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Consuelo Alcioni Borba Duarte Schlichta Isis Moura Tavares IESDE Brasil S.A. Curitiba 2013 Edição revisada Artes Visuais e Música

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Consuelo Alcioni Borba Duarte Schlichta Isis Moura Tavares

IESDE Brasil S.A. Curitiba

2013

Edição revisada

Artes Visuais e Música

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© 2005-2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Capa: IESDE Brasil S.A.Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________S36a Schlichta, Consuelo A. B. D. (Consuelo Alcioni Borba Duarte) Artes visuais e música / Consuelo Alcioni Borba Duarte Schlichta, Isis Moura Tavares. - 1. ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2013. 202 p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3620-2 1. Arte - Estudo e ensino. 2. Arte - Apreciação. 3. Música - Instrução e estudo. I. Tavares, Isis Moura, 1970- II. Título.

13-1184. CDD: 707 CDU: 7(07)

22.02.13 27.02.13 043051__________________________________________________________________________________

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Sumário

Saber ver: quais são as chaves? ................................................................................................7Apreciar a arte é construir novos olhares .....................................................................................................8Apreciar a arte é não abrir mão da sua inutilidade ....................................................................................12

A técnica na arte: os fazeres artísticos ...................................................................................23Das formas de expressão cotidianas às linguagens artísticas ....................................................................24As artes visuais e suas técnicas ..................................................................................................................26As técnicas das artes visuais na escola ......................................................................................................38

Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem? ....................................................47Retrato ........................................................................................................................................................49Natureza-morta ..........................................................................................................................................52Cenas históricas .........................................................................................................................................55Cenas da mitologia ....................................................................................................................................61Cenas religiosas .........................................................................................................................................62Cenas do cotidiano .....................................................................................................................................64Paisagem ....................................................................................................................................................67O estudo dos gêneros na escola: o que fazer? ............................................................................................72

Alfabetização visual e códigos da linguagem ........................................................................77Para ler uma imagem: o domínio dos códigos da linguagem visual ..........................................................79A composição visual ..................................................................................................................................80A representação das formas .......................................................................................................................86A forma e a estrutura .................................................................................................................................90Simetria ......................................................................................................................................................91O equilíbrio e o peso visual .......................................................................................................................94O ritmo visual ............................................................................................................................................95O estudo da composição visual na escola: o que fazer? ...............................................................................97

Estilo: diferentes modos de ver e de representar .................................................................101Fazer arte não é copiar a realidade...........................................................................................................101A cor e a luz na arte .................................................................................................................................104O volume na arte ......................................................................................................................................108O estilo de Van Gogh ...............................................................................................................................109O estilo na arte: diferentes maneiras de pintar .........................................................................................112Diferentes modos de representar a figura humana ...................................................................................115O estudo da figura humana na escola: o que fazer? .................................................................................120

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A arte de ouvir .....................................................................................................................125Encaminhamento metodológico ..............................................................................................................126Organização dos conteúdos de música ....................................................................................................131O que é música? .......................................................................................................................................134Com que fazemos música? ......................................................................................................................135

O som ...................................................................................................................................139Elementos formadores do som .................................................................................................................139A composição musical .............................................................................................................................147E na escola: quando e como se ouve música? .........................................................................................149

Muitos tipos de música... .....................................................................................................153Gêneros musicais .....................................................................................................................................154Princípios de composição ........................................................................................................................160

Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical ............167Improvisação ............................................................................................................................................167Grafia musical ..........................................................................................................................................172Formas musicais ......................................................................................................................................175

As coisas que fazem sons... .................................................................................................183Instrumentos musicais .............................................................................................................................183A voz ........................................................................................................................................................191

Referências ...........................................................................................................................197

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Apresentação

E screver sobre Educação e Arte não é tarefa simples!

Embora abranjam problemáticas interessantes, curiosas e, no caso da Arte, até divertidas, muitas vezes é difícil compartilhar com a maioria das pessoas que o prazer advindo da apreciação da produção artística exige estudo e muito conhecimento, ou pelo menos um esforço para conhecer um pouco sobre arte!

Evidentemente, conhecer, longe de ser uma absorção passiva do repertório de alguém, exige de cada um de nós um esforço de interpretação das formas simbólicas para percebê-las como a expressão de alguém para outro alguém.

É isso que fazemos nesses quase dez anos de trabalho juntas: escrevemos e falamos sobre a Arte e seu ensino para educadores de crianças grandes e pequenas de muitos lugares, compartilhando muito mais dúvidas do que certezas.

De uma coisa estamos certas: o assunto é imenso e rico, e nunca cabe dentro de nossas horas de trabalho ou nas páginas escritas. Por isso, ao abrir este livro, considere-o apenas o início de nossa pesquisa, somente a primeira página do livro que você, como educador, poderá, a partir de agora, estar enriquecendo e complementando em nosso lugar.

