.

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O conjunto de prova contido nos autos não aponta, contudo, para esta direção.

Na espécie, restou patenteado que o réu, ao encontrar sua esposa e a vítima juntos, de madrugada, em sua residência, suspeitando da fidelidade daquela, efetuou vários disparos contra o desafeto, os quais lhe causaram a morte.

Sobre a questão cumpre se transcreva as judiciosas ponderações da douta Procuradoria Geral de Justiça, no parecer de fls.:

Afora algumas opiniões isoladas, prevalece o entendimento de que a honra é atributo personalíssimo, o que impede seja maculada pela conduta desonrosa de outrem.

A chamada legítima defesa da honra tem sido constantemente invocada nos delitos passionais, em que o agente, supostamente traído, vem a executar sua companheira ou mesmo o terceiro de maneira brutal e covarde.

A aceitação da excludente, nesses casos, envolve um conceito equívoco, qual seja, o de que a honra de alguém possa ser ultrajada pelo comportamento de outrem, como se a atitude desonrosa de uma pessoa possa ser estendida a outra, que dessa forma não agiu. A honra está ínsita em cada um de nós e não nos outros, e uma eventual infidelidade da esposa não pode justificar, sob o prisma jurídico, o homicídio praticado pelo marido, contra ela ou contra o terceiro (fls. 212/213).

Nesse sentido, aliás, já se decidiu em hipótese análoga que: na pretensa legítima defesa da honra o que ocorre é o sacrifício do bem supremo – a vida – em face de meros preconceitos vigentes em algumas camadas sociais. Afinal, é patente que, no adultério perpetrado pela mulher, esta é quem se desonra, não o marido (RT 427/375).

Logo, tem-se como corretamente negada pelo Júri a ação delituosa sob um estado atual de defesa da honra.

Registre-se, outrossim, que não procede o apelo do Ministério Público, igualmente no que tange a alegação de decisão contrária à prova dos autos.

É cediço o entendimento jurisprudencial no sentido de que a decisão do Júri é, por força constitucional, soberana, e, como tal, só se admite anulá-la quando, baseada em prova nenhuma, este, ao apreciar a causa, desvia-se dos fatos apurados para impor solução sem apoio em elementos de convencimento idôneos (STF-RTJ 133/345).

Desse modo, somente pode ser considerada como afrontosa à prova dos autos a decisão completamente desvinculada do conjunto probatório.

Na espécie, a decisão do Júri, ao acolher a tese do homicídio privilegiado é coerente é respaldada nos elementos de convicção colhidos nos autos.

O réu, ao ser interrogado, tanto na polícia (fls. 11 e 12), quanto em plenário (fls. 146 e verso), esclareceu que, ...ao sair do baile, do qual sua esposa havia saído um pouco antes, dirigiu-se para sua casa e, ao chegar, deparou-se com sua mulher, que veio ao seu encontro na porta dos fundos da casa; a seguir o interrogado percebeu que logo atrás vinha um vulto, quando identificou que se tratava da pessoa da vítima, ou seja, Jair Alves Magalhães, que também vinha ao seu encontro; que nesse momento percebeu que estava sendo traído por sua mulher, momento em que perdeu o controle e, sacando de sua arma, desferiu tiros contra a vítima.

A esposa do acusado, ouvida apenas na fase extrajudicial (fls. 8 e verso), conquanto tenha negado qualquer envolvimento amoroso com a vítima, não

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desmente o fato de que encontrou-se com a mesma, de madrugada, nos fundos de sua residência, oportunidade em que ali apareceu o acusado e efetuou disparos contra o desafeto.

Inexistem testemunhas oculares do evento.

Ressalte-se que o corpo da vítima foi encontrado, bem próximo à residência do casal (fls. 31).

Diante de um tal quadro, é induvidoso que o acusado, em face da situação, sentiu-se injustamente provocado, reagindo imediatamente, e sob o domínio de violenta emoção.

Conclui-se, portanto, que a decisão dos senhores jurados, ao reconhecer o homicídio privilegiado, está ancorada em elementos de prova produzidas nos autos, razão pela qual é de ser mantida.

No que tange, porém, a pena privativa de liberdade aplicada ao réu, verifica-se, desde logo, que ambos os recursos merecem provimento parcial.

Ocorre que a majoração da pena base acima do mínimo legal (7 anos), sem a necessária justificação, frente a análise das circunstâncias judiciais tidas como favoráveis ao réu – contra o qual se insurge o acusado – , bem como, a incidência da minorante, do § 1º, do art. 121, do Código Penal, no grau máximo, sem qualquer motivação pelo Dr. Juiz Presidente – conforme sustenta o Ministério Público, ensejam o entendimento de que a decisão, nessa parte, é nula, por falta de fundamentação.

Na espécie, descuidou-se o Dr. Juiz Presidente, diante da análise das circunstâncias judiciais favoráveis ao réu, de esclarecer o alicerce para a exacerbação da pena base nos limites em que foi fixada.

Já proclamou o colendo STF:

Indispensável, sob pena de nulidade, a fixação da pena com apreciação e fundamentação das circunstâncias judiciais do art. 59 do C.P., sempre que a reprimenda for fixada acima do mínimo legal(RT 641/378).

Quanto a causa especial de diminuição, assevera com propriedade o Dr. Promotor de Justiça Inacio de Carvalho Neto, às fls. 189/192:

Com efeito, prevê o § 1º. do citado dispositivo a diminuição em quantum entre um sexto e um terço.

Como é cediço na doutrina e na jurisprudência, a escolha do quantum da diminuição deve ser feita com base nas próprias circunstâncias da causa especial, não se relacionando com as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal.

Neste sentido escrevemos em nosso "Aplicação da Pena":

É de se ressaltar que, quando o aumento ou a diminuição é variável (v.g., de um a dois terços, ou de um terço a metade), a determinação do quantum de aumento ou diminuição não é feita de acordo com os critérios do art. 59 do Código Penal, como entendeu Nelson Hungria:

Convém repetir que, no fixar a quantidade de aumento ou diminuição decorrente de agravantes ou atenuantes, isoladas ou em concurso, ou de causas de especial aumento ou diminuição variável dentro de determinados limites, os critérios guiadores são ainda os do art. 42, aplicável sempre que o juiz tenha de usar sua faculdade de arbítrio.

A determinação do quantum de aumento ou diminuição é aferida de acordo com os critérios relativos à própria causa de aumento ou diminuição. Assim, v.g.,

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na tentativa, a diminuição da pena será tanto maior quanto mais distante da consumação do crime tiver ficado o réu. No arrependimento posterior (art. 16 do Código Penal), a redução de um a dois terços deve ter em conta o transtorno causado à vítima pela perda do bem ou pelo prejuízo sofrido.

Bem por isso se afirma que o fato de a pena-base ter sido fixada no mínimo legal não acarreta, necessariamente, a fixação do aumento em seu nível mínimo, e vice-versa. Neste sentido a lição de Roberto Lyra:

A escolha de uma quantidade concreta entre o mínimo e o máximo é deixada ao juiz, não só nos casos em que deva fixar a pena-base sujeita a aumento ou diminuição. Pela mesma razão, o juiz não é obrigado a aplicar o aumento mínimo quando ao mínimo se atendeu na pena-base, nem a aplicar o aumento máximo, se atendeu ao máximo.

In casu, tem-se que aferir, para a fixação do quantum da diminuição, a relevância do valor moral ou a magnitude da emoção sentida pelo réu, bem como o nível de provocação da vítima.

Ora, se já entendemos que a circunstância sequer se caracterizou, como já acima expomos, podemos afirmar que, ainda que reconhecidos pelos jurados, estes fatores não são de molde a levar ao máximo a diminuição.

É certo que cabe ao Juiz Presidente fixar o quantum de diminuição. Entretanto, deve ele fazê-lo fundamentadamente, com base nos fatores enunciados.

É imperativo, portanto, sob pena de suprimir-se uma instância, que se decrete a nulidade parcial da sentença, tão somente, na parte relativa a aplicação da pena, por falta de fundamentação, a fim de que, neste ponto, outra seja proferida, com observância das formalidades legais.

Ante o exposto ACORDAM os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade de votos, em dar provimento parcial a ambos os recursos, para decretar a nulidade parcial da sentença, tão somente, no que tange a aplicação da pena privativa de liberdade, por falta de adequada fundamentação, a fim de que, nesse aspecto, outra seja proferida, com a observância dos ditames legais.

Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores Oto Sponholz, que o presidiu; Moacir Guimarães, Relator e Clotário Portugal Neto, Revisor.

Curitiba, 6 de maio de 1999.

DES. OTO SPONHOLZ

PRESIDENTE

DES. MOACIR GUIMARÃES

RELATOR.

53030727

Nº do Acórdão: 11623

Natureza: Criminal

Recurso: Ação Penal (Cam)

Número do Processo: 0061940-1

Comarca: Mandaguari

Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal

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Relator: Oto Sponholz

Data do julgamento: 26/3/1998

Data da publicação: 30/8/1999

Decisão: Por unanimidade de votos, foi recebida a denúncia.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, aglutinados em sua Primeira Câmara Criminal, por unanimidade de votos, em condenar o réu conforme imputação contida na exordial acusatória. Reconhecem, no entanto, a extinção da punibilidade pela incidência da prescrição retroativa conforme consignado. EMENTA: EX-PREFEITO MUNICIPAL – CRIME CAPITULADO NO ARTIGO 1º, INCISO I, DO DECRETO LEI Nº 201/67 – DESVIO DE VERBAS PÚBLICAS EM FAVOR DE TERCEIRO – AÇÕES TÍPICAS, ANTIJURÍDICAS E CULPÁVEIS DEVIDAMENTE COMPROVADAS – ELEMENTOS PROBATÓRIOS CONDUCENTES À CONDENAÇÃO – PRESCRIÇÃO RETROATIVA INCIDENTE – RECONHECIMENTO.

- Diante da pena aplicada, com fundamento nos artigos 109, inciso VI e 110, parágrafos 1º e 2º do Código Penal, declara-se a prescrição retroativa, reconhecendo, em conseqüência, extinta a punibilidade.Acórdão: AÇÃO PENAL Nº 61.940-1, DE MANDAGUARI.

AUTOR:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

RÉU:ALEXANDRE ELIAS NACIF.

RELATOR : DES. OTO LUIZ SPONHOLZ.

EX-PREFEITO MUNICIPAL – CRIME CAPITULADO NO ARTIGO 1º, INCISO I, DO DECRETO LEI Nº 201/67 – DESVIO DE VERBAS PÚBLICAS EM FAVOR DE TERCEIRO – AÇÕES TÍPICAS, ANTIJURÍDICAS E CULPÁVEIS DEVIDAMENTE COMPROVADAS – ELEMENTOS PROBATÓRIOS CONDUCENTES À CONDENAÇÃO – PRESCRIÇÃO RETROATIVA INCIDENTE – RECONHECIMENTO.

- Diante da pena aplicada, com fundamento nos artigos 109, inciso VI e 110, parágrafos 1º e 2º do Código Penal, declara-se a prescrição retroativa, reconhecendo, em conseqüência, extinta a punibilidade.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Ação Penal nº 61.940-1, de Mandaguari, em que é autor o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ e réu ALEXANDRE ELIAS NACIF.

I – EXPOSIÇÃO FÁTICA:

ALEXANDRE ELIAS NACIF foi denunciado com incurso nas sanções do artigo 1º, inciso I do Decreto Lei nº 201/67, porque , segundo a denúncia:

Consta do presente pedido de providências que em data de 11 de maio de 1995, o Município de Mandaguari, através do prefeito e ora denunciado Alexandre Elias Nacif, após procedimento licitatório, na modalidade carta convite (23/95), celebrou contrato com a empresa Manoel Pereira Martins Pré-Moldados, tendo como objeto a locação do imóvel situado na Av. das Indústrias, nº 310, Parque Industrial de Mandaguari, com área total de 7.052,00 metros, de propriedade desta última, para instalação física de uma fábrica de artefatos de cimento, pelo prazo de oito meses (cf. termo de contrato de locação de fls. 377/382).

Sucede, no entanto, que o denunciado, não obstante tenha, nos meses que se seguiram à celebração do contrato, ordenado despesas para o efetivo pagamento dos alugueres, conscientemente deixou de tomar as medidas necessárias para que a fábrica que se almejava instalar no local, tivesse ao menos entrado em operação, constituindo, assim, o dispêndio do numerário, verdadeiro desvio gracioso do

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dinheiro público.

Desta forma, o denunciado Alexandre Elias Nacif, como chefe do Executivo daquela urbe, superintendente, portanto, da arrecadação, guarda e aplicação da renda pública, onerou os cofres públicos do município de Mandaguari em quantia equivalente a R$ 7.683,73 (cf. certidão de fls. 428), desviando em proveito de terceiros do referido numerário, pois o arrendamento do imóvel as expensas do erário público municipal nenhum benefício trouxe para a população local, representando a despesa, flagrante desvio de sua finalidade precípua, qual seja o interesse público.

Notificado, deixou o acusado de oferecer resposta e esta Câmara Criminal recebeu a denúncia (acórdão de fls. 574-577).

Realizado o interrogatório (fls. 592-593), o acusado apresentou sua defesa prévia (fls. 598-599). Foram ouvidas as seis testemunhas de acusação e, após, foram inquiridas as duas testemunhas arroladas pela defesa, através de carta de ordem ao MM. Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Mandaguari.

Na fase do artigo 10 da Lei 8038/90, a acusação requereu que fossem requisitados os antecedentes do acusado junto às Varas de Execuções do Estado do Paraná, Instituto de Identificação e ao Cartório Criminal da Comarca de Mandaguari. A defesa não requereu a realização de nenhuma diligência.

Tendo sido deferido o pedido do autor, vieram aos autos as certidões de fls. 643-657.

Encerrada a instrução e ultrapassada a fase do artigo 10 da Lei 8038/90, a acusação e a defesa apresentaram alegações escritas. A primeira afirmou que os fatos típicos, inicialmente imputados ao acusado, estão devidamente comprovados, pedindo a sua condenação nas sanções do artigo 1º, inciso I, do Decreto Lei nº 201/67. A segunda, alegando que não há provas que autorizam a condenação do acusado e que houve a restituição do quantum desviado aos cofres do município, pleiteou a absolvição.

É a breve exposição.

II – VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO:

a – Preliminarmente, não assiste razão à defesa ao alegar que o Decreto Lei nº 201/67, que versa sobre a responsabilidade dos prefeitos e vereadores, estaria revogado em razão do advento da Lei nº 8429/92 que dispõe sobre a improbidade administrativa.

As leis revogadas pela Lei nº 8429/92 estão relacionadas expressamente no seu artigo 25, capítulo VIII das Disposições Finais, a saber: lei nº 3.164, de 1º/06/57, a Lei nº 3.502, de 21/12/58 e demais disposições em contrário.

Isto posto, por vislumbrar que referidas leis versam sobre matérias distintas e, que na época do cometimento do delito estava em vigor o Decreto Lei nº 201/67, assim como, ainda está nos dias atuais, deixo de acolher a tese da defesa.

b – Quanto ao mérito, o réu foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 1º, inciso I, do Decreto Lei nº 201/67, que assume conduta delituosa em:

São crimes de responsabilidade dos prefeitos municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos vereadores:

I – apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-las em proveito próprio ou alheio.

Os fatos descritos na denúncia submetem-se ao supra mencionado dispositivo

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legal.

Resta saber quanto a sua comprovação.

Com efeito, em que pese o esforço da defesa do réu, a condenação é imperativo legal, eis que configurado o crime em questão através de seus elementos típicos, antijurídicos e culpáveis.

A materialidade do delito é incontroversa, conforme consta dos documentos de fls. 376 (recibo de pagamento do aluguel do imóvel), fls. 377/380 (os documentos efetuados para o pagamento dos alugueres), os documentos de fls. 390/399 (o processo licitatório que selecionou a empresa contratada) e, o documento de fls. 381/389 (o contrato de locação do Município e a empresa Manoel Pereira Martins Pré-Moldados).

Desse modo, o conjunto probatório dos autos demonstram a existência da locação. Contudo, durante os 8 meses em que o referido imóvel restou locado, a fábrica ali instalada não foi reativada, não atingindo, assim, a finalidade pública pretendida.

É o ensinamento de HELY LOPES MEIRELLES:

Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser orientada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o mandato de que está investido, porque a comunidade não institui a Administração senão como meio de atingir o bem-estar social. Ilícito e imoral será todo o ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade. (in Direito Administrativo Brasileiro, 19ª edição, Ed. Malheiros, SP, 1994, pág. 81).

Caracterizou-se, assim, o desvio de verba em proveito de terceiro. Neste sentido, o depoimento das testemunhas de fls. 604, 6006, 608, 610, 612, 613, 617 e 619.

