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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” Arteterapia e o resgate do “brincar”: auxiliando adultos através da Arte e do fazer artístico Por: Sônia Regina d´Azevedo Souza Leal Orientadora Profª Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2010

Arteterapia e o resgate do "brincar": auxiliando adultos através da Arte e do 'fazer' artístico

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Qual o papel da Arte no (re)olhar do indivíduo para si próprio? É possível resgatar, num adulto, a capacidade da autoexpressão genuína, através do fazer artístico e do lúdico? Quais os limites de atuação e intervenção dos arteterapeutas? Serão eles artistas, arteiros ou terapeutas? Resta a certeza de que “fazer Arte” é um dos meios mais naturais e prazerosos para a liberação de conteúdos inconscientes conduzem ao adoecimento emocional.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Arteterapia e o resgate do “brincar”:

auxiliando adultos através da Arte e do fazer artístico

Por: Sônia Regina d´Azevedo Souza Leal

Orientadora

Profª Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Arteterapia e o resgate do “brincar”:

auxiliando adultos através da Arte e do fazer artístico

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Arteterapia em

Educação e Saúde.

Por: Sônia Regina d´Azevedo Souza Leal

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AGRADECIMENTOS

Às lindas pessoas que tenho

encontrado em meus caminhos, por

obra e arte da Vida – pessoas

generosas e sensíveis a ponto de

compartilharem silêncios e

decodificarem ruídos.

Aos colegas das turmas I 036/039, por

transformarem meus sábados de 2009

em dias excepcionalmente alegres,

enriquecedores e “brincantes”.

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DEDICATÓRIA

À minha filha Isadora, pequena obra de

arte que vou esculpindo para doar ao

mundo.

Aos artistas, arteiros e arteterapeutas,

todos grandes artífices de uma preciosa

obra coletiva: a expressão da identidade,

da subjetividade e da criatividade, por

meio da Arte e do fazer lúdico.

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RESUMO

A criança saudável brinca de tudo e “com” tudo. Monta, desmonta e

remonta cenários imaginários, nos quais atua livremente, a todo instante,

dando forma e conteúdo a múltiplos personagens, modelados e dissolvidos ao

sabor de suas novas experiências e aprendizados cotidianos.

Contudo, à medida que o ser humano “cresce” e interage socialmente,

essa maneira lúdica e autêntica de se expressar é substituída por uma espécie

de ajuste compulsório às exigências e padrões sociais de sua coletividade.

A capacidade espontânea de externar prazeres e temores, por meio do

lúdico (o “brincar”), vai sendo ofuscada pela racionalidade do pensamento

dominante no meio social – meio, aliás, que confrontará o indivíduo com

inúmeros desafios e obstáculos, com os quais nem sempre poderá lidar de

forma satisfatória para si mesmo. Certamente, muitas dessas dificuldades se

tornarão dolorosas e talvez insolúveis, caso não seja facultada ao sujeito uma

forma de identificá-las e expressá-las, visando atingir a compreensão de suas

capacidades e limites.

Qual o papel da Arte nesse (re)olhar do indivíduo para si próprio? Como

estimular o retorno à alegria do “brincar” por meio da Arte? É possível resgatar,

num ser humano adulto, a capacidade da autoexpressão genuína de

sentimentos e expectativas, através do fazer lúdico? Como a Arteterapia

contribui para esse processo? Como se constitui um espaço arteterapêutico e

quais os limites de atuação e intervenção dos profissionais que ali atuam?

Afinal, quem serão eles: artistas, arteiros ou terapeutas?

Tais questionamentos surgem a todo instante, nos diversos espaços

onde se fala, estuda e exercita Arteterapia. Dentre tantas dúvidas, ainda

carentes de respostas, resta a certeza de que “fazer Arte” é um dos meios mais

naturais e prazerosos para a liberação de conteúdos inconscientes que, uma

vez represados, conduzem ao adoecimento emocional do sujeito, gerando

graves consequências para si e aqueles com quem se relaciona.

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METODOLOGIA

À contribuição indispensável de teorias e conceitos clássicos da

Psicologia e da Educação, juntou-se a leitura de obras de autores consagrados

de outras áreas do conhecimento, como Filosofia, Artes, Ciências Sociais,

Medicina e Comunicação Social, entre outras.

A consulta a artigos e teses fundamentou as explicações técnicas sobre

diferentes aspectos relacionados ao tema, aos recursos utilizados em ateliê

artístico e colocações específicas da clínica psicanalítica.

Com o objetivo de ampliar a percepção sobre o universo da Arteterapia,

foram inseridos depoimentos de profissionais que atuam na clínica e no ateliê,

cujas opiniões colorem, com o dinamismo da experiência cotidiana, as

reflexões acerca das dificuldades e possibilidades de expressão, por meio da

Arte, enquanto meio facilitador de uma terapia voltada para o fazer.

Complementando as fontes citadas, a autora buscou referências sobre a

capacidade humana desse fazer exatamente na Arte, em especial no cinema e

na literatura, duas expressões artísticas cujo discurso simbólico tanto impacta o

mundo real, ao reproduzir na tela – por meio de sons e imagens – e no papel –

através da construção narrativa tornada imagem pela grafia –, angústias,

alegrias e expectativas que acompanham todos os seres humanos,

cotidianamente, vida e mundo afora.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – A Arte como inspiração do Homem 11

CAPÍTULO II – A arte e o fazer artístico como formas de expressão 22

CAPÍTULO III – Arteterapia: “escuta” do universo do outro 30

CAPÍTULO IV – Escutando aqueles que fazem 42

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 50

ATIVIDADES CULTURAIS 52

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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INTRODUÇÃO

O poder de comunicar-se através de diferentes linguagens é um dos

grandes privilégios do ser humano, tanto quanto sua capacidade de expressar

emoções e pensamentos, utilizando materiais diversos e com o apoio de seus

semelhantes.

Longe de ser aspiração poética ou estética, associada equivocadamente

àqueles que lidam com o cotidiano de forma sonhadora, “viver com arte” pode

ser resultado de uma escolha consciente, de uma oportunidade plenamente

aproveitada ou, ainda, da necessidade de externar dores e bloqueios nascidos

em momentos e situações-limite.

Sob tal perspectiva, “transformar a vida em arte” significa, muitas vezes,

“transformar a própria vida através da arte”, outorgando-lhe um significado ou

uma ressignificação, a partir do instante em que se torna possível trazer à tona

inúmeros conteúdos inconscientes, com o auxílio de técnicas diversas.

Arteterapia é o campo no qual se desenvolve o objeto deste estudo.

Nesse ambiente específico, o fazer artístico se conjuga a diferentes terapias

expressivas e práticas lúdicas, a fim de auxiliar o indivíduo na compreensão,

aceitação e superação de suas próprias barreiras, conscientes ou não, a fim de

perceber e realizar plenamente suas potencialidades – passo essencial para

uma existência prazerosa e produtiva.

Nesse processo, a Arte se apresenta, por meio do fazer, com a

utilização de materiais plásticos e/ou técnicas expressivas, para proporcionar o

surgimento de imagens que traduzem, tão somente, a intensa vida interior do

sujeito que busca (re)conhecer e lidar com as próprias emoções para aprimorar

seu manejo de mundo.

Quando conduzido de forma eficiente, tal processo apresenta resultados

surpreendentes – não importando se o objetivo principal do trabalho é

possibilitar, ao sujeito, a liberação da energia psíquica aprisionada, a

dissolução de tensões diversas através do fazer artístico ou a emersão de

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conteúdos inconscientes subjetivos, visando uma análise através da

abordagem clínica.

Inspirado pelas diferentes possibilidades da Arte e desse fazer artístico,

o presente trabalho se propõe a registrar a importância da Arteterapia, como

facilitadora da expressão de conteúdos “aprisionados” que, tantas vezes,

provocam o adoecimento emocional do indivíduo adulto.

Pretende, ainda, destacar como tal proposta terapêutica conduz o sujeito

ao reencontro de prazeres simples e caros ao ser humano, mas abandonados

em função das exigências de seu meio social. Ao facilitar a abertura gradativa

dessas portas invisíveis, com o recurso da Arte, essa prática terapêutica guiará

o sujeito rumo ao resgate da (esquecida) capacidade de “brincar” – aspecto

que delimita, de forma inequívoca, a fronteira entre a saúde e a doença.

Apontada como um novo campo do conhecimento, a Arteterapia vem

produzindo excelentes resultados no tratamento do sofrimento psíquico. Uma

de suas principais características é primar pela abordagem isenta de críticas e

cobranças. Nesse exercício, além do caminho de vida trilhado pelo sujeito,

importa que este tenha uma genuína compreensão de sua estrutura e dos

mecanismos internos de que dispõe para lidar com os desafios do ato/arte de

viver.

Impossível deixar de mencionar a presença da dor emocional como

fonte de bloqueios diversos, que impedem o ser humano de expressar-se

plenamente e com alegria. Uma vez instalada, essa dor – nascida a partir de

motivos diversos e recorrentes, corriqueiros no mundo em que transitamos –,

promove o progressivo adoecimento e a morte da notável capacidade humana

de apreciar a vida, sentir e expressar prazer, alegrar-se com suas conquistas,

eleger ou recusar trajetos, brincar...

Expressar as próprias dores e escolher curar-se é um exercício cujo

grau de dificuldade varia de acordo com o indivíduo e a coletividade à qual

pertence. Permitir-se levar pelos caminhos da Arte, entregando-se às práticas

expressivas, é uma escolha do indivíduo, otimizada pela atuação do

profissional que o acolhe, escuta, incentiva e direciona nesse percurso.

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Contudo, nem sempre a importância dessa prática é plenamente

reconhecida, assim como nem todos os seres humanos acreditam que a Arte

seja um traço inerente à condição humana, e não uma “invenção” social.

Tal engano remonta, talvez, à postura amplamente difundida, em

especial nas sociedades ocidentais, de que o ser Homem deve utilizar

ferramentas visíveis e palpáveis, assim como o raciocínio lógico, para

reconhecer-se como sujeito, delimitar seus espaços, avançar em suas

conquistas e firmar-se diante de sua coletividade como um ser “capaz”.

Sob tal ótica, o “permitir-se” escolher caminhos alternativos pode

equivaler a tornar-se uma referência dissonante, em determinadas

coletividades. Entretanto, reside exatamente nesse “permitir-se” a chave para o

sucesso no trajeto a ser percorrido, objetivando a consumação do processo

que motivou tal escolha.

Cabe, portanto, a todos quantos hoje se encantam com os traços e

nuances resultantes da prática arteterapêutica, destacar como esse processo

pode ser surpreendente, (re)integrador e, acima de tudo, libertário.

Ao ajudar o indivíduo a mergulhar em seu inconsciente e retornar à

“superfície” social, compreendendo e elaborando os elementos ali guardados, a

Arteterapia faculta-lhe a oportunidade de (re)olhar-se. E isto fará toda a

diferença em suas escolhas de vida – ou, melhor dizendo, em sua Arte de

Viver.

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CAPÍTULO I

A ARTE COMO INSPIRAÇÃO DO HOMEM

“A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas a de abrir portas fechadas”

– Ernest Fischer

As instituições e os lugares, tal e qual os conhecemos e por onde

transitamos, são construídos por meio de interações múltiplas, das quais

somos ora protagonistas, ora espectadores. E, sem dúvida, a comunicação

humana é o elemento fundamental para a construção de tantos “mundos”, pois

gera a aproximação entre os indivíduos e a produção dos saberes e (a)fazeres

essenciais à existência, subsistência e sobrevivência da Humanidade.

