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Se arrependimento matasse

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Alex, Alice e Rebeca são grandes amigos e decidem se reencontrar depois de alguns anos sem se verem. O lugar escolhido é o hotel dos pais de Alex, mas o que parecia uma viagem especial, repleta de conversas agradáveis e descontraídas com os outros hóspedes durante o jantar se transforma, em seguida, num pesadelo. Quando os três se preparam para dormir, ouvem batidas desesperadas à porta e seguem ao salão, onde logo descobrem que o cozinheiro fora assassinado. Com a comoção, somada à dificuldade de fuga devido à tempestade e névoa lá fora, a confusão logo se instala no hotel, além de um desagradável clima de suspeita entre os hóspedes. TENSÃO. A REVELAÇÃO DE UM DETETIVE. E UM DESFECHO SURPREENDENTE.

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Alma Cervantes

searrependimento

matasse

coleção novos talentos da literatura brasileira

São Paulo 2013

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Copyright © 2013 by Alma Cervantes

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Coordenação editorial

diagramação

Capa

preparação

revisão

Nair FerrazDimitry UzielMonalisa MoratoCátia Pietro da SilvaUmberto Rodrigues

dados internacionais de catalogação na Publicação (ciP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catalogo sistemático:1. Ficção : Literatura Brasileira 869.93

2013impresso no brasilprinted in brazil

direitos cedidos para esta edição à novo século editora ltda.

cea - Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 - 11º Andar

Bloco A - Conjunto 1111CEP 06455-000 - Alphaville - SP

Tel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 3699-7123www.novoseculo.com.br

[email protected]

Cervantes, Alma Se arrependimento matasse / Alma Cervantes. -- 1. ed. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013. -- (Coleção novos talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

13-04010 CDD-869.93

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A todos os que me apoiaram desde o início; e também a todos os que viram com preconceito.

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Reunião

É dito que quando alguém conhece o verdadeiro de-sespero, se não houver distração constante e eficiente, a pessoa se perde nas profundezas da loucura até o fim de sua vida. Não... Pode-se dizer que, neste ponto, a vida já não existe mais; é apenas um cadáver errante. Contudo, posso afirmar que há um meio muito mais simples para chegar-se a esse mesmo resultado...

* * *

Este seria um dia especial, em que os amigos fariam uma viagem a qual planejavam havia meses. Iriam a um ho-tel que se situava longe da cidade, onde passariam três dias e, como havia passado muito tempo desde que se encontraram pela última vez, tinham muito para conversar. O tempo estava ótimo; o verão estava intenso, o que os deixava ainda mais ani-mados, pois como o hotel possuía uma piscina, teriam ainda mais coisas para fazer.

Haviam parado em uma loja de conveniência no meio da estrada para comprar vários tipos de aperitivos e peque-nas besteiras, como baralhos e outras coisas. Os dois passavam pelos corredores da loja selecionando vários objetos que jul-

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gavam importantes. Enquanto isso, o outro rapaz esperou por quase vinte minutos abrindo e fechando a janela do carro para passar o tempo, até que os outros dois voltaram, cada um com duas sacolas cheias de coisas. Colocaram as sacolas no banco de trás e entraram no carro.

– Eu não disse para vocês não exagerarem? Por isso de-moraram tanto – disse, frustrado, o rapaz de aproximadamente vinte anos que esperava no carro. – Haverá muita comida lá e vocês sabem que não precisam se preocupar com dinheiro... Será tudo por minha conta.

– Cale a boca, Alex! Nós não poderíamos viajar deste jeito sem colaborar com nada – retrucou a única garota do grupo.

– Mas isso é incrível... Nunca imaginei que a sua famí-lia tivesse um hotel! – exclamou o outro, admirado. – Por que nunca nos contou?

– Não conto isso às pessoas porque odeio ser julgado sem que realmente me conheçam. Desculpem-me por nunca ter contado a vocês...

– Não há motivo para desculpar-se e, além disso, só esse seu jeito convencido já é o suficiente – disse a garota, rindo.

– Ah, fique quieta! – disse o primeiro enquanto dava um beliscão na perna esquerda da garota.