A autoria do crime também é certa. O próprio acusado, no seu interrogatório em Juízo confessou que contratou a mencionada empresa:

Porque lhe disseram naquela Secretaria Estadual que poderia celebrar o contrato de locação, acabou celebrando-o, locando o imóvel junto ao Sr. Manoel pelo valor mensal de cerca de R$ 2.000,00 ao mês, no entanto, a verba que seria destinada para aquisição dos materiais não foi liberada, porém os vocativos foram sendo pagos e até então o interrogado acreditava que a fábrica seria reativada e a Secretaria Estadual mandaria os recursos. (cf fls. 592).

Tentando justificar o desvio da verba pública o denunciado afirmou que somente realizou o contrato de locação porque iria celebrar um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado do Paraná, através do qual receberia o Município de Mandaguari recursos para a compra de materiais para a construção de meio-fio e bloquetes. Contudo, o referido convênio não foi celebrado e o imóvel continuou locado durante vários meses, gerando gastos ao erário público.

Importante ressaltar a redação do artigo 116 da Lei nº 8.883/94, caput, § 1º e seus comentários:

Aplicam-se as disposições desta lei, no que couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da Administração.

§ 1º – A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos órgãos ou entidades da Administração Pública depende de prévia aprovação de competente plano de

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trabalho proposta pela organização interessada, o qual deverá conter, no mínimo, as seguintes informações:

I – identificação do objetivo a ser executado;

II – metas a serem atingidas;

III – etapas ou fases de execução;

IV – plano de aplicação dos recursos financeiros;

V – cronograma de desembolso;

VI – previsão de início e fim da execução do objeto, bem assim da conclusão das etapas ou fases programadas;

VII – se o ajuste compreender obra ou serviço de engenharia, comprovação de que os recursos próprios para complementar a execução do objeto estão devidamente assegurados, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre a entidade ou órgão descentralizador.

§ 2º – Assinado o convênio, a entidade ou órgão repassador dará ciência do mesmo à Assembléia Legislativa ou à Câmara Municipal respectiva. (Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, MARÇAL JUSTEN FILHO, 4ª ed., Ed. Aide, 1997, págs. 523/524).

Depreende-se dos autos que não foram observados tais requisitos para a celebração do citado convênio, restando apenas uma expectativa por parte do então prefeito de Mandaguari em celebrá-lo, como se comprova na análise do documento de fls. 429 do processo. Não foi elaborado nenhum plano de trabalho proposto pelo executivo de Mandaguari informando as metas a serem atingidas, as etapas ou fases de execução, o plano de aplicação dos recursos financeiros, o cronograma de desembolso, etc., assim como, não foi juntado nenhum documento que revele a existência deste convênio.

Alega o denunciado que não houve o dolo (elemento subjetivo) em sua conduta e muito menos houve o desvio de verbas públicas em favor de terceiro, segundo se extrai do documento de fls. 622. Contudo, tanto as notas de empenho quanto os pagamentos dos alugueres do imóvel foram realizados em favor da pessoa jurídica de Manoel Ferreira Martins Pré-Moldados Ltda., conforme consta nos documentos de fls. 487/498.

Como Alexandre Elias Nacif tinha apenas uma expectativa de que iria celebrar um convênio com a Secretaria de Estado, não poderia ter se utilizado do patrimônio público para alugar um imóvel (fábrica de cimento) sem a devida finalidade social, restando evidente a existência do dolo. Assim, a conduta dolosa se verifica na vontade livre e consciente do ordenador da despesa em desatender a finalidade pública.

Neste sentido, é o entendimento de NELSON HUNGRIA:

Elemento subjetivo será o dolo genérico, ou seja, a vontade livre e consciente do agente no sentido de reter, para si ou para outrem, bens ou rendas públicas. Em caso de desvio, o dolo será específico, a saber: intenção do agente de tirar proveito para si, ou para terceiros. (Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial, Ed. Rev. dos Tribunais, 6ª Ed., pág 1930).

Deveria o acusado, como todo ato administrativo, ter aguardado a motivação para tal atitude, qual seria, a celebração do referido convênio. Assim, até a celebração do mesmo, não poderia o acusado contratar e pagar os alugueres de um imóvel que não teve utilidade pública. Verificando-se a existência do dolo na conduta do agente.

Page 37: Arrependimento Posterior

As testemunhas arroladas pela defesa declararam ter conhecimento da eventual existência de um convênio com a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Urbano, fato esse que teria motivado o contrato de locação e o desvio da verba pública, devem ser analisados com reservas. A testemunha Noel Pires Viana, em seu depoimento (fls. 619) informou o seguinte:

...que tinha conhecimento da existência de um convênio... e se recorda de quando o convênio celebrado entre o Município de Mandaguari e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado foi celebrado...

Contudo, referido convênio nunca foi celebrado, segundo atestou o próprio denunciado. É evidente a contradição de sua versão com a realidade fática.

Ressalte-se ainda que a testemunha Walter Domingos foi secretário municipal na administração do denunciado, devendo o seu depoimento ser analisado com ressalvas (cf fls. 617).

O acusado alegou em sua defesa que por haver, posteriormente, reparado o dano perante os cofres públicos, não constituiria crime sua conduta. Com efeito, a restituição de todo o valor subtraído do poder público não configura excludente de ilicitude, apenas atenua a pena.

ANTÔNIO TITO COSTA assim preconiza:

A reparação do dano, quer seja na apropriação, quer se trate de desvio, não tem o condão de excluir a imposição da pena. Poderá, conforme o caso, contribuir para atenuá-la, pois, ainda segundo a lição de Hungria, a ratio da sua incriminação (no peculato doloso) não desaparece com o ressarcimento ulterior do dano econômico.

O Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, ao examinar caso concreto, proclamou que não desfigura o peculato a posterior devolução, pelo agente ou por terceiro, dos bens subtraídos, desviados ou apropriados, posto que a norma incriminatória visa especialmente a salvaguarda, a fidelidade dos funcionários para com a administração pública, bem jurídico por ela tutelado. Acrescenta o julgado, de que foi relator o juiz Carvalho Pinto, que nem há argumentar-se com boa-fé ou erro de direito, para o efeito de pretender-se excluir a culpabilidade dos comportamentos incriminados, pois a indisponibilidade de bens públicos (a não ser em casos excepcionais, mediante competente autorização da Casas Legislativas), é princípio rudimentar, que a nenhum administrador é lícito ignorar. (Responsabilidade de Prefeitos e Vereadores, Editora Rev. dos Tribunais, SP, 1975, pág. 24)

Impossível falar, dessa forma, em ausência de dolo na conduta do réu. O entendimento jurisprudencial com propriedade ao caso em tela:

É indispensável que os prefeitos municipais se conscientizem de que o erário há de ser administrado com zelo e cuidado (TACRIMSP, Rel. Juiz Camargo Sampaio, JUTACRIM 32/186).

Desse modo entendo que existem provas suficientes à embasar a condenação do acusado nos termos da exordial acusatória.

Cotejando-se os aspectos salientados com as provas constantes dos autos, verifica-se a ocorrência do fato típico, antijurídico e culpável previsto no artigo 1º, inciso I, do Decreto Lei nº 201/67 em relação ao acusado Alexandre Elias Nacif.

Delineado o tipo penal, aplico-lhe a pena.

O crime de responsabilidade previsto no artigo 1º, do Decreto Lei nº 201/67, tem como pena cominada em abstrato 2 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão.

Page 38: Arrependimento Posterior

Observando-se as circunstâncias judiciais desse delito, com base no artigo 59 do Código Penal, tem-se que:

a) culpabilidade: É o grau de censura ou de reprovabilidade que pesa sobre o agente em função do delito praticado. Leva-se em conta suas condições pessoais, intensidade do dolo e grau da culpa. No caso dos autos, o acusado sabia estar lesando o erário público ao efetuar o contrato de locação e, mesmo assim, o imóvel permaneceu locado por 8 meses. Nesse passo, acresço de 6 (seis) meses a pena-base.

b) antecedentes: Dos autos se vê que o acusado é primário, nada desabonando sua conduta ante acta. Nesse passo, não há reflexo na pena-base.

c) conduta social: Nos autos nada consta a esse respeito. Nesse passo, não há reflexo na pena-base.

d) personalidade: Esse é um dado de difícil apuração, posto que diz respeito à índole, à maneira de agir e sentir, vale dizer, ao próprio caráter do agente. Nos autos nada consta a esse respeito. Nesse passo, inexiste qualquer reflexo na pena-base.

e) motivos do crime: É o estímulo primário da conduta. O acusado efetuou o contrato de locação – embora de forma irregular, como se viu com a empresa Manoel Ferreira Martins Pré-Moldados com o objetivo de reativar a fábrica de cimento e baixar os custos em obras públicas, vez que fabricariam blokerts e meio-fio. Nesse passo, diminuo de 6 (seis) meses a pena-base.

f) circunstâncias: O acusado agiu na expectativa da celebração de um futuro convênio com a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Urbano do Estado do Paraná. Contudo, em nada acresço, nesse passo, a pena-base.

g) conseqüências: O desvio de verba pública, em verdade, é elementar do tipo e a reparação do dano é atenuante. Nesse passo, não há reflexo sobre à pena-base.

h) comportamento da vítima: Não há como mensurar esse dado vez que a vítima em questão em nada contribuiu para a realização do evento criminoso. Isto porque, o sujeito passivo do delito é o Estado como titular do bem jurídico protegido e, mais especificamente, nestes crimes de responsabilidade dos prefeitos, é o Município. Assim, reflexo algum tem nesse passo a pena-base.

Dito isso, a pena-base queda-se em 2 (dois) anos de reclusão.

Ante a inexistência das circunstâncias legais (agravantes e atenuantes), em nada acrescento, aqui, à pena-base.

Quanto às circunstâncias especiais, elas merecem maior análise. Não há nos autos causas especiais de aumento mas sim, causas de diminuição da pena. Consta dos autos a ocorrência da restituição total do valor em que o erário público foi lesado, conforme documento de fls. 622. Nesse caso, verificou-se a reparação espontânea do dano, incidindo assim o arrependimento posterior disposto no artigo 16 do Código Penal, ou seja, a causa especial de diminuição da pena. Desse modo, diminuo de 2/3 (dois terços) a pena-base, tendo em vista a reparação integral do dano cometido e o arrependimento posterior ocorrido antes do oferecimento da denúncia.

Assim, a pena definitiva queda-se em 8 (oito) meses de reclusão.

Impõe-se, contudo, reconhecer a extinção da punibilidade, via prescrição retroativa. Com efeito, a pena aplicada, conjugando-se as normas dos artigos 110, § § 1º e 2º e, 109, inciso VI, todos do Código Penal, prescreve em 2 anos. Desde o

Page 39: Arrependimento Posterior

cometimento dos fatos (maio/dezembro de 1995) até o recebimento da denúncia (26/03/1998 – fls. 577) o prazo em questão fluiu, razão pela qual decreta-se a extinção da punibilidade. Como se trata de prescrição da pretensão punitiva, desnecessário outras considerações.

III – DECISÃO

Pelas razões expostas é que ACORDAM os Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, aglutinados em sua Primeira Câmara Criminal, por unanimidade de votos, em condenar o réu conforme imputação contida na exordial acusatória. Reconhecem, no entanto, a extinção da punibilidade pela incidência da prescrição retroativa conforme consignado.

Participaram da sessão e acompanharam o voto do Relator os Excelentíssimos Senhores Desembargadores TADEU COSTA e MOACIR GUIMARÃES.

Curitiba, 12 de agosto de 1999.

Des. OTO LUIZ SPONHOLZ

Presidente e Relator

53032504

Nº do Acórdão: 11684

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0077027-0

Comarca: Curitiba

Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal

Relator: Milani de Moura

Data do julgamento: 26/8/1999

Data da publicação: 27/9/1999

Decisão: Por unanimidade de votos, foi dado provimento parcial ao recurso.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Excelentíssimos Senhores, Desembargadores e Juiz Convocado, integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto. EMENTA: APELAÇÃO CRIME – PECULATO-FURTO – DECISÃO CONDENATÓRIA – APELO PERSEGUIDO A ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE AUSÊNCIA DE PROVAS QUE POSSAM INCRIMINAR O ACUSADO – PLEITO ALTERNATIVO OBJETIVANDO O RECONHECIMENTO DA MINORANTE ESPECIAL DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR – PROVA EFICIENTE E CAPAZ DE LASTREAR O LANÇADO DECRETO CONDENATÓRIO – RECONHECIMENTO E APLICABILIDADE DA REGRA DISPOSTA NO ARTIGO 16, DO CÓDIGO PENAL SUBSIDIARIAMENTE NA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1.- Restando demonstrado que o réu subtraiu, para si, os toca-fitas, valendo-se da oportunidade que lhe proporcionou a qualidade de policial em serviço, configura-se o crime de peculato-furto, modalidade cunhada no parágrafo 2º, do artigo 303, do Código Penal Militar. 2.- Tendo o réu devolvido, voluntariamente, o bem subtraído, em sua totalidade, antes do oferecimento da denúncia e, não tendo sido a subtração cometida com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, é de ser lhe estendido a mercê do arrependimento posterior.

Page 40: Arrependimento Posterior

Acórdão: APELANTE:VALCIR WIMMER.

APELADO:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

RELATOR:Juiz Conv. Doutor MILANI DE MOURA.

APELAÇÃO CRIME – PECULATO-FURTO – DECISÃO CONDENATÓRIA – APELO PERSEGUIDO A ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE AUSÊNCIA DE PROVAS QUE POSSAM INCRIMINAR O ACUSADO – PLEITO ALTERNATIVO OBJETIVANDO O RECONHECIMENTO DA MINORANTE ESPECIAL DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR – PROVA EFICIENTE E CAPAZ DE LASTREAR O LANÇADO DECRETO CONDENATÓRIO – RECONHECIMENTO E APLICABILIDADE DA REGRA DISPOSTA NO ARTIGO 16, DO CÓDIGO PENAL SUBSIDIARIAMENTE NA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1.- Restando demonstrado que o réu subtraiu, para si, os toca-fitas, valendo-se da oportunidade que lhe proporcionou a qualidade de policial em serviço, configura-se o crime de peculato-furto, modalidade cunhada no parágrafo 2º, do artigo 303, do Código Penal Militar.

2.- Tendo o réu devolvido, voluntariamente, o bem subtraído, em sua totalidade, antes do oferecimento da denúncia e, não tendo sido a subtração cometida com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, é de ser lhe estendido a mercê do arrependimento posterior.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 77.027-0, de Curitiba – Vara de Auditoria da Justiça Militar, em que é apelante – Valcir Wimmer e apelado – o Ministério Público do Estado do Paraná.

I – Valcir Wimmer, qualificado nos autos, foi denunciado e processado perante o MM. Juízo de Direito da Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual, por violação ao artigo 303, parágrafo 2º, em liame com o artigo 70, inciso II, letras g e l, todos do Código Penal Militar, face o cometimento dos fatos minudentemente descritos na denúncia vestibular (fls. 02/03 – 1º vol.).

Encerrada a instrução criminal, o réu restou condenado nas sanções do artigo 303, parágrafo 2º, combinado com o artigo 70, inciso II, letra l, todos do Código Penal Militar, ao cumprimento da pena de 03 (três) anos de reclusão, em regime aberto, pelo mesmo prazo, mediante condições (fls. 196/201).

Inconformado, em termos tempestivos, o réu manejou recurso de apelação, perseguindo a absolvição ao argumento de ausência de provas que possam incriminá-lo; e, alternativamente, busca o reconhecimento da minorante especial do arrependimento posterior, modalidade cunhada no artigo 16, do Código Penal e com aplicabilidade subsidiária na legislação penal militar (fls. 204 e 207/210).

Recebido o recurso (fls. 205 verso), foi contraminutado (fls. 211/218), subindo os autos a esta Corte.

Nesta instância, sobreveio a manifestação da douta Procuradoria Geral de Justiça, opinando pelo conhecimento e parcial provimento do recurso interposto, tão somente no que se refere ao reconhecimento e aplicabilidade da minorante especial do arrependimento posterior, modalidade prevista no artigo 16, do Código Penal, com reflexo no apenamento (fls. 228/235).

É, em essência, o relatório.

II. A respeitável decisão hostilizada está inteiramente ajustada aos elementos probatórios existentes nestes autos e o desate condenatório é mesmo de rigor.

Pois, emerge dos autos que em 20 de janeiro de 1.994, durante uma

Page 41: Arrependimento Posterior

perseguição policial em Guaratuba, os ocupantes de um veículo Monza furtado o teriam abandonado, deixando no seu interior quatro toca-fitas. O réu, ora apelante, teria subtraído para si, os mencionados toca-fitas e, depois, devolvido ao Delegado de Polícia daquela comarca.

O policial militar – Hélio Reis dos Santos que juntamente com o réu participou da prisão do elemento que furtou o aludido veículo Monza, foi enfático em Juízo ao confirmar que o acusado lhe confessou dois dias depois dos fatos, que realmente havia pego os toca-fitas do interior do Monza e entregue ao Tenente Muler (fls. 156).

O Tenente Nelson Francisco Müller Júnior realça que soube por informações prestadas pelo Delegado de Polícia de Guaratuba que haviam desaparecidos alguns toca-fitas e a suspeita era de que o policial que atendera o caso poderia ter se apropriado desses toca-fitas.