Olhos e ouvidos atentos e vontade de aprender e ensinar são as duas coisas que podemos sugerir, pois, nessa viagem sem fim pelo mundo da Arte, sabemos por experiência própria que esta é a baga-gem de que você vai precisar.

Mas que o convite não se limite a uma viagem pelos conhecimentos artísticos apresentados neste livro, já que nada substitui o prazer provocado pelo contato com a produção dos artistas, de quaisquer tempos e lugares, pela leitura dos seus diários, pela leitura reflexiva de suas obras: conhecer Arte é compreender, é ser capaz de extrair dos objetos artísticos os seus sentidos ou suas razões.

Se a palavra saber – do latim sapere – significa “ter gosto”, esse é o nosso objetivo: saber para ter gosto em ver e ouvir mais para, de fato, apreciar a Arte.

O convite está feito. Só nos resta desejar uma feliz viagem pelo mundo da Arte.

Isis e Consuelo

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Saber ver: quais são as chaves?

P ara Bruno Munari (1968, p. 19-20), “cada um vê aquilo que sabe. Conhecer as imagens que nos rodeiam significa também alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais”.Mas, o que significa isso? O que isso quer dizer?Ora, de acordo com Munari, nossas experiências e conhecimentos influenciam

nosso olhar. Portanto, conhecer vai além da capacidade de enxergar ou de ouvir. Conhecer é compreender, é ser capaz de extrair de um objeto seus sentidos ou suas razões. Por isso, conhecer, longe de ser uma absorção passiva do repertório de alguém, exige do apreciador um repertório e um esforço de interpretação das formas simbólicas, para percebê-las como a expressão de outro sujeito e como uma mensagem a ser compreendida.

Para que se realize um efetivo exercício de leitura das imagens em sala de aula, o educador em arte deve conhecer as especificidades das linguagens artísticas, pois saber ler implica um processo de alfabetização visual. De fato, ler uma imagem exige o domí-nio do conhecimento de que ela é depositária, de modo que a leitura aplicada à obra de arte está estreitamente relacionada com a construção de significados a partir do repertório, da experiência cultural e da posse dos conhecimentos essenciais requeridos na apreciação.

Trazendo esse raciocínio para a temática de nossa aula, saber ver uma obra de arte – destacando o sentido da palavra sapere, do latim – é “ter gosto” em fazer algo. No caso, ter gosto em ver. Isso pressupõe o domínio do conhecimento artístico ne-cessário à assimilação dos seus sentidos ou daquilo que pretende exprimir. E esse é o objetivo de nossa aula: refletir sobre o que é necessário saber para ver mais, o que é preciso conhecer para apreciar ou saber ver a arte, em especial as artes visuais.

Carlos Drummond de Andrade (1967, p. 139), de uma maneira poética, dá pistas sobre o caminho:

[...]

Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma

Tem mil faces secretas sob a face neutraE te pergunta, sem interesse pela resposta,

Pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?

[...]

Belíssima maneira de chamar nossa atenção para as mil faces secretas es-condidas sob a aparente neutralidade de uma palavra, de uma imagem, não é?

O livro com máscara, de Joan Brossa1, mostra como é esse processo de leitura de uma obra de arte. Qual o sentido da máscara sobre o livro aberto? O que po-

1 Joan Brossa é bem co- nhecido na Espanha,

sua arte é irreverente e ele se define como poeta. Seu conceito de arte abrange a poes i a e sc r i t a , a poes i a vi sual, os objetos-poema, a p o e s i a n a f o r m a d e cenas curtas de teatro e , ainda, inclui os poemas em três dimensões colocados n o e n t o r n o u r b a n o . Algumas de suas poesias e n c e n a d a s , i n i c i a d a s e m 1 9 4 5 , a n t e c e d e m a s performances , renovando a l inguagem plást ica e a t e a t r a l dos anos 1950 e 1 9 6 0 . O u t r a s o b r a s n o s lembram a arte conceitual e as assem blages, objetos combinados com poemas q u e B r e t o n , t e ó r i c o d o m o v i m e n t o s u r r e a l i s t a , chamou de poemobjetos.

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demos deduzir dessa junção de livro aberto e máscara? O que pode significar um livro aberto? Na sua opinião, pode significar um convite à leitura?

Observe a imagem.

Na sua visão, por que Brossa colocou uma máscara sobre o livro? Quais sentidos podemos extrair desse “livro mascarado”? Como o artista vê o pro-cesso de leitura?

Que relações podemos estabelecer entre a obra Lectura, criada por Brossa, e “as mil faces secretas da palavra”, de que fala Carlos Drummond de Andrade?