Eram amigos havia muito tempo... Rebeca era à parte do estereótipo de garota comum: cheia de mimos e capri-chos. Tinha os cabelos longos e loiros, e beleza de dar inveja a muitas garotas de sua faixa etária. Alice era um rapaz superin-trovertido, mas seria facilmente popular com as mulheres se tivesse interesse, pois era de alta estatura e tinha olhos dema-siadamente verdes. Seu nome sempre foi motivo de piadas em

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todos os lugares, já que era supostamente feminino.Após algum tempo na estrada, todos permaneciam

quietos. Alex estava deitado no banco de trás, aproveitando que Alice dirigia com Rebeca a seu lado.

– Alex? – Ouviu ele de repente a voz de Rebeca. – Es-tava dormindo? Estou te chamando há um tempão...

– Não, desculpe, eu estava apenas pensando – respon-deu com a sensação de ter despertado de um sono profundo. – Bem, acho que dormi um pouco sem querer.

– Eu tinha perguntado se seus pais também estarão lá... – Sim, estarão. Se não estou enganado, alguém impor-

tante virá de longe e eles o receberão esta noite no hotel. – Mas, Alex, você não deveria receber essa pessoa junto

com seus pais? Quero dizer... Não atrapalharemos estando lá? – perguntou Alice em tom de culpa.

– É claro que não! Pelo contrário, vocês serão minha salvação – falou, rindo.

– O hotel é grande? Fico imaginando como deve ser poder fazer o que quiser e pedir qualquer coisa aos emprega-dos. E a comida? Deve ser muito chato ter um chef para fazer qualquer coisa que você quiser comer, não? – Rebeca per-guntou em tom irônico e, ao mesmo tempo, sonhador.

– Não é nada tão incrível quanto você pensa. Na ver-dade, minha liberdade lá é menor do que a dos hóspedes, já que o hotel é da minha família. Preciso ter cuidado para não sujar nada, não quebrar nada e preciso ter bons modos e agir sempre educadamente. – É tudo uma grande babaquice. Era o que iria dizer, mas engoliu suas palavras. – Bem, estamos quase lá.

Passaram-se poucas horas até ser possível avistar o des-tino. O hotel era aparentemente modesto, a construção era antiga, mas havia sido reformado recentemente, o que realçava

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sua beleza ainda mais. Seus três andares vistos de fora ocul-tavam a parte dos fundos, onde ficava a piscina e o salão de jogos. Na lateral, havia um estacionamento para os hóspedes e empregados. Por fim, as imensas portas na entrada passavam um ar de grandeza, o que fazia com que o lugar aparentasse ter valor histórico.

O estacionamento estava relativamente vazio, com poucos carros, mas eram todos novos e aparentavam ser caros. Olhando para as placas, era notável a variedade dos locais de onde os hóspedes vieram.

– Finalmente posso me esticar! – Alex se espreguiçava. – Por quanto tempo ficamos viajando? Parece que durou uma eternidade.

– Não reclame, você ficou dormindo a maior parte do tempo – retrucou Rebeca.

– Que nada, eu apenas descansava. Depois de estacionado o carro, começaram a retirar as

malas e sacolas do carro.– Acho que senti um pingo. Parece que vai chover logo

– disse Alice, passando a mão na cabeça.– Não brinca! Mas então como aproveitaremos a pisci-

na?! Se essa droga de chuva não passar logo, matarei alguém! – disse Rebeca, lançando um olhar ameaçador na direção de Alex.

– Ei, ei, vá com calma. Não precisa me olhar assim... Pelo que ouvi no rádio, é provável que faça Sol durante a se-mana toda.

Após pegarem todas as coisas e trancarem o carro, dirigiram-se à entrada dando a volta no prédio. O interior do hotel era deslumbrante: o teto era bem alto e com lustres enormes; havia colunas ao redor da entrada, o que reforçava o fato de ser uma construção antiga. À esquerda havia uma

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sala de estar com sofás e algumas cadeiras onde as pessoas po-deriam descansar ou ter uma conversa; junto às janelas ha-via cortinas escuras as quais eram decoradas com detalhes em dourado passando um ar sofisticado. Nessa mesma sala, uma estante cheia de livros, alguns aparentavam ser muito antigos, outros eram mais atuais. À direita ficava a sala de jantar, a qual estava fechada no momento e onde eram servidas as majes-tosas refeições. Seguiram ao balcão da recepção logo à frente, onde foram atendidos por um homem que aparentava ter por volta de cinquenta anos.