Diante de tal informação, assevera o nominado Tenente que realizou uma reunião com os policiais militares, tendo o réu confessado que havia subtraído os toca-fitas, quando então ordenou que os mesmos fossem devolvidos diretamente na Delegacia, no que o réu concordou (fls. 169).

Se tanto não bastasse, a entrega dos toca-fitas pelo réu ao Delegado de Guaratuba, foi presenciada pelo Tenente-coronel da PMPR – Marino Burille que estava naquele exato momento, visitando o aludido Delegado.

Conta o nominado Tenente-coronel que o réu ali chegou e entregou para a mulher do Delegado, uma caixa de papelão.

Esclarece, mais, que o Delegado lhe informou que o réu havia se apropriado daqueles aparelhos numa ação policial de grande repercussão, quando ocorreram duas mortes de marginais (fls. 168).

Portanto, dúvida não subsiste quanto ao fato de haver o réu, ora apelante, subtraído os quatro toca-fitas e, depois, tê-los devolvido espontaneamente ao Delegado de Guaratuba.

Pois, como se viu, a prova neste aspecto é indiscutível.

E, o seu atuar, caracteriza, como capitulado, a modalidade criminosa de peculato-furto, cunhada no artigo 303, parágrafo 2º, do Código Penal Militar, pois, subtraiu, para si, valendo-se da facilidade que lhe proporcionou a qualidade de militar em serviço para a consecução da subtração.

O fato de o bem subtraído pertencer ao patrimônio particular não retira a possibilidade da configuração do delito, posto que, o que importa é a subtração do bem em razão do cargo, como ocorreu na espécie em exame.

De sorte que, não há negar-se que a respeitável Decisão reprochada bem apreciou a espécie, sendo o desate condenatório de rigor e, por isso, merece subsistir, salvo no que se refere ao apenamento.

Neste particular, a respeitável decisão hostilizada merece reparo quanto a não aplicabilidade da minorante especial relativa ao arrependimento posterior, figura contemplada no artigo 16, do Código Penal.

De fato. Como consabido, as regras gerais do Código Penal aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso, como prescreve o artigo 12, do Código Penal.

E, aqui, força é reconhecer, que o Código Penal Militar não dispõe de qualquer comando que inviabilize a aplicabilidade da nominada minorante especial do arrependimento posterior (artigo 16, do Código Penal), o que leva a concluir, possa

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a mesma atuar no caso em exame.

Aliás, o Supremo Tribunal Federal, como asseverado pelo ilustre Promotor de Justiça de primeiro grau, já reconheceu a aplicabilidade da figura do arrependimento posterior ao âmbito da legislação penal militar (STF – HC. Nº 71.782-9, DJU 30.06.95, pág. 20.517).

No caso em exame, afeiçoa-se-nos presentes os requisitos exigidos ao reconhecimento da mercê.

Como já enfatizado, o réu foi aconselhado a devolver os toca-fitas pelo Tenente Nelson Francisco Müller Júnior e concordou (fls. 169). Posteriormente e de forma voluntária devolveu os toca-fitas, entregando-os ao Delegado de Guaratuba.

Sabe-se que o arrependimento posterior pode ocorrer em face de sugestão ou conselho de terceiro. Mesmo assim, consistindo em ato de vontade do sujeito, este o aproveita (TACrim-SP vol. 91/352 e 94/129; e RJTJSP vol. 100/490).

Por outro giro, a devolução dos objetos deu-se antes da denúncia. A subtração foi cometida sem violência ou grave ameaça.

Assim, o arrependimento posterior deve ser reconhecido e atuar na mensuração penal.

Considerando, portanto, o algoritmo levado a efeito pelo Juízo monocrático, com espeque no artigo 69, do Código Penal Militar, é de ser mantida a pena-base fixada em 03 (três) anos de reclusão, bem como a compensação feita com as atenuantes e agravantes reconhecidas, cuja pena, face ao reconhecimento da causa especial do arrependimento posterior, modalidade cunhada no artigo 16, do Código Penal, diminuo de 2/3 (dois terços), isto é, de 02 (dois) anos de reclusão, restando, assim, a pena de 01 (um) ano de reclusão, que torno definitiva, na ausência de atenuantes ou agravantes outras e de demais causas especiais de diminuição ou aumento.

Esclareça-se, por necessário que a diminuição da pena face ao reconhecimento da minorante especial do arrependimento posterior deu-se no quantum máximo permitido, em razão da devolução total dos objetos subtraídos, ocorrendo assim, a integral reparação do dano.

A pena corporal imposta ao réu, ora apelante, deve ser cumprida em regime aberto. Todavia, por preencher os requisitos contidos no artigo 84, e incisos I e II, do Código Penal Militar, estendo-lhe os benefícios da suspensão condicional da pena, pelo prazo de 02 (dois) anos e mediante as condições legais que deverão ser estipuladas, por delegação, pelo ilustre Juízo da Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual, por ocasião da realização da audiência admonitória.

III. Pelas razões expostas, ACORDAM os Excelentíssimos Senhores, Desembargadores e Juiz Convocado, integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto.

Participou da sessão e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargado Moacir Guimarães

Curitiba, 26 de agosto de 1.999.

Desembargador OTO SPONHOLZ

Presidente e Revisor

Doutor MILANI DE MOURA

Juiz Convocado – Relator

Page 43: Arrependimento Posterior

53035677

Nº do Acórdão: 11868

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0081923-6

Comarca: Loanda

Órgão Julgador: 2ª Câmara Criminal

Relator: Telmo Cherem

Data do julgamento: 16/12/1999

Data da publicação: 7/2/2000

Decisão: Por unanimidade de votos, foi negado provimento a ambos os apelos.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO aos recursos. EMENTA: CRIME FUNCIONAL – ART. 312, DO CÓDIGO PENAL. I – RESPOSTA PRÉVIA – ADVOGADO NOMEADO. Se, verificada a circunstância prevista no parágrafo único do art. 514, do Código de Processo Penal, nomeou-se defensor dativo para o oferecimento da resposta preliminar, apresentada mediante trabalho zeloso e tecnicamente bem elaborado, inexiste nulidade por falta de notificação pessoal do funcionário para a prática do ato. II – PECULATO – CARACTERIZAÇÃO. Tipifica o crime de peculato a conduta do funcionário auxiliar da Justiça que retém, em proveito próprio, por vários meses, importâncias recebidas para pagamento de custas processuais e multa penal. III – PENA-BASE – FIXAÇÃO COMEDIDA E FUNDAMENTADA. O fato de ser o réu primário e de bons antecedentes não conduz, por si só, à imposição de pena-base no mínimo legal, visto não serem apenas estes fatores que determinam a composição da resposta penal. IV – ARREPENDIMENTO POSTERIOR – "QUANTUM" DE REDUÇÃO DA PENA. Sendo relativamente pronto o arrependimento a que alude o art. 16, do Código Penal, justifica-se a redução da pena em "quantum" intermediário. V – PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA – INADMISSIBILIDADE. Pena privativa de liberdade inferior a quatro anos não justifica a perda da função pública se o crime foi cometido antes do advento da Lei nº 9.268/96, que alterou a redação do art. 92, do Código Penal. RECURSOS DO RÉU E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DESPROVIDOS.Acórdão: APELAÇÃO CRIME Nº 81923-6, DE LOANDA, VARA ÚNICA.

APELANTES – 1) MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

2) DIÓGENES NUNES DE SOUZA

APELADOS – OS MESMOS

RELATOR – DES. TELMO CHEREM

CRIME FUNCIONAL – ART. 312, DO CÓDIGO PENAL.

I – RESPOSTA PRÉVIA – ADVOGADO NOMEADO. Se, verificada a circunstância prevista no parágrafo único do art. 514, do Código de Processo Penal, nomeou-se defensor dativo para o oferecimento da resposta preliminar, apresentada mediante trabalho zeloso e tecnicamente bem elaborado, inexiste nulidade por falta de notificação pessoal do funcionário para a prática do ato.

II – PECULATO – CARACTERIZAÇÃO. Tipifica o crime de peculato a conduta do funcionário auxiliar da Justiça que retém, em proveito próprio, por vários meses,

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importâncias recebidas para pagamento de custas processuais e multa penal.

III – PENA-BASE – FIXAÇÃO COMEDIDA E FUNDAMENTADA. O fato de ser o réu primário e de bons antecedentes não conduz, por si só, à imposição de pena-base no mínimo legal, visto não serem apenas estes fatores que determinam a composição da resposta penal.

IV – ARREPENDIMENTO POSTERIOR – "QUANTUM" DE REDUÇÃO DA PENA. Sendo relativamente pronto o arrependimento a que alude o art. 16, do Código Penal, justifica-se a redução da pena em "quantum" intermediário.

V – PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA – INADMISSIBILIDADE. Pena privativa de liberdade inferior a quatro anos não justifica a perda da função pública se o crime foi cometido antes do advento da Lei nº 9.268/96, que alterou a redação do art. 92, do Código Penal.

RECURSOS DO RÉU E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DESPROVIDOS.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CRIME Nº 81923-6, DE LOANDA, VARA ÚNICA, em que são APELANTES: 1) MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ; 2) DIÓGENES NUNES DE SOUZA, sendo APELADOS: OS MESMOS.

1. Diógenes Nunes de Souza foi denunciado perante o Juízo Criminal da comarca de Loanda como incurso nos arts. 321, caput, e 312, c/c art. 69, do Código Penal, pelos seguintes fatos:

"No dia 21 de dezembro de 1994, em horário não precisado, a vítima Nelson Mangas Ferreira compareceu perante o Cartório Criminal desta comarca de Loanda, no Fórum, atendendo intimação nos autos de Carta Precatória nº 175/94, deste juízo, oriunda da comarca de Alto Paraná – PR, para iniciar dar cumprimento a uma das condições do regime aberto (comparecer pessoal e mensalmente no juízo dando conta de seu domicílio e ocupação) e efetuar o pagamento da pena de 100 dias-multa, no valor de 1/30 avos cada dia-multa e custas processuais, face a condenação sofrida no juízo de Alto Paraná, pela prática de cinco crimes de furtos qualificados em continuidade delitiva.

No Cartório Criminal a referida vítima foi recepcionada pelo denunciado Diógenes Nunes de Souza, serventuário da Justiça, o qual lhe informou que deveria efetuar o pagamento da pena de multa de uma só vez.

Como não possuía condições financeiras de efetuar o pagamento de uma só vez, a vítima informou o fato ao denunciado, o qual lhe disse para conseguir R$60,00 (sessenta reais) e retornar ao Cartório.

No dia 23 de dezembro de 1994, a vítima retornou ao Fórum desta comarca, com os R$60,00 e entregou ao denunciado.

O denunciado Diógenes Nunes de Souza, após se apropriar dos R$60,00, se aproveitando das facilidades da qualidade de funcionário público, com vontade livre e consciente (dolosamente), não hesitou em patrocinar interesse privado lícito perante o Poder Judiciário (administração pública 'lato senso'), elaborando petição em nome de Nelson Mangas Ferreira, requerendo o parcelamento do pagamento da pena de multa e custas processuais em seis parcelas iguais, dirigido ao Excelentíssimo Juiz de Direito da Comarca de Alto Paraná, datado de 30 de dezembro de 1994 e assinado por Nelson (fls. 29).

Elaborado o pedido o denunciado entregou-o a Nelson que colocou no Correio.

Em 3 de fevereiro de 1995, o MM. Juiz de Alto Paraná deferiu o pagamento da pena de multa e custas processuais, que somavam R$341,00 (trezentos e quarenta e um reais) em 6 (seis) parcelas (fls. 32).

Page 45: Arrependimento Posterior

Na seqüência, Nelson foi informado por Diógenes a efetuar o pagamento da pena de multa e custas em 6 parcelas de R$60,00 (sessenta reais).

Assim, nos dias 22 de fevereiro, 20 de março, 20 de abril, 23 de maio e 28 de junho do ano de 1995, a vítima Nelson compareceu no Cartório Criminal desta comarca e sempre foi atendido pelo denunciado Diógenes, entregando-lhe em cada mês, o valor de R$ 60,00 (sessenta reais), em dinheiro, para pagamento parcelado da pena de multa e custas processuais.

O denunciado Diógenes nos dias citados, de posse do dinheiro, aproveitando-se da qualidade de funcionário público, com vontade livre e consciente (conduta dolosa), reiteradamente se apropriou, em proveito próprio, das parcelas de R$60,00, deixando de realizar mensalmente o devido recolhimento aos cofres públicos.

Quando dos pagamentos, a vítima pedia a Diógenes o recibo correspondente, mas este se negava em fornecer e informava que o recibo seria entregue após o pagamento da última parcela.

No dia 24 de julho de 1995, quando a vítima foi efetuar o último pagamento de R$60,00, ela foi atendida pelo funcionário Pedro Languer Champam, face o denunciado estar de férias. O serventuário Pedro analisando os autos de Carta Precatória informou a vítima que nada constava sobre os pagamentos efetuados, descobrindo-se assim todos os ilícitos praticados pelo denunciado.

Vendo-se acuado, o denunciado procurando minimizar as conseqüências administrativas e penais de suas condutas efetuou na comarca de Alto Paraná, o pagamento de R$ 300,00 (trezentos reais), referente a pena de multa imposta a ora vítima, Nelson.

A vítima, por fim, efetuou o pagamento de R$41,49 reais, quitando a pena de multa e custas.

No total, o denunciado se apropriou de R$360,00 (trezentos e sessenta reais). Sessenta reais antes do parcelamento da pena de multa e R$300,00 (trezentos reais) após o deferimento do pagamento parcelado, causando prejuízo patrimonial à vítima e ao erário público e desmoralização ao Poder Judiciário."

Ao despachar a denúncia, o Dr. Juiz nomeou advogado para apresentar a resposta preliminar de que trata o art. 514, do CPP. Recebida a inicial acusatória, o réu foi citado e interrogado, e, oferecida a defesa prévia, foram inquiridas as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, seguindo-se as alegações finais.

Sobreveio, então, decisão reconhecendo a extinção da punibilidade do réu quanto ao crime do art. 321, do CP, e condenando-o, pelo crime do art. 312, do CP, à pena de 01 (um) ano e 01 (um) mês de reclusão, em regime aberto, mais multa, substituída a reprimenda corporal por uma pena pecuniária e uma restritiva de direitos (f. 332/351).

Inconformados, recorrem o réu e o Ministério Público.

O primeiro suscita, preliminarmente, a nulidade ab initio da ação penal, ao argumento de que não teve a oportunidade de apresentar a resposta preliminar pessoalmente, sendo-lhe indevidamente nomeado defensor dativo, quando deveria ter sido notificado, via precatória, para praticar o ato, uma vez que seu paradeiro era conhecido. Sustenta, ainda, que a sua conduta foi atípica, porquanto não teve a intenção de apropriar-se do dinheiro que ficou sob sua guarda, impondo-se, por isso, a sua absolvição ou, quando não, ao menos a redução da excessiva pena-base (dois anos e dois meses de reclusão) que lhe foi infligida.

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O Ministério Público, por sua vez, objetou o "quantum" da pena, dizendo-o insuficiente para o crime. Insurgiu-se ainda contra o percentual de redução à conta do art. 16, do CP, pedindo, aqui, a redução pelo mínimo previsto em lei. Cumulativamente, almeja, como conseqüência da condenação, decreto da perda do cargo público, argumentando que o crime foi cometido com violação de dever para com a Administração Pública e a pena superou um ano de reclusão.

Contra-arrazoados os recursos, a d. Procuradoria Geral da Justiça manifestou-se pelo desprovimento de ambos.

2. O apelo do réu não procede.

2.1. Preliminarmente, suscita o recorrente a nulidade do feito, ao argumento de que a falta de sua notificação pessoal para apresentar a resposta preliminar acarretou-lhe prejuízo, cerceando a sua defesa.

Verifica-se que ele exercia sua função pública na comarca de Loanda e, transferido para Curitiba, sobreveio a presente acusação. Ofertada a denúncia quando já não estava na comarca, o Dr. Juiz nomeou-lhe advogado dativo para apresentar, em seu nome, a resposta preliminar à acusação.

Esclarece o parágrafo único do art. 514, do CPP, que, "se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar".

Tem-se, então, que o Magistrado cumpriu exatamente o que determina a lei. Ao contrário do alegado pelo recorrente, prejuízo algum adveio da providência adotada pelo Juízo, certo que a resposta preliminar foi apresentada por advogado diligente, que empreendeu trabalho zeloso e tecnicamente bem elaborado.

Cerceamento de defesa, por outro lado, não houve: a resposta preliminar em casos tais presta-se para que acusações levianas, abusivas, desprovidas de amparo sejam repelidas pelo Judiciário, mediante a sempre profícua colaboração técnica de advogado que fale em nome do denunciado. Tal propósito, no caso, foi observado a contento – direito a ampla defesa, ademais, não se subtraiu ao réu, até porque ele o exerceu durante a instrução criminal, depois de instalado o contraditório.