Pois bem, o desafio é este: buscar as chaves que nos permitam ver as mil fa-ces, os inúmeros sentidos escondidos numa pintura, desenho, gravura, escultura, ou seja, num objeto que denominamos artístico, qualidade que distingue a arte de outros objetos, como os utilitários, por exemplo.

Apreciar a arte é construir novos olharesComo podemos deduzir, a função da arte, na escola, é

ensinar a ver, e por isso é preciso desencadear um processo de formação dos sentidos, pois os objetos, mais do que vistos, precisam ser compreendidos em seus significados. Para tanto, é necessário um trabalho contínuo e sistemático com a produção cultural que inclui, sem se restringir a elas, as obras de arte como via de familiarização cultural por meio do domínio dos conhecimentos artísticos sistematizados na forma de História da Arte.

Vejamos como isso acontece!

Vamos começar analisando o que distingue uma cadeira, utilizada no dia a dia, do Sofá de Jorge Duarte e da Cadeira Elé-trica de Andy Warhol.

Observe a cadeira ao lado.

Lectura. Concebido em 1984, realizado em 1989. Joan Brossa. Técnica mista, 9 x 63 x 32cm.

Cadeira utilizada no dia a dia.

Saber ver: quais são as chaves?

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É uma cadeira. Não precisamos explicar sua função, pois é obvio que todos nós, porque utilizamos constantemente esse objeto, sabemos muito bem para que serve. Mas, é claro que “saber” o sentido dos objetos utilizados no dia a dia é muito fácil, não é? A facilidade está exatamente no uso que fazemos desse objeto na vida diária. Por isso, quando vemos uma cadeira qualquer, não perguntamos “o que é isto?”: simplesmente a usamos!

No entanto, quando se trata de uma obra de arte, a situação muda total-mente e a pergunta “o que é isto?” passa a ser, habitualmente, feita pela maioria das pessoas porque, muitas vezes, não sabemos qual é a função desse objeto qualificado de artístico.

Pois bem, vamos relembrar primeiro o que diferencia as imagens ou obras de arte de outros objetos, como os prático-utilitários.

Observe o Sofá para Combinar com Pintura, de Jorge Duarte.

Olhando esse quadro, essa coisa desconhecida, procuramos entender seu sentido ou para que serve, pois sabemos que qualquer objeto tem uma função ou contém um significado. Portanto, vamos partir da famosa pergunta:

Vejamos então, utilizando as chaves, como sugere Drummond, do que trata essa pintura, o que pretende o artista, a respeito do que o quadro “fala”.

À primeira vista, vemos uma tela azul, mas quando lemos o título, Sofá para Combinar com Pintura, provavelmente procuramos o sofá. Vemos então dois desenhos de um sofá: um com linha branca e, virando o quadro de ponta-cabeça, outro, com linha preta.

Mas por que o artista desenhou um sofá? Qual a função que cumpre a repre-sentação desse objeto no quadro?

Pelo que vimos até agora, sabemos que não é a “coisa” – um sofá –, mas uma representação, e então, deduzimos que o “sofá” de Jorge Duarte não cumpre uma função estritamente utilitária, não serve para sentar. A partir daí, começamos a indagar qual o sentido dos desenhos do sofá. Por que o artista escolheu esse objeto

Sofá para Combinar com Pintura. 1987. Jorge Duarte.Óleo sobre tela, 118,5 x 149,5cm.

“O que é isto?”

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para desenhar? Que relações podemos estabelecer entre os desenhos desse objeto e o título da obra?

Será que o título da obra – Sofá para Combinar com Pintura – não nos dá uma chave para decifrar o sentido da representação do sofá nessa pintura?

Extraia do título as palavras-chave – sofá, combinar, pintura – e inverta as posições, como por exemplo pintura, combinar, sofá. Agora pense: não podemos estabelecer alguma relação entre o título dado ao quadro por Jorge Duarte e a práti-ca – inclusive muito comum! – de comprar pinturas que combinem com o sofá?

Podemos deduzir que o artista fez um trocadilho, um jogo de palavras.Isso significa que Jorge Duarte se utilizou desse objeto e do trocadilho como

um elemento explicativo e revelador do comportamento das pessoas frente à arte, estabelecendo uma conexão entre o modo como a usamos ou a função que atribuímos a ela. Ora, para a maioria das pessoas, um quadro serve para decorar. Portanto, uma pintura tem que combinar, por exemplo, com os móveis e as cortinas da sala.

Nesse sentido, por meio da representação desse objeto, o artista critica a prática de comprar quadros que combinem com o sofá e de atribuir aos objetos artísticos a função de, unicamente, decorar.

