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Carne e Pedra (Richard Sennet) Resumo do Capítulo “Individualismo Urbano” O autor analisa o rápido processo de urbanização que ocorre na segunda metade do século XIX; na Inglaterra há um quadro social em que 10% da população detem 90% da riqueza, e metade da população mais pobre tem apenas 3% da riqueza nacional; e ele se pergunta: o que explica a falta de uma revolução ? Ele considera que um dos fatores é o espírito individualista que surge nas cidades: “Cada pessoa age como se fosse estranha À sorte dos demais. Nas transações que estabelece, mistura-se aos seus concidadãos, mas não os vê; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesmo e somente para si mesmo. Assim, sua mente guarda um senso familiar, não um senso social”. (Tocqueville) O individualismo traz a perda da noção de destino e compartilhado e apatia dos sentidos; são as características da modernidade: velocidade e individualismo. As cidades do século XIX são planejadas com ênfase para a livre circulação de multidões e mercadorias (largas avenidas para agilizar o transito) e buscam desencorajar a aglomeração de grupos organizados (praças concebidas como pulmões; espaço para vegetação dificulta a aglomeração). Na França de Napoleão III o barão Haussmann faz uma remodelação urbana; largas avenidas fracionam os bairros populares para facilitar o acesso de carroças militares; o centro urbano deixa de ser um local de moradia. O traçado das vias principais prioriza o transporte de mercadorias; o acesso dos bairros pobres ao centro é dificultado. O metrô opera uma revolução em Londres: as classes populares, antes precariamente instaladas em guetos próximos da área central, passam a morar em melhores condições em bairros mais afastados; os pobres agora só freqüentam o centro para trabalhar e fazer compras. CONFORTO O autor vê duas motivações na tecnologia do conforto: a busca de repouso para se recuperar da crescente fadiga produzida pelo trabalho industrial; e a individualização do repouso (móveis que outrora destinavam-se a atividades coletivas, como bancos e cadeiras, cedem lugar a móveis para repouso individual, como a poltrona). O ato de defecar, coletivo até o século XVIII (a latrina era conhecida como parlatório) torna-se individual e “confortável”. Os transportes ferroviários, com bancos que deixavam as pessoas de frente umas para as outras, foram substituídos por bancos de sentido único.

Artigo Carne e Pedra

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Sumário sobre livro de Richard Sennet

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Carne e Pedra (Richard Sennet)

Carne e Pedra (Richard Sennet)

Resumo do Captulo Individualismo UrbanoO autor analisa o rpido processo de urbanizao que ocorre na segunda metade do sculo XIX; na Inglaterra h um quadro social em que 10% da populao detem 90% da riqueza, e metade da populao mais pobre tem apenas 3% da riqueza nacional; e ele se pergunta: o que explica a falta de uma revoluo ?

Ele considera que um dos fatores o esprito individualista que surge nas cidades: Cada pessoa age como se fosse estranha sorte dos demais. Nas transaes que estabelece, mistura-se aos seus concidados, mas no os v; toca-os, mas no os sente; existe apenas em si mesmo e somente para si mesmo. Assim, sua mente guarda um senso familiar, no um senso social. (Tocqueville)

O individualismo traz a perda da noo de destino e compartilhado e apatia dos sentidos; so as caractersticas da modernidade: velocidade e individualismo.

As cidades do sculo XIX so planejadas com nfase para a livre circulao de multides e mercadorias (largas avenidas para agilizar o transito) e buscam desencorajar a aglomerao de grupos organizados (praas concebidas como pulmes; espao para vegetao dificulta a aglomerao).

Na Frana de Napoleo III o baro Haussmann faz uma remodelao urbana; largas avenidas fracionam os bairros populares para facilitar o acesso de carroas militares; o centro urbano deixa de ser um local de moradia. O traado das vias principais prioriza o transporte de mercadorias; o acesso dos bairros pobres ao centro dificultado.

O metr opera uma revoluo em Londres: as classes populares, antes precariamente instaladas em guetos prximos da rea central, passam a morar em melhores condies em bairros mais afastados; os pobres agora s freqentam o centro para trabalhar e fazer compras.

CONFORTO

O autor v duas motivaes na tecnologia do conforto: a busca de repouso para se recuperar da crescente fadiga produzida pelo trabalho industrial; e a individualizao do repouso (mveis que outrora destinavam-se a atividades coletivas, como bancos e cadeiras, cedem lugar a mveis para repouso individual, como a poltrona). O ato de defecar, coletivo at o sculo XVIII (a latrina era conhecida como parlatrio) torna-se individual e confortvel. Os transportes ferrovirios, com bancos que deixavam as pessoas de frente umas para as outras, foram substitudos por bancos de sentido nico.

H uma mudana social: o contato coletivo d lugar ao resguardo da privacidade e ao silncio.

Os cafs, outrora espaos de intensa socializao e debate, d lugar aos novos bulevares onde as mesas so postas na calada e uma clientela de classe mdia consome tranquilamente seu caf em silncio.

ANLISE

O autor escreveu este captulo baseando-se na obra Howards End (1910), de E. M. Forster, um romance que analisa as contradies entre cidade e o campo a partir da cidade de Londres durante o reinado de Eduardo VII.

O destaque para o triunfo do individualismo proporcionado pelo novo ambiente urbano (juntar, apenas...) retratando uma comunidade que coesa porque seus habitantes no mantm relaes pessoais; vidas isoladas e mutuamente indiferentes garantem um equilbrio social, porem infeliz.

No romance as crises familiares so resolvidas num ambiente rural (a propriedade que d nome obra); a transformao do ambiente retrata o desenraizamento necessrio para que surjam o colorido da vida e a percepo do outro.