A objeção pode fazer sentido "de lege ferenda", mas não "de lege lata", uma vez que a lei processual penal, como referido, é expressa ao preceituar que se o acusado "se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar".

A propósito, enfatizando que é desse modo que se deve proceder em casos tais, MIRABETE lembra que não se admite sequer a expedição de carta precatória para o fim da resposta preliminar quando o acusado residir fora da jurisdição do juiz a quem se tenha apresentado a denúncia ("Processo Penal", 7ª ed., Atlas, SP, 1997, p. 551), como ocorreu no caso dos autos.

A jurisprudência não destoa dessa trilha, como se pode ver do julgado colacionado no parecer do Ministério Público de segundo grau:

"A notificação para apresentação da resposta escrita preliminar, a que alude o art. 514, do CPP, nos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, através de precatória, é desconhecida em nosso Direito Processual, não se justificando, de forma alguma, sua utilização, em face da expressa e taxativa imposição da lei no sentido de que aquela defesa será sempre apresentada por defensor designado pela autoridade judiciária sempre que desconhecida a residência do notificando ou, mesmo conhecida, estiver ela localizada fora da jurisdição do juiz processante. Diz a lei, com verbo no imperativo, que, em casos tais, 'ser-lhe-á nomeado defensor, a

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quem caberá apresentar a resposta preliminar' (parágrafo único do mencionado artigo)". (RT 609/295).

Não se configura, pois, a nulidade argüida, inexistindo qualquer vício a comprometer a higidez do processo.

2.2 No mérito, melhor sorte não colhe o recorrente.

O seu desiderato de absolvição não pode ser atendido, uma vez que totalmente dissociada da prova a alegação de inexistência de dolo na apropriação dos valores que chegaram às suas mãos por conta da função que exercia na Serventia de Loanda.

Por meses a fio – seis, ao todo -, o apelante, como funcionário do Cartório Criminal daquela comarca, recebeu de Nelson Mangas Ferreira importâncias em dinheiro para fazer frente a um parcelamento de multa penal mais custas, em face de Carta Precatória criminal originária de Alto Paraná; ao invés de depositar, em conta vinculada ao Juízo, os valores que lhe foram entregues, tomou-os para si, até que tudo foi descoberto pelo titular do Cartório, quando veio à tona a irregularidade cometida.

Alega o apelante, agora, que não agiu com dolo de apropriação dos valores aludidos, tendo recebido as parcelas em dinheiro, guardando-as – durante seis meses-, para restitui-las mais tarde, quando o total do devido por Nelson fosse saldado.

A versão apresentada mostra-se, por si, muito pouco crível, certo que o comportamento, pouco ortodoxo para um funcionário público, faz divisar, nele, um crime de peculato incontestável.

Com efeito, não há como aceitar que um funcionário público receba, em razão do ofício, valores em dinheiro e os retenha durante seis meses sem adotar o procedimento devido, para, só depois de detectado o fato por seu superior hierárquico, devolver o "quantum", simplesmente argumentando, então, que não tinha dolo de apropriação.

Afora isso, cabe ponderar que a retenção do dinheiro pelo recorrente foi sintomática, notadamente quando se toma em conta o que relatou o Titular do Cartório onde os fatos ocorreram, esclarecendo que o réu passava, à época, por dificuldades financeiras e que era constrangedora a quantidade de cobradores a procurá-lo no Fórum ...

A jurisprudência, em casos tais, tem proclamado:

"A utilização, ainda que temporária, para proveito próprio, de dinheiro público, de que se tem a guarda, bem como o empréstimo desse dinheiro a si mesmo ou a outrem, são fatos que configuram o crime de peculato." (RT 366/65).

"A retenção de dinheiro por largo lapso temporal, descumprindo ordem judicial para recolher o numerário em estabelecimento bancário, tipifica peculato, pela apropriação da pecúnia de que tinha o réu posse em razão do cargo e com proveito pessoal." (RT 638/318).

"Comete o crime de peculato em continuidade delitiva o serventuário da Justiça que, em substituição ao tesoureiro judicial, se apropria de custas processuais de dois processos ou mais, ainda que venha a restitui-las posteriormente." (RT 736/679).

Inegável, portanto, que o crime, in casu, restou caracterizado.

2.3. Não procede, do mesmo modo, a súplica do recorrente para redução da pena.

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Ao crime pelo qual foi ele condenado é cominada abstratamente pena que varia de 02 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão, mais multa. No caso, a pena-base restou fixada em 02 (dois) anos e 02 (dois) meses de reclusão, reduzida, na seqüência, pela metade, em face da incidência da minorante do art. 16, do Código Penal; vale dizer, a pena definitiva, contra a qual se insurge o apelante, quedou em 01 (um) ano e 01 (um) mês de reclusão, observado o regime aberto, mais multa.

Argumenta ele que não havia motivo para a exacerbação da pena-base para além do mínimo legal, pois é primário, de bons antecedentes, com boa conduta ...

Análise da fundamentação enunciada no "decisum" mostra ter-se reconhecido que a culpabilidade do réu foi acentuada – e, de fato, o foi, na medida em que reiterou condutas censuráveis ao longo de seis meses, expondo o Poder Judiciário e demonstrando, com isso, muito pouco apreço pela função que exercia, circunstância, cabalmente evidenciada pela sentença. Isso, a toda evidência, é mais do que suficiente para justificar o acréscimo, quase insignificante, aliás, para além do mínimo legal na pena-base.

Ademais, ser o réu primário e de bons antecedentes não lhe assegura o direito a uma pena no mínimo legal, pois outros fatores devem ser considerados para que se alcance, no caso concreto, a reprovação adequada.

Nas palavras do Min. MOREIRA ALVES, "a primariedade do réu não impede que o Juiz fixe a pena acima do mínimo legal com base nos critérios a que alude o caput do artigo 59 do Código Penal" (STF – HC 69910/SP, 1ª Turma, DJU 02.04.93, p. 5620).

Pondere-se, ademais, como bem consignado no parecer da d. Procuradoria Geral da Justiça, que se a pena-base foi fixada pouco acima do mínimo legal cominado ao delito, a redução à conta da minorante do art. 16, do Código Penal, foi alentada, favorecendo sobremaneira o recorrente.

A sua irresignação, portanto, não procede.

3. Por sua vez, o recurso manejado pelo Ministério Público também não comporta acolhida.

É que a insurgência contra o "quantum" da pena irrogada ao réu não tem suporte no material probatório: o peculato por ele praticado não apresenta peculiaridade que mereça levar reprimenda para muito além do mínimo legal; apropriou-se, é verdade, de valores ao longo de meses, por isso mesmo foi-lhe infligida a sanção com acréscimo. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que o incriminado é primário, registra bons antecedentes e teve sua conduta abonada por pessoas da mais alta respeitabilidade – vários Juízes e Promotores de Justiça -, que não vacilaram em atestar que ele, por vários anos, foi bom servidor da Justiça e mostrou-se, por longo período da vida, pessoa honesta e de credibilidade.

Também a redução da pena em face da minorante do art. 16, do Código Penal, foi bem arbitrada, pois assim que os fatos foram descobertos o réu tratou de ressarcir os prejuízos que causou, fazendo-o voluntariamente e por completo.

Como se sabe, reconhecido o arrependimento posterior, "o percentual de redução a ser adotado varia em função da maior ou menor presteza do agente na efetiva reparação" (RT 727/532), e, no caso, as apropriações, ocorridas entre os meses de dezembro de 1994 e junho de 1995, foram objeto de ressarcimento no mês de julho de 1995.

Portanto, se a reparação não foi pronta, não se pode dizer que foi excessivamente demorada, justificando-se a redução da pena em percentual

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médio, como o fez a sentença.

Desmerece agasalho, no mesmo passo, a pretensão recursal de perda da função pública.

O crime praticado pelo réu, conforme se viu, aconteceu entre dezembro de 1994 e junho de 1995, quando exigia o art. 92, do Código Penal, para que houvesse a perda do cargo público como decorrência da condenação, cominação de pena superior a quatro anos; a pena do réu, repita-se, é de 01 (um) ano e 01 (um) mês de reclusão – a alteração legislativa que reduziu o quantum de pena a um ano para a perda do cargo público sobreveio em 1º de abril de 1996, pela Lei nº 9.268.

Como lembra ROMEU DE ALMEIDA SALLES JÚNIOR, "a alteração trouxe imposição mais rigorosa, visto que, pela Lei nº 7.209/84, tal efeito só se aplicava quando o quantum da condenação por crimes funcionais fosse superior a quatro anos. Por ser norma mais severa, portanto prejudicial aos interesses do agente, não tem força retroativa." ("Código Penal Interpretado", Saraiva, SP, 1996, p. 201).

Desse modo, em face do disposto no art. 5º, XL, da Constituição Federal, inviável se mostra o pedido contido no recurso do Parquet, dado que o réu, por crime anterior à lei mais severa, foi condenado a "quantum" inferior a quatro anos de reclusão.

Ante o exposto:

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO aos recursos.

Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores NUNES DO NASCIMENTO (Presidente) e CARLOS HOFFMANN.

Curitiba, 16 de dezembro de 1999.

TELMO CHEREM – Relator

53037762

Nº do Acórdão: 12045

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0083253-7

Comarca: Terra Roxa

Órgão Julgador: 2ª Câmara Criminal

Relator: Nunes do Nascimento

Data do julgamento: 9/3/2000

Data da publicação: 27/3/2000

Decisão: Por unanimidade de votos, foi dado parcial provimento ao apelo.

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade, em dar provimento, em parte, à apelação para desclassificar a imputação de falsificação de documento equiparado a público (cheque) para estelionato, procedendo-se a adequação da pena aplicada, nos termos do voto do relator. EMENTA: APELAÇÃO CRIME – FALSIFICAÇÃO DE CHEQUE FURTADO – CARACTERIZAÇÃO DE

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ESTELIONATO E NÃO DO "FALSUM", ESTE APENAS MEIO PARA ATINGIR O FIM COLIMADO – DESCLASSIFICAÇÃO – CRIME CONTINUADO – PROVIMENTO PARCIAL DO APELO – Se o "falsum" foi o crime meio utilizado para desfalcar o patrimônio da vítima por meio de cheque falsificado, impõe-se a desclassificação, por isso que o delito único praticado, nestas condições, é o estelionato, impondo-se o reconhecimento de crime continuado, consideradas as condições de tempo, lugar e modo de execução. Acórdão: APELAÇÃO CRIME N° 83.253-7, DE TERRA ROXA

APELANTE :DALVA DOS SANTOS

APELADO :MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

RELATOR :DES. NUNES DO NASCIMENTO

APELAÇÃO CRIME FALSIFICAÇÃO DE CHEQUE FURTADO CARACTERIZAÇÃO DE ESTELIONATO E NÃO DO FALSUM, ESTE APENAS MEIO PARA ATINGIR O FIM COLIMADO DESCLASSIFICAÇÃO CRIME CONTINUADO PROVIMENTO PARCIAL DO APELO Se o falsum foi o crime meio utilizado para desfalcar o patrimônio da vítima por meio de cheque falsificado, impõe-se a desclassificação, por isso que o delito único praticado, nestas condições, é o estelionato, impondo-se o reconhecimento de crime continuado, consideradas as condições de tempo, lugar e modo de execução.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime n° 83.253-7, de Terra Roxa, em que é apelante Dalva dos Santos e apelado Ministério Público do Estado do Paraná:

ACORDAM os Desembargadores da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à unanimidade, em dar provimento, em parte, à apelação para desclassificar a imputação de falsificação de documento equiparado a público (cheque) para estelionato, procedendo-se a adequação da pena aplicada, nos termos do voto do relator.

Integra o presente o relatório lançado nos autos, verbis:

Dalva dos Santos foi denunciada como incursa nas sanções dos artigos 297, parágrafo 2º, e 171, caput, ambos combinados com o artigo 69, todos do Código Penal, pela prática dos seguintes fatos delituosos assim descritos na denúncia, verbis:

I- Narram os inclusos autos de inquérito policial que no dia 09 de junho de 1995, em local e horário não precisados, mas sendo nesta cidade e comarca, DALVA DOS SANTOS falsificou, em parte, documento equiparado a público, consistente no preenchimento do cheque número 292.538, da conta número 013.700-6, do Banco Cocecrer-Pr, tendo como titular Joaquim José da Silva, conforme positivado no laudo de exame grafotécnico acostado a fls.83/85.

Segundo se apurou, a denunciada, ciente da origem espúria da cártula – eis que a ela não pertencia, completou os espaços em branco do referido título de crédito, escrevendo nele a quantia a ser paga R$ 74,00 (setenta e quatro reais) e o local e a data da emissão Palotina, 09 de junho de 1995 e, em seguida, lançou a assinatura do titular da conta Joaquim da Silva como se ele fosse.

Tal título de crédito que era produto de roubo posteriormente foi utilizado para a prática de estelionato por um indivíduo não identificado, circunstância que permitiu que a apreensão do documento.

II- Narram os inclusos autos de inquérito policial que no dia 10 de junho de 1995, no período noturno, no interior do clube da Sociedade Beneficiente Recreativa Esportiva Comercial (SBREC), nesta cidade e comarca, DALVA DOS SANTOS obteve, para si, mediante fraude consistente na apresentação de cheque

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falso e roubado, vantagem ilícita no valor de R$ 62,00 (sessenta e dois reais) em prejuízo de Rubens Rodrigues e de Paulo Costa Oliveira, após induzir e manter em erro este último ofendido.

Segundo se apurou, a denunciada, com o firme propósito de lesar o patrimônio alheio em benefício próprio, compareceu no referido clube, onde se realizava um baile.

Ao chegar na portaria, solicitou duas entradas no valor de R$ 4,00 (quatro reais) cada e entregou, em pagamento, o cheque número 292.540, da conta 13.700-6, do Banco Cocecrer-Pr, preenchido no valor de R$ 62,00 (sessenta e dois reais), tendo como titular a pessoa de José Joaquim da Silva.

Ato contínuo, recebeu, após ludibriar a vítima com a apresentação do referido documento, o troco no valor de R$ 58,00 (cinqüenta e oito reais).

Ao ser apresentado ao sacado, o cheque foi devolvido por ser produto de roubo.

E, no curso das investigações, apurou-se que a denunciada foi a responsável pelo preenchimento da cártula, estando ciente, portanto, de sua origem espúria.

Recebida a denúncia (fls.104 vº) a ré foi citada (fls. 107 verso) e interrogada (fls.108), oferecendo defesa prévia às fls. 111/112.

Durante a instrução, foram ouvidas seis testemunhas arroladas pela acusação (fls.128,132/136 3 153) e três apontadas pela defesa (fls.141/143).

Na fase diligencial as partes nada requereram.

Colhidas as alegações finais da acusação (fls.156/164) e da defesa (fls.165/168), sobreveio a sentença de fls. 170 usque 182, que condenou a ré nos termos da exordial, à pena de 04 (quatro) anos de reclusão e 80 (oitenta) dias-multa, em regime inicial semi-aberto, a ser cumprido conforme o artigo 35 do Código Penal.

Inconformada, apelou a defesa pleiteando a absolvição ou, no mínimo, aplicação da atenuante genérica do artigo 16 do Código Penal, estabelecendo-se a reprimenda pelo mínimo legal, a ser cumprida em regime aberto, alegando que: a) as provas testemunhais são favoráveis à acusada, não podendo ensejar uma condenação; b) inexiste o crime de estelionato no caso em tela, uma vez que o dano foi imediatamente ressarcido, não causando nenhum prejuízo à vítima; c) o laudo de exame grafotécnico não é prova suficiente para prolação de sentença condenatória, pois pode estar equivocado, face à contradição do material colhido às fls. 92/96 em relação àquele constante nos cheques de fls. 90 e 91.

O agente ministerial de primeiro grau contra- arrazoou às fls. 198/204.

A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo provimento parcial da apelação a fim de que, prevalecendo a condenação e o regime semi-aberto de cumprimento da pena, seja desclassificada a inicial imputação de falsum em concurso material com estelionato, para esta última modalidade delitiva, aplicando-se à espécie a regra do crime continuado (fls. 213/ 228).

Posto isto:

A insurgência vinga em parte.

Ao termo de regular processo, Dalva dos Santos foi condenada, à pena de 04 (quatro) anos de reclusão e 80 (oitenta) dias-multa, por violação do artigo do artigo 297, parágrafo 2º, e do artigo 171, caput, combinados com o artigo 69, todos do Código Penal, sentença da qual ora apela pedindo a absolvição ou, alternativamente, a redução da pena ao mínimo legal, com a aplicação do disposto no artigo 16 do Código Penal, pleiteando ainda o cumprimento da reprimenda em

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regime aberto.

Convém frisar, desde logo, que o pedido de absolvição da apelante, com base na negativa da autoria das falsificações dos 02 (dois) cheques, afigura-se de todo inviável por afrontar sólida prova coligida, mormente a pericial, uma vez que o laudo de exame grafotécnico afirma conclusivamente que ela foi quem preencheu os cheques falsificados, tudo a demonstrar a insubsistência das evasivas da apelante.