Comunicando-se, o ser humano forma vínculos, constroi espaços e

estabelece as escolhas e os limites que pautarão a maior parte de suas

experiências e ações, ao longo da vida. Mais do que um simples ato de

abordagem do “outro”, através de algum tipo de linguagem de domínio do

grupo, comunicar-se significa estabelecer um contato proveitoso e prazeroso,

capaz de gerar desdobramentos positivos, projetos, avanços. E isso é

aprendizagem, é interrelacionamento, é (sobre)vivência.

Nessa dinâmica comunicacional – que, graças aos avanços

tecnológicos, hoje se processa em tempo real, ignorando limites geográficos e

fusos horários –, observamos que as barreiras ainda existentes são aquelas

impostas pelo Homem a si mesmo, sob a forma de dogmas, restrições e

bloqueios, geralmente criados pelo próprio Homem e pela necessidade (tão)

humana de ostentar e deter poder.

Aspectos tão antigos quanto influentes, como credos, religiões,

competição profissional e social, delimitação de territórios, posse de recursos

minerais ou poderio econômico seguem “interferindo” na plena comunicação

humana. Que outro elemento, senão a Arte, consegue propor uma trégua

nessa babel de discórdias, exatamente por expressar-se numa linguagem

universal e compreensível a qualquer indivíduo – a da criatividade humana?

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Reproduzir, por meio de sons e imagens, os fatos e objetos que

compõem seu mundo é uma atividade inerente e essencial às sociedades

humanas. Dar a essas produções uma feição estética, evidenciando

determinados aspectos ou buscando harmonia de traços e formas, é uma

necessidade presente em todas as culturas conhecidas.

Das cenas rupestres plasmadas nas paredes das cavernas aos games

interativos, produzidos para diversão nesta era tecnológica, tudo está

impregnado pela visão estética predominante na época de sua elaboração.

Como enfatiza Alejandro Reísin (2006), “a arte não tem um sentido

utilitário (...). Detém-se ali, num espaço impossível, criando um espaço-tempo

no qual é possível habitar”. (p.20).

Essa capacidade de unir mundos diversos e convocá-los a olhar na

mesma direção, pelo simples gosto de apreciar, emocionar-se e refletir,

transforma a Arte num ponto de encontro de povos, gerações, pensamentos e

inteligências, independente de origens, formatos e formações.

No entendimento de Reísin, ainda que cada pessoa aprenda por sua

própria experiência de vida, “a experiência do outro faz (outra) experiência em

mim”, impactando a ponto de provocar “um efeito insuspeito em nossa

subjetividade” (p. 19).

Dessa troca contínua de impressões e sensações, deriva-se uma rede

de conexões ilimitada, que gera produção contínua e incessante de ideias,

pensamentos, imagens, sons, projetos. Tudo em total conexão.

Inspirado pela Arte a registrar sua vida e suas experiências, o Homem

eleva-se ao tamanho do universo, sem fronteiras nem obstáculos que o

aprisionem, pois suas produções transcendem o verbo e o espaço para

privilegiar os sentidos. E, geralmente, dispensam traduções ou notas

explicativas para privilegiar, tão-somente, o “perceber”.

1.1 – Criatividade é prerrogativa humana

“Você tem dez minutos para me fazer chorar. Dez minutos!”.

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Fugindo de uma Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, o ex-

ator Clausewitz chega ao porto do Rio de Janeiro, em abril de 1945, a bordo de

um navio onde se misturam sobreviventes de diversas procedências.

Sem bagagem, mas falando com certa fluência o português aprendido

com tanto gosto, por conta da beleza “musical” do idioma, o polonês é

confundido com um espião nazista fugitivo e vai parar no subterrâneo da

aduana. Nesse espaço-símbolo do poder oficialmente constituído, até então

reinara absoluto Segismundo, chefe da Imigração e ex-torturador da polícia

política de Getúlio Vargas.

Os tempos agora são outros e Segismundo, naquela mesma manhã, se

vira obrigado a desmontar cenários e vestígios que o vinculassem ao regime de

terror ao qual servira, visto encontrar-se, agora, sob risco de ser identificado e

morto por um de seus ex-prisioneiros.

Surpreso com o abandono dos superiores hierárquicos e contrariado

com o completo ostracismo que o aguarda, Segismundo não se conforma por

lhe virarem as costas justamente aqueles aos quais atendera, sempre e

prontamente, no papel do algoz que tantas confissões extraíra, à base de

tortura brutal, em benefício do antigo regime.

Diante dele acha-se Clausewitz, cuja leveza de gestos e resquícios de

elegância nos trajes surrados denunciam, imediatamente, aos olhos e ouvidos

experientes do ex-torturador, tratar-se não do agricultor que alega ser – fato

reforçado pela rápida análise das mãos do homem, nuas de calosidades –,

mas de alguém mais culto e preparado, que veio dar ao Brasil nesses novos

“tempos de paz”.

Disposto a descobrir sua identidade, Segismundo ameaça Clausewitz

naquilo que este mais teme: perder a oportunidade de ingressar e estabelecer-

se legalmente no país e ter que seguir viagem no navio de expatriados.

Tenso e faminto, o polonês confessa “ter sido” um ator muito famoso,

mas convicto de que jamais conseguirá retornar aos palcos, em virtude da

dolorosa lembrança das barbaridades presenciadas na guerra. Declara, ainda,

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ter escolhido emigrar para o Brasil por acreditar que um lugar onde se fala

idioma tão manso (“como bebês”) deveria ser pleno de serenidade e paz.

É quando Segismundo, sem qualquer emoção, conta as torturas

cometidas. Diante de um Clausewitz atônito, que lhe pergunta o motivo de

tanta brutalidade, simplesmente responde: “Apenas cumpri ordens”. E

complementa: “Se quer entrar no Brasil, você precisa me convencer de que é

um ator. Convença-me! Nunca chorei. Pois me faça chorar! Você tem dez

minutos para me fazer chorar! Dez minutos! Ou volta para aquele navio!”.

Estas talvez sejam as cenas mais impactantes do filme “Tempos de

Paz”, produção brasileira de 2009 que narra um inusitado encontro entre a Arte

do Teatro e o Teatro da Vida. Em destaque, essa capacidade única, intrínseca

ao ser humano de poder utilizar-se da Arte, nas situações-limite, para proteger-

se, preservar-se ou salvar-se.

Instado pela urgência do tempo que se esgota e o desejo de reconstruir

a vida no país de sua escolha, Clausewitz busca dentro de si um fio de

inspiração. Decide, então, interpretar um monólogo para aquele que detém o

poder de fechar-lhe a porta de entrada na terra-símbolo de sua ressignificação.

Fingindo reproduzir uma conversa mantida com seu antigo professor,

assassinado pelos nazistas, o ator “atua”. Apropriando-se, gradativamente, do

exíguo espaço físico disponível no porão em que se encontram, Clausewitz o

“agiganta”, dá-lhe a feição de floresta, de rio, de queda d´água, de peixe, por

meio das imagens que vai construindo com uma narrativa repleta de gestos,

signos, expressões.

Com riqueza de movimentos e palavras, Clausewitz cria cenas

impregnadas de luzes e sombras, sons e ritmo, força e suavidade, expondo um

território no qual apenas a imaginação delimita as fronteiras: o reino da

subjetividade. Diante de tanta beleza, Segismundo chora. A Arte vence.

Observando as múltiplas mensagens contidas neste filme, a forma como

foram codificadas e a excelência interpretativa dos atores Tony Ramos

(Segismundo) e Dan Stulbach (Clausewitz), percebe-se como a criatividade

permeia as produções humanas e as situações em que o Homem é convocado

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a pontuar e decidir sobre seus percursos – ainda que suas escolhas sejam tão

inconscientes quanto os conteúdos e símbolos que carrega consigo.

Esta prerrogativa de olhar ao redor, vivenciar, experienciar, intercambiar,

introjetar, buscar formas de expressão para emoções e impressões, por meio

de um fazer artístico, do ato criativo ou de uma atividade lúdica, é algo

essencialmente humano. Como pontua Reísin,

As criações não são meras projeções, como imagens planas em

espelhos que devolvem o mesmo. O criado sempre mostra outra coisa,

habilita outro discurso, tal qual um espelho que tem voz própria. Se

alguém pensa que aquilo que cria é somente tirar de si o que há

dentro, não existiria espaço de produção, de novidade. (...) Não

somente tiramos o que está dentro de nós, como também colocamos

para fora coisas que nem existem em nós. Maravilha do ato criador.

(p. 16-17).

1.2 – Traços ancestrais que marcam a humanidade

Hoje, tanto quanto na pré-história da Humanidade, as produções têm um

caráter universal, global, não importando a região do planeta de onde se

originam. Se, para o Homem de Neanderthal, os traços de similaridade

contidos em seus registros deviam-se ao pequeno raio de ocupação territorial

das tribos, nos dias atuais os elementos que servem de referência às

produções humanas, notadamente as de cunho artístico, são disseminados

pelos trânsitos sistemáticos e ininterruptos dos indivíduos pelo ciberespaço.

Independente da localização geográfica ou temporal, uma das

características mais marcantes do ser humano é a de buscar referenciais e

parâmetros no passado coletivo, a fim de criar seu presente e projetar um

possível futuro. Contudo, tal busca nem sempre é consciente, da mesma forma

que o uso de certos elementos, cores, imagens ou ritmos pode estar ligado a

escolhas que repousam em algum lugar desconhecido da psique humana.

Ao analisar o interesse humano pelos registros pictóricos e/ou históricos

de antigas civilizações, Sara Paín (2009) destaca que o sentido de pertencer a

uma comunidade implica “ter em comum os mesmos antepassados que, por

sua ancoragem mítica, legitimam a continuidade identitária do grupo e de suas

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formas de vida”. Por decorrência, “quanto mais universal for concebido esse

princípio, mais o indivíduo se sente comprometido com o destino comum a

todos os homens” (p. 50).

Carl Jung dedicou 14 anos de sua existência a pesquisas antropológicas

sobre civilizações primitivas e seus símbolos. A partir de suas observações,

cujos dados cruzava com os resultados do atendimento clínico a pacientes de

origens e formações diversas, formulou conceitos como o do inconsciente

coletivo, além de introduzir a prática do desenho na clínica psicanalítica.

Uma das mais significativas constatações de Jung refere-se à presença

recorrente do desenho de figuras circulares (mandalas) em todas as

sociedades antigas, notadamente em épocas de crises, quando os indivíduos

buscavam entender e lidar, objetivamente, com suas dificuldades existenciais.

Segundo Jung, o impulso de desenhar figuras que reproduzissem o

movimento circular (centro),

(...) não é uma questão racional e muito menos uma questão de

vontade, mas um processo de desenvolvimento psíquico, que se

exprime em símbolos. Historicamente, este processo sempre foi

representado através de símbolos e ainda hoje o desenvolvimento da

personalidade individual é figurado mediante imagens simbólicas. (...)

Quando as fantasias tomam a forma de pensamentos, emergem

formulações intuitivas de leis ou princípios obscuramente

pressentidos, que logo tendem a ser dramatizados ou personificados.

Se as fantasias forem desenhadas, comparecem símbolos que

pertencem principalmente ao tipo de “mandala”(...) [que] significa

círculo e particularmente círculo mágico”. (p. 29).

Desenhar mandalas ou dançar em círculos são traços ancestrais que

acompanham o Homem ao longo das eras, tanto quanto o temor às

tempestades, mesmo quando já se conhece formas eficazes de evitar os raios.

Igualmente, utilizamos a expressão “pensar em círculos”, sempre que alguma

preocupação se torna recorrente a ponto de nos prender à observação de certa

circunstância ou fato.

São esses traços, impregnados de simbolismos aos quais se atribuem

significados míticos ou mágicos, que contribuem para que a História da

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Humanidade seja contada com um encanto próprio da Arte, paralelamente ao

rigor científico.