Jorge Duarte, por meio de linguagem artística, cria uma imagem que ironiza e questiona a ideia que muitas pessoas têm de que arte cumpre uma função mera-mente decorativa. É uma provocação do artista e, com seu Sofá para Combinar com Pintura, ele nos leva a rever nossa visão sobre a função da arte. Podemos entender que, para Jorge Duarte, a função de uma pintura não se reduz a combinar com qualquer coisa, muito menos com um sofá.

Além de superar a visão utilitária do objeto representado na leitura de uma obra de arte, que outras chaves nos permitem avançar na análise?

Voltando à imagem, podemos ver que, depois do título, há outras informações: a técnica, as dimensões e o ano de realização da obra. Nes-se caso, temos uma pintura a óleo, mas o que vemos sobre a tela não são desenhos? Olhando esses desenhos, se já vimos pinturas que são cópias quase fotográficas de uma cadeira, podemos nos perguntar: será que um rápido desenho de um sofá é arte?

A resposta só pode ser encontrada na própria história dos objetos artísti-cos e, nesse caso, principalmente no conhecimento das técnicas. Se recorrermos à História da Arte, podemos afirmar que essa obra exemplifica uma prática muito comum na contemporaneidade: a mistura das técnicas, pois vemos desenhos (um com linha branca e outro com linha preta), pintura e o fundo chapado em azul. Em segundo lugar, esse quadro, da década de 1980, é de autoria de um artista brasileiro que nasceu em 1958, pertencente a uma geração que não pretende mais fazer da arte um meio fotográfico de representação da realidade. Aqui temos mais uma chave: a técnica e as inovações propostas pelos artistas contemporâne-os, pois o fazer artístico só pode ser adjetivado de criador quando supera a mera repetição de fórmulas acabadas.

Contudo, a técnica entendida como maestria e habilidade para realizar uma cópia do real, a exemplo de muitos mestres do passado, ainda hoje é muito valo-

Mas podemos extrair desse objeto outros

sentidos?

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rizada. Muitas pessoas consideram verdadeiramente artistas apenas aqueles que têm essa capacidade, tomando como verdadeiras obras de arte apenas aquelas pin-turas que retratam um objeto com tanta semelhança que parece real. Se usarmos esse critério para dizer que isso é arte, então uma pintura que não seja uma cópia do real não é arte!

O problema está em valorizar todas as pinturas com os mesmos critérios, esquecendo-se, por exemplo, que um mosaico, no século VI, cumpria uma função muito diferente de uma pintura no século XX. Sua função, como parte da decora-ção de uma igreja, era dar visibilidade às histórias contidas na Bíblia e, numa épo-ca em que poucas pessoas sabiam ler, ilustrar as narrativas de modo muito claro.

Com esse exemplo, esclarecemos que não podemos partir de critérios ou padrões invariáveis de análise, pois é impossível reunir sob o nome comum de arte e analisar com os mesmos critérios objetos tão diferentes como, as máscaras africanas, os vitrais medievais, a pintura de cavalete etc., realizados com técnicas ou materiais tão diferentes e cumprindo funções tão diversas.

Se pretendemos fazer arte, depois da invenção da fotografia, precisamos criar novas maneiras de fazer, pois a técnica da fotografia reproduz a imagem de algo com mais rapidez. É o que quis nos dizer Picasso quando declarou: “Descobri a fotografia, posso me matar, não preciso aprender mais nada!”

Para apreciar ou ler uma obra de arte precisamos então de várias chaves, entre as quais destacamos neste capítulo a função da arte no contexto em que está inserida. Mas enfatizamos que não existe uma úni-ca chave e sim várias e que uma obra pode conter vários significados. Nes-sa perspectiva, assim como os ar-tistas, quando apreciamos ou lemos uma obra de arte, também criamos significados.

As outras chaves são:

conhecer quem é o artista, seu estilo e se sua técnica é inovadora;

saber a qual movimento artístico ou período pertence o artista;

saber o que pretendem os artistas desse movimento ou período artístico.

O que podemos deduzir disso?

Autorretrato. 1907. Pablo Picasso.Óleo sobre tela, 50 x 46cm.

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Apreciar a arte é não abrir mão da sua inutilidadeComo vimos, uma das chaves que nos auxiliam a dialogar com a obra é

saber que esse objeto não se prende a uma função utilitária.

Muito bem, na teoria, não parece complicado, não é?

Mas na prática essa distinção – a arte não cumpre uma função utilitária – pode criar uma confusão: a ideia de que a arte é inútil. É por isso que muitas pessoas deno-minam os objetos artísticos de (in)utensílios, objetos inúteis, para diferenciá-los dos utensílios, objetos úteis.