Demais disso, testemunhas presenciaram o momento em que a apelante entregou o cheque falsificado, para pagar o ingresso no baile e receber o troco de R$ 58,00 na bilheteria do clube.

É bem verdade que, procurada por um dos diretores do referido clube, a apelante não se negou a pagar o valor do cheque, não sendo possível, contudo, precisar a data desse pagamento.

Desta forma, tem-se que a ré falsificou duas folhas de cheque provenientes do mesmo talonário, que fora retirado de seu possuidor em assalto praticado na cidade Palotina meses antes.

Numa das contrafações, o cheque no valor de R$ 74,00 foi utilizado no comércio por terceiro não identificado, sendo que, com relação a este fato, a apelante foi denunciada e condenada por violação do artigo do artigo 297, parágrafo 2º, do Código Penal, ou seja falsificação de documento equiparado a público, no caso título ao portador (cheque).

Com referência ao segundo cheque, no valor de R$ 62,00, a própria denunciada além de preenchê-lo, descontou-o na bilheteria de um clube que promovia um baile, recebendo troco, como sobredito. Quanto a este segundo fato, a apelante foi denunciada e condenada pela prática de estelionato, por entender o julgador monocrático que, neste caso, sendo este o crime fim, absorvido restou o crime meio, isto é, dizer, o falsum.

A tese alternativa da defesa, de absorção do falsum pelo estelionato foi rebatida na sentença apelada, ao asseverar o prolator que tal se deu em relação a um dos cheques, isto é, aquele que a ré mesma procurou passar na bilheteria do baile, o mesmo não se podendo afirmar com referência ao outro cheque, pois o estelionato praticado por meio desse último documento o foi por terceiro não identificado e não pela ré, no que acompanhou a capitulação da denúncia.

Todavia, tal solução se reveste de força e artifício, em descompasso com o verdadeiro desiderato da agente e, também, com o contido no bojo dos autos, ao ensejar o reconhecimento de 02 (dois) estelionatos e não a identificação de um falsum e de um estelionato, em concurso material.

Nesse passo, acompanha-se a Procuradoria Geral de Justiça que, em agudo parecer, assim opinou:

Em verdade, no primeiro episódio, apesar de não identificada a pessoa que fez uso na Comarca de Palotina do título de crédito falsificado, o comportamento da recorrente foi voltado para a concretização de estelionato, em co-autoria, não permitindo as provas que fosse responsabilizada em crime mais grave, como o foi no delito de falsum.

A pessoa que utilizou o referido cheque era pessoa de seu relacionamento, sendo certo que sua atitude estava voltada para a obtenção de vantagem ilícita através de meio fraudulento, consistente na falsificação daquele cheque.

Não fosse essa a sua intenção, e não existiria a falsificação que deu oportunidade ao primeiro evento descrito na exordial acusatória, quando o

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executor do delito (pessoa não identificada) obteve vantagem ilícita com prejuízo de comerciante daquela cidade.

Foge da lógica e da razão que ela tenha falsificado o cheque circunstância comprovada nos autos e repassado à terceira pessoa desconhecida, sem saber o destino que teria o título de crédito.

Sua participação foi no mínimo com dolo eventual, e por isso que sua condenação na prática de estelionato, em co-autoria, mostrava-se imperiosa, e não no crime de falsum, como admitido na sentença atacada.

O parecerista ilustrou seu pronunciamento com julgado que se amolda como luva à espécie, verbis:

Quem contribui na formação e circulação de cheque falsificado a partir da folha em branco proveniente de talonário alheio que se apurou constituir produto de furto, ou entregando tal folha em branco ao parceiro que, mais tarde, a passou ao lesado, ou preenchendo e assinando, a pedido deste último comparsa, age, pelo menos, com dolo eventual, pois consente na previsível superveniência de indevida vantagem econômica em prejuízo do tomador, com uso de documento público contrafeito (TACRSP RT 725/590).

Cumpre registrar que nada empece que o Tribunal desclassifique a infração, dando ao fato definição jurídica diversa daquela constante da sentença, desde que a pena não venha a ser agravada. Confira-se:

Emendatio libelli no Tribunal TACRSP: Em 2ª Instância, nada impede que se dê nova definição jurídica ao fato, desde que não se aumente a pena, face ao art. 617 do CPP (RJDTACRIM 26/105)Apud Julio Fabbrini Mirabete, in Código de Processo Penal Interpretado, Atlas, 5ª ed., 1997, p. 790.

Nessa conformidade, ante a consumação estampada nos autos de 02 (dois) estelionatos, é de meridiana clareza que se impõem o reconhecimento do crime continuado, em razão da subseqüência das datas e pelo liame determinado pela semelhança de circunstâncias (condições de tempo, lugar e modo de execução).

Por outro lado, não é possível acolher a alegação da defesa de que a agente reparou o dano antes do recebimento da denúncia, em um dos crimes, almejando o benefício da causa especial de diminuição de pena do arrependimento posterior, de que cuida o artigo 16 do Código Penal, tendo em vista que a apelante não logrou produzir prova, como lhe impendia, da anterioridade da satisfação do prejuízo.

Tampouco, se há de cogitar do pleiteado início do cumprimento da pena em regime aberto, por isso que o fato de ser a agente reincidente, impede de forma absoluta a concessão desse favor legal, a teor da expressa vedação contida no artigo 33, parágrafos 2º e 3º do Código Penal.

De tal sorte, passa-se a proceder a adequação da pena à nova definição jurídica adotada pelo voto, em que quedou a apelante condenada pela prática de 02 (dois) crimes de estelionato, com a agravante da reincidência, em continuidade delitiva.

Por isso que adequadamente valoradas e bem fundamentadas, insta manter as disposições da sentença relativas ao crime de estelionato (item 3, b, fls. 177/178), em que foi procedido o exame das circunstâncias judiciais e das circunstâncias legais (primeira e segunda fase do critério trifásico previsto no artigo 68 do Código Penal), que aplicavam à apelante, até essa etapa, a pena de 01 (hum) ano e 06 (seis) meses de reclusão e 40 (quarenta) dias-multa, aduzindo-se tão-somente que esse quantum corresponde a cada um dos 02 (dois) estelionatos praticados.

Ante a ocorrência da continuidade delitiva, aplica-se a pena de um só dos

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crimes já que idênticas, aumentando-a de 1/6 (um sexto), com base no artigo 71 do Código Penal, elevando-se-a portanto para 01 (hum) ano e 09 (nove) meses de reclusão e 46 (quarenta e seis) dias-multa, que se torna definitiva ante a ausência de outras circunstâncias modificativas.

Mantêm-se incólumes os demais termos e disposições pertinentes da sentença apelada, inclusive regime de cumprimento da pena, incabível qualquer substituição ou o sursis, por ser reincidente a apelante.

Eis por que a câmara deu parcial provimento ao recurso, apenas para desclassificar a imputação de falsificação de documento equiparado a público (cheque) para estelionato, nos termos do dispositivo e dosimetria deste acórdão.

Curitiba, 09 de março de 2000.

DES. NUNES DO NASCIMENTO

Presidente e Relator

Estiveram presentes e acompanharam o voto do Excelentíssimo Senhor Desembargador Relator, os Excelentíssimos Senhores Desembargadores TROTTA TELLES e CARLOS HOFFMANN.

53052547

Nº do Acórdão: 13336

Natureza: Criminal

Recurso: Apelação Crime

Número do Processo: 0068176-9

Comarca: Curitiba

Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal

Relator: Milani de Moura

Data do julgamento: 24/5/2001

Data da publicação: 18/6/2001

Decisão: Unânime, julgado extinto a punibilidade de Leonel Davi Santos Amaral e dado provimento aos recursos c/ relação aos demais acusados, ao efeito de reduzir-lhes o apenamento e,simultaneamente, reconhece a extinção da punibilidade de Ogier Thadeu Junior

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os senhores Desembargadores e o Juiz Convocado, integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, por unanimidade de votos, em julgar extinta a punibilidade do apelante Leonel Davi Santos Amaral, face o reconhecimento da prescrição retroativa, com prejuízo do exame do mérito recursal; e dar parcial provimento aos recursos dos apelantes Ogier Thadeo Júnior e José Schlichting Neto, ao efeito de reduzir o apenamento, em razão do reconhecimento da causa especial do arrependimento posterior e, simultaneamente, reconhecer, a extinção da punibilidade de ambos, pela operada prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa, o fazendo, com fulcro no art. 107, inciso IV – primeira figura, em liame com os arts. 109, V, 110, § 1º, 114, 117, incisos I e IV, todos do Código Penal e art. 61, do Código de Processo Penal. EMENTA: APELAÇÃO CRIME – PECULATO, USO DE DOCUMENTO FALSO E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – SENTENÇA CONDENATÓRIA – APELOS DE DOIS DOS RÉUS BUSCANDO EM SEDE DE PRELIMINAR A NULIDADE DO PROCESSO AO ARGUMENTO DE NULIDADE DO DECISÓRIO POR FALTA DE

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OBSERVAÇÃO NA MENSURAÇÃO DA PENA DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO CONTIDA NO ARTIGO 16, DO CÓDIGO PENAL E CERCEIO DE DEFESA EM RAZÃO DO INDEFERIMENTO DA REALIZAÇÃO DE PERÍCIA TÉCNICA E FALTA DE CORPO DE DELITO – PRELIMINAR DE UM DOS RÉUS ALMEJANDO O RECONHECIMENTO E DECLARAÇÃO DA PRESCRIÇÃO, NA FORMA RETROATIVA, COM RELAÇÃO AO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO – NO MÉRITO TODOS OS APELANTES PERSEGUEM A ABSOLVIÇÃO – PRELIMINARES AFASTADAS, EXCETO A RELATIVA AO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO RETROATIVA EM RELAÇÃO A UM DOS APELANTES, REFERENTEMENTE AO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO – DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DE UM DOS APELANTES COM PREJUÍZO AO EXAME DE MÉRITO DO RECURSO INTERPOSTO – FARTO CONJUNTO PROBATÓRIO QUE CONDUZ AO RECONHECIMENTO DA CULPABILIDADE DE DOIS DOS APELANTES – DECRETO CONDENATÓRIO CALCADO EM PROVA IRREFUTÁVEL – MANUTENÇÃO – ADMISSIBILIDADE DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DA PENA FACE O ARREPENDIMENTO POSTERIOR – REPARAÇÃO DO DANO – VOLUNTARIEDADE – REDUÇÃO DO APENAMENTO – RECONHECIMENTO E DECLARAÇÃO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE POR OPERADA A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA NA FORMA RETROATIVA – RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.Acórdão: APELAÇÃO CRIME N.º 68.176-9, DE CURITIBA 5ª VARA CRIMINAL.

APELANTES:1.JOSÉ SCHLICHTING NETO

2.LEONEL DAVI SANTOS AMARAL

3. OGIER THADEO JUNIOR.

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DO PARANÁ.

RELATOR: JUIZ CONV. MILANI DE MOURA.

APELAÇÃO CRIME PECULATO, USO DE DOCUMENTO FALSO E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO SENTENÇA CONDENATÓRIA APELOS DE DOIS DOS RÉUS BUSCANDO EM SEDE DE PRELIMINAR A NULIDADE DO PROCESSO AO ARGUMENTO DE NULIDADE DO DECISÓRIO POR FALTA DE OBSERVAÇÃO NA MENSURAÇÃO DA PENA DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO CONTIDA NO ARTIGO 16, DO CÓDIGO PENAL E CERCEIO DE DEFESA EM RAZÃO DO INDEFERIMENTO DA REALIZAÇÃO DE PERÍCIA TÉCNICA E FALTA DE CORPO DE DELITO PRELIMINAR DE UM DOS RÉUS ALMEJANDO O RECONHECIMENTO E DECLARAÇÃO DA PRESCRIÇÃO, NA FORMA RETROATIVA, COM RELAÇÃO AO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO NO MÉRITO TODOS OS APELANTES PERSEGUEM A ABSOLVIÇÃO PRELIMINARES AFASTADAS, EXCETO A RELATIVA AO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO RETROATIVA EM RELAÇÃO A UM DOS APELANTES, REFERENTEMENTE AO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DE UM DOS APELANTES COM PREJUÍZO AO EXAME DE MÉRITO DO RECURSO INTERPOSTO -FARTO CONJUNTO PROBATÓRIO QUE CONDUZ AO RECONHECIMENTO DA CULPABILIDADE DE DOIS DOS APELANTES DECRETO CONDENATÓRIO CALCADO EM PROVA IRREFUTÁVEL MANUTENÇÃO ADMISSIBILIDADE DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DA PENA FACE O ARREPENDIMENTO POSTERIOR REPARAÇÃO DO DANO VOLUNTARIEDADE REDUÇÃO DO APENAMENTO RECONHECIMENTO E DECLARAÇÃO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE POR OPERADA A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA NA FORMA RETROATIVA RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 68176-9, de Curitiba 5ª Vara Criminal, em que são apelantes José Schlichting Neto, Leonel Davi

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Santos Amaral e Ogier Thadeo Junior e apelado o Ministério Público do Estado do Paraná.

O representante do Ministério Público ofereceu denúncia contra Ogier Thadeo Junior, José Schlichting Neto e Kátia Margareth Guiraud, como incursos nas sanções dos artigos 297, 304 e 312, c.c arts. 29, 70 e 71, todos do Código Penal, Leonel Davi Santos Amaral, como incurso nas sanções dos arts. 297, 304 e 312, c.c arts. 29, 69, 70 e 71, todos do mesmo "Codex", Rosely Gomes Kazakevitch, como incursa nas sanções dos arts. 297, 304 e 312, c.c arts. 29, 69 e 70, do mesmo Diploma Legal e José Francisco Quaresma Soares da Silva, como incurso nas sanções do art. 297, c.c art. 29, da mesma Lei Substantiva, pela prática dos seguintes fatos delituosos, assim narrados na exordial acusatória:

"O denunciado Leonel Davi Santos Amaral, na qualidade de diretor administrativo e o denunciado Ogier Thadeo Junior, chefe da Divisão de Contabilidade e Finanças da Fundação Teatro Guairá, pessoa jurídica instituída pala Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, com sede nesta Capital, ligados funcional e hierarquicamente, previamente conluiados e somando esforços para o mesmo "desideratum", no dia 14 (quatorze) de novembro de 1986, apropriaram-se da quantia de Cz$ 325.059,06 (trezentos e vinte e cinco mil, cinqüenta e nove cruzados e seis centavos), doados à Fundação pela E.R.S. Administradora e Corretora de Seguros S/C. Ltda., cujo cheque não levado à contabilização, por ordem e endosso do primeiro, foi depositado na conta do segundo denunciado no Banco Bamerindus do Brasil S/A, agência Comendador Araújo de Curitiba e, sendo retirada a quantia de Cz$ 300.000,00 (trezentos mil cruzados), esta foi devolvida ao primeiro, ficando, de rateio, o saldo para o outro, conforme positiva o papel de fls. 85. De semelhante "modus operandi", no dia 10 (dez) de outubro de 1986, apropriaram-se da quantia de Cz$ 180.000,00 (cento e oitenta mil cruzados) doados à Fundação, cujo cheque emitido pela Umuarama Comunicações e Marketing Ltda., contra o Banco Bamerindus do Brasil S/A., foi depositado na conta anteriormente citada do segundo denunciado o qual, posteriormente, retirou e entregou ao primeiro a quantia de Cz$ 144.000,00 (cento e quarenta e quatro mil cruzados), ficando com o restante, conforme positiva o documento de fls. 88. O denunciado Leonel Davi Santos Amaral, ainda, graças ao comando da Fundação que o cargo de diretor Administrativo lhe proporcionava e o denunciado Ogier Thadeo Junior, contador, sempre conivente, entre outras irregularidades, apropriaram-se de dinheiros e valores pertencentes à Instituição vítima, estendido o leque a outros setores e com outros funcionários, tanto que com a participação consciente do denunciado José Schlichting Neto, chefe da Divisão de Promoções e Vendas e também com a colaboração da denunciada Kátia Margareth Guiraud, funcionária desta divisão, esta assinando contratos de publicidade e de patrocínio de apresentações artísticas, que não eram de sua competência, também assinando recibos que não foram contabilizados, conseguiram desviar em proveito próprio, além de Cz$ 6.000,00 (seis mil cruzados) referente ao contrato existente com a Pharmácia Artesanal Naturalística Ltda., em 2 (dois) de junho de 1.986 (doc. de fls. 99), além de se apropriarem da quantia de Cz$ 104.500,00 (cento e quatro mil e quinhentos cruzados) de parte do contrato de apresentação artística de fls. 101, firmado com a Volvo do Brasil S/A, cujo cheque no mesmo valor e constante de fls. 103, de 14 (quatorze) de novembro de 1986, depois de endossado pelo denunciado Leonel Davi, foi depositado na conta de Schlichting, no Banco do Estado do Paraná S/A, agência de Almirante Tamandaré, Paraná. Apropriaram-se, mais, da quantia de Cz$ 108.647,20 (cento e oito mil, seiscentos e quarenta e sete cruzados e vinte centavos) em 10 (dez) de outubro de 1986, referente à doação feita pelo Banco do Estado do Paraná S/A, depositando, "mutatis mutandis", o