– Posso ajudá-los? – perguntou o homem, com pos-tura elegante. Após observar bem, percebeu quem havia che-gado. – Senhor Falconstone, estávamos cientes de tua estada. Qual seria o tipo de quarto adequado à vossa preferência?

– Nós queremos um quarto para três. Ou melhor, dois quartos, já que temos uma garota com a gente – pediu Alex de forma completamente informal, causando um contraste quase cômico entre os dois. – Ah, e se eles puderem ser interligados, melhor ainda.

– Aguardem um momento: verificarei os quartos dis-poníveis – disse o homem, virando-se para olhar uma espécie de livrinho que continha informações sobre os quartos.

– Incrível, o hotel parece ainda maior olhando de den-tro – admirou-se Alice, curioso, enquanto lia um folheto que havia pegado no balcão e mostrava em detalhes as áreas do hotel.

– Andrei, o senhor saberia me dizer se meus pais che-garam? – perguntou.

– Certamente. Contudo, foram tratar de alguns assun-tos, mas creio que retornarão em breve – respondeu. – Perdão pela demora, senhor Falconstone... Os quartos estão à vossa

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espera no primeiro andar.– Pare de me chamar assim, eu me sinto horrível – dis-

se o jovem um pouco sem jeito. – Pelo menos me chame de Alexander, por favor.

– Como desejar, senhor. Agora, Jeremiah vos guiará e carregará vossa bagagem.

– Sejam bem-vindos. – Ouvia-se uma voz vinda de trás dos três.

– Ei, não me assuste desse jeito! – exclamou Alex com um pulo. – Desde quando você está aqui?

– Oh, perdoe-me, jovem Alexander – disse o emprega-do com uma risada cheia de sarcasmo, como se aquela tivesse sido a intenção desde o início. Era uma figura excêntrica: um homem alto com cabelos compridos e presos em um rabo de cavalo; seu olho esquerdo era quase preto enquanto o di-reito, de um azul bem claro; para completar, vestia luvas de cores também diferentes: a direita, preta e a esquerda, branca. – É uma honra poder servir senhorita de beleza tão ofuscante.

– Está falando da Rebeca? – perguntou Alex, rindo como se tivesse ouvido uma piada absurda. – Você continua cômico, não, Jeremiah?

– Não sei do que está falando, senhor – disse rindo mais uma vez em tom extremamente irônico.

– O que é que vocês estão falando aí? – perguntou Rebeca, que bateu na cabeça de Alex em protesto.

– Fiquem calmos, vocês dois... Vocês realmente não mudaram nada desde que terminamos o colégio – disse Alice, sorrindo. – Bem, vamos aos quartos, então?

Havia dois lances de escadas, um de cada lado do bal-cão da recepção, os quais levavam ao primeiro andar, onde seus quartos eram situados. Guiados por Jeremiah, que car-

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regava a bagagem com um carrinho, os três dirigiram-se aos aposentos e, como fora pedido, ficavam um ao lado do outro e eram interligados por duas portas que podiam ser trancadas cada uma por dentro de um dos quartos, funcionando como uma só porta que abria quando ambos os lados permitiam.

Ambos os quartos eram grandes e com decorações exageradas. Logo ao lado da entrada havia um banheiro e, do lado oposto, a porta que ligava um quarto ao outro. Os quartos eram completamente iguais, mas simétricos. As janelas eram largas e estavam cobertas por grandes cortinas brancas.

– Estão todas aqui. Se me permitirem, retornarei ao salão principal – disse Jeremiah, curvando-se levemente. – Es-tarei à disposição para qualquer necessidade.

– Pode deixar. Muito obrigado – agradeceu Alex.– Nossa, este lugar é ótimo – disse Rebeca após deitar-

-se na cama olhando para o teto.– Ei, este quarto é do Alice e meu! O seu é o outro –

provocou Alex, que começou a jogar as roupas de sua mala em cima da garota.