Maida Santa Catarina (2009) ressalta que todos os símbolos ancestrais,

usados pelos indivíduos na tentativa de explicar suas experiências e

dificuldades, permanecem vivos hoje, sendo expressos “nas artes, na religião e

nos processos psíquicos, por meio dos sonhos e das fantasias”. (p.21).

No caso específico do círculo, cujo caráter é de fato universal e

atemporal, o espaço que ocupa na mente do Homem é tão importante que

mereceu de Jung o seguinte comentário:

Algumas de minhas pacientes de sexo feminino não desenhavam, mas

dançavam mandalas. (...) As figurações da dança têm o mesmo sentido

que as do desenho. (...) Os próprios pacientes quase nada podem dizer

acerca do sentido simbólico dos mandalas, mas se sentem fascinados

por eles. Reconhecem que exprimem algo e que atuam sobre seu

estado anímico subjetivo”. (p. 30).

Apoiado em suas pesquisas e observações, Jung desenvolveu um

método particular de atendimento, no qual conjugou arte e clínica para

estimular seus pacientes a deixarem vir à tona conteúdos inconscientes, até

então represados, por meio de construções produzidas com as próprias mãos –

pois, como acreditava o psicanalista, “se houver um alto grau de crispação da

consciência, muitas vezes só as mãos são capazes de fantasia”.

As experiências advindas dessa nova prática mostraram, de forma

surpreendente, como o ser humano recorre a símbolos para traçar percursos,

estabelecer escolhas, enfrentar adoecimentos, esquivar-se de seus

sofrimentos. Tal fato motivou Jung a registrar que

A vontade consciente não pode alcançar uma tal unidade simbólica,

uma vez que a consciência, nesse caso, é apenas uma das partes. Seu

opositor é o inconsciente coletivo, que não compreende a linguagem

da consciência. É necessário contar com a magia dos símbolos

atuantes, portadores das analogias primitivas que falam ao

inconsciente. Só através do símbolo o inconsciente pode ser atingido e

expresso; (...) Sinais que remontam a uma tal antiguidade da história

humana repousam, naturalmente, nas camadas mais profundas do

inconsciente e são captados lá onde a linguagem consciente se revela

de uma impotência total”. (p. 35).

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1.3 – Eu me identifico, tu me identificas...

Ao lado da família e da escola, o meio social interfere no

desenvolvimento do indivíduo como agente de inserção, repercutindo normas e

valores que lhe possibilitarão transitar harmoniosamente nas diferentes

instâncias da coletividade em que vive.

Esse meio tem a capacidade de reunir diversos tipos de saberes,

provenientes de conhecimentos reproduzidos espontaneamente ou fabricados

de forma intencional. Assim sendo, ao saber científico, epistemológico, agrega-

se o saber intuitivo e espontâneo do senso comum.

Desse encontro, surge um terceiro elemento, essencial à dinâmica de

toda sociedade: a construção de um saber especializado, baseado nos

conhecimentos e experiências práticas de determinada população, que vão

sendo enriquecidos, aprimorados e sistematizados através das contribuições

da pesquisa, da reflexão, do estudo e da disponibilização, por parte das

instituições formais.

Em sua trajetória de vida, o indivíduo é solicitado, inúmeras vezes, a

posicionar-se, escolher lados, opinar sobre questões, decidir os próprios

rumos. Nesse percurso, aparentemente natural, surgem inevitáveis

questionamentos, que nem sempre encontram respostas convincentes no

saber institucionalizado pela escola, nos ensinamentos familiares ou nas

crenças e normas sociais.

Identificar-se perante o mundo e a própria existência, ser identificado em

seu círculo social e nas atividades que se propôs executar podem ser

questões-chave para o sujeito – símbolos de sua afirmação na vida.

Ao se identificar com a Arte e o processo de criação artística para

manifestar sua subjetividade, o indivíduo reafirma um traço particular que o

distingue da massa coletiva, ao mesmo tempo em que não o exclui, visto que

todos os seres humanos nascem “criativos”.

Mas, ao buscar na Arte e no fazer artístico respostas para suas

dificuldades e anseios, seja num ateliê ou num atendimento psicanalítico, esse

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sujeito se permite ser identificado por membros de outras coletividades, além

daquelas em que originalmente transita. Dessas tantas possíveis

identificações, surge uma identificação ainda mais significativa: a de si próprio.

Vanessa Coutinho (2005) afirma que “ao criarmos, abrimos as portas de

nossa sensibilidade, o que possibilita a construção de meios para a

transformação pessoal”. (p. 49).

Esse processo de busca interior encontrará ecos significativos somente

se o sujeito desenvolver uma identificação com as práticas e os recursos à sua

disposição. Afinal, “o fazer criativo sempre estará carregado da subjetividade

de quem o exerce, e a expressará em plenitude através dos diversos símbolos

empregados nas imagens que surjam”. (COUTINHO, p. 44).

Sendo assim, o ato criativo impõe ao indivíduo a necessidade de

proporcionar-se um tempo adequado para a formação de suas imagens, sua

contemplação, elaboração e, finalmente, sua exteriorização, indispensável à

dissipação das dores emocionais.

Coutinho assinala a importância de haver esse tempo de “mergulho em

si mesmo”, que serve de preparação para a reestruturação interna, viabilizada

pelo “prazeroso lidar com cores, texturas, formas, e a descoberta de infinitas

possibilidades que os materiais plásticos nos oferecem, (...) de liberação e de

organização”. (p. 50).

Nesse tempo que se presta a buscas e descobertas internas, o próprio

sujeito “escolhe” ou “rejeita”, num primeiro instante, as linguagens que darão

expressão às suas angústias e expectativas. Tal atitude, absolutamente

inconsciente, está impregnada pelos mesmos simbolismos e crenças

ancestrais que se mesclam aos fatos cotidianos para estruturar os percursos,

alegrias e dores desse sujeito.

Daí, ser essencial que tais (des)identificações se manifestem com o

auxílio do olhar sensível e da escuta apropriada de um facilitador que domine

plenamente as diversas técnicas da arte, enquanto terapia.

O papel principal desse facilitador será, exatamente, determinar o que,

como e quando oferecer cada técnica expressiva àquele sujeito em especial,

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respeitando seu momento emocional e estágio motivacional. Pois, como

destaca Coutinho (2005),

Não é raro que as pessoas (especialmente os adultos) se constranjam

diante de uma folha em branco, afirmando que não sabem

desenhar/pintar/colar. Nos processos terapêuticos, é importante que

fique claro que não se buscam belas obras, e sim obras honestas,

autênticas, reveladoras. Algumas serão belas, outras nem tanto. Mas

todas serão igualmente importantes na construção de um caminho de

auto-revelação. (p. 45).

1.4 – Identidade e subjetividade no exercício do viver

A psicóloga Nilza Silva, em seu artigo “Saberes locais”, publicado no

portal da Universidade Regional Integrada de Santo Ângelo (RS), faz referência

aos “saberes sujeitados”, compreendidos pela autora como conjuntos de

saberes que vão sendo marginalizados, por serem considerados como

“saberes não conceituais [ou] insuficientemente elaborados”. Seriam, eles,

(...) saberes nativos, saberes hierarquicamente inferiores, saberes

abaixo do nível do conhecimento ou da cientificidade requeridos. E é

pela reaparição destes saberes de baixo (...) – o do psiquiatrizado, o do

doente, o do enfermeiro, o do médico, mas paralelo e marginal em

relação ao saber medical, o saber do delinquente, etc. – (...) o ´saber

da gente´{gens} (e que não é absolutamente um saber comum, um

bom senso, mas, ao contrário, um saber particular, um saber local,

regional, um saber diferencial (...) – é pela reaparição destes saberes

locais da gente, destes saberes desqualificados, que se fez a crítica.

(2005).

Todos os saberes estão impregnados pela força dos símbolos e dos

afetos que os constituem. A construção da identidade depende

fundamentalmente desses elementos. Quando subtraídos ou alterados,

teremos sujeitos com dificuldades adicionais para colocar-se, diante da vida e

de suas expectativas, com olhar confiante e passos seguros e serenos.

Os trajetos percorridos pelo indivíduo trazem inúmeras referências sobre

suas buscas e conquistas, tanto quanto perdas e frustrações. Nem sempre o

que se busca é exatamente o que se deseja encontrar. Mas, aí, residem as

nuances do querer, abrigadas num mundo bem mais distante – o inconsciente

– e constituído por tantas camadas de aspectos subjetivos.

21

Da mesma forma que os símbolos podem ser expressos por meio de

imagens, descortinando uma intensa vida interior, o canal expressivo escolhido

pelo sujeito para expô-los irá indicar como busca o restabelecimento da ordem

interna para reconstruir seu exercício de viver.

Todo indivíduo carrega símbolos que lhe são caros e os exprime em

algum momento. Seja de forma consciente, a fim de preservar sua identidade,

ou inconsciente, externando em suas produções conteúdos subjetivos ligados a

experiências, lembranças e afetos.

Ao afirmar que, apesar de tantos anos de exílio parisiense, “trago a

Rússia dentro de mim”, Chagall explicou o motivo pelo qual sempre inseria, em

suas obras, as figuras de um burrinho, um galo e uma igrejinha com a cruz

católica ortodoxa, mesmo que destoassem da composição.

Reportando-se ao trabalho realizado pela Dra. Nise da Silveira, em

1946, no Centro Psiquiátrico Nacional, hoje Centro Psiquiátrico Pedro II (RJ),

Elizabeth Araújo Lima (2009) relata que a psiquiatra, impressionada com a

“presença de imagens de grande harmonia, construídas em torno de um centro

ou de figuras que se ligavam a mitos ancestrais”, na produção plástica de seus

pacientes, escreveu a Jung para discutir tal significado.

Identificando tais imagens como mandalas, Jung atribuiu seu uso

recorrente, por parte de psicóticos, a “uma tendência inconsciente a compensar

o caos interior e buscar um ponto central na psique, como tentativa de

reconstruir a personalidade dividida”. (p. 141).

Nesse sentido, os mandalas serviriam “ao restabelecimento de uma

ordem pré-existente, [e] ao propósito criador de dar forma e expressão a

alguma coisa que ainda não existe, algo novo e único”. Por isso, Jung

aconselhou a Dra. Nise a “estudar mitologia, história da arte e antropologia

para poder compreender aquilo que se revelava nessas imagens: o

inconsciente coletivo e seu poder de autocura”. (p. 141-142).

Antes do poder de curar, a Arte tem o dom de tratar. A reconstrução e/ou

preservação da identidade do sujeito encontram nela forte apoio, pois permite

interpretar o que se vê, sente e faz subjetivamente. E isso é exercitar o viver.

22

CAPÍTULO II

A ARTE E O FAZER ARTÍSTICO COMO

FORMAS DE EXPRESSÃO

“É em ti mesmo que deves olhar, e não ao que está ao teu redor”

– Delacroix

A Arte não tem uma finalidade utilitária, assim como o objeto de arte não

tem outra função além daquela a que se destina, prioritariamente: encantar ou

surpreender os que admiram a materialização física do universo subjetivo do

artista que o criou.

No entanto, no espaço arteterapêutico, “fazer arte” assume outra

conotação, perdendo qualquer preocupação academicista para transformar-se

num instrumento a serviço do resgate de emoções “adormecidas” – inclusive, o

gosto esquecido pelo “brincar”.

Utilizando materiais plásticos e outras técnicas expressivas – como a

declamação, a interpretação teatral, a escrita, a música, a dança, a contação

de histórias ou a produção de objetos diversos –, o sujeito vai transpondo suas

barreiras e, gradativamente, encontra mecanismos internos para superar as

próprias dificuldades ou lidar com elas de uma forma que o satisfaça.