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cheque na mesma conta acima citada, conforme positiva o extrato de contas correntes bancária de fls. 113. Apropriaram-se, também, da quantia de Cz$ 7.080,00 (sete mil e oitenta cruzados) do contrato de patrocínio com a Sigma-Comércio e Serviço de Informática Ltda., em 23 (vinte e três) de julho de 1986, tendo sido um dos recibos assinado pela denunciada Kátia Margareth Guiraud, conforme positivam os documentos de fls. 114/118. Do contrato Firmado com a Sigma-Consultoria e Planejamento S/C. Ltda., firmado em 23 (vinte e três) de julho de 1986, apropriaram-se da quantia de Cz$ 1.470,00 (hum mil, quatrocentos e setenta cruzados), conforme positivam os documentos de fls. 122/123. Do contrato de patrocínio firmado com a KErres Boutique e Confecções Ltda. em 3 (três) de julho de 1986, apropriaram-se de Cz$ 19.000,00 (dezenove mil cruzados), conforme positivam os documentos de fls. 124/125. Apropriaram-se, além disso, do contrato de patrocínio firmado com a Comissária Galvão S/A Corretagem de Imóveis, em 13 (treze) de outubro de 1986, da quantia de Cz$ 6.000,00 (seis mil cruzados), pois no valor originário de Cz$ 30.000,00 (trinta mil cruzados), foi a cópia do recibo de fls. 128 adulterada para Cz$ 24.000,00 (vinte e quatro mil cruzados). Idêntico procedimento foi adotado em relação ao contrato de patrocínio firmado com a Romani S/A Indústria e Comércio de Sal, em 29 (vinte e nove) de outubro de 1986, no valor original de Cz$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil cruzados) cuja cópia do recibo de fls. 131 foi adulterada para Cz$ 36.000,00 (trinta e seis mil cruzados), havendo um alcance de Cz$ 9.000,00 (nove mil cruzados). E mais, o denunciado Leonel Davi Santos Amaral recebeu indevidamente, em dobro e em dinheiro, férias que disse não gozadas, para tanto mandando que a denunciada Roseli Gomes Kazakevitch, secretária da Diretoria Administrativa, formalizasse requerimento por ele assinado nesse sentido e após, devidamente conluiados, porém sob a orientação do próprio, copiando pareceres de outros processos, adaptaram datilograficamente o parecer no verso do petitório favorável ao deferimento da pretensão, pedindo ainda a denunciada Roseli ao denunciado José Francisco Quaresma Soares da Silva (Chefe da Divisão de Amadores em Artes Cênicas da F.T.G.) que falsificasse, por imitação, a assinatura do Consultor Jurídico da Fundação, Dr. Neuri Barbieri, conforme positiva o documento de fls. 132, e verso. Para dar melhor aspecto de autenticidade ao próprio procedimento ilegal, o denunciado Leonel Davi induziu em erro a José Tadeu Basso, Diretor Superintendente da Fundação, levando-o a requerer e receber, indevidamente, idêntico benefício, mandando que a denunciada Roseli, já a par de tudo, o formalizasse de modo semelhante, conforme positiva o documento de fls. 133, e verso." (sic. Denúncia de fls. 02/06 1º vol.).

Após regular instrução, as partes apresentaram alegações finais, tendo o MM. Juiz "a quo" proferido a r. sentença de fls. 744-761, condenado os acusados Leonel Davi Santos Amaral, à pena de 04 (quatro) anos 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão e 30 (trinta) dias/multa, pela prática dos crimes previstos nos artigos 312 e 304 c.c arts. 69 e 71, do Código Penal, em regime semi-aberto; Ogier Thadeo Junior, à pena de 02 (dois) 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão e 20 dias/multa, pela prática do crime capitulado no art. 312 c.c. art. 71 do Código Penal, em regime aberto; José Schlichting Neto, à pena de 02 (dois) anos 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão e 20 (vinte) dias-multa, pela prática do crime arrolado no art. 297, c.c art. 71, do Código Penal, em regime aberto, restando os acusados Kátia Margareth Guiraud, Rosely Gomes Kazakevitch e José Francisco Quaresma Soares da Silva, absolvidos das imputações lhes irrogadas, o fazendo, com fulcro no art. 386, inciso III, em relação à primeira e no art. 386, inciso VI, todos do Código de Processo Penal, relativamente aos dois últimos (fls. 744/761 vol. 3).

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Inconformados, com supedâneo no art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal, os réus Ogier Thadeo Júnior, José Schlichting Neto e Leonel Davi Santos Amaral, manejaram recurso de apelação, objetivando a reforma do decisum.

Os réus Ogier Thadeo Júnior e Leonel Davi Santos Amaral protestaram por oferecer as razões recursais perante a segunda instância, em conformidade com o permissivo cunhado no art. 600, § 4º, do Código de Processo Penal (fls. 767 e 775 – 3º vol.).

O réu José Schlichting Neto, em resenha, sustenta que não se apoderou de qualquer quantia e em qualquer época do erário público, em prejuízo à Fundação Teatro Guaíra, negando, inclusive, qualquer participação nas adulterações das segundas vias dos contratos de patrocínios firmados com a Comissária Galvão e com Romani S/A, pois, tais alterações jamais aconteceram; e, o que realmente houve, foi apenas o atendimento de uma determinação do setor de contabilidade para que se procedesse de uma forma específica, a fim de satisfazer as exigências do Tribunal de Contas do Paraná, o qual, aprovou todas as contas prestadas, razão pela qual, persegue a absolvição (fls. 768 e 769/774 vol. 3º).

A r. decisão combatida transitou em julgado em relação aos réus absolvidos Kátia Margareth Guiraud, Roseli Gomes Kazakevitch e José Francisco Quaresma Soares da Silva (fls. 777 e 777 verso vol. 3º).

Recebidos os recursos (fls. 784 vol. 3º), foram contraminutados (fls. 786/789 vol. 3º), subindo os autos a esta Corte.

Nesta instância, sobreveio a manifestação primeira da douta Procuradoria Geral de Justiça, sugerindo a conversão do feito em diligência com a finalidade de os ilustres Defensores dos réus apelantes Ogier Thadeo Júnior e Leonel Davi Santos do Amaral anotarem as razões de recurso, como protestado (fls. 798/799 vol. 3º).

Intimados, o réu Leonel Davi Santos Amaral ofertou as alegações recursais, sustentando, preliminarmente, a ocorrência da prescrição com relação à condenação pela prática do crime de uso de documento falso, modalidade cunhada no art. 304, do Código Penal.

Em sede de preliminar, argumenta, também, que o processo é nulo por manifesto cerceamento de defesa, em razão do indeferimento da realização de perícia contábil e que tinha como finalidade, estabelecer, com base em documentos, as arrecadações públicas e privadas, bem como os seus destinos.

Ressalta, ademais, o nominado apelante que a r. decisão condenatória é nula, posto que, alicerçada em fragmentos probatórios que não passaram sob o crivo do contraditório e que foram obtidos por meio da Comissão de Sindicância de forma unilateral, violenta e ilegal.

No mérito, busca a absolvição quanto ao crime de peculato, argumentando, em resenha, que o delito não se configurou ante a ausência de comprovação de desfalque. Pois, a certeza que se exige para a condenação, não se estabeleceu no caso em exame, exatamente porque não foi realizado o confronto entre a receita e a despesa, única forma capaz de demonstrar um desfalque, razão pela qual sustenta que a absolvição se impõe por insuficiência de prova.

Encerrando, combate o apenamento lhe imposto, almejando a redução ao mínimo legal, em razão de considerá-lo exacerbado e diante do fato de não ter sido o apenamento básico corretamente balizado (fls. 808/816 vol. 3º).

Enquanto que, o réu Ogier Thadeo Júnior, em suas razões, sustenta, em sítio de preliminar, a nulidade da sentença, posto que não se observou na aplicação da pena, embora reconhecendo que os valores devidos foram cobertos, a figura

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contida no art. 16, do Código Penal.

E, se houve a reparação do dano (ou seja, aquilo que o Governo do Paraná atribuiu-lhe à guisa de alcance), não podia a r. sentença omitir ao individualizar a sanção penal, como a lei manda, a aplicabilidade da regra disposta no art. 16, do Código Penal.

Alega, ademais, a nulidade do processo por falta de corpo de delito e por condenação sem prova, já que esta veio calcada unicamente em sindicância administrativa, sem a garantia da ampla defesa.

No mérito, busca a absolvição (fls. 818/869).

Contraminutados os recursos (fls. 874/882), sobreveio nova manifestação da douta Procuradoria Geral de Justiça, opinando pelo reconhecimento da extinção da punibilidade do apelante Leonel Davi Santos Amaral, quanto ao delito de uso de documento falso, diante da prescrição retroativa, com prejuízo do exame do mérito.

E, afastadas as demais preliminares, seja mantida a decisão de mérito, acolhendo-se, entretanto, a causa especial de diminuição de pena prevista no art. 16, do Código Penal, com a conseqüente extinção da punibilidade dos apelantes, pela prescrição retroativa, nos termos dos artigos 107, inciso IV, 109 inciso IV e 110, todos do Código Penal (fls. 887/900).

Redistribuído o feito, o ilustre Defensor do réu Leonel Davi Santos Amaral com o petitório de fls. 121, destes autos, noticiou que este completara 70 (setenta) anos e, conseqüentemente, pleiteou o reconhecimento em favor do mesmo, da extinção da punibilidade, observando-se, na espécie, a redução pela metade do prazo prescricional.

Em respeito ao princípio do contraditório, a douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo reconhecimento e declaração da extinção da punibilidade do apelante Leonel Davi Santos Amaral, com prejuízo do exame do mérito recursal (fls. 928/929).

É, em essência, o relatório.

Três são os apelos manifestados nestes autos, manejados pelos réus Leonel Davi Santos Amaral, Ogier Thadeo Júnior e José Schlichting Neto, contendo, cada qual, argumentação distinta e diferente.

Por isso, se faz necessário apreciá-los isoladamente, para melhor compreensão e fundamentação.

Pois bem. O apelante Leonel Davi Santos Amaral, como registra a r. decisão hostilizada, foi condenado por violação aos arts. 312 e 304, combinados com os arts. 69 e 71, do Código Penal, ao cumprimento da pena de 04 (quatro) anos, 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão e trinta dias-multa, em regime semi-aberto, sendo que, pelo cometimento do crime de peculato foi apenado em 02 (dois) anos, 07 (sete) meses e 03 (dias) de reclusão; e, pelo uso de documento falso, em 02 (dois) anos de reclusão (fls. 744/761).

E, na espécie vertente, como de igual reconhece a ilustre Procuradora de Justiça oficiante (fls. 887/900 e 928/929), é necessário reconhecer e declarar a extinção da punibilidade do nominado apelante, tendo em vista a ocorrência da prescrição retroativa.

Com efeito. Insta esclarecer, por conveniente, que o prazo prescricional deve ser observado, separadamente, a cada um dos crimes.

Assim sendo, com relação ao crime de uso de documento falso, modalidade

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cunhada no art. 304, do Código Penal, o apelante restou condenado, como visto, ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos de reclusão, além da pecuniária de 10 (dez) dias-multas.

Nesta hipótese, a prescrição da pretensão punitiva ocorre em 04 (quatro) anos, como se infere da regra ditada no art. 109, inciso V, do Código Penal.

E, aqui, como se vê, a denúncia foi recebida em 28.04.92 (fls. 355/356) e a publicação da r. decisão condenatória deu-se em 16.12.97 (fls. 762), portanto, entre um e outro marco prescricional, transcorreu prazo superior ao quadriênio previsto no inciso V, do art. 109, do Código Penal, capaz de gerar a aludida prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa, independentemente do fato superveniente, isto é, da redução de metade do prazo, agora caracterizada, por força da regra disposta no art. 115, segunda parte, do Código Penal.

Da mesma forma, com respeito ao crime de peculato, na modalidade continuada ( art. 312, em liame com o art. 71, todos do Código Penal), o citado réu foi condenado, como já realçado, ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos e 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão, além da pecuniária de 20 (vinte) dias multa.

Nesta hipótese, como consabido, para o efeito de se aferir o lapso prescricional, é de ser desprezada a fração correspondente à continuidade delitiva que, neste caso, é de 04 (quatro) meses e 03 (três) dias, restando, assim, o apenamento básico de 02 (dois) anos e 03 (três) meses de reclusão, além da pecuniária já mencionada.

Sendo assim, o prazo prescricional na espécie, verifica-se a teor da regra ditada no art. 109, inciso IV, do Código Penal, em 08 (oito) anos.

Acontece, que este prazo deve sofrer a redução de metade, prevista no art. 115, segunda parte, do Código Penal, pois, demonstrou o mencionado apelante, através de prova documental hábil – registro de nascimento – que nesta data, possui mais de 70 (setenta) anos de idade.

É bem verdade que a dicção do art. 115, do Código Penal prevê a redução do prazo prescricional ao maior de 70 (setenta) anos, ao tempo do crime ou na data da sentença.

Todavia, a expressão "sentença" deve ser interpretada em sentido amplo, abrangendo o acórdão, como orienta de forma pacífica a jurisprudência, inclusive, a da Suprema Corte (in STF, Extradição 591, Plenário, rel. Min. Marco Aurélio, DJU 22.09.1995, p. 30588).

De modo que, o lapso temporal anteriormente previsto de 08 (oito) anos, em conformidade com a regra disposta no art. 109, inciso IV, do Código Penal, com a redução de metade, torna-se 04 (quatro) anos. E, verificando, como já enfatizado que na hipótese vertente a denúncia foi recebida em 28.04.92 (fls. 355/356) e a data da publicação da r. sentença condenatória deu-se em 16.12.97 (fls. 762), resta patente que entre um e outro marco interruptivo prescricional, ocorreu o transcurso de tempo superior ao quatríduo capaz de operar a prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa.

Assim, em sítio de preliminar, com fundamento no artigo 107 inciso IV, primeira figura, em liame com os artigos 109, incisos IV e V, 115 – segunda parte, 110 e 117, incisos I e IV, todos do Código Penal, combinados, ainda, com o art. 61, do Código de Processo Penal, por reconhecer, declaro a extinção da punibilidade do apelante Leonel Davi Santos Amaral, por operada prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa e relativamente aos crimes de uso de documento

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falso (art. 304, do CP) e peculato em continuidade delitiva (art. 312, em liame com o art. 71, todos do CP), com prejuízo do exame do mérito recursal (in STF RT 638/337).

Com relação ao recurso interposto pelo apelante Ogier Thadeo Júnior, denota-se que o mesmo foi condenado nas sanções do art. 312, em liame com o art. 71, todos do Código Penal, ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos, 07 (sete) meses e 03 (três) dias de reclusão, além da pecuniária de 20 (vinte) dias-multas, em regime aberto.

Sobreleva notar que o apelante confessou o crime perante Comissão de Sindicância, instaurada por Portaria do Superintendente da Fundação e, ademais disso, devolveu em dinheiro, o valor desviado.

De sorte que, a sua condenação não se mostra inconsistente, como a ilustrada Defesa pretende seja reconhecido. Ao contrário. Há sem dúvida, prova suficiente e cabal, espiolhada e minuciosamente apreciada no r. decreto condenatório, mostrando que, realmente, houve os desvios de valores destinados à Fundação Teatro Guaíra, desta Capital.

A documentação acostada aos autos (fls. 91, 92 e 95 e extratos bancários de fls. 103 vol. 1º), demonstra de forma patente os endossos nos cheques recebidos pelo Diretor Administrativo, o apelante Leonel, cujo deposito do numerário era feito na conta-corrente do co-réu Ogier, contador da mencionada Fundação, o qual, por sua vez, repassava parte maior depositando na conta do referido Diretor Administrativo, ficando, entretanto, com parcela em sua conta.

A prova documental é tão farta e plena que por si só, dispensa a perícia contábil ao efeito de demonstrar, na hipótese vertente, o acontecimento delituoso reportado na denúncia vestibular.

Por isso, impossível se torna recepcionar a argumentação esgrimida pela Defesa, no sentido de que houve regular aplicação das arrecadações e com isso, justificaria a ação dos réus, com a não configuração dos crimes.

O certo, como enfatizado no r. decisório hostilizado, é que os valores destinados à administração da Fundação foram desviados, pois, do contrário, os mesmos teriam ingressado no ativo da entidade.

Assim, a despeito da aventada ausência de defesa na sindicância e do alardeado constrangimento imposto pela respectiva Comissão, forçoso é reconhecer que a r. decisão condenatória imposta ao referido apelante repousa em sua confissão e que restou confortada por farta e plena prova testemunhal, não merecendo, desta forma, a crítica estampada nas razões recursais.