– Alex, deixe de ser chato. Estou certo de que você não gostaria de ficar em um quarto sozinho. – Alice o repreendeu enquanto organizava metodicamente suas roupas.

Ao terminarem de guardar as coisas que trouxeram, pararam por alguns instantes.

– O que faremos agora? – indagou a garota.– Ainda é cedo. Podemos fazer qualquer coisa – disse

Alex.– O que acham de colocarmos a conversa em dia? A

sala de estar lá de baixo parece um ótimo lugar – sugeriu Alice.– Boa ideia. Vamos lá. Saíram dos quartos e trancaram as portas. Quando pas-

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savam pelas escadas, encontraram-se com uma camareira que estava de passagem, a qual Alex demonstrou conhecer.

– Dona Rosa, como vai a senhora? – perguntou, pois como era filho dos donos, conhecia quase todos os funcioná-rios do hotel.

– Jovem Alex, você já é um homem! Ainda lembro--me dos dias em que você vivia correndo pelo hotel – disse a senhora, que aparentava ter passado dos setenta anos.

– Verdade – concordou ele. – E a senhora sempre me repreendia dizendo que eu fazia bagunça demais e deveria comportar-me melhor. Era tão severa quanto uma professora.

– Mas claro. Crianças necessitam de educação adequa-da; do contrário, tornam-se todos uns vândalos! Você não vê o tipo de coisas que fazem hoje em dia? Os tempos andam pe-rigosos – disse a idosa, reflexiva. Soltou uma risadinha discreta. – Falar sobre essas coisas me lembra de como o Jeremiah fazia você passar por aquelas situações embaraçosas. Com certeza nunca me esquecerei disso.

– Mas que tipo de situações? – perguntou Rebeca, rin-do. – Depois você precisa contar tudo em detalhes, Alex. Mas, falando sério, não consigo imaginar as brincadeiras daquele cara. Ele é muito estranho.

Nesse momento, todos tiveram a impressão de ter ou-vido alguém rindo de longe.

– Estão vendo?! Esse cara é estranho – reforçou.Todos riram diante da convicção da garota ao dizer

aquilo sobre o homem.– Fico feliz em saber que está bem – disse a empregada

a Alex. – Não posso tomar o tempo de vocês. Além disso, es-tou no meio do trabalho.

Ela logo saiu escadaria acima e sumiu de vista. Segui-

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ram então à sala de estar, situada perto da entrada do hotel. Cada um procurou um lugar para se sentar, onde ficaram em silêncio. Os amigos continuaram a se observar por vários mi-nutos. Finalmente sentiam o tempo que havia passado e o quanto sentiam falta um do outro. A loira foi a primeira a falar.

– Puxa, quem imaginaria que nos reuniríamos depois desse tempo todo? – Rebeca disse animada. – O que vocês têm feito?

Alice e Alex olharam um para o outro como que para entrarem em acordo sobre quem falaria primeiro.

Alex começou, então:– Bem, como posso dizer? Estou completamente per-

dido! – disse rindo, o que pegou os outros de surpresa. – Meus pais querem que eu siga seus passos os suceda nos negócios, mas não há nada que me deixe realmente interessado. E se houvesse, com certeza não seria isso.

– Você ainda nem mesmo decidiu?! Mas que preguiço-so! – reclamou a garota. – E você, Alice?

– Estou no último ano da faculdade – respondeu.– Nossa! – exclamou o outro. – Quer dizer que entrou

logo que terminamos o colégio, não foi? Qual é o curso? – Engenharia Civil. Pensei bastante a respeito e decidi

que seria o melhor para mim. – Mas que vida mais sem graça – criticou Rebeca. – É

disso que você realmente gosta? – perguntou indignada.– Pode não parecer incrível, mas é algo que proporcio-

nará boas condições para que eu possa criar e sustentar uma família.

– Se você diz... – Alex deu de ombros.Nesse momento, algo dispersou a atenção deles. Uma

figura estranha surgiu: um homem de cabelos muito compri-

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dos e escuros, o que – somado à barba e ao olhar desconfiado – causava certo desconforto. Entrou no hotel e em vez de seguir à recepção, caminhou em direção aos três.

– Com licença. Onde fica a recepção? – perguntou o homem, cujas roupas e mala estavam molhadas em demasia.