Portanto, expressar-se por meio da arte, em Arteterapia, equivale a

libertar o “artista oculto” que reside dentro de cada um de nós, mas que, por

motivos diversos e às vezes passíveis de investigação, insiste em não se

manifestar.

Nesse fazer artístico, proporcionado pela abordagem arteterapêutica, o

“artista” interior se libera das exigências estéticas da Arte para expressar-se

num tempo diferente: o tempo de sua própria permissão para libertar, por meio

da produção criativa e da ludicidade, símbolos e afetos guardados num baú de

lembranças há muito trancado. Ou seja: expressar-se criativamente.

23

Destacando o papel do “Universo da Arte fundamentado na

materialização de imagens mentais”, Maria Cristina Urrutigaray (2008) afirma

que a possibilidade de “inovar, de fazer diferente, aumenta a autoestima,

fortalece a personalidade e dota de energia a consciência para enfrentar

futuras escolhas e definições diante da própria vida”. (p. 18).

Para a autora, a Arteterapia “alcança sua meta como função terapêutica

por permitir essa passagem de um conteúdo inconsciente, não assimilado,

transmutado ou transformado em outro, conscientizado”. (p. 25).

Dessa forma, “converte-se num caminho direcionado à individuação

(Jung)”, aí compreendido como o processo de construção do indivíduo,

(...) conseguido através da expressão de impulsos inconscientes, que

ao serem objetivados tornam-se passiveis de serem confrontados. As

seguidas interações surgidas pelo diálogo estabelecido entre autor-

obra favorecem a integração dos conteúdos materializados na obra,

restabelecendo-se o sentido de suas atitudes anteriores. A Arte se

converte em um elemento facilitador ao acesso do universo imaginário

e simbólico, permitindo o desenvolvimento de potencialidades latentes

ou rituais, bem como o conhecimento de si. (...) (p. 27-28)

2.1 – O desejo de “brincar” e a criança interior

A capacidade de “brincar” está presente em todos os seres dotados de

inteligência. Desde o estágio inicial de sua existência, cães, golfinhos ou

homens brincam com seus semelhantes, inventando jogos e movimentos que

exploram seu mundo pessoal, o espaço ao seu redor, o compartilhamento

desse território com outros seres, a expressão de suas emoções, a troca de

experiências e o exercício da própria criatividade.

Contudo, o processo de amadurecimento fisiológico impõe, aos seres

vivos, adaptações às normas de seus ambientes sociais. Uma das mais

evidentes é a transformação do comportamento social e do jeito de “brincar”.

Talvez motivada pelo “crescimento” do corpo físico, que passa a ocupar

um território maior, atraindo para si considerável atenção, esta mudança,

imposta pelos padrões sociais, não é forte o suficiente para provocar o

desaparecimento total do desejo de “brincar”.

24

Considerando especificamente o ser humano, sua “criança interior”

ressurge, de tempos em tempos, para lembrar-lhe a alegria e o prazer de

correr, dançar, pular, jogar bola, desenhar ou pintar, ir ao parque de

diversões...

O sujeito adulto saudável se entrega sem problemas a esse “brincar”,

pois o contentamento daí proveniente o alimenta e energiza. Consciente de sua

estrutura e confiante na forma como se coloca no mundo exterior, as

brincadeiras e brinquedos são momentos com os quais se presenteia.

Mas, nem todos os adultos têm semelhante oportunidade. Estar vivo e

interagir com o meio, muitas vezes, traz mais dores e desencontros do que

contentamentos. E tal aspecto é tanto mais presente quanto mais intensa for a

experiência traumática do sujeito com o “brincar”, nas diferentes fases de sua

vida, especialmente em seu estágio inicial.

Resgatar essa capacidade de alegrar-se e brincar, sem ressentimentos

ou autocensura, reencontrando-se com os elementos lúdicos de seu mundo, é

uma tarefa árdua, mas plenamente possível, desde que realmente desejada.

O “brincar” é uma forma de manifestação da própria criatividade.

Crianças saudáveis brincam o tempo todo. Adultos saudáveis, também – ainda

que recorram a outros jogos para proporcionar a si mesmos alegria e prazer.

Segundo Vanessa Coutinho (2005), “todos somos, ou podemos ser,

pessoas criativas”, mesmo que esta criatividade seja manifestada de formas

diferentes, pelos diferentes indivíduos. Certamente, o que irá abalar essa

manifestação espontânea será o fato de que, “por vezes, durante o

desenvolvimento, as crianças são tão julgadas, criticadas, cerceadas, que

acabam por se convencer de que não criam coisas interessantes”. (p.54).

O papel da Arteterapia nesse processo encontra ressonância a partir da

ausência de críticas e da oferta dos materiais próprios para criar, dando livre

expressão à “criança” interior adormecida.

Conforme destaca Sara Paín (2009), “o objetivo, em arteterapia, será

(..,) sustentar simbolicamente cada intenção, sem perder de vista a principal,

que é a de curar-se”. (p. 17).

25

2.2 – De que forma eu me coloco neste mundo?

Sem dúvida, críticas ostensivas e cobranças de posturas sociais rígidas

conduzem ao cerceamento da criatividade, ao receio de expor-se, à angústia

da inadequação diante de uma possibilidade de “brincar”.

Para Reísin (2006), “as inibições do mostrar-se desvelam, caladamente,

o compromisso da exposição ante o olhar pretensamente julgador de um

outro”. A sensação de “parecer ridículo”, por portar-se de “forma inadequada”

acaba gerando bloqueios emocionais e corporais que influirão na forma como o

sujeito interage com seu mundo.

Numa proposta para a reversão de tais aspectos, o autor destaca como

as ”artes dramáticas costumam favorecer diversas atitudes e vias de acesso ao

subjetivo, tais como: o desempenho de diferentes papéis (...), jogos dos

diálogos internos, entre outros”. (p. 29).

“Colocar-se no mundo” é uma expressão corriqueira que traz consigo

importantes significados. Quando o sujeito se vê obrigado a “colocar-se”, seja

numa situação ou num lugar, emergem, a partir dessa convocação, alguns de

seus traços mais marcantes – muitos dos quais, aliás, preferiria não expor, por

não considerá-los verdadeiramente “seus”.

Para um sujeito perturbado por bloqueios e recalques, “colocar-se” é um

processo doloroso. Certamente, tal sujeito irá preferir o anonimato das

multidões aos holofotes de um palco. Sua forma de agir e interagir costuma ser

comedida, discreta. O espaço ocupado será pequeno e, preferencialmente,

destituído de detalhes.

Viver, para tal sujeito, significa acordar a cada manhã e cumprir uma

rotina sem novidades ou sobressaltos. Para alguém com tais características,

“colocar-se” no mundo nada mais é do que bater o ponto, no trabalho, e

realizar as pequenas tarefas cotidianas que movimentam seu viver.

Em oposição, está o sujeito de gestos e passos largos. Impositivo, não

se satisfaz com o espaço a ele destinado, no trabalho ou em casa. Por isso,

espalha-se com seus objetos para as mesas adjacentes, além de invadir o

26

espaço físico e/ou emocional de parentes e vizinhos, impondo a todos suas

ideias e predileções. Mais do que compreendido, torna-se tolerado. E isto o

incomoda, ainda que não demonstre ou disfarce não se importar.

Para cada personalidade e temperamento, há um material plástico ou

uma terapia expressiva compatível com a expressão real dos conteúdos

subjetivos. É preciso destacar que nem sempre tais conteúdos correspondem à

postura social adotada pelo sujeito, visto que a forma de “colocar-se” no mundo

pode derivar-se de uma escolha possível ou imposta por seu ambiente

biopsicossocial. Segundo Paín (2009),

A aparente coerência do pensamento consciente vem do fato de que,

na maior parte do tempo, as ações que acompanham sua manifestação

são comportamentos adquiridos que se desencadeiam

automaticamente, sem necessidade de reflexão. Essa disponibilidade

do seu próprio saber dá ao sujeito a ilusão de ser seu dono absoluto. É

justamente quando o pensamento convocado não responde que o

sujeito mede a distância que o separa do seu próprio ser consciente,

duvidando assim da pressuposta fidelidade do seu “ego”. (p. 100).

Complexos e arquétipos atuam à revelia da vontade do sujeito, para

obrigá-lo a seguir determinados padrões de comportamento, ainda que estes

lhe tragam sofrimento.

Por isso, esclarece Maria Cristina Urrutigaray, impõe-se a participação

do ego, confrontando atitudes e ações alheias à vontade do sujeito com outras,

essenciais ao equilíbrio da vida psíquica e à preservação da saúde. (p.45).

Caso contrário,

(...) seu comportamento estará concorrendo para a classificação de

produtos de imaginações caóticas, de desejos e impulsos

perturbadores, ameaçadores, desestabilizadores e solventes da

capacidade consciente. Enquanto a conjugação de imagem-impulso-

emoção (...) não estiver capaz de ser interpretada quando a

consciência é atingida, o desenvolvimento da vida pessoal tanto não

ocorre quanto fica impedido. Ficando, pois, o sujeito paralisado e

dissolvido pelo poder não reconhecido de suas emoções. (p. 44-45).

Ao direcionar o olhar do sujeito para as imagens produzidas pelas

manifestações de seu inconsciente, a prática arteterapêutica busca auxiliá-lo

na identificação dos diferentes complexos e suas origens, a fim de curar-se.

27

2.3 – A dor que transforma e submete

De onde vem, afinal, essa dor que paralisa o indivíduo ou o impele a

buscar caminhos que em nada o satisfazem? Por que a dor emocional

acompanha o ser humano, mesmo decorrido um longo tempo após o fato que a

originou?

A dor e o adoecimento emocional fazem parte do nosso mundo. Hoje,

tanto quanto nos primórdios da Humanidade, os elementos capazes de ferir ou

desestabilizar o indivíduo encontram-se em cada trecho de seu percurso.

Os mesmos marcos e símbolos capazes de trazer alegria ao Homem

promovem, tantas vezes, seu adoecimento físico, emocional e psíquico,

conduzindo-o a diferentes tipos de morte, além da física.

Da mesma forma, os complexos instalados no sujeito forçam-no a “atuar

de maneira inadequada, primitiva, regressiva, compulsiva e destrutiva à sua

desenvoltura pessoal, surgindo os sintomas neuróticos ou os psicóticos”.

(URRUTIGARAY, 2008, p.45).

De acordo com Jung, os complexos compõem uma rede de conexões

possíveis e/ou disponíveis no inconsciente coletivo. Em nível pessoal, não

devem ser tratados exclusivamente como estruturas patológicas, pois “sofrer

não é doença, mas o pólo oposto normal da felicidade. Um complexo só se

torna patológico quando achamos que não o temos”. (Jung apud Urrutigaray,

2008, p.46).

O sofrimento psíquico, assim como a dor emocional, estão relacionados

às próprias estruturas sociais criadas pelo Homem, ao longo de sua História.

Na sociedade contemporânea, a tensão provocada pelo excesso de

informações em “tempo real”, e a incapacidade humana de absorvê-las e

processá-las, tem se mostrado como um dos principais fatores de angústia e

adoecimento. Não são raros os que buscam auxílio psicoterapêutico para

“aprender a lidar” com sua inadequação às demandas destes novos tempos.

Da mesma forma, as cobranças decorrentes da necessidade de produzir

lucro e rentabilidade financeira, em nossa sociedade atual. Como destaca

28

Maria Cristina Urrutigaray (2007), o princípio de que o poder baseia-se na

posse de bens privados “transforma as relações humanas em acordos (...); em

negociações afetivas interesseiras e não interessantes”. (p. 19).