Procede, entretanto, a alegação do apelante no tocante ao não reconhecimento da causa especial de diminuição da pena, estampada no art. 16, do Código Penal, em razão da ocorrência do arrependimento posterior configurado nos autos.

De fato, como bem assevera a ilustre Procuradora de Justiça oficiante, "...No crime de peculato, a restituição do valor apropriado aos cofres públicos, ainda que com alguma pressão procedimental, antes do recebimento da denúncia, caracteriza arrependimento posterior, conforme decisão que está na RT 671/302 e no mesmo sentido RT 632/276 e 636/280" (fls. 899 3º vol.).

A reparação pessoal, aliás, acabou sendo feita pelos três apelantes, e ainda que se refiram ao fato de que a sua efetivação deu-se, apenas, para o efeito de obterem a liberdade, visto que estavam presos por força de prisão administrativa, caracterizada está o arrependimento posterior como causa de diminuição especial da pena.

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Isto porque, como orienta a jurisprudência :

"Nenhuma outra condição, além das indicadas no dispositivo do art. 16, do CP reparação ou restituição e voluntariedade deve interferir na aplicação dessa causa de diminuição de pena, sendo irrelevante qualquer análise da motivação ou do elemento que estimulou a reparação ou a restituição" (in RT 729/553).

De sorte que, neste particular aspecto, o apelo interposto tem procedência ao efeito de reduzir o apenamento aplicado ao apelante e que não foi observado na mensuração pelo ilustre Juízo monocrático. A redução se faz em termos de 01 (um) a 02 (dois) terços. O quantum da diminuição deve ser investigado na conduta posterior do próprio agente, com a pronta reparação ou restituição e demonstração de sinceridade (in RT 727/532).

Ou, então, com apoio na posição adotada por Heleno Cláudio Fragoso, no sentido de que o critério da redução da pena se fundamenta no quantum da reparação: "pode ser menor se o Juiz estima que subsiste um dano não patrimonial considerável ou que a vítima tenha sido compelida a aceitar um ressarcimento que não seja completo" (in Lições de Direito Penal, Parte Geral 1.985 p. 259 e RT 632/276 e 278).

Por esposar o primeiro entendimento fundado na prontidão e na lentidão da reparação, entendemos que na espécie vertente, o apenamento deve ser reduzido em 1/3 (um terço).

Assim, adotando o exame das diretrizes do art. 59, do Código Penal, realizado no algoritmo pelo ilustre Juízo monocrático, acolho a mesma pena-base anteriormente fixada, isto é, 02 (dois) anos e 03 (três) meses de reclusão, a qual, pelo reconhecimento da causa especial de diminuição disposta no art. 16, do Código Penal, reduzo de 1/3 (um terço), ou seja, de 09 (nove) meses, perfazendo, assim, 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão, cuja pena, elevo de 1/6 (um sexto), isto é, de 03 (três) meses, face o registro da continuidade delitiva (art. 71, do CP), totalizando, assim, 01 (um) ano e 09 (nove) meses de reclusão, na ausência de atenuantes ou agravantes e de demais causas especiais de diminuição ou aumento, permanecendo irretocável o apenamento pecuniário e o regime prisional aberto, anteriormente estabelecidos na r. decisão hostilizada.

Todavia, é de se reconhecer agora, operada na espécie em exame, a prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa, uma vez que a denúncia, como já enfatizado, foi recebida em 28.04.92 (fls. 355/356) e a publicação da r. sentença condenatória ocorreu em 16.12.97 (fls. 762), transcorrendo, assim, entre um e outro marco, contando-se o prazo para trás, lapso temporal superior a 04 (quatro) anos, exigidos consoante a regra disposta no art. 109, inciso V, do Código Penal para a concretização da mencionada prescrição, como causa extintiva de punibilidade do apelante Ogier Tadeo Júnior.

Da mesma forma, com relação ao recurso manejado pelo apelante José Schlichting Neto, não merece, data vênia, ser agasalhado quanto ao mérito da condenação.

Pois, condenado por crime de falsificação de documento público (art. 297, do CP), tem contra si, todo o conjunto probatório apurado nos autos, sem embargo de que tenha sustentado que atuou no acontecimento delituoso em obediência a ordens de seus superiores e que jamais falsificou documento algum.

De fato. A prova contra o nominado apelante é irrefutável, visto que assumiu perante a Comissão de Sindicância que adulterou segunda via de diversos contratos de patrocínio e que estão especificados na peça acusatória vestibular, com depósito dos cheques na sua conta pessoal no Banestado, agência

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Comendador, nesta Capital.

A prova documental trazida aos autos corrobora, a miúdo e por inteiro, a confissão do mencionado apelante, tornando-a crível.

Além disso, o mencionado apelante e os demais, como já salientado, restituíram voluntariamente o valor do alcance aos cofres públicos, caracterizando o arrependimento posterior (art. 16, do CP).

Portanto, a condenação era e é mesmo de rigor, não merecendo, neste particular aspecto, qualquer reparo.

Entretanto, como de igual ressaltou a ilustre Procuradora de Justiça, forçoso é reconhecer que deixou o MM. Juízo monocrático de reduzir a pena mensurada, no tocante à causa especial de diminuição contida na regra estampada no art. 16, do Código Penal.

Assim, merece reparo neste particular, a r. decisão hostilizada justamente pelos motivos já aduzidos, dispensando sejam repetidos.

De modo que, adotando os 02 (dois) anos e 03 (três) meses de reclusão estabelecidos como pena-base pelo ilustre Juízo sentenciante, o reduzo de 1/3 (um terço), isto é, 09 (nove) meses, tendo em vista a aplicabilidade da regra disposta no art. 16, do Código Penal, perfazendo, assim, 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão, cuja pena, elevo de 1/6 (um sexto), isto é, 03 (três) meses, tendo em vista o registro da continuidade delitiva (art. 71, do Código Penal), totalizando, assim, a pena de 01 (um) ano e 09 (nove) meses de reclusão, na ausência de atenuantes ou agravantes e de demais causas especiais de diminuição ou aumento, permanecendo inalterado o apenamento pecuniário e o regime inicial aberto.

Porém, agora, é de se reconhecer na espécie em exame, a operada prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa, uma vez que a denúncia, como já enfatizado, foi recebida em 28.04.92 (fls. 355/356) e a publicação da r. sentença condenatória ocorreu em 16.12.97 (fls. 762), transcorrendo, assim, entre um e outro marco, contando-se o prazo para trás, lapso temporal superior a 04 (quatro) anos, exigidos consoante a regra disposta no art. 109, inciso V, do Código Penal para a concretização da mencionada prescrição, como causa extintiva de punibilidade do apelante José Schlichting Neto.

Ressalte-se, por indispensável, que o apenamento pecuniário imposto aos apelantes, na forma do inciso II, do artigo 114, do Código Penal, prescreve com a pena privativa de liberdade, sendo assim declarada.

Nesta conformidade:

ACORDAM os senhores Desembargadores e o Juiz Convocado, integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, por unanimidade de votos, em julgar extinta a punibilidade do apelante Leonel Davi Santos Amaral, face o reconhecimento da prescrição retroativa, com prejuízo do exame do mérito recursal; e dar parcial provimento aos recursos dos apelantes Ogier Thadeo Júnior e José Schlichting Neto, ao efeito de reduzir o apenamento, em razão do reconhecimento da causa especial do arrependimento posterior e, simultaneamente, reconhecer, a extinção da punibilidade de ambos, pela operada prescrição da pretensão punitiva, na forma retroativa, o fazendo, com fulcro no art. 107, inciso IV – primeira figura, em liame com os arts. 109, V, 110, § 1º, 114, 117, incisos I e IV, todos do Código Penal e art. 61, do Código de Processo Penal.

Estiveram presentes na sessão de julgamento e acompanharam o voto do

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relator os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Moacir Guimarães e Clotário Portugal Neto. Ausente, justificadamente, o Desembargador Oto Sponholz.

Curitiba, 24 de maio de 2001.

Milani de Moura

Juiz Convocado – Relator

RSDPDPP

586 - PECULATO-FURTO - Arrependimento eficaz e arrependimento posterior. Dosimetria da pena. O arrependimento eficaz somente se configura quando o agente evita o resultado, o que inocorreu na espécie, uma vez que o réu apenas reparou as conseqüências após a apuração da responsabilidade pela comissão da CEF. Configurado, no caso vertente, o arrependimento posterior (art. 16 do CP), circunstância reconhecida na sentença. Sendo as circunstâncias judiciais majoritariamente favoráveis ao réu, a pena-base deve ser fixada no mínimo legal, ou seja, dois anos de reclusão e multa. A atenuante da confissão, embora reconhecida, não pode ser considerada, face à impossibilidade de redução da pena aquém do mínimo legal, na fase de fixação da pena provisória. Existindo concurso entre majorantes e minorantes, aquelas devem ser sopesadas antes destas. A suficiência da pena pecuniária tem seu quantum determinado pela quantidade de pena-base fixada, e seu valor determinado pelas situação econômica do réu. Substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direito, a teor do disposto no art. 44, § 2º, do CP. (TRF 4ª R. - ACr 2000.04.01.059235-0 - SC - 1ª T. - Rel. Juiz Amir Sarti - DJU 01.11.200011.01.2000)

780 - PECULATO - Tempo do crime. Réu que não mais era funcionário público à época da denúncia. Procedimento especial do art. 514 do CPP. Ação penal precedida de inquérito. Notificação para defesa prévia. Desnecessidade. Ressarcimento do prejuízo após a denúncia. Extinção da punibilidade. Inocorrência. Pena. Causa de diminuição. Arrependimento posterior. Art. 16 do CP. Inaplicabilidade. Condição sursitária. Decotação. Considera-se tempo do crime, para fins de aplicação da lei penal, o momento da ação ou omissão do agente. Se o réu, por ocasião da denúncia, já havia sido demitido do quadro de servidores públicos do Estado, não se lhe aplica a fase procedimental prévia do art. 514 do CPP que atende a interesse da Administração, no sentido de evitar que o funcionário em exercício seja temerariamente processado, com prejuízo ao normal andamento da atividade administrativa. Não se exige a notificação para defesa prévia a que alude o art. 514 do CPP, ainda que o réu seja funcionário público, quando a ação penal é precedida de inquérito, oferecendo-se, como é vontade da lei, oportunidade para o conhecimento preliminar da acusação. Tratando-se de peculato, o que importa não é só a lesão patrimonial da vítima, mas também a desmoralização a que o bom nome da Administração Pública fica exposto, pelo que o ressarcimento do prejuízo não extingue a punibilidade do agente. No crime de peculato, se o ressarcimento do prejuízo ocorrer após o recebimento da denúncia, não se aplica a causa de diminuição de pena contida no art. 16 do CP, consistente

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no arrependimento posterior, pois tal circunstância só se caracteriza quando a reparação do dano operar-se antes do início da ação penal. A condição sursitária de fazer doação de cestas básicas a entidades beneficentes, por não encontrar amparo legal, deve ser decotada. (TJMG - ACr 179.931-1/00 - 2ª C. - Rel. Des. Herculano Rodrigues - DJMG 18.11.200011.18.2000)

b) procedendo o agente, voluntariamente, ao pagamento do tributo, corrigido monetariamente, mais juros de mora, após medida de fiscalização, mas antes do recebimento da denúncia, faria jus à redução de sua pena, por força do disposto no art. 16 do CP (arrependimento posterior);

852 - ESTELIONATO - Arrependimento posterior. Possibilidade de extensão da causa de diminuição a co-réus. Apesar de a lei se referir à ato voluntário do agente, a reparação do dano, prevista no art. 16 do CP, é circunstância objetiva, devendo comunicar-se aos demais réus. (STJ - REsp 264.283 - SP - 5ª T. - Rel. Min. Félix Fischer - DJU 19.03.200103.19.2001)

E-RJ

ESTELIONATO - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO A CO-RÉUS - Apesar de a lei se referir a ato voluntário do agente, a reparação do dano, prevista no art. 16 do Código Penal, é circunstância objetiva, devendo comunicar-se aos demais réus. Recurso conhecido e provido. (STJ - REsp 264283 - SP - 5ª T - Rel. Min. Felix Fischer - DJU 19.03.2001)

ESTELIONATO. PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. Em sede de estelionato, salvo a hipótese de pagamento por meio de cheque sem provisão de fundos (§ 2º, VI) , o ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade, impondo-se, apenas fazer incidir a causa obrigatória de diminuição de pena do art. 16, do Código Penal. Segundo as disposições do art. 89 da Lei 9.099/95, a suspensão do processo nas hipóteses em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a um ano deverá ser proposta se o condenado não estiver sendo processado ou não for reincidente, e se a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos e circunstâncias do crime indicarem ser necessário e suficiente o sursis processual. Em sede de concurso de agentes, o art. 30 do estatuto punitivo é expresso ao prever a incomunicabilidade das condições pessoais, o que impede a aplicação da extensão dos efeitos benéficos da proposta de suspensão aos co-réus. Recurso ordinário denegado. (STJ - HC 7.578 - PE - 6ª T. - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 28.06.1999 - p. 152)

RECURSO ESPECIAL. FALSUM. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. DESCLASSIFICAÇÃO. ESTELIONATO (SÚMULA 17 DO STJ) . I - Se o Acórdão recorrido reconhece, em verdade, a ocorrência de falsum e de estelionato, com aquele se exaurindo neste último, é de ser aplicada a Súmula 17 do STJ (emendatio libelli) . II - Verificada a desclassificação, incide, no caso, a minorante do art. 16 do CP. III - Com a nova resposta penal, operou-se a prescrição retroativa dado o decurso de tempo entre o fato e o recebimento da exordial acusatória. Recurso conhecido e

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parcialmente provido, extinguindo-se a punibilidade. (STJ - REsp 203860 - MG - 5ª T. - Rel. Min. Felix Fischer - DJU 21.06.1999 - p. 198)

ESTELIONATO. CONCURSO DE PESSOAS. REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA POR UM DOS AGENTES. ARREPENDIMENTO POSTERIOR CONFIGURADO. ART. 16 DO CP. A reparação do dano não se restringe à esfera pessoal de quem a realiza, desde que a faça voluntariamente, sendo, portanto, nestas condições, circunstância objetiva, estendendo-se, assim, aos co-autores e partícipes. Precedente (HC 4.147-SP) . (STJ - 5ª T - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - Rec. Esp. 122.760-SP - J. em 07/12/99 - DJU 21/02/2000, p.148)

ESTELIONATO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. DIMINUIÇÃO DA PENA. A alegação de atipicidade da conduta por inexistência de dolo que só pode ser avaliada após a instrução criminal, sendo a via estreita do habeas corpus inidônea para esse mister, por ser infensa à ampla dilação probatória. O ressarcimento do prejuízo antes do recebimento da denúncia não exclui o crime de estelionato cometido na sua modalidade fundamental (art. 171, caput, CP) , apenas influindo na fixação da pena, nos termos do art. 16 do CP. A orientação contida na Súmula 554 do STF é restrita ao crime de estelionato na modalidade de emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, § 2º, inc. VI, do estatuto repressivo. Recurso desprovido. (STJ - RO-HC 8.211 - BA - 5ª T. - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - DJU 14.06.1999 - p. 214)

ARREPENDIMENTO POSTERIOR. REQUISITOS. CP, ART. 16. No arrependimento posterior (CP, art. 16) , uma vez preenchidos os requisitos de crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou queixa, incide a causa obrigatória de diminuição da pena que não fica adstrita ao mínimo legal previsto. Se o ressarcimento é feito após aquele ato processual a hipótese se revela como simples atenuante (CP, art. 65, III, b) batizada pelo mínimo legal previsto no tipo. (STJ - REsp. 154.587 - J. em 13/10/98 - D.J. 09/11/98 - Rel. Min. Fernando Gonçalves)

FURTO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DEVOLUÇÃO DO OBJETO APÓS RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. 1 - A necessidade da intimação pessoal do acusado da sentença condenatória, para começar a fluir o prazo recursal, é questão pacífica na doutrina e jurisprudência. 2 - Consuma-se o furto no instante em que a coisa subtraída é retirada da esfera de disponibilidade da vítima. 3 - A embriaguez voluntária não isenta de responsabilidade penal o agente de crime de furto. 4 - A figura prevista pelo art. 16 do Código Penal pressupõe devolução voluntária do objeto do furto até o recebimento da denúncia. 5 - Pena privativa de liberdade exacerbada, impondo-se redução, em face da existência de circunstâncias judiciais favoráveis aos apelantes, bem como a pena de multa. 6 - A reparação do dano de forma espontânea enseja reconhecimento em favor dos réus da circunstância atenuante prevista no art. 65, inc. III, alínea b, do Código Penal. Regime aberto para o cumprimento inicial da sanção. Recurso provido. (TJGO - ACr 18.823-1/213 - 1ª C.Crim. (4ª T.) - Rel. Des. Elcy Santos de Melo - J. 18.03.1999)

ARREPENDIMENTO POSTERIOR. RESSARCIMENTO. PENA. REDUÇÃO. Se o acusado é primário, tem bons antecedentes, trabalha, agiu por amor filial, se as conseqüências do crime não foram graves, se ressarciu a vítima, não pode a pena ser fixada acima do mínimo legal. Maior deve ser o limite redutivo quando o ressarcimento se der mais próximo do fato criminoso. Quanto mais rápido for feito o ressarcimento, maior deve ser a redução prevista no art. 16 do CP. (TRF 1ª Região - Ap. Crim. 25.983-8 - J. em 05/02/96 - D.J. 26/02/96 - Rel. Juiz Tourinho Neto)

MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA.

