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Arte e técnica na formação do arquitet o Livro de Edgar Albuquerque Graeff Universidade Católica de Goiás Arquitetura e Urbanismo Seminário de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo 2009.2 Prof. António Manuel Corado Pombo Fernandes Alguns destaques importantes

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Arte e técnica na formação do arquitetoLivro de Edgar Albuquerque Graeff

Universidade Católica de Goiás

Arquitetura e Urbanismo

Seminário de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo

2009.2

Prof. António Manuel Corado Pombo FernandesAlguns destaques importantes

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Introdução

“O chamado divórcio entre arte e técnica no campo da arquitetura tem sido situado, pelos historiadores e teóricos, na Europa do século XIX. Segundo esses analistas, os arquitetos não se teriam mostrado capazes de incorporar às práticas do seu ofício o desenvolvimento tecnológico facultado pela revolução científica dos séculos XVI, XVII e XVIII e requerido pela Revolução Industrial em curso no século XIX. Dessa incompetência teria resultado o referido divórcio, passando os engenheiros – recém-nascidos como profissionais – a assumir a vanguarda do desenvolvimento tecnológico na área da construção e, inclusive, da arquitetura.” (p. 09)

Verdade comprovada? Parece que não, segundo Graeff!

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“(...) quando a Revolução Industrial ensaiava seus primeiros passos, as exigências formuladas para a arquitetura começavam a ultrapassar as possibilidades científicas e técnicas de uma escola que insistia em cultivar a arquitetura como simples manifestação de arte plástica, nos tradicionais moldes acadêmicos.” (p. 58)

Segundo Graeff (p. 58), esse divórcio tem seu ponto de partida muito antes, ainda no Renascimento, quando o aprendizado da construção/arquitetura desloca-se do canteiro de obras “lugar por excelência do aprendizado do ofício, a verdadeira escola de formação dos arquitetos” para os ateliês dos pintores e escultores renascentistas, principalmente na Itália. “A Academia de Arquitetura de Paris foi fundada em 1671, sob inspiração do Renascimento italiano”.

E a Academia dava as costas para a nova realidade social!

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“A Academia continuava, de fato, conservadora e até mesmo reacionária em face dos avanços da ciência e da tecnologia (...) O mais provável é que o ato de violência revolucionária contra a Academia e a própria figura do arquiteto tenha sua origem em ilusões de cientistas e técnicos ortodoxos, principalmente das áreas da matemática e da física, dentre os criadores da Politécnica: eles acreditariam na possibilidade da engenharia, com base numa tecnologia científica, ocupar e dominar o campo da arquitetura; ou, talvez, que a arquitetura, depois da revolução tecnológica, passaria a constituir apenas um ramo especializado da engenharia. Essa idéia, aliás, vigorou entre os educadores da área da engenharia até fins da década de 50, no Brasil pelo menos.” (p. 60)

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Tecnologia da arquitetura e tecnologia da engenharia

“O traço distintivo dos sistemas estruturais arquitetônicos reside no seu compromisso original com a formação do ambiente que há de caracterizar o abrigo das atividades humanas. (...) É necessário e urgente, decerto, alcançar o rigoroso equilíbrio entre as cargas, as resistências e os apoios que garantem a estabilidade da forma/estrutura – mas o importante, tratando-se de arquitetura, é fazer com que essa forma contribua para a indispensável adequação do ambiente às atividades humanas que ele deve favorecer. Isso significa que a estrutura arquitetônica, além e acima dos compromissos técnicos com a estabilidade da construção, compromissos de caráter estático, por assim dizer, tem um compromisso maior, de caráter psicológico e estético.” (p. 62)

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“O mesmo não acontece com as estruturas operadas pela engenharia, que normalmente têm apenas um compromisso indireto com as atividades cotidianas dos homens. O contraponto da represa que alimenta a usina é com o empuxo e as infiltrações da água; a energia gerada vai iluminar a morada humana ou acionar seus aparelhos a dezenas de quilômetros de distância – e os homens fruem dos benefícios da luz e do trabalho dos motores...” (p. 63)

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O nascimento dos engenheiros

A tecnologia das estruturas metálicas nasce com as primeiras pontes, projetadas e executadas pelos industriais que produziam o ferro fundido.

A cima, a segunda dessas pontes, executada entre 1793 e 1796, ponte de Sunderland (Inglaterra), pelo empresário industrial Burdon.

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“Assim começa, portanto, em fins do século XVIII, a revolução tecnológica da construção, que vai encontrar seu coroamento em fins do século XIX, princípios do presente século XX: começa como fruto da Revolução Industrial, pelo menos na área da engenharia. Em rigor, a revolução tecnológica nasce antes dos engenheiros, e estes saem do ventre da própria Revolução Industrial.” (p. 64, com grifo meu)

Caramba! Que frase forte, provocadora... Será que tem sentido?