Nesse sentido, Maria José Justino (1999, p. 201) argumenta que “ninguém tem necessidade de que uma poltrona seja artística ou bela para que possa nela se acomodar. No entanto, por que se escolhe um entre dois tipos de poltronas identi-camente confortáveis?”

Para essa autora, a ideia da inutilidade da arte tem origem nessa incom-preensão e leva-nos a cometer dois equívocos: o primeiro é “o de reduzir arte à beleza”; o segundo,

o de entender por função uma determinação imediatista e prática. Entre a função de uma faca (cortar alimentos) e a de uma pintura certamente há uma distância, mas ambas têm funções, ambas desempenham papéis dentro de uma cultura. Se práticas, emotivas, sim-bólicas, pouco importa. Assim, apreciar a arte é não abrir “mão da inutilidade, o princípio do prazer superando o princípio utilitarista.” (JUSTINO, 1999, p. 201)

Podemos concluir que a utilidade da obra de arte não se realiza de maneira imediata, mas, mediata, isto é, mediada pelos conhecimentos que nos permitem tornar esse objeto tão familiar quanto outros.

Para finalizar essa abordagem, lembramos que a arte também é forma de conhecimento e, desse modo, pode não só “revelar as contradições da sociedade”, prestando-se a uma crítica social, como também “revelar ou representar tanto a vida interior do homem como a cultura”. É ainda uma forma de trabalho criador e de expressão, mas para que seja linguagem artística é preciso acrescentar novos ingredientes a essa forma de expressão. Além disso, a arte também pode “propor-cionar prazer” (JUSTINO, 1999, p. 201).

1. Destaque as diferentes funções da arte e argumente acerca da sua dimensão mais importante. Justifique sua escolha.

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2. Pesquise as diferenças entre os termos imediato e mediato, e o sentido da palavra mediado, e estabeleça as diferenças entre o princípio utilitarista e a função dos objetos artísticos.

Observe a Cadeira Elétrica, de Andy Warhol. Para criar essa cadeira, na década de 1960, o artista utilizou materiais e procedimentos artísticos da Pop Art. Por exemplo, a técnica da serigrafia, que possibi-lita várias cópias de uma mesma imagem e que, simbolicamente, podemos relacionar com a noção de reprodução em série e de grandes quantidades de bens de consumo, bem ao gosto da indústria cultural.

Leia atentamente o que o artista disse a respeito de um desses quadros, cuja temática é a cadeira elétrica:

Não se imagina a quantidade de pessoas que pen-durariam em casa o quadro da cadeira elétrica, so-bretudo se as cores das telas combinassem com as cortinas.

Ele ainda argumenta:Algumas pessoas, mesmo inteligentes, dizem que a violência é bela. Não consigo perceber isto, porque só há momentos belos, e aqueles momentos, para mim, nunca são belos. (apud HONNEF, 1992, p. 58)

1. Na sua opinião, qual o significado dessa afirmativa de Warhol? Analise a afirmativa e escreva uma pequena crítica.

Electric Chair (Cadeira Elétrica). 1967. Andy Warhol. Acrílico e serigrafia sobre tela, 137 x 185cm.

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2. Podemos estabelecer alguma relação entre o “sofá” de Jorge Duarte e a “ca-deira elétrica” de Andy Warhol? Por quê?

Agora, leia a seguinte afirmativa: “comprar ou ter um quadro pendurado na parede não é suficiente para se conhecer ou apreciar arte. Quando apreciamos um

objeto artístico, olhamos nossa própria experiência, pois este é porta-dor de diferentes valores e significados. Neste sentido, a arte é um meio de conhecimento da vida humana” (PINHAIS, 2000, p. 163).

Para Magritte2, a principal função da arte é tornar a visão um instrumento de conhecimento. Assim, quando representa objetos retirados do cotidiano, em situações inusitadas, leva-nos a questionar os modos de ver herdados, desafiando--nos a superar uma visão modelada no senso comum.

O próprio Magritte, a respeito desse quadro, disse: “O famoso cachimbo...? Já fui suficientemente censurado por causa dele! E afinal... conseguem enchê-lo? Não, é apenas um desenho, não é? Se tivesse escrito por baixo do meu quadro ‘isto é um cachimbo’ estaria a mentir!” (MAGRITTE apud PAQUET, 1995, p. 9).

O cachimbo, embora pintado de maneira tão realista e ilusória, continua a ser apenas uma representação do objeto, assim como a palavra cachimbo é um outro tipo de código utilizado para dar a ideia do objeto.

Você concorda com esta afirmativa?

Por quê?