A autora observa, ainda, a necessidade de desempenhar a contento

múltiplos papéis sociais, conquistando pretensa auto-afirmação num universo

povoado por bens materiais e serviços quantificáveis, o que “veio

desenvolvendo (...) determinadas características psicológicas específicas”,

semelhantes a “certo abatimento – como uma prostração – diante da tentativa

de sustentação e criação de um modelo individual de ação (...)”. (p. 20).

2.4 – Expressando para tentar curar a dor

Como bem ressalta Sara Paín (2009, p.93-94), existe uma distinção

entre comunicar-se e expressar-se: no primeiro caso, implica na permissão do

sujeito para que um outro tome conhecimento de algo; no segundo, o sujeito

busca levar o outro a conhecer e compartilhar algo de si mesmo.

A expressão de conteúdos inconscientes vinculados a sentimentos

dolorosos, por meio do fazer artístico, é uma permissão do indivíduo à

possibilidade de curar sua dor.

Trazer para o mundo exterior esses conteúdos, plasmando-os para

poder observá-los, contribui para que essa dor emocional se torne menos

intensa. Dessa forma, será possível lidar com a dor “frente a frente” – pois, uma

vez que sua face se torne conhecida, seu potencial negativo perde a

intensidade.

Se, para adoecer, basta “estar” no mundo, para curar-se é preciso

buscar auxílio e submeter-se ao tratamento. Nem sempre, porém, as respostas

virão de forma rápida ou segura. Em diversas ocasiões, o próprio sujeito

“escolherá” expressar apenas uma parte daquilo que o aflige. Em outras,

revelará aspectos incompreensíveis – apenas para constatar, lá adiante, que

aqueles conteúdos, aparentemente não vinculados ao foco principal de suas

dificuldades, na verdade são os elementos que lhes deram origem.

29

Nas palavras de Sara Paín (2009),

É importante ter em conta que não há inicialmente uma ideia bem

definida, seguida da busca da forma adequada para expressá-la: há um

lampejo de ideia vibrando em nós que só terá sentido – mesmo para

nós – em seu encontro com a matéria que a fixe. O problema que

surge é saber a qual ansiedade a emergência da ideia e das imagens

responde (...). O imaginário é, portanto, um terreno baldio onde

fermentam as fantasias no húmus dos afetos não expressos, dos

pensamentos aturdidos e das sensações e gestos que ficaram

truncados. (p. 94).

O permitir-se expressar, como passo inicial rumo à cura, deve ser

saudado como um ato de coragem e, ao mesmo tempo, um pedido de auxílio.

Ainda que, inicialmente, o sujeito esbarre em seus próprios bloqueios e

complexos, e que muitas vezes até retroceda algumas etapas em sua jornada

terapêutica, certamente num próximo encontro, num futuro “fazer”, desvelará

novos conteúdos, tão ou mais carregados de significados e símbolos.

À medida que expressá-los, parte de sua dor se desvanecerá. Com a

repetição desse “fazer”, sob o acolhimento e a escuta sensível do terapeuta,

acabará percebendo, de forma consciente, o quanto é possível, com o auxílio

da Arteterapia, olhar para dentro de si para poder olhar ao seu redor.

E, assim, de olhar em (re)olhar, chegará o dia de (re)olhar-se “de volta”

para, de forma consciente, perceber que sua dor foi dissolvida ao ser

transformada em obra – por obra da Arte.

30

CAPÍTULO III

ARTETERAPIA: “ESCUTA” DO UNIVERSO DO OUTRO

“Em nossas decisões, o nosso mundo interno se revela, desvelando também o nosso grau de consciência

mediante as escolhas realizadas” – Maria Cândida Moraes

Conceituar Arteterapia é esbarrar numa infinidade de definições e pontos

de vista. Surgindo como profissão em 1969, através da American Therapy

Association, a Arteterapia vem ampliando seu papel no atendimento a

diferentes públicos, independente de faixa etária ou nível socioeconômico.

No Brasil, em que pesem certas resistências ainda presentes em alguns

segmentos, já está sendo considerada nos meios acadêmicos como um novo

campo do conhecimento, caracterizado pela transdisciplinariedade, como

registra Irene Gaeta Arcuri (2006).

Sua principal virtude é a de proporcionar uma interlocução isenta de

conflitos entre diversas áreas – da pedagogia à psicologia, da arte à psiquiatria,

da filosofia à comunicação, da antropologia à sociologia.

Para Arcuri, essa possibilidade de reunir e mobilizar diversas áreas do

saber, em benefício de uma escuta sensível do ser humano,

requer a eficácia de uma dialógica, abertura para escutar o que se

passa em outras esferas do conhecimento, mesmo mantendo posição

divergente, pois é impossível saber tudo e, diferentemente da ciência

cartesiana, na Arteterapia, conhecimentos divergentes não são

necessariamente excludentes. (p. 20).

Dessa relação tão rica e dinâmica entre tantas disciplinas, surge o que

Arcuri denomina de “movimento de reconhecimento do espírito e (...) uma

consciência nova de realidade e (...) uma nova realidade”. (p.20).

Ainda que visite diferentes arcabouços teóricos para estruturar-se

enquanto prática, a Arteterapia utiliza como ferramenta de trabalho a Arte e

31

suas múltiplas possibilidades de dar forma às imagens existentes nos

subterrâneos da mente humana.

A Arte, aqui, é vista como canal isento de limites e fronteiras, através do

qual o sujeito, utilizando recursos e materiais plásticos, além de outras

linguagens expressivas, libera seus conteúdos inconscientes, dando-lhes

formato, cor, relevo, estrutura e novos significados, decorrentes das conexões

estabelecidas com seus símbolos e experienciações.

Guia imprescindível nessa “viagem” ao mundo subjetivo, o arteterapeuta

é o elemento treinado, tanto em arte quanto em terapia, que oferecerá os

materiais expressivos adequados ao trabalho que será realizado pelo sujeito,

em cada etapa de seu processo terapêutico.

Nesse ambiente de trocas e conexões, impera a sensibilidade. “Escutar”

o outro em suas dificuldades é diferente de apenas ouvir. A “escuta”, em

Arteterapia, tem a cor do acolhimento e da compreensão do tempo do outro –

tempo para ir além ou retomar o fôlego, nesse árduo, porém gratificante

exercício de mergulhar na subjetividade, através do ato criativo e do fazer

artístico.por seus alunos.

3.1 – Equilibrando-se entre as técnicas e a intuição

Para Vygotsky (1984), o desenvolvimento real é aquilo que somos

capazes de solucionar ou executar sozinhos. Já o desenvolvimento potencial

está no âmbito do que ainda não dominamos, mas somos capazes de realizar

com o auxílio de alguém mais experiente. A distância entre os dois estágios foi

denominada, pelo autor, de zona de desenvolvimento proximal, na qual o

educador deve atuar, intervindo, desafiando, “mediando” e provocando

situações que levem seus alunos a “aprenderem a aprender”.

Ainda que essa reflexão tenha se originado das experiências de

Vygotsky no ambiente pedagógico, é impossível ignorar sua presença em

outros campos de atuação humana onde a troca se faz necessária.

32

O arteterapeuta não detém o conhecimento de remédios para curar as

dores da alma humana. Tampouco, produz poções mágicas que permitam

recuperar a alegria interior daqueles a quem atende.

Seu trabalho é um misto de técnica e intuição – esta, compreendida

como a capacidade de observar, refletir, orientar sem interferir, além de

oferecer apoio sincero, nos momentos em que um olhar pode ser mais

eloquente e revelador do que muitas horas de verbalização.

No âmbito dos debates sobre o exercício profissional, há correntes que

defendem a necessidade de um diploma em Psicologia ou Pedagogia para a

atuação em Arteterapia. Outras apontam a formação artística, pois o domínio

das técnicas e linguagens plásticas resultaria num trabalho mais abrangente e

eficaz. E existem aqueles que, como Alejandro Reísin (2006), questionam tais

exigências, acreditando que “a atividade é o contato, a comunicação, a

contenção habilitante, o encontro com o próprio e o outro”. (p. 92).

Para Angela Philippini (2008), o arteterapeuta é um “acompanhante

especial”, que deverá aprimorar-se através de “suas próprias vivências

criativas”. Contudo, segundo a autora, precisa evitar a “armadilha de „ter que‟

unificar a linguagem ou utilizar práticas homogeinizadoras”, a fim de “zelar

pelos territórios de criação, sejam internos ou externos” (p. 27-28).

Ressaltando a importância do conhecimento e manejo das diferentes

práticas expressivas, Philippini recomenda que os arteterapeutas “apostem na

diferença e não na tentativa improdutiva de semelhança a outras abordagens

clínicas”, pois

a produtividade da Arteterapia reside basicamente na possibilidade de

facilitar caminhos expressivos singulares para cada cliente e o fluir

neste processo vem da prática, experimentação e estudo de

modalidades expressivas diversas. (p. 28).

Além do conhecimento da arte e suas manifestações, Philippini orienta

que o profissional se mantenha, ele próprio, em processo terapêutico, a fim de

“assegurar uma formação sólida, confiável e, sobretudo, ética” aos seus

atendimentos em Arteterapia. (p. 27).

33

3.2 – Espaço arteterapêutico e o exercício do acolhimento

Nem hospital, nem escola, nem estúdio de arte. Ou, talvez, um híbrido

disso tudo, recriando “nos tempos atuais, o tão necessário território sagrado”,

presente em todas as culturas e percebido, pelos seres humanos, como “um

espaço de proteção, calma e serenidade em que os indivíduos podem realizar

seus ritos de conexão com aquele que concebem como divindade”.

(PHILIPPINI, 2008, p. 44).

O espaço – ou setting, ou atelier – de atendimento arteterapêutico deve

ser modelado para favorecer a integração entre o sujeito, os materiais e aquele

que o acolhe e facilita sua autoexpressão.

Território simbólico de conexão entre o consciente e o inconsciente, por

meio de produções e expressões artísticas, esse local deve ser funcional,

limpo, arejado e versátil a ponto de estar sempre iluminado – mas dispondo de

cortinas, caso seja necessário escurecer o ambiente, por solicitação do sujeito

que está sendo atendido.

Uma recomendação daqueles que atuam nesses espaços é que sejam

projetados para induzir à descontração e à liberação da criatividade, ao mesmo

tempo em que transmitam a sensação de acolhimento e segurança.

Nesse ambiente – que é de (re)descobertas e (re)encontros –, o olhar

deve passear pelos materiais, sem ser ofuscado por eles. Isso significa que os

recursos plásticos devem ocupar lugares pré-determinados, evitando-se que

sejam dispostos no espaço de forma aleatória. Da mesma forma, deve haver

um armário específico para a guarda das produções artísticas, pois muitas

destas serão retomadas ao longo de diversos atendimentos.

Dependendo do sujeito e suas premências, alguns materiais plásticos

“sumirão” de seu raio de visão, durante certo período, até que sejam tolerados

ou integrados, espontaneamente, como forma de expressão. Eis uma das

singularidades do atendimento em Arteterapia: o próprio sujeito aponta seus

limites de tolerância em relação aos materiais e linguagens com que irá

expressar sua subjetividade.

34

Dessa forma, o papel de quem acolhe é tornar possível a emersão dos

conteúdos inconscientes, através de imagens nem sempre compreensíveis,

nem sempre belas, mas, acima de tudo, autênticas e transformadoras.

Esse acolhimento deve denotar, principalmente, respeito e aceitação.

Aliados à simplicidade franca e funcional do ambiente e à variedade e

disponibilidade dos materiais, o olhar e a escuta sensível serão os grandes

suportes nesse processo tão difícil quanto fantástico, que é o permitir-se trazer

à claridade do mundo exterior os símbolos e complexos que embotam a alegria

do viver.

3.3 – Arteterapia em suas múltiplas possibilidades

Sara Paín (2009) usa o termo artistant para definir o sujeito “que vem à

psicoterapia sem a paciência de um paciente, nem a urgência de um enfermo e

nem as exigências de um cliente”. (p. 11).

