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A TERAPIA ARTICULATÓRIA E A "AUTOMATIZAÇÃO" DE NOVOS FONEMAS Jaime Luiz Zorzi CEFAC- Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica 2002 Problemas de fala fazem parte da rotina dos consultórios fonoaudiológicos como resultado de alterações que podem ser de origem neurológica, músculo-esqueletais ou desvios de ordem fonológica. A princípio, existe uma forte correlação entre as causas dos distúrbios e as possibilidades terapêuticas, ou seja, o sucesso da fonoterapia encontra-se na dependência de fatores orgânicos, que podem limitar em maior ou menor grau o domínio dos sons da fala, como é o caso das alterações neurogênicas e músculo- esqueletais. Neste sentido, se pensarmos em termos de prognóstico, o tratamento dos desvios fonológicos “puros” (não associados a outros tipos de distúrbios articulatórios) não deveria encontrar limitações uma vez que não existem condições neurológicas ou anatômicas desfavoráveis para a aprendizagem e produção dos sons em terapia. Entretanto, mesmo nestes casos de desvios fonológicos (também considerados como distúrbios articulatórios funcionais ou dislalias funcionais), o desenvolvimento da terapia da fala pode encontrar obstáculos que vão além de condições orgânicas. Dentre tais obstáculos, podemos apontar que, com muita freqüência, observamos situações nas quais o chamado processo de automatização parece não ocorrer como seria o esperado, até mesmo quando a criança aprendeu a produzir os fonemas alterados com certa facilidade. Em outras palavras, a partir da caracterização do sistema fonêmico da criança, da identificação das alterações presentes e de suas possíveis causas, inicia-se um processo terapêutico a fim de que os problemas encontrados possam ser corrigidos. Qualquer que seja a abordagem, o objetivo final é o de levar a criança a produzir, em sua fala espontânea, os fonemas alterados em todas as palavras em que eles possam estar presentes. Ou seja, pretende-se chegar à automatização dos novos padrões articulatórios, ponto a partir do qual o processo de terapia de fala pode ser encerrado. Para tanto, algumas condições devem estar asseguradas. Em primeiro lugar, a motivação, interesse e colaboração por parte da criança. Torna-se mais difícil mudar o padrão de articulação de alguém que não colabora ou que não vê sentido nisso. Em segundo lugar, a criança deve vir a ser capaz de realizar, de forma coordenada, os movimentos articulatórios que levam à produção dos fonemas desejados nos mais variados contextos, combinando-os com outros fonemas, a fim de produzir adequadamente todas as palavras da língua. Finalmente, chegando a este ponto, espera- se que um processo de generalização ocorra na linguagem espontânea, isto é que a criança aplique seus conhecimentos em novas palavras, processo este que recebe o nome de automatização. Todavia, encontramos crianças que, embora estejam preenchendo as condições acima apontadas, ou seja, mesmo estando motivadas e conseguindo produzir os fonemas de modos variados (isoladamente, em sílabas e em diversas palavras com contextos fonêmicos variáveis), não chegam a um processo de generalização. Isto significa que, na situação terapêutica, frente às palavras que estão sendo treinadas e com o controle exercido pelo fonoaudiólogo, a produção de fala está adequada. Porém, fora desta