– Você teria chegado lá se tivesse seguido reto – disse Alex em tom ligeiramente agressivo.

– Ah, perdão por minha falta de atenção – desculpou--se o homem, abaixando a cabeça. Virou-se e seguiu ao balcão de recepção.

– Não precisava ser tão direto, Alex – disse Alice.– O cara ignorou a recepção bem na frente dele! – re-

clamou ele, abismado.Rebeca interrompeu então o assunto entrando no

meio dos dois:– Podemos voltar à nossa conversa? Esqueçam o ho-

mem. – Certo, desculpe. Ah, lembrei algo que queria per-

guntar há algum tempo... O que foi aquilo sobre um acidente de carro? Lembro-me de ter ouvido que você estava no local, Alex – perguntou Alice, preocupado.

– É mesmo! Eu também soube e fiquei muito preocu-pada. O que houve?

– Sinto dizer, mas ficaram preocupados à toa – riu.– Alex! Isso não é coisa para brincar. – Alice o censu-

rou em tom sério.O outro, cedendo, corrigiu-se.– Foi apenas um acidente comum, mas não lembro di-

reito o que aconteceu. Bati a cabeça e fiquei desacordado por um ou dois dias. Mas apenas isso.

Os outros dois fizeram expressões preocupadas, e o cli-

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ma animado de antes diminuiu. Alex continuou.– Enfim, já estou ótimo agora. Não precisam fazer es-

sas caras. – Se é assim, tudo bem. – Alice virou-se para a direção

de Rebeca e disse: – Você ainda não nos disse o que tem feito. – Isso mesmo. Vamos ouvir a vida grandiosa que tem

vivido – provocou o outro em tom de deboche enquanto folheava um livro que havia pegado na prateleira, fingindo desinteresse.

– Bem, lembra-se do sonho que tínhamos na época do colégio, Alice? – perguntou ela.

– O de nos tornarmos grandes escritores? – Exatamente! Tenho me esforçado muito e, recente-

mente, uma revista famosa de histórias em quadrinhos acei-tou meu rascunho, e em breve minha história começará a ser publicada semanalmente! E então? Ficaram sem palavras, não? – gabou-se a loira com um grande sorriso e tamanha empol-gação que até se levantou da cadeira.

– Isso é mesmo incrível, Rebeca! – Alice a elogiou, verdadeiramente impressionado. – Nunca pensei que algum de nós realmente conseguiria.

– Meus parabéns! – Alex também a elogiou, deixando o livro de lado. – Nunca pensei que você pudesse fazer algo decentemente – riu.

– Ei, fique quieto! Você é o único perdedor aqui – dis-se ela, mostrando a língua a ele e sorrindo em seguida.

– E o Alice deve estar morrendo de inveja, não é mes-mo? – provocou o amigo. – Talvez ainda tenha tempo para ficar arrependido.

– Estou decidido. Esse sonho é passado agora, fora que não tenho o talento necessário. As histórias da Rebeca sempre

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foram superiores às minhas. – Como assim?! Seus romances eram ótimos – retru-

cou ela. – Nossos estilos eram completamente diferentes. Você não deveria ter desistido.

– Tudo bem, ainda escrevo como passatempo, de qual-quer forma.

– Boa sorte neste seu último ano, então! Se foi isso o que decidiu, vá com tudo! – A garota o encorajou.

– Claro. E assim que sua história ficar famosa, quero ser o primeiro a receber um autógrafo seu – disse Alice.

– Pode deixar! Vocês dois serão os primeiros a receber autógrafos – afirmou, erguendo o polegar.

– Espere aí! Quando foi que eu disse que queria seu autógrafo?! – reclamou Alex.

– Você com certeza será meu fã – Rebeca riu. – É uma história muito intensa na qual a protagonista entra nos sonhos das pessoas para combater seres chamados “Angelus”, os quais conseguem manipular os sonhos e com isso drenam energia vital para sobreviver.

– Certo, certo! Já entendi! Muito legal sua história – disse, nocauteado pela empolgação da garota que, por sua vez, percebeu que ele dissera aquilo para que ela parasse de falar.

Rebeca cruzou os braços e virou-se com as costas para ele, estufando uma de suas bochechas em frustração. Vendo isso, Alice riu, pensando que os dois realmente se davam bem.