2 René Magritte, pintor belga que viveu entre

1898 e 1967, foi um dos grandes expoentes do Sur-realismo. Esse movimento o r ig inou-se na França e desenvolveu-se na Europa e n o s E s t a d o s U n i d o s , du ran t e o pe r íodo com-preendido en t re as duas grandes guerras mundiais (1914-1945). Faziam parte d e s s e m o v i m e n t o , a l é m de René Magritte, outros n o m e s m u i t o f a m o s o s : S a l v a d o r D a l í , G i o rg i o de C h i r i c o , M a x E r n s t , Joan Miró etc. O principal teórico do movimento foi André Breton (1896-1966), que publicou várias obras, entre as quais o Manifesto do Surrealismo , de 1924, e ou t ro , de 1929 . Esses manifestos constituíam-se em declarações públ icas a respeito das razões que justificavam e fundamen-tavam uma proposta ou um programa de ação. Breton fo i poe ta , ensa í s t a , c r í -t ico e também compunha a s s e m b l a g e s , q u e e r a m objetos combinados com poemas e aos quais cha-mou poemobjetos.

A Traição das Imagens (Isto Não É um Cachimbo). 1928-1929. René Magritte. Óleo sobre tela, 62,2 x 81cm.

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Na sua opinião, por que Magritte deu o título A Traição das Imagens (Isto Não É um Cachimbo) a esse quadro?

Esse artista representava objetos do cotidiano de forma bem figurativa, mas, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, coloca-os num novo contexto, levando o espectador a ver o mundo sob uma nova ótica.

Os surrealistas não pintavam quadros para fazer uma mera cópia da reali-dade. Sua intenção era dar uma interpretação fantástica aos sonhos e explorar as ideias do absurdo e do inconsciente, frequentemente utilizando imagens absurdas e perturbadoras. O movimento surrealista deu muita importância à exploração do imaginário, inspirando-se nas teorias da Psicanálise freudiana sobre o inconsciente e os sonhos.

Nas obras surrealistas, percebemos uma inesperada combinação de obje-tos desconexos, utilizados para criar a ideia de uma realidade fantástica, diferente da vida cotidiana.

Destaque algumas características do movimento surrealista e alguns artis-tas conhecidos.

A imagem é expressão de alguém e para alguém e, enquanto representação de um olhar, tanto mostra como oculta coisas. Portanto, é necessário começarmos nossa leitura perguntando sobre os “porquês” dessa re-presentação, o que mostra, o que oculta e o que consa-gra, indo além do que se vê aparentemente.

Nesse caso, saber que a arte cumpre uma função distinta daquela atendida pelos objetos utilitários é uma chave importante para apreciá-la? Por quê?

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Para comprovar que o uso de uma cadeira, numa obra de arte, não se prende à função utili-tária desse objeto, observe a instalação3 de Lia Mena Barreto.

Lia Mena Barreto, em Jardim da Infância, organiza em círculo pequenas cadeiras, queimadas e quebradas, que nos remetem ao contexto de um jar-dim de infância.

1. Que objetos você identifica na imagem? Descreva detalhadamente um obje-to como este.

2. Tente chegar, a partir da descrição, ao que a instalação subentende. Sobre o que essas cadeirinhas nos “falam”? Por que Jardim da Infância?

3. Essas cadeiras adquirem outro significado, pois, quebradas e queimadas, não servem para sentar. Qual é seu novo significado? O que elas represen-tam? O que sentimos quando vemos essas cadeirinhas?

Jardim da Infância. 1995. Lia Mena Barreto.

3 I n s t a l a ç ã o : t e r m o que se aplica às mo-

dalidades de arte em que a o b r a d e a r t e c o n s i s t e e m u m a c o n s t r u ç ã o o u montagem de mate r ia i s , em caráter permanente ou temporár io , às vezes em grande escala, permitindo q u e o e s p e c t a d o r p o s s a nela entrar ou passar-lhe através. (MARCONDES, 1998, p. 158)

Saber ver: quais são as chaves?

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4. Que relações podemos estabelecer entre essas cadeiras e a situação da edu-cação, ou da sala de aula, na sociedade brasileira, e entre a instalação Jar-dim da Infância e a situação de nossas crianças?

ResumindoPara finalizar, destacamos os cinco principais pontos deste capítulo.

Saber ver uma obra de arte é ter gosto em ver.

Apreciar a arte é não abrir “mão da inutilidade, o princípio do prazer superando o princípio utilitarista” (JUSTINO, 1999, p. 201), e isso implica novos olhares. A apreciação exige a formação dos sentidos, um trabalho contínuo e sistemático com a produção cultural que inclui, mas não se restringe às obras de arte como via de familiari-zação cultural e o domínio dos conhecimentos artísticos sistemati-zados na forma de História da Arte. Além de proporcionar prazer, a arte é uma forma de conhecimento, de trabalho criador e expressão – portanto, é uma linguagem denominada artística.

