Arrogância - Ensaios sobre a Arrogância.pdf

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    outraspalavras.net http://outraspalavras.net/posts/outras-palavras-publica-os-ensaios-sobre-a-arrogancia

    Myriam BahiaLopes

    Outras Palavras publica os “Ensaios sobre a Arrogância”

    Em 2013, colóquio internacional na UFMG debateu esta expressão do individualismo contemporâneo, intensificadano contexto neoliberal. Dez textos tentam compreendê-la

    Por Claudine Haroche , Myriam Bahia Lopes e Yves Déloye* | Imagem: Anne Deon

    A partir dos últimos trinta anos assistimos a uma valorização da arrogância que reveste diferentes formas derelações humanas e produz efeitos devastadores. A arrogância é um termo que cresceu com o individualismocontemporâneo, com aquilo que denominamos de narcisismo de sociedades individualistas e, no presente, com oneoliberalismo. As noções de progresso, de acumulação ilimitada e de aceleração emolduram, no capitalismocontemporâneo, processos que se operam também no nível das subjetividades individuais. A arrogância permitearticular essas duas dimensões, por estar presente na história e na política e produzir formas de afirmação dadesigualdade que variam ao longo do tempo. Ela permite descrever e elucidar atitudes, condutas psicológicas esociais, participa de relações instáveis de poder, de dominação. A arrogância é um comportamento verbal ou nãoverbal, físico ou psíquico, exterior ou interior, que descreve o fato de se arrogar “bens” ou “pessoas”. Dar prova dearrogância é afirmar ou melhor reivindicar uma superioridade que, por intermediação do comportamento, decondutas, encoraja o indivíduo a se imbuir de sua pessoa para “se arrogar” uma posição dominante – e de nela semanter – para ir muito além, em uma sociedade de concorrência e de competição.

    Preocupados com esse tema inédito, pesquisadores e professores reuniram-se em uma segunda rodada dereflexões, continuando algo que havia sido iniciada na França, no Colóquio Internacional Arrogância*. No Brasil,

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    encontro ocorreu entre os dias 2 e 4 de setembro de 2013, no auditório da Escola de Arquitetura da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Os textos que publicamos noOutras Palavras exprimem umtrajetória de dois anos de trabalho sobre o tema. A presente edição em português teve origem nos textosapresentados no Colóquio e que foram retomados para a publicação na web.

    Algumas questões

    Faz parte da dinâmica da arrogância não levar em consideração a propriedade do outro, não levar emconsideração a presença do outro? Nessa direção, a concorrência ilimitada pela visibilidade instantânea em ummercado mundial se objetiva também com a produção de milhões de invisíveis?

    Em um mundo sem distâncias, topológico, a arrogância contemporânea estaria vinculada às mutações dapercepção e da vivencia do tempo e do espaço? À perda da moldura que ao articular passado, presente e futuropermitia vislumbrar a profundidade do processo, da experiência, da vida?

    A imediatez multiplicada pelas tecnologias contemporâneas – o declínio de mediações que inevitavelmente nascemdaí – imediatez e instantaneidade fariam violência ao indivíduo na medida em que o afastariam do tempo e dadistância necessários ao pensamento? Seríamos conduzidos a repensar a questão do Eu, do sujeito, dasubjetividade? Até que ponto?

    Seria possível falar de uma estética da arrogância? Uma desvalorização da postura de escuta, de parada, umaretratação do tato, do paladar e da audição e a primazia do olhar? A arrogância se fortaleceria nas formas dedesterritorialização, de falta de pertencimento, na ilimitação e na indiferenciação contemporâneas? Visto que opoder na sociedade contemporânea, como reflete Christian Laval, não implica nenhum sacrifício, nenhum dom,nenhum risco. Ele está do lado da predação e da acumulação.

    Ou como destaca Serres em sua teoria da propriedade: “Globalizada, a atual poluição resulta da luta pela posse doespaço em sua totalidade” O que coloca, em teoria, a noção de propriedade face a uma aporia, pois a perda delimites, o progresso ilimitado suprime os limites da própria propriedade. (SERRES, M. O mal limpo: Poluir para seapropriar?, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2011, p 90)

    Após essa breve introdução, convidamos o leitor a refletir quinzenalmente com os autores Yves Déloye, StellBresciani, Jacy Alves Seixas, Teodoro Rennó Assunção, Eugène Enriquez, Hélio Lemos Sôlha, Marion BrehpoClaudine Haroche e Myriam Bahia Lopes sobre as questões formuladas em seus textos sobre a arrogância.

    Claudine Haroche é socióloga, diretora de pesquisa (CNRS) e professora emérita no Centro Edgar Morin da Écoldes Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris. Com várias publicações, entre as quais, História davirilidade, século XX, Histoire du visage, A condição sensível – formas e maneiras de sentir no Ocidente, Rio deJaneiro, Contracapa, 2008 e com Nicole Aubert, As tiranias da visibilidade, São Paulo, UNIFESP.

    Yves Déloye é professor na Sciences Po (Ciências Políticas) de Bordeaux e diretor de publicação da RevueFrançaise de Science Politique. Publicou em parceria com Claudine Haroche, Sentimentos de Humilhação, Inpress2007.Myriam Bahia Lopes é historiadora e professora na Escola de Arquitetura e Design da UFMG, coordenadora doNEHCIT. Autora de O Rio em movimento, Fiocruz, 2001 e Corpos Inscritos.

    http://www.arq.ufmg.br/nehcit