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119 Desafio da década Antenor Pinheiro Jornalista e coordenador da ANTP Regional Centro-Oeste E-mail: [email protected] PONTO DE VISTA 1 A NP No dia 11 de maio teve início a contagem regressiva da Década Mun- dial da Segurança Viária, programa da Organização das Nações Uni- das (ONU, 2010), do qual o Brasil é signatário. Referido programa teve origem no primeiro relatório mundial sobre prevenção de traumatis- mos causados por acidentes de trânsito (Organização Mundial de Saúde/OMS e Banco Mundial, 2004) e no relatório da Cruz Vermelha Internacional (1998) quando esta advertiu que “os acidentes rodoviá- rios são um desastre global agravante que destrói vidas e meios de subsistência, dificulta o desenvolvimento e deixa milhões em situação de grande vulnerabilidade”. Em 2009, a OMS divulga estudos realiza- dos em 178 países no Relatório Mundial da OMS sobre prevenção e ferimentos no trânsito que, pela sua gravidade, culmina no Relatório global sobre a situação da segurança viária (2010). Esses densos estudos culminaram numa sinistra constatação: 1,3 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano no mundo (400 mil jovens abaixo de 25 anos), mais 50 milhões ficam feridos e incapacitados. A ONU concluiu que era preciso tomar medi- das articuladas com o objetivo de “melhorar a segurança rodoviária global com definição de objetivos regionais e nacionais para a redu- ção de vítimas de acidentes rodoviários. Meta única: reduzir em 50% os índices de mortos e feridos na década 2011-2020. No Brasil, o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministé- rio da Saúde (Mapa da Violência 2011) nos situa entre os dez países de mais alta morbimortalidade no mundo com 38.273 mortes/ano e cerca de 400.000 feridos e incapacitados/ano. Significa prejuízo mate- rial de 40 bilhões/ano (Ipea, 2008) e dano psicológico para milhões de famílias brasileiras. Não por menos, nos inserimos nesse esforço glo-

Artigo 08 - RTP 128

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Revista dos Transportes Públicos nº 128 - artigo 08: Desafio da década

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Desafio da década

Antenor PinheiroJornalista e coordenador da ANTP Regional Centro-Oeste E-mail: [email protected]

ponto de vista 1

AN P

no dia 11 de maio teve início a contagem regressiva da Década Mun-dial da Segurança Viária, programa da organização das nações Uni-das (onU, 2010), do qual o Brasil é signatário. Referido programa teve origem no primeiro relatório mundial sobre prevenção de traumatis-mos causados por acidentes de trânsito (organização Mundial de saúde/oMs e Banco Mundial, 2004) e no relatório da Cruz vermelha internacional (1998) quando esta advertiu que “os acidentes rodoviá-rios são um desastre global agravante que destrói vidas e meios de subsistência, dificulta o desenvolvimento e deixa milhões em situação de grande vulnerabilidade”. em 2009, a oMs divulga estudos realiza-dos em 178 países no Relatório Mundial da OMS sobre prevenção e ferimentos no trânsito que, pela sua gravidade, culmina no Relatório global sobre a situação da segurança viária (2010).

esses densos estudos culminaram numa sinistra constatação: 1,3 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano no mundo (400 mil jovens abaixo de 25 anos), mais 50 milhões ficam feridos e incapacitados. a onU concluiu que era preciso tomar medi-das articuladas com o objetivo de “melhorar a segurança rodoviária global com definição de objetivos regionais e nacionais para a redu-ção de vítimas de acidentes rodoviários”. Meta única: reduzir em 50% os índices de mortos e feridos na década 2011-2020.

no Brasil, o sistema de informações de Mortalidade (siM) do Ministé-rio da saúde (Mapa da violência 2011) nos situa entre os dez países de mais alta morbimortalidade no mundo com 38.273 mortes/ano e cerca de 400.000 feridos e incapacitados/ano. significa prejuízo mate-rial de 40 bilhões/ano (ipea, 2008) e dano psicológico para milhões de famílias brasileiras. não por menos, nos inserimos nesse esforço glo-

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bal que se inicia, a despeito de termos em vigência, desde 2004, a Resolução nº 166 do Contran (política nacional de trânsito), do qual consta consistente plano de metas com o mesmo objetivo da onU, mas que não tem merecido a prioridade que se esperava dos suces-sivos governos.

em Goiás, não é diferente a gravidade do quadro. Colecionamos 85.869 acidentes com 1.890 mortes e 60.402 feridos/ano (07/09 a 07/10, detran-Go). observando os números anteriores, temos experimentado anualmente crescimento de 14% em acidentes, 6% em mortes e 12% em feridos. somente em Goiânia ocorreram no mesmo lapso de tempo 34.858 acidentes (40,5% do total do estado) com 335 mortes (17,7%) e 21.139 feridos (35%) (detran -Go).

são números preocupantes. alertam para a necessidade de atitudes concretas, porque mais que eventos contabilizados, refletem ausência de poder público eficiente no trato da questão. É preciso que os governantes das três esferas de governo e os demais poderes priori-zem políticas neste sentido, se comprometam com a devida adesão ao programa mundial e profissionalizem suas ações e órgãos rodovi-ários e de trânsito.

a associação nacional de transportes públicos (antp) disponibili-zou inédita contribuição nesse sentido, resultado de estudos dedi-cados à meta da onU (www.antp.org.br). o governo de Goiás e a prefeitura de anápolis foram os únicos entes governamentais em nossa região a se movimentar para o seu enfrentamento. “pensar globalmente e atuar localmente” nunca foi tão importante perante a epidemia em que se transformou a acidentalidade de trânsito no Brasil. este é o desafio da década.

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