Não sendo artista, o artistant não realiza arte: em Arteterapia, “a arte é

concebida como uma metáfora, ou melhor, algo que se assemelha à arte”

(PAIN, 2009, p. 12). Por essa razão, não cobra do sujeito o compromisso com

o aprendizado das técnicas artísticas, nem que suas produções obedeçam a

critérios estéticos pré-definidos. Contudo, diz Paín, “a arteterapia demanda da

arte um serviço útil, (...) projetando simultaneamente sobre o paciente a tensão

contraditória inerente à possibilidade de cura”. (p. 12).

Para a autora, a eficácia terapêutica da Arteterapia reside exatamente

nessa transformação da atividade artística em “representação dramática da

intenção criativa do sujeito”. (p. 12). Portanto, o objetivo do artistant será

sustentar simbolicamente cada intenção, sem perder de vista a

principal, que é a de curar-se. Mas a cura considera, no plano ético, a

mesma questão que a estética: está bom porque quero, ou quero por

que está bom? Eis aqui o propósito terapêutico, o que indica, ao

menos conscientemente, a transformação do sujeito como finalidade

desejável. No ateliê, as intenções estética e terapêutica se determinam

reciprocamente”. (p. 17).

35

Embora o fazer artístico, no âmbito da Arteterapia, tenha como finalidade

precípua o autoconhecimento do sujeito/artistant, visando a liberação de

conteúdos inconscientes que o afligem, à medida que o tratamento prossegue

e se aprimora o manejo dos materiais, ocorre um estímulo suplementar, por

parte do arteterapeuta, para que as produções sejam melhor elaboradas,

esteticamente.

Esse estímulo não se constitui numa cobrança, mas numa sugestão de

outras possibilidades, talvez ainda desconhecidas pelo sujeito/artistant. E se dá

através da oferta dos diversos materiais plásticos, na instrução sobre como

podem ser explorados, na exposição de alguns de seus efeitos.

Dessa forma, ao longo do trajeto, o sujeito/artistant que se (re)olha terá,

também, a oportunidade de olhar de uma nova forma para suas produções,

com a satisfação de reconhecê-las como suas, impregnadas pelas formas,

cores e arranjos oriundos de seu mundo subjetivo.

São muitas e muito ricas as possibilidades oferecidas pela Arteterapia,

tanto àqueles que a procuram para curar sua dor, quanto aos que nela atuam,

em auxílio à cura da dor alheia. O trabalho com materiais plásticos é sempre

prazeroso, pois franqueia um reencontro do Homem com sua capacidade

natural de fazer, criar, brincar.

Da mesma forma, expressar-se por meio de outras linguagens – como a

dança, a música, o texto, as histórias criadas para serem contadas e

desmontar complexos –, afigura-se como uma escolha gerada pelos símbolos

que o sujeito carrega consigo e através dos quais pretende se abrir ao mundo.

“Fazer arte”, portanto, é uma possibilidade que está ao alcance de todos

os seres humanos. Da escola à oficina de arte, dos brinquedos modelados com

sucata ao atendimento clínico, sempre haverá um espaço para criação e

expressão de ideias e emoções.

Por estar presente em tantos espaços, a Arteterapia se afigura, hoje,

como prática realmente transdiscisplinar. Sendo tão múltipla de possibilidades,

torna-se importante registrar, resumidamente, as características dos principais

ambientes pelos quais transita.

36

3.3.1 – No ambiente pedagógico: o aprendizado

Impossível esquecer a amável professora de Educação Artística, que

harmonizava os arroubos da turma adolescente por meio de exercícios de

colagem ou pintura com guache. Ou a sisuda professora de Matemática, cujo

olhar frio a aproximava irremediavelmente de equações e inequações,

enquanto seus alunos se “afastavam” para sempre.

A turma era a mesma. Contudo, as lembranças associadas a cada

professora diferem bastante – e não pela diferença de conteúdos de cada

disciplina, mas pela forma como foram abordadas e exercitadas, numa turma

de adolescentes próximos de se tornarem adultos.

Paulo Freire (2008) pontuou a necessidade de haver alegria no ato de

ensinar e no espaço pedagógico, para que a atividade educativa floresça. Para

esse educador tão crítico quanto poético, alegria em sala de aula significava a

esperança “de que professor e alunos, juntos, possamos aprender, ensinar,

inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa

alegria”. (p. 72). Alegria, definitivamente, fortalece qualquer relação!

Sob a ótica da Psicologia, o conceito de “aprendizagem” não se limita a

enumerar as ações que um indivíduo se tornou capaz de realizar.

Aprendizagem deve ser entendida, antes de tudo, como “um processo a ser

investigado” (BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de

Lourdes T., 1999). Eis o motivo por que os teóricos da aprendizagem buscam

respostas para questões como: “qual o limite da aprendizagem? Qual a

participação do aprendiz no processo? Qual a natureza da aprendizagem? Há

ou não motivação subjacente ao processo?” (p. 99).

No âmbito da abordagem cognitivista, a aprendizagem é um processo no

qual o indivíduo estabelece relações com o mundo externo que repercutem na

forma como organizará internamente o conhecimento. Portanto, o cognitivismo

denomina de “aprendizagem” esse processo de organização das informações e

de integração do material à estrutura cognitiva (p. 100-102).

No ambiente pedagógico, independente da faixa etária, é fundamental

que haja tal interação. Nesse sentido, a denominada Arte-Educação exerce

37

encantamento, possibilitando produções surpreendentes até aos que se julgam

incapazes de realizar quaisquer atividades vinculadas ao fazer artístico.

Como destaca Vanessa Coutinho, “a arte é uma atividade não-

competitiva” (2005, p. 117). A experiência com materiais plásticos e criativos,

objetivando o fazer artístico, encontra na sala de aula um espaço para facilitar

o aprendizado, a interação e o respeito recíproco.

Nesse ambiente de aprendizado, questionamentos e trocas

permanentes de informações, costumam ser aplicados trabalhos com música,

jogos de perguntas e respostas, dinâmicas de grupo, teatralizações,

construções conjugando texto e imagem, exercícios para o desenvolvimento da

coordenação fina e/ou motora, entre tantos outros.

As propostas são infinitas, a exemplo da própria criatividade humana.

Desse fazer que é artístico e lúdico, muitas vezes surgem alternativas para que

os envolvidos no processo lidem melhor com seus conteúdos emocionais e

dificuldades de diferentes ordens.

Um dos trechos do filme brasileiro “Pro dia nascer feliz” (2006) ilustra,

com grande sensibilidade, a importância dessa aproximação entre Arte e

Educação, notadamente nos ambientes pedagógicos marcados pela violência

social, que tantos prejuízos acarreta para a construção das relações humanas.

Na tentativa de motivar seus alunos adolescentes problemáticos ao

aprendizado da língua portuguesa e da literatura, uma professora de escola

pública de periferia, no interior de São Paulo, organiza um espaço, dentro da

instituição, para a confecção de um „fanzine‟.

A proposta da professora é estimular os alunos a buscar imagens,

textos, poemas, expressões e outros elementos que irão compor uma revista

coletiva. Dessa forma, os adolescentes, que em breve já serão adultos, se

envolvem no processo de pesquisa e elaboração do material, aprendem,

trocam ideias, manifestam gostos, expressam afetos e desafetos, mostram-se.

Ao propor tal atividade, inconscientemente a professora também externa

suas insatisfações e dores emocionais, decorrentes das condições

38

profissionais adversas e da ameaça constante de agressões no ambiente

escolar – fatores que a levam a consultar um psiquiatra, “uma vez por mês”.

A atividade é eleita pela turma como a “melhor da escola”, como declara

uma das alunas – poetisa nata, cujo talento sempre se manifestava sob

depressão emocional –, que após concluir o curso nunca mais se expressou

através da escrita criativa.

3.3.2 – Na oficina de arte: a preocupação estética

Ainda que, em Arteterapia, não seja cobrado o domínio de qualquer

técnica artística, ao permitir-se desvendar seus conteúdos subjetivos por meio

da Arte, o sujeito/artistant mergulha num universo que é composto, também,

por elementos estéticos. Assim, torna-se impossível não se deixar contagiar,

num determinado ponto do trajeto, pela riqueza de possibilidades existente

nesses elementos.

Visto que a Arte está presente em todas as manifestações humanas,

habitando desde sempre o inconsciente coletivo, há que se considerar a

interessante “coincidência” de que os sujeitos que buscam a Arteterapia

reconheçam sua admiração pelas produções artísticas e/ou terapias

expressivas, mesmo quando se consideram “sem qualquer vocação artística”.

Tal particularidade foi expressa pela escritora Clarice Lispector, numa

entrevista pouco antes de sua morte, ocorrida em 1977, ao afirmar que

“manifestar o inexpressivo é criar”. Comprometida com um exercício pessoal

permanente para expressar-se através de textos cada vez mais sintéticos,

ainda que marcados pela intensidade de seus conteúdos, Clarice observou que

quem se atinge pela despersonalização reconhecerá o outro sob

qualquer disfarce: o primeiro passo em relação ao outro é achar, em si

mesmo, o homem de todos os homens. (1977).

Curiosamente, a escritora que tinha “a palavra como domínio sobre o

mundo” foi buscar na pintura o lenitivo para o sofrimento provocado pelo câncer

que motivou sua morte. No período de 1975-1977, produziu 16 telas, utilizando

39

tinta acrílica. Nelas, não foi privilegiada uma técnica, pois essas obras

intencionavam a autoexpressão criativa. Mas, percebe-se a existência, ainda

que inconsciente, de uma preocupação estética nessas produções. Esse fator

se torna evidente a partir da seguinte declaração de Clarice:

O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora

de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que

dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É

relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem

compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço (...)

Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma

fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são

feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações. (1977).

Cabe, portanto, destacar o papel da oficina de arte nesse processo de

mergulho interior. A preocupação estética emergirá, à medida que aumentar a

confiança do sujeito/artistant em sua própria capacidade de se expressar.

Livre para criar sem pressão de qualquer espécie, o ser humano

manifesta aquilo que traz de mais autêntico. Nesse exercício, se mostra e se

percebe. E, ao fazê-lo, abrevia/vence etapas rumo ao conforto, à compreensão

e à cura, independente da natureza ou da extensão de sua dor.

3.3.3 – Na clinica psicanalítica: o universo inconsciente

Uma das maiores contribuições de Jung à clínica da “escuta” das

emoções foi estender a possibilidade de trabalhar com as mãos ao

atendimento no espaço psicanalítico. Ao promover esse encontro entre a Arte e

a Psicanálise, onde ambas dialogam em benefício da cura do sofrimento

emocional, Jung patrocinaria, também, uma revisão do conceito de arte como

obra-prima e/ou produção específica do gênio ou do talento de iniciados.

Elizabeth Araújo Lima (2009) assinala que, embora Jung não

considerasse a atividade plástica suficiente para “levar a cabo um trabalho

analítico, que exige compreensão intelectual e emocional dos conteúdos

expressos para que possam ser integrados à consciência”, houve uma

40

mudança na forma como a sociedade e, em especial, a critica de arte,

encaravam anteriormente as produções

ocorridas fora do espaço institucional de arte, em especial aquelas

ligadas à situação de internamento associado à loucura. Mas se isso

implica uma ampliação da concepção de arte que, de forma mais ou

menos clara, passou a comportar produções estéticas marginais, indica

também, e principalmente, uma mutação na sensibilidade

contemporânea. (p. 201-205).