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A TERAPIA ARTICULATRIAE A "AUTOMATIZAO" DE NOVOS FONEMAS Jaime Luiz Zorzi CEFAC- Centro de Especializao em Fonoaudiologia Clnica 2002 Problemasdefalafazempartedarotinadosconsultriosfonoaudiolgicoscomo resultadodealteraesquepodemserdeorigemneurolgica,msculo-esqueletais oudesvios de ordem fonolgica. A princpio, existe uma forte correlao entre as causas dos distrbios e as possibilidades teraputicas, ou seja, o sucesso da fonoterapia encontra-se nadependnciadefatoresorgnicos,quepodemlimitaremmaioroumenorgrauo domniodossonsdafala,comoocasodasalteraesneurognicasemsculo-esqueletais.Nestesentido,sepensarmosemtermosdeprognstico,otratamentodos desviosfonolgicospuros(noassociadosaoutrostiposdedistrbiosarticulatrios) nodeveriaencontrarlimitaesumavezquenoexistemcondiesneurolgicasou anatmicas desfavorveis para a aprendizagem e produo dos sons em terapia. Entretanto,mesmonestescasosdedesviosfonolgicos(tambmconsiderados comodistrbiosarticulatriosfuncionaisoudislaliasfuncionais),odesenvolvimentoda terapia da fala pode encontrar obstculos que vo alm de condies orgnicas.Dentre tais obstculos, podemos apontar que, com muita freqncia, observamos situaes nas quais o chamado processo de automatizao parece no ocorrer como seria o esperado, atmesmoquandoacrianaaprendeuaproduzirosfonemasalteradoscomcerta facilidade. Em outras palavras, a partir da caracterizao do sistema fonmico da criana, da identificao das alteraes presentes e de suas possveis causas, inicia-se um processo teraputico a fim de que os problemas encontrados possam ser corrigidos. Qualquer que sejaaabordagem,oobjetivofinalodelevaracrianaaproduzir,emsuafala espontnea,osfonemasalteradosemtodasaspalavrasemqueelespossamestar presentes.Ouseja,pretende-sechegar automatizaodosnovospadres articulatrios, ponto a partir do qual o processo de terapia de falapode ser encerrado. Paratanto,algumascondiesdevemestarasseguradas.Emprimeirolugar,a motivao,interesseecolaboraoporpartedacriana.Torna-semaisdifcilmudaro padrodearticulaodealgumquenocolaboraouquenovsentidonisso.Em segundolugar,acrianadevevirasercapazderealizar,deformacoordenada,os movimentosarticulatriosquelevam produodosfonemasdesejadosnosmais variadoscontextos,combinando-oscomoutrosfonemas,afimdeproduzir adequadamente todas as palavras da lngua. Finalmente, chegando a este ponto, espera-sequeumprocessodegeneralizaoocorranalinguagemespontnea,istoquea crianaapliqueseusconhecimentosemnovaspalavras,processoestequerecebeo nome de automatizao. Todavia,encontramoscrianasque,emboraestejampreenchendoascondies acima apontadas, ou seja, mesmo estando motivadas e conseguindo produzir os fonemas demodosvariados(isoladamente,emslabaseemdiversaspalavrascomcontextos fonmicos variveis), no chegam a um processo de generalizao. Isto significa que, na situaoteraputica,frentespalavrasqueestosendotreinadasecomocontrole exercidopelofonoaudilogo,aproduodefalaestadequada.Porm,foradesta 2situao,emcondiesdeusoespontneoenaturaldalinguagem,ospadres considerados alterados ainda imperam, como se a criana nada tivesse aprendido em sua terapia de fala. "No est havendo automatizao", costuma-se dizer. Famliaeescola,porsuavez,podemcomearaquestionarosresultadosoua qualidadedotrabalhodofonoaudilogoque,paratentarjustificaranoautomatizao, muitasvezesrecorreaexplicaesenvolvendopossveisproblemasemocionais, familiares, de ateno, de memria, de interesse e assim por diante. Em geral, tende-se a levantar motivos que extrapolam o trabalho de fala em si. Difcil compreender como uma crianaquesemostracapazderepetiradequadamentetodasaspalavrasquelheso apresentadas,nopasseaus-lasnaturalmenteouquenoestendatalhabilidadea novas