Alex lembrou-se então de algo e virou-se para o outro.– Ei, Alice. E o seu nome? Achei que estava ansioso

para mudá-lo. Alice esperava por aquela pergunta. Era uma questão

de tempo até que alguém percebesse.– Sim, eu realmente era muito ansioso para fazer de-

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zoito anos e trocar de nome. Mas as coisas mudaram. – É mesmo... Você odiava seu nome e até brigou com

seus pais por causa dele – relembrou Rebeca.– Afinal, não é comum um homem ter o nome “Ali-

ce”. Mas por que mudou de ideia tão repentinamente? – per-guntou Alex.

– Nada de mais. Na verdade, eu havia planejado e esta-va tudo pronto. Meus pais acompanharam-me até o cartório, mas mudei de opinião bem na hora. Percebi que nunca havia pensado do ponto de vista de meus pais, e não ficaria feliz des-cartando o nome que eles escolheram para mim. Hoje, sinto--me orgulhoso pelo nome que tenho.

– Entendo... A propósito, qual seria se tivesse mudado? – perguntou o outro, curioso.

Um momento de silêncio tomou conta do lugar.– Mas que cara é essa, Alice? – Rebeca perguntou ao

notar que Alice aparentava não querer dizer o nome por al-gum motivo. – Não vai dizer que estava tão preocupado em conseguir mudar de nome que se esqueceu de pensar em qual seria, vai?

Apesar de a garota ter feito tal comentário por brinca-deira e sem considerar que pudesse ser verdade, Alice concor-dou, o que fez com que os três caíssem na gargalhada.

– Que coisa. Sorte sua que mudou de ideia antes – dis-se Alex em tom zombeteiro. – Seria completamente ridículo quando perguntassem o nome e você percebesse que ainda não havia pensado sobre isso.

– Tem razão – concordou, embaraçado. Aproveitou-se da brecha para mudar de assunto. – A propósito, vocês sabem sobre as outras pessoas que estudaram conosco? Há muito não ouço deles.

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– Eu não tenho contato com ninguém – afirmou o amigo. – Mal falei com vocês durante esse tempo todo; difi-cilmente teria falado com alguém mais.

– Eu sei de alguns poucos, embora não saiba o quanto são verdadeiras. Foram apenas coisas que soube por outros – disse a outra. – Lembram-se daquela garota, a Mariana? Parece que tenta seguir carreira política. Acho que será candidata a vereadora ou algo assim. Sinceramente, não sei o que leva al-guém a tentar esse tipo de coisa.

– Vereadora? – indagou Alex, cheio de sarcasmo. – Pro-vavelmente não sabia o que fazer e decidiu que seria a melhor forma de ganhar sem ter trabalho.

– Não diga isso, Alex – censurou o outro. – Talvez ela realmente pense em melhorar a cidade.

– As pessoas não são como você, Alice. Mesmo que alguém tenha isso em mente no início, desistirá ao chegar lá. É a maior máfia que existe. Não vale a pena lutar contra ela se você pode apenas ignorar e ganhar dinheiro. Queira ou não, o que acontece não é muito diferente disso.

Como não queria ouvir uma discussão sobre política, Rebeca prosseguiu.

– Também houve uma vez que encontrei na rua aque-le garoto que sempre arrumava briga com os professores. Ele continua igualzinho.

Passados mais alguns minutos relembrando antigos co-nhecidos, Alex se levantou, interrompendo a conversa.

– Ei, vocês não estão cansados da viagem? Que tal su-birmos para tomar um banho e descansar um pouco?

Rebeca espreguiçou-se e concordou: – Boa ideia, es-tou mesmo exausta.

– Além do mais, já são sete horas. Logo o jantar será

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servido – acrescentou Alex. – Eles são bem severos em relação aos horários.

Com Alice também concordando, seguiram para pre-pararem-se para o jantar. Não muito tempo após chegarem, Jeremiah apareceu à porta procurando por eles.

– Senhor Alexander, seus pais retornaram e desejam falar com o senhor – disse o empregado.

– Certo. Vocês podem começar a se aprontar que irei falar com eles e logo estarei de volta.

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