Nesse sentido, segundo esta mesma autora,

A referência a Nise da Silveira importa como alguém que, com seu

esforço e delicadeza, inventou um dispositivo que possibilitou a

produção de muitas dessas obras, significou-as de forma inovadora e

colocou-as em contato com outros olhares exteriores ao campo clínico

(este último procedimento foi fundamental para o deslocamento do

lugar que essas obras ocupavam no universo cultural). (p. 208).

Se somos todos um pouco loucos, certamente somos também artistas –

e todos irmanados por uma origem comum: o inconsciente, seja ele pessoal ou

coletivo. O que inexiste, muitas vezes, é o espaço apropriado e a oportunidade

para que sejam expressas todas as imagens contidas nesse universo

inconsciente.

A clínica psicanalítica com abordagem através da Arteterapia possibilita

um espaço para esse fazer. Certamente, o sujeito/artistant que a elege como

veículo para expressar seu mundo interior irá conjugar o trabalho com as mãos

ao do verbo, característico da clínica tradicional fundamentada em Freud.

Como ressalta Vanessa Coutinho (2005), o “fazer criativo geralmente é

uma atividade que provoca prazer, não apenas pelo contato com os materiais

(tintas, argila, papéis), como pela possibilidade de materializar as imagens que

trazemos na mente”. (p. 44-45).

São olhares um pouco diversos, mas igualmente revestidos de

acolhimento e “escuta”. O elemento que os aproxima é o inconsciente – um

lugar tão rico, fértil, simbólico, repleto de significantes e mobilizado por tantos

diferentes afetos, que caberá apenas ao próprio sujeito encontrar o modo de

lidar com tudo „isso‟.

41

3.3.4 – No fazer lúdico: permissão para “brincar”

A permissão para “brincar” obedece a dois comandos: um, externo,

oriundo do meio em que vive o sujeito e das figuras de autoridade que o

compõem. O outro, interno, marcado pelos símbolos, complexos e arquétipos

que esse sujeito vai “entesourando” dentro de si mesmo.

Quando um adulto não se permite mais “brincar”, surge um quadro grave

de adoecimento emocional, associado à morte da alegria interior. É possível

resgatar essa alegria ou, ao menos, reconstituir traços que possibilitem seu

reencontro em bases saudáveis e prazerosas?

Lidar com adultos e idosos é exercício que difere totalmente do trabalho

com crianças e/ou adolescentes. Enquanto a juventude traz um ímpeto próprio,

marcado pela abertura à novidade e à experimentação, a fase madura e o

envelhecimento físico podem sinalizar resistências, nem sempre conscientes.

Para cada fase, uma abordagem. Na fase do amadurecimento físico, tal

aproximação exige do arteterapeuta uma grande capacidade de tolerância para

aguardar o tempo de manifestação do outro.

Num espaço para o “resgate do brincar”, a criatividade une-se à

ludicidade para gerar formas e objetos que expressem expectativas, dores e

afetos. Talvez isso se processe num tempo diferente, permeado por alguns

retrocessos no percurso, uma vez que indivíduos adultos insistem na

elaboração racional e lógica de seus pensamentos e emoções – em oposição à

rapidez das crianças e dos adolescentes, motivados, respectivamente, pelo

simples ato de brincar e pela curiosidade de um novo mundo a ser explorado.

Contudo, há quem encontre nesse fazer lúdico, nas terapias

expressivas, nos exercícios de dramatização, na dança, nas histórias contadas

coletivamente, verdadeiro estímulo para levantar a cabeça, redescobrir valores

positivos e seguir adiante.

Da confecção de brinquedos com sucatas à autoria de livros infantis,

repletos de imagens que dão significado gráfico ao conteúdo subjetivo do texto

escrito, esse fazer lúdico é, em si, uma permissão para (re)viver com alegria.

42

CAPÍTULO IV

ESCUTANDO AQUELES QUE FAZEM

“Simplesmente, não há palavras. O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo...”

– Clarice Lispector

Seja unindo pontos ou traçando linhas, deixando fluir os movimentos ou

dando cor às emoções que emergem em preto e branco, o trabalho através da

Arte, em ambiente terapêutico ou pedagógico, surpreende sempre a quem nele

se insere. Tanto o profissional que ali atua, como o sujeito/artistant do processo

são unânimes em afirmar que a Arte é mágica.

A fim de complementar as informações trazidas pela pesquisa

bibliográfica, a autora buscou ouvir pessoas envolvidas com o fazer artístico.

Nesse sentido, colheu os três depoimentos que vêm a seguir e ajudam a

dinamizar as impressões contidas neste projeto.

4.1 – Arte como norte e um Carlitos na cartola

Toda a trajetória profissional de Cristie Campello é pautada pela arte.

Formada em Comunicação/Cinema e, posteriormente, em Psicomotricidade,

atuou durante 16 anos na área empresarial, trabalhando com Recursos

Humanas. Ali, entrou em contato com a Dinâmica de Grupo e enveredou por

esse caminho.

Contudo, após vivenciar situações que “não queria fazer e nem levar os

outros a fazer”, Cristie optou por se tornar docente da Universidade Aberta da

Terceira Idade (Unati), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),

onde está há 14 anos, ministrando oficinas de Cinema e Psicomotricidade.

Nesse espaço, Cristie utiliza cenas de filmes antigos para o resgate das

memórias afetivas de idosos. Por meio dessa experiência, iniciou suas aulas de

Dinâmica de Grupo no Instituto Vez do Mestre, há cerca de nove anos, nos

43

cursos de Docência do Ensino Superior, do Ensino Fundamental e Médio e de

Psicomotricidade

Cristie acredita numa Educação que não se restrinja ao campo teórico,

mas se estenda aos sentidos, privilegiando o afeto. Quando encontra

resistências em alguns grupos, contorna as dificuldades através da própria

dinâmica interrelacional proporcionada por suas aulas.

“Acredito que ministrar uma aula é valorizar o aluno e estar atento a

esse processo, pois é preciso “olhar” diferentes aspectos, tais como: a

sensação, a percepção, a cognição, o afeto e a intuição”, afirma.

Entendendo que “educar é cuidar e estar sempre pronto,

humanisticamente, para essa tarefa”, Cristie ressalta a importância do ato de

brincar. “A etimologia da palavra brincar é vinculum. Por decorrência, brincar é

fazer vínculo, criar vínculo, inventar vínculo”.

Embasada por sua experiência com indivíduos de diferentes faixas

etárias, principalmente adultos e idosos, Cristie destaca que “o brincar é

essencial, porque é aí que o aluno exerce a sua criatividade, vivenciando uma

aula diferente, estimulante e motivadora, na qual se pode aprender muito”.

O trabalho de Cristie com a Psicomotricidade e a Dinâmica de Grupo é

desenvolvido “com corpo presente”, privilegiando “o olho no olho, a escuta do

outro, do seu corpo”. Nesse ambiente, segundo a educadora, não pode haver

distância entre corpos.

“Essas distâncias e as resistências vão se diluindo, quando partilhamos,

nas aulas, momentos que são encontros de abertura. Não é terapia, mas é

terapêutico”, diz Cristie.

Dentre suas experiências mais significativas, a psicomotricista conta

como uma de suas alunas idosas, tímida e reservada, descobriu um talento

insuspeitado para incorporar o personagem Carlitos, de Charles Chaplin.

A descoberta ocorreu numa das aulas de resgate de memórias afetivas,

após a exibição do filme “O Vagabundo” (The Tramp, 1915). Despertada pelo

reencontro com uma lembrança significativa de sua juventude, a aluna

começou a se apresentar em eventos comemorativos da própria Unati/Uerj.

44

Hoje, representa o personagem em diversos outros lugares, sendo inclusive

contratada para festas particulares. Contente, revigorada e remunerada por seu

talento, essa aluna (re)descobriu sua capacidade de brincar, graças à Arte.

“É preciso ter ousadia e a coragem para propor uma aula diferente”,

afirma Cristie, para quem toda pedagogia se dá nessa área lúdica e

intermediária entre o educador e seu aluno. “Então, algo precisa ser feito para

ajudá-lo a tornar-se capaz de brincar”, assinala a educadora.

4.2 – Arteterapia como expressão dos sentimentos

Renata Fiani Cury resolveu buscar a Arte inspirada pela irmã.

Apaixonou-se pela Arteterapia desde o primeiro dia de aula e resolveu eleger

esse caminho para trilhar o mundo da Psicologia, como escolha profissional.

Graduada em Administração e concluindo o curso de Psicologia, Renata

Cury tem na bagagem, ainda, formação em Arteterapia, em Dinâmica de Grupo

e em Terapia Reichiana, além de atividades de dança no Sistema Rio Aberto.

Atuando como arteterapeuta há três anos, realiza atendimentos em

grupo para crianças de um a 4 anos de idade. Com adultos, os atendimentos

também são em grupo ou individuais, incluindo um trabalho com pacientes de

home care. Complementando a atividade clínica, Renata dá aulas de Terapias

Expressivas no Instituto A Vez do Mestre.

“Utilizo a arteterapia como expressão dos sentimentos”, explica Renata,

que usa em seus atendimentos técnicas de relaxamentos, teatro e contos de

fadas. Com as crianças, o trabalho é focado no desenvolvimento, estimulando

o prazer de brincar e as sensações. Já os adultos “buscam, basicamente, lidar

melhor com seus conflitos e sofrimentos”.

Em sua opinião, indivíduos adultos escolhem a Arteterapia porque,

nessa modalidade de atendimento, “a expressão não é apenas verbal; a

pessoa pode estabelecer outro tipo de comunicação, através dos materiais,

expondo melhor seus medos e situações”.

45

Dessa forma, a relação vai sendo construída “passo a passo, pois,

inicialmente, precisamos acolher o paciente e sua queixa”. Contudo, para que

se estabeleça o vínculo entre ambos, “é preciso entender como aquele

paciente vem „funcionando‟ e chegar até onde ele está. A partir daí, vamos

caminhar juntos”, afirma.

Renata cita aspectos como a resistência ao tratamento, a transferência

negativa e a projeção do paciente como as principais dificuldades encontradas

pelo arteterapeuta, durante os atendimentos.

As resistências, principalmente, são um fator bastante comum durante o

processo. Renata encara como uma defesa natural do indivíduo que “tem medo

do que pode encontrar”. Quando surgem em seus atendimentos, Renata

procura contornar essas resistências com “acolhimento e calma”.

O campo de trabalho em Arteterapia ampliou-se bastante, nos últimos

anos. Hoje, esse tipo de atendimento pode ser encontrado em hospitais,

clínicas e escolas, além do setting terapêutico. Tornou-se, também, objeto de

estudo de cursos e especializações em instituições de nível superior.

Renata considera que a graduação em Psicologia é indispensável para o

atendimento clínico. Para quem atua com oficinas de arte, “uma opção”. O

importante é que o arteterapeuta “esteja sempre aberto para aprender com o

paciente e vê-lo como uma pessoa única, com necessidades únicas”, ressalta.

Nesse sentido, o profissional deve possuir formação específica, em

curso reconhecido pela Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro – além da

sensibilidade para lidar com o outro.

“A Arteterapia não é um saber do psicólogo, nem do artista plástico, nem

do pedagogo. Ela precisa de um caminho próprio e de teorias próprias. Creio

que isto ainda está sendo trilhado”, finaliza Renata.

4.3 – Levando Jung e Arte ao ambiente empresarial

“Minha principal dificuldade, no setting, é quando fico impaciente com

algum cliente. Obviamente, levo a dificuldade para minha terapia”.

46

Objetiva e franca, Damáris Vieira Novo sintetiza, nessa frase, o que mais

a incomoda em seu trabalho – e sua forma de lidar com o eventual incômodo.

Tanta praticidade combina com o “jeito” de quem faz milagres com a agenda

para encaixar, a contento, as diversas atividades cotidianas. Mas não é tudo.