palavras. Assimcolocadooproblema,estecaptulotemporobjetivodesenvolveruma anlisefundamentadaemexplicaesdenaturezalingsticaecognitiva,tendocomo baseoutrascapacidades,almdasjapontadas,quesorequeridasnestatarefade aprendizagem de novos fonemas a partir de situaes planejadas. Neste sentido, parece ser necessrio, antes de se falar em automatizao, lanar mo da noo de conscincia daestruturasonoradaspalavras,maisespecificamente,danoodeconscincia fonolgica.Istoquerdizerqueentreaprenderaproduzirosfonemas,articulando palavrasadequadamenteemsituaodecontroleechegaraautomatizartais conhecimentos, deve haver um processo de tomada de conscincia da estrutura sonora das palavras e de controle consciente, em oposio a automtico, da produo da fala. O CONHECIMENTO FONOLGICO Embora as crianas possam ter um domnio fonolgico em termos de oralidade, ou seja, apesar de serem capazes deproduzir e combinar fonemas para formar as palavras de sua lngua, a noo de fonema em si, como unidade sonora que compe tais palavras no evidente para elas. Isto quer dizer que, para falar, elas no precisam se dar conta decadaumdosfonemasqueintegramaspalavras,umavezqueoprocessamentoda linguagemoralrequernveisnemsempreconscientesdeconhecimentofonolgico (Vygotsky, 1979; Signorini, 1998). Aconscinciaouconhecimentofonolgicocorrespondeaumaspectodochamado conhecimento metalingstico,que significa uma capacidade de operar e refletir sobrealinguagememdiferentesnveis:textual,pragmtico,semntico,sinttico, morfolgicoefonolgico.Estacapacidademetalingstica,porsuavez,fazpartedeum processomaisamplo,demetacognio,ouseja,osconhecimentosqueaspessoas podemviraterarespeitodeseusprpriosprocessoscognitivos(Signorini,1998).A conscinciafonolgica,seguindotalconcepo,podeserconsideradacomouma capacidade metalingstica que permite refletir sobre as caractersticas da fala, sobre sua composiosonora,assimcomomanipul-la.Outrostermostambmtmsido empregadosparafazerrefernciaaestanoo:sensibilidadefonolgica,conhecimento fonolgico,conhecimentofonmicoeconhecimentosegmental(Rueda,1993;Catts, 1999). Muito tem sido pesquisado a respeito das relaes entre conscincia fonolgica e alfabetizao.Ahabilidadeparasegmentarpalavrasemslabasefonemastemsido 3apontadacomoumaspectofundamentalnaaquisiodaescrita,assimcomona compreensodeseusdistrbios(Torres,1993;Alegria,1993).importanteconsiderar quediferentesnveisdeconhecimentofonolgicotmsidoidentificados,algunsdeles desenvolvidosespontaneamenteapartirdalinguagemoraleoutroscomofortemente dependentes da aprendizagem formal da escrita, que o caso dos conhecimentos mais avanados. A habilidade para identificar rimas, assim como o conhecimento silbico, que permite segmentar uma palavra em suas slabas correspondentes, so mais elementares eindependemdaalfabetizao.Poroutrolado,oconhecimentosegmental,ouseja, compreenderqueumapalavracompostaporumaseqnciadesonsquepodemser identificadosemanipuladosumaum,correspondeaumgraudecompreensoque dependedaaquisiodalinguagemescrita(McGuinnes,McGuinneseDonohue,1995; Vandervelden e Siegel, 1995). Chegar compreenso,consciente,dequeafalacompostaporfonemasque podemsersegmentadosdependedosprogressosqueacrianarealizanomundoda escritae,aomesmotempo,quantomaiselaaprendesobreosfonemas,maispode avanarnoseuentendimentodaescrita,principalmenteseestafordenatureza alfabtica. Esteprocessodesegmentao,queenvolveadecomposiodeestruturas sonorasemslabasefonemasdependedaconsideraodaspalavrasemsi, independentementedeseussignificados.Nousoquesefazdalinguagem,enquanto falante, existe todo um conhecimento prtico que se desenvolve desde muito cedo e que