O “sofá” de Jorge Duarte, diferentemente desse objeto no dia a dia, não cumpre uma função meramente utilitária, mas faz uma conexão entre o modo como ele vê a função da arte e o modo como muitas pessoas a veem: mero objeto decorativo que deve combinar com um sofá. Da mesma maneira, a “cadeira elétrica” de Andy Warhol. Para o artista, a possibilidade de alguém pendurar o quadro da “cadeira elétrica”, sobretudo se as cores combinarem com as cortinas, de-monstra a que ponto chegou a banalização da arte, perdendo-se de vista que esse quadro não é apenas uma bela composição de cores, mas também uma forma de desvendamento da violência e do poder de vida e morte de alguns poucos sobre a maioria.

A ideia da inutilidade da arte pode levar a dois equívocos: reduzir a arte à beleza e “entender por função uma determinação imediatista e prática, esquecendo-nos que qualquer objeto tem função, desempe-nha um papel dentro de uma cultura” (JUSTINO, 1999, p. 201).

Para ler uma obra de arte, precisamos de várias chaves, dentre as quais destacamos saber a função da arte no contexto em que está inserida. Outras chaves – como conhecer os artistas, os estilos e se as técnicas são inovadoras, o que pretendem e quais os temas ou gêneros mais enfatizados num movimento ou período artístico – são igualmente importantes.

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Lembramos que as reflexões sobre a função da arte não estão descoladas da prática escolar. A distinção entre um objeto artístico e um prático-utilitário deve estar presente nas conversas com os alunos e nas atividades propostas pelo professor. Por isso, é fundamental um constante estudo dos conteúdos das linguagens para que, de fato, tenhamos condições de desenvolver com segurança as atividades de leitura ou apreciação da imagem, aliadas ao exercício com as técnicas do desenho, da pintura, da gravura, da modelagem, da dobradura etc.

Os textos complementares vêm nessa direção: subsidiar o professor no planejamento de suas aulas de arte.

Para aprofundar o estudo sobre essa temática, sugerimos a leitura de dois textos da coleção Arte da Editora Módulo, escrita por Consuelo A. B. D. Schlichta, Isis M. Tavares e Rose Meri Trojan.

O primeiro texto – “Cadeiras” – foi extraído do Livro do Professor, e o segundo, com uma varie-dade de atividades sobre essa temática, do Livro do Aluno, da 1.ª série do Ensino Fundamental.

Cadeiras(SCHLICHTA, et. al., 1996, p. 52-57)

A cadeira é uma peça do mobiliário que se compõe de assento, para uma ou mais pessoas, e geralmente um encosto. Em todo caso, uma cadeira é um objeto que foi inventado pelo homem para sentar. E como diz Bruno Munari, continua a ser inventado:

Há anos se conta que arquitetos e designers de todo mundo (até eu projetei dois ou três) projetam milhares de modelos de cadeiras e poltronas, todos diferentes, todos inventados, mas parece que o problema ainda não foi resolvido, pois os arquitetos e os designers continuam atualmente a projetar cadeiras e poltronas, como se até hoje tudo não passasse de um equívoco.

Se pudermos estudar a história da cadeira, poderemos encontrar milhares de modelos, in-cluindo os bancos e sofás que possuem a mesma função básica: sentar. A partir desta, surgiram inúmeras variações e especificidades: tronos para reis, cadeiras de balanço, cadeiras de praia, cadeiras para escritório, cadeiras de rodas, cadeiras para bebês, sofás para namorar, cadeiras para dentistas etc.

Ainda recorrendo a Bruno Munari, também temos que levar em conta o aspecto estético das cadeiras:

De um inquérito rigorosíssimo sobre os gostos do público, concluiu-se que as cadeiras e poltronas devem apresentar os seguintes requisitos: serem cômodas, ricas, luxuosas e rústicas, caprichosas, rigorosamente téc-nicas e funcionais, espaçosas, estreitas, altas e baixas, fofas e duras, elásticas, elegantes, rígidas, que ocupem pouco espaço, vistosas, baratas, de um preço razoável, ostensivamente caras (por razões sociais), feitas de um único material, de materiais nobres, toscos, requintados, rústicos.

A partir dos materiais utilizados na sua fabricação, também podemos identificar uma gran-de variedade: de madeira, de madeira com palha, de vime, de ferro, de plástico, de alumínio, revestida de couro ou fórmica, com assento de tecido ou plástico etc. Cada um dos materiais pode ser mais ou menos sofisticado, cada tipo de cadeira pode combinar diferentes materiais entre si para a estrutura, para o assento ou encosto, para os braços, e assim por diante:

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Com todos esses materiais, um bom designer pode fazer uma cadeira ou uma poltrona desmontável, encartá-vel, giratória, fixa, com rodas, transformável, que pode ser descida ou subida, reclinável, móvel, para todos os usos. (MUNARI)

Por tudo o que já foi dito, acreditamos não ser necessário justificar a escolha desse tema que, além de oferecer boas condições de análise e observação do objeto no próprio espaço vivido pelo aluno, na propaganda, nas revistas, na televisão etc., é também tema de obras de arte.

