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A comunidade de Mumbuca e Samambaia, localizada no município baiano de Bom Jesus da Serra, vem se destacando de outras comunidades de sua região devido a iniciativas de auto organização, especialmente das mulheres, e de desenvolvimento das potencialidades locais, como o artesanato. A localidade é uma comunidade tradicional de remanescentes de quilombo, e o processo de reconhecimento começou de uma forma incomum. Tudo começou com um problema: a associação de moradores local na verdade era a associação da comunidade Pé de Morro, a qual Mumbuca fazia parte. Por causa dos problemas que ocorriam nesta associação (inadimplência), os moradores não conseguiam trazer nada para Mumbuca. Erisvalda, a presidente da nova associação de moradores, explica que foi necessário romper com a antiga entidade e criar uma nova na própria localidade, pois só assim os interesses de Mumbuca seriam melhor representados. Após a questão ser resolvida, o primeiro líder da nova associação de moradores, seu Luís, trouxe um representante do conselho quilombola da região de Vitória da Conquista, para realizar um estudo sobre as origens do povo da comunidade. Graças as histórias das pessoas mais antigas, como Dionísio, Dona Febrona, seu Libano, entre outros existia uma espécie de senso comum que apontava a descendência quilombola. A fim de tirar as dúvidas, Marinalvo do conselho quilombola, juntamente com Nelson, da Fundação Palmares, conversaram com os homens e mulheres, jovens e idosos, e produziram um documentário contando a história do local. Além de descobrirem que sim, aquela era uma comunidade quilombola, perceberam que uma comunidade vizinha, Samambaia, também se encaixava na mesma condição. Graças a isso, as comunidades se uniram, e hoje a associação que os representa se chama ‘’Associação de Bahia Ano 6 | nº 947 |Novembro | 2012 Bom Jesus da Serra - Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Artesanato promove autonomia das mulheres em comunidade tradicional quilombola 1 Tecidos de renda, pintados a mão, a venda em feira O símbolo da conquista do reconhecimento como comu- nidade tradicional quilombola.

Artesanato promove autonomia das mulheres em comunidade tradicional quilombola

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Page 1: Artesanato promove autonomia das mulheres em comunidade tradicional quilombola

A comunidade de Mumbuca e Samambaia, localizada no município baiano de Bom Jesus da Serra, vem se destacando de outras comunidades de sua região devido a iniciativas de auto organização, especialmente das mulheres, e de desenvolvimento das potencialidades locais, como o artesanato.

A localidade é uma comunidade tradicional de remanescentes de quilombo, e o processo de reconhecimento começou de uma forma incomum.

Tudo começou com um problema: a associação de moradores local na verdade era a associação da comunidade Pé de Morro, a qual Mumbuca fazia parte. Por causa dos problemas que ocorriam nesta associação (inadimplência), os moradores não conseguiam trazer nada para Mumbuca. Erisvalda, a presidente da nova associação de moradores, explica que foi necessário romper com a antiga entidade e criar uma nova na própria localidade, pois só assim os interesses de Mumbuca seriam melhor representados.

Após a questão ser resolvida, o primeiro líder da nova associação de moradores, seu Luís, trouxe um representante do conselho quilombola da região de Vitória da Conquista, para realizar um estudo sobre as origens do povo da comunidade. Graças as histórias das pessoas mais antigas, como Dionísio, Dona Febrona, seu Libano, entre outros existia uma espécie de senso comum que apontava a descendência quilombola.

A fim de tirar as dúvidas, Marinalvo do conselho quilombola, juntamente com Nelson, da Fundação Palmares, conversaram com os homens e mulheres, jovens e idosos, e produziram um documentário contando a história do local. Além de descobrirem que sim, aquela era uma comunidade quilombola, perceberam que uma comunidade vizinha, Samambaia, também se encaixava na mesma condição. Graças a isso, as comunidades se uniram, e hoje a associação que os representa se chama ‘’Associação de

Bahia

Ano 6 | nº 947 |Novembro | 2012Bom Jesus da Serra - Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Artesanato promove autonomia das mulheres em comunidade

tradicional quilombola

1

Tecidos de renda, pintados a mão, a venda em feira

O símbolo da conquista do reconhecimento como comu-nidade tradicional quilombola.

Page 2: Artesanato promove autonomia das mulheres em comunidade tradicional quilombola

Agr icu l to res Fami l ia res do Ter r i tó r io Remanescente de Quilombo Mumbuca e Samambaia’’.

O processo de organização comunitária trouxe mais do que o reconhecimento. A partir de 2007, o Projeto Gente de Valor, da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Social), trouxe meios para desenvolver as potencialidades locais.

Erisvalda conta: ‘’A gente fez um livro de planos, tivemos reuniões com o pessoal do projeto e daí formamos um grupo de interesse’’. O grupo de interesse formou um grupo de 20 mulheres para participar de um curso de artesanato, onde elas desenvolveram suas habilidades com a confecção de tecidos, crochê e pintura.

Se antes do curso as mulheres da Mumbuca e arredores apenas sonhavam, hoje os tecidos pintados à mão já ganharam espaços além dos limites de Bom Jesus da Serra. O grupo conta que apesar das dificuldades, tudo que é produzido vende dentro e fora do município, em eventos e outros espaços.

Além dos tecidos, existem outros produtos do artesanato típico. Bonequinhas de geladeira, bijouterias, borboletas (feitas de lacres de latinhas de refrigente), tapetes de tiras, entre outras coisas, que são produzidas pelo grupo e também por outros moradores e moradoras. ‘’Tem uma senhora, de quase 80 anos, que faz tapete usando dois pedaços de pau para trançar as tiras de pano, gente que faz vassouras, esteiras, aquele balaio trançado de cipó’’. Como relata Erisvalda, exemplos não faltam.

Apesar do sucesso da iniciativa, existem vários desafios a serem superados. A falta de uma estrutura mais organizada para comercializar o artesanato da comunidade; a dificuldade de se auto reconhecer quilombola por parte de algumas pessoas, especialmente jovens; e também a falta de estrutura da própria associação são as questões que mais mobilizam a comunidade.

Dificuldades a parte, todos exaltam as conquistas obtidas nos últimos anos. A escola tem professoras da própria região, que trabalham a cultura quilombola de forma mais ampla, e existe mais acesso a políticas que promovem melhorias na qualidade de vida, como os programas da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), elementos que, somados, se traduzem no aumento da auto estima de quem vive na comunidade de Mumbuca e Samambaia. Erisvalda resume tudo em uma frase: ‘’Nossa comunidade desabrochou’’.

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Exemplares do artesanato típico da região

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Apoio:

Programa Cisternas

O baú solidário é uma iniciativa que incentiva a leituraentre os moradores, funcionando como uma biblioteca