podertornar-seconhecimentorefletidoouconsciente.Entretanto,comoafirma Tolchinsky(2000)"...ascrianasmenoresdeseisanosouosadultosanalfabetos... analisam as palavras em slabas ou em unidades maiores que uma slaba. A aquisio da leituraproduziriaumsaltoqualitativonessacapacidade,facilitandooisolamentode segmentos subsilbicos" (p.42). Deve-se considerar que, enquanto as slabas podem ser pronunciadasdeumaformanatural,omesmonoocorrecomasconsoantesqueas compem,setomadasisoladamente.Segmentarumaslabaparachegaraosseus componentes fonmicos, consoantes e vogais, requer o isolamento, de forma artificial, de elementos muito mais abstratos do que a prpria slaba. A aquisio da escrita, a partir de seu referencial ortogrfico, permitiria um salto qualitativo da segmentao silbica para a segmentao fonmica. MECANISMOS ENVOLVIDOS NA FALA Viaderegra,ascrianasadquiremalinguagemverbalapartirdesituaes naturais de interao e comunicao com os outros, os quais servem, ao mesmo tempo, deinterlocutoresedemodelosdelinguagem.Estaaquisioprogressivaeocorrena medidaemqueacrianaexerceseupapeldefalantedeumalngua,implicandoo aprendizado de aspectos pragmticos, semnticos, sintticos, morfolgicos e fonmicos, ou seja o domnio de regras lingsticas de naturezas variadas. Tal aprendizagem requer ajustes constantes e sistemticos de modo que a criana possa ir fazendo modificaes emsualinguagemparaaproxim-ladalinguagemdoadulto.Estaumatendncia natural, uma vez que no precisamos instruir as crianas para que assim procedam. Esteprocessocontnuodeajustedeverequerer,porsuavez,mecanismos eficazesdecontrole.Istoquerdizerque,dealgumaforma,acrianadeveestar 4comparando, continuamente, sua produo de linguagem com a produo dos outros, o quelhepermitefazermodificaesnosentidodeumaaproximao.Porsuavez,tais mecanismosdecontroleeajustenemsemprerequeremumaatividade consciente, ou seja,acrianapodenoestarsedandocontadetodososprocessosqueocorremem sua mente. Istosignifica,deumamaneirageral,queaproduoeousodeconhecimentos lingsticosemsituaesnaturaisdecomunicaonoobrigatoriamente requerem uma conscinciaclara,quersejadosprocessosquegeramalinguagemoudasregrase elementos que a compem. Quando uma criana produz uma frase, no precisa pensar numaordenaonaformadesujeito,verboepredicado,tampoucoseoverboest no presente ou no futuro, que curva meldica dever empregar e assim por diante. O mesmo se aplica fala. Palavras podem ser pronunciadas sem que o falante se d conta de que sons elas contm ou de como estes sons esto sendo produzidos. um conhecimento em nvel prtico, ou um "conhecimento-em-uso'" (Tolchinsky, 2000), que poder tornar-se objetodereflexogerandooquesedenomina,nocasodafala,conscinciaou conhecimento fonolgico. ATERAPIA,OCONTROLECONSCIENTEDAPRODUODAFALAEA AUTOMATIZAO Sepensarmosemcrianascomproblemasdefala,maisespecificamentenos casosenvolvendoomissesesubstituiesdefonemas,equenoapresentam alteraes neurolgicas ou msculo-esqueletais, estaremos frente a uma situao na qual esteprocessodeajusteparecenoestarfuncionandoadequadamente,possivelmente por alguma insuficincia nos mecanismos de comparao, controle e modificao. Nestes casos,elasnoestosendocapazes,emsituaesnaturais,depromovermudanas progressivasnafalaquelevemapropriaoplenadosistemafonmico.Crianascom estetipodeperfilpodemestarsendoencaminhadasparafonoterapiae,dentreelas, muitas podero apresentar a j apontada dificuldade para "automatizao". Quandorecebemosumacrianacomestetipodedistrbioarticulatrioenos propomos a ensin-la a produzir os sons que esto alterados, estamos criando situaes diferentesdaquelasnasquaisascrianas,espontaneamente,adquiremafala.As