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Contribuições preliminares de arquitetos

O conjunto da construção está tão bem equilibrado que paredes muito leves podem sustentá-lo. Como alguns técnicos franceses asseguram, a forma das suas armações revela um conhecimento intuitivo do momento de inércia, do qual não se havia ainda elaborado a fórmula científica.”

Entre a construção da primeira e da segunda ponte em ferro na Inglaterra, precisamente em 1786, acontece a obra de substituição da estrutura de madeira da cobertura do Teatro Francês por uma estrutura de ferro forjado projetada pelo arquiteto Victor Louis, famoso construtor de teatros. Sobre essa obra diria Giedion: “O teto em ferro do Teatro Francês merece ser comentado por uma razão muito precisa.

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“A experiência pioneira de Victor Louis, entretanto, não permaneceu isolada: quando, em 1802, a cúpula de madeira do Mercado do Trigo

de Paris foi consumida pelo fogo, encomendou-se uma nova estrutura, agora em ferro, ao arquiteto Bellangé, que buscou a colaboração do

engenheiro Brunet.” (p. 65) Foi um dos primeiros trabalhos importantes de colaboração entre arquiteto e engenheiro.

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A nova sociedade industrial, os novos programas e a nova arquitetura

“(...) um avanço considerável ocorre com a invenção das passagens cobertas ou galerias, construídas com estruturas metálicas e fechamentos em vidros. A primeira dessas passagens cobertas foi a famosa Panoramas, em Paris, construída em 1800.” (p. 65)

“Michel Ragon destaca o significado desses edifícios inteiramente novos, quer enquanto programas de necessidades, quer enquanto aplicação de materiais e técnicas construtivas antes desconhecidas, e quer enquanto experiência insólita de agenciamento espacial urbano.” (idem)

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“Foi tão grande e rápida a aceitação desse embrião dos modernos centros comerciais (shopping centers), que em muito pouco tempo além da Panoramas outras cinco galerias estavam construídas em Paris. Por volta de 1840 elas chegavam a uma centena, só na capital da França.

A mais célebre de todas elas foi, sem

dúvida, a Galeria de Órleans, no

interior do Palais-Royal, construída

entre 1829 e 1831, segundo projeto de

um dos arquitetos de maior prestígio

na época, Pierre François Fontaine.”

(p. 66)

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“Para conduzir ao entendimento do que de fato ocorreu, o equacionamento da questão requer mais do que um par de coordenadas: ele exige a apreensão de um processo dialético complexo, historicamente desenvolvido, que inclui, num jogo de interações, não só os aspectos artísticos e tecnológicos da arquitetura, mas a participação destacada dos arquitetos-construtores e do desejo dos moradores, vale dizer, da aceitação e aprovação das propostas de solução por parte da opinião pública. (p. 66)

“(...) o fator decisivo das mudanças realmente substantivas no campo da arquitetura resulta fundamentalmente das exigências programáticas. São elas que, manifestando necessidades, interesses e aspirações individuais e sociais, induzem as transformações artísticas e o desenvolvimento da arquitetura e da sua tecnologia específica.” (p. 67)

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Para chegar a esse momento de glória, arquitetos, engenheiros colaboradores, industriais e outros construtores de vanguarda precisaram percorrer um longo e penoso caminho, durante quase cem anos. E isso eles fizeram apoiados apenas em uma tecnologia incipiente e em seus sólidos conhecimentos empíricos das técnicas tradicionais da arquitetura.” (p. 67)

Seu momento culminante ocorre, sem dúvida, na Galeria das Máquinas, do arquiteto Ferdinand Dutert, para a Exposição Mundial de Paris, 1889.

“O coroamento desse processo consistiu naquela arquitetura que procuramos caracterizar como arquitetura da burguesia, feita de ferro, vidro e luz.

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O famoso construtor belga Vierendeel, inventor da viga que leva o seu nome, apesar de seu reconhecido talento inovador, mostra-se perplexo e resistente: “(...) aquela falta de proporções produz mau efeito; as armações não estão bem equilibradas; não têm base, começam muito embaixo (...) A vista não exprime repouso. Os suportes da Galeria das Máquinas revelam outro erro: estão excessivamente vazios.”

Com a colaboração do engenheiro Contamin, Ferdinand Dutert criou a Galeria com um vão livre de 115 metros. “Não havia colunas de apoio: a armação em arco era contínua, vencendo o arco de solo a solo. A estrutura traduzia formal e esteticamente o fato estático...”

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A título de epílogo

“Em síntese: uma nova e esplêndida arquitetura nascera, florescera e dera seu melhor fruto, depois de um século de tentativas e experiências, realizadas por uma dezena de arquitetos de excepcional talento, que contaram com a colaboração de alguns engenheiros não menos excepcionais. Esse, aliás, tem sido historicamente o processo normal do desenvolvimento das ciências, das artes, das técnicas e dos ofícios: os homens de talento realizam as inovações e os outros as consagram através da generalização do uso.” (p. 93)