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ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16 do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PECULATO. CP, ART. 312. RESSARCIMENTO DOS VALORES. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. 1. Não transcorreu o prazo prescricional, porque interrompeu-se com o despacho de recebimento da denúncia. 2. A autoria e materialidade do delito ficaram comprovadas. O réu procedeu o ressarcimento dos valores apropriados, incidindo no caso o art. 16 do Código Penal para reduzir-se a pena aplicada. 3. Preenchendo o condenado os requisitos legais, cabe o sursis especial previsto no art. 78, § 2º do Código Penal. (TRF 4ª R. - ACr 97.04.70473-9 - PR - 1ª T. - Rel. Juiz Vladimir Freitas - DJU 14.07.1999 - p. 260)

APROPRIAÇÃO INDÉBITA. COISAS FUNGÍVEIS. RESSARCIMENTO DO DANO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR CARACTERIZADO. CP, ART. 16. 1. Esta via, em razão de sua sumarização vertical, não comporta dilação probatória, devendo sua instrução ser composta por elementos pré-constituídos. Alegações de falta de justa causa, que podem até envolver exame de fatos, devem ser comprovadas prontamente, para que não se corra o risco de invadir área própria da ação penal, que é a do contraditório. 2. Coisas fungíveis dadas em depósito irregular (art. 1.280 do Código Civil) não podem ser objeto material de apropriação indébita; contudo, aquelas entregues para serem transmitidas a terceiro podem figurar nessa função. 3. Na dicção do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o ressarcimento do dano decorrente da apropriação indébita, mesmo efetuado antes do recebimento da denúncia, não tem o poder de descaracterizar o delito já consumado na inversão da posse. 4. Essa hipótese pode implicar o reconhecimento do arrependimento posterior (art. 16 do CP) , causa especial de diminuição da pena, a incidir na dosimetria. 5. A conduta imputada aos pacientes configura crime, em tese, estando presente, por conseqüência, a justa causa necessária ao prosseguimento da ação penal hostilizada. Ordem denegada. (TRF 4ª R. - HC 1999.04.01.061861-9 - RS - 2ª T. - Rel. Juiz Élcio Pinheiro de Castro - DJU 29.09.1999 - p. 554)

MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16 do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. A alegação de atipicidade da conduta por inexistência de dolo que só pode ser avaliada após a instrução criminal, sendo a via estreita do habeas corpus inidônea para esse mister, por ser infensa à ampla dilação probatória. O ressarcimento do prejuízo antes do recebimento da denúncia não exclui o crime de estelionato cometido na sua modalidade fundamental (art. 171, caput, CP), apenas influindo na fixação da pena, nos termos do art. 16 do CP. A orientação contida na Súmula 554 do STF é restrita ao crime de estelionato na modalidade de emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, § 2º, inc. VI, do estatuto repressivo. Recurso

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desprovido. (STJ - RO-HC 8.211 - BA - 5ª T. - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - DJU 14.06.1999)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16 Em sede de estelionato, salvo a hipótese de pagamento por meio de cheque sem provisão de fundos (§ 2º, VI), o ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade, impondo-se, apenas fazer incidir a causa obrigatória de diminuição de pena do art. 16, do Código Penal. Segundo as disposições do art. 89 da Lei 9.099/95, a suspensão do processo nas hipóteses em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a um ano deverá ser proposta se o condenado não estiver sendo processado ou não for reincidente, e se a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos e circunstâncias do crime indicarem ser necessário e suficiente o sursis processual. Em sede de concurso de agentes, o art. 30 do estatuto punitivo é expresso ao prever a incomunicabilidade das condições pessoais, o que impede a aplicação da extensão dos efeitos benéficos da proposta de suspensão aos co-réus. Recurso ordinário denegado. (STJ - HC 7.578 - PE - 6ª T. - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 28.06.1999 - p. 152)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. MOEDA FALSA. BOA-FÉ NÃO DEMONSTRADA. Insubsistente a pretensa desclassificação do delito previsto no art. 289, § 1º, para o § 2º, do CP, eis que não demonstrada a alegada boa-fé por parte do apelante. Inaplicável ao caso o art. 16, do CP, posto que não houve ato voluntário por parte do agente. Ademais, o delito em tela não atinge o patrimônio e sim a fé pública, pelo que o ressarcimento não enseja a diminuição da pena. (TRF 3ª R. - ACr 7.971 - SP - 1ª T. - Rel. Des. Oliveira Lima - DJU 30.03.1999)

PENA. DIMINUIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. RESSARCIMENTO DOS VALORES. SURSIS. CABIMENTO. CP, ART. 78, § 2º 1. Não transcorreu o prazo prescricional, porque interrompeu-se com o despacho de recebimento da denúncia. 2. A autoria e materialidade do delito ficaram comprovadas. O réu procedeu o ressarcimento dos valores apropriados, incidindo no caso o art. 16 do Código Penal para reduzir-se a pena aplicada. 3. Preenchendo o condenado os requisitos legais, cabe o sursis especial previsto no art. 78, § 2º do Código Penal. (TRF 4ª R. - ACr 97.04.70473-9 - PR - 1ª T. - Rel. Juiz Vladimir Freitas - DJU 14.07.1999 - p. 260)

PENA. DIMINUIÇÃO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. RESSARCIAMENTO DO DANO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CP, ART. 16. 1. Esta via, em razão de sua sumarização vertical, não comporta dilação probatória, devendo sua instrução ser composta por elementos pré-constituídos. Alegações de falta de justa causa, que podem até envolver exame de fatos, devem ser comprovadas prontamente, para que não se corra o risco de invadir área própria da ação penal, que é a do contraditório. 2. Coisas fungíveis dadas em depósito irregular (art. 1.280 do Código Civil) não podem ser objeto material de apropriação indébita; contudo, aquelas entregues para serem transmitidas a terceiro podem figurar nessa função. 3. Na dicção do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o ressarcimento do dano decorrente da apropriação indébita, mesmo efetuado antes do recebimento da denúncia, não tem o poder de descaracterizar o delito já consumado na inversão da posse. 4. Essa hipótese pode implicar o reconhecimento do arrependimento posterior (art. 16 do CP), causa especial de diminuição da pena, a incidir na dosimetria. 5. A conduta imputada aos pacientes configura crime, em tese, estando presente, por conseqüência, a justa causa necessária ao prosseguimento da ação penal hostilizada. Ordem denegada. (TRF 4ª R. - HC

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1999.04.01.061861-9 - RS - 2ª T. - Rel. Juiz Élcio Pinheiro de Castro - DJU 29.09.1999 - p. 554)

Se incidem duas causas de diminuição, a segunda diminuição deve recair sobre o quantum já reduzido pela primeira e não sobre a pena-base, evitando-se a pena zero . Esse princípio não foi observado pelo Juiz que sentenciou o processo nº 269/85 da 18ª Vara Criminal de São Paulo (Capital). Condenou o réu a dez dias-multa. Reduziu de um terço em face do erro de proibição vencível (CP, art. 21, caput , parte final). Depois, aplicou a redução de dois terços pela arrependimento posterior (CP, art. 16). Fez recair as duas diminuições sobre a pena-base, i.e ., reduziu três terços dos três terços, resultando a pena zero . Por força de recurso da defesa, a 4ª Câmara do TACRIMSP (v.u., em 02.05.1988) criticou a sentença. Não havia, porém, recurso da acusação, pelo que o erro tornou-se imutável.''

9871 - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - CPM, art. 303, § 2º. Decisão no âmbito do CPM, em face do princípio da especialidade. CP, art. 16. Sua aplicação a fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso (CP, art. 12). O arrependimento posterior (CP, art. 16) não está previsto na legislação penal militar. Os benefícios previstos no CPM (arts. 72, III, b, e 240, § 2º) não caracterizam o arrependimento posterior a que se refere o art. 16 do CP. O arrependimento posterior (CP, art. 16) é causa de diminuição da pena e não mera atenuante. HC deferido, para que, anulado o acórdão, no ponto, nova decisão se profira, tendo em conta o art. 16 do CP. (STF - HC 71.782-9 - RJ - 2ª T - Rel. Min. Neri da Silveira - DJU 30.06.95).

1. APELAÇÃO CRIMINAL - NECESSIDADE DE PRÉVIO RECOLHIMENTO À PRISÃO -

2. ARREPENDIMENTO POSTERIOR - REDUÇÃO DA PENA (ART. 16 DO CP) - EXTENSÃO A CO-AUTORES E PARTÍCIPES

3. A causa especial de diminuição da pena a que alude o artigo 16 do CP prevê o arrependimento posterior, que se exterioriza com a reparação do dano, e decorre de ato voluntário do agente e só a ele aproveita, até porque está condicionado à verificação de requisito de ordem subjetiva.

10202 - ARREPENDIMENTO POSTERIOR - (CP, art. 16). Ressarcimento feito por irmão da recorrente (ré). Exigência legal de "voluntariedade", e não de "espontaneidade". Causa objetiva de redução obrigatória da pena. Recurso especial conhecido e provido. Penas reduzidas de dois terços. (STJ - REsp. 61.098.2 - SP - 6ª T - Rel. Min. Adhemar Maciel - DJU 30.10.95)

10566 - PECULATO - Pena. Dosimetria. Arrependimento posterior. Redução. Art. 16 do CP. Se o acusado é primário, tem bons antecedentes, trabalha, agiu por amor filial, se as conseqüências do crime não foram graves, se ressarciu a vítima, não pode a pena ser fixada acima do mínimo legal. Maior deve ser o limite redutivo quando o ressarcimento se der mais próximo do fato criminoso. Quanto mais rápido for feito o ressarcimento, maior deve ser a redução prevista no art. 16 do CP. (TRF 1ª R - ACr. 95.01.25983-8 - DF - 3ª T - Rel. Juiz Tourinho Filho - DJU 26.02.96).

O arrependimento que se dá posteriormente à execução do crime é aquele previsto no art. 16 do diploma repressivo que, conquanto atenue a retribuição estatal, não tem o condão de excludente. Noutras palavras, se o arrependimento se situar na esfera de execução do delito pode ocorrer excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. No entanto, se ocorrer posteriormente à execução, só se admite a figura do arrependimento posterior.

O arrependimento que se dá posteriormente à execução do crime é aquele previsto no art. 16 do diploma repressivo que, conquanto atenue a retribuição

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estatal, não tem o condão de excludente. Noutras palavras, se o arrependimento se situar na esfera de execução do delito pode ocorrer excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. No entanto, se ocorrer posteriormente à execução, só se admite a figura do arrependimento posterior.

11283 - PECULATO IMPRÓPRIO - Princípio da insignificância. Redução da pena face ao arrependimento posterior comprovado pelo agente. Cabimento. Extinção da punibilidade pela Prescrição Retroativa da pretensão punitiva do Estado. O princípio da insignificância ou da bagatela não pode ser invocado em favor do réu em crime de peculato, mesmo diante do ressarcimento total e satisfatório do dano ao Erário, porquanto a lesão do bem jurídico patrimonial deve ser conjugada à lesão ao dever de fidelidade que o servidor público tem para com a Administração, subsistindo, no caso, o dano moral. Presentes todos os requisitos elencados no art. 16 do CP e sendo o réu primário e de bons antecedentes, é de ser aplicada a diminuição da pena em seu grau máximo. A pena de 8 meses de reclusão prescreve em 2 anos, nos termos do art. 109, VI, c.c. art. 110, §§ 1º e 2º, do CP. Extinção da punibilidade que se declara de ofício (art. 61 do CPP). (TRF 3ª R - ACr. 95.03.023.012-8-SP - 2ª T - Rel. Juiz Célio Benevides - DJU 26.07.95).

12742 - ESTELIONATO - Art. 171, caput do CP. Ressarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia. Extinção da punibilidade. Inocorrência. O ressarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia não extingue a punibilidade do crime de estelionato previsto no art. 171, caput do CP. A orientação contida na Súm. 554 do STF é restrita ao estelionato na modalidade de emissão de cheques sem suficiente provisão de fundo, prevista no CP, art. 171, § 2º, VI. O concurso material de crimes não impede o reconhecimento do estelionato privilegiado (CP, art. 171, § 2º), devendo o valor do prejuízo, para efeito da concessão do benefício, ser aferido separadamente em cada uma das infrações, que são autônomas e praticadas contra vítimas diferentes. Argumente-se, ainda, que o privilégio foi instituído em benefício do réu, não podendo ser interpretado em seu desfavor. Logo, não existindo norma legal que vede a consideração do prejuízo em separado, assim deve ser feito. A redução prevista no art. 16 do CP (arrependimento posterior) deve incidir também sobre a pena de multa, ainda que esta seja a única aplicada. Recurso provido para condenar o recorrido, extinguindo-se, em seguida, a punibilidade, em face da ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. (STJ - REsp. 109.426 - RS - 5ª T - Rel. Min. Edson Vidigal - DJU 10.11.97).

5. Não se observa, por outro aspecto, o alegado arrependimento posterior, muito menos nos moldes estabelecidos no art. 16 do CP.

13892 - PECULATO - Arrependimento posterior (CP, art. 16). Reparação integral. Pena. Dosimetria. Fundamentação suficiente. Regime prisional. CP, art. 33, § 2º, c. Para o reconhecimento da circunstância minorante prevista no art. 16, do CP, em se tratando de crime de peculato, é necessário que o agente efetue a restituição integral da quantia desviada, sendo irrelevante o recolhimento apenas do valor nominal, inexpressivo economicamente em período de inflação. Não merece censura a decisão que, ao fixar a pena-base acima do mínimo legal, indica objetivamente as razões e fundamentos pertinentes, na linha de compreensão do art. 59, do CP. A determinação do regime inicial de cumprimento da pena integra o processo de sua individualização, devendo, todavia, situar-se em consonância com os rigorosos parâmetros do art. 33, do CP, que prevê o cumprimento de pena igual ou inferior a 04 anos em regime aberto para os condenados não reincidentes. (STJ - REsp. 136.115 - SP - 6ª T - Rel. Min. Vicente Leal - DJU 29.06.98).

14256 - PECULATO - Ressarcimento do dano antes do recebimento da denúncia. Arrependimento posterior. Pena. Redução obrigatória. No arrependimento posterior

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(art. 16 do CP), uma vez preenchidos os requisitos de crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e reparação do dano ou restituição da coisa até o recebimento da denúncia ou queixa, incide a causa obrigatória de diminuição da pena que não fica adstrita ao mínimo legal previsto. Se o ressarcimento é feito após aquele ato processual a hipótese se revela como simples atenuante (art. 65, III, b, do CP) balizada pelo mínimo legal previsto no tipo. REsp. conhecido. Extinção da punibilidade - prescrição. (STJ - REsp. 154.587 - MG - 6ª T - Rel. Min. Fernando Gonçalves - DJU 09.11.98).

14704 - PRESCRIÇÃO - Pretensão punitiva: arts. 109, V, e 117, I e IV, do CP. Prefeito Municipal. Crime de desvio de bens ou rendas públicas (art. 1º, I, do DL. 201, de 27.02.1967). Arrependimento posterior (art. 16 do CP). Redução da pena. A Escola em questão foi construída na gestão do paciente, antes do recebimento da denúncia, embora depois de constatada sua falta pelo TCE. Sendo assim, a condenação à pena de 03 anos de reclusão, imposta no acórdão proferido na Ação Penal, haveria de ser reduzida, no mínimo, de um terço, nos termos do art. 16 do CP. E com essa redução da pena, por 02 anos, é de se reconhecer, em favor do paciente, ex officio, como demonstrou o segundo parecer do MP, a extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, em face do tempo decorrido entre a data do recebimento da denúncia e a da condenação. Tudo diante do que dispõem os arts. 117, I e IV, e 109, V, do CP. (STF - HC 75.908 - RO - 1ª T - Rel. Min. Sydney Sanches - DJU 03.04.98).

17497 – ESTELIONATO – ARREPENDIMENTO POSTERIOR – POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO A CO-RÉUS – Apesar de a lei se referir a ato voluntário do agente, a reparação do dano, prevista no art. 16 do Código Penal, é circunstância objetiva, devendo comunicar-se aos demais réus. Recurso conhecido e provido. (STJ – REsp 264.283 – SP – 5ª T – Rel. Min. Felix Fischer – DJU 19.03.2001)

Vide DELMANTO, Código Penal Comentado, p.344, absolvição em caso de reparação em crime de dano contra patrimônio públ.