propostasteraputicas,quaisquerquesejam,tmcomoobjetivocriarumacondiode levar a criana a realizar os fonemas e generaliz-los a todas as palavras, inicialmente de umaformacontroladaparachegar,finalmenteaumaproduoespontneae generalizada.Temos,destaforma,umasituaodiferente,quepodeseratmesmo consideradacompensatriaenaqualaatenodacrianaserdirigidabasicamente paraascaractersticassonorasdaspalavras,enoparaseussignificados.Emoutras palavras,independentementedesuaidade,acrianaestarfrenteasituaesque envolvem a noo abstrata de fonema. Apesardeestarlidandocomumaelementolingsticocomplexo,vemosque, muitas destas crianas, a partir de pistas ou de abordagens diversas para a "colocao" dos fonemas, podem vir a produzi-los em condies variadas: isoladamente, em slabas, em palavras e at mesmo em algumas frases, mas desde que haja um controle dirigido e consciente.Pode-se afirmar que, chegandoa este ponto, a criana mostra-se capaz de 5produzir algumas modificaes em sua fala, a partir de comparaes e ajustes em relao faladomodelo,nestecasoofonoaudilogo.Oprximopassopoderserode estabilizao das palavras diretamente treinadas e a tentativa de, espontaneamente, esta habilidadeserestendidaanovaspalavrasemcondiodefalacontroladae, principalmente, em situaes naturais de comunicao. Algumas crianas ultrapassaro todas estas etapas e obtero alta enquanto que outras tero muita dificuldade para ir alm daquelas condies estritamente controladas. Deve-seteremmentequeashabilidadeseconhecimentosqueacriana desenvolveu, e que lhe permitem imitar a fala correta do modelo em situao de terapia, podem no ser suficientes para garantir a generalizao, uma vez que novas capacidades parecem entrar em jogo para poder permitir uma futura automatizao. Para ir alm das situaes controladas de terapia, a criana deve criar novos engramas articulatrios que possamvirasubstituiraquelesmaisantigososquais,automaticamente,soativados quando em situaes espontneas. Narealidade,acrianadeverdesenvolverumcontroleconscienteesistemtico desuaproduodefala,apartirdeprocessosqueenvolvemumacondiodeinibiros automatismos j estabelecidos, antecipar as palavras que sero pronunciadas, analis-las em seus componentes fonmicos a fim de verificar se elas possuem ou no determinados fonemasqueestaprendendoaproduzir,detectarsuasposiesnaspalavrase promoverasubstituiodoantigopelonovo,noscasosondeeladevaocorrer. Acrescente-seatodoestetrabalhoconscientedeanliseemanipulaosonoraquea criana tambm deve estar sendo capaz de expressar o que deseja. Ou seja, sua ateno deve estar voltada, ao mesmo tempo, para a mensagem e para uma anlise minuciosa da estrutura sonora das palavras. Ograndeproblemanoodeproduziraspalavrascorretas,umavezquea crianaconseguiuumacondioarticulatria,massimodeinibirosengramasj estabelecidos,oquerequerum processo de antecipao a ponto de poder decidir quais palavrasdevemsermodificadasequaisno,antesdepronunci-las.Seriaamesma coisa se nos propusssemos daqui para a frente a, sistematicamente, em situaes reais deconversao,substituir,propositadamente,algunsfonemasporoutros,comopor exemplo,usarofonema/k/nolugarde/t/e/g/nolugarde/d/,semperderaflunciae sem deixar de ser claro no que se quer dizer.Seria to fcil? Devemos estar levando em considerao a idadedas crianas e a complexidade das tarefas que elas devem levar adiante para modificar os padres de sua fala e chegar "automatizao".Sepensarmosnaquelascrianasquenoapresentamdificuldades paraaprenderafalarcorretamente,veremosqueelassomentetenderoaentrarem contato com situaes que exigem um