Formada em Psicologia, com licenciatura em Filosofia e mestrado em

Administração, Damáris especializou-se em Teoria e Prática Junguiana.

Atualmente, está concluindo a pós-graduação em Arteterapia em Educação e

Saúde, no Instituto A Vez do Mestre, “para aplicar os recursos da arte de forma

adequada”, ressalta.

Contudo, seu campo de atuação não é a clínica psicanalítica, mas o

mundo do Trabalho. Desde 1975, trabalha com Psicologia Organizacional e

orientação profissional, além de atuar como docente, em cursos de graduação

e pós-graduação, e como consultora empresarial para organizações.

Nesse ambiente tão “executivo”, Damáris utiliza técnicas de dinâmica de

grupo e recursos de arteterapia para o desenvolvimento de lideranças,

orientação e aconselhamento (coaching) de profissionais de grandes empresas

e instituições.

Em contrapartida, faz terapia com uma psicóloga junguiana e

arteterapeuta, trabalhando especialmente os próprios sonhos, por meio de

alguma forma de arte. Para completar, dedica algumas horas semanais à

realização de uma atividade artística – suas preferências são a pintura e a

escultura.

O encontro com a Arteterapia, visando uma aplicação profissional,

deveu-se ao gosto pela Arte e pelo artesanato. “Fui buscar uma forma de incluir

esses recursos em meu trabalho. E, na formação junguiana, tive várias oficinas

de arte com objetivos terapêuticos”, explica Damáris.

No trabalho, faz atendimentos breves, compostos por dez encontros, no

máximo, pois o foco é a orientação profissional. Nessas ocasiões, Damáris

utiliza os recursos expressivos, principalmente mandalas, para ajudar clientes

que se sentem pouco à vontade verbalizando as suas dificuldades. Tais

recursos, aliados às técnicas de dinâmica de grupo com abordagem junguiana,

47

contribuem para a elaboração das questões bem mais depressa do que numa

terapia convencional.

Ainda que a natureza de seu trabalho seja diferente dos atendimentos

realizados em ambiente terapêutico, certas condições permanecem

inalteradas. A principal delas, segundo Damáris, é a sensibilidade do

arteterapeuta para “captar as necessidades de seu cliente/paciente e utilizar os

recursos mais adequados a seu caso”.

Essa sensibilidade, resultante da escuta e observação atentas,

constituem o verdadeiro “saber” desse profissional, juntamente com o domínio

“de várias expressões artísticas e o conhecimento de alguma linha terapêutica”,

destaca a psicóloga.

No entendimento de Damáris, o arteterapeuta não precisa ser graduado

como psicólogo. Mas destaca que esse profissional “deve trabalhar em equipe

multiprofissional, que envolva um artista e um psicólogo, ou deve especializar-

se em alguma linha do campo da Psicologia, como a psicanálise, gestalt, etc”.

Acreditando nas múltiplas possibilidades de aplicação da Arteterapia, em

benefício da saúde do ser humano, Damáris só se mostra cautelosa quando se

trata de considerá-la como um novo campo do conhecimento. E explica seu

ponto de vista, com a habitual objetividade:

“É necessário, ainda, muito preparo conceitual. No Brasil, pelo que sei,

não existem pesquisas científicas publicadas que comprovem seus resultados,

para que seja considerada como „conhecimento‟”, finaliza.

48

CONCLUSÃO

“A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver”. – Paul Klee

A ordenação do mundo interior obedece a muitos processos, cada qual

com suas próprias sequências e instâncias. Para aqueles que escolhem a

Arteterapia como caminho expressivo, ordenar contextos pessoais é, antes de

tudo, um exercício de permissão de acesso à própria subjetividade.

Cada indivíduo carrega consigo múltiplos conteúdos – seja numa bolsa

pendurada num dos ombros, seja num lugar indefinível, mas perceptível, de

seu mundo interior. Nesse espaço misterioso, cientificamente denominado de

inconsciente, repousam e/ou se ocultam imagens e símbolos que traduzem o

percurso de vida de cada sujeito. Quando se tornam um peso, certamente

incomodam. Descarregar esse peso, contudo, nem sempre é tarefa simples,

pois exige diversos níveis de “permissão” – a começar pelo „autopermitir-se‟.

A dor emocional é, certamente, um dos piores pesos a serem

carregados pelo ser humano. Do desequilíbrio dos afetos que nos mobilizam,

surgem sofrimentos intensos, impossibilidades diversas de lidar com a vida

cotidiana, a fuga dos vínculos, a morte da alegria.

Arteterapia é, antes de tudo, um meio facilitador para o reencontro do

sujeito com sua alegria interior, através do fazer artístico, não importando seu

conceito de satisfação. Afinal, cada um sabe de si e daquilo que o motiva.

Para quem busca esse mergulho nos conteúdos subjetivos

inconscientes, visando a cura do sofrimento psíquico, a Arteterapia se propõe a

estimular, sem cobrar conhecimento de técnicas ou teorias, nem criticar a

produção resultante desse fazer artístico.

Esse trabalho se dá no espaço arteterapêutico, com o apoio do

arteterapeuta, que comparece com seu olhar, sua escuta e seu domínio sobre

a linguagem dos materiais plásticos. Dessa forma, torna-se um “acompanhante

especial” do sujeito/artistant em seu percurso rumo ao autoconhecimento.

49

O arteterapeuta desempenha um papel ímpar em todo o processo. De

seu acolhimento permanente e postura reservada, porém encorajadora, surge

grande parte da “permissão” que o sujeito/artistant dá a si mesmo para a

produção de imagens substancialmente reveladoras.

Quanto à interpretação desses conteúdos, Sara Paín (2009) diz que

É preciso igualmente lograr um hábito de escuta daquilo que na

produção do sujeito não está manifesto, não para “interpretar” ou dar

um significado explícito a conteúdos inconscientes implícitos, mas

simplesmente para não confundi-los. Convém ter em conta que não se

trata de um conteúdo inconsciente que se torna consciente, mas que, a

partir da produção consciente – palavra ou representação – é possível

tentar pôr em evidência, por um jogo de associações, uma modalidade

de funcionamento inconsciente. (p. 72).

Essa escuta encontra parceria na Arte. Segundo Paín, “quanto maior for

o domínio da multiplicidade de códigos, mais facilmente o arteterapeuta

descobrirá os valores (luz, cor, contraste, etc.) com os quais o sujeito trabalha”.

Dessa forma, poderá “ajudá-lo a enriquecer sua linguagem plástica e sua

capacidade de simbolização”. (p. 72).

Por isso, o profissional precisa se colocar em permanente contato com a

Arte, visitando museus ou ateliês, dedicando-se também ao fazer artístico e

aprimorando sua sensibilidade para as imagens, pois a Arteterapia “requer

tanto uma cultura artística como um saber técnico, além da capacidade de

compreensão psicológica”. (p. 73).

Para Vanessa Coutinho (2005), ainda que todos sejamos, ou possamos

ser, pessoas criativas, “a criatividade vai sendo inibida com o passar dos anos

e, como preço (alto) pagamos com o fato de, muitas vezes, não nos

reconhecermos, pois não sabemos mais do que gostamos ou não”. (p. 54).

Aí reside um dos principais atributos da Arteterapia, notadamente no

tratamento de adultos que adoecem em sua emoção: “o olhar estético e a

escuta terapêutica permitem que o indivíduo tenha acesso à multiplicidade

cultural na qual poderá situar sua própria história” (PAÍN, 2005, p. 16).

Identificando-se, o ser humano (re)define seus caminhos e (re)orienta

suas escolhas para (re)encontrar-se com sua alegria. E isto é Arte! ☼

50

BIBLIOGRAFIA

ARCURI, Irene Gaeta (Org). Arteterapia: um novo campo do conhecimento. São Paulo: Vetor Editora, 2006. BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 1999, 13ª ed. COUTINHO, Vanessa. Arteterapia com crianças. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2005. ______. Arteterapia com idosos: ensaios e relatos. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008. Dossiê Clarice Lispector. In Revista EntreLivros. Ano 2, nº 21, p. 26-54. São Paulo: Duetto Editorial, jan. 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura), 2008, 37ª ed. JUNG, Carl G. Estudos alquímicos. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. LIMA, Elizabeth Araújo. Arte, clínica e loucura: território em mutação. São Paulo: Summus/Fapesp, 2009. PAÍN, Sara. Os fundamentos da arteterapia. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. PHILIPPINI, Angela. Para entender arteterapia: cartografias da coragem. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008, 4a ed. ______. Linguagens e materiais expressivos em arteterapia: uso, indicações e propriedades. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. REÍSIN, Alejandro. Arteterapia: semânticas e morfologias. São Paulo: Vetor Editora, 2006. SANTA CATARINA, Maida. Mandala: o uso na arteterapia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2008, 4a ed. ______. Interpretando imagens, transformando emoções. Rio de Janeiro, 2007. VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

51

Filmografia “Pro Dia Nascer Feliz”, Brasil, 2006. Produção: Flávio R. Tambellini/João Jardim. Direção: João Jardim. Distribuição: Copacabana Filmes. 82 min. “Tempos de Paz”, Brasil, 2009. Produção e Direção: Daniel Filho. Distribuição: Downtown Filmes. 82 min. Webgrafia Fundação Casa de Rui Barbosa. Acervo de Clarice Lispector. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literaturaclarice_lispector/bibliografia.html> Acesso em: 15 de out. 2009. SILVA, Nilza. Saberes locais. Publicado no site da Universidade Regional Integrada de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.urisan.tche.br/~psicologia/antiga/eventos/eventosnovos/saberes.htm#_ftnref1> Acesso em: 15 de dez. 2009. Entrevistas - Cristie Campello (Atriz, Psicomotricista, Professora)

- Damáris Vieira Novo (Psicóloga do Trabalho, Professora e Artistant)

- Renata Fiani Cury (Bailarina, Arteterapeuta, Graduanda em Psicologia)

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ATIVIDADES CULTURAIS

53

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I – A Arte como inspiração do Homem 11

1.1 – Criatividade é prerrogativa humana 12

1.2 – Traços ancestrais que marcam a humanidade 15

1.3 – Eu me identifico, tu me identificas... 18

1.4 – Identidade e subjetividade no exercício do viver 20 CAPÍTULO II – A arte e o fazer artístico como formas de expressão 22

2.1 – O desejo de “brincar” e a criança interior 23

2.2 – De que forma eu me coloco neste mundo? 25

2.3 – A dor que transtorna e submete 27

2.4 – Expressando para tentar curar 28 CAPÍTULO III – Arteterapia: a “escuta” do universo do outro 30

3.1 – Equilibrando-se entre as técnicas e a intuição 31

3.2 – Espaço arteterapêutico e o exercício do acolhimento 32

3.3 – Arteterapia em suas múltiplas possibilidades 34

3.3.1 – No ambiente pedagógico: o aprendizado 36

3.3.2 – Na oficina de arte: a preocupação estética 38

3.3.3 – Na clínica psicanalítica: o universo inconsciente 39

3.3.4 – No fazer lúdico: permissão para “brincar” 41

CAPÍTULO IV – Escutando aqueles que fazem 42

4.1 – Arte como norte e um Carlitos na cartola 42

4.2 – Arteterapia como expressão dos sentimentos 44

4.3 – Levando Jung e Arte ao ambiente empresarial 45

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 50

ATIVIDADES CULTURAIS 52

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

54

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes Instituto A Vez do Mestre Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da Monografia: Arteterapia e o resgate do “brincar”:

auxiliando adultos através da Arte e do fazer artístico

Autor: Sônia Regina d´Azevedo Souza Leal Turma: I 036 Matrícula: I 101376 Data da entrega: 15 de janeiro de 2010 Avaliado por: Profª Fabiane Muniz Conceito: Excelente