1.ª série

Esse tema é abordado na 1.ª série, tomando como ponto de partida uma pesquisa em revistas, folhetos de propaganda e jornais, de diferentes modelos de cadeira. É importante que o aluno ob-serve bem as formas, os detalhes e todos os aspectos já indicados anteriormente.

Na literatura infantil, também podemos encontrar a cadeira como elemento significativo, como é o caso da história dos Três Ursos e outras que professor e aluno podem pesquisar.

Apresentamos, ainda, dois quadros de Van Gogh – A Cadeira de Van Gogh com Cachimbo e A Cadeira de Gauguin, – para que o aluno observe, além do aspecto técnico e formal, o aspecto simbólico que esse objeto adquire na obra do artista.

Para concluir a abordagem, pedimos que o aluno observe desenhos de crianças sobre o tema e alguns modelos diferentes do objeto e também desenhe. Esta unidade pode ser enriquecida com um trabalho sobre volume e formas tridimensionais por meio de modelagem em argila ou construção de uma cadeira a partir de caixas de papelão, como embalagem de remédios, perfumes, chás etc.

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Cadeiras – sugestões de atividades para alunos de 1.a série1.° Pesquise e recorte, de revistas e jornais, diferentes modelos de cadeira. Pode ser sofá,

banquinho, banco de praça,... tudo o que serve para sentar.

2.° Cole aqui aquelas que você achar mais interessantes.

3.° As cadeiras dos três ursos.

Uma menina que estava perdida entra na casa dos três ursos e encontra uma mesa com três pratos de mingau e três cadeiras: um pratão, um prato e um pratinho, um cadeirão, uma cadeirona e uma cadeirinha.

Sabe por quê?

Ali moravam o Papai Ursão, a Mamãe Ursa e o Filho Ursinho.

Será que você consegue imaginar a cadeira de cada um deles?

Desenhe-as aqui.

4.° Observe a cadeira de Van Gogh e compare-a com a de Gauguin.

Van Gogh, um artista que você já conhece, também desenhou cadeiras – a sua e a do seu amigo Gauguin, que também era pintor.

Através desses quadros, Van Gogh tentou mostrar como ele e seu amigo eram diferentes. Observe as di-ferenças entre os dois quadros.

A cadeira de Van Gogh é a mais simples, em cima dela estão o cachimbo e a bolsa do fumo que o artista usava.

Essa cadeira foi pintada durante o dia. Observe que as cores são mais claras e vivas.

5.° Observe a cadeira de Gauguin.

A cadeira de Gauguin é uma cadeira de braços, bem diferente. Sobre ela há dois livros e uma vela, mos-trando o interesse de Gauguin pela leitura.

Essa cadeira, ao contrário, foi pintada durante a noite. Observe as velas acesas e as cores mais escuras.

Quando Van Gogh pintou essas cadeiras, seu amigo Gauguin havia ido embora. Observe como as duas ca-deiras estão vazias, mostrando que os dois amigos já não se encontram no lugar onde conversavam um com o outro.

6.° Quais as diferenças e semelhanças entre as duas cadeiras?

7.° E a sua cadeira? Como você gostaria que ela fosse? Imagine... e depois desenhe-a!

A Cadeira de Van Gogh, em Arles, com Cachimbo. 1888. Van Gogh.

A Cadeira de Gauguin, em Arles, com Livros e Vela. 1888. Van Gogh.

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1. Assista ao filme O Enigma de Kaspar Hauser (1974), do cineasta alemão Werner Herzog. É a história de um jovem, criado em um sótão, sem nenhum contato humano, que vai para a casa de um criminalista, em Nuremberg, por volta de 1828.

2. Para ampliar a reflexão sobre a construção do olhar, sugerimos também o livro Kaspar Hauser ou a Fabricação da Realidade (1995), de Izidoro Blikstein, da Cultrix.

3. Para conhecer um pouco mais sobre as diferentes funções da arte, ler o artigo de Maria José Justino, “A admirável complexidade da arte”, do livro Para Filosofar (1999), da Scipione.

4. Ler para seus alunos o livro O Frio Pode Ser Quente? (1991), de Jandira Masur com ilustra-ções de Michele, da Ática, pois a autora apresenta, de modo poético, a ideia de que as coisas, as situações e a realidade podem ser vistas a partir de diferentes olhares. É um livro de literatura infantil para adultos também.

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