conhecimento fonmico mais aprofundado quando forem alfabetizadas. Quando o sistema de escritade uma lngua de natureza alfabtica, havernecessidadedequesejamestabelecidasrelaesprecisasentreossonsdas palavraseasletrasqueirorepresent-los(Zorzi,1998).Talbuscaderelacionamento levaracrianaarefletirsobreasseqnciasdeunidadessonoras,deumaforma diferente daquela que at ento fazia, e chegar em um nvel de conhecimento segmental. Isto pode ter incio a partir de seis ou sete anos, dependendo das experincias formais de alfabetizao.Namedidaemquetrabalhamoscomafaladecrianasqueesto apresentandodificuldadesnestaaquisio,podemosestarexigindodelas,desdemuito 6maiscedo,quelidem,deformaconsciente,comanoodefonemas,oquepode representarumgrandedesafioe,atmesmoonoconseguir,principalmenteemse tratando de crianas de quatro ou cinco anos. Emumtrabalhovoltadoparaainvestigaodehabilidadesemconscincia fonolgicacomcrianasbrasileirasentrequatroeoitoanosdeidade,Cielo(2000) constatou que, em se tratando de tarefas envolvendo manipulao de slabas, a partir dos cincoanoselascomeavamatersucessoematividadesdesegmentaoedeteco silbicasenquantoqueareversosilbicascomeouaserrealizadaapartirdosseis anos,aindarestritaapalavrasdisslabas.Quantostarefasenvolvendofonemas,a atividadededetecodefonemas,desde que em posio inicial da palavra, comeou a tornar-se possvel a partir dos cinco anos e somente aos sete anos em todas as posies. Atividadesrelativas exclusodefonemassomenteforampossveisapartirdossete anos,omesmoocorrendocomastarefasenvolvendosntesefonmica,segmentao fonmica e reverso fonmica. Como pode ser observado, algumas tarefas comeam a tornar-se viveis apenas por volta do sete anos, idade na qual as crianas j esto sendo alfabetizadas,oquelhespermitemaiorcompreensodeatividadesligadassegmentao e manipulao de fonemas. O que se pretendeu com este captulo foi mostrar que, entre ser capaz de produzir corretamentenovossonsepalavrasnumasituaoteraputicacontroladaea automatizaodestesnovospadresarticulatriosexisteumalongadistnciacujo percurso depender de uma atividade de anlise e controle muito intensos da criana em relaosuaprpriafala.Comojfoiapontado,eladeversercapaz,porexemplo,de detectarapresenade fonemas em palavras, segmentar palavras, excluir fonemas para substitu-losporoutros,inibirautomatismosjbemconsolidadosconsiderandosea palavraestarsendopronunciadadaformacorretaouno,etudodeumaformaque demandaraesconscientes.Comopodeservisto,humagrandeexignciade habilidades em nveis fonolgicos nem sempre acessveis para a criana. Namedidaemquepadresantigospossamsersubstitudosporpadresnovos tenderaocorrerumaestabilizaodestesnovospadresassimcomouma generalizaoanovaspalavras.Apartirdestemomentoquesepodefalarem automatizao.Considerando-sequeesteprocessoenvolvehabilidadesfonolgicas complexas,quevomuitomaisalmdahabilidademotoradeproduzirfonemas,muitas crianaspodemviraterdificuldadesparacompletaresteciclo.Portanto,dificuldades relativas "automatizao"podemseresperadasenodevemsurpreendero fonoaudilogoquandoocorrerem,principalmentequandosetratadecrianaspequenas. Situaes que levem a criana a detectar palavras com os fonemas trabalhados, a fazer julgamentossobreomododepronunciaraspalavras,afazersubstituieserradas propositais,podemajud-lanosentidodedesenvolverumaatenoeumcontrolemais conscientes sobre a fala. CATTS, H.W. - Phonological awareness: putting research into practice. Language, learning and education, vol. 6, 1, 17-19, 1999. CIELO, C.A. Habilidades em conscincia fonolgica em crianas